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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TOCANTINS
CAMPUS UNIVERSITÁRIO DE PALMAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE
CURSO DE MESTRADO EM CIÊNCIAS DO AMBIENTE
PAISAGEM E EFEITOS DO TURISMO: uma abordagem perceptiva
com os moradores do Distrito Taquaruçu, Palmas (TO)
VANESA RIOS MILAGRES
Palmas (TO)
2009
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VANESA RIOS MILAGRES
PAISAGEM E EFEITOS DO TURISMO: uma abordagem perceptiva
com os moradores do Distrito Taquaruçu, Palmas (TO)
Dissertação de Mestrado apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em Ciências do
Ambiente da Universidade Federal do Tocantins,
como parte dos requisitos para obtenção do título
de Mestre em Ciências do Ambiente.
Área de Concentração: Estratégias da Sociedade
para Desenvolvimento Sustentável.
Orientador: Prof. Dr. Lucas Barbosa e Souza.
Palmas (TO)
2009
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO, PARA
FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
Ficha Catalográfica
Milagres, Vanesa Rios.
PAISAGEM E EFEITOS DO TURISMO: uma abordagem perceptiva
com os moradores do Distrito Taquaruçu, Palmas (TO)/Vanesa Rios
Milagres; orientador Lucas Barbosa e Souza. Palmas, 2009.
155 f.: fig.
Dissertação (Mestrado Programa de Pós Graduação em Ciências
do Ambiente. Área de Concentração: Estratégias da Sociedade para
Desenvolvimento Sustentável) – Universidade Federal do Tocantins.
1. Percepção Ambiental. 2. Paisagem. 3. Efeitos do Turismo.
I.Título.
PAISAGEM E EFEITOS DO TURISMO:
uma abordagem perceptiva com os moradores do Distrito
Taquaruçu, Palmas (TO)
2009
PAISAGEM E EFEITOS DO TURISMO: uma abordagem perceptiva
com os moradores do Distrito Taquaruçu, Palmas (TO)
VANESA RIOS MILAGRES
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Ciências do Ambiente,
da Universidade Federal do Tocantins, para obtenção do título de Mestre em
Ciências do Ambiente, linha de pesquisa Políticas Públicas para Desenvolvimento
Sustentável.
BANCA EXAMINADORA
Presidente: __________________________________________________________
Prof. Dr. Lucas Barbosa e Souza
1° Examinador:_______________________________________________________
Prof. Dr. José Ramiro Lamadrid Marón
2° Examinador:_______________________________________________________
Prof. Dr. Valdir Aquino Zitzke
Palmas (TO), 30 de março de 2009.
DEDICATÓRIA
À Sérgio Barbosa Gomes, meu esposo, com
amor, admiração e gratidão por sua
compreensão, carinho, presença e incansável
apoio ao longo do período de elaboração
deste trabalho.
AGRADECIMENTOS
A Deus, que clamei rocha minha, que não foi
surdo para comigo, ouviu a minha voz súplice
quando clamei por socorro e ergui as mãos
para o teu santuário, por ser minha força, meu
escudo e nele meu coração descansar.
Às famílias Rios Milagres e Barbosa Gomes,
pelo amor, compreensão e apoio durante o
período de elaboração deste.
Ao Instituto Federal de Educação, Ciência e
Tecnologia Campus Palmas, pela
oportunidade de realização do curso de
mestrado e aos professores da Área de
Hospitalidade e Lazer, pela compreensão e
apoio.
Ao Prof. Dr. Lucas Barbosa e Souza, pela
atenção e apoio durante o processo de
definição e orientação, pois muito me
ensinou, contribuindo para meu crescimento
científico e intelectual.
A Prof. Dra. Elineide Marques pelo apoio para
a conclusão deste.
Aos moradores de Taquaruçu que me
permitiram ouví-los, perguntá-los e observá-
los sobre a sua percepção das paisagens, do
turismo e seus efeitos nelas.
EPÍGRAFE
O Universo
(Paráfrase)
A Lua:
Sou um pequeno mundo;
Movo-me, rolo e danço
Por este céu profundo;
Por sorte Deus me deu
Mover-me sem descanso,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.
A Terra:
Eu sou esse outro mundo;
A lua me acompanha,
Por este céu profundo . . .
Mas é destino meu
Rolar, assim tamanha,
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.
O Sol:
Eu sou esse outro mundo,
Eu sou o sol ardente!
Dou luz ao céu profundo . . .
Porém, sou um pigmeu,
Quer rolo eternamente
Em torno de outro mundo,
Que inda é maior do que eu.
O Homem:
Por que, no céu profundo,
Não há-de parar mais
O vosso movimento?
Astros! qual é o mundo,
Em torno ao qual rodais
Por esse firmamento?
Todos os Astros:
Não chega o teu estudo
Ao centro disso tudo,
Que escapa aos olhos teus!
O centro disso tudo,
Homem vaidoso, é Deus!
Olavo Bilac
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Ilustração 1- Mapa de Localização do Município Palmas e do Distrito Taquaruçu.................... 62
Ilustração 2- Mapa do Vale Sumidouro (AMATUR, 2002).......................................................... 65
Ilustração 3- Triângulo Metodológico de Anne Whyte (1977)..................................................... 71
Ilustração 4- Linha do Tempo, adaptada de Milagres (2007)..................................................... 73
Ilustração 5- Mapa do Município Palmas – Distrito de Taquaruçu (PMP, 2004)......................... 81
Ilustração 6- Abordagens, Variáveis, Instrumento, Tempo e Condução para Pesquisa,
adaptados de Whyte (1977).................................................................................. 81
Ilustração 7- As Três Paisagens de Taquaruçu 'Mais Representativas'..................................... 96
Ilustração 8- As Três Paisagens de Taquaruçu 'Mais Agradáveis'............................................. 101
Ilustração 9- As Três Paisagens de Taquaruçu 'Mais Desagradáveis'....................................... 105
Ilustração 10- Paisagem da Serra do Camo – Abordagem 2: Ouvindo....................................... 111
Ilustração 11- Paisagem do Ribeirão Taquaruçu e Córrego Sumidouro Abordagem 2:
Ouvindo................................................................................................................. 115
Ilustração 12- Paisagem da Praça Joaquim Maracaípe – Abordagem 2: Ouvindo...................... 119
Ilustração 13- Sujeitos, Pontos de Parada, Paisagens e Tempo do Percurso............................. 127
Ilustração 14- Paisagens e Percurso 15IFO2009 – Abordagem 3: Perguntando........................ 131
Ilustração 15- Paisagens e Percurso 4CFB2009 – Abordagem 3: Perguntando......................... 132
Ilustração 16- Paisagens e Percurso 9SDB2009 – Abordagem 3: Perguntando......................... 133
Ilustração 17- Paisagens e Percurso 8DRAL2009 – Abordagem 3: Perguntando....................... 134
Ilustração 18- Paisagens e Percurso 30MCFV2009 – Abordagem 3: Perguntando.................... 135
Ilustração 19- Paisagens e Percurso 19GPG2009 – Abordagem 3: Perguntando...................... 136
LISTA DE TABELAS
Tabela 1- Distribuição por Idade................................................................................................. 88
Tabela 2- Distribuição por Gênero.............................................................................................. 89
Tabela 3- Distribuição por Naturalidade...................................................................................... 90
Tabela 4- Distribuição por Município de Nascença – Tocantins................................................. 90
Tabela 5- Distribuição por Profissão........................................................................................... 91
Tabela 6- Distribuição por Escolaridade..................................................................................... 92
Tabela 7- Distribuição por Tempo de Moradia............................................................................ 92
Tabela 8- Categorização das Respostas da Abordagem 1: Ouvindo Paisagens Mais
Representativas.......................................................................................................... 96
Tabela 9- Categorização das Respostas da Abordagem 1: Ouvindo Paisagens Mais
Agradáveis.................................................................................................................. 100
Tabela 10- Categorização das Respostas da Abordagem 1: Ouvindo Paisagens Mais
Desagradáveis............................................................................................................ 105
Tabela 11- Distribuição da Percepção de Mudanças na 'Paisagem da Serra do Carmo'............. 112
Tabela 12- Distribuição da Percepção de Mudanças Esperadas na 'Paisagem da Serra do
Carmo'......................................................................................................................... 113
Tabela 13- Distribuição da Percepção de Mudanças na 'Paisagem do Ribeirão Taquaruçu e
Córrego Sumidouro'.................................................................................................... 116
Tabela 14- Distribuição da Percepção de Mudanças Esperadas na 'Paisagem do Ribeirão
Taquaruçu e Córrego Sumidouro'............................................................................... 118
Tabela 15- Distribuição da Percepção de Mudanças na 'Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe'................................................................................................................... 121
Tabela 16- Distribuição da Percepção de Mudanças Esperadas na 'Paisagem da Praça
Joaquim Maracaípe'.................................................................................................... 123
Tabela 17- Distribuição por Gênero – Abordagem 3: Observando............................................... 126
Tabela 18- Distribuição por Idade – Abordagem 3: Observando.................................................. 126
Tabela 19- Distribuição das Paisagens Apresentadas Abordagem 3: Observando.................. 128
RESUMO
MILAGRES, Vanesa Rios. Paisagem e Efeitos do Turismo: uma abordagem
perceptiva com os moradores do Distrito Taquaruçu, Palmas (TO). 2009. 165 f.
Dissertação de Mestrado, Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 2009.
Neste trabalho analisamos o desenvolvimento da atividade turística no distrito
Taquaruçu, Palmas (TO), através da percepção dos seus moradores sobre a
paisagem local, sobre o próprio turismo e sobre seus efeitos ambientais,
socioculturais e econômicos na mesma, tendo como objetivos a contextualização do
cenário que se apresenta no distrito; o conhecimento da percepção ambiental da
comunidade sobre a paisagem que é utilizada para fins turísticos; a verificação do
grau de envolvimento e satisfação da comunidade local com o turismo e com os
seus efeitos; e a contribuição para uma avaliação do planejamento e
desenvolvimento da atividade turística no distrito, observando-se os aspectos
perceptivos de sua comunidade. Através do aporte teórico da percepção ambiental
foram definidas técnicas de pesquisa em campo, baseadas num triângulo
metodológico, que apresenta as seguintes formas de abordagem: ouvindo,
perguntando e observando. Para cada forma de abordagem foram especificadas as
variáveis e o instrumento adequado para a pesquisa. Os sujeitos foram ouvidos,
perguntados e observados segundo a sua identidade, o seu sistema de valores, a
sua percepção sensorial e a sua escolha e comportamento diante das paisagens de
Taquaruçu. Os resultados revelaram que: para os sujeitos abordados as paisagens
indicadas como 'mais representativas' de Taquaruçu também foram indicadas como
'mais agradáveis' e 'mais desagradáveis', demonstrando que uma mesma paisagem
pode despertar percepções diferentes segundo os filtros de cada um; que a maioria
dos sujeitos percebe modificações, alterações ou transformações produzidas pelo
turismo na paisagem e que essas modificações, alterações ou transformações não
foram as esperadas por eles, demonstrando a fragilidade do desenvolvimento
turístico do distrito; que a ação prática dos sujeitos diante das paisagens estão
relacionadas com a experiência passada, ou seja, da memória e das lembranças
que possuem de como eram essas paisagens e como poderiam estar hoje. Esses
resultados despertaram para a importância e relevância deste tipo de pesquisa para
o planejamento e o desenvolvimento do turismo local.
Palavras-chave: Percepção Ambiental, Paisagem, Efeitos do Turismo.
ABSTRACT
MILAGRES, Vanesa Rios. Landscape and Effects of Tourism: a perceptive
approach to the residents of the District Taquaruçu, Palmas (TO). 2009. 165 f.
Masters of Dissertation, Universidade Federal do Tocantins, Palmas, 2009.
In this research we have examined the development of tourism in the district of
Taquaruçu, Palmas (TO), through the perception of its residents on local landscape,
on the tourism and its effects on environmental, sociocultural and economic in it,
having as objectives the contextualization of the scenario that is presented in the
district, the knowledge of environmental perception of community on the landscape
that is used for tourist purposes, to check the degree of involvement and satisfaction
with the local community tourism and their impact, and contribution to an assessment
of planning and development of tourism in the district, with the perceptual aspects of
their community. Through the theoretical contribution of environmental perception
was defined technical research in the field, based methodological a triangle, having
the following types of approach: listening, asking and observing. For each type of
approach were specified variables and appropriated tool for research. The subjects
were heard, questioned and observed according to their identity, their value system,
its sensory perception and its choice and behavior before the landscapes of
Taquaruçu. The results showed that: for the subjects covered landscapes listed as
'most representative' of Taquaruçu were also listed as 'most enjoyable' and 'more
unpleasant', demonstrating that the same landscape can awaken perceptions
according to different filters each; that most subjects perceived modifications,
amendments or changes caused by tourism in landscape and that such
modifications, alterations or changes were not the expected by them, demonstrating
the fragility of the tourism development district, the action of the subjects before
practice of landscapes are related to past experience, i.e., memory and memories
that as they have for these landscapes and how they might be today. These results
awoke to the importance and relevance of such research for planning and
development of local tourism.
Keywords: Environmental perception, Landscape, Effects of Tourism.
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 14
2. ESPAÇO E PAISAGEM ................................................................................................... 17
3. PAISAGEM PERCEBIDA E ABORDAGEM CULTURAL ............................................... 25
4. PERCEPÇÃO DA PAISAGEM ......................................................................................... 39
5. PAISAGEM E TURISMO .................................................................................................. 44
6. EFEITOS DO TURISMO NA PAISAGEM ........................................................................ 50
6.1.Efeitos Socioculturais ............................................................................................. 52
6.2.Efeitos Ambientais .................................................................................................. 56
6.3.Efeitos Econômicos ................................................................................................ 58
7. PANORAMA GERAL DE TAQUARUÇU ........................................................................ 62
8. ABORDAGEM PERCEPTIVA DA PAISAGEM E DO TURISMO EM TAQUARUÇU ..... 70
9. OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA ....................................................................... 79
9.1.Abordagem 1: Ouvindo ........................................................................................... 83
9.2.Abordagem 2: Perguntando ................................................................................... 84
9.3.Abordagem 3: Observando ..................................................................................... 86
10. PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL EM TAQUARUÇU ...................................... 88
10.1.Caracterização dos Sujeitos ................................................................................. 88
10.2.Da Paisagem .......................................................................................................... 93
10.3.Dos Efeitos do Turismo ........................................................................................ 109
10.4.Do Grau de Envolvimento e Satisfação com o Turismo .................................... 124
11. CONCLUSÕES ............................................................................................................... 137
12. REFERÊNCIAS .............................................................................................................. 144
ANEXO A – Instrumento da Abordagem 1: Ouvindo ........................................................ 149
ANEXO B – Instrumento da Abordagem 2: Perguntando ................................................ 150
ANEXO C – Instrumento da Abordagem 3: Observando ................................................. 154
14
1. INTRODUÇÃO
“Nada e ninguém existem neste mundo cujo próprio ser não pressuponha
um espectador. Em outras palavras, nada do que é, à medida que aparece,
existe no singular; tudo o que é, é próprio para ser percebido por alguém”
(Hanna Arendt).
O presente trabalho foi elaborado com a finalidade de destacar a importância do
envolvimento das comunidades locais no processo de planejamento e
desenvolvimento turístico de suas regiões, que através da participação efetiva, a
comunidade recebe maiores benefícios do turismo.
Para alcançarmos essa finalidade, analisamos o desenvolvimento da atividade
turística em um destino através da percepção de seus moradores sobre a paisagem
local, sobre o próprio turismo e sobre seus efeitos ambientais, socioculturais e
econômicos na mesma, perpassando por um conjunto complexo de percepções,
reações e respostas diferentes para cada indivíduo.
Se tudo que existe é próprio para ser percebido por alguém, escolhemos a categoria
de análise paisagem para levantarmos a percepção da comunidade sobre o turismo
e sobre os efeitos deste na mesma.
A paisagem é o aspecto visível e concreto do espaço geográfico, ou seja, o espaço
humano em perspectiva. Nela coexistem os elementos naturais e os culturais
produzidos pelo homem, que a conserva ou transforma, mas que ele tem a
capacidade de percebê-la em todos os seus tempos pregressos.
A paisagem percebida envolve o sentir, pensar e agir do homem sobre o ambiente
natural coexistindo com o ambiente cultural criado por ele, transformando,
integrando e interagindo todos os elementos através dos tempos de sua existência.
A percepção da paisagem pelo homem se através de estímulos externos
(captados pelos órgãos dos sentidos) e de processos internos que adquirem,
selecionam, organizam e interpretam as informações recebidas.
O homem, por sua capacidade de perceber o que está ao seu redor é um ser
15
transcendental. Ou seja, a percepção é um processo seletivo e intencional e nesse
sentido, a paisagem pode ser transformada em objeto de consumo pelo e para o
homem.
O turismo, como uma atividade eminentemente social e produto das ações e
desejos do homens, transforma as paisagens em produtos que são mercantilizados
e que envolvem diversos elementos essenciais à sua existência, como os recursos
naturais e culturais, os equipamentos e serviços e a infra-estrutura de apoio.
Esse conjunto de atividades do turismo são produzidos e consumidos in locu de
forma simultânea, desencadeando uma série de efeitos tanto positivos quanto
negativos no local onde ele acontece, transformando suas paisagens.
Os efeitos o turismo envolvem os aspectos ambientais, socioculturais e econômicos
que incidem de forma direta e indireta no cotidiano das pessoas e das paisagens
que são construídas e vivenciadas por eles.
É um agente transformador da sociedade e das paisagens com relação ao uso dos
recursos naturais, culturais e financeiros, à interação entre a comunidade local e os
turistas e ao compartilhamento da infra-estrutura e dos equipamentos e serviços.
Sobre os efeitos do turismo na paisagem, podemos ouvir, perguntar e observar
através de estudos perceptivos, as pessoas que vivenciam cotidianamente em um
lugar onde essas transformações acontecem e analisar as relações existentes entre
elas.
A abordagem perceptiva é um importante instrumento para levantarmos essas
informações e compreendermos o processo pelo qual cada sujeito manifesta
subjetivamente sua experiência com a paisagem e com os efeitos do turismo nelas.
Por apresentar um rico e diverso conjunto paisagístico com potencial para o
desenvolvimento da atividade turística, Taquaruçu, um pequeno distrito do município
Palmas(TO), foi escolhido como área de estudo para aplicação dessas técnicas.
Objetivamente pretendeu-se caracterizar o turismo em Taquaruçu, contextualizando
o cenário que se apresenta nessa localidade, com relação ao desenvolvimento da
atividade turística no período de 2002 (marco da implantação do Pólo Ecoturístico
16
de Taquaruçu) a 2009.
Tencionou-se conhecer a percepção da comunidade sobre a paisagem de
Taquaruçu e sobre os efeitos ambientais, socioculturais e econômicos do turismo
nela, verificando-se o grau de envolvimento e satisfação da comunidade local com a
atividade turística e com os efeitos que vem causando na paisagem local.
Almejamos com isso contribuir para uma avaliação do planejamento e
desenvolvimento da atividade turística em Taquaruçu, observando-se os aspectos
perceptivos de sua comunidade e destacando a relevância e aplicabilidade de
estudos apoiados em técnicas de percepção ambiental para fins de planejamento
turístico.
17
2. ESPAÇO E PAISAGEM
As paisagens são como fotografias que refletem as combinações entre
processos naturais e sociais em um espaço geográfico, no decorrer do
tempo histórico” (Cláudio Antônio G. Egler).
Segundo a abertura da Declaração de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano,
resultado da reunião realizada pela Organização das Nações Unidas (ONU), na
capital sueca, em junho de 1972, o homem é ao mesmo tempo criatura e criador do
meio ambiente que lhe sustento físico e que lhe oferece a oportunidade de
desenvolver-se intelectual, moral, social e espiritualmente. A longa e difícil evolução
da raça humana no planeta levou-a a um estágio em que, com o rápido progresso
da ciência e da tecnologia, conquistou o poder de transformar de inúmeras maneiras
e em escalas sem precedentes o meio ambiente.
Estivemos e estamos rodeados o tempo todo pelo que Bley (2006) define como
objetos que não foram feitos por nós e que possuem vida e estrutura diferentes da
nossa, acrescentando também os objetos que são, então, criação do homem no
decorrer do tempo.
Isto quer dizer que mesmo apesar de a presença da humanidade na Terra
representar um acontecimento muito recente em comparação à história do nosso
planeta, as modificações que ela imprimiu e continua a imprimir nele são enormes e
atingem praticamente todo o planeta.
Os primeiros grupos humanos, eram providos de ferramentas mais simples, tinham
uma relação mais harmoniosa com o meio ambiente, se compararmos essa relação
com a relação atual, pois os impactos se iniciaram logo com os primeiros humanos,
que passaram a dominar o fogo e a se sedentarizar. Em sua luta pela sobrevivência,
a humanidade produziu e aperfeiçoou instrumentos, aumentando o seu poder sobre
a natureza e, conseqüentemente, o de produção e transformação do espaço.
Sendo assim, o espaço, segundo Santos (1997), está no centro das preocupações
dos mais variados profissionais, pois esses acontecimentos e modificações no
18
planeta aconteceram e acontecem no que pode ser compreendido por meio de
quatro categorias de análise: processo, estrutura, função e forma; elementos que
compõem o próprio espaço.
Entretanto, esses elementos ou categorias de análise, estão em constante processo
de mudança no decorrer do tempo, “sua evolução é qualitativa e quantitativamente
diferente para cada uma delas e também para cada um de seus componentes”
(SANTOS, 1992, p. 58).
Acontecimentos diversos na história da humanidade ocasionaram essas mudanças
e foram importantes para o aumento do domínio do homem sobre a natureza, como
o desenvolvimento da agricultura, do pastoreio, da navegação, do comércio, da
ciência e da indústria e não podemos deixar de citar, o crescimento populacional. O
século XX trouxe grandes possibilidades para os seres humanos, colocando à sua
disposição meios técnico-científicos e permitindo intervenções na natureza em vel
planetário.
Analisando o espaço, segundo as categorias de Santos (1997), torna-se possível
compreender a constituição e as mudanças empreendidas sobre o espaço, por meio
da ação do homem. Todavia, precisamos aprofundar um pouco mais nosso
entendimento sobre o que são essas categorias. O aspecto visível que é percebido,
a forma, é um conjunto de objetos relativamente duráveis, fruto da materialização de
circunstâncias existentes num dado momento histórico, congelada no tempo, como
uma fotografia. Entretanto, as formas vão se sobrepondo no espaço, criando
diferentes paisagens em diferentes tempos materializados que convivem no
presente. É nesse ponto de vista mais amplo que Santos (1997) destaca o conjunto
das formas como aparentemente ‘congelado’, pois em sua essência são dinâmicas.
Esses aspectos visíveis do espaço geográfico, que metaforicamente chamamos de
‘fotografia’, tornam-se extremamente relevantes quando a sociedade lhes confere
um valor social. No espaço, se um objeto construído chegou a se concretizar, é
porque é relevante para um determinado grupo social, senão sequer existiria.
os objetos da natureza, ou seja, que não foram feitos por nós, são dados pré-
existentes e a forma ou a paisagem composta por eles também são modificados em
graus variados (SANTOS, 1992).
19
Ora, se a forma em sua essência é dinâmica, ela possui uma função no espaço em
que ele que se encontra, e essa função nos sugere uma tarefa ou atividade
esperada dessa forma, como resposta às necessidades da sociedade. Se a
sociedade estabelece os valores de diferentes objetos, esses variam segundo a
estrutura dessa mesma sociedade e as formas podem envelhecer segundo
inadequação física ou social. Esse envelhecimento físico da forma, segundo Santos
(1997), seria previsível pela durabilidade dos materiais uma vez que o
envelhecimento moral não seria tão previsível, mudaria “de acordo com o quadro
político, econômico, social e cultural” (SANTOS, 1997, p. 70).
O espaço constitui uma realidade objetiva, um produto social em permanente
processo de transformação e que impõe sua própria realidade, por isso a sociedade
não pode operar fora dele. Sempre que a sociedade (a totalidade social) sofre uma
mudança, as formas assumem novas funções, ou seja, com a mudança que é o
desenrolar do tempo histórico haverá novas configurações sociais, econômicas e
culturais que levarão à construção de novas formas e a uma readequação das
funções existentes para as formas antigas e atuais.
O processo desse movimento das formas e funções é considerado como ação
contínua que implica conceitos de tempo histórico, ou seja, da continuidade, e de
mudança, justificando a criação de novos e o uso de velhos objetos (SANTOS,
1992). Todas as partes de um todo, evocam componentes sociais, econômicos,
culturais e ambientais que retratam uma época e a inter-relação entre elas e eles se
organizam num arcabouço, ou no que chamamos de estrutura.
A produção desse movimento, aparentemente congelado do espaço se impõe,
invariavelmente, com certo ritmo e os períodos históricos transformam essa
organização espacial (SANTOS, 1992), em consonância com as mudanças na
estrutura:
[...] Ao passarmos numa grande avenida, de dia ou à noite, contemplamos
paisagens diferentes, graças ao seu movimento funcional. A rua, a praça, o
logradouro funcionam de modo diferente segundo as horas do dia, os dias
da semana, as épocas do ano. Quando se constroem prédios de quarenta,
em lugar de vinte ou trinta e dois andares, é via de regra, sinal de que
outros também poderão ser construídos, de que temos atividades e gente
20
para enchê-los, e justificar a sua construção. [...] Alteração de velhas formas
para adequação às novas funções são também uma mudança estrutural
(SANTOS, 1997, p. 69-70).
Tendo então, como base, os estudos de Santos, fica claro que para
compreendermos as ações do homem no meio ambiente e as conseqüências
dessas ações, precisamos antes abarcar as categorias de análise do espaço, que
desenvolvemos acima: forma, função, processo e estrutura, como um conjunto de
elementos que nos permitiria entender “a história dos processos produtivos impostos
ao espaço pela sociedade” (SANTOS, 1992, p. 49) e os efeitos construídos pela
mesma.
Porém, dependendo da relação que o homem estabelece com a natureza e também
das relações sociais sobretudo relações de ordem material surgem
circunstâncias diferentes que implicarão em transformações de ordem espacial e
que podem ser traduzidas em diferentes tipos de paisagens.
Sendo assim, o espaço seria então a paisagem acrescida da sociedade que a anima
e que lhe ocasiona transformações, à medida que as relações sociais se modificam
e é por meio dos objetos da paisagem que a sociedade se materializa se torna
concreta. “Tanto a paisagem quanto o espaço resultam de movimentos superficiais e
de fundo da sociedade, uma realidade de funcionamento unitário, um mosaico de
relações, de formas, funções e sentidos” (SANTOS, 1997, p. 61).
Logo, paisagem e espaço, para Santos, não são sinônimos, “a paisagem é o
conjunto de formas que, num dado momento, experimenta as heranças que
representam as sucessivas relações localizadas entre homem e natureza”
(SANTOS, 2004, p. 103), ela se como um conjunto de objetos real-concretos, e
nesse sentido vai além do tempo, juntando objetos passados e presentes numa
construção transversal. Portanto, podemos dizer que a paisagem é o resultado
cumulativo dos processos e das estruturas sociais decorrentes no âmbito da
sociedade.
É essa relação que queremos esclarecer, pois a dimensão da paisagem é a
dimensão da percepção, do que chega aos sentidos. Devemos nos perguntar “como
o espaço está estruturado, como os homens organizam sua sociedade no espaço e
como a concepção e o uso que o homem faz do espaço sofrem mudanças [?]”
21
(SANTOS, 1992, p. 53).
Assim, torna-se possível compreendermos a organização da paisagem que é
formada pelos fatos do passado e do presente, através de uma acurada
interpretação do processo dialético entre estruturas, funções e formas através do
tempo.
A sociedade sempre se movimenta, mas a mudança ocorre em diferentes níveis e
em diferentes tempos: na economia, na política, nas relações sociais, na própria
paisagem e na cultura, que mudam constantemente, cada qual segundo uma
velocidade e direção próprias sempre, porém, insensíveis, inflexíveis e
implacavelmente vinculadas às outras (SANTOS, 1992, p. 53).
No espaço, a forma é governada pelo presente, mas seu passado continua a ser
parte integrante, podendo abranger ou não mais de uma função. É o resultado de
processos passados ocorridos na estrutura subjacente. Ao refletirmos os diferentes
tipos de estrutura, encontraremos as diferentes formas reveladas naturais
modificadas e puramente artificiais, sujeitas à evolução. Ela é primariamente um
resultado e também um fator social (SANTOS, 1992, p. 51-55).
O espaço, assim como a paisagem, é uma categoria fundamental do conhecimento
geográfico, sendo o espaço mais geral que a categoria paisagem, no entanto a
paisagem não é o espaço, ela está contida no mesmo (SANTOS, 1997).
Como isso acontece: “a paisagem consiste em camadas de forma provenientes de
seus tempos pregressos, embora estes apareçam integrados ao sistema social
presente, pelas funções e valores que podem ter sofrido mudanças drásticas”
(SANTOS, 1992, p. 55). A paisagem representaria segundo Santos (2004), uma
história congelada, a materialização de um instante da sociedade, mas ele também
afirma que ainda sim, ela faz parte da história viva da sociedade.
Desse modo, a paisagem “existe através de suas formas, criadas em momentos
históricos, porém coexistindo no momento atual [...]. Numa perspectiva lógica, a
paisagem é o espaço humano em perspectiva” (SANTOS, 2004, p. 104-106),
representado num plano tal qual se apresenta à vista e cujo único elemento de
unidade é o homem que a percebe. Com base nisso precisamos distinguir a
22
paisagem que é percebida do espaço significativo de um fenômeno, ou seja, a
expressão de um fato.
É importante destacarmos que a paisagem percebida expressa um fato que traz
consigo um emaranhado de tempos pregressos e que estudar essa categoria
considerada como elemento geográfico requer atenção à compreensão e apreensão
do todo, deixando claro o seu caráter interdisciplinar. Em sua configuração, os
componentes nem são estáticos nem limitados em seu crescimento, “o fator primário
de qualquer situação pode ser revelado após um exame cuidadoso da totalidade”
(SANTOS, 1992).
Podemos entender totalidade como o conjunto das partes que constituem um todo,
elementos fundamental para o conhecimento e análise da realidade. Mas o mais
interessante é que as partes não são suficientes para explicar o todo, e sim um todo,
pois estão relacionadas com sua realidade. Para Santos (2004), o processo de
totalização é reconhecer o movimento conjunto do todo e das partes.
[...] Se estivermos viajando de avião, a uma altitude não muito elevada,
teremos uma ampla visão da porção do espaço geográfico que estamos
sobrevoando. Em uma região muito transformada pelo homem, poderemos
perceber, entre outras coisas, campos cultivados, pastagens, cidades
grandes, médias ou pequenas, ligadas por uma rede de rodovias e
ferrovias. Todas essas realizações humanas ocupam as mais variadas
formas de relevo, cortadas por rios e lagos. Se viajarmos por meios de
transporte rodoviários ou ferroviários, teremos uma visão mais próxima,
porém mais restrita, desses mesmos elementos. A essa representação do
espaço geográfico que podemos ver ou perceber chamamos paisagem
(ALMEIDA, 2005, p. X).
A representação do que percebemos das relações que ocorrem no espaço
geográfico está sempre em transformação, o aspecto visível dessa transformação se
apresenta a nós como paisagens, extremamente relacionadas com a questão da
temporalidade. Por esse motivo, “a noção de tempo é fundamental para o estudo e a
análise das paisagens que encontramos” (ALMEIDA, 2005).
Observada ocasionalmente durante uma viagem, a paisagem pode nos parecer um
simples amontoado de elementos geográficos desordenados, mas é naquele
determinado lugar, o resultado da combinação dinâmica portanto, em movimento
de elementos físicos, biológicos e humanos que, reagindo uns sobre os outros,
fazem da paisagem um conjunto único e inseparável, em perpétua evolução. Se a
23
representação é interdisciplinar, a paisagem fruto dela, também o é.
Para Egler (2002), a observação da paisagem é resultado de uma complexa
composição de elementos naturais e sociais em constante relação uns com os
outros e, quando atenta, pode ajudar a compreender melhor o mundo. Observá-la e
interpretá-la é o ponto de partida para desvendar os segredos das relações entre
sociedade e natureza.
Contendo elementos naturais e artificiais, ela nos permite um exercício constante de
percepção do ambiente, seja de forma presencial ou por meio de imagens e
informações que recebemos a respeito dos lugares. De um modo simples, a
paisagem é a ação (sufixo agem) sobre uma localidade (prefixo pais) e essa ação
seria a ação humana” (NUCCI, 2007). Ela contém uma característica fundamental
que a torna ponto de partida para a interpretação do meio: a paisagem é acessível
aos órgãos dos sentidos dos seres humanos.
Necessário se faz conhecer e reconhecer a paisagem como indicadora de conteúdo
vivo e de processos que são dinâmicos, em constante transformação. Para Egler
(2002), olhar e pensar sobre o que está presente em cada rua de sua cidade, em
cada campo plantado, em cada montanha ou floresta podem ajudar a compreender
como natureza e sociedade combinam-se para moldar as diferentes formas que
existem na superfície da Terra.
Sua interpretação é a procura da explicação de como as formas que observamos
são o resultado visível da combinação dos processos físicos, biológicos e humanos.
