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PABLO Y CASTRO
OS BENEFÍCIOS PSICOLÓGICOS DA AULA DE
MÚSICA: UM ESTUDO CIENTÍFICO COM
ADOLESCENTES DE 5as. e 6as. SÉRIES DO
ENSINO PÚBLICO BRASILEIRO
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-graduação em
Música do Instituto de Artes da
Universidade Estadual de Campinas
Unicamp, como requisito parcial
para a obtenção do título de Mestre
em Música, área de concentração:
Fundamentos Teóricos.
Orientador: Dr. Ricardo Goldemberg
(Música - Unicamp)
Co-orientadora: Dra. Mônica Gobitta
(Psicologia – PUCC)
CAMPINAS
2007
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iv
FICHA CATALOGRÁFICA ELABORADA PELA
BIBLIOTECA DO INSTITUTO DE ARTES DA UNICAMP
Título em inglês:“ The psychological benefits of the music class: a scientific study of
brazilian public school adolescents of grades 5 and 6.”
Palavras-chave em inglês (Keywords): Music education advocacy. Music education. Social
project. Guitar. Artistic education (elementary). Social psychology. Self-esteem.
Titulação: Mestre em Música.
Banca examinadora:
Prof. Dr. Ricardo Goldemberg.
Profa. Dra. Aci Meyer.
Profa. Dra. Marisa Lúcia Fabrício Mauro
Profa. Dra. Adriana Giarola Kayama (suplente)
Data da Defesa: 06-12-2007
Programa de Pós-Graduação: Música.
Castro, Pablo Y.
C279b
Os benefícios psicológicos da aula de música: um estudo científico
com
adolescentes de 5as. e 6as. séries do ensino público brasileiro / Pablo Y
Castro – Campinas, SP: [s.n.], 2007.
Orientador: Prof. Dr. Ricardo Goldemberg.
Co-orientadora: Profa. Dra. Mônica Gobitta.
Dissertação (mestrado) Universidade Estadual de Campinas, Instituto de
Artes
1. Advocacia do ensino musical. 2. Educação musical. 3. Projeto
social. 4. Violão 5. Educação artística. (Ensino fundamental) 6. Psicologia
social. 7. Auto-estima. I. Goldemberg, Ricardo II. Universidade
Estadual de Campinas. Instituto de Artes. III. Título.
(em/ia)
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vii
Dedico este trabalho a:
Deus, pela minha força interior, pela perseverança.
Ao meu pai, pois sem ele eu não estaria aqui, já que foi ele quem me iniciou na
arte da Música.
À mamãe, pelos valores transmitidos e pela educação emocional.
Ao meu irmão Rodrigo, pelo apoio nas horas difíceis.
Ao meu irmão Rafael, pelo incentivo fundamental para que eu fizesse este
mestrado.
ix
AGRADECIMENTOS
À Fapesp, pela bolsa de estudos concedida;
Ao doutor Ricardo, pela orientação;
À doutora Mônica, pela co-orientação;
Ao psicólogo e Prof. Dr. Jayme Pacheco, da Faculdade de Medicina da
Unicamp, a bondade em pessoa, verdadeiro “paizão” nas horas difíceis, que
tantas vezes me recebeu em sua casa e forneceu orientação essencial no campo
da psicologia;
À psicóloga e pesquisadora da FCM Unicamp Marisa Fabrício Mauro, pelos
aconselhamentos nas horas difíceis, pela afetiva recepção e incentivo ao meu
trabalho e por não ter medido esforços para participar emergencialmente de minha
banca;
À indústria Rei dos Violões (Itupeva-SP), que gentilmente nos cedeu 15
violões para a realização da pesquisa, e à Hunter (Blumenau-SC) que viabilizou
10 estantes de partitura desmontáveis, contribuições basilares ao
desenvolvimento de nosso trabalho;
Ao músico e doutor em Educação Jorge Schroeder e sua esposa, pelo
fundamental incentivo à realização desta pesquisa e pelo auxílio em relação à
escolha de nosso tema de estudo;
Ao doutor Dirceu Luiz Sossai, psicólogo clínico comportamental, pela
essencial contribuição à pesquisa e pelo voto de confiança através da gentil
x
recepção em seu consultório;
Ao doutor Evandro Alcântara, psicólogo, pela calorosa e gentil recepção em
seu consultório e pelas relevantes informações acerca da psicometria;
Ao psicólogo e professor da Faculdade de Música da Unicamp, Dr. Maurício
Florence, pelos dados valiosos em relação à interface Música e Auto-estima;
Aos professores da Faculdade de Psicologia da Usp, pelas valiosas dicas
em relação à psicometria;
Ao professor João-Francisco Duarte Junior, da Faculdade de Artes
Plásticas da Unicamp, pelos importantíssimos dados acerca do predomínio das
Artes Plásticas na disciplina da Educação Artística;
Ao João, psicólogo e músico, por possibilitar que eu tivesse maior
compreensão da interface entre estas duas áreas, dada a convergência entre
nosso interesses científicos;
A Simone Meyer Sanches, psicóloga, pela aplicação dos testes psicológicos
junto aos participantes;
A Antônio Pedro Supriano Filho, professor de História da EMEF João Alves,
pelas informações sobre as atividades realizadas junto aos alunos daquela
instituição;
À psicóloga Marília Sper de Albuquerque, pelos dados sobre testes
psicológicos;
Ao Douglas, amigo e doutor em estatística, pela gentil colaboração através
xi
da realização da análise dos dados da pesquisa, e pelos longos almoços no
bandejão, que se transformavam em verdadeiras aulas de estatística;
A Prof. Dra. Maria Marta Magalhães, psicóloga e professora da Faculdade
de Medicina da Unicamp, pela larga contribuição em relação à metodologia
quantitativa;
À professora e psicóloga Selma Martinelli, da Faculdade de Educação da
Unicamp, pela gentil colaboração em relação ao constructo auto-estima;
Ao economista Sérgio Stoco, da FE Unicamp, pelo maior entendimento
propiciado em relação às políticas públicas da Educação;
À psicóloga e cantora Vera Lúcia Pessagno Bréscia, pela cooperação em
relação à interface entre Música e Psicologia;
A Nivaldo Vicente e Helena Ramos, supervisores de ensino da Diretoria
Leste da cidade de Campinas, pelas valiosas informações acerca do processo de
contratação dos professores de Educação Artística da rede pública;
À equipe da F2 – Escola Estadual Jornalista Roberto Marinho Marta
Izabel Custódio do Prado, vice-diretora, pela imprescindível colaboração por meio
