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RESUMO
Avaliação dos efeitos centrais da iangambina isolada de Ocotea duckei Vattimo: Estudo
comportamental e neuroquímico em córtex motor e corpo estriado de camundongo.
VERA TARGINO MOREIRA LIMA. Orientador: Profa. Dra. Fca. Cléa Florenço de
Sousa. Tese de Doutorado. Curso de Pós-graduação em Farmacologia. Departamento de
Fisiologia e Farmacologia, UFC, 2005.
Os efeitos da administração aguda da iangambina (25, 50 e 75 mg/kg, por via
intraperitoneal e oral), foram estudados em vários modelos animais de comportamento (campo aberto,
rota rod, nado forçado, tempo de sono induzido por pentobarbital, placa perfurada, labirinto em cruz
elevado, convulsão induzida por pentilenotetrazol). Binding in vitro com diferentes concentrações de
iangambina (0,5-200 µl), foram realizados para avaliar sua interação com os receptores
dopaminérgicos (D
1
- e D
2
-símile), receptores muscarínicos (M
1
+M
2
)-símile e receptores
serotonérgicos (5-HT
2
)-símile, bem como, estudo em HPLC para determinar os efeitos da iangambina
(25, 50 e 75 mg/kg,i.p.) após 24 horas de sua administração aguda sobre os níveis de monoaminas e
seus metabólitos em córtex motor e corpo estriado de camundongos. Os resultados mostraram que a
iangambina induziu uma diminuição significativa na atividade locomotora e nas freqüências de
rearing e grooming no teste de campo aberto, indicativo de possível efeito ansiolítico. Estes resultados
podem estar relacionados com o sistema dopaminérgico, desde que houve interação da iangambina
com os receptores D
1
- e D
2
-símile, em corpo estriado e D
2
-símile em córtex motor, acompanhado de
uma redução de dopamina, indicando uma provável ação antagonista dopaminérgica. A iangambina
não causou alteração na coordenação motora dos animais no teste de rota rod, sugerindo que a redução
da atividade locomotora possa envolver ação central. Houve um aumento significativo na imobilidade
dos camundongos no teste do nado forçado induzido pela iangambina. Este efeito, juntamente com a
redução da dopamina, noradrenalina e serotonina induzida pela iangambina em corpo estriado, pode
explicar seu efeito depressor neste modelo. Além disso, corroborando estes resultados, a iangambina
potenciou o tempo de sono induzido pelo pentobarbital em camundongos, sugestivo de efeito
depressor central. Iangambina nas doses empregadas neste trabalho, não protegeu os animais das
convulsões induzidas por pentilenotetrazol, sugerindo que este efeito depende da dose usada. No teste
da placa perfurada, a iangambina aumentou o número de head dips, em todas as doses estudadas, por
via intraperitoneal ou oral, demonstrando atividade ansiolítica. O efeito ansiolítco da iangambina (75
mg/kg, i.p e 25, 50 e 75 mg/kg, v.o.) também foi confirmado no teste do labirinto em cruz elevado,
onde apresentou aumento significativo na percentagem do número de entradas nos braços abertos e na
percentagem do tempo de permanência nos braços abertos. Iangambina (50 e 75 mg/kg, v.o.) também
aumentou o número de entradas e o tempo de permanência nos braços abertos, respectivamente. No
entanto, iangambina 25 e 50 mg/kg, i.p., apresentou efeito ansiogênico evidenciado pela redução do
tempo de permanência nos braços abertos o que provavelmente pode dever-se a ausência da formação
de algum metabólito ativo gerado no metabolismo de primeira passagem. O efeito ansiolítico induzido
pela iangambina 75 mg/kg, v.o., no modelo do labirinto, foi revertido com o flumazenil (2,5
mg/kg,i.p), indicando a possível participação dos receptores GABAérgicos no seu mecanismo de ação.
O efeito ansiolítico da iangambina, observado no teste da placa perfurada e no labirinto em cruz
elevado, foi acompanhado por uma redução de noradrenalina e serotonina em corpo estriado, no
entanto, em córtex motor, iangambina (75 mg/kg, i.p.), induziu um aumento dos níveis de
noradrenalina, assim como iangambina (25, 50 e 75 mg/kg, i.p.) induziu aumento de serotonina,
demonstrando que o efeito ansiolitico associado a redução de noradrenalina e serotonina depende da
área cerebral. A iangambina interagiu com receptores muscarínicos em córtex motor e corpo estriado.
O bloqueio dos receptores dopaminérgicos induzido pela iangambina foi sinérgico à sua ação agonista
sobre os receptores colinérgicos, desde que não alterou a redução da atividade locomotora dos animais
no modelo de campo aberto. O presente trabalho mostra uma interação entre os sistemas
dopaminérgico, colinérgico, serotonérgico e GABAérgico, revelando a importância da iangambina em
doenças que alteram estes sistemas de neurotransmissão. A iangambina apresentou alterações
comportamentais e neuroquímicas compatíveis com efeito ansiolítico-símile.