Uma vez tomada por intermédio de uma visão científica, a paisagem ganha uma
abordagem com características próprias de um método de pesquisa” (EGLER,
2002), pois nela encontram-se registradas a história dos indivíduos e dos grupos, a
cultura, as diferentes formas de produção, além das características naturais que lhe
são peculiares.
afirmamos acima, com base em Santos, que a dimensão da paisagem é a
dimensão da percepção, é a extensão do que chega aos sentidos, sendo um
processo de apreensão inquietante de tomar o que muitas vezes não é permitido
possuir. Mas ela não é ainda o conhecimento, depende da interpretação que se faz
24
da mesma, e esta “será tanto mais válida quanto mais limitarmos o risco de tomar
por verdadeiro o que é só aparência” (SANTOS, 1997).
Pode ser descrita como uma fotografia de elementos naturais, artificiais, técnicos e
tecnológicos registrados num dado momento do tempo, da história e da vida de cada
ser humano, fadada a ser vista e abarcada pelo olhar de outros em tempos e
espaços diferentes daqueles que a originou.
No entanto, a paisagem capturada numa fotografia não corresponde à paisagem
capturada pelo olhar do homem, em seu cotidiano. “A paisagem é um conjunto de
formas heterogêneas, de idades diferentes, pedaços de tempos históricos
representativos das diversas maneiras de produzir as coisas, de construir o espaço”
(SANTOS, 1997). Desvendar essa dinâmica social é fundamental, pois ela nos
retorna todo um conjunto histórico de técnicas, cuja era revela; mas ela não mostra
todos os dados, que nem sempre são visíveis.
É preciso que a paisagem seja conhecida, reconhecida, compreendida, analisada,
interpretada e justificada numa perspectiva de conjunto, pois seus usos e
modificações causam efeitos nos processos, nas estruturas, nas formas e nas
funções que compõem o espaço no qual a sociedade co-habita. Nesse sentido, sua
análise pode ser também uma importante ferramenta de auxílio nos processos de
planejamento e de desenvolvimento de atividades econômicas, sociais e culturais,
como o turismo.
25
3. PAISAGEM PERCEBIDA E ABORDAGEM CULTURAL
“Qualquer um que imagine uma árvore para si deve também imaginar um
céu ou um fundo diante do qual colocá-la” (Edward C. Relph).
A paisagem é um fenômeno que está além das fronteiras da disciplina geográfica,
assumindo seu caráter interdisciplinar, no entanto foram os geógrafos quem mais a
estudaram (HOLZER, 1999). Ela surgiu como possibilidade de representação sob
variadas formas: artística, memoriais descritivos religiosos, ilustrações cartográficas,
cruzadas, registros pictóricos e narrativos, relatos de viajantes, científica naturalista
e cultural (GOMES, 2001).
Sua abordagem surgiu da necessidade de se estudar as relações entre a sociedade
e a natureza, o homem e o ambiente, funcionando então como importante exercício
de reflexão dessas relações. O uso de categorias de outras ciências evidencia o seu
caráter interdisciplinar.
Ao longo da história da espécie humana, convivemos com todo o planeta e
habitamos praticamente todos os seus cenários naturais e, a partir de certo
momento, começamos a transformar os objetos e os cenários do meio ambiente
para adaptá-los às nossas necessidades. Mas ‘nós’ não interagimos ‘naturalmente’
com a natureza, ‘nós’ desenvolvemos uma maneira de sentir e de pensar que é
reflexa e é também reflexiva ao mesmo tempo.
Tratar dos padrões de comportamento, das crenças, das instituições, das
manifestações artísticas e intelectuais, transmitidos coletivamente e típicos de uma
sociedade através de paisagens percebidas, é uma forma de refletir sobre os pontos
de vista da natureza e da sociedade enquanto sua dependente e sobre a
compreensão da natureza como projeção cultural (GOMES, 2001).
Ao abordarmos culturalmente a paisagem percebida, o fazemos numa tentativa de
compreender que o socializar a natureza envolve o nosso sentir, pensar e agir sobre
o mundo natural, de modo a transformá-lo para fazê-lo integrar-se no e interagir com
26
um dos muitos mundos de cultura construídos pela sociedade. “A paisagem reflete o
equilíbrio ecológico ou atesta seu desequilíbrio, [...] ela pode representar um fator de
estímulo à conservação do entorno ou a um alerta contra a sua degradação”
(EMÍDIO, 2006, p. 21).
A cultura já modificou muito as formas naturais, porém a natureza continua a exercer
certas influências, mesmo nas paisagens alteradas pelo homem. Natureza, cultura e
paisagem são representações do mundo e das relações dos homens entre si e com
a natureza. Através dessas relações os homens ‘desenham’ paisagens segundo o
seu modo de ver e de sentir o mundo, segundo suas interpretações e
representações, através de símbolos, palavras ou imagens.
Nossa atenção concentra-se na paisagem, que chegou a significar um panorama
visto de um determinado ponto, depois a representação desse panorama, pano de
fundo de retratos oficiais (TUAN, 1980) e hoje, a partir de um ponto disciplinar nos
permite abordagens interdisciplinares.
Desde a sensibilidade artística aos diferentes interesses econômicos e políticos de
classes dominantes, da sabedoria do homem comum e da busca da precisão
científica, um longo arco de possibilidades enriqueceu e enriquece a trama de
representação dessas relações entre natureza e cultura (GOMES, 2001), entre a
paisagem natural e a paisagem construída.
Historicamente, a evolução do termo/significado da paisagem foi alterada de modos
sucessivos: no ocidente medieval ela não existia como representação; a partir do
século XVI emerge das novas técnicas de pintura e se expande para a literatura; no
século XVII a aparição da janela no interior do quadro, permitindo que a
perspectiva isolasse o exterior; no século XVIII o impressionismo amplia este quadro
e a subjetividade ganha maior representação sendo, portanto, sinônimo de pintura
até o século XIX; a partir do século XIX sua concepção recebe “influências do
racionalismo positivista, de um lado, e do idealismo e do romantismo, de outro”
(LUCHIARI, 2001, p. 15) gerando conflitos entre objetividade e subjetividade.
O processo de produção da paisagem apresenta períodos claros de transformação e
o resgate de suas representações pelo homem é importante para compreendermos
27
melhor como essa categoria interdisciplinar sempre esteve presente no cotidiano do
homem e das suas relações. Com base em Emídio (2006), Camargo (2005) e Leite
(1992), apresentamos um quadro referencial desses períodos e suas
representações da paisagem:
Antiguidade: As civilizações do mundo antigo firmaram, com o ambiente, laços
de adaptação e sobrevivência, em uma área claramente definida, onde se
desenvolvia a vida das pessoas, um conjunto fechado para o mundo exterior de
certa forma. No entanto, na civilização grega antiga, as paisagens apresentavam
qualidades estéticas e visuais onde os sentidos eram estimulados a assimilar o
máximo de qualidades visuais, sonoras e olfativas.
Idade Média: A paisagem tinha como característica comum o espaço fechado,
íntimo, emparedado, fortemente defendido contra o mundo exterior. A relação
homem-natureza passa a ser mais contemplativa e meditativa, distanciando o
homem da natureza, sendo esta lembrada nos pequenos jardins dos claustros.
Renascimento: A paisagem era uma composição simples, harmoniosa e com
unidade, resgatando as paisagens romanas e gregas com suas alamedas
margeadas de ciprestes e espelhos d’água, cujo conjunto demonstrava o
entendimento dos fatos físicos e intelectuais, resultando numa inspirada
combinação de conceito de lugar. Mas uma divisão bem definida entre a
paisagem ao redor do palácio e a paisagem a ser contemplada de um terraço.
Barroco: A paisagem era visualmente limitada pela floresta circundante, voltava-
se para o fantástico e teatral, como se fosse concebida para que as pessoas
fossem os atores de um drama. O mundo é ordenado segundo um cenário
panorâmico e profundo que manifesta o poder humano e a realeza.
Neoclassicismo: A paisagem era baseada nos padrões clássicos da antigüidade
greco-romana: equilíbrio, clareza e proporção eram seus elementos essenciais,
pois a natureza era apresentada ao olhar de forma regular, simétrica e dominada
pelo homem.
Romantismo: A paisagem passa a ser compreendida segundo a idéia de que a
beleza também estava nas paisagens selvagens, era um desejo excessivo de se
28
afastar do formalismo racional imposto no período neoclássico.
Século XIX: A paisagem passa a ser compreendida como uma criação de suma
importância para a vida das pessoas, e a natureza a ser considerada como
modelo ideal, marcando o período humanista. Representa também a nova ordem
social que se instaura, a divisão do trabalho e o sistema de produção.
Século XX: A paisagem passa a ser descoberta através da relação entre o
indivíduo e o ambiente, o enfoque é funcional, empático e artístico, a organização
social e a vida cotidiana estavam ultrapassadas, sendo necessário deixá-las de
lado e criar uma nova cultura.
Século XXI: Ainda em curso, podemos dizer que até o momento, a paisagem é
tratada com distinção no aspecto natural, sugerindo um desenho que respeite,
relacione e valorize as condições ambientais e as interferências do homem.
Na verdade, a paisagem está presente aos nossos olhos e sentidos desde que
começamos a ver o mundo nas suas cores e formas, desde que começamos a
percebê-lo pelos cheiros e volumes, desde que começamos a senti-lo como parte de
nossas vidas. Seja de forma objetiva e prática, ou de forma pessoal e subjetiva, a
paisagem se faz presente diante daqueles que param para observá-la. No primeiro
caso, busca-se conhecer o que é factual, concreto e útil na paisagem, enquanto no
segundo deseja-se tomar a essência, o sentido e a idéia da mesma.
Ainda no início do século XX, conforme Melo (2001), a paisagem foi um dos
primeiros temas a serem abordados numa perspectiva cultural pelos geógrafos
alemães, sendo posteriormente incorporado pela geografia cultural. Nos anos 1920,
Carl Ortein Sauer, da Escola de Berkeley, privilegiou a análise morfológica da
paisagem considerando apenas os aspectos materiais da cultura, o que perdurou
até a década de 1940. “O olhar que veria a paisagem como representação simbólica
da sociedade ainda não havia sido constituído” (LUCHIARI, 2001, p. 16).
Nas décadas de 1950 e 1960, o sistema de interpretação das paisagens foi alterado,
deixando de levar em consideração apenas elementos locais e regionais. Passou a
considerar uma série de signos que remetem a fluxos em conexão com o mundo,
conseqüência das inovações técnicas, da evolução dos transportes, da aceleração
29
da circulação dos homens, das informações e das mercadorias. A partir de 1970, a
abordagem da paisagem toma como base filosófica a fenomenologia e o
existencialismo e na década de 1980 é a paisagem simbólica que passa a ter
destaque (MELO, 2001).
De fato, a paisagem está diante de nós ainda que estejamos de olhos fechados, pois
ela permanece como memória no nosso inconsciente e nossa imaginação nos faz
projetá-la segundo os símbolos que escolhemos ou aos quais estamos submetidos.
Ela pode refletir uma visão subjetiva do mundo e interpretar a realidade de forma
idealizada, substituindo algo que nos seja abstrato ou esteja ausente, pois vemos
tanto no sentido fenomenal quanto relacional.
Segundo Hoffman (2000), quando vemos no sentido fenomenal, vemos o modo
como as coisas nos parecem, o modo como se apresentam visualmente a nós, o
modo como as experimentamos visualmente; e quando vemos no sentido relacional
significa com o que interagimos quando olhamos algo.
Devemos considerar, no entanto, que antes de ser paisagem, a imagem diante de
nós pode ser vista também, segundo três direções, às vezes próximas e
semelhantes, mas com sutis diferenças: o panorama, o cenário e a paisagem
propriamente dita. Panorama vem do grego pan, que significa tudo, geral e orama
significa vista, ou seja, o que é possível ver até os limites do horizonte. Cenário vem
do italiano scenario, definido como o conjunto de vistas apropriadas aos fatos
representados. Paisagem, por sua natureza compreende não os lugares, mas de
certa forma, também os estilos de vida (EMÍDIO, 2006).
Essa diferenciação se faz necessária, pelo às vezes confuso uso dos termos como
sinônimos no senso comum, porém aos olhos do pesquisador deve ficar claro que
cada termo tem o seu significado, que cada palavra, cada elemento, abarca signos
muitas vezes não percebidos direta e claramente.
Como um dos objetos de estudo da geografia, a análise da paisagem passou dos
seus elementos constitutivos e diferenciadores, ao reconhecimento das atitudes e
preferências que podiam ser inventadas ou adquiridas, além da sua avaliação a
partir de atributos visuais (HOLZER, 1999).
30
[...] Ao longo da história a paisagem foi assumindo vários significados,
sendo usada com as mais variadas conotações. Rapidamente pode ser
reconhecida uma rie ampla desse entendimento: 1. Representação na
arte por meio de um quadro de uma parcela da Terra; 2. Impressão dos
sentidos sobre o meio ambiente da Terra; 3. Formas externas de surgimento
de fenômenos de uma parcela da superfície da Terra; 4. Condição,
propriedade natural de uma região; 5. Marcas culturais de uma região; 6.
Características genéricas de uma parcela da Terra; 7. Espaço delimitado; 8.
Corporação político-legal ou organização; 9. Área ou expansão de uma
determinada categoria de objeto que constitui seqüências topológicas
(GOMES, 2001, p. 61-62).
Nesse sentido, encontramos diferentes formas e abordagens de estudo das
paisagens. Na França do começo do século, por exemplo, a dimensão ecológica,
naturalista, servia primeiramente para mostrar como os grupos se adaptavam ao
ambiente. Vidal de la Blache, ao contrário, procurava destacar que a força do hábito
torna-se tão forte que o grupo humano perde sua característica de adaptação,
procurando modificar o meio ao invés de adaptá-lo, permanecendo assim com seus
hábitos (CLAVAL, 1997).
A paisagem foi estudada também por Pierre Deffontaines, através da religião e das
marcas que esta imprime nas paisagens, como os santuários e templos, pelos
óbices que ela impõe a certos costumes e pelos que ela faz nascer (CLAVAL, 1997).
Sabemos que as religiões são repletas de símbolos que mudam os comportamentos
do homem diante dos objetos que o cerca, inanimados ou não.
Com Jean Brunhes, a paisagem se apresenta pela harmonia profunda observada, às
vezes entre a organização do espaço, os seus traços visíveis e também a alma do
povo que a modelou (ANDREOTTI, 1994; 1996, citado por CLAVAL, 1997, p. 92).
Para James Duncan, “a paisagem pode ser lida como um texto” (CLAVAL, 1997, p.
103), como se lêssemos uma poesia ou versos líricos, épicos, dramáticos, satíricos,
narrativos, ou então uma prosa narrativa, oratória, dramática, didática, epistolar,
polêmica. Paisagem vista como palavras próprias de um autor citadas para
demonstrar suas idéias, conceitos, sentimentos, apelos e imagens imateriais que as
palavras normalmente transmitem da mente do escritor à do observador. A paisagem
é também um veículo de idéias e de sentimentos.
Através de Augustin Berque, podemos abordar a paisagem como tentativa de
compreender os sentidos que os grupos dão ao seu ambiente, “suas análises tratam
31
do par homem/meio e sobre as paisagens onde ele se manifesta” (CLAVAL, 1997, p.
103). É preciso, pois, perguntar como o homem percebe a paisagem, a fim de
compreender sua relação com o ambiente.
Para expressarmos emoções positivas ou negativas em relação ao que está a nossa
volta, fazemos uso da visão, da paisagem e de seus elementos. Estes constituem o
objeto da apreensão por intermédio dos sentidos, o homem apreende o mundo
através dos seus sentidos. Os movimentos do nosso corpo constituem uma
experiência direta do espaço, agindo primeiramente em função das indicações que
recebe desses sentidos percebidos. Assim, não há como retirar o aspecto perceptivo
do homem acerca da paisagem que o rodeia e de todos os objetos que nela se
fazem presentes, pois ela é vista e construída através dele próprio.
Essas sensações são apreensões do real, mas se tornam seguras quando
assumem uma forma estável, selecionada conforme sua significância. Isto ocorre
quando se superpõe à sensação uma percepção. “A percepção é, portanto, um
aspecto a ser incorporado ao conceito de paisagem que acaba se revelando
diferentemente a cada observador, segundo o grau de interesse existente” (EMÍDIO,
2006, p. 57).
Mas, a paisagem percebida também esconde muitas outras realidades que não
podem ser percebidas pelo simples olhar, está ligada a um universo cultural que
ultrapassa os meros horizontes físicos do mundo natural, são os povos, os
costumes, as atrações e repulsas, os modos de ser e muito mais, é uma realidade
sempre presente no espírito humano e onipresente na realidade ambiental.
Os homens, ao abrirem os olhos, se defrontam com imagens que os sensibilizam e
fazem perceber formas, cores e texturas, interpretam essas imagens através de
suas personalidades e de suas bagagens culturais, e também ouvem falar de
lugares que são capazes de descrever ou abordar antes mesmo de os pisarem.
Para Emídio (2006), a visão da paisagem é uma constante descoberta, de modo que
seu olhar não é mais perfeitamente novo e sua experiência, segundo Claval (1997),
é guiada por aquilo que eles aprenderam ao escutarem as pessoas em torno deles e
discutindo com elas.
32
Podemos dizer, então, que agimos não em função do real, mas da imagem que
fazemos dele. “A paisagem como representação resulta da apreensão do olhar do
indivíduo condicionado por filtros fisiológicos, psicológicos, socioculturais e
econômicos, e da esfera da rememoração e da lembrança recorrente” (GOMES,
2001, p. 56).
O olhar que projetamos sobre o ambiente nos permite estruturar o espaço, de opor o
próximo ao distante, de distinguir escalas e perceber a realidade nessas múltiplas
escalas, mas nosso olhar não é um instrumento neutro, ele participa das
experiências que temos dos lugares e das emoções que eles nos fazem sentir.
[...] Diversamente de outros espaços codificados de forma mais rígida, a
paisagem é um espaço plástico, apta a ser configurada por cada percepção
individual que, por sua vez, pode vir a enriquecer, se for o caso as
representações coletivas [...] ela pode ser a oportunidade de uma criação
permanente de significações ou de uma repetição indefinida de estereótipos
(COLLOT, 1990, p. 32).
Reafirmamos que a paisagem é a porção visível do espaço, a partir da qual ele pode
ser estudado, discutido, interpretado ou analisado. Contudo, ela possui identidade
visual passada e/ou presente, sendo necessário conferir ao seu conceito
considerações sobre ecossistemas, ações antrópicas, tempo, mutação, evolução,
biodiversidade, conservação e preservação para que tenhamos um conjunto de
informações que possam ser trabalhadas sob o olhar científico do pesquisador.
Para Collot (1990), não podemos falar da paisagem a não ser da sua percepção,
pois encontramos nela três elementos essenciais: ‘a idéia de ponto de vista’, ‘a de
parte’ e ‘a de unidade ou conjunto’. A paisagem, quando definida a partir do ponto de
vista do qual é observada, supõe-se como atividade constituinte do sujeito e sua
interpretação representa “uma reação contra a invasão de nosso meio ambiente por
espaços concebidos ou construídos com um modelo geométrico, sem levar em
conta o ponto de vista do indivíduo” (COLLOT, 1990, p. 22-23).
Por exemplo, houve um momento na história das cidades que as árvores plantadas
em jardins deviam ser vistas de forma racional, encaixadas num cenário que o
próprio homem criara e desenvolvera. Essas árvores eram podadas em formatos
quadrados ou retangulares e, assim, não era permitido nem a elas a expressão de
sua forma natural, expressão de sua beleza singela – irregular e assimétrica. Não se
33
enquadravam aos símbolos preexistentes e, como seres quase que inanimados,
deveriam ser adaptadas ao meio, pelo homem e para o homem.
No processo de percepção visual da paisagem, nossa visão depende da localização
em que estamos: se no chão, em um andar mais baixo ou mais alto de um edifício,
num miradouro estratégico ou num avião, depende também “do quê, do como, do
quando e do quanto se vê, variando por causa de deslocamentos físicos,
freqüências e luminosidade durante os diferentes períodos do dia” (EMÍDIO, 2006, p.
57).
O homem constrói paisagens, as altera, modifica de acordo com suas necessidades
e, ainda assim, através dessa sua relação com o ambiente, observa a paisagem e
percebe apenas parte de uma área (COLLOT, 1990). Para o observador, a paisagem
apresenta-se de forma fracionada, e a sua totalidade não pode ser visualizada
simplesmente num golpe de olhar.
É como se a paisagem estivesse inserida no cotidiano das pessoas que as
percebem, mas na verdade está, pois são elas, as pessoas, que as constroem,
conferindo ao espaço significados ideológicos com base nos padrões econômicos,
políticos e culturais vigentes. A pluralidade e a diversidade de interpretações acerca
do entendimento do que seja a paisagem é que nos permite e impõe uma análise
interdisciplinar da sua relação com o turismo.
O homem tende a apreender partes isoladas da paisagem, isso se dá, segundo
Collot (1990), pela circunscrição da paisagem dentro de uma linha, além da qual
nada é visível, denominada horizonte externo, e também pela existência, no interior
do campo delimitado, de partes não visíveis, denominada horizonte interno. Em
contrapartida:
[...] ao mesmo tempo em que é uma construção espacial [...] na qual o
homem participa e contribui coletivamente, a paisagem também proporciona
visões de conjunto, cuja complexidade qualitativa e dimensional dificulta sua
apreensão total (EMÍDIO, 2006, p. 57-123).
A paisagem se apresenta para nós, de certa forma, como “uma unidade de sentidos,
ela fala a quem olha” exige moldura, ou seja, um enquadramento perceptivo que a
prepara para tornar-se um painel, e é por não se deixar observar totalmente que
apresenta uma estrutura pré-simbólica (COLLOT, 1990, p. 24) constituída de
34
sentidos: o da visão, o da existência e o do inconsciente, tendo sua existência
condicionada pela nossa capacidade em reter, reproduzir e distinguir elementos
significativos (GOMES, 2001).
Os estudos sobre paisagem, além de enfocarem as questões que dizem respeito à
espacialidade e à estética, “também consideram, numa abordagem ambiental, os
elementos funcionais e integrativos estabelecidos por meio das relações dos
ecossistemas” (EMÍDIO, 2006, p. 55), contribuindo para que sejam coligadas as
noções de desenvolvimento sustentável em seu tratamento paisagístico.
Para Holzer, a paisagem, juntamente com outros conceitos, como de ‘ambiente’ ou
de ‘ecossistema’, por exemplo, ganhou as páginas da mídia e a boca dos cidadãos
que se preocupam com seu bem-estar:
[...] diligenciando significados complexos que antes estavam restritos às
conversas dos especialistas e agora passaram para o âmbito do varejo das
redes mundiais de comunicação, onde os gostos, senão as atitudes
culturais se reciclam rapidamente (HOLZER, 1999, p. 149).
Com base nesse histórico, entendemos que são várias as abordagens para estudo
da paisagem, desde as organicistas, as funcionalistas ou utilitárias e as culturais,
ligadas a bases filosóficas distintas, evoluindo até as atuais concepções que
conciliam interesses sociais e ecológicos numa visão de desenvolvimento
sustentável (EMÍDIO, 2006).
Percebemos nas paisagens um conjunto de elementos que compõem e configuram
um lugar determinado e que têm estreita vinculação com a vida que nele se
desenvolve. Suas relações formam sistemas ecológicos, sociais, políticos e
econômicos com fatores predominantes e em constante processo de mutação,
alterando sua função no decorrer do tempo. Por isso, também é nela que
identificamos símbolos variados, de acordo com as transformações sociais,
econômicas, políticas e culturais.
Assim, também são produzidas as paisagens turísticas. Elas são criadas, recriadas,
adaptadas apara atenderem às necessidades e expectativas da sociedade, dos
homens que vivem em sociedade e, no caso do turismo, as necessidade e
expectativas dos turistas, muitas vezes sem que a própria comunidade local
participe desse processo ou o aceite em prol das garantias de crescimento
35
econômico que poderão advir e melhorar sua qualidade de vida.
Segundo Gomes (2001), as apreciações do conceito de paisagem enquanto forma
conteúdo e narrativas literárias, artísticas e científicas denotam hierarquia e valores
correspondentes a marcos históricos, em especial focalizando a civilização
ocidental. O ocidente é nossa referência, fazendo-se presente como algo que
devemos desejar por ser o melhor, por se fazer ser o melhor. Logo, alguns valores
acabam por permear e justificar a produção de paisagens, para atender a parcelas
importantes da demanda turística atual.
Testemunhos visuais de elementos estéticos e simbólicos construídos
historicamente passam a ser as paisagens, quando esses elementos são
identificados e apropriados pelo viajante, despertando um renovado interesse no
lugar visitado e contribuindo para estabelecer uma valorização qualitativa (SILVA,
Maria Lanci da, 2004).
No caso do turismo, procura-se estabelecer no lugar turístico identidades próprias,
adotando temas específicos que possam ser reproduzidos no espaço urbano de
forma a configurar uma paisagem coerente com a idéia de lazer vendida pelo
mercado, contrapondo os lugares turísticos aos lugares de trabalho, além da
apropriação visual de panoramas, passando ainda pela reprodução de padrões de
beleza e qualidade culturalmente estabelecidos.
Mas como delimitar as paisagens desses lugares? Como diferenciar a mesma
imagem vista tanto por um turista quanto por um morador local, apenas por sua
função paisagística? Emídio (2006) coloca que a paisagem não possui começo nem
fim, sendo impossível representá-la em sua totalidade. Ora, sabemos que ela é
muito mais do que o que a visão abarca num lance de vista, e é por isso que
sentimos necessidade de restringir uma parte desse todo para determinarmos e
caracterizarmos nosso objeto de trabalho. A isso podemos chamar de ‘recorte de
paisagem’, quando nos referimos então a um instante captado e no qual se
desenvolverá o estudo.
É preciso identificar nas paisagens as funções existentes associadas ao perfil dos
usuários que determinam a qualidade e quantidade de intervenção no meio. Fato é
36
que a paisagem é um “objeto de análise que pode se realizar sob o ponto de vista
científico ou do campo visual e sensorial” (EMÍDIO, 2004, p. 64). Isto quer dizer que
a paisagem pode ser recortada para fins de análise com base na composição de
seus elementos, definidos pela Geografia, e/ou pelo que é percebido com base nas
relações entre os indivíduos e a natureza, definidos por outras ciências, por
exemplo.
Para fins de desenvolvimento e crescimento, e todos os seus benefícios agregados,
como qualidade de vida e bem estar social, tomando o pensamento de Luchiari
(2001), o mesmo espírito conservacionista da sociedade que protegeu ecossistemas
naturais também selecionou paisagens naturais para serem mercantilizadas e
transformadas em novas territorialidades das elites urbanas e em paisagens
turísticas, diferentes do entorno habitual. O acesso seletivo, através do turismo, às
paisagens naturais preservadas e valorizadas (litorais, montanhas, florestas) ganhou
atributo de distinção social e tem contribuído para o fortalecimento das
desigualdades sócio-espaciais e também econômico-culturais.
Natureza e sociedade são indissociáveis, mas “na sociedade ocidental, a concepção
de paisagem emergiu no mesmo período em que a ciência arquitetava a dicotomia
entre sociedade e natureza” que contraditoriamente, ao separar-se da natureza,
inventava e valorizava a própria concepção de paisagem (LUCHIARI, 2001).
O processo de construção da paisagem por esse imaginário social configura-se na
própria representação de práticas sociais que lhe novo conteúdo, o indivíduo
transforma a paisagem em forma e aparência, significante e significado. “Os
símbolos contidos nos objetos de uma paisagem são perigosos, pois não se revelam
totalmente a um olhar pouco reflexivo, podendo escapar à apreensão da paisagem”
(LUCHIARI, 2001, p. 13).
Mas, ao mesmo tempo em que as opiniões pessoais sejam desconsideradas, bem
como os gostos e especulações derivados da imaginação sejam pouco reflexivos, o
observador da paisagem é também aquele que descreve a realidade e traz consigo
o contexto histórico em que vive e no qual toma suas decisões.
O verdadeiro conteúdo da paisagem se revela por meio das funções sociais que
37
lhe são constantemente atribuídas no desenrolar da história (LUCHIARI, 2001). É a
natureza como técnica e cultura, ou seja, da natureza à invenção da paisagem que
ressurge como possibilidade de revisitação das práticas culturais e de campo de
revelação das atitudes dos homens entre si.
A maneira como a paisagem é projetada e construída revela, objetivamente, as
tendências e os padrões que, com base em conceitos filosóficos vigentes, se
manifestam a partir da observação do ambiente pelo homem. Essa afirmação de
Emídio (2006) é muito assertiva, pois no processo de apropriação do meio, o homem
agiu segundo os momentos históricos nos quais viveu.
Houve o momento da descoberta, quando a natureza era temida pelo homem, pois o
olhar que tinha dela é que era dotada de poder divino e sobrenatural. Depois o
momento do meio da existência, quando os condicionantes da natureza passaram a
ser aceitos sem medo e o homem começou a não temê-la. Hoje, vivemos o
momento da transformação, quando os condicionantes passaram a ser modificados,
minimizados e/ou superados pelo homem, imprimindo modificações na paisagem
que, de certa forma, distanciam o contato direto do homem com a natureza
(CAMARGO, 2005).
O estudo de paisagens possui uma riqueza de possibilidades que não podem deixar
de ser exploradas, tendo em vista o empobrecimento da ciência geográfica. “A
simbologia da paisagem é analisada por meio de obras literárias, pintura, música e
cinema, considerada sua representação a partir de diferentes grupos sociais”. Para
Cosgrove, a paisagem parece renovada para o milênio (COSGROVE, 1999, p. 34,
citado por MELO, 2001, p. 46).
As paisagens, então, não existiriam a priori, como um dado da natureza, mas
somente em relação à sociedade. Adverso ao que muitas vezes prega o discurso
ecológico, o que está no centro da questão não é a simples sobrevivência da
paisagem natural, mas a própria produção e o consumo dessa paisagem, afinal
“civilização e natureza agora são unos” (LUCHIARI, 2001, p. 22-23).
A atividade turística permite e facilita o uso fugaz e intenso da paisagem como parte
integrante do ideal de modernidade que considera o desenvolvimento como uma
38
meta a ser atingida, medida e mediada pela produção de mercadorias
(RODRIGUES, 2000). O meio ambiente não existe mais como realidade, segundo
Luchiari (2001), ele dá sustentação conceitual a um projeto de politização do homem
com a natureza por isso é preciso tomarmos a paisagem como inserção do homem
no mundo.
A gestação de uma paisagem coletiva se encontra condicionada à capacidade de
persuasão e de sensibilização cultural e evocativa do agente impulsionador que
cunha e espelha sua representação em larga escala, bem como, entre outros
fatores, “da reelaboração da imagem como memória” (GOMES, 2001, p. 57). O
turista leva das suas viagens e visitas a lugares diferentes do seu entorno, as
lembranças e as memórias desses lugares, ou seja, das paisagens que busca por se
apresentarem a ele como aprazíveis ou agradáveis, lhe permitindo desenvolver
várias atividades de lazer em lugares que precisam ser renovados continuamente.
Por outro lado, os moradores de lugares turísticos também precisam se reconhecer
nessa paisagem, que contém elementos e representações de sua cultura, mesmo
que tenha uma percepção mais complexa do meio, ela “só é expressa com
dificuldade e indiretamente através do comportamento, da tradição local, do
conhecimento e do mito” (TUAN, 1980, citado por SILVA, Maria Lanci da, p. 31). A
autora ainda conclui que aquilo que para o turista é uma experiência essencialmente
estética, para o morador do lugar turístico é uma avaliação do próprio modo de vida.
Para Silva (2002), a paisagem é o registro incrustado de uma civilização que
mantém sua essência: o aspecto visível, imediatamente perceptível do espaço
geográfico, mas que assume diferentes sentidos de existência e compreensão
segundo a cultura, valores e representações de cada sociedade (SILVA, 2002, p.
87). Assim como diz a epígrafe deste capítulo, as paisagens “são como fotografias
que refletem as combinações entre processos naturais e sociais em um espaço
geográfico, no decorrer do tempo histórico” (EGLER, 2002, p.15).
39
4. PERCEPÇÃO DA PAISAGEM
“Não se pode falar da paisagem a não ser a partir da percepção” (Michel
Collot).
Afirmamos anteriormente que a paisagem é projetada segundo a observação do
ambiente pelo homem. Ela é vista e construída através dele próprio. Nesse sentido
precisamos ter a idéia clara sobre como se estabelece a percepção da paisagem, ou
como chegamos ao conhecimento dos objetos, fatos e fenômenos que nos rodeiam
e que se inter-relacionam.
Aquilo que percebemos influencia nosso comportamento pois cada indivíduo faz um
recorte da realidade para percebê-la e é ela que influenciará a conduta, as escolhas
e os comportamentos dos sujeitos de acordo com seus interesses, objetivos e
sensibilidade. A percepção é seletiva.
Segundo Del Rio (1999), precisamos entender a percepção da paisagem como um
processo mental de interação do indivíduo com o meio ambiente que se através
de mecanismos perceptivos propriamente ditos e, principalmente cognitivos.
Os mecanismos perceptivos “são dirigidos pelos estímulos externos, captados
através dos cinco sentidos, onde a visão é o que mais se destaca” (GIBSON, 1979).
Dentre estes, destacamos os fatores de intensidade
1
, contraste
2
, movimento
3
e
incongruência
4
.
