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Como apontado acima, desde pelos menos 1930, o movimento negro
reivindica políticas de promoção de igualdade de oportunidades. Nos idos dos anos
de 1940 e1950, com a frente negra brasileira, o ativista Abdias do Nascimento, bem
como Guerreiro Ramos, já colocava na pauta das políticas públicas o tema da
desigualdade racial como uma necessidade (GUIMARÃES, 2005).
Estudiosos da sociologia viram-se às voltas com o tema a partir dos estudos
da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (UNESCO),
em que se propunha, com o Projeto UNESCO (1950), que fossem organizados
estudos sobre relações raciais após a Segunda Guerra Mundial, escolhendo o Brasil
por ser considerado então um “laboratório” de boas práticas nas tais relações
raciais. Maio (1999) descreve o Projeto UNESCO como um agente catalisador, ao
patrocinar uma série de pesquisas sobre as relações raciais no Brasil entre os anos
1951 e 1952, trazendo para a agenda internacional o que Arthur Ramos
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entendia
ser o "laboratório de civilização" (aspas do original), referindo-se à experiência
brasileira. Para Ramos (apud MAIO, 1999, p. 143),
O tema das relações raciais assumia um lugar privilegiado para a
percepção e análise dos desafios da transição do tradicional para o
moderno, do cenário de significativas desigualdades sociais e raciais,
da diversidade regional e da busca em conformar, em definitivo, uma
identidade nacional.
Desta forma, o Brasil poderia ser um “laboratório” de experiências capaz de
orientar as estratégias de integração das raças, pois existiam desde o século XIX
observações sobre “relatos de viajantes, cientistas, jornalistas, políticos europeus e
norte-americanos que registraram uma certa surpresa com a convivência pacífica
entre as raças e etnias (brancos, negros e índios) no Brasil” (MAIO, 1999, p. 143,
grifo nosso). Passávamos, assim, a imagem de um "paraíso racial", o que, em
comparação com a experiência norte-americana, sul- africana no contexto após a
Segunda Guerra Mundial, justificava a escolha do Brasil como local a ser
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Arthur Ramos finalizou o delineamento de um plano de trabalho no qual estava previsto o
incremento de investigações sociológicas e antropológicas no Brasil
,
assumindo em 1949 a direção do
Departamento de Ciências Sociais da UNESCO. Neste período, finalizou o delineamento de um plano de
trabalho no qual estava previsto o incremento de investigações sociológicas e antropológicas no Brasil. Em junho
de 1950, a 5ª sessão da Conferência Geral da UNESCO, realizada em Florença, aprovou a realização de uma
pesquisa sobre as relações raciais no Brasil, mas Arthur Ramos, seu idealizador, havia falecido oito meses
antes, sem chegar a definir com maiores detalhes o tipo de estudo que tinha em mente. No entanto, é notável
que, mesmo sem sua participação no desenho definitivo da investigação, suas preocupações a respeito do Brasil
estavam presentes tanto na versão final do Projeto UNESCO quanto nos resultados das diversas pesquisas
realizadas em seu âmbito (MAIO, 1999).