da licença para realização de nossa pesquisa de campo; Helena, inspetora, pela
essencial assessoria logística; Samara e Fran, secretárias, pelo auxílio na análise
documental;
Às professoras Leila, Asia, Danielle e Rodrigo, pelas informações valiosas
sobre o comportamento dos alunos da F2, sujeitos de nossa pesquisa;
A psicóloga e profa. Soely Aparecida Polydoro, da faculdade de Educação
xii
da Unicamp, e também a Sônia Maria Chadi Paula Arruda (FCM Unicamp), pela
contribuição em relação ao entendimento do constructo auto-eficácia;
À carioca Lucia Moyses, pelo auxílio à compreensão do constructo auto-
estima;
A Dilma Galetti Valença Barel, então coordenador do Projeto Guri pólo Campinas,
pela autorização à realização de nosso trabalho de campo nessa instituição;
A Silvia Beraldo, pela informações sobre os projetos sociais da Cidade de
Campinas;
A Alexandre Randi, músico e educador, pelas longas discussões
metodológicas e também sobre o “Bate Lata”, projeto social da cidade de
Campinas que se vale de intervenções musico-pedagógicas;
Ao psicólogo e professor da Faculdade de Educação da Unicamp, Dr.
Sérgio Leite, pela contribuição em relação à análise microgenética;
A psicóloga e professora da FE - Unicamp Evely Boruchovitch, pelas
orientações em relação à pesquisa quantitativa em Educação;
A Ana Smolka, pelas discussões empreendidas no GEMA – Grupo de
Estudos em Educação Musical;
A Pedro Rigatto, diretor do Projeto Guri, e a Carmen, supervisora da área
de cordas do mesmo projeto, pelos dados acerca dos benefícios não-musicais;
Ao doutor Samuel Pfromm Neto, ex-professor da Faculdade de Psicologia
da USP e da PUC Campinas, ativista do movimento pró-música dos anos 70, no
xiii
Brasil, pelo caloroso incentivo em prol da realização do presente trabalho;
A Scheila Botelho, psicopedagoga especializada no trabalho com crianças
com déficit de auto-estima, pelos dados provindos de sua experiência clínica com
este constructo;
A Neli, psicóloga, pela participação como aplicadora do teste psicológico
junto aos participantes da pesquisa;
A assistente social Regiane Silva, por propiciar valiosos dados acerca da
condição sócio-econômica dos participantes de nossa pesquisa;
A Sue Rarus, responsável pelo departamento de pesquisas do Menc (Music
Educators National Conference), dos Eua, pela contribuição em prol do
entendimento das políticas públicas relativas à Educação Musical nos Estados
Unidos;
A educadora Tatiana do Nascimento Silva, responsável pelo Projeto Coral
da ONG Pró-Menor, de Barão Geraldo-Campinas, pelos dados sobre as atividades
de ensino musical dessa instituição;
A Clóvis Beltrami, professor da oficina Trompetando, do Instituto de Artes
da Unicamp, pelos dados acerca das fanfarras do Estado de São Paulo;
Ao psicólogo e professor da faculdade de psicologia da Ufscar Almir Del
Prette, nome mais importante no Brasil em relação ao constructo socialização,
pelas valiosas informações gentilmente cedidas em relação a este conceito;
À professora Raquel Guzzo, do departamento de psicologia da PUC
Campinas, pelas explanações sobre o conceito auto-estima;
xiv
À psicóloga Lourdes Mara, pelas valiosas informações sobre auto-estima
provenientes de sua vasta experiência clínica;
A Odair Marques, secretário da cultura de Hortolândia-SP, pelas
informações sobre as fanfarras da cidade de Campinas;
A Ana Lúcia Nunes Cavalcante, coordenadora pedagógica da Escola João
Alves, pelas informações valiosas a respeito do perfil sócio-econômico dos alunos
daquela instituição;
Ao meu amigo André, pela presença e incentivo nas horas difíceis;
A Rachel, jornalista, pela divulgação de nosso trabalho;
Às psicólogas Christiane Fonseca e Florentina Retondo, que através de
suas irresponsabilidades, ajudaram-me a desenvolver minha resiliência e
perseverança;
xv
Os vencedores são simplesmente
os fracassados que não desistiram
xvii
RESUMO
O presente trabalho consistiu em uma pesquisa empírica realizada com o objetivo
de detectar as conseqüências de um curso de iniciação ao violão em relação aos
aspectos psicológicos de adolescentes com déficit de auto-estima. Para
estabelecer a amostra, realizou-se aplicação prévia da escala EMAE em uma
população de 225 alunos (5as. e 6as. séries do ensino fundamental de uma escola
pública da periferia de Campinas-SP), de maneira que pudesse ser detectado o
quartil inferior (n=56) da pontuação dos indivíduos, ou seja, quais eram os
estudantes com menor auto-estima. Deste grupo, formaram-se, aleatoriamente,
dois grupos (n=10 cada um), recebendo, um desses, uma intervenção na forma de
um curso coletivo de iniciação ao violão com duração de três meses, e o outro,
nenhum tratamento. Realizaram-se pré e pós-testagem dos dois grupos, com
posterior comparação dos dados, sendo utilizados, para tanto, o teste projetivo
HTP, entrevistas semi-estruturadas, o teste psicológico EMAE, e filmagens com
análise microgenética, técnicas estas que conferiram uma abordagem quali-
quantitativa à pesquisa. Os resultados indicam que os alunos do grupo que
participou das aulas de música apresentaram, em relação aos sujeitos não
participantes, diminuição de conflitos, melhoria das relações familiares, aumento
da sociabilidade, melhoria da auto-estima implícita, diminuição da sensação de
pressão por parte do meio e aumento da tendência ao devaneio e fantasia,
havendo significância estatística nas diferenças encontradas (P=0,009;
OR=1,889), o que confirma a hipótese de que a Educação Musical pode propiciar
resultados positivos a seus educandos. Além disso, indicou-se que a participação
da família do aluno no processo de ensino-aprendizagem e a valorização de
habilidades específicas do educando potencializou a auto-estima implícita.
