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ÉLIDA REGINA DE MORAES ZUFFO
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
Tese apresentada à Universidade
Presbiteriana Mackenzie como requisito para
obtenção do título de Doutor em Arquitetura
e Urbanismo.
Orientador
São Paulo
2009
ads:
Z94p
Zuffo, Élida Regina de Moraes.
Pioneiros modernos : verticalizaçăo residencial em
Higienópolis / Élida Regina de Moraes
Zuffo
2009.
300
f. : il. ; 30 cm.
Tese (Doutorado em
Arquitetura e Urbanismo)
-
Universidade Presbiteriana Mackenzie, São Paulo, 2009.
Bibliografia:
f. 280
-
290
.
1. Arquitetura
moderna
. 2. E
difícios residenciais
3.
Verticalização (arquitetura) 4. Higienópolis (São Paulo)
I.
tulo.
CDD 728.3
ÉLIDA REGINA DE MORAES ZUFFO
PIONEIROS MODERNOS: VERTICALIZACAO RESIDENCIAL EM HIGIENÓPOLIS
Tese
apresentada à Universidade Presbiteriana
Mackenzie como requisito para obtenção
do título de
Doutor
em Arquitetura e Urbanismo.
Aprovada em
27
de
Novembro
de
2009
:
BANCA EXAMINADORA
_______________________________
Prof. Dr. Candido Malta Campos Neto
Universidade Presbiteriana Mackenzie
____
___________________________
Prof
a
. Dr
a
.
Nadia Somekh
Universidade Presbiteriana Mackenzie
_______________________________
Prof
a
. Dr
a. Sarah Feldman
Universidade de São Paulo
_______________________________
Prof. Dr. Antonio Claudio Fonseca
Universidade Presbiteriana Mackenzie
_______________________________
Profa. Dra. Maria Ruth Amaral de Sampaio
Universidade
de São Paulo
Agradecimentos
Ao meu orientador, Candido Malta Campos
,
pela orientação atenciosa, detalhista e segura
,
essencial
para o desenvolvimento desta tese.
À professora
Nadia Somekh, pelas críticas e conselhos que nortearam esta pesquisa.
À professora
Sarah Feldman
, pelas observações e
apontamentos
tão pertinentes durante o
exame de qualificação.
Ao professor
Antonio Claudio
Fonseca, pela ajuda durante o processo de pesquisa.
À FAPES
P
-
Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo,
pelo apoio
fundamental e confiança depositada.
Ao meu marido, Valdir Mariano Zuffo,
pelo carinho e companheirismo.
Aos meus filhos, Guilhe
rme Zuffo e Marina de Moraes Zuffo, pela compreensão
, paciência e
dedicação.
Aos meus pais, Evani e Valdemar, e à minha irmã, Glaucia,
pelo apoio e incentivo.
À
amiga,
Aline Nassaralla Regino
,
pela
colaboração
e material fornecido.
À
Juliana Marques
, pela
tão cuidadosa editoração e revisão.
À
Aline Ollertz, pela contribuição na pesquisa de campo.
À Luciana Capoccia Micarelli, pelo levantamento fotogr
áfico e
edição de imagens.
À secretária Fernanda Moraes, pela ajuda e boa vontade.
Aos professores do Programa de Pós
-
graduação, por tornarem as aulas encontros
prazerosos e enriquecedores.
A todos meus colegas
do doutorado,
pelas valiosa
s
trocas de informações.
Em especial
Gislene Passos Ribeiro, Isac Roizenblatt, Dominique Fretin e Cla
udia Stinco.
Resumo
A produção de edifícios de apartamentos residenciais realizada entre os anos de
1940 e 1970 no bairro paulistano de Higienópolis é o alvo principal desta pesquisa que
pretende discutir as transformações do modo de habitar desse bairro, cujos fatores estão
relacionados a questões sociais, tecnológicas, econômicas e culturais, no contexto do
processo de metropolização de São Paulo. Nesse sentido, ganha destaque a questão da
verticalização, fenômeno marcante na cidade a partir de meados do século XX e
responsá
vel por alterações drásticas no perfil da metrópole. O importante conjunto de
edifícios modernos do local, que apresenta elementos qualitativos específicos, ajudou a
consolidar a opção paulistana pela moradia em apartamentos, tão coerente com o novo
ritmo
de vida ditado pela cidade. Esta qualidade deriva, de um lado, das inter
-
relações
estabelecidas com o entorno urbano herdadas da configuração inicial do bairro e, de outro,
da aplicação apurada dos preceitos modernistas nos projetos arquitetônicos.
Palavra
s
-
chave:
Arquitetura moderna; edifícios residenciais; verticalização; Higienópolis; São Paulo.
Abstract
The production of residential apartment buildings
accomplished
between 1940 and 1970 in
Higienópolis São Paulo’ neighborhood is the main
purpose
of th
is research that discusses
the changes in the way
of inhabiting this neighborhood. Those changes
are related to social,
technological
, economic and cultural
factors
in the context of
Sao Paulo metropolis
process
of
formation
.
In this
sense
,
the issue of vertical growth
-
an evident phenomenon in the city
that started in mid
-
twentieth century, and is responsible for drastic changes in the metropolis
profile
-
is distinguished
. The important
local
set of modern buildings, which
have
specific
q
ualitative factors, helped establish
São Paulo inhabitant
s
option for
living
in apartments,
which is
consistent with the new
pace of life
dictated by the city.
This quality descends, in
one hand,
from the inter
-
relationships established with
the neighborh
ood initial configuration
urban environment
,
and, in other hand,
from
the application of modernist architectural
precepts in those projects.
Keywords:
Modern architecture; residential buildings; vertical growth; Higienópolis; São Paulo.
Índice
Introdução .................................................................................................................. 9
Capítulo 1 – Modernismo e verticalização: propostas............................................20
1.1 Princípios modernistas de moradia vertical 21
1.2 Arquitetura moderna: adaptações brasileiras 35
1.3 Considerações sobre qualidade da arquitetura residencial verticalizada 60
Capítulo 2 – A metrópole paulista em formação.....................................................71
2.1 O início da transformação vertical 72
2.2 Crescimento acelerado e verticalização intensiva 95
2.3 Alterações no modo de vida 112
Capítulo 3 – As transformações de Higienópolis: evolução histórica ................123
3.1 Chácaras urbanas 124
3.2 Casarões da elite 133
3.3 Edifícios de apartamentos 148
Capítulo 4 - Edifícios residenciais em Higienópolis .............................................159
4.1 Pioneiros no horizonte: década de 1940 161
Ficha 1: Edifício Buenos Aires 162
Ficha 2: Edifício Santa Amália 164
Ficha 3: Edifício Piauí I e II 166
Ficha 4: Edifício Goiás 168
Ficha 5: Edifício Higienópolis 170
Ficha 6: Edifício Piauí 172
Ficha 7: Edifício Prudência 174
Ficha 8: Edifício Louveira 177
4.2 A afirmação de um novo modo morar: década de 1950 195
Ficha 9: Edifício Parque das Hortênsias e Parque das Acácias 196
Ficha 10: Edifício Bretagne 199
Ficha 11: Edifício Cinderela 202
Ficha 12: Edifício Itamarati 203
Ficha 13: Edifício Paquita 205
Ficha 14: Condomínio Buenos Aires –Edifício La Plata e San Martin 208
Ficha 15: Edifício Imperator e Santa Fė 211
Ficha 16: Edifício Arper 213
Ficha 17: Edifício Diana 215
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
8
Ficha 18: Edifício Príncipe de Galles 217
Ficha 19 - Edifício Irajá 219
Ficha 20: Edifício Bolonha 221
Ficha 21: Edifício Lausanne 223
Ficha 22: Edifício Lugano e Locarno 226
4.3 Disseminação do Moderno: década de 1960 246
Ficha 23: Edíficio Arabá 247
Ficha 24: Edíficio Jardim Buenos Aires 249
Ficha 25: Edíficio Pernambuco 250
Ficha 26: Edíficio Márcia Mônica 251
Ficha 27: Edíficio Manon 252
Ficha 28: Edíficio Vera Maria 254
Ficha 29: Edíficio Anette 255
Ficha 30: Edíficio Adônis 256
Ficha 31: Edíficio Baiamar 257
Ficha 32: Edíficio Itacolomi 259
Ficha 33: Edíficio Luferreira 261
Ficha 34: Edíficio Santo Estevão 263
Ficha 35: Edíficio Hildebrando de Almeida Prado 265
Ficha 36: Solar do Conde 267
Ficha 37: Edíficio Itamar 269
Ficha 38: Edíficio Abaetė 271
Ficha 39: Edíficio Parque Higienópolis 273
Conclusão................................................................................................................292
Bibliografia ..............................................................................................................297
Anexo 1 ....................................................................................................................306
Anexo 2 ....................................................................................................................312
Anexo 3 ....................................................................................................................314
Anexo 4 ....................................................................................................................316
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
9
Introdução
bairro paulistano de Higienópolis já despertou interesse em
diversos pesquisadores e historiadores
1
que se deixaram seduzir tanto
pela história quanto pela destacada produção arquitetônica
modernista presente na região. Nesta pesquisa não foi diferente, tendo sido eleitos
como alvo principal de investigação os edifícios de apartamentos residenciais, com
expressão arquitetônica moderna, construídos entre o final da década de 1930 e 1970
em Higienópolis.
A escolha do tema deve-se à constatação da necessidade de um estudo mais
aprofundado sobre as transformações do modo de habitar no bairro de Higienópolis,
cujos fatores estão relacionados a questões sociais, tecnológicas, econômicas e
culturais, no contexto do processo de metropolização da cidade. Nesse sentido, ganha
destaque a questão da verticalização, fenômeno marcante em São Paulo a partir do
segundo quartel do século XX, responsável por alterações drásticas no perfil da
metrópole. No que se refere à arquitetura dos edifícios, a importância da produção
modernista local foi consagrada em vários estudos
2
. É necessário precisar, porém,
de que maneira os edifícios de Higienópolis contribuíram para a consolidação dessa
opção paulistana pela moradia vertical, não apenas por meio de sua contribuição nos
1 Como por exemplo, as pesquisas de MACEDO (1982), GAGETTI (2000) e o livro de HOMEM (1980).
2 A produção arquitetônica do bairro está presente em diversos trabalhos, ente eles aqueles que tratam
das produções individuais dos arquitetos, como por exemplo, a obra de BARBOSA (2002) sobre Franz
Heep, de ANELLI (2001) sobre Rino Levi, de REBOUÇAS (2004) sobre Victor Reif e a de FRANCO
(2004) sobre Artacho Jurado.
O
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
10
campos arquitetônico, tecnológico e tipológico, mas também no que se refere às
transformações culturais e aos modos de vida.
A questão principal a ser discutida neste trabalho diz respeito às qualidades
específicas conferidas ao conjunto de edifícios modernos construídos no local e às
relações estabelecidas com a configuração do próprio bairro. Portanto, a tese que se
pretende demonstrar é de que o conjunto de edifícios residenciais modernos
construídos em Higienópolis naquele período apresenta elementos qualitativos
específicos, derivados de dois fatores marcantes: as qualidades oriundas das inter-
relações entre os edifícios e seu entorno urbano, herdadas em parte da configuração
inicial do bairro; e as qualidades resultantes da apurada aplicação de preceitos
modernistas nos projetos arquitetônicos.
Na disseminação da moradia vertical foi crucial sua divulgação sob uma ótica
positiva para o público em geral. Nesse sentido, foi importante o papel da imprensa e
principalmente dos periódicos dedicados à arquitetura e à decoração. Consagrada
pela imprensa especializada internacional, a produção modernista brasileira logo
ganhou certo espaço nesses veículos, sendo associada à modernidade triunfante do
pós-guerra, aos novos modos de vida urbana e a uma postura americanizada e up-to-
date. Sua qualidade arquitetônica endossava as novas tipologias verticais como
opções preferenciais no mercado habitacional, aptas a receber tanto um público mais
moderno como as “boas famílias” da época. Plantas generosas, implantações
cuidadosas, obras de arte no térreo, paisagismo, tudo concorria para qualificar os
novos empreendimentos.
Os primeiros edifícios residenciais paulistanos construídos em altura surgiram
em meados da década de 1920, destinados ao aluguel. A princípio, tiveram aceitação
restrita, mas com o passar do tempo foram proliferando nas proximidades do centro da
cidade, principalmente nas imediações da Avenida São João, por ser uma via bem
servida de transporte coletivo (LEMOS, 1990, pp. 57-58).
Os prédios de apartamentos eram possibilitados por novas tecnologias, que
começavam a ser implantadas no Brasil, referentes, principalmente, ao
desenvolvimento dos elevadores, das estruturas em concreto e das instalações
elétricas e hidráulicas para edifícios altos.
Alguns fatores propiciaram a disseminação desse tipo de moradia, como a
carência de infraestrutura adequada fora das áreas centrais, o aumento da população
e a saturação dessas zonas, que logicamente tinham seus terrenos cada vez mais
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
11
valorizados. Os apartamentos representavam então, uma nova opção para a moradia
de aluguel, frente aos tradicionais sobradinhos geminados (LEMOS, 1989, p. 79).
Esses edifícios visavam gerar bons aluguéis e para tanto se preocupavam em
oferecer comodidade à classe média, que relutava em morar promiscuamente em
habitações coletivas.
Contudo, em São Paulo os padrões urbanísticos predominantes até a década
de 1930 supunham que as atividades terciárias e as altas densidades se limitassem à
área central, prevendo para as zonas urbana e suburbana, fora do centro, apenas
indústrias e bairros residenciais horizontais (GALESI e CAMPOS, 2001, p. 39).
Os primeiros edifícios de apartamentos, calcados em modelos arquitetônicos
europeus (SOMEKH, 2001, p. 19), com ornamentação eclética e predominância de
linhas horizontais (REIS FILHO, 73, p. 80), buscavam distanciar-se dos cortiços e
firmar-se como casa de família. Segundo Carlos Lemos (1978, p. 57), os hábitos e
desejos dos estratos médios definiram as normas, os programas e os partidos dos
prédios de apartamentos de São Paulo. Para agradar essa camada social, os
apartamentos deveriam ter o máximo de conforto e o mínimo de promiscuidade.
Nos anos 1930 o racionalismo modernista passou a ser uma opção atraente
para os construtores de apartamentos, por sua capacidade de maximizar o
aproveitamento dos terrenos e racionalizar os processos construtivos, garantindo ao
mesmo tempo espaços com qualidades funcionais aptas a responder aos novos
programas da moradia urbana. Dentre os primeiros edifícios paulistanos de linguagem
moderna, embora ainda atrelados a alguns elementos acadêmicos, destacam-se o
Edifício Columbus (1929-1934), o Edifício Hygienópolis (1935-1936) e o Edifício
Guarany (1936-1942) de Rino Levi, bem como o Edifício Santo André (1935) de
Jacques Pillon e Francisco Matarazzo Neto, além do Edifício Buenos Aires (1938) de
Lindenberg e Assumpção, entre outros.
O Edifício Esther (1934-1938), projetado por Álvaro Vital Brazil e Adhemar
Marinho, erguido na Praça da República, é considerado o primeiro prédio corbusiano
do Brasil e um marco da arquitetura brasileira. Com sua proposta inovadora, adquiriu
grande prestígio diante de um seleto grupo de artistas e intelectuais formadores de
opinião que, de certa forma, despertavam nas elites paulistanas o desejo de morar em
apartamentos.
Em meados do século XX, despontaram ainda na área central de São Paulo os
edifícios de uso misto, reunindo habitação, comércio e serviços na mesma construção,
numa proposta também inovadora, tipicamente modernista.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
12
Até então a verticalização residencial se concentrava no entorno do centro
tradicional: ao longo da Avenida São João e no início das avenidas Brigadeiro Luiz
Antonio e outras vias sendo alargadas naquele momento. O Código de Obras de 1929
tornou viável erguer prédios de apartamentos fora do centro apenas em vias mais
largas, como as avenidas Angélica, Higienópolis e Paulista. Paralelamente, o Plano de
Avenidas, elaborado pelo engenheiro arquiteto Francisco Prestes Maia em 1930 e
implementado durante sua gestão como prefeito entre 1938 e 1945, também
incentivava a verticalização por meio de leis que permitiam maiores alturas para
edifícios nas avenidas do Perímetro de Irradiação (GALESI e CAMPOS, 2001, pp 46-
47).
No início da década de 1940, a cidade já se encontrava pontilhada de prédios
residenciais, espalhados por bairros como Liberdade, Vila Mariana, Higienópolis e
também ao longo das avenidas Celso Garcia e Nove de Julho.
O advento da Segunda Guerra Mundial (iniciada em 1939) dificultou o acesso
aos materiais importados e a legislação de proteção aos locatários (“Lei do
Inquilinato”), promulgada pelo governo Vargas marcaram o início de outra etapa do
processo de verticalização, em que as incorporações para venda realizadas por
empresas ganhavam terreno em face do sistema tradicional de construções para
aluguel empreendidas por particulares.
Ao mesmo tempo, os princípios arquitetônicos modernistas fortaleciam-se em
São Paulo, desde a idéia da “moradia mínima”, buscando a racionalização do espaço
doméstico e a industrialização da construção, até a aplicação desses conceitos à
crescente produção de edifícios de apartamentos destinados à classe média. Nesse
contexto, a verticalização modernista buscava criar uma tipologia racionalista
adequada ao mercado e à legislação paulistana. São exemplos deste período o
Edifício Louveira, de Vilanova Artigas (1946), e o Edifício Seguradora Brasil de Rino
Levi (1948).
No segundo pós-guerra o hábito de residir em apartamentos consolidava-se
tanto nas camadas mais abastadas da população quanto nas classes intermediárias.
Nesse período, foram construídos grandes conjuntos mistos (que incluíam habitação,
comércio e serviço) no centro da cidade e na Avenida Paulista, como por exemplo, o
Edifício Copan (1951) de Oscar Niemeyer; o Conjunto Nacional (1955) de David
Libeskind; e o Nações Unidas (1956), de Abelardo de Souza.
Nesse contexto, o modelo de edifício moderno isolado - torres em lâminas, às
vezes sobre pilotis - espalhou-se pela cidade. Como por exemplo, o Edifício Paulicéia
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
13
(1956) de Jaques Pilon e Gaina Carlo Gasperini; o Edifício João Ramalho (1953) de
Salvador Candia, Plinio Croce e Roberto Aflalo; e muitos outros.
Os prédios residenciais construídos no bairro de Higienópolis começavam a
formar um conjunto de especial relevo, tanto pela concentração crescente de edifícios
com marcante qualidade arquitetônica na região, quanto pelos cuidados especiais
tomados pelos empreendedores no momento de investir num bairro considerado
aristocrático. Para perpetuar tal prestígio, foram adotadas várias medidas, desde a
contratação dos mais renomados arquitetos da época, passando pela preocupação
com a execução das obras que deveriam ser primorosas, até a inclusão de obras de
arte nas áreas comuns dos edifícios.
Critérios adotados
Essa pesquisa está embasada em conceitos e teorias de autores como
Siegfried Giedion e Leonardo Benevolo, que tratam dos princípios e da história da
arquitetura moderna, assim como Yves Bruand, Henrique Mindlin, Hugo Segawa e
Maria Ruth Sampaio, que são referências no que diz respeito à arquitetura moderna
brasileira. Também foram fundamentais os textos dos historiadores da cidade de São
Paulo, como Nestor Goular Reis Filho e Benedito Lima de Toledo.
Os consagrados livros e artigos do arquiteto e historiador Carlos Lemos
selecionados para essa pesquisa são fundamentais para entender as transformações
da moradia brasileira, especialmente da paulistana, bem como a evolução do modo de
vida no século XX.
Segundo Lemos, “o ato de morar é uma manifestação de caráter cultural e
enquanto as técnicas construtivas e os materiais variam com o progresso, o habitar
um espaço, além de manter vínculos com a modernidade também está relacionado
com os usos e costumes tradicionais da sociedade” (LEMOS, 1989, pp.7-8).
Nos livros da coleção História da vida privada no Brasil também estão
relatados as transformações culturais, sociais e comportamentais da família brasileira
ao longo dos últimos cinco séculos. Para Sevcenko (1997), organizador do terceiro
volume da coleção, o contato com novos recursos, associado às pressões de um
mercado intrusivo, força pessoas e grupos a sucessivos ajustes de suas idéias,
valores e modos de vida, o que inevitavelmente afeta suas vidas privadas.
Para estudar os processos de metropolização e verticalização residencial da
cidade de São Paulo são referências os livros de Nadia Somekh (1997), A cidade
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
14
vertical e o urbanismo modernizador, e de Candido Malta Campos (2002), Os
rumos da cidade, bem como o livro de Maria Adélia Souza (1994), A identidade da
metrópole. O livro São Paulo: Metrópole em trânsito, organizado por Campos,
Gama e Sacchetta, traz também uma contribuição importante para a elaboração desta
pesquisa, por traçar um panorama da evolução urbanística e cultural da capital
paulista.
O livro de Sarah Feldman (2005) se faz necessário por abordar a questão do
zoneamento da cidade de São Paulo que se tornou um importantíssimo instrumento
de planejamento urbano. A obra de Flávio Villaça (1998) é importante por apresentar
um estudo da localização urbana, mostrando as possibilidades que as diferentes
classes sociais apresentam de comandar os deslocamentos intra-urbanos. O livro
revela que o espaço regional é estruturado pelo controle de tempo de deslocamento
dos seres humanos enquanto consumidores e que as possibilidades desse controle
fazem com que as classes sociais disputem as localizações.
Ainda sobre os temas urbanismo e cidades, as obras de Richard Morse (1970),
Gilberto Velho (1995) e Ana Fani Alessandri Carlos (2001) contribuem para a
compreensão das transformações na vida metropolitana. Segundo Richard Morse, a
metropolização em São Paulo obedecia ao ritmo espasmódico da produção,
característico de uma industrialização recente, exagerado pela influência dos
interesses estrangeiros” (MORSE, 1970, p. 273).
A professora Ana Carlos faz uma reflexão sobre a condição humana
contemporânea. Em seu trabalho a metrópole de São Paulo aparece como o lugar de
profundas e rápidas transformações que ocorrem não só no espaço (nas formas
urbanas), mas sobretudo na vida cotidiana. As intervenções do Estado redefinindo
usos e funções de parcelas da cidade, interferem nos modos de uso e apropriação da
cidade pelo cidadão, criando uma nova prática socioespacial na medida em que
transformam o sentido dos espaços públicos e redefinem os espaços privados. A
autora observa ainda que o espaço da habitação, na realidade, não pode ser restrito
ao plano da casa; o sentido do habitar é muito mais amplo, envolvendo vários níveis e
planos espaciais de apropriação, iluminando uma articulação indissociável, entre
espaço-tempo na medida em que o uso do espaço se realiza enquanto emprego de
tempo. Ela também afirma que o homem habita e se percebe no mundo a partir de sua
casa, pois ela é "o centro geométrico do mundo para o habitante". Assim, a casa
envolve outras dimensões espaciais, como a rua e o bairro. O habitar implica,
portanto, num conjunto de ações que articula também planos e escalas espaciais (o
público e o privado; o local e o global) e que envolve a vida que se realiza pela
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
15
mediação do outro, imerso numa teia de relações que constrói uma história particular,
que é, também, uma história coletiva, onde se insere e ganha significado a história de
cada um (CARLOS, 2001).
Gilberto Velho acredita que é possível somar o grande crescimento
populacional mundial decorrente dos avanços médicos e higienistas ao aumento da
população das cidades e às mudanças de comportamento trazidas pelo avanço
tecnológico, totalizando uma grande massa humana vivendo de forma muito distinta
da que se tinha um século antes. Nesse contexto, Gilberto Velho fala da crescente
urbanização e do papel das cidades:
A cidade tornou-se o locus, por excelência, dessas mudanças não
como receptáculo passivo, mas como produtora de novas formas de
sociabilidade e interação social, de modo genérico. A explosão
demográfica, resultado de mudanças sócio-econômicas, com
progressos médicos e sanitários, multiplicou muitas vezes em curtos
períodos de tempo o número de habitantes dos principais centros
urbanos. As correntes migratórias e os diversos deslocamentos de
população alteraram a relação tradicional entre cidade e campo. A
divisão social do trabalho, com novas regras e características do
capitalismo em ascensão, destruiu modos de vida tradicionais,
alterando drasticamente tanto as estruturas sociais como o ambiente
natural
(VELHO, 1995, pp. 227-234).
Otávio Guilherme Velho é o organizador do livro “O fenômeno urbano”, de
1973, que traz uma coletânea de diversos textos sobre as questões urbanas, muito
úteis para o desenvolvimento desta pesquisa. Entre eles está o texto de Georg Simmel
que diz:
Os problemas mais graves da vida moderna derivam da reivindicação
que faz o indivíduo de preservar a autonomia e individualidade de sua
existência em face das esmagadoras forças sociais, da herança
histórica, da cultura externa e da técnica de vida
(SIMMEL In
VELHO, 1973, p.11).
A obra de Maria Arminda Arruda (2001) é essencial para a compreensão do
panorama sociocultural que a cidade de São Paulo apresentava em meados do século
XX, assim como o trabalho de Denise Xavier (2007) deixa claro que a arquitetura
acompanhava as transformações da cidade, assumindo um caráter metropolitano.
A tese de doutorado do professor Mario Figueroa (2002) também é referência
por agrupar uma rica documentação sobre a produção dos edifícios residenciais
paulistanos até o início da década de 1970, bem como a análise crítica de tais
projetos. Assim como as teses de Ruy Debs Franco (2004) sobre a obra de Artacho
Jurado, de Ivy Rebouças (2004) sobre a trajetória de Victor Reif, de Marcelo Barbosa
(2002) sobre a produção de Franz Heep que apresentam detalhes de alguns projetos
de edifícios realizados por esses arquitetos para o bairro de Higienópolis. Do mesmo
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
16
modo, são úteis os trabalhos acadêmicos de Lúcio Gomes Machado (1992) sobre a
obra de Rino Levi; de Anat Falbel (2003) sobre Lucjan Korngold, bem como o de João
Masao Kamita (2000) sobre Vilanova Artigas.
Especificamente sobre o bairro de Higienópolis é indispensável a referência da
obra de Maria Cecília Naclerio Homem (1980), intitulada Higienópolis: Grandeza e
decadência de um bairro paulistano, onde é traçada a evolução do bairro desde
suas chácaras, passando pelo período dos palacetes (que ela considerada como
“período áureo”) até a chegada dos edifícios. Também é de suma importância a
dissertação de Silvio Macedo (1982), “Higienópolis e arredores, processo de mutação
de paisagem urbana”, que conta com um minucioso levantamento das alterações da
paisagem do bairro, com levantamento iconográfico das antigas residências, plantas
de localização e uma reconstituição, elaborada por meio de desenhos, de vistas de
testadas de várias quadras do bairro, de grande valia para a compreensão dos seus
conjuntos arquitetônicos. Ainda se faz relevante a pesquisa de mestrado realizada por
Luiz Flávio Gagetti (2000), “Características das tipologias arquitetônicas dos edifícios
residenciais no bairro de Higienópolis - 1938/1965”.
Outras obras acadêmicas também se tornam referência para esta pesquisa,
como, por exemplo, a obra de Simone Villa (2002), que aborda a questão do
apartamento paulistano e o modo de vida metropolitano, bem como a dissertação de
mestrado de Renato Locilento (2004), que traz uma análise da produção vertical
residencial modernista da cidade de São Paulo dos anos 1940 a 1950. E ainda a obra
de Maria do Carmo Villariño (2000) que trata da contribuição dos arquitetos modernos
ao tema da habitação verticalizada de São Paulo.
Quanto aos conceitos de edifício e de moradia, apresentam grande interesse
os textos de Puls que, entre tantas coisas, apontam que “o edifício nada mais é do que
o lugar do homem no mundo, o espaço aberto pelo sujeito no entorno material que o
envolve” (PULS, 2006, p.13). Na discussão da qualidade do espaço habitado, o livro
de Aloísio Schmid (2005) apresenta valiosa reflexão sobre a idéia de conforto do
ambiente construído. Schmid mostra que a questão da qualidade na arquitetura está
relacionada à idéia de conforto - sendo que o conceito de conforto é entendido de
forma ampla, que envolve as percepções visuais, táteis, auditivas, sinestésicas e
olfativas, sendo abarcadas todas as variáveis de um ambiente como ar, luz, som, calor
e texturas, além de questões mais subjetivas, como a capacidade de emocionar.
Os estudos do grupo de pesquisa NOMADS - Núcleo de Pesquisa Sobre
Habitação e Modos de Vida - da USP de São Carlos, liderados pelo professor Marcelo
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
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Tramontano, bem como suas teses de doutorado (1998), “Novos modos de vida,
novos espaços de morar: uma reflexão sobre a habitação contemporânea”, e livre
docência (2004), S Q C B: apartamentos e vida privada na cidade de São Paulo”,
também são utilizados como referências para esta pesquisa.
A metodologia adotada para este trabalho foi dividida em três tarefas básicas:
pesquisa bibliográfica, pesquisa documental e levantamento fotográfico. A pesquisa
bibliográfica deu o suporte teórico e conceitual referente aos diversos assuntos
relacionados, como por exemplo, os princípios modernistas de arquitetura residencial
vertical e suas adaptações brasileiras; a evolução urbana da cidade de São Paulo e
sua consequente verticalização; as mudanças demográficas, sociais, comportamentais
e culturais decorrentes do processo de metropolização; as intervenções do poder
público no processo de urbanização e a contextualização do período estudado; e
ainda os antecedentes históricos da formação do bairro de Higienópolis. Também foi
feita uma pesquisa referente aos conceitos de qualidade de moradia que foram
fundamentais para a adoção de critérios de avaliação do objeto de estudo.
A pesquisa documental foi realizada por meio de levantamento em publicações
especializadas, com destaque para a revista Acrópole, bem como em alguns trabalhos
acadêmicos e também em alguns projetos originais encontrados no arquivo da FAU
USP, possibilitando a realização de um inventário dos edifícios modernos mais
representativos do bairro de Higienópolis. Paralelamente, foram feitas fotografias dos
edifícios levantados que mostram o atual estado dos mesmos.
Estrutura do trabalho
O texto da tese está estruturado da seguinte forma. O primeiro capítulo trata de
alguns aspectos da história da arquitetura moderna, mais especificamente dos
relevantes para a problemática da habitação coletiva e vertical, e está dividido em três
partes: no item 1.1 estão apresentados os princípios modernistas de arquitetura e os
conceitos referentes à habitação vertical divulgados por seus principais mentores,
Walter Gropius e Le Corbusier. No item 1.2 estão abordadas as interpretações
brasileiras da arquitetura moderna com destaque para a produção carioca e paulistana
e para a realização de edifícios residenciais multifamiliares emblemáticos. No item 1.3
estão apresentadas algumas considerações sobre a questão da qualidade da
arquitetura residencial verticalizada.
O segundo capítulo diz respeito ao processo de formação da metrópole
paulista e também está dividido em três partes. No item 2.1 estão relatadas as
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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principais transformações que a cidade passou a partir do final do século XIX até o
período da Segunda Guerra Mundial, incluindo a explosão demográfica, a expansão
urbana, o início da verticalização, o crescimento econômico e político bem como os
avanços culturais. No item 2.2 estão abordados os mesmos assuntos do item anterior,
mas referentes ao período do pós-guerra - momento em que o país apresentou um
intenso crescimento e que a cidade de São Paulo consolidou sua força política e
econômica, presenciando avanços significativos que resultaram num crescimento
demográfico ainda maior associado ao surgimento de periferias e a um intenso
processo de verticalização. O item 2.3 trata das alterações nos modos de vida
decorrentes do novo ritmo imposto pela cidade já na condição de metrópole.
O terceiro capítulo, também dividido em três partes, traça um panorama das
transformações que o bairro de Higienópolis (foco da pesquisa) sofreu ao longo do
tempo. O item 3.1 relata os primórdios da região, época em que a ocupação era
caracterizada por chácaras. O item 3.2 aborda a história do loteamento promovido
naquela área na última década do século XIX por dois empreendedores alemães,
Martin Burchard e Victor Nothmann, destinado a um público de alto poder aquisitivo
que resultou na formação de um bairro elitizado, dotado de boa infra-estrutura e
ocupado por palacetes. No item 3.3 é relatada a rápida transformação que o bairro
novamente presenciou, a partir da década de 1930, época em que os casarões foram
demolidos cedendo lugar aos edifícios de apartamentos.
Finalmente, o quarto capítulo traz o levantamento da produção vertical
modernista realizada no bairro de Higienópolis entre os anos de 1940 e 1970, com a
apresentação de seus principais edifícios, dividida em três períodos: os anos 1940
(época pioneira), os anos 1950 (afirmação do moderno) e os anos 1960 (disseminação
do modernismo), com dados organizados na forma de fichas seguidas por uma
descrição e análise detalhada dos edifícios. Os edifícios estudados estão inseridos
dentro do perímetro delimitado destacado na imagem a seguir:
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verticalização residencial em Higienópolis
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Figura 1: Delimitação da área de estudo.
Fonte:
http://maps.google.com.br.
A pesquisa detectou a construção de mais de duzentos edifícios residenciais
no referido período dentro da área delimitada. Porém, para efeito de comprovação da
tese, foram escolhidos apenas os considerados como mais emblemáticos e aqueles
que tiveram matérias publicadas em livros, revistas ou trabalhos acadêmicos. Não foi
possível encontrar o projeto de arquitetura de todos, portanto alguns deles estão
apresentados pelas imagens de fachada. Baseado nos conceitos e teorias sobre
qualidade que estão discutidos nesta pesquisa é feita uma análise dessa produção
arquitetônica levando em conta, principalmente, o aspecto da relação do edifício com a
cidade/bairro.
Desta forma, a pesquisa é concluída com o objetivo de discutir a importância e
a qualidade da verticalização do bairro de Higienópolis no contexto do crescimento
vertical da cidade de São Paulo como um todo.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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Capítulo 1 – Modernismo e verticalização: propostas
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verticalização residencial em Higienópolis
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1.1
Princípios
modernistas
de moradia
vertical
compreensão dos princípios arquitetônicos modernistas passa por uma
apreciação preliminar dos termos “moderno”, “modernidade” e
“modernismo”. Pode-se entender como modernidade o processo -
ainda em curso - que teve início com a renovação científica do século XVII e suas
decorrentes mudanças na visão de mundo e nas formas de sua expressão pelo
homem nas artes e na cultura, inclusive na arquitetura. Uma de suas consequências
foi que as explicações teocêntricas do universo deram lugar a uma compreensão mais
racionalizada, com a instrumentalização da técnica para domínio da natureza e a
valorização da ciência (CAMPOS, 2002, p. 24).
O termo “modernismo”, por sua vez, pode ser entendido como o conjunto de
movimentos culturais que permearam as artes no final do século XIX e inicio do século
XX, como a pintura, a escultura, a literatura, a arquitetura, o design e a música, como
resposta às consequências da industrialização (GALESI, 2002, p.14). As vanguardas
artísticas e culturais baseavam-se na idéia de que as formas “tradicionais” das artes,
bem como da organização social e da vida cotidiana, estavam ultrapassadas em vista
das inovações aportadas, de um lado, pelo avanço tecnológico e industrial e, de outro,
pelos novos modos de vida gerados pela sociedade moderna nas grandes cidades.
Portanto, era preciso abandoná-las no sentido de criar uma nova cultura (CAMARGO,
2000, p. 15). Essa rejeição da tradição exigia que cada aspecto da existência fosse
repensado e que todos os campos do conhecimento fossem revistos com o propósito
A
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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de substituir as formas antigas por novas e melhores, compatíveis com as novas
realidades do século XX.
A noção de “moderno” tende a ser mais difícil de delimitar. Embora o senso
comum defina a palavra “moderno” como algo novo, recente, atual, que está em
moda”, o termo também pode ser empregado para designar algo que seja fruto do
modernismo e, na arquitetura, do chamado Movimento Moderno, que mobilizou as
vanguardas modernistas no século XX.
Para Argan, o termo “modernismo” nas correntes artísticas refere-se ao esforço
de “interpretar, apoiar e acompanhar o esforço progressista, econômico-tecnológico da
civilização industrial no período do final do século XIX ao início do século XX
(ARGAN, 1993, p.185).
David Harvey (HARVEY, 1992, p. 97) afirma que o modernismo “é uma
perturbada e fugidia resposta estética a condições de modernidade produzidas por um
processo particular de modernização.” Ainda segundo ele:
A arte, a arquitetura, a literatura, etc do alto modernismo tornaram-se
artes e práticas do “establishment” numa sociedade em que uma
versão capitalista corporativa do projeto iluminista de desenvolvimento
para o progresso e a emancipação humana assumira o papel de
dominante político-econômica
(HARVEY, 1992, p. 42).
Os princípios do modernismo na arquitetura e no urbanismo surgiram com base
em movimentos e escolas arquitetônicas que originaram a chamada “arquitetura
moderna” enquanto fruto das transformações sociais, dos avanços tecnológicos e das
vanguardas artísticas em curso na Europa no início do século XX. Nesse sentido, a
arquitetura moderna não foi apenas um movimento estético, mas também social e
econômico - associado às idéias de progresso, de melhoria das condições de vida
urbana e de uma nova visão da ordem mundial buscando maior igualdade e justiça
social a partir das oportunidades oferecidas pelos novos conhecimentos e técnicas.
Segundo Leonardo Benevolo, as origens do pensamento arquitetônico
moderno foram contemporâneas às transformações econômicas, sociais e artísticas
decorrentes da revolução dos meios de produção, ou seja, da era industrial. Neste
período houve grande taxa de urbanização na Inglaterra e a cidade se converteu no
grande pólo de desenvolvimento, atraindo imensa quantidade de pessoas que
buscavam melhores salários, condições de vida mais higiênicas, maior assistência,
divertimento e oportunidades de encontro (BENEVOLO, 2001, p.69).
O impacto causado pela Primeira Guerra Mundial na Europa repercutiu nos
meios intelectuais e culturais que clamavam por igualdade social, sob o impacto da
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Revolução Russa de 1917 e do desenvolvimento industrial que possibilitava
tecnicamente a produção dos bens necessários a uma vida mais confortável. A
questão da habitação passava a ser considerada primordial e urgente, com o déficit de
moradias agravado pelos efeitos da guerra. Era preciso encontrar soluções para a
construção em massa de habitações. Essa situação vinha ao encontro das idéias dos
pioneiros da arquitetura moderna que tinham desenvolvido programas de cunho social,
cujo objetivo era fazer com que a arquitetura assumisse papel ativo na construção de
uma sociedade mais justa, acreditando que a habitação era um instrumento educador
das classes populares, divulgador de uma nova cultura de morar e de uma nova
organização social (VILARIÑO, 2000. p. 20).
O desafio de garantir a todos condições dignas de moradia provocou uma
reformulação no modo de pensar e fazer arquitetura. O avanço industrial possibilitou o
desenvolvimento de um racionalismo construtivo gerando novas experimentações
formais que priorizavam a questão da funcionalidade. Com esses parâmetros foram
desenvolvidos as unidades de habitação e os blocos multifamiliares, que contavam
com equipamentos de uso coletivo. A racionalização se traduzia na redução do
programa da habitação, com a concepção de plantas compactas e a eliminação de
ambientes supérfluos. Propunha-se também, transferir algumas tarefas domésticas
para a realização coletiva e, com isso, alcançar outro objetivo: promover a
emancipação da mulher para que ela pudesse ser efetivamente incluída no mercado
de trabalho. Este fato comprova que as propostas modernas extrapolavam as
questões de arquitetura propriamente dita e almejavam resolver outras pendências,
como as sociais, políticas, econômicas e urbanísticas (ARGAN, 1993, p.185).
Entre os divulgadores do Movimento Moderno e dos princípios modernistas de
moradia ao longo das décadas de 1920, 1930, 1940 e 1950, pode-se destacar as
trajetórias de Walter Gropius e Le Corbusier. Segundo Mônica Junqueira, eles foram
os líderes da renovação da arquitetura e que por terem sido muito diferentes, não se
sobrepuseram e sim se complementaram. Gropius fundou e dirigiu uma escola
exemplar, Le Corbusier ditou leis, lançou declarações, discutiu, argumentou e
persuadiu. Enquanto Le Corbusier era um vulcão de idéias, Gropius era um firme
defensor de uma idéia, de um programa, de um método” (CAMARGO, 2000, p. 29).
A Bauhaus, fundada por Gropius em Weimar, Alemanha em 1919, foi a
primeira escola a organizar o ensino para a arte moderna, unificando o ensino das
belas-artes com as artes aplicadas. A Bauhaus oficializou a arquitetura moderna como
uma manifestação legítima daqueles tempos e introduziu um novo padrão estético e
novos métodos de fazer e ensinar arquitetura. Gropius dirigiu a Bauhaus até 1928,
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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mas com a ascensão do nazismo se sentiu obrigado a deixar a Alemanha. Em 1937
mudou-se para os Estados Unidos aceitando o convite para lecionar na Universidade
de Harvard (Boston), onde logo depois assumiu o cargo de diretor do departamento de
arquitetura, contribuindo para a reformulação do ensino de arquitetura daquela
instituição (CAMARGO, 2000, p. 28).
Arquiteto suíço radicado na França desde 1917, Le Corbusier publicou, em
1923, o livro Vers une Architecture”, uma coletânea de seus artigos escritos para a
revista L’Espirit Nouveau. A obra se tornou uma espécie de “livro sagrado” para
arquitetos de todo o mundo: um manifesto, um tratado de estética a estética da
máquina. Nele era pregada a negação dos estilos históricos a favor do modelo
industrial. Nos seus textos já apareciam os cinco pontos da nova arquitetura, que mais
tarde se tornariam ícones da arquitetura moderna: 1. planta livre; 2. fachada livre; 3.
Pilotis; 4. terraço jardim; e 5. janelas corridas.
Uma de suas principais contribuições foi
o entendimento da casa como uma máquina de morar, em concordância com os
avanços industriais. Suas principais preocupações eram a racionalidade e a
funcionalidade, além de uma nova planificação urbana, mais adequada à vida
moderna (CAMARGO, 2000, p. 30).
Os debates em torno da moradia coletiva, da habitação vertical e da produção
em série de unidades habitacionais eram uma constante entre os arquitetos modernos.
Estes defendiam que as novas linguagens e os partidos arquitetônicos de vanguarda
seriam mais aptos a tirar proveito dos sistemas construtivos, técnicas e instalações
atualizadas, no sentido de obter resultados econômicos e de qualidade para a
provisão de moradia em grande escala. As soluções modernistas pretendiam dar
conta do adensamento exigido pela urbanização contemporânea, garantindo, ao
mesmo tempo, condições adequadas de vida e de habitabilidade, tanto no ambiente
doméstico como no meio urbano em geral.
Foram muitas as experiências e exemplos que, na Europa, fizeram uso dos
princípios modernistas para obter soluções habitacionais eficazes e avançadas. Em
1927 foi inaugurada uma exposição em Stuttgart (Alemanha) organizada pelo grupo
Deutscher Werkbund, que se tornaria um marco para as discussões em torno da
arquitetura moderna residencial. Batizada de Weissenhof Siedlung (nome do bairro),
esta exposição nada mais era do que um conjunto habitacional em que arquitetos de
vários países (engajados com o Movimento Moderno) foram convidados para projetar
e construir moradias “modernas”, tendo em vista os novos problemas sociais,
espaciais, construtivos e higiênicos, assim como as novas possibilidades tecnológicas.
O plano geral do bairro foi traçado pelo arquiteto alemão Mies van der Rohe, que
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também presidiu a exposição e projetou um edifício de apartamentos em estrutura de
aço (GIEDION, 2004, pp. 621-625).
Figura 2: Conjunto Weissenhof – Stuttgart, 1927.
Fonte: GIEDION, 2004, p. 622.
Participaram da Exposição de Stuttgart alguns dos maiores nomes do
modernismo europeu, como Le Corbusier, os holandeses J.J.P. Oud e Mart Stam, o
belga Victor Bourgeois, além dos alemães Walter Gropius, Peter Behrens, Josef
Frank, Richard Docker, Ludwig Hilberseimer, Hans Poelzig, Adolf Rading, Hans
Scharoun, Bruno e Max Taut (BENEVOLO, 2001, p. 456). Essa exposição apresentou
ao público pela primeira vez um panorama unitário do Movimento Moderno. Não
existiu um projeto de conjunto: as casas e edifícios foram implantadas lado a lado, tal
como nos bairros comuns, o que faz com que Weissenhof possa ser considerado
como uma representação alusiva da cidade moderna, mostrando a possibilidade de se
atingir uma unidade mais vasta, na qual se compensem diferentes modos de projetar:
“não se trata, com efeito, de uma coleção de propostas de edificação, mas de um novo
conceito do habitar que se prepara para modificar não somente as residências singulares, mas
todo o ambiente urbano”
(BENEVOLO, 2001, p. 458).
Outras mostras foram preparadas pelos arquitetos modernos no período entre
guerras, tendo como tema recorrente a casa moderna. Desde o pavilhão do Espirit
nouveau de Le Corbusier apresentado na Exposição Internacional de Artes
Decorativas em 1925, como a Mostra Wohnen im Grunen de 1928 em Berlim, onde
Gropius e outros mestres alemães apresentaram suas teses, até a Exposição de
Werkbund em Paris em 1930, onde Gropius apresentou o projeto de um edifício de
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Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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apartamentos de dez andares como modelo ideal e digulgou os móveis produzidos em
série. Houve ainda outra exposição em Berlim em 1931 chamada de Mostra da
Arquitetura Alemã (BENEVOLO, 2001, p. 460).
Os CIAM (Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna) também tiveram
importante papel na consagração da nova arquitetura e foram responsáveis pela
definição daquilo que costuma ser chamado de international style- uma arquitetura
considerada limpa, sintética, funcional e racional. Organizados pelos principais nomes
da arquitetura moderna européia, esses encontros tinham o objetivo de discutir os
rumos da arquitetura, do urbanismo e do design. Le Corbusier foi um dos seus
principais idealizadores. Além de assumirem o compromisso de conceber uma
arquitetura coerente com a nova ordem mundial, os participantes da primeira edição
do CIAM realizada na Suiça em 1928 produziram um relatório no qual uma das
recomendações chamava a atenção para a necessidade dos arquitetos exercerem
influência sobre a opinião pública para fazê-la conhecer os meios e os recursos da
nova arquitetura:
Os arquitetos abaixo-assinados [afirmam que] suas obras devem
exprimir o espírito do tempo. (...) Eles afirmam (...) a necessidade de
uma nova concepção da arquitetura que satisfaça as exigências
espirituais e materiais da vida atual. Conscientes das profundas
transformações trazidas à estrutura social pelo maquinismo,
reconhecem que a transformação da vida social implica fatalmente em
uma transformação correspondente do fenômeno arquitetônico. O
objetivo preciso dos que aqui se reúnem é de realizar a harmonização
dos elementos em questão; e isso recolocado à arquitetura em seu
plano verdadeiro que é o plano econômico e sociológico (...) declaram
associar-se e apoiar-se mutuamente a fim de realizar, moral e
materialmente, suas aspirações no plano internacional
(KOOP, 1990,
p. 147).
Sobre o CIAM, Gropius escreveu:
A coisa mais importante foi o fato de que . em um mundo pleno de
confusões, de esforços fragmentários, um pequeno grupo internacional
de arquitetos sentiu a necessidade de reunir-se, em uma tentativa de
ver, como um todo unitário, os problemas multifacetados que os
confrontavam
(apud BENEVOLO, 2001, p. 478).
O segundo congresso CIAM foi realizado em Frankfurt, Alemanha, em 1929,
por convite de Ernest May, então chefe do Departamento de Habitação, Planejamento
e Construção daquela cidade. A temática principal foi a moradia mínima, servindo
como ponto de partida para as discussões sobre construção subvencionada. As
experiências de construção de conjuntos habitacionais em curso em várias cidades
alemãs foram apresentadas como referência. Com uma visão higienista, os arquitetos
concluíram que a área dos apartamentos poderia ser consideravelmente reduzida, ao
passo que a iluminação, a ventilação e a insolação deveriam se aumentadas. Também
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era defendida a idéia de que, com a crescente emancipação de cada indivíduo do seio
da família, seria ideal que fosse concedido um cômodo para cada adulto, mesmo que
este cômodo fosse pequeno. A habitação coletiva era apontada como a solução ideal
para os aglomerados industriais (BENEVOLO, 2001, p. 508).
O terceiro CIAM foi realizado em Bruxelas em 1930 por iniciativa do arquiteto
belga Victor Bourgeois. O tema oficial foi “métodos racionais de planejamento
regional”, mas a verdadeira discussão girou em torno das configurações de áreas com
casas geminadas e edifícios residenciais de vários pavimentos, assuntos de maior
evidência naquele momento. Todos os palestrantes, como Gropius, Corbusier e R. J.
Neutra, tiveram que se manifestar sobre o tema da habitação (GIEDION, 2004, p.
720).
O relatório produzido após a quarta conferência do CIAM realizado num
cruzeiro entre Marselha e Atenas em 1933, ficou conhecido como a “Carta de Atenas”.
