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Inicialmente a Educação Física sempre teve um foco voltado para o culto
ao corpo. O século XIX é particularmente importante para o entendimento da
área, uma vez que é neste século que se elaboram conceitos básicos sobre o
corpo e sobre a utilização enquanto a força de trabalho. Segundo SOARES
(1994), na Europa e em especial na França, este é o período no qual se
consolidam o Estado Burguês e a burguesia enquanto classe, criando
condições objetivas para que suas próprias contradições de classe no poder
apareçam, e seja inevitável o reconhecimento de seu oponente histórico – a
classe operária. Para manter sua hegemonia, a burguesia necessita, então,
investir na construção de um homem novo, um homem que possa suportar
uma nova ordem política, econômica e social, um novo modo de reproduzir a
vida sob novas bases. A construção desse homem novo, portanto, será
integral, ela “cuidará” igualmente dos aspectos metais, intelectuais, culturais e
físicos.
É nesta perspectiva que podemos entender a Educação Física, como
disciplina necessária a ser viabilizada em todas as estâncias, de todas as
formas, em todos os espaços onde poderia ser efetivada a construção deste
homem novo: no campo, na fábrica, na família e na escola. A Educação Física
será a própria expressão física da sociedade do capital. Ela encarna e
expressa os gestos automatizados, disciplinados e, se faz protagonista de um
corpo ”saudável”; torna-se receita e remédio ditada para curar os homens de
sua letargia, indolência, preguiça, imoralidade, e, desse modo, passa a integrar
o discurso médico, pedagógico e familiar.
SOARES (1994) acrescenta ainda que a Educação Física integra
portanto, de modo orgânico, o nascimento e a construção da nova sociedade,