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E5) Morar juntos ou casar? Nos dias de hoje, a dúvida pode soar um
tanto quanto careta, mas entender bem a diferença entre as situações
pode ajudar você a não cair em uma enrascada.
E6) “Na prática, não há diferença entre estar casado e morar junto”.
E7) A publicitária Juliana Gontad, 26 anos, mora com o namorado
Rogério Mendes, 33 anos, a pouco mais de um ano. O casal, que está
junto há seis anos, resolveu unir as trouxas depois de uma conversa a
dois. “Tudo melhorou. A cumplicidade aumenta muito, o que torna a
relação mais intensa”, comenta Juliana. Para ela, não há diferença de
comprometimento entre morar junto e casamento. “Talvez um dia a
gente efetive a união por motivos burocráticos, dizem que em algumas
situações é vantagem estar casado no papel. Mas seria só por isso”,
completa. (TERRA MULHER, 2009)
Nos enunciados de E1
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a E7, identificamos duas formações discursivas
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:
uma FD Tradicional e uma FD Moderna, predominando os enunciados da FD
Tradicional
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, os quais mantêm a concepção tradicional de união oficializada. Por
outro lado, há um número menor de enunciados, somente E6 e E7, filiados à FD
Moderna.
Assim, de E1 a E5, prevalecem enunciados da FD Tradicional que preza a
união oficializada, o papel do homem como o “homem da casa”, a representação
da união como símbolo de amor e
com
o objetivo de formar uma família (E1), a
associação que se faz do sucesso profissional masculino com o seu compromisso
com a família (E3),
o papel da mulher como aquela que acompanha o marido em
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Usaremos a sigla E para o termo enunciado. Conforme a posição do enunciado nas citações, a
sigla virá acompanhada do número correspondente.
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Usaremos a partir de agora a sigla FD para o termo formação discursiva.
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Para designarmos as duas FDs como Tradicional e Moderna, baseamo-nos nas considerações
de Bourdieu (2007) sobre as divisões instituídas histórica e socioculturalmente entre o masculino e
o feminino. Segundo ele, por meio do simbólico, são construídas visões e divisões sexualizantes
sobre o homem e a mulher, segundo as quais o princípio masculino é tomado como medida de
todas as coisas (BOURDIEU, 2007, p.23). Nesse discurso tradicional identificado pelo autor, as
representações do masculino caracterizam o homem como o melhor, de maior poder, não-
marcado, ao qual se atribuem características como virilidade, força, proteção, excelência, ligado
ao domínio da rua, sendo-lhe destinado o papel de provedor, o forte, a parte dominante da
relação, incumbido de ser o melhor, sendo considerado a norma e o que é superior, portanto, com
características preferidas em detrimento dos atributos femininos. Por outro lado, as
representações do feminino atribuem às mulheres características como de “ser” menos capaz,
sexo frágil que precisa de um protetor, sensível, sentimental, passiva, ligada ao espaço da casa,
dependente do homem, relegada ao seu papel de reprodutora, relacionada, portanto, a domínios
inferiores. A partir da discussão de Bourdieu (2007) sobre o discurso tradicional, que tem o
masculino como princípio, observamos que o discurso moderno entra em conflito com o
tradicional, constituindo-se a partir da negação de dizeres do discurso tradicional, sobretudo nos
enunciados relacionados às mulheres. Por outro lado, no que se refere ao homem, o discurso
moderno mantém muitos enunciados tradicionais, opondo-se ao discurso tradicional apenas em
alguns temas.