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norte do Paraná. Não falamos apenas de produtores de café, mas de todos aqueles que
detinham os meios de produção e circulação de mercadorias na cidade e região, assim, o
complemento “cafeeira” é uma alusão ao fato de que a grande maioria dos empreendimentos
locais tinha um vínculo direto com a cafeicultura. Desta forma:
[...] é inegável que, na sociedade capitalista pertencem sociologicamente à
Burguesia, como algo que lhe é peculiar, o predomínio econômico, ou
intelectual-profissional, exercido diretamente, mediante a atividade pessoal
de cada indivíduo, e para atender exclusivamente a interesses egoístas,
inseridos, todavia, num contexto e numa dinâmica bem mais amplos. O
conceito de Burguesia é, pois, omnicompreensivo e totalizante, englobando
em si, ao mesmo tempo, uma categoria econômica, imediatamente
caracterizada, e um complexo de atributos, positivos e negativos, que
contribuem para esclarecer uma ou mais partes desta totalidade. É possível,
portanto, falar em espírito burguês, mentalidade burguesa, arte burguesa e
assim por diante, até se chegar ao 'modo de vida' burguês, às tradições
burguesas, à democracia burguesa e finalmente à 'história' burguesa ou da
Burguesia (BRAVO, 1991: 119).
Esta burguesia, que se consolidou a partir do crescimento da cidade e da cafeicultura,
construiu seus próprios padrões de identificação, defendeu ideais que lhe eram favoráveis,
construiu uma hegemonia que durante certo tempo se identificou ao signo da “capital mundial
do café”. A forma de entendimento deste grupo sobre a cidade em que viviam era um reflexo
particular de uma situação geral, ou seja, o tratamento que os administradores deram às
questões sobre a cidade, era justificado por um discurso de modernidade e racionalidade
urbana defendido por seus porta-vozes como uma onda irrevogável de progresso e civilização,
que refletia a entrada de Londrina no mundo moderno. Como corrobora Bravo:
Passando do campo econômico para o político, a afirmação da Burguesia
se amplia e atinge todos os outros campos da vida social. Por esta razão,
como classe, a Burguesia busca resumir em si as necessidades e as
tendências da sociedade inteira, identificar-se com ela na sua totalidade,
apresentar-se como algo de 'absoluto' que, por si mesmo atingida a
perfeição interna, permanece do mesmo jeito, sem modificações, no tempo
e no espaço. Para comprovar a validade deste absoluto não é necessário
procurar as origens espirituais de sua afirmação. É suficiente analisar o
comportamento da Burguesia, sua força e sua hegemonia, isto é, sua
capacidade de generalização econômica e política no presente, seu
predomínio que, pela primeira vez na história, graças a sua entrada em
cena, não pertence a indivíduos e sim a uma classe, na medida em que
corresponde às necessidades de uma época histórica (BRAVO, 1991: 121).
A consolidação deste discurso hegemônico, que faria sentido em outros contextos, só
viria a fazer sentido entre os recém chegados moradores deste rincão, se fosse relacionado à
realidade vivida por todos os que faziam parte desta sociedade. Em outras palavras, a
hegemonia da “burguesia cafeeira” só viria a se consolidar se, ao invés desta classe dirigente