Os mecanismos cognitivos:
[...] são aqueles que compreendem a contribuição da inteligência, uma vez
admitindo-se que a mente não funciona apenas a partir dos sentidos e nem
recebe essas sensações passivamente; existem contribuições ativas do
sujeito ao processo perceptivo desde a motivação à decisão e conduta
(Moore & Gooledge, 1976, Fiske & Taylor, 1991 citado por DEL RIO, 1999
p.3).
1
Qualidade ou condição de intenso (FERREIRA, 2004).
2
Oposição entre coisas ou pessoas das quais uma faz que a outra se destaque (FERREIRA, 2004).
3
Mudança de um corpo ou de parte dele, de um lugar para o outro (FERREIRA, 2004).
4
Que apresenta contradição(FERREIRA, 2004).
40
Eles “incluem motivações, humores, necessidades, conhecimentos prévios, valores,
julgamentos e expectativas”. Nossa mente organiza e representa a realidade
percebida através de esquemas perceptivos e imagens mentais, com atributos
específicos (DEL RIO, 1999, p. 3).
A comunicação através de um processo cognitivo é a construção do sentido em
nossas mentes, e este processo, segundo Del Rio, “possui fases distintas:
percepção (campo sensorial), seleção (campo da memória) e atribuição de
significados (campo do raciocínio)” (DEL RIO, 1990, p. 92).
Sendo a paisagem tão rica e diversa em elementos que a compõem e, sendo os
indivíduos e grupos sociais capazes de percebê-la através de mecanismos
perceptivos e cognitivos, podemos dizer que existem também alguns tipos principais
de percepção: percepção tátil, percepção olfativa, percepção auditiva, percepção
gustativa, percepção visual, percepção temporal e percepção espacial. No entanto,
dentre todos os nossos sentidos, a visão é o mais prevalente, sobretudo quando de
trata de percepção da paisagem (DEL RIO, 1999).
Segundo Hoffman (2000), a visão em geral é algo tão rápido e seguro, tão fidedigno
e informativo e, supostamente ocorre tão sem esforço, que presumimos
naturalmente que ela é, de fato, algo que não necessita de esforço, mas a facilidade
veloz da visão é ilusória. Estão disponíveis ao sistema visual um conjunto de
informações que são percebidas segundo as formas, as faces e emoções
associadas, as relações espaciais, as cores e a intensidade luminosa (GIBSON,
1979).
A nossa ‘inteligência visual’ interage intensamente com nossa inteligência racional e
emocional, e em muitos casos, a precede e conduz. A visão não é um produto
meramente da percepção passiva, ela á um processo inteligente de construção
ativa, de intencionalidade. O que os indivíduos e grupos sociais vêem é,
invariavelmente, aquilo que sua inteligência visual constrói (HOFFMAN, 2000).
O que ocorre quando nós vemos não é um processo de estímulo e resposta sem
participação da mente, mas um processo sofisticado de construção. Sem exceção,
tudo o que vemos é construído por nós: “cor, sombra, textura, movimento, forma,
41
objetos visuais e cenas visuais completas” (HOFFMAN, 2000, p. 5). A natureza da
nossa ‘inteligência visual’ é construir, e fazê-lo segundo certos princípios.
No princípio do sentido fenomenal, usamos a expressão: ‘o que você vê’ sob pelo
menos, duas acepções: às vezes a usamos com o sentido de ‘como as coisas lhe
parecem’, ‘o modo como elas visualmente aparecem para você’, ‘o modo como você
as experimenta visualmente’. No princípio do sentido relacional, usamos a mesma
expressão ‘o que você vê’, para dizermos toscamente “com o que você interage
quando olha” (HOFFMAN, 2000, p. 6).
Construir é a essência da visão, tudo que experimentamos pela visão é construção
nossa. Por isso, para Oliveira e Machado (2004), no que tange a abordagem
perceptiva, é mais usual lançarmos mão da percepção visual, pois é “através da
visão que os homens se expressam e se comunicam mais freqüentemente. O
mundo moderno é visual, é feito de cores e formas, principalmente” (OLIVEIRA;
MACHADO, 2004, p. 130).
Porém, para Hoffman (2000), o problema fundamental da visão é que a imagem no
olho tem duas dimensões; logo ela tem incontáveis interpretações em três
dimensões e as paisagens contêm elementos naturais e culturais que nos permitem
um exercício constante da percepção do ambiente que está a nossa volta.
Para Lynch (1997), a paisagem pode ser estável por algum tempo, mas por outro
lado, está sempre se modificando nos detalhes. Ela é vista sob todas as luzes e
condições atmosféricas possíveis. A cada instante, mais do que o olho pode ver,
mais do que o ouvido pode perceber, esperando para serem explorados, “nada é
vivenciado em si mesmo, mas sempre em relação aos seus arredores” (LYNCH,
1997, p. 1).
O papel fundamental das regras da visão é que nós construímos mundos visuais a
partir de imagens ambíguas, em conformidade com regras visuais e nossa
‘inteligência visual’ constrói as realidades visuais elaboradas nas quais vivemos,
movimentamos e interagimos emocional e racionalmente e as utilizam como
matérias primas para construções posteriores. “Somos seres complexos com muitas
facetas, incluindo a visual, a emocional e a racional” (HOFFMAN, 2000, p. 193).
42
Nesse sentido é através da percepção que organizamos e interpretamos as
sensações para atribuirmos significado ao meio, ou seja, ela consiste na aquisição,
seleção, organização e interpretação das informações obtidas pelos sentidos.
Estudada do ponto de vista cognitivo, envolve também os processos mentais, a
memória e outros aspectos que podem influenciar na interpretação dos dados
percebidos. “O fenômeno perceptivo não pode ser estudado como um evento
isolado, nem pode ser isolável da vida cotidiana das pessoas” (OLIVEIRA, 1975 p.
61).
Se a percepção pode ser considerada como um fenômeno, ou seja, tudo quanto é
percebido pelos sentidos e/ou pela consistência, ela consiste então em
reconhecermos qual estímulo que produziu em nós determinada sensação.
Ressaltando que por sensação entendemos o fenômeno psicológico produzido pela
estimulação do nosso organismo e, que a interpretação deste, como sinal de um
objeto exterior é que chamamos percepção (BARROS, 1988).
Tomás Reid, filósofo escocês do século XII, apresenta-nos um exemplo simples da
relação sensação e percepção: “certo estímulo produz sensações de cor vermelha,
forma arredondada e odor agradável. Mas o que nós percebemos é uma rosa”
(REID citado por BARROS, 1998, p. 43).
Este exemplo simples demonstra que a imagem que o perceptor faz da rosa pode
estar revestida de outras informações que recebe do seu meio, pois a rosa
percebida não está isolada da vida cotidiana do indivíduo. Tomando a paisagem
como conjunto de elementos percebidos por indivíduos e grupos sociais, elas
poderão se apresentar idênticas a eles, mas a percepção que terão delas e a
interpretação que poderão fazer será diferente para cada um.
Machado (1997), com base em Oliveira (1983), explica que todas as pessoas têm
uma percepção do meio ambiente e de sua qualidade, percepção esta que é
individual, pois é necessariamente emoldurada pela inteligência, que oferece
diferentes formas cognitivas para os inúmeros conteúdos perceptivos. Isto quer dizer
que a percepção é única justamente porque depende da inteligência.
Indivíduos e grupos sociais percebem nas paisagens elementos que podem ser
43
comunicáveis e reversíveis. Para Del Rio (1990), o homem também se comunica
através de um processo cognitivo, que é a construção do sentido em nossas mentes
e a percepção é, acima de tudo, um processo seletivo, pois percebemos aquilo
que nossos objetivos mentais nos preparam para perceber, ou seja, segundo a
intencionalidade.
Isto quer dizer que a expressão da subjetividade daquele que percebe a paisagem
vivida cotidianamente, constituída numa categoria interdisciplinar de análise, ou num
recorte, que engloba tanto elementos naturais quanto socioculturais e econômicos,
nos fornece informações valiosas e transversais sobre a própria paisagem e sobre
os efeitos do turismo na mesma.
Perceber a paisagem é transcender o caráter inter e transdisciplinar da sua
subjetividade, indo ao encontro de uma linguagem que almeja ser transdisciplinar na
sua descrição, observação e percepção.
44
5. PAISAGEM E TURISMO
“El paisaje no es estático, se modifica constantemente, se mueve, sea de
corta o largo duración, sea colectiva o individualmente, sus formas de
representación también cambian, en este aspecto, el turismo como un
fenómeno sociocultural es un factor, que si bien no es el único, también lo
modifica” (Guillermo Miranda Román).
O turismo é uma atividade inter, trans e multidisciplinar, que apresenta um conjunto
de facetas, organizadas ou não, no que podemos chamar de sistema turístico. O
sistema turístico é composto por dois elementos essenciais à sua existência, a oferta
e a demanda turísticas.
A oferta turística é composta pelos atrativos turísticos, naturais e artificiais, e
exercem nas pessoas certo grau de atratividade, motivando o deslocamento das
mesmas para lugares fora do seu entorno habitual.
Para isso, são necessários equipamentos e serviços turísticos como meios de
hospedagem, alimentação, entretenimento, informação turística e também a infra-
estrutura de apoio turístico, como transporte, comunicação, segurança e
atendimento médico-hospitalar.
a demanda turística é composta pelos consumidores, pessoas que efetivamente
viajam e/ou aquelas que não viajam, mas que têm potencial para viajar e consumir o
produto turístico.
Esses aspectos característicos do turismo (oferta e demanda) acontecem num
espaço movimentado pela sociedade e pela produção, ocasionando efeitos ou
impactos nos lugares e, por conseguinte, em suas paisagens.
As cidades brasileiras consideradas turísticas, ou seja, que possuem sua base
econômica no turismo enfrentam, segundo Lanci S. (2004), o paradoxo de
conservarem belas paisagens e verem esse mesmo recurso dilapidado pela
atividade turística.
Segundo Santos (1997), uma adequação da sociedade sempre em movimento
45
à paisagem e podemos dizer também, aos efeitos da atividade turística. O turismo
cria paisagens, por ser um modo produtivo possuidor de certa durabilidade, ligadas
ao processo direto da produção, circulação, distribuição e consumo.
Para o turismo, os lugares de desfrute do lazer e do ócio são produtos de uma
mescla entre natureza e cultura, com aspectos visuais particulares e significativos
para a composição de imagens suficientemente atraentes para induzir o consumo.
Uma reflexão mais sistemática quanto aos aspectos culturais, sociais, políticos e
ambientais do turismo se faz necessária para Rodrigues (2000), pois:
[...] analisar a atividade turística permite compreender a paisagem e o
ambiente no contexto do uso fugaz do território, o que propicia a
compreensão dos espaços produzidos para ‘consumir natureza, paisagem’,
num tempo curto para indivíduos alguns dias por ano -, e num tempo
longo para atividade turística (RODRIGUES, 2000, p. 172).
Seja a curto ou longo prazo, a produção e o consumo da atividade turística
acontecem de forma simultânea, trazendo consigo efeitos, tanto positivos quanto
negativos, que influenciam os aspectos da vida cotidiana dos destinos, dos
moradores locais e também dos turistas que os visitam.
Os lugares turísticos são como cenários produzidos sobre uma base paisagística
preexistente que, associada a aspectos culturais, históricos e geográficos constituem
a matéria para o processo contínuo de produção e consumo (LANCI S., 2004). Isto
quer dizer que no turismo, as paisagens assumem posição e cenário de grande
valor, são o resultado da relação entre a sociedade e a natureza, ao mesmo tempo
matéria prima do turismo e também seu produto, podendo ser beneficiadas ou
impactadas por ele graças às ações que as protegem e transformam.
Se o espaço é o “resultado da ação dos homens sobre o próprio espaço,
intermediados pelos objetos naturais e artificiais” e a paisagem é a “materialização
de um instante da sociedade”, é nesse “domínio do visível” (SANTOS, 1997, p. 71-
72-61) que percebemos as interferências do homem sobre eles, principalmente por
meio da visão.
Identificamos também odores agradáveis, conhecidos, estranhos, fortes, suaves,
naturais e artificiais (olfato). Distinguimos diferentes sabores (paladar) e
diferenciamos os vários tipos de sons captados no seu entorno (audição). Sentimos
46
as diferentes características dos objetos e seres por meio do toque (tato). Mas é por
meio da visão que estabelecemos a maior parte de nosso contato com a paisagem.
Por isso, “a publicidade elaborada para o turismo faz da paisagem o objeto de
consumo e define a atividade em si: faz-se turismo para viajar, para ter novas
experiências, para encontrar pessoas, mas para, sobretudo, ver” (SILVA, Maria Lanci
da, 2004, p. 21-22).
Na percepção da paisagem em locais turísticos:
[...] além das fantasias e das funções cognitivas presas ao exótico, o
turismo representa uma via de inserção na realidade do outro, de grande
potencial pacifista e integrador, que na maioria das vezes, termina por ser
banalizada pela mercantilização (RIBEIRO, 1997, p. 40).
A paisagem, sendo um componente essencial para o desenvolvimento do turismo, é
transformada segundo critérios formais e estéticos direcionados a compor cenários
elaborados (ou não) sobre qualidades naturais e culturais intrínsecas das
localidades, qualidades que, por sua vez, são interligadas no processo de veiculação
de uma determinada imagem (SILVA, Maria Lanci da, 2004).
O processo de mercantilização dos atrativos turísticos e da própria construção do
produto turístico tem levado a alterações e muitas vezes destruição das
manifestações populares e tradicionais dos destinos, adequando-as, reduzindo-as,
tornando-as mais coloridas, mais dramáticas e mais espetaculares, para atender aos
gostos e expectativas da demanda e em prol de saldos positivos nas transações e
negociações.
O significado econômico do turismo muitas vezes é superestimado e apresentado
como principal força motriz e vantagem decorrente do desenvolvimento da atividade.
Assim como afirma Cooper (2007), o turismo é o maior setor prestador de serviços
e, como tal, tem sido parcialmente responsável pelo crescimento da economia em
inúmeros locais.
Configuram-se paisagens coerentes com a idéia de lazer. Isto quer dizer que os
aspectos visuais ou paisagísticos diferenciam os lugares de trabalho dos lugares de
lazer, “existe toda uma engrenagem de negócios a chamada indústria turística
movimentada para estabelecer diferenças visuais entre um lugar e outro” (SILVA,
47
Maria Lanci da, 2004, p. 27).
O crescimento da atividade turística representa a inevitável modificação da
paisagem para que a atividade se desenvolva, “seja para facilitar o turismo, seja
através do processo de produção do turismo” (COOPER, 2007, p. 210), alterando
quantitativa e qualitativamente os recursos naturais e culturais.
A escolha e admiração dos lugares turísticos pelos turistas, geralmente se dão por
suas paisagens, testemunhos visuais de elementos estéticos e simbólicos
construídos historicamente. Quando percebida pelos turistas, a paisagem desperta
um renovado interesse no lugar visitado e contribui para esclarecer uma valorização
qualitativa (SILVA, Maria Lanci da, 2004).
O turismo tem condições de estimular uma nova atitude para com a paisagem, pois
esta é uma categoria que pertence a toda sociedade. Contudo, a velocidade e a
natureza do processo de desenvolvimento do turismo têm grande influência nas
mudanças socioculturais, ambientais e econômicas de um lugar e de suas
paisagens, mudanças que chamamos de impactos, manifestados através de uma
gama enorme de aspectos, desde as artes e o artesanato até o comportamento de
grupos e indivíduos; desde os recursos naturais até a sua utilização como atrativos
turísticos; desde o ingresso de divisas e sua distribuição até as implicações na
qualidade de vida.
As paisagens turísticas então, geralmente são associações de elementos naturais
(clima, vegetação e formas de relevo) e de elementos culturais (festas populares,
museus, arquitetura e monumentos públicos) acrescidos de apelo e valor
econômicos. O crescente aumento da demanda do mercado turístico é um dos
fatores responsáveis pela produção e pelo consumo dessas paisagens, o que
significa uma alteração do próprio espaço geográfico onde estão inseridas.
Tais impactos provocam no espaço mudanças consideradas positivas e/ou
negativas, como a conservação dos recursos culturais e/ou a falsa identidade; a
conservação dos recursos naturais e/ou a depreciação da paisagem com o
desenvolvimento arquitetônico não integrado; o surgimento de novas áreas de lazer,
atividades culturais e zonas comerciais e/ou o aumento dos serviços públicos.
48
Segundo Silva, Maria Lanci da (2004), o turismo como atividade organizada no
mundo contemporâneo, tornou a natureza, de certa forma, mais ‘domesticada’,
permitindo às pessoas comuns, não apenas aos aventureiros e exploradores ricos, o
desfrute de paisagens com o conforto de uma viagem planejada e sem riscos. Isso
exige um esforço constante de concepção, adaptação e construção de novos
espaços e implica uma transformação mais ou menos radical da paisagem existente.
Para a autora, “a percepção do ambiente é mais aguçada quando se trata de um
lugar turístico, onde a paisagem é um fator de atração”, entretanto “a paisagem
turística é, antes de tudo, uma paisagem com turistas” e os turistas o
“devoradores de paisagens” (SILVA, Maria Lanci da, 2004, p. 32-185-34).
Embora criada artificialmente e/ou modificada pelo turismo, a paisagem também
poderá materializar os princípios da sustentabilidade. Isso dependerá, em cada
caso, das práticas desenvolvidas no plano espacial e que, invariavelmente, se
manifestam por meio da paisagem:
[...] para garantir a satisfação das necessidades básicas da população, a
solidariedade para com as gerações futuras, a participação da população
envolvida, a preservação dos recursos naturais e culturais (MENDES, 2007,
p. 1).
Com base em Claval (1997), podemos dizer que a paisagem e o turismo estão
associados às experiências que os homens têm da Terra, da natureza e do
ambiente, à maneira pela qual eles os modelam para responder às suas
necessidades, seus gostos e suas aspirações, para construir sua identidade e se
realizar. Porém, essas experiências estão recheadas de elementos socioculturais,
ambientais e econômicos, às vezes integrados, às vezes antagônicos, cuja
combinação se reflete nas paisagens.
Sob a percepção contemporânea do homem, esse processo e os frutos de sua
produção tornam-se capazes de oportunizar a compreensão do turismo como
fenômeno construtor/desconstrutor de paisagens. Se, segundo Hoffman (2000),
construir é a essência da visão, podemos dizer que desconstruí-la também o é,
sendo que a visão é a essência da percepção.
Assim como o turismo, nós:
49
[...] somos seres complexos com muitas facetas, incluindo a visual, a
emocional e a racional. Compreender cada uma dessas facetas e como
cada uma delas interage com todas as outras é algo crítico para o
entendimento de quem somos como seres humanos, e de como podemos
nos aprimorar e melhorar nosso meio ambiente (HOFFMAN, 2000, p. 193).
Essa expressão da subjetividade daquele que percebe a paisagem vivida, é
instituída numa categoria de análise que engloba elementos naturais e humanos,
que nos fornecerá informações valiosas e transversais, caracterizando a
multidisciplinaridade e relevância da relação entre paisagem e turismo, servindo
para o planejamento e a gestão do turismo que privilegie a participação efetiva da
comunidade.
50
6. EFEITOS DO TURISMO NA PAISAGEM
“As paisagens produzidas para o turismo,seguindo a caracterização de
'identidades' padronizadas pelo mercado, auxiliam na incorporação e na
manutenção de características peculiares ao lugar turístico. O fato, porém, é
que localidades turísticas são um amálgama de paisagens, com variações e
aspectos nem sempre positivos para o turismo” (Maria da Glória Lanci
Silva).
As cidades e os lugares turísticos brasileiros enfrentam um grande paradoxo do
desenvolvimento sustentável do turismo, desde a RIO 92
5
, o de conservarem belas
paisagens e verem esse mesmo recurso dilapidado pelas atividades turísticas. Ao
considerar isso, Silva, Maria Lanci da (2004) se refere às atividades turísticas que
possuem forte repercussão sobre as variáveis socioculturais, ambientais e
econômicas, quantitativas e qualitativas das áreas onde o turismo atua, sendo
imprescindível analisarmos e avaliarmos seus efeitos positivos e negativos.
A Organização Mundial do Turismo (OMT, 2005) aponta que qualquer atividade
implantada em uma determinada região ocasiona uma série de conseqüências sobre
o seu crescimento e desenvolvimento, ou seja, uma série de efeitos que podem
trazer benefícios e/ou prejuízos à sociedade, à cultura, ao meio ambiente e à
economia dos lugares.
Reafirmar a efetividade desses impactos pode parecer redundante, mas além de
termos consciência sobre os mesmos, precisamos entender claramente como eles
se processam, qual sua função real e qual a sua mensuração, como se estruturam e
organizam as formas existentes na paisagem, ou até mesmo a criação de outras
formas, inseridas nesta, para atender às expectativas dos turistas e garantir o valor
mercantil do produto turístico.
O desenvolvimento da atividade turística oferece o transporte de indivíduos, de um
lugar ao outro, para que conheçam paisagens naturais, rurais ou urbanas em todo o
mundo, até no espaço sideral, preparando-as com equipamentos, serviços e infra-
5
Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento CNUMAD, realizada no
Rio de Janeiro, Brasil, no dia 3 de outubro de 1992.
51
estrutura necessária para atender a essa demanda (OMT, 2005).
Através desse deslocamento de pessoas, por variadas motivações, são levadas aos
lugares turísticos as características sociais, ambientais e econômicas específicas de
cada indivíduo, específicas também das regiões de onde se originam, bem como
toda a bagagem cultural que acumulam através do tempo e da convivência em
sociedade. Ainda que momentaneamente, essas características são então
transportadas para os lugares visitados, provocando interações e relações com a
comunidade local que também possui sua própria bagagem cultural.
Para compreendermos como se dão os efeitos da atividade turística, precisamos
compreender a relação e também a diferença entre alguns termos, como efeito,
impacto, eficiência e eficácia.
Tomando como base os dicionários de língua portuguesa, quando falamos em efeito,
nos referimos ao produto de uma causa, ao resultado de um ato qualquer; e quando
falamos em impacto, nos referimos à impressão causada em alguém por um fato ou
uma ação, ou seja, a impressão que se tem do produto de uma causa.
Nesse sentido, ao tratarmos dos efeitos do turismo como impactos damos a ele uma
interpretação pessoal, fenomenal e relacional, muitas vezes não condizente com o
que o outro interpreta, pois trazemos nossas experiências e expectativas como
cerne da nossa observação e tratamento do fato ou ação causado pela atividade
turística.
Em outro sentido, o que nos verdadeira consideração sobre os produtos do
turismo numa comunidade são os efeitos que a atividade causa segundo a
percepção do próprio cidadão que reside no local, que vivencia e experiencia o
contato com as paisagens alteradas ou não para o turismo.
Não podemos considerar de imediato tudo que apresenta aos nossos olhos como
impactos, sem antes investigar qual é a percepção que a comunidade tem dos
efeitos da atividade, ou seja, precisamos indagar sobre a essência do fenômeno
turístico. Hoffman (2000) destaca que cada um de nós constrói suas próprias
experiências para então interagirmos uns com os outros no mundo, a realidade é
possível porque nós construímos o que percebemos.
52
O turismo, então, produzirá efeitos quando a sua implantação ou desenvolvimento
ocorrer em determinado lugar, resultando não num ato qualquer, mas no ato de
intervir na paisagem desse lugar e que, de certa forma, possui valor turístico o
suficiente para despertar nas pessoas motivações para seus deslocamentos.
Quando a interferência começa em prol do turismo e do que seria o ‘bem comum’,
compartilhamento dos benefícios entre todos os envolvidos, os elementos bióticos e
abióticos começam a ser alterados, e essas alterações deixarão marcas nesses
corpos que poderão afetar ou não a sua sobrevivência ou uso pelas futuras
gerações.
Isto quer dizer que tanto os efeitos quanto os impactos do turismo são eficientes,
afinal eles produzem um resultado, mas nem sempre são eficazes, por não
produzirem o efeito desejado. Por isso, dizemos que os efeitos do turismo podem
ser positivos e/ou negativos, sejam eles diretos (sem intermediários), indiretos (com
intermediários) ou induzidos.
Os efeitos e impactos do turismo na paisagem podem ser divididos, para fins de
estudo, em três tipos principais: socioculturais, ambientais e econômicos. Deve-se
lembrar que o papel do profissional do turismo é contribuir no planejamento e
desenvolvimento da atividade turística, com base nos estudos, análises e
mensuramento dos possíveis e existentes efeitos da atividade na vida sociocultural,
ambiental e econômica da sociedade, sejam quais forem os segmentos da atividade.
É importante também destacar que muitos dos estudos, por considerarem o turismo
uma atividade eminentemente econômica, levam em consideração apenas a
demanda turística, ou seja, os gostos, preferências e necessidades dos turistas e
não da comunidade receptora. Vamos então aos efeitos do turismo e suas
peculiaridades.
6.1 Efeitos Socioculturais
[...] O turismo é um serviço pessoal e, como tal, só pode ser consumido pelo
turista que visita o destino. As implicações disso para a população do
destino é que ela não apenas estará sujeita às alterações decorrentes do
estímulo e da mudança de direção na economia local, mas também entrará
em contato com uma população estranha durante o processo de produção
(COOPER, 2007, p. 237).
53
Por ser uma atividade social, “considerada hoje como o maior movimento de
pessoas que já ocorreu na história da humanidade” (DIAS, 2005, p. 117), o turismo
vem crescendo e provocando novas modificações no ambiente sociocultural global,
nacional e local, tornando-se um grande agente transformador da sociedade.
Levantar os efeitos socioculturais do turismo nas paisagens é uma preocupação,
segundo Santos, Jo Luiz dos (2005), em entender os muitos caminhos que
conduziram os grupos humanos às suas relações presentes e suas perspectivas
futuras, expressando as complexas realidades dos agrupamentos humanos e as
características que os unem e diferenciam, sendo fundamental entendermos os
sentidos que uma realidade cultural faz para aqueles que a vivenciam.
O desenvolvimento dos grupos humanos se fez segundo ritmos diversos e
modalidades variáveis, não obstante a constatação de certas tendências globais.
Sendo assim, não apenas os recursos naturais devem ser considerados quando
pensamos no desenvolvimento dos grupos humanos e do turismo, mas nas suas
maneiras de organizar e transformar a vida em sociedade e de superar os conflitos
de interesse e as tensões geradas na vida social entre os turistas e a comunidade
local.
No nível sociocultural, os efeitos do turismo são a relação entre o uso dos recursos
culturais, a interação entre a comunidade local e os turistas e o compartilhamento da
infra-estrutura e dos equipamentos e serviços.
O turismo considera como recursos culturais das paisagens aqueles elementos que
não receberam nenhum tipo de tratamento, mas que apresentam potencial para se
tornarem atrativos, quando providos de facilidades, como acesso, segurança e
informação. Com base em Beni (2003), Cooper (2007), Dias (2005), OMT (2005),
quando recebem esse tipo de tratamento, podemos classificar esses recursos em
atrativos turísticos, especificamente:
Histórico-Culturais, quando se referem às manifestações que se apresentam sob
a forma de bens móveis ou imóveis. Ex. monumento, arquitetura civil, religiosa,
industrial, militar, ruínas, esculturas, instituições culturais, bibliotecas, arquivos,
patrimônio histórico;
54
Manifestações e Usos Tradicionais ou populares, quando se referem às práticas
culturais específicas da região, ou idênticas em nível nacional. Ex. festas
religiosas, populares e folclóricas, gastronomia, artesanato, feiras e mercados;
Realizações Técnicas e Científicas, quando se referem a obras ou complexos
científicos ou tecnológicos que estimulam o seu aproveitamento como recurso de
atração turística. Ex. exploração de minério, fazendas modelo, estações
experimentais, obras de engenharia, zoológicos, aquários, viveiros, centros
científicos;
Acontecimentos Programados, quando se referem a acontecimentos
organizados, atendendo a diversos objetivos, desde os técnicos e científicos até
os de comercialização de produtos. Ex. congressos, convenções, feiras,
exposições, competições esportivas.
Os efeitos socioculturais que se apresentam quando da interação entre visitados
[comunidade local] e visitantes [turista/excursionista] ou vice-versa podem ser
estudados segundo rios modelos que tentam explicar como se processa essa
interação. Butler (1980), Doxey (1975) e Smith (1989), citados por Cooper (2007),
trabalharam alguns modelos de estudo desses efeitos, criando quadros de
referências com os quais os pesquisadores podem examinar questões apropriadas.
Doxey (1976, citado por OMT, 2005), por exemplo, formulou um índice de irritação,
que estabelece a evolução da relação entre visitantes e visitados, seguindo uma
série de etapas ou momentos dessa relação, como a euforia, a apatia, a irritação, o
antagonismo e a final (OMT, 2005).
Em bases psicológicas, os efeitos socioculturais do turismo podem ser estudados
segundo uma tipologia de turistas elaborada por Plog (1977, citado por COOPER,
2007), na qual ele classifica o turista em termos de análise psicográfica e explicita
seus prováveis comportamentos. em bases sociológicas, o desenvolvimento do
turismo pode ser dividido em dois temas principais: o turismo enquanto fenômeno
social e/ou as bases socioeconômicas subjacentes ao seu desenvolvimento.
Kadt (1979, citado por COOPER, 2007), divide o contato entre visitante e visitado
em três categorias: “quando os turistas compram mercadorias e serviços da
55
população local”; “quando a população local e os turistas compartilham de uma
mesma estrutura”; e “quando os turistas e a população local se juntam com a
finalidade sica de realizar um intercâmbio cultural” (citado por COOPER, 2007, p.
243-244).
Destacamos também a peculiar ação desses efeitos nos usos, costumes e
manifestações tradicionais da comunidade, de maneira direta, quando interferem
diretamente no cotidiano dos visitados; indireta, quando interfere ‘disfarçadamente’;
e induzida, quando acontece propositalmente.
O turista tem contato direto com o destino escolhido por ele e também com a
comunidade que nele vive intercambiando informações. São utilizados por eles os
espaços públicos, privados, comerciais e virtuais da comunidade local ou criados no
lugar para atendê-los. Nesses espaços encontramos os equipamentos e serviços
básicos (para comunidade local) e os de apoio turísticos (para o turista), às vezes
separados e às vezes de uso comum, compondo as paisagens do lugar.
Nesse sentido, os efeitos socioculturais do turismo sobre a paisagem podem levar à
preservação e conservação do patrimônio arquitetônico e artístico ou à sua
depreciação; a atos de vandalismo; à poluição visual das fachadas e ruas pela
competição do marketing; à melhoria na qualidade de vida dos moradores ou à
expulsão dos mesmos para a periferia; ao resgate das habilidades artesanais da
comunidade ou à desculturação das manifestações, usos e costumes tradicionais;
ao aumento da criminalidade; à autenticidade encenada, à mercantilização do
artesanato, cerimônias e rituais; enfim, a várias conseqüências muitas vezes
irreversíveis e totalmente prejudiciais para os visitados, uma vez que eles
permanecem no local e os visitantes não.
Cooper (2007) sugere ainda, segundo Inskeep (1991), que dentre o grau de
diferenças entre as características dos visitantes e dos visitados podemos incluir:
sistema básico de lógica e valor; estilos de vida; padrões comportamentais; padrões
de vestuário; sentido de organização de tempo; e a atitude em relação a estranhos.
Lembramos que a sociedade ou a comunidade local dos visitados recebe todo esse
conjunto de efeitos, alterando o seu contexto e conseqüentemente suas paisagens
muitas vezes de forma direta, outras vezes de forma indireta e induzida pelo poder
56
público, pelo setor privado e pelo próprio fluxo de turistas.
6.2 Efeitos Ambientais
[...] Qualquer forma de empreendimento econômico acarreta impactos ao
meio ambiente físico onde se insere. Como os turistas têm que visitar o
local de produção para que possam consumir o produto é inevitável que a
atividade turística esteja associada a impactos ambientais (COOPER, 2007,
p. 209).
O turismo é uma atividade de produção e consumo in situ, o meio ambiente é seu
ingrediente mais fundamental. Assim que a atividade turística ocorre, o ambiente
sofre efeitos um tanto quanto estressantes, como: reestruturação ambiental
permanente
6
, a geração de efluentes, o estresse ambiental direto e os efeitos sobre
a dinâmica das populações.
No nível ambiental, os efeitos do turismo são a relação entre o uso dos recursos
naturais, a interação entre a comunidade local e os turistas e o compartilhamento da
infra-estrutura e dos equipamentos e serviços, os impactos desses efeitos também
podem ser positivos e/ou negativos, diretos (sem intermediários), indiretos (com
intermediários) e induzidos.
Os elementos naturais físicos, a fauna e a flora são considerados recursos naturais
e quando são alvo do interesse turístico, provocam o deslocamento de indivíduos
para conhecê-los. Esses elementos, ao receberem visitantes e terem sua estrutura
preparada para propiciar uma experiência de turismo, transformam-se em atrativos
turísticos naturais, pois se compõem basicamente de paisagem, com pouca ou
nenhuma intervenção humana. Com base em Beni (2003), Cooper (2007), Dias
(2005), OMT (2005), são exemplos desses atrativos:
Relevo Montanhoso: picos/cumes, serras, montes/morros/colinas;
Planaltos e Planícies: chapadas/tabuleiros, patamares, matacões/pedras, vales,
rochedos;
Litoral ou Costa: praias, restingas, mangues, baías/enseadas, sacos, cabos e
pontas, falésias/barreiras, dunas;
6
Cooper (2007) se refere à reestruturação ambiental permanente como as grandes construções, as
auto-estradas, aeroportos e resorts.