PALAVRAS-CHAVE: EDUCAÇÃO MUSICAL; VIOLÃO; PROJETO SOCIAL;
ADVOCACIA DO ENSINO MUSICAL; BENEFÍCIOS EXTRA-MUSICAIS, AUTO-
ESTIMA.
xix
ABSTRACT
This work had consisted in an empirical research made with the goal of to detect
the consequences of an acoustic guitar initiation course in relation to the
psychological aspects of low self-esteem adolescents. So that we could define the
sample, it was made a previous use of the EMAE psychological test in a population
of 225 5th and 6th grade students of a public school situated in the suburb of
Campinas, so that was possible to detect the portion of the lower score subjects,
that is, the lower self-esteem students. Of this group, it was randomly selected two
groups (n=10 each of these), been the case that one of these groups received the
intervention (an acoustic guitar initiation course with three months of duration), and
the other, any treatment. It was made pre and post-testing of the two groups, and
after, a comparison of the data, been used, for this, the projective test HTP, semi-
structured interviews, the psychological test EMAE, camera´s recording with
microgenetic analyses, techniques that gave a quali-quantitative approach to this
research. The results sign that the music course participants showed, in
comparison to the non-participants, conflict diminution, familiar relationships
improvement, increased socialization, implicit self-esteem increase, diminution of
the environment pressure´s feeling and more tendency to the fantasy, having the
differences statistical significance (P=0,009; OR=1,889), what confirms the
hypothesis that Music Education can provide benefits to the participants. Besides,
it was demonstrated that the students family participation in the learning process
and the valorization of specific habilities of the adolescent had potencialized the
increase of implicit self-esteem.
KEY WORDS: MUSIC EDUCATION; ACOUSTIC GUITAR, SOCIAL PROJECT,
MUSIC EDUCATION ADVOCACY, EXTRAMUSICAL BENEFITS, SELF-ESTEEM.
xxi
SUMÁRIO
1) INTRODUÇÃO...................................................................................................23
2) OBJETIVOS.......................................................................................................31
3) A EDUCAÇÃO MUSICAL NO ENSINO PÚBLICO BRASILEIRO: BREVE
PANORAMA HISTÓRICO......................................................................................35
4) PESQUISAS BENEFÍCIOS NÃO-MUSICAIS DA AULA DE
MÚSICA..................................................................................................................67
5) MÉTODO ...........................................................................................................91
6) RESULTADOS.................................................................................................107
6.1) RESULTADOS DO TESTE PROJETIVO HTP.............................................111
6.2) RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE PARTICIPAÇÃO
FAMILIAR.............................................................................................................135
6.3) RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE VARIÁVEIS
EXTERNAS..........................................................................................................143
6.4) RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE AUTO-ESTIMA...................149
6.5) RESULTADOS DA EMAE............................................................................171
6.6) RESULTADOS DA ANÁLISE MICROGENÉTICA.......................................183
7) DISCUSSÃO....................................................................................................199
8) CONCLUSÃO...................................................................................................215
9) BIBLIOGRAFIA................................................................................................233
10) ANEXOS.........................................................................................................249
xxiii
CAPÍTULO 1
25
A Música acompanha o homem desde os tempos mais remotos.
Presume-se que as primeiras manifestações musicais se destinaram a
importantes rituais do homem, tais como o casamento, o nascimento, e a morte.
Com o desenvolvimento das sociedades, a Música passa a ser usada como forma
de louvor aos seus líderes, como ocorria na Suméria e no antigo Egito. Acredita-se
ainda que desde a Grécia clássica existiam orquestras formadas por harpas,
flautas, e palmas.
O ensino desta arte também se fez presente desde os primórdios, uma vez
que, desde a antigüidade oriental e clássica, a Música fazia parte dos
ensinamentos básicos das crianças e dos jovens. Na Grécia antiga, ela se fazia
presente na formação básica do indivíduo, ao lado da gramática (entendida como
educação intelectual) e da ginástica. Esta concepção pedagógica tripartida parece
ter dado origem ao currículo atual que, apesar de caracterizar-se por uma
hipertrofia do componente intelectual, contempla a música em muitos de seus
programas educacionais. Dentre os países que contemplam esta linguagem
artística no currículo padrão, podemos citar Canadá, Argentina, Áustria, Chile,
Japão e Espanha.
No Brasil, entretanto, ao contrário do que se vê nos países supracitados, a
Educação Musical não se insere de forma satisfatória no currículo do ensino
público. Isto traz alguns reflexos inegáveis: em primeiro lugar, percebe-se que a
ausência desta arte em muitas das regiões do país resulta na impossibilidade dos
adolescentes vivenciarem uma atividade que é imprescindível à formação
completa do indivíduo. Em segundo lugar, nota-se uma vicissitude em relação à
empregabilidade de uma parcela da população, uma vez que se estima que, por
ano, haja cerca de 2300 novos professores de música formados (há, atualmente,
115 cursos de licenciatura em música, com uma média de 20 alunos por turma) e
em busca de mercado de trabalho. Mercado de trabalho este que nem sempre é
encontrado, uma vez que não se mostram muitas opções de carreira didática -
26
geralmente esta se resume a escolas de música particulares e conservatórios - e,
paralelamente, o campo de atuação como bacharel é, muitas vezes, incerto e não
prestigiado financeiramente.