O documento define o urbanismo moderno, traçando diretrizes e fórmulas aplicáveis
internacionalmente e discute como a arquitetura moderna poderia responder aos
problemas gerados pelo rápido crescimento das cidades, causado, entre outros
fatores, pela mecanização na produção e pelas mudanças no transporte. A Carta de
Atenas contém observações sobre o estado das habitações nas cidades. De acordo
com o documento, a densidade populacional, que é modificada pela altura das
edificações, é também definidora da qualidade ambiental das cidades. A idéia da
moradia mínima também sempre foi defendida pelos arquitetos dos CIAM (KOOP,
1990, p. 147-150). Na seqüência outros CIAM foram realizados
3
.
3 O quinto congresso CIAM ocorreu em Paris, em 1937, tendo como tema principal “Habitação e Lazer”. A
Segunda Guerra adiou a sexta reunião do CIAM que foi então realizada somente em 1947, em
Bridgwater, na Inglaterra. Organizado pelo grupo inglês MARS (Grupo de Pesquisa Arquitetônica
Moderna) o congresso foi concebido com uma proposta de reformulação o que resultou numa ruptura da
antiga tradição dos CIAM. O sétimo encontro foi organizado pelo grupo italiano, realizado em 1949, na
cidade de Bérgamo, Itália, abordando temas diversos. O oitavo CIAM foi novamente organizado pelos
ingleses do MARS, acorrido em 1951, na cidade de Hoddesdon, perto de Londres, tendo como tema “O
Coração da Cidade”. O nono CIAM aconteceu em Aix-em-Provence, França, em 1953, com o tema “O
Habitat Humano”, considerando a área de habitação do homem para além das paredes da casa, e
discutindo as relações entre os membros de uma família e os de uma comunidade. O décimo encontro,
realizado em Dubrovnik, Yugoslávia, em 1956, marcou a dissolução do CIAM e o surgimento do Team X,
grupo de jovens arquitetos que organizou o evento. As discussões desse encontro giraram em torno das
relações espaciais do indivíduo dentro da família, levando em consideração o ciclo da vida humana, suas
relações com a comunidade, sua necessidade de tranqüilidade e isolamento e sua necessidade de
contato com a natureza (GIEDION, 2004, pp.722-725).
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Figuras 3 e 4: Mies Van der Hohe Edifício Promotório, Chicago, 1949. Fachada leste.
Apartamentos com vista para o Lago Michigan privilegiando o contato com a natureza.
Pilares destacados na fachada – característica marcante das obras de Mies.
Fonte: GIEDION, 2004, p. 630 e 631.
Algumas experiências habitacionais realizadas em outros países nas décadas
de 1920 e 1930, como Rússia, Áustria, Holanda, Suíça e Inglaterra, tornaram-se
exemplos paradigmáticos que foram discutidos e aplicados em outros países. Como
por exemplo, os Edifícios Bergpolder (1934) e Plaslaan (1938), de Roterdã, que
adotavam o conceito de moradia mínima.
Figura 5: Edifício Plaslaan (1938) – Roterdã - fachada e planta do apartamento tipo.
Fonte: BENEVOLO, 2001, p. 584.
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As discussões dos arquitetos modernos apontavam muitas vezes a moradia
coletiva como a melhor solução para a habitação nas cidades industriais. Gropius e Le
Corbusier
4
defendiam essa idéia com veemência, embora ambos reconhesessem que
o ser humano, de um modo geral, relutaria em aceitar tal idéia, pois essa questão
acarretaria num sentimento ambíguo:
As opiniões quanto à forma ideal de moradia conflitam agudamente:
correspondem em suas raízes à antiga antítese entre cidade e campo.
O ser humano precisa de oposições para o incitamento e o
relaxamento, o anseio do citadino pelo campo e o do homem do
campo pela cidade é de natureza elementar e procura sempre uma
satisfação. (...) A luta pela forma habitacional é, portanto, em seu
núcleo, de origem psicológica, estando pois sujeita a reações de
pânico e psicose, como chegamos a sentir na apaixonada campanha
contra o cortiço
(GROPIUS, 2001, p. 159).
Le
Corbusier se referia ao apartamento como uma célula” pertencente a um
“organismo vivo”, a cidade.
O apartamento é um conjunto de elementos mecânicos e arquiteturais
que garantem nossa segurança e nosso conforto. Falando de
urbanismo, podemos considerar o apartamento como uma célula. As
células, pela vida em sociedade, são limitadas a modos de
agrupamento, a cooperações ou a antagonismos que constituem um
dos elementos essenciais do fenômeno urbano. De um modo geral,
sentimo-nos livres em nossa célula (e sonhamos em habitar em algum
lugar uma casa isolada para assegurar a nossa liberdade); a realidade
nos mostra que o agrupamento de células causa prejuízo a nossa
liberdade ( e sonhamos habitar... etc.); a vida em comunidade fechada
é uma adstrição imposta pelo próprio fato da cidade (acontecimento
irresistível); e sofrendo em nossa liberdade comprometida, sonhamos
(bem quimericamente) em quebrar o fenômeno coletivo que nos
acorrenta
(LE CORBUSIER, 2000, p. 201).
Segundo os mestres da arquitetura moderna, as cidades industriais tinham a
função de abrigar multidões e lhes proporcionar trabalho, moradia, lazer, cultura,
comércio e serviços. Na visão deles, a casa isolada era incompatível com a dinâmica
dessas cidades, ao passo que o edifício de apartamentos era a solução mais coerente
com os novos tempos a era da máquina, pois esses proporcionavam economia de
dinheiro (custo de terreno), de tempo (transporte) e de espaço (concentração de
moradores).
A domiciliação metropolitana que se caracteriza por estabelecer
numerosas pessoas empenhadas em trabalho ativo no núcleo
compacto de uma City, demanda caminhos curtos, isto é, o
aproveitamento da articulação vertical da construção para abreviar
distâncias horizontais. A casa térrea é uma forma de habitação
contrária à tendência básica de uma cidade
(GROPIUS, 2001, p.
160).
4 Os textos originais de Gropius e Le Corbusier citados neste capítulo foram escritos na década de 1920.
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Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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Figura 6: Bloco Laminar - Proposta de Gropius para edifício residencial, 1930.
Fonte: GIEDION, 2004, p. 856.
Le Corbusier imaginava uma solução tipológica para as cidades, assim como
para as casas e os edifícios. Ele defendia a idéia do homem-tipo e da casa-tipo, a qual
chamava de “máquina de morar”. Como ele acreditava que o homem possuía as
mesmas necessidades em qualquer cultura, era a favor da padronização das
moradias, o que também proporcionaria o máximo rendimento de materiais, de tempo
e de custo, garantindo eficácia no processo de construção. Le Corbusier queria
transpor para a arquitetura os conceitos da industrialização e, por isso, apostava na
produção em série e na mecanização.
Examinemos o que é preciso a uma família (uma célula); o que é
preciso a certo número de células em suas relações obrigatórias e
estimemos o número de células que podem utilmente formar uma
aglomeração administrável, administrável como um hotel, como uma
comuna uma comunidade que, no fato urbano, torne-se por sua vez
um elemento orgânico claro, definido, tendo uma função delimitada
que permita reconhecer necessidades restritas e colocar o problema.
Então coloquemos o problema e depois do estudo chegaremos a uma
proposta que deve poder responder a muitos postulados: .
Liberdade; . Satisfação; . Beleza; . economia de construção; .
Economia de exploração; . Saúde física; . Funcionamento
harmonioso dos órgãos necessários; participação fecunda no
fenômeno urbano (trânsito, respiração, polícia, etc.)
(LE
CORBUSIER, 2000, p. 203).
Gropius também acreditava que a habitação verticalizada seria capaz de
resolver o problema de moradias das grandes cidades.
Se agora a prática das construções residenciais, considerando
também os fatores econômicos, mostra que parcelas preponderantes
da população trabalhadora não podem ser providas por meio das
construções de casas de moradia, bem como recusam em parte esta
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forma de habitação, resulta daí claramente que o grande edifício bem
organizado e moderno não deveria ser visto como um mal necessário,
porém como um verdadeiro organismo habitacional biologicamente
condicionado por nosso tempo
(GROPIUS, 2001, p. 164).
Gropius entendia que em um edifício alto de muitos apartamentos a ajuda
mútua entre as famílias ocorreria de forma mais fácil e natural e que uma central de
serviços poderia poupar as donas de casa das tarefas caseiras mais árduas e
demoradas. Essa central também representaria uma economia doméstica, pois os
custos seriam divisíveis entre um grande número de famílias, possibilitando, por
exemplo, a implantação de praças de esportes e jardins de infância nas áreas comuns:
“São custos para instalações cujo sentido é o de aplicar o lucro do tempo no que há de
fundamental, no lucro da vida.” (GROPIUS, 2001, p. 169).
Figura 7: Proposta de Le Corbusier para Buenos Aires (1929): Edifícios
implantados em parque.
Fonte: GIEDION, 2004, p. 622.
De acordo com as propostas modernistas, os edifícios deveriam ser, sempre
que possível, implantados em meio a áreas verdes, parques e jardins, ou seja, eles
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Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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deveriam ser cercados de áreas livres que garantissem conforto, higiene e ar puro,
além de proporcionar lazer comum para adultos e crianças.
O grande edifício, cuidadosa e responsavelmente planejado, erigido
com recursos bastantes, em meio a largas áreas verdes, pode, no
entanto, preencher as requeridas condições de luz, ar e movimentação
e, demais, conceber ao citadino uma porção de outras vantagens
(GROPIUS, 2001, p. 160).
A construção dos edifícios sobre pilotis ampliaria a área livre do andar térreo e
promoveria maior integração do edifício com a cidade, do espaço público com o
privado, e liberaria o edifício do solo, permitindo inclusive a circulação de automóveis.
Corbusier acreditava que, tornando todas as construções suspensas, seria criada uma
nova perspectiva no ambiente urbano.
A multidão e o burburinho nos interessam porque somos seres que
vivem de bom grado em agrupamento. (...) Que nos importa que acima
desses elementos confortáveis” e atrás das folhagens, erga-se a
formidável silhueta do arranha-céu? Assim transportada para o
segundo plano de nossa visão, mergulhadas em vastos espaços de
luz, reluzentes em seu revestimento de vidro, suas massas nada mais
tem em comum com o peso esmagador que sufoca e obceca em Nova
York. Que nos importa que nos loteamentos com reentrâncias as
linhas categóricas dos terraços sejam levadas a 40 metros de altura,
se desenham um belo e amplo contorno arquitetural e se estendem um
traço puro sobre a exuberância graciosa das copas das árvores
repletas de cantos de passarinhos. (...) Em escala humana? Basta
colocar bem o problema; dispor o verde e criar traçados urbanos
infinitamente mais ricos do que a rua-corredor com a qual, até agora,
entristecemos, sem moderação, nossos corações
(LE CORBUSIER,
2000, p. 223-226).
A questão da altura dos edifícios também foi muito discutida pelos pioneiros do
modernismo. Gropius ponderava que a altura ideal seria o resultado de um fator
econômico, dependendo do custo do terreno:
A altura preferível de um prédio de apartamentos é, a meu ver, apenas
um problema econômico, que ainda não está resolvido totalmente por
falta de tentativas práticas. (...) O limite econômico situa-se onde o
acréscimo dos gastos de construção não é mais equilibrado pela
economia feita com o terreno e a rua. A esta altura do cálculo, está
claro qual a altura de construção economicamente preferível. O
resultado depende do respectivo valor do terreno!
(GROPIUS, 2001,
p. 165).
A moradia em apartamentos também vinha ao encontro da questão da
emancipação da mulher e de seu novo papel na sociedade, que numa habitação
mais prática e funcional as tarefas domésticas poderiam ser realizadas mais
facilmente e em menor tempo. Em uma enquete realizada na década de 1920 entre as
donas de casa alemãs, verificou-se que 60% delas declararam preferir os
apartamentos (GROPIUS, 2001, p. 164).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
33
(...) a mulher moderna procura tornar-se copartícipe do trabalho
conjunto, o por necessidade, mas por impulso interior no sentido
de sua emancipação pessoal, e para isso procura desobrigar-se das
tarefas caseiras. Isto tudo encontra maior satisfação no apartamento
do que na casa
(GROPIUS, 2001, p. 164).
Gropius também procurava mostrar algumas peculiaridades que a moradia
em apartamentos poderia oferecer:
Aqueles que defendem os apartamentos conhecem as vantagens dos
andares superiores que, sem barulho de trânsito e de crianças,
proporcionam maior sossego e uma vista desembaraçada da natureza
(GROPIUS, 2001, p. 164).
Embora reconhecesse as vantagens dos edifícios residenciais da cidade
industrializada, Gropius também acreditava que o hábito de morar em apartamentos
não seria assimilado facilmente pela sociedade e propunha que os jovens, formadores
de opinião, deveriam ser os primeiros a provar o novo conceito:
Supondo que a idéia do grande prédio habitacional e de uma
necessidade em uma cidade moderna esteja agora demonstrada; mas
não se pode hábitos antigos apenas com argumentos racionais, pois a
simples adequação intelectual não basta; a prática pode submeter a
mentalidade estabelecida, e é preciso lutar em todos os países para
que entre em curso a construção de grandes prédios habitacionais.
Dever-se-iam construir os primeiros conjuntos de altos edifícios
residenciais para famílias jovens, bem situadas, que por si mesmas
tenham vontade de experimentar e ajudar a criar o novo estilo de vida
(GROPIUS, 2001, p. 169).
Assim, a questão da habitação coletiva foi uma das maiores preocupações dos
arquitetos ligados ao Movimento Moderno, que acreditavam que a arquitetura deveria
assumir seu papel social em busca de uma sociedade mais justa e igualitária. A
verticalização da moradia era vista como a solução mais coerente com as novas
realidades, com os novos tempos e com as novas cidades. As altas densidades
populacionais eram entendidas como uma decorrência do desenvolvimento das
cidades. Portanto, os apartamentos seriam a melhor forma de atender às novas
dinâmicas demográficas, sociais e econômicas.
Para garantir qualidade de vida e boas condições de habitabilidade com menor
custo e maior aproveitamento dos terrenos, poder-se-ia recorrer aos preceitos da nova
arquitetura, unindo funcionalidade a soluções racionais. Sistemas construtivos
modernos, em estrutura metálica ou em concreto armado, liberavam as paredes de
seu antigo papel estrutural, resultando em plantas livres, que permitiam melhor
distribuição, amplitude e integração dos espaços, superando o caráter
compartimentado da moradia tradicional. Essa fluidez traria maior qualidade espacial e
maior funcionalidade na articulação entre as diferentes áreas da habitação social,
dormitórios, serviços e no agenciamento das mesmas. Cozinhas e banheiros
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
34
modernos, além de instalações atualizadas em termos de gás, energia elétrica,
telefonia, elevadores e outras, assim como eletrodomésticos e equipamentos diversos,
trariam conforto e comodidade, simplificando a vida da dona de casa e dispensando
grande parte dos serviçais antes necessários. Em última instância, plantas flexíveis
poderiam ser adaptadas às diferentes exigências de cada família e à sua evolução ao
longo do tempo (GIEDION, 2004, pp. 621-628).
A liberação das fachadas para aberturas maiores garantiria iluminação natural
abundante e boa ventilação requisitos higiênicos que pediam, idealmente, a
construção de torres isoladas no terreno, com generosos recuos frontais, laterais e de
fundos. No térreo, pilotis liberariam a projeção do edifício para uso coletivo e lazer, em
continuidade às áreas externas. Na cobertura, o teto-jardim constituiria outro espaço
de lazer, um chão suspenso recuperando, nas alturas, o contato com a natureza.
Terraços e varandas supririam as mesmas necessidades em cada apartamento (LE
CORBUSIER, 2004, p. 89).
Enfim, o ideal modernista da habitação vertical prometia uma moradia funcional
e confortável no âmago da metrópole moderna, acessível, em teoria, a todas as
categorias sociais. Observa-se a seguir como tais princípios foram traduzidos no Brasil
em versões mais ou menos comprometidas com o movimento da Arquitetura Moderna
Brasileira.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
35
1.2
Arquitetura
moderna:
adaptações
brasileiras
o Brasil, os movimentos ligados ao modernismo foram desencadeados
tardiamente, na década de 1920, tendo como seu momento marcante
a Semana de Arte Moderna de 1922, na qual foram apresentadas e
discutidas as novas formas de arte e a sua identidade nacional. A arquitetura brasileira
demorou um pouco mais para incorporar os princípios modernistas e, embora a
primeira casa modernista brasileira tenha sido construída entre 1927 e 1928 em São
Paulo, sob projeto do arquiteto Gregori Warchavchik, somente nas décadas de 1930 e
1940 essa arquitetura ganhou força no Brasil, tendo o seu ápice na década de 1950
com a construção de Brasília.
Os dois primeiros textos publicados no Brasil sobre arquitetura moderna datam
de 1925. O primeiro deles, publicado no jornal O Estado de São Paulo em 15 de
outubro, era uma carta assinada por Rino Levi (1901-1965), enviada de Roma, onde o
jovem brasileiro cursava Arquitetura. Com o título “A arquitetura e a estética das
cidades” o texto fazia uma apologia à realidade moderna destacando os novos
materiais, os progressos das técnicas de construção e, principalmente, o novo espírito
que reinava em contraposição ao neoclassicismo. O discurso de Levi clamava por
economia e praticidade, defendendo uma arquitetura de linhas e volumes simples com
poucos elementos decorativos, além de sustentar a idéia de que era preciso observar
as experiências desenvolvidas no exterior e ao mesmo tempo, desenvolver uma
arquitetura genuinamente brasileira que explorasse as potencialidades do país
(SEGAWA, 1998, p. 43-44):
N
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
36
É preciso estudar o que se fez e o que está se fazendo no exterior e
resolver os nossos casos sobre estética da cidade com alma brasileira.
Pelo nosso clima, pela nossa natureza e costumes, as nossas cidades
devem ter um caráter diferente do da Europa. (...) Creio que a nossa
florescente vegetação e todas as nossas inigualáveis belezas naturais
podem e devem sugerir aos nossos artistas alguma coisa de original
dando às nossas cidades uma graça de vivacidade e de cores, única
no mundo
(LEVI, 1987, pp. 21-22 apud SEGAWA, 1998, p. 44).
O segundo texto foi publicado em de novembro no jornal Correio da Manhã,
do Rio de Janeiro, de autoria do arquiteto imigrante russo George Warchavchik (1896-
1972). O artigo intitulado ”Acerca da arquitetura moderna” era um elogio à era da
máquina, uma apologia à indústria. Warchavchik defendia a economia e a comodidade
e condenava o uso dos estilos do passado, a não ser que esses contribuíssem para o
desenvolvimento de um sentimento estético.
Os princípios da grande indústria e estandardização terão que achar a
sua aplicação na mais larga escala, na construção de edifícios
modernos. A estandardização de portas e janelas, em vez de
prejudicar a arquitetura moderna, poderá ajudar o arquiteto a criar o
que, no futuro, se chamará o estilo do nosso tempo. O arquiteto será
forçado a pensar com maior intensidade, sua atenção não ficará presa
pelas decorações de janelas e portas, busca de proporções, etc. (...)
Construir uma casa a mais cômoda possível e barata possível, eis o
que deve preocupar o arquiteto construtor da nossa época de pequeno
capitalismo onde a questão de economia predomina todas as demais.
A beleza da fachada tem que resultar da racionalidade do plano da
disposição interior, como a forma da máquina é determinada pelo
mecanismo que sua alma
(FERRAZ, 1965, p. 39 Apud
SEGAWA, 1998, p. 44).
Na época, ambos os textos não tiveram grande repercussão. Somente mais
tarde eles foram resgatados pela historiografia do modernismo e foram reconhecidos
como um prenúncio da atividade que seria desenvolvida pelos seus autores e que
materializaram suas idéias em suas obras construídas (SEGAWA, 1998, p. 44).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
37
Figura 8: Casa da Rua Santa Cruz – 1928 – projeto de George Warchavchik.
Fonte: http://bhpbrasil.spaces.live.com/Blog/cns!CBF475499EC82673!13778.entry.
A residência projetada em 1927 por Warchavchik na Rua Santa Cruz, bairro de
Vila Mariana, em São Paulo, é considerada uma obra moderna, embora alguns
críticos, entre eles, Carlos Lemos, questionem a legitimidade desse feito,
principalmente por ela ter sido construída com técnicas construtivas tradicionais
(CAMARGO, 2000, p.49). Nesta casa foram pioneiramente introduzidos conceitos do
novo repertório arquitetônico: formas puras, ausência de elementos decorativos,
superfícies brancas, aberturas de maneira a sugerir a estrutura independente e laje
plana, além da planta organizada funcionalmente. Essa obra adquiriu um significado
especial, pois se tornou um marco referencial de uma nova época e consagrou o
arquiteto como um expoente da Arquitetura Moderna Brasileira. O ativismo de
Warchavchik, com suas obras posteriores e seus artigos publicados em jornais, lhe
rendeu reconhecimento internacional e, por consequência, o convite de Le Corbusier
para ser representante da América do Sul do CIAM. Além disso, Warchavchik também
foi contratado como professor da Escola Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro
(ENBA), contribuindo com a reforma do ensino acadêmico e o desenvolvimento da
“escola carioca de arquitetura” (CAMARGO, 2000, p.49).
Do Rio de Janeiro chegaram outras contribuições para o desenvolvimento da
Arquitetura Moderna Brasileira. Em 1930 a Escola Nacional de Belas Artes do Rio de
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
38
Janeiro passou por uma reestruturação de ensino com a contratação de Lúcio Costa
como diretor. O jovem arquiteto era um dedicado pesquisador e recém-convertido à
causa moderna. Sua idéia era promover a aproximação da arquitetura com a
construção, introduzindo o ensino técnico-científico paralelamente com o ensino
artístico. Para isso, contratou novos professores que assumiram o ensino de
arquitetura moderna, como Alexandre Buddeus, Afonso Eduardo Reidy, além do já
citado Gregori Warchavchik. A atuação de Lúcio Costa à frente da direção da ENBA
foi, apesar de curta (1930-1931), decisiva para o processo de implantação da
arquitetura moderna, pois promoveu uma abertura para a introdução da nova arte e
mobilizou os alunos para a sua causa. Após deixar o cargo, Lúcio continuou
estudando o tema e tornou-se um dos maiores teóricos brasileiros, criando
fundamentos para a legitimação da arquitetura moderna no conceito brasileiro
(CAMARGO, 2000, p.50).
Outro fator de contribuição para o fortalecimento da arquitetura moderna no
Brasil foi a construção da sede do MES – Ministério da Educação e Saúde – no Rio de
Janeiro a partir de 1936. Após a realização de concurso público de anteprojetos, o
então Ministro Gustavo Capanema, com uma postura arbitrária, desprezou a decisão
do júri que havia premiado o projeto de ornamentação marajoara dos arquitetos
Archimedes Memória e Franscisque Cuchet, e entregou a construção ao arquiteto
Lúcio Costa, alegando defesa da arquitetura moderna. Lúcio não tomou o cargo
apenas para si e convocou outros arquitetos que tinham apresentado projetos
modernos no concurso para formarem sua equipe, entre eles Afonso Eduardo Reidy,
Carlos Leão, Jorge Moreira, Ernani Vasconcellos e Oscar Niemeyer (SEGAWA, 1998,
p. 89). O projeto teve como consultor técnico o ilustre Le Corbusier, fato que
representou uma vitória para o grupo de jovens arquitetos e que atribuiu grande
prestígio à construção, atraindo atenções de dentro e fora do país.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
39
Figura 9: MES Ministério da
Educação e Saúde – Rio de Janeiro.
Fonte: http://culturanosanos50.blogspot.com/
Uma das principais lições que os arquitetos cariocas assimilaram da
experiência de trabalho com Le Corbusier foi o seu método de projetar. O processo
consistia na discussão e seleção dos diferentes fatores funcionais e estéticos,
procurando fazer corresponder a cada concepção um desenho, até alcançar uma
solução sintética que satisfizesse todas as variáveis (FICHER e ACAYABA,1982,
p.10).
Com base nos princípios corbusianos os cariocas souberam
desenvolver o discurso moderno, segundo uma linguagem local
baseada na leveza, sinuosidade e vinculação ao clima, conseguindo se
impor no panorama internacional com a recriação da linguagem
moderna no ambiente tropical
(CAMARGO, 2000, p.55).
De acordo com Ficher e Acayaba (1982, p.10), os arquitetos brasileiros, nessa
primeira etapa, davam preferência às formas geométricas claramente definidas, à
separação entre estrutura e vedação (que possibilitava maior liberdade no
agenciamento interno), ao uso sistemático dos pilotis, aos panos de vidros contínuos e
à integração da arquitetura com as outras artes plásticas, como o emprego de murais,
painéis de azulejo decorado e esculturas.
Reis Filho (2002, p. 88) considera que a partir da experiência do MES a
arquitetura brasileira passou por uma ampla revisão que procurava encontrar uma
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
40
sintonia entre as possibilidades crescentes da estrutura industrial e as exigências cada
vez mais complexas do meio. Ainda segundo ele, o sucesso dos arquitetos brasileiros
se deve ao elevado grau de consciência com que reconheciam suas
responsabilidades e enfrentavam corajosamente os problemas da implantação da
arquitetura urbana.
A ascensão de Oscar Niemeyer também foi fator preponderante para o
fortalecimento da arquitetura moderna no Brasil. Depois de ter participado do projeto
do edifício do MES, Niemeyer teve grande sucesso ao desenvolver junto com Lúcio
Costa (que percebera a força criativa de seu jovem auxiliar) o projeto do pavilhão do
Brasil na Exposição Internacional de Nova Iorque em 1939. No ano seguinte, já
trabalhando sozinho, projetou o Grande Hotel de Ouro Preto inaugurando uma série
de obras governamentais em Minas Gerais, da qual fez parte o conjunto de Pampulha.
Niemeyer conquistou a admiração e o respeito de Juscelino Kubitschek quando este
ainda era prefeito de Belo Horizonte, tanto que foi contratado para projetar também
sua residência particular. Mais tarde, na década de 1950, quando Juscelino se tornou
presidente da República, ele o elegeu como o arquiteto responsável pelos principais
edifícios da nova capital, Brasília. Niemeyer seguiu sua carreira de forma brilhante,
sendo considerado o maior expoente da arquitetura moderna brasileira, reconhecido e
reverenciado internacionalmente.
Afonso Eduardo Reidy, além de um dos pioneiros, foi um dos mais respeitáveis
representantes da Arquitetura Moderna Brasileira. Autor de obras importantes como o
Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, sua obra é caracterizada por uma grande
preocupação social e também por uma vocação educadora. Esta vocação pode ser
claramente percebida no projeto do Conjunto Residencial Prefeito Mendes de Moraes,
conhecido como Pedregulho (1946-1947), em que foi proposta uma nova maneira de
moradia e convivência social, tanto entre os membros da mesma “célula” quanto entre
os habitantes da comunidade. O complexo foi construído no Morro do Pedregulho em
São Cristóvão, pelo Departamento de Habitação Popular do Distrito Federal e
destinava-se a atender à demanda habitacional de funcionários públicos do Estado. O
projeto paisagístico é de Roberto Burle Marx e os painéis artísticos são de autoria de
Candido Portinari, Burle Marx e Anísio Medeiros. O projeto como um todo reúne várias
áreas e edifícios distintos num mesmo espaço. Sua idéia era atender às necessidades
tanto de moradia, quanto de saúde, educação e lazer (SEGAWA, 2002, p. 121).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
41
Figura 10: Conjunto Residencial de Pedregulho.
Fonte: http://www.vitruvius.com.br/minhacidade/mc238/mc238.asp
Segundo Bruand (1999, p. 225), as preocupações funcionais de Pedregulho
ficam evidentes no controle da luz, na ventilação contínua e na fácil circulação. Ainda
segundo ele, o programa foi cuidadosamente elaborado e os problemas solucionados
seguindo os princípios e a estética de Le Corbusier. No projeto percebe-se nitidamente
a preocupação de Reidy com o homem e o cuidado com os espaços abertos e as
áreas, além da unidade habitacional. O projeto é composto por quatro blocos
residenciais. O bloco A tem 260 metros de extensão e possui 272 apartamentos de
diferentes tipos. Está situado na parte mais elevada do terreno e segue a forma
sinuosa do morro localizado atrás dele. Duas pontes fazem o acesso a um pavimento
intermediário que é parcialmente coberto. Nesta mesma área estão instalados os
serviços de Administração e Serviço Social, a escola infantil e as escadas coletivas
que dão acesso aos demais pavimentos. Nestes pavimentos residenciais, de 50 em 50
metros estão localizadas as escadas. Os dois pavimentos inferiores possuem
apartamentos de apenas um andar. Os demais apartamentos são duplex de um a
quatro dormitórios.
Enquanto Pedregulho tornou-se importante exemplo de habitação popular nos
moldes da Arquitetura Moderna Brasileira em sua vertente carioca, o Conjunto
Residencial do Parque Guinle (1948-1954) pode ser considerado uma referência para
a arquitetura moderna residencial de alto padrão. O projeto de Lucio Costa previa a
construção de seis edifícios. No entanto, somente três deles foram construídos. O
conjunto foi implantado dentro do Parque Guinle, extensa área verde em aclive (cerca
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
42
de 25.000 m
2
), no bairro das Laranjeiras, Rio de Janeiro. O parque era, inicialmente, o
jardim da residência de Eduardo Guinle, mansão que se tornou o atual Palácio das
Laranjeiras, residência oficial do Governador do Estado.
Na arquitetura dos edifícios do Parque Guinle destaca-se aspectos como a
racionalização construtiva, com ênfase na estrutura independente, na pré-fabricação e
na modulação, bem como o uso de pilotis, janelas corridas e planta livre, elementos
consagrados da arquitetura moderna internacional. A valorização do sítio é
demonstrada na preocupação em não interferir na topografia do terreno em aclive, o
que foi possibilitado pelo uso dos pilotis.
Todas as unidades habitacionais foram concebidas com plantas semelhantes,
mas os apartamentos variam entre simples e duplex com áreas entre 225 e 515 m²,
além de possuírem escadas como volumes independentes nas fachadas. As fachadas
compostas por brises-soleil, cobogós, elementos vazados e treliças de madeira, além
de causarem grande efeito plástico, dão um toque de brasilidade respeitando a
tradição arquitetônica luso-brasileira. Esta obra foi premiada como melhor projeto para
prédios residenciais na I Bienal de Arquitetura de São Paulo em 1951 (BRUAND,
1999, p. 137-138).
Figura 11: Conjunto Residencial do Parque Guinle (1948-1954), projeto de Lúcio Costa.
Fonte: www.nelsonkon.com.br.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
43
Figura 12: Conjunto Residencial do Parque Guinle (1948-1954), projeto de Lúcio Costa.
Fonte: www.nelsonkon.com.br.
Outro exemplo carioca que merece destaque é o Edifício Antonio Ceppas
(1946-1952), de Jorge Moreira, concebido sob orientação fortemente racionalista e
corbusiana. Situado na borda da floresta carioca, no Jardim Botânico, com paisagismo
e painéis de Burle Marx, o edifício possui pilotis e seis andares com quatro
apartamentos cada. Na fachada destacam-se as cores e o emprego de uma variedade
de materiais, como madeira, pedra, cerâmica, azulejos, vidro e aço que o aproximam
de uma expressão regionalista. Este edifício foi premiado com menção honrosa, em
1953, na Bienal de São Paulo pelo júri composto por Walter Gropius, Alvar Aalto,
Ernest Rogers, entre outros (BRUAND,1999, pp. 246-248).
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
44
Figura 13: Edifício Antonio Ceppas.
Fonte: http://www.vivercidades.org.br.
Arquitetura Moderna em São Paulo
Em São Paulo as idéias de renovação cultural, especialmente a partir da
década de 1930, estavam vinculadas às propostas de renovação política da “Era
Vargas”, conferindo ao modernismo uma aura política, um sentido militante que
extrapolava os parâmetros estéticos e culturais.
Depois de Warchavchik, Rino Levi foi o primeiro notável arquiteto moderno de
São Paulo que trouxe de outro país, no caso a Itália, sua sólida formação e
experiência. Seus cuidados na elaboração dos aspectos técnicos e artísticos de
projetos bem como sua análise dos condicionamentos funcionais de programas
arquitetônicos fizeram com que ele se tornasse uma referência para os jovens
arquitetos e demais colegas de profissão (SEGAWA, 2002, p. 139).
Rino Levi foi um dos primeiros a perceber que a aplicação dos princípios da
arquitetura racional seria um passo decisivo para conferir qualidade estética e espacial
às construções verticais. Era preciso, porém, repensar o desenho dos edifícios em
bases estruturais e funcionais, superando definitivamente os “vícios” acadêmicos
(MACHADO, 1992, p. 206).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
45
O Edifício Columbus (1929-1932), projetado por Rino Levi, é considerado um
marco da arquitetura paulistana. Situado no início da Avenida Brigadeiro Luiz Antonio,
área central da cidade, este edifício residencial inovou não só pela ausência de
elementos decorativos, mas também pela simplificação do desenho externo das
fachadas e pelo fato de ter o mesmo tratamento conferido a todas elas, numa época
em que os prédios paulistanos eram marcados pela diferença entre a fachada frontal
"nobre" e as fachadas "secundárias" ou de serviços. A maior preocupação de Rino foi
solucionar racionalmente o problema de abrigar famílias, dando-lhes o maior conforto
possível. Dentro desse conceito, seguiu a orientação modernista de tirar partido
estético de elementos utilitários
(
GALESI e CAMPOS, 2001, p. 50).
Figura 14: Edifício Columbus de Rino Levi à Av. Brigadeiro Luis
Antônio (demolido em 1971).
Fonte: PINHEIRO, 2008.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
46
Em 1932, Paulo Nogueira, um empreendedor paulista, proprietário de uma
usina de açúcar do interior do estado (Usina Ester), decidiu encomendar a construção
de um edifício na capital paulista. Para isso, promoveu a realização de um “concurso
fechado” de anteprojetos a fim de aprovar aquele que melhor atendesse suas
expectativas. O programa pedia um edifício de uso misto, comercial e residencial, no
centro da capital paulista que, além de abrigar os escritórios da Usina Ester, deveria
contar com lojas comerciais, escritórios, consultórios e residências variadas, cujos
aluguéis garantissem a renda necessária à sustentabilidade do investimento. Mais do
que isso, o edifício deveria ser um “cartão de visitas” do Grupo Nogueira, capaz de
marcar solidamente sua presença na economia estadual. Os Nogueira almejavam
representatividade social e buscavam um símbolo que pudesse render-lhes admiração
(ATIQUE, 2004, p. 139).
O projeto escolhido foi o do arquiteto carioca Álvaro Vital Brazil, que teve como
colaborador o arquiteto Adhemar Marinho. Além de entender e contemplar as
demandas do empreendedor, Vital Brazil soube gerenciar seus ideais arquitetônicos,
de modo a ter seu projeto edificado sem muitas interferências do cliente, conseguindo
implantar na construção os cinco pontos da nova arquitetura preconizados pelo
“mestre” Le Corbusier: pilotis, planta livre, janela corrida, fachada livre e terraço-jardim.
E mais: adoção do uso racional dos materiais, métodos econômicos de construção,
linguagem formal sem ornamentos e diálogo sistemático com a tecnologia industrial.
Com sua estética racionalista, localizado na esquina da Avenida Ipiranga com a Rua
Sete de Abril, o Edifício Esther, inaugurado em 1938, tornou-se um marco da
arquitetura moderna brasileira
5
. A adoção de plantas livres possibilitou diferentes
arranjos em cada pavimento, abrigando lojas, escritórios e residências de alto padrão
(algumas duplex) (SEGAWA, 1998, p. 86).
5 Embora Vital Brazil fosse um militante da arquitetura modernista, alguns autores vinculam esse edifício
com o movimento “Art Déco”, por ostentar em seu interior elementos figurativos como a logomarca da
Usina Ester estampada em portas, corrimãos e luminárias.
Pioneiros Modernos:
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47
Figura 15: Edifício Esther.
Fonte: http://vitruvius.com.br/resenhas/textos/resenha095.asp.
O Edifício Esther também se destaca pela sua ocupação, pois foi inicialmente
adotado por uma elite cultural formadora de opinião que ajudou a divulgar o hábito de
residir em apartamentos na cidade. Além de ser um local de trabalho e moradia, o
prédio tornou-se um ponto vital da cultura paulistana, abrigando debates intelectuais,
artísticos e políticos, além de ser também um ponto de lazer noturno, fato que fez do
Edifício Esther um endereço da modernidade em São Paulo dos anos 1930 aos 1960
(ATIQUE, 2004, p. 210).
Embora tenham ocorrido algumas manifestações importantes nas décadas de
1920, 1930 e início dos anos 1940, a Arquitetura Moderna paulistana firmou-se
definitivamente na cidade somente depois da Segunda Guerra Mundial, encerrada em
1945. Segundo Carlos Lemos
6
, alguns acontecimentos foram determinantes para tal
fato, como a inauguração da siderúrgica de Volta Redonda; a conversão ao
modernismo de arquitetos oriundos dos cursos conservadores anexos às escolas de
engenharia; a chegada a São Paulo de talentosos profissionais estrangeiros; e,
finalmente, a presença de arquitetos cariocas inspirados por Lucio Costa. Lemos ainda
cita a fundação das primeiras faculdades autônomas de arquitetura da cidade, a do
Mackenzie e a da Universidade de São Paulo, como fatores preponderantes.
6 LEMOS, Carlos em palestra proferida durante a abertura do III Seminário Docomomo Estado de São
Paulo em 2005.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
48
A fundação de uma siderúrgica nacional em Volta Redonda (RJ) fez com que
baixassem consideravelmente os custos dos perfis de aço (que antes eram
importados), possibilitando o desenvolvimento do concreto armado e,
conseqüentemente, da verticalização da cidade, que estava ávida de moradias e de
edifícios comerciais.
Os arquitetos oriundos das escolas de engenharia recebiam, em seus cursos
de especialização, uma formação voltada à prática da arquitetura eclética, adepta do
Neocolonial, do estilo Hispano-americano ou “Missões”, do Art Déco, etc. Com o
passar do tempo alguns deles (os mais esclarecidos e interessados em atualização
profissional) se converteram ao modernismo. Entre eles: Rubens Carneiro Viana,
Jayme Fonseca Rodrigues, Roberto Cerqueira César, Eduardo Kneese de Mello,
Oswaldo Arthur Bratke e João Batista Vilanova Artigas.
7
Um dos destaques residenciais é o Edifício Japurá, projetado por Eduardo
Kneese de Mello em 1947, em local antes ocupado pelo maior conjunto de cortiços da
região central de São Paulo. Nele foram empregados de forma pioneira no Brasil os
princípios da “unité d’habitation” de Le Corbusier, como modelo para a habitação
vertical de interesse social. O projeto foi promovido pelo IAPI (Instituto de
Aposentadoria e Pensões dos Industriários) e contou com o apoio da Prefeitura,
interessada em promover a renovação daquela área da cidade. Kneese de Mello
naquele momento já estava engajado no movimento de articulação profissional e
social dos arquitetos modernos paulistas e acreditava que o uso da linguagem
modernista e dos ensinamentos corbusianos, adaptados à cultura brasileira, seria uma
solução não apenas adequada, mas quase inevitável para as necessidades locais. O
principal edifício do conjunto foi composto por 288 unidades habitacionais distribuídas
em 14 andares. Visando redução de custos, foram projetados apartamentos do tipo
duplex (GALESI, 2002, p. 183).
7 idem
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
49
Figura 16: Maquete do Edifício Japurá.
Fonte: REGINO, 2005, p.90.
Figura 17: Planta do apartamento tipo do Edifício Japurá.
Fonte: GALESI, 2002, p. 187.
Outro fator determinante para o desenvolvimento da arquitetura moderna
paulista foi a atuação de arquitetos estrangeiros (europeus) que imigraram para o
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
50
Brasil em meados do século XX, trazendo na bagagem experiências realizadas em
seus países de origem. Durante o pós-guerra chegaram em São Paulo profissionais
gabaritados como Jacques Pilon, Franz Heep, Victor Reif, Lukjan Korngold, Giancarlo
Palanti, Bernard Rudofsky, Lina Bo Bardi, entre outros. Alguns desses arquitetos
imigrantes tornaram-se professores de arquitetura, exercendo influência na formação
de arquitetos brasileiros, como o caso de Franz Heep, professor do Mackenzie, que
ensinou como projetar e construir prédios de apartamentos modernos e acessíveis à
classe média. Assim como Heep, Jacques Pilon também era um verticalizador” e
trouxe para São Paulo o know-how de se construir em altura, adotando inovações nos
edifícios do centro da cidade, como a abertura de grandes vãos nas fachadas, a
iluminação e ventilação direta e as áreas de circulação vertical e horizontal
rigorosamente dimensionadas.Heep criou uma referência de qualidade para edifícios
desenvolvidos para o mercado imobiliário, num período de intensa verticalização da
cidade de são Paulo” (SEGAWA, 2002, p. 136).
Figura 18: Edifício Arlinda (1959) de Franz Heep.
Fonte: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq065/arq065_01.asp .
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
51
A atuação de arquitetos cariocas formados após 1930, depois da passagem de
Lucio Costa pela direção da Escola Nacional de Belas Artes, também foi determinante
para o desenvolvimento da arquitetura moderna na cidade de São Paulo. Neste grupo
destacam-se Álvaro Vital Brazil, autor do já citado Edifício Esther; os irmãos Roberto
(Marcelo, Milton e Maurício) que ergueram na Avenida Paulista o Edifício Anchieta, em
1941, considerado um modelo não pelos seus apartamentos duplex e pilotis como
pelas pastilhas coloridas em painéis horizontais ritmados; Abelardo Riedy de Souza,
autor dos edifícios residenciais Nações Unidas e Três Marias na Avenida Paulista; e
mais Hélio Duarte, José Roberto Tibau e Eduardo Corona, além do ilustre Oscar
Niemeyer, que trouxe para cidade todo o seu prestígio e talento.
Figuras 19 e 20: Edifício Anchieta (1941) e Edifício Três Marias (Edifício Lauro Cardozo
de Almeida), ambos à Avenida Paulista.
Fonte: http://www.arcoweb.com.br/arquitetura/m-roberto-arquitetos e
http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq105/arq105_02.asp.
Em São Paulo, Oscar Niemeyer deixou sua marca ao projetar, principalmente,
o Parque do Ibirapuera e o Edifício Copan (ambos projetados em 1951). Embora tenha
sido construído diferente da sua concepção original, o Edifício Copan, com sua
geometria sinuosa de forma serpenteada, é considerado um marco referencial e um
símbolo da modernidade urbana paulistana. Trata-se de um grande conjunto misto,
que engloba habitação, comércio e serviço. Os seus números impressionam: 140
metros de altura, 37 andares, 116 mil m
2
de área construída, 1.160 apartamentos,
cerca de 5.000 habitantes, 72 lojas e um cinema (onde atualmente funciona uma igreja
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
52
evangélica). Além disso, é uma das maiores estruturas de concreto armado do Brasil.
As tipologias residenciais do Copan são variadas, desde quitinetes de 29 m
2
até
apartamentos de três dormitórios com 214 m
2
.
Figura 21: Fachada do Edifício Copan.
Fonte: http://joaodesouzaferraz.blogspot.com.
Figura 22: Planta do Edifício Copan.
Fonte: http://saopaulomultiverso.files.wordpress.com/2007/09/copan-planta.jpg .
As quitinetes surgiram em São Paulo após uma venda ocasional de
apartamentos de um velho hotel. Neste momento, os empreendedores descobriram o
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
53
nicho de mercado e lançaram o apartamento mínimo composto de uma sala-quarto,
um banheiro e uma mini-cozinha, daí o nome quitinete (kitchenette). Para legalizar
esses apartamentos as normas do código de obras do município tiveram que sofrer
alterações, permitindo que os banheiros pudessem ser desprovidos de janelas, o que
melhorou o aproveitamento das fachadas, que não precisavam mais desperdiçar áreas
com ventilação de sanitários
(
LEMOS, 1990. pp. 57-58). Esse tipo de apartamento
atendia uma demanda da classe média emergente que detinha um mínimo poder
aquisitivo, porém sem possibilidades de adquirir no mercado um bem de maior porte.
Eram espaços mínimos de 25 a 40 m
2
(ROSSETTO in SAMPAIO, 2002, p. 31).
Nesse período foram construídos outros grandes conjuntos de uso misto na
capital paulista como o Conjunto Nacional (1955) de David Libeskind e o Nações
Unidas (1956), de Abelardo de Souza.
Figura 23: Conjunto Nacional à Avenida Paulista.
Fonte: http://www.fiamfaam.br/site/graduacao/.
Apesar de um grande número de arquitetos paulistas adotarem o programa
moderno nas suas atividades e, com isso, contribuir com o cenário da transformação,
a questão político-social ficaria de certa forma represada até o trabalho de Vilanova
Artigas se destacar e seguir o caminho social da arquitetura. Os nculos político-
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
54
partidários de Artigas, isto é, a sua militância no Partido Comunista Brasileiro - PCB a
partir de 1945, levaram-no, junto com outros arquitetos e artistas de esquerda, a
questionar a arte e a arquitetura modernas em função da crítica do Realismo Socialista
ao Movimento Moderno. Entretanto, apesar de suas duras críticas contra o Movimento
Moderno e seus mestres, Artigas esforçou-se por criar uma obra que estabelecesse
uma ponte entre a crítica realista, o modernismo, e a idéia de uma cultura nacional, no
seu caso expressa através de uma arquitetura nacional.
Figura 24: Edifício Louveira, projeto de Vilanova Artigas.
Fonte: http://www.nelsonkon.com.br/.
Depois de começar por uma inspiração orgânica wrightiana, a obra de Artigas
tomou outra direção, continuada por um período de integração dentro do movimento
racionalista brasileiro. Artigas foi ponto de referência da arquitetura moderna brasileira
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
55
e do ensino de arquitetura. Foi o principal nome da chamada “escola paulista”. Sua
obra foi amplamente assimilada por seus alunos, professores e arquitetos
contemporâneos, mas por mais influente que Artigas tenha sido, não se pode creditar
somente a ele tarefa de ter formulado uma linguagem arquitetônica paulista. Da
mesma forma que a linha carioca, a linha paulista é fruto de uma somatória de
vertentes não formalmente de acordo entre si, mas com princípios comuns, derivados
de uma saudável dialética entre duas escolas de arquitetura (USP e Mackenzie), além
da ativa participação do Instituto dos Arquitetos e da atuação de profissionais
independentes, respeitados por suas realizações, em torno de preocupações
concernentes à maioria (SEGAWA, 2002, p.148).
Artigas fazia parte de um grupo que queria mudar o país, construir para o povo,
sem separação entre a arte, a sociedade e a ação individual. Segundo Segawa (2002,
p.144), Artigas defendia a tese de que a responsabilidade social do arquiteto se
sustentava no conceito de projeto como um instrumento de emancipação política e
ideológica.
Ainda na década de 1950, enquanto Le Corbusier e Gropius eram vistos como
“deuses da arquitetura”, Artigas publicava textos ácidos contra eles, acusando-os de
burgueses vendidos aos interesses do imperialismo norte-americano. Segundo
Guerra (GUERRA, 2002), a marca fundamental de Vilanova Artigas era sua atitude
radicalmente engajada, impulsionada pela crença na utopia da transformação social. A
confluência de suas idéias políticas e culturais levou-o a um discurso combativo e
ideologizado que chegava ao público através de artigos provocadores e persuasivos.
A influência de Artigas concretizou-se no prédio que ele projetou para a
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU-USP) e na concentração de um grupo de
discípulos de suas idéias. Dentre eles Joaquim Guedes, Carlos Millan e Paulo Mendes
da Rocha.
O arquiteto Vilanova Artigas legou-me essa visão crítica. Minha
arquitetura sempre foi inspirada por idéias, não evoca modelos de
castelos ou palácios, mas a habilidade do homem em transformar o
lugar que habita, com fundamental interesse social, através de uma
visão aberta, voltada para o futuro
(MENDES DA ROCHA apud
ARTIGAS, 2000, p. 72).
Após o golpe de 1964 e as perseguições políticas, muitos arquitetos
inconformados com a situação passaram a denunciar as relações de produção
capitalistas na construção, recusando a colocar seu saber a serviço dessas relações.
O novo ideal apareceria com a revelação do que estava escondido por trás dos
ornamentos: a “verdade” arquitetônica que mostrava as marcas do trabalho nas casas
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
56
burguesas e o que elas escondiam. Assim nasceu o chamado “brutalismo paulista”
(título renegado pelos seus mentores): um movimento em que a arquitetura assumia
uma responsabilidade social, carregada de discursos éticos. Os brutalistas buscavam
a simplificação e não se limitavam ao projeto arquitetônico, preocupando-se também
com a construção de um sistema intelectual.
Os princípios do brutalismo paulista baseavam-se na exaltação da "verdade"
arquitetônica, através da utilização de materiais sem revestimento, da valorização de
tubulações e estrutura à vista, da redução dos espaços privados nas residências e da
utilização de grandes vãos. Assim, os brutalistas pretendiam salientar ou "denunciar" a
presença do operário através das marcas de seu trabalho, valorizando a importância
do coletivo frente à "privacidade tipicamente burguesa".