57
Terras Insulares: ilhas, arquipélagos, recifes/atóis;
Hidrografia: rios, lagos/lagoas/represas, praias fluvias/deltas;
Pântanos, Quedas d’água, Fontes Hidrominerais ou hidrotermais;
Unidades de Conservação: parques, reservas de flora e fauna, reservas
particulares do patrimônio natural;
Grutas/Cavernas: furnas;
Áreas de caça e pesca.
Aqui o turista também tem contato direto com o destino escolhido por ele e com a
comunidade que nele vive. Além do contato e intercâmbio de informações, as
paisagens naturais serão utilizadas pelos turistas como espaços de lazer e
recreação, mas também são utilizadas pela comunidade local para outros fins
diversos. Para atender às necessidades dos turistas e às vezes da comunidade
local, são também implantados equipamentos e serviços, básicos e de apoio
turístico, para garantir a satisfação dos mesmos com a atividade.
Muitos estudos sobre os efeitos do desenvolvimento do turismo no meio ambiente
têm sido realizados, mas são poucos que relativamente apresentam uma estrutura
padronizada ou métodos possíveis de serem adotados como referência, pois a
própria especificidade da atividade, do lugar turístico e dos estudos empíricos, não
permite a sua aplicação em outros lugares.
Cooper (2007) afirma que para estudarmos os impactos físicos do turismo é
necessário estabelecermos os efeitos diretos, indiretos e induzidos criados pela
atividade, comparando-os aos de outras atividades; como por exemplo: levantar
quais eram as condições antes da atividade turística acontecer; inventariar a flora e
fauna juntamente com os níveis físicos de tolerância associados ao turismo.
Desenvolver o turismo sem gerar impactos não é possível, mas minimizá-los sim,
através de políticas, planos, programas e leis que garantam a conservação e a
preservação do ambiente e do entorno onde a atividade acontece, principalmente
com relação aos seus efeitos mais específicos.
58
Para que possamos mensurar os efeitos da atividade do homem no meio ambiente,
existem modelos como a Avaliação de Impactos Ambientais (AIA) e a Auditoria
Ambiental (AA). As AIA’s enfocam os efeitos de determinada mudança na demanda
e são definidos por lei e exigidos como parte do processo de planejamento, as AA’s
representam um modelo modus operandi, ou seja, um processo contínuo de
monitoramento e avaliação. No primeiro, o modelo não se integra à estrutura
organizacional das organizações públicas e privadas, no segundo, por ser
voluntário, integra-se à estrutura, sendo permanente a sua avaliação de efetividade.
Podemos apresentar como efeitos ambientais do turismo sobre a paisagem as
mudanças na composição das espécies de fauna e flora (extinção ou afugentamento
de espécies, introdução de espécies exóticas etc.); a poluição visual com a
instalação de prédios, teleféricos e estacionamentos; a erosão; a diminuição dos
suprimentos de água de superfícies e de subsolo; a poluição sonora com os carros
de som; a poluição do ar com os depósitos e acúmulos de lixo; o crescimento de
área construída e as mudanças na malha urbana; a sobrecarga da infra-estrutura
urbana; o desmatamento e as queimadas; a preservação de remanescentes
florestais etc.
6.3 Efeitos Econômicos
[...] A principal força motriz que explica o crescimento do setor turístico no
século passado são os benefícios econômicos a ele associados [...], os
ganhos com o ingresso de divisas estrangeiras e geração de renda e de
emprego são os principais motivadores para a inclusão do turismo como
parte de uma estratégia de desenvolvimento (COOPER, 2007, p.166-170).
O turismo possui múltiplas atividades que influenciam o produto interno bruto, as
receitas de exportação e o nível de emprego total. Essas vantagens econômicas são
as principais forças direcionadoras para o desenvolvimento do setor, pois é o maior
prestador de serviços. É necessário e importante sabermos, então, qual é o
significado econômico do turismo para países, regiões, estados e municípios,
através da quantidade de atividade turística gerada, do tipo e natureza da economia
em questão.
O significado econômico do turismo deve se pautar nos percentuais do total global
de visitantes e na relação importância para a economia de cada destino, no
59
entanto precisamos também analisar os diferentes aspectos da economia que serão
afetados pelas despesas turísticas, diferenciando o impacto associado às despesas
turísticas do associado ao desenvolvimento do turismo.
Isto quer dizer que devemos nos atentar para as mudanças dos gastos do turismo
sobre: a venda, o emprego, as receitas governamentais, o ingresso de divisas
estrangeiras e, além destes aspectos quantitativos, da percepção da comunidade
com relação aos mesmos, ou seja, os aspectos subjetivos.
Quanto aos quantitativos, devem ser avaliados os vazamentos de dinheiro ou
vazamentos de despesas (COOPER, 2007), isto é se o produto turístico consumido
é elaborado com insumos importados ou oriundos de outras economias que não
sejam as locais, regionais ou estaduais, pois assim, o que na verdade se consume é
o valor agregado, como impostos para importação, por exemplo.
No nível econômico, os principais efeitos do turismo são: a relação entre o uso dos
recursos financeiros e a interação entre a comunidade local, os turistas e o mercado.
Os gastos com a atividade turística, de um modo geral, se darão a partir de rios
lugares, o de origem do turista, o da comunidade local, o do entorno e o dos
fornecedores. Esses gastos poderão movimentar o mercado, criar empregos e gerar
renda, melhorando ou não a qualidade de vida das comunidades locais e garantindo
ou não a satisfação dos turistas. A infra-estrutura, os equipamentos e serviços
poderão ser organizados tanto em prol da comunidade local, quando no nível básico,
quanto para garantir a satisfação dos turistas, quando no nível de apoio turístico.
Por isso, além dos atrativos fazerem parte da paisagem, também estão inseridos
nela o conjunto de empreendimentos e negócios diretamente relacionados ao
turismo, os seja, os equipamentos e serviços que fazem parte da oferta turística
diferencial e que movimenta a economia do destino e do seu entorno. Tomando
como base os conceitos de Beni (2003), Cooper (2007), Dias (2005), OMT (2005)
podemos dividi-los em:
Meios de Hospedagem: estabelecimentos classificados e não classificados que
oferecem hospedagem mediante pagamento. Exemplos: hotéis padrão, hotel de
lazer, hotel residência/suíte service, hotel clube, hotel de saúde/spa, hotel
60
fazenda, eco hotel, hotel em terminal de transporte, lodge, motel, pensão,
pensionato, colônia de férias, hospedarias, hostels, pousada, parador, apart-
hotel, flat, acampamento de férias, acampamento turístico, imóvel locado,
segunda residência, quarto leito em casas de família, alojamentos de turismo
rural, albergues;
Serviços de Alimentação: prestação de serviços de alimentação e bebidas que
atendem a aspectos e exigências variados, mediante pagamento. Exemplos:
restaurantes, bares/ cafés/lanchonetes, casa de chá/confeitarias, cervejarias,
casas de sucos e sorvetes, quiosques de praia ou de campo;
Lazer e Recreação: locais destinados a proporcionar divertimento, dotados de
equipamentos e serviços indispensáveis à atividade turística. Exemplos: áreas de
lazer e instalações desportivas, terminais de turismo social e de lazer/balneários,
parques de diversões e temáticos, parques/jardins/praças, clubes, pistas de
esqui, patinação, motocross, bicicross, estádios, ginásios, hipódromos,
autódromos, cartódromos, marinas/atracadouros, mirantes, belvederes, boates e
danceterias, casa de espetáculos, casas de samba e gafieira, escolas de samba,
cinema/teatro, locais de espetáculos públicos;
Serviços Turísticos: agências de viagens e turismo, transportadoras turísticas,
centros de informação turística, locadoras de imóveis, locadoras de veículos,
posto de gasolina, oficinas de serviços autorizados e concessionárias de veículos
nacionais e importados, lojas de artesanato e souvenirs, shopping
centers/centros comerciais, galerias de arte e antiguidades, boutiques e lojas de
grife, casas de câmbio, instituições bancárias, centros de convenções e
congressos, parques e pavilhões de exposições, auditórios, embaixadas,
consulados e escritórios comerciais.
É nesse sentido que os efeitos econômicos do turismo podem ser considerados
como diretos, quando são gerados pelos prestadores de serviços ligados
diretamente ao turismo: os serviços e mercadorias de linha de frente locais [citados
acima]; indiretos, quando gerados pela aquisição de serviços e mercadorias de
outros setores da economia local; e induzidos, quando a renda local se na forma
de ganhos, salários, distribuição de lucros, aluguéis e juros. também o custo de
61
deslocamento e oportunidade, quando os gastos realizados com o desenvolvimento
da atividade turística são deslocados de um outro setor da economia para este
(COOPER, 2007).
Os setores industriais de uma economia são interdependentes e reconhece-se o fato
de que as vendas de uma firma ou empresa exigem compras de outras empresas
dentro e fora da economia local, o que caracteriza também o desenvolvimento do
turismo, o seu efeito multiplicador.
[...] Portanto, uma mudança no nível de demanda final para a produção de
um setor afetará não somente a empresa que produz o bem/serviço final,
mas também outros setores que fornecem bens/serviços para aquele setor,
bem como os fornecedores dos fornecedores (COOPER, 2007, p. 180).
várias abordagens metodológicas ou tendências para se medir os efeitos
econômicos do turismo. Tomamos como exemplo os destacados por Cooper (2007),
como os modelos de Teoria de Base, do Multiplicador Keynesiano, ad hoc, de
Análise insumo-produto e de Equilíbrio Geral Computável (EGC). Porém, nenhuma
dessas abordagens trabalha a questão da percepção da comunidade local com
relação a esses efeitos, ou seja, as questões econômicas qualitativas não são
levantadas, mas deduzidas com base em resultados numéricos.
Com base em Dias (2005), OMT (2005) e Cooper (2007), citamos como possíveis
efeitos econômicos do turismo que poderão ser percebidos na paisagem de
localidades turísticas, a entrada de renda, efeito multiplicador, complementação à
agricultura e ou à indústria, criação de emprego, criação e/ou melhora da infra-
estrutura, melhor distribuição de renda, o aumento dos preços, os custos de
oportunidade, excessiva dependência da economia local ou a diversificação do
comércio, o aquecimento do setor de construção civil, a expansão urbana e o
aumento da frota de veículos, entre outros.
62
7. PANORAMA GERAL DE TAQUARUÇU
Local escolhido para observarmos os aspectos perceptivos da comunidade local
com relação aos efeitos do turismo na paisagem e sobre o próprio turismo
Taquaruçu
7
, um hospitaleiro distrito localizado no município de Palmas (TO),
compreende uma área total de 63.918,45 hectares (1.243,5km²) banhados pela sub-
bacia do Ribeirão Taquaruçu Grande, pertencente à Bacia do Rio Tocantins.
Ilustração 1: Mapa de Localização do Município Palmas e do Distrito
Taquaruçu.
7
O termo taquaruçu tem origem no tupi, que significa canoa oca grande. Sua grafia foi alterada ao
longo dos anos de ta’ kwara u’su para taquarussu e atualmente, seguindo as normas vigentes da
língua, deve ser grafado taquaruçu. O termo também refere-se a uma planta muito comum na região,
os bambus ou taquaras, conhecidos como taboka ou taquarussu. Através da Lei 989/01, de 27 de
abril de 2001, o termo que identifica o distrito passou a ser grafado oficialmente como Taquaruçu.
63
Situado nas encostas da Serra do Carmo, ou Serra do Lajeado, como também é
chamada, dista 32 km da capital e possui cerca de 2.869 habitantes (IBGE, 2000),
dentre estes, residentes que migraram de outros estados como Piauí, Goiás,
Maranhão, São Paulo e Minas Gerais.
Suas paisagens, vistas de vários pontos, nos revelam mesclas de elementos do
Cerrado, da Caatinga e da Floresta Amazônica, dotando-as de boas vantagens
comparativas em relação às demais paisagens do Estado, principalmente com
relação ao grau de atratividade que exercem nas pessoas e que leva ao
desenvolvimento do turismo.
Taquaruçu com seu conjunto paisagístico diversificado e de grande beleza cênica
chegou a ser chamado de 'Admirável Vale das Águas' e a ser considerado um
refúgio ecológico (AMATUR, 2002).
O conjunto dos elementos naturais, socioculturais e econômicos que se apresentam
em Taquaruçu é que caracterizam suas paisagens, dotadas de uma geologia
composta por rochas do Complexo Goiano, que datam de 550 a 505 milhões de
anos atrás, por relevos baixos e elevados, com solos diversificados, devido a
associação de diferentes formas rochosas e geomorfológicas, apresentando
superfícies cimeiras, vertentes escarpadas, fundos de vale e calha (UNITINS, 1999).
Nessas superfícies podemos observar coberturas vegetais características do
cerradão, das veredas e das matas de encosta ou galeria, além da abundância de
recursos hídricos, diversidade de aves, como o periquito verde, arara canindé, bem-
te-vi, anu preto e mamíferos, como o inhambu, mucura e raposa. Dentre os répteis,
as serpentes são os principais representantes (AMATUR, 2002).
Com temperaturas variando entre 10°C e 34°C, proporciona sensação térmica
quente durante o dia e fresca durante à noite, com período chuvoso de janeiro a
março e seco de agosto a outubro, apresentando índice pluviométrico médio de
1.600mm (UNITINS, 1999).
A urbanização do distrito é predominantemente horizontal, apresentando ainda
algumas construções em adobe, apesar da maioria ser de alvenaria industrializada.
ainda abastecimento de água, coleta de lixo, fornecimento de energia elétrica,
64
sistema de transporte urbano, sistema de comunicação e telecomunicação, sistema
de segurança e equipamento médico-hospitalar (AMATUR, 2002).
A agricultura é de subsistência e os principais produtos são o arroz, feijão, mandioca
e milho. A bovinocultura de corte e de leite é explorada e destaca-se também a
criação de outros tipos de animais, como suínos, eqüídeos, ovinos e caprinos
(AMATUR, 2002).
Os estabelecimentos comerciais, em sua maioria são de pequeno porte e de
estrutura familiar, destacando-se o comércio de gêneros alimentícios, farmacêuticos,
veterinários e materiais de construção, predominando unidades informais no setor
de prestação de serviços (AMATUR, 2002).
Como sua população é composta por migrantes dos estados do Piauí, Maranhão,
Goiás, o Paulo, Minas Gerais e do próprio Tocantins, “a cultura [...] trazida pelos
imigrantes e as dificuldades de acesso a Taquaruçu contribuíram para a preservação
dos seus costumes, tradições e valores” (AMATUR, 2002, p. 6) e para a diversidade
dos mesmos.
Esse quadro sobre Taquaruçu nos permite constatar um misto de atrativos naturais e
artificiais
8
que são vivenciados cotidianamente pela comunidade local e que foram
percebidos pelos seus gestores públicos, constituindo um dos componentes da
oferta turística, os atrativos turísticos.
No entanto uma distinção se faz necessária, segundo Beni (2003), um atrativo
turístico é todo lugar, objeto ou acontecimento de interesse turístico que provoca o
deslocamento de indivíduos para conhecê-los. Ele deve ser um elemento que
recebe visitantes e que tem estrutura para proporcionar uma experiência de turismo,
caso contrário ele deve ser considerado um recurso, natural
9
ou artificial
10
.
Nesse sentido, Taquaruçu dispõe de muitos recursos turísticos, mas poucos que
podem ser considerados efetivamente como atrativos dotados de infra-estrutura
8
Os atrativos artificiais podem ser sub-divididos em: histórico-culturais, manifestações e usos
tradicionais e populares, realizações técnicas e científicas e acontecimentos programados (BENI,
2003).
9
Recurso Natural: constituído pelos elementos naturais físicos e biológicos (BENNI, 2003).
10
Recurso Cultural: constituído de valores criados pela atividade do homem (BENNI, 2003).
65
turística.
Dentre os recursos e/ou atrativos turísticos naturais foram inventariados seis vales
com paisagens de rara beleza cênica, denominados: Vale do Sumidouro, Vale do
Taquaruçu, Vale do Taquaruçu Grande, Vale do Mutum, Vale do Vai Quem Quer e
Vale do Piabanha, auto-intitulando o distrito de “Admirável Vale das Águas” (VIEIRA,
2008).
Cada vale contempla uma área composta por atrativos e ou recursos naturais como
quedas d’água, cachoeiras, montanha/serra, planalto/patamares, hidrografia/ribeirão,
cascata e gruta. O Vale do Sumidouro compreende os atrativos que estão no distrito
e no seu entorno próximo.
Dentre os recursos e/ou atrativos culturais, destacamos a gastronomia, com
alimentos e bebidas como o Arroz Maria Isabel, Paçoca, Beiju de Coco, Chambari,
Mangulão, Mané Pelado, Canjica, doces e licores de frutas típicas; o artesanato de
Ilustração 2: Mapa do Vale do Sumidouro (AMATUR,
2002).
66
palmeiras do babaçu e do buriti como balaios, cofos, cestos, esteiras, petecas,
bonecas, flores, chapéus, rebecas, carrinhos, colares, brincos, vassouras e redes; o
folclore com a Roda de São Gonçalo, Festejos da Padroeira; e os acontecimentos
programados como a Feira Artesanal da Serra, Festival Gastronômico, marchinhas,
rezas e cantorias.
O cenário que se apresenta em Taquaruçu, tomando como base os estudos da
AMATur (2002), Dourado (2004), Camargo (2005) e Vieira (2008), com relação ao
desenvolvimento do turismo, no período de 2002 (marco da implantação do Pólo
Ecoturístico de Taquaruçu) a 2009 é caracterizado pela percepção dos gestores
públicos sobre o potencial de atratividade de suas paisagens.
Segundo Dourado (2004), a instalação do Pólo foi uma ação dentro do plano
estratégico de desenvolvimento para o distrito, estabelecido pela Prefeitura
Municipal de Palmas, com o objetivo de gerar emprego e renda.
Agregado a isso, melhoria da qualidade de vida da comunidade local que
experimentava a intensa procura das pessoas pelos atrativos naturais de Taquaruçu,
especificamente os balneários e também as conseqüências dessa procura, a
degradação ambiental.
A percepção sobre o potencial de atratividade das paisagens de Taquaruçu para o
desenvolvimento da atividade turística foi apreendida pelos gestores públicos que
buscaram, a partir da mobilização comunitária, promover melhoria nas condições
socioeconômicas do distrito, identificando as vocações e potencialidades turísticas,
através de um plano de ações para o “desenvolvimento turístico receptivo” de
Taquaruçu (RUIZ, 2002, citado por AMATUR, 2002, p. 1).
Em agosto de 2001, foi instalado o Pólo Ecoturístico de Taquaruçu, fruto de um
projeto apresentado a todos os empresários do município ligados ao turismo e às
pessoas interessadas em investir na localidade.
Segundo Dourado (2004), a população não participou do processo de discussão e
elaboração do projeto, porém o Pólo Ecoturístico gerou grandes expectativas com
relação ao desenvolvimento local. Mas as expectativas de mudanças, principalmente
nos campos social e econômico, gerados por ocasião da apresentação do projeto do
67
pólo para a comunidade, não corresponderam à realidade.
O projeto teve como objetivo geral o desenvolvimento da atividade turística em
bases sustentáveis e o reconhecimento do direito e do dever da população de se
engajar no processo. No entanto, em sua metodologia não foi contemplada a
percepção da comunidade sobre o turismo e sobre os seus efeitos positivos e
negativos.
Ao inventariar a oferta turística de Taquaruçu, foram levantadas informações sobre
os atrativos, os equipamentos e serviços e a infra-estrutura básica de apoio e ao
caracterizar a demanda turística, foram levantadas informações sobre os gostos,
preferências e o comportamento dos turistas (AMATUR, 2002).
O turismo é um fenômeno de múltiplas facetas “que se interrelaciona com diversos
segmentos econômicos e demanda um complexo conjunto de ações setoriais para o
seu desenvolvimento” (MTUR, 2007, p.13) pois está intimamente relacionado com o
crescimento econômico e com o desenvolvimento sustentável.
Nesse sentido, a conjuntura política do turismo no Brasil, paralela aos processos de
crescimento e desenvolvimento do distrito, contextualizou o desenvolvimento do
turismo segundo o Programa Nacional de Municipalização do Turismo PNMT, nos
períodos compreendidos entre 1995-1998 e 1999-2002 (BRASIL/PNMT, 1995) e o
Programa Nacional de Regionalização do Turismo PNRT, nos períodos
compreendidos entre 2003-2006 e 2007-2010 (MTUR, 2003-2007).
Esses programas nacionais nortearam a elaboração do Diagnóstico Turístico de
Taquaruçu, lançado em 2002, pela Prefeitura Municipal de Palmas que propôs então
um plano estratégico de ações e parcerias para o desenvolvimento da atividade e a
implantação do Pólo Ecoturístico de Taquaruçu.
Ambos os programas e o próprio Plano Nacional de Turismo PNT 2007-2010, que
tem como tema a inclusão, não preconizam estudos sobre a percepção da
comunidade receptora para o desenvolvimento da atividade, somente os estudos
sobre oferta turística e perfil da demanda turística.
No entanto, saber como os indivíduos e grupos sociais percebem o ambiente em
68
que vivem e suas fontes de satisfação e insatisfação é fundamental, para a
realização de um de um trabalho com bases locais, partindo da realidade da
comunidade receptora (FRAGGIONATO, 2008).
A abordagem perceptiva da comunidade de Taquaruçu, com relação ao turismo e
seus possíveis efeitos na paisagem e no cotidiano era de fundamental importância
para o planejamento e desenvolvimento da atividade dentro dos princípios da
sustentabilidade.
Hoje, ao fazermos referência ao pólo, percebemos “na comunidade, um misto de
revolta e de decepção” pois a perspectiva de melhores condições de vida,
alimentada pela população do distrito durou pouco, “para ser mais precisa, durou
apenas um ano”, de 2001 a 2002 (DOURADO, 2004, p. 2).
Alguns acontecimentos, nesse período, contribuíram para o “boom do turismo” em
Taquaruçu, que apresentou fluxo turístico devido a inauguração do novo Terminal
Rodoviário de Palmas, do Aeroporto Brigadeiro Lysias Rodrigues e da Usina
Hidrelétrica Luiz Eduardo Magalhães (DOURADO, 2004).
Entretanto, mesmo tendo sido realizadas reuniões com a comunidade local para a
instalação do Pólo, “de acordo com os próprios moradores do distrito” (DOURADO,
2004, p. 6) as reuniões tiveram como objetivo comunicar a comunidade sobre o
projeto ecoturístico.
Isto ocasionou a não participação efetiva da comunidade no processo de discussão
e elaboração do projeto, que acabou sendo literalmente ‘instalado’ e não
desenvolvido.
Cabe aqui uma tomada de consciência crucial, a de que a comunidade local não foi
ouvida sobre a sua possível identidade com a atividade turística e seus efeitos, não
foi perguntada sobre os seus valores e não foi observada segundo suas escolhas e
comportamentos diante do novo cenário que se apresentaria.
Ninguém melhor do que a própria comunidade, que percebe cotidianamente o
mundo a sua volta, experiencia e aprende ao experienciar, a criar ordem e a
organizar o que se apresenta diante dos seus olhos e de acordo com as suas
69
preferências, dizendo assim, de que forma gostariam que o turismo fosse
desenvolvido (MACHADO, 1999, p. 98).
A riqueza natural das paisagens de Taquaruçu parece inesgotável:
[...] São locais ainda intocados, de grande complexidade ecológica, a serem
apreciados e explorados turisticamente de forma sustentável. Do alto da
Serra do Lajeado despencam dezenas de cachoeiras, formando piscinas
naturais de águas puras e cristalinas. Paredões brotam da terra convidando
o visitante para escaladas e contemplação da visão magnífica de todo
distrito (citado por AMATUR, 2002, p. 2).
Mas essa é a percepção típica de um indivíduo que não reside em Taquaruçu e
assim a comunidade se viu diante de uma nova realidade, a de residir em uma
localidade considerada Pólo Ecoturístico, situação essa para a qual não estava
realmente preparada. Não foi permitido à comunidade se manifestar com relação a
sua identificação com as paisagens, aos valores que atribuem a elas, as escolhas e
comportamentos diante delas. O Pólo deve representar para essa comunidade um
espaço agregador no qual ela participe de todo o processo usufruindo os benefícios
gerados e tendo seus valores socioculturais e ambientais respeitados.
70
8. ABORDAGEM PERCEPTIVA DA PAISAGEM E DO TURISMO EM
TAQUARUÇU
“El paisaje visitado, es históricamente construido por las personas que viven
en el destino turístico, forma parte de su patrimonio y es uno de los
atractivos presentados al denominado turismo” (Guillermo Miranda Román).
A capacidade dos indivíduos e grupos sociais de perceberem o mundo a sua volta
está no centro dos estudos de diversas áreas do conhecimento, como a filosofia, a
psicologia, a geografia e mais recentemente, o turismo. As abordagens baseadas na
percepção, nas atitudes e no comportamento dos indivíduos e grupos sociais
passaram a ser um elemento comum e quiçá necessário no repertório das ciências
sociais e humanas (OLIVEIRA, 1975).
O turismo, mesmo não sendo ainda efetivamente uma ciência, não ficou à parte.
Movimentando ambiental, sociocultural e economicamente toda a sociedade,
provoca interações entre o homem ‘turista’ e o ambiente que este visita, entre o
homem ‘turistado’ e o ambiente transformado para o turismo, entre o homem ‘turista’
e o homem ‘turistado’, sendo importante também a aplicação de estudos perceptivos
para análise dessas relações.
Segundo a OMT (2001), a abordagem perceptiva é uma importante ferramenta para
o planejamento da atividade turística e nesse sentido os estudos perceptivos podem
ser empregados para averiguar o modo como os anfitriões, ou a comunidade
receptora, percebe o turismo e os efeitos ou transformações na paisagem.
Por turismo, tomamos o conceito da Organização Mundial do Turismo – OMT (2001),
que o entende como as atividades que realizam as pessoas durante suas viagens e
estadas em lugares diferentes do seu entorno habitual, por um período consecutivo
inferior a um ano, com finalidade de lazer, negócios ou outras. Salientamos que,
independentemente da motivação das viagens, as atividades desenvolvidas não
podem ser remuneradas, conforme o entendimento da OMT (2001).
A percepção dos moradores sobre a paisagem local, sobre a atividade turística e
71
sobre seus efeitos na paisagem foram estudadas, interpretadas e descritas através
das técnicas de pesquisa em percepção ambiental, pioneiramente elaboradas por
Anne Whyte (1977), por ocasião do Programa Man and Biosphere MAB ligado à
UNESCO.
O trabalho de Whyte (1977), vanguardista internacional nesse processo, é citado até
hoje nos referenciais teóricos de trabalhos que tratam da relação do homem com o
meio ambiente, através da percepção ambiental.
O objetivo da análise foi a compreensão de um processo no qual cada indivíduo
manifesta os aspectos subjetivos de sua experiência com a paisagem em questão.
Logo, torna-se importante salientar que é o sujeito que percebe a paisagem no seu
uso mais cotidiano e expressivo, que nos interessou nesta pesquisa.
As formas de abordagem utilizadas foram os elementos componentes do que Whyte
chamou de “triângulo metodológico”, que constituem a base da pesquisa em
percepção ambiental: Ouvindo, Perguntando e Observando (WHYTE, 1977, p. 19).
Com base em Machado (1997), podemos dizer que “o estudo dos efeitos do turismo
através de uma abordagem perceptiva, ganha novas cores e nuanças, de acordo
com as diferentes maneiras pelas quais as pessoas conhecem e constroem a
realidade” (MACHADO, 1997, p. 20).
As mudanças ambientais, socioculturais e econômicas que os homens criam não
deveriam ultrapassar suas potencialidades adaptativas, de tal modo que não
diminuam sua qualidade de vida. Mas cada pessoa tem uma percepção que é
Ilustração 3: Triângulo Metodológico de Anne
Whyte (1977).
PerguntandoOuvindo
Observando
72
individual e “emoldurada pela inteligência, que oferece diferentes formas cognitivas
para os inúmeros conteúdos perceptivos” (MACHADO, 1997, p. 19).
Quando tratamos de um lugar turístico, a percepção do ambiente é mais aguçada,
pois a paisagem é um fator de atração que pode ser contemplado pelo olhar, como a
beleza, a composição, a harmonia das formas e cores que não passam
despercebidas. “Para a população e governos locais, porém, impõe-se o desafio de
desmitificar, mais do que essas imagens, o processo pelo qual elas são produzidas e
continuamente reelaboradas, tomando para si o controle das decisões sobre a
‘turisficação’ do espaço” (SILVA, Maria Lanci da, 2008, p. 7).
Nesse sentido, foi preciso ouvir, perguntar e observar para chegarmos a
considerações que contemplassem realmente a percepção do morador local e
contribuirmos nos processos futuros de gestão do turismo.
A experiência do contato direto com o ambiente neste trabalho é que determinou a
percepção da paisagem, seja ela com base no aspecto visual, olfativo, auditivo,
palativo ou táctil. Todavia, conforme Oliveira e Machado (2004) o aspecto visual foi o
mais importante para o estudo.
Em geral, a utilidade dos estudos de percepção ambiental se quando “os
resultados na forma de descobertas ou conclusões usualmente apresentadas em
relatórios escritos, podem ser usados na formulação de políticas e estratégias de
governo” (WHYTE, 1977, p. 108), ou seja, podem auxiliar no planejamento e
organização do uso dessa paisagem e dos espaços para os mais variados fins.
O local receptor (área de estudo) escolhido foi Taquaruçu, um pequeno distrito de
Palmas (TO), com rica diversidade de paisagens que apelam pelo seu uso turístico e
de lazer de forma sustentável.
Os sujeitos, cidadãos que compõe o que chamamos de comunidade local, residem
no local receptor e foram selecionados aleatoriamente, em suas residências, em
diferentes logradouros, sendo identificadas as variáveis, ou características ideais
dos mesmos, como idade e tempo de moradia.
Através de uma ficha de informações pessoais, foram registradas as variáveis
73
'característica individual'
11
e 'grupal'
12
dos sujeitos em cada estratégia da pesquisa,
acompanhando o corpo dos instrumentos adotados.
Essas variáveis tornaram possível a descrição e classificação dos indivíduos diante
do grupo pesquisado e a classificação do próprio grupo. Os atributos foram: tempo
de moradia no local de pelo menos 07 anos e idade de pelo menos 14 anos.
Partimos do pressuposto de que Taquaruçu não alcançou ainda a condição ideal
para que ocorra o desenvolvimento do turismo de forma sustentável, uma vez que
ocorreu um aumento da atividade turística durante o período de implantação do Pólo
Ecoturístico (DOURADO, 2004), mas envolvendo poucas pessoas,
predominantemente com tipos de turismo alternativo.
Segundo Dias (2005), não houve sustentabilidade porque algumas dimensões do
turismo sustentável não estavam em equilíbrio com as demais, não podendo ser
economicamente viável ainda, pois não produziu, nem produz efeitos positivos,
como o aumento da renda e do emprego.
Isso poderia ter se dado em virtude de várias possibilidades, dentre elas
destacamos: a não percepção da comunidade local sobre as vantagens
comparativas do conjunto paisagístico de Taquaruçu; a não participação efetiva
dessa mesma comunidade nos de planejamento, implantação e gestão da atividade;
a não consideração dos gestores públicos sobre os efeitos positivos e negativos da
atividade, segundo o grau de satisfação da comunidade local; e o aproveitamento da
paisagem como recurso turístico segundo a percepção de quem a contempla e não
de quem a vivencia.
O que nos revelaria as implicações sobre a implantação/instalação de projetos
11
Atributos que tornam possível a descrição e a classificação dos indivíduos diante do grupo
pesquisado (WHYTE, 1997, p. 88).
12
Atributos capazes de descrever e classificar os grupos estudados (WHYTE, 1977, p. 88).
Ilustração 4: Linha do Tempo, adaptada de Milagres (2008).
74
turísticos, como pólos de turismo e ecoturismo, sem levantar informações sobre a
percepção da comunidade local receptora acerca do turismo e seus efeitos. Ou seja,
sem o estudo do perfil da comunidade receptora, visitada pelos turistas.
Para esclarecer, segundo Petrochi (2001), a definição de pólo tem como base o
conceito de clusters, elaborado por Porter (1999), como sendo “concentrações
geográficas de empresas produtoras, fornecedoras de equipamentos, serviços e
instituições associadas, todas especializadas ou voltadas para um único campo de
produção”, no caso de Taquaruçu, o campo do turismo, especificamente do
ecoturismo.
O ecoturismo, por sua vez, é um segmento da atividade turística que deve utilizar de
forma sustentável, o patrimônio natural e cultural, deve incentivar sua conservação e
buscar a formação de uma consciência ambientalista através da interpretação do
ambiente, promovendo o bem estar das populações envolvidas (MTUR, 2006).
Entretanto, destacamos com base em Beni (2003), que o ecoturismo além de ser
caracterizado pelo deslocamento de pessoas a espaços naturais delimitados e
protegidos pelo poder público, associações locais e organizações não
governamentais, deve pressupor:
[...] sempre uma utilização controlada da área com planejamento de uso
sustentável de seus recursos naturais e culturais, por meio de estudos de
impacto ambiental, estimativas da capacidade de carga e suporte local,
monitoramento e avaliação constantes, com plano de manejo e sistema de
gestão responsável (BENI, 2003, p. 429).
