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pela banda até as cinco e meia da tarde. Das vinte horas até a meia noite teria lugar o
baile no salão de Dias. No dia seguinte, 8, não haveria passeio mascarado e o baile
começaria às dezenove horas, prolongando-se até a primeira hora da madrugada. No
terceiro dia, 9, haveria o passeio a pé no mesmo horário definido para o dia 7 de
fevereiro, recolhendo-se, porém, às dezessete horas no mesmo salão, onde
receberiam o cadáver para o enterro dos ossos do Deus Momo
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e lá permaneceriam
recolhidos até às dezenove horas e trinta minutos. Às vinte horas principiaria novo
baile que terminaria às duas horas da madrugada, com o dito “galope infernal”
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. No
Sábado de Aleluia haveria o baile da comemoração dos ossos
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, das 7 horas da noite
até a 1 hora da madrugada do domingo da Ressurreição. Na qualidade de mestre dos
bailes ficaria encarregado o senhor João Pereira de Azevedo. Vale destacar que a
entrada nos bailes mascarados não era gratuita, pagando-se o valor de 1$000 réis (um
mil réis) por ingresso. Os passeios acompanhados pela banda de música, em
contrapartida, eram abertos à população em geral, ampliando, assim, o público
participante. De acordo com o Correio de 1º de fevereiro de 1872, o baile do galope
infernal daquele ano durou até o amanhecer do outro dia, parando a banda de música
de tocar às cinco horas da manhã. A bebida e os quitutes dos bailes ficavam a cargo
do botequim da Rua Porto dos Padres, n. 7. Segundo anúncio publicado no Correio de
6 de fevereiro de 1864, transferia-se parte do estoque da loja de bebidas para o salão
de Dias e lá era possível beber um sortimento variado de refrescos e cervejas. Abaixo
seguem duas imagens relacionadas ao carnaval. A primeira reproduz um baile de
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A expressão “enterro dos ossos” pode designar duas coisas: (i) uma reunião familiar íntima,
no dia seguinte a uma festa, para se comer as sobras de comida com muita dança e bebida ou
(ii) “[...] um préstito carnavalesco, no primeiro domingo depois do carnaval, em que os clubes e
cordões mais populares saíam, conduzindo cada qual o seu caixão mortuário. Os foliões,
vestindo negro, com a caveira pintada, traziam conjuntos musicais, que executavam músicas
fúnebres. Dentro dos caixões havia o farto recheio de galinhas, perus, churrasco, cabrito,
aguardente [...]” (CASCUDO, 2000, p. 179). Como em alguns anúncios capixabas encontrou-se
a expressão ‘pegar cadáver’ e ‘cada um com seu caixão’, interpreta-se aqui a expressão
‘enterro dos ossos’ a partir da segunda perspectiva.
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De acordo com Felipe Ferreira (2005), o galope infernal foi uma moda trazida dos bals
musards de Paris. “Em 1839, um maestro chamado Philippe Musard iria revolucionar
definitivamente os bailes carnavalescos parisienses. Dotado de um grande senso de
espetáculo, o maestro alternava, em seus bailes, trechos musicais sérios com outros
dançantes, eliminando os bailados. A fórmula agradaria profundamente ao público, que, em
delírio, superlotava o salão. Os bailes promovidos pelo maestro terminavam sempre com um
acontecimento espetacular: Musard subia à cena, acenava para a orquestra e, como sinal para
o grande final, quebrava uma cadeira no palco e começava a reger uma música acelerada, que
logo ficaria conhecida como o galope infernal. O galope infernal caracterizava-se pela correria
no salão” (FERREIRA, 2005, p. 109-121). Os casais se movimentavam juntos em direções
aleatórias, empurrando quem estivesse pela frente.
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A comemoração dos ossos do Deus Momo indicava o fim do período das constrições,
principalmente penitências relativas aos alimentos durante a Quaresma.