Como representantes do meio acadêmico da Educação Musical, passamos,
então, a perguntar-nos se haveria possibilidade de empreender alguns esforços
contributivos a uma maior compreensão de tal fenômeno e, por conseguinte, a
uma possível valorização da atividade musical no ensino público. Lançamo-nos,
para tanto, a investigações sobre a história da Educação Musical brasileira,
procedimento este que nos demonstrou fatores relevantes em relação ao
fenômeno: detectamos, por exemplo, o fato paradoxal de haver maior quantidade
de licenciaturas em Música (115) do que em Artes Plásticas (97) no Brasil e, ao
mesmo tempo, praticamente não haver inserção do educador musical no ensino
público, ao passo que ao artista visual, reserva-se a cadeira docente do ensino
fundamental e médio. Verificamos ainda alguns fatores de ordem econômica,
política e estética que parecem ter contribuído para a hipertrofia do ensino das
Artes Visuais e, assim, para o distanciamento da música do currículo escolar
gratuito.
Tendo consciência, portanto, da influência destes fatores econômicos,
políticos e estéticos, fomos levados a crer que qualquer esforço que pudéssemos
empreender no meio acadêmico teria sempre um poder limitado de intervenção no
quadro atual da Educação Musical no ensino público. Mantemo-nos,
metaforicamente falando, dentro da “jurisdição científica”, ou seja, por melhor que
seja o trabalho acadêmico que possamos fazer, não se pode crer que uma
pesquisa tem a possibilidade de reversão do quadro da parca inserção da música
no ambiente escolar, que as decisões dependem, em última instância, das
decisões governamentais.
Todavia, se por um lado devemos ter consciência do limite de influência de
um trabalho acadêmico em relação ao panorama do ensino da Música em nosso
país, por outro também não se pode dizer que os achados científicos não têm
27
chance de contribuir para decisões referentes ao microcosmo educacional. Neste
sentido, passamos a crer que a realização de uma pesquisa que aponte as
conseqüências da Música na educação seria algo bastante positivo.
Conseqüências estas que, conforme veremos no capítulo três, apresentam maior
poder de convencimento quando se apresentam associadas a fatores que
perpassam o universo do puramente artístico. Referimo-nos, assim, às pesquisas
sobre os efeitos não-musicais das aulas de Música, consideradas poderosas
ferramentas à advocacia do Ensino Musical.
Trabalhos dessa natureza são escassos em nosso país, conforme nos
aponta Bréscia (2003, p. 145): “Entre nós, contam-se nos dedos, infelizmente, as
pesquisas empíricas sobre a Educação Musical e seus fundamentos psicológicos
e pedagógicos”. Os poucos trabalhos realizados nessa área são, em sua maior
parte, levantamentos de opinião - podemos classificar nesta categoria os trabalhos
de Bréscia (2003), Hikiji (2003) e Raimundo (2004) - não havendo tentativas de
demonstrar uma relação mais direta de benefício proveniente da participação em
aulas de Música. É possível que a escassez de pesquisas relacionadas ao tema
tenha como conseqüência uma espécie de “engessamento” daqueles que buscam
justificar a inclusão do ensino musical no currículo escolar em nosso país.
Isto nos motivou à realização de uma pesquisa sobre os efeitos não-
musicais da aula de Música. Primeiramente, para tanto, nos lançamos à busca de
um local que pudesse ser mote de nossa investigação, ou seja, alguma unidade
de ensino musical levado a cabo com tenções extra-musicais. De pronto se nos
apresentou o Projeto Guri, trabalho de ensino musical criado em 1995 pela
Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo com a finalidade de prover
desenvolvimento artístico e social a diferentes municípios do estado de São Paulo.
Iniciamos nossas observações do Projeto Guri pólo Campinas (em virtude de
maior proximidade com a Unicamp, nossa instituição de ensino) no último bimestre
de 2005, investigação esta que precocemente foi suspendida em virtude da
extinção do Projeto daquele local (os lugares nos quais ocorre o Projeto muitas
vezes se modificam, devido a questões de ordem econômica ou política).
28
Tivemos, então, que buscar um novo local para a realização do trabalho e, mais
do que isso, fez-se necessário que criássemos, efetivamente, um curso de
Educação Musical, conseguíssemos instrumentos, delineássemos um programa
de ensino, selecionássemos os participantes, etc...
Tais esforços foram levados a cabo no primeiro semestre de 2006, o que
resultou no estabelecimento de um novo local para a pesquisa: a Escola Estadual
Jornalista Roberto Marinho, situado na Vila Mendonça, bairro de nível sócio-
econômico extremamente baixo, situado no distrito de Nova Aparecida, região
periférica de Campinas-SP.
definido o novo local, programa curricular (vide ANEXO VI) e materiais,
demos início a um processo de seleção dos indivíduos que iriam participar do
curso e também dos indivíduos que iriam somente ser observados, porém sem
fazer parte da intervenção (julgamos apropriado formar um grupo de alunos
somente para observação, a fim de que pudéssemos comparar os resultados de
quem participara e de quem não participara do curso). Escolhemos, assim, dentro
da população completa dos alunos de 5as. e 6as. séries da referida escola
(n=225), de forma aleatória, 20 alunos. Estes 20, novamente de forma aleatória,
foram alocados em dois grupos de dez alunos cada, sendo que um dos grupos
participou de um curso de iniciação musical através do violão com três meses de
duração, e o outro o. Antes e depois da realização do curso, tivemos a
participação de profissionais da psicologia realizando mensurações psicológicas
dos adolescentes envolvidos. As medições do grupo que participou do curso
(grupo experimental) e do grupo que não participou (grupo controle) foram, então
cotejadas ao final do curso, a fim de detectarmos a existência ou não de
diferenças significativas em aspectos da saúde mental dos sujeitos. Daí retiramos
as informações que serviram como fonte às discussões empreendidas na presente
dissertação.