Esse esclarecimento nos aponta o fato de que a percepção da comunidade
receptora acerca do planejamento e desenvolvimento do turismo, bem como da
implantação/instalação de pólos, também deve ser levantada e considerada para
que seja garantida a promoção do seu bem estar.
Outros estudiosos
13
também lançaram mão da abordagem perceptiva do ambiente e
das paisagens contribuindo para que aconteça a recuperação, os resgate e a
revitalização: nas pessoas, do sentimento de pertencimento e afetividade pelas
paisagens a sua volta, pelo lugar onde residem e transitam dia a dia; nas paisagens,
os elementos ambientais, socioculturais e econômicos capazes de levar ao
13
Bley (1990), Machado (1988), Del Rio (1999), Kohlsdorf (1999), Silva (2003a), Silva (2003b), Batista
(2003), Barrocas (2005), Camargo (2005) e Dourado (2004).
75
desenvolvimento e alcance da sustentabilidade, propondo assim, uma convivência
harmoniosa entre as paisagens que envolvem as pessoas e as pessoas que
rodeiam e estão inseridas nas paisagens.
Conhecer a percepção da comunidade local de Taquaruçu sobre as vantagens
comparativas do seu conjunto paisagístico, com base em Del Rio (1999), é
levantarmos junto aos usuários dessas paisagens, as necessidades que deveriam
ser atendidas para que o processo de mudança física e social negativa pudesse ser
revertido. O que evidenciaria a necessidade de incluir a população nos processos de
planejamento e tomada de decisão e também redirecionamento dos investidores
potenciais para fortalecer a percepção positiva de Taquaruçu.
Isto nos levou a verificar se houve a participação efetiva da comunidade nos
processos de planejamento, implantação e gestão da atividade, pois o
desconhecimento dos indivíduos e grupos sociais acerca do valor de seus produtos
socioculturais e até econômicos leva ao planejamento urbano através da construção
de uma imagem e de uma apropriação social dos espaços urbanos segundo o
‘perceberdo outro, gerando riscos de deterioração algumas vezes irreversível, pela
falta de afeto ou apego aos novos produtos que são apresentados (LEMOS, 2005).
[...] parece-nos que a imagem urbana construída e veiculada cria um campo
dentro do qual é preciso mover-se. Entender como as pessoas se movem
neste campo, como criam e recriam seus sistemas de representação
constitui-se em desafio que, certamente, poderá contribuir para a
emergência da desejável pluralidade de leituras do lugar vivido (GARCÍA,
1999, p. 96).
Segundo Del Rio (1999), uma questão muito comum nos planos nacionais, regionais
e locais para o desenvolvimento do turismo é o conflito de interesses sobre a
revitalização e os interesses do sistema econômico, muitas vezes ligado à
preservação da história e do patrimônio arquitetônico, exacerbadamente com
intenções de recuperação econômica auto sustentada, utilizando padrões narrativos
e imagens populares para reconstruir teatralmente a história, atraindo assim
consumidores ou turistas.
Verificar se os gestores públicos consideraram os efeitos positivos e negativos do
turismo, segundo os valores ou o grau de satisfação da comunidade local pode
chamar a atenção para a importância das paisagens para essa comunidade e suas
76
expectativas quanto ao estabelecimento de inter-relações e restabelecimento de
relações com as mesmas e com o próprio desenvolvimento da atividade turística.
Segundo Castello (1999), muitas vezes o que é apontado como melhoria de infra-
estrutura pelos gestores públicos e privados, sem consulta à comunidade, acaba por
excluir da paisagem elementos que atendem à própria sobrevivência da comunidade
naquele lugar ou que até mesmo motivou a permanência dos mesmos ali, por
questões de sobrevivência, tomando para si um ambiente construído em prol do seu
bem estar, porém descaracterizado na sua origem.
Nesse sentido podemos dizer que o lugar, assim como as paisagens, torna-se uma
cópia ou representação imperfeita e grosseira do cotidiano falseado da comunidade,
um verdadeiro simulacro.
[...] Deste ponto de análise pode resultar alto grau de legitimidade do que se
vier a propor para a melhoria da qualidade ambiental, assegurando
proposições bem contextualizadas e atenuando as inquietações dos
planejadores, cujas proposições estarão mais próximas das expectativas
dos que vivem e se utilizam do ambiente projetado, pois estes estarão
instruindo, eles próprios, o que projetar (CASTELLO, 1999, p. 37).
Por isso devemos ter o cuidado para não suprimirmos o caráter verdadeiro das
paisagens, pois:
[...] Com mercados regional, nacional e internacional cada vez mais (sic)
competitivo, as cidades utilizam cada vez mais da imageabilidade em suas
estratégias de marketing para atrair investidores, turistas, consumidores e
até mesmo novos moradores, fato muito bem explorado no primeiro mundo;
no Brasil, destaca-se Curitiba (DEL RIO, 1993 citado por OLIVEIRA, 1999,
p. 22).
Devemos compor um quadro que represente a coletividade, suas preferências e
expectativas, diríamos também, no caso do turismo, o perfil da comunidade
receptora por meio da participação. O que reforça a hipótese sobe insucesso da
implantação do Pólo Ecoturístico, a de que as paisagens de Taquaruçu foram
aproveitadas como recurso turístico segundo a percepção de quem a contempla e
não a de quem a vivencia cotidianamente.
Para Machado (1988), fica claro que no caso do turismo a percepção dos moradores
sobre as paisagens é antes de mais nada, diferente da percepção dos turistas, bem
como o uso que farão e o valor que darão a elas.
77
Muitas vezes:
[...] os desejos e as aspirações da inter-relação, que terá seu próprio modo
de vida afetado pela decisão tomada, são esquecidos ou perdidos. A própria
estrutura espacial é alterada por essas decisões que, com freqüência, não
respeitam a dinâmica do complexo da paisagem, tendo em vista que
são geralmente tomadas no âmbito de uma metodologia fragmentada,
característica de nossas disciplinas acadêmicas e dos organismos
governamentais (MACHADO, 1999, p. 100).
A compreensão qualitativa sobre a ‘paisagem vivida’ no seu cotidiano pode se dar
segundo duas formas básicas: as manifestações topofílicas, de apego e/ou as
manifestações topofóbicas, de desapego ou medo dos produtos sociais, sejam eles
em relação às paisagens, aos lugares, ao espaço ou à própria atividade turística
(TUAN, 1980).
Entretanto, essas formas de relação nem sempre estão expressas na produção
acadêmica e política para o desenvolvimento do turismo, pois estas estão
empenhadas em:
[...] ajustar a realidade às suas teorias, leis e modelos. Enquanto isso, uma
expressiva gama de fenômenos cotidianos continuamente colocada à tona
pelos usuários é sistematicamente negligenciada sob o argumento de que a
ciência é isenta de valores e não pode trabalhar com significados, com o
imponderável (MACHADO, 1999, p. 119).
Segundo Butler (1980), os destinos turísticos possuem um “ciclo de vida”, com seis
estágios ou fases que se apresentam no decorrer do tempo: exploração,
envolvimento, desenvolvimento, consolidação e o declínio ou o rejuvenescimento;
segundo Doxey (1976), a comunidade local apresenta graus de satisfação com
relação à atividade turística, segundo ‘índices de irritação’: euforia, apatia, irritação,
antagonismo e depreciação.
Ambos nos permitem compreender segundo seus estudos, as várias percepções
que o indivíduo e os grupos sociais podem ter sobre o turismo e os prováveis efeitos
que a atividade pode causar se não for levada em consideração a percepção da
comunidade local.
Para Almeida (2003), o turismo em suas atividades:
[...] (re) cria, inventa novas formas, funções, processos e ritmos,
dinamizando os lugares, as paisagens, os territórios, as regiões [...] enfim, o
próprio espaço, numa simbiose entre o particular e o universal, o local e o
global (ALMEIDA, 2003, p. I).
78
Nesse contexto, uma coletânea de trabalhos que refletem a multiplicidade de
questões do debate contemporâneo sobre turismo, principalmente no sentido de
explicar o desconhecimento dos atrativos turísticos existentes nos lugares, até
mesmo de Taquaruçu, tanto pela comunidade quanto pelos gestores, uma vez que
não estão habituados a vivê-los, ou seja, a experienciá-los.
Batista (2003), no sentido no sentido de entender a paisagem concebida e vivida
pelos moradores de Pirenópolis-GO, analisou e interpretou trechos das entrevistas
com os sujeitos de sua pesquisa, concluindo que para os moradores locais:
[...] a paisagem ultrapassa sua característica de qualidade visual, de valor
estético, enquanto que, para o turista, é nessa materialidade que se
concentra sua importância, pelas formas e cores e como porção visível do
espaço, ela se constitui em um dos principais elementos no direcionamento
turístico (BATISTA, 2003, p. 119).
O autor nos leva a considerar outra hipótese a ser verificada, a de que antes da
comunidade local perceber as paisagens de Taquaruçu, segundo valores estéticos,
ela as percebe segundo uma hierarquia de necessidades físicas, biológicas e sociais
que necessitam ser sanadas, para que o belo e agradável possa ser contemplado.
Silva, (2004) reforça essa conclusão ao afirmar que as modificações instauradas nas
paisagens, que geram novas estruturas ambientais, socioculturais e econômicas,
também “visam a conceber uma ‘nova’ paisagem receptiva ao turista” (SILVA, Maria
da Glória Lanci, 2004, p. 87), e não aos grupos sociais que a vivenciam
cotidianamente.
79
9. OPERACIONALIZAÇÃO DA PESQUISA
“A pesquisa teórica fornece um mecanismo de geração de idéias e
desenvolvimentos teóricos que permite descobrir, inventar ou projetar
situações do mundo do turismo em benefício da competitividade do setor. A
pesquisa aplicada, ou seja, bem antes da ação e da tomada de decisão,
constitui um processo de materialização das idéias nascidas em outros
lugares e é um dos instrumentos mais eficientes [...] para assegurar sua
competitividade e a sustentabilidade” (Organização Mundial do Turismo).
Vários trabalhos nos forneceram subsídios para utilização da teoria e das técnicas
de percepção ambiental como meio para a obtenção de informações valiosas acerca
dos aspectos subjetivos relacionados à paisagem e ao turismo, a partir da
experiência do indivíduo.
Para definição das abordagens e respectivas técnicas, destacamos os trabalhos de
Whyte (1977), Machado (1998), Barrocas (2005) e as estratégias de Bley (1990).
Machado (1998), adotou como instrumento de medida um questionário dividido em
partes, para avaliar as percepções ambientais e as atitudes ambientais de pessoas
que estabeleciam relações de moradia e trabalho, relações de estudo e pesquisa e
relações técnico-administrativas com a paisagem da Serra do Mar paulista. Isto
permitiu a ela a avaliação dos aspectos da topofilia, que segundo Tuan (1980), é o
apego à paisagem ou ao lugar.
Barrocas (2005), em pesquisa realizada na cidade Brotas (SP), também empregou
como instrumento de medida um questionário, dividido em duas partes: “a primeira
com a finalidade de obter os dados pessoais dos sujeitos (...) e a segunda contendo
questões abertas, para colher dos moradores informações sobre sua relação com a
atividade turística e com o turista” (BARROCAS, 2005, p. 75).
Bley (1990), para a estratégia ‘perguntando’ utilizou uma folha com título ‘A
paisagem mais agradável de Morretes’, onde sujeitos descreveriam uma paisagem,
com o objetivo de reconhecer como ela é valorizada por eles; na estratégia
‘ouvindo’, valeu-se de fotografias e um questionário, para que as paisagens fossem
identificadas e avaliadas pelos sujeitos; e para a estratégia ‘observando’, a técnica
80
escolhida foi visita guiada, em que o sujeito se comportava como guia e o
pesquisador como visitante não familiarizado com o espaço a ser percorrido (BLEY,
1990, p. 102).
Para levantarmos as informações sobre a percepção dos moradores de Taquaruçu
com relação à paisagem e aos efeitos do turismo na mesma, foram considerados
sujeitos desta pesquisa, os cidadãos que compõem o que chamamos de
comunidade local, ou seja, aqueles que residem no local receptor.
Segundo dados do IBGE (2000), a população de Taquaruçu é estimada em 2.869
habitantes, sendo 1.401 do gênero feminino e 1.468 do gênero masculino.
Desta população foi definido um conjunto de indivíduos para a pesquisa que
representasse pelo menos 1% do total de habitantes, considerando-se a
operacionalização da pesquisa, as variáveis selecionadas, a aplicabilidade dos
instrumentos, do tempo necessário e da condução da pesquisa que foram
adaptados, com base nos “critérios para seleção de métodos”, de Whyte (1977, p.
103-113):
variável “identidade”, foi utilizado instrumento/método composto pelo mapa do distrito
Taquaruçu/perguntas abertas, sendo necessário pelo menos 30min por sujeito e a
abordagem conduzida pela pesquisadora;
variável “sistema de valores”, foi utilizado instrumento/método composto por fotos
das paisagens mais representativas, mais agradáveis e mais desagradáveis de
Taquaruçu/ perguntas abertas e fechadas, sendo necessário o tempo mínimo de
60min por sujeito e a abordagem conduzida pela pesquisadora;
variáveis “escolha e comportamento” e “percepção sensorial”, foi utilizado
instrumento/método composto por uma ficha anotação/caminhada com visita a três
paisagens de Taquaruçu, sendo necessário o tempo mínimo de 90 minutos por
sujeito e abordagem conduzida pela pesquisadora.
Os indivíduos foram então selecionados e abordados de forma aleatória em suas
residências, em diferentes logradouros, o que dependeu da possibilidade de estarem
em suas residências ou não.
Para seleção dos logradouros foi utilizado o Mapa do Município de Palmas Distrito
81
de Taquaruçu (Ilustração 5), para que fosse coberta a área de estudo em questão:
núcleo urbano do distrito e entorno próximo.
Ilustração 5: Mapa do Município de Palmas - Distrito de Taquaruçu (PMP, 2004).
Com base no triângulo metodológico de Whyte (1977) foram especificadas três
estratégias que denominamos: Abordagem 1: Ouvindo, Abordagem 2: Perguntando;
e Abordagem 3: Observando (Ilustração 6).
Abordagem Variável Instrumento/Método Tempo Condução
Abordagem 1: Ouvindo Identidade Mapa do Distrito Taquaruçu (TO)/
Perguntas Abertas.
30min/ sujeito Pesquisadora
Abordagem 2: Perguntado Sistema de Valores Fotos das paisagens mais
representativas, mais agradáveis e
mais desagradáveis de Taquaruçu
(TO)/ Perguntas Abertas e Fechadas.
60min/sujeito Pesquisadora
Abordagem 3: Observando Escolha e Comportamento
Percepção Sensorial
Ficha Anotação/ Caminhada com
visita a três paisagens de Taquaruçu
(TO).
90min/sujeito Pesquisadora
Ilustração 6: Abordagens, Variáveis, Instrumentos, Tempo e Condução para Pesquisa, adaptados de Whyte (1977).
Para aplicação do instrumento da Abordagem 1: Ouvindo, através do método de
perguntas abertas, foi utilizado o total de indivíduos do conjunto, 30 sujeitos, ou seja,
1% da população do distrito.
82
Para aplicação do instrumento da Abordagem 2: Perguntando, através do método de
perguntas abertas e fechadas e devido a aplicabilidade do mesmo, foram utilizados
18 sujeitos, ou seja, 60% do conjunto de indivíduos que participou da Abordagem 1:
Ouvindo.
Para aplicação do instrumento da Abordagem 3: Observando, através do método de
caminhada com visita, foram utilizados 6 sujeitos, ou seja, 20% do conjunto de
indivíduos que participou da Abordagem 1: Ouvindo, também devido à aplicabilidade
do instrumento.
Dentre as características individuais dos sujeitos foram observados os seguintes
atributos:
Idade: maior ou igual a 14 anos, considerada como pré-requisito, por possibilitar
o entendimento e a compreensão dos elementos percebidos na paisagem para
responderem aos instrumentos de pesquisa;
Gênero: feminino ou masculino, considerado independentemente;
Naturalidade: por nos fornecer informações sobre o local de nascimento dos
sujeitos;
Profissão: por nos informar a atividade ou ocupação especializada, da qual os
sujeitos tiram o meio de subsistência, estando relacionadas ou não com o
turismo;
Escolaridade: para verificarmos a escolarização dos sujeitos, distribuída entre as
seguintes opções: ensino fundamental completo ou incompleto, ensino dio
completo ou incompleto, ensino superior completo ou incompleto;
Tempo de Moradia: maior ou igual a sete anos, considerado como pré-requisito,
devido à necessidade dos sujeitos residirem em Taquaruçu pelo menos desde o
período de implantação do Pólo Ecoturístico, em 2002.
Para isso foi delimitada uma linha do tempo divida em três fases, baseadas no
tempo mínimo de permanência (Ilustração 6): mínimo de 07 anos, caracterizando a
fase atual do Distrito (Fase 3); de 08 a 37 anos, para fase que envolve um período
83
antes e depois da implantação de Palmas (Fase 2); e de 38 a 67 anos para a fase
mais antiga, quando do surgimento do povoado (Fase 1).
Os instrumentos foram aplicados em horários comuns do dia, para que não
houvesse interferência do sentimento de 'tempo livre' ou 'tempo de lazer' nas
respostas, pois queríamos levantar a percepção de cada sujeito no contexto do seu
dia-a-dia, ou seja, as percepções dos que vivenciam aquela paisagem, a percepção
dos de dentro.
A elaboração da linha do tempo e das fases, com base no tempo de permanência,
foi possível após o levantamento das informações históricas sobre a ocupação da
região no período de 1940 a 2007. Importante para compreendermos o cenário atual
e a relação direta, cotidiana e prolongada dos sujeitos com a paisagem.
Como os sujeitos foram abordados aleatoriamente em suas residências, o primeiro
sujeito residente que atendesse ao pré-requisito, tempo mínimo de moradia 7 anos,
foi convidado a participar da pesquisa.
9.1 Abordagem 1: Ouvindo
Para atender à forma de abordagem “OUVINDO”, foi investigada a variável
“identidade” por ser “o atributo que mede a auto-avaliação individual, bem como seu
apego e sentimento de pertencimento ao grupo, a uma área, lugar ou comunidade”
(WHYTE, 1977, p. 90), no nosso caso à paisagem.
Foram ouvidas, gravadas e codificadas as evidências orais da percepção da
comunidade local de Taquaruçu sobre as paisagens mais representativas, mais
agradáveis e mais desagradáveis do distrito.
Sendo assim, foi possível identificar em cada sujeito sua avaliação individual sobre
as paisagens de Taquaruçu e o sentimento de apego e/ou desapego, bem como o
de pertencimento a elas.
Instrumento: uma folha com o mapa da zona urbana de Taquaruçu e entorno
imediato, área abrangida pela pesquisa, para que o sujeito pudesse assinalar a
paisagem ‘mais representativa’, a ‘mais agradável’ e a ‘mais desagradável’, fazendo
logo após a escolha comentários sobre cada uma (Anexo A).
84
As paisagens assinaladas no mapa foram fotografas para serem utilizadas na
abordagem 2.
Pré-Teste: foi realizado pré-teste do instrumento, através da abordagem de três
sujeitos residentes em Taquaruçu, constatando o tempo máximo de 30 minutos para
cada sujeito, sendo também verificada a aplicabilidade e o atendimento ao objetivo
proposto pelo mesmo.
Sujeitos: foram ouvidos trinta sujeitos residentes em Taquaruçu, pelos menos
sete anos, com idade maior ou igual a quatorze anos, selecionados aleatoriamente
em suas residências e em diferentes logradouros.
Coleta dos Dados: os dados foram coletados no período de 20 de novembro a 20
de dezembro de 2008.
Equipamentos: foi utilizado um gravador de voz.
Materiais: foram utilizadas trinta folhas com o mapa do distrito, uma para cada
sujeito; três canetas do tipo hidrocor, nas cores vermelha, azul e verde, para cada
sujeito assinalar no mapa as paisagens.
Recursos Humanos: os sujeitos foram ouvidos pela própria pesquisadora que
interveio em caso de dúvidas dos sujeitos.
9.2 Abordagem 2: Perguntando
Para atender à forma de abordagem “PERGUNTANDO”, foi selecionada a variável
“sistema de valores”, que é responsável “por uma estrutura de referência que
condiciona as idéias e o comportamento dos indivíduos. Por meio dos valores,
formam-se as atitudes e os comportamentos” (WHYTE, 1977, p. 91), oportunizando
a descrição dos valores ambientais, socioculturais e econômicos, com base nos
efeitos do turismo na paisagem.
Podemos dizer que 'valor' é a propriedade representativa de objetos concretos e
abstratos segundo o seu grau de importância. Quando vários 'valores' são
interconectados, formando um todo organizado, dinâmico por mudar ao longo do
tempo, integrado por apresentar fluxo de informações e aberto por interagir com o
85
seu meio eles se apresentam como um sistema. Quem operacionaliza esse sistema
é o homem, sujeito no mundo em que vive.
Segundo Whyte (1977), no contexto da percepção ambiental, essa variável
significaria restrição, apoio e incentivo, escolhas e ações que estão relacionados
com o meio ambiente, “é a forma como a natureza é considerada” pelo homem
(WHYTE, 1977, p. 91).
Foi perguntado aos sujeitos sobre os valores relativos às paisagens segundo os
diferentes aspectos da atividade turística, sobre a sua percepção com relação a
modificações, alterações ou transformações produzidas pelo turismo nas paisagens
de Taquaruçu, ou seja, os efeitos positivos e/ou negativos percebidos por eles no
seu cotidiano.
Instrumento: um livreto com fotos das paisagens de Taquaruçu e perguntas abertas
e fechadas, para verificar as relações entre os efeitos positivos e negativos do
turismo percebidos pelos sujeitos nessas paisagens. Para compor o livreto foram
selecionadas três fotos das paisagens mais indicadas pelos sujeitos na
Abordagem1: Ouvindo, independentemente dos atributos 'mais representativa', 'mais
agradável' ou 'mais desagradável' (Anexo B).
Pré-Teste: foi realizado pré-teste do instrumento, através da abordagem de três
sujeitos residentes em Taquaruçu, constatando o tempo máximo de 60 minutos para
cada sujeito, sendo também verificada a aplicabilidade e o atendimento ao objetivo
proposto pelo mesmo.
Sujeitos: foram perguntados dezoito sujeitos residentes em Taquaruçu, pelos
menos sete anos, com idade maior ou igual a quatorze anos e selecionados
aleatoriamente dentre os trinta sujeitos que participaram da pesquisa na Abordagem 1.
Coleta dos Dados: os dados foram coletados no período de 21 de dezembro a 14
de janeiro de 2009.
Equipamentos: uma câmera digital para fotografar as paisagens assinaladas no
mapa da Abordagem 1.
Materiais: foram utilizados dezoito livretos com as fotos e as perguntas; lápis e
86
caneta esferográfica azul para responder o questionário e uma prancheta para
apoio.
Recursos Humanos: pesquisador para aplicação dos questionários e intervenção
no caso de dúvidas.
9.3 Abordagem 3: Observando
Para atender à forma de abordagem “OBSERVANDO” foi selecionada a variável
“escolha e comportamento” que ligam “a percepção e a cognição à ação prática dos
indivíduos” (WHYTE, 1977, p. 94). Consideramos que a escolha é o processo de
seleção de alternativas em função da percepção e de outras variáveis e que o
comportamento é ação prática decorrente dessa escolha, para verificarmos as
paisagens escolhidas pelos sujeitos e o comportamento dos mesmos diante delas.
A variável “percepção sensorial” também foi selecionada devido ao fato de ser “a
experiência do contato direto com o ambiente que irá determinar a percepção
ambiental” (WHYTE, 1977, p. 91).
Instrumento: uma caminhada com visita a três paisagens de Taquaruçu, escolhidas
pelo próprio sujeito e as quais ele gostaria de apresentar a uma pessoa não
residente no distrito. O pesquisador foi um elemento passivo e observador dos
seguintes aspectos: trajeto percorrido, ponto de parada, tempo de permanência em
cada parada, tempo total do percurso, comentários e comportamentos, que foram
registrados numa Ficha de Anotação (Anexo C). Foram realizadas seis caminhadas.
Pré-Teste: foi realizado pré-teste do instrumento, através da abordagem de três
sujeitos residentes em Taquaruçu, constatando o tempo ximo de 90 (noventa)
minutos para cada sujeito, sendo também verificada a aplicabilidade e o atendimento
ao objetivo proposto pelo mesmo.
Sujeitos: cada visita foi conduzida por um sujeito escolhido aleatoriamente entre os
que participaram da pesquisa na Abordagem 2: Perguntando, num total de seis
sujeitos.
Coleta dos Dados: os dados foram coletados no período de 15 de janeiro a 26 de
janeiro de 2009.
87
Equipamentos: foi utilizado um gravador de voz para resguardar a compilação das
informações observadas e câmera digital para fotografar as paisagens apresentadas
pelos sujeitos.
Materiais: foi utilizada uma ficha, para cada caminhada, para anotação das
observações; uma prancheta para apoio da ficha; caneta esferográfica azul; relógio
para registro do tempo; mapa de Taquaruçu para registro do trajeto.
Recursos Humanos: pesquisador para aplicação do instrumento.
88
10. PERCEPÇÃO DA COMUNIDADE LOCAL DE TAQUARUÇU
Os sujeitos, cidadãos que compõe o que chamamos de comunidade local, residem
no local receptor e foram selecionados aleatoriamente, em suas residências, em
diferentes logradouros, sendo identificadas as variáveis ou características ideais dos
mesmos, como idade e tempo de moradia.
Através de uma ficha de informações pessoais, foram registradas as variáveis
'características individuais' e 'grupais' dos sujeitos em cada estratégia da pesquisa,
acompanhando o corpo dos instrumentos adotados.
Essas variáveis tornaram possível a descrição e classificação dos indivíduos diante
do grupo pesquisado e a classificação do próprio grupo. Os atributos foram: tempo
de moradia no local de pelo menos 07 anos e idade de pelo menos 14 anos.
10.1 Caracterização dos Sujeitos
A distribuição por idade foi de 11 sujeitos (37%) de 14 a 25 anos, 5 sujeitos (17%) de
25 a 35 anos, 7 sujeitos (23%) de 36 a 46 anos, 2 sujeitos (7%) de 47 a 57 anos, 3
sujeitos (10%) de 58 a 68 anos e 2 sujeitos (6%) de 69 a 79 anos (Tabela 1).
IDADE
14 a 24 11 37%
25 a 35 5 17%
36 a 46 7 23%
47 a 57 2 7%
58 a 68 3 10%
69 a 79 2 6%
Total 30 100%
Tabela 1: Distribuição por Idade.
Para Tuan (1980, p. 63), na relação entre a idade e a percepção das paisagens “não
deve haver dúvida a respeito do papel do ciclo da vida no aumento da amplitude das
respostas humanas para o mundo”. Com base na Tabela 1, podemos observar que
entre o conjunto de sujeitos pesquisado, 84% estão na fase produtiva, ou seja, a
maioria é composta por jovens e adultos. Isso pode nos proporcionar um elenco de
respostas quanto às paisagens diferenciado dos sujeitos que estão numa fase mais
89
madura16%.
Salientamos que os jovens e adultos foram os mais encontrados em suas
residências e também os primeiros que atendiam à porta e apresentavam os pré-
requisitos necessários para a pesquisa.
Quanto ao gênero, 23 sujeitos (77%) são do gênero feminino e 7 sujeitos (23%) são
do gênero masculino (Tabela 2), apresentando a maioria dos sujeitos do gênero
feminino.
GÊNERO
Feminino 23 77%
Masculino 7 23%
Total 30 100%
Tabela 2: Distribuição por Gênero.
Segundo Walker (1964, citado por Tuan, 1980, p. 61), o gênero masculino e o
feminino não são distinções que dependem da vontade. “As diferenças fisiológicas
entre homem e mulher são claramente especificáveis e pode-se esperar que estas
diferenças afetem os modos de responder ao mundo” e acrescentamos, de perceber
as paisagens.
Apesar do gênero ser um atributo considerado independentemente na pesquisa,
mas não menos relevante, devemos destacar que “nas culturas em que os papéis
dos sexos são fortemente diferenciados, homens e mulheres olharão diferentes
aspectos do meio ambiente e adquirirão atitudes diferentes para com ele” (TUAN,
1980, p. 70).
Nesse sentido justifica-se o fato dos sujeitos do gênero feminino estarem mais
presentes nas residências, no momento da abordagem pelo pesquisador e, em
alguns casos, mostraram-se mais hospitaleiras ou hábeis em participar da
pesquisa.
Um teste com fotografias aplicado, em nativos e não nativos do Alasca, por
Sonnenfeld (1967, citado por TUAN, 1980, p. 71), revelou que “os homens tendem a
preferir as paisagens com uma topografia mais acidentada e com indícios de água,
enquanto as mulheres preferem as paisagens com vegetação em meios ambientes
mais cálidos”. Podemos então compreender melhor, como se deu a escolha daquela
90
região como local para iniciar um povoado, ou para residência dos pioneiros vindos
do Maranhão e do Piauí.
Em sua maioria, ou talvez até em sua totalidade, esse pioneiros eram homens em
busca de melhores condições de vida e sobrevivência que encontraram na
paisagem dos vales de Taquaruçu, uma subsistência fácil, “por ser um nicho
ecológico altamente diversificado” (TUAN, 1980, p. 134), onde havia uma grande
variedade de alimentos nos rios, nas planícies de inundação e nas encostas do vale.
A distribuição segundo o estado da federação de nascença foi de 1 sujeito (3%) do
Ceará, 1 sujeito (3%) do Distrito Federal, 2 sujeitos (7%) de Goiás, 3 sujeitos (10%)
do Maranhão, 1 sujeito (3%) do Mato Grosso, 1 sujeito (3%) de Minas Gerais, 1
sujeito (3%) de Roraima e 20 sujeitos (68%) do Tocantins (Tabela 3). Quanto à
naturalidade, podemos observar que a maioria dos sujeitos é nascida no Tocantins.
NATURALIDADE
Ceará 1 3%
Distrito Federal 1 3%
Goiás 2 7%
Maranhão 3 10%
Mato Grosso 1 3%
Minas Gerais 1 3%
Roraima 1 3%
Tocantins 20 68%
Total 30 100%
Tabela 3: Distribuição por Naturalidade.
Entre os municípios de nascença dos sujeitos tocantinenses, encontramos a
seguinte distribuição: 9 sujeitos de Palmas; 7 sujeitos de Porto Nacional; 1 sujeito de
Pedro Afonso; 1 sujeito de Tocantinópolis; 1 sujeito de Ponte Alta; e 1 sujeito de
Natividade (Tabela 4).
MUNICÍPIO DE NASCENÇA - TOCANTINS
Natividade 1 5%
Palmas 9 45%
Pedro Afonso 1 5%
Ponte Alta 1 5%
Porto Nacional 7 35%
Tocantinópolis 1 5%
Total 20 100%
Tabela 4: Distribuição por Município de Nascença -
Tocantins
91
A distribuição por atividade ou ocupação especializada, da qual os sujeitos tiram o
meio de subsistência foi de 5 sujeitos (17%) aposentados, 1 sujeito (3%) autônomo,
1 sujeito (3%) auxiliar de serviços gerais, 1 sujeito (3%) auxiliar de enfermagem, 1
sujeito (3%) cabeleireiro, 2 sujeitos (7%) do lar, 1 sujeito (3%) doméstica, 9 sujeitos
(31%) estudantes, 5 sujeitos (17%) funcionários públicos, 1 sujeito (3%) motorista e
2 sujeitos (7%) pedagogos (Tabela 5).
PROFISSÃO
Aposentado 5 17%
Autônoma 1 3%
Auxiliar de Serviços Gerais 1 3%
Auxiliar de Enfermagem 1 3%
Cabeleireiro 1 3%
Carpinteiro 1 3%
Do Lar 2 7%
Doméstica 1 3%
Estudante 9 31%
Funcionário Público (M e E) 5 17%
Motorista 1 3%
Pedagoga 2 7%
Total 30 100%
Tabela 5: Distribuição por Profissão.
Quanto à profissão, a Tabela 5 nos permite observar que praticamente todos os
sujeitos (97%) não possuem relação direta com atividades ligadas ao turismo,
apenas um, que tem como profissão o serviço público municipal, atuando no Centro
de Atendimento ao Turista CATur, dando informações e acompanhando turistas
quando necessário. Porém esta, por possuir vínculo público, não é considerada uma
atividade beneficiada diretamente pela atividade turística.
O fato da maioria dos sujeitos não possuir, através de suas profissões, relação direta
com as atividades de turismo, faz com que os mesmos tenham percepções
tipicamente cotidianas do seu entorno habitual, ou seja, de moradores que apesar
de viverem em um local considerado turístico não estão envolvidos e/ou não se
beneficiam direta ou indiretamente com essa atividade.
A distribuição por nível de escolaridade foi de 8 sujeitos (28%) com ensino
fundamental completo, 1 sujeito (3%) com ensino fundamental incompleto, 10
92
sujeitos (33%) com ensino médio completo, 4 sujeitos (13%) com ensino médio
incompleto, 4 sujeitos (13%) com ensino superior completo e 3 sujeitos (10%) com
ensino superior incompleto (Tabela 6).
