Deus
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.
A Idade Média integrava a “Humanidade Monoteísta”
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, onde havia o
predomínio da concepção espiritualista assentada no domínio do cristianismo,
prevalecendo um equilíbrio entre as concepções materialistas e espiritualistas:
É a Segunda Humanidade, que se desdobrará, dominando os âmbitos dos
Impérios, até cristalizar-se na civilização cristã da Idade Média, em que a
compreensão das contingências econômicas, materiais, se harmonizou com a
idéia das finalidades sobrenaturais.
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Nesta “Segunda Humanidade”, todos os elementos haviam se fundido na mesma
idéia: a totalitária, que “abarca toda a compreensão do Universo e todos os movimentos
humanos”. Ricardo B. de Araújo assinala que na idéia totalitária, havia a busca pela
homogeneização dos comportamentos, a dissolução das distinções que caracterizava-se
pela fusão:
a civilização monoteísta consegue dissolver as distinções e barreiras que
separavam os homens, homogeneizando o seu comportamento em função de
uma moral religiosa que pregava, como valor mais alto, a busca de uma
existência piedosa, fraterna e estritamente disciplinada.
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Mesmo valorizando a Idade Média pelo predomínio da concepção espiritual,
Plínio não defendia um retorno empírico à Idade Média:
Evidentemente que a Idade Média possuiu o seu ritmo, que parece hoje aos
temerosos de enfrentar os fatos e o sentido imperativo do Tempo, o único
verdadeiro sistema das expressões e movimentos sociais. Nós não podemos,
entretanto, regressar à Idade Média, que desapareceu definitivamente na
Renascença. A própria terra não poderia regressar ao ponto por onde
transitou um minuto antes, descrevendo sua órbita no espaço.
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SALGADO, Plínio. A Psicologia da Revolução. In: Op.cit., p.86.
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Plínio buscou legitimar seu discurso recorrendo a uma forma peculiar de descrever o processo
histórico. Na sua obra A Quarta Humanidade, pudemos observar que dois planos essenciais, porém
antagônicos, coexistiam no decorrer do processo civilizatório: o espiritualista e o materialista. Ao se
referir à concepção materialista, Plínio enfatizava que para esta não existia Deus, não existia alma,
diferentemente da concepção espiritualista. Ao descrever as duas concepções, Plínio buscava provar que
enquanto prevalecesse a concepção de vida materialista, a humanidade tendia a desagregar-se, aflorando
apenas os instintos e não a consciência. Na concepção pliniana existiriam quatro civilizações e ou
humanidades, onde três já existiam, e a quarta estava para se formar. A primeira civilização ele
denominou de politeísta, a segunda de monoteísta e a terceira de ateísta. A quarta seria a Integralista. Na
primeira civilização havia a multiplicação de deuses e o homem encontrava-se totalmente subordinado à
natureza. Já na segunda civilização havia uma harmonia entre matéria e espírito por isso prevalecia uma
nova forma de ver o homem e a sua relação com o sobrenatural; o homem era concebido na sua expressão
integral. Plínio lançou mais intensamente suas críticas sobre a terceira civilização, pois representava a
fase onde a humanidade vivenciava o predomínio do material, do experimental, da razão. Enquanto a
Humanidade Politeísta era marcada pela adição, a monoteísta pela fusão, a ateísta era marcada pela
dissociação, pela desagregação, atingindo seu auge durante a Revolução Francesa, prosseguindo até o
século XX. Diante de suas críticas ferrenhas acerca da humanidade ateísta, Plínio busca abrir caminho
para legitimar a suposta necessidade da humanidade de abrir caminho para a futura Quarta Humanidade: a
Integralista, baseada no primado do espírito. Para que realmente a quarta humanidade pudesse se
concretizar era necessário que se fizesse a revolução integral e a partir dela o Estado Integral.
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SALGADO, Plínio. A Quarta Humanidade. In: Op.cit., p.32
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ARAUJO, Ricardo Benzaquen de. Totalitarismo e Revolução. O Integralismo de Plínio Salgado.
Rio de Janeiro: Jorge Zahar Editor, 1988. p.37-38.
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SALGADO, Plínio. A Psicologia da Revolução. In: Op.cit., p.85.