Em suma, o panorama que se nos apresentou foi o seguinte: Ao contrário
da situação de muitos países, a Educação Musical não se insere de forma
29
satisfatória no currículo do ensino público fundamental de nosso país, o que traz
conseqüências negativas relacionadas à educação completa do indivíduo e
também à empregabilidade da classe da Educação Musical. Paralelamente, as
pesquisas referentes aos benefícios extra-musicais das aulas de Música se
configuram em poderosas ferramentas da advocacia a favor da inclusão do ensino
dessa Arte e, em nosso país, poucos trabalhos desta natureza foram realizados.
Tais fatores motivaram o presente trabalho e definiram nossos objetivos, que
conheceremos a partir de agora:
31
CAPÍTULO 2
33
OBJETIVO GERAL
Delinear um trabalho científico que verifique os efeitos extra-musicais das
aulas de Música e possa fornecer informações relevantes aos educadores
musicais, informações estas que possam embasar as argumentações
destes profissionais em relação a justificativas de sua atuação e, por
conseguinte, que contribuam para com uma possível reversão do quadro de
ausência da música da grande maioria das salas de aula de nosso país.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
Levantar as possíveis causas da ausência da Música no ensino
fundamental gratuito do Brasil;
Implementar um curso de ensino musical e detectar as influências de tal
atividade no aspecto psicológico de adolescentes;
Estabelecer uma lista de medidas que possam contribuir para a maior
inserção da Música no ensino fundamental gratuito de nosso país.
35
CAPÍTULO 3
37
Para que possamos iniciar uma discussão acerca dos possíveis meios de
reinserção da prática musico-pedagógica no ensino fundamental gratuito de nosso
país, um caminho reflexivo deve ser trilhado, sendo que se nos mostra como o
primeiro passo deste caminho a busca de um maior conhecimento dos fatos
históricos que motivaram o atual panorama da Educação Musical brasileira. Por
este motivo, iniciamos o presente trabalho com a confecção de um pequeno
panorama da Educação Musical no ensino gratuito de nosso país a partir do
século XX.
No último século, a Educação Musical no ensino gratuito brasileiro parece
ter sido marcada por inúmeras transformações, que a afetaram tanto
qualitativamente modificações das ideologias adotadas na formação dos
educadores musicais - quanto quantitativamente, no tocante ao aumento ou
diminuição dos redutos onde ela se faz presente.
No início do séc. XX, o ensino formal de Música em nosso país tinha como
principal intento o preparo de indivíduos para a atuação nas igrejas ou teatros,
havendo uma ênfase, durante este processo, em aspectos técnicos da execução
musical. Dentre os educandários da época, podemos citar o Instituto Nacional de
Música e o Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, este último criado
em 1906.
ANOS 30: A Música a serviço do Estado Novo getulista
Nos anos 30, com as mudanças decorrentes da revolução, cria-se uma
nova concepção educacional, que faz com que o governo passe a considerar a
prática do canto coral uma possibilidade de criação de cidadania e senso de
nacionalidade no país, palavras de ordem ao regime político de então. Essa
ideação se concretizaria por meio do decreto 18.890, de 1932, documento que
38
tornou o canto orfeônico obrigatório nas escolas públicas do Rio de Janeiro. Heitor
Villa-Lobos aparecia como a figura ideal para levar a cabo este projeto, que
esse compositor apresentava, em sua obra, um caráter descritivo, folclórico e
cívico, características estas que se alinhavam perfeitamente à concepção política
vigente, o Estado Novo. O compositor passa a liderar, então, um movimento de
prática de canto coral nas escolas públicas que faz com que a Educação Musical
tome proporções jamais vistas no âmbito educacional de nosso país.
Contudo, apesar de haver uma intensificação quantitativa do ensino
musical, a qualidade do mesmo não se garantiu em todos os estados do país.
Enquanto no Rio de Janeiro (então distrito federal) havia a adoção de um currículo
adequado e uma preparação efetiva dos futuros educadores musicais, nos outros
estados da república parecia não haver tantas pessoas realmente aptas a
concretizar o projeto de formação dos professores de Música e, portanto, não se
fazia presente a mesma qualidade neste processo formativo. Soma-se a isso o
fato de que, dada a urgente necessidade de profissionais após a implantação do
decreto, muitos dos professores que lecionariam a disciplina de canto coral
tiveram de ser formados de maneira emergencial, em um curto período de tempo,
o que também pode ser considerado um prejuízo à qualidade da formação.
Em 1945, acaba o regime do Estado Novo. Em decorrência disto, a prática
do canto coral não mais figurava como atividade importante à escola, que a
mesma estivera associada a uma filosofia totalitária, que naquele momento
chegava ao fim. O canto orfeônico, nesta perspectiva, se configurava em algo
avesso aos novos ares trazidos pela democratização e, por este motivo,
paulatinamente foi se ausentando do espaço escolar.
ANOS 50: A Música se aproxima das outras Artes
Ao mesmo tempo em que o canto orfeônico sai de cena, surgem novas
tendências no ensino não da Música, mas, de uma forma mais ampla, da Arte
39
no Brasil. Eram as novas concepções trazidas pelo movimento Pró-criatividade,
tendência do ensino de arte que fora bem caracterizada por Duarte Jr. (2000, p.
57), como o “movimento de ensino de Arte no Brasil surgido na década de 50 que
defendia a instrução voltada para a criação, experimentação e liberdade de
expressão”. Estas idéias claramente destoavam dos ideais do canto orfeônico,
prática esta que intentava a formação de uma coletividade nacionalizadora que
ainda persistia em alguns redutos educacionais. Paralelamente, podemos
perceber que muitos dos professores de Música da rede pública pareciam encarar
o engajamento ao movimento de Arte-educação como uma possibilidade de
exercer uma prática que não lhes exigisse um grande conhecimento técnico-
musical, conhecimento este que lhes faltava devido às práticas insatisfatórias de
treinamento da Sema - Superintendência da Educação Musical e Artística. Desta
maneira, o movimento Pró-criatividade vai ganhando cada vez mais adeptos entre
os professores de Música das escolas públicas.
