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Os casais, ao efetivarem tal escolha, adequam este desejo de viver, mesmo casados,
à liberdade sexual de cada um e a algumas exigências intrínsecas à prática. Primeiramente,
há uma questão objetiva e espacial, na medida em que os indivíduos têm de buscar lugares
para concretizar seu desejo, para viabilizar essas operações, devem criar ou frequentar
espaços delimitados e confinados ao anonimato e à discrição, evitando possíveis
discriminações. Estas, por sua vez, se concretizam por meio de estigmatizações que
decorrem de uma moralidade social, construída historicamente, em função de uma vivência
conjugal e sexual baseada no modelo de família burguesa descrita por Foucault (1988):
Um rápido crepúsculo teria se seguido à luz meridiana, até as noites
monótonas da burguesia vitoriana. A Sexualidade é então cuidadosamente
encerrada. Muda-se para dentro de casa. A Família conjugal a confisca. E
absorverá, inteiramente, na seriedade da função de reproduzir. Em torno do
sexo, se cala. O casal, legítimo e procriador, ditam a lei. Impõe-se como
modelo, faz reinar a norma, detêm a verdade, guarda o direito de falar,
reservando-se o princípio do segredo. (Foucault, 1988, p. 09).
Parte-se do pressuposto que após a união matrimonial, seja ela formal ou não, exista
um padrão de condutas no relacionamento conjugal que conduzam a uma chamada
normalidade, um imaginário coletivo que constituiu os chamados mitos conjugais
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A discriminação, que está atrelada a um conceito moral
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normativo limita a prática
sexual, faz com que o praticante da troca entre casais tenha sua liberdade de escolha
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Os mitos conjugais descritos por Lazarus são: marido e esposa são os melhores amigos; o romantismo do
casal faz o bom matrimônio; quando se sentir culpado, confesse; o marido e a esposa devem fazer tudo
junto; temos que lutar para salvar o casamento; num bom relacionamento, um tem confiança total no outro;
você deve fazer o outro feliz no casamento; num bom relacionamento, esposo e esposa podem descarregar
“tudo” no outro; os bons maridos consertam tudo em casa e as boas esposas fazem a limpeza; ter um filho
melhora um mau casamento; o matrimônio deve ser uma sociedade 50%-50%; o matrimônio pode realizar
todos os nossos sonhos; os que amam de verdade adivinham os pensamentos e sentimentos do outro; um
casamento infeliz é melhor do que um lar desfeito; as ambições do marido são mais importantes do que a
profissão da mulher; se a(o) esposa(o) quer deixá-lo(a), “faça tudo para impedi-lo(a)”; um amor que já
morreu às vezes pode renascer; competição entre marido e esposa estimula o casamento; você deve
transformar seu cônjuge numa pessoa melhor; os opostos se atraem e se completam; os casais não devem
revelar seus problemas a estranhos; uma relação extraconjugal destrói o casamento; não tenha sexo se
estiver com raiva; conforme-se com o que você tem. (Lazarus, 1992).
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Trata-se de um “conjunto de regras que determinam o comportamento dos indivíduos na sociedade.
Exterior e anterior ao indivíduo, há uma moral constituída, que orienta seu comportamento por meio de
normas. Em função da adequação ou não à norma estabelecida, o ato será considerado moral ou imoral”.
(Aranha; Martins, 1986, p.303).