grave e que, por sua própria vontade, carregava o símbolo de seu pecado, tanto
estampado no peito, quanto na pele de sua filha.
Pearl é a personificação da paixão, do ato amoroso (e proibido) entre Hester e
Dimmesdale e, de uma maneira estranha, é ligada à letra escarlate, talvez mais até do
que a própria mãe pudesse explicar, mantendo-a sempre consciente dos frutos de seu
pecado, como se vê neste trecho:
One peculiarity of the child’s was – what? –not the mother’s smile,
responding to it, as other babies do, by that faint, embryo smile of the little
mouth, remembered so doubtfully afterwards, and with such fond discussion
whether it were indeed a smile. By no means! But that first object of which
Pearl seemed to become aware was – shall we say it? – the scarlet letter on
Hester’s bosom! One day, as her mother stopped over the cradle, the infant’s
eyes had been caught by the glimmering of the gold embroidery about the
letter; and putting up her little hand, she grasped at it, smiling, not doubtfully,
but with a decided gleam, that gave her face the look of a much older child.
Then, gasping for breath, did Hester Prynne clutch the fatal token,
instinctively endeavoring to tear it away; so infinite was the torture inflicted
by the intelligent touch of Pearl’s baby hand,. Again, as if her mother’s
agonized gesture were meant only to make sport for her, did little Pearl look
into her eyes, and smile! From that epoch, except when the child was asleep,
Hester had never felt a moment’s safety: not a moment’s calm enjoyment of
her. Weeks, it’s true, would sometimes elapse, during which Pearl’s gaze
might never one be fixed upon the scarlet letter; but then, again, it would
come at unawares, like the stroke of sudden death, and always with that
peculiar smile and odd expression of the eyes. (HAWTHORNE, 1999, pp.85-
86)
81
Van Kirk (1946) menciona que Pearl também pode ser interpretada como a
consciência de Dimmesdale, pois quando a menina ainda era um bebê, em público, no
dia em que Hester saiu da prisão, abriu os braços para o pastor, que não somente não
retribuiu ao chamado da criança, como também não revelou sua participação em sua
concepção. Mais tarde, já maior, ela pede ao pastor que fique com ela e sua mãe no
mesmo lugar, aos olhos da comunidade – ele nega e ela limpa o beijo que ele lhe havia
81Falta ainda contar uma peculiaridade do seu [de Pearl] comportamento. A primeira coisa que ela notou
na vida foi – foi o quê? Não, como acontece com as demais crianças, o sorriso materno, respondido por
outro débil, embrionário sorriso da boca pequenina, depois recordado e discutido entre dúvidas. Nada
disso!O primeiro objeto em que Pearl reparou – devemos dizê-lo? – foi a letra escarlate no peito de
Hester! Um dia, quando a mãe se debruçou para o berço, os seus olhos sentiram-se atraídos pelo bordado
a ouro. E a pequena, estirando o bracinho, agarrou bem o lema – sorrindo, sim, mas com um olhar franco,
que fez que a sua fisionomia parecesse a de uma criança muito mais velha. O toque inteligente da mão da
filhinha causou em Hester Prynne uma dor tão intensa que ela, quase sem fôlego, segurou o símbolo
fatídico – procurando, instintivamente, arrancá-lo. Desde então, a não ser quando a menina estava
dormindo, nunca mais pôde se sentir tranqüila, nem gozou em sua companhia, de um minuto sereno de
prazer. É verdade que algumas vezes se passavam semanas sem que o olhar de Pearl se fixasse, um só
instante, na letra escarlate. Mas, de repente, lá estava ele, inesperado como o golpe da morte súbita, e
sempre acompanhado daquele sorriso singular e da mesma bizarra expressão de olhos. (HAWTHORNE,
2006, pp. 92-93)