A busca da criatividade e da experimentação não se resumiria à esfera
“intra-modalidade artística” apenas, mas resultaria também na busca de novos
caminhos no aspecto “inter-modalidades artísticas”. O que se nota, assim, é um
maior trânsito entre as diversas linguagens, havendo uma aproximação da Música
com a Dança e também com o Teatro. Esta polivalência seria institucionalizada
pela Lei 5692, de 71, que reorganizou os ensinos primário e médio no Brasil e
incluiu no currículo básico a disciplina Educação Artística, que objetivava fornecer
conhecimentos referentes à Música, Artes Plásticas, Artes Cênicas e Dança.
Tendo surgido no contexto do regime autoritário, já que o golpe militar tinha
ocorrido poucos anos (1964), esta lei se configurou, na visão de Duarte Jr.
(2000, p. 80), em uma tentativa de eliminação de qualquer traço de criatividade e
criticidade do pensamento dos alunos, tendo como objetivo a formação de mão-
de-obra qualificada para as grandes empresas. Com esta medida, também se
organizava o ensino médio em 1º. e 2º. graus e se estabelecia, pela primeira vez,
o dever do Estado para com a oferta gratuita e obrigatória do ensino de 1º. grau,
propiciando uma real e progressiva expansão do acesso à escola no Brasil, ainda
40
que com uma qualidade educacional discutível.
A desconformidade entre quantidade e qualidade, neste período, parece
justificar-se pelas verbas destinadas à educação pública no regime autoritário que,
conforme já nos indicara Cunha (1987, p. 51), não aumentaram proporcionalmente
em relação ao número de vagas que eram criadas - ao contrário, diminuíram. O
autor assinala que a Constituição de 1967, aprovada pelo congresso devido à
pressão dos militares, eliminou a vinculação automática de verbas da União para o
ensino público e, desta maneira, se no período de 1960-1965 a participação do
MEC no orçamento da União oscilava entre 8,5% e 10,6%, nos anos 70 os
números desabaram, chegando esta participação a 4,3% no ano de 1975. Esta
redução de gastos parecia não comprometer os reais interesses do Estado
totalitário, que passavam, aparentemente, distantes do ideal da formação
completa e da qualidade educacional para a população. Oferecer uma formação
prolongada e de baixa qualidade parece ser algo positivo às classes dominantes,
que, além de mascarar as desigualdades sociais, devido à falsa noção que se
cria de igualdade de condições educacionais para o povo, tal procedimento
mantém a massa distante do saber crítico, de maneira que não se crie ameaça
alguma ao sistema.
Retornando dessa pequena digressão política, devemos relembrar que o
papel da escola no referido período era simplesmente formar mão-de-obra
qualificada para o desenvolvimento do país. Neste contexto, a inclusão da
disciplina Educação Artística pode ser considerada uma concessão à tradição
humanística que se fizera presente até então no ensino brasileiro, não sendo,
assim, vista como uma prioridade curricular. Isto pode explicar a baixa qualidade
do ensino artístico empreendido na escola pública.
ANOS 70: Predominância das Artes Visuais
Para que se formassem os profissionais habilitados para lecionar a
41
disciplina de Ed. Artística, foram instituídos, em 1973, os cursos homônimos na
modalidade licenciatura. Estes deveriam contemplar uma formação generalista da
Arte associada a uma abordagem específica de uma das linguagens que o
profissional selecionasse para sua formação. Todavia, estes cursos não
trouxeram, a despeito de uma primeira impressão, uma demanda equilibrada de
profissionais especializados em cada uma das artes, havendo, na realidade, uma
priorização do ensino de Artes Plásticas, em detrimento das outras linguagens.
A fim de buscar as razões propulsoras deste predomínio das Artes
Plásticas, conduzimos uma investigação mais apurada que nos indicou algumas
prováveis razões de tal panorama:
Prováveis razões do predomínio das Artes Plásticas no ensino público
1) Convergência da prática das Artes Plásticas com a ótica utilitarista dos
governantes:
Quando pensamos na prática artística dentro dos recintos educacionais,
logo surgem questionamentos referentes ao sentido, às justificativas para tal
atividade. “Pra que serve fazer aula de Arte?” é questão recorrente, seja nas
discussões dos diretores, dos pais dos alunos ou mesmo dos alunos. A Arte, por
não ser atividade exatamente “útil”, no sentido da ótica utilitarista, por não fazer
carros mais velozes, por o aumentar a produtividade de uma empresa, muitas
vezes se passível de ser extinta dos currículos escolares. Por este motivo,
desde os primórdios da Educação no Brasil, pode-se notar que as atividades
artísticas nem sempre tiveram a experiência estética como finalidade principal. Em
verdade, para que pudessem ter um lugar no microcosmo da escola pública,
sempre se buscou uma associação das mesmas com a ótica utilitarista. Conforme
42
nos indica Dr. João Francisco Duarte-Júnior
1
, hoje considerado um dos nomes
mais importantes da Arte-educação no Brasil, autor de inúmeros livros sobre o
ensino de Arte no país:
Viu-se, com o ensino Artes Visuais na escola, a partir do
início do século XIX, um enfoque ao desenho industrial,
geométrico. Visava-se, assim, prover um conhecimento
artístico que propiciasse o exercício de habilidades ligadas
ao desenvolvimento de objetos, ou então a carreiras como,
por exemplo, a arquitetura.