ESCOLARIDADE
Ensino Fundamental Completo 8 28%
Ensino Fundamental Incompleto 1 3%
Ensino Médio Completo 10 33%
Ensino Médio Incompleto 4 13%
Ensino Superior Completo 4 13%
Ensino Superior Incompleto 3 10%
Total 30 100%
Tabela 6: Distribuição por Escolaridade.
A Tabela 6 aponta para um bom nível de aprendizagem ou de escolaridade,
considerando-se o tamanho do conjunto de sujeitos (30 sujeitos) e da população
(2.698 habitantes), pois apenas um sujeito apresenta ensino fundamental
incompleto, ou seja, todos os sujeitos são alfabetizdos. A maioria (47%) completou
ou está por completar o ensino médio, 30% completou ou está por completar o
ensino fundamental e 23% completou ou está por completar o ensino superior.
Nas residências em que os sujeitos foram abordados, em sua maioria estavam
presentes outra pessoas, familiares ou não, com maior ou menor grau de instrução,
no entanto, caso o primeiro sujeito abordado atendesse aos pré-requisitos da
pesquisa, o mesmo era então abordado. Todos, independentemente do nível escolar,
sentiram-se à vontade para colaborar com a pesquisa, mesmo apresentando alguma
dificuldade às vezes.
A distribuição por tempo de moradia foi de 6 sujeitos (20%) com mínimo de 07 anos
de permanência, 21 sujeitos (70%) de 08 a 37 anos de permanência e 3 sujeitos
(10%) de 38 a 67 anos de permanência (Tabela 7).
TEMPO DE MORADIA
Mínimo 07 anos de permanência 6 20%
08 a 37 anos de permanência 21 70%
38 a 67 anos de permanência 3 10%
Total 30 100%
Tabela 7: Distribuição por Tempo de Moradia.
93
Como a Tabela 1 apontou para a maioria dos sujeitos estarem na fase jovem e
adulta, o tempo de permanência no distrito, na faixa de 08 a 37 anos também
apresenta a maioria dos sujeitos (21). Isto quer dizer que 70% do conjunto de
sujeitos, além de presenciar a implantação do Pólo, vivenciou as paisagens do
distrito antes e depois desse fato, percebendo ou não, mudanças positivas e/ou
negativas dessas paisagens com relação aos efeitos do turismo nelas.
Alguns destes, segundo comentário, vivenciaram também a emancipação de
Taquaruçu, antes distrito de Porto Nacional (TO), para município e após a criação de
Palmas (TO), seu retorno à condição de distrito, só que do município Palmas.
Destacamos que as características individuais e grupais dos sujeitos os qualificaram
para participar da pesquisa nas suas três fases: Abordagem 1: Ouvindo, Abordagem
2: Perguntando e Abordagem 3: Observando.
10.2 Da Paisagem
Nesta abordagem foram levantadas informações sobre a identidade da comunidade
local de Taquaruçu com relação às suas paisagens mais representativas, mais
agradáveis e mais desagradáveis.
Os indivíduos foram literalmente ouvidos sobre a sua relação com as paisagens de
Taquaruçu, paisagens essas que se apresentam cotidianamente diante dos seus
olhos e que causariam neles o sentimento de representatividade, de agradabilidade
e de desagradabilidade.
Nossa intenção foi conhecer não o que é factual, concreto e útil na paisagem,
mas também a essência, o sentido e a idéia da mesma para cada indivíduo,
buscando compreender o imaginário de seus autores e reconhecer suas atitudes e
preferências, que segundo Holzer (1999), podem ser inventadas ou adquiridas.
Cada indivíduo é capaz de fazer um recorte da realidade, percebendo-a através de
estímulos externos e internos, selecionando e atribuindo a ela significados (DEL
RIO, 1999). Por isso os termos ‘mais’, ‘representativo’, ‘agradável’ e ‘desagradável’
foram utilizados na pesquisa na mais simples e pura acepção de seus significados.
Por ‘mais representativa’, entendemos aquelas paisagens que melhor
94
representassem o distrito, que fossem a imagem ou a reprodução do mesmo. Por
‘mais agradável’, entendemos aquelas paisagens que melhor agradassem, que
causassem satisfação segundo os gostos, critérios e exigências de cada sujeito. Por
‘mais desagradável’, entendemos aquelas paisagens que mais desagradassem, que
não causassem satisfação, também segundo os gostos, critérios e exigências de
cada sujeito (FERREIRA, 2004).
A dimensão das paisagens 'mais representativas', 'mais agradáveis' e 'mais
desagradáveis' de Taquaruçu é a dimensão da percepção de cada sujeito, que
também é um processo inquietante de apreensão em tomar o que muitas vezes não
é permitido possuir, pois a cada instante mais do que o olhar pode ver, mais do
que o ouvido pode perceber esperando para serem explorados (LYNCH, 1997).
Por isso, nessa abordagem optamos pela marcação das paisagens no mapa pelos
próprios sujeitos, uma vez que ele buscaria em suas memórias as paisagens 'mais
representativas', 'mais agradáveis' e 'mais desagradáveis' segundo a sua percepção
e a sua vivência cotidiana no distrito.
É importante reforçarmos, com base em Collot (1990) e Emídio (2006), que a
paisagem, quando definida a partir do ponto de vista do qual é observada, se
processa como atividade constituinte do sujeito e que no processo de percepção
visual a nossa visão depende da localização que estamos.
Por isso, todas essas paisagens foram marcadas no mapa que compunha o
instrumento, através do símbolo 'X' na cor verde, para a paisagem 'mais
representativa', na cor azul para a paisagem 'mais agradável' e na cor vermelha para
a paisagem 'mais desagradável', pelo próprio sujeito. De um modo geral, a maioria
dos sujeitos não apresentou dificuldades em marcar as paisagens no mapa, quando
apresentavam eram orientados pela pesquisadora.
Com base nessa marcação e nos comentários registrados de cada sujeito as
paisagens foram fotografadas posteriormente pela pesquisadora. Os pontos de
referência foram as próprias residências dos sujeitos e/ou outros em diferentes
pontos de localização no distrito, como por exemplo a Praça Joaquim Maracaípe, o
Colégio Estadual Duque de Caxias e a Rodovia TO-030, sentido Buritirana
14
, sendo
14
Buritirana é um distrito do município Palmas (TO).
95
indicados pelos próprios sujeitos.
Segundo Santos (1992), a fotografia é um aspecto visível do espaço geográfico que
torna-se relevante à medida que a sociedade lhe confere um valor social. Mas
sabemos que a paisagem capturada numa fotografia muitas vezes não corresponde
à paisagem capturada pelo olhar do homem em seu cotidiano.
No entanto, ela pode ser utilizada como um recurso que motiva e estimula o
indivíduo a elaborar respostas e buscar nas suas lembranças e memória elementos
percebidos nas paisagens ali representadas.
Nesse sentido, utilizamos as fotos das paisagens para ilustrar a análise da
Abordagem 1: Ouvindo e para compor o instrumento da Abordagem 2: Perguntando,
pois nesta o objetivo foi o de levantar a percepção dos sujeitos sobre os efeitos do
turismo na paisagens e não o de substituir a paisagem verdadeira.
Começamos a tratar da paisagem de Taquaruçu no singular, mas também
percebemos que para esses sujeitos é a paisagem no plural que dimensiona a
percepção de cada um, no mais cotidiano e usual contexto vivenciado por eles.
Outro fator relevante foi observarmos que, mesmo os sujeitos tendo sido abordados
individualmente em suas residências, termos comuns entre os adjetivos e
componentes paisagísticos usados por eles para comentarem sobre a sua
percepção da paisagem 'mais representativa', 'mais agradável' e 'mais
desagradável'. Isto nos permitiu agrupar essas paisagens e apontar para cada
característica abordada, as três paisagens mais indicadas por eles.
As paisagens mais representativas de Taquaruçu para os moradores locais são:
‘paisagem da Serra do Carmo’, 18 sujeitos (60%); ‘paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe’, 5 sujeitos (17%); ‘paisagem da Pedra do Pedro Paulo’, 2 sujeitos (7%);
‘paisagem da Casa do Artesão’, 2 sujeitos (7%); ‘paisagem da Pousada Lokau’, 1
sujeito (3%); ‘paisagem da Igreja Nossa Senhora do Carmo’, 1 sujeito (3%); e
‘paisagem do Buritizal no centro do distrito’, 1 sujeito (3%) (Tabela 8).
96
Assinalar no mapa a paisagem de Taquaruçu mais representativa para você.
Categoria Qt. %
Paisagem da Serra do Carmo 18 60%
Paisagem da Praça Joaquim Maracaípe 5 17%
Paisagem da Casa do Artesão 2 7%
Paisagem da Pedra do Pedro Paulo 2 7%
Paisagem da Pousada Lokau 1 3%
Paisagem da Igreja Nossa Senhora do Carmo 1 3%
Paisagem do Buritizal no centro do distrito 1 3%
Total de paisagens 7 100
Tabela 8: Categorização das Respostas Abordagem 1: Ouvindo Paisagens Mais
Representativas.
Dentre as paisagens indicadas pelos sujeitos destacamos as três primeiras mais
representativas que obtiveram maior indicação:
Mais Representativas: ‘paisagem da Serra do Carmo’, indicada por 18 sujeitos
(60%); ‘paisagem da Praça Joaquim Maracaípe’, indicada por 5 sujeitos (17%); e
‘paisagem da Casa do Artesão’, indicada por 2 sujeitos (7%).
Foto 16. Paisagem da Serra do Carmo.
Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2008.
nn
Foto 4. Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008.
Foto 1. Paisagem da Casa do Artesão.
Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008.mmmmmm
Ilustração 7: As Três Paisagens de Taquaruçu 'Mais Representativas'.
A primeira paisagem 'mais representativa' de Taquaruçu, segundo a indicação de 18
sujeitos (60%) é a 'paisagem da Serra do Carmo', vista de vários pontos do distrito,
como por exemplo, das residências dos sujeitos, da Rodovia TO-030 (sentido
Buritirana), do Ginásio Poliesportivo, do Colégio Estadual Duque de Caxias e da
Praça Joaquim Maracaípe.
Isto quer dizer que o conjunto paisagístico da Serra do Carmo, tomando como ponto
de referência a zona urbana do distrito, não pode ser abarcado num lance de vista,
mas através dos comentários dos sujeitos destacamos alguns que contemplaram
elementos naturais e socioculturais, segundo sua representatividade do distrito.
97
A 'paisagem da Serra do Carmo' também é a base de quase tudo que diferencia
Taquaruçu de outras localidades na região, pelo clima ameno que proporciona
devido a altitude da mesma, pelas cachoeiras que nascem no seu alto e despencam
pelas suas encostas e pela vegetação exuberante.
Um dos elementos que chama a atenção nos comentários dos sujeitos é a relação
de afetividade e religiosidade para com a 'paisagem da Serra do Carmo', pois em
determinados pontos, como o 'Cruzeiro
15
' e a 'Pedra do Pedro Paulo
16
', são
realizados cultos, sermões e orações.
A Serra é o lugar “onde o povo junto, onde a gente vê os crente, vem pra fazer
oração, passar sermão” (2JS, 2008)
17
. “Parece que a gente perto de Deus lá”
(25MJPR, 2008), “a gente se reúne, faz culto, muita gente gosta de lá, eu também
gosto de ver” (24JFSS, 2008).
A sensação de poder avistar a 'paisagem da Serra do Carmo' da varanda, janela ou
porta da residência, para os sujeitos, nos revela um misto de orgulho e satisfação.
Identificamos isso em comentários como: “o dia que eu vim comprar essa casa aqui,
achei isso aqui muito lindo” (3JPA, 2008); “ah eu gosto muito daquele lado ali,
quando olho daqui [...] é uma coisa maravilhosa, faz parte da Serra do Carmo, não
porque eu moro aqui, de qualquer lugar para mim esta é uma vista perfeita” (13RSF,
2008); “a Serra que vejo aqui na frente da minha casa é o que tem no Taquaruçu,
essa Serra ai, acho bonito, o verde, a vegetação” (22JAM, 2008).
A possibilidade de poder mostrar da sua residência uma paisagem “muito bonita”
(12AMVM, 2008), “muito gostosa” (17MRL, 2008) e “cartão postal” (31MCFV, 2008)
também causa nos sujeitos o sentimento de satisfação, orgulho, apego e
pertencimento ao lugar. “Eu gosto muito dessa vista aqui da Serra, todo dia a gente
acorda, chega aqui na área e fica olhando, às vezes quando vem família da gente
fica olhando e fala, nossa que vista maravilhosa” (16ARRC, 2008).
Dentre os elementos naturais percebidos e comentados pelos sujeitos, destacam-se
15
Grande cruz erguida num dos morros da Serra do Carmo pelos católicos e que é avistada de vários
pontos do distrito (4CFB, 2008; 15IFO, 2008).
16
Afloramento rochoso da Serra do Carmo, onde o missionário Pedro Paulo costumava tocar hinos
evangélicos com um sax (4CFB, 2008).
17
Os sujeito abordados foram identificados com um número, segundo a seqüência de coleta, seguido
das iniciais de seu nome e ano em que foi abordado.
98
a referência ao “verde” (6MSG, 2008; 20LDB, 2008; 22JAM, 2008; 27TJTSB, 2008',
à “mata” (20LDB, 2008) e à “vegetação” (22JAM, 2008).
O elemento água está representado pela chuva, que para 3JPA (2008), “num dia
chuvoso a gente não a Serra, acho isso muito bonito” e pelas cachoeiras que
11RNS (2008) comenta saudosamente:
[...] antigamente tinha até umas cachoeiras que escorriam, quando chovia
caia muito, ficava cheio de cachoeira, quando estava chovendo a gente
ficava na janela olhando as cachoeiras daqui, era muito bonito, que
secou (11RNS, 2008).
Considerar a 'paisagem da Serra do Carmo' como a 'mais representativa' de
Taquaruçu é compreender e perceber que seu conjunto paisagístico é a imagem ou
a reprodução do distrito para a maioria dos sujeitos abordados na pesquisa.
Entretanto, uma análise da segunda paisagem 'mais representativa' também se faz
necessária, a 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe'.
Segundo Dourado (2004), a Praça Joaquim Maracaípe foi restaurada e reformada
no período de instalação do pólo ecoturístico do distrito, ganhando ajardinamento,
iluminação, quiosque e cascata em formato de pedra canga.
Podemos dizer que a 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe' representa a história
de Taquaruçu desde os tempos de povoado, sendo a prova material e real das
alterações que o tempo e a sociedade infligiram nela, transformando seu traçado,
seus monumentos, seus bancos, seus jardins, suas luzes e sombras, sua história e
até as pessoas que dela usufruíram e usufruem. Afinal, a função sica de uma
praça é a de reunir pessoas num lugar que é público e cercado de edificações
(FERREIRA, 2004).
A Praça também é considerada pelos sujeitos como atrativo turísticos, pois é portal
de entrada de Taquaruçu, todas as atividades artísticas são desenvolvidas ali,
juntamente com outros eventos, tanto feito pela prefeitura como particular” (4CFB,
2008) e também é “o lugar que mais chama atenção, porque é assim na entrada,
gosto de lá” (9SDB, 2008). “Tem o artesanato, que as pessoas vem vender, os
turistas vem nosso artesanato e na Praça tem a feirinha de sábado, a gente
vende muito produto lá” (18EMM, 2008), “é lugar turístico” (10SPB, 2008).
99
Essa é uma paisagem que se apresenta diante dos olhos de alguns sujeitos, com
elementos essencialmente socioculturais, representando as relações entre os
mesmos e entre o ambiente que os cerca. Nela, os sujeitos sentem-se inseridos,
nela se reúnem “para passear, para andar” (10SPB, 2008), podendo estabelecer
contato com outras pessoas, residentes ou não no distrito, causando e despertando
neles o sentimento de apego.
também a percepção de que a 'Praça' é um local de comércio, “porque tem o
artesanato que as pessoas vem vender” (18EMM, 2008). Isso nos remete à terceira
paisagem 'mais representativa' de Taquaruçu, a 'paisagem da Casa do Artesão”, por
ser “a mais bonita” (1VG, 2008) ela “representa a cultura daqui mesmo” (8DRAL,
2008).
A Casa do Artesão, atende aos artesãos de Taquaruçu e Taquaralto
18
, que expõem e
comercializam seus produtos (DOURADO, 2004). Por ser um local de produção e
venda de objetos que representam a culturalidade da região e a habilidade de
pessoas da comunidade em transformar elementos da natureza em peças feias pelo
homem, representa para eles também um local de troca dessas mercadorias por
dinheiro e a evocação do sentimento de orgulho com relação a essa paisagem.
No entanto, não são as manifestações e usos tradicionais e populares que
despertam o sentimento de identidade para com essa paisagem, mas também os
elementos naturais que estão à sua volta: “lá é assim, não sei nem explicar, porque
assim tem um monte de pé de cocal, gramadinho” (1VG, 2008).
Mesmo que a percepção de cada sujeito tenha sido seletiva naquilo que lhe
interessa e está habituado a observar (MACHADO, 1988), houve um contexto maior
que aproximou suas percepções, o de que essas três paisagens apresentadas
anteriormente e consideradas como as 'mais representativas' de Taquaruçu, também
foram indicadas como as 'mais agradáveis'.
O conjunto das paisagens mais agradáveis de Taquaruçu para os moradores locais
são: ‘paisagem da Serra do Carmo’, 14 sujeitos (47%); ‘paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe, 6 sujeitos (20%); paisagem da Casa do Artesão, 3 sujeitos (10%);
‘paisagem da Pedra do Pedro Paulo’, 2 sujeitos (7%); ‘paisagem da Igreja Nossa
18
Taquaralto é um bairro do município Palmas (TO).
100
Senhora do Rosário’, 1 sujeito (3%); ‘paisagem da Igreja Sal e Luz’, 1 sujeito (3%);
‘paisagem do entorno da Igreja Batista’, 1 sujeito (3%); ‘paisagem do Portal de
Entrada de Taquaruçu’, 1 sujeito (3%) e a ‘paisagem do Ribeirão Taquaruçu
(Roncadeira)’, 1 sujeito (3%) (Tabela 9).
Assinalar no mapa a paisagem de Taquaruçu mais agradável para você.
Categoria Qt. %
Paisagem da Serra do Carmo 14 47%
Paisagem da Praça Joaquim Maracaípe 6 20%
Paisagem da Casa do Artesão 3 10%
Paisagem da Pedra do Pedro Paulo 2 7%
Paisagem da Igreja Nossa Senhora do Rosário 1 3%
Paisagem da Igreja Sal e Luz 1 3%
Paisagem do Entorno da Igreja Batista 1 3%
Paisagem do Portal de Entrada de Taquaruçu 1 3%
Paisagem do Ribeirão Taquaruçu (Roncadeira) 1 3%
Total de paisagens 9 100%
Tabela 9: Categorização das Respostas Abordagem 1: Ouvindo – Paisagens Mais Agradáveis
Segundo os critérios dos próprios sujeitos, as paisagens são percebidas,
selecionadas e atribuídas de significado (DEL RIO, 1990), podendo ser agradáveis e
causar satisfação. Através dos mecanismos perceptivos e cognitivos de cada sujeito,
o fato de uma paisagem ser agradável para um pode incidir também em que seja
representativa para outro e vice versa.
Dentre estas, destacamos então as três paisagens 'mais agradáveis' de Taquaruçu,
que obtiveram maior indicação pelos sujeitos:
Mais Agradáveis: a ‘paisagem da Serra do Carmo’, indicada por 14 sujeitos
(47%); a ‘paisagem da Praça Joaquim Maracaípe’, indicada por 6 sujeitos
(20%); e a ‘paisagem da Casa do Artesão’, indicada por 3 sujeitos (10%).
101
Foto 47. Paisagem da Serra do Carmo.
Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2008.
vanesa.
Foto 43. Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008.
Foto 31. Paisagem da Casa do Artesão.
Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2008.
vanesa
Ilustração 8: As Três Paisagens de Taquaruçu 'Mais Agradáveis'.
Os comentários dos sujeitos para as paisagens mais representativas são
semelhantes aos comentários para as paisagens mais agradáveis. Os gostos,
critérios e exigências de cada sujeito às vezes são envolvidos por elementos tão
comuns e constantes, que vivenciados e experienciados pelos sujeitos no dia a dia,
em grupos ou em comunidades, passam a ser preferências satisfatórias para a
comunidade e não só para o indivíduo.
Para eles a Serra do Carmo proporciona um sentimento de que a paisagem que é “a
coisa mais falada” (2JS, 2008), “muito lindo” (3JPA, 2008; 27TJTSB, 2008), “muito
bonito” (3JPA, 2008; 11RNS, 2008; 12AMVM, 2008; 2JS, 2008; 26JCP, 2008),
“bonitinha” (5MIR, 2008), “representativa” (6MSG, 2008; 23IASJ, 2008; 25MJPR,
2008), “gosto desse verde” (6MSG, 2008), “maravilhosa” (13RSF, 2008; 16ARRC,
2008), “perfeita” (13RSF, 2008), “bonita” (14RGCL, 2008; 20LDB, 2008; 22JAM,
2008; 25MJPR, 2008; 14RGCL, 2008; 10SPB, 2008), “gosto muito” (16ARRC, 2008),
“muito gostosa” (17MRL, 2008), “mais bonita” (25MJPR, 2008; 10SPB, 2008; 28ELA,
2008), “vista melhor” (26JCR, 2008), “linda” (27TJTSB, 2008; 17MRL, 2008), “muito
visível” (27TJTSB, 2008), “chama atenção” (28ELA, 2008), “importante” (29MCS,
2008), “cartão postal” (31MCFV, 2008), “gostosa” (24JFSS, 2008), “calminha” (5MIR,
2008), apaixonante (7FDS, 2008), “muito agradável” (7FDS, 2008; 12AMVM, 2008;
15IFC, 2008; 28ELA, 2008), “legal” (8DRSL, 2008), “mais agradável” (8DRSL, 2008),
“mais natureza” (14RGCL, 2008), “mais chamativa” (15IFO, 2008), “coisa boa”
(18EMM, 2008), “sempre boa” (19GPG, 2008), “agradável” (26JCP, 2008) e
“confortável” (28ELA, 2008).
A indicação dos sujeitos abordados da 'paisagem da Serra do Carmo' como a 'mais
agradável' vem acompanhada de comentários que invocam a importância não
102
dessa paisagem, mas das paisagens naturais e dos diferentes elementos naturais
que se apresentam nela, o que leva a um apelo ou à invocação da natureza
conservada que se faz muito presente atualmente.
A emergência da questão ambiental e da valorização dessas paisagens conservados
passam também a serem mercantilizados pelo turismo, que os rotulam e
desenvolvem atividades como o ecoturismo, turismo rural, turismo aventura com o
objetivo de mantê-las preservadas e gerar benefícios às comunidades que estão no
seu entorno.
Os comentários dos sujeitos parecem se repetir ou manter um mesmo padrão ou
referência: “acho que é a melhor coisa da gente olhá” (18EMM, 2008), “aqui na
minha casa mesmo [...] vejo a Serra ali do lado, uma vista sempre boa” (19GPG,
2008), “lugar bonito e cheio de árvore,” (10SPB, 2008), “porque é a natureza, tudo
conservado” (27TJTSB, 2008).
Exatamente porque são paisagens que demandam desses espaços o que elas têm
de mais atrativo, a exuberância dos elementos que a compõem e que permeiam o
imaginário das pessoas, sejam elas residentes ou não.
Estando em Taquaruçu não é difícil perceber a representatividade e agradabilidade
da Serra do Carmo, mesmo que para alguns sujeitos, ela seja desagradável. É uma
paisagem tão rica em elementos naturais, socioculturais e econômicos que não se
podem deixar de analisar e considerar.
Entretanto, para alguns sujeitos, a paisagem 'mais representativa' não constitui,
necessariamente a paisagem 'mais agradável', por preferências pessoais e questões
sutis e individuais, como a indicação da 'paisagem o Portal de Entrada de Taquaruçu'
e a 'paisagem da Igreja Sal e Luz'.
Como segunda paisagem 'mais agradável' de Taquaruçu, podemos considerar a
'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe', que segundo os comentários dos sujeitos
“está sendo arborizada, crescendo” (11RNS, 2008), “não está mais como era [...]
mudou algumas coisinhas [...], o desenvolvimento de Taquaruçu melhorou bastante”
(13RSF, 2008).
103
Podemos dizer que a 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe' pode ser estável por
algum tempo, mas por outro lado, está sempre se modificando nos detalhes, seja ela
'mais agradável' ou 'mais desagradável', as transformações infligidas nela pela
sociedade são percebidas pelos sujeitos.
Para a paisagem da Praça os sujeitos usaram não somente termos, mas um
conjunto de termos para expressarem sua percepção, como por exemplo, “é portal
de entrada de Taquaruçu”, “as atividades artísticas são desenvolvidas ali” (4CFB,
2008), “mais chama atenção, porque é assim na entrada” (9SDB, 2008), “lugar
turístico” (10SPB, 2008), “tem o artesanato [...] os turistas vem nosso artesanato”
(18EMM, 2008), “por ela ser vários anos daquele mesmo jeito” (19GPG, 2008),
“está sendo arborizada, crescendo” (11RNS, 2008), “melhorou bastante” (13RSF,
2008), “mais legal que eu acho” (16ARRC, 2008), “muito agradável, os turistas vai
muito ali olhar” (22EPT, 2008).
De certa forma, para 5 sujeitos (17%), essa é a paisagem 'mais representativa' e,
para 6 sujeitos (20%) é a paisagem 'mais agradável' de Taquaruçu. Nela e dela
pode-se observar pessoas, costumes, cotidiano e a própria 'paisagem da Serra do
Carmo'.
É uma paisagem que se apresenta diante dos olhos deles com elementos não
somente naturais, mas essencialmente socioculturais, por serem necessários ao
homem. As relações estabelecidas entre os sujeitos e entre o ambiente que os cerca
na Praça são importantes para a sua auto-identificação com a própria paisagem.
Assim como a 'paisagem da Casa do Artesão' foi considerada a terceira 'mais
representativa' de Taquaruçu, podemos considerá-la também a terceira paisagem
'mais agradável', segundo as indicações e comentários dos sujeitos.
Estes, atribuíram a ela, termos e expressões como “muito bonita, limpinha” (1VG,
2008), “lá tem assim, quando a gente olha pra cima um buritizal e por baixo tudo
limpo. Acho uma paisagem muito bonita” (3JPA, 2008). Além de enfatizarem os
elementos naturais presentes no seu entorno, como “as árvores, o vento
balançando, o córrego, o verdão, porque eu esqueço das coisas ruins” (9SDB,
2008).
104
as paisagens mais desagradáveis de Taquaruçu para os moradores locais são:
‘paisagem da Casa do Artesão’, 1 sujeito (3%); ‘paisagem do Ribeirão Taquaruçu
(Roncadeira), 4 sujeitos (13%); ‘Paisagem do Córrego Sumidouro’, 4 sujeitos (13%);
‘paisagem do Ribeirão Taquaruçu (Praça Joaquim Maracaípe)’, 2 sujeitos (7%);
‘paisagem do Ribeirão Taquaruçu (Casa do Artesão), 2 sujeitos (7%); ‘paisagem do
Fundão’, 1 sujeito (3%); ‘paisagem da Serra do Carmo, 8 sujeitos (27%); ‘paisagem
do Bar da Gaúcha’, 1 sujeito (3%); ‘paisagem do Cemitério’, 1 sujeito (3%);
‘paisagem do CATur’, 2 sujeitos (7%); ‘paisagem da rua da residência e presença de
lixo’, 1 sujeito (3%); paisagem da Praça Joaquim Maracaípe’, 1 sujeito (3%); a
‘paisagem da Praça das Crianças’, 1 sujeito (3%); ‘paisagem do Loteamento
Público’, 1 sujeito (3%); e ‘paisagem do Buritizal no centro do distrito’, 1 sujeito (3%)
(Tabela 10).
Dentre as paisagens indicadas pelos sujeitos, as que se referem ao Ribeirão
Taquaruçu e ao Córrego Sumidouro foram agrupadas numa categoria que
denominamos 'paisagem do Ribeirão Taquaruçu e Córrego Sumidouro'.
Foi utilizada uma foto do Ribeirão Taquaruçu que representou também o Córrego
Sumidouro, pois trabalhamos num contexto mais amplo, que apesar do Córrego
Sumidouro desaguar no Ribeirão, para os sujeitos os comentários foram
semelhantes para ambos, pois se apresentam como recursos naturais (cursos
d'água) com características e efeitos da ação do homem também semelhantes,
conforme as suas percepções.
A 'paisagem do CATur' e a 'paisagem da Casa do Artesão” foram indicadas por 2
sujeitos (7%) cada, porém os comentários sobre a 'paisagem do CATur' revelaram
uma percepção diferenciada segundo o uso do espaço, sendo esta utilizada na
análise como a terceira paisagem 'mais desagradável'.
105
Assinalar no mapa a paisagem de Taquaruçu mais desagradável para você.
Categoria Qt. %
Paisagem da Serra do Carmo 8 27%
Paisagem do Ribeirão Taquaruçu (Roncadeira) 4 13%
Paisagem do Córrego Sumidouro 4 10%
Paisagem do CATur 2 7%
Paisagem do Ribeirão Taquaruçu (Praça) 2 7%
Paisagem do Ribeirão Taquaruçu (Casa do Artesão) 2 7%
Paisagem do "Fundão" 1 3%
Paisagem da Casa do Artesão 1 3%
Paisagem do Bar da Gaúcha 1 3%
Paisagem do Cemitério 1 3%
Paisagem da rua da residência e presença de lixo 1 3%
Paisagem da Praça Joaquim Maracaípe 1 3%
Paisagem da Praça das Crianças 1 3%
Paisagem do loteamento público 1 3%
Total de paisagens 15 100%
Tabela 10: Categorização das Respostas Abordagem 1: Ouvindo Paisagens Mais
Desagradáveis.
Destacamos então, segundo a indicação dos sujeitos e a categorização dos
comentários, as três paisagens 'mais desagradáveis' de Taquaruçu:
Mais Desagradáveis: ‘paisagem do Ribeirão Taquaruçu e Córrego
Sumidouro’, indicada por 10 sujeito (33%); paisagem da Serra do Carmo’,
indicada por 8 sujeitos (27%); e ‘paisagem do CATur’, indicada por 2 sujeitos
(7%).
Foto 62. Paisagem do Ribeirão Taquaruçu e
Córrego Sumidouro. Fonte: Vanesa Rios
Milagres, 2008.
Foto 66. Paisagem da Serra do Carmo.
Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2008.
vanesa
Foto 70. Paisagem do CATur. Fonte: Vanesa
Rios Milagres, 2008.
vanesa
Ilustração 9: As Três Paisagens de Taquaruçu 'Mais Desagradáveis'.
Os sujeitos identificaram o Ribeirão Taquaruçu e o Córrego Sumidouro como a
paisagem 'mais desagradável' de Taquaruçu. Para isso utilizaram em seus
comentários diversos termos e expressões, que segundo seus critérios e exigências,
106
retratam e justificam a condição dos mesmos.
Para exemplificar, citamos alguns desses comentários que demonstram e despertam
nos sujeitos o sentimento de que esses recursos estão “acabando” (2JS, 2008),
“desagradando” (2JS, 2008; 26JCP, 2008), desrespeitado (2JS, 2008; 13RSF, 2008),
“desaparecendo” (2JS, 2008), “desagradável” (4CFB, 2008), “degradado” (4CFB,
2008; 12AMVM, 2008; 21EPT, 2008), “crítico” (4CFB, 2008), “morrendo” (13RSF,
2008), 'com lixo' (13RSF, 2008; 15IFO, 2008; 26JCP, 2008), “descuidado” (15IFO,
2008), “judiado”, “desmatado”, “acabando”, “fedendo” (17MRL, 2008), “sujo”
(25JFSS, 2008; 17MRL, 2008), “secando” (21EPT, 2008; 25JFSS, 2008) e “poluído”
(26JCP, 2008).
A dimensão da 'paisagem do Ribeirão Taquaruçu' também excede o que pode ser
abrangido num olhar, mas cada sujeito, mesmo indicando um ponto de referência do
qual pudéssemos perceber os atributos da paisagem, compreendem e percebem os
efeitos da ação do homem na mesma, pela forma como comunidade e
visitantes/turistas fazem uso dela.
A 'paisagem do Ribeirão Taquaruçu e Córrego Sumidouro' foi um dos elementos, do
conjunto paisagístico da região, determinante na escolha da mesma para que os
pioneiros dessem início ao povoado “Boqueirão (27TSJTSB, 2008), depois Santa
e mais tarde Taquaruçu, distrito do município Palmas-TO. Ela “tem uma história,
era um córrego que tinha um volume de água grande, as margens eram cobertas, só
que tiraram” (4CFB, 2008).
Constatamos também que a percepção pelos sujeitos da condição de “degradado”
(4CFB, 2008; 12AMVM, 2008; 21EPT2008) do Ribeirão e do Córrego se deve ao
fato dos mesmos estarem em “área particular e o dono não cuida, tem lixo,
desmatou, está muito feio” (12AMVM, 2008).
Parece-nos que para os sujeitos a responsabilidade pela preservação dos mesmos é
'do outro' e não dele próprio, pois tem “lixo [...], deveria cuidar, mas ninguém cuida”
(15IFO, 2008). “Tem muitas pessoas que vêm de fora que tem mais cuidado que a
população” (13RSF, 2008), “acho que pra prefeitura fazer uma recuperação do
córrego [...], o pessoal é terrível joga cachorro morto dentro dele, é triste, me
107
desagrada totalmente” (30MCFV, 2008).
