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propõe uma teoria da mente que coloque a consciência como algo a mais, que acrescenta
novidade ao mundo, uma vez que o mundo físico seria possível na ausência da consciência.
A crítica de Chalmers (1996) se endereça ao materialismo e ao funcionalismo
reducionistas, que estão preocupados com os fundamentos físicos da consciência, mas não
dariam conta da consciência fenomênica, de primeira pessoa. Assim, ele se alicerça no
conceito de
superveniência
, que, como vimos anteriormente, estabelece “a relação entre dois
conjuntos de propriedades: o conjunto B – intuitivamente, de propriedades de alto nível – e
o conjunto A, que são as propriedades mais básicas” (1996, pág. 33, trad. nossa)
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. B seria
superveniente a A, se esta produz aquele. Assim, se as propriedades A variarem, as
propriedades B também variarão.
Como nos explica Teixeira (1997), a determinação de propriedades supervenientes pode
ser da ordem do lógico ou do natural. Na superveniência lógica, só poderíamos conceber A, com
a presença de B, isto é, a propriedade B seria uma conseqüência lógica de A. Já na
superveniência natural, a propriedade A poderia existir sem B, embora haja conexão natural ou
causal entre um e outro. A superveniência suposta por Chalmers seria, portanto, natural.
Chalmers (1996) tenta mostrar que se a consciência é um plus, algo para além do físico,
ela tem um estatuto ontológico próprio. A fim de ilustrar melhor seu argumento e torná-lo mais
consistente, ele utiliza o argumento dos “zombies”, que se refere a seres que teriam as mesmas
funções e comportamentos que nós, porém sem a consciência fenomênica.
Nigel (1996) explica o conceito de zombie da seguinte forma:
Eles têm a mesma capacidade de processamento de informações que os
humanos, e por causa disso, têm uma capacidade similar de formar
representações cognitivas e talvez mesmo de entrar nos estados
intencionais, mas eles não têm consciência porque eles não têm
sensações, ou qualia. Um zombie pode nos dizer que a rosa é vermelha, e
estremecer, retirando rapidamente sua mão quando em contato com uma
fornalha quente, contudo, diferentemente de nós, ele nunca teria
experimentado a quintessência da vermelhidão, o “sentimento bruto” do
vermelho, o horror e a miséria da dor da queimadura.( tradução nossa
,1998, p. 171)
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In general, supervenience is a relation between two sets of properties: B-properties—intuitively, the high-level
properties—and A-properties, which are the more basic low-level properties. (Chalmers, 1996, pág,33)
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They have the same information processing capacities that we humans have, and, because of this, a similar capacity
to form cognitive representations and perhaps even to enter into intentional states, but they are not conscious because
they do not have sensations, or qualia as the jargon has it. A zombie can tell you that the rose before it is red, and it
will wince and hastily withdraw its hand if it touches a hot stove; however, unlike us, it never experiences the
quintessential redness, the 'raw feel' of red, or the awfulness and misery of burning pain.