Se, por um lado, as Artes Gráficas conseguiam achar lugar dentro do
currículo escolar, ainda que um lugar modesto, com as demais áreas artísticas
não ocorria o mesmo: Com exceção à dec. de 30, na qual se vivenciou a prática
do canto coral com objetivos de exaltação à Pátria, não se vê, historicamente, uma
relação direta entre as outras formas artísticas e questões de ordem mais prática.
Assim, se por um lado se via a hipertrofia do ensino de Artes Visuais, a estas
outras modalidades se reservou, durante praticamente toda a história do ensino
brasileiro, o olvido por parte dos educadores.
A predominância desta forma artística seria paradoxalmente
institucionalizada através da Lei 5692, de 71, que criou a disciplina de Educação
Artística. Paradoxalmente pois se, na teoria, tal disciplina tinha a meta de propor a
prática das variadas linguagens artísticas com uma visão mais polivalente,
condizente com o discurso da experimentação da Arte-educação, sem priorização
de nenhuma linguagem, na prática, havia um enfoque tendencioso até mesmo nos
documentos oficiais do governo, da época. Para ser mais exato, devemos citar o
Parecer CFE 1284/73, atestado do CFE (Conselho Federal de Educação), que
definiu explicitamente as habilitações artísticas que se fariam presentes em nível
de graduação: O mesmo fixou que a licenciatura plena em Educação Artística
1
Informações coletadas em entrevista gentilmente cedida pelo estudioso, em 25 de outubro de
2007, nas dependências do Departamento de Artes Plásticas do IA Unicamp.
43
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Música Desenho Artes Plásticas
1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
LICENCIATURAS EM MÚSICA, ARTES PLÁSTICAS E DESENHO
combinaria a habilitação geral a específicas, “relacionadas com as grandes
divisões da Arte Artes Plásticas, Artes Cênicas, Música e Desenho (grifo
nosso).
Percebemos, portanto, que o predomínio das Artes Visuais era previsto
pelos órgãos norteadores da Educação Brasileira, que se viam contempladas,
neste documento, duas habilitações (Desenho e Artes Plásticas) que, na
realidade, podem ser englobadas dentro do âmbito maior das Artes Visuais.
Assim, por mais que a nova proposta de ensino de Arte viesse envolta em
um discurso de polivalência, em verdade ainda perdurava a tradicional
predominância das Artes Plásticas no ensino público.
Aparentemente como conseqüência de tal fato, tivemos a abertura de mais
habilitações em Plásticas do que em Música, no período de 73 a 75. Para ser mais
exato, foram inauguradas, neste momento específico, sete licenciaturas em
Desenho, nove licenciaturas em Música e 14 licenciaturas em Artes Plásticas. Tal
fato é demonstrado pelo gráfico abaixo:
LICENCIATURAS EM MÚSICA, ARTES PLÁSTICAS E DESENHO
44
Considerando o fato de que a prática do Desenho é atividade que pode ser
englobada dentro de um conceito maior de Artes Plásticas, então podemos
concluir que, no período de 73 a 75, não ocorreu abertura de apenas 14
licenciaturas em Artes Plásticas, mas sim, de 21 novas graduações nesta área (14
de Artes Plásticas, adicionadas a sete de Desenho). Sendo assim, criaram-se, na
verdade, mais do que o dobro da quantidade de licenciaturas em Música abertas
no mesmo período. O gráfico abaixo, que considera as licenciaturas em Desenho
como um subgrupo das graduações em Artes Plásticas, demonstra o raciocínio
citado. A elipse pontilhada indica o pico de abertura dos cursos de Artes Plásticas
na década de 70:
O parecer que priorizou as Artes Visuais, sendo fruto da parceria MEC-
USAID, estabelecida no regime autoritário, foi confeccionado sob a égide das
diretrizes educacionais norte-americanas, norteadas por uma ótica utilitarista.
Havendo tal ótica, é natural que se priorize as Artes Visuais, com ênfase no
Desenho Industrial, uma vez que, conforme visto anteriormente, esta é a forma
artística que tradicionalmente mais esteve associada a tal ótica.
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Música Artes Plásticas
LICENCIATURAS EM MÚSICA E ARTES PLÁSTICAS (PLÁSTICAS + DESENHO)
1910 1920 1930 1940 1950 1960 1970 1980 1990 2000
LICENCIATURAS EM MÚSICA E ARTES PLÁSTICAS (PLÁSTICAS+DESENHO)
45
Mas esta não parece ter sido a única motivação ao panorama de hipertrofia
das Artes Visuais. Chegamos, assim, ao segundo fator relevante à constituição de
tal panorama:
2) Tempo de formação do Educador Artístico
que se levar em conta ainda os fatores relacionados à formação dos
professores de Arte atuantes no ensino público: Após institucionalizada a
disciplina Educação Artística, fenômeno distinto pôde ser percebido: não havia
suficientes profissionais qualificados, formados em Arte, que pudessem ocupar os
postos de trabalhos que surgiam. Frente a tal panorama, dois caminhos se
abriram: Primeiramente, foram criados cursos de licenciatura curta que podiam ser
integralizados em apenas um ano e meio, de modo que a carência de profissionais
pudesse ser rapidamente suprida. Em segundo lugar, percebe-se a migração de
muitos professores de outras áreas, principalmente de áreas das Ciências
Humanas ou Letras, para o exercício da atividade docente em Artes, desta
maneira sem a qualificação necessária para tal atividade. Ambos os caminhos
conduziram para uma busca maior pelas Artes Plásticas, e é simples entender o
porquê disto:
Para que ocorra a produção coletiva de uma música tonal (o que
geralmente se busca numa situação de ensino infantil coletivo), faz-se necessário
que o professor tenha domínio, ao menos no nível básico, da técnica instrumental
e da leitura musical. Não é possível dar um instrumento para a criança e pedir
para ela se “expressar livremente”, sem antes lhe fornecer um instrumental
técnico-artístico para tanto. Isto requer um preparo efetivo do professor, que
esta Arte apresenta um sistema de grafia bastante detalhado e, além disso,
diversas abordagens da técnica instrumental.