Os sujeitos percebem que algo precisa ser feito, pois o “córrego está secando, tem
que fazer uma obra de revitalização, muito sujo, pra cidade não é bom né”
(25JFSS, 2008). Mas também percebem equivocadamente o que o levou a estar
“morrendo” (13RSF, 2008), ao comentar que “secou, quando o prefeito mandou fazer
o campo ele pôs umas bomba pra jogar água pro campo e secou o córrego”
(21EPT, 2008).
Visualmente é perceptível ao longo do leito do Ribeirão e do Córrego, principalmente
na zona urbana do distrito, a condição de degradação, desmatamento, retirada da
mata ciliar, presença de lixo, erosão das margens e assoreamento.
Os efeitos dessa condição produzem impactos em toda extensão dessa paisagem,
“prejudica quem mora perto e a gente também que mora aqui embaixo” (26JCP,
2008). Era comum os moradores utilizarem como espaço de lazer, determinados
pontos do Ribeirão e do Córrego, principalmente na área urbana e em pontos que se
encontram à beira da Rodovia TO-030, sentido Taquaralto.
No entanto hoje:
[...] o Taquaruçu pequeno, eu conheci ele vivo, muita água, limpo e hoje ele
está poluído, nossa eu não consigo levar meu filho. Eu tenho um bebê de
três anos, não levaria para tomar um banho se divertir, não tenho coragem.
Coisa que eu fiz muito, com a maior tranqüilidade, hoje essa água me
coceira, porque as pessoas não respeitam, as pessoas agridem a natureza,
você passa nessa beira é um lixo só, chega a chora de dó, ver o rrego
morrendo, vai chegar uns dez anos ele morrer. Isso é terrível é muito
desagradável. Toda vez que eu vou eu me entristeço. Tem muitas
pessoas que vem de fora que tem mais cuidado que a população (13RSF,
2008).
Se a percepção depende de filtros e estes podem ser culturais, religiosos, familiares
ou econômicos, ela depende também das experiências pessoais e das preferências
ambientais dos sujeitos. Por isso, uma mesma paisagem pode ser indicada como
'mais agradável' por um e 'mais desagradável' por outro.
Nesse sentido, a 'paisagem da Serra do Carmo', além de ser uma das paisagens
que representa o distrito e que satisfaz e agrada aos gostos, critérios e exigências
da maioria dos sujeitos, é também a segunda paisagem 'mais desagradável', sendo
indicada por 8 sujeitos (27%).
108
A dimensão da 'paisagem da Serra do Carmo' vai além do que podemos ver num
lance de vista, o que significa dizer, segundo Lynch (1997), que a cada instante
mais do que o olho pode ver, mais do que o ouvido pode perceber, esperando para
serem explorados.
Podemos considerá-la como a segunda paisagem 'mais desagradável' porque
“quando a gente olha as pessoas jogam lixo, tem muito gado, as pessoas vão
desmatando, acabando com a natureza, acabou , não tem mais onde os animais
ficarem, fica feio” (18EMM, 2008). “Derruba árvores” (27TJTSB, 2008) e “quando
chove, fica um córrego, parece que a água toda desce aqui” (23JASJ, 2008).
O uso inadequado, o desmatamento e as alterações provocadas e ocasionadas pelo
homem vai transformando essa paisagem que apresenta novos e diferentes
'cenários', que podem ser cotidianos e/ou turísticos, em prol do desenvolvimento e
do bem estar social da comunidade (coletivo) e dos sujeitos residentes ou não
(individual).
Taquaruçu encontra-se ao de vales que compõem o conjunto paisagístico da
Serra, que estão no entorno de todo o distrito, possibilitando ser avistada de vários
pontos e logradouros, sejam eles o de uma residência, de uma rua, de uma praça,
de um colégio, de uma rodovia, de um morro e/ou dela mesma.
Mas essa paisagem também se revela desagradável em determinado período do
ano, “na época do sol, queimada, fica um clima tão estranho, tão esquisito, põe fogo
pra renovar, você perde a visão da serra, fica tudo cheio de fumaça” (29MCS, 2008).
Tem a “seca, fumaça, fogo, ataca muito esse lado, o que desagrada a gente é essa
época, da seca, o tempo até se torna mais quente, pra aqui assim tem muito foco de
fogo, vem sujeira, o vento trás muito carvão, na época da seca tem esse tipo de
coisa” (28ELA, 2008).
Os critérios para escolha das paisagens por parte dos sujeitos são os mais variados
possíveis. Depois do asfaltamento do trecho da Rodovia TO-030, saindo de
Taquaruçu em direção a Buritirana, aconteceram muitos acidentes, devido a um
recorte no relevo e à curva que foi necessário ser feita, pois quando:
[...] a gente vai descendo, tem um lugar que o carro desce mesmo, ichi,
109
liso já. Pra mim é errado demais eles fizeram essa estrada ali, tinha como
fazer em outro lugar, desviar desse boqueirão, gastaram mais que outro
lugar, uma curva muito perigosa, tinha como eles terem tirado, pra ficar serra
dum lado e serra do outro. Quando eu desço ali eu penso: senhor porque
que fizeram assim e não daquele lado (20LDB, 2008).
Ou então, “eu olho bem ali em cima, onde os carros caem...despenca de e ai
acabou...o pessoal desce direto não faz a curva ai morre” (6MSG, 2008). Para os
sujeitos “não tem nenhum tipo de segurança, todas as pessoas que vem olhar não
tem segurança, para olhar a vista de Taquaruçu” (19GPG, 2008).
Talvez aquele tenha sido o melhor trajeto para o novo trecho da rodovia, mas os
sujeitos quando comentavam sobre os acidentes, fechavam os olhos, uns
colocavam a mão no coração e outros comentavam sobre a 'paisagem do cemitério'
ser a 'mais desagradável' para eles, devido ao fato de terem enterrado um ente
querido ou um conhecido que veio a falecer por acidente na 'Serra'.
Os sujeitos, que de suas residências podem avistar esse trecho da 'paisagem da
Sera do Carmo', mesmo não tendo parentesco com as vítimas ou não as
conhecendo, passaram a se desagradar da Serra por esses fatos, sentido e
demonstrando que algo precisa feito.
A terceira paisagem 'mais desagradável' de Taquaruçu é a 'paisagem do CATur',
“porque a noite as pessoas ficam fazendo coisas. não serve pra nada” (9SDB,
2008). Se o CATur gera esse tipo de percepção, qual será a percepção ou a
identidade do turismo em Taquaruçu para esses sujeitos?
10.3 Dos Efeitos do Turismo na Paisagem
Nesta abordagem foram levantadas informações sobre o sistema de valores da
comunidade local de Taquaruçu, com relação aos efeitos do turismo nas paisagens
do distrito.
Abordamos a estrutura de referência que condiciona as idéias e o comportamento
dos indivíduos residentes em Taquaruçu diante dos efeitos ambientais, socioculturais
e econômicos do turismo que se projetam nas paisagens e que se apresentam
cotidianamente diante dos seus olhos.
A estrutura de referência são os valores que levam os sujeitos a reagirem em
110
relação a essas mudanças na paisagem e a maneira como se portam diante do que
os cerca e envolve, diante dos elementos sociais e culturais simultâneos e diante da
produção, distribuição e consumo do produto turístico.
Os sujeitos foram literalmente indagados sobre suas percepções em relação a
modificações, alterações ou transformações produzidas pelo turismo, esperadas ou
não, nas paisagens da 'Serra do Carmo', do 'Ribeirão Taquaruçu e Córrego
Sumidouro' e da 'Praça Joaquim Maracaípe'.
Ao indagarmos os sujeitos sobre a sua percepção com relação a modificações,
alterações ou transformações produzidas pelo turismo nas paisagens de Taquaruçu,
esperamos a resposta 'sim' ou 'não'. Caso a resposta fosse 'sim', era indagando
sobre quais seriam essas modificações, alterações ou transformações percebidas
por ele.
Logo após, indagamos se essas modificações, alterações ou transformações
produzidas pelo turismo eram as esperadas por ele. Caso a resposta fosso 'sim',
consideramos essas modificações, alterações ou transformações como efeitos
positivos do turismo. Caso a resposta fosse 'não', consideramos essas
modificações, alterações ou transformações como efeitos negativos do turismo.
A caracterização dos efeitos positivos e/ou negativos foi realizada exclusivamente
com base na percepção de cada sujeito, pois procuramos não abordar de forma
direta e específica os efeitos do turismo nas paisagens de Taquaruçu, mas que os
próprios sujeitos nos transmitissem a sua percepção, segundo os seus filtros,
enquanto morador no distrito e não segundo os filtros ou interesses diretos do
pesquisador.
Não esperávamos respostas que queríamos ouvir, mas compreendermos como se
o socializar entre os sujeitos e as paisagens que os cercam, que envolvem o
sentir, pensar e agir sobre elas de modo a transformá-las para fazerem-se integrar e
interagir com o 'mundo' do turismo construído pela sociedade.
Sabemos que o turismo provoca nas paisagens mudanças consideradas positivas e/
ou negativas, como a conservação dos recursos culturais e/ou a falsa identidade; a
conservação dos recursos naturais e/ou a depreciação da paisagem com o
111
desenvolvimento arquitetônico não integrado; o surgimento de novas áreas de lazer,
atividades culturais e zonas comerciais e/ou a utilização dos serviços públicos e da
infra-estrutura além de suas capacidades.
Buscamos então nos concentrar na percepção que a comunidade tem dos efeitos do
turismo, indagando sobre a essência dos mesmos para ela, tomando como
referência fotos que foram utilizadas como recursos motivadores e estimulantes dos
sujeitos para elaborarem as respostas e buscarem, através de seus mecanismos
perceptivos e cognitivos, elementos percebidos nas paisagens em questão.
Como as fotos foram utilizadas como elementos motivadores para a resposta, os
sujeitos poderiam apontar mudanças na paisagem que não necessariamente
aparecem nas fotos, mas que ele conheceria em outros pontos do distrito e por
outros pontos de vista, logo a percepção visual não é a única via para que o sujeito
tome consciência dos efeitos do turismo.
Para representar a 'paisagem da Serra do Carmo' foi utilizada a seguinte ilustração:
Ilustração 10: Paisagem da Serra do Carmo –
Abordagem 2: Perguntando.
A 'paisagem da Serra do Carmo', com base em Tuan (1980, p. 80), pode ser
caracterizada também como uma “paisagem de montanha”, por ser um elemento da
natureza que desafia o controle do homem e sua tendência em responder
emocionalmente a ela, tratando-a em um momento como representativa e agradável
e noutro como desagradável.
É uma paisagem que apresenta valores ambientais, socioculturais e econômicos
Foto 16. Paisagem da Serra do Carmo. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008.
112
para o homem, para a sociedade e quiçá para a humanidade, da qual nos convém
perceber o que está além do que os olhos podem ver.
Ambientalmente, a cobertura vegetal da Serra, apresenta em seu relevo
montanhoso elementos do cerradão, com suas árvores baixas, retorcidas e de
cascas grossas, das veredas, com suas sendas e das matas de encosta com sua
exuberante vegetação.
Simultaneamente social e cultural, essa paisagem é agregada de valor ao ser usada
pelo homem como local de lazer, contemplação, celebração de cultos e adoração a
Deus, modelo para pinturas, desenhos, fotografias e estímulo visual para
composição de prosas e poesias.
Diante de tantas possibilidades, alguns sujeitos percebem ou perceberam também o
seu valor econômico, enquanto recurso mineral e vegetal, bem como a importância
das atividades agropecuárias nela desenvolvidas, ainda que para subsistência.
Com relação à percepção sobre alguma modificação, alteração ou transformação
produzida pelo turismo na 'paisagem da Serra do Carmo', 11 sujeitos (61%)
percebem e 7 sujeitos (39%) não percebem (Tabela 11).
A percepção dos sujeitos com relação a modificações, alterações ou transformações
tem como principal aspecto as questões ambientais, pois como “as cachoeiras se
encontram nas encostas da Serra, no início houve um impacto provocando
desmatamentos, como: abertura de trilhas, áreas para acampar” (4CFB, 2009).
Para eles o “ambiente ficou muito devastado [...] não que eu não goste de mudança,
mas com os cuidados para não prejudicar o ambiente” (7FDS, 2009), como a
“poluição, o desmatamento” (13RSF, 2009). “Está faltando preservação e limpeza”
Tabela 11: Distribuição da Percepção de
Mudanças na 'Paisagem da Serra do
Carmo'.
Respostas Questão 1- a
Sim 11 61%
Não 7 39%
Total 18 100%
113
(15IFO, 2009).
Entretanto, para alguns sujeitos “além do aumento do fluxo de pessoas” o turismo
produziu “uma melhora na infra-estrutura local, aumento de trabalho, digo, emprego,
super valorização dos imóveis” (30MCFV, 2009) e “renda para algumas pessoas,
não tão significativa” (13RSF, 2009).
Mas o mesmo 'asfalto', que “dá cesso a outras paisagens, facilitando assim a
circulação de pessoas que necessitam utilizar esse acesso” (25JFSS, 2009) e uma
“visão mais limpa sobre a paisagem, ou mesmo da cidade” (23IASJ, 2009) é o
gerador de “acidentes, por causa da estrada que não tem um meio de segurança
melhor” (1VG, 2009).
Para alguns sujeitos, a visão da Serra e do trecho da rodovia, remete a lembranças
de fatos passados, como os “acidentes” (1VG2009), representando a relação entre
percepção e memória, ou seja, de como a memória interfere positiva e/ou
negativamente na percepção.
Com relação à percepção dos sujeitos sobre alguma modificação, alteração ou
transformação esperada na 'paisagem da Serra do Carmo', produzida pelo turismo,
6 sujeitos (33%) esperavam e 12 sujeitos (67%) não esperavam (Tabela 12).
Podemos dizer, que independentemente dos efeitos terem sido positivos ou
negativos, não foram os esperados para a maioria dos sujeitos (67%). “Não foi o que
eu esperava, porque a tranquilidade de Taquaruçu acabou, nós apenas moramos
mas a cidade pertence aos turistas, visitantes e outros” (7FDS, 2009). “A falta de
respeito pelas coisas locais, falta de silêncio, aumento da violência e com ela a
prostituição, drogas, seguidos de isolamento de famílias aqui existentes” (30MCFV,
2009).
Tabela 12: Distribuição da Percepção de
Mudanças Esperadas na 'Paisagem da
Serra do Carmo'.
Respostas Questão 1- c
Sim 6 33%
Não 12 67%
Total 18 100%
114
Esses são efeitos socioculturais do turismo muito negativos, pois espera-se que a
atividade produza melhoria na qualidade de vida dos moradores, afinal eles esperam
também “o progresso de forma sustentável e menos degradante” (13RSF, 2009) e
“que houvesse mais estruturas para melhor aproveitar os atrativos turísticos que
Taquaruçu tem por natureza” (27TJTSB, 2009).
Se os efeitos do turismo são a relação entre o uso dos recursos culturais, a
interação entre comunidade local e turistas, ele precisa acontecer através do
compartilhamento da infra-estrutura, dos equipamentos e dos serviços que são
produzidos para o mesmo com a comunidade.
No entanto, essa relação nem sempre revela as expectativas dos moradores,
expectativas essas que se encontram à vista daqueles que vivenciam o cotidiano
dessas paisagens, mas não à vista dos que visitam e até mesmo dos que
pesquisam.
Para 9SDB (2009), “o bom seria se mudasse o trajeto que vai para o roncador ou
que reforçasse a traves de segurança, pois a rodovia é muito perigosa e geralmente
acontecem muitos acidentes e alguns deles trágicos” (9SDB, 2009).
Outro sujeito “gostaria que tivesse mais segurança no trecho da serra para evitar
acidente e conservar a nossa beleza que é a natureza” (26MJPR, 2009), para “os
motoristas terem mais cuidado ao descer a serra, ter policiamento em caso de
motoristas embriagados” (1VG, 2009).
É certo para eles a necessidade de mudança no “trajeto da rodovia TO-030 que
matou muitas pessoas. Tem jeito de mudar, porque fizeram no lugar muito perigoso.
Nós esperamos que vocês arrumem o mais rápido possível” (20LDB, 2009) e “uma
via de acesso para pedestres reavivar suas caminhadas do distrito ao mirante, que
se encontra na Serra do Carmo” (4CFB, 2009).
Controverso a isso, sujeitos que não esperam “nada, porque não mudaria nada.
Do jeito que está, bem melhor” (18EMM, 2009), que “ao fazer o asfalto as
serras foram ficando esculpidas” (19GPG, 2009), apesar do “desmatamento de
nossas árvores e lixo” (8DRAL, 2009).
115
Espera-se “que haja modificações sempre para melhor no turismo do nosso
Taquaruçu e assim acontecendo favorece por certo o nosso ambiente” (3JPA, 2009).
Acrescentamos ainda que associado aos valores ambientais, socioculturais e
econômicos da 'paisagem da Serra do Carmo', agrega-se também outro, o de
atrativo turístico, principal motivador dos deslocamentos de pessoas para fora do
seu entorno habitual, incrementando o fluxo turístico e promovendo o efeito
multiplicador do turismo, bem como seus efeitos positivos e negativos.
Para representar a 'paisagem do Ribeirão Taquaruçu e Córrego Sumidouro' foi
utilizada a seguinte ilustração:
Ilustração 11: Paisagem do Ribeirão Taquaruçu e
Córrego Sumidouro – Abordagem 2: Perguntando.
A paisagem acima, também com base em Tuan (1980, p.98), pode ser caracterizada
como uma “paisagem de beira de rio”, que é de certa forma 'adorada' enquanto
recurso natural abundante em águas, pois os moradores de Taquaruçu dependiam
antigamente delas e hoje dependem, talvez em menor grau, para o plantio e o uso
doméstico.
Podemos também agregar a esta paisagem, valores ambientais, socioculturais e
econômicos. Devemos percebê-la não apenas pelo que está diante dos nossos
olhos, mas também por todos os aspectos que estão contidos nela e que de alguma
forma são desagradáveis para a maioria dos sujeitos ouvidos na Abordagem 1.
Seu valor ambiental pode se dar pelo fato de ser um recurso natural necessário à
sobrevivência do homem e dependente atualmente de ações resguardadoras da
Foto 62. Paisagem do Ribeirão Taquaruçu e Córrego Sumidouro.
Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2008.
116
própria ação do homem, seja ele um usuário permanente ou temporário (morador,
um turista ou um visitante).
Quanto ao valor sociocultural, nos referimos ao seu uso com fins de lazer e
recreação, ou seja, o tempo de não trabalho em que os indivíduos se ocupam com
atividades de livre vontade.
Essas atividades de livre vontade também apresentam características bem
peculiares, como o caráter hedonístico, liberatório, pessoal e desinteressado, onde o
objetivo é descansar, divertir ou simplesmente desenvolver sua personalidade.
No entanto, no seu uso, também verificamos práticas culturais específicas da região,
como o uso doméstico para lavagem de roupas, louças e banho, no sentido de
higiene pessoal. Ou seja, manifestações e usos tradicionais e populares diminuídos
ao passar do tempo, mas ainda presentes.
A partir do momento que essa paisagem é utilizada como recurso hídrico para
irrigação e abastecimento, ela adquire valor econômico, pois é necessária à geração
de bens e serviços e estes são cobrados aos seu usuários. É importante a sua
preservação, pois é um bem que deve continuar a ser usado pelas gerações futuras
sem prejuízos significativos, como o desparecimento do Ribeirão e do Córrego.
Com relação à percepção dos sujeitos sobre alguma modificação, alteração ou
transformação produzida pelo turismo na 'paisagem do Ribeirão Taquaruçu e
Córrego Sumidouro', 15 sujeitos (83%) percebem e 3 sujeitos (17%) não percebem
(Tabela 13).
As modificações, alterações ou transformações percebidas pelos sujeitos referem-se
principalmente à “sujeira” (7FDS, 2009), ao “lixo” (4CFB, 2009; 8DRAL, 2009; 9SDB,
2009; 18EMM, 2009; 19GPG, 2009; 23IASJ, 2009; 26MJPR, 2009; 30MCFV, 2009),
Tabela 13: Distribuição da Percepção de
Mudanças na 'Paisagem do Ribeirão
Taquaruçu e Córrego Sumidouro'.
Respostas Questão 2- a
Sim 15 83%
Não 3 17%
Total 18 100%
117
à “poluição” (7FDS, 2009; 9SDB, 2009; 25JFSS, 2009) e ao “desmatamento” (4CFB,
2009; 8DRAL, 2009; 18EMM, 2009; 27TJTSB, 2009).
Para eles, esses efeitos da ação do homem ocasionaram a “poluição das águas e o
aterramento do córrego” (7FDS, 2009), assim como “a destruição da mata ciliar”
(4CFB, 2009) que pode levar também à erosão dos solos.
Outro fato relevante é a questão da “aquisição de chácaras, conseqüentemente
fazendo 'represas' nas nascentes do ribeirão” (4CFB, 2009) e também despejando
nele os insumos agrícolas utilizados nos seus cultivos, prejudicando os suprimentos
de água de superfície e de sub-solo.
A questão do lixo foi muito comentada, havendo o entendimento por parte de alguns
de que “[...] isso não prejudica eu, ou você, mas todos nós e os animais
também, se cuidarmos daquilo que é nosso filhos irão nos agradecer” (9SDB, 2009).
Um dos sujeitos, percebendo que o lixo de alguma forma prejudica essa paisagem,
comentou que “porque acabam jogando lixo no rio que o rio fica vez mais violento”
(19GPG, 2009), violento porque quando o lixo desce Ribeirão ou Córrego abaixo, vai
arrastando tudo que tem pela frente, causando “assoreamento bem frequente”
(13RSF, 2009).
Mas sabemos que o lixo não é o causador disso, no entanto, parece-nos que a
relevância desse comentário se deve ao fato da quantidade de lixo jogada, que deve
ser muito grande.
também o “comportamento dos nativos e dos turistas” (15IFO, 2009) e a
“consciência dos próprios moradores da beira do Ribeirão Taquaruçu que desmata e
não pensa no futuro das próximas gerações que vão precisar de água” (17MRL,
2009).
O sujeito 25JFSS (2009), percebe “que o córrego tem diminuído muito suas águas e
também está um pouco poluído” (25JFSS, 2009), o que poderá levá-lo ao
“secamento [...] por desmatamento e lixo jogado no ribeirão” (18EMM, 2009).
Acrescentamos também a poluição do ar com os acúmulos de lixo, o crescimento da
área construída e a”falta rede de esgoto, todas as águas das chuvas e lixos caem no
ribeirão” (23IASJ, 2009), e nas residências, ainda é usado o sistema de fossa.
118
“Falta de conservação à beira do Rio Taquaruçu. Com a limpeza do lixo à beira da
água que antigamente era lugar de todos os moradores tomar banho e lavar roupa e
até beber e fazer comida” (26MJPR, 2009).
O desmatamento nas proximidades dessa paisagem e as queimadas acidentais e/ou
provocadas têm contribuído para a devastação dos remanescentes florestais que
dependem dessas águas. Essa “transformação no córrego vem ocorrendo a algum
tempo, não por causa do turismo, mas também por causa do desmatamento em
volta do mesmo que vem diminuindo suas águas” (27TJTSB, 2009) e o seu “leito”
(30MCFV, 2009).
Com relação à percepção dos sujeitos sobre alguma modificação, alteração ou
transformação esperada na 'paisagem do Ribeirão Taquaruçu e Córrego Sumidouro',
produzida pelo turismo, 5 sujeitos (28%) esperavam e 13 sujeitos (72%) não
esperavam (Tabela 14).
As modificações, alterações ou transformações produzidas pelo turismo que os
sujeitos esperavam também relacionam-se com as questões sobre o lixo, sobre
consciência da população, “fiscalização do poder público” (4CFB, 2009), “reflexão”
(8DRAL, 2009), preservação, “cuidado” (25JFSS, 2009), “harmonia...respeito,
dignidade, liberdade. Que a cidade funcione não para o turista com dinheiro, mas
para todos e para seus moradores” (30MCFV, 2009).
Os sujeitos esperam “o que for possível melhorar, para nós toda melhoria é bem
vinda” (3JPA, 2009), mas esperavam também que “a cidade continuasse nossa, que
tivéssemos qualidade de vida. Melhorou mas perdemos nossos princípios, pois hoje
vivemos outra realidade” (7FDS, 2009). “Esperava que as nascentes fossem melhor
preservadas, onde se trabalhasse a educação ambiental das pessoas que o utilizam
como recurso para se divertir” (13RSF, 2009).
Para isso, é preciso “que não joga lixo no rio, garrafa, lata, lixo, papel, sacola, bicho
Tabela 14: Distribuição da Percepção de
Mudanças Esperadas na 'Paisagem do
Ribeirão Taquaruçu e Córrego
Sumidouro'.
Respostas Questão 2- c
Sim 5 28%
Não 13 72%
Total 18 100%
119
morto, osso de vaca, boi, cachorro, gato e outros” (20LDB, 2009), “a população
devia se conscientizar e não fazer coco na beira do ribeirão” (1VG, 2009).
Percebemos nos comentários dos sujeitos que a responsabilidade pelo cuidado com
essa paisagem é mais do outro que dele próprio. Há consciência de que todos esses
efeitos são prejudiciais o para a própria paisagem, mas também para aqueles
que vivem ao seu redor e as futuras gerações, mas ainda não houve a apreensão de
que cada um pode fazer sua parte, de que cada um pode experienciar atitudes
sustentáveis diante do meio em que vivem.
O sujeito 8DRAL (2009), “esperava que o ser humano teria um pouco mais de
reflexão pelo que estão fazendo com a nosa natureza” e apenas um tomou para si e
para o coletivo essa importante tarefa:
[...] Nós temos que cuidar dos nossos rios, se hoje eu preciso dele amanhã
eu vou precisar ainda mais. Jogar lixo no lixo, se nós levamos temos que
trazer de volta e pôr na lixeira, temos que começar por nós moradores e os
turistas seguirem o exemplo (9SDB, 2009).
Aos valores ambientais, socioculturais e econômicos, agregamos também o uso
para fins turísticos, que pode oportunizar o uso dessa paisagem para visitantes e
turistas que trarão e terão percepções diferenciadas e/ou semelhantes às dos
sujeitos residentes que as utilizam, gerando aumento dos efeitos de seu uso, sejam
eles positivos ou negativos.
Para representar a 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe' foi utilizada a seguinte
ilustração:
Ilustração 12: Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe - Abordagem 2: Perguntando.
Foto 43. Paisagem da Praça Joaquim Maracaípe. Fonte: Vanesa
Rios Milagres, 2008.
120
com base em Lynch (1997, p. 52), podemos caracterizar a 'paisagem da Praça
Joaquim Maracaípe' como um paisagem “ponto nodal”, ou seja, um lugar estratégico
no distrito, através do qual o observador ou os sujeitos, podem entrar e para o qual,
ou a partir do qual, podem se locomover.
Por essa paisagem ser um local de interrupção do fluxo do trânsito ela é muito
importante para os seus observadores, sejam eles residentes, turistas ou visitantes.
Estes, ao tomarem decisões nas junções da praça, “ficam mais atentos [...] e
percebem elementos circundantes com uma clareza incomum” (LYNCH, 1997, p.
81).
É uma paisagem representativa e agradável para boa parte dos sujeitos ouvidos na
Abordagem 1, o que significaria dizer que sua funcionalidade é vital para os
moradores e para os turistas e visitantes, informando de forma clara e visual,
direções gerais para os bairros e quadras do distrito, bem como dos atrativos
turísticos. Nela e no seu entorno são desenvolvidas várias atividades que
representam seu valor ambiental, sociocultural e econômico.
Valor ambiental por permitir avistarmos paisagens da Serra do Carmo de diferentes
posições e ângulos, sendo esta o recurso natural que mais chama atenção no
distrito. Por permitir avistarmos também paisagens com casarios e pessoas à sua
volta, uns tombados, preservados e modernizados, outros indo para o trabalho,
passeando e olhando em volta e o seu próprio ajardinamento.
Valor sociocultural por ser um lugar público onde acontecem várias manifestações e
usos tradicionais e populares, o lazer e a recreação e também donde presenciamos
a história dela própria, do distrito e das pessoas à sua volta.
Valor econômico, pelos acontecimentos programados, que nela ou ao seu redor são
realizados, promovendo o fluxo de pessoas e a troca de bens e serviços, como por
exemplo, a Feira de Artesanato (evento semanal) e o Festival Gastronômico (evento
anual).
Com relação à percepção dos sujeitos sobre alguma modificação, alteração ou
transformação produzida pelo turismo na 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe',
121
16 sujeitos (89%) percebem e 2 sujeitos (11%) não percebem. (Tabela 15).
As modificações, alterações ou transformações percebidas pelos sujeitos nessa
paisagem apresentam mais elementos positivos que negativos. Entre as suas
respostas estão a importância da arborização da Praça depois da reforma: a
“arborização da praça foi um fato positivo, harmonizando o ambiente” (4CFB, 2009);
“foram feitas calçadas, plantadas gramas, árvores e construído casas” (25JFSS,
2009); “a cascata, os orelhões que fazem parte da natureza” (1VG, 2009) e foram
construídos em formato de animais.
Mas também encontramos percepções negativas com relação às mudanças que
ocorreram, que “ficou muito bonita”, mas “falta cuidados na limpeza” (7FDS,
2009), “a sujeira e o desleixo” (8DRAL, 2009), “o excesso de lixo e a depredação”
(13RSF, 2009), principalmente depois dos acontecimentos programados, ou seja dos
eventos que são realizados na Praça e no seu entorno.
Por causa desses eventos um sujeito escreveu o seguinte: “eu percebo que
conforme a época, seja de algumas datas comemorativa da cidade o fluxo do
turismo aumenta, passou temporada tudo volta ao normal” (3JPA, 2009).
Para o sujeito 27TJTSB (2009), “a praça foi reformada e teve uma cara nova com a
vinda do turismo, com bancos novos, plantio de árvores, construção de uma
cascata, iluminação etc”. O movimento de turistas e visitantes também alterou a
paisagem da Praça e o cotidiano dos moradores, uma vez que esse fluxo de
pessoas se deslocando pra fora do seu entorno habitual é de certa forma sazonal,
pois dependem de tempo livre, condições financeiras, motivação para visitar e
revisitar o lugar, entre outros fatores, como a relação entre todos e a paisagem local.
[...] a praça antigamente tinha mais turistas porque era mais bonito, foi se
transformando cada vez mais, com a chegada de mais pessoas foram
criadas mais casas e para isso tinha que ter sido derrubadas algumas
árvores (19GPG, 2009).
Respostas Questão 3- a
Sim 16 89%
Não 2 11%
Total 18 100%
Tabela 15: Distribuição da Percepção de
Mudanças na 'Paisagem da Praça
Joaquim Maracaípe'.
122
Se cada sujeito percebe a paisagem da Praça segundo seus filtros, as contradições
podem se fazer presentes, como na resposta do sujeito 15IFO (2009), em que ele
afirma que “falta de compromisso dos governantes” (15IFO, 2009) e na resposta de
outro sujeito, que afirma exatamente o contrário, pois para ele “no caso da praça, o
poder público está mantendo seu papel na limpeza do local” (4CFB, 2009).
A paisagem que para um parece ser um mosaico, para outro pode parecer um
quebra-cabeça, com suas peças soltas pelo ar e as quais somente o sujeito que a
observa tem condições de montar e expressar a sua percepção. Alguns por
exemplo, percebem além: “nesta foto, esta paisagem está linda, bem cuidada, um
belo cartão postal, que por trás estão escondidas várias paisagens que dizem o
contrário desta foto” (23IASJ, 2009).
Nesse comentário concordância com os sujeitos da Abordagem 1, que indicaram
a 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe' como representativa e agradável, mas e
o que está por trás desse “cartão postal” (23IASJ, 2009)? As relações sociais,
ambientais e econômicas entre seus moradores, entre os turistas e visitantes e entre
estes.
Talvez este sujeito refira-se à criação de mais casas [...] a derrubada de algumas
árvores, comentada pelo sujeito 19GPG (2009). Fato é que a falada 'reforma'
reposicionou estruturas presentes na Praça para um melhor adequação de espaço,
como o “o prédio da biblioteca era o colégio [...], em um todo a praça passou por
uma reforma muito boa, que fez melhorar para a população de Taquaruçu”
(17MRL, 2009).
Esta então cumpre o papel que é de todo cidadão, sua “beleza e a organização dos
objetos e das plantações [...] deixam os turistas mais a vontade e aptos a não
provocarem a sujeira” (29MCS, 2009), demonstrando que a Praça é que “está
preparada, melhorada, reformada (ponto positivo)” (30MCFV, 2009) e apta a
despertar nos sujeitos, no caso nos turistas, a consciência ambiental que tanto se
espera de todas as pessoas.
Com relação à percepção dos sujeitos sobre alguma modificação, alteração ou
transformação esperada na 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe', produzida pelo
turismo, 8 sujeitos (44%) esperavam e 10 sujeitos (56%) não esperavam (Tabela 16).
123
As modificações, alterações ou transformações produzidas pelo turismo esperadas
pelos sujeitos demonstram situações que eles vivenciam cotidianamente e que
gostariam que mudassem, como por exemplo “um atendimento melhor e mais
investimento e qualidade para a população” (1VG, 2009).
