Bem então, o estudo do cálculo e da geometria, e toda a
educação preparatória exigida pela dialética deve ser colocada
diante deles enquanto crianças, e a instrução não deve dar o
aspecto de uma compulsão a aprender. “Por que não?” “Por
que o homem livre não deve aprender nenhum estudo
servilmente". Trabalhos forçados realizados pelo corpo em
nada tornam corpo pior; contudo, nenhum estudo forçado
permanece na alma. “É verdade,” ele disse “Portanto não usai
a força ao treinar as crianças nos conteúdos; usai, antes, jogo”.
Deste modo, pode-se melhor discernir para o que cada um está
naturalmente dirigido (PLATÃO, 2000, p.223).
No diálogo acima, Sócrates enfatiza que a atividade lúdica das crianças,
ainda que dirigidas ao aprendizado formal, devem ser praticadas livremente. A
palavra “livremente” neste contexto não deve ser entendida como desorganizada ou
como bagunça, pois a liberdade dos indivíduos na República é circunscrita a um
cenário limitado da cidade ao espaço governado por regras.
Irenée (1975), no livro História da educação na Antiguidade, relata que os
egípcios, romanos e maias utilizavam-se dos jogos para que a geração mais jovem
aprendesse com os mais velhos os valores e conhecimentos daquela sociedade.
Com a ascensão do cristianismo, os jogos foram perdendo seu valor, pois eram
considerados profanos, imorais e sem nenhuma significação. Provavelmente, a
igreja via no jogo uma forma de ameaça aos dogmas estabelecidos por ela. Visto
que o jogo é, em uma das suas multiplicidades, a expressão da criatividade, o lúdico
era um caminho contrário da dominação exercida pela igreja na era Medieval.
No entanto, Lauand (2003) refere-se a Tomás de Aquino (1225-1274) como
importante nome da filosofia escolástica que inverteu o pensamento de dominação
exercida pela igreja no período medieval. O filósofo elaborou um amplo sistema
filosófico que conciliava a fé cristã com o pensamento de Aristóteles
Para Lauand (2003), o filosofo ao escrever o “Tratado sobre o brincar”,
inspirado no texto aristotélico Comentário á Ética a Nicômaco, livro IV, 16, revela
uma antropologia, ao abordar o papel do lúdico na vida humana, a necessidade de
brincar, as virtudes e os seus vícios no brincar.
Em sua obra mais importante, a “Suma Teológica”, Aquino também aborda o
brincar e enfatiza o papel do lúdico na constituição do sujeito. Brincar na vida adulta
constitui-se numa atividade moral que leva à alegria, à leveza, ao carisma no
comportamento e no falar: “... o brincar é necessário para a vida humana”. A razão