81
fluxo produtivo específico e trocam-nas por certa quantidade de
dinheiro, que expressa monetariamente seu valor social através do preço,
que não tem o mesmo significado que a categoria “valor”. Marx (1988)
expressou este ciclo como D-M-D’, que, complexificado, pode ser
representado por D-Mp e Ft- D’
55
.
Como afirma Engels no prefácio escrito para A Miséria da
Filosofia (2001, p. 18), “... os contínuos desvios dos preços das
mercadorias em relação aos valores das mercadorias são a condição
necessária e a única pela qual o valor das mercadorias pode existir”, uma
vez que o valor só se torna social mediante a flutuação da concorrência
intercapitalista
56
. No entanto, suponho, até aqui, que as mercadorias
estão sendo trocadas pelo seu valor social.
O que diferencia, em princípio, as cooperativas das empresas
comuns é que a força de trabalho, no segundo caso, também é adquirida
no mercado, através de uma relação de assalariamento, enquanto que nas
cooperativas, por outro lado, todos os produtores são associadamente
proprietários do capital que é antecipado, donos, portanto, dos meios de
produção (GERMER, 2007). Por conta dessa peculiaridade, o resultado
obtido pela organização (D’) caracteriza ciclos reprodutivos diferentes
dos das empresas comuns quanto à parte que é destinada à composição
de renda. No caso das empresas capitalistas, como vimos, o lucro pode
ser re-investido na empresa, sendo assim transformado em capital
(reprodução ampliada), ou destinado à riqueza individual do(s)
capitalista(s) (reprodução simples). Nas cooperativas, o lucro ou é
repartido entre os trabalhadores, compondo assim suas rendas
(reprodução simples), ou, da mesma forma, investido na cooperativa, o
que caracterizaria o mesmo movimento das empresas (reprodução
ampliada).
55 Os teóricos da “administração da produção”, em geral, reconhecem este ciclo, exceto
quanto àquilo que se refere à apropriação privada da riqueza produzida pelo trabalho, na
forma de mais-valia. Ver, por exemplo, Martins e Laugeni (1998, p. 371).
56 Nesse sentido, afirma Engels (idem, ibidem): “Que a forma de representação de valor, que
o preço tenha, regra geral, um aspecto muito diferente do que manifesta, é um destino que
partilha com a maior parte das relações sociais. A maior parte das vezes, o rei assemelha-
se pouco à monarquia que representa. Numa sociedade de produtores que trocam as suas
mercadorias, querer determinar o valor pelo tempo de trabalho proibindo à concorrência
que estabeleça essa determinação pela única forma por que pode ser feita, influindo nos
preços, é mostrar que, pelo menos neste campo, nos permitimos o desconhecimento
utópico habitual das leis econômicas”.