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sua teoria sexual e aprofunda o conceito de sexualidade infantil, agregando às edições
subseqüentes um centro organizador para as pulsões parciais. Deve-se ressaltar a importância
dos trabalhos de Karl Abraham nessas elaborações sobre o desenvolvimento libidinal
apresentadas por Freud
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. As fases oral, anal e fálica seriam as consideradas fases pré-genitais
referentes à sexualidade infantil, na qual as pulsões parciais teriam como fonte a mucosa
bucal, anal e o falo, respectivamente. Assim, o conceito de objeto encontra aqui sua relação
com a pulsão parcial: a fonte da pulsão na fase oral é a boca, o ânus na fase anal e assim por
diante. A fase genital seria característica da sexualidade adulta na qual a pulsão se totaliza em
um objeto único e se centraliza nos genitais; um objeto total. Assim, aprofunda-se o estudo do
conceito de objeto em sua relação com a introdução da pulsão parcial. Deve-se ressaltar que
os conceitos de fonte e objeto encontram-se sobremaneira intricados na teoria da sexualidade
proposta por Freud nos Três ensaios, em sua vinculação com a idéia de corpo erógeno. No
entanto, o conceito de fonte vincula-se à zona erógena, topos do qual emerge a exigência
pulsional, enquanto o objeto seria entendido como qualquer meio a partir do qual o prazer
pode ser alcançado, redundando na satisfação pulsional.
Mesmo a sexualidade infantil apresentando-se polimorfa, encontramos centros
organizadores em determinadas zonas erógenas no corpo do ser humano em seus primeiros
anos de vida. Na 1
a
edição dos Três Ensaios em 1905, há a idéia de uma espécie de
anarquismo da sexualidade infantil e pulsões parciais, sendo suavizada esta idéia nas edições
posteriores com as fases libidinais e a idéia de que, mesmo em uma sexualidade polimorfa,
pode haver certas organizações centralizadoras e fontes específicas para as pulsões atingirem
sua meta. Apesar de considerar a pulsão genital como total, pode-se perceber, analisando a
obra freudiana de maneira integral, que toda pulsão é, em essência, parcial, não havendo um
centro organizador, mas sim um conjunto de centros organizadores. As vicissitudes da vida
sexual humana fazem com que haja um objeto e zona erógena, mas a característica essencial
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A partir das análises dos quadros patológicos primitivos, notadamente a psicose maníaco-depressiva, Karl
Abraham aprofundou o estudo das fases do desenvolvimento psicossexual, nas quais a libido se organiza de
maneira diferente: o estágio oral, no qual a boca é a fonte principal, o estágio anal, em que o treinamento
esfincteriano e seus substitutos simbólicos centralizam a mucosa anal como fonte libidinal, e, finalmente, o
estágio genital, quando os órgãos genitais ocupam o interesse pulsional principal e hegemônico. Além disso,
Abraham apresenta um esquema de subfases aos estágios: 1) oral inicial, pré-ambivalente, 2) oral posterior,
sádico (canibalístico), 3) anal-sádico inicial, retentivo, 4) anal-sádico posterior, expulsivo, 5) estágio genital
inicial, fálico e sádico, e 6) estágio genital posterior, pós-ambivalente, com amor objetal verdadeiro (objeto
total). Para ele, no estudo das relações entre sadismo e agressividade e na análise das formas sádicas de
introjeção e projeção, há pontos específicos de fixação no desenvolvimento libidinal, presentes na etiologia dos
quadros psicóticos, maníaco-depressivos, obsessivo-compulsivos e histéricos. Além disso, ele apresenta a
diferenciação entre os objetos parciais e os objetos totais, na passagem da pré-genitalidade à genitalidade. Cf.
ABRAHAM, K. A short study of the development of the libido. In: ABRAHAM, K. Selected papers on
psychoanalysis. London: Hogarth Press, 1927.