O turismo é uma atividade que pressupõe a organização e o envolvimento de
diversos setores da economia, principalmente os relacionados com a prestação de
serviços, onde a qualidade no atendimento é premissa essencial para a fidelização
do cliente ou simplesmente para a sua satisfação.
Nesse sentido, os sujeitos esperavam que com a implantação da atividade turística
essa situação realmente mudasse, que ao esperar “uma melhor estrutura para
atender o turista como: pousadas, atrações na cidade que viesse chamar a atenção,
um trabalho mais especializado de guias e enfim um trabalho especializado para
receber o turista” (27TJTSB, 2009), conseqüentemente a comunidade seria
beneficiada.
Apesar dos sujeitos 3JPA (2009) e 7FDS (2009), referirem-se à 'paisagem da Praça'
para fazerem seus comentários, conforme lhes foi questionado, outros sujeitos
tiveram percepções diferenciadas e que envolveram elementos não relacionados
a ela, mas também ao próprio desenvolvimento do turismo e das mudanças
ocorridas no seu cotidiano.
Para 13RSF (2009), ele “pelo menos pensava que a população em geral estivesse
preparada para receber esta evolução de forma mais madura” e para 7FDS (2009),
“esperava que as coisas fossem mais equilibradas, que não chegasse ao ponto de
perdermos nossa identidade” (7FDS, 2009).
Sendo a 'paisagem da Praça' agora um atrativo de pessoas, residentes ou não,
Respostas Questão 3- c
Sim 8 44%
Não 10 56%
Total 18 100%
Tabela 16: Distribuição da percepção de
mudanças esperadas na 'paisagem da
Praça Joaquim Maracaípe'.
124
muitas atividades e usos diferentes foram surgindo, como os bares presentes no seu
entorno. Com relação a isso, 20LDB (2009) espera que se “afasta os bares da praça
e que respeita os horários dos cultos porque eles não estão respeitando, muitas
brigas” (20LDB, 2009).
A 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe' ao passar pela reforma teve seu lay-out
alterado, a destruição de patrimônio, como a igreja que fazia parte dela e que agora
lugar a um 'teatro de arena' causou nesse sujeito a sensação de perda de
identidade, mesmo porque, como falamos anteriormente, uma praça é um lugar de
referência para seus observadores.
A derrubada de algumas árvores, também despertou o sentimento que isso não era
algo esperado, como comentou 19GPG (2009): “as mudanças não eram as
esperadas porque nós não esperamos que acabasse as árvores de Taquaruçu”, no
entanto, para ele “mesmo assim é lindo porque tem novas árvores e cultivam novas
plantas” (19GPG, 2009).
Podemos dizer que de certa forma essa é uma paisagem que passou por um
processo de “valorização e revitalização” (30MCFV, 2009) para alguns. Outros ainda
esperam “que tudo melhore nessa área, pois toda melhoria para nossa cidade, como
já disse, é muito bem vinda” (3JPA, 2009).
Em todas as atividades desenvolvidas na Praça, bem como em seus valores
ambientais, socioculturais e econômicos, está agregado e contido o seu valor
turístico, pois todos os tipos básicos de atrativos encontramos nela ou avistamos
dela, bem como os serviços e equipamentos turísticos.
Os efeitos ambientais, socioculturais e econômicos do turismo nessas paisagens
podem contribuir para a sua conservação ou mesmo dilapidá-las. A mercantilização
dessas paisagens também podem contribuir para manter as manifestações e usos
tradicionais e populares ou mesmo reconstruí-las e até extingui-las.
10.4 Do Grau de Envolvimento e Satisfação com o Turismo
Nesta abordagem foram levantadas informações sobre a escolha e o
comportamento da comunidade local de Taquaruçu com relação às suas paisagens,
125
bem como a percepção sensorial que ela tem das mesmas para verificarmos o grau
de envolvimento e satisfação com o turismo.
Ao observarmos a comunidade local, examinamos atentamente os indivíduos que a
compõem e o ambiente que os cerca, ou seja, as paisagens. Segundo Whyte (1977,
p. 21), a observação de indivíduos requer “systematic application and objective
interpretation. Observations in environmental perception can be structured according
to three dimensions”, a dimensão do alcance, do grau e da ênfase da pesquisa.
Tomando como base esses preceitos de Whyte (1977), foi observado o
comportamento dos sujeitos em relação às paisagens que escolheram apresentar, a
inter-relação entre o comportamento diante das paisagens e o registro dos seus
comentários.
Segundo Lynch (1997, p.1), “cada cidadão tem vastas associações com alguma
parte de sua cidade, a imagem de cada um está impregnada de lembranças e
significados”. Cada sujeito então pode perceber no seu local de residência várias
paisagens, diferentes ou iguais, e se portarem diante delas também de maneira
diferente, pois as lembranças e os significados perpassam pela experiência
sensorial que perpassa pelos filtros que cada um possui.
No entanto, mesmo apresentando paisagens diferentes, iguais, semelhantes ou
aparentemente iguais, mas que são observadas individualmente, vêem nelas um
conjunto de elementos ambientais, socioculturais e econômicos que as
transformarão em paisagens socialmente percebidas, ou seja, em paisagens
impregnadas de lembranças e significados para o grupo do qual fazem parte e para
a sociedade como um todo.
Os sujeitos, ao escolherem paisagens para serem apresentadas a uma pessoa que
não reside em Taquaruçu, o fizeram por terem essas paisagens como importantes e
preferenciais e também por destacarem inconscientemente um dos inúmeros papéis
da paisagem, que é o de “ser vista e lembrada, um conjunto de elementos do qual
esperamos que nos prazer” (LYNCH, 1997, p. VII), conseqüentemente, que
prazer a quem nunca a observou, a quem não a observa cotidianamente, a quem
não a experiencia, a quem não reside no local onde elas se apresentam.
126
Os pontos de partida estabelecidos foram as residências dos sujeitos, sendo que um
deles preferiu sair da Praça Joaquim Maracaípe devido à proximidade de sua
residência. Cada sujeito foi orientado no ponto de partida a escolher três paisagens
em Taquaruçu que gostaria de apresentar a uma pessoa que não residisse no
distrito. O termo turista o foi mencionado para não influenciar na escolha e
comportamento dos sujeitos, no entanto, alguns escolheram paisagens que
possuem ligação direta com o turismo.
Quanto ao tempo e extensão do percurso, não houve restrições, mas alguns sujeitos
não quiseram fazer todo o trajeto à pé, por isso utilizamos o veículo da pesquisadora
para fazermos alguns trechos dos percursos.
Os sujeitos foram selecionados entre os participantes da Abordagem 2:
Perguntando, através de convite pessoal. Entre os que apresentaram maior
predisposição em participar da Abordagem 3: Observando, foram selecionados 6
sujeitos.
A distribuição por gênero foi de 5 sujeitos (83%) do gênero feminino e 1 sujeito
(17%) do gênero masculino (Tabela 17).
Quanto à distribuição dos sujeitos por idade, foi de 3 sujeitos (50%) de 14 a 24 anos,
2 sujeitos (33%) de 25 a 45 anos e 1 sujeito (17%) de 35 a 46 anos (Tabela 18).
Os sujeitos foram selecionados segundo a predisposição para a pesquisa, não
sendo o atributo idade um pré-requisito. No entanto, destacamos que 3 sujeitos
ainda eram menores de idade, o que nos levou a solicitar autorização dos pais ou
NERO
Feminino 5 83%
Masculino 1 17%
Total 6 100%
Tabela 17: Distribuição por Gênero -
Abordagem 3: Observando.
IDADE
14 a 24 3 50%
25 a 35 2 33%
36 a 46 1 17%
Total 6 100%
Tabela 18: Distribuição por Idade - Abordagem
3: Observando.
127
responsável para a execução da visita. Um dos responsáveis pediu para
acompanhar a visita, pois há muito tempo não passeava pelo distrito, o que foi aceito
e não acarretou interferências na pesquisa.
Segundo Lynch (1997), os seres que se locomovem possuem uma capacidade vital,
a de estruturar e identificar o ambiente. O observador sujeito, de um modo geral,
selecionou, organizou e conferiu significado àquilo que viu. o observador
pesquisador, de um modo específico, definiu as variáveis da pesquisa: escolha e
comportamento e percepção sensorial. Variáveis que influenciam e direcionam o
modo de se relacionar com as paisagens. Nesse sentido, o observador sujeito, teve
motivações para escolha e comportamento diante delas, bem como determinadas
preferências e gostos segundo a sua percepção.
A ilustração abaixo apresenta, para cada sujeito, os pontos de parada, as paisagens
apresentadas, o tempo de parada em cada ponto e o tempo total do percurso:
Podemos observar no quadro que o menor tempo foi de 75min e o maior de 95min.
Isto quer dizer que 4 sujeitos (67%) gastaram entre 60min e 90min, 2 sujeitos (33%)
gastaram entre 91min e 120min e nenhum sujeito gastou mais que 120min.
Ilustração 13: Sujeitos, Pontos de Parada, Paisagens, Tempo de Parada e Tempo do Percurso.
Sujeito Paisagens Apresentadas
15IFO, 2009 PSG1 Paisagem do Ribeirão Taquaru, vista da Ponte dos Cruz 30min 80min
PSG2 Paisagem do Cruzeiro, vista da Ponte dos Cruz 15min
PSG3 Paisagem da Cachoeira Taquaru 20min
4CFB, 2009 PSG1 Paisagem da Pra 4CLB, vista da Igreja Batista 30min 95min
PSG2 Paisagem do Museu Casa Vítor 20min
PSG3 Paisagem do CATur 30min
9SDB, 2009 PSG1 Paisagem de Taquaru, vista do Mirante 20min 75min
PSG2 Paisagem da Pra Joaquim Maracpe 10min
PSG3 Paisagem da Serra do Carmo, vista do Ginásio Poliesportivo 30min
8DRAL, 2009 PSG1 Paisagem de Taquaru, vista da Pedra do Pedro Paulo 40min 95min
PSG2 Paisagem de Taquaru, vista do Mirante 30min
PSG3 Paisagem da Pra Joaquim Maracpe 10min
30MCFV, 2009 PSG1 Paisagem da Praça Joaquim Maracpe 20min 85min
PSG2 Paisagem do Museu Casa Vítor 20min
PSG3 Paisagem de Taquaru, vista do Mirante 30min
19GPG, 2009 PSG1 Paisagem da Pra Joaquim Maracpe 20min 75min
PSG2 Paisagem de Taquaru, vista da Pedra do Pedro Paulo 20min
PSG3 Paisagem da Serra do Carmo, vista do Ginásio Poliesportivo 20min
6 18 10 505m in
Ponto
de
Parada
Tempo
de
Parada
Tempo
Total do
Percurso
128
O tempo de parada em cada paisagem variou entre 10min e 40min, o que foi
considerado satisfatório, se levarmos em conta a apresentação segundo as
preferências e gostos de cada sujeito e o número de 3 paisagens apresentadas por
percurso, do núcleo urbano e entorno próximo do distrito. Os pontos de parada
foram as paisagens escolhidas pelos sujeitos para apresentarem a uma pessoa não
residente em Taquaruçu.
A distribuição das paisagens escolhidas pelos sujeitos foi: a 'paisagem da Cachoeira
Taquaruçu', 1 sujeito (6%); 'paisagem da Praça 4CLB, vista da Igreja Batista', 1
sujeito (6%); 'paisagem da Praça Joaquim Maracaípe', 4 sujeitos (22%); 'paisagem
da Serra do Carmo, vista do Ginásio Poliesportivo', 2 sujeitos (11%); 'paisagem de
Taquaruçu, vista da Pedra do Pedro Paulo', 2 sujeitos (11%); 'paisagem de
Taquaruçu, vista do Mirante', 3 sujeitos (17%); 'paisagem do CATur', 1 sujeito (6%);
'paisagem do Cruzeiro, vista da Ponte dos Cruz', 1 sujeito (6%); 'paisagem do Museu
Casa Vítor', 2 sujeitos (11%); e 'paisagem do Ribeirão Taquaruçu, vista da Ponte dos
Cruz', 1 sujeito (6%) (Tabela 19).
Mesmo que os elementos perceptivos tenham sido apresentados segundo o que
cada sujeito via na paisagem, a observação da postura, da expressão facial e do
modo de falar dos sujeitos nos permitiu captar a sensação de que todos os sentidos
interagiam na percepção de cada um.
Uns paravam “para ouvir o som do vento” (15IFO, 2009), “da água caindo” (15IFO,
2009), “das crianças brincando” (9SDB, 2009), “do motor dos carros” (4CFB, 2009) e
PAISAGENS APRESENTADAS
Paisagem da Cachoeira Taquaruçu 1 6%
Paisagem da Praça, vista da Igreja Batista 1 6%
Paisagem da Praça Joaquim Maracaípe 4 22%
Paisagem da Serra do Carmo, vista do Ginásio Poliesportivo 2 11%
Paisagem de Taquaruçu, vista da Pedra do Pedro Paulo 2 11%
Paisagem de Taquaruçu, vista do Mirante 3 17%
Paisagem do CATur 1 6%
Paisagem do Cruzeiro, vista da Ponte dos Cruz 1 6%
Paisagem do Museu Casa Vítor 2 11%
Paisagem do Ribeirão Taquaruçu, vista da Ponte dos Cruz 1 6%
Total 18 100%
Tabela 19: Distribuição das Paisagens Apresentadas na Abordagem 3: Observando.
129
“dos pássaros” (19GPG, 2009).
Outros estendiam os braços à altura da cintura, com as mãos espalmadas para
tocarem as folhas, “sentir o frescor das gotas de água da chuva” (9SDB, 2009), o
“arrepio causado pelo vento que soprava e da água da chuva que batia no rosto”
(30MCFV, 2009).
Inclinavam a cabeça para cima, posicionando o nariz para “cheirar melhor os odores
no ar” (8DRAL, 2009), “das folhas, da água, da terra molhada” (4CFB, 2009), do
“café fresco” (15IFO, 2009), “do arroz sendo refogado no alho” (30MCFV, 2009), dos
focos de “queimadas” (9SDB, 2009) e da “flor do pequi” (8DRAL, 2009).
Alguns até sentiam o gosto e sabor das frutas que viam pelo caminho, da água
gelada que era pura, “do leite de vaca tirado no curral” (15IFO, 2009), “da piabanha
pescada no ribeirão” (4CFB, 2009).
A percepção e a cognição dessas paisagens pelos sujeitos podem levá-los a ações
práticas de conservação e preservação, pois diante delas eles têm a possibilidade
de escolher como se portar, que é a experiência do contato direto com o mundo a
sua volta que determinará essa percepção, em primeiro lugar.
Com base nas paisagens apresentadas pelos sujeitos foi possível categorizá-las
segundo a motivação que os levou a escolhê-las e a comportar-se diante delas.
Para as paisagens 'da Cachoeira Taquaruçu', 'da Serra do Carmo, vista do Ginásio
Poliesportivo', e 'do Ribeirão Taquaruçu, vista da Ponte dos Cruz', os sujeitos
relacionaram o descanso físico e mental que elas proporcionam à questões como
saúde e bem estar físico, bem como a possibilidade de saírem da rotina e romper
com a monotonia diária.
Vários sujeitos comentaram que normalmente não saem das suas casas para
passear ou visitar essas paisagens que tanto gostam, mas que quando o fazem,
fazem por prazer, pela necessidade de realizarem atividades que lhes tragam a
sensação de diversão e relaxamento.
As paisagens 'da Praça, vista da Igreja Batista', 'da Praça Joaquim Maracaípe', 'do
CATur' e 'do Museu Casa Vítor' foram escolhidas pelos seus aspectos
130
representativos da história, cultura, religião e costumes do distrito, colocando em
destaque o interesse em preservar esses elementos, em transmitir a sua história às
futuras gerações e em estreitar as relações sociais, familiares e de amizade
comunicando de certa forma seus interesses.
Para 30MCFV (2009), a 'paisagem do Museu Casa Vitor' e o próprio museu, “é um
lugar que você pode levar os filhos, sem perigo, para ensinar como o Taquaruçu
começou”. para 4CFB (2009), “ele é de grande importância para a comunidade,
pois conta um pouco da nossa história [...] representa o passado do distrito”.
As paisagens 'de Taquaruçu, vista da Pedra do Pedro Paulo', 'de Taquaruçu, vista do
Mirante', 'do Cruzeiro, vista da Ponte dos Cruz' demonstram que o conjunto
paisagístico do distrito, envolvido pelas encostas da Serra do Carmo e incrustado
em um dos vales da região, o Vale do Sumidouro, possui relevante importância para
os sujeitos. Mas também são paisagens que referem-se à necessidade dos mesmos
de obterem reconhecimento, atenção e apreciação dos visitantes, buscando de certa
forma, segurança contra qualquer tipo de agressão a essas paisagens.
A maioria dos sujeitos demonstrou comportamento paciente, reflexivo, observação
atenta dos elementos componentes das paisagens, gosto pela aventura, conduta
tranqüila e sociável, interesse pelo novo e percepção aguçada com relação ao
potencial de atratividade da maioria das paisagens apresentadas. Isto nos remete ao
que Tuan (1980) chama de topofilia, ou seja, os sujeitos observados apresentam
sentimento e relação de afetividade para com as paisagens de Taquaruçu.
Os percursos e os pontos de parada observados foram mapeados (Ilustrações 14 a
19) e revelaram semelhança na sua organização, como a escolha de vias mais
próximas das paisagens escolhidas e cotidianamente utilizadas por eles.
131
Foto 94. Paisagem do Ribeirão Taquaruçu,
vista da Ponte dos Cruz. Fonte: Vanesa Rios
Milagres, 2009.
Foto 95. Paisagem do Cruzeiro, vista da
Ponte dos Cruz. Fonte: Vanesa Rios
Milagres, 2009.
Foto 96. Paisagem da Cachoeira Taquaruçu.
Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2009.________
LEGENDA
Ponto de Partida
Ponto de Parada - PSG1
Ponto de Parada - PSG2
Ponto de Parada - PSG3
Percurso
Vista
Ilustração 14: Paisagens e Percurso 15IFO2009 – Abordagem 3: Observando.
132
Foto 97. Paisagem da Praça, vista da Igreja
Batista. Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2009.
nn
Foto 98. Paisagem do Museu Casa Vitor.
Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2007.
__
Foto 99. Paisagem do CATur. Fonte: Vanesa
Rios Milagres, 2009.
mm__
LEGENDA
Ponto de Partida
Ponto de Parada - PSG1
Ponto de Parada - PSG2
Ponto de Parada - PSG3
Percurso
Ilustração 15: Paisagens e Percurso 4CFB2009 – Abordagem 3: Observando.
133
Foto 100. Paisagem de Taquaruçu, vista do
Mirante. Fonte: Vanesa Rios Milagres, 2009.
nn
Foto 101. Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008.
Foto 102. Paisagem da Serra do Carmo,
vista do Ginásio Poliesportivo. Fonte: Vanesa
Rios Milagres, 2008.mmmmmm
LEGENDA
Ponto de Partida
Ponto de Parada - PSG1
Ponto de Parada - PSG2
Ponto de Parada - PSG3
Percurso
Ilustração 16: Paisagens e Percurso 9SDB2009 – Abordagem 3: Observando.
134
Foto 103. Paisagem de Taquaruçu, vista da
Pedra do Pedro Paulo. Fonte: Vanesa Rios
Milagres, 2009.________________________
Foto 104. Paisagem de Taquaruçu, vista do
Mirante. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2009._
Foto 105. Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008.mmmmmm
LEGENDA
Ponto de Partida
Ponto de Parada - PSG1
Ponto de Parada - PSG2
Ponto de Parada - PSG3
Percurso
Ilustração 17: Paisagens e Percurso 8DRAL2009 – Abordagem 3: Observando.
135
Foto 106. Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008. nn
Foto 107. Paisagem do Museu Casa Vitor.
Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2007..________
Foto 108. Paisagem de Taquaruçu, vista do
Mirante. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2009.____________mmmmmm
LEGENDA
Ponto de Partida
Ponto de Parada - PSG1
Ponto de Parada - PSG2
Ponto de Parada - PSG3
Percurso
Ilustração 18: Paisagens e Percurso 30MCFV2009 Abordagem 3: Observando.
136
Foto 109. Paisagem da Praça Joaquim
Maracaípe. Fonte: Vanesa Rios Milagres,
2008. nn
Foto 110. Paisagem de Taquaruçu, vista da
Pedra do Pedro Paulo. Fonte: Vanesa Rios
Milagres, 2009.
Foto 111. Paisagem da Serra do Carmo,
vista do Ginásio Poliesportivo. Fonte: Vanesa
Rios Milagres, 2008.mmmmmm
LEGENDA
Ponto de Partida
Ponto de Parada - PSG1
Ponto de Parada - PSG2
Ponto de Parada - PSG3
Percurso
Ilustração 19: Paisagens e Percurso 19GPG2009Abordagem 3: Observando.
137
11. CONCLUSÕES
As atividades turísticas assumem a cada dia um papel importante no
desenvolvimento do país e das suas regiões. Elas apresentam-se como uma
alternativa para a realização de um processo de desenvolvimento que seja
ambientalmente harmônico e equilibrado, socialmente includente e economicamente
sustentável.
Através do envolvimento do cidadão, do estado e do setor produtivo, os campos
econômico, social, político, cultural e ambiental são integrados em ações e soluções
para um melhor desempenho da atividade. Esse desempenho deve ocorrer em
nível nacional, regional e local.
Em qualquer nível, o turismo traz tanto benefícios quanto problemas, mas se bem
planejado, desenvolvido e gerenciado, pode gerar empregos e renda, oportunizar
aos empresários o estabelecimento de empreendimentos turísticos, conduzindo à
melhoria do padrão de vida dos cidadãos.
O planejamento turístico, quando em nível local, envolve cidades de grande a
pequeno porte, áreas rurais, distritos e pontos de atração turística. Nesse sentido,
são criados e implantados programas especiais que visam destacar e aproveitar os
recursos de maior destaque na localidade, como o turismo rural, as vilas ecológicas
e os pólos ecoturísticos.
Localmente, é possível percebermos de forma mais clara a íntima inter-relação entre
o turismo e o meio ambiente, pois é no ambiente construído e natural que a
atividade é desenvolvida. No entanto, ela não acontece por si , seu agente
desencadeador é o homem, o cidadão que vive em comunidade, em sociedade.
Se a sociedade está sempre em movimento e se relaciona com a paisagem, o
conhecimento da percepção do homem sobre a paisagem que é utilizada para fins
turísticos passa a ser de extrema importância para um planejamento turístico
adequado.
138
A comunidade local de Taquaruçu é aquela que vivencia o dia a dia, relacionando-se
com a paisagem e com os processos de alteração da mesma em prol do turismo. A
percepção dessa comunidade, sobre o contexto que se apresenta no distrito desde a
implantação do Pólo Ecoturístico em 2002, é a de que Taquaruçu não alcançou
ainda a condição ideal para que ocorra o desenvolvimento do turismo de forma
sustentável, pois o principal sujeito dessa 'história', o cidadão, não foi ouvido,
perguntado, nem observado sobre a sua relação com o ambiente que o cerca.
Para a implantação do Pólo Ecoturístico foi feito o levantamento dos atrativos, dos
equipamentos e serviços e da infra-estrutura de apoio turístico disponíveis, o qual
chamamos de Inventário da Oferta Turística. Foi feito o levantamento de
informações como idade, procedência, renda, gostos e preferências dos turistas, que
chamamos de Perfil da Demanda Turística. Foi feito o diagnóstico turístico, que
baseado nas informações acima, determinou as ações e programas necessários
para alavancar o desenvolvimento do turismo no distrito.
Porém, não foi feito o levantamento da percepção da comunidade local com relação
ao turismo e aos efeitos que causa na paisagem que eles vivenciam cotidianamente.
A esse levantamento, ou fase do planejamento turístico, sugerimos o nome de Perfil
da Comunidade Receptora. Um perfil baseado não em índices, dados e
informações quantitativos dos aspectos ambientais, socioculturais e econômicos do
local, mas também em índices, dados e informações qualitativas desses aspectos e
que são percebidos por cada sujeito e pela comunidade em geral.
As técnicas de pesquisa em percepção ambiental possibilitam um procedimento
organizado de estudo, conduzindo a um resultado que pode contribuir para o
desenvolvimento da atividade turística de forma efetivamente sustentável.
Ouvir, perguntar e observar a comunidade local sobre o que ela compreende que
seja o turismo, sobre as mudanças, alterações e transformações que a atividade
pode provocar, positiva e negativamente, sobre o que ela espera dessas mudanças,
alterações e transformações e se realmente ela quer que a atividade seja
implantada, é uma forma de garantir a sustentabilidade da atividade turística no
local.
139
Talvez os planejadores turísticos e os estudiosos tenham se esquecido de um dos
principais elementos componentes do 'tripé' do turismo, que é a comunidade
receptora, interligada ao setor público e ao privado. Talvez tenham se esquecido que
o principal 'ator' do 'tripé' turismo sustentável, que envolve os aspectos ambientais,
socioculturais e econômicos, seja o homem. Não o homem que viaja, mas
principalmente o homem que habita e reside no local receptor.
O planejamento e o desenvolvimento local do turismo deve pautar-se na percepção
que a comunidade tem do seu entorno, um ambiente cotidianamente vivenciado por
ela e que pretendemos que seja vivenciado por outros não residentes, permanentes
temporariamente e que chamamos de turistas.
Ao tomarmos as paisagens de Taquaruçu como objeto de estudo, descobrimos que
a comunidade local percebe as vantagens comparativas do seu conjunto
paisagístico e de seu entorno, no entanto, isto não possibilitou o crescimento
econômico do local e conseqüentemente o desenvolvimento do turismo estagnou.
Segundo comentários dos sujeitos da pesquisa, a comunidade participou do
processo de implantação do turismo, no modelo de pólo ecoturístico, através da
sensibilização e conscientização dos benefícios positivos do turismo, recebendo o
lugar algumas adequações de infra-estrutura, como asfalto nas ruas, iluminação,
pintura da fachada das casas, uma literal arrumação do 'cenário' para o turismo.
Mas os moradores não participaram dos processos de planejamento, sendo ouvidos,
perguntados ou observados sobre as suas necessidades e anseios, pois os gestores
não levaram em consideração os efeitos positivos e negativos da atividade,
principalmente com relação ao grau de satisfação da comunidade local.
Isto nos leva a concluir que o desenvolvimento do turismo em Taquaruçu e a
implantação do Pólo Ecoturístico levaram ao aproveitamento da paisagem como
recurso turístico segundo a percepção de quem a contempla e não de quem a
vivencia.
A percepção da comunidade local sobre as paisagens de Taquaruçu utilizada para
fins turísticos, revelou que as paisagens indicadas como mais representativas do
distrito também poderiam ser as mais agradáveis e mais desagradáveis.
140
Sabemos que cada um percebe segundo o seu olhar, mas que esse olhar também
pode ser compartilhado por outros. Individualmente percebemos aquilo que nos
toca, mas em comunidade podemos perceber aquilo que toca os outros também e
que passaria a ser mais representativo, mais agradável ou mais desagradável para o
grupo.
Criada pelo turismo e também modificada pelo mesmo, a paisagem deve estar
pautada nos princípios da sustentabilidade, para garantir a satisfação das
necessidades básicas da população, a solidariedade para com as gerações futuras,
a participação da população envolvida, a preservação dos recursos naturais e
culturais.
Tanto as paisagens mais representativas quanto as mais agradáveis requerem
cuidados e ações de proteção e conservação, ações preventivas que as manteriam
com identidade positiva do lugar. as paisagens mais desagradáveis requerem
ações corretivas de intervenção e manejo, pois são a identidade negativa do lugar
para esses sujeitos.
Todas são utilizadas para fins turísticos de lazer, recreação e contemplação, mas os
sujeitos percebem que os efeitos negativos são causados, em sua maioria, pela
própria comunidade que as utiliza, que pelos próprios turistas.
Progressivamente, após a implantação do Pólo, o movimento da atividade foi
diminuindo, acarretando um menor envolvimento da comunidade local e a não
produção dos efeitos esperados, como o aumento de renda e do emprego, a
proteção e a conservação dos recursos naturais e o compartilhamento das
paisagens turísticas entre a comunidade e os turistas.
A maioria dos sujeitos percebe as modificações, alterações e transformações
produzidas pelo turismo nas paisagens de Taquaruçu, no entanto, eles não
demonstraram satisfação para com elas, pois em sua maioria não foram as
mudanças, alterações e transformações esperadas.
O grau de satisfação da comunidade local para com o desenvolvimento do turismo
também apresentou progressiva diminuição após a implantação do lo, pois
esperava-se a preservação e conservação do patrimônio artístico, a melhoria na
141
qualidade de vida dos cidadãos e o resgate das habilidades artesanais, dos usos e
costumes, a entrada de renda em complementação à agricultura, criação de
empregos, criação e melhora da infra-estrutura, melhor distribuição de renda e
diversificação do comércio.
Para haver turismo, além dos atrativos, tem que haver turistas e turistas são
pessoas que se deslocam do seu entorno habitual para um outro local e nele
permanecem pelo menos 24h, ou seja, pernoitam. Uma pessoa que pernoita num
lugar diferente do seu entorno habitual demandará serviços de hospedagem,
alimentação, recreação, turísticos e outros que atendam as suas necessidades. Ao
consumir esses produtos ela deixa parte de sua renda na localidade, aumentando a
arrecadação.
Porém, o próprio Diagnóstico Turístico de Taquaruçu (2002), apontou para a
ausência de fluxo turístico, pois as pessoas que ali visitam são consideradas
excursionistas ou visitantes de um dia, não consumindo o conjunto de produtos e
serviços turísticos, mas parte deles, como os atrativos e os serviços de alimentação,
ficando de fora os serviços que geram mais emprego, renda e arrecadação de
impostos.
O local escolhido para observamos os aspectos perceptivos da comunidade local
com relação aos efeitos do turismo na paisagem e sobre o próprio turismo nos levou
a concluir que o turismo enquanto indutor de desenvolvimento local e inclusão social
ainda não é uma atividade equitativamente sustentável, nos moldes em que vem
sendo implando.
A aplicação e utilidade de um método de pesquisa aportado na pecepção ambiental
poderá ser uma ferramenta imprescindível e essencial para garantir o equilíbrio entre
o tripé do turismo (setor público, setor privado e comunidade receptora) e o tripé da
sustentabilidade (equilíbrio ambiental, sociocultural e econômico) turismo e
sustentabilidade.
O próprio distrito enquanto objeto de estudo precisa de um novo modelo de
implantação do turismo que especial atenção à percepção de sua comunidade,
ou seja, o perfil da comunidade receptora.
142
Os sujeitos pesquisados compreendem o turismo como um alavancador de
desenvolvimento social e econômico, mas não souberam e não sabem como
promover isso, estão despreparados graças aos modelos de dominação e exclusão
seculares. No entanto, apresentam-se bem adaptados ao cotidiano contemporâneo
dessa mesma sociedade, que vive a cada dia mais baseada na troca entre bens e
valores, sejam eles atrativos turísticos, equipamentos e serviços ou até mesmo a
infra-estrutura básica.
O conjunto desses elementos compõem paisagens que os sujeitos estão dispostos a
compartilhar com outros indivíduos não residentes, como os turistas, mas o que
possuem na verdade é uma demanda por esses bens e valores turísticos que é
potencial e não real. Para atender a essa demanda potencial, alguns aspectos do
seu cotidiano e elementos das suas paisagens foram alterados, mudados e
transformados em prol do turismo, demandando novas formas de se relacionarem
ambiental, sociocultural e econômicamente com as paisagens.
Eles entendem que o compartilhamento das responsabilidades, dos benefícios e dos
melefícios da atividade na sociedade contemporânea é uma premissa, mas que não
aconteceu de forma eficiente e eficaz. Mas alguns culpam o setor público pelo
insucesso do Pólo, principalmente pela mudança na gestão pública e falta de de
continuidade das políticas em decorrência da troca de mandatos, outros pela falta de
investimento do setor público e do privado, quando o que precisa ser compreendido
é que o desenvolvimento do turismo em Taquaruçu exige novas concepções e novo
método para resolver velhos e novos problemas que geraram profundas mudanças
no cotidiano da comuniade local.
Essa nova concepção e novo método deve prezar pela percepção dos sujeitos e
pela solidez política, social, ambiental e econômica, que são fatores fundamentais
para o desenvolvimento do turismo de forma sustentável.
Nossas conclusões revelam também o caráter interdisciplinar do tema abordado,
pois além de colocarmos lado a lado conceitos como espaço, paisagem, percepção
e turismo, foi preciso dialogar reciprocamente entre os mesmos, rompendo o caráter
aparentemente estanque de cada um, na tentativa de perceber o que por eles e
atraves deles se daria a pensar a relação entre os indivíduos e o que eles percebem
143
à sua volta.
Cada disciplina curricular do programa contribuiu efetivamente para ampliar e
estimular a reflexão, apreensão e conhecimento à cerca da importânica e
necessidade das ciências do ambiente para nos pensarmos enquanto ser no mundo
e no quanto podemos ainda transcender e realizar diálogos que sejam apreciados
em conjunto, unos em sua dicersidade e sustentáveis em sua existência.
144
12. REFERÊNCIAS
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Globalização: geografia geral e do Brasil. São Paulo: Ática, 2005.
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145
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149
ANEXO A – Instrumento Abordagem 1: Ouvindo
150
ANEXO B – Instrumento Abordagem 2: Perguntando
151
152
153
154
ANEXO C – Instrumento Abordagem 3: Observando
155
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