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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
DORIS DE OLIVEIRA ARAUJO CRUZ
PERCEBER E (CON)VIVER COM O
CATETER DE DIÁLISE PERITONEAL:
uma contribuição do cliente para a
enfermagem através dos sentidos corporais
RIO DE JANEIRO
2006
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U F R J
Doris de Oliveira Araujo Cruz
PERCEBER E (CON)VIVER COM O
CATETER DE DIÁLISE PERITONEAL:
uma contribuição do cliente para a
enfermagem através dos sentidos corporais
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-graduação em Enfermagem,
Escola de Enfermagem Anna Nery, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de Mestre em Enfermagem (Enfermagem
Hospitalar).
Orientadora: Profª Drª Sílvia Teresa Carvalho de Araújo
Rio de Janeiro
2006
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Cruz, Doris de Oliveira Araujo.
Perceber e (Con)Viver com o Cateter de Diálise
Peritoneal: uma contribuição do cliente para a enfermagem
através dos sentidos corporais/ Doris de Oliveira Araújo
Cruz. – Rio de Janeiro: UFRJ/ EEAN, 2006.
Xi, 109 f.
Orientador: Sílvia Teresa Carvalho de Araújo
Dissertação (mestrado) UFRJ/ EEAN/ Programa de
Pós-graduação em Enfermagem, 2006.
Referências bibliográficas: f. 92 – 95
1. Enfermagem. 2. Diálise Peritoneal. 3. Percepção. 4.
Auto-estima. I. Araújo, Silvia Teresa Carvalho de. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola de
Enfermagem Anna Nery, Programa de Pós-graduação em
Enfermagem. III. Título.
CDD 610.73
Doris de Oliveira Araujo Cruz
PERCEBER E (CON)VIVER COM O
CATETER DE DIÁLISE PERITONEAL:
uma contribuição do cliente para a
enfermagem através dos sentidos corporais
Dissertação de Mestrado submetida ao
Programa de Pós-graduação em Enfermagem,
Escola de Enfermagem Anna Nery, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,
como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Mestre em Enfermagem
(Enfermagem Hospitalar).
Aprovada em 15 de dezembro de 2006
________________________________________________
Presidente, Prof.ª Dr.ª Sílvia Teresa Carvalho de Araújo
_____________________________________________________
Profª. Drª. Iraci dos Santos – FENF/ UERJ
_____________________________________________________
Prof. Dr. Jacques Henri Maurice Gauthier – Universidade Paris VIII
_____________________________________________________
Profª. Drª Margarethe Maria Santiago Rego – EEAN/ UFRJ
_____________________________________________________
Profª Drª Nébia Maria Almeida de Figueiredo – EEAP/ UNIRIO
DEDICATÓRIA
A Osvaldo, incondicionalmente ao meu lado
em mais esta etapa de nossas vidas. Meu poeta: te
amo.
À Judite, minha mãe maravilhosa, obrigado por
tudo e sua benção.
A Oliveiros (in memorian), pai e amigo, artista
por profissão, meu modelo de resistência e otimismo.
HOMENAGEM
À Mestra Silvia, por fazer jus ao sentido maior desta
palavra: conhecedora, constante, firme, defensora,
amável, sensível e amiga. Mais que um prazer,
considero uma honra ter sido orientada por você.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que sempre me acolhe, e pela fé que possuo n’Ele.
Aos mestres da Banca Examinadora que me acompanharam desde a
defesa do projeto: Profª Drª Margarethe Maria Santiago Rego da EEAN/UFRJ,
Profª. Drª. Iraci dos Santos da Faculdade de Enfermagem da UERJ, Profª Drª
Nébia Maria Almeida de Figueiredo da EEAP/UNIRIO e o Prof. Dr. Jacques
Henri Maurice Gauthier da Universidade Paris VIII.
Ao Diretor da Divisão de Enfermagem Hylnar Márcia de Menezes, do
HUCFF/UFRJ, Enfermeiro Álvaro Roberto Dias Costa; à Chefia do Serviço de
desenvolvimento, Enfermeira Sônia Regina Leite Avellar; à Chefia da Seção de
Educação Continuada, Mestra em Saúde Coletiva, Cláudia Maria Barbosa
Fonseca; a Chefia da Seção de Pesquisa, Mestra em Enfermagem Luzia da
Conceição de Araújo Marques; ao Chefe da Seção de Métodos e Técnicas,
Enfermeiro Jorge Luiz de Miranda, as demais chefias e a todos os enfermeiros
que, pelo estímulo diário, me incentivaram desde o início do mestrado.
A Chefia do Serviço de Nefrologia do HUCFF/UFRJ, Prof. Dr. Alvimar
Gonçalves Delgado; à Coordenadora do Setor de Diálise Peritoneal, Drª Renata
Christine Simas de Lima; e à Enfermeira Líder da Diálise Peritoneal, Márcia
Nunes do Valle (“miga”).
À Enfermeira Joselena Aquino Barreto Coelho, uma amiga sempre pronta
às solicitações de auxílio.
À Nutricionista Lucy Alves de Carvalho do Serviço de Nutrição do
HUCFF/UFRJ e à equipe, parceiros na assistência aos clientes e colaboradores
nos encontros do GP.
À Profª Eliana Gesteira da Silva do Centro Cultural do HUCFF/UFRJ, pelo
carinho e amizade.
À Psicóloga Profª Altair da Conceição Gaspar, pelo apoio e incentivo,
agradeço de coração.
Aos funcionários da biblioteca da EEAN/UFRJ, pela parceria e ajuda.
Aos secretários da Pós–graduação da EEAN/UFRJ, pela colaboração.
Às professoras e professores do Departamento de Enfermagem Médico-
Cirúrgico da EEAN/UFRJ, em especial as Mestras Lys Eiras Cameron, amiga
desde a graduação e sempre incentivadora, e a Lílian Felippe Duarte de
Oliveira, pela indicação do primeiro caminho a seguir; a Profª Drª PhD
Jacqueline da Silva, bem como da Profª Drª Maria José Coelho que
acompanharam a trajetória inicial.
Ao trio de perseverança, luta e que persistiu no desenvolvimento dos
trabalhos das disciplinas e defesas, sempre buscando uma palavra de incentivo
e apoio nas diversas dificuldades e em momentos presente ou não. Meu beijo à
Alcinéia Cristina Ferreira Oliveira e Raquel Coutinho Veloso.
Finalmente, um agradecimento muito especial aos clientes do Setor de
Diálise Peritoneal do HUCFF/UFRJ - grupo pesquisador, de suas esposas, seus
esposos, seus filhos e cuidadores, razão desta aventura saborosa. Muito
obrigado pelo empenho e esforço que buscaram para atender as solicitações.
As criaturas que habitam esta terra em que vivemos,
sejam elas seres humanos ou animais, estão aqui para
contribuir, cada uma com sua maneira peculiar, para a
beleza e prosperidade do mundo.
Dalai-Lama (2001, p. 120)
RESUMO
CRUZ, Doris de Oliveira Araújo. Perceber e (Con)viver com o Cateter de
Diálise Peritoneal: uma contribuição do cliente a enfermagem através dos
sentidos corporais. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006
A pesquisa trata das percepções sensoriais do cliente e sua convivência
com o cateter de diálise peritoneal implantado em seu corpo. Realizado no
período de 2005 a 2006 no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, com o objetivo de investigar as
percepções predominantes e os significados a ele atribuídos a partir da
identificação dos sentidos corporais e analisar as percepções indicadoras de
necessidades do cuidado do enfermeiro. Os referenciais teóricos valorizam os
princípios da sociopoética de Gauthier e Santos e os sentidos do corpo de
Araújo. A metodologia é guiada nos fundamentos do grupo pesquisador cujos
passos valorizam a criação artística coletiva em todas as etapas de produção de
dados, implementado através de dinâmicas para a liberação da criatividade e do
imaginário. Os principais resultados emergiram dos sentidos coração, tato e
visão, procedentes de duas categorias: auto-estima e auto-imagem sendo
analisadas a partir das percepções e convivência com o cateter. O reflexo do
cateter no corpo, as sensações de tocar e ser tocado pelo cateter, o sentido de
comunicar no social, o direito e o avesso do cateter foram analisados
subsidiando uma compreensão para o cuidado de enfermagem em nefrologia.
Através desta abordagem houve a chance inédita na instituição pesquisada
destes clientes expressarem de forma criativa sua percepção diante da
convivência com o cateter de diálise peritoneal.
Palavras-chave: Enfermagem, diálise peritoneal, percepção, auto-estima.
ABSTRACT
CRUZ, Doris de Oliveira Araújo. Perceber e (Con)viver com o Cateter de
Diálise Peritoneal: uma contribuição do cliente a enfermagem através dos
sentidos corporais. Rio de Janeiro, 2006. Dissertação (Mestrado em
Enfermagem) – Escola de Enfermagem Anna Nery, Universidade Federal do Rio
de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006
The research treats the sensorial perceptions of the client in their living
with the catheter of implanted peritoneal dialysis in the body. It’s carried through
in the period from 2005 to 2006 in the University Hospital Clementino Fraga Filho
of the Federal University of Rio de Janeiro, with the purpose of to investigate
predominant perceptions and the meanings attributed to it from the identification
of the body feelings and analysis of the indicating perceptions of necessities of
the care of the nurse. The theoretical philosophic conceptions value the
principles and refusals of the social poetical by Gauthier and Santos and of the
body feelings by Araújo. The methodology is guided in the beddings of the
researcher group, implemented through dynamic for the release of the creativity
and of the imaginary. The main results had emerged of the senses vision, touch,
palate and heart, originated from two categories: self-esteem and self-image
being analyzed from the perceptions and living with catheter. The consequence
of catheter in the body, the sensations to be touched and to be touched by the
catheter, the feeling of to communicate in the social scene, the right and
opposite of the catheter had been analyzed subsidizing an understanding for the
care of nursing in nephrology. Through this boarding it had the unknown
possibility in the institution of these customers ahead to express its perception of
the living with the catheter of peritoneal dialysis.
Keywords: Nursing, peritoneal dialysis, perception, self-esteem.
SUMÁRIO
CAPÍTULO 1 - INTRODUÇÃO
1.1 A Razão do Estudo
1.2 O Contexto do Objeto
1.3 As Contribuições do Estudo
12
12
17
23
CAPÍTULO 2 – O CUIDADO DE ENFERMAGEM
2.1 Situando o Cuidado de Enfermagem
26
26
CAPÍTULO 3 – REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
3.1 As Bases da Sociopoética
3.2 Fundamentos do Grupo Pesquisador: Apropriação do
Pensamento de Freire
3.3 O Grupo Pesquisador na Sociopoética
3.4 Os Sentidos Sóciocomunicantes do Corpo como Categorias
Teóricas e Analíticas
3.5 A Escuta Sensível: René Barbier
3.6 A Metodologia do Estudo
34
34
36
38
40
42
42
CAPÍTULO 4 – PRODUÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
4.1 O Movimento para a Produção dos Dados
4.2 O Movimento para Validar os Dados
4.3 A Demanda do Saber
4.3.1 O Sentido Visão
4.3.2 O Sentido Tato
4.3.3 O Sentido Paladar
4.3.4 O Sentido Coração
4.3.5 A Produção Coletiva no Grupo Sociopoético
54
54
56
66
68
73
77
80
86
CONSIDERAÇÕES FINAIS
89
REFERÊNCIAS
92
ANEXO 1 – Aprovação do Comitê de Ética
97
APÊNDICES
A – Comunicação da Pesquisa à Divisão de Enfermagem do HUCFF /
UFRJ
B – Comunicação da Pesquisa ao Serviço de Nefrologia do HUCFF /
UFRJ
C – Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
D – Perguntas dos Sentidos Corporais
E – Quadros de Apurações das Categorias Teóricas
98
99
100
101
102
103
LISTA DE QUADROS
1 - A Percepção Visual do Cliente: O Reflexo do Cateter no Corpo
69
2 - O Toque e o Cliente: As Sensações de Tocar/Ser Tocado pelo
Cateter de Diálise Peritoneal
73
3 - Paladar no GP: O Sentido de Comunicar no Social
79
4 - O Sentido Filosófico do Cliente: Perceber e Conviver com o
Cateter de Diálise Peritoneal
81
5 - Estudo Transversal: O Direito e o Avesso do Cateter de Diálise
Peritoneal
84
6 - Apuração dos Sentidos Corporais: Categorias Teóricas 85
7 - A Produção do Corpo Coletivo
86
CAPÍTULO
1
INTRODUÇÃO
1.1 -
A Razão do Estudo
Muitas vezes buscamos externamente as respostas que, por muito
tempo, fazemos questão de não tê-las. Encontrar a lembrança do primeiro
contato com uma pessoa que apresentasse necessidades especiais de saúde
(NES) na área renal, me remete aos gemidos de desespero pela falta de alívio
da cólica nefrética ao uso dos analgésicos, utilizados por meu pai, durante
inúmeras crises de litíase renal. Essa recordação de infância rendeu-me uma
boa classificação no curso ginasial ao apresentar o aparelho urinário em uma
feira de ciências, não somente pela pesquisa escolar realizada, mas pelo
conteúdo apresentado desde o exame a fresco da urina, como os cálculos
colecionados por anos e exibidos então.
Em 1982, ao freqüentar o Curso de Graduação em Enfermagem da
Escola de Enfermagem Anna Nery da Universidade Federal do Rio de Janeiro
(EEAN/UFRJ), para aprovação como monitora do Departamento de Histologia
do Centro de Ciências da Saúde (CCS) da UFRJ, preparei e apresentei cortes
histológicos dos rins de um cobaio. Visualizando e entendendo esse órgão
vascularizado, rico em túbulos, com glândulas e um desenho enovelado e belo
ao campo microscópico, à época pareceu-me, de certa forma, um controle
daquele órgão. Os anti-espasmódicos, então mais potentes, e o maior
conhecimento científico da formação da calculose, deixou a família em paz, sem
mais noites em claro.
13
Ao ingressar no Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF)
da UFRJ, através de Concurso Público Federal no ano de 1992, onde fui
designada para o setor de hemodiálise. Estava diante de pessoas com NES na
área renal, que por incapacidade deste órgão, dependiam de arcaicas quinas
de diálise para sobreviverem. Um início doloroso, uma responsabilidade
assumida e bastante penosa. A equipe contava com uma enfermeira líder e dois
técnicos de enfermagem para a rotina de dez máquinas e de quatorze a vinte
clientes nos turnos manhã e tarde. As tarefas eram distribuídas por: secretaria,
reposição de material, auxiliar a equipe médica em procedimentos, assistência
de enfermagem antes, durante e após o término da sessão dialítica, a limpeza e
a desinfecção das máquinas e do mobiliário. Assumíamos ainda a Unidade de
Diálise Peritoneal Intermitente (DPI), que constava de quatro clientes e um
técnico de enfermagem.
Hoje o atendimento se dá em melhores instalações, com tecnologia
avançada das máquinas e ampliação dos recursos humanos.
No ano de 1999, fui convidada a participar do grupo que daria início ao
Programa de Diálise Peritoneal Ambulatorial Contínua (CAPD) do HUCFF/UFRJ,
com o intuito de participar da assistência de enfermagem num contexto, que se
caracterizou por ser interdisciplinar. Esse grupo foi integrado por: nefrologistas,
cirurgiões, infectologistas, nutricionistas, assistentes sociais, além das chefias
de enfermagem e médica.
Participei das discussões para a construção de rotinas de orientação para
captação de clientes, treinamento e implante cirúrgico do cateter de diálise
peritoneal. Além destas rotinas, foram discutidos o planejamento das visitas
domiciliares, os protocolos para diagnóstico e tratamento de infecções peritoneal
14
e do local de saída do cateter (LSC) de diálise peritoneal. Outra medida foi
elaborar as rotinas de exames laboratoriais, de imagem e da eficácia do
tratamento, sendo estabelecidas ainda, a forma de transferência dos clientes
para outras terapias renais substitutivas (TRS)
1
.
Simultaneamente foi selecionado o espaço físico no setor cuja sala, um
antigo laboratório de pesquisa, foi adaptada ao atendimento. Ao ter participado
de todas as etapas desse processo, destaco que, cabe à enfermeira parcela
significativa do acompanhamento do cliente em diálise peritoneal (DP), e que
será descrito no Capítulo II.
Nos anos seguintes, à medida que o número de atendimentos aos
clientes aumentava, fui participando de fóruns de discussões, seminários e
congressos com o objetivo de atualização e troca de experiências que
envolviam o cuidado dessa clientela. Observei o quanto a enfermagem em
nefrologia vinha produzindo conhecimento, se organizando como sociedade,
publicando e se fazendo presente, conforme denotava a Portaria nº 82, de 03 de
janeiro de 2000, que estabeleceu o Regulamento Técnico para o funcionamento
dos serviços de diálise e as normas para o cadastramento destes junto ao
Sistema Único de Saúde (SUS). Esta Portaria foi revogada ao ser instituída a
Política Nacional de Atenção ao Portador de Doença Renal através da Portaria
1168/GM, de 15 de junho de 2004.
Convém destacar que, diferente da hemodiálise, a diálise peritoneal não
oferece dor para o cliente. A terapia é simples e ocorre em três tempos de
diálise: infusão, permanência e drenagem, permitida através do cateter
peritoneal, dos circuitos e das bolsas, que são facilitados pela força
1
TRS – Distingüe-se em hemodiálise, diálise peritoneal e transplante renal.
15
gravitacional. Verifica-se a presença da dor na ocorrência de peritonite, o que
significa urgência.
Em relação a assistência exige-se um amplo domínio sobre as diversas
interfaces envolvidas no cuidado de clientes de média e alta complexidade.
Apesar de acompanhar a evolução tecnológica na área, foi a convivência
diária com clientes com NES na área renal em DP, que me fez aproximar ainda
mais de sua realidade, diante da condição especial de necessidades de saúde,
por vezes verbalizadas, outras não.
Ao ampliar minha reflexão sobre cada individualidade e sobre a
dificuldade da maioria em tocar-se, aceitar e conviver com o cateter implantado
em seus corpos, uma nova perspectiva, que pelo fato de ser definitiva, cabe a
responsabilidade de preservá-lo e realizar sua própria diálise. Constatei então
que, para alguns clientes não parecia tão claro, e tão evidente e fácil imaginar e
conviver com um “tubinho plástico” como parte integrante de si.
Assim, quando Chauí (2005, p. 130-131) destaca que o eu é o centro de
todos os estados corporais e psíquicos e que é formado por vivências, produto
do que sentimos; podemos compreender a importância do que ocorre em nosso
corpo e no mundo ao redor com a implantação de um cateter peritoneal. É a
forma como cada um se percebe, imagina, lembra, age, ama e odeia, sente
prazer e dor, se posiciona diante de tudo e de todos.
A autora destaca que o sujeito é dotado de atitude reflexiva, da
capacidade de conhecer-se no ato do conhecimento, percebedor, imaginante,
memorioso, falante e pensante. Ele se ocupa com a noção do espaço e do
tempo, causa e efeito, princípios e conseqüências, verdadeiro e falso, matéria e
forma, signo e significação. A pessoa é a consciência capaz de ser livre e
16
racional para escolher, deliberar e agir conforme valores, normas e regras. É a
capacidade de entender e interpretar sua própria condição física, mental, social,
cultural e histórica, viver em sociedade segundo seus valores morais, ter
escolhas e decisões próprias (CHAUÍ, 2005, p.131).
Finalmente, o cidadão é a consciência de si definida pela esfera pública
dos direitos e deveres civis e sociais, das leis e do poder político (CHAUÍ, 2005,
p. 130-131).
Ao mesmo tempo, desenvolvendo essa reflexão busco compreender, a
partir da visão do próprio cliente, sua percepção e convivência com o tubo e sua
preservação como acesso fundamental para manutenção de sua vida. Na
prática profissional acredito que torna-se difícil, para alguns clientes, imaginar e
conviver com o cateter como um apêndice
2
de seu corpo.
Segundo Savoldi et al (2003, p. 414), a enfermagem ao cuidar do cliente
institucional deve entender as dimensões do eu, da pessoa, do sujeito e do
cidadão, como primeiro passo para alcançar o bem-estar e o bem viver. E,
completam referindo que, o cuidado deve ser integral no âmbito físico,
emocional, intelectual, social, cultural, espiritual e profissional.
Partindo destas considerações, pretendo investigar, como objeto deste
estudo, as percepções sensoriais do cliente frente ao cateter de diálise
peritoneal implantado em seu corpo. E, através destes, compreender o universo
subjetivo a partir de suas idéias, sensações e representações imaginativas.
Acredito na importância da compreensão desse processo de transformação,
associação e abstração sensoriais impostas a partir da implantação do cateter
2
Parte acessória de um órgão, ou que lhe é contínua, mas distinta pela forma ou posição
(AMORA, 1999).
17
peritoneal em uma fase de mudança na condição de vida. E destaco também,
como responsabilidade político-social do enfermeiro a valorização da percepção
do cliente para o ajustamento às etapas do tratamento.
1.2 - O Contexto do Objeto
O cliente ao iniciar o tratamento seja através do ambulatório ou pela
emergência, apresenta como característica comum: a inserção do cateter que
resulta, a meu ver, em uma metamorfose do corpo. Segundo Rector e Trinta
(1990, p. 33-35), o homem capta informações através de sistemas receptores
onde o modificadas pela ação cultural, tanto individual, quanto coletiva. É
através do corpo que ocorre o recorte de um modelo de mundo, absorvendo-o e
transformando-o em cultura através dos sentidos corporais.
Segundo Romão Jr. (2004, p. 1), a detecção precoce da doença renal e
condutas terapêuticas apropriadas para o retardamento de sua progressão,
pode reduzir o sofrimento dos clientes, os custos financeiros associados e a
vigilância primária, são essenciais para o diagnóstico e encaminhamento
precoce ao serviço de nefrologia e a instituição de diretrizes apropriadas para
retardar a progressão da Doença Renal Crônica (DRC). Mas os clientes com
disfunção renal leve apresentam, quase sempre, evolução progressiva, insidiosa
e assintomática, dificultando o diagnóstico precoce da disfunção renal.
O início da TRS deve ser estabelecido pelo nefrologista, com base na
filtração glomerular e no quadro clínico do cliente (BARRETTI, 2004, p. 47), e
quando instalada, a diálise peritoneal evidenciada por Daugirdas (2003, p.287),
envolve o transporte de solutos e água através de uma “membrana” que separa
dois compartimentos que contêm líquidos. Esses dois compartimentos são: (a) o
18
sangue no capilar peritoneal, o qual na insuficiência renal contém um excesso
de uréia, creatinina, potássio, e outros; e (b) a solução de diálise na cavidade
peritoneal, a qual tipicamente tem sódio, cloreto e lactato, e é convertida em
hiperosmolar pela inclusão de uma alta concentração de glicose. A membrana
peritoneal que age como um “dialisador” é na verdade uma membrana semi-
permeável, heterogênea, contendo ltiplos e diferentes poros, com uma
fisiologia e uma anatomia relativamente complexa.
De acordo com Bevilacqua (2001, p. 7), os requisitos básicos para o
cliente com maior chance de sucesso em diálise peritoneal ambulatorial são:
auto-estima e autocuidado; compreensão dos conceitos básicos da técnica;
habilidade manual para executar as trocas de bolsas pessoalmente, disciplina
para executar tarefas em horários rígidos, de maneira automatizada; estar
motivado com a técnica; e ainda a participação da família; manter condições
domiciliares mínimas e, facilidade de comunicação e locomoção para a Unidade.
Acrescenta Holley (2004) que o sucesso da DP está diretamente
relacionado ao acesso seguro e permanente à cavidade peritoneal. A
localização e manutenção do cateter deve permitir um fluxo de dialisato
consistente, sem esforço extra ou desconforto. Aproximadamente 20% da
transferência definitiva para hemodiálise estão relacionadas ao cateter, sendo
que a negligência na escolha do tipo adequado recai sobre uma sobrevida total
do cateter em aproximadamente 88% em um ano, e a razão de remoção de
15% ao ano. O cateter de duplo “cuff”
3
é recomendado em vista ao menor
número de complicações do óstio de saída e primeiro episódio de peritonite em
3
Anel de feltro que fixa o cateter no subcutâneo e promove uma barreira bacteriostática
(HOLLEY, 2004).
19
relação aos de “cuff” único. Dentre os cateteres mais utilizados, estão o de
Tenckhoff e o Swan Neck Missouri.
Figueiredo (2004) cita que, dentre os profissionais envolvidos na diálise
peritoneal ambulatorial se destaca o enfermeiro, presente em todas as etapas
desse processo, e apresenta destaque em exercer um papel fundamental para o
sucesso do programa de atendimento institucional.
Para Araújo (2000, p. 65), “estar envolvido, experimentar a empatia e
manter o respeito mútuo numa interação, implica um gasto de energia”, e para a
compreensão do cliente em todas as suas dimensões de ser humano e respeitá-
lo como tal, é imprescindível “ouvir o silêncio, ou seja, a comunicação não
verbal”. Tal afirmação vem ao encontro com a prática vivenciada junto aos
clientes com NES na área renal em DP.
Segundo Marzano-Parisoli (2004, p. 15), “toda a ação realizada e toda
relação constituída, colocam em jogo nossa corporeidade”, e por isso, devemos
levar em conta e procurar compreender, não apenas o elemento material que
existe do corpo, mas também as relações existentes entre desejos, emoções e
sensações presentes neste corpo.
Observamos que a dinâmica do cliente frente ao tratamento perpassa
tranquilamente quando ocorre um bom entrosamento entre este e sua família,
principalmente havendo diálogo entre estes. Em famílias de menor número,
uma determinada pessoa assumindo uma co-participação no tratamento
constitui um agente facilitador para o cliente.
Dentre as inúmeras tarefas domiciliares pode-se destacar: escalas para
trocas, transporte para o treinamento, acompanhamento à internação para o
20
implante do cateter, retorno para o breack-in
4
semanal, acompanhamento
ambulatorial mensal após o início da terapia domiciliar, e as intercorrências que
requeiram atendimento urgente e/ou internação.
A relação enfermeira-cliente é iniciada, em muitos casos, através de
encaminhamento com urgência dialítica quando, corroborando Diniz (2004), em
linhas gerais, as etapas de ingresso na terapia geram “desorganização mental”
no cliente quando são suprimidos os processos iniciais de introdução ao
tratamento resultando em comportamentos reativos.
Tais comportamentos, adotados pelos clientes quando encaminhados à
sala de diálise peritoneal ambulatorial, denotavam estar mal informados sobre a
real extensão de sua doença e as distintas formas de tratamentos indicados.
Apresentavam-se temerosas e inseguras e esperavam solução imediata e total
para sua problemática. Ao receberem as primeiras informações sobre a DP,
primeiramente questionam se é necessário montar um “mini-hospital” em suas
casas. Outros referem dificuldades financeiras para arcar com as despesas com
medicações, alimentos e deslocamentos para o hospital no período inicial do
tratamento, que requer intervalos breves entre as consultas da equipe de saúde.
Observa-se no cotidiano que alguns clientes dependem de familiares para
se locomoverem, ou mesmo para a realização da cnica exigida pela terapia.
Esta relação de dependência deixa-os vulneráveis, ao extremo de perderem o
livre arbítrio em decidir sobre ações simples de seu cotidiano como escolher a
roupa para vestir-se, opinar sobre os alimentos prediletos permitidos na dieta,
caminhar no seu próprio domicílio, entre outros.
4
Infusão de solução de diálise e sua drenagem à seguir, para remoção de fibrina ou coágulos da
cavidade peritoneal após o implante cirúrgico e enquanto não se inicia a terapia domiciliar.
21
Notei que havia um cuidado familiar e um preparo rigoroso para a
internação quando o implante do cateter era agendado com antecedência. As
recomendações feitas para o pré e pós-operatórios eram entregues por escrito e
discutidas com o cliente e sua família. Observei que estes as seguiam até com
certo rigor.
Mas, apesar disso, não encontrei registros de pesquisas que pontuem a
percepção sensorial do cliente frente ao cateter. Observo na prática que os
clientes não verbalizam a insatisfação em portar um cateter peritoneal. Alguns
se manifestam surpresos com a informação da permanência definitiva em seu
corpo.
Segundo Holley (2004) os problemas oriundos do implante muitas vezes
decorrem de cirurgias de urgência ou inexperiência do cirurgião quanto a técnica
de implantação do cateter peritoneal. A migração do cateter, extrusão do “cuff”
subcutâneo e vazamentos de solução pelo óstio podem ser evitados quando
estes fatos são sanados.
Apesar do avanço tecnológico do cateter, do tratamento, das ações de
enfermagem na especialidade, como o cliente pode conviver com o cateter, e
dele cuidar vendo-se, tocando-se, ouvindo-se, apesar das mudanças geradas
no seu corpo?
Diante do exposto, como não valorizar a percepção sensorial do cliente
se, no curso do tratamento, observei clientes que negligenciavam a higiene
pessoal, o autocuidado ou a técnica do tratamento domiciliar? Muitos deles
retornavam apresentando infecção do local de saída, infecção do túnel ou
peritonite, após o primeiro episódio de peritonite, quando era intensa a dor
22
abdominal, acompanhada ou não de vômitos e diarréia, podendo ser indicada a
internação hospitalar ou mesmo a retirada do cateter.
Gostaria de destacar que é comum o cliente permanecer por longo
período sem intercorrências. A diversidade de situações fez-me refletir sobre o
cliente e sua capacidade de negligenciar as orientações recebidas, para checar
se não havia exagero nas recomendações. Alguns clientes apresentavam
peritonites de repetição, apesar de treinamentos sucessivos, e para esses era
contra-indicado a permanência em diálise peritoneal.
Acompanhei uma jovem com cicatrização bastante retardada do local de
saída do cateter (LSC), seguida de infecção, e que apresentou complicações
como insuficiência dialítica. Aventou-se a hipótese da falência de membrana
peritoneal, sendo internada e monitorada. Foi comprovado que esta não fazia o
uso correto das medicações recebidas da Secretaria Estadual de Saúde, e não
realizava o número prescrito de trocas da diálise. Esta moça repuxava o cateter
sem a fixação adequada para vestir-se com roupas muito justas e calça
comprida de cintura baixa.
Para Marzano-Parisoli (2004, p. 67):
O discurso contemporâneo sobre a saúde, a enfermidade e a
doença nem sempre é capaz de explicar verdadeiramente o
sofrimento que os doentes e os enfermos vivem dia a dia, nem
sobretudo, a relação particular que cada pessoa doente ou
enferma estabelece com seu próprio corpo.
Outras ocorrências citadas por Daugirdas (2003, p. 427) são a presença
da disfunção sexual, como a impotência em 70% dos homens, e os relatos de
mulheres com diminuição na freqüência de orgasmos durante a relação sexual.
23
Haviam relatos de dificuldades em manter relações sexuais devido à
presença do cateter como “aparelho” ou um “impecílio” , tivemos uma cliente
idosa que divertia-se em chamá-lo de “piru”.
Saes (2003, p. 9) ressalta o fato de clientes que iniciaram o tratamento
recentemente, costumarem apresentar mais insegurança do que os que fazem
diálise há mais tempo, e por isso, já estão menos ansiosos em relação às
dúvidas que surgem no decorrer da mesma. mudanças no estilo de vida no
presente, e o receio do futuro gera ansiedade.
Algumas questões nortearam minhas reflexões nesta pesquisa, a saber:
Qual a percepção do cliente sobre o cateter de diálise peritoneal?
Qual é o sentido atribuído pelo cliente com doença renal crônica à sua
convivência com o cateter de diálise peritoneal?
Os objetivos traçados foram:
Identificar o sentido de conviver com o cateter de diálise peritoneal
através das manifestações verbais de clientes com doença renal
crônica.
Analisar a percepção sensorial do cliente sobre sua convivência com o
cateter de diálise peritoneal.
1.3 - As Contribuições do Estudo
No Brasil, a prevalência de clientes mantidos em programa crônico de
diálise mais que triplicou em doze anos, passando de 24.000 pacientes em
1994, a 70.872 pacientes em janeiro de 2006. A incidência de novos clientes
em 2005-2006 foi de 8.8% ao ano. O gasto com a manutenção de clientes em
programas de diálise e transplante renal no Brasil ultrapassa a casa de 2 bilhões
24
de reais. O Sistema Único de Saúde (SUS) representa a principal fonte
pagadora, financiando 89,4% dos clientes em diálise no Brasil. A distribuição
dos clientes por tipo de diálise é de 90,7% (N=64.306) em hemodiálise e 9,3%
(N=6.566) em diálise peritoneal (SBN, 2006).
Pretendo, através desse estudo, ampliar o conhecimento obtido nas
pesquisas em enfermagem em nefrologia no cuidado ao indivíduo com
necessidades especiais de saúde na área renal, portador de cateter de diálise
peritoneal em tratamento ambulatorial.
A pesquisa possibilitará interpretar a partir dos sentidos
sociocomunicantes do corpo de Araújo (2000), para analisar os significados
atribuídos pelos sujeitos da pesquisa, como forma de tradução das suas
percepções sensoriais com subsídios para o cuidado de enfermagem.
Esse estudo também pretende aumentar os saberes produzidos com a
união do enfermeiro e o cliente, a partir da visão do próprio indivíduo,
subsidiando uma reflexão para a assistência de enfermagem aos aspectos
subjetivos a serem considerados no cuidado com o cateter de diálise peritoneal.
Além disso, o estudo visa contribuir para enriquecer o acervo e o ensino
no hospital de referência e campo de prática, tanto para alunos de nível técnico,
graduandos de enfermagem, como da pós-graduação (lato sensu e stricto
sensu), ao Núcleo de Pesquisas em Enfermagem Hospitalar - NUPENH, da
EEAN/UFRJ, essa produção se desdobra.
Adicionalmente, ampliar as pesquisas na abordagem sociopoética, e
porquê não fazê-lo! E com o compromisso pessoal com o não sofrimento,
parafraseando Santos (1996, p. 10).
25
Diante do exposto, acredito que essa pesquisa abrirá um espaço
institucional para dar voz aos clientes, e com a sua vivência compreender o que
se passa com ele; e de corpo inteiro, que o abdome é o local onde o cateter
está implantado fazendo parte do seu corpo; mas também suas idéias,
sensações e emoções passam a fazer parte essencial, a serem consideradas,
em relação ao cuidado de enfermagem prestado.
26
CAPÍTULO 2
O CUIDADO DE ENFERMAGEM
Neste capítulo, faço menção ao cuidado do enfermeiro trazido de seu dia-
a-dia e devolvido em forma de produção científica.
2.1 - Situando o Cuidado de Enfermagem
Ao levantar informações sobre as fontes de pesquisa de 2000 a 2006 nas
publicações de enfermagem, localizei na dissertação de Saes (2003), um acervo
que trata não somente do cliente com necessidades especiais de saúde na área
renal. A autora refere que a utilização da pesquisa sociopoética busca valorizar
o imaginário do cliente como fonte de informações de grande relevância para
auxiliar no cuidado de enfermagem. Isto porque o desvelamento do imaginário
permite compreender o somente as imagens armazenadas no consciente,
como também buscar as diferentes reações comportamentais que cada cliente
apresenta quando se defronta com a doença e o tratamento dialítico.
Um programa educativo, segundo Pacheco et al (2006, p. 434-39), deve
ser promovido pela equipe multiprofissional que atue no tratamento conservador
do cliente visando a participação ativa para o autocuidado que atenda suas
necessidades no processo da doença renal.
A escolha da terapia para a DRC inclui preservar a função renal residual,
evitar complicações urêmicas, educação na modalidade dialítica, implantação do
acesso para o tratamento e o início oportuno da diálise (GOKAL, 2000).
O cuidado deve ser integrado com o objetivo de oferecer as três
27
modalidades de terapia renal substitutiva. O transplante renal quando possível é
a modalidade preferida. Os clientes devem receber informações que favoreçam
a livre escolha, pois durante a vida do cliente com NES na área renal, todas as
três modalidades podem participar da terapia renal substitutiva (LAMEIRE et al,
1999).
A função renal residual (FRR) contribui para a manutenção do balanço
hídrico e para remoção de solutos. Estudos recentes têm evidenciado a
importância da preservação da função renal residual para o clearance de
creatinina, pois a diálise peritoneal mostra-se vantajosa em relação à
hemodiálise prolongando-a.
O tratamento em diálise peritoneal necessita para seu bom
desenvolvimento, uma equipe multidisciplinar composta por médicos,
enfermeiros, psicólogos, nutricionistas, assistentes sociais e secretária.
A diálise peritoneal ambulatorial constitui um tratamento dialítico
domiciliar o que diminui consideravelmente o deslocamento ao hospital, todavia
há requisitos essenciais a serem cumpridos:
Seu sucesso repousa fundamentalmente no paciente, que
necessita possuir a capacidade e a resolução em manter o
tratamento, efetuar as trocas de bolsas com igual cuidado
e seguir as instruções sobre os vários aspectos clínicos e
técnicos inerentes a esta modalidade dialítica
(BEVILACQUA, 2000, p. 4).
A organização de um programa de diálise peritoneal requer tempo e
planejamento cuidadoso. São enumeradas por Figueiredo (2004) como
qualidades essenciais da enfermeira de diálise peritoneal: ter amplo
conhecimento de enfermagem em nefrologia; ser habilitada na comunicação e
nas boas cnicas de educação (os clientes vão de analfabetos a pós-
graduados); manter a paciência; consistente com procedimentos (coerência no
28
que faz e ensina); manter o senso de humor; comunicar-se bem com cliente,
família e equipe (a família toda “adoece”); possuir bom julgamento, capacidade
de liderar e tomar decisões; acreditar que o paciente pode cuidar-se em casa;
ser habilidosa no ensino e no trabalho com clientes crônicos.
A elaboração de protocolos que norteiam a equipe interdisciplinar visam
operacionalizar um programa amplo de assistência clínico-dialítica e um plano
de ensino individualizado passo a passo do cliente e de seu familiar.
Destaco, a seguir, algumas ações do enfermeiro frente ao cuidado desse
cliente na instituição.
Ao ser admitido no programa de DP, o implante do cateter de DP deve
ser agendado. A equipe de cirurgia treinada e familiarizada com o tipo de cateter
e a técnica cirúrgica cuja preferência recai sobre o lado direito, o que faz com
que a porção intraperitoneal do cateter acompanhe o sentido do peristaltismo
intestinal, ajudando a evitar a translocação do mesmo. O local e altura que este
deverá ser colocado no abdome e seu local de saída deve ser avaliado antes da
cirurgia, visando maior conforto do cliente e evitando-se a linha onde este utiliza
o cinto ou elástico de roupas íntimas. O aparecimento de hérnias incisionais,
infecções e outras complicações podem ser evitadas se tais cuidados forem
levados em consideração.
O setor de Diálise Peritoneal-CAPD atende a clientes para treinamento,
acompanhamento de controle ambulatorial, testes de permeabilidade da
membrana peritoneal (PET), atendimentos de urgência em relação a terapia
dialítica e administração de medicações de rotina. A demanda interna é
proveniente do tratamento conservador do ambulatório de nefrologia, dos
ambulatórios de clínica médica e cardiologia da instituição, das unidades de
29
internação após o parecer do nefrologista, e referenciados de outros serviços de
diálise, público ou não, para acompanhamento dialítico que necessite o suporte
de outras especialidades de alta complexidade.
Este setor possui uma enfermaria com leitos para 2 clientes que realizam
DPI (diálise peritoneal intermitente) em duas cicladoras automáticas sendo estes
submetidos a 2 seções semanais de 20 horas cada. Na DPI a enfermeira instala
o cliente, prescreve cuidados de enfermagem e um técnico de enfermagem atua
em turnos no setor. Esta modalidade de terapia tem indicação restrita a clientes
sem condições alguma de realizar a terapia no domicílio. Seja em função do
ambiente domiciliar inadequado, da ausência de familiar em caso de sua
impossibilidade de realizar o próprio tratamento e dos que não tenham acesso
vascular para hemodiálise ou indicação para transplante renal. Em decorrência
da sua intermitência é desaconselhado seu emprego como TRS.
De acordo com a avaliação da urgência ou não, há a indicação da
modalidade de terapia CAPD de forma manual: (diálise peritoneal ambulatorial
contínua), ou de forma automática em cicladoras: DPA (diálise peritoneal
automática) que divide-se em DPAC (diálise peritoneal automática contínua) e
DPAI (diálise peritoneal automática intermitente) que ocorre somente à noite. Os
treinamentos são iniciados prontamente, bem como são providenciados os
exames pré-operatórios para o implante do cateter.
Após o período de treinamento no Setor o cliente e/ou seu familiar está
apto a realizar uma destas terapias domiciliares.
Na modalidade CAPD, o tratamento padrão de 4 trocas oferece o
intervalo entre trocas em média de 5 a 6 horas, porém clientes do programa
30
que realizam 5 trocas ao dia e dormindo com a cavidade vazia
5
, o que reduz os
intervalos para 4 horas em média, acarretando uma disponibilidade menor de
tempo à estes nos deslocamentos e estadas fora do domicílio.
O treinamento consta de no mínimo oito aulas teórico-práticas,
adequando-se a capacidade do cliente/familiar em assimilar os conceitos e
execuções práticas dos procedimentos. Este deverá ser individualizado e, de
preferência realizado na presença do cliente, seja ele ou não o responsável
pelas trocas. Na eventualidade do cliente o realizar o procedimento, o
treinamento será administrado a dois familiares, ou ao familiar e um cuidador.
Apresenta-se o conteúdo geral e os conceitos sicos, tempo do
treinamento, o papel de cada membro da equipe, sinais e sintomas da DRC e
suas formas de tratamento, modalidades de diálise peritoneal, o cateter
peritoneal, demonstração da troca, armazenagem e rejeito das bolsas, noções
de assepsia, demonstração de pontos frágeis do sistema, balanço hídrico,
equilíbrio de perda e ingesta, ganho ponderal, diferentes concentrações das
soluções e indicações de uso, importância dos horários das trocas e
permanência na cavidade, treinar a verificação do pulso, temperatura axilar e
pressão arterial, dieta alimentar, necessidades proteico-calóricas, fibras, controle
de sódio, potássio, cálcio e sforo, fome e apetite, medicamentos usados de
rotina, intercorrências e urgências, dores, inapetência, efluente
6
hemático,
cefaléia e tontura, cansaço e dispnéia, obstipação intestinal, retenção de
volume, infecção do local de saída do cateter, quebra da integridade do sistema,
infecção de túnel, peritonite, hipoglicemia, extravasamento de líquido pelo
5
A troca consiste em drenar o dialisado saturado após o período limite de horas e infundir uma
nova solução dialítica para outro intervalo de tempo. Ao drenar e não infundir nova solução a
cavidade peritoneal permanece vazia.
31
orifício de saída, situações especiais e do cotidiano, atividade física,
sexualidade, trabalho, viagens, praia e piscina, acompanhamento das trocas
realizadas pelo cliente e avaliação do treinamento.
Sempre que possível, é fundamental, a visita domiciliar. Um dos objetivos
é auxiliar o cliente na adaptação de seu domicílio para a realização das trocas
das bolsas. Observa-se nesta oportunidade o tipo da construção, número de
cômodos, número de pessoas que vivem na casa, rede elétrica e facilidade de
acesso para comunicação telefônica, saneamento básico, condições de
iluminação e ventilação na casa, avaliação do local das trocas e do
armazenamento das bolsas; relacionamento interpessoal dos moradores. O
enfermeiro pode ou não estar acompanhado de outro membro da equipe
multidisciplinar.
As limitações impostas pela dieta, a exigência de um familiar presente em
situações de descompensação, muitas vezes substituído pelo cuidador, acabam
Saes e Araújo (2004, p. 261) citam como competência do enfermeiro,
desenvolver habilidades técnicas e humanas para intervir junto à situação
vivenciada por essa clientela, o que demanda o desenvolvimento de sua
capacidade em se comunicar, que acontece através de formas verbais e não-
verbais, e tem como objetivo a troca de informações.
Lidamos com corpos mergulhados no imaginário, na
subjetividade, e sobretudo, nas interações humanas. O não
poder se entender como uma profissão da psicologia, da
sociologia, da antropologia, da filosofia, da psiquiatria e das
ciências exatas e naturais conduz a enfermagem a se aceitar e
se entender como uma ciência do sentir que precisa das
demais áreas citadas para ancorar sua prática de cuidar do ser
humano. (FIGUEIREDO et al, 2005, p. 97)
6
Líquido de diálise drenado ao final da etapa do tratamento.
32
Em estudos sobre os tipos de comunicação não-verbal (CNV), Araújo
(2000, 2002, 2004) define como forma proxêmica a posição mantida entre as
pessoas na interação, podendo esta ser a aproximação ou o afastamento entre
os corpos. E cita:
Em geral na comunicação interpessoal, os canais se referem
aos órgãos dos sentidos, principalmente a visão, a audição e ao
tato, embora o olfato e o paladar tenham de ser também
considerados. Em um ato comunicativo, usamos um ou mais
canais associados. O uso efetivo de nossos sentidos é que
assegura a percepção acurada da mensagem. (ARAUJO, 2000,
p. 65)
Para a forma tacésica conjugada, a mesma autora (2004, p. 167) destaca
como:
O toque afetivo e terapêutico durante a realização dos
procedimentos ou ações de enfermagem, tendo relação direta
com a região do corpo envolvida, com características próprias,
tais como, profundidade, temperatura e tempo do contato.
A autora registra que, na maioria das ões de enfermagem o toque
no cliente e esse modo de comunicação tátil (CNV) a transmissão do estado
emocional do enfermeiro e seus pensamentos são significativos.
A forma cinésica envolve os movimentos relacionados não somente ao
corpo, mas individualmente, a cada uma de suas regiões: a cabeça, os
membros, o tronco e cada grupamento muscular que os envolve.
Afirma Silveira (2001), que os enfermeiros trabalham em todo momento
com corpos, não apenas corpos físicos, mas também afetivos, libidinais, entre
outros. um compromisso e uma questão ética nesse contato que o
enfermeiro deve se permitir como experiência interna.
A especificidade do trabalho realizado junto ao portador de NES na área
renal em DP é desenvolvida através de uma disponibilidade física e mental da
33
oferta do cuidado. Há uma busca de totalidade daquele indivíduo no que tange à
sua realidade, e também à do enfermeiro comprometido com o cuidado
oferecido.
Os procedimentos científicos e tecnológicos exigem do
profissional: a reunião de competência técnica, sensibilidade e
habilidade em interação humana; compreensão da condição
humana e da existência do ser humano em suas dimensões
física, mental, intelectual, social, profissional e espiritual.
(SANTOS, 2005, p. 53)
No estudo desenvolvido por Saes e Araújo (2004) tendo como cenário a
diálise peritoneal, os autores destacam como sujeitos da pesquisa os clientes
com NES na área renal, aplicaram o método da sociopoética à técnica dos
sentidos sociocomunicantes do corpo, visando à compreensão de como o
cliente sente a presença da enfermeira no cuidado e como o percebe. O estudo
levou em conta a experiência de vida do cliente e como este compreende, se
adapta e lida com seus problemas. Através dos dados produzidos pelo grupo
pesquisador foram classificados por categorias teóricas relacionando-as ao
codinome e ao cuidado prestado pela enfermeira, associando esses dados com
as emoções e sentimentos emergentes do cuidado. A análise valorizou as
percepções em relação ao cuidado, as emoções e sentimentos através dos
próprios sentidos corporais do cliente.
34
CAPÍTULO 3
REFERENCIAL TEÓRICO-METODOLÓGICO
Este capítulo traz os autores que conceituam a sociopoética como uma
abordagem de pesquisa cuja proposta metodológica possibilita a um grupo
estruturar conhecimento e seus integrantes participam como co-pesquisadores.
3.1 – As Bases da Sociopoética
O presente estudo se apropria da abordagem sociopoética, que inserida
na pesquisa em enfermagem como destacam Gauthier e Santos (1996, p. 21-
22), convoca para a criatividade, a sensualidade, a sensibilidade, a memória, a
imaginação e tudo que se pode chamar de “poética” - do grego “poiesis”, que
significa “produção, criação” – recurso que libera o saber grupal e pessoal
implícito, num sentido crítico.
A sociopóetica exige do pesquisador o respeito a cinco princípios
(SANTOS et al, 2005):
1. Instituir um grupo-pesquisador para a construção do conhecimento
coletivo: a pesquisa se desenvolveu com um grupo de não-especialistas, os
clientes com NES em programa de diálise peritoneal do Serviço de Nefrologia,
no papel de sujeito ativo e coletivo da produção do saber. Na função de
pesquisadora acadêmica, atuei como facilitadora da pesquisa e o meu
conhecimento acadêmico favoreceu a leitura dos dados produzidos pelo grupo-
pesquisador, no sentido de perceber as estruturas implícitas do pensamento do
35
mesmo. A participação do GP nos encontros garantiu a produção dos dados e a
construção de um conhecimento grupal.
2. Favorecer a participação das culturas de resistência: uma pesquisa
pioneira no Serviço de Nefrologia e cuja leitura dos dados valorizou as
experiências de vida entre clientes em diálogo com a análise coletiva do
pensamento do grupo-pesquisador. “É um jeito radical de instituir o diálogo entre
pessoas” que têm percepções diferentes, divergentes, opostos e que, apesar de
freqüentarem o Serviço, co-habitarem o mesmo espaço institucional, ainda não
se conheciam. A troca de informações e das vivências na pesquisa permitiu
pontuar que, embora alguns estivessem em tratamento mais de três anos
ainda se conheciam. O método permitiu o combate da exclusão, do silenciar e o
impedimento da comunicação entre os membros.
3. O corpo inteiro como fonte de conhecimento: de forma intuitiva,
emocional, sensível, gestual, sensual, racional e imaginativa. “Não cortar a
cabeça do resto do corpo”. O conhecimento produzido e valorizado a partir de
uma construção individual e posteriormente coletiva, cuja percepção iniciou-se
com a apresentação do próprio corpo representada em desenhos. Transferindo
os sentimentos da convivência ao desenhar o corpo com detalhes, clareza e
sinceridade. Os sentidos corporais assumiram o pensamento e o comando
passou a ser emocional. As barreiras físicas passaram a ter menor importância
dado ao fato de possuírem-na em graus diferenciados de expressão e de
comprometimento.
4. O uso de técnicas artísticas de produção de dados, trazendo à tona os
saberes inconscientes, desconhecidos, inesperados, como dados da pesquisa
que expressam o íntimo das pessoas. A demanda do saber com o desejo do
36
sujeito e a encomenda da instituição. Esta pesquisa culminou com uma rica
produção de dados subjetivos e objetivos a partir da técnica utilizada.
Inicialmente preocupados em não perder o horário do tratamento, terminaram
por se envolver de corpo e alma na produção de dados vivenciando um
momento ímpar. Foi experimentado o sabor de se manifestar, de se expressar
através de simbolismos próprios representados nos desenhos realizados com
esmero e zelo, estando à vontade para liberar sua criatividade sem críticas ou
restrições. Os comentários tecidos durante as narrações trouxeram detalhes e
informações ainda não comentadas e compartilhadas naquele momento
coletivamente.
5. A responsabilidade sobre o sentido da pesquisa. Os sujeitos discutem o
sentido ético, espiritual, político, o porquê da pesquisa e a quem ela se destina.
“Uma pesquisa possui um aspecto político, pois participa do contexto das
relações de poder e saber entre a comunidade envolvida e a sociedade, e
dentro da própria comunidade”. Aos co-pesquisadores flexibilizar o tempo e o
espaço imposto pela doença renal, a diálise e o hospital, teve importância
significativa. Um envolvimento que garantiu a participação dos membros mesmo
em situação de internação. A necessidade de retornar ao domicílio para dar
continuidade ao tratamento versus o prazer de estar ali se entregando as
emoções que fluíam através dos poros e concretizadas nos desenhos e nas
histórias. A co-participação e o respeito demonstrado ao que foi produzido.
3.2 - Fundamentos do Grupo Pesquisador:
Apropriação do Pensamento de Freire
O homem como sujeito, e não utilizado como um objeto de pesquisa,
sendo afirmado por Freire (2005, p.60) como a única maneira de ajudar o
37
homem a realizar sua vocação ontológica
7
, a inserir-se na construção da
sociedade e na direção da mudança social é através de diálogo crítico e que
convide à crítica.
A temática de investigação ou educação não pode ser imposta, e sim
surgir um diálogo entre os participantes para o encontro da reflexão e da ação
transformadora e humanizante, “este diálogo não pode reduzir-se à depositar
idéias em outros” (FREIRE, 2005, p. 96).
Na teoria da ação dialógica desenvolvida por Freire (2005, p. 193), a co-
laboração não pode dar-se a não ser entre sujeitos, ainda que tenham níveis
distintos de funções, portanto de responsabilidade, somente pode realizar-se na
comunicação. E nesta pesquisa é reconhecida pelo próprio em sua importância:
“[...] Acho legal o grupo se reunir assim para saber o que cada um está sentindo,
se está tudo bem e se está precisando de alguma coisa [...]”.
O diálogo, que é sempre comunicação, funda a co-laboração. Não
lugar para conquista do sujeito, mas a sua adesão. Este não impõe, mas
maneja, não domestica (FREIRE, 2005, p. 193).
A união dos oprimidos prescinde uma forma de ação cultural que
conheçam o porquê e como de sua aderência à realidade que lhes dá um
conhecimento falso de si mesmo e dela e sua aderência à praxis verdadeira de
transformação da realidade injusta (FREIRE, 2005, p. 201).
A organização busca sua unidade em um esforço comum, “[...] Foi
maravilhoso o primeiro encontro com vocês, podem contar comigo! [...]”.
Na síntese cultural não a utilização de modelos ou formatos
padronizados por imposição e os atores, menciona Freire (2005, p. 210), fazem
7
Vocação de ser sujeito (FREIRE, 2005, p. 39)
38
da realidade o objeto de sua análise crítica, jamais dicotomizada da ação, se
inserem no processo histórico, como sujeitos.
A teoria da ação dialógica exige que, seja qual for o momento da ação,
ele não deve prescindir da comunhão dos sujeitos, e esta deve ser “realmente
humana, por isso, simpática, amorosa, comunicante e humilde, para ser
libertadora” (FREIRE, 2005, p. 197).
3.3 - O Grupo Pesquisador na Sociopoética
O estudo utiliza a abordagem qualitativa e a proposta metodológica trata
do dispositivo grupo-pesquisador (GP) e da valorização da percepção proposto
por Araújo (2000) para através dos sentidos corporais descrever como os
clientes se defrontam com o cateter de diálise peritoneal em seu abdome.
Segundo Gauthier e Santos (1996, p. 22), o grupo pesquisador no
método sociopoético partilha da produção do saber e como conseqüência da
pesquisa a criatividade e o espírito crítico podem ser estimulados por métodos
de pesquisa inspirados entre outros autores, em Paulo Freire.
Destacam-se na estratégia da implementação do Grupo Pesquisador
para a produção de dados os seis momentos a seguir:
1) COMO PESQUISADORA ELEGI UM TEMA ORIENTADOR: “Como você
percebe o cateter de diálise através dos sentidos do Corpo?”, como ponto
de partida que iniciou solitariamente através da minha curiosidade.
2) A PARTIR DO TEMA ORIENTADOR, como pesquisadora e integrante do
grupo envolvido na pesquisa, que definiu a “demanda de saber”, criando
um “ajustamento mais ou menos satisfatório para ambos”.
39
Num primeiro tempo, como verdadeiro diálogo proposto por Freire (2005,
p. 34), os temas geradores situaram-se em círculos que foram do geral ao
particular. Houve o aceite da pluralidade de vozes, permitindo obter dados
individuais e coletivos. Esses dados, produzidos a partir da utilização da cnica
do desenho com papel e giz de cera colorido, na interação entre o pesquisador
e o grupo pesquisado que se pode chamar de co-pesquisador.
Num segundo tempo, a pesquisadora analisou isoladamente as
estruturas escondidas que existem atrás dos atos e das palavras do grupo.
É na minha disponibilidade permanente à vida a que me
entrego de corpo inteiro, pensar crítico, emoção, curiosidade,
desejo, que vou aprendendo a ser eu mesmo em minha relação
com o contrário de mim. E quanto mais me dou à experiência
de lidar sem medo, sem preconceito, com as diferenças, tanto
melhor me conheço e construo meu perfil. (FREIRE, 1996,
p.134)
Num terceiro tempo, restituí ao grupo os resultados da análise, explicando de
forma inteligível como foi realizado. Utilizando a cnica artística de recortes e
colagem das falas solicitei ao grupo que criasse uma história. O GP após a
avaliação da análise, dos resultados e das interpretações, num momento de
diálogo, mostrou oposições e desacordos dentro do grupo.
3) DO MOMENTO DA ANÁLISE E CONFRONTO nasceram perguntas
novas, não mais apenas oriundas do tema orientador, mas da produção
do próprio grupo. Visualizando-se que este é realmente um grupo
pesquisador, sendo construída uma história com o título: “Vida que s
Amamos”.
4) A partir dessas novas perguntas, pode começar a “TRANSFORMAÇÃO
DO MUNDO”. Para Freire (2005, p. 90), o método gera um processo de
40
mudança e termina por identificar-se com ele, posto que a pedagogia
coincide com um estilo muito exato de prática social, o da tomada de
consciência, ou melhor da conscientização. Esta dimensão da pesquisa
que traz a contribuição imensurável do grupo a partir dos primeiros
contatos do cliente com a diálise peritoneal, o cateter e sua nova
realidade.
5) O MOMENTO DA AVALIAÇÃO GRUPAL de todo o processo de
pesquisa. A pesquisadora apontou tudo que pode lhe dar uma
consciência melhor das suas implicações, daquelas de onde surgiu o
tema-orientador.
6) A PUBLICAÇÃO DA PESQUISA para a divulgação do saber, ou seja,
apreciação, crítica e difusão do conhecimento por ele gerado.
3.4 - Os Sentidos Sociocomunicantes do Corpo
como Categorias Teóricas e Analíticas
Em sua tese, Araújo (2000) permite explorar os sentidos corporais como
categorias teóricas na produção do conhecimento frente à percepção do não-
verbal manifestadas por clientes em pré-operatório.
Neste trabalho, o exercício dos sentidos corporais foi utilizado para
produzir categorias analíticas e compreender como se dá a percepção do cliente
para conviver com o cateter. Ao buscar a percepção deles através dos sentidos
corporais valorizei a comunicação não-verbal manifestada na produção e os
significados atribuídos por eles na convivência com o cateter.
Convém destacar que, nesta produção, o cuidado de enfermagem foi
pontuado em suas enunciações considerando os diferentes setores hospitalares
41
em que tive oportunidade de acompanhá-los, tais como nas clínicas médica,
vascular, cardiológica, na internação de curta permanência, no pronto
atendimento, entre outros setores do hospital.
A autora também a partir de suas pesquisas tem se favorecido com a
leitura das frases construídas pelos co-pesquisadores durante a técnica de
vivência dos sentidos do corpo para decifrar o imaginário individual e coletivo, a
partir da compreensão de categorias e subcategorias presentes em seus
depoimentos.
Cita Araújo (2002; 2004; 2005) que o resultado da construção coletiva
dos imaginários está sintetizado através das poesias críticas. Destaca-se ainda
que os resultados subjetivos têm sido codificados e objetivados a partir das
percepções de cada sentido corporal. É fundamental referir que os sentidos
sociocomunicantes foram readaptados tanto nesta, como nas pesquisas de
Saes (2003), Araújo et al (2004) e Duque (2005), convergindo em um significado
especial para os sentidos do corpo.
Neste estudo o exercício da pesquisadora foi analisar os dados
exercitando compreendê-los a partir dos próprios sentidos do grupo ao
desenvolver a produção dos dados.
E à medida que produzindo dados com o grupo vivenciei ser possível
construir conhecimentos na área de enfermagem em nefrologia, particularmente
com o objeto proposto neste estudo: as percepções sensoriais do cliente frente
o cateter de diálise peritoneal implantado em seu corpo.
42
3.5 - A Escuta Sensível: René Barbier
É o modo de sentir o universo do outro, um escutar com vistas às formas
afetivas, imaginárias e cognitivas na busca de compreender suas atitudes,
comportamentos, idéias e valores.
A escuta sensível aceita de forma incondicional o outro, embora
reconheça que não se identifique com este. Ela compreende, porém não julga,
não transforma e não compara.
É multirreferencial por não interpretar os fatos, mas buscar compreendê-
los. Não foge ao desconhecido, pois questiona. E se apóia na complexidade da
pessoa:
Uma pessoa existe pela existência de um corpo, de uma
imaginação, de uma razão, de uma afetividade e todos em
permanente interação. A audição, o tato, a gustação, a visão e
o olfato se aplicam a escuta sensível. (BARBIER, 2002, p. 98)
3.6 - A METODOLOGIA DO ESTUDO
O Cenário e os Sujeitos da Pesquisa
O cenário escolhido da produção dos dados da pesquisa foi o Serviço de
Nefrologia do Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (HUCFF) da UFRJ,
no Município do Rio de Janeiro, onde desenvolvi durante 12 anos a assistência
direta ao cliente com necessidades especiais de saúde (NES) na área renal.
Cabe destacar que a instituição escolhida tem por missão:
Desenvolver ações de ensino e pesquisa em consonância com
a função social da Universidade, articulada à assistência a
saúde de alta complexidade e integradas ao Sistema Único de
Saúde (SUS), promovendo ao seu público atendimento de
qualidade e de acordo com os princípios éticos e humanísticos
(PLANO DIRETOR - Gestão1998 a 2001, P. 6).
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Atualmente possui 500 leitos que contemplam 33 especialidades. A
Divisão de Enfermagem (DEN) está composta por 246 enfermeiros, 388
auxiliares, 402 técnicos de enfermagem, 95 atendentes de enfermagem. A
equipe de enfermagem da seção de Nefrologia é composta por 18 enfermeiros,
sendo 2 da diálise peritoneal, 35 técnicos de enfermagem, 3 atendentes de
enfermagem, 2 auxiliares operacionais de serviços diversos e 1 secretária.
O Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) do hospital emitiu Parecer
favorável ao desenvolvimento do projeto com o 140/06, aprovado em 09 de
março de 2006 (ANEXO 1), que atende as determinações da Resolução 196/96,
do Conselho Nacional de Saúde que fixa as normas de pesquisa envolvendo
seres humanos. Antes de encaminhá-lo ao CEP, foi necessária a autorização da
Divisão de Enfermagem Hylnar Márcia de Menezes (DENHMM), com vistas às
chefias do Serviço de Internações Clínicas, de Seção e do Setor (APÊNDICE A),
além do Serviço de Nefrologia (APÊNDICE B), que concordaram, emitindo
parecer favorável à sua realização.
No Setor de Diálise Peritoneal-CAPD deste hospital universitário o
trabalho em equipe interdisciplinar estabelece um ambiente agradável e
receptivo ao cliente. Todos se tratam pelos respectivos nomes e de forma
cordial. E certamente essa parceria foi fundamental para o desenvolvimento da
pesquisa. Todos tiveram conhecimento da pesquisa e no dia da produção dos
dados alguns membros da equipe se ofereceram para colaborar e aprender com
os dados produzidos.
A equipe esteve receptiva desde o primeiro contato e nos encontros
subseqüentes. Foi disponibilizada a agenda para as marcações, o ambiente e
tudo que fosse necessário dentro dos recursos pertinentes ao setor.
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O Serviço de Nutrição orientou sobre o cardápio do lanche dos encontros.
Embora estivessem realizando a rotina da distribuição das refeições dos clientes
internados, se mostraram prontos a cooperar quando solicitados.
O convite aos co-pesquisadores foi realizado por telefone na segunda
semana de março de 2006, sendo esclarecido que seriam 2 a 3 encontros
efetuados durante a pesquisa com intervalos, em média, de 1 mês e com
duração de, no ximo, 2 horas cada, e de acordo com as marcações de seu
retorno ao setor de Diálise Peritoneal Ambulatorial.
Aos clientes garantiu-se a participação voluntária no estudo e após serem
esclarecidos quanto aos objetivos da pesquisa, atendendo as determinações da
Resolução CNS 196/96, assinaram o Termo de Consentimento Livre e
Esclarecido (APÊNDICE C).
Os participantes escolhidos a partir do cadastro ativo do programa de
diálise peritoneal ambulatorial manual ou automática, todos com NES na área
renal que portassem cateter de diálise peritoneal. Os critérios de exclusão
foram: dificuldades de locomoção, acesso a transporte e o estado de saúde
física. Um total de 17 clientes convidados para que, de acordo com sua
aceitabilidade, fossem reunidos de 6 a 12 clientes, conforme recomenda Petit et
al (2005, p. 10), para garantir a efetiva escuta sensível e a participação de todos
durante o processo.
O primeiro encontro do GP ocorreu em 31 de março, às 14:20 horas com a
duração de 1 hora e 50 minutos, cuja chamada foi respondida por 14 clientes,
tendo um desistido após o primeiro momento. Caracterizando seus participantes
tivemos: seis clientes do sexo masculino e sete do feminino, assim distribuídos:
três clientes na faixa etária de 30 a 49 anos, sete clientes entre 50 e 69 anos, e
45
três clientes acima de 70 anos. Todos com estado civil de casados, sendo sete
de cor branca, três da parda e três da negra.
As principais causas da doença renal deste grupo foram: a nefroesclerose
hipertensiva, que correspondeu a oito integrantes do grupo, o diabetes mellitus
em quatro clientes e outras morbidades como vasculite e lupus em um cliente.
Essas co-morbidades apresentam fatores que, associados, impõem-lhes
limitações como diminuição da acuidade visual e auditiva, da locomoção motora
de membros inferiores e superiores.
Estes clientes em programa de diálise peritoneal no domicílio variam
quanto ao tempo de tratamento de 13 a 50 meses. Ao ouvir relatos de
comparação sobre modalidades anteriores de tratamento a que foram
submetidos, identificamos sete que realizaram a hemodiálise, sendo dois
submetidos a três sessões, quatro clientes por dois a onze meses e uma cliente
sete anos que também transplantou e apresentou rejeição em dois anos quando
retornou a hemodiálise por dois meses substituindo esta terapia por CAPD.
Os encontros ocorreram na sala de refeições próxima ao “hall” de espera
do Setor de nefrologia que foi adaptada às necessidades do grupo. O espaço é
amplo com boa luminosidade, limpo, lavabo, mesas e cadeiras em PVC e de
fácil mobilização. O ambiente foi preparado com mesas com giz de cera e papel
Canson A3, cadeiras, aparelho de som com CDs de músicas bossa nova e de
relaxamento.
A organização do espaço também foi adaptada conforme a necessidade
dos clientes para o posicionamento de cadeiras de rodas, muletas, mesas para
a disposição do lanche, material e pertences. Este refeitório é composto de
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paredes e a porta é de correr em vidro “Blindex” fumê, o que permitiu
privacidade ao grupo.
A produção dos dados se deu neste primeiro encontro com o grupo de 13
clientes e ainda mais 2 encontros seguintes para a validação dos dados
obedecendo a necessidade de dividi-lo em 2 subgrupos. Esta inovação
estratégica visou contemplar os clientes com agendamentos para outras
especialidades de acompanhamento de saúde, aos que estiveram internados
para procedimentos, ou ainda aos que apresentaram complicações clínicas que
impediam seu deslocamento na respectiva data ao hospital.
No primeiro momento, com as mesas e cadeiras dispostas em círculo, os
participantes se acomodaram, a pesquisadora e a facilitadora se apresentaram
e realizaram a leitura do Termo, esclarecendo cada item do mesmo. Foi
solicitada a permissão para a gravação em fitas magnéticas para transcrição
posterior e análise dos dados produzidos. Ao grupo foi detalhado como seria a
pesquisa e como seriam os encontros, sua duração, o relaxamento, a criação de
desenhos individual e com dinâmicas do grupo.
Inicialmente, um sujeito solicitou que sua esposa permanecesse. Após
consultar o grupo este não referiu impedimento algum. Sua participação foi
restrita a auxiliá-lo em sua locomoção e acomodação por este apresentar
prótese no terço médio do membro inferior direito e lesão recente nos
pododáctilos do membro inferior esquerdo. Ela acompanhou a realização da
pesquisa, permanecendo sentada no canto da sala.
Os participantes se apresentaram oral e individualmente, e uma sica
ambiente serviu de fundo. Alguns não se conheciam e expressaram, através da
fisionomia, uma satisfação em poder trocar experiências comuns entre si.
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O relaxamento corporal foi promovido através de uma técnica simplificada
de relaxamento e respiração, respeitando-se as limitações de cada indivíduo.
Segundo Gauthier (2001 p.27) “através do relaxamento tentamos tocar o
inconsciente individual (histórica e socialmente constituído). Nesta fase o que é
buscado é o inconsciente do grupo-pesquisador como coletivo”. Um grupo traz à
tona uma “filosofia inaparente, porém consistente”, expressa da forma que é
traduzida por imaginação e criatividade.
A pesquisadora solicitou que todos fechassem os olhos e a
acompanhassem, embora sentados em cadeiras confortáveis, de mãos dadas:
respiração profunda e lenta, soltando os dedos pés, os pés, a articulação dos
joelhos, as pernas, relaxando o abdome, soltando o ar dos pulmões, relaxando a
garganta, soltando os dedos das mãos, as articulações dos pulsos, dos braços,
dos ombros, respirando sempre lenta e profundamente, soltando a cabeça, as
pálpebras, os olhos, relaxando a testa, o couro cabeludo, enfim, deixando-se
leve e solto.
No segundo momento as facilitadoras reorganizaram as mesas dividindo
o grupo em quatro subgrupos: cada mesa com três a quatro clientes.
A pesquisadora apresentou o tema norteador: “Como você percebe o
cateter de diálise através dos sentidos do corpo?” e as perguntas de cada
sentido (APÊNDICE D), e explica que o sentido coração é a emoção, uma forma
de perceber. E a partir daí, solicitou que cada participante desenhasse uma
figura com o cateter e como o percebiam no corpo através dos sentidos.
Enunciando a pergunta sobre cada sentido corporal, determinou 15 minutos
para a atividade.
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Cada co-pesquisador apresentou seu desenho comentando o significado
deste. Em cada exposição o grupo ouvia atentamente. Em relação aos que
demonstravam receio de se expressar havia uma palavra de estímulo.
Convém destacar que, somente após a participação nas atividades, os
sujeitos esclarecidos sobre a pesquisa após a leitura do Termo de
Consentimento Livre e Esclarecido, pela pesquisadora, efetivaram sua
autorização através da assinatura no impresso em duas vias, ficando uma cópia
em posse de cada co-pesquisador. Este procedimento foi adotado por sugestão
do próprio facilitador no início do encontro, de modo que, o grupo, pudesse
decidir com mais consciência sobre sua participação.
A autorização de todos para a fotografia permitiu o registro do grupo
pesquisador nos encontros.
Para a validação dos dados produzidos do primeiro encontro houve a
necessidade de compatibilizar a disponibilidade dos participantes sendo
agendados dois encontros viabilizando o retorno dos co-pesquisadores.
O segundo encontro com parte do grupo ocorreu em 28 de abril de 2006,
às 14:10 horas, com duração de 2 horas e 15 minutos. Dos 13 clientes
convidados por telefone, com antecedência de 15 dias, atenderam à chamada
06 clientes.
Na véspera foi ratificado o encontro, confirmando-se o horário. Houve as
seguintes justificativas quanto ao impedimento em comparecer: um cliente com
NES na área da visão cujo acompanhante conduziria outro familiar a um
atendimento pós-quimioterapia; uma cliente com dificuldades de transporte por
apresentar déficit visual acentuado, aliado a dificuldade locomotora; a referência
de uma cliente em não possuir o “Passe Livre” e não dispor de recurso,
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resultando na sugestão da pesquisadora para que esta levantasse a importância
para o deslocamento a o hospital onde lhe seria restituído o valor
correspondente, alegando que tal fato estava previsto para ser sanado durante a
pesquisa, e que não haveria problema algum. Esta co-pesquisadora não
compareceu e, no encontro seguinte, alegou não ter conseguido fundos para
chegar ao hospital.
No dia do encontro, por volta das 12:00 horas, a pesquisadora atendeu
as seguintes ligações pelo celular: um cliente solicitando desculpas por não
comparecer, pois apresentou distúrbio grastrointestinal horas antes do encontro;
outra cliente que, ao comparecer à unidade básica de saúde para apanhar suas
medicações anti-hipertensivas, aproveitou para receber a vacina anti-influenza,
atrasando-lhe a troca das 11:00 horas e inviabilizando o seu transporte até o
hospital, pela dificuldade em deslocar-se em dois coletivos. Uma cliente ligou
para o setor solicitando que fosse comunicada a sua ausência devido ao
temporal que estava ocorrendo na região onde reside. Este recado foi recebido
após o encontro. Havia ainda um co-pesquisador internado para submeter-se a
uma cirurgia vascular de amputação de pododáctilos do MIE por não ter
apresentado resposta ao tratamento clínico.
Para ambos os grupos o ambiente foi preparado de forma similar a do
primeiro encontro e obedecida a mesma disposição: dois e três clientes em
mesas e cadeiras separadas havendo a devolução de todo material construído
no primeiro momento e a validação dos dados produzidos, com duração média
de 50 minutos.
No primeiro momento, a pesquisadora relatou como fez a transcrição das
gravações, mostrando o quadro geral com as falas atribuídas a cada sentido.
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Forneceu a cada componente um papel A3 (Figura 1), identificando na
representação esquemática de um corpo as principais idéias compartilhadas
pelo grupo no primeiro encontro. O desenho continha as setas direcionadas aos
sentidos sociocomunicantes do corpo e as palavras utilizadas em cada sentido
resumiam o significado dos depoimentos esclarecendo que no período de
reclusão efetuou a análise preliminar dos dados.
Figura 1: O Corpo e o Sentido Atribuído e Comunicado na Percepção do Cateter Peritoneal
Ao grupo, expliquei como seriam as atividades previstas para aquele
encontro. Foram distribuídas por grupo, várias tiras contendo as frases
agrupadas em cada sentido. Antes da atividade o grupo deu-se as mãos
51
relaxando durante aproximadamente cinco minutos, seguindo a mesma técnica
de relaxamento do primeiro encontro.
O grupo foi dividido em grupos com dois e três clientes dispostos em
mesas e cadeiras separadas, para facilitar a leitura e a seleção das frases. O
critério de seleção e colagem das frases em folha A3 em branco foi determinado
pelos participantes considerando aquelas que imprimiam algum significado para
eles. O agrupamento das frases por sentidos, proposto pela pesquisadora,
facilitou a distribuição, discussão e produção por cada grupo. A leitura teve o
objetivo do conhecimento e validação das frases facilitando a contra-análise e a
escolha destas para a confecção da história.
Essa etapa permitiu a devolução de todo material construído no primeiro
momento e a validação dos dados produzidos, com duração média de 40
minutos.
A análise e a seleção do grupo evidenciaram, pelo comportamento e
participação na construção da história, que estiveram mergulhados de corpo e
alma na atividade.
Ao término da montagem das histórias, houve o intervalo para o lanche.
Um co-pesquisador internado chegou para participar, sendo-lhe explicado
resumidamente como foram agrupados os dados (frases) organizados em um
mapa dos sentidos e como se deu a criação da história.
Num segundo momento, a facilitadora leu a primeira história, solicitando
que o GP discutisse sobre quais foram as dificuldades ou não, e se desejavam
acrescentar algo que o estivesse no texto, e ainda poderia completar. Após a
leitura houve manifestações de surpresa e a identificação do grupo com a
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construção da história evidenciada pelos aplausos demonstrando satisfação e
orgulho do resultado.
O segundo encontro com os demais participantes do grupo ocorreu em
29 de maio de 2006 às 08:00 horas com duração de 2 horas e 05 minutos. Na
véspera, foi ratificado o encontro confirmando-se o horário. Dos 6 clientes
contatados por telefone com a mesma antecedência dos encontros anteriores 4
atenderam a chamada. Estavam internados dois co-pesquisadores: uma para
submeter-se a uma colonoscopia, cujo re-agendamento ocorrera por duas vezes
mantendo-a internada durante seis dias, e que seria realizada às 13 horas desta
data impossibilitando seu comparecimento devido ao preparo pré-exame. O
outro integrante apresentara re-internação de emergência há duas semanas
devido a complicações vasculares do MIE e sistêmicas, após alta para chamada
posterior para cirurgia. Ao visitá-lo na enfermaria, este confirmou sua
participação e o fez embora com atraso.
Inicialmente um subgrupo ficou com um componente, pois o outro estava
em consulta. Ao faltarem 30 minutos para o término previsto do encontro, o
cliente internado apresentou mal-estar e vômito, todos silenciaram e
acompanharam com o olhar. As facilitadoras o auxiliaram e o conduziram a sala
de repouso. Os participantes num gesto de compreensão também se
ofereceram para acompanhá-lo.
O co-pesquisador agendado para consulta solicitou a saída antecipada,
logo a seguir do lanche, pois teria de ir à Farmácia Universitária fora do prédio e
poderia atrasar sua troca das 11:00 horas. Este não participou da etapa de
avaliação do cuidado de enfermagem recebido e da avaliação final do encontro.
Contudo sua contribuição no grupo foi importante na validação dos dados.
53
Ainda foram discutidas pelos dois co-pesquisadores presentes as
dificuldades que se deparam quanto ao financiamento de transporte e a
dificuldade para agendar consultas em especialidades distintas à nefrologia.
Ao final o GP avaliou o encontro como muito bom e gratificante. E quando
se despediram ratificaram o desejo de comparecerem em encontros futuros.
Em posse dos dados do primeiro e segundo encontros de validação dos
dados, lendo e relendo os depoimentos das atividades, o momento de reclusão
(terceiro momento), possibilitou-me a análise dos dados produzidos nos grupos
resultando na emergência de duas grandes categorias: auto-imagem e auto-
estima. Estas serão analisadas no próximo capítulo, à luz do referencial teórico.
54
CAPÍTULO 4
PRODUÇÃO E ANÁLISE DOS DADOS
4.1 - O Movimento para a Produção dos Dados
O planejamento dos encontros com o grupo pesquisador teve início após
a elaboração do projeto de pesquisa. A idéia era reunir os clientes com NES na
área renal em um pequeno grupo; imaginava-os expressando suas percepções
na convivência com o cateter sempre que os encontrava nos corredores do
hospital. Foi assim que, durante os cursos de extensão: “Aprendizagem
Sociopoética como Dispositivo de Pesquisa” e “Oficina Sociopoética – Formação
de Pesquisadores” na EEAN da UFRJ e Faculdade de Enfermagem da UERJ,
respectivamente e ministrados pelo Professor Jacques Gauthier no ano de
2005, visualizei a metodologia a ser utilizada neste estudo valorizando os
sentidos do corpo, segundo Araújo (2000).
O aceite imediato dos clientes ao chamado para a pesquisa foi
favorecido, em parte, pela relação estabelecida com alguns integrantes do
grupo, desde o início do tratamento quando os recebi, treinei, orientei e
acompanhei-os em vários momentos dentro da instituição. A assistência desde
as primeiras abordagens sobre o tratamento dialítico e a diálise peritoneal, o
acompanhamento no pré-operatório para o implante do cateter, algumas vezes
na sala de cirurgia, na recepção pós-operatória no setor de internação, na visita
domiciliar, nas consultas de rotina, nos testes de eficácia da membrana (PET),
nas intercorrências e urgências. Entre outras situações como internações
eletivas, de urgência, relacionadas ou não a diálise, à terapia anterior de
55
hemodiálise ou de transplante renal em que atuei.
Ao planejar o encontro levei em conta a locomoção, o meio de transporte
utilizado, e os melhores horários para acesso ao hospital. A produção dos dados
respeitou o agendamento de retorno visando conciliar o protocolo mensal
adotado de visitas para exames de laboratório, consultas de enfermagem e
médica.
Nos momentos que antecederam os encontros e ao recepcionar os
clientes houve grande expectativa e alegria para mim. Uma sensação de
apreensão com um misto de prazer e alegria. Um “devir revolucionário de
pesquisador... no processo de pesquisar e em interação com o grupo
pesquisador” (GAUTHIER, 1999, p. 73).
Houve uma desistência após a apresentação da proposta da pesquisa.
Um cliente informou possuir uma doença hematológica, e alegando não ter
condições físicas para participar por apresentar problemas como dor óssea
generalizada e alterações mentais.
Durante a produção, houve momentos em que o grupo manifestou
preocupação em relação ao horário da consulta e alguns quanto ao horário da
próxima troca, conforme identificado nas falas: “(...) O problema do horário, pois
levo muito a sério o tratamento (...) JO” e “(...) Que horas vai acabar? (...) LO”.
Questionamentos dos que realizam cinco trocas, de uma co-pesquisadora
que teria prova no colégio em que estuda à noite, e daqueles que residiam
distante.
Embora preocupados com o horário das trocas do dialisato e em serem
atendidos na consulta, o grupo demonstrou o desejo de participar da pesquisa.
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Houve interesse no bem-estar e na participação coletiva quando, ao
retornar da consulta médica, um co-pesquisador bateu o rosto na porta de vidro
do refeitório que estava fechada possui NES na área da visão. Um outro
integrante providenciou gelo e auxiliou-a para sua acomodação na cadeira.
Um lanche foi oferecido e bem aceito pelo grupo como um momento de
maior aproximação e integração, com descontração e alegria. Ainda durante o
lanche, as facilitadoras reorganizaram as mesas em dois grupos, iniciando o
terceiro momento. Foi solicitada a elaboração do corpo coletivo em 10 minutos,
e destes foram reservados dois minutos para cada grupo elaborar uma palavra
que resumisse o significado do desenho.
Ao final deste primeiro encontro, os clientes o avaliaram referindo: “-A
gente chegou nervosinha, foi relaxando, relaxando...”; “- O registro ter sido de
grande importância a participação do grupo.”; “- Aumentando os saberes.”; “-
Uma troca de informações, como cada um está.”; “- Foi um ótimo contato.”; “- A
gente até esqueceu que tem de ir para casa, tem hora de fazer o tratamento.”;
“- Gente, valeu a pena!”.
Finalmente, a pesquisadora agendou um novo encontro para o s
seguinte para apresentar o material produzido neste primeiro encontro.
4.2 - O Movimento para Validar os Dados
Para o segundo encontro organizei o tempo e o espaço para o GP nos
mesmos moldes do primeiro. Todos os participantes procederam à leitura de
frases, sendo acompanhados das facilitadoras na elaboração da atividade de
colagem, estas intervinham quando estes expressavam dificuldades.
57
Durante a leitura, todos destacaram verbalmente reconhecendo suas
falas e expressando orgulho ao vê-las.
Observou-se que houve cuidado e muita cautela na escolha das frases,
espelhando comportamento de respeito com a produção do outro participante e
um envolvimento manifestado pela postura de carinho ao se debruçarem de
corpo e alma e atentamente sobre o material. Era como se todo o grupo
estivesse ali naquele momento. Havia um diálogo perceptível entre cada co-
pesquisador e as frases, e cujos depoimentos refletiam falas com diferenças e
similaridades. Um diálogo apontado por Freire ( 2005, p. 82-84) como sendo
Aquele que não pode existir sem um profundo amor pelo mundo
e pelos homens... não pode existir sem humildade... exige
igualmente uma fé no homem, fé em seu poder de fazer e
refazer, de criar e recriar, fé em sua vocação de ser mais
humano... não pode existir sem esperança... a partir do qual
eles se movem em permanente busca. Busca em comunhão
com os outros.
Durante a colagem, houve destaque do item referente à boa adaptação a
DP em detrimento à hemodiálise, referindo ainda, a excelente receptividade do
hospital e do setor de diálise peritoneal: “-Eu passava muito mal, nossa!!! -Prá
gente foi a grande saída. Hemodiálise é terrível. A senhora fez? A primeira
vez saí de lá cambaleando”. (JDS)
Ao refletir sobre o desenvolvimento das atividades na construção da
história, a facilitadora questionou sobre as dificuldades e facilidades vivenciadas
por eles. O participante MPBS destacou: “-O grupo junto, conversando, e cada
um dava uma idéia e colocava o que era errado pra baixo, e certo prá cima”.
O certo distinto do errado está assim definido pela identificação que os
mesmos apresentaram em relação ao conteúdo das frases, pois no diálogo e na
dialogicidade todas as manifestações são relevantes.
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As frases foram, portanto, selecionadas com os recortes que tinham
afinidade, priorizando o que lhes interessavam.
A primeira história apresentada:
MINHA ESTÓRIA
Eu tenho sido maravilhosamente abençoado por Deus com esse tratamento.
Agradeço muito a vinda nesse hospital e por ter vindo parar aqui.
Eu achei maravilhoso e valeu realmente esse reencontro, pois tem gente que eu não
vejo há bastante tempo, nos reencontramos hoje aqui.
Prá gente foi uma grande saída... foi a melhor saída
que teve para o ser humano esse tipo de diálise.
Porque a hemodiálise é terrível e desde o início do meu tratamento que Deus tem sido
meu guia em todo o momento e peço sempre a ajuda dele, sua orientação.
A cada dia saber mais das coisas é bom, e sempre saber mais não é ruim.
Não estou mostrando meu cateter aqui.
Ele está coberto, porque eu não me sinto bem mostrando o cateter em geral.
Não sei bem a relação que vocês têm com o cateter,
mas me acho um cara até cuidadoso demais.
É, me vejo realmente, vou tomar banho, está aquele cateter ali, e
tenho de protegê-lo, não pode ficar pendurado.
Depois que eu comecei a diálise, graças a Deus estou bem.
O tratamento é tudo para nossa vida e eu o faço em casa e não sinto nada.
Eu sentia e agora eu não sinto nada, minhas taxas baixaram.
A minha pressão só vivia lá em cima.
Tenho tido muitas respostas nos resultados dos meus exames.
Uma silhueta representando o cateter na minha barriga.
O corpo em si e o cateter implantado.
Durmo bem, acordo bem ... e estou andando está tudo bom.
Fica um pouquinho barriguda, mas faz parte.
Saio, passeio, sou normal... só sei que tem o cateter na hora do banho.
Foi maravilhoso o primeiro contato com vocês.
Podem contar comigo! JFF/ EEF/ AC
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Todos ouviram a leitura da primeira história atentamente;
complementando, JFF disse: “-Foi a participação de todos!”, e neste momento
todos acenaram com a cabeça concordando. Aproveitando, AC assim se
expressou: “-Em minha opinião, isso está dizendo o que é... é assim que o
grupo sente, e é isso que está aqui realmente. Mas, estou dentro desse
contexto, dessa história perfeitamente... boa, tá?”.
Houve surpresa e contentamento após a leitura da segunda história, que
também foi construída de forma poética, e o grupo novamente aplaudiu:
MINHA HISTÓRIA
Garrafa de álcool...
Peço a Deus que vai chegar a hora de terminar
com isso, que eu já não estou agüentando mais.
Bolsinha de máscara...
Só sei que tem o cateter na hora do banho,
no horário certinho, volto e faço a diálise.
Nossa participação acho que é de grande importância.
O tratamento é tudo para nossa vida.
Agradeço a Deus muito a vinda nesse hospital e ter vindo parar aqui.
Existem vários cuidados que a gente tem que ter.
Saio, passeio, sou normal e só sei que tem o cateter na hora do banho.
Tem tudo dado muito certo, graças a Deus, faço em casa e
não sinto nada me sinto muito bem.
Fica um pouquinho barriguda mas, faz parte.
Depois que eu comecei a diálise, graças a Deus estou bem.
Porque fazia aqui e não me sentia bem na máquina. Toda vez que fazia saía ruim.
Fazia hemodiálise pelo pescoço e saía no ‘colo’
Todos me levantavam, eu sentava na cadeira e não me levantava...
vinha de cadeira de rodas...”
Desenhei foi um cateter aqui..., só que sinto que fico curiosa querendo...
aí coloco a mão assim, eu sinto ele assim.
Prá gente foi uma grande saída ... foi a melhor saída que teve para o ser humano esse
tipo de diálise.
60
Porque a hemodiálise é terrível.
Aqui é o cateter me sinto muito bem. Durmo bem,
acordo bem ... estou andando, está tudo bom...”
Tenho tido muitas respostas nos resultados dos meus exames.
Faço todas as refeições...saio, passeio, sou normal.
Não estou mostrando meu cateter aqui. Ele está coberto,
porque eu não me sinto bem mostrando o cateter em geral.
A única coisa que eu tenho a dizer é que eu estou bem graças a Deus.
MPBS/JDS/PCM
Para o terceiro encontro que também foi organizado nos moldes do
primeiro e do segundo. Todos os participantes procederam à leitura de frases, e
foram acompanhados das facilitadoras na elaboração da atividade de colagem.
Durante a leitura todos também reconheceram suas falas. Houve a
princípio um desacordo quanto a colagem em relação a frase: “não posso
passear ... é muito chão!” e “Vou pescar em alto-mar”, porém o grupo chegou ao
consenso e resolveu contemplar a ambos:
HISTÓRIA
Foi maravilhoso o primeiro contato com vocês.
Podem contar comigo! Nós participamos acho que é de grande importância.
Eu senti com o cateter. Agradeço muito a Deus a vinda nesse hospital e parar aqui.
A única coisa que eu tenho a dizer é que eu estou bem graças a Deus.
Não posso passear ... é muito chão!
Peço a Deus que vai chegar a hora de terminar com isso, que eu já não estou
agüentando mais.”
Vida que nós amamos.
Eu sentia e agora não sinto nada, minhas taxas baixaram pois, minha pressão só vivia
lá em cima.
Recurso de sobrevivência.
Faço tudo normal, meu serviço de casa. Faço em casa e não sinto nada.
Aqui é o cateter me sinto muito bem. Tenho de protegê-lo, não pode ficar pendurado.
61
Imagino que o líquido deve vir por aqui
pela cavidade toda, por aqui assim. Eu tenho todo o cuidado..
Faço como a enfermeira falou.
A relação que vocês têm com o cateter pois me acho até cuidadoso demais.
Uso um cordãozinho fino e seguro pelo pescoço para poder tomar banho, e para que
ele não fique pendurado e não machucar sua saída aqui.
O cateter, o sentido de vida...
Peço sempre a ajuda dele, sua orientação.
Faço e não sinto nada, a não ser assim, se coloco a bolsa mais forte aí não pode
passar da hora.
Me vejo realmente, vou tomar banho, está aquele cateter ali...
Estou andando está tudo bom.
Concordo com o desenho que ele fez, que é vida.
Vou pescar em alto-mar.
Prá gente foi uma grande saída... foi a melhor saída que teve para o ser humano
esse tipo de diálise. Porque a hemodiálise é terrível.
O tratamento é tudo para nossa vida.
A água cai sobre o colo completamente morto e dá o sentido da vida,
Logo, brotando uma flor.
Eu tenho sido maravilhosamente abençoado por Deus com esse tratamento.
R.R.P./J.O.
A quarta história é apresentada a seguir. No grupo não houve desacordo
para a atividade:
MINHA ESTÓRIA
Depois que eu comecei a diálise, graças a Deus estou bem.
e estou continuando.
Tenho tido muitas respostas nos resultados dos meus exames.
Agradeço à Deus muito a vinda nesse hospital e ter vindo parar aqui.
Eu sentia e agora eu não sinto nada minhas taxas baixaram.
A minha pressão só vivia lá encima.
Faço e não sinto nada, a não ser se coloco a bolsa mais forte assim,
aí não pode passar da hora.
62
Não estou mostrando meu cateter aqui.
Ele está coberto,porque eu não me sinto bem mostrando o cateter em geral.
Têm vários cuidados que a gente tem que ter.
Fica um pouquinho barriguda, mas faz parte.
Tenho de proteger, não pode ficar pendurado.
O cateter, o sentido de vida...
Saio, passeio, sou normal e só sei que tem o cateter na hora do banho.
Prá gente foi uma grande saída.
Foi a melhor saída que teve para o ser humano esse tipo de diálise.
Porque a hemodiálise é terrível.
Desde o início do meu tratamento que Deus tem sido meu guia.
Em todo o momento peço sempre a ajuda dele, a orientação dele.
Saber o que cada um está sentindo, se está tudo bem,
se está precisando de alguma coisa...
Cada dia a gente saber mais das coisas é bom.
Sempre saber mais nunca é ruim.
Nós participarmos acho que é de grande importância.
A gente até esqueceu que tem que ir para casa,
Tem hora para fazer o tratamento, ouviu?
Esqueceu de tudo!
Foi maravilhoso o primeiro contato com vocês. Podem contar comigo!
L.O./A.C.
No terceiro momento, solicitei ao grupo que pontuasse sua percepção
sobre o Cuidado de Enfermagem recebido e relacionado a DP.
Os co-pesquisadores concordaram em relatar que o cuidado do
enfermeiro estava de acordo com o que desejavam; sentiam-se assistidos,
enfatizaram a paciência durante os treinamentos e teceram elogios às
enfermeiras. Com a entonação de descontentamento houve uma referência em
relação ao cuidado diferenciado ao internarem:
(...) Eu tenho de dialisar tal e tal horário, então
venho do outro andar e ao chegar aqui o enfermeiro
63
está fazendo o afazer dele. Ele se dedica à
profissão, o se dedica única e exclusivamente a
mim... estou exigindo demais para mim. Mas, é
claro que a gente merece uma atenção. O nosso
caso é um caso à parte, nós estamos aqui,
principalmente neste andar. Isso aqui é uma célula
viva, isso aqui é a nossa vida, agora é o sétimo
andar. AC.
Este relato reafirma a convicção do cliente portador de NES na área renal
em considerar-se especial. Segundo Silva (1996, p.94), “tal insegurança é
diretamente influenciada pela crença de ser um cliente diferente e os faz ficar
mais dependentes dessa equipe especializada”.
Após a explanação subitamente, o cliente AC apresentou vômitos
gerando surpresa e paralisação sobre o GP. A seguir as facilitadoras auxiliaram-
no, sendo este conduzido por sua esposa à sala de exames para recuperar-se
e, posteriormente realizar a diálise do horário.
Para instigar, questionei sobre a troca do cateter devido à infecções. No
grupo, um cliente re-implantou novo cateter após a cirurgia, devido ao mau
funcionamento; outra cliente re-implantou quatro cateteres, um não funcionante
e três por infecção, referindo: “(...) O processo é esse mesmo, acontece de
infeccionar... é porque o hospital sempre tem bactérias. Não é isso? Eu entendo,
porque entra e sai gente (...)” JDS
Após esta reflexão o GP se manifestou várias vezes sobre outras
questões não previstas na pesquisa e elogiando as enfermeiras da instituição .
Neste momento, MPBS conta:
(...) Aquele caderninho que a gente ganha quando
começa e, em qualquer dúvida eu recordo. Até hoje
quando o banho não quer drenar, meu filho não
estando em casa, ah meu Deus do céu! Chamo
minha sobrinha: - Abre aí!! veja onde estão as
64
coisas. Ela diz: - Na página dois tia. fico calma.
Ali está explicando tudo direitinho. (...)
Um sujeito revelou ter iniciado a DP em outra instituição onde diariamente
era submetido à DPI com cateter rígido, e o havia orientação pela
enfermagem conforme mencionou:
(...) Duas vezes por semana furava aqui e embutia
um cateter para fazer a diálise. Todos faziam 2x por
semana. Eu o, era todo dia e ao terminar, tirava o
cateter e fechava com um esparadrapo e eu ia
embora. No outro dia voltava e repetia. Quando
cheguei aqui conheci a equipe ah! solicitaram
exames, explicam que colocariam o cateter definitivo
na barriga; e vai fazer o tratamento em casa.
Enquanto isso fazia a DPI no outro hospital, o quê?
brincadeira! (...)
Questionado pela facilitadora: - Quando veio para cá, então, notou a
diferença? “- Muita diferença, tranquilamente!” EEF.
A sociopoética possibilita aos co-pesquisadores participarem de todas as
etapas da pesquisa. Ao permitir uma discussão mais ampla o GP discorre sobre
o tempo de espera para ser atendido pelo enfermeiro, considerando o seu
estado de saúde um cliente mencionou que ao comparecer para receber uma
medicação venosa após o término da infusão, permaneceu na sala sozinho por
longos 25 minutos. Em outra experiência, o mesmo cliente destacou o caso de
uma enfermeira que, segundo ele, não possuía experiência e também não
obteve êxito na punção.
Quando questionados sobre a existência das advertências pelos
enfermeiros quanto ao seguimento do tratamento, da dieta, do uso das
medicações, comparecimento nas datas agendadas, etc, o GP referiu não
reconhecê-las como “broncas” relatando: “-Eu acho que realmente era
65
necessária aquela ‘bronca’ no começo da diálise, porque tem que haver
bastante higiene para evitar a infecção. Foi da forma certa, foi positivo.” AC.
No segundo encontro dos demais componentes do GP o cuidado de
enfermagem foi elogiado, embora não tenha havido uma identificação direta
deste com relação às dificuldades vivenciadas pelos integrantes sobre os
direitos de cidadania. Outro aspecto de grande relevância foi a aquisição de
passe-livre para transportes, acesso ao balcão de atendimento para exames
laboratoriais, dificuldade de agendar exames e procedimentos em outras
especialidades como oftalmologia, foram mencionados e discutidos como
necessidades e prioridades.
Cabe destacar ainda que houve a menção do recebimento da cicladora
automática de diálise peritoneal para tratamento domiciliar noturno, como
agente facilitador para as diversas trocas indicadas aos clientes de “alto
transporte da membrana peritoneal” que os liberaria da maioria das trocas
diárias, facilitando deslocamentos, viagens, trabalho e a convivência social e
familiar. Ressalto que dos 13 integrantes do GP, apenas 02 possuem a
cicladora por indicação médica exclusiva e possuírem contra-indicação absoluta
à hemodiálise e ao transplante renal. Os presentes verbalizaram a grande
dificuldade de liberação, pois há critérios extremamente rigorosos, além do
número reduzido de cicladoras disponíveis na Secretaria Municipal de Saúde do
Rio de Janeiro.
O reconhecimento de situações diferenciadas que oferecem dificuldades
de acesso ao hospital, aos serviços distintos e a aquisição de equipamento não
disponível, impetra aos clientes uma visão pessimista em relação ao futuro de
seu tratamento.
66
A seguir estão organizadas as categorias e subcategorias, ou sejam, os
conceitos filosóficos referentes ao tema gerador que emergiram durante a
produção dos dados pelo grupo pesquisador. Estes conceitos na sociopoética
são chamados de “confetos” (conffeti), uma associação de conceitos e afetos
onde carreiam consigo: razão, intuição, emoção e sensação.
Para Gauthier (2005, p. 258), os afetos e os conceitos sofrem a
interferência do pensar do grupo, onde os afetos são fluxos que percorrem o
corpo, havendo uma soma de forças que une, separa ou fortalece o grupo que
pensa sem a interferência externa, livre de formalidades ou compromissos.
4.3 - A Demanda do Saber
Ao descobrir que todo momento de produção pode ser livre de pré-
conceitos e de rigidez :
Através de dinâmicas/estratégias que colocavam o corpo no
limiar da subjetividade, adormecido para soltar-se porque é
estimulado a criar...desenvolver habilidades com mente-mãos-
corpo (FIGUEIREDO et al, 2005, p. 104).
O grupo pesquisador realizou a produção dos dados no primeiro
encontro, a partir do tema norteador e da construção individual e coletiva
enfatizando o corpo com cateter de diálise.
Durante a produção acredito que, devido ao fato de a atividade proposta
não ser usual, alguns membros do grupo demonstraram insegurança quanto à
sua capacidade de produção artística na etapa da construção dos desenhos.
Apresentando tranqüilidade, a facilitadora reduziu a ansiedade expondo
que qualquer rabisco seria bonito e válido, porque haveria uma etapa posterior
para explicar o desenho. Mesmo que este não fosse perfeito, não haveria
67
problema, porque todos poderiam falar sobre o desenho e, portanto, toda
tentativa seria válida. Enfatizando que este grupo de características em comum,
onde todos fazem diálise, todos possuem o cateter, portanto, constituem um
grupo que fala uma linguagem aproximada. E o desenho seria isso: Como é que
eu percebo o meu corpo com este cateter?
Após a confecção dos desenhos cada membro os descreveu tecendo
comentários, estabelecendo assim a etapa de enunciação da produção
individual. O grupo demonstrou percepções sobre seu corpo com cateter, a
partir dos sentidos corporais, desvelando em cada desenho o imaginário
atribuído de valores individualizados/internos e de sua convivência com o
cateter de DP.
Identificamos, a partir dos depoimentos, uma similaridade da linguagem
sobre a atenção dispensada pela equipe. Reconhecendo a importância da
atividade e do encontro, uma co-pesquisadora iniciou sua apresentação
ratificando-a em seu depoimento ao destacar: “... O desenho pmim nem é
importante, importante pra mim são eles, o hospital em si, aquele que acolhe no
tratamento ...”.
Ao realizar o estudo classificatório que destacam as oposições, as
categorias foram selecionadas a partir das questões que nortearam a uma das
análises da produção dos dados distribuídos pelos sentidos do corpo
considerando o significado atribuído pelos participantes.
Dessa forma, para Gauthier e Hirata (2002, p. 131), a auto-estima
pertence à consciência e interage com outras características da personalidade
humana. É a consciência que guia as opções e decisões para transformar e ser
transformado, um suporte de auto-sustentação e auto-preservação. Para as
68
autoras, o auto-conhecimento e o auto-crescimento o promovidos pela auto-
estima e configuram “um cuidar sutil... uma espécie de alimento para o espírito”.
Neste plano, para se apossar do sentido da consciência, Araújo (2000, p.
128) afirma que “precisamos tentar entender os sentidos, decifrar os
mecanismos para aumentar a capacidade de usá-los, transpor limites e tabus”.
4.3.1 - O Sentido Visão
A percepção visual do cateter de diálise peritoneal
Os olhos captam a luz através da retina como uma câmera envia ao
cérebro as imagens através de neurônios que transmitem movimentos
eletroquímicos. Setenta por cento dos receptores dos sentidos do corpo humano
estão localizados nos olhos. É através da visão do mundo que podemos julgar e
entender, pois a linguagem está embasada nas imagens.
A visão cerebral exige de certo modo que “enxerguemos com clareza e
em detalhes, lembremo-nos cenas visualizadas com os olhos da mente,
podendo mesmo ver acontecimentos totalmente imaginários, se o desejar-mos”
(ACKERMAN, 1991, P. 278).
“O olho humano é um órgão da percepção visual e tem como simbologia
natural e quase universal a percepção intelectual” (CHEVALIER, 1994).
Segundo Rodrigues (1980, p. 106) a apropriação cultural da visão é
descrita através dos códigos visuais. A percepção diferenciada entre duas
pessoas que descrevem de formas distintas um mesmo passeio, uma festa ou
um ambiente em particular e, embora tentem enfatizar a visão como principal
ferramenta de apropriação do mundo, o que parece ser uma característica de
nossa cultura. Portanto, cientificamente falando, na sociedade atual não há
69
como negar que dois corpos humanos submetidos ao mesmo estímulo visual
não reagiriam da mesma maneira. A multiplicidade de dados e informações são
traduzidas e processadas segundo códigos distintos, capazes de agirem sobre o
outro de forma inédita, “os sons têm cores, as cores têm cheiro” e em que as
ações e condições humanas têm cheiros e gostos.
Ao inserir no grupo a questão: Como você percebe o cateter de diálise
através do sentido visão?, surge a análise descrita no quadro a seguir:
Quadro 1– A Percepção visual do cliente: O Reflexo do Cateter no Corpo
Co-Pesquisador/Desenho Sentido Atribuído à Visão Sub-Categoria
Categoria Analítica
P.C.M.
“...Não estou mostrando meu cateter
aqui. Está coberto, porque não me
sinto bem mostrando o cateter em
geral”.
Mal-estar
Negação
Auto-imagem
J.O.
“... Eu não posso é passear... é muito
chão...”
Frustração
Auto-estima
R.R.P.
“Isso aqui é um cateter que coloquei
aqui por dentro”.
“Coitada da minha gambiarrinha que
eu fiz!”
Negação
Indiferença
Auto-imagem
(continua)
Legenda: Normal= Sub-Categorias
Negrito = Categorias Analíticas
70
(continuação)
Co-Pesquisador/Desenho Sentido Atribuído a Visão Sub-Categoria e
Categoria Analítica
L.O.
Não mostra não, porque não tem
nada aqui.”
Negação
Auto-estima
J.F.F.
“...Uma silhueta representando o
cateter na minha barriga. O corpo em
si e o cateter implantado.”
Indiferença
Auto-estima
C.B.M.
“Fui fazer o desenho e não deu porque
eu enxergo muito mal... Não deu, eu
não enxergo, a caneta pára, se for
continuar eu vou. Mas se eu parar,
não acerto mais o local que
comecei.”
Negação
Mal-estar
Inadaptação
Auto-estima
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
Um co-pesquisador do G.P. destaca na sentença a seguir: “Não me sinto
bem ao mostrar o cateter” e enfatizado no desenho ao encobri-lo com a roupa,
Neste sentido, concordo com Rodrigues (1980, p. 95) ao referir que nenhum
animal transforma voluntariamente, como o homem, seu corpo, e sua adaptação
à novas condições são determinadas pelas culturas que estabelecem as regras
a serem seguidas.
71
A distorção da imagem corporal do cliente com doença renal crônica
segundo Silva e Silva (2002, p. 13) causa forte impacto psicológico quanto seu
aspecto físico, podendo prejudicar o tratamento enquanto não houver sua
aceitação, e a rejeição do cateter os torna mais susceptíveis à infecção.
A categoria auto-imagem que surgiu dos depoimentos ratifica a afirmação
de Araújo (2000, p. 64):
Geralmente, quando o cliente é portador de uma enfermidade
que afeta sua imagem corporal, ele se torna extremamente
sensível. Seu estado psíquico de insegurança torna-se mais
vulnerável. Na maioria das vezes, esse estado privilegia a
comunicação não verbal para emitir mensagens significativas
frente aos seus sentimentos.
O olhar é uma forma de transmitir esperança que é fortalecida por
crenças e valores, conforme citam Saes e Araújo (2004, p. 264), e por vezes, o
cliente experimenta uma espécie de euforia que o afasta da realidade, porém
quando se defronta com as adversidades tende a vivenciar crises existenciais.
“A visão o se encontra apenas na face. O olhar interior é um mergulho
num sentido inverso ao que estamos geralmente acostumados a fazer”
(ARAÚJO, 2000, p. 190).
Durante a produção do grupo, por diversas vezes os integrantes
manifestaram o desejo de uma visão mais acurada de seus desenhos, e
inerente as diversas dificuldades buscaram atender suas próprias necessidades.
Esta consideração harmoniza-se com Araújo et al (2004) quando diz que “o
sentido visão tende a ser dominante em relação aos demais” e “através dos
sentidos corporais é possível entender os prazeres, os sofrimentos, os
imaginários, as opressões e as forças de libertação”.
72
Para Rector e Trinta (1990, p. 36-38), a partir da visão se constitui o
ponto de partida da maioria das interações sociais, estando a rejeição prévia de
toda possibilidade de ver, quando da recusa ocular em desviar o olhar.
“A visão pode atravessar campos, subir montanhas, viajar ao longo do
tempo, de países” (ACKERMAN, 1992, p. 274).
Podemos refletir sobre o desejo de viajar e a relação com a distância,
expresso em tom de lamento neste relato: “... eu não posso é passear... é muito
chão!”. O confinamento é exigido pela terapia que, no caso deste cliente, é
realizada 5 vezes ao dia. Este assume o compromisso com o tratamento e
atende a necessidade de manter seu tratamento, porém esta supera o desejo de
desatar as amarras para lançar-se ao prazer de desfrutar com seus familiares
distantes. Em relatos no segundo encontro este ratifica dizendo: “É um bom
recurso esse. .. e este é o meu problema... mexeu comigo.”
Sobre esta forma de controle do desejo em detrimento da necessidade,
Teixeira (1998, p. 38) nos leva a refletir:
Apesar de o desejo ter uma autonomia em relação às
necessidades. Existe uma relação do desejo com essas
necessidades. Pois quando o sujeito arruma sua vida
exclusivamente pela necessidade, ele anula o desejo e quando
se guia exclusivamente pelo desejo, produz interditos que o
levam novamente às suas necessidades – à realidade corporal.
“O grande acontecimento, o caso amoroso com a vida, é viver o mais
variadamente possível” (ACKERMAN, 1992, p. 360).
73
4.3.2 - O Sentido Tato
A percepção do cateter de diálise peritoneal através do toque
A percepção através do tato é chamada de tacésica, e é a primeira forma
que dispomos para nos comunicarmos quando nascemos. O toque é definido
por Rector e Trinta (1990, p. 41) como um exercício do sentido humano do tato
e, esta comunicação, obedece a convenções sociais e a padrões culturais.
Segundo Araújo et al (2004 p. 167) que evidenciam a necessidade para
conhecermos do mundo, e durante os procedimentos ou ações de enfermagem
o toque afetivo e terapêutico. Este está relacionado diretamente a região do
corpo com suas características próprias, tais como profundidade, temperatura, e
tempo de contato.
Ao revelar que através do tato se realiza a leitura da alma e sobre ela,
Araújo (2000, p. 141) também registra que as sensações distribuídas por todo
corpo estão refletidas nas características do movimento, assim desabafa o co-
pesquisador: “De noite já não estou quase dormindo com a barriga cheia d’água,
e amanheço muito ruim, muito agoniada! ...”.
Ao inserir no grupo a questão: - Como você percebe o cateter de diálise
através do sentido tato?, surge a análise descrita no quadro a seguir:
Quadro 2 O Toque e o Cliente: As Sensações de Tocar/Ser Tocado pelo
Cateter de DP
Co-Pesquisador/Desenho Sentido Atribuído ao Tato Sub-Categoria e
Categoria Analítica
J.O.
“Se eu pudesse desenhar ficaria
melhor. ”
frustração
Auto-estima
74
(continuação)
Co-Pesquisador/Desenho
Sentido Atribuído ao Tato Sub-Categoria e
Categoria Analítica
L.O.
Desenhei um cateter aqui... que
eu sinto que fico curiosa querendo...
coloco a mão assim, eu sinto ele
assim...”.
Eu sinto ele, eu sempre sinto ele
aqui... como se ele estivesse fazendo
aquela voltinha assim...”.
“Eu tenho todo cuidado.”
Eu sentia e agora eu não sinto nada,
minhas taxas baixaram. A minha
pressão só vivia lá em cima.”
Faço e não sinto nada, a não ser
quando eu coloco a bolsa mais forte,
aí não pode passar da hora.”
cuidado
Bem-estar
Adaptação
Auto-estima
M.C.C.
“De noite não estou quase
dormindo com a barriga cheia
d’água, e amanheço muito ruim, muito
agoniada! ...”.
Mal-estar
angústia
Auto-estima
A.C.
“...Vou pescar em alto mar, ... no
horário certinho volto e faço a diálise.
“...uso um cordãozinho fino, seguro
pelo pescoço para poder tomar banho,
para que ele o fique pendurado e
não machuque sua saída aqui...”.
Cuidado
Cuidado
Auto-estima
G.L.S.
Fiz aqui um negócio muito feio, que
nem eu sei o que é que fiz aqui...”
“Porque eu fazia aqui e não me
sentia bem na máquina. Toda vez que
fazia eu saía ruim... faço em casa e
não sinto nada, faço como a
enfermeira falou.”
“Não sei que não tenho nada na
barriga e quando vou tomar banho
está aqui.”
Indiferença
Bem-estar
adaptação
Auto-imagem
(continua)
75
(continuação)
Co-Pesquisador/Desenho Sentido Atribuído ao Tato Sub-Categoria e
Categoria Analítica
P.C.M.
“Eu senti com o cateter ... por isso fiz
dessa forma.”
Negação
Auto-imagem
C.B.M.
Estou andando está tudo bom... Isso
aqui eu faço 5x ao dia aquele de 2
litros...”
“Quando eu fazia hemodiálise pelo
pescoço eu saía no “colo”. Todo
mundo me levantava, sentava na
cadeira e não me levantava e vinha
de cadeira de rodas”.
Adaptação
Auto-imagem
Mal-estar
Auto-estima
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
Embora tenham referido diretamente a forma de sentirem o cateter no
abdome, as clientes do sexo feminino demonstraram haver diferenças pessoais,
valorizando as reações manifestadas por elas à percepção til: “Não sei que
não tenho nada na barriga e quando vou tomar banho está aqui". “As mulheres
convivem com maior facilidade com o toque, tocando e sendo tocadas” (LEITE,
SILVA e SCOCHI, 2004, P. 11).
As mãos também expressam sentimentos como o medo, do momento
difícil, da solidão. Medo que segundo a autora acima diz ser representado pela
apreensão e inquietação, pela dependência de estar nas mãos dos outros. O
medo do desconhecido ambiente, processo e resultado. Medo do risco, da
experiência abstrata, e , principalmente da morte, também desconhecida.
76
Durante a enunciação, os co-pesquisadores apresentaram formas de
C.N.V. de paralinguagem: “Se eu pudesse desenhar ficaria melhor”, sendo
acompanhada de um estalar de língua, como um lamento.
Ao destacar sentimentos de insegurança e acúmulo de energia, Araújo
(2000, p. 143), enfatiza que o cliente necessita de apoio para enfrentar o
desconhecido, pois o toque das mãos diz mais que palavras, revelando
sentimentos de carência em busca de afeto, esperança e fé.
Silva (1991, p. 312) ressalta que em geral o toque físico não é “sentido”
como uma sensação, e sim como emoção. Pode-se constatar ao usar de
expressões que denotem emoções ao toque, tais como: “tocado
profundamente”, “não me toques”, “manter contato”, entre outras.
Na análise das expressões verbalizadas foi identificado claramente a
dificuldade em tocar-se: “Desenhei um cateter aqui... que eu sinto que fico
curiosa querendo... coloco a mão assim, eu sinto ele assim...”. Os gestos
apontavam para o cateter. Em geral o toque físico não é “sentido” como uma
sensação, e sim como emoção. Pode-se constatar ao usar de expressões que
denotem emoções ao toque, tais como: “tocado profundamente”, “não me
toques”, “manter contato”, entre outras (SILVA, 1991, p. 312).
Para Araújo (2000 p. 129), a emoção é um estado de alerta poético, que
sensibiliza o que é radicalmente novo em cada experiência. A emoção fluidifica
o pensamento como forma, eliminando e aparando a experiência antes de
enviá-la ao cérebro, seja para a ação, seja para simples contemplação.
A verbalização por um co-pesquisador sobre a forma do relato: “Eu senti
com o cateter por isso fiz dessa forma...”, reafirma o comentário proferido
durante a construção da história como suporte de auto-sustentação e auto-
77
preservação: “de qualquer maneira a gente sente, querendo ou não a gente
sente. Há horas que esquecemos dele, e às vezes até esqueço que tenho
problema de saúde.” RRP
Segundo Araújo (2000, p. 142), a sensibilidade e as sensações pensam
e, junto com a emoção, convergem para um fundamento do ser. Quando a vida
impõe o inesperado, a intuição permite integração do “self” (psicoespiritual) e um
equilíbrio entre as sensações. A dialética entre a prática e a teoria dessa
intuição exige uma compreensão mais rigorosa do papel da subjetividade do
processo.
No momento filosófico de estudos de Araújo (2000, p.186), as dinâmicas
com grupo pesquisador demonstram que o tato assume a dimensão geral do
corpo por sua capacidade de distribuir continuamente as sensações. E
acrescentando Rodrigues (1980, p. 121): “parece que tudo o que diz respeito ao
corpo está, de uma ou outra maneira, envolvido em emoções”.
4.3.3 - O Sentido Paladar
A percepção do cateter de diálise peritoneal a partir da boca
“A boca é o símbolo da força criadora, é o órgão da palavra e também um
grau elevado de consciência” (CHEVALIER, 1994). Para Ackerman (1992,
p.161), o paladar é “extremamente social” pois os outros sentidos podem ser
apreciados na solidão, e o momento da refeição dificilmente estamos sozinhos.
Em todas as culturas os alimentos são usados como sinal de
comemoração e aprovação. Este constitui uma grande fonte de prazer,
satisfação fisiológica e emocional.
78
Segundo Ackermam (1992, p. 162), o paladar é um sentido íntimo, não se
pode sentir um gosto à distância, e a composição da saliva, bem a do como o
gosto, é tão individual quanto uma impressão digital.
A sensibilidade gustativa e as sensações geradas pensam, porque
sentem o gosto da própria vida (ARAÚJO, 2000, p. 172). E sendo um sentido
social permite localizar a boca igualmente fora da região habitualmente aceita
pela anatomia corporal.
A distinção entre as substâncias doces e amargas através das papilas
gustativas é o essencial a vida que invadiu a linguagem. Distinguindo-se em
pessoas doces (meigas) e amargas (desagradáveis).
O olfato contribui muito para o paladar, e frequentemente cheiramos
alguma coisa antes de prová-la, o que é suficiente para salivarmos
(ACKERMAN, 1992, P. 177).
É Importante “perceber a implicação do sentido social onde o paladar fala
a partir das ligações e experiências com coisas e pessoas. É a porta natural e
específica do corpo através da qual se cumprimenta e experimenta o mundo
(ARAÚJO, 2000, p. 167).
Em estudos com acadêmicos de enfermagem e clientes no centro
cirúrgico, Araújo (2000, p. 86) registra que a manifestação cinestésica do cliente
ao encobrir com o lençol a boca, está associada à auto-imagem e auto-estima. A
ausência da prótese desfigura a fisionomia, dificulta a dicção e gera outros
desconfortos.
Ao inserir no grupo a questão: Como você percebe o cateter de diálise
através do sentido paladar?, surge a análise descrita no quadro a seguir:
79
Quadro 3 – Paladar no GP: O Sentido de Comunicar no Social
Co-Pesquisador / Desenho Sentido Atribuído ao Paladar Sub-Categoria e
Categoria Analítica
M.P.B.S.
Falar é mais fácil”.
Adaptação
Auto-estima
C.B.M.
“...não tenho nada a dizer... faço
todas as refeições...”.
Negação
Auto-estima
L.O.
Não sei comentar nada, eu não sei
transmitir o que penso...”.
Negação
Auto-estima
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
Coube à união dos participantes a possibilidade de expor ao grupo suas
dificuldades em falar o que pensavam e sentiam a respeito do cateter de DP.
Houve a partir duma ruptura com a instituição, uma quebra do sigilo. Para
Freire (2005, p. 33) “a conscientização é isto: tomar posse da realidade”.
A negação expressa através das falas reflete segundo Teixeira (1998, p.
39), a percepção do objeto que vem satisfazer o sujeito, pois a frustração
seguida da reclamação faz com que alguém venha satisfazer sua demanda.
A essa demanda, quando reprimida, reporta a uma reação de isolamento
como mecanismo de defesa. Ocorre assim a clausura social.
80
4.3.4 - O Sentido Coração
A emoção em perceber o cateter de diálise peritoneal
A percepção através das emoções e dos sentimentos em que Araújo
(2000, p. 198) nos contempla aceitando o coração como um novo sentido
corporal. É algo especial que exige uma percepção apurada, não corriqueira,
porém possuidora de uma força marcante para admitir seu poder de
transformação para a assistência de enfermagem, cujo nome é o amor. Seu
compartilhamento com os outros sentidos dando significado global, pois “o
coração que está dentro do corpo faz os outros sentidos sentirem”.
As emoções, como qualquer sistema de comunicação, estão submetidas
a um sistema de convenções que ditam a intensidade, a situação, a razão e a
forma delas, por um lado, e que servem, por outro, para conotar ou para
classificar outros sistemas de convenções e outras relações sociais. (Rodrigues,
1980, p. 124)
A sensibilidade e a razão são formadas desde nossa infância, por toques,
olhares, sons, cheiros e gostos, que impregnam nossos sentidos corporais,
nossa memória, nossa vida. Por isso emoção, sensibilidade, sensações
pensam, porque nos permite cheirar, tocar, ver, ouvir, gostar, gozar, ou sofrer,
(re)ver e (re)viver.
O sentido coração obedeceu ao estudo transversal atravessado por todos
os demais sentidos do corpo. A análise dos dados dita por Santos (2005, p. 214)
como estudo transversal, significa uma forma de interligar e proporcionar
continuidade a estes.
Os sentidos Audição e Olfato não apareceram isoladamente nos sentidos
sociocomunicantes, sendo identificados apenas no estudo transversal.
81
Nesta seara, Araújo (2000, p. 190) alerta para compreender que o tato se
encontra em todo o corpo, é tão necessário como aceitar o nariz, pode
igualmente gerar sensações olfativas que nos tocam a alma.
Ao inserir no grupo a questão: Como você percebe o cateter de diálise
através do sentido coração?, surge a análise descrita no quadro a seguir:
Quadro 4 O Sentido Filosófico do Cliente: Perceber e Conviver com o Cateter
de DP
Co-Pesquisador / Desenho Sentido atribuído ao Coração Sub-Categoria e
Categoria Analítica
J.O.
“Estou aqui e faço diálise 3 anos... é
que estou satisfeito.”
Não posso passear, posso ir à
Porto Alegre, porque no interior do
Espírito Santo não há condições devido
às bolsas.”
Bem-estar
Auto-estima
Frustração
Auto-estima
R.R.P.
“... pra gente foi uma grande saída... foi
a melhor saída que teve para o ser
humano esse tipo de diálise. Porque a
hemodiálise é terrível...”.
“... foi a melhor saída que Deus me
deu... É uma bênção de Deus.”
Integração
Bem-estar
Auto-estima
Auto-estima
A.C.
“... Eu tenho sido maravilhosamente
abençoado por Deus com esse
tratamento.”
Bem-estar
Auto-estima
(continua)
82
(continuação)
Co-Pesquisador / Desenho Sentido atribuído ao Coração Sub-Categoria e
Categoria Analítica
L.O.
“...Depois que eu comecei a diálise,
graças a Deus estou bem... e estou
continuando...”.
Integração
Auto-estima
M.C.C.
“Peço à Deus que vai chegar a hora de
terminar com isso, que eu não estou
agüentando mais.”
Mal-estar
Auto-estima
V.A .O .
Agradeço a Deus muito a vinda nesse
hospital e ter vindo parar aqui...”.
“Aquelas amigas de primeiro, assim
quando você sofre o impacto de um
novo tratamento, tudo é muito difícil... a
adaptação... eu agradeço muito, e fica
a amizade... e a gente passa a tê-los
como um membro de nossa família, é
uma coisa muito gratificante!”
“O desenho para mim nem é importante,
o importante para mim são eles, o
hospital em si, aquele que acolhe no
tratamento.”
Auto-estima
Integração
Bem-estar
Auto-estima
Integração
Auto-estima
M.P.B.S.
“Aqui é o cateter, me sinto muito bem,
graças a Deus está tudo bem.”
Bem-estar
Auto-estima
C.B.M.
“... Mas está indo tudo bem, graças a
Deus me sinto muito bem...”
Bem-estar
Auto-estima
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
83
Cabe ressaltar que no primeiro momento, lendo e relendo os
depoimentos, observei a existência de significados que inúmeras vezes foram
repetidos e atribuídos aos sentidos corporais do mesmo co-pesquisador.
O grupo estabelecido em uma estrutura para concretizar seu
pensamento, seja este real ou imaginário a partir do tema norteador. A
pesquisadora ao analisar a produção do grupo selecionou ligações e estruturas
escondidas relacionadas a sua experiência, ou seja as transversalidades.
No corpo está simbolicamente impressa a estrutura social; e a
atividade corporal e que a torna expressa. A estrutura biológica
do homem possibilita-lhe ver, ouvir, cheirar, sentir, e pensar,
mas a cultura fornece o rosto de suas visões, sentimentos e
pensamentos, criando novos cheiros, sons e visões,
constituindo novos universos e novos corpos. (RODRIGUES,
1980, p. 125).
Para Araújo (2000, p. 135), ignorar o imaginário do cliente cujas
transversalidades permitem compreender o próprio imaginário constituído, e
como este modifica-se a partir do imaginário impregnado por múltiplas formas
refletidas nos contatos corporais.
Um co-pesquisador ao referir: “É o que representa pra mim o cateter, o
sentido da vida... A água cai sobre o solo completamente morto e o sentido à
vida, logo brotando uma flor”, demonstra uma compreensão do imaginário que
sente o cheiro da terra molhada, se tornando fértil e útil. O que segundo Araújo
(2000, p. 157), lembranças trazidas pelos odores, e, com elas, as pulsões e
as inibições latentes no imaginário.
84
Quadro 5 – Estudo Transversal: O Direito e o Avesso do Cateter de Diálise Peritoneal
Co-
Pesquisador
Sentido
Corporal
Sentido Socialmente Comunicado Categoria
Teórica
V.A.O. Visão
Tato
Paladar
Coração
Me sinto horrorosa, viu!... Me vejo realmente,
vou tomar banho, está aquele cateter ali... eu
tenho de proteger, não pode ficar
pendurado e rios cuidados que a
gente tem que ter.
Desde o início do meu tratamento, Deus tem
sido meu guia em todo o momento e peço
sempre a ajuda e a orientação d’Ele e tenho
sido muito abençoada... E tenho tido muitas
respostas nos resultados dos meus
exames... tendo tudo dado muito certo,
graças a Deus.
Auto-imagem
Auto-estima
A.C. Visão
Tato
Audição
Olfato
Coração
Coração
É o que representa pra mim o cateter, o
sentido da vida... A água cai sobre o solo
completamente morto e o sentido à vida,
logo brotando uma flor.
Eu adoro pescar e estou restrito quanto a
essa parte do divertimento.
Auto-estima
Auto-estima
E.E.F. Visão
Tato
Eu ponho aqui a posição do cateter... Eu me
sinto muito bem.
Auto-estima
R.R.P. Visão
Tato
Coitada da minha gambiarrinha que eu
fiz!...Eu penso que o cateter fica solto
dentro... Enchendo mais ou menos até aqui
assim... Imagino que o líquido deve vir por
aqui pela cavidade toda, por aqui assim.
Auto-imagem
Auto-estima
M.P.B.S. Visão
Tato
Aqui é o cateter, me sinto muito bem... nem
sinto que tenho nada... faço tudo normal,
meu serviço de casa... e saio, passeio, sou
normal... sei que tem o cateter na hora
do banho... fica um pouquinho barriguda,
mas faz parte.
Auto-estima
Auto-imagem
L.O. Paladar
Coração
A única coisa que eu tenho a dizer é que eu
estou bem, graças à Deus!
Auto-estima
M.C.C. Paladar
Coração
Peço a Deus que vai chegar a hora de
terminar com isso, que eu não estou
agüentando mais.
Auto-estima
C.B.M. Coração
Tato
Eu fazia hemodiálise pelo pescoço e saía no
colo, todo mundo me levantava... me
sentava na cadeira e não me levantava... Eu
vinha de cadeira de rodas.
Auto-estima
85
Em direção ao sentimento o coração, em união aos demais sentidos
corporais, nos remete, ao “grito de revolta, do basta, é um fluxo que procura
desmobilizar esses arcabouços constituídos que impedem a expressão
desejante”, conforme Teixeira (1998, p. 35) nos revela com propriedade. Ao
adentrar pelos relatos do GP, encontramos estruturas escondidas do eu, sujeito,
pessoa e cidadão. Tudo muito composto e arquivado aguardando o momento do
milagre para ser aberto.
A leitura e re-leitura dos depoimentos permitiu demonstrar como as
categorias relacionam-se aos sentidos do corpo (Quadro 6).
Quadro 6 - Apuração dos Sentidos do Corpo: Categorias Teóricas
Sentidos Corporais Socialmente Comunicados
Sub-Categorias Visão Tato Audição Paladar Olfato Coração
Total
Função
Cateter/ Abdome
10 17 - - - 02
29
Infusão/ Drenagem 04 05 01 - 01 -
11
Tempo 01 01 02 - - 06
10
Adaptação 04 03 - 02 - -
09
Bem-Estar 02 08 02 05 01 25
43
Mal-Estar 02 13 01 02 - 12
30
Cuidado 02 09 05 01 - 06
23
Esperança 02 02 02 - 02 03
11
- - - 04 - 13
17
Negação 08 03 01 02 - -
14
Integração - 01 01 - - 10
12
Total 35 62 15 16 04 77
209
86
4.3.5 - A Produção do Corpo Coletivo no Grupo Sociopoético
Após a construção individual do corpo, o grupo foi dividido em subgrupos
A e B. Percebemos a participação ativa de cada membro dos grupos na
tentativa de contribuir com a tarefa de desenhar um corpo coletivo. Para cada
um dos dois desenhos foi selecionada uma palavra que resumisse seu
significado, conforme as figuras a seguir:
Quadro 7 – A Produção do Corpo Coletivo
Co-Pesquisador / Desenho Sentido Social Categoria Teórica
A.C.; J.O.; C.B.N.; J.D.S.;
G.L.S.; J.F.F.; L.O.
“O tratamento é tudo para a nossa vida”
“Recurso de Sobrevivência”
“Vida que nós Amamos”
“Pra mim está ótimo, chega... está
ótimo, eu não enxergo e escuto pouco.
Está tudo bom!”
“Não vou dizer que sou eu , é cabeludo!”
“Nossa participação é de grande
importância.”
“Valeu a intenção, foi ótimo!”
Auto-Estima
Auto-Estima
Auto-Estima
Auto-Estima
Auto-Imagem
Auto-Estima
Auto-Estima
M.P.B.S.; P.C.M.; V.A.O.;
R.R.P.; E.E.F.; M.C.C.
“Minha contribuição é a orelha e o brinco
na orelha ...É, é o Fama! ... depois
dessa...!
“Acho legal o grupo se reunir assim para
saber o que cada um está sentindo, se
está bem ou se está precisando de
alguma coisa ...”
A gente até esqueceu que tem de ir prá
casa, pois tem horário para fazer o
tratamento, ouviu? Esqueceu de tudo!
Eu achei maravilhoso esse reencontro,
tem gente que não vejo bastante
tempo... Foi uma terapia maravillhosa!
Auto-Imagem
Auto-Estima
Auto-Estima
Auto-Estima
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A ., EEAN / UFRJ, 2006.
87
Ao intitularem os desenhos de “Vida” e “Vida que nós Amamos”, o GP se
estabeleceu realmente como um pesquisador coletivo conforme traz Barbier
(2002, p. 103). Um grupo possuidor de uma história própria, uma organização e
afetividade distintas. Através do imaginário coletivo emergiu a união e o
conhecimento a partir do objeto proposto.
O desenho implica numa forma projetiva e, segundo Campos (2005,
p.18), os significados têm bases fundamentadas em símbolos derivados da arte,
mito, fantasia e outras atividades influenciadas pelo inconsciente.
A afirmação de que o indivíduo desenha aquilo que sente, em
vez de somente o que vê, ... O indivíduo, pelo tamanho,
localização, pressão do traço, conteúdo do desenho, etc.,
comunica o que sente, em adição ao que . Seus aspectos
subjetivos definem e dão cor às suas intenções objetivas.
(CAMPOS, 2005, p. 22)
O autor destaca que a interpretação dos aspectos gerais dos desenhos
coletivos parece produzir uma amostra mais fiel e expressiva.
Revendo Freire (1979, p. 69), entendemos que não se resume ao que
é vivenciado pelo cliente, mas ao pesquisador também imposto, atrofiados pelo
sistema. E temos aí a possibilidade de vislumbrar o significado do poder criativo
“uma pedagogia da comunicação para vencer o desânimo do antidiálogo”.
A transcrição dos depoimentos durante a reclusão permitiu a análise das
categorias e subcategorias (APÊNDICE E) e apresentados no quadro 6, a partir
de onze categorias teóricas, demonstrando como elas perpassaram os sentidos
do GP; quanto à análise das histórias, o momento filosófico permitiu a
composição da seguinte poesia:
88
VIDA QUE NÓS AMAMOS
Tenho sido maravilhosamente
abençoado por Deus com esse tratamento
e estou continuando.
Agradeço muito ter vindo parar aqui nesse hospital.
Esse tipo de diálise foi uma grande saída,
a melhor saída que teve para o ser humano,
saio, passeio, sou normal.
Eu sentia e agora eu não sinto nada.
Durmo bem, acordo bem.
Não estou mostrando meu cateter aqui, ele está coberto.
Eu tenho de protegê-lo,
não pode ficar pendurado.
O tratamento é tudo para nossa vida.
Foi maravilhoso o primeiro contato com vocês.
Podem contar comigo!
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado
CRUZ, D.O.A., E.E.A.N. / U.F.R.J., 2006
89
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A construção do conhecimento coletivo com o grupo-pesquisador
integrado por clientes com NES em programa de diálise peritoneal, permitiu um
papel de sujeito ativo e coletivo da produção do saber.
A pesquisa foi pioneira na unidade, e os dados evidenciaram as
experiências de vida entre clientes através do diálogo. Pessoas apesar de
freqüentarem o mesmo setor, co-habitarem o mesmo espaço institucional, ainda
não se conheciam. Houve a troca de informações e vivências que, embora
alguns estivessem em tratamento mais de três anos, ainda não se
conheciam.
As falas identificaram a importância da (con)vivência com o cateter de
diálise peritoneal. Além disso, a percepção do cliente através dos sentidos
corporais aponta para o bem-estar, o mal-estar, a função do cateter/abdome, o
cuidado, a fé e, destacando-se como principais aspectos na convivência a
adaptação e o mal-estar/bem-estar.
Fundamental, ocorreu que todos os instrumentos utilizados partiram
desses clientes, de suas propostas, indagações e aspirações. A criação dos
desenhos os permitiu revelar aspectos subjetivos e através da verbalização
após as dinâmicas, uma reflexão objetiva da convivência com o cateter de
diálise peritoneal.
Ao utilizarem técnicas artísticas de produção de dados trouxeram à tona
os saberes inconscientes, desconhecidos, inesperados, como dados que
expressaram o íntimo das pessoas. Houve uma rica produção de dados
90
subjetivos e objetivos, instituindo um marco epistemológico para a assistência
em diálise peritoneal ambulatorial, com destaque dos aspectos subjetivos a
partir de sua percepção.
A facilitação do espaço terapêutico para o exercício de uma maior
participação e a proposta de trabalhar com a criatividade, todo o corpo,
valorizando a cultura dominada e o instituído, permitindo repensar a dimensão
do cuidado de enfermagem.
As necessidades de cuidado de enfermagem apontaram ainda para a
ausência de orientação inicial (outra instituição), as longas esperas para
medicações injetáveis de rotina e exames laboratoriais, a dificuldade extrema
para receber a cicladora automática, o re-implante do cateter inoperante e, a
abertura de um espaço coletivo para os clientes expressarem suas dificuldades,
realidades e descontração denotado no estudo.
É importante que haja o tempo e o espaço para que, devidamente
esclarecido sobre o tratamento, o cliente opte pela terapia de diálise que se
aproxime do seu estilo de vida. Sendo imprescindível não alijar o indivíduo de
prazeres e desejos como o deslocamento para viagens, passeios locais e da
convivência social, em detrimento do tratamento de longo prazo, significa um
decreto de prisão permanente.
Paralelamente a assistência de enfermagem, a necessidade de se
desenvolver competências direcionadas ao melhor acesso e viabilização das
consultas e controles dos agendamentos interdisciplinares. Atualmente estes
fatores são requeridos como uma perspectiva de humanização e qualidade da
assistência.
91
Considerando a característica do grupo pesquisador com limitações
físicas impostas pelo aspecto crônico da doença renal, e associadas as
patologias secundárias, a pesquisa mostrou ser viável instituir um espaço para
que a subjetividade seja valorizada e levada em conta os seus aspectos.
Estar com o grupo como pesquisadora foi instigante, embora a ansiedade
pelos encontros tenha sido grande. Ao final de cada período de produção
coletiva houve o prazer da troca, do dever cumprido, de estar ali dividindo e,
acima de tudo, somando para a construção de novas formas de olhar e cuidar
do cliente com NES na área renal.
Acredito que ao utilizar a técnica dos sentidos sociocomunicantes do
corpo, do grupo pesquisador, e dos princípios e recusas da sociopoética, houve
a abertura de um canal para o imaginário dos clientes como subsídio ao cuidado
de enfermagem.
A poesia crítica extraída das histórias elaboradas pelo grupo pesquisador
com o título de “Vida Que Nós Amamos” sintetizou em categorias teóricas os
dados produzidos revelando a fé e a esperança como persistência para o dia-a-
dia, a adaptação ao tratamento, a relação com a instituição, o cuidado exigido, a
negação do cateter e a importância da integração.
Portanto, diante dos processos atuais de modernização e reformas
político-sociais, o enfermeiro deve agir com uma postura de valorização do
significado para o cliente perante sua percepção e ajustamento a doença e ao
tratamento. Cabe ainda, reconhecer a crescente consciência sobre a dignidade
do cliente com NES na área renal, seus direitos, e o respeito ao conceito de
inclusão e cidadania.
92
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07 ago. 2006.
TEIXEIRA, E.R. O desejo e a necessidade no cuidado com o corpo: uma
perspectiva estética na prática de enfermagem. xi, 199 p.Tese (Doutorado)
Escola de Enfermagem Anna Nery, UFRJ, Rio de Janeiro, 1998.
96
A N E X O
97
98
A P Ê N D I C E S
99
APÊNDICE ACOMUNICAÇÃO DA PESQUISA A DIVISÃO DE
ENFERMAGEM
UNIVERSIDADE DO BRASIL
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO
Ao Serviço de Internações Clínicas da Divisão de Enfermagem
Com vistas à Sessão de Diálise
Informo a realização de estudo para fins de Mestrado, da pesquisadora
Dóris de Oliveira Araújo Cruz, junto aos clientes portadores de necessidades
especiais de saúde na área renal (NES) cadastrados no Programa de Diálise
Peritoneal Ambulatorial do Serviço de Nefrologia. A pesquisa intitulada A
Percepção Sensorial do Cliente Frente ao Cateter de Diálise Peritoneal: uma
Contribuição para o Cuidado do Enfermeiro Através da Sociopoética, sob a
orientação da Professora Doutora Sílvia Teresa Carvalho de Araújo, da Escola
de Enfermagem Anna Nery da UFRJ. Os objetivos do estudo visam: identificar
nas manifestações do imaginário do cliente as percepções sensoriais frente o
cateter peritoneal, descrever a vivência dos sentidos sociocomunicantes
desencadeiam expressões corporais do cliente indicadoras de necessidades e
analisar como as percepções sensoriais do cliente fornecem subsídios a serem
atendidos pelo cuidado do enfermeiro. O estudo pretende ampliar o
conhecimento das pesquisas em enfermagem em nefrologia no cuidado ao
indivíduo portador de cateter de diálise peritoneal em programa ambulatorial.
Enriquecer as pesquisas na abordagem e no método sóciopoético na
enfermagem, aumentando os saberes produzidos com a união do enfermeiro e
o cliente, à partir da visão do próprio indivíduo, subsidiando a assistência de
enfermagem aos cuidados com o cateter de DP. Os sujeitos da pesquisa serão
selecionados aleatoriamente à partir do Cadastro do Programa de Diálise
Peritoneal Ambulatorial do Serviço de Nefrologia. Através de uma abordagem
qualitativa, serão realizadas dinâmicas de grupos, com 6 a 12 participantes, que
tratam dos sentidos corporais. Os dados serão produzidos em 3 encontros
respeitando-se o agendamento do setor de diálise peritoneal ambulatorial e não
haverá ônus para o cliente. Estes serão convidados à participarem do estudo e
os será entregue a 2ªvia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de
acordo com a Resolução 196/96 das Diretrizes e Normas que regulamentam
Pesquisas com Seres Humanos do Conselho Nacional de Saúde, neste
documento constará ainda o endereço e telefone da pesquisadora para
qualquer esclarecimento: 21- 9785-9498 / e-mail: [email protected]
Atenciosamente,
_________________________________________
Doris de Oliveira Araujo Cruz
SIAPE nº 0311255 / DEN – HUCFF / UFRJ
100
APÊNDICE B - COMUNICAÇÃO DA PESQUISA AO SERVIÇO DE
NEFROLOGIA
UNIVERSIDADE DO BRASIL
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO
Ao Serviço de Nefrologia
Informo a realização de estudo para fins de Mestrado, da pesquisadora
Dóris de Oliveira Araújo Cruz, junto aos clientes portadores de necessidades
especiais de saúde na área renal (NES) cadastrados no Programa de Diálise
Peritoneal Ambulatorial do Serviço de Nefrologia. A pesquisa intitulada A
Percepção Sensorial do Cliente Frente ao Cateter de Diálise Peritoneal: uma
Contribuição para o Cuidado do Enfermeiro Através da Sociopoética, sob a
orientação da Professora Doutora Sílvia Teresa Carvalho de Araújo, da Escola
de Enfermagem Anna Nery da UFRJ. Os objetivos do estudo visam: identificar
nas manifestações do imaginário do cliente as percepções sensoriais frente o
catéter peritoneal, descrever a vivência dos sentidos sociocomunicantes
desencadeiam expressões corporais do cliente indicadoras de necessidades e
analisar como as percepções sensoriais do cliente fornecem subsídios a serem
atendidos pelo cuidado do enfermeiro. O estudo pretende ampliar o
conhecimento das pesquisas em enfermagem em nefrologia no cuidado ao
indivíduo portador de cateter de diálise peritoneal em programa ambulatorial.
Enriquecer as pesquisas na abordagem e no método sóciopoético na
enfermagem, aumentando os saberes produzidos com a união do enfermeiro e
o cliente, à partir da visão do próprio indivíduo, subsidiando a assistência de
enfermagem aos cuidados com o cateter de DP. Os sujeitos da pesquisa serão
selecionados aleatoriamente à partir do Cadastro do Programa de Diálise
Peritoneal Ambulatorial do Serviço de Nefrologia. Através de uma abordagem
qualitativa, serão realizadas dinâmicas de grupos, com 6 a 12 participantes, que
tratam dos sentidos corporais. Os dados serão produzidos em 3 encontros
respeitando-se o agendamento do setor de diálise peritoneal ambulatorial e não
haverá ônus para o cliente. Estes serão convidados à participarem do estudo e
os será entregue a 2ªvia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido de
acordo com a Resolução 196/96 das Diretrizes e Normas que regulamentam
Pesquisas com Seres Humanos do Conselho Nacional de Saúde, neste
documento constará ainda o endereço e telefone da pesquisadora para
qualquer esclarecimento: 21- 9785-9498 / e-mail: [email protected]
Atenciosamente,
_________________________________________
Doris de Oliveira Araujo Cruz
SIAPE nº 0311255 / DEN – HUCFF / UFRJ
101
APÊNDICE C – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
HOSPITAL UNIVERSITÁRIO CLEMENTINO FRAGA FILHO
COMITÊ DE ÉTICA EM PESQUISA
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
“A Percepção Sensorial do Cliente Frente ao Cateter de Diálise Peritoneal: Uma Contribuição
para o Cuidado do Enfermeiro Através da Sociopoética”
Você está sendo convidado para participar de um estudo que tem como objetivos:
identificar nas manifestações do imaginário as percepções sensoriais do cliente frente ao
cateter de diálise peritoneal; descrever como a vivência dos sentidos sociocomunicantes
desencadeiam expressões corporais do cliente indicadoras de necessidades e analisar como as
percepções sensoriais do cliente fornecem subsídios a serem atendidos pelo cuidado do
enfermeiro;
Suas respostas serão tratadas de forma sigilosa e seu nome não será divulgado em
nenhuma fase do estudo. As informações obtidas serão analisadas em conjunto com as
informações, obtidas com outros clientes, não sendo divulgada a identificação de nenhum
cliente;
Sua participação é voluntária, sem ônus e em qualquer fase da pesquisa você poderá
desistir, recusar-se a responder qualquer pergunta ou retirar seu consentimento. Sua
desistência não lhe trará nenhum prejuízo e seu tratamento na instituição es assegurado
independente da sua participação ou não na pesquisa;
O estudo prevê discussão em grupo composto entre 6 a 12 participantes, no máximo,
durante 2 horas diárias, em 3 encontros ao longo de 3 meses e marcados de acordo com a
agenda de seu retorno ao Setor de Diálise Peritoneal Ambulatorial;
O estudo não oferece riscos à sua saúde física e/ou mental;
Terão acesso aos resultados os participantes do estudo, a pesquisadora envolvida no
projeto e os profissionais que possam vir a ter relacionamento de atendimento e/ou de cuidados
com o cliente, o será permitido acesso a terceiros (seguidores, empregadores, superiores
hierárquicos), garantindo proteção contra qualquer tipo de discriminação e/ou estigmatização;
Você será mantido atualizado sobre os resultados parciais da pesquisa;
A pesquisadora assume o compromisso de utilizar os dados somente para esta pesquisa;
Você receberá uma cópia deste termo onde consta o telefone e o endereço da
pesquisadora para tirar suas dúvidas a qualquer momento que desejar sobre o projeto e sua
participação na pesquisa. Se tiver alguma dúvida sobre a ética da pesquisa, entre em contato
com o comitê de Ética em Pesquisa (CEP), sala 01D-46 - andar, telefone: 2562-2480, e-mail:
ccp@hucff.ufrj.br
Declaro estar ciente do inteiro teor deste TERMO DE CONSENTIMENTO e acredito ter
sido suficientemente informado a respeito das informações sobre o estudo acima citado que li
ou que foram lidas para mim.
Eu discuti com a Enfª Dóris de Oliveira Araújo Cruz sobre a minha decisão em participar
nesse estudo. Ficaram claros para mim os propósitos do estudo, as garantias de confiabilidade
e de esclarecimentos permanentes. Ficou claro também que minha participação é isenta de
despesas e que tenho garantia de acesso a tratamento hospitalar quando necessário. Concordo
voluntariamente em participar deste estudo e poderei retirar o meu consentimento a qualquer
momento, antes ou durante o mesmo, sem penalidades ou prejuízo ou perda de qualquer
benefício que eu possa ter adquirido, ou no meu atendimento na Instituição.
______________________________________ Data ___ / ___ / ____
Nome / Assinatura do Participante da Pesquisa
______________________________________ Data ___ / ___ / ____
Nome / Assinatura do Representante Legal
______________________________________ Data ___ / ___ / ____
Doris de Oliveira Araujo Cruz - Pesquisadora
Telefone de Contato: (21) 9785-9498 e (21) 2562-2543
Hospital Universitário Clementino Fraga Filho° - Av . Brig. Trompowisck, s/nº - Ilha do Fundão
Sala 05E-19 / 5º andar – e-mail:
doriscruz@hucff.ufrj.br
102
APÊNDICE D - PERGUNTAS DOS SENTIDOS CORPORAIS
- Como você percebe o cateter de diálise através do sentido visão?
- Como você percebe o cateter de diálise através do sentido tato?
- Como você percebe o cateter de diálise através do sentido paladar?
- Como você percebe o cateter de diálise através do sentido audição?
- Como você percebe o cateter de diálise através do sentido olfato?
- Como você percebe o cateter de diálise através do sentido coração?
103
APÊNDICE E – QUADROS DAS CATEGORIAS TEÓRICAS
Sentidos Corporais
Sub-
Categoria
Visão Tato Audi-
ção
Pala-
dar
Olfa-
to
Cora-
ção
Função
Cateter/
Abdome
JFF: Uma silhueta
representando o cateter
na minha barriga.O corpo
em si e o cateter
implantado.
RRP: Coitada da minha
gambiarrinha que eu fiz
... Isso aqui é um cateter
que coloquei por dentro.
MPBS: Aqui é o cateter
me sinto muito bem...
sei que tem o cateter na
hora do banho.
VAO: Me vejo realmente,
vou tomar banho, está
aquele cateter ali ... eu
tenho de proteger, não
pode ficar pendurado.
EEF: Eu ponho aqui a
posição do cateter.
PCM.: Não estou
mostrando meu cateter
ele está coberto, porque
eu não me sinto bem
mostrando o cateter em
geral.
LO: Eu sempre sinto ele aqui estivesse fazendo aquela
voltinha assim... Desenhei aqui um cateter, e fico curiosa
querendo... Aí coloco a mão assim, e eu sinto ele.
JO: O líquido sai se nossa barriga vem pra e depois
entra a bolsa colocada em cima.
MCC: De noite já não estou quase dormindo com a
barriga cheia d’água.
RRP: Coitada da minha gambiarrinha que eu fiz...
Penso que o cateter fica solto lá dentro.
AC: Não sei qual a relação que vocês têm com o cateter.
Uso um cordãozinho fino e seguro pelo pescoço para
poder tomar banho, para que ele não fique pendura
do e
não machuque sua saída aqui.
MPBS: Aqui está o cateter, me sinto muito bem... sei
que tem o cateter na hora do banho.
VAO: Me vejo realmente, vou tomar banho, e está aquele
cateter ali... Eu tenho de proteger, não pode ficar
pendurado.
GLS:Quando vou tomar banho ele está aqui, eu não sinto
que tenho nada na barriga.
E.E.F.: Eu ponho aqui a posição do cateter.
PCM: Eu senti com o cateter.
- - -
AC: É o
que
represe
nta prá
mim o
cateter
o
sentido
de vida.
MPBS.:
Aqui é o
cateter
me sinto
muito
bem.
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
104
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Paladar Olfato Coração
Tempo
JO: Não
posso
passear é
muito
chão!
AC: Dou
minhas
“escapolidas”...
e no horário
certinho, volto e
faço a diálise.
VAO: A gente
até esqueceu
que tem de ir
para casa, tem
hora para fazer
o tratamento,
ouviu?
- -
JO: Não posso passear é muito chão!
LO: Estou me sentindo bem graças à Deus, e estou
continuando.
MCC: Peço a Deus que vai chegar a hora de terminar com
isso, que eu já não estou agüentando mais.”
VAO: Desde o início do meu tratamento que Deus tem
sido meu guia em todo o momento... a gente até
esqueceu que tem que ir para casa, tem hora para fazer o
tratamento, ouviu?
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Paladar Olfato Coração
Infusão/
Drenagem
JO: O líquido sai da
nossa barriga, vem prá
e depois entra a bolsa
colocada em cima.
RRP:
Enchendo mais ou
menos até aqui assim...
Imagino que o líquido
deve vir por aqui pela
cavidade toda.
AC: A água cai sobre o
solo completamente
morto...
J.O.: O líquido sai da nossa barriga, vem
prá e depois entra a bolsa colocada em
cima.
M.C.C.: Minha barriga de noite já não estou
quase dormindo com a barriga cheia
d’água.
R.R.P.:
Enchendo mais ou menos até aqui
assim... Imagino que o líquido deve vir por
aqui pela cavidade toda.
A.C.: A água cai sobre o solo
completamente morto...
AC: A água cai
sobre o solo
completamente
morto...
-
AC: A água cai
sobre o solo
completamente
morto...
-
105
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Paladar Olfato Coração
Adaptação
AC: O cabide, a bolsa, sobe e desce é o circuito, o
clamptem azul mesmo, um aqui e outro, a fita
de esparadrapo.
MPBS: Fica um pouquinho barriguda, mas faz
parte...Não sinto que tenho nada e faço tudo normal,
meu serviço de casa, saio, passeio, sou normal.
MPB: Fica um pouquinho
barriguda, mas faz
parte... Não sinto que
tenho nada e faço tudo
normal, meu serviço de
casa... Saio, passeio,
sou normal.
- CBM: Faço em
casa e não
sinto nada
faço como a
enfermeira
falou.
- -
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Paladar Olfato Coração
Bem-
Estar
MPBS:
Aqui é o
catéter
me sinto
muito
bem...
Saio,
passeio,
sou
normal.
LO: Eu sentia e
agora não sinto
nada, minhas
taxas baixaram.
MPBS: Aqui é
o cateter me
sinto muito
bem... Saio,
passeio, sou
normal... Não
sinto que tenho
nada e faço
tudo normal,
meu serviço de
casa... saio,
passeio, sou
normal.
GLS: Faço em
casa e não sinto
nada.
CBM: Estou
andando está
tudo bom.
VAO: A
gente até
esqueceu
que tem
que ir para
casa, tem
hora para
fazer o
tratamento,
ouviu?
Esqueceu
de tudo.
LO: A única
coisa que eu
tenho à dizer
é que eu
estou bem
graças a
Deus.
VAO: Tenho
tido muitas
respostas
nos resultados
dos exames.
CBM: Durmo
bem, acordo
bem e faço
todas as
refeições.
AC: A
água cai
sobre o
solo
completam
ente morto
e o
sentido da
vida logo
brotando
uma flor.
JO: É que estou satisfeito.
LO: Eu estou me sentindo bem graças a Deus, e
estou continuando... Depois que eu comecei a diálise,
graças a Deus estou bem... A única coisa que tenho à
dizer é que eu estou bem graças a Deus.
RRP: Prá gente foi uma grande saída... Foi a
melhor saída que teve para o ser humano esse tipo de
diálise, foi a melhor saída que Deus me deu.
AC: Eu tenho sido maravilhosamente abençoado por
Deus com esse tratamento... Vida que nós amamos...
Foi maravilhoso o primeiro contato com vocês.
MPBS: Aqui é o cateter me sinto muito bem
... Saio,
passeio, sou normal... A gente chegou meio
nervosinho, aí foi relaxando, relaxando.
VAO: Tenho tido muitas respostas nos resultados dos
meus exames... Tendo tudo dado muito certo... A
gente até esqueceu que tem que ir para casa, tem hora
para fazer o tratamento, ouviu? Esqueceu de tudo.
GLS: Faço em casa e não sinto nada... Me sinto
muito bem.
EEF: Achei maravilhoso e valeu realmente esse
reencontro.
CBM: Durmo bem, acordo bem e faço todas as
refeições.
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006
106
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Paladar Olfato Coração
Mal-Estar
VAO: Me sinto
horrorosa
viu?!... Me vejo
realmente, vou
tomar banho,
Está aquele
cateter ali.
JO: Se eu pudesse desenhar
ficaria melhor.
MCC: Minha barriga e de noite
não estou quase dormindo
com a barriga cheia d’água e
amanheço muito ruim, muito
agoniada.
GLS: Porque eu fazia aqui e
não me sentia bem na
máquina. Toda vez que fazia eu
saía ruim.
CBM: Não deu para fazer
porque enxergo muito mal!...
Não deu, eu não enxergo, a
caneta pára, mas se eu parar
não acerto mais o local que eu
comecei... Quando eu fazia
hemodiálise pelo pescoço eu
saía no “colo”. Todo mundo
me levantava, sentava na
cadeira e não me levantava...
Vinha de cadeira de rodas.
VAO: Me sinto
horrorosa viu?!
MCC: Peço a Deus
que vai chegar a
hora de terminar
com isso, que eu
não estou
agüentando mais.
-
JO: Não posso passear é
muito chão.
MCC: Peço à Deus que vai
chegar a hora de terminar
com isso, que eu não
estou agüentando mais.
RRP: Porque a hemodiálise
é terrível.
AC: Eu adoro pescar e estou
restrito quanto à essa parte
do divertimento.
MPBS: A gente chegou meio
nervosinho, foi relaxando,
relaxando.
GLS: Porque eu fazia aqui e
não me sentia bem na
máquina Toda vez que fazia
eu saía ruim.
CBM: Quando eu fazia
hemodiálise pelo pescoço eu
saía no “colo”. Todo mundo
me levantava, sentava na
cadeira e não me
levantava... Viinha de
cadeira de rodas.
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
107
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Paladar Olfato Coração
Cuidado
V.A.O.: Vou
tomar
banho está
aquele
cateter ali e
eu tenho de
proteger,
não pode
ficar
pendurado.
L.O.: Eu tenho todo o cuidado... eu
coloco a bolsa mais forte não
pode passar da hora.
A.C.: Vou pescar em alto mar no
horário certinho, volto e faço a
diálise Eu sou um cara que me
acho até cuidadoso demais uso
um cordãozinho fino...seguro pelo
pescoço para poder tomar banho,
para que ele não fique pendurado e
não machucar sua saída aqui.
V.A.O.: Vou tomar banho está
aquele cateter ali e eu tenho de
proteger, não pode ficar
pendurado... A gente até esqueceu
que tem que ir para casa, tem hora
para fazer o tratamento, ouviu?
A.C.: A água cai sobre o
solo completamente
morto e o sentido da
vida logo brotando uma
flor.
V.A.O.: A gente até
esqueceu que tem que ir
para casa, tem hora para
fazer o tratamento,
ouviu?
J.O.O.:
O refresquinho é
para diabético?
V.A.O.:
Importante para
mim são eles, o
hospital em si,
aquele que
acolhe no
tratamento... A
gente até
esqueceu que
tem que ir para
casa, tem hora
para fazer o
tratamento,
ouviu?
G.L.S.: Faço
em casa e não
sinto nada, me
sinto muito bem.
P.C.M.: saber o
que cada um está
sentindo. Se está
tudo bem, se está
precisando de
alguma coisa.
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
108
Sentidos Corporais
Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Pala
-dar
Olfato Coração
Esperança
J.O.: Não posso passear é
muito chão!
A.C.: A água cai sobre o
solo completamente morto
e o sentido da vida
logo brotando uma flor.
A.C.: A água cai
sobre o solo
completamente
morto e o
sentido da vida
logo brotando uma
flor.
A.C.: A água cai
sobre o solo
completamente
morto e o
sentido da vida
logo brotando
uma flor.
-
AC: A água cai
sobre o solo
completamente
morto e o
sentido da vida
logo brotando
uma flor.
JFF: Recurso de
sobrevivência.
JDS: O tratamento é tudo
para nossa vida.
AC: Vida que nós amamos.
Sentidos Corporais
Sub-
Categoria
Vi-
são
Ta
-to
Audi-
ção
Paladar Olfa-
to
Coração
-
-
-
L.O: A única coisa que
eu tenho à dizer é que
eu estou bem graças a
Deus.
M.C.C.:Peço à Deus
que vai chegar a hora
de terminar com isso,
que eu não estou
agüentando mais.
V.A.O.: Desde o início
do meu tratamento
Deus tem sido o meu
guia em todos os
momentos, e peço
sempre a ajuda dele
e
a orientação dele.
-
LO: Estou me sentindo bem graças a Deus, e estou continuando...
Depois que eu comecei a diálise graças a Deus estou bem... A única
coisa que eu tenho à dizer é que eu estou bem graças a Deus.
RRP: É uma benção de Deus... Foi a melhor saída que teve para o
ser humano esse tipo de diálise, foi a melhor saída que Deus me deu.
MCC: Peço a Deus que vai chegar a hora de terminar com isso, que eu
já não estou agüentando mais.
AC: Eu tenho sido maravilhosamente abençoado por Deus com esse
tratamento.
MPBS: Me sinto muito bem, graças a Deus está tudo bem.
VAO: Desde o início do meu tratamento Deus tem sido o meu guia em
todos os momentos e peço sempre a ajuda dele e a orientação dele...
Tudo tem dado muito certo graças a Deus.
G.L.S.: Graças a Deus que tem me abençoado bastante.
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
109
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão Tato Audição Paladar Olfa-
to
Cora-
ção
Negação
LO: Não mostra não porque não tem nada aqui!
AC: Não vou dizer que sou eu, é cabeludo!
VAO: Me vejo realmente, vou tomar banho, está
aquele cateter ali... Minha contribuição é a
orelha e o brinco na orelha.
PCM: não estou mostrando meu cateter aqui
está coberto, porque eu não me sinto bem
mostrando o catéter em geral.
VAO: Me vejo realmente,
vou tomar banho, está
aquele cateter ali.
GLS: Fiz aqui um negócio
muito feio, e nem eu sei
o que é que fiz aqui.
CBM: Pode escrever
qualquer coisa.
VAO: Minha
contribuição
é a orelha e
o brinco na
orelha.
AC: Não vou
dizer que sou
eu, é
cabeludo!
CBM: Não
tenho nada a
dizer.
- -
Sentidos Corporais Sub-
Categoria
Visão
Tato Audição Paladar Olfato Coração
Integração
-
JFF: Nós
participarmos
acho que é de
grande
importância.
VAO: A gente até
esqueceu que tem
que ir para casa, tem
hora para fazer o
tratamento ouviu?
-
-
JFF: Nós participarmos acho que é de grande
importância... É um desenvolvimento para nós.
RRP: Concordo com o desenho que ele fez, que é vida.
AC: Foi maravilhoso o primeiro contato com vocês,
podem contar comigo!
EEF: Achei maravilhoso e valeu realmente esse
reencontro. Tem gente que eu não vejo há muito tempo
e nos reencontramos hoje aqui.
PCM: Saber o que cada um está sentindo, se está tudo
bem, se está precisando de alguma coisa.
Fonte: GP, Dissertação de Mestrado, CRUZ, D.O.A., EEAN / UFRJ, 2006.
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