Segundo o historiador Yves Bruand, o brutalismo paulista foi o primeiro
questionamento da arquitetura pelos brasileiros após o triunfo internacional pós-
Segunda Guerra, e merece o respeito em razão de sua honestidade básica”. Ainda
segundo ele, o movimento tratava de:
(...) uma volta aos princípios de um funcionalismo estrito, de essência
decididamente técnica e aspirando a uma industrialização da
construção, mesmo quando se expressa pelo caminho artesanal, e de
uma estética que valoriza a força, a massa e o peso, amando os
contrastes violentos e a psicologia de choque (BRUAND, 1981, p.
295).
Um dos ideais brutalistas, já presente nas primeiras propostas modernistas, era
a liberação do piso urbano para uso público, deixando o uso privativo (no caso dos
edifícios residenciais) unicamente acima da cota da cidade, gerando um grande abrigo
no andar térreo (FIGUEROA ROSALES, 2002, p. 210). Um dos melhores exemplos de
habitação coletiva do brutalismo paulista é o Edifício Guaimbê (1962-1966) projetado
por Paulo Mendes da Rocha e João Eduardo de Gennaro. Nele o concreto aparente
está presente nas paredes, vigas e lajes.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
57
Figuras 25: Fachada e planta do Edifício Guaibê.
Fonte: http://www.arquiteturabrutalista.com.br/.
O Conjunto Residencial Zezinho Magalhães Prado, em Guarulhos (SP), é uma
das realizações mais importantes da arquitetura moderna paulista no âmbito da
habitação popular. Ele foi projetado em 1967 por três grandes nomes da arquitetura de
São Paulo: João Batista Vilanova Artigas, Fábio Penteado e Paulo Mendes da Rocha.
Também conhecido como Cecap-Cumbica, por ter sido patrocinado pela Caixa
Estadual de Casas para o Povo (CECAP), ele foi realizado como um modelo de
política estadual planejado, visando abrigar uma população de cerca de 55 mil
habitantes em 130 hectares de área e devendo contar com boa infraestrutura urbana
(escolas, hospital, centro de saúde, posto de puericultura, estádio, cinemas, hotel,
teatro, comércio próprio, clube, transporte, etc.) (SEGAWA, 2002, p. 181). O conjunto
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
58
era formado por blocos habitacionais de três pavimentos alinhados entre si e
organizados em dupla, tendo, ao meio, acessos verticais intercalados, formando pátios
internos de climatização para os apartamentos (KAMITA, 2000, p. 106).
Figura 26: Conjunto Residencial Zezinho Magalhães Prado.
Fonte: SEGAWA, 2002, p. 181.
Figura 27: Planta de um dos blocos do Conjunto Habitacional Zezinho Magalhães Prado.
Fonte: http://www.educatorium.com/projetos/projetos_int.php?id_projetos=95.
Nesse conjunto foi adotada a padronização da construção, o que revela as
preocupações éticas e políticas que marcaram as concepções arquitetônicas de
Artigas. O projeto previa que a obra fosse executada de forma industrializada, pois
Artigas queria que a habitação fosse concebida como um objeto de desenho industrial.
Essa obra tornou-se uma das mais importantes experiências de habitação popular
realizada durante o governo militar, destacando-se frente aos conjuntos do BNH
construídos na época. Porém, ela não foi poupada de críticas, como tantos outros
conjuntos habitacionais da década de 1960, pois alguns arquitetos exigiam outras
soluções de construção de moradia boa e barata para as populações de baixa renda
das grandes cidades. Uns defendiam a idéia de maior participação dos futuros
moradores no projeto, na execução da obra (em forma de mutirões) e na gestão do
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
59
empreendimento, ao passo que outros acreditavam que um empreendimento de tão
grandes proporções não seria viável economicamente num país com carências
também em outras áreas (SEGAWA, 2002, p. 182).
No final da década de 1960 e início da década de 1970, o Brasil passava por
uma época de pujança econômica. Nesses anos do “milagre econômico se projetava
e se construía muito no país, porém essa quantidade não se traduzia em qualidade. A
produção era marcada por imitações esvaziadas dos conteúdos elaborados pelos
grandes mestres, como Niemeyer e Artigas. Era uma arquitetura sem críticas ou
críticos, num tempo em que criticar era uma atitude reprimida, que podia ser
interpretada como delação política. A arquitetura brasileira dialogava menos com o
exterior e também dialogava menos internamente. A revista Acrópole, por exemplo,
deixou de circular em 1971 (SEGAWA, 2002, pp. 190-191).
Um conjunto de valores da arquitetura moderna brasileira que em
seu momento inicial instaurou um saber inovador foi açambarcado,
cristalizou-se destituído da força inaugural. Um certo pensamento e
prática, de vitalidade e sensibilidade local, mas de universalidade
suficiente para seduzir a crítica internacional, diluiu-se e
institucionalizou-se como conhecimento definitivo e imutável. Filtrada
por uma ideologização que neutralizava as diferenças, escamoteava
as contradições, negava a interrogação (coerente com o espírito
autoritário do momento), propugnava-se um ideal de cultura
arquitetônica com pressupostos oriundos de um momento épico da
arquitetura brasileira mas agora formulado como único, autorizado e
hegemônico. Canonizava-se e burocratizava-se uma postura
arquitetônica
(SEGAWA, 2002, p. 190).
A produção arquitetônica paulista, assim como a brasileira de um modo geral,
seguia rumos incertos e, desperdiçando oportunidades de verificação e prova de
qualidade, apoiava-se na memória gloriosa do passado recente. Encerrava-se assim a
fase heróica da arquitetura moderna brasileira.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
60
1.3
Considerações
sobre
qualidade da
arquitetura
residencial
verticalizada
ários historiadores da Arquitetura Moderna Brasileira, como Bruand
(1981), Lemos (1990), Segawa (2002) e Mahfuz (2002), consideram o
período situado entre as décadas de 1930 e 1960 como um momento
privilegiado para a produção arquitetônica no país, cujo ponto
culminante coincidiu com a construção de Brasília. Eles também são unânimes ao
evidenciar que, a partir da inauguração da nova capital, houve uma perda gradual da
qualidade dessa arquitetura, que outrora foi aclamada no exterior e colocada no
patamar mais alto junto com o que de melhor foi realizado no mundo em termos de
arquitetura naquela época. Com os edifícios residenciais paulistanos a história não foi
diferente. A grande dúvida que fica é: por que ocorreu essa perda, e o que,
exatamente, teria sido perdido? Ou seja, quais eram os fatores que conferiram tanta
qualidade à arquitetura moderna realizada no Brasil e, mais especificamente, à
arquitetura residencial vertical de cunho modernista, tão bem representada pelos
edifícios construídos em Higienópolis naquele momento?
Tentando encontrar algumas respostas para essas questões, Edson Mahfuz
(2002) identifica alguns fatores que determinaram a boa qualidade da arquitetura
moderna como, por exemplo, a apropriação pela vertente brasileira de procedimentos
importados que acrescentassem valores da arquitetura tradicional local, sem abrir mão
V
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
61
de suas raízes históricas, resultando em uma produção autêntica. Não a história,
mas o clima do país também foi respeitado. Os princípios modernistas foram
adaptados à realidade local, respeitando o lugar, como também fica evidente na
importância dada ao entorno, que era valorizado na medida em que o edifício era
sempre concebido como parte de um todo maior. Mahfuz (2002) diz que os projetos
davam forma aos programas sem serem determinados por eles, de modo bastante
diferente da relação de causa e efeito por tantas vezes atribuída a um certo
funcionalismo moderno”. Ele ainda ressalta a relação entre forma e técnica “na qual a
definição da estrutura formal e do caráter de cada edificação explorava a disciplina
imposta pela construção(MAHFUZ, 2002).
Mahfuz (2002) atribui parte deste sucesso ao patronato estatal, ou seja, ao fato
de que grandes obras brasileiras foram construídas a pedido do poder público -
lideranças esclarecidas que priorizavam o papel cultural da arquitetura. Segundo ele,
as obras públicas são concebidas sem a pressão do mercado e, não havendo intenção
de lucro, a busca da qualidade real é favorecida.
Helio Piñon (2007) diz que a decadência da arquitetura nos últimos anos é um
fenômeno mundial e que até os anos de 1970 os arquitetos sabiam ao que se ater.
Para ele, naquela época eles partilhavam de um modo de conceber a arquitetura,
adotando elementos e critérios que atuavam como matéria-prima para os seus
projetos e atingindo, dessa forma, um nível de qualidade excelente da arquitetura
internacional. Segundo ele:
O abandono dos critérios de modernidade, sem dispor de outros
valores para reposição, fez com que os arquitetos que liderassem "a
reforma" propusessem o conceito como critério de ão e, ao mesmo
tempo, como instância de verificação do projeto. No futuro, o conceito
não proporcionaria o estímulo do projeto, como também serviria
para comprovar o resultado. Se o projeto se ajusta ao conceito que o
provocou, tudo bem, caso contrário, tudo mal. Essa solução resultou
muito cômoda para a maioria dos arquitetos, mas foi nefasta para a
arquitetura. A renúncia da dimensão cognoscitiva do olhar deu
possibilidades de projetar com certa confiança a pessoas não
especialmente dotadas para a arquitetura, o que provocou uma
modificação "de valores e de poderes" que pairam sobre a situação
atual
(PIÑON, 2007).
O urbanismo moderno também passou a ser questionado em várias partes do
mundo. Mahfuz (2002) concorda com a crítica que atribui grande parte dos problemas
das cidades nas décadas de 1960 e 1970 à adoção do receituário urbanístico da Carta
de Atenas, que pregava, entre outras coisas, a política de tabula rasa nas intervenções
em centros históricos, a separação das atividades urbanas e a combinação de baixa
densidade com verticalização. Além disso, também foram questionados os espaços
abertos modernos (pela sua suposta indefinição). Muitos edifícios eram modernos
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
62
apenas na aparência, não na sua concepção, além de terem problemas de conforto
ambiental.
Mahfuz (2002) atribui a fatores externos e internos a perda da qualidade da
arquitetura brasileira. Dentre eles estão o declínio do patronato estatal, a
predominância da construção comercial dominada pelas razões do mercado, a
influência dos Estados Unidos (globalização), o número excessivo de cursos de
arquitetura inaugurados e a conseqüente quantidade de profissionais formados, entre
outros.
A influência americana representou a importação de uma arquitetura
estilizada, erroneamente caracterizada como moderna. Essa
arquitetura, adotada pelo grande capital internacional, era resultado da
simplificação a que foi submetida a arquitetura moderna pela
construção comercial, esvaziada de seu conteúdo social e, o que é
pior, transformando em estilo o que era um modo de conceber a forma
arquitetônica
(MAHFUZ, 2002).
A perda da qualidade da arquitetura brasileira também pode ser creditada ao
grande número de escolas de arquitetura criadas no país nos últimos anos. Muitas
delas, sem condições de formar profissionais competentes, geraram um número
excessivo de profissionais que ingressam anualmente em um mercado de trabalho
incapaz de absorvê-los. A conseqüência disso é a redução dos honorários a níveis
baixíssimos e uma produção arquitetônica marcada pela falta de critérios (MAHFUZ,
2001). Piñon (2007) vai ainda mais longe ao afirmar:
(...) as faculdades começaram a legitimar a decadência da arquitetura
no momento em que assumiram o pós-modernismo sem advertir seu
efeito perverso sobre o que tratavam de ensinar. Agora assumem a
redução do arquitetônico ao midiático, sem explicar claramente que
grande parte do que preenche as revistas atualmente não tem nada a
ver com a arquitetura. O problema é que grande parte dos professores
não tem nenhuma alternativa senão oferecer a troca de modas na qual
se baseia a arquitetura dos últimos 40 anos. E eu diria que nem são
conscientes desse fenômeno.
Outro fator que pode ter prejudicado a qualidade da arquitetura nas últimas
décadas foi o fenômeno internacional da produção arquitetônica ser tratada como um
objeto de consumo e, como tal, como uma obsolescência planejada. Isso significa que
as novas construções não têm uma durabilidade programada, como são
constantemente alteradas com o objetivo de despertar no público um desejo de
adquirir sempre um modelo mais atual, assim como acontece com carros, roupas ou
objetos eletrônicos. Lógicas de um mercado extremamente capitalista, incoerente com
a “boa arquitetura” - que leva tempo para ser bem planejada e bem desenvolvida.
Ao adotar as lógicas do mercado, o arquiteto passa a ser um prestador de
serviços com uma rendição quase total aos desejos do cliente e às imposições do
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
63
mercado. Ou seja, o arquiteto passa a seguir “modismos”, perdendo a dimensão
cultural da arquitetura e sua relevância e desprezando questões específicas do
problema arquitetônico, como, por exemplo, o programa de necessidades e a
adequação ao lugar (MAHFUZ, 2001).
Hélio Piñón (2007) também condena a proliferação de "modismos" que,
segundo ele, são incentivados pelas faculdades de arquitetura e revistas
especializadas no assunto. Piñon afirma que a qualidade de uma obra de arquitetura
não depende do seu caráter inovador. Segundo ele, a obsessão pela inovação é algo
nocivo, pois priorizar a inovação, seja ela formal ou tecnológica, aliena a prática do
projetoe faz com que a surpresa ocupe o lugar que deveria ser da qualidade.
Para
ele, a qualidade essencial da arquitetura é a identidade da obra e “a autêntica
inovação é a que afeta a configuração do edifício, não aquela que se limita a renovar
sua aparência”
(PIÑON, 2007).
Mahfuz (2002) ainda arrisca afirmar que:
O
principal fator que determinou o abandono da arquitetura moderna
no Brasil foi o desconhecimento do que significava essa arquitetura e
quais eram seus verdadeiros valores, por parte das gerações que
sucederam aquela, tão bem sucedida, que inicia a sua projeção a partir
do edifício do Ministério da Educação e da Saúde.
(...)
Esse
desconhecimento tem a ver com a dificuldade histórica que os
arquitetos sempre tiveram em considerar a arquitetura como produção
intelectual
.
Definir o que é uma arquitetura de qualidade não é uma tarefa fácil, porque
nem mesmo entre os arquitetos qualquer consenso sobre o que seria “boa
arquitetura”. O conceito de qualidade é complexo, pois existem várias definições,
referentes a aspectos diferentes, cada uma aplicável a determinados contextos.
Esse assunto despertou o interesse de alguns profissionais, como os norte-
americanos Joseph Moses Juran e William Edwards Deming, que desenvolveram
conceitos e metodologias de gestão de qualidade para empresas e produtos. Esses
conceitos gerais, apesar de terem sido desenvolvidos em setores industriais, podem
ser aplicados e adaptados à construção de edifícios. Hoje, Juran e Deming são
considerados pelo meio empresarial como os grandes disseminadores e
impulsionadores do movimento da Qualidade. Ambos trabalharam e desenvolveram
suas teorias no período pós-segunda guerra no Japão, país que é tido como referência
em gestão de qualidade. Para Juran qualidade é adequação ao uso”, onde a
adequação é definida pelo consumidor (JURAN apud PICCHI e AGOPYAN, 1993,
p.6). Deming define a qualidade como função das exigências e necessidades do
consumidor. Ele pondera que, como essas exigências e necessidades variam com o
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
64
tempo, as especificações de qualidade também devem ser alteradas constantemente.
Ele afirma aos gestores que a melhoria na qualidade reduz despesas, ao mesmo
tempo em que amplia a produtividade e a fatia de mercado (CAMPOS, 2008). O
japonês Noriaki Kano também entende a qualidade como produtos e serviços que
atendem ou excedem as expectativas do consumidor(KANO apud CAMPOS, 2008).
Harrington (1988 apud CAMPOS, 2008) completa a idéia definindo qualidade como
aquilo que vai de encontro ou excede as expectativas dos consumidores, a um custo
que represente valor para os mesmos”.
Outro especialista no assunto, Philip Crosby (apud CAMPOS, 2008), adota a
teoria de 1961 do zero defeitoe de fazer certo da primeira vez”. O movimento em
busca do Zero Defeito começa com a observação dos erros cometidos. A seguir,
questiona-se por que eles foram cometidos e passa-se a acompanhar a evolução das
causas de erros para garantir que elas não serão criadas. Com isso, os erros são
evitados. Crosby considera a prevenção como principal fonte da qualidade (CAMPOS,
2008).
Ultimamente o termo “qualidade” passou a ser muito usado pelas empresas, a
partir da implementação dos certificados ISO 9000, emitidos pela International
Organization for Standardization, que é uma organização não-governamental fundada
em 1947, em Genebra. Atualmente presente em mais de 150 países, sua função é
promover a normatização de produtos e serviços para que a qualidade dos mesmos
seja permanentemente melhorada. Esses certificados comprovam que a empresa
adota o conjunto de normas técnicas estabelecidas por essa instituição. Tais normas
estabelecem um modelo de gestão de qualidade para organizações em geral,
qualquer que seja o seu tipo ou dimensão, por meio de padrões para especificações e
métodos de trabalho. O Brasil é representado na International Organization for
Standardization através da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Esses certificados da série ISO 9000 chegaram ao ramo da arquitetura, porém
sua eficácia é questionável. Mahfuz (2003) afirma que a obtenção desse tipo de
certificação funciona principalmente como uma ferramenta de marketing para a
maioria das empresas, que o usam com o objetivo de convencer seus clientes de que
têm condições de cumprir exigências de qualidade. Ele ainda pondera que esse tipo
de certificação diz respeito aos procedimentos adotados pelas empresas sem o
comprometimento com o resultado da arquitetura, ou seja, os certificados são
incapazes de garantir a qualidade do produto final, seja ele considerado o projeto ou a
construção resultante de um projeto, pois os órgãos que os emitem não estão
qualificados para isso e não há arquitetos envolvidos no processo.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
65
Uma das ferramentas para avaliar a arquitetura, reconhecida inclusive pelas
universidades brasileiras, é a APO - Avaliação Pós-Ocupação que é um processo
sistematizado e rigoroso que visa detectar problemas construtivos, ergonômicos,
estéticos e de conforto numa edificação em uso. A Avaliação Pós-Ocupação vem
sendo aplicada sistematicamente em vários países, como EUA, França, Japão, Nova
Zelândia, tendo como princípio o fato de que edificações e espaços livres postos em
uso, qualquer que seja sua função, devem estar em permanente avaliação, quer do
ponto de vista construtivo e espacial, quer do ponto de vista de seus usuários para
corrigir eventuais falhas, se necessário, e aferir possíveis acertos, bem como a partir
da realimentação do processo projetual, definir diretrizes para projetos futuros
semelhantes (ORNSTEIN, 1992).
Mas o que seria afinal uma obra de arquitetura de qualidade? Ao longo do
tempo foram feitas várias tentativas no sentido de encontrar uma resposta para essa
questão.
Rino Levi, em seu texto de 1939 “O que na arquitetura”, expõe suas razões
de projeto defendendo a idéia de que a intencionalidade plástica motiva e justifica a
arquitetura, ao passo que o domínio da técnica e o rigor na elaboração do projeto são
imprescindíveis para se alcançar um bom resultado.
O arquiteto inglês Piers Gough, em visita à FAUFRGS no ano de 1990,
enumerou algumas das características presentes em obras que alcançam uma
valoração superior, sendo consideradas, quase que universalmente, exemplos de
arquitetura da melhor qualidade. Segundo ele, essas características são:
1. São objetos que, além da sua qualidade como conjunto espacial e construção
formal, se destacam por uma relação apropriada com o contexto circundante;
2. Nesses objetos se constata a presença de um conceito central que organiza o
todo e sua relação com o entorno. Esse conceito é algo que necessariamente
vai além de uma resposta mecânica aos aspectos técnicos e funcionais do
problema. A qualidade de uma obra arquitetônica depende não da
existência de um conceito forte, mas da consistência com que é desenvolvido e
levado às suas últimas conseqüências;
3. A arquitetura é entendida como ofício, disciplina com uma tradição técnica e
compositiva que deve ser do domínio do arquiteto. Toda arquitetura de
qualidade mostra uma relação direta entre forma e construção, apoiada na
pertinência das escolhas de materiais, técnicas e formas;
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
66
4. economia de meios - número reduzido de elementos para obtenção do
máximo efeito. Obter muito com pouco (MAHFUZ, 2001).
Em arquitetura a questão da qualidade da moradia aparece, muitas vezes,
relacionada com o conceito de conforto, ou seja, associada à questão básica de se
proporcionar condições necessárias de habitabilidade, utilizando-se racionalmente os
recursos disponíveis. Trata-se de fazer com que o produto arquitetônico corresponda -
conceitual e fisicamente - às necessidades e condicionantes do meio ambiente natural,
além do social, cultural e econômico de cada sociedade. O conforto é um conjunto de
valores que se expressa pela sensação de abrigo (proteção), de envolvimento e pela
agradabilidade.
Para Rybczynski (1999), a palavra conforto está relacionada com a casa, ou
seja, com o aconchego do lar. Ele identifica muitos valores que foram surgindo ao
longo da história, como intimidade, privacidade, domesticidade, deleite, leveza,
eficiência, estilo, consistência e austeridade.
O chamado “conforto ambiental” pode ser definido como o estudo das
condições térmicas, acústicas, luminosas e energéticas e como um dos
condicionantes da forma e da organização do espaço. Esse estudo também leva em
conta questões mais subjetivas, como por exemplo, a capacidade de emocionar.
Segundo Schmid (2005), a idéia de conforto está relacionada ao entorno físico e
também ao contexto psicológico: às experiências passadas, ou seja, ao repertório de
cada um.
Para Schmid (2005), alguns arquitetos especialistas em conforto ambiental se
preocupam com a funcionalidade em detrimento da questão estética. Ele acredita que
muitos adeptos do Modernismo perseguem a estética da funcionalidade, o que resulta
em obras com aparências funcionais sem necessariamente sê-las.
Schmid (2005, p. 325) afirma que os sentidos olfato, tato, calor, audição e visão
estabelecem comunicação entre o ambiente construído e a mente humana, de forma
consciente ou não. O olfato, segundo ele, “é uma linguagem de referências muito
fortes, a que se associam emoções, registradas com muito realismo”, ao passo que o
tato é a forma de vinculação mais concreta com o mundo, pois além de dar
parâmetros reais à visão, permite sua aferição; do tato vem a percepção da solidez e é
através do tato que o ambiente construído, com suas texturas e formas, acolhe o
homem. A percepção térmica do ambiente é fator determinante de conforto ou
desconforto. A audição “se presta como um canal de comunicação resumida entre o
meio e as pessoas, e delas entre si, sendo que o ambiente construído condiciona de
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
67
maneira decisiva o que se ouve. A visão, segundo Schmid, é a medida de um
envolvimento racional com o mundo. Na percepção do conforto ambiental a visão é
considerada o sentido principal, enquanto que a limitação da luz favorece a intimidade
e o repouso.
A visão é o sentido preponderante. É percorrida por uma profusão de
estímulos tridimensionais em milhões de pontos de imagem, com
diferença de cor e intensidade ou luminância. Juntos, estes pontos
configuram objetos, locais, materiais, padrões que aprendemos a
identificar
(SCHMID, 2005, p. 32).
Para elucidar os conceitos de conforto da moradia e a relação do homem com
o edifício se faz necessário recorrer à filosofia. Puls (2006) diz que o edifício nada
mais é do que o lugar do homem no mundo, o espaço aberto por ele em meio ao
entorno material que o envolve, um invólucro inorgânico criado artificialmente a partir
da natureza. O homem é o conteúdo da arquitetura, e a arquitetura é a forma do
homem. Sendo assim, o edifício não espelha a aparência física do sujeito, mas seu
modo de ser, sua essência.
Segundo Walter Benjamim (apud PULS, 2006, p.16), existem duas maneiras
de acolher um edifício: pode-se utilizá-lo e pode-se fitá-lo”. Ou seja, a acolhida pode
ser tátil ou visual. A acolhida tátil é a percepção cotidiana, quando a construção é
entendida como um bem, com um valor de uso material capaz de satisfazer as
necessidades corporais do ser humano. Ao passo que a acolhida visual é a percepção
estética, a contemplação, quando o edifício é percebido como um signo, um valor de
uso ideal que comunica algo sobre o homem e seu mundo.
Puls (2006, p.17) entende que a relação entre o homem (capaz de ver e tocar)
e o edifício (objeto, composto de matéria e forma) produz quatro experiências distintas,
que são: extensão, configuração, resistência e acessibilidade. Explica-se: na
percepção visual, que reconhece o objeto como pontos no espaço, a matéria se
determina como extensão, já que toda massa possui uma certa dimensão, enquanto a
forma se apresenta como configuração, pois toda forma define uma certa figura; ao
passo que com a percepção tátil, que apreende os objetos como trajetos no tempo, a
matéria se determina como resistência, pois toda massa possui uma certa solidez,
enquanto que a forma se apresenta como acessibilidade, uma vez que ela possibilita a
circulação do homem pela edificação.
Segundo Puls (2006, p.20), toda construção deve possuir quatro requisitos
básicos para atender as expectativas dos usuários em sua acolhida tátil: dimensão
(para acolher o indivíduo), solidez (para protegê-lo), ordem (para orientá-lo) e utilidade
(para servi-lo). Na acolhida visual, essas mesmas propriedades materiais são
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
68
transformadas em signos, sendo que o trabalho do arquiteto está envolvido nessa
passagem do bem material ao signo, uma vez que uma de suas atribuições é realçar a
propriedade reflexiva do valor de uso material para criar uma aparência capaz de
espelhar esse homem para toda uma coletividade. Dessa forma, para uma construção
ser considerada bela não basta que ela tenha dimensão, solidez, ordem e utilidade;
ela precisa parecer ser grande, sólida, ordenada e útil.
Merleau-Ponty (apud FUÃO, 2003), com sua teoria sobre a Fenomenologia da
Percepção, em contraponto com a concepção espacial cartesiana, mostra que o corpo
é a principal referência espacial do homem e que o espaço deve ser compreendido
não só a partir dele, mas também como uma extensão do próprio corpo.
O filósofo francês Gaston Bachelard (1884-1962) acredita que uma das
virtudes da casa seja a tranqüilidade. Para ele a casa “é o nosso canto do mundo. (…)
abriga o devaneio, (…) protege o sonhador, (…) permite sonhar em paz”. Ele defende
que é importante sonhar e que o devaneio nos impulsiona para frente. Ele ainda afirma
que a casa integra os pensamentos, as lembranças e os sonhos do homem, e que
sem ela o homem seria um ser disperso. Bachelard entende a casa como o primeiro
universo do homem, com grande importância no seu íntimo, como a referência do
mundo, o primeiro mundo do ser humano, antes de ele ser “atirado ao mundo”
(BACHELARD, 1993, pp. 24-26).
Le Corbusier, por sua vez, era contra a mitificação da casa. Para ele essa
relação sentimental do homem com a casa a manteria intocada, refratária à técnica e a
própria razão. Corbusier defendia a idéia da casa como a “máquina de morar”, fazendo
menção explicita à masculinidade da indústria e oposta ao caráter feminino do lar,
pegado à tradição (SCHMID, 2005, p.19 e 98).
Enquanto muitos defendem os princípios modernistas de moradia, alguns
críticos caminham na contramão, como por exemplo, Michael Brawn. Brawn (apud
SCHMID, 2005, p.99) afirma que a Bauhaus e o Movimento Modernista teriam sido
responsáveis pelo retrocesso do conforto, do prazer e da imaginação criativa, ao
descuidarem do interesse dos consumidores, priorizando a produção de objetos e
edifícios e não seus efeitos ambientais sobre as pessoas.
O filósofo alemão Otto Friedrich Bollnow também faz sua crítica e argumenta
que, com sua visão racional, Corbusier tentava levar para a casa aspectos do mundo,
como a estética, a funcionalidade e a objetividade. Porém, o sonhador sonha com o
mundo, mas para conquistar o mundo, necessita da casa” (BOLLNOW apud SCHIMID,
2007).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
69
O que também deve ser ponderado é o fato de que cada indivíduo percebe o
espaço construído de uma maneira diferente, de acordo com sua vivência, sua
experiência e seus sentimentos. Conforme explica Fernando Fuão (2004):
O espaço não é, como c a maioria dos arquitetos, uma realidade
rígida e válida para todos. Ele em si é tão plástico e imaterial como o
próprio tempo, variando com os indivíduos, com os povos, com as
épocas, e, principalmente, com os pontos de vistas. Não existe um
espaço objetivo e autônomo do ser humano
.
Reis-Alves (2007) define o conceito de lugar como o espaço ocupado, ou seja,
habitado, sendo que o termo habitado, de habitar, neste contexto, acrescenta à idéia
de espaço um novo elemento, o homem. O espaço ganha significado e valor em
razão da simples presença do homem, seja para acomodá-lo fisicamente, como o seu
lar, seja para servir como palco para as suas atividades”. Norberg-Schulz afirma que o
lugar é mais do que uma localização geográfica, ou seja, mais do que um simples
espaço. “O lugar é a concreta manifestação do habitar humano” (NORBERG-SCHULZ,
apud REIS-ALVES, 2007). Para ele, o mundo, como lugar, é constituído por elementos
que transmitem significados.
Nós temos usado a palavra habitar’ para indicar a relação total
homem-meio. (…) Quando o homem habita, ele está simultaneamente
locado no espaço e exposto a um certo caráter ambiental. As duas
funções psicológicas envolvidas, podem ser chamadas “orientação” e
“identificação”. Para ganhar o suporte existencial o homem tem que ser
capaz de orientar-se; ele tem que saber onde ele está. Mas também
ele tem que identificar-se com o meio, isto é, ele tem que saber como
ele está num certo lugar
(NORBERG-SCHULZ, apud
REIS-
ALVES, 2007
).
Um dos indicativos de qualidade, ou seja, de boa solução arquitetônica para os
edifícios residenciais verticais pode ser, portanto a boa relação deles com rua, com o
bairro e com cidade. Para Antonio Claudio Fonseca (2007) a questão basilar para o
entendimento da qualidade da produção imobiliária privada é a inserção urbana dos
edifícios e o modo como esses se apropriam dos lotes, influenciando o ambiente
construído e delineando a paisagem da cidade. Portanto, segundo ele, o compromisso
que os edifícios têm ou não têm com a cidade ou com as áreas públicas de seu
entorno são fatores determinantes de qualidade
.
Segundo Fonseca (2007), a produção dos edifícios concebidos e
desenvolvidos com grande rigor técnico, apoiada na linguagem moderna, constituiu
um paradigma de qualidade importante para a cidade de São Paulo. A conjuntura
econômica do inicio da década de 1950 favoreceu a atividade imobiliária,
estabelecendo uma competitividade inédita que incentivou o aprofundamento da
composição dos programas e a busca da melhor solução espacial para os edifícios.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
70
Num mercado tão competitivo era preciso produzir uma mercadoria diferenciada.
Assim sendo, projetos melhor definidos espacialmente e que construíssem, no seu
entorno, um bairro melhorado, garantiam a vantagem competitiva do empreendedor
(FONSECA, 2007). A preocupação com o urbano, presente em inúmeros prédios
edificados para moradia em São Paulo, especialmente no bairro de Higienópolis,
constituiu um grande diferencial do período aqui estudado.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
71
Capítulo 2 – A metrópole paulista em formação
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
72
2.1
O início da
transformação
vertical
ste capítulo trata da transformação que a cidade de São Paulo sofreu a
partir do final do século XIX, tornando-se a maior cidade do país. Tais
mudanças envolveram vários aspectos, entre eles: a expansão da área
urbanizada, o surgimento de importantes construções, o aumento
demográfico, o crescimento econômico e político, bem como a evolução social, cultural
e comportamental.
O dicionário Houaiss
8
atribui vários significados ao termo metrópole, entre eles:
capital ou cidade principal de país, estado ou província”. Ou: “qualquer cidade grande
e/ou importante”. E ainda: numa região metropolitana, a cidade que exerce influência
econômica, social e administrativa sobre as demais da mesma área.” Para alguns
urbanistas, como por exemplo, para Luis Octávio da Silva (SILVA in CAMPOS, GAMA
e SACCHETTA, 2004, p. 101), o conceito de metrópole está associado ao processo de
conurbação, ou seja, quando os limites geográficos de uma cidade são extravasados
configurando uma ligação contínua com cidades vizinhas. Qualquer que seja a
definição adotada, a cidade de São Paulo representa uma importante metrópole para o
país, tanto pela sua força econômica e política, quanto pela demografia, cultura,
indústria, comércio, etc.
A cidade de São Paulo, em seus três primeiros séculos de existência, não
ampliou sua área construída, permanecendo restrita ao “triangulo”, ou seja, à região
compreendida entre a Rua Direita, a Rua XV de Novembro e a Rua São Bento (nomes
atuais). No entanto, no século XX, a cidade entrou num intenso processo de
construção/destruição, sendo reconstruída duas vezes (SOUZA, 1994, p. 57).
8
http://houaiss.uol.com.br/.
E
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
73
A diversificação das atividades econômicas, a partir de meados do
século XIX, aliada à idéia, surgida em 1900, e proposta por Brenardino
de Campos, de lançar as hipotecas sobre imóveis urbanos como
condição para concessão de crédito aos fazendeiros, vai estimular o
processo de expansão urbana com o surgimento de uma série de
lançamento de loteamentos. (...) Sem dúvida essa ebulição vai
desembocar nas precondições que, a partir dos anos 20, propiciarão o
processo de verticalização de São Paulo
(SOUZA, 1994, p. 57).
A transformação da cidade de São Paulo, que de um pequeno burgo tornou-se
um importante centro urbano, ocorreu de forma abrupta e veloz. As mudanças, a
princípio, foram conseqüências das riquezas oriundas da plantação de café no interior
do estado a partir do último quarto do século XIX.
Com o crescimento das exportações agrícolas e com a aceleração do processo
industrial houve uma rápida transformação na fisionomia arquitetônica da cidade no
início do século XX, marcada pelo aumento significativo de construções, pela
expansão do território urbano e pelo início do processo de verticalização iniciado na
década de 1920. A aparência dos assentamentos coloniais com construções de taipa,
perpetuada até o século XIX, deu lugar a um novo perfil moderno, nos termos da
cultura européia da belle époque. Essa modernização pretendia configurar um centro
capaz de comandar a principal região cafeeira do país, beneficiando-se do fluxo de
trocas que conferia a São Paulo o status de pólo do modelo agroexportador, então
vigente (CAMPOS in CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 72).
As ferrovias implantadas no final do século XIX, como São Paulo Railway,
Sorocabana e Central do Brasil, exerceram um importante papel no escoamento da
produção agrícola e industrial do estado. Formou-se um cinturão ferroviário-industrial,
pois nas proximidades dos trilhos foram instaladas as fábricas e suas respectivas vilas
operárias que mais tarde se transformariam em bairros, como Água Branca, Brás,
Belenzinho, Mooca, Vila Prudente, Ipiranga e Osasco (emancipado em 1959) (GUNN
e CORREIA in CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 82).
O mundo industrial penetra na sua paisagem, agora fortemente
associada aos grandes prédios fabris de tijolos aparentes e às altas
chaminés, elevando-se em meio a infindáveis extensões de áreas
suburbanas cobertas de modestas moradias populares (GUNN e
CORREIA in
CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 82).
No final do século XIX o governo do estado e a prefeitura de São Paulo
iniciaram uma série de construções de edifícios públicos na capital. Eram obras caras
e muito cuidadas, frutos de projetos bem elaborados dentro dos dogmas do
neoclassicismo, estilo deflagrador do ecletismo (que seria a linguagem arquitetônica
predominante nas construções paulistanas do início do século XX). Muitos destes
projetos foram assinados pelo arquiteto Ramos de Azevedo, maior nome da
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
74
arquitetura paulistana até então (LEMOS, 1989, p. 11). Assim, surgiram os prédios da
Secretaria Agricultura e Secretaria da Justiça, a Escola Normal (atual Caetano de
Campos), o Liceu de Artes e Ofícios (atual Pinacoteca), o Quartel da Luz, o Palácio
das Indústrias, o Asilo do Juqueri, a Penitenciária do Estado, o Palácio da Justiça e as
várias escolas como as do Brás, da Luz, da Avenida Paulista, entre outras (CAMPOS
in CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 72). A igreja também acompanhava o
surto progressista. Portanto, nesta época também surgiram algumas importantes
construções religiosas como o Recolhimento da Luz e a gótica Catedral da Sé, de
Maximiliano Hehl, construída por volta de 1912, em substituição a uma velha
construção (LEMOS, 1989, p. 12).
Figuras 28 e 29: Palácio das Indústrias e projeto de Maximiliano Hehl para a Catedral da
Sé.
Fonte: (CAMPOS, 2002, p.170 e 184).
A cultura da cidade ganhou uma importante obra em 1890 quando foi
inaugurado o Museu do Ipiranga (atual Museu Paulista da Universidade de São Paulo)
- construção em estilo renascentista, projetada pelo engenheiro italiano Tommaso
Gaudenzio Bezzi e encomendado para ser um monumento à Independência do Brasil.
Em 1909, o paisagista belga Arsênio Puttemans executou os jardins ao redor do
edifício, que, na década de 1920, foi substituído pelo paisagismo do alemão Reinaldo
Dierberger.
Também data do final do século XX a fundação da Escola Politécnica (1894),
que teve importante papel no desenvolvimento da cidade ao formar grande quantidade
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
75
de profissionais como engenheiros, matemáticos e arquitetos. Além disso, o corpo
técnico-docente da escola passou a subsidiar os setores de obras dos governos
estadual e municipal, sendo que, no caso da prefeitura de São Paulo, a ligação foi
ainda mais forte pois o setor de obras nasceu ao mesmo tempo que a Escola
Politécnica (CAMPOS, 2002, p. 71).
Figuras 30: Edifício da Escola politécnica, projetado por Ramos de azevedo entre 1895 e
1899.
Fonte: CAMPOS, 2002, p. 65.
O desenvolvimento econômico acelerado acarretava a necessidade de dotar a
cidade de equipamentos urbanos capazes de torná-la digna da condição que assumia
como pólo dinâmico da economia do país. Nesse sentido, a administração do prefeito
Antonio Prado concentrou esforços para criar o Teatro Municipal de São Paulo,
configurando uma intervenção de grande visibilidade que demonstrava o novo caráter
que se pretendia conferir à área central da cidade (CAMPOS, 2002, p. 84). Inaugurado
em 1911, com projeto de
Domiziano Rossi e Cláudio Rossi, a obra foi efetuada sob o
comando de Ramos de Azevedo. A construção, feita nos moldes das grandes obras
das cidades européias, correspondia ao luxo e à elegância exigidos pela elite
paulistana.
Em 1922 o Teatro Municipal foi palco da Semana de Arte Moderna, realizada
entre os dias 11 e 18 de fevereiro daquele ano. O evento reuniu grandes nomes das
artes plásticas, música, literatura e arquitetura. Através de palestras, exposições e
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
76
apresentações de músicas e poesias, pretendia-se romper com as tradições artísticas
do passado incorporando e divulgando as idéias e conceitos artísticos das vanguardas
européias e, ao mesmo tempo, buscar uma cultura autêntica brasileira, valorizando e
exaltando o nacionalismo. Esse acontecimento, com o passar do tempo, adquiriu
grande importância histórica cultural.
Figura 31: Teatro Municipal de São Paulo, foto do início do séc. XX.
Fonte: http://www.eca.usp.br.
As mudanças não se restringiram aos aspectos construtivos. A cidade também
evoluiu em vários outros setores, como demografia, cultura, comportamento social,
infraestrutura, além do fortalecimento do comércio, do serviço e da indústria.
Em 1923, foi criada a “Sociedade Rádio Educadora Paulista” - a primeira
emissora de rádio da cidade, cujos ideais estavam ligados à educação e à cultura da
população. Tratava-se de uma iniciativa de membros da elite da sociedade paulistana,
que, além de idealizarem a emissora, efetivaram contribuições e angariaram fundos
em instituições paulistas para a sua execução (ZUFFO, 2006, p.43).
Márcia Camargos
(CAMARGOS in
CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p.
90) resume bem a atmosfera que pairava na cidade no início do século XX:
Sob o influxo do crescimento comercial, da concentração de recursos
financeiros e da assimilação de novos preceitos e valores burgueses
europeus, a capital viu surgir palacetes, avenidas desenhadas para
receber os automóveis e diversos tipos de indústria. Com aspirações
de cosmopolitismo, esforçava-se para apagar seus traços coloniais.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
77
Para sua elite alcançar a “civilização” implicava despojar-se daquilo
que remetia a um passado “atrasado”, renegando os elementos
culturais e raciais. A futura metrópole crescera demais para orgulhar-
se dos antigos costumes, mas ainda era provinciana para romper com
eles, enfrentando uma transição com forte dualidade.
Os índices demográficos da capital de São Paulo cresciam de maneira
espantosa. O primeiro censo brasileiro data do ano de 1872 e diz que a cidade
daquela época contava com uma população de pouco mais de 31 mil habitantes,
menor que São Luís, Cuiabá e Fortaleza. Em 1890, a cidade possuía quase 65 mil
habitantes e era a quarta capital do país em demografia. Em 1900, a população
saltou para 239.820 habitantes, ficando apenas atrás do Rio de Janeiro, a capital
federal que contava com cerca de 811 mil habitantes. Isso representou um aumento
de 269,6% em um período de dez anos (MARINS in CAMPOS, GAMA e SACCHETTA,
2004, p. 62). E o crescimento continuou acelerado nas primeiras décadas do século,
atingindo as marca de 579 mil habitantes em 1920, 890 mil em 1930 e 1,6 milhão em
1945 (IBGE).
Os imigrantes, que a princípio chegaram ao estado para substituir a mão de
obra escrava (após a abolição) na agricultura, com o passar do tempo também se
fixaram na capital exercendo atividades diversas e contribuindo para a formação
cultural da cidade marcada pela diversidade trazida por esses estrangeiros de
nacionalidades distintas. Diferentes hábitos, religiões, culinárias e técnicas de trabalho
foram trazidos pelos imigrantes e incorporados à cultura paulistana.
Os imigrantes também formaram uma importante fonte de mão de obra
industrial de São Paulo, não por estarem mais ajustados a esse tipo de trabalho,
pois muitos deles haviam sido operários, como também por não terem preconceito
contra o trabalho manual. Como consumidores, os imigrantes eram mais sofisticados
do que os brasileiros e usavam alguns artigos industrializados. Além disso, possuíam
uma mentalidade de poupança mais desenvolvida. Segundo dados do Memorial do
Imigrante, mais de 2,4 milhões de estrangeiros mudaram-se para o Estado de São
Paulo entre os anos de 1870 a 1939 (www.memorialdoimigrante.org.br/).
A imigração, principalmente italiana, era responsável por grande parte do
crescimento demográfico e territorial da cidade. A área ocupada ou loteada crescia
muito. Enquanto eram criados bairros nobres destinados à elite cafeeira, como
Campos Elíseos, Higienópolis e Avenida Paulista, surgiam dezenas de loteamentos
menos prestigiosos, localizados distantes do centro, em terrenos acidentados ou
várzeas, aumentando a área de ocupação precária. Muitos deles abrigavam as
famílias imigrantes, como o caso do Brás, Mooca, Barra Funda, Ipiranga e Bom Retiro.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
78
Figura 32: Crescimento da área urbanizada da cidade de São Paulo de 1915 a 1929.
Fonte: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas/urb-1920.jpg.
A cidade expandia-se horizontalmente ao mesmo tempo em que se iniciava o
adensamento vertical da área central. A verticalização constitui um dos traços
marcantes da urbanização brasileira e a cidade de São Paulo é o grande ícone desse
fenômeno que se iniciou na década de 1920. “Os edifícios altos e as áreas
verticalizadas constituem toda uma simbologia que tem o seu espaço na própria
história da cidade, associados à idéia de modernização, de progresso e aos êxitos
econômicos da metrópole” (SILVA in CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 103).
Na década de 1920 alguns acontecimentos impulsionaram a produção de
construções verticalizadas na capital paulista. Um deles foi a garantia da oferta de
energia elétrica assumida pela Light para a cidade de São Paulo, propiciando a
instalação de elevadores e conseqüentemente possibilitando o crescimento dos
edifícios, tanto em quantidade como em altura. Outro fator importante foi a
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
79
regulamentação da altura dos edifícios e do uso dos elevadores no ano de 1920
(SOMEKH, 1997, p. 74 e 20). A inauguração da primeira fábrica de cimento do estado
de São Paulo, a de Perus, em 1926, também contribuiu para baixar os custos das
construções verticalizadas, pois até então o consumo desse produto dependia de
importações. A industrialização brasileira de cimento também incentivou o uso do
concreto armado, que passou a ser muito utilizado em substituição das caras
estruturas metálicas importadas (GALESI, 2002, p. 118).
O processo de verticalização de São Paulo iniciou de forma lenta. Em 1929 a
cidade contava com pouco mais de 50 edifícios com mais de quatro andares,
localizados principalmente na região central e de usos variados (residenciais comércio
e serviços). Na década de 1930, esse processo se intensificou e em 1939 existiam
813 edifícios com elevadores na cidade, sendo que 65% eram destinados ao setor
terciário (SOMEKH, 1997, pp.70-71).
Na década de 1920, embora o Modernismo tivesse suas primeiras
manifestações no país, o ecletismo ainda era largamente hegemônico, inclusive na
arquitetura dos edifícios. Do ponto de vista da morfologia urbana, as primeiras
construções verticalizadas configuravam-se sobre um traçado colonial, caracterizado
por lotes estreitos e profundos, sendo que, na maioria dos casos, os edifícios não
apresentavam recuos frontais e laterais. Somente as fachadas frontais eram muito
bem cuidadas e recebiam refinado tratamento estético. As empenas cegas eram
recorrentes e, internamente, procurava-se reproduzir os programas arquiteturais das
edificações não-verticalizadas (SILVA, 2007).
As primeiras compilações da legislação edilícia da cidade datam da década de
1910. Em 1918 um projeto do Instituto de Engenharia, elaborado por Victor Freire,
Alexandre de Albuquerque, Ricardo Severo e outros, estipulava alturas máximas para
as edificações, proporcionais à largura das ruas, em proporção crescente nas zonas
mais centrais. O projeto foi muito bem elaborado e detalhado, seguindo os modernos
princípios higienistas de insolação e ventilação. No projeto também foi estipulado um
limite de número de pavimentos, variando de acordo com a largura da rua e com a
zona em questão. Após um período arquivado e depois de várias alterações esse
projeto foi aprovado em 1920, sendo chamado de Padrão Municipal (Lei Municipal nº.
2.332), sendo que nessa versão havia uma liberalização das alturas permitidas, não
havendo restrição ao número de pavimentos. Dessa forma, era possível construir
edifícios muito mais altos do que havia sido previsto originalmente por Victor Freire,
conforme pode ser observado nos quadros a seguir. Em 1921 essa lei teve uma nova
resolução acrescentada, que coibia a verticalização fora da zona central, como por
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
80
exemplo, em Campos Elíseos, Higienópolis, Santa Cecília e Bela Vista (CAMPOS,
2002, pp. 222-227).
Quadro 1 :Alturas máximas para as edificações no Município de São Paulo,
pelo projeto do Instituto de engenharia para o Código de Obras de 1918.
Fonte: CAMPOS, 2002, p. 223.
Quadro 2: Alturas máximas para as edificações no Município de São Paulo,
pelo Código de Obras de 1920 e pela Resolução Municipal de 1921.
Fonte: CAMPOS, 2002, p. 225.
Em 1923, visando frear o crescimento urbano desordenado, foi aprovada a Lei
de Loteamentos (Lei Municipal nº. 2.611). Entre outras coisas, esta lei proibia a
abertura de vias sem a devida licença da prefeitura, determinava que ruas de 8 metros
de largura fossem exclusivamente residenciais, estipulava contribuições compulsórias
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
81
para o calçamento na abertura de novas vias e permitia traçados sinuosos e jardins
não murados, bem como espaços livres comuns no interior das quadras (coerentes
com os padrões de bairro-jardim propostos pela Cia City). A lei também fixava o limite
de 300m
2
para cada lote e frente mínima de 10m, objetivando evitar a formação de
novos lotes pequenos e estreitos como aqueles recorrentes na cidade (CAMPOS,
2002, pp. 243-244).
Numa tentativa de normatizar as edificações da cidade de São Paulo, o
engenheiro Arthur Saboya elaborou em 1929 o Código de Obras, que ficou conhecido
como “Código Arthur Saboya”. O Código continha regras e normas referentes,
sobretudo, a questões relativas à salubridade do edifício e suas características
geométricas e continuava determinando a altura do edifício em função da largura da
rua, medida através do alinhamento (SOUZA, 1994, p. 222). De acordo com esse
novo código estava liberada a verticalização fora da área central da cidade, em vias
mais largas, como por exemplo, nas avenidas Angélica, Brigadeiro Luiz Antonio e
Higienópolis. Em 1934 foi criado o ato 663, que constituía uma atualização do Código
Arthur Saboya (CAMPOS, 2002, p. 356).
Quadro 3: Alturas máximas para as edificações no Município de São Paulo,
pelo Código Arthur Saboya de 1929.
Fonte: CAMPOS, 2002, p. 355.
Os primeiros edifícios residenciais da cidade foram construídos sem critérios
normativos específicos, pois representavam uma novidade. Não se pensavam esses
edifícios como um novo problema que exigisse uma escala adequada, portanto, suas
plantas seguiam a idéia de empilhar várias casas em um mesmo terreno, todas iguais
entre si, sempre tentando buscar o conforto dos palacetes da cidade: amplos,
cômodos e bem arejados (LEMOS, 1989, p. 79). Assim como as casas, muitos
edifícios chegavam a ocupar dois ou três dos limites laterais dos terrenos, sobrando as
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
82
áreas internas para solucionar as questões de iluminação e arejamento de alguns
ambientes internos: surgiram então os chamados “poços” de iluminação e ventilação.
