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Para Rajagopalan (2003), a mola propulsora de todas essas instabilidades e
contradições – presentes, segundo ele, na linguagem e conseqüentemente nas relações entre os
povos e as pessoas – encontra
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se no excesso de informação que nos circunda, provocando o
que ele chama de “crise de identidade lingüística”. No caso dos professores de LE e
especificamente do professor de língua inglesa as pressões são ainda maiores, pois a língua,
nesse caso, representa não só um objeto de ensino-aprendizagem, ou o elemento mediador do
conhecimento, mas também um instrumento de imposição colonialista.
Na área de formação continuada de professores de línguas estrangeiras, várias
pesquisas (García, 1999; Celani, 2004; Machado, 2004) apontam a necessidade de oportunizar
aos docentes momentos para que eles conheçam novos paradigmas, reflitam sobre a educação
e sobre o papel do professor como ator social no contexto escolar. O foco na formação do
professor mostra-se, hoje, como uma tendência tanto nacional como internacional (Almeida
Filho, 1999; Leffa,2001; Gimenez,2002; Celani,2003; Richards and Nunan,1990; Garcia,1999
e Novoa,1992). E, em contraposição ao modelo de treinamento surge, mais fortemente a
partir dos anos 90, o conceito de professor reflexivo. Apesar das críticas e das diferentes
interpretações, esse conceito tem-se mostrado bastante fértil em nosso país. Na verdade, o
conceito de professor reflexivo já nos foi apresentado nas discussões trazidas por Paulo
Freire, que o associava ao profissional comprometido com a sociedade e, portanto, sujeito de
suas ações. Para Paulo Freire (1983,p.21) “na medida em que o compromisso não pode ser um
ato passivo, mas práxis – ação e reflexão sobre a realidade –, inserção nela, ele implica
indubitavelmente um conhecimento da realidade”
Se assumirmos a perspectiva freiriana de reflexão, nosso papel, como professores
formadores, é de ajudar nossos professores, em pré-serviço ou em serviço, a organizar
reflexivamente o pensamento. E, segundo esse mesmo autor, o caminho para essa ação
encontra-se no diálogo, entendido como a relação horizontal de amor e humanidade.
A possibilidade de acompanhar de perto os conflitos e as contradições no contexto
educacional permite nos questionar se parte de suas causas não estão ligadas aos valores
capitalistas de competitividade e qualidade total, tão em voga nos dias de hoje, e que tanto
diferem da perspectiva freiriana. O tema desta pesquisa surgiu desse contato, dessas
indagações e da percepção de que a crise anunciada pelas mudanças do mundo moderno
atinge diretamente o sistema educacional brasileiro e seus professores, que na maioria das
vezes encontram-se desarticulados politicamente e sem possibilidades de compartilhar suas
experiências e refletir sobre seu desenvolvimento profissional.