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O que se evidencia é que o jovem esconde-se na máscara de “bom moço” que
veste para negar as afirmações do professor, no intuito de camuflar ou mesmo negar
e resistir ao Personagem que lhe é atribuído.
Até esse momento, a avó não conhece o Personagem aluno “problema”, pois
não é jogado no contexto familiar. Mas, após o relato dos professores, no transcorrer
do círculo, é surpreendida pelo Personagem que é atribuído ao jovem.
O “interrogatório” do jovem continua, até o fim do círculo, agora com a
presença de todos participantes:
Prof – Então A (jovem), acho que você precisa assumir, eu não estou aqui para, até falei pra
ela, o compromisso que eu quero aqui é de não depredar a escola e mudar de comportamento, ou
seja você vai pra escola pra estudar, pra se promover na vida, porque você este ano já está fazendo
a oitava pela segunda vez. Então você vai pra escola pra estudar, eu acredito que seus pais te
coloquem na escola pra estudar, esse é objetivo. O objetivo não é pra você ficar fora da sala de aula,
não é pra ficar no pátio, no banheiro, é estudar. É isso que a gente quer de você. Se você não
assume isso A (jovem), você que se prejudica A (jovem). Porque olha a escola pra você é passageiro,
nós vamos continuar na escola, você vai ficar um tempo, depois seus pais é que vão tomar conta de
você. Então na escola você vai ficar um tempo e a vida? Na escola você não é xingado, todo mundo
tenta conversar. Professor tem que ser profissional, eu não xinguei você. Eu simplesmente pedi a
lâmpada, eu levei lá, e quando você me chamou pras porradas, primeiro eu conversei com os
professores, se fosse só aquilo ali, ficaria por ali, mas você vem fazendo isso desde o começo do
ano, então precisa abrir um Boletim de Ocorrência porque não pode ficar assim. A (jovem) não mente,
você não tava no muro?
Ad – Não.
Av – Você não tava? Então prova pra ele que você não tava. Quem é sua prova?
Ad – Os meninos.
Prof – Ele estava em cima do muro.
F1 – A (jovem), lembra que a gente falou, quanto melhor falar a verdade, melhor é pra todo
mundo aqui. Que nem você falou, aula vaga. Aula vaga não conta. Então ele tá dizendo que você
tava em cima do muro, você diz que não tava, você disse que chamou as meninas pra vir aqui, não
compareceram. Então, mesmo que fosse aula vaga, tem 191 faltas, então é sinal que de algumas
aulas você não participa. O prejudicado nessa escola é você mesmo. Que nem, a sua mãe trabalha
pra sustentar você tudo. Você tá se prejudicando e você tá dando prejuízo pra sua mãe, na sua mãe.
Av – E muito, teve o dia do Fórum, ela teve arritmia por causa dessa história, ela tá mal pra
caramba.
Prof – Porque você faz isso A (jovem), porque que você não melhora. Você faz a sua parte
olha...
Av – Eu tô perguntando que tem escola que xinga, tem professores que xinga sim, eu to só
perguntando, o senhor não xingou ele?
Prof – Não, se a senhora quiser uma prova, a senhora pode conversar com os alunos...
Av – Eu tô só perguntando pro senhor. O senhor não xingou?
Prof – Não, de modo algum.
Ad – Eu conversei com a diretora e ela falou que você outro dia tinha xingado um aluno.
Av – A (jovem), você não tem nada que ver com os outros, nós tamos falando é com você.
(silencia o jovem)
tão confusa que estou pela sobreposição dos Papéis que estão em jogo (pesquisadora-psicodramatista e
facilitadora). Aos poucos, no transcorrer do círculo, posso me distanciar desses lugares, me utilizando da técnica
psicodramática do Espelho, e buscar o Papel que de fato devo desempenhar, o de pesquisadora. Naquele
momento, esta escolha, que me parecia a mais adequada, me distanciou da possibilidade de qualquer
intervenção, pois assumo o Personagem de pesquisadora “positivista”, em silêncio e observando o desenrolar do
círculo. Posteriormente, com a possibilidade de um maior afastamento do campo, avalio que deveria ter atuado
ou o Papel ao qual fui convidada, o de facilitadora, ou o Papel de pesquisadora-psicodramatista, pois ambos me
possibilitariam potencializar a voz de todos e a real problematização do conflito e das relações que estavam em
cena.