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O professor recorre à punição quando se sente criticado, ridicularizado, e
agredido na sala de aula. (GF-2)
Aqui, existem situações em que os alunos vão à desforra com professores
que os puniram com uma expulsão da sala de aula ou, mesmo, lhe deram
uma nota baixa. (GF-2)
Nota-se que, na escola, uma variabilidade e complexidade de situações punitivas
chama a atenção, e a pessoa que foi punida nem por isso se encontra menos inclinada a
proceder de determinado modo e evitar a punição, que é humilhante para quem sofre.
Esses processos punitivos, que estão em funcionamento nas escolas, ainda nos
dias atuais, sugerem que devemos partir de sua estrutura institucional, mas, de modo algum,
limitarmo-nos, mas, ir a fundo nas práticas sociais, cada vez mais, disseminadas, entre os
agentes da escola, como se observa no depoimento:
Na escola, a punição termina sendo usada por qualquer pessoa, mesmo
existindo uma decisão sobre quem deveria usá-la. (GF-5)
Podemos, assim, enfatizar os sentimentos morais que sustentam muitas práticas da
punição geradora de agressividade, que são destrutivas, invertem o modo de perceber essas
práticas, apenas em torno das regras referidas ao ato transgressivo e ao ato desviante, mas,
para a própria comunidade escolar, no modo como cada pessoa reage a certas condutas.
Para Foucault, trata-se de localizar numa série de situações:
Técnicas sempre minuciosas, muitas vezes íntimas, mas que têm sua
importância: porque definem um certo modo de investimento político e
detalhado do corpo, uma nova "microfísica" do poder. (...) Pequenas astúcias
dotadas de um grande poder de difusão, arranjos sutis, de aparência inocente,
mas. profundamente suspeitos, dispositivos que obedecem a economias
inconfessáveis, ou que procuram coerções sem grandeza, são eles entretanto
que levaram à mutação do regime punitivo, no limiar da época
contemporânea. (FOUCAULT,1977, p. 120)
Nesse modelo foucaultiano, a punição tem vários elementos culturais,
interpretados como instrumentos de dominação, controle, subjetivação e técnicas de poder.
Todos esses elementos são importantes para o entendimento atual do que há de cultural na
práticas e nos mecanismos punitivos que se traduzem em violência. Portanto, a violência que
ocorre no âmbito institucional abriga uma série heterogênea e complexa de práticas, como de
ameaças verbais, que operam com códigos que são lidos para advertir, assustar, intimidar e
amedrontar, nas mais diversas situações do dia-a-dia escolar, como apontam estes relatos: