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multinacional” (BHABHA, 1998, p. 26). De fato, é fácil verificar que esta realidade
sedimenta o direito
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de se expressar a partir da periferia do poder materializado
nos embates fronteiriços intercultural, em que dimensão espacial e temporal afirma
seu cruzamento. É, por conseguinte, neste espaço incomensurável e intraduzível
que a diferença cultural firma-se tendo tanta possibilidade de serem consensuais
quanto conflituosos.
Sem dúvida, as tensões da modernidade é o tropo comum dos nossos tempos,
em que a questão da cultura coloca-se na esfera do além
20
, confessa Homi Bhabha.
Para o teórico, essas tensões marcam atualmente nossa existência, encoberta por
uma tenebrosa sensação de sobrevivência, de viver nas fronteiras do “presente”,
pois, no seu entender,
encontramo-nos no momento de trânsito em que espaço e tempo se cruzam
para produzir figuras complexas de diferença e identidade, passado e
presente, interior e exterior, inclusão e exclusão. Isso porque há uma
sensação de desorientação, um distúrbio de direção, no “além”: um
movimento exploratório incessante, que o termo francês au-delá capta tão
bem
__
aqui e lá, de todos os lados, fort/da, para lá e para cá, para a frente e
para trás (BHABHA, 1998, p. 19).
De fato, é essa sensação de desorientação, perfeitamente explorada por Bhabha,
que confronta forças antagônicas, conflituosas que agregam valores outros –
geralmente no que diz respeito à raça, classe, gênero – formando sujeitos nos entre-
lugares devido aos deslocamentos de domínios da diferença.
Também é certo que a virada do século propiciou o descortinar da “demografia
do novo internacionalismo” (BHABHA, 1998, p. 24), em que é possível compreender
a concepção de “entre-lugar”
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articulado por Homi Bhabha. Nessa visão, como já
afirmei baseada em Hambuger, a zona de fronteira ou entre-lugar constitui-se num
19
Esse direito dá voz aos povos em deslocamentos, diáspora, exílio, iletrados, marginalizados e as
diversas minorias, operários, negros, mulheres.
20
“Além” para o estudioso Homi Bhabha significam distância espacial, marca um progresso,
promete o futuro
__
o “além” não é nem um novo horizonte, nem um abandono do passado... O
jargão dos nossos tempos
__
pós-modernidade, pós-colonialidade, pós-feminismo apontam
insistentemente para o além. Walter Benjamin descreve o “além”, estabelecendo uma concepção do
presente como o “tempo do agora”, como verifica Bhabha (BHABHA, 1998, p. 19-23).
21
O crítico pós-colonial Homi Bhabha propõe o local da cultura como o entre-lugar estereotipado de
marginal e estranho, em que se confrontam dois ou mais sistemas culturais que dialogam
agonísticamente.