Por outro lado, a prática de desenhos livres, ou colagens, por exemplo, sem
um trabalho sobre as questões cnicas, sem o domínio das diferentes técnicas e
formas de produção, ou seja, sem uma real fundamentação do trabalho, é algo
46
que pode ocorrer com maior facilidade, comparativamente ao ensino musical. O
que percebemos, portanto, é que muitos educadores optaram pelo ensino das
Artes Visuais por verem ali a possibilidade de camuflar a deficiência de seu
processo formativo sob a égide do discurso da livre expressão, próprio da Arte-
educação. Prática esta que, consistindo de simples atividades lúdicas, gráficas,
distancia-se grandemente do que seria uma real prática das Artes Visuais ou da
Arte-educação. O que está em questão, em muitas das atividades de Educação
Artística da escola pública, não é o domínio das diferentes formas de criação, das
diferentes cnicas, do conhecimento estilístico de diferentes escolas, e sim a
simples cópia de modelos pré-estabelecidos, ou ainda trabalhos de colagem, por
exemplo, o que parece demandar uma formação mais rápida do que aquela
exigida do profissional que ensina um instrumento musical.
Assim sendo, a duração relativamente pequena de muitos dos cursos de
Educação Artística pode também ser vista como um fator de contribuição ao
predomínio das Artes Plásticas, uma vez que o conhecimento de atividades
gráficas lúdicas (realizadas superficialmente, bastante distanciadas do que seria a
real prática das Artes Visuais ou da Arte-educação) requer menos tempo do que o
conhecimento efetivo do instrumental teórico necessário a outras formas artísticas,
como a Música e o Teatro, por exemplo.
3) Custo de implementação do Ensino Musical
Além de todos os fatores supracitados, algo que talvez seja um empecilho à
inserção do educador musical em sala de aula e, por conseguinte, mais uma
motivação ao predomínio das Artes Plásticas, é o custo dos recursos necessários
aos trabalhos de ensino musical. Em geral, os materiais requeridos são os
instrumentos musicais tradicionais - sejam eles de sopro, cordas, percussão ou
teclado. Isto porque tais instrumentos parecem ser bastante funcionais à
elaboração de trabalhos como as apresentações em público, por exemplo - algo
que consideramos uma importante faceta da Educação Musical. Tendo em conta o
47
fato de que um violão, de modelo bastante básico, tem o preço no atacado de, em
média, R$ 100,00, (o que teria ainda de ser multiplicado pelo número de alunos de
cada classe), pode-se ter uma idéia do custo de implementação de trabalhos
desta natureza.
Por outro lado, para que se façam trabalhos iniciais de desenho, por
exemplo, o mais do que uma folha e um lápis se faz necessário, sendo que tais
utensílios fazem parte do material padrão dos alunos de escolas blicas. Ou, se
pensamos em trabalhos de colagem, por exemplo, também não há vicissitudes em
relação ao material, uma vez que se pode conseguir, facilmente, revistas antigas,
tesoura e cola.
É certo que poder-se-ia contra-argumentar em relação a esse ponto de
vista: Se pensarmos que o ensino musical poderia ter como base a voz e a
percussão corporal, ao invés de instrumentos musicais tradicionais, não mais
haveria o empecilho em relação ao custo. Contudo, se partimos desse
pressuposto, reduz-se a paleta de opções do educador musical e, mais do que
isso, corremos o risco de que haja trabalhos de ensino de canto mal conduzidos,
por profissionais despreparados, especializados, na verdade, em outro
instrumento musical muitas vezes o violão e o piano, vedetes dos licenciados,
dentre os quais muitos são alocados para o ensino público. Seria como solicitar
que um oftalmologista realizasse uma consulta ortopédica. Ao pensarmos que a
prática em questão é o canto, a questão fica ainda mais agravada, que o
exercício desta modalidade sem a habilitação necessária poderia acarretar danos
fisiológicos ao aparelho fonador dos educandos. Indo além, é muito provável
também que, ao saberem da condição restrita de atividade, muitos dos
educadores nem mesmo queiram embrenhar-se em tal ofício. Tendo de optar
entre dar aulas de seu instrumento de especialidade em um conservatório ou dar
aulas de canto, não sendo sua especialidade, em uma sala com 30 ou 40 alunos
de uma escola pública, é evidente que o graduado seria mais atraído pela primeira
opção.
Portanto, nos parece que a opção pelo trabalho com Música resultaria em
48
maiores dispêndios financeiros do que o trabalho básico em Artes Visuais, que
teria de haver, para tanto, um investimento inicial relevante com a compra de
instrumentos musicais, lousa específica, com pautas, etc... Sendo o orçamento
destas instituições de ensino muitas vezes bastante limitado, dada a precarização
do ensino público, citada anteriormente, é impossível, em muitos casos, adquirir
tais materiais, o que impossibilitaria, assim, a realização destes trabalhos,
favorecendo a adoção de práticas em Artes Visuais.
4) Influência do movimento de Arte-educação
Muitas das instituições que começaram a oferecer a formação em
Educação Artística, na década de 70, se configuraram, na verdade, em redutos da
Arte-educação e, seguindo as próprias origens deste movimento
2
, mostraram um
predomínio da prática das Artes Plásticas. Isto se comprova através da
averiguação de inúmeros livros didáticos, das décadas de 70 e 80, que
demonstravam uma preponderância desta linguagem em relação à Música, Dança
e Teatro.
Após compreendermos todos os prováveis motivos da predominância das
Artes Plásticas no Ensino Público, podemos dar prosseguimento ao breve
histórico da Educação Musical no ensino público.
ANOS 90: Reinserção da Música através da LDB 9394/96 e PCNs/99 “a
teoria que ainda não se concretiza”.
O fim do regime autoritário, no início dos anos 80, aliado ao movimento pela
2
A criação da Escolinha de Arte do