Essa primeira fase da verticalização residencial reverteu, de certa forma, algumas
conquistas que a arquitetura residencial estava obtendo nos bairros-jardim, como a
reconciliação com a natureza, a integração dos espaços interiores e exteriores e a
liberdade de disposição do volume sobre o lote (REIS FILHO, 1973, p. 82).
Figura 33 e 34: Edifício Regência, Rua Xavier de Toledo, esquina com Rua Sete de Abril,
projeto do engenheiro-arquiteto Arquimedes de Barros Pimentel. Fachada e entrada
principal.
Fonte Revista Acrópole, junho de 1940, pp. 79 – 81.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
83
Figura 35: Edifício Regência - planta do pavimento tipo.
Fonte Revista Acrópole, junho de 1940, p. 80.
Nos anos 1920, nos bairros de Santa Ifigênia e Santa Cecília, já existiam
alguns edifícios residenciais de arquitetura eclética. Eram os chamados “palacetes”,
erguidos diretamente sobre o alinhamento das calçadas. Com poucos pavimentos e
predominância de linhas horizontais, configuravam blocos maciços nos quarteirões. Na
maioria dos casos, seguiam os modelos parisienses maisons de rappot, de ocupação
tipicamente haussmaniana, como acontecia nas capitais européias oitocentistas
(GALESI, 2002, p. 118).
Fruto de um ambicioso projeto do arquiteto Christiano Stockler das Neves, o
Edifício Sampaio Moreira, inaugurado em 1924, foi um marco para época. Sua altura
de 50 metros e quatorze pavimentos era considerada descomunal. Localizado no
centro da cidade, à Rua Libero Badaró com vista para o Vale do Anhangabaú,
destoava na paisagem composta por construções de gabarito bem inferior, como o
Teatro Municipal, a Prefeitura, o Automóvel Clube, a residência Prates e o Hotel
Esplanada. O então Diretor de Obras da Prefeitura, Victor Freire, havia tentado, sem
sucesso, impedir sua construção alegando que as saliências da fachada avançavam
sobre a rua (GALESI, 2002, p. 121). Por alguns anos o Sampaio Moreira foi o edifício
mais alto da cidade, até ser superado pelo Edifício Martinelli.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
84
Figura 36: Edifício Sampaio Moreira foto de
cartão postal antigo.
Fonte:
http://www.piratininga.org/sampaio_moreira/sampaio_moreira_postal.jpg
.
Partiu de um próspero imigrante italiano a iniciativa de construir um arranha-
céu símbolo na capital paulista. O então comendador Giuseppe Martinelli, que já havia
feito fortuna com o comércio exportador e importador, propôs, na década de 1920,
construir um edifício que celebrasse sua própria trajetória, aliando uma grande
operação imobiliária com a elevação simbólica da riqueza imigrante ao ápice do perfil
urbano da cidade. Depois de muitas alterações no projeto, influências das prescrições
municipais e embargo de obras, o Edifício Martinelli foi inaugurado em 1929. A
construção de estilo eclético, com 26 andares e pintura cor-de-rosa situada na Avenida
São João, combinava o requinte decorativo da “capital do café” com uma enorme
operação imobiliária que quebrava a volumetria contida da São Paulo da década de
1920. A elevação de um edifício desse porte rompia com o equilíbrio volumétrico
almejado por Vitor Freire para o centro da cidade (CAMPOS, 2002, pp. 322-325). O
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
85
Martinelli também carrega uma grande dose de simbolismos, conforme Campos (2002,
pp. 325-326) escreveu:
Rivalizando com seus concorrentes cariocas e portenhos, o vistoso
“arranha-céu” paulistano anunciava a projeção de São Paulo como
força autônoma no continente, prestes a superar os limites do modelo
agroexportador. Mantinha, todavia, a linguagem floreada e oitocentista
da capital do café e ficava no “triângulo” tradicional. (...) o Martinelli
revela na sua ambivalência simbólica, o esgotamento dos padrões de
intervenção urbanística vigentes em são Paulo desde o início do
século.
Figura 37: Edifício Martinelli.
Fonte:
http://theurbanearth.wordpress.com/2008/08/16/o-edificio-
martinelli-sao-paulo.
Nos anos de 1930 vários edifícios foram construídos na cidade seguindo os
parâmetros do Art Déco, identificado como estilo modernizado, cujo despojamento
ornamental era sua característica. Como, por exemplo, os Edifícios Dona Veridiana
(
Rua Martinico Prado), Gonçalves Biar (Avenida São João) e Zena (Rua Frederico
Abranches) (PINHEIRO, 2008). Na década de 1930 houve um grande aumento da
produção de edifícios residenciais destinados ao aluguel, embora a aceitação desse
tipo de moradia tenha sido difícil, pois grande parte da população a associava aos
estigmatizados cortiços (LEMOS, 1978, p. 157).
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
86
Figura 38: Edifício Dona Veridiana, Rua Martinico Prado. Projeto de Francisco Beck.
Fonte: Revista Acrópole Nov, 1941, p. 279.
Também existia resistência em aceitar as novas localidades sugeridas pelos
promotores que insistiam em construir edifícios no Centro Novo, enquanto o Centro
Velho ainda era o território de maior prestígio na geografia da cidade (SILVA in
CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 104). A partir de meados da década de
1930, a ocupação vertical da cidade ganhou novas oportunidades, contando com
prédios de usos mistos e residenciais e expandindo-se para o entorno das áreas
centrais e arredores (GALESI, 2002, p. 119).
Em São Paulo existiam alguns obstáculos à moradia vertical, pois os padrões
urbanísticos predominantes na cidade até a década de 1930 supunham que as
atividades terciárias e as altas densidades se limitariam à área central, prevendo para
fora do centro apenas as indústrias, ao longo das ferrovias, e os bairros residenciais
horizontais. Essa postura favorecia os interesses da Companhia City, proprietária de
grandes glebas na região sudoeste da cidade, que pretendia implantar os padrões de
“bairros-jardim” com residências isoladas. Favorecia também os interesses da Light,
cujas linhas de bonde ligavam esse entorno residencial a área central. A partir de
1929, porém, com as modificações no código de obras, os edifícios residenciais
verticais foram permitidos fora da zona central (GALESI e CAMPOS, 2001, p. 39).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
87
Segundo Luís Octávio Silva (2007), o período compreendido entre 1930 e 1945
foi de crucial importância nos desígnios da capital, tanto do ponto de vista dos
processos econômicos e da evolução do quadro demográfico, como também pela
consolidação das bases de um determinado modelo de organização espacial
assumido pela metrópole nas décadas seguintes.
Apesar da crise de 1929 (decorrente da quebra na bolsa de Nova Iorque) ter
significado uma forte restrição às receitas municipais, a prefeitura iniciou a década de
1930 com uma série de desafios no sentido de solucionar problemas decorrentes do
acelerado desenvolvimento da cidade. Os principais problemas eram as precárias
condições habitacionais da população de baixa renda, a incessante expansão
horizontal da cidade, a decorrente necessidade de recursos públicos crescentes para
dotar esses territórios de pavimentação e de infraestrutura, o congestionamento do
centro e a precariedade das ligações entre os bairros e a área central. Esse quadro
generalizado representava a grande preocupação com o fenômeno de crescimento
que então se colocava (SILVA, 2007).
Até o início do século XX, São Paulo era uma cidade mais fácil de ser
administrada, mas a partir dos anos 1930 com a evolução do processo de
industrialização, a cidade se redefiniu passando a ser a sede do novo aparelho
produtivo que era a indústria - fato que gerou novas questões a serem pensadas e
discutidas. A legislação urbanística da cidade, a princípio, se apoiava nas leis dos
Estados Unidos e Europa e, no que se refere ao adensamento e à verticalização, as
referências vinham especificamente de Nova Iorque e Chicago (SOMEKH, 1997, p.
76).
Com a expansão vertiginosa que a cidade apresentou em um curto espaço de
tempo, algumas intervenções do poder público se fizeram necessárias para
administrar e organizar tal crescimento. Muitas medidas foram tomadas com intenções
políticas, condicionando e redirecionando planos técnicos que beneficiavam uma elite
dominante representada no poder por um de seus membros. Este foi o caso das
gestões do prefeito Antonio Prado, Raimundo Duprat e, principalmente, a de
Washington Luís Pereira de Souza, que foram apoiadas pela elite ligada à
monocultura do café e à economia de exportação. Essa elite assumia a
responsabilidade de conduzir o espaço urbano para si, concebendo um padrão
europeu de qualidade e beleza. Nesse período, as áreas mais populares que se
localizavam na periferia da cidade eram deixadas à margem pelo poder público
(CAMPOS, 2002, p.190).
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
88
Com a revolução de 1930, a oligarquia foi afastada do poder e outros grupos
políticos passaram a gerir a cidade de São Paulo. Eram pessoas ligadas à indústria e
aliados a Getulio Vargas. Entre 1930 e 1934, vários prefeitos se sucederam e a
descontinuidade administrativa manteve a prefeitura semi-paralisada neste período.
Em 1934, Fábio Prado assumiu a prefeitura, reorganizando-a com o propósito de
atingir a racionalidade e o consenso” entre os setores dominantes, buscando
melhores condições de vida e harmonia social (CAMPOS, 2002, p.530).
A população de São Paulo pôde demonstrar seu amadurecimento político em
dois episódios do ano de 1932. Primeiro quando os paulistas se mobilizaram exigindo
a deposição do então Presidente Getúlio Vargas e, meses depois, com a também
paulista Revolução Constitucionalista, que tinha como principal exigência a
convocação de eleições para a formação de uma Assembléia Constituinte. Na época,
a cidade foi toda isolada, cercada pelas forças federais, e as rádios se transformaram
em poderosas armas utilizadas para divulgar os acontecimentos a outras partes do
país, consolidando-se como um excelente veículo de propaganda ideológica (ZUFFO,
2006, p. 45).
Figura 39: São Paulo e o dinamismo econômico dos anos de 1930.
Fonte: SOMEKH e CAMPOS, 2002, p. 63.
Na gestão de Fábio Prado (1934-1938) foram realizadas importantes
intervenções na cidade, tais como: a criação do concurso do viaduto do Chá, que
visava organizar a estrutura urbana do centro ampliado da cidade ao ligar o centro
velho ao centro novo; a extensão da Avenida São João; a abertura da Avenida
Rebouças e da Avenida Nove de Julho; e também a construção da Biblioteca
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
89
Municipal. Oriundo de família comprometida com a elite paulistana, Fábio Prado foi um
prefeito esclarecido, tendo aberto caminho para que Francisco Prestes Maia
implementasse em seguida as obras de seu Plano de Avenidas (FONSECA e OKANO,
2007).
Anhaia Mello era o consultor urbanístico de Fábio Prado, e o alertava da
problemática do crescimento urbano, propondo controles e limites que visavam
garantir um desenvolvimento harmonioso e equilibrado para a cidade. Baseadas nos
conceitos e experiências do urbanismo internacional, suas idéias resultaram apenas
em políticas parciais, como a proteção dos bairros residenciais de classe alta e a
busca da integração da população infantil por meio de equipamentos urbanos. Embora
seus pensamentos reproduzissem os avanços urbanísticos colocados para a cidade
industrial do Hemisfério Norte, tais condutas não puderam ser adotadas em São Paulo
e suas medidas atingiram apenas os bairros de maior prestígio (CAMPOS, 2002, p.
530).
Figura 40: As propostas do Plano de Avenidas previam uma verticalização disciplinada.
Fonte: SOMEKH e CAMPOS, 2002, p. 64.
O Plano de Avenidas, elaborado por Prestes Maia em 1930, foi concebido
como um programa global, contrapondo-se ao planejamento fragmentado dos anos
que os antecederam (SOMEKH, 1997, p. 76). Além da melhoria dos fluxos urbanos, o
plano objetivava a melhoria real do espaço da cidade, procurando estabelecer eixos
urbanos claros, além de produzir perspectivas agradáveis e espaços de qualidade
para a cidade. O plano baseava-se na criação de uma estrutura viária radial-
perimetral, expandindo a área central e possibilitando o crescimento urbano vertical e
horizontal ilimitado em anéis sucessivos. Implantado somente anos mais tarde,
quando Prestes Maia assumiu a prefeitura da cidade (1938-1945), suas obras não
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
90
foram completamente executadas. Entretanto, naquele período, a cidade passou por
uma grande reformulação, mobilizando altos investimentos públicos para concretizar
parte das obras, como a abertura e alargamento de dezenas de avenidas, que
resultaram na demolição de um grande número de construções, e a escalada dos
preços de seu entorno (FELDMAN in CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 125).
Figura 41: Esquema teórico do Plano de Avenidas.
Fonte: SOMEKH e CAMPOS, 2002, p. 61.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
91
Figura 42: Avenida Nove de Julho, uma das radiais do
Plano de Avenidas.
Fonte: SOMEKH e CAMPOS, 2002, p. 63.
Figura 43: Viaduto do Chá e a ocupação pelo automóvel do Parque Anhangabaú.
Fonte: SOMEKH e CAMPOS, 2002, p. 70.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
92
Na gestão do prefeito Anhaia Melo, em 1931, foi criado o Ato Municipal nº127,
que adotava uma das primeiras iniciativas de zoneamento funcional da cidade,
consagrando o conceito de bairro exclusivamente residencial, como no caso dos
bairros-jardins implantados pela Companhia City (Jardim América e Jardim Europa).
Além disso, o ato regulamentava a formação de núcleos comerciais (CAMPOS, 2002,
p. 474). Posteriormente, esse ato foi incorporado ao artigo 40 do Código Arthur
Saboya. Em 1934, foi decretado o Ato 663, que regulamentava o Código Arthur
Saboya e, embora não tratasse especificamente da verticalização, procurava
incentivá-la, por meio do estabelecimento de alturas máximas consideráveis, como por
exemplo, 50 e 80 metros, dependendo da região (SOMEKH, 1997, p. 129).
Em 1937, surgiu a Lei Municipal 3.571 que tinha por objetivo estender as
restrições de uso do artigo 40 do Ato nº. 663 às áreas em processo de verticalização
residencial. Ou seja, definia como residenciais as áreas com crescimento vertical
residencial, tais como as avenidas Paulista, Higienópolis, Angélica, D. Pedro I,
Pompéia e também a Rua Maranhão (SOMEKH, 1997, p. 133).
Em 1942 foi decretada a Lei do Inquilinato (Decreto-Lei n. 4.598), regulando as
relações entre inquilinos e proprietários de imóveis e congelando os valores cobrados
pelos aluguéis por dois anos. Essa lei teve grandes conseqüências, pois contribuiu
para o aumento das taxas de inflação e alterou a produção de edifícios residenciais
causando a primeira grande crise da história da habitação no Brasil (NABIL Apud
FELDMAN, 2005). A crise da produção rentista também fez com que a população de
mais baixa renda aderisse à autoconstrução em lotes periféricos, na sua maioria em
regiões de infraestrutura precária. Outro desdobramento dessa lei foi aumento do
sistema de vendas à prestação, tanto de terrenos quanto de moradias.
De acordo com Figueroa, essa lei foi um instrumento da política econômica no
sentido de desestimular os investimentos imobiliários e, assim, redirecionar os
recursos internos sob a forma de capital para a implementação e o fortalecimento do
parque industrial. “Ao reduzir a rentabilidade da locação, limitar drasticamente a
liquidez do imóvel locado e introduzir incerteza e insegurança no mercado, a Lei do
Inquilinato cumpriu plenamente esse papel” (FIGUEROA ROSALES, 2002, p. 105).
No período da Segunda Guerra Mundial a cidade de São Paulo passou por
uma grande transformação e doze novos bairros começaram a ser verticalizados: Bom
Retiro, Bela Vista, Consolação, Perdizes, Brás, Jardim Paulista, Pinheiros, Paraíso,
Mooca, Cambuci, Santana e Aclimação. Neste período, a região da Avenida Paulista
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
93
também assistiu à invasão dos prédios de apartamentos (HOESEL e SOMEKH, 2001,
p.20).
Figura 44: Crescimento da área urbanizada da cidade de São Paulo de 1939 a 1949.
Fonte:
htpp://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/1940.php
.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
94
Ao mesmo tempo em que o cultivo do café deixava de ser o sustentáculo da
economia brasileira cedendo lugar ao processo industrial, a influência européia era
aos poucos substituída pela norte americana (HOESEL e SOMEKH, 2001, p.20). Isto
se deu não nos padrões construtivos, mas em quase todos os outros seguimentos,
culminando com a vitória dos países aliados na Segunda Guerra, quando os Estados
Unidos firmaram-se como o principal referencial de cultura do Brasil. Mesmo a
nomenclatura francesa até então usada em arquitetura foi aos poucos substituída pela
inglesa, e logo se passou a usar palavras como living, hall, bow-window, kitchenette,
etc
(SEVCENKO, 1997, p. 602).
Os edifícios estavam associados à modernidade e transmitiam uma imagem de
prosperidade e pujança. Contudo, com o boom imobiliário dos anos 1940, nasceu a
polêmica em torno dos limites do crescimento vertical, colocando em campos opostos
dois grandes nomes do urbanismo paulistano: Prestes Maia e Anhaia Mello. Enquanto
Maia incentivava a expansão vertical, Mello tentava controlá-la (ROLNIK, 1997, p.
192).
Percebe-se que a morfologia da cidade de São Paulo, moldada durante o
período de 1930 a 1945, foi conseqüência da expansão horizontal e vertical,
propiciada pelas grandes intervenções viárias que incentivaram o transporte rodoviário
e os loteamentos periféricos. A abertura de avenidas, especialmente na área central,
além de contornar os problemas de congestionamentos, contribuiu para fortalecer o
crescimento imobiliário e o processo de verticalização, e ainda firmou a opção racional
pelo automóvel que prepararia a cidade para o crescimento ilimitado (SILVA in
CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 111).
Pioneiros Modernos:
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95
2.2
Crescimento
acelerado
e
verticalização
intensiva
s décadas de 1940, 1950 e 1960 foram caracterizadas por um grande
desenvolvimento do Brasil e, particularmente, da cidade de São Paulo,
que presenciou avanços significativos nos setores da indústria,
comércio, serviços, artes, cultura e construção civil. Foi também um período de grande
aumento demográfico e expansão da área urbana da capital paulista, resultando no
crescimento da periferia e na compactação de sua área central por meio de intenso
crescimento vertical. Ao mesmo tempo em que a cidade crescia, eclodiam novos
problemas urbanos, típicos de uma metrópole.
O boom imobiliário do Brasil no segundo pós-guerra foi conseqüência do
crescimento da oferta de crédito gerada pelos grandes superávits da balança
comercial, devido à quebra de importações. O ramo imobiliário passou a ser o campo
favorito de investimentos dos capitais oriundos da indústria, do comércio e da
exportação agrícola (SAMPAIO, 2002, p. 26). Com o final da guerra e a queda do
Estado Novo instaurou-se um clima de otimismo no Brasil, resultado de uma mescla
entre conquistas materiais do capitalismo e a permanência dos traços que
singularizavam o povo brasileiro, como a cordialidade, a criatividade e a tolerância
(MELLO e NOVAIS in SCHWARCZ, 1998, p. 560). A capital paulista revelou-se solo
fértil para o desenvolvimento das diretrizes apontadas, tornando-se referência
fundamental das novas concepções que surgiam (ARRUDA, 2001, pp.17-20).
A
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
96
Figura 45: Vista aérea da cidade de São Paulo em 1950.
Fonte: Revista Acrópole, 1950 apud OKANO, 2007, p. 62.
A cidade de São Paulo não partilhava do anseio nacional por modernidade,
como se posicionava como o principal e essencial organismo para atingir esse
objetivo. Junto com a expectativa de promoção da nação, existia o anseio de projeção
da cidade de São Paulo como centralidade do país. Surgia dessa forma a necessidade
de constituição da identidade paulista concomitante à formação da identidade
nacional. Para a composição da identidade paulista, foram evocados signos e fatos
históricos que pudessem valorizar o seu perfil cultural, como por exemplo, o espírito
guerreiro e conquistador representado na figura do bandeirante, do herói
constitucionalista e, até mesmo, dos índios e dos negros, que então tiveram seus
valores reconhecidos e reverenciados (XAVIER, 2007, pp. 43-44).
São Paulo assumia o modelo americano de cidade, exibindo uma constituição
congestionada e imprimindo um padrão de vida metropolitana pautada pela velocidade
das relações e intensidade de estímulos. Deslocamentos apressados de pedestres,
intensa movimentação de veículos nas vias e barulhos incessantes passaram a
compor os cenários paulistanos (XAVIER, 2007, p. 53).
Ruidosa, a cidade se movimenta e imprime em seus cidadãos o gosto
pela intensidade dos sentidos. O recurso da colagem de fragmentos
passa a ser uma prática bastante utilizada em anúncios e cartazes
promocionais. Neles a cidade é mostrada como uma combinação de
imagens de ângulos e perspectivas simultâneas, na simulação do
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
97
bombardeio de informações e dinâmica espacial característico do
espaço metropolitano (XAVIER, 2007, p. 55).
Nesse contexto metropolitano, os edifícios residenciais surgiam como uma
opção de moradia coerente com as novas realidades da cidade, que impunham uma
valorização da praticidade e da centralidade e condenavam o desperdício de tempo.
Dessa forma, o hábito de residir em apartamentos consolidava-se, tanto nas camadas
mais abastadas da população quanto nas classes intermediárias, firmando-se como
parte do imaginário da vida moderna.
Com a vitória dos aliados na Segunda Guerra, os Estados Unidos saíram
fortalecidos do confronto e a cultura norte-americana consagrou-se como referencial
de costumes para a sociedade brasileira. O cinema de Hollywood contribuía para
exercer forte influência no modo de vida e na cultura, tornando-se uma máquina
perfeita de divulgação da maneira de morar americana (o famoso american way of
life). Os apartamentos eram mostrados no cinema como ícones da modernidade
(TRAMONTANO,1998, p. 189). Nesse período houve uma supervalorização das
novidades tecnológicas e, conseqüentemente, a sociedade aumentou o valor
concedido ao automóvel, que se tornou um símbolo de status, riqueza, poder,
felicidade e principalmente mobilidade.
Nunca um único sistema cultural teve tanto impacto e exerceu efeito
tão profundo na mudança do comportamento e dos padrões de gosto e
consumo de populações por todo o mundo como o cinema de
Hollywood no seu apogeu. (...) Os cenários passam também a ditar os
estilos, objetos e arranjos obrigatório para as casas (SEVCENKO,
1997, p. 602).
No período pós-guerra uma série de acontecimentos movimentou o cenário das
artes e da cultura na cidade de São Paulo. Entre eles estão: a inauguração da Galeria
Domus (1946), a fundação do MASP Museu de Artes de São Paulo (1947), a
fundação da EAD Escola de Arte Dramática (1948), a criação do TBC - Teatro
Brasileiro de Comédia (1948), a criação do MAM Museu de Arte Moderna (1948), a
fundação da Companhia Cinematográfica Vera Cruz, na cidade vizinha São Bernardo
do Campo (1949), a inauguração da TV Tupi (1950), a realização da I Bienal de Artes
Plásticas (1951), além da criação de revistas, grupos de teatro, emissoras de rádio e
exposições de artes. Esse conjunto de eventos conferiu à cidade o status de principal
pólo cultural do país, antes atribuído à cidade do Rio de Janeiro (ARRUDA, 2001, pp.
111-112).
As melhorias extrapolavam o campo da cultura e atingiam diversos setores da
cidade, a exemplo dos preparativos das comemorações do IV Centenário da capital
paulista que foram cuidadosamente planejadas. Três anos antes, em 1951, foi
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
98
elaborado um programa chamado Plano de Melhoramentos Públicos da Câmara
Municipal de São Paulo, que visava preparar a cidade para tais comemorações.
Francisco Matarazzo Sobrinho, o Ciccillo, foi encarregado de presidir a Comissão
Executiva do IV Centenário. O evento foi tido como a oportunidade de projetar uma
imagem de São Paulo progressista e moderna, fortalecendo o poder dos paulistas
(ARRUDA, 2001, pp. 70-71). O plano, que incluía melhorias em diversas áreas, entre
elas econômica, política, cultura, educação e lazer, pretendia eliminar os últimos
traços de provincianismo e dotar a cidade com equipamentos comparáveis aos das
maiores metrópoles internacionais (XAVIER, 2007, p. 48).
Concebido para ser o grande palco dos festejos, foi construído, em curto
espaço de tempo (cerca de dois anos), o Parque do Ibirapuera, projetado por Oscar
Niemeyer após um impasse nas negociações com o Instituto de Arquitetos do Brasil. A
escolha de Niemeyer para projetar o parque e os edifícios do conjunto praticamente
inaugurou a nova linguagem arquitetônica (moderna) na cidade, no setor das
construções públicas (ARRUDA, 2001, p. 85). O parque representava o marco de uma
nova época e assumia ele próprio o papel de monumento. Tanto suas linhas
arquitetônicas como a intenção do empreendimento demonstravam um otimismo em
relação ao futuro (XAVIER, 2007, p. 49).
Figura 46: Maquete do Parque do Ibirapuera.
Fonte: http://www.arquitextos.com.br/arquitextos/arq000/esp283.asp.
Outras realizações fizeram parte dos preparativos para as comemorações do
IV Centenário, entre elas a construção do Complexo Esportivo do Parque do
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Ibirapuera, a compra do Autódromo de Interlagos, a criação da orquestra Sinfônica
Municipal e a formação do corpo de balé da cidade, que recebeu o nome de Ballet do
IV Centenário, além da realização de eventos internacionais como a II Bienal
Internacional de Artes Plásticas e a Feira Internacional das Indústrias, evento este que
inaugurou o Parque do Ibirapuera e teve clara intenção de demonstrar o patamar de
desenvolvimento paulista. Esta série de eventos foi programada para ocupar um ano
inteiro de comemorações, sendo que uma das festas foi a comemoração do 9 de
Julho, evento estrategicamente pensado do ponto de vista simbólico, pois, ao invocar
o espírito cívico do povo paulista no levante de 1932, resgatava-se os ideários de
autonomia e identidade paulista que marcaram o confronto. Muito além de celebrar a
data da fundação da cidade, as comemorações representaram a reformulação de
setores inteiros da sociedade no sentido da conquista de visibilidade e
representatividade (XAVIER, 2007, pp. 47-50).
Juscelino Kubitschek assumiu a presidência da república em 1956. Seu Plano
de Metas estava em sintonia com o grande potencial de desenvolvimento que a capital
paulista apresentava. Com o lema “50 anos em 5“, Juscelino objetivava acelerar o
desenvolvimento do país como jamais havia acontecido.
Esse ideal
desenvolvimentista compreendia um conjunto de 31 objetivos a serem alcançados em
cinco setores da economia (energia, transporte, indústrias de base, alimentação e
educação).
A última meta incluída no programa,
chamada de meta-síntese, era o
grande desafio de JK: a construção de Brasília e a transferência da capital federal.
Brasília representava o novo país que Juscelino pretendia formar: moderno e com a
expansão rumo ao interior, possibilitada pela construção de novas rodovias que
integrariam todo o país.
Naquele momento, o sentido de modernidade se torna, mais do que
uma meta, um destino a ser edificado pela nação. O Estabelecimento
do moderno vira plataforma de governo, e Juscelino Kubitschek dará
corpo a esse anseio de futuro com a construção de Brasília (XAVIER,
2007, p.43).
Apesar de ambiciosas, muitas metas foram alcançadas, grande parte delas
graças aos recursos de capitais estrangeiros (o que acarretaria graves conseqüências
futuras, como aumento da inflação e da dívida externa), configurando-se
definitivamente o modelo de desenvolvimento industrial no Brasil. Uma das metas do
plano era a consolidação da indústria automobilística no país, que tinha como objetivo,
entre outras coisas, a redução planejada e gradativa da importação de veículos.
Dessa forma, no final da década de 1950 já haviam sido implantadas onze indústrias
automobilísticas no Brasil. Também foram desenvolvidas indústrias de material elétrico
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
100
e eletrônico, de eletrodomésticos, de produtos químicos e farmacêuticos, de matéria
plástica, entre outras (MELLO e NOVAIS in SCHWARCZ, 1998, p.591).
Várias indústrias multinacionais instalaram suas filiais na região sudeste do
Brasil, principalmente, nas cidades de São Paulo, Rio de Janeiro e ABC Paulista
(Santo André, São Bernardo do Campo e São Caetano do Sul). As oportunidades de
emprego aumentaram muito nesta região, atraindo trabalhadores de todo o Brasil.
Este fato fez aumentar o êxodo rural e a migração de nordestinos e nortistas de suas
regiões para as grandes cidades do sudeste, especialmente São Paulo.
O fluxo migratório com destino à capital paulista já havia começado anos antes
e intensificou-se com a aceleração do processo industrial. Com os slogans “a cidade
que mais cresce do mundo” e a cidade que não pode parar”, adotados pelos veículos
de comunicação, São Paulo atraía famílias de diversas partes do país que buscavam
melhores condições de vida. Os migrantes contribuíram fortemente para a formação
da vasta mão de obra da capital paulista. A princípio, a maioria deles ocupou postos
de trabalho de baixa qualificação. Com o passar do tempo, muitos migrantes se
qualificaram e tornaram-se aptos a ocupar novas funções, tornando-se operários de
fábricas, trabalhadores da construção civil, entre tantos outros ofícios (MELLO e
NOVAIS in SCHWARCZ, 1998, P.584).
As migrações tomaram o lugar das imigrações, que foram reduzidas a partir da
década de 1930. Entre 1941 e 1949 a capital paulista recebeu cerca de 431 mil
brasileiros procedentes de outras regiões, ao passo que no mesmo período chegaram
cerca de 45 mil estrangeiros. Somente no ano do quarto centenário mais de 94 mil
brasileiros transferiram-se para São Paulo (ARRUDA, 2001, p.58). As migrações
continuaram nas décadas de 1950 e 1960, contribuindo muito para a elevação dos
índices demográficos da capital e da região metropolitana paulista. A cidade
ultrapassou as marcas de 2 milhões de habitantes em 1950, 3,7 milhões em 1960 e
5,9 milhões em 1970, conforme pode ser observado na tabela a seguir.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
101
Tabela 1: Histórico Demográfico – De 1872 a 2000.
Taxa de Taxa de Taxa de Taxa de
Cresc. (1)
Cresc.
(1)
Cresc.
(1)
Cresc.
(1)
1872 31.385 - 837.354 10.112.061
4,1 - 2,8 2,0
1890 64.934 - 1.384.753 14.333.915
14,0 - 5,1 1,9
1900 239.820 - 2.282.279 17.318.556
4,5 - 3,6 2,9
1920 579.033 - 4.592.188 30.635.605
4,2 - 2,3 1,5
1940 1.326.261 1.568.045 7.180.316 41.236.315
5,2 5,3 2,4 2,3
1950 2.198.096 2.622.786 9.134.423 51.944.397
5,6 6,1 3,6 3,1
1960 3.781.446 4.739.406 12.974.699 70.119.071
4,6 5,6 3,2 2,9
1970 5.924.615 8.139.730 17.771.948 93.139.037
3,7 4,5 3,5 2,5
1980 8.493.226 12.588.725 25.040.712 119.002.706
1,2 1,9 2,1 1,9
1991 9.646.185 15.444.941 31.588.925 146.825.475
0,9 1,6 1,8 1,6
2000 10.434.252 17.878.703 37.032.403 169.799.170
(1) Taxa de Crescimento Geométrico Anual
Fonte: IBGE, Censos Demogficos
Anos
Munipio de São Paulo Região Metropolitana SP Estado de São Paulo Brasil
População População População População
Fonte: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/tabelas/pop_brasil.php.
Mesmo depois de o fluxo imigratório ter arrefecido, a imigração se impôs na
década de 1950, sobretudo pela ascensão social alcançada pela primeira geração de
descendentes nascidos no país, que prosperaram em diversos setores da economia.
Os migrantes se somaram aos imigrantes e contribuíram para a formação da cultura
paulistana caracterizada por um intenso intercâmbio de costumes e tradições. Apesar
de o português ser o idioma oficial, a linguagem falada na capital paulista era uma
somatória de diversos sotaques, línguas e dialetos (ARRUDA, 2001, p.58).
A explosão demográfica que São Paulo apresentava resultava numa expansão
territorial da área urbanizada da capital e de suas cidades vizinhas, pois, direcionada
pela indústria, a ocupação periférica se impunha como estratégia de moradia para a
população de baixa renda, extrapolando os limites do município. Como resultado das
alterações nos processos produtivos aliados aos novos padrões de consumo e ao
aumento do contingente de camadas de médio poder aquisitivo, o comércio e os
serviços da capital paulista também se expandiram, e a configuração urbana se
reestruturou com o surgimento de novas centralidades. A partir da década de 1950,
São Paulo se organiza como uma cidade policêntrica, com subcentros estruturados
em diversos bairros, como Brás, Pinheiros, Lapa e Santo Amaro (FELDMAN in
CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 124).
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
102
Os deslocamentos urbanos se manifestavam de várias formas. A centralidade
dominante foi transferida para o Centro Novo, região da Rua Barão de Itapetininga e
das vias abertas por Prestes Maia como as avenidas Ipiranga, São Luís e Vieira de
Carvalho, que recebeu grande número de hotéis, restaurantes e demais
estabelecimentos comerciais. O comércio de luxo começava a se deslocar para a
região da Avenida Paulista e Rua Augusta. Aos poucos as elites abandonavam o
centro e se deslocavam para o vetor sudoeste da cidade, transformando alguns
bairros residenciais horizontais de alto padrão existentes como Higienópolis,
Consolação, Bela Vista, Vila América, assim como a Avenida Paulista, em áreas
preferenciais para a incorporação de apartamentos voltados aos setores de maior
renda (FELDMAN in CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 124).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
103
Figura 47: Crescimento da área urbanizada da cidade de São Paulo de 1950 a 1962.
Fonte: htpp://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas/urb-1950-1960.jpg.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
104
Figura 48: Crescimento da área urbanizada da cidade de São Paulo de 1963 a 1974.
Fonte: http://sempla.prefeitura.sp.gov.br/historico/img/mapas/urb-1970.jpg.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
105
O otimismo em relação ao progresso da cidade não era uma questão unânime.
Nem todos compartilhavam da visão messiânica de que o progresso seria o
incontestável e necessário motor do desenvolvimento urbano e social. Alguns
vislumbravam o caos que o crescimento exagerado poderia acarretar, como por
exemplo, Anhaia Melo. De forma lúcida e analítica, Melo tempos ponderava que o
processo de previsão do futuro grandioso para a cidade deveria ser revisto com base
em paradigmas contrários aos vigentes e que seria preciso assentar as bases para um
desenvolvimento equilibrado entre o homem e o meio (OLIVEIRA, 2008, p. 366). Em
1953, Anhaia Melo escreveu:
Afirmar que determinada cidade é a que mais cresce no mundo não
tem urbanisticamente sentido nenhum de excelência, se esse
crescimento fenomenal e a carência de elementos essenciais a uma
vida equilibrada e feliz progridem de mãos dadas (MELO apud
OLIVEIRA, 2008, p. 366).
De fato, junto com o progresso da cidade chegaram inúmeros problemas
urbanos e novos (e difíceis) desafios a serem superados pelas administrações
públicas. O grande crescimento populacional veio acompanhado de uma enorme
carência habitacional, bem como da falta de transporte público adequado e de uma
série de outros problemas que comprometiam a qualidade de vida dos cidadãos.
A crise habitacional que se iniciou em 1942, quando foi promulgada a Lei do
Inquilinato, se agravou nos anos seguintes, provocando uma mudança no padrão de
moradia popular. A partir da década de 1940, propagou-se o processo de
autoconstrução da casa própria em loteamentos periféricos, assim como se alastraram
os cortiços nas regiões centrais da cidade. A partir desta época também surgiram as
primeiras referências a favelas em São Paulo e, embora tenham se desenvolvido
em larga escala na década de 1970, estima-se que no final da década de 1950 a
cidade já contava com 141 núcleos e 50 mil moradores de favelas (BONDUKI, 1998, p.
262). Estudos também apontam que na década de 1960 existiam 700 mil pessoas “em
condições de habitação infra-humanas” incluindo cortiços e favelas (FELDMAN in
CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, p. 127).
Uma das marcas do processo de urbanização da cidade de São Paulo é a
clandestinidade e a irregularidade como prática de parcelamento do solo. Mesmo
tendo existido alguns procedimentos públicos de controle sobre a atividade de arruar e
lotear, o rito de desobediência foi freqüente. Com o crescimento da demanda por
habitação, surgiram cada vez mais novos loteamentos clandestinos que
demonstravam ser o procedimento mais eficiente de fazer frente a essa realidade de
carência de moradias. Este fato não era desconhecido do poder público, mas sim
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
106
ignorado por ele, sendo que a denominação “clandestino” era conveniente, pois eximia
os órgãos públicos da responsabilidade de investir nessas áreas (GROSTEIN in
CAMPOS, GAMA e SACCHETTA, 2004, pp. 134-135).
As desigualdades se acentuavam e a segregação sócio-espacial se
manifestava na cidade de forma clara: grande concentração de ricos no vetor sudoeste
e grande concentração de pobres nas periferias, em todas as direções. Enquanto as
áreas nobres da cidade prosperavam, as regiões periféricas encontravam-se carentes
de infraestrutura básica e equipamentos urbanos (FELDMAN in CAMPOS, GAMA e
SACCHETTA, 2004, p. 127).
A verticalização da cidade, que tinha iniciado com um caráter
predominantemente comercial, tornou-se também residencial, ultrapassando os limites
do centro e atingindo a região sudoeste da cidade (FELDMAN in CAMPOS, GAMA e
SACCHETTA, 2004, p. 126). Também foi abandonado o padrão europeu de
quarteirões compactos, alturas moderadas e padronizadas que marcava a primeira
etapa da verticalização da cidade, para ser incorporado o padrão americano de
edifícios mais altos (SOMEKH, 1987, p. 52). A disseminação do sistema de
incorporação imobiliária e de vendas "na planta" acelerava o processo de
verticalização e facilitava a obtenção da moradia própria. As vendas eram feitas antes
do início das obras, com grande procura, o que deixava claro a enorme carência de
unidades do setor habitacional (LEMOS, 1990, pp. 57-58).
O uso do condomínio foi uma das novidades que aqueceu o mercado
imobiliário no pós-guerra, pois a lei do condomínio criou a figura jurídica da parcela
ideal do terreno, permitindo que um imóvel tivesse vários proprietários independentes.
Nesse processo, a figura do incorporador era fundamental, pois ele era o agente que
criava o espaço vertical, que promovia o empreendimento, que fabricava o solo e que
desmembrava o terreno em frações ideais. Era ele também que, na maioria das vezes,
arcava com os maiores custos de produção do edifício, porém também era ele quem
obtinha o maior lucro (SAMPAIO, 2002, p. 26).
Os princípios arquitetônicos modernistas se fortaleceram em São Paulo a partir
da década de 1940, desde a idéia da "moradia mínima", buscando a racionalização do
espaço doméstico e a industrialização da construção, até a aplicação desses
conceitos à crescente produção de edifícios de apartamentos destinados à classe
média. Nesse contexto, a verticalização modernista buscava criar tipologias
racionalistas adequadas ao mercado e à legislação paulistana. São exemplos deste
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
107
período o Edifício Louveira, de Vilanova Artigas (1946) e o Edifício Seguradora
Brasileira, de Rino Levi (1948).
Figuras 49 e 50: Edifício Seguradora Brasileira (1948) no Largo da
Pólvora e Edifício Trussardi (1941) na Av.São João, ambos de Rino Levi.
Fonte: http://www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp311.asp.
Também são emblemáticos os edifícios
do Banco do Estado (1939-1947); do
Hotel Jaraguá (1947-1954), projeto de Jacques Pilon e Franz Heep; o Edifício CBI
Esplanada (1946), projeto de Lucjan Korngold; e o Edifício Eiffel (1955) de Oscar
Niemeyer.
Figuras 51 e 52: Edifício do Hotel Jaraguá (1947-1954), de Jacques Pilon e
Franz Heep e Edifício CBI Esplanada (1946) de Lucjan Korngold.
Fonte: http://www.fernando.arq.br/pilon_estadao_01.htm
http://www.docomomo.org.br/seminario%205%20pdfs/019R.pdf.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
108
Outros incorporadores não tardaram em adotar e adaptar os princípios
modernistas em seus empreendimentos, mesmo em versões menos eruditas.
Tornaram-se célebres, nesse sentido, as realizações de Artacho Jurado e sua
construtora Monções.
Figuras 53 e 54: Edifício Altino Arantes (Banco do Estado) (1939-1947) e Edifício Eiffel de
Oscar Niemeyer (1955).
Fonte: http://josekuller.files.wordpress.com/2008/04/torre-do-banespa.jpg e
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:Edif%C3%ADcio_Eiffel_04.JPG.
Nesse contexto, o modelo de edifício moderno isolado - torres em lâminas às
vezes sobre pilotis - espalhou-se pela cidade. Como por exemplo, o Edifício Paulicéia
(1956) de J. Pillon e G. Gasperini; o Edifício João Ramalho (1953) de S. Candia, P.
Croce e R. Aflalo e muitos outros prédios residenciais construídos no bairro de
Higienópolis. Nesse período foram construídos grandes conjuntos mistos (que
incluíam habitação, comércio e serviço) no centro da cidade e na Avenida Paulista,
como por exemplo, o Edifício Copan (1951) de Oscar Niemeyer; o Conjunto Nacional
(1955) de David Libeskind e o Nações Unidas (1956), de Abelardo de Souza.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
109
Figuras 55 e 56: Edifício Copan e Edifício Nações Unidas.
Fonte: http://massao.blog.br/brasil/sampa/2007/01/25/sampa453-copan/ e Fonte:
http://www.colegiosaofrancisco.com.br/.
A verticalização em São Paulo estava condicionada pela legislação municipal
que, a princípio, assumiu um papel muito mais incentivador do que limitador desse
processo, que desde a criação do Código Arthur Saboya, em 1929, permitia que toda
a cidade fosse verticalizada. Ao longo das décadas, o código foi revisto várias vezes
no sentido de disciplinar esse processo, porém com resultados díspares (CAMPOS,
2003). Outras normas também surgiram para controlar a verticalização da cidade,
sendo que algumas delas interferiram diretamente no desenho da paisagem urbana,
como, por exemplo, o efeito causado pelos recuos obrigatórios complementares para a
via pública fronteira e que causaram um escalonamento no coroamento dos edifícios,
resultando em prédios do tipo “bolo de noiva”.
Figura 57 e 58: Desenho da fachada dos edifícios Maracaí
(1953) e Estados (1953) ambos situados na Avenida Nove
de Julho. Edifícios do tipo “bolo de noiva”.
Fonte: SAMPAIO, 2002, p. 203 e 195.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
110
A partir dos anos 1950, uma das mais importantes referências para o
planejamento urbano da cidade de São Paulo passou a ser os estudos do padre
dominicano francês Louis-Joseph Lebret, um dos fundadores, na França, do
movimento Economia e Humanismo. Este movimento consistia numa alternativa ao
dilema ideológico da Guerra Fria entre socialismo e capitalismo dotada de idéias
humanistas e cristãs que visavam atender às necessidades do homem, conciliando o
desenvolvimento econômico com o bem estar social. O planejamento urbano era um
ponto fundamental desses estudos, para qual Lebret desenvolveu uma metodologia
baseada na análise da estruturação territorial e no diagnóstico de carências urbanas.
Em 1947, Padre Lebret esteve em São Paulo expondo suas idéias e fundou, com seus
discípulos brasileiros, a SAGMACSSociedade para Análise Gráfica e Mecanográfica
Aplicada aos Complexos Sociais, objetivando por em prática seus métodos. Seus
dirigentes eram os engenheiros Luiz Cintra do Prado e Lucas Nogueira Garcez, além
do frei dominicano Benevenuto de Santa Cruz (ANTONUCCI In SOMEKH e CAMPOS,
2002, p. 96 e CESTARO, 2009, p.137).
A prefeitura de São Paulo contratou a SAGMACS, em 1956, para desenvolver
um estudo visando entender a cidade de São Paulo e conhecer as condições de vida
da população, suas necessidades, carências e problemas para posteriormente apontar
um planejamento global para a cidade (CESTARO, 2009, p.156). O estudo, chamado
de Estrutura Urbana da Aglomeração Paulistana, foi concluído em 1958 e representou
um marco na formação dos urbanistas paulistanos, mesmo não chegando a constituir-
se como base para um Plano Diretor e tendo grande parte de seus resultados
engavetados. O estudo apresentava projeções demográficas visando estabelecer
limites de crescimento e considerava a aglomeração de São Paulo como auto-
propulsora, estável e propícia a uma grande expansão. Portanto, apontava a
necessidade de preparar a cidade para o crescimento (ANTONUCCI In SOMEKH e
CAMPOS, 2002, p. 101).
As teorias de Lebret pertenciam a uma linha radicalmente oposta à do
urbanismo emblematizado pelo Plano de Avenidas de Prestes Maia. O trabalho da
SAGMACS inaugurou um novo paradigma e introduziu inovações metodológicas e
técnicas na prática do planejamento urbano que, de forma democrática, tentavam aliar
bases científicas com princípios e valores éticos. Porém, segundo Antonucci, faltou
apoio político e base social que levassem o poder público municipal a implantar tais
propostas (ANTONUCCI In SOMEKH e CAMPOS, 2002, pp. 106-107).
Em 1957 entrou em vigor a Lei 5.261 que estabelecia o controle de
densidade e limites máximos de construção para toda a cidade, por meio do
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
111
coeficiente máximo de aproveitamento do lote que não poderia ser superior a 6 vezes
a área do lote para edifícios construídos para fins comerciais e de 4 vezes para
edifícios de habitação, inclusive hotéis. A densidade residencial líquida máxima foi
estabelecida em 600 pessoas por hectare, mínimo de 35 de terreno por habitação,
fazendo com que a construção de quitinetes, típicas da década de 1950, deixasse de
ser viável em São Paulo (ROLNIK, 1997, p. 198). Esses fatores resultaram na
construção de grandes apartamentos, pois a área bruta construída por unidade passou
a ser de no mínimo 140 m², excluindo definitivamente os mais pobres do mercado
formal de apartamentos. Alguns promotores imobiliários, porém, aprovavam imóveis
residenciais como comerciais e, desse modo, o coeficiente de aproveitamento máximo
real passava a ser 6.
Essa lei foi originária do “Esquema Anhaia”, que continha um conjunto de
estratégias para controlar o crescimento da cidade. Anhaia Mello acreditava que, ao
limitar a densidade permitida na cidade, seria possível intervir em sua lógica de
produção, diminuindo a preponderância do cálculo comercial em benefício da
humanização do espaço construído. Tal norma mais estimulava do que restringia o
crescimento vertical, pois eram definidos limites altos, como por exemplo, 80 metros,
ou seja, 25 andares para as áreas fora da zona central (ROLNIK, KOWARICK &
SOMEKH, 1990, pp. 110-111).
Na década de 1960 prosseguiu o acelerado crescimento das grandes cidades
brasileiras, com forte migração interna e conseqüente diminuição da qualidade de vida
nos centros urbanos. O regime militar instaurado a partir do golpe de 1964 buscava
manter o ideal capitalista de desenvolvimento e consumo. A partir de 1967, o BNH
(Banco Nacional da Habitação) passou a financiar a produção em larga escala de
edifícios residenciais de padrão médio. Com a massificação do mercado, a arquitetura
tornou-se mais padronizada e perdeu qualidade (VERÍSSIMO & BITTAR, 1998, p. 43).
Ao mesmo tempo, a moradia vertical havia se consagrado como prática de
incorporação, como técnica construtiva e como opção habitacional para as camadas
médias urbanas e não dependia mais do pioneirismo racionalista, nem da legitimidade
conferida pela produção modernista de melhor nível. Assim, de certa maneira,
encerrava-se o período áureo da verticalização residencial moderna em São Paulo.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
112
2.3
Alterações
no modo
de vida
companhando as transformações da cidade que deixava de ser um
burgo para se apresentar ao mundo como uma respeitável metrópole, a
população paulistana passou por alterações no seu modo de vida. Tais
alterações se manifestaram prioritariamente com a reestruturação da família que
adotou novas posturas perante a sociedade, adaptando-se ao novo ritmo de vida que
a cidade impunha. Muitas dessas mudanças não são exclusivas da população
paulistana e sim resultados de evoluções socioculturais ocorridas no país. Vale
ressaltar que as mudanças comportamentais freqüentemente se manifestam
primeiramente nas grandes cidades para somente depois serem incorporadas pelas
populações das outras cidades. São Paulo (por ter se tornado a maior cidade o país) e
Rio de Janeiro sempre estiveram na vanguarda das mudanças aqui mencionadas.
(...) nas grandes cidades, desde o século XVIII, consolidam-se
comportamentos e instituições que infundem transtornos nos modos de
vida assentados e que, a seguir, difundem-se em outros locais.
Configuram-se lá também novos mecanismos de observação e de
confinamento de pessoas, classes, usos e ocupações, enquanto se
disciplina uma nova ordem urbana, vígil e policiada (AZEVEDO, 2006,
p.13).
Para entender tais mudanças faz-se necessário recorrer aos antecedentes
históricos que apontam que a família brasileira é o resultado da transplantação e
adaptação da família portuguesa ao ambiente colonial, tendo gerado um modelo com
características patriarcais e com tendências conservadoras na sua essência (CANO e
FERRIANI, 2000, p. 29). Na época colonial, marcada pelo trabalho escravo e pela
produção rural para a exportação, predominava um modelo de família tradicional,
extensa e patriarcal, caracterizada por relações de desigualdade entre pais e filhos,
homem e mulher. Período em que muitos casamentos eram arranjados, que a mulher
A
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
113
era designada à subserviência e que os filhos eram considerados extensão do
patrimônio do patriarca.
No período colonial as famílias brasileiras de médio e alto poder aquisitivo
moravam em residências muito parecidas com as portuguesas, principalmente na sua
aparência exterior, pois valiam-se dos mesmos materiais e técnicas construtivas
lusitanas, numa tentativa de repetir os modismos estilísticos praticados na Europa.
Internamente, porém, o clima e as condições socioeconômicas determinaram plantas
e agenciamentos peculiares. O convívio com os índios e com os africanos também
foram determinantes para a incorporação de certos hábitos, como por exemplo, o de
cozinhar do lado de fora da casa aprendido com os índios. O branco europeu,
acostumado ao fogão como centro de interesse da casa, no Brasil, não suportou o
calor da cozinha e expulsou-a para longe, fato que também se justifica pela presença
do escravo sempre solícito que facilitava as atividades domésticas. Dessa forma
surgiram os puxados, que eram as cozinhas externas, coladas ao corpo principal da
casa. As casas, geralmente, possuíam anexos, como por exemplo, a senzala e o
banheiro que não fazia parte do corpo principal da casa (VERÍSSIMO e BITTAR, 1999,
p. 17).
(...) a máquina brasileira de morar, ao tempo da colônia e do império,
dependia dessa mistura de coisa, de bicho e de gente que era o
escravo. Se os casarões remanescentes do tempo antigo parecem
inabitáveis devido ao desconforto, é porque o negro está ausente. Era
ele que fazia a casa funcionar: havia negro pra tudo – desde negrinhos
sempre à mão para recados, até negra velha, babá. O negro era
esgoto, era água corrente no quarto, quente e fria; era interruptor de
luz e botão de campainha; o negro tapava goteira e subia vidraça
pesada; era lavador automático, abanava que nem ventilador (...)
(LÚCIO COSTA apud LEMOS, 1976, p.114).
Com a transferência da família real para o Brasil, em 1808, novos hábitos
foram incorporados à vida cotidiana, alguns deles decorrentes da Revolução Industrial,
que logo se manifestaram na arquitetura por meio de novas técnicas e novos materiais
de construção, como por exemplo, o vidro plano para janelas e os modernos lampiões,
que propiciavam claridade para a casa a qualquer hora do dia. D. João VI ao chegar
ao Rio de Janeiro adotou medidas visando “civilizar” e “limpar” a cidade, modernizando
as construções e eliminando os adornos mouriscos dos velhos tempos de isolamento
da colônia. Essas mudanças na arquitetura, exigidas pelo rei, começaram no Rio de
Janeiro e irradiaram-se para o restante do país (LEMOS, 1976, pp.44-46).
Com a “modernidade do Império” vários objetos e equipamentos domésticos
passaram a compor o ambiente doméstico, como por exemplo, ferros de passar
roupas, muitas peças decorativas, como vasos, relógios, tapetes, espelhos; além de
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
114
novos materiais construtivos, como assoalhos de madeira, mármores, papéis de
parede, grades de ferro forjado, etc. Tudo importado da Europa. Os interiores das
casas brasileiras que antes eram vazios e despojados tornaram-se repletos de
quinquilharias próprias de uma nova ordem social (LEMOS, 1976, p. 46). Os banheiros
foram incorporados ao corpo principal da casa, resultado da adoção de costumes
franceses, entre eles, a sofisticação das salas de banho, chamadas de toilettes
(VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, p. 103).
A partir do final do século XIX, alguns fatores como o fim do trabalho escravo, a
Proclamação da República, as novas práticas de sociabilidade decorrentes do início
do processo de industrialização, urbanização e modernização do país, propiciaram o
surgimento de um novo modelo de família, a chamada família nuclear burguesa,
originária da Europa, constituída por pai, mãe e poucos filhos. Neste modelo o homem
continuava representando a autoridade máxima e "rei" do espaço público; enquanto a
mulher assumia uma nova posição: "rainha do lar", sustentada pelo tripé mãe-esposa-
dona de casa (MALUF e MOTT In: SEVCENKO, 1998, p. 373).
Desde cedo, a menina recebia educação para desempenhar seu papel de mãe
e esposa, zelar pelos filhos e pelos cuidados com o lar. Esperava-se que a mulher,
além de saber executar todos os serviços no sentido de manter a casa limpa e
organizada, fosse “prendada”, ou seja, que tivesse habilidades manuais como, por
exemplo, dominar o bordado, a costura, a pintura, o crochê e o tricô. Os bordões “a
mulher é, em tudo, o contrário do homem” e “o lugar da mulher é o lar” sintetizavam o
pensamento da época (primeiras décadas do século XX). Acreditava-se que a
natureza feminina possibilitava às mulheres desempenhar exclusivamente funções da
esfera privada. Sob esse ponto de vista não existiria possibilidade de realização para
as mulheres fora do lar, ao passo que para os homens, a situação era inversa, não se
aceitava que eles desempenhassem papéis domésticos que a eles “pertenciam” a
rua e o mundo do trabalho. A imagem da mãe-esposa-dona de casa como a principal
e mais importante função da mulher correspondia àquilo que era pregado pela Igreja,
ensinado por médicos e juristas, legitimado pelo Estado e divulgado pela imprensa
(MALUF e MOTT In: SEVCENKO, 1998, p. 374).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
115
Figura 59: A mãe servindo a família.
Fonte: SEVICENKO, 1998. p.389.
As casas brasileiras desse período apresentavam algumas alterações em
relação ao período anterior, como por exemplo, o tamanho da cozinha que foi reduzido
depois da abolição da escravatura. A senzala também desapareceu, deixando como
“herança” o quarto de empregada e a circulação de serviços que continuou presente
por muito tempo (em muitos casos, até os dias atuais). O final do século XX foi o
período da chegada dos imigrantes que trouxeram novos hábitos e técnicas
construtivas. Os arquitetos europeus eruditos trouxeram a linguagem do ecletismo
arquitetônico e também novos critérios programáticos para a circulação dentro de
casa, que deveria proporcionar total independência entre as três zonas da casa: a
social, a íntima e a de serviço, a chamada tripartição burguesa. Essas zonas deveriam
estar distribuídas de maneira que fosse possível ir de uma à outra, sem passar pela
terceira (LEMOS, 1976, p. 52).
Na sociedade industrial do início do século XX a família nuclear tornou-se uma
unidade social baseada no consumo e não na produção, com era a família da
sociedade agrícola. Segundo Tramontano (1998), o processo de produção transferiu-
se para a fábrica, e, enquanto o marido deslocava-se para o local de trabalho para
garantir o sustento da família, a esposa permanecia em casa cuidando dos filhos e dos
afazeres domésticos, configurando um padrão social com uma divisão sexual de
trabalho, atendendo as demandas da sociedade industrial.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
116
A posição de inferioridade da mulher casada em relação ao marido era
sacramentava pelo Código Civil de 1916, que estabelecia o homem como chefe e
representante legal da família e a mulher como dependente e subordinada ao homem.
A esposa era declarada relativamente inabilitada para o exercício de determinados
atos civis, limitações comparáveis às que eram impostas aos menores de idade e
aos índios. De acordo com a lei, a mulher casada só teria o direito ao trabalho
mediante autorização do marido ou, em certos casos, do juiz. Algumas profissões
estavam próximas do que se considerava uma extensão das atribuições das mulheres
como, por exemplo, professora, enfermeira, datilógrafa, taquígrafa, secretária,
telefonista, operária das indústrias têxtil, de confecções e alimentícia, mas o trabalho
justificava-se quando necessário para o sustento da família, raramente para
realização pessoal (MALUF e MOTT In: SEVCENKO, 1998, pp. 375 e 402). A
valorização cultural também demonstrava as desigualdades entre as funções
masculinas e femininas, pois embora o trabalho da mulher dentro de casa fosse árduo,
sua importância não era reconhecida social e economicamente, diferentemente das
atividades masculinas que dotavam os homens de poder e valor.
Essa posição de submissão não era aceita de forma unânime. Desde o início
do século surgiram algumas manifestações femininas de protesto mostrando-se
inconformadas e revoltadas com a forma depreciativa com que as mulheres eram
vistas e se viam. Uma colaboradora da revista Feminina fez um manifesto, em 1920,
no qual reivindicava liberdade e igualdade entre os sexos, chamando a atenção das
leitoras para o preconceito existente. No texto ela dizia que as mulheres viviam
fechadas no lar, arrastando uma existência monótona, insípida e despida de ideais,
monetariamente algemadas aos maridos(MALUF e MOTT In: SEVCENKO, 1998, p.
371).
Os índices de escolaridade também comprovavam a posição de inferioridade
da mulher brasileira. Em 1920 o censo registrava que o número de brasileiros
alfabetizados correspondia a 66,5% dos homens e 55,8% das mulheres. O trecho de
uma matéria da revista Feminina de 1921 mostra que o estudo das mulheres não era
bem aceito pela sociedade:
(...) a mulher que estuda parece abdicar dos deveres domésticos (...)
toma uma posição falsa de desconfiança para a sociedade, que
geralmente a julga inapta para exercer o elevado sacerdócio do lar. É
este, pelo menos o conceito que a grande maioria do nosso povo faz
da mulher que ultrapassa as limitadas raias da ação concedidas ao
seu sexo, no vasto campo da atividade intelectual! Ser boa dona de
casa, no entanto, deve ser uma qualidade intrínseca da alma feminina,
não importando se de uma doutora ou de uma engomadeira (MALUF e
MOTT In: SEVCENKO, 1998, pp. 402-403).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
117
Muitas funções sociais que anteriormente eram integradas à família extensa e
à comunidade, desintegraram-se durante o processo de industrialização, criando
novos sistemas independentes como escolas, clubes e hospitais (TRAMONTANO,
1998). Portanto, a família deixou de ter funções “públicas” e passou a ter apenas
funções “privadas”, tornando-se uma “família informal”. Houve um desdobramento
dentro da vida privada familiar e cada membro conquistou o direito de ter uma vida
privada autônoma, com isso desenvolveu-se a valorização do indivíduo (VINCENT in
PROST e VINCENT, 1992, p. 61).
Nos anos 1930, embora ainda preponderasse a supremacia masculina na
sociedade brasileira, a década foi marcada por algumas conquistas femininas, dentre
elas o direito da mulher ao voto (1933), direito a freqüentar cassinos, fumar e beber
em público e usar saias mais curtas, deixando os joelhos à mostra (AYALA, 1995, p.
145).
Em 1942 foi introduzido o desquite no Código Civil do Brasil, que consistia na
separação dos cônjuges sem dissolução de vínculo. No mesmo ano foi regulamentada
a lei que permitia a anulação do casamento (BERQUÓ in SEVCENKO, 1998, p. 413).
Essas leis representaram um avanço nas relações conjugais brasileiras.
Principalmente por questões religiosas e culturais pregava-se que o casamento
deveria ser indissolúvel, portanto havia muito esforço para mantê-los mesmo quando
havia razões para rompê-los. O ônus de uma separação era muito alto, principalmente
para a mulher que teria que conviver com o preconceito e a discriminação da
sociedade, fato que resultava, muitas vezes, na manutenção de um casamento infeliz.
No que diz respeito à configuração dos lares, no decorrer do tempo houve uma
evolução gradual no programa de necessidades, que foi se ajustando as práticas
cotidianas de uma renovada vida doméstica. Algumas dependências foram eliminadas
e outras foram reduzidas, como por exemplo, a área de serviço que chegou muito
diminuída aos meados do século XX (LEMOS, 1976, p.67).
Os apartamentos residenciais se firmaram como opção de moradia para as
grandes cidades e, a princípio, acompanhavam os programas das casas isoladas.
Lemos (1976, p. 78) pondera que a penetração do apartamento na vida brasileira se
deu por meio de sua aceitação pela classe média e somente depois, pela classe alta.
Em 1948 o Brasil alcançava a marca de 50 milhões de habitantes e era uma
nação cheia de contrastes. Embora o número de indústrias estivesse crescendo muito,
aproximadamente dois terços da população ainda vivia no campo e apenas cerca de
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
118
trinta por cento das crianças em idade escolar freqüentava a escola (AYALA, 1995, p.
359).
A partir do final da década de 1950, o formato de família nuclear tradicional
começou a dar sinais de decadência principalmente devido à nova postura adotada
pela mulher brasileira que passou a reivindicar seus direitos e melhor posição na
sociedade e no mercado de trabalho. Com isso surgiram novos formatos de grupos
domésticos como, por exemplo, famílias mono parentais, casais sem filhos por opção,
casais homossexuais, grupos de amigos sem laços conjugais ou de parentesco,
pessoas morando sozinhas e uma família nuclear renovada, ainda em maior número
nas estatísticas, mas com enfraquecimento da autoridade dos pais em benefício de
uma maior autonomia de cada um de seus membros, traduzindo um novo padrão
social (TRAMONTANO, 1998, p. 196).
A disseminação de informações através dos meios de comunicação,
entre outros fatores, foi de suma importância para que a mulher tivesse
a coragem de submeter-se a um processo de auto-avaliação,
buscasse seus valores individuais e repensasse o seu papel na família
e na sociedade (MORAIS, 2005).
As mudanças nos padrões de comportamento também estão representadas na
queda de fecundidade (a partir dos anos 1960) que demonstra essa nova postura
feminina. Os novos métodos contraceptivos, mais acessíveis e mais eficazes,
possibilitaram que a mulher brasileira conquistasse a liberdade de ter relações sexuais
dissociadas da obrigatoriedade católica de procriação, e também o direito de escolher
quando ter (ou não ter) filhos, fato que a ajudou a entrar definitivamente no mercado
de trabalho e alcançar sua emancipação. Por conseqüência dessa emancipação
somada a outros fatores, como por exemplo, a escolarização crescente, a mulher
também conquistou o direito de separar-se do parceiro sem ser, por isso,
estigmatizada pela sociedade (TRAMONTANO, 1998, p. 198).
Os eletrodomésticos que se popularizados nos anos 1960, como por exemplo,
as máquinas de lavar, os liquidificadores, as batedeiras, as enceradeiras, os
aspiradores de pó, entre outros, eram considerados equipamentos facilitadores da vida
doméstica e tornaram-se símbolos de um novo modo de vida, pois representavam a
mulher moderna, que estava conquistando uma nova posição na sociedade. Esses
equipamentos propiciaram a diminuição das áreas de serviço e das cozinhas,
principalmente, nos apartamentos. Porém, as casas isoladas também apresentaram a
“apartamentização” das cozinhas, ou seja, tiveram suas áreas diminuídas a exemplo
dos apartamentos (VERÍSSIMO e BITTAR, 1999, p. 113).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
119
A dinâmica demográfica brasileira apresentou importantes mudanças na
segunda metade do século XX envolvendo suas principais variáveis: fecundidade,
mortalidade e migrações; fato que resultou em um novo perfil populacional, marcado
pela desaceleração do crescimento demográfico. Apesar do número de nascimentos
ter diminuído, a expectativa de vida aumentou, principalmente graças ao avanço da
biologia, da medicina e das melhorias das condições de saneamento, alterando
efetivamente o perfil etário e a estrutura ocupacional da sociedade brasileira que
passou a ter uma preponderância da população adulta, com aumento do contingente
de idosos (TRAMONTANO, 1998, pp.199-200).
O intenso processo de urbanização, verificado no Brasil principalmente a partir
da década de 1960, foi o principal responsável pela redução das taxas de fecundidade
e a conseqüente queda das taxas de crescimento demográfico. Os motivos são vários,
entre eles o fato de que nas cidades as informações e o acesso aos métodos de
contracepção são maiores; outro motivo seria que com o fato de as mulheres
exercerem atividades profissionais no meio urbano, as famílias passaram a dispor de
menos tempo para se dedicar aos filhos; além disso, na cidade as despesas com a
criação e formação da criança são maiores que no meio rural, constituindo um fator
inibidor para a formação de famílias numerosas.
Essa nova dinâmica da sociedade brasileira resultou num grande número de
separações de casais provocando num aumento significativo de grupos domésticos,
paralelamente a uma diminuição do tamanho médio dos mesmos. Os apartamentos
representavam uma opção de moradia mais prática e conveniente para os cônjuges
recém separados, tanto para o homem que passava geralmente a morar sozinho,
quanto para a mulher que na maioria das vezes ficava com a guarda dos filhos.
Mello e Novais (In SCHWARCZ, 1998, p. 652) acreditam que as relações
conjugais sofreram profundas mudanças: Em relação à família, desaparecem quase
por completo os aspectos sagrados do casamento, que passa a ser resultado,
sobretudo de um acordo de vontades, de um contrato entre livres e iguais.” Segundo
eles essas transformações são resultado do direito da mulher à igualdade, da
valorização do prazer sexual integrado aos sentimentos, da busca de autenticidade
entre os parceiros e da tentativa de construção da vida comum pelo diálogo afetuoso.
O casamento romântico representa um desenvolvimento na direção de uma maior
igualdade entre os cônjuges e no direito de cada um à felicidade pessoal. Em relação
à educação dos filhos, perderam-se as características autoritárias e tornou-se mais
liberal e democrática, com mais conversas e argumentos, sendo que a violência foi
definitivamente condenada.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
120
O avanço cultural do Brasil também foi significativo na década de 1960. O
número de livros impressos que era 43 milhões em 1960 atingiu a marca de 191
milhões em 1970. A venda de discos cresceu 800% e a televisão profissionalizou-se
com equipamentos e antenas mais potentes, aumentando o seu alcance. Após a
“Revolução de 64” houve uma massificação do ensino acompanhada de uma
valorização da cultura. A aprendizagem se firmou como um meio de profissionalização
para enfrentar a concorrência no mercado de trabalho (Mello e Novais In SCHWARCZ,
1998, p. 642). O estudo passou a ser visto como necessidade e indicativo do futuro do
individuo, portanto garantir o estudo dos filhos passou a ser um objetivo primordial.
Esses fatores associados à popularização do ensino público no Brasil provocaram um
crescimento no número médio de anos estudados e uma queda nos índices de
analfabetismo no Brasil.
A inauguração da primeira emissora de TV do Brasil, a TV Tupi, foi um marco
da cultura e do lazer do país. Popularizada somente na década de 1960, a televisão
provocou grandes alterações na vida íntima das famílias com reflexos na organização
espacial dos lares, como por exemplo, a transformação da sala de visitas em um living
room e um novo local de reunião da família que deixou de ser a copa/cozinha. Mais do
que modificar as casas, a TV modificou o comportamento das pessoas, que
independente da posição social e poder aquisitivo se “renderam” a esse aparelho.
Antes da chegada da TV, os mais pobres praticamente desconheciam o lazer
domiciliar. Conforme disse Lemos, o lazer do operário, por exemplo, era sempre fora
de casa e longe da família: nos estádios de futebol, nos botequins ou ao redor das
mesas de jogos de cartas ou dominó. Foi a TV que deu certo sentido ao lazer do
operário dentro de casa (LEMOS, 1989, p. 72).
A partir de meados do século XX a cidade de São Paulo tornou-se o pólo
cultural do país com a constituição de organizações de culturas como, os museus, os
teatros, o cinema, a TV, as bienais, bem como a institucionalização da vida
universitária, que alterou o estilo da reflexão. Esses eventos que foram suportados por
um novo mecenato, originário dos setores emergentes da sociedade, contribuíram
para a evolução de um processo amplo e complexo de transformação da vida cultural
da cidade (ARRUDA, 2001, p. 21). Desta forma, a cidade ingressava definitivamente
no quadro de cultura de massas organizado nos moldes do mercado internacional
(LOCILENTO, 2004, p.33).
Segundo Meyer (1991, p. 36) paralelamente a ampliação dos equipamentos
culturais, o quadro da vida cotidiana da cidade de São Paulo vinha se modificando
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
121
intensamente, e o prédio de apartamentos seria um dos marcos mais reveladores da
transformação do modo de vida residencial da década de 1950.
São Paulo adquiriu a complexidade própria das metrópoles. A procedência de
seus habitantes, a riqueza de suas tradições culturais e a variedade de seus modos de
vida propiciaram uma infinita possibilidade de trocas. Por outro lado, a cidade também
ficou conhecida por ser o ethos do trabalho, pela formalidade e frieza de suas relações
interpessoais e pelo anonimato da vida cotidiana. Somando se a isso também
surgiram as mazelas trazidas pelo progresso, como a desigualdade social, a violência
(desde a poluição visual e sonora até a criminalidade) e as gritantes contradições
urbanas. Todos esses fatores contribuíram para as alterações comportamentais da
população (MAGNANI in MAGNANI e TORRES, 2000, pp. 18 e 19).
Algumas transformações que a sociedade paulistana apresentou são
resultados da metropolização da cidade que impôs novo ritmo e estilo de vida aos
seus habitantes.
Tudo indica que as práticas cotidianas estabelecem uma forte inter-
relação entre a configuração da metrópole da realidade
metropolitana e as maneiras pelas quais a população, ao assumir o
fato metropolitano, também o vai definindo e conceituando (SOUZA,
1994, p. 43).
Em meados do século XX a cidade de São Paulo buscava reconhecimento da
sua condição de metrópole, o meio urbano era visto com positividade: a cidade era o
lugar do homem moderno; nela ele se sentia integrado; no meio público metropolitano
sua psique nervosa encontrava sua identidade” (XAVIER, 2007, p. 127).
Alguns aspectos que são comuns a todas as metrópoles, passaram a se
manifestar em São Paulo, como por exemplo, a concentração de população que faz
emergir o caos urbano. A multidão das cidades, muitas vezes comparada a um
formigueiro, representa o coletivo que é a aglomeração de indivíduos em seu maior
grau. Aparentemente o oposto disso seria a solidão, que seria o isolamento do
indivíduo levado ao extremo. Porém, Charles Baudelaire, associa esses dois conceitos
considerando a multidão e a solidão como pares indissociáveis da vida urbana, pois,
segundo ele, na multidão o indivíduo se dissolve e a massa humana se configura
como um aglomerado de anônimos em busca do reconhecimento de suas identidades.
Sendo que nessas condições, a necessidade de afirmar a identidade de cada um se
manifesta em várias ocasiões, o que contribui para o processo de desenvolvimento do
individualismo (VAZ, 2002, p. 146). O individualismo, portanto, próprio do sujeito
metropolitano, passou a ser uma das características do povo paulistano.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
122
Simmel explica em seu texto, Metrópole e vida mental, que o sujeito
metropolitano é um ser preparado mentalmente para a realidade congestionada da
grande cidade e que o desenvolvimento mental, pautado em valores racionais, é uma
resposta defensiva aos sucessivos estímulos produzidos pelo urbano. Nesse contexto
de respostas rápidas pouco lugar para subjetividade e o próprio sentido de
sociabilidade adquire novos contornos, pois o sentido comunitário se perde na escala
da multidão. Segundo Simmel, a reação ao intenso contato físico da metrópole é a
preservação do anonimato, sendo que paralelamente se desenvolve o gosto de
vivenciar a experiência do choque, que é o espanto de se perceber na presença do
outro, uma experiência possível de ser vivida em público. Nessa dicotomia entre
ausência e presença o homem urbano compreende a experiência da existência
metropolitana e a ela se habitua (XAVIER, 2007, pp.131-132).
Uma das características do homem metropolitano verificada na cidade de São
Paulo é a capacidade de adaptação ao novo. O paulistano pôde demonstrar essa
facilidade de adaptação em vários momentos e situações, como no caso da acolhida
aos imigrantes e depois aos migrantes que chegaram à cidade, na aceitação da
mulher no mercado de trabalho, na adoção dos novos meios de transportes e também
dos novos meios de comunicação que surgiram ao longo do tempo, bem como na
adaptação das novas formas de moradia como os apartamentos e as quitinetes.
Nesse universo onde a sociabilidade se pelo desenvolvimento de
uma vida mental reativa, a sobreposição de estímulos faz do homem
metropolitano um sujeito preparado mentalmente para a constante
edição do novo
(XAVIER, 2007, p. 132).
A condição metropolitana tem outras peculiaridades e alguns valores
associados, como: tecnologia, velocidade e simultaneidade. Denise Xavier explica:
O meio metropolitano é a afirmação máxima do controle humano do
ambiente natural pelo artifício, é o lugar natural da técnica. (...) Um
outro valor também eleito como natural da condição metropolitana é o
sentido da velocidade. A cidade moderna com um espaço plasmado
pela eficiência da máquina somada à distancia das funções sociais, vê
na velocidade a medida capaz de regular e viabilizar o ambiente
metropolitano. (...) Um segundo valor complementar ao sentido da
velocidade pode ser aqui identificado: a simultaneidade. À velocidade
de percepção do espaço vem se somar a simultaneidade de eventos.
A sobreposição e concomitância de estímulos como naturais da
metrópole afetam a percepção do presente, e complementam a
relação espaço temporal da velocidade, tornando o espaço
multidirecional e o tempo não apenas mais rápidos, mas também não
lineares e fragmentários
(XAVIER, 2007, pp. 128-131).
Todos esses fatores aqui relacionados foram determinantes para as alterações
no modo de vida da população paulistana que incorporou a condição metropolitana e
adotou novas posturas, entre elas, o hábito de residir em apartamentos.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
123
Capítulo 3 – As transformações de Higienópolis: evolução histórica
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
124
3.1
Chácaras
urbanas
meados do século XIX, a cidade de São Paulo se constituía de um
núcleo central urbano, cercado de chácaras, tios e fazendas que se
acomodavam à topografia irregular do planalto. Essas propriedades
eram auto-suficientes, pois com cultivo e criação de gêneros variados garantiam a
subsistência de seus moradores. Algumas das famílias mais importantes da cidade
residiam nelas ao passo que outras preferiam o centro.
A área em que está localizado o bairro de Higienópolis pertencia à sesmaria do
Pacaembu - uma extensa porção de terra que Martim Afonso de Souza doou aos
jesuítas no século XVI. A área era delimitada pelo caminho dos Pinheiros (Rua da
Consolação), Emboaçaba (Av. Dr. Arnaldo) e pelo córrego Água Branca. Na época da
doação, a região foi dividida em três áreas: Pacaembu de Cima (atual Higienópolis),
do Meio e de Baixo (PONCIANO, 2004, p. 104).
O Caminho dos Pinheiros, ou Caminho de Sorocaba como também era
chamado, e o Caminho de Jundiaí (atual Rua das Palmeiras), propiciaram a ocupação
da região. Ambos eram bem conhecidos dos paulistanos. Pelo Caminho de Pinheiros
transitavam as tropas de burros vindas de Sorocaba (onde havia a feira de bestas de
cargas), e da própria aldeia de Pinheiros que fornecia legumes e verduras para a
capital. Esse caminho também era rota religiosa, recendo a procissão que vinha com a
imagem de Nossa Senhora de Monte Serrate da Capela de Pinheiros para a Igreja da
Consolação. Também foi que, em 1858, a cidade de São Paulo inaugurou seu
primeiro Cemitério Municipal, o Cemitério da Consolação. O Caminho de Jundiaí,
depois chamado de Estrada de Campinas, também tinha muito movimento, pois ligava
o centro da cidade à região oeste do estado. Jundiaí, no século XVIII, era o local onde
eram preparadas as expedições para o Norte e para Goiás (HOMEM, 1980, p.34).
A
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
125
Com o passar do tempo, os jesuítas saíram da região da Sesmaria do
Pacaembu, pois eles arrendaram algumas terras para o Sr. João Ferreira Braga em
1753 e outras foram confiscadas pelo Fisco Real em 1767 e depois vendidas em hasta
pública em 1779. Parte delas (região do Pacaembú de cima) foi arrematada por
Gabriela Antunes da Fonseca. Os lotes foram adquiridos e os terrenos divididos em
chácaras, muitas delas tornaram-se propriedade da elite paulistana (HOMEM, 1980,
p.39).
Vale lembrar que a palavra chácara era usada também para se referir a um lote
de terreno um pouco maior que os demais e afastado do centro. Eram comuns os
anúncios em jornais de “chácaras” que nada mais eram do que casas cercadas de
jardins e pomares, como por exemplo, o seguinte anúncio do O Diário Popular” de 9
de novembro de 1886 (LEMOS, 1989, p. 93 e 94):
Vende-se uma bonita chácara, situada à Rua da Concórdia . 13,
tendo o terreno 27 metros de frente, com 60 de fundos, todo plantado
com árvores frutíferas e ajardinado, excelente casa assobradada no
centro do terreno, 8 cômodos bem arejados, todos com janelas, água
de poço muito superior, bombas, quartos para criados, enfim uma
excelente vivenda, próxima dos bondes 2 minutos. Vende-se tudo por
menos do seu valor porque o proprietário deseja retirar-se para o
interior. Trata-se na travessa do Rosário . 1
A
, com rua Rangel
Pestana.
As chácaras da região de Higienópolis apresentavam características típicas de
transição entre o rural e o urbano. Não podem ser consideradas espaços urbanos,
devido a grande quantidade de elementos rurais presentes, ao passo que a presença
de elementos urbanos lhes tiram a característica tipicamente rural. Ou seja, eram
chácaras urbanas ou modernizadas, vizinhas à área plenamente urbana e em
expansão, fator que lhes conferia certa instabilidade, reduzindo o seu tempo de
existência (MACEDO, 1982, p.45).
Até o final do século XIX a região ainda era chamada de Pacaembu e o
encontro das ruas hoje denominadas Itambé, Dona Veridiana, Maria Antonia e Major
Sertório era chamado de Encruzilhada do Pacaembu.
Consta nos arquivos municipais que em 1880 foi feito o pedido de licença para
a construção da casa de João Lucio para a Rua do Pacaembu, sendo esta a primeira
casa da rua que se tem notícia.
No ano de 1884 a Santa Casa foi transferida da Rua Glória para a Rua de
Santa Cecília (atual Rua Dona Veridiana) sob fortes protestos, pois tal iniciativa era
considerada fora de propósito por ser distante do centro. Dr. Rego Freitas, dono das
terras, defendia que a ida da Santa Casa pra traria progresso para o bairro. A
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
126
proximidade com o cemitério da Consolação também parece ter sido um empecilho
para a aceitação do lugar (HOMEM, 1980, p.34).
A presença de três figuras femininas muito importantes e influentes foi fator
determinante para o desenvolvimento da região e, portanto, merecem atenção
especial. São elas Maria Antônia da Silva Ramos, Veridiana Valéria da Silva Prado e
Maria Angélica Souza Queiroz Aguiar de Barros, personalidades evocadas pelas vias
que levam seus nomes (PONCIANO, 2004, p. 105).
Segundo Maria Cecília Homem (1980, p.34), nos anos de 1880 havia ali a
propriedade da Senhora Maria Antônia, que era de família influente da sociedade
paulistana, filha do Barão de Antonina, próspero comerciante que foi, entre outros
cargos públicos, Senador do Império. Ela foi casada com o Tenente-Coronel Mariano
José Ramos e um de seus filhos, Ernesto Mariano da Silva Ramos foi presidente da
Câmara de São Paulo. Dona Maria Antonia residia no centro da cidade, na Rua São
João, e usava aquela chácara para o pomar e também como pasto de seus cavalos.
Figura 60: Retrato de Maria Antônia.
Fonte: HOMEM, 1980, p. 35.
Naquele período, uns missionários norte-americanos presbiterianos liderados
pelo reverendo George Chamberlain estavam à procura de terrenos para a construção
de uma sucursal para a Escola Americana que haviam fundado em São Paulo em
1870. Aconselhados pelo prefeito João Teodoro, eles escolheram a área de
Higienópolis, principalmente pela idoneidade de seus proprietários, pois já haviam tido
problemas dessa ordem com uma tentativa de compra de terras da região da
Liberdade. O prefeito Teodoro foi um incentivador da expansão da cidade para o
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
127
oeste, tanto que seu plano urbanístico de 1874 procurou estimular os proprietários a
lotearem suas chácaras (HOMEM, 1980, p.53).
Por influência do gramático presbiteriano Eduardo Carlos Pereira, dona Maria
Antonia doou à igreja Presbiteriana cerca de 27 mil m
2
de terra - um terreno situado na
esquina da atual Rua Maria Antonia com Rua Itambé. Houve uma venda simbólica no
valor de 800 réis, quantia necessária para abrir uma vala divisória e plantar bambus.
Alguns anos depois, ali foi construído o internato para meninos, dando início a
formação do que mais tarde se tornaria uma das maiores instituições de ensino do
país, a Universidade Mackenzie (HOMEM, 1980, p.54).
Dona Veridiana Valéria da Silva Prado (1825-1910) foi certamente quem mais
contribuiu para a evidência do bairro. Uma mulher poderosa, influente e corajosa que
gozava de grande prestígio social e gostava de inovações. Ela era filha de Antonio da
Silva Prado, o Barão de Iguape, próspero comerciante e figura importante da época,
tanto pelas posses quanto pelo poder, pois ocupou alguns cargos públicos de relevo,
entre eles Capitão Mor da cidade de São Paulo e vice-presidente da província de São
Paulo, além de ter sido o presidente do primeiro Banco do Brasil e também seu
principal acionista.
Figura 61: Retrato de Veridiana
Valeria da Silva Prado.
Fonte: www.saopauloantigo.com.br
Atendendo à vontade de seu pai, aos treze anos de idade, Veridiana casou-se
com seu meio-tio Martinho da Silva Prado, que mais tarde se tornou um importante
cafeicultor. Eles moravam em Mogi Mirim, na fazenda Campo Alto, mas mantinham
um sobrado de construção de taipa na Rua da Consolação onde passavam algumas
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
128
temporadas. Tiveram oito filhos, duas meninas morreram ainda bebês e outros se
tornaram pessoas importantes com atividades na política e na economia do país,
como Antonio Prado (vereador, deputado e Ministro do Império), Caio da Silva Prado
(Presidente das Províncias de Alagoas e Ceará), Martinico Prado (deputado
republicano, líder político, abolicionista) e o caçula Eduardo Prado (monarquista,
escritor e dono de jornal). Paralelamente à atividade política, os Prado seriam ativos
cafeicultores, donos das maiores fazendas de café da época. Além disso, dedicaram-
se à indústria e à construção de ferrovias.
Em 1877 Dona Veridiana chocou a sociedade ao anunciar a sua separação,
invertendo o rígido sistema patriarcal vigente e assumindo a chefia da família,
encarregando-se da educação dos filhos. Logo após a separação, ficou morando com
os filhos no antigo sobrado da Consolação e em 1878 adquiriu um terreno nos altos de
Santa Cecília, onde mandou construir seu palacete, inaugurado em 1884 (mesmo ano
em que a Santa Casa foi transferida para a região). O projeto veio da Europa, em
estilo Renascença francês e foi construído pelo engenheiro Luiz Liberal Pinto, com
todo o material importado. A casa foi também considerada como um dos primeiros
exemplares de residência do ecletismo em São Paulo (LEMOS, 1989, p. 132).
Figura 62: Chácara Vila Maria de Dona Veridiana Prado.
Fonte: www.arcoweb.com.br
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
129
A “Vila Maria”, como ficou conhecida a chácara de Dona Veridiana, era muito
bem cuidada, com bosques, lago, fontes e pomar, onde eram cultivadas uvas Niágara,
entre outras espécies e produtos. Este sobrado foi uma das primeiras casas do gênero
em São Paulo, inaugurando uma série de palacetes que seriam construídos na cidade,
os quais eram implantados com características de chácaras, o que constituía uma
forma de morar intermediária entre a casa-grande de fazenda e a cidade.
Dona Veridiana, mulher refinada e voltada para os moldes culturais europeus,
transformou a chácara num ponto de encontro de intelectuais, artistas, políticos e
cientistas, sediando reuniões sociais e culturais, impulsionando debates políticos e
literários. Segundo Homem (1980, p. 45) ela “exerceria papel marcante tanto com
relação a ocupação de Higienópolis quanto ao tipo de vida que se desenvolveu nesse
bairro. Assumiu a vida social paulista continuada por seus descendentes e parentela
extensiva até pelo menos a segunda geração.”
Hoje considerada uma das primeiras feministas da história do Brasil, Veridiana,
enquanto viveu, desafiou regras e padrões. Foi uma das primeiras mulheres da elite a
sair sozinha para as compras, acompanhada apenas do cocheiro. Era discreta, usava
roupas escuras e rejeitava o tratamento de “madame”, tão em voga na época. Inovou
também em seu testamento ao prover generosamente as mulheres da família exigindo
que usassem o dinheiro em proveito próprio, sem deixá-lo sob cuidado dos maridos.
Deixou também registrado um pedido de desculpas a quem pudesse ter ofendido ou
escandalizado com seu comportamento e manifestou o desejo de ter um enterro de
segunda classe.
Poucos anos depois, em 1891, outra figura feminina de projeção na cidade,
Maria Angélica Souza Queiroz Aguiar de Barros, encomendou a construção de seu
palacete na mesma região (atual Avenida Angélica esquina com a Alameda Barros).
Era uma réplica do castelo alemão Charlottenburg e todos os materiais de construção
e decoração foram encomendados e importados da Alemanha (LEMOS, 1989, p. 132).
Dona Maria Angélica e seu marido Dr. Francisco Aguiar de Barros eram os
proprietários da antiga Chácara das Palmeiras, uma área que segundo documentos de
1874, possuía 25 alqueires e localizava-se na região da atual Avenida Higienópolis até
a atual Avenida General Olímpio da Silveira. Essa chácara já tinha sido propriedade de
José Pedro Galvão de Moura Lacerda e nela havia casa-grande, senzala, cocheira,
armazéns e pomar com cultivo de chá e mandioca. Entre os anos de 1891 e 1893 a
chácara passou por um processo de modernização em que algumas construções de
taipa foram substituídas por grandes construções de tijolos (MACEDO, 1982, p. 51).
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
130
Figura 63: Antiga sede da Chácara das Palmeiras doada à Casa
Pia de São Vicente de Paula.
Fonte: HOMEM, 1980, p.50.
Em 1894, ao mudar-se para o seu novo palacete, Maria Angélica doou a sede
da Chácara das Palmeiras, construção de taipa do século XVIII, para a instituição de
caridade Casa Pia de São Vicente de Paula, que passou a funcionar ali na atual
Alameda Barros.
A Avenida Angélica, na época chamada de avenida circular, foi aberta por volta
dos anos de 1890 pelos proprietários das terras (Chácara das Palmeiras) que nela
construíram uma série de casas. Conforme a análise de Macedo (1982, p.52), esse
fato marca o início do processo de urbanização da área que viria a se consolidar nos
últimos anos do século XIX.
Figura 64: Palacete de Dona Maria Angélica de Barros
inspirado no castelo alemão Charlottemburg.
Fonte: HOMEM, 1980, p.50.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
131
Outra figura ilustre da cidade, Joaquim Inácio Ramalho, o barão de Ramalho,
era proprietária de uma grande chácara da região. Ele era bacharel em ciências
Jurídicas e Sociais pela Academia de Direito de São Paulo, onde também foi
professor. Exerceu cargos públicos, entre eles, o de Presidente da Província de Goiás.
Suas terras ficavam localizadas de frente para o Caminho do Pacaembu e para a
Chácara Vila Maria. Elas possuíam pomar e muitas jabuticabeiras, mas eram usadas
principalmente como pastos para seus cavalos, que ele residia em outro local, uma
casa térrea na Rua da Consolação.
Outras propriedades compunham o conjunto de chácaras da região, como a
Chácara Jaguaribe do Dr. José Nogueira Jaguaribe e também a chácara de Joaquim
Floriano Wanderley, conforme mapa a seguir.
Figura 65: Mapa da região indicando as chácaras da época.
Fonte: MACEDO,1982, p. 46.
A maioria dessas chácaras possuía como função principal a moradia de
famílias ricas da cidade. Portanto, as atividades relacionadas à habitação eram
valorizadas, fator que era percebido na organização das mesmas, pois tinham grande
parte das áreas destinadas às atividades domésticas, além de possuírem pomares,
hortas, galinheiros, chiqueiros e cocheiros, principalmente para a cultura de
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
132
subsistência. As sedes eram construídas dentro dos padrões urbanos cercadas por
bem-cuidados jardins e instalações anexas para criados.
Em 1884, o clima agradável e o ar ameno das encostas despertaram o
interesse do proprietário do Hotel da França, o alemão Guilherme Lébeis, que adquiriu
um chalé existente no Caminho do Pacaembu para criar uma filial do hotel, onde os
hóspedes pudessem desfrutar o clima e o ar puro da região, principalmente no
inverno. A filial foi chamada de Hotel e Sanatório Higienópolis.
Até o final da década de 1880 o cenário da região era, portanto, formado por
um conjunto e chácaras onde se destacam as sedes das chácaras de Dona Veridiana
Prado e de Dona Maria Angélica de Barros que, pela posição social, conferiam
prestígio ao local.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
133
3.2
Casarões
da
elite
o final do século XIX, alguns atentos empreendedores perceberam o
potencial proporcionado pela centralização do poder econômico
paulista na capital e lançaram-se no ramo imobiliário, comprando
terras, loteando e vendendo suas frações. Este processo foi iniciado após a morte do
Barão de Itapetininga em 1876, com o loteamento do Morro do Chá, originando o que
mais tarde seria o Centro Novo” (ACKEL e CAMPOS in SOMEKH e CAMPOS, 2002,
p. 17).
Em 1890, dois comerciantes alemães, Martin Burchard e Victor Nothmann,
compraram parte dessa região do Barão de Ramalho e, visando lucro, deram início a
um loteamento das terras. A área do empreendimento, que vai do lado ímpar da
Avenida Pacaembu, para cima, em direção à Avenida Paulista, media cerca de 360 mil
m
2
. Uma segunda gleba, área triangular entre a Consolação e a Estrada do Araçá,
com cerca de 206 mil m
2
, foi adquirida por Nothmann em 1895, terreno do espólio de
Joaquim Floriano Wanderley. O empreendimento, destinado a um público de alto
poder aquisitivo, foi dividido em duas partes que receberam o nome de Boulevard
Burchard I e Boulevard Burchard II, respectivamente (HOMEM, 1980, p. 59).
N
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
134
Figuras 66 e 67: Martin Burchard e Victor Nothmann, os loteadores
de Higienópolis.
Fonte: HOMEM, 1980, p. 65 e 66
O Barão de Ramalho ignorava o valor de suas terras e o vendeu por quantia
considerada fabulosa para a época. O ramo imobiliário havia se tornado um
excelente negócio, tanto que o próprio Nothmann em sociedade com outro
comerciante alemão, Frederico Glette, havia lucrado muito, uma década antes, com
a abertura do bairro de Campos Elíseos. Naquela ocasião, gastaram cerca de 100
contos e apuraram 800 com a venda dos lotes (HOMEM, 1980, p. 60).
Naquela época, a população da cidade crescia muito e o ritmo das construções
não acompanhava tais mudanças, o que ocasionou um déficit de moradias, a
supervalorização dos terrenos e o aumento abusivo dos aluguéis. Situação esta que
foi favorável à especulação imobiliária. Em 1875 a cidade de São Paulo possuía
menos de 3.000 prédios, mas em 1886 contava com mais de 7.000 (LEMOS,1989,
p.56).
Incentivadas pala isenção de impostos, várias chácaras foram loteadas no final
do século XIX, como por exemplo, a área do prolongamento da avenida São João, o
Bom Retiro, a Vila Buarque, entre outras. Um caso que merece destaque é o
loteamento da Chácara Bella Cintra que em 1890 foi realizado por Joaquim Eugênio
de Lima, dando origem à Avenida Paulista e suas ruas paralelas e perpendiculares.
Em 1901 Maria Angélica de Barros e Veridiana Prado também lotearam parte
de suas terras contribuindo para o arruamento das respectivas áreas da Chácara das
Palmeiras e da Consolação. A cidade estava se expandindo e, portanto, outras áreas
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
135
da cidade também foram loteadas no final do século XIX e começo do XX, como por
exemplo, a Vila Prudente, o Ipiranga, a Vila Mariana e a Vila Clementino.
A palavra Higienópolis quer dizer cidade ou lugar de higiene. Numa época em
que ganhavam grande visibilidade as questões sanitárias urbanas esse nome
representava um diferencial a mais para o sucesso do bairro. Uma das principais
artérias da região, o Caminho do Pacaembu, passou a se chamar Avenida
Higienópolis. As propagandas de vendas dos lotes exploravam o aspecto das
propriedades climáticas do local, colocando sua altitude como um elemento benéfico à
saúde. Também era valorizada a paisagem que se descortinava da região, a
arborização das ruas, a vizinhança de edifícios importantes, além da infraestrutura
completa e do transporte coletivo fácil, conforme pode ser observado no anúncio de
jornal da época:
Boulevard Burchard
São estes esplêndidos terrenos situados no ponto mais alto e mais
saudável desta cidade, com linha de bonde em toda Avenida
Higienópolis, servido também pelos bondes que percorrem a Rua D.
Veridiana, bem como já servidos com água, gás e esgotos.
Contêm este aprazível bairro 14 ruas todas arborizadas, com um
aspecto delicioso.
Ali se acham situados os colégios ginásios infantis, o Ginásio
Americano (Colégio Mackenzie) e em construção, o Seminário Sinobal
da Igreja Presbiteriana de São Paulo, bem como em construção
diversos prédios de muito gosto, o que tudo vai cada vez mais
aumentando o valor aliás reconhecido daqueles terrenos.
Pela elevação desses terrenos em uma boa altura acima da cidade,
vê-se (sic) de todos os pontos os mais risonhos e encantadores
panoramas.
Ficam assim prevenidos os srs. Capitalistas de bom gosto para um
bom emprego de capital.
Para informações, tratar na R. S. Bento, 59
9
O apelo de vendas foi facilmente assimilado e logo os primeiros lotes do
Boulevard Burchard foram adquiridos pelas elites, entre elas alguns comerciantes
estrangeiros, profissionais liberais e fazendeiros que traziam da Europa,
principalmente da França, móveis, o projeto das casas e também os materiais de
construção. Algumas famílias ilustres ocuparam verdadeiros palacetes em vastas
áreas com jardins, lagos e pomares.
Os fazendeiros de café eram público alvo. Muitos deles tinham investido
capitais em ferrovias, sendo que alguns chegaram a diminuir seus dividendos com
isso. Sendo assim, eles estavam dispostos a diversificar seus investimentos
9 Extraído de um jornal da época conservado pelo Escritório Germaine Burchard apud Homem, 1980, p.67
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
136
apostando no ramo imobiliário da capital. Eles também temiam que por conseqüência
da abolição da escravatura e da Proclamação da República suas propriedades
agrícolas fossem depreciadas (HOMEM, 1980, p.66).
O loteamento de Higienópolis foi considerado na época como o de maior
extensão territorial e de maior importância econômica e social na cidade. Exclusivo
para a classe A, era a terceira área residencial urbana da elite da cidade, depois de
Santa Ifigênia e Campos Elíseos. Conforme as posturas municipais do tempo, o
loteamento foi feito obedecendo a um traçado geométrico ortogonal com ruas na
largura-padrão de 16 metros. Os empreendedores dividiram as terras em grandes
lotes e trataram de dotá-las de benfeitorias. Burchard e Nothmann também foram
responsáveis pela abertura de outros loteamentos na cidade, mas nenhum deles
recebeu o tratamento à Higienópolis, que contava com tantos benefícios urbanos,
como água, esgoto, iluminação à gás, arborização primorosa e linha de bonde à tração
animal. Esse conjunto de infraestrutura conferia ao bairro uma condição privilegiada
em relação à tantos outros que se encontravam a espera de maior conforto (HOMEM,
1980, p.64).
Seguindo o exemplo do que tinha sido feito em relação à Avenida Paulista, os
idealizadores do bairro conseguiram junto à prefeitura a garantia do uso
exclusivamente residencial e a obrigatoriedade de recuos. Em 3 de junho de 1898 foi
assinada a lei municipal n°. 355, segundo a qual as construções das casas das
Avenidas Higienópolis e Itatiaia (atual Avenida Angélica) deveriam respeitar os recuos
estabelecidos em 6 metros entre o alinhamento da calçada e a frente da casa e 2
metros nas laterais do terreno. Essa lei significava uma alteração nos hábitos de viver
em São Paulo, que se tornou mais complexo e sofisticado. Representava também uma
ruptura com a tradição colonial portuguesa de construir casas no alinhamento das
calçadas e propiciava o surgimento dos jardins frontais que futuramente se tornariam
recorrentes nas casas da cidade. E mais: “Subtendia-se ainda a re-europeizaçao de
nossa cultura, que buscava-se manter-se a par dos modelos europeus da época
ditados pelos países mais progressistas, como França, Inglaterra, Alemanha, Suíça,
Bélgica, etc. (HOMEM,1980, p. 63).
Nestor Goulart Reis Filho informa que esse
processo de “deslocamento” da construção dos limites do lote, ocorrido de forma lenta,
representou uma conquista no sentido da incorporação do espaço externo à
arquitetura das residências (REIS FILHO,1970, p. 48).
Assim como aconteceu com outros bairros da cidade, o de Higienópolis ficou
ilhado em relação às chácaras que o circundavam. Este fato revela que tais
empreendimentos foram realizados sem qualquer planejamento da prefeitura,
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
137
resultando numa estrutura desarticulada, ou seja, com descontinuidade entre os
bairros. A partir do traçado dos novos loteamentos a cidade crescia e se transformava,
adquirindo feições européias. Aliás, nesse sentido, a administração do prefeito Antonio
Prado
10
(1899–1910) se esforçava para apagar qualquer vestígio não europeu ou
“caipira” das ruas, jardins e até mesmo dos costumes (GAGETTI E RIGHI, 2001, p.
67).
Duas artérias principais estruturavam o bairro: a Avenida Higienópolis e a
Avenida Itatiaia (parte da atual Avenida Angélica), que articulava as avenidas
Higienópolis e Municipal (atual Dr. Arnaldo). A prefeitura auxiliou a abertura da ligação
entre a Avenida Higienópolis e a Rua das Palmeiras, que recebeu o nome de Avenida
Circular e mais tarde se juntaria a Avenida Itatiaia formando a Avenida Angélica.
Os primeiros compradores de terrenos do loteamento de Higienópolis foram os
parentes e os compatriotas de Burchard e Nothmann, além dos presbiterianos da
Escola Americana, que tinham o objetivo de ampliar a área da escola. (conforme pode
ser observado no mapa da página 21). Os primeiros lotes vendidos foram os mais
próximos à Avenida Higienópolis e à Consolação. Cada lote media em média 35
metros de frente por 47,5 metros de fundo (HOMEM,1980, p. 74).
Os anglo-saxões foram os primeiros construtores e moradores do bairro, que
preferiram a Rua Maranhão para morar, como o próprio Martinho Burchard. As casas
foram implantadas com características de chácaras cercadas de jardins, pomares,
horta, espaço para criação e dependência de empregados. A primeira casa, construída
em 1895, foi a do alemão Franz Muller, seguida da residência de seu sócio Henrich
Trost e da casa que o médico Henrique Schaumann construiu, mas preferiu alugar
(HOMEM,1980, p. 77).
Os primeiros arquitetos a projetarem casas no bairro também eram de origem
saxônia e norte-americana. Apesar das primeiras casas terem sido construídas com
tendências neoclássicas, predominavam os chalés entre as primeiras residências.
Vale lembrar que a palavra chalé, conforme explicação de Reis Filho (1970, p. 159):
(...) passou a designar um esquema de residência com acabamento
romântico, sugerindo habitação rural montanhesa da Europa mas com
variações que incluíam um uso mais freqüente da madeira, paredes de
tijolos aparentes, equipamentos de ferro fundido, como colunas,
grades e alpendres e a mesmo revestimento com elementos
decorativos de inspiração greco-romana.
10 Antonio Prado, filho de Veridiana Prado, pertencia a uma das famílias mais ricas da cidade e tinha sido conselheiro
imperial. Era fazendeiro e líder empresarial dos setores ferroviário, comercial-exportador, industrial e bancário. Sua
permanência à frente da prefeitura por quatro mandatos consecutivos demonstrava o interesse direto dos setores
dominantes na remodelação da cidade segundo seu figurino (Ackel e Campos in Somekh e Campos, 2002, p. 23).
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
138
Figura 68: Chalé desenhado por Ramos de Azevedo.
Fonte: LEMOS, 1989, p. 101.
Até o final do século XIX as únicas ruas ocupadas do bairro eram a Maranhão
e a avenida Higienópolis, sendo que as demais permaneciam vazias. Somente na
primeira década do século XX o bairro foi totalmente ocupado com a chegada dos
fazendeiros de café e alguns primeiros industriais. Dentre os primeiros moradoes
brasileiros estavam os descendentes de Dona Veridiana e a extensa parentela que
ocuparam o bairro transformando-o num verdadeiro reduto dos Prado.
Em 1902 as religiosas do Sion adquiriram o Hotel Higienópolis e encarregaram
o escritório de Ramos de Azevedo de fazer a adaptação do antigo prédio do sanatório,
transformando-o em escola. No ano seguinte foi construído o prédio principal com três
pavimentos e subsolo, constituindo o corpo central do colégio, cujo projeto é atribuído
ao arquiteto Domiciano Rossi. Mais tarde outras dependências seriam construídas
depois de adquiridos os terrenos vizinhos, possibilitando sua ampliação
(HOMEM,1980, p. 90).
Um fato importante aconteceu em 1902: a chegada de um morador que se
tornaria um dos personagens protagonistas da história do bairro, Antonio Álvares Leite
Penteado. Sua presença contribuiu muito para o prestígio do local, visto que se tratava
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
139
de uma das personalidades de maior projeção da cidade. Ele era proprietário de uma
das maiores fazendas de Café, a Palmares, localizada em Santa Cruz das Palmeiras,
que chegou a ter 750 mil pés de café. Além disso, ele exercia a atividade de industrial,
pois ao perceber as mudanças econômicas e políticas no cenário brasileiro no final do
século XIX, lançou-se no ramo da indústria têxtil, fundando a Fábrica Penteado, em
1889. Álvares Penteado, conde por outorga papal, era um próspero empreendedor e
precursor em várias áreas. Foi um dos primeiros a industrializar sua fazenda dotando-
a de máquinas agrícolas e também foi um dos primeiros a usar colonos europeus em
lugar de escravos, chegando a ter 200 famílias de imigrantes italianos trabalhando em
sua fazenda (PRADO e MACHADO, 1976, p. 59).
O conde também inovou ao fundar, em 1900, o Teatro Santana, na Rua Boa
Vista, que foi referência cultural até a inauguração do Teatro Municipal. Mais tarde
criou outro teatro, dentro de sua fábrica, para que seus funcionários pudessem assistir
aos espetáculos. Inovou outra vez ao fundar em 1902 a bem equipada Escola Prática
de Comércio Álvares Penteado (até hoje em atividade), acreditando que havia
chegado a hora do ensino profissionalizante no Brasil. Esta escola permaneceu por
muitos anos a única do gênero no país.
Álvares Penteado residira antes com sua família em Santa Ifigênia e tinha
adquirido um grande terreno do Boulevard Burchard que abrangia toda a primeira
quadra da Avenida Higienópolis, de frente para a propriedade de Dona Veridiana.
Após viajar para Europa em 1900, voltou encantado com a arquitetura que viu e
encomendou o projeto de sua futura residência ao arquiteto sueco Carlos Ekman, que
atendendo seu desejo, criou um palacete Art Nouveau, lançando o estilo na cidade
(HOMEM,1980, p. 87 e 88).
A residência recebeu o nome de Vila Penteado” e logo foi reconhecida como
uma das mais importantes da cidade, tanto pela qualidade de sua arquitetura, quanto
pelo prestígio de seus moradores e ainda pelos seus frequentadores - pessoas ilustres
e influentes na política, nas artes e em todos os setores da sociedade. Mais tarde essa
casa foi doada à USP pelos seus filhos, funcionando até hoje o departamento de Pós-
Graduação da FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo.
Segundo Lemos (1989, p. 145), na “Vila Penteado” o estilo Art Nouveau foi
aplicado de forma erudita, com toda a sua potencialidade expressiva, onde o espaço
se comportava como a tônica principal da composição arquitetônica. Havia uma
continuidade espacial condicionada a pés-direitos duplos, a profundos balcões
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
140
internos e a elementos curvos. Ela possuía um monumental hall central e uma
decoração variada, cheia de surpresas ornamentais.
Figura 69: Projeto da “Vila Penteado” feito pelo arquiteto Carlos Ekman.
Fonte: PRADO e MACHADO, 1976, p. 57
Com proporções impressionantes, a “Vila Penteado” foi considerada desde o
seu projeto como uma obra de arte. Era uma construção imponente cercada de
jardins, lago artificial, quadra de tênis, horta, cocheira e dependência para
empregados. O andar térreo era dividido em vários salões. Três escadas levavam ao
andar superior. Contava com quatorze quartos e 1.350 m
2
de área construída, fora o
porão. Nela residiam o conde Álvares Penteado com sua esposa, Ana Lacerda
Franco, seus dois filhos homens, Silvio
11
e Armando
12
, além de sua filha Eglantine, e
seu marido, o neto de Dona Veridiana, Antonio Prado Junior. As outras duas filhas,
Antonieta e Stella também eram casadas com os netos de Dona Veridiana, Caio Prado
e Martinho Prado Neto, e moravam no bairro. Assim a família Álvares Penteado, bem
como a família Prado, permanecia unida (PRADO e MACHADO, 1976, p.72 ).
11 Sivio trabalhou com seu pai desde 1901 e assumiu seus negócios após sua morte.
12 Armando Álvares Penteado, também conde, seria posteriormente o criador da Fundação que leva seu nome, a
FAAP.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
141
Figura 70: Foto da família de Antonio Álvares Penteado. Ao redor do conde, da esquerda
para direita, seus filhos, Stella e Armando, sua mulher Ana, seu filho Silvio, o genro Caio
Prado, as filhas Antonieta e Eglantina.
Fonte: Prado e Machado, 1976, p.60
A moradia do casal Antonio Alves de Lima e Julita da Silva Prado foi construída
em estilo Luis XVI, pelo arquiteto Dácio de Moraes, numa das esquinas da Rua
Sabará com a Avenida Higienópolis. Outros casarões foram construídos completando
o elegante conjunto de residências do bairro, como por exemplo a casa de Antonieta e
Caio Prado, chamada de “Vila Antonieta”, localizada na outra esquina da Avenida
Higienópolis com a Rua Sabará, também projetada por Carlos Ekman assim como o
“Château de France”, residência da família do arquiteto Maximilian Emiliano Hehl, de
arquitetura híbrida (HOMEM,1980, p. 89).
E ainda havia mais exemplos: a eclética e luxuosa “Vila Nina”, de João de
Toledo Malta; as residências dos professores da Escola Politécnica, Gomes Shalders,
Ataliba Pereira do Vale e Fonseca Rodrigues; a casa de Aninha Penteado (que depois
pertenceu a Júlio Mesquita); além das residências de Fernando Chaves, Paulo Prado,
Aymoré Pereira Lima, Joaquim Mendonça, Augusto Uchoa, Flavio Uchoa, entre outros.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
142
Figura 71: Avenida Higienópolis com sua arborização uniforme no começo do século XX.
À esquerda o casarão de Toledo Malta.
Fonte: HOMEM, 1980, p.94.
Os arquitetos mais ousados orientavam a construção das casas com soluções
arquitetônicas mais atualizadas, com jardins amplos, porões altos e programas mais
complexos capazes de reunir as vantagens da residência urbana às das velhas
chácaras. Com o fim da escravidão e dos costumes dos tempos coloniais, a
manutenção desse tipo de residência se tornou cada vez mais difícil, o que resultou no
desaparecimento progressivo das hortas e pomares, às vezes reduzidos a uma
jabuticabeira ou a um canteiro de alfaces, assim como os pavilhões externos de
serviços foram reduzidos à edículas (REIS FILHO, 1970, p. 56 e 58).
Figura 72: “Vila Antonieta” e “Château de France”.
Fonte: Homem, 1980, p. 89 e 93.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
143
As casas de Higienópolis, assim como as mansões da Avenida Paulista,
possuíam certas características em seus partidos. Por serem edifícios isolados nos
quatro cantos do lote, seus telhados poderiam participar com mais desenvoltura da
composição arquitetônica, ao invés de ficarem escondidos atrás das platibandas
(como no caso das casas erguidas nos alinhamentos dos lotes). Sendo assim, a tônica
desses palacetes eram as coberturas movimentadas, com seus beirais bastante
recortados, o que propiciou o fortalecimento do ecletismo e o abandono progressivo do
neoclássico. Dessa forma, puderam ser escolhidos os mais variados estilos ou
combinações de modernismos, permitindo a tão almejada personalização do imóvel.
As plantas dessas casas normalmente tinham seus perímetros recortados, com
saliências e reentrâncias, devido à movimentação dos telhados. Nelas eram
recorrentes os porões (altos e às vezes habitáveis), os alpendres e as varandas
elevadas revestidas com finos ladrilhos hidráulicos importados da Europa (LEMOS,
1989, p. 99).
Figura 73: Casa de influência florentina à Avenida Angélica.
Fonte: Homem, 1980, p. 97.
Havia, portanto, grande diversidade de estilos e tendências arquitetônicas no
conjunto de casas do bairro e muitas delas sugeriam a origem de seus habitantes, pois
muitos eram imigrantes. As variedades incluíam o Art Nouveau, o bizantino, o castelo
inglês, o neoclássico com inspiração italiana com torres e mirantes, o palacete de
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
144
estilo francês com telhados em ardósia e grandes jardins, entre outros. No geral, eles
ostentavam um luxo excessivo típico do comportamento dos novos ricos.
As modernas construções de inspiração européia e arquitetura eclética
somadas às ruas e jardins com árvores e jardins de clima temperado conferiam ao
bairro um aspecto tipicamente europeu, apesar da existência marcante da vegetação
tropical, o que fez com que o bairro fosse comparado a cidades européias por muitos
viajantes que ali estiveram (MACEDO, 1982, p.80).
Quebrando a homogeneidade dos palacetes, surgiram, por volta dos anos
1920, algumas casas geminadas destinadas ao aluguel. Elas eram assobradadas ou
térreas, algumas com influência Art Nouveau nas platibandas e gradis de ferro
decorados com linhas sinuosas. Também surgiram os primeiros sobrados em estilo
neocolonial e os chalés de tijolinhos à vista. Na Rua Itatiaia havia uma série de casas
de operários construídas por italianos. Elas eram de plantas simples que seguiam o
padrão quarto, sala e cozinha, articulados por um estreito corredor lateral (HOMEM,
1980, p. 96 e 100). A partir da década de 1920, as casas de Higienópolis foram
construídas seguindo padrões de alturas mais reduzidos, sem torres ou “bow
windows”, mas ainda com varandas e terraços sempre presentes. As construções
desse período eram, na maioria dos casos, mais despojadas (MACEDO, 1982, p. 78).
No final da década de 1920 o casal Antonieta e Caio Prado mandou demolir a
“Vila Antonieta” para edificar no mesmo terreno uma residência “Art Deco”, lançando o
estilo na cidade. O projeto foi feito pelo arquiteto Elisário Bahiana (autor do projeto do
Viaduto de Chá, entre outros de importância) e a obra foi executada pela Cia
Comercial e Construtora (HOMEM, 1980, p. 98).
Figura 74: Casa Art Déco de Antonieta e Caio Prado
projetada por Elisário Bahiana.
Fonte: Homem, 1980, p. 101
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
145
O projeto do bairro não previa local específico para igreja e previa uma praça
na encruzilhada do Pacaembu que nunca foi executada. A primeira igreja do bairro,
Santa Terezinha do Menino Jesus, portanto, foi erguida entre os anos de 1926 e
1928, ao passo que a primeira praça foi construída antes, entre 1913 e 1916, por
iniciativa da Prefeitura, recebendo o nome de Praça Buenos Aires. O projeto da praça
foi assinado pelo prestigiado paisagista francês Joseph Antoine
Bouvard, também
responsável pelos jardins do Vale do Anhangabaú e do Parque D. Pedro II. A praça
possuía um mirante central elevado equipado com telescópio, além de um espelho
d’água e várias esculturas distribuídas em meio aos jardins. Ela tornou-se o lugar
perfeito para as crianças do bairro brincarem sempre acompanhadas de suas babás
ou pajens (HOMEM,1980, p. 69 e 72).
A construção da Praça Buenos Aires de forma tão cuidadosa revela o
reconhecimento, por parte da prefeitura, da importância do bairro na cidade, pois
inseriu a praça no conjunto de melhoramentos que a municipalidade executava para a
valorização e modernização da área central e vizinhanças. Estes melhoramentos
contavam com a criação dos Parques Dom Pedro II, Anhangabaú e Siqueira Campos,
além da Praça da República e do Belvedere do final da Avenida Paulista (MACEDO,
1982, p. 71 e 73).
Em 1931 foi construído o último palacete do período “áureo” do bairro, erguido
na esquina da Avenida Higienópolis com a Rua Albuquerque Lins e encomendado
pelo rico fazendeiro Nhonhô Magalhães, que residia ao lado, numa casa menor
edificada por Ramos de Azevedo. Nhonhô faleceu antes de o casarão ficar pronto, que
passou então a ser habitado por sua família (HOMEM,1980, p. 151).
O bairro era caracterizado, portanto, por sua ocupação residencial de alto
padrão e pela presença das escolas, da igreja e da praça. Por muitos anos se
manteve como um local sossegado, próprio dos bairros afastados com pequeno
movimento de veículos e pedestres, em que o silêncio era quebrado apenas pelos
bondes ou pelos vendedores ambulantes que ali oportunamente apareciam.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
146
Figura 75: Planta do Boulevard Burchard.
Observações::
1. O pontilhado indica a divisão entre o Boulevard Burchard I e II.
2. Legenda na página seguinte
Fonte: escritório Germanie Lucie Burchard Apud Homem, p. 78.
Legenda do mapa indicando os primeiros proprietários dos lotes:
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
147
1 - Antonio Álvares Penteado
5 – AF: Caio da Silva Prado
BCD: Max Helh
G: Joaquim Eugênio do Amaral Pinto
F: J. Maria Schaumann
E: Antonio Wagner
10 - A: J. Then
B: Heinrich Trost
CD: ?
E: Max Hehl
F:José Carlos Machado de Oliveira
G: Dr. Paulo Machado
16 - A: Siegmund Nickelburg
B: ?
C: Dr. Samuel Malfatti
D: Dr. Mello e Souza
E: Max Hehl
F: Dr. Samuel Malfatti
H: Charles Walker
A - A: Dr. Antonio Pereira de Queiroz
B: Plínio Prado
C: Dr. Joaquim de Mendonça Filho
D: Salvador de Toledo Piza e Almeida
E: Victor Nothmann
B - A: Dr. Bento Barreto
B: j. Krug
C - A: Martinho Burchard
B: Gastão Nothmann
C: Alice Ferreira
D: Lúcia Burchard
2 - A: Joaquim Eugênio do Amaral Pinto
B: Victor Nothmann
C: V. N. Biancalana e Cia
D: Wilie Niess
E: Henry wertheim
F: Julio Nickelsburg
G: Ernesto Steidel
6 - A: Seminário Sinodal da Igreja
Presbiteriana
B: José Martins Fontes
C: Joaquim Augusto de Souza
11 - AC: Franz Muller
BD: Henrich Trost
E: A. Farwig
F: Ignacia Mesquita
G: Martinho Burchard
G - A: Chalés C. Thomkins
D - A: Edificado
B: Carolina Burchard
C: helena Burchard
D: Hermann Levy
E - A: Marguerita Magnus
B: Richard Magnus
C: Rodrigues dos Santos
12 - A: Lopes Figueira
13 - A: Doação da Maternidade
T - A: Antonio Teixeira
S - Antonio Álvares Penteado
G - Agnes Amafellers
14 – Daniel Berger
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
148
3.3
Edifícios
de
apartamentos
ode-se considerar que por somente trinta e cinco anos o bairro de
Higienópolis teve o seu projeto original respeitado em relação à
paisagem urbana: período que se estendeu de 1898, data da
implantação do loteamento, até 1933, data da construção do primeiro edifício de
apartamentos (GAGETTI, 2000, p. 27).
As décadas de 1930 e 1940 são consideradas um período de
descaracterização de Higienópolis (fenômeno também ocorrido com outros bairros da
cidade constituídos na Primeira República), resultante da perda de alguns traços
peculiares. Embora ainda fosse considerado um bairro de elite, nessa época o bairro
perdeu o antigo prestígio para a Avenida Paulista, para o Jardim América e para o
Pacaembu. A partir dos anos de 1930 o bairro entrou num período marcado por um
processo constante de construção, reforma e deterioração dos volumes construídos,
quando muitos casarões foram reformados e modernizados para atender os modismos
da época. Outros foram apenas restaurados e pintados de modo a não serem
descaracterizados e outros tantos foram demolidos para ceder lugar a novos edifícios
de apartamentos (MACEDO, 1982, p. 130).
Para entender a evolução do bairro de Higienópolis é preciso conhecer o
contexto do desenvolvimento da cidade. Com o progresso e o aumento acelerado da
população, a mancha urbana da cidade estava se expandindo, sendo que grande
parte se encontrava a mercê de investidores que visavam lucro. Nesse panorama a
cidade crescia de forma irregular, carente de planejamento e infraestrutura,
permanecendo desconexa e compartimentada (HOMEM, 1980, p. 146).
P
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
149
A oferta de trabalho na indústria somada às crises na lavoura acarretava a
intensificação do crescimento demográfico na capital e, por conseqüência, a grande
demanda de moradia. A população operária ocupava os bairros periféricos ou os
subúrbios, enquanto a elite dava seqüência a sua marcha em direção ao oeste da
cidade. A casa própria era quase uma exclusividade dos mais ricos, pois a grande
maioria vivia de aluguel, sendo que os mais pobres viviam em vilas operárias ou em
cortiços. A procura por moradia era grande, o que tornava a construção civil um
negócio muito rentável. Esse cenário possibilitou a industrialização da construção em
São Paulo.
As áreas propícias para a construção de novas residências no centro e nos
seus bairros vizinhos se tornavam cada vez mais escassas. Em Higienópolis existiam
poucos lotes vagos, que eram preteridos pela elite que dava prioridade à Avenida
Paulista ou aos bairros-jardins que surgiam.
A partir da década de 1940, um dos fatos marcantes do crescimento da cidade
foi a compactação da área edificada que se verificava através do acentuado
crescimento vertical do centro e de vários bairros próximos, como Santa Ifigênia,
Campos Elíseos, Santa Cecília, Vila Buarque, Higienópolis, Consolação, Vila América,
Paraíso, Liberdade, Aclimação e outros em menor escala (LANGENBUCH, 1971, p.
179).
No período da Segunda Guerra os investimentos no setor imobiliário se
fortaleceram na cidade, pois em época de guerra e, conseqüentemente, época de
inflação, eram considerados uma forma segura de aplicação de capital. Portanto, era
esse o destino dos excedentes da agricultura e da indústria. Nelson Mendes Caldeira,
fundador da Bolsa de Imóveis de São Paulo, tinha uma visão expansionista e afirmava
que “um dos índices mais expressivos da vitalidade econômica de um país é o número
de novas construções” (CAMPOS, 2002, p. 595).
A guerra havia demonstrado a fragilidade do modelo agroexportador e a
indústria havia encontrado a oportunidade de desenvolvimento voltando-se para o
mercado interno. Resultado: a cidade estava em plena fase de industrialização e em
ritmo inédito de expansão urbana. Embora persistissem os defensores do modelo
agroexportador e fossem denunciados os perigos da urbanização desenfreada, a visão
do crescimento urbano unia-se ao industrialismo, que se tornava motor da expansão
imobiliária (CAMPOS, 2002, p. 596).
O avanço da indústria gerava o aparecimento de profissionais de posições
laterais, ou seja, aquela parcela de trabalhadores que estavam entre os patrões e os
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
150
operários, como por exemplo, os técnicos, os artesãos e os profissionais liberais.
Muitos imigrantes ocupavam tais posições. Tratava-se, portanto da expansão da
“classe média, composta por camadas predominantemente urbanas que estavam
motivadas pelo consumo e aspiravam ascensão social, procurando seguir os
caminhos dos mais bem sucedidos (HOMEM, 1980, p. 143).
Devido a sua localização próxima ao centro e ao antigo prestígio, o bairro de
Higienópolis surgia como alvo do assédio da especulação imobiliária e da classe
média, ávida por usufruir dos lugares até então privativos à elite.
Alguns fatores foram determinantes para a alteração da dinâmica do bairro e o
abandono dos casarões, tais como: o falecimento de alguns moradores importantes, a
mudança de algumas famílias para outros bairros e a divisão das fortunas pelos
herdeiros. Além de estarem obsoletos, os casarões demandavam grande quantidade
de empregados para o bom funcionamento, realidade não mais compatível. Sendo
assim, muitos deles permaneceram fechados por longos períodos e outros foram
transformados em escolas, pensões e até em cortiços. Muitos foram vendidos pelos
herdeiros, que não tinham interesse em arcar com o alto custo de manutenção e
preferiam desfazer-se, negociando os mesmos com as construtoras que pretendiam
construir edifícios. Alguns terrenos remanescentes também foram vendidos inteiros ou
retalhados por herdeiros (RIGHI e GAGETTI, 2001, p. 69).
As primeiras iniciativas referentes à expansão vertical do bairro de Higienópolis
partiram de seus próprios moradores ou proprietários, visando tanto a exploração para
renda quanto para o uso de suas próprias famílias. Mantendo a tradição dos familiares
residirem próximos, em torno da autoridade patriarcal, foram construídos alguns
prédios com um apartamento destinado para cada membro da mesma família,
constituindo verdadeiros clãs (HOMEM, 1980, p. 154).
O bairro começou a apresentar mudança de ocupação do solo a partir de 1933
com a construção do primeiro edifício, o Condomínio Alagoas, erguido para Abel
Drummond pela Construtora Barreto Xande & Cia, na rua de mesmo nome, esquina
com a Avenida Angélica. Este foi o primeiro edifício da cidade a contar com um
apartamento por andar e lojas no térreo. Esse tipo de ocupação mista era uma forma
de driblar a legislação que impedia o comércio no bairro, sendo posteriormente
seguida por outros tantos edifícios de Higienópolis. Com cinco andares e mais o térreo
com duas lojas, o Condomínio Alagoas era uma superposição de palacetes agrupados
na vertical, com quatro dormitórios e demais dependências em cada apartamento.
Mesmo com tantas críticas feitas pela imprensa, contrárias à construção de edifícios
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
151
em bairros residenciais, o prédio foi um sucesso comercial e rapidamente todos os
apartamentos foram alugados (GAGETTI, 2000, p. 48).
Figuras 76 e 77: Fotos do Edifício Alagoas, primeiro edifício do bairro.
Fotos: Luciana Capoccia, 2009 .
Em 1935, Andrea Matarazzo encomendou a construção do Edifício Santo
André, o segundo edifício do bairro, localizado na esquina da Avenida Angélica com a
Rua Piauí, em frente à Praça Buenos Aires. A construção foi feita pela empresa
Matarazzo e Pilon, de seu filho, o engenheiro Francisco Matarazzo Neto, e do
arquiteto francês Jacques Pilon. O edifício contava com sete andares e uma loja no
térreo, que logo foi ocupada por uma barbearia. Os apartamentos eram de luxo e
rapidamente foram também todos alugados (GAGETTI, 2000, p. 48). Livre de uma
ornamentação superficial, sua estética se destacava pela volumetria criada pelas
curvas e pelos amplos terraços. Embora ele apresente uma planta tradicional
compartimentada, é possível perceber a adoção de alguns princípios racionalistas,
como por exemplo, a modulação dos cômodos. Também são adotadas aberturas mais
generosas, garantindo boa luminosidade interna. O hall de entrada ostenta um mural
atribuído ao artista Antonio Gomide.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
152
Figura 78: Edifício Santo André.
Foto de Luciana Capoccia, 2009.
Figura 79: Planta do Edifício Santo André.
Fonte: FIGUEROA. 2002, P1.F06.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
153
Em 1936 foi construído o Edifício Higienópolis, de autoria do arquiteto Rino
Levi, localizado à Rua Conselheiro Brotero, 1092. O projeto conta com sete
pavimentos ao todo, sendo que apenas quatro repetem a planta tipo. Os dois primeiros
são modificados para permitir a entrada principal e o acesso lateral para as garagens
aos fundos e o último tem somente duas amplas coberturas com terraços. Este edifício
posteriormente foi demolido provavelmente devido a sua pequena altura em uma área
tão valorizada (RIGHI e GAGETTI, 2001, p. 77).
Figura 80 e 81: Edifício Higienópolis de Rino Levi – fachada frontal e fachada dos fundos.
. Fonte: Acrópole, n°. 27, 1940, p. 107 e 108.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
154
Figura 82: Edifício Higienópolis – planta do andar tipo.
Fonte: ACRÓPOLE,. 27, 1940, p. 110.
Em 1937 foi construído o Edifício Augusto Barreto, nome do rico fazendeiro de
café de Mococa que o encomendou para abrigar sua residência e de seus
descendentes. Ele foi erguido no local antes ocupado por duas casas de sua
propriedade, na Avenida Angélica, ao lado do Edifício Santo André e foi construído
pela empresa Barreto Xande & Cia, dos engenheiros filhos de Augusto Barreto. O
edifício conta com um apartamento por andar e unidades espaçosas com quatro
dormitórios cada e mais duas salas conjugadas, cozinha, duas despensas, terraço de
serviço e ainda dependência de empregada (quarto e banheiro). Ele possui duas
circulações distintas, social e serviço, com um elevador cada. Essa obra
impressionava pela altura significativa para época, dez andares, e também pela
pureza do estilo Art Déco, tornando-se referência de arquitetura paulista (HOMEM,
1980, p. 155).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
155
Figuras 83 e 84: Edifício Augusto
Barretto. Foto da fachada e planta do
apartamento tipo.
Fonte Revista Acrópole, nº 5, 1938, p. 37
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
156
O Edifício Dom Pedro II foi o primeiro edifício da Avenida Higienópolis, mas,
por ser construído em estilo neoclássico e contar com apenas três pavimentos (térreo
e mais dois), ele se harmonizava perfeitamente com os casarões ao seu redor, sendo
inclusive implantado à semelhança dos mesmos, com os recuos respeitados e
ajardinados. O edifício foi construído em 1938 para abrigar a família do fazendeiro
Nhonhô Magalhães, no local antes ocupado por sua residência (MACEDO, 1982, p.
100).
Figura 85: Fachada do Edifício Dom Pedro II.
Foto de Luciana Capoccia, 2009.
A primeira fase da verticalização do bairro ocorreu de forma tímida e pontual.
Somente a partir da década de 1940, a verticalização se intensificou, sendo que a
construção dos prédios ocorreu a princípio nas áreas das casas mais antigas do bairro
e dos maiores lotes. Os primeiros edifícios surgiram, portanto, nas redondezas da
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
157
Praça Buenos Aires e Avenida Angélica, pois se tratava da área mais valorizada por
constituir um eixo de ligação entre o centro novo da cidade, a região da Paulista e os
bairros de Cerqueira Cezar e Pinheiros.
Os primeiros inquilinos de apartamentos do bairro faziam parte de uma elite
que se dispunha a pagar mais para se beneficiar do status e da localização que o
bairro oferecia. O aluguel de um desses apartamentos era alto comparado a uma casa
do mesmo bairro. Nos anos de 1940, enquanto o aluguel de uma casa grande do
mesmo bairro saía por oitocentos e cinqüenta mil réis mensais, o custo de um
apartamento não saía por menos de um conto de réis (HOMEM, 1980, p.156). Alguns
estrangeiros prestigiaram a novidade logo de início, pois conheciam esse tipo de
moradia em seus países de origem. Ao mesmo tempo, a população local oferecia
resistência em aceitá-los por relacioná-los com moradia coletiva, ou seja, com cortiços.
A iniciativa imobiliária se apegava na imagem aristocrática de glamour e
prestígio do passado recente de Higienópolis que, desde o seu início, era tido como
um bairro elitista e preferido pelos ricos e mantinha assim sua aura de sucesso. A
publicidade acenava com a possibilidade de que um maior número de pessoas poderia
residir num dos pontos mais nobres da cidade e usava o atrativo das facilidades dos
financiamentos, atendendo diretamente os anseios e interesses de uma classe em
ascensão, desejosa por status.
Nas fachadas e entradas dos edifícios procurava-se repetir a sofisticação dos
palacetes do período anterior, com o uso de elementos neoclássicos e de outros
estilos históricos, transmitindo uma sensação de opulência aos compradores.
Nos anos que precederam a Segunda Guerra, a arquitetura paulista atravessou
uma fase heróica em que os arquitetos se empenharam na implantação da arquitetura
moderna ou internacional enfrentando o preconceito vigente e contrariando a antiga
geração de profissionais do ramo da construção civil (GAGETTI, 2000, p.39). O bairro
de Higienópolis se inseriu nessa realidade sendo palco da manifestação dessa nova
arquitetura com altíssima qualidade. Grandes personagens atuaram nesse bairro,
incluindo os arquitetos mais importantes da época. Tanto os brasileiros, como Rino
Levi e Vilanova Artigas, como os estrangeiros, como Jacques Pilon, Lucjan Korngold,
Victor Reif e Franz Heep, trouxeram as experiências de seus países de origem onde a
moradia vertical já era desenvolvida e bem aceita.
O bairro de Higienópolis seguiu em intenso processo de verticalização a partir
da década de 1940, destacando-se por concentrar em uma área relativamente restrita
da cidade grande quantidade de edifícios residenciais que foram concebidos com a
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
158
aplicação apurada dos preceitos modernistas, tornando-se exemplo da consagrada
produção de arquitetura moderna brasileira, conforme apresentação do capítulo a
seguir.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
159
Capítulo 4 - Edifícios residenciais em Higienópolis
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
160
N
este capítulo estão apresentados os edifícios selecionados para análise da
produção verticalizada do bairro de Higienópolis. Embora a pesquisa tenha detectado
a construção de mais de duzentos edifícios residenciais no referido período dentro da
área delimitada, foram escolhidos apenas os considerados como mais emblemáticos e
aqueles que tiveram matérias publicadas em livros, revistas ou trabalhos acadêmicos,,
com o intuito de comprovar a tese de que a qualidade especial e peculiar conferida ao
conjunto de edifícios residenciais do bairro de Higienópolis construídos nas décadas
de 1940, 1950 e 1960, deriva de dois fatores básicos: as inter-relações existentes
entre os edifícios e seu entorno urbano, herdadas em parte da configuração inicial do
bairro; e também da apurada aplicação dos preceitos modernistas nos projetos
arquitetônicos. Não foi possível, porém, encontrar o projeto de arquitetura de todos,
portanto alguns deles estão apresentados somente pelas imagens de fachada.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
161
4.1
Pioneiros
no horizonte:
década de 1940
Neste item estão relacionados os seguintes edifícios:
Ficha 1 Edifício Buenos Aires
Ficha 2 Edifício Santa Amália
Ficha 3 Edifícios Piauí I e II
Ficha 4 Edifício Goiás
Ficha 5 Edifício Higienópolis
Ficha 6 Edifício Piauí
Ficha 7 Edifício Prudência
Ficha 8 Edifício Louveira
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
162
FICHA 1: EDIFÍCIO BUENOS AIRES
Foto: Luciana Capoccia
Fonte: Acrópole, set. 1942.
Planta de localização
Dados
Data: 1938-1940
Endereço: Rua Alagoas, 664
Terreno: 352m² - retangular
(16x22m)
Taxa de ocupação: 41,2% (146m²)
Coeficiente de aproveitamento: 2,4
(876m² de área construída)
Tamanho das unidades:
Tipo1: três dormitórios – área: 121m²
Tipo 2: dois dormitórios – área:
105m²
Arquiteto /Construtora: Lindenberg &
Assumpção Engenheiros Civis e
Construtores
Publicações: Acrópole n. 23 / 1940
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
163
EDIFÍCIO BUENOS AIRES
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo.
Fonte: Figueroa, 2002, P1. F10.
Pavimento.
Fonte: Figueroa, 2002, P1. F10.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
164
FICHA 2: EDIFÍCIO SANTA AMÁLIA
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1943 (publicação)
Endereço: Rua Piauí, 760
Terreno: 1525m² - lote irregular
de pavimentos: térreo mais 10
andares.
apartamentos por andar: dois
apartamentos (do 1° ao 7°- com 2 e
3 dormitórios) e um apartamento (do
ao 10° - com 4 dormitórios).
Estacionamento: coberto e localizado
no fundo do lote.
Arquiteto/Construtora: Lucjan
Korngolg / Francisco Matarazzo
Netto
Publicações: Acrópole n. 64 - 1943
Acrópole, n. 64 - 1943.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
165
EDIFÍCIO SANTA AMÁLIA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo - 1° ao 7° andar
. Fonte: Acrópole, n. 64 - 1943
Pavimento Tipo - 8° ao 10° andar
.
Fonte: Acrópole, n. 64 – 1943
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
166
FICHA 3: EDIFÍCIO PIAUÍ I E II
Fotos: Luciana Capoccia
Acrópole, n. 105 – 1947.
Planta de localização
Dados
Data: 1947 (publicação)
Endereço: Rua Piauí, 1207 e 1237
de pavimentos: térreo mais 4
andares
apartamentos por andar: dois
apartamentos por andar.
de dormitórios por apartamento:
dois e três dormitórios (no térreo) e
três dormitórios nos pavimentos
superiores
Arquiteto/Construtora: Alfred
Düntuch - Luz-Ar Ltda.
Publicações: Acrópole n. 105 – 1947
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
167
EDIFÍCIO PIAUÍ I E II
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo.
Fonte: Acrópole, n. 105 – 1947
Pavimento Tipo.
Fonte: Acrópole, n. 105 – 1947
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
168
FICHA 4: EDIFÍCIO GOIÁS
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1948 (publicação)
Endereço: Avenida Angélica, 2044
de pavimentos: térreo mais 11
andares
apartamentos por andar:
Arquiteto/Construtora: João
Francisco de Andrade
Publicações: Acrópole n. 124 / 1948
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
169
EDIFÍCIO GOIÁS
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo.
Fonte: Acrópole, n. 124 – 1948
Pavimento Tipo.
Fonte: Acrópole, n. 124 – 1948
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
170
FICHA 5: EDIFÍCIO HIGIENÓPOLIS
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1947 (publicação)
Endereço: Rua Sabará, 106
de pavimentos: Térreo mais 10
andares.
apartamentos por andar: quatro
apartamentos divididos entre dois
blocos independentes.
Arquiteto/Construtora: Fortunato
Ciampolini Lucjan Korngold
Publicações: Acrópole n. 107 / 1947
Acrópole, n. 107 / 1947.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
171
EDIFÍCIO HIGIENÓPOLIS
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
.
Fonte: Acrópole, n. 107 / 1947
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Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
172
FICHA 6: EDIFÍCIO PIAUÍ
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1949 (construção)
Endereço: Rua Piauí, 423
de pavimentos: pilotis mais 9
andares
apartamentos por andar:
Arquiteto/Construtora: João Artacho
Jurado
Publicações: Acrópole n. 151 / 1950
(201-6) Arquitetura e Engenharia n.
15 / 1951 (58-9)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
173
EDIFÍCIO PIAUÍ
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Vista da fachada principal.
Detalhe da rampa de acesso.
Entrada. Varanda do apartamento 101.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
174
FICHA 7: EDIFÍCIO PRUDÊNCIA
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1944 (projeto)
Endereço: Av. Higienópolis, 235
Terreno: 3942m² - irregular
Taxa de ocupação: 40,8% (1593m²)
Coef. De aproveitamento: 4,0
(17135m² de area construida).
de pavimentos: térreo mais dez
andares
apartamentos por andar: quatro
apartamentos por andar
Tamanho das unidades: Tipo 1 –
351m²;
Tipo 2 – 316m² (os dois tipos com
quatro dormitórios).
Arquiteto/Construtora: Rino Levi e
Roberto Cerqueira César / Barreto
Xande & Cia
Publicações: Acrópole n. 81, 1945
Arquitetura e Engenharia, 1951, p.17
Xavier, Lemos e Corona, 1983, p.16
Vilanova Artigas, 1997, pp.55-7
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
175
EDIFÍCIO PRUDÊNCIA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento 2° andar:
1-elevadores principais
;
2-elevadores de serviço
;
3-hall de entrada
e espera
;
4-porteiros
;
5-acesso de automóveis
;
6-acesso de pedestres
;
7-playground
Pavimento tipo (3° ao 11°):
1-elevadores principais
;
2-elevador de serviço
;
3-estar, jantar e
dormitórios
;
4-corredores
;
5-banheiros
;
6-copas e cozinhas
;
7-quartos de serviço
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
176
EDIFÍCIO PRUDÊNCIA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento 11° andar:
1-elevadores principais
;
elevador de serviço
;
3-estar
;
4-biblioteca
;
5-
w.c.
;
6-banheiros
;
7-dormitórios
;
8-copa e cozinha
;
9-quartos de serviço
;
10-jantar.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
177
FICHA 8: EDIFÍCIO LOUVEIRA
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1946 (projeto)
Endereço: Praça Vilaboim, 144 e
160, esquina Rua Pia
de pavimentos: pilotis mais 8
andares
apartamentos por andar: 2
Arquiteto/Construtora: Vilanova
Artigas
Publicações: Acrópole n. 184 – 1954
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
178
EDIFÍCIO LOUVEIRA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo:
1-dormitório
;
2-banheiro
;
3-sala
;
4-w.c
;
5-armário
;
6-cozinha
;
7-salão
;
8-
terraço
;
9-terraço serviço
;
10-hall
;
11-vazio
;
12-caixa d água
;
13- casa de maquinas
;
14-
garagem
;
15-lixo
;
16-poço do elevador
Embasamento:
12-caixa d água
;
13- casa de maquinas
;
14-garagem
;
15-lixo
;
16-poço do
elevador
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
179
EDIFÍCIO LOUVEIRA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo:
1-dormitório
;
2-banheiro
;
3-w.c.
;
4-cozinha
;
5-terraço de serviço
;
6-terraço
;
7-salão
;
8-poço de elevadores
;
9-casa de maquinas
;
10-lixo
.
Corte transversal do projeto.
Fonte: Acrópole n. 184 – 1954
; 13
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
180
Descrição e análise
Os edifícios apresentados neste item foram construídos na década de 1940 e
fazem parte da primeira fase de verticalização do bairro de Higienópolis
13
. A maioria
deles apresenta como característica comum o fato de terem sido empreendidos por
iniciativa dos próprios proprietários dos lotes, onde anteriormente estavam
implantados seus palacetes.
Alguns deles podem ser classificados dentro daquilo que Mário Figueroa (2002,
p. 66) chama de “protomodernismo paulista”, o qual poderia ser considerado como
uma linguagem intermediária entre o dogmatismo acadêmico e o pragmatismo
moderno, delimitada temporalmente e com características muito precisas. Esses
exemplares apresentam uma combinação entre elementos neoclássicos, modernos e
até mesmo neocoloniais, incorporando também elementos decorativos que podem ser
identificados com o Art Déco. São edifícios que priorizam a unidade compositiva
urbana, incorporando os princípios do “continuum edificado” que caracteriza o
ambiente urbano, ou seja, levando em consideração sua condição complementar do
espaço já edificado, respeitando a história e a tradição do lugar. O edifício não é
pensado isoladamente, ou seja, o contexto é determinante. Respeitando as diretrizes
urbanísticas da época, as edificações são erguidas no alinhamento das calçadas, ou
com pequenos recuos, no sentido de formar, com seus vizinhos, um volume contínuo
de altura similar. Variações nas aberturas, nas varandas, nos revestimentos e na
marcação da entrada conferem individualidade sem quebrar a continuidade do
conjunto. Por vezes, alturas suplementares são obtidas sem quebrar o limite imposto
no alinhamento, mediante escalonamento, conforme as normas estabelecidas no
Código de Obras paulistano. As esquinas costumam ser marcadas por volumes
curvos, varandas também curvas, ou valorizadas por outro tratamento diferenciado.
São exemplos de edifícios do gênero: o Santo André, o Augusto Barretto, o Buenos
Aires, o Santa Amália e o Higienópolis.
quem classifique esses exemplares na família Art Déco. Segundo Segawa
(2002, p. 61), o Art Déco foi o suporte formal para inúmeras tipologias arquitetônicas
que se afirmavam a partir dos anos de 1930.O Art Déco representava uma solução
formal menos rebuscada e, considerada mais moderna, seria uma ponte para a
13 Embora a verticalização do bairro tenha iniciado na década de 1930, conforme apresentado no item
3.3 deste trabalho.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
181
adoção do “estilo modernizado”, como Nadia Somekh classifica os edifícios sem
ornamentos desse período (SOMEKH, 1997).
Maria Lúcia Pinheiro (2008) explica os motivos da rápida aceitação do Art Déco
em São Paulo:
Na verdade, apenas o Art Déco poderia servir à intenção claramente
especulativa da verticalização do centro da cidade nas décadas de
1930 e 1940, já que, por um lado, este estilo representou, de fato,
apenas uma atualização dos valores arquitetônicos pré-existentes,
sem questioná-los em profundidade; de outro, implicava realmente
numa diminuição dos custos da construção, pela diminuição dos
ornamentos ou por sua estilização, vale dizer, simplificação. (...) o Art
Déco possibilitou uma atualização formal que o interferia no canteiro
de obras, criando uma imagem de modernidade aparente, que
satisfazia os promotores da verticalização sem sacrificar-lhes os
lucros.
Como particularidade construtiva, observa-se que muitos desses edifícios
construídos durante a primeira etapa de verticalização do bairro foram assentados
diretamente sobre o terreno, sem pilotis e sem garagens no subsolo. Apesar do
automóvel naquela época representar um ícone da modernidade urbana, ele ainda
exercia papel secundário na vida paulistana e não era item determinante na
composição programática dos edifícios. Portanto, muitos edifícios eram concebidos
sem garagens ou, quando isso acontecia, eram oferecidas poucas vagas, sempre em
número inferior à quantidade de apartamentos (FIGUEROA, 2002, p. 75).
Os apartamentos construídos nesse período apresentam plantas tradicionais,
geralmente com cômodos espaçosos e bem delimitados, ou seja, um ambiente para
cada função. A sala de jantar, por exemplo, freqüentemente é separada da sala de
estar. A cozinha é grande, e na maioria dos casos, dividida em copa e cozinha (em
alguns casos, chamada de sala de almoço). Também são recorrentes as duas
entradas separadas, a social e a de serviço; assim como o quarto de empregada e a
área de serviço. Também é freqüente a existência da chamada galeria ou vestíbulo,
um espaço destinado à transição entre a porta de entrada e a sala, como um hall típico
das casas européias.
Na maioria dos casos, a circulação interna do apartamento foi concebida com a
peculiar preocupação de possibilitar a ligação entre a área intima e a de serviço sem
precisar passar pela área social, o que sugere uma herança do passado senhorial, em
que os escravos não deveriam incomodar seus senhores circulando
desnecessariamente. Nos apartamentos dessa época existem geralmente dois
banheiros: um grande (sempre com banheira), para atender a toda a família, e um
pequeno, para uso exclusivo da empregada doméstica, pois era inadmissível
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
182
compartilhar o uso do banheiro com os serviçais - concepção que também remete a
formações sociais tradicionais calcadas no escravismo. Em algumas exceções, como
nos casos dos edifícios Piauí e Goiás, existia um outro banheiro, menor que o
principal, também para uso da família, com acesso pelo hall dos dormitórios. Não era
comum a existência de lavabo ou suíte.
A varanda, presente em alguns edifícios desse período, era um dos atrativos
da moradia vertical e em alguns casos era chamada de terraço ou balcão.
O Edifício Buenos Aires (ficha 1), construído entre 1938 e 1940, foi projetado e
construído pela empresa Lindenberg & Assunção Engenheiros Civis e Construtores à
Rua Alagoas, 664. De propriedade de Dr. Joaquim Pires Fleury, ele conta com oito
pavimentos mais o térreo, tendo uma implantação junto ao alinhamento do lote, sem
recuo frontal. O acesso principal está localizado na lateral do edifício, e a garagem
está localizada nos fundos. As linhas do edifício, como os arremates de platibandas e
alguns detalhes curvos, fazem referência à linguagem decorativa Art Déco.
Figura 86: Edifício Buenos Aires atualmente em
restauro.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
183
Uma característica marcante do projeto é o jogo de volumes da fachada, que
alterna vários planos e alturas diferentes, dando a falsa impressão de ser um conjunto
de torres interligadas. Este edifício possui um apartamento por andar, com plantas
ainda bastante convencionais. Nos últimos andares, que apresentam volumes
progressivamente menores, fortalecendo a alusão a várias torres, os apartamentos
são também menores, e esse escalonamento forma terraços que tiram partido da
paisagem a vista original abrangia a Praça Buenos Aires, por sobre o lote vizinho, e
a vertente da Rua Alagoas que conduz ao Vale do Pacaembu. Atualmente, o edifício
está em processo de restauro.
Em 1943 foi concluído o Edifício Santa Amália (ficha 2) no lugar onde antes
ficava a casa da família Alves Lima, à Rua Piauí, 760, em frente à Praça Buenos Aires.
O projeto, de autoria do arquiteto Lucjan Korngold, ficou a cargo da construtora de
Francisco Matarazzo Neto. Ele foi encomendado pelo conde Andrea Matarazzo para
abrigar sua família e demais inquilinos. O edifício conta com dez andares e mais o
térreo, sendo que do primeiro ao sétimo piso, o pavimento tipo é composto por dois
apartamentos, um deles com dois dormitórios e o outro com três. Nos três últimos
andares são apenas um apartamento por andar, com quatro dormitórios cada e terraço
frontal. A garagem fica localizada aos fundos do terreno, numa construção separada, à
semelhança de uma edícula. No pavimento térreo, além da entrada social, existem
dois apartamentos menores. O edifício apresenta plantas compartimentadas, com
muita divisão de paredes e portas entre os cômodos, inclusive com vários halls de
distribuição.
São elementos modernos de interesse neste edifício a modulação da estrutura
de concreto que se traduz na composição da fachada em grelha, tirando partido dos
terraços e de amplas aberturas para aproveitar a paisagem da praça fronteira, os
caixilhos com persianas de enrolar e o revestimento em de pedra. Para possibilitar
esses terraços em balanço (dos quais muitos foram posteriormente encaixilhados) o
edifício ergue-se em ligeiro recuo do alinhamento frontal. A entrada, marcada por
elegante revestimento e iluminação, realça o caráter prestigioso do empreendimento.
A inclusão das garagens ao fundo também revela o perfil social privilegiado pretendido
para os moradores.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
184
Figura 87: Imagem atual do Edifício Santa Amália.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Os Edifícios Piauí I e Piauí II (ficha 3), de propriedade de Germaine Lucie
Burchard, filha de Martinho Burchard, loteador do bairro, foram projetados pelo
arquiteto Alfred Düntuch, construídos pela empresa Luz-Ar na década de 1940 e
publicados na Revista Acrópole em 1947. Localizados na Rua Piauí , 1207 e 1237, os
edifícios apresentam quatro pavimentos mais o térreo, ladeando a passagem que
conduz à outra rua, situada pouco mais abaixo na encosta. Embora ostentem algumas
diferenças nas fachadas, suas plantas são idênticas, com dois apartamentos no térreo
de dois e três dormitórios, e nos andares superiores dois apartamentos por andar com
três dormitórios cada e plantas diferenciadas.
Novamente temos elementos modernos convivendo com certo
conservadorismo na composição: terraços em balanço, grandes janelas com persianas
de enrolar, revestimento em de pedra marcado por ranhuras que acentuam a
modulação estrutural racionalista, embora não se manifeste uma grelha comparável a
do Santa Amália. Os ressaltos que envolvem as aberturas, porém, são mais marcados
e reúnem várias janelas em bandas horizontais no centro da fachada, remetendo à
idéia de janela corrida. Talvez o elemento mais interessante seja a volumetria dos
prédios gêmeos, os quais, com sua altura modesta, a passagem entre ambos e os
pequenos recuos ajardinados, configuram um espaço urbano diferenciado.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
185
Figuras 88 e 89: Edifício Piauí II e Edifício Goiás.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Goiás (ficha 4), localizado na Avenida Angélica, 2044, esquina com a
Rua Goiás, foi projetado pelo arquiteto João Francisco de Andrade e foi publicado na
revista Acrópole no ano de 1948. Seu proprietário era o Dr. Manoel da Silva Carneiro.
Ele possui onze pavimentos mais o térreo. No pavimento térreo existe um apartamento
pequeno destinado a funcionários e outro maior, com três dormitórios. Nos onze
andares superiores existem dois apartamentos por andar, um de dois dormitórios e
outro de três. Trata-se de uma construção de linhas francamente modernas, com
planos de janelas envidraçadas que ocupam todo o pé-direito de cada pavimento e se
sobressaem na fachada em relação ao bloco principal. Na época, isto era uma
novidade em edifícios residenciais.
Embora Rino Levi tivesse projetado um Edifício Hygienopolis na Rua
Conselheiro Brotero nos anos 1930, em 1947 foi construído outro edifício com nome
de Higienópolis (ficha 5), localizado à Rua Sabará, 106, esquina com a Avenida
Higienópolis. Este foi construído pela Construtora Companhia Nacional de Comércio e
Engenharia e projetado pelos arquitetos Fortunato Ciampolini e Lucjan Korngold, com
dez andares mais o térreo. Os proprietários incorporadores eram Francisco Scarpa,
Christian Von Bulow, Roberto Mesquita Sampaio Junior e Stephan Neuding.
Em cada pavimento articulam-se quatro apartamentos com plantas distintas,
com três dormitórios cada. A planta do apartamento obedece a uma divisão modular e
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
186
seqüencial. Grandes aberturas e panos de vidro garantem boa luminosidade aos
apartamentos. Novamente encontramos a solução de terraços em balanço, agora
mais arrojada, formando uma grelha evidenciada pela diferença na cor mais clara que
a do plano da fachada. Mais uma vez, tal recurso permite a incorporação de uma
paisagem valorizada, no caso a da aristocrática Avenida Higienópolis. Juntamente
com o recuo ajardinado, efetua-se uma transição suave entre o edifício e seu entorno,
diferenciando, valorizando a entrada e preservando alguma privacidade nos
apartamentos, ao mesmo tempo em que permite o máximo usufruto das vistas à
época, ornada pelo espetáculo da arborização abundante e dos bem-cuidados jardins
que rodeavam os casarões do bairro. Devido às suas características de fachada e
clareza estrutural, o Edifício Higienópolis pode ser considerado um projeto bastante
moderno, embora não tenha assumido ainda uma linguagem tipicamente modernista.
Figura 90: Edifício Higienópolis.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Piauí (ficha 6) foi construído em 1949, com projeto de João Artacho
Jurado - celebrizado por seus empreendimentos que misturavam referências kitsch
com elementos modernistas, seduzindo um público de renda média para a moradia
vertical moderna. Edificado pela construtora de Artacho Jurado, a Monções, o edifício
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
187
localiza-se na Rua Piauí, 423, possui nove pavimentos mais o térreo em pilotis e foi
voltado à venda direta, sendo a proprietária a própria Construtora Monções. Este
edifício, mesmo projetando-se diretamente sobre o alinhamento do lote, oferece uma
boa relação com o bairro. O térreo recuado permite que o acesso social do prédio seja
feito por uma rampa em curva, elevando-se ligeiramente em meio a canteiros
ajardinados, que liga a calçada à porta principal, obtendo uma perfeita conexão do
espaço público com o privado. O espaço público é visualmente ampliado, enquanto a
diferença de nível protege a privacidade da entrada. Pilares cilíndricos revestidos com
pastilhas formam uma espécie de colunata moderna enquadrando esse acesso. Os
intercolúnios envidraçados funcionam como pilotis, mantendo a idéia de um térreo
permeável.
Figura 91: Rampa de acesso do Edifício Piauí.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
João Artacho Jurado (1907-1983) apesar de ter sido um personagem polêmico,
desempenhou um importante papel na arquitetura paulista, inaugurando um novo
conceito de moradia na medida em que incorporou áreas de lazer aos condomínios
como salão de festas, salão de jogos e piscina. Ele não era arquiteto formado,
abandonou os estudos, sendo por isso discriminado e impedido de exercer
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
188
oficialmente a profissão. Porém, por ser o proprietário da Construtora Monções, ele
contava com a colaboração de outros profissionais que assumiam a autoria de seus
projetos. Jurado foi responsável por outros projetos de edifícios da cidade como: o
Duque de Caxias (1947), o Pacaembu (1948), o General Jardim (1948), o Viadutos
(1955), o Cinderela (1956), o Louvre (1957), o Planalto (1957), o Saint Honoré (1958),
o Jardim da Hortênsias (1957) e o Bretagne (1958) (FRANCO, 2003).
Os edifícios de Jurado tinham como marca registrada uma ornamentação
exagerada, o que lhes conferiam certa peculiaridade, sendo facilmente identificados.
Enquanto o modernismo vigente pregava a simplicidade e a clareza estrutural, Jurado
caminhava na contramão, usando e abusando dos ornamentos, do formalismo e das
cores. Mas, ao mesmo tempo, ele incorporava princípios da arquitetura moderna,
como o uso dos pilotis abertos, as plantas livres, as coberturas ajardinadas e a
preocupação com a qualidade de vida do morador. Nesse contexto, foi concebido o
Edifício Piauí, e segundo o próprio Jurado declarou, nesse edifício ele inaugurou sua
fase mais característica adotando os “princípios de conforto” que iriam orientar toda a
sua futura produção arquitetônica (SANTOS, 1989, p.84).
O Edifício Prudência (ficha 7) de Rino Levi e o Edifício Louveira (ficha 8) de
Vilanova Artigas são os grandes destaques desse período, pois ao aplicarem
claramente os preceitos modernistas, inauguraram no bairro uma nova linguagem
arquitetônica assumidamente filiada à Arquitetura Brasileira Moderna, ou seja, à
tradução nacional do Movimento Moderno, triunfante no segundo pós-guerra.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
189
Figura 92: Edifício Prudência
.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Prudência, construído entre 1944 e 1948, é considerado um dos
marcos da arquitetura residencial vertical paulistana. Foi projetado por Rino Levi e seu
sócio Roberto Cerqueira César, com paisagismo de Roberto Burle Marx. Localizado na
Avenida Higienópolis, 235, com dez andares e o térreo em pilotis, conta com quatro
amplos apartamentos por andar, sendo que nos últimos andares são dois
apartamentos especiais de cobertura, ainda maiores, com jardins. Edificado pela
construtora Barreto Xande & Cia, essa obra se destaca por sua grande qualidade
plástica e também pelo seu requinte construtivo, conforto e acabamento. Além disso,
ele foi um dos primeiros a oferecer aos proprietários opções para a organização dos
espaços internos e instalação de ar refrigerado com controle individual (GAGETTI,
2000, p. 88; HOMEM, 1980, p. 156).
Na concepção do projeto do Edifício Columbus (1933? Verificar), Rino Levi
tinha aplicado preceitos racionalistas, porém, no Edifício Prudência, ele pôde
experimentar a aplicação plena dos cinco elementos da linguagem moderna de Le
Corbusier: pilotis, terraço-jardim, planta livre, fachada livre da estrutura e janelas em
fita. A obra foi planejada para atender a um público de alto poder aquisitivo, sendo que
o apartamento-tipo possui 400m
2
e o edifício ainda conta com duas coberturas no
último andar. A planta apresenta divisões fixas somente na área de serviço, sendo que
no restante do apartamento a planta é completamente livre e permite fácil
remanejamento dos ambientes - concebidos para serem divididos por armários ou
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
190
divisórias, respeitando o alinhamento dos pilares. O partido reproduz ainda outras
diretrizes da arquitetura racionalista, como volume prismático, grandes vãos
horizontais e integração com as áreas públicas. As linhas curvas, presentes tanto no
térreo como na cobertura, nos jardins e painéis de Burle Marx, contrastam com a
ortogonalidade do edifício e são característica típica das interpretações brasileiras do
Movimento Moderno.
Pode-se identificar no Edifício Prudência a mesma preocupação em tirar
partido da localização privilegiada, com seus imensos terraços em balanço
descortinando a Avenida Higienópolis. O térreo recuado e ajardinado, marcado por
uma seqüência de pilares com seção retangular, realiza a mesma transição harmônica
com o exterior, ampliando visualmente o domínio público e preservando o ambiente
privado. O volume horizontal do edifício está em perfeita proporção com a largura da
avenida, ladeando a via com suas linhas predominantemente horizontais, quebradas
pelo ritmo dos pilares. Suavemente pousado em meio aos casarões, o edifício tornou-
se um emblema do modernismo discreto e elegante que perpassa a obra de Levi. Em
termos de estrutura, instalações e principalmente dos arranjos internos dos
apartamentos, a modernidade do Ed. Prudência é marcante mesmo para os padrões
atuais e sua planta livre, um conceito revolucionário, foi apenas recentemente
redescoberta pelo mercado imobiliário paulistano. Este edifício instaurou um padrão de
qualidade que poucos empreendimentos pretenderam emular e permanece até hoje
como o ponto alto da moradia coletiva no universo do bairro de Higienópolis, se não na
cidade de São Paulo.
O Edifício Louveira (ficha 8), inaugurado em 1949, é também um ícone da
arquitetura moderna paulista, projetado por Vilanova Artigas e Carlos Cascaldi e
edificado na Praça Villaboim, 144 e 160. Apresenta princípios racionalistas vinculados
à Escola Carioca e às lições de Le Corbusier. Assentado em terreno de esquina
irregular, O Ed. Louveira é composto por duas lâminas paralelas apoiadas em pilotis,
com sete e oito pavimentos cada. Entre os blocos existe um vão de vinte metros que
forma uma praça ajardinada fazendo a integração entre eles e também com o espaço
urbano, adaptando-se perfeitamente à Praça Vilaboim que está à sua frente,
prologando-a visual e funcionalmente. Esse jardim interno garante excelente insolação
e ventilação aos apartamentos.
Os dois blocos estão alinhados com a Rua Piauí, voltando suas fachadas
laterais em empenas cegas para a Praça Vilaboim. Uma das fachadas frontais faceia a
Rua Piauí enquanto a outra aproveita o jardim interno. Por uma questão de orientação
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
191
solar, nas outras faces estão as áreas e acessos de serviço, os quais Artigas não quis
esconder.
O Edifício Louveira é um excelente exemplo de implantação no lote e de boa
integração com o bairro, pois estabelece continuidade visual com o espaço exterior,
tanto em termos volumétricos quanto à presença de vegetação. O jardim se harmoniza
com os pilotis e o pátio interno além de servir como local de convívio entre os
moradores, configura-se como um espaço semi-público, tornando-se uma extensão do
domínio público na medida em que está visualmente ligado à praça e, por meio desta,
ao entorno urbano.
Novamente a solução aplicada ao térreo e às entradas entremeia rampas,
jardins, escadas e pilotis, levando ao máximo de sofisticação esses recursos
consagrados em outras realizações no bairro, num jogo espacial, volumétrico, de
cores e texturas, transparências e desníveis, que configura uma legítima promenade
architecturale” nos moldes preconizados por Le Corbusier.
O edifício conta com dois amplos apartamentos em cada andar, cada um com
três dormitórios, sala para dois ambientes, um banheiro, cozinha e dependências de
serviço. A planta é dividida de forma modular e agenciada de maneira funcional e um
dos detalhes do projeto é a janela de vidro aramado que ocupa todo o direito da
área de serviço. Um pilar destacado na sala evidencia a estrutura livre, enquanto um
cuidadoso e colorido encaixilhamento ocupa todos os vãos da grelha estrutural que
define as fachadas principais, com panos móveis de venezianas que sobem e descem
sobre painéis fixos, gerando um jogo de volumes e cores.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
192
Figuras 93: Edifício Louveira.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
193
Figuras 94 e 95: Edifício Louveira. Acesso principal em meio a pilotis e pátio interno
integrado ao entorno urbano.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
194
A maior parte desses edifícios encontra-se atualmente em bom estado de
conservação, sendo que muito deles tiveram suas fachadas alteradas com a
instalação de gradis, iniciativa decorrente da constante preocupação com a violência
urbana. Contudo, para os padrões paulistanos, estes gradis ainda são interferências
mais ou menos discretas, que não chegam a comprometer os elementos de qualidade
presentes nos edifícios e em sua relação com o entorno.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
195
4.2
A afirmação
de um novo
modo morar:
década de 1950
Neste item estão relacionados os seguintes edifícios:
Ficha 9 Edifício Parque das Hortênsias e Edifício Parque das Acácias
Ficha 10 Edifício Bretagne
Ficha 11 Edifício Cinderela
Ficha 12 Edifícios Itamarati
Ficha 13 Edifício Paquita
Ficha 14 Condomínio Buenos Aires - La Plata e San Martin
Ficha 15 Edifício Imperador e Santa
Ficha 16 Edifício Arper (Aipê)
Ficha 17 Edifício Diana
Ficha 18 Edifício Príncipe de Galles
Ficha 19 Edifício Irajá
Ficha 20 Edifício Bolonha
Ficha 21 Edifício Lausanne
Ficha 22 Edifícios Lugano e Locarno
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
196
FICHA 9: EDIFÍCIO PARQUE DAS HORTÊNSIAS E
PARQUE DAS ACÁCIAS
Fotos: Luciana Capoccia
.
Planta de localização
Dados
Data: 1952 (Publicação)
Parque das Hortênsias:
Endereço: Avenida Angélica, 1100
de pavimentos: 15
apartamentos por andar: 4
Parque das Acácias:
Endereço: Avenida Higienópolis, 578
de pavimentos: 15
apartamentos por andar: 6
Arquiteto/Construtora: João Artacho
Jurado
Publicações: Habitat n. 7 / 1952
(104-5)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
197
EDIFICIO PARQUE DAS HORTÊNSIAS E PARQUE DAS
ACÁCIAS
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo (Parque das Hortênsias)
Fotos da maquete
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
198
EDIFÍCIO PARQUE DAS HORTÊNSIAS E PARQUE DAS
ACÁCIAS
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo (Parque das Acácias)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
199
FICHA 10: EDIFÍCIO BRETAGNE
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1952-1959
Endereço: Avenida Higienópolis, 938
Terreno: 4990m² - retangular em
declive (48 x 104m)
Taxa de ocupação: 35% (1776m²)
Coeficiente de aproveitamento: 6,4
(31788m² de área construída)
Tamanho das unidades:
A [12] 3 dormitórios: 222 m²
B [18] 3 dormitórios: 160 m²
C [72] 2 dormitórios: 124 m²
D [36] 2 dormitórios: 155 m²
E [36] 2 dormitórios: 92 m²
Arquiteto /Construtora: João Artacho
Jurado
Publicações: Acrópole n. 232 / 1958
Habitat: n. 7 / 1952 (107)
Habitat 14 [72-6] 1954
AU – Arquitetura e Urbanismo 26
[80-91] 1989
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
200
EDIFÍCIO BRETAGNE
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Fotos da Maquete publicada da revista Acrópole n. 232 / 1958.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
201
EDIFÍCIO BRETAGNE
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Planta do Pavimento Tipo.
Fonte:
Franco, 2008 – pág. 204
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
202
FICHA 11: EDIFÍCIO CINDERELA
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1956
Endereço: Rua Maranhão, 163 -
esquina Rua Sabará
de pavimentos: térreo mais 10
apartamentos por andar: 2
Arquiteto/Construtora: João Artacho
Jurado
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
203
FICHA 12: EDIFÍCIO ITAMARATI
Planta de localização
Dados
Data: 1953 (Publicação)
Endereço: Avenida Higienópolis, 147
de pavimentos: térreo mais 10
andares
apartamentos por andar:
Arquiteto/Construtora: Sociedade de
Engenharia Cyro R. Pereira Ltda.
Publicações: Acrópole n. 180 / 1953
(457-60)
Fotos: Luciana Capoccia
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
204
EDIFÍCIO ITAMARATI
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
205
FICHA 13: EDIFÍCIO PAQUITA
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1956
Endereço: Praça Buenos Aires, 475
Terreno: 1406m²
Taxa de ocupação: 54% (660m²)
Coeficiente de aproveitamento:6,5
(9120m² de área construída)
de pavimentos: pilotis mais 16
andares
apartamentos por andar: 4
Tamanho das unidades:
A [16] 3 dormitórios: 201 m²
B [26] 2 dormitórios: 141 m²
C [10] 2 dormitórios: 126 m²
Arquiteto/Construtora: Alfred
Düntuch
Publicações: Acrópole n. 170 / 1952
n. 210 / 1956
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
206
EDIFÍCIO PAQUITA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
207
EDIFÍCIO PAQUITA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
208
FICHA 14: CONDOMÍNIO BUENOS AIRES –EDIFÍCIO
LA PLATA E SAN MARTIN
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data de Projeto: 1953
Data de construção: 1956
Data da Publicação: 1957
Endereço: Rua Pará, 126
Terreno: 950m² - retangular e de
esquina
Taxa de ocupação: 53% (500m²)
Área construída: 7.000m².
de pavimentos: pilotis mais 13
andares
apartamentos por andar: o edifício
San Martin possui dois pequenos
apartamentos de 2 e 3 dormitórios
por andar (um simples e outro duplex
respectivamente), enquanto o
edifício La Plata possui 2
apartamentos por andar com 3
dormitórios cada.
Arquiteto/Construtora: Majer
Botkowski
Publicações: Acrópole n. 227/ 1957
(410-2)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
2
09
CONDOMÍNIO BUENOS AIRES – EDIFÍCIO LA PLATA
E SAN MARTIN
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
Planta indicativa – Em destaque o
Edifício San Martin.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
210
CONDOMÍNIO BUENOS AIRES – EDIFÍCIO LA PLATA
E SAN MARTIN
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Planta indicativa – Em destaque o
Edifício La Plata.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
211
FICHA 15: EDIFÍCIO IMPERATOR E SANTA FĖ
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1956 (construção)
Endereço: Av. Angélica, 1905
esquina com a Rua Pará.
Terreno: 720m²
Taxa de ocupação: 54,3% (391m²)
Coeficiente de aproveitamento: 10
(7038m² de área construída).
de pavimentos: pilotis mais 18
andares
de apartamentos por andar: 2
apartamentos de 2 dorm.(123m²) e 3
dorm. (164m²).
Arquiteto/Construtora: Vaidergorn &
Verona
Publicações: Acrópole n. 187 / 1954
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
212
EDIFÍCIO IMPERATOR E SANTA FĖ
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
A maquete publicada na Acrópole possui dois blocos (Imperator e Santa Fé), porém
apenas o edifício Imperator foi construído.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
213
FICHA 16: EDIFÍCIO ARPER
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1962
Endereço: Rua Pernambuco, 15
de pavimentos: pilotis mais 9
andares
de apartamentos por andar: 1
Arquiteto /Construtora: David
Libeskind
Publicações: Acrópole n. 282 / 1962
Acrópole n. 282 / 1962
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
214
EDIFÍCIO ARPER
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo:
1- garagem; 2-hall social; 3-hall seviço; 4-zelador; 5- jardim
Pavimento tipo:
1-hall social; 2-hall serviço; 3- vestibulo; 4-living; 5-jantar; 6-varanda
Fonte: revista Acropole 282/1962
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
215
FICHA 17: EDIFÍCIO DIANA
Planta de localização
Dados
Data: 1956 (construção)
Endereço: Rua Itacolomi, 95 - Rua
Maranhão, 270
Terreno: 1056m² - retangular de
esquina (32 x 33m)
Taxa de ocupação: 51% (540m²)
Coeficiente de aproveitamento: 5
(8640m² de área construída)
de pavimentos: pilotis mais 16
andares
apartamentos por andar: Ė
possível um ou dois apartamento por
andar com variações de dois e
três
dormitórios.
Área do andar tipo: 280m².
Arquiteto/Construtora: Victor Reif
Publicações: Acrópole n. 231 / 1958
(92-3) n. 277 / 1961 (18-9)
Fotos: Luciana Capoccia
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
216
EDIFÍCIO DIANA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento tipo A:
1-hall de entrada; 2-living; 3-jantar; 4-j.inverno;5-musica; 6-copa; 7-
cozinha; 8-dormitório; 9 a 11- quartos; 12-closet; 13-banheiro;14-chuv. wc; 16-banheiro;
17-quarto empregada; 18-terraço serviço.
.
Pavimento tipo B:
1-hall de entrada; 2-living; 3-jantar; 4-j. inverno; 5-cozinha; 6-dormitório;
7-quarto; 8-banheiro; 9-chuv. wc; 10-quarto empregada; 11-wc;
12-terraço serviço.
Fonte: revista Acropole, n° 231/1958
.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
217
FICHA 18: EDIFÍCIO PRÍNCIPE DE GALLES
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1959 (Publicação)
Endereço: Avenida Angélica, 1535
de pavimentos: pilotis mais 11
apartamentos por andar: 4
Arquiteto/Construtora: José Carlos
Maya
Publicações: Acrópole n. 244 / 1959
(140-1)
Fonte: Acrópole 244 / 1959
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
218
EDIFÍCIO PRÍNCIPE DE GALLES
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Terreo
Pavimento Tipo
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
219
FICHA 19: EDIFÍCIO IRAJÁ
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1959 (publicação)
Endereço: Rua Aracajú, 174
Área do terreno: 10.000 m².
de pavimentos: pilotis mais 11
andares.
apartamentos por andar: 3
apartamentos – de dois e três
dormitórios (bloco com frente para a
Rua Aracaju) e 2 apartamentos de
três dormitórios (bloco ao fundo)
Arquiteto/Construtora: Rubens Corsi
Publicações: Acrópole n. 252 / 1959
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
220
EDIFÍCIO IRAJÁ
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo
Pavimento Tipo
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
221
FICHA 20: EDIFÍCIO BOLONHA
.
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1959 (publicação)
Endereço: Avenida Higienópolis, 794
Área do terreno: 1200m².
de pavimentos: dezessete
andares e dois subsolos.
apartamentos por andar: dois
apartamentos com área de 200m²
cada um.
Arquiteto /Construtora: Chafic
Buchain.
Publicações: Acrópole n. 252 / 1959
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
222
EDIFÍCIO BOLONHA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo
Pavimento Tipo
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
223
FICHA 21: EDIFÍCIO LAUSANNE
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1953 (projeto)
Endereço: Av. Higienópolis, 111
Terreno: 1410m² - (47 x 30m)
Taxa de ocupação: 49% (690m²)
Coeficiente de aproveitamento: 7,8
(11040m² de área construída)
de pavimentos: pilotis mais 14
andares
apartamentos por andar: 2
apartamentos por ala. Os
apartamentos do 1°ao 13°andar
possuem 3 dormitórios, no 14°andar
os apartamentos possuem apenas 2
dormitórios.
Tamanho das unidades: 178m²
Estacionamento: 114 vagas no
subsolo
Arquiteto/Construtora: Adolf Franz
Heep
Publicações: Acrópole n.239 / 1958
(504-9)
Xavier, Lemos e Corona, 1983, 34
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
224
EDIFÍCIO LAUSANNE
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo
Pavimento Tipo (1° ao 13°andar)
Pavimento (14°andar)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
225
EDIFÍCIO LAUSANNE
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento (15°andar)
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
226
FICHA 22: EDIFÍCIO LUGANO E LOCARNO
Fotos: Luciana Capoccia
Fonte: revista Acrópole, n°287/1962
Planta de localização
Dados
Data: 1962
Endereço: Avenida Higienópolis, 318
Terreno: 3150m² - retangular (49 x
64m)
Taxa de ocupação: 52% (1625m²)
Coeficiente de aproveitamento: 6,7
(21125m² de área construída)
Estacionamento: 110 vagas no
subsolo
de pavimentos: pilotis mais 13
andares
apartamentos por andar: 4
apartamentos com 3 dormitórios
cada.
Tamanho das unidades:
A [48] 3 dormitórios: 168 m²
B [48] 3 dormitórios: 178 m²
Arquiteto/Construtora: Adolf Franz
Heep
Publicações: Acrópole n. 287 / 1962
(347-9)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
227
EDIFÍCIO LUGANO E LOCARNO
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
228
Descrição e análise
Pode-se identificar uma tendência na produção dos edifícios construídos na
década de 1950 que não se restringe ao bairro de Higienópolis, nem tão pouco à
cidade de São Paulo. Naquela época, multiplicaram-se as iniciativas no sentido de
construir grandes conjuntos habitacionais. Eram propostas ambiciosas que almejavam
agrupar muitas unidades residenciais no mesmo edifício. Para tanto, princípios
modernistas de moradia mínima, assim como os avanços na racionalização dos
sistemas construtivos; na otimização dos recursos mobilizados - em termos de
terrenos disponíveis, materiais mais acessíveis e farta mão-de-obra, ainda que
desqualificada; e no projeto de instalações elétricas, hidráulicas, de gás, elevadores e
telefonia em grande escala - permitiam a realização de grandes conjuntos residenciais
ou mistos, de porte até então inédito.
Esse pensamento estava atrelado ao espírito de otimismo que assolava o país,
quando se acreditava que o Brasil era o “país do futuro” e que todas as carências
seriam superadas. Para isso, buscavam-se grandes terrenos que pudessem atender
tais objetivos. São exemplos desse tipo de proposta o Edifício Copan, o Arlinda, o
Conjunto Nacional, o Nações Unidas, o 14 Bis/Demoiselle e tantos outros espalhados
pela capital paulista. Outras cidades também tiveram a experiência da construção de
grandes edifícios residenciais, como por exemplo, as litorâneas Santos e São Vicente.
Apesar dos edifícios do bairro de Higienópolis terem sido construídos para
atender uma faixa da população de melhor poder aquisitivo, em muitos casos as
propostas arquitetônicas também acompanharam a idéia de implantação de grandes
conjuntos habitacionais.
Artacho Jurado teve grande atuação no bairro nesse sentido, construindo
vários edifícios, como o citado edifício Piauí (item anterior), além dos mais
ambiciosos Parque das Hortênsias e Parque das Acácias (ficha 9), Bretagne (ficha 10)
e Cinderela (ficha 11).
Ocupando um terreno em “L” entre as avenidas Angélica e Higienópolis, os
edifícios Parque das Hortênsias e Parque das Acácias (o qual, com as dificuldades
que a Construtora Monções enfrentou na consecução do empreendimento, foi
posteriormente adquirido pela família Scarpa e rebatizado como Apracs – Scarpa
escrito ao revés) foram projetados para formar um conjunto e serem unidos pelos
fundos, mas foram lançados em épocas diferentes (FRANCO, 2008, p. 235).
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
229
O Parque das Hortênsias possui 15 andares, mais terraço e cobertura. São
20.000 m
2
de área construída e quatro elevadores. O térreo possui pilotis e tem
grande área livre ajardinada. A planta é quadrada, simétrica e com vazio central que
garante a iluminação e ventilação dos ambientes de serviço dos apartamentos. A
fachada ostenta janelas envidraçadas em linhas horizontais e um jogo de cores. Cada
apartamento tem três dormitórios, sala de jantar unida à sala de estar, copa, cozinha,
apenas um banheiro grande, área de serviço e dependência de empregada. No topo
do edifício existe o salão de festas e o terraço com jardins.
O edifício possui, portanto, alguns dos elementos dos “cinco pontos” da nova
arquitetura preconizada por Le Corbusier. No caso, adotam a tônica, presente no
bairro, de valorização dos espaços comuns no térreo enquanto prolongamentos
qualificados do espaço público: cria-se uma espécie de moderna praça de convívio,
pontuada por rampas, jardins, pilotis e marquises. A riqueza cromática e volumétrica
das fachadas, fartamente encaixilhadas e envidraçadas, com seu coroamento
arrematado por pequenos volumes de forma livre, forma com esses espaços
intermédios um ambiente diferenciado, como um oásis junto a cada vez mais
movimentada avenida. As aberturas abundantes e os terraços tiram o máximo proveito
da situação, reforçando a sensação de amplitude que os espaços de moradia,
crescentemente integrados, continuam conferindo a despeito de certa redução das
metragens internas nesse tipo de empreendimento.
Figura 96: Fotos do Edifício Parque as Hortênsias.
Fonte: Franco, 2008, anexos.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
230
Figura 97: Fotos do Edifício Parque as Hortênsias.
Fonte: Franco, 2008, anexos.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
231
Diferentemente dos outros edifícios de Jurado no bairro de Higienópolis, o
Edifício Apracs possui comércio no térreo. São 16.000m
2
de área construída, 15
andares, 6 elevadores e 6 apartamentos por andar, cada um com dois dormitórios,
sala, cozinha, área de serviço e dependência de empregada. A planta é retangular e
os apartamentos são distribuídos em fileira única. A implantação em fachada contínua
também criou um pátio que acompanha toda a extensão do edifício e integra-se ao
meio urbano. A cobertura também conta com terraço ajardinado e marquises.
Figura 98: Foto do Edifício Parque das Acácias
(Apracs).
Fonte: Franco, 2008, anexos.
O Edifício Bretagne, (1952 1958), localizado na Avenida Higienópolis, 938, é
considerado o melhor e mais importante edifício de Artacho Jurado. Ele também foi o
que mais polêmica gerou, principalmente depois dos elogios feitos por um arquiteto
norte americano, chamado John R. Fugard, membro da National Association of Home
Builders e publicado na Revista Acrópole (n. 232, de 1958), no artigo do arquiteto
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
232
Eduardo Corona. Fugard reverenciava a obra e a incluía sob o prisma da arquitetura
moderna dizendo:
Conhecemos a arquitetura de Atenas, de Roma, de Copenhagem, de
Paris e de várias cidades norte-americanas. Foi preciso vir a São
Paulo, contudo, para o mais fabuloso exemplo de arquitetura moderna.
Em nossas peregrinações pelo mundo, jamais vimos coisa melhor do
que a realizada pelos arquitetos brasileiros. Cumpre, ainda observar
que , dentro do Brasil, São Paulo pontifica e, dentro de São Paulo, o
Edifício Bretagne, constitui, em minha opinião, a última palavra no
tocante à arquitetura moderna. Esse prédio está destinado a se tornar
famoso no mundo inteiro. Desejo felicitar os arquitetos brasileiros por
essa notável realização, que se reveste de características pioneiras na
avançada arquitetura moderna (CORONA, 1958).
O Edifício Bretagne, com seus 18 andares, tornava-se o prédio mais alto do
bairro, ou seja, um marco local e um ponto de referência. Com a implantação em
forma de “L”, Jurado favoreceu a iluminação dos apartamentos e criou um pátio interno
ajardinado, configurando um agradável espaço de lazer aos moradores. Esse pátio,
que foi equipado com piscinas, fato pouco comum pra época, integra-se ao tecido
urbano.
Jurado inovou ao dotar o edifício com equipamentos de lazer. Além das
piscinas adulto e infantil, o prédio conta com salões de festa, sala de música, de
televisão, de chá, salão de brinquedos, playground, bar e salão de beleza. Tudo
decorado ao gosto de Jurado, com muitas cores e mistura de materiais.
Os números do Bretagne impressionam. São 180 apartamentos, dez por andar,
cinco conjuntos de escadas, dez elevadores e 25.000m
2
de área construída. Os
apartamentos são de dois e três dormitórios. No emprego de pilotis, fachada contínua
e envidraçada e cobertura ajardinada percebe-se claramente a referência corbusiana.
Figura 99: Fotos do Edifício Bretagne com pilares em “V”.
Fonte: Franco, 2008, anexos.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
233
Figura 100: Fotos do Edifício Bretagne.
Fonte: Franco, 2008, anexos.
No Bretagne a presença de espaços e equipamentos coletivos de lazer tornou-
se um fator determinante do sucesso e do caráter moderno do edifício. Mesmo que
seus apartamentos não apresentem grandes novidades em termos de planta e arranjo
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
234
interno, incorporando apenas os avanços já consagrados na distribuição funcional dos
ambientes e no uso racionalista da estrutura modular, ganha relevo a implantação
inovadora – finalmente o edifício torna-se lâmina isolada no centro do terreno – com as
soberbas vistas sobre o Pacaembu, sobre o próprio bairro de Higienópolis e toda a
região Oeste da cidade, chegando ao Pico do Jaraguá.
Outra obra de autoria de Artacho Jurado é o Edifício Cinderela, construído em
1956 na Rua Maranhão, 163, esquina com a Rua Sabará. Implantando em dois blocos
de dez andares com dois apartamentos por andar, o edifício totaliza 40 apartamentos
no conjunto, todos de dois dormitórios. O tema dos terraços em balanço atinge sua
expressão máxima: os amplos terraços dão a idéia de ser um único apartamento de
frente por andar. Os terraços conferem movimento e horizontalidade à fachada,
amenizando a presença do volume alto erguido na esquina até então bucolicamente
ocupada por casas. Jurado, após residir no Edifício Piauí, mudou-se com a família
para o Edifício Cinderela, onde ocupavam duas unidades interligadas (FRANCO,
2004, 145). O edifício conta com pilotis cor-de-rosa, que formam a típica colunata
visualmente permeável no térreo, valorizada pelo recuo ajardinado, pelos elementos
vazados cerâmicos e outros detalhes decorativos. Ele também ostenta salão de festas
e terraço ajardinado na cobertura. Esse edifício possui garagem no subsolo, o que era
uma novidade para a época.
Figura 101: Edifício Cinderela.
Fonte: Franco, 2008, anexos.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
235
O Edifício Itamarati (ficha 12) foi projetado e edificado pela construtora
Sociedade de Engenharia Cyro R. Pereira Ltda, localizado na Avenida Higienópolis
147. O proprietário era o Dr. João Leite Bastos Junior. O edifício foi publicado na
revista Acrópole no ano de 1953 e se destaca por sua implantação em forma de “U”
com três blocos de apartamentos distintos, sendo que cada bloco possui dez andares
mais o térreo, e vinte e dois apartamentos cada, totalizando 66 unidades no
condomínio (RIGHI e GAGETTI, 2001, p. 81). Ele também chama atenção pela sua
rampa de acesso e pela marquise sinuosa que avança da rua até o interior do “U”
fazendo uma ligação agradável da área pública urbana com a área privada. O bloco
frontal, debruçado sobre as árvores da Avenida Higienópolis, apresenta os recorrentes
terraços encaixados numa grelha em balanço, marcada por uma coloração
diferenciada que ajuda a destacá-la visualmente na fachada. Atualmente, ele
encontra-se bem preservado.
Figura 102: Edifício Itamarati
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Em 1952, foi construído o Edifício Paquita (ficha 13), projeto de Alfred
Düntunch e construção da Luz-Ar, localizado na Praça Buenos Aires, 475, com
dezesseis andares mais o térreo em pilotis, composto por quatro blocos, com diversos
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
236
elementos da arquitetura moderna brasileira. O proprietário era o Dr. Joel Ostrowicz..
O arquiteto Alfred Düntunch e o engenheiro Stephan Landsberger eram poloneses
refugiados de guerra, que em 1942 fundaram a construtora Luz-Ar, responsável pela
construção de vários edifícios residências e comerciais na cidade. A fachada lateral do
prédio faz uma pequena curva, permitindo que suas janelas gozem da vista para a
praça. Na fachada principal, o ritmo é quebrado por um grande caixilho que integra a
área social à varanda dos dormitórios. A janela curva do canto do edifício confere uma
volumetria interessante ao prédio.
Figuras 103 e 104: Edifício Paquita.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Os Edifícios La Plata e San Martin (ficha 14) fazem parte do mesmo
empreendimento, o Condomínio Buenos Aires, e foram inaugurados no ano de 1956.
Eles estão localizados nos terrenos de esquina da Avenida Angélica, 1867 e da Rua
Pará, 126, respectivamente. Eles foram projetados por Majer Botkowski e edificados
pela Construtora Consórcio Técnico de Engenharia e Arquitetura. O proprietário era a
Companhia Esmeralda de Imóveis.
O Edifício San Martin possui treze pavimentos mais pilotis, conta com dois
pequenos apartamentos de dois e três dormitórios por andar, sendo um modelo
simples e outro do tipo duplex. o Edifício La Plata possui doze pavimentos mais
pilotis e conta com dois apartamentos de três dormitórios. Ele possui fachada frontal
toda envidraçada. Juntos eles formam uma implantação em “L” que enriquece
sobremaneira a relação entre o edifício e sua inserção urbana: o volume mais fechado
do San Martin avança e ajuda a compor o espaço recuado sobre o qual se debruça a
caixilharia abundante do La Plata, enquadrando uma grande tipuana. Estas árvores,
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
237
típicas da arborização do bairro, têm porte altaneiro e copas pouco densas, com
troncos cobertos de parasitas que acentuam sua sinuosidade pitoresca. Elas formam
um contraponto vegetal, verde-escuro, às linhas geralmente ortogonais, ao
geometrismo modernista e ao colorido suave presente nos melhores edifícios do
período.
Figura 105: Condomínio Buenos Aires: Edifício San Martin à esquerda e Edifícios La
Plata à direita.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Imperador (ficha 15) de 1956 foi projetado e construído pela
Construtora Vaidergorn & Verona, com 18 pavimentos mais pilotis. Ele localiza-se na
Avenida Angélica, 1905, esquina com a Rua Pará. No projeto original, estava prevista
a construção de dois edifícios, sendo que o outro se chamaria Santa Fé, mas este não
chegou ser construído. Cada pavimento possui dois apartamentos, um de dois
dormitórios e outro de três. O Ed. Imperador se destaca pelo escalonamento dos
últimos andares, a partir do décimo quarto andar, em que terraços frontais se
sobrepõem. Ele tem como característica própria a fachada com estrutura marcada,
tirantes verticais, janelas envidraçadas e varandas corridas. A tônica nesses projetos
parece ser a da máxima integração visual com o exterior e o tema da janela corrida
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
238
começa a dominar a composição das fachadas, sobrepondo-se até mesmo às
considerações da disposição interna.
Figura 106: Edifício Imperador.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Arper (ficha 16), projetado por David Libeskind, foi publicado na
revista Acrópole com o nome de Aipê em 1962. Ele está situado na esquina das ruas
Pernambuco e Aracaju, próximo à Praça Vilaboim. A entrada social é delimitada por
um passadiço de placas sobre um espelho d’água e por uma coluna revestida de
granito moído. O edifício conta com nove pavimentos e apenas um apartamento por
andar. Cada unidade contém uma suíte, dois dormitórios e um banheiro, ampla sala
envolta, varanda, área de serviço, cozinha, copa e dependências de empregada. Tem
sua fachada principal, voltada para a Rua Pernambuco, marcada verticalmente por
elementos na cor azul e horizontalmente por painéis vermelhos. Uma particularidade
deste edifício é que ele aparenta ter dois blocos distintos, dada a diferença de suas
fachadas laterais (Rua Aracaju) onde estão as varandas e a fachada frontal, com o
uso de cores primárias e diversidade de materiais. O edifício encontra-se bem
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
239
conservado, mantendo muitas características originais, apesar de ter seu perímetro
fechado por grades.
Figura 107: Edifício Arper com suas duas fachadas distintas.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Diana (ficha 17) foi projetado em 1957 (inaugurado em 1960) pelo
arquiteto polonês Victor Reif e construído pela Bonfiglioli Comércio e Construtora S/A,
também proprietária. O judeu Victor Reif (1909-1998) nasceu em Przemysl, Polônia, e
se formou arquiteto em Berlim, na Alemanha, em 1933. Ele mudou-se para o Brasil em
1950, onde desenvolveu uma arquitetura de grande qualidade, sendo inclusive
agraciado com uma menção honrosa pelo IAB (Instituto dos Arquitetos do Brasil) em
1966, pelo conjunto de sua obra realizado na cidade de são Paulo.
O Edifício Diana está situado na Rua Itacolomi, 95, esquina com a Rua
Maranhão. Ele possui um recuo frontal de quinze metros na Rua Maranhão, onde
existe uma parede curva revestida em pastilhas com uma escultura da deusa Diana do
ceramista Calabroni. O edifício conta com dezesseis andares. Esta obra é
caracterizada pela liberdade de soluções e flexibilidade de plantas, possibilitando a
ocupação de todo o andar por um apartamento, ou dois apartamentos por andar,
com dois ou três dormitórios. Os apartamentos possuem dois ou três dormitórios. Os
três andares superiores possuem apenas um apartamento por andar, com área de
aproximadamente 280m². também uma garagem no andar térreo que avança em
forma de ferradura até o jardim, formando um muro decorativo com painéis. Na
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
240
fachada principal destacam-se grandes aberturas horizontais das salas de estar,
vedadas com caixilhos de ferro e vidro; e as janelas dos dormitórios com venezianas
de madeira. Atualmente, ele se encontra em bom estado de conservação, com grades
ao seu redor, o que o diferencia da época de inauguração.
Figura 108: Edifício Diana.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Príncipe de Gales (ficha 18), de autoria de José Carlos Maia foi
construído pela Concisa Construtora Civil e Indústria S/A e foi publicado na Revista
Acrópole em 1959. Localizado na Avenida Angélica, 1535, possui 11 pavimentos mais
pilotis divididos em dois blocos distintos, com dois apartamentos por andar em cada
bloco. Uma das caractesticas marcantes deste edifício é a área de lazer coletiva na
cobertura e também o detalhe da fachada com uma marquise em forma de “T”, que se
estende da calçada aos pilotis. A fachada possui janelas corridas em linhas horizontais
e estrutura marcada fazendo referência às construções de Mies van der Rohe.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
241
Figura 109: Edifício Príncipe de Gales.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Irajá (ficha 19), situado na Rua Aracaju, 174, foi projetado pelo
arquiteto Rubens Corsi e construído pelos engenheiros e também proprietários André
Mourão Filho, Aziz Maluf e Melhem William Maluf. Constituído por dois blocos de onze
pavimentos mais pilotis, ele está situado em um terreno de esquina com 10.000 m
2
de
área. Possui grande área social e jardins no térreo. A fachada é marcada por linhas
geométricas, acentuadas por seus terraços. Os dois blocos harmonizam-se, de forma
a aparentar um único volume. Ele foi publicado na revista Acrópole de 1959.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
242
Figura 110: Edifício Irajá.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
O Edifício Bolonha (ficha 20), situado na Av. Higienópolis, 794, foi projetado
pelo arquiteto Chafic Buchain, com propriedade e construção da Bonfiglioli Comercial
e Construtora S/A. Ele conta com dezesseis pavimentos mais pilotis, está inserido
numa das áreas mais valorizadas do bairro e se destaca pela flexibilidade de sua
planta que permite a variação dos ambientes. A fachada apresenta um jogo de linhas
horizontais e verticais composto por suas janelas e varandas. O edifício foi publicado
na revista Acrópole em 1959.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
243
Figura 111: Edifício Bolonha.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
É nítida a referência ao projeto emblemático do Ed. Prudência de Rino Levi,
mas o Ed. Bolonha traz uma interpretação mais discreta dos mesmos elementos:
longos terraços, pilares marcando a entrada, horizontalidade. A situação na Avenida
Higienópolis, mais uma vez, motiva especial preocupação com as proporções da
fachada em sua relação com a via, além do requinte construtivo considerado apto a
potencializar o prestígio do local.
Outro destaque do bairro é o Edifício Lausanne (ficha 21), de 1958. Localizado
na Av. Higienópolis, 111, ele foi projetado pelo arquiteto alemão Franz Heep e
edificado pela Construtora Elias Helcer & Aizik Helcer, seu proprietário era a
Incorporadora Construtora Auxiliar S/A. O edifício possui quatorze pavimentos mais
pilotis, composto por duas alas com acessos independentes. A preocupação com o
entorno é uma das características deste edifício, que possui um acesso por uma
rampa em semicírculo para os automóveis e uma escada frontal para os pedestres. A
caixilharia composta por painéis coloridos de venezianas metálicas em três cores é
também um destaque deste edifício.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
244
Figura 112: Edifício Lausanne.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Adolf Franz Heep(1902-1978) nasceu em Fachbach, Alemanha. Sua formação
como arquiteto resultou dos estudos e posteriormente do trabalho em projetos
habitacionais com Adolf Meyer em Frankfurt e com Le Corbusier, em Paris, de quem
recebeu suas maiores influências. Distanciando-se das agruras da guerra chegou ao
Brasil em 1947, onde encontrou um mercado imobiliário em expansão, possibilitando
uma intensa atuação e experimentalismo. Sua produção arquitetônica foi marcada
pelo profissionalismo e pela introdução de inovações tecnológicas, empregadas no
projeto e na obra, além do gosto exacerbado pelo detalhe e da compreensão das
necessidades cotidianas da classe média. O sucesso de seu trabalho é creditado à
utilização de métodos racionalizados de construção, programas compactados e uma
interpretação precisa da legislação de uso e ocupação do solo. Suas obras mais
conhecidas são o edifício do jornal “O Estado de S. Paulo”, quando trabalhava para
Jacques Pilon, e os edifícios Itália e Lausanne (BARBOSA, 2002).
Em 1962 foram inaugurados os Edifícios Lugano e Locarno (ficha 22),
projetados também por Franz Heep e construídos pela Auxiliar S/A. Localizados na
Avenida Higienópolis, 318, eles foram implantados à semelhança do Edifício Louveira,
com duas lâminas paralelas ligadas por um pátio central ajardinado. Neste caso, o
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
245
pátio assume o caráter de prolongamento visual da rua fronteira, gerando um aprazível
logradouro particular para o qual se abrem os blocos, cada um contendo quatro
apartamentos de três dormitórios por andar, com um total de 13 pavimentos mais
pilotis. Este edifício é mais um interessante exemplo de integração do edifício com a
cidade, do espaço público com o privado, por meio de espaços transicionais, térreos
visualmente permeáveis, cuidadoso paisagismo e implantações inovadoras.
Figura 113: Edifícios Lugano e Locarno.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
246
4.3
Disseminação
do Moderno:
década de 1960
Neste item estão relacionados os seguintes edifícios:
Ficha 23 Edifício Arabá 1960-1962
Ficha 24 Edifício Jardim Buenos Aires – 1962
Ficha 25 Edifício Pernambuco – 1963
Ficha 26 Edifício 1963 – 1964
Ficha 27 Edifício Márcia - Manon 1964
Ficha 28 Edifício Vera Maria - década de 1960
Ficha 29 Edifício Anette - década de 1960
Ficha 30 Edifício Adônis - década de 1960 (projeto)
Ficha 31 Edifício Baia Mar 1963-1964
Ficha 32 Edifício Itacolomi – 1960 publicação –
Ficha 33 Edifício Luferreira - 1960 (publicação)
Ficha 34 Edifício Santo Estevão – 1963 publicação
Ficha 35 Edifício Hildebrando de Almeida – 1962-1965
Ficha 36 Edifício Solar do Conde 1962
Ficha 37 Edifício Itamar 1964-1965
Ficha 38 Edifício Abaeté 1963-1968
Ficha 39 Edifício Parque Higienópolis 1966-1969
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
247
FICHA 23: EDÍFICIO ARABÁ
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data de Projeto: 1962
Endereço: Rua Aracaju, 137
Terreno: 417m² (irregular de
esquina)
Taxa de ocupação: 55% (230m²)
Coeficiente de aproveitamento: 6
(2530m² de área construída)
Estacionamento: no subsolo
Arquiteto/Construtora: David
Libeskind
Tamanho das unidades: 180m²- 3
dormitórios.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
248
EDÍFICIO ARABÁ
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo.
Fonte: Figueroa, 2002, P.4. F05.
Fachada.
Fonte: Figueroa, 2002, P.4. F05
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
249
FICHA 24: EDÍFICIO JARDIM BUENOS AIRES
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data de Projeto: 1962
Endereço: Rua Piauí, 615
de pavimentos: térreo mais 9
pavimentos
Estacionamento: nos fundos do lote
Arquiteto/Construtora: David
Libeskind
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
250
FICHA 25: EDÍFICIO PERNAMBUCO
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1963
Endereço: Rua Pernambuco, 144
Arquiteto /Construtora: David
Libeskind
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
251
FICHA 26: EDÍFICIO MÁRCIA MÔNICA
.
Planta de localização
Dados
Data: 1969 (publicação)
Endereço: Rua Itacolomi, 573 N° de
pavimentos: pilotis mais 12 andares
apartamentos por andar: 4
Arquiteto/Construtora: Miguel Badra
Jr.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
252
FICHA 27: EDÍFICIO MANON
Foto: Luciana Capoccia
Revista
Acrópole n. 318 / 1965
Planta de localização
Dados
Data: 1965
Endereço: Rua Sergipe, 312
Terreno: 732m² - retangular (24 x
30.5m)
Taxa de ocupação: 48% (350m²)
Coef. de aproveitamento: 7 (5250m²
de área construída).
de pavimentos: pilotis mais 13
andares
apartamentos por andar: um
apartamento por andar
Estacionamento: no subsolo
Arquiteto/Construtora: Victor Reif
Publicaç
ões: Acrópole n. 318 / 1965
(24-5)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
253
EDÍFICIO MANON
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Térreo:
1-rampa de entrada social; 2-hall social de entrada; 3-salão de festas; 4-
entrada de serviço; 5-apartamento do zelador; 6-copa do salão social; 7-sanitário.
Pavimento Tipo:
1-hall; 2-living; 3-sala de jantar; 4-jardim de inverno; 5-biblioteca ou quarto;
6-dormitórios; 7-banheiro; 8-cozinha e copa; 9-quarto empregados; 10-terraço de serviço.
Fonte: revista Acrópole, n°318/1965
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
254
FICHA 28: EDÍFICIO VERA MARIA
Foto: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: dec. 1960
Endereço: Rua Alagoas, 133
Arquiteto/Construtora: Victor Reif
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
255
FICHA 29: EDÍFICIO ANETTE
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: dec. 1960
Endereço: Rua Alagoas, 134
de pavimentos: térreo mais 14
andares
Arquiteto /Construtora: Victor Reif
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
256
FICHA 30: EDÍFICIO ADÔNIS
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: déc. 1960 (projeto)
Endereço: Rua Maranhão, 1037
Arquiteto /Construtora: Victor Reif
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
257
FICHA 31: EDÍFICIO BAIAMAR
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1964
Endereço: Rua Bahia, 71- esquina R.
Maranhão
Terreno: 2950m² - triangular de
esquina
Taxa de ocupação: 21% (610m²)
Coeficiente de aproveitamento: 4
(11590m² de área construída).
de pavimentos: pilotis mais 19
andares
apartamentos por andar: dois
apartamentos de 290m² (3
dormitórios ).
Menos de ¼ do terreno foi ocupado
pela implantação do edifício, na área
restante foi criada garagem
subterrânea, coberta por jardim e
play-ground.
Arquiteto /Construtora: Francisco
Beck
Publicações: Acrópole n.309 / 1964
(46-7)
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
258
EDÍFICIO BAIAMAR
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Para as quatro fachadas foram desenvolvidos desenhos geométricos nas cores:
marrom, azul e branco.
Pavimento Tipo:
1-vestibulo; 2-jardim inverno; 3-living; 4-sala jantar; 5-dormitorio; 6-banho;
7-sanitario; 8-copa/cozinha; 9-empregada; 10-serviço; 11-elevador social; 12-elevador
serviço.
Fonte: revista Acrópole, n° 309
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
259
FICHA 32: EDÍFICIO ITACOLOMI
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1963
Endereço: Rua Itacolomi, 465
de pavimentos: térreo mais 10
pavimentos.
apartamentos por andar: 2
Arquiteto/Construtora: Victor Reif
Publicações: Acrópole n. 307 / 1964
(30-1)
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
260
EDÍFICIO ITACOLOMI
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
Pavimento Térreo
Foto da fachada
Fonte: revista Acrópole n. 307 / 1964.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
261
FICHA 33: EDÍFICIO LUFERREIRA
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1960 (publicação)
Endereço: Rua Itacolomi, 523
Área do apartamento: 180m².
de pavimentos: térreo mais 11
andares
apartamentos por andar: dois
apartamentos por andar (com opção
de um único apartamento duplo).
Arquiteto/Construtora: J. L. Fleury de
Oliveira
Publicações: Acrópole n. 260 / 1960
(212-3)
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
262
EDÍFICIO LUFERREIRA
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo.
Fonte: Acrópole n. 260 / 1960.
Fachada.
Fonte: Acrópole n. 260 / 1960.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
263
FICHA 34: EDÍFICIO SANTO ESTEVÃO
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1963 (publicação)
Endereço: Rua Bahia, 254
Área do apartamento: 400m².
de pavimentos: térreo mais 12
andares
apartamentos por andar: um
apartamento por andar
Arquiteto: Otacílio Rodrigues Lima
Construção: engenheiro Joaquim C.
Moraes Abreu.
Publicações: Acrópole 297 pg. 259
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
264
EDÍFICIO SANTO ESTEVÃO
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
. Fonte: Acrópole 297 pg. 259
Pavimento Térreo.
Fonte: Acrópole 297 pg. 259
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
265
FICHA 35: EDÍFICIO HILDEBRANDO DE ALMEIDA
PRADO
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data de Projeto: 1962-3
Data de conclusão da obra: 1965
Área construída: 9.207,00 m².
Endereço: Rua Itacolomi 193,
esquina com Rua Piauí 498
de pavimentos: térreo mais 11
pavimentos
apartamentos por andar: 1
Arquiteto/Construtora: Alberto R.
Botti e Marc Rubin
Publicações:
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
266
EDÍFICIO HILDEBRANDO DE ALMEIDA PRADO
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
267
FICHA 36: SOLAR DO CONDE
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1962
Endereço: Rua Pará, 241,
Higienópolis
de pavimentos: pilotis mais 13
andares
apartamentos por andar: um
apartamento por andar.
Arquiteto: Pedro Paulo de Mello
Saraiva
Engenheiro: Rubens Paiva
Calculista: Roberto R. Zuccolo
Construtora: S/A Paiva construtora
Publicações: Acrópole n. 324 / 1965
(28-9)
.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
268
SOLAR DO CONDE
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
. Fonte:
Fachada.
Fonte: http://www.arcoweb.com.br/artigos/roberto-rossi-zuccolo-ronito-monte-escola-
paulista.html
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
269
FICHA 37: EDÍFICIO ITAMAR
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1964
Endereço: Rua Piauí, 631
Terreno: 580m² (14.5x40m)
Taxa de ocupação: 48% (275m²)
Coeficiente de aproveitamento:
5.7(3300m² de área construída)
de pavimentos: pilotis mais 11
andares
Dimensões do lote: 14,50 x 40,00m
apartamentos por andar: um
apartamento por andar.
Tamanho das unidades: 255m² - 3
dormitórios.
Arquiteto/Construtora: Maurício Tuck
Scheider Pedro Paulo de Mello
Saraiva
Publicações: Acrópole n. 324 /
1965
(28-9)
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
270
EDÍFICIO ITAMAR
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo
. Fonte:
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
271
FICHA 38: EDÍFICIO ABAE
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1968
Endereço: Rua Pará, 222
Terreno: 1100m² - retangular (22.5 x
51m)
Taxa de ocupação: 35% (390m²)
Coeficiente de aproveitamento: 6
(6630m² de área construída).
de pavimentos: térreo mais 16
andares
Tamanho das unidades: 180m² (3
dormitórios).
Estacionamento: 32 vagas no
subsolo
Arquiteto/ Construtora: Abrahão
Sanovicz
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
272
EDÍFICIO ABAETĖ
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo.
Fonte:
Figueroa, 2002, P.4. F15
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
273
FICHA 39: EDÍFICIO PARQUE HIGIENÓPOLIS
Fotos: Luciana Capoccia
Planta de localização
Dados
Data: 1966-1969
Endereço: Av. Higienópolis, 148.
Terreno: 3650m² - retangular com
três frentes (40x73m)
Taxa de ocupação: 22% (836m²)
Coeficiente de aproveitamento: 5,3
(19228m² de área construída).
Estacionamento: em dois subsolos.
Número de unidades: 66
Tamanho das unidades:
A (22) 4 dormitórios: 236m²
B(22) 3 dormitórios: 193m²
C(22) 4 dormitórios: 296m²
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
274
EDÍFICIO PARQUE HIGIENÓPOLIS
(PLANTAS E REPRESENTAÇÕES)
Pavimento Tipo.
Fonte: Figueroa, 2002, P.4. F23
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
275
Descrição e análise
Os edifícios construídos no bairro de Higienópolis na década de 1960
apresentam como característica comum o fato da maioria ter sido implantada em
terrenos menores, muito provavelmente porque os maiores terrenos eram muito
escassos.
Conforme é possível perceber, os apartamentos desse período têm os
dormitórios, assim como a cozinha, um pouco menores do que no período anterior. Em
contrapartida, percebe-se uma valorização da área social do apartamento. A área de
serviço, bem como o banheiro e o quarto de empregada, continuam freqüentes. Em
alguns casos, esse quarto é chamado de despensa para garantir a aprovação da
prefeitura por conta de uma exigência do código de obras de área mínima para
dormitório. Continuam existindo as duas entradas: social e serviço. O hall de entrada
ou vestíbulo deixa de ser comum. Aumenta-se nesse período o número de banheiros e
passa a ser comum dois banheiros para apartamentos de três dormitórios. A suíte
para o casal torna-se comum, conforme pode ser visto nas plantas dos edifícios.
O Edifício Arabá (ficha 23) foi projetado em 1962 pelo arquiteto David
Libeskind. Cada apartamento conta com três dormitórios e 180m2 de área útil. A
fachada é caracterizada pela estrutura marcada que tem as colunas salientes em tom
mais forte (vermelho). A planta do apartamento é distribuída de forma tradicional,
modular, apresentando um amplo living para dois ambientes.
Figura 114: Edifício Arabá.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
276
Esta outra obra produzida por David Libeskind, o Edifício Jardim Buenos Aires
(ficha 24), apresenta elementos de arquitetura moderna, como o uso de pilotis, planta
modular, linhas retas, estrutura de concreto armado marcada na fachada e planta
modular.
Figura 115: Edifício Jardim Buenos Aires.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
277
O Edifício Pernambuco (ficha 25), mais uma produção de David Libeskind,
também apresenta os elementos da arquitetura moderna e ainda se destaca por
apresentar a fachada toda envidraçada, mais comum em edifícios comerciais. Os
pilotis grossos e amarelos conferem personalidade ao edifício. A arborização das ruas,
além de fazer um contraste muito interessante com a edificação confere ao entorno
uma qualidade urbana de bem estar e conforto térmico luminoso, característica esta
perceptível em muitos pontos do bairro.
Figura 116: Edifício Pernambuco.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
278
O Edifício Márcia Mônica (ficha 26), projeto de Miguel Badra Junior, conta com
12 pavimentos além do térreo. A fachada frontal é caracterizada pela composição de
volumes cheios e vazios. Planos verticais revestidos de pastilhas se destacam na
fachada.
Figura 117: Edifício Márcia Mônica
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
279
Outra obra do arquiteto Victor Reif é o Edifício Manon (ficha 27), inaugurado
em 1965 e construído pela Construtora Eteinberger S/A. Situado na Rua Sergipe, 312,
ele possui treze pavimentos mais pilotis e se destaca pela implantação do lote
bastante recuado com relação ao alinhamento da rua. Este edifício conta com um
único apartamento por andar, com quase 300m
2
de área e possui apenas uma vaga
de garagem por unidade.
Figura 118: Edifício Manon.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
280
O Edíficio Vera Maria (ficha 28) também é uma obra projetada por Victor Reif.
Tem uma implantação longitudinal acompanhando o formato do lote estreito e
profundo localizado na Rua Alagoas. A fachada se caracteriza por um jogo de volumes
cheios e vazios.
Figura 119: Edifício Vera Maria
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
281
O Edifício Anette (ficha 29) é mais um projeto do Victor Reif. Situado em um
estreito terreno da Rua alagoas, possui implantação em formato retangular. O
destaque da fachada fica por conta dos grandes panos de vidro que acompanham a
área frontal do edifício estendendo-se por todo o pé direito de cada andar.
Figura 120: Edifício Anette.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
282
O Edifício Adônis (ficha 30) é mais uma obra de autoria de Victor Reif e ocupa
um terreno estreito da Rua Maranhão. A fachada é marcada por linhas horizontais das
estruturas de concreto e panos de vidro dos peitoris das varandas. Ele também possui
amplas janelas no canto esquerdo do edifício que ocupam toda a altura de cada
pavimento. O pavimento térreo está implantado elevado em relação à rua, possuindo
uma rampa de acesso para pedestres.
Figura 121: Edifício Adônis.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
283
O Edifício Baía Mar (ficha 31), inaugurado em 1964, foi projetado e construído
pelo engenheiro-arquiteto Francisco Beck. Situado na Rua Bahia, 71, ele possui
dezenove andares mais pilotis e está implantado em um grande terreno, com apenas
25% ocupado pelo bloco, resultando em uma grande área para lazer e jardim. O
edifício conta com térreo e mais 18 pavimentos, com dois apartamentos por andar.
Cada unidade conta com jardim de inverno, sala de jantar, living, três dormitórios,
cozinha, área de serviço e dependência de empregada Como acabamento foram
utilizadas pastilhas cerâmicas cinza, além de um trabalho plástico nas cores marrom,
azul e branco. Outro elemento que se destaca nesta obra são os pilotis do pavimento
térreo, contrapondo-se à horizontalidade criada pelas aberturas ao longo da fachada.
Atualmente, o edifício encontra-se em ótimo estado de conservação, mantendo,
inclusive, características da época de sua construção, como, por exemplo, o local
onde encontra-se o porteiro, não tendo sido feita uma guarita.
Figura 122: Edifício Baía Mar.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
284
O Edifício Itacolomi (ficha 32) foi implantado na esquina das ruas Itacolomi e
Sergipe. No recuo frontal foi feito um jardim envolvendo o pavimento térreo com as
entradas e colunas. A elevação do pavimento térreo, bem acima da calçada, propiciou
vantagens plásticas e afastou os apartamentos da rua e, como o térreo tem pé-direito
duplo, este propósito fica ainda mais evidente, sendo que primeiro andar se situa a
mais de seis metros do vel da rua. O edifício possui 10 andares, com dois
apartamentos por andar. Todos com salas de estar envidraçadas voltadas para o norte
e com três dormitórios, sendo dois dotados com terraço comum. Pode-se notar grande
semelhança no partido adotado nas plantas com as do Edifício Diana. Na fachada
foram aplicadas pastilhas em duas tonalidades. Na entrada social, há um painel
decorativo composto por cerâmicas de vários tamanhos e cores (vermelho, branco,
preto e cinza).
Figura 123: Edifício Itacolomi.
Foto: Luciana Capoccia
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
285
O Edifício Luferreira (ficha 33), projetado por Fleury de Oliveira, foi publicado
na revista Acrópole em 1960. Ele possui 11 andares, com dois apartamentos por
andar, cada um com 180m
2
de área útil. Por estar implantado num terreno de
dimensões limitadas, apresenta pouco recuo frontal e lateral. As fachadas têm a
estrutura marcada: pilares e vigas se sobressaem.
Figura 124: Edifício Luferreira.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
286
O Edifício Santo Estevão (ficha 34), projetado por Otacílio Rodrigues Lima,
conta com 12 andares além da cobertura, onde fica o salão de festas, e o térreo. Ele
possui apenas um apartamento por andar, com 400m
2
de área útil. Cada unidade
conta com quatro dormitórios, três amplas salas, dois banheiros, lavabo, copa,
cozinha, área de serviço e dependência de empregada. Neste edifício aparecem
claramente os princípios modernistas como planta modular, pilotis, grandes aberturas
de janelas em linhas horizontais e estrutura marcada na fachada.
Figura 125: Edifício Santo Estevão.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
287
O Edifício Hildebrando de Almeida Prado (ficha 35), projetado pela dupla
Alberto Botti e Marc Rubin, foi implantado em um terreno plano na esquina das ruas
Itacolomi e Piauí. A grande característica da obra é a estrutura aparente de concreto
armado com módulos estreitos. A organização da planta do andar tipo determina a
adequação inicial dos cômodos a uma modulação básica de 1,70 metros. Cada eixo
corresponde a um pilar de concreto situado no plano das duas fachadas principais.
Não pilares internos, o que permite o rearranjo interno dos andares segundo a
necessidade de cada proprietário. As venezianas de madeira inseridas nos vãos da
estrutura sobressalente são os elementos de maior destaque da fachada. A estrutura
de sustentação de concreto armado aparente foi determinante de uma expressão
arquitetônica que seria típica de outros projetos da Botti e Rubin. O edifício possui
estacionamento no subsolo e, como em tantos outros casos do bairro, ao redor do
edifício foi colocado um gradil, não existente na construção original.
Figura 126: Edifício Hildebrando de Almeida Prado.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
288
O Edifício Solar do Conde (ficha 36), projetado por Pedro Paulo Melo Saraiva,
apresenta a fachada mais elaborada voltada para a lateral do lote, onde estão as
maiores aberturas de janelas constituídas por panos de vidros. A planta modular
permite diferentes agenciamentos, uma das características da arquitetura moderna.
Figura 127: Edifício Solar do Conde.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
289
O Edifício Itamar (ficha 37), inaugurado em 1965, foi projetado pelos arquitetos
Maurício Tuck Scheider e Pedro Paulo de Mello Saraiva e construído por Mario
Montag e Rafael Golombeck Engenheiros. Situado na Rua Piauí, 631, ele se destaca
pelo acabamento refinado, com caixilhos de alumínio, cristais Ray-ban, mármores e
lambris de madeira, e também por sua planta livre e sua fachada composta por um
extenso pano de vidro, incomum em prédios residenciais. Implantado em lote de
dimensões reduzidas (14m de largura por 40 de profundidade) ele possui uma lâmina
de onze pavimentos iguais alinhada longitudinalmente no lote. As plantas contam com
espaços amplos para todas as dependências: dois dormitórios, banheiro, suíte com
closet”, lavabo, área de serviço, cozinha, dormitório de empregada, rouparia, sala de
estar e jantar unidas. Todos os cômodos do programa são interligados por uma ampla
galeria de circulação. O pavimento térreo é composto por um apartamento, destinado
ao zelador, hall social, acessos e uma área dotada de tratamento paisagístico.
Figura 128: Edifício Itamar.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
290
O Edifício Abaeté (ficha 38), projetado por Abrahão Sanovicz, está localizado
na Rua Pará, em terreno estreito de 22,5m de largura. São 16 andares, com dois
apartamentos de três dormitórios por andar, cada um com 180m
2
de área útil. A planta
apresenta uma divisão modular com os três dormitórios enfileirados. Na fachada se
destacam os brises verticais que garantem maior ou menor luminosidade aos
apartamentos.
Figura 129: Edifício Abaeté.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
291
O Edifício Parque Higienópolis (ficha 39) apresenta três tipos diferentes de
apartamentos. São 66 unidades ao todo, sendo 22 de 236m
2
e quatro dormitórios; 22
de 193 m
2
e três dormitórios e ainda 22 de 296m
2
e quatro dormitórios. O edifício
obedece a uma implantação retangular onde os apartamentos e seus cômodos estão
distribuídos em linha. A planta do apartamento segue um traçado modular que é
claramente percebido na fachada do edifício, que apresenta marcação estrutural
ressaltada e ritmada.
Figura 130: Edifício Parque Higienópolis.
Foto: Luciana Capoccia, 2009.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
292
Conclusão
Ao longo do trabalho procurou-se apresentar e discutir alguns princípios da
arquitetura modernista que nortearam a produção dos edifícios residenciais
construídos no bairro paulistano de Higienópolis, principalmente entre as décadas de
1940 e 1960, os quais, conjuntamente com determinados elementos de inserção
urbanística, associando recursos modernos a traços presentes na configuração
original do bairro, conferem a esse acervo edificado qualidade especial. Somando-se a
isso se fez necessário o entendimento de alguns aspectos do contexto histórico no
qual foi realizada tal produção, que ajudam a explicar mudanças ocorridas na cultura
arquitetônica brasileira.
Verificou-se que a arquitetura moderna desenvolveu-se no Brasil de forma
autônoma, o suficiente para incorporar referências externas sem se deixar dominar por
elas. Foram assimilados conceitos do modernismo europeu, principalmente aqueles
preconizados por Le Corbusier, porém com importantes adaptações às condições
locais. A divulgação de preceitos racionalistas, realizada por precursores como George
Warchavchik, Rino Levi e Lucio Costa, estava atrelada ao esforço em desenvolver
uma arquitetura que conciliasse modernidade, monumentalidade e características
nacionais. Dessa forma, configurou-se a partir dos anos 1930/1940 uma produção de
alta qualidade, logo reconhecida em âmbito internacional. Era uma arquitetura atrelada
a um discurso ideológico, com ambições que extrapolavam o campo arquitetônico
propriamente dito, repercutindo nas esferas social e cultural.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
293
A linguagem arquitetônica moderna fortaleceu-se no Brasil no período pós-
Segunda Guerra, época em que o país atravessava uma fase de grande
desenvolvimento econômico e, por conseqüência, de grande otimismo. A arquitetura
moderna estava alinhada com o pensamento de líderes políticos da época, como por
exemplo, Juscelino Kubitschek, que pretendiam modernizar o país, buscando superar
o atraso frente aos países desenvolvidos. Assim como no Movimento Moderno em
geral, objetiva-se romper com os dogmas do passado. Na arquitetura, a adoção de
teorias e linguagens arquitetônicas modernas veio substituir modelos considerados
superados, como por exemplo, o ecletismo.
A propagação do modernismo arquitetônico em São Paulo em meados do
século XX apresenta peculiaridades em relação ao restante do país. Enquanto no Rio
de Janeiro o ideário modernista brasileiro era construído com substanciais subsídios
do poder público, em São Paulo a arquitetura moderna encontrava seu principal apoio
na iniciativa privada, inserindo-se no processo de construção da metrópole, no qual
ganhavam força propostas inéditas e arrojadas.
Ao assumir o caráter metropolitano e a posição de maior e mais importante
cidade do país, São Paulo entrou num processo de crescimento vertiginoso que
envolveu inúmeros aspectos. Entre eles: economia, industrialização, cultura,
educação, demografia, impressionante expansão territorial e, não menos importante, a
rápida verticalização da ocupação urbana na área central e seu entorno.
A dinâmica de uma metrópole envolve uma infinidade de elementos cujas
interações não podem ser abarcadas em sua totalidade. Algumas soluções
arquitetônicas se adaptam melhor à congestão metropolitana, tanto do ponto de vista
físico, quanto em termos simbólicos. Os edifícios em altura são um bom exemplo.
O crescimento vertical da cidade de São Paulo teve início na década de 1920,
limitado ao centro da cidade e com caráter comercial. A habitação vertical era
associada à moradia coletiva e, por conseqüência, aos condenados e insalubres
cortiços. A verticalização, portanto, teve, a princípio, difícil aceitação. Os imigrantes
europeus que chegavam em busca de melhores condições de vida ajudaram a
divulgar o conceito de moradia em apartamentos, por conhecer essa solução adotada
em seus países de origem. Na Europa, os apartamentos, ou seja, a habitação coletiva
vertical, era apresentada como uma das soluções ideais para se atender às demandas
de déficit habitacional agravadas pela Primeira Guerra Mundial.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
2
94
A aceitação dessa opção de moradia por uma elite cultural formadora de
opinião também disseminou tal solução pela cidade, como no caso do pioneiro e
moderno Edifício Esther, que foi ocupado, a partir da década de 1930, por um público
culturalmente privilegiado.
Outros fatores também contribuíram para a adoção da moradia em
apartamentos na cidade, como a busca da centralidade e da praticidade - itens
crescentemente valorizados com as novas dinâmicas urbanas impostas pela
metropolização. As camadas de médio poder aquisitivo foram as primeiras a adotar a
residência verticalizada. Entre tantos fatores, ponderava-se que era preferível morar
em um apartamento perto do centro do que em uma casa nos bairros mais periféricos.
Na grande maioria dos casos, o processo de verticalização está associado à
lógica da produção capitalista do espaço urbano na cidade moderna, no sentido de se
obter o máximo aproveitamento econômico do lote. Ao construir edifícios com o maior
número possível de unidades, sejam elas comerciais ou residenciais, alguns
elementos são partilhados, principalmente o preço do terreno, os custos por unidade
são reduzidos e a lucratividade do empreendimento é maximizada.
Em São Paulo, o aproveitamento dos terrenos foi sendo progressivamente
ampliado, graças às diferentes formas de ocupação do solo e, principalmente, às
novas técnicas de construção que possibilitaram a verticalização. Também tiveram
papel decisivo as políticas municipais, como aquelas emblematizadas pelo Plano de
Avenidas de Prestes Maia, que incentivaram a construção em altura. Em
contrapartida, também foram adotadas políticas públicas que visavam garantir as
condições mínimas de segurança, higiene e conforto da habitação, impedindo o
adensamento excessivo.
Na década de 1930 iniciou-se, a principio lentamente, o processo de
verticalização de Higienópolis, valorizado bairro residencial vizinho ao centro. Antes
ocupado por chácaras, o bairro era fruto de um empreendimento de alto padrão
cuidadosamente planejado no final do século XIX para abrigar as famílias enriquecidas
pertencentes à elite social da cidade. Dividido em grandes lotes, com vias largas e
arborização bem cuidada, a área foi logo ocupada por casarões, tornando-se um dos
bairros mais nobres da cidade.
Na década de 1930, porém, muitos casarões que haviam sido construídos nos
primeiros anos do século XX foram abandonados. Vários fatores explicam esse
abandono. Suas imensas instalações e a obsolescência de seus programas
resultaram no desinteresse de seus proprietários ou herdeiros em mantê-los, pois para
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
295
isso seria preciso altos investimentos. Era preferível vendê-los aos empreendedores
imobiliários que se mostravam interessados em adquiri-los para a construção de
edifícios.
O prestígio adquirido por Higienópolis ao tempo dos casarões da aristocracia
cafeeira deveria ser transmitido aos novos empreendimentos, por meio de projetos
arquitetônicos de alto nível, encomendados aos melhores profissionais. Dever-se-ia ter
respeito ao entorno urbano, com aproveitamento das qualidades estéticas e
paisagísticas do mesmo; apresentar construção sólida, execução primorosa e detalhes
atraentes, tanto nos elementos propriamente arquitetônicos como em relação ao
paisagismo e à inclusão de obras de arte murais, esculturas, painéis nas áreas
comuns.
Os primeiros edifícios do bairro foram construídos com uma linguagem de
conciliação, combinando a herança acadêmica com programas e sistemas
construtivos modernos. Entretanto, já na década de 1940, surgiram os primeiros
empreendimentos concebidos com a aplicação apurada de preceitos arquitetônicos
modernistas, como por exemplo, os edifícios Prudência e Louveira. Eles foram
seguidos por outros tantos nas décadas seguintes.
O processo de verticalização do bairro se intensificou em meados do século
XX, acompanhando o crescimento verificado na cidade como um todo, e assumindo o
caráter pelo qual é conhecido hoje. Com tal fenômeno, o bairro tornou-se um ponto de
destaque na cidade, como um mostruário arquitetônico, reunindo número expressivo
de exemplares de arquitetura moderna de grande qualidade, formado
predominantemente por edifícios residenciais, que de certa forma perpetuaram o
prestígio e o glamour do período anterior. Formou-se assim um conjunto
impressionante pela variedade, quantidade e qualidade dos edifícios.
São muitos os exemplos de edifícios construídos segundo o padrão modernista
e que adotaram elementos como planta livre, pilotis, teto-jardim, janelas enfileiradas
em linhas horizontais, fachada livre da estrutura, programa racional e divisão modular
e estrutura marcada. Fluidez espacial, integração dos ambientes sociais,
racionalização da circulação, instalações e equipamentos atualizados, iluminação
natural abundante e ventilação cruzada também são elementos recorrentemente
empregados para conferir maior qualidade aos apartamentos. Paisagismo e obras de
arte integrados ao projeto, segundo a proposta moderna de ntese das artes,
contribuem para valorizar diversos edifícios.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
296
Além disso, também seguiam a idéia, igualmente preconizada pela arquitetura
moderna, que diz respeito à boa relação do edifício com a cidade/bairro - fator
claramente percebido em muitos exemplos, que têm suas áreas comuns visualmente
integradas ao espaço público, como, por exemplo, os edifícios Louveira, Bretagne,
Lugano e Locarno, entre outros.
A largura das vias e a arborização intensa implantada na região agregam valor
ao bairro; potencializadas por generosas aberturas e terraços debruçados sobre a
paisagem, propiciam boas condições térmicas e luminosas, resultando em prazerosa
sensação urbana, mesmo em uma área de alto adensamento populacional. O
arruamento regular, a topografia predominantemente plana, a largura das vias, a
dimensão e frente mínima dos lotes, os recuos obrigatórios (em algumas vias,
existentes desde o início do século XX como recuos especiais), as alturas
relativamente limitadas, proporcionais à largura das vias (por conta do Código de
Obras), os espaços verdes (hoje praticamente limitados à Praça Buenos Aires, à
Praça Vilaboim e ao belvedere ao final da Avenida Higienópolis, mas incluindo
originalmente os exuberantes jardins das residências remanescentes), as vistas
descortinadas sobre a região e os vales vizinhos por conta da posição eminente do
bairro, são outros elementos urbanísticos que conferem qualidade à ocupação
existente.
Existe, portanto, uma qualidade especial e peculiar conferida ao conjunto de
edifícios residenciais do bairro de Higienópolis construídos nas décadas de 1940, 1950
e 1960, que deriva de dois fatores básicos. Em primeiro lugar, das inter-relações
existentes entre os edifícios e seu entorno urbano, herdadas em parte da configuração
inicial do bairro. E, não menos importante, da apurada aplicação dos preceitos
modernistas nos projetos arquitetônicos.
O levantamento dos exemplares mais representativos desse conjunto de
edifícios, realizado no âmbito desta pesquisa, confirma, portanto, com base na
identificação, descrição e análise das principais características presentes nos edifícios
residenciais modernistas de Higienópolis, a relação positiva entre a inserção urbana
do edifício e a adoção dos conceitos modernistas nos projetos de arquitetura,
conferindo ao conjunto descrito sua excepcional qualidade.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
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Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
306
Anexo 1
Relação dos 259 edifícios pesquisados, que estavam edificados em 1972,
conforme visualizado no Gegran.
Os edifícios escritos na cor azul são aqueles construídos na década de 1930 e
apresentados no item 3.3.
Os edifícios escritos na cor rosa são aqueles construídos na década de 1940 e
apresentados no item 4.1.
Os edifícios escritos na cor verde são aqueles construídos na década de 1950
e apresentados no item 4.2.
E os edifícios escritos em vermelho são aqueles construídos na década de
1960 e apresentados no item 4.3.
Os números apresentados na primeira coluna, assim como os códigos da
segunda, referem-se à localização de cada edifício no mapa do Anexo 2.
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
307
N Mapa Edifício endereço
Av. Angélica
258 C 6 Edifício San Martin Av. Angélica, 1867
254 D 3 Santa Sofia / Santa Odila Av. Angélica, 1205/1189
96 D 3 Bao da Bocaina Av. Angélica, 1280/1260
101 D 3 Edifício Angélica Av. Angélica, 1311
103 D 3 Edifício Mont Blanc Av. Angélica, 1390
125 D 4 Rio Guaporé Av. Angélica, 1399
122 D 4 Edifício Augusto Barreto Av. Angélica, 1408
130 D 4 São Roberto Av. Angélica, 1489
136 D 4 Edifício Peres de Oliveira Av. Angélica, 1509
137 D 4 Edifício Príncipe de Galles Av. Angélica, 1535
177 C 5 Edifício ? Av. Angélica, 1620
178 C 5 Edifício Paulistânia Av. Angélica, 1648
180 C 5 Edifício São Clemente Av. Angélica, 1653
181 C 5 Edifício Oswaldo Aranha Av. Angélica, 1683
182 C 5 Edifício São José Av. Angélica, 1697
188 C 5 Edifício Rio Piracicaba Av. Angélica, 1777
238 C 6 Edifício São Pedro Av. Angélica, 1803
239 C 6 Edifício Basiléia Av. Angélica, 1851
243 C 6 Imperador Av. Angélica, 1905
252 C 7 Domus Aurea Av. Angélica, 2055
Av. Higienópolis
163 F 4 Edifício Lausane Av. Higienópolis, 101 / 111
2 B 1
Condomínio Edifício Siena Amalfi
Ravenna Av. Higienópolis, 1048
111 F 3 Edifício Higienópolis Av. Higienópolis, 106
1 B 1 Muniz de Souza Av. Higienópolis, 1074
254 D 3 Santa Odila / Santa Sofia Av. Higienópolis, 1189 / 1205
162 F 4 Edifício Itamaraty Av. Higienópolis, 147
112 F 3 Condomínio Higienópolis Av. Higienópolis, 148
144 E 4
Edifício Brasil República / Edifício
Brasil Colônia
Av. Higienópolis, 195 / Rua Maranhão,
192
110 E 3 Edifício Prudência Av. Higienópolis, 235 / 265
107 E 3 Parque Imperial Av. Higienópolis, 240
106 E 3 Mansão Orlandia Rudge Ramos Av. Higienópolis, 308
105 E 3 Edifício Lugano / Edifício Lucarno Av. Higienópolis, 318 / 360
109 E 3 Edifício Versalhes Av. Higienópolis, 349
104 E 3 Dom João V Av. Higienópolis, 370
108 E 3 Edifício Nobel Av. Higienópolis, 375
98 D 3 Condomínio My Flower Av. Higienópolis, 403
97 D 3 Rubayat Av. Higienópolis, 471
253 D 3 Teresópolis Av. Higienópolis, 536
95 D 3 Edifício Santa Mariana Av. Higienópolis, 573
260 D 2 Edifício Apracs Av. Higienópolis, 578
94 D 3 Bao de Antonina Av. Higienópolis, 587
45 D 2 Edifício Parioli Av. Higienópolis, 604
256 C 3 Edifício Mediterranee Av. Higienópolis, 663
255 C 3 Edifício Villa Velha Av. Higiepolis, 683
43 C 2 Edifício Saint Moritz Av. Higienópolis, 701
37 C 2 Pdio Dom Pedro II Av. Higienópolis, 720
42 C 2 Edifício Vila Rica Av. Higienópolis, 727
41 C 2 Santa Terezinha Av. Higienópolis, 741
40 C 2 Condomínio Edicio Aracajú Av. Higienópolis, 765
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
308
Rua Alagoas
224 E 5 Condomínio Imar Rua Alagoas, 101
201
D 5 Edifício Vera Maria Rua Alagoas, 133
199 D 5 Acadia Rua Alagoas, 134
200 D 5 (Cher Mine) Rua Alagoas, 159
193 D 5 Edifício Santa Rita Rua Alagoas, 162
192 D 5 Edifício Itagôas Rua Alagoas, 212
194 D 5 Predio Itacolomi Rua Alagoas, 269
190 D 5 Edifício Alomy Rua Alagoas, 270
139 D 4 Edifício Alagoas Rua Alagoas, 336
138 D 4 Condomínio Alagoas Rua Alagoas, 350
179 C 5 Edifício Rio Capivari Rua Alagoas, 363
121 C 4 Edifício Paquita Rua Alagoas, 475
120 C 4 Edifício Fontaine Le Blue Rua Alagoas, 509
119 C 4 Edifício Soberano Rua Alagoas, 515
115 B 4 Edifício Buenos Aires Rua Alagoas, 664
Rua Alvares Penteado / Pça Vilaboim
77 B 3 Edifício Concórdia
Rua Alvares Penteado / Pça Vilaboim,
23
Rua Aracajú
60 B 3 Ara Rua Aracajú, 137
38 C 2 Edifício Rio das Palmeiras Rua Aracajú, 30
39 C 2 Edifício Jalisco Rua Aracajú, 42
Rua Bahia
71 B 3 Edifício Imperador Rua Bahia,
67 B 3 Edifício Portofino Rua Bahia, 107
68 B 3 Edifício Tulipa Rua Bahia, 116
70 B 3 Edifício Bahia Rua Bahia, 160
113 B 4 Edifício Aca Rua Bahia, 226
114 B 4 Santo Esteo Rua Bahia, 254
172 B 5 Edifício Bahia Rua Bahia, 467
236 B 6 Edifício Itapuã Rua Bahia, 691
66 B 3 Edifício Casa de Bragança Rua Bahia, 70
Rua Cea
116 B 4 Edifício Aldeota Rua Cea, 45
Rua Dona Antônia
229 E 5 Edifício Repúblicas Rua Dona Antônia, 588
Rua Goiás
237 B 6 Edifício Goiás Rua Goiás, 10
Rua Itacolomi
154 E 4 Edifício Idelbrando Rua Itacolomi, 198
141 D 4 Edifício Samabaia Rua Itacolomi, 259
135 D 4 Edifício Leme Rua Itacolomi, 280
140 D 4 Edifício Inga Rua Itacolomi, 300
189 D 5 Edifício Rei Rua Itacolomi, 306
191 D 5 Fleming Rua Itacolomi, 333
196 D 5 Edifício Aracy Rua Itacolomi, 379
195 D 5 Edifício Liliana 3 Rua Itacolomi, 380
198 D 5 Edifício Itaobi Rua Itacolomi, 419
197 D 5 Edifício Santa Genoveva Rua Itacolomi, 420
203 D 5 Marquês de três Rios Rua Itacolomi, 423
202 D 5 Edifício Magnolia Rua Itacolomi, 456
205 D 5 Edifício Itacolomi Rua Itacolomi, 465
217 E 5 Edifício Lu Ferreira Rua Itacolomi, 523
246 D 6 Quingaçú Rua Itacolomi, 538
248 D 6 Edifício São Luiz Rua Itacolomi, 561
241 C 6 Palácio Itacolomi Rua Itacolomi, 570
249 D 6 Edifício Márcia Mônica Rua Itacolomi, 573
250 D 6 Edifício Centro Médico Itacolomi Rua Itacolomi, 601
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
309
Rua Itam
168
F 4
Edifício Engenharia
Rua Itam, 154
169 F 4 Edifício Itam Rua Itam, 186/218
232 F 5 Edifício Marcondes de Mattos Rua Itambé, 247
233 F 5 Iucatan Rua Itam, 289
231 E 5 Edifício Meyer Nigri Rua Itam, 315
259 E 5 Edifício Higienópolis Rua Itam, 316
222 E 5 Edifício Vila Rica Rua Itam, 322
223 E 5
Edifício Imperador Rua Itam, 350
230 E 5 Marquês de Santa Cruz Rua Itam, 367
227 E 5 Edifício Primus Rua Itam, 422
228 E 5 Edifício Le Chateaux Rua Itam, 440
167 F 4 Edifício Arquitetura Rua Itam, 45
251 E 6 Edifício ? Rua Itam, 485
165 F 4 Edifício limoges Rua Itam, 96
Rua Maranhão
22 B 2 Edifício Scardele Rua Maranhão, 1019
9 A 2 Edifício Pacio Adonis Rua Maranhão, 1037
153 E 4 Ibi Rua Maranhão, 107
167 F 4 Edifício Arquitetura Rua Maranhão, 15
151 E 4 Cinderela Rua Maranhão, 163
150 E 4 Edifício São Luiz do Maranhão Rua Maranhão, 181
145 E 4
Edifício Brasil Colônia/ Edifício Brasil
República
Rua Maranhão, 192/ Av. Higiepolis,
195
149 E 4 Bao de Pirapitingui Rua Maranhão, 195
148 E 4 Edifício Itajaí Rua Maranhão, 227
143 E 4 Icaraí Rua Maranhão, 250
147 E 4 Itaici Rua Maranhão, 251
164 F 4 Edifício Lari Rua Maranhão, 26
146 E 4 Esplanada Rua Marano, 261
142 E 4 Edifício Diana Rua Maranhão, 270
102 D 3 Edifício Natania Rua Maranhão, 382
123 D 4 Edifício Cae Rua Maranhão, 441
100 D 3 Olga Rua Maranhão, 500
92 C 3 Condomínio Bolivar Rua Maranhão, 531
91 C 3 Edifício Wagran Rua Marano, 565
99 D 3 Edifício Indaiá Rua Maranhão, 568
90 C 3 Cambuí Rua Maranhão, 569
82 C 3 (?) Rua Maranhão, 600
89 C 3 (?) Rua Maranhão, 617
81 C 3 Edifício Manoel Nascimento Rua Maranhão, 620
87 C 3 Edifício Bentevi Rua Maranhão, 629
84 C 3 Villa Lobos Rua Maranhão, 665
85 C 3 Ariadne Rua Maranhão, 671
80 C 3 Baiamar Rua Marano, 703
79 C 3 Edifício Maranhão Rua Marano, 730
78 C 3 Edifício Litton Rua Maranhão, 738
44 C 2 Edifício Aracajú Rua Maranhão, 792
34 B 2 Edifício Jangada Rua Maranhão, 811
33 B 2 Condomínio Edifício Sara Rua Marano, 823
26 B 2 Edifício Mara Rua Maranhão, 853
25 B 2 Edifício Geri Rua Maranhão, 887
166 F 4 Vendome Rua Maranhão, 89
24 B 2 Condomínio Edifício Gonçalvez Dias Rua Maranhão, 917
23 B 2 Edifício Sion Rua Maranhão, 949
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
310
Rua Pa
242 C 6 Edifício La Plata Rua Pa, 126
245 C 6 Edifício Itapara Rua Pa, 21
187 C 5 Edifício Abaete Rua Pa, 222
235 B 6 Solar do Conde Rua Pa, 241
234 B 6 Edifício Place LeToile Rua Pará, 269
173 B 5 Edifício Palomar Rua Pa, 270
244 C 6 Edifício Irumbi Rua Pa, 49
240 C 6 Edifício Rouxinol Rua Pa, 90
Rua Pernanbuco
30 B 2 Palmares Rua Pernambuco, 108
57 B 3 Eden Rua Pernambuco, 109
29 B 2 Capibaribe Rua Pernambuco, 120
59 B 3 Irajá Rua Pernambuco,14/ Aracaju, 174
28 B 2 Condomínio Edifício Pernambuco Rua Pernambuco, 144
46 A 3 Olinda Rua Pernambuco, 147
64 B 3 Edifício Arper Rua Pernambuco, 15
17 A 2 Edifício Mônica Rua Pernambuco, 167
27 B 2 Edifício Cidade do Recife Rua Pernambuco, 176
16 A 2 Jequitiba Rua Pernambuco, 181
12 A 2 Edifício Emiliano Antonioli Rua Pernambuco, 190
15 A 2 Edifício Santa Cecília Rua Pernambuco, 197
11 A 2 Coronel Sodré Rua Pernambuco, 204
10 A 2 Edifício Oregon Rua Pernambuco, 210
14 A 2 Edifício Rio Rua Pernambuco, 219
58 B 3 Edifício Pernambuco Rua Pernambuco, 46
56 B 3 Condomínio Paladio Rua Pernambuco, 55
32 B 2 Edifício Saveiros Rua Pernambuco, 74
31 B 2 Itamara Rua Pernambuco, 88
Rua Pia
63 B 3 Edifício Professor Vilaboim Rua Pia, 1080
76 B 3 Edifício Louveira Rua Pia, 1081
62 B 3 Edifício Icarai Rua Pia, 1114
74 B 3 Edifício Jóia (confirmar nome) Rua Pia, 1121
61 B 3 Cuia Rua Pia, 1134
73 B 3 Almiro Meirelles Ferreira Rua Pia, 1145
72 B 3 Edifício Dona Ana Rua Pia, 1149
55 A 3 Elenita Rua Pia, 1167
56 B 3 Edifício Mirage Rua Pia, 1184
51 A 3 Edifício Acapulco Rua Pia, 1200
53 / 54 A 3 Pia I e II Rua Pia, 1207 / 1237
50 A 3 Edifício Pacaembu Rua Pia, 1234
49 A 3 Edifício Pirineus Rua Pia, 1246
216 E 5 São Bento Rua Pia, 285
214 E 5 Bao de Jaraguá Rua Pia, 335
212 E 5 Edifício Ouro Verde Rua Pia, 359
210 E 5 Edifício Lindenberg Rua Pia, 413
158 E 4 Edifício Pia Rua Pia, 428
157 E 4 Edifício Salerno Rua Piauí, 456
161 E 4 Edifício Coral Rua Pia, 461
160 E 4 Edifício Ana Regina Rua Pia, 471
156 E 4 Edifício Sorrento Rua Pia, 490
155 E 4 Thereza Brandão de Almeida Prado Rua Pia, 498
134 D 4 Edifício Rubi Rua Piauí, 561
133 D 4 Edifício Princesa Imperial Rua Pia, 595
132 D 4 Edifício Jardim Buenos Aires Rua Pia, 615
131 D 4 Edifício Itamar Rua Piauí, 631
Pioneiros Modernos:
verticalização residencial em Higienópolis
311
127 D 4 Edifício Laranjeiras Rua Pia, 640
126 D 4 Edifício Rejana Rua Piauí, 650
128 D 4 Edifício Rio Cacheira Rua Pia, 665
124 D 4 Edifício Santo André Rua Pia, 752
118 C 4 Edifício Santa Amália Rua Pia, 760
117 C 4 Condomínio Buenos Aires Rua Pia, 800
93 C 3 Edifício Michelangelo Rua Pia, 816
88 C 3 Edifício Faola Rua Pia, 900
Rua Rio de Janeiro
21 B 2 Mansão Vitor Hugo Rua Rioa de Janeiro,
6 A 2 Irma Aguiar Rua Rioa de Janeiro, 129
8 A 2 Edifício Jurucê Rua Rioa de Janeiro, 151
5 A 2 Edgard de Souza Rua Rioa de Janeiro, 160
7 A 2 Edifício Celina Rua Rioa de Janeiro, 182
13 A 2 Mansão Moliere Rua Rioa de Janeiro, 224
18 A 2 Macaé Rua Rioa de Janeiro, 274
19 A 2 Edifício Emilia Miranda Campos Rua Rioa de Janeiro, 280
47 A 3 Edifício Bao de Loreto Rua Rioa de Janeiro, 294
48 A 3 Marqueza de Itu Rua Rioa de Janeiro, 316
52 A 3 Copacabana Rua Rioa de Janeiro, 338
20 A 2 Edifício Topaz Rua Rioa de Janeiro, 347
Rua Saba
213 E 5 Marquês de Saba Rua Saba,
157 E 4 Saba Rua Saba, 213
152 E 4 Edifício Maranhão Saba Rua Saba, 261/299
159 E 4 Edifício Lago Azul Rua Saba, 315
215 E 5 Edifício Félix Guisard Rua Saba, 401
211 E 5 Edifício Coronel J.B.M. Matos Rua Saba, 402
218 E 5 Edifício N. S. Aparecida Rua Saba, 424
220 E 5 Edifício Novo São Paulo Rua Saba, 427
221 E 5 Edifício Saint Michelle Rua Saba, 453
219 E 5 Mansão Verlaine Rua Saba, 472
226 E 5 Edifício ? Rua Saba, 533
225 E 5 Edifício Alamo Rua Saba, 538
Rua Sergipe
207 D 5 Edifício Claudia Rua Sergipe, 290
207 D 5 Edifício Manon Rua Sergipe, 312
209 D 5 Bao de Airoóca Rua Sergipe, 327
208 D 5 Edifício Roberto Moreira Rua Sergipe, 367
204 D 5 Edifício Renata Rua Sergipe, 372
186 C 5 Edifício Fenícia Rua Sergipe, 475
185 C 5 Edifício Palmares Rua Sergipe, 575
176 C 5 Edifício Jaborandi Rua Sergipe, 600
184 C 5 Edifício Gran Ville Rua Sergipe, 605
183 C 5 Edifício Lavínia Rua Sergipe, 611
175 C 5 Pdio São Vicente Rua Sergipe, 618
174 C 5 Itajai Rua Sergipe, 634
171 B 5 Edifício Sergipe Rua Sergipe, 678
170 B 5 Edifício Primavera Rua Sergipe, 686
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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Relação dos 259 edifícios pesquisados, que estavam edificados em 1972,
mapeados no Gegran.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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Relação de todos os edifícios pesquisados e apresentados no Capítulo 4.
Élida Zuffo
Doutorado em Arquitetura e Urbanismo
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Vistarea do Bairro de Higiepolis atualmente. Fonte: www.higienopolis.com
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