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encaixa nas questões abordadas pelo nosso tema é a folkcomunicação cinética que
possui como gênero: múltiplos canais, códigos gestual e plástico. Segundo Melo
(2008), nessa categoria, é possível encontrar também formatos de agremiação,
celebração, distração, manifestação, folguedo, festejo, dança e rito de passagem. O
autor ressalva que esses canais podem ser entendidos como o “conjunto de
manifestações simbólicas determinadas pela combinação do canal e da audiência”
(2008, p. 90). Conforme Beltrão, os canais folk são compostos por
[...] manifestações coletivas e atos públicos, promovidos por instituições
próprias [...] que sob formas tradicionais, revestindo conteúdos atuais, sob
ritos, às vezes universais, mas consagrados pela repetição oportuna e
especialmente situada, essa massa popular urbana melhor revela suas
opiniões e reivindicações, exercitando a crítica e advertindo os grupos do
sistema social dominante de seus propósitos e de sua força (1980, p. 60).
Retomando as questões que envolvem as condições de vida dos indivíduos
afrodescendentes marginalizados, incluindo os pontos educacionais
(desenvolvimento da leitura e da escrita), é possível refletir que, desde o sistema
escravagista, tiveram que encontrar formas mais dinâmicas para promover a
comunicação entre o grupo. Posto assim, partimos da hipótese de que, como já
possuíam familiaridade com os cantos de trabalho
, encontraram na música um meio
eficaz para praticar a comunicação; técnica essa tão hábil que não envolve apenas a
comunicação oral, mas a expressional, gestual e imagética.
Cabe ressaltar que pensamos a oralidade a partir das manifestações Blues e
Hip Hop, e nos referimos à comunicação interpessoal possibilitada pelos bluesmen e
rappers, respectivamente, através do que Harry Pross denominou, em 1972, de
“mídia primária”. Contextualizando, Baitello esclarece que “a mídia primária é
presencial, exige a presença de emissores e receptores em um mesmo espaço físico
e num mesmo tempo – é portanto a mídia do tempo presente e suas tensões e
surpresas, de sua sensualidade múltipla e da sua sensualidade potencial” (2000, p.
Na obra “Mídia e cultura popular: História taxionomia e metodologia da folkcomunicação”, Marques
de Melo apresenta a definição sobre “cantos de trabalho” a partir do que chamou de “Dicionário
Contextual”. Com subsídios de BUARQUE DE HOLANDA, no “O dicionário da Língua Portuguesa”, o
autor define a expressão “canto de trabalho” como um “som musical produzido pela voz do homem
durante as jornadas de trabalho, principalmente na zona rural” (2008, p. 110). Entretanto, essa
definição é simplista ao passo que define apenas a prática. Há evidências de que essa prática tenha
se originado na África e, durante o sistema escravagista, se disseminou nos países do continente
americano que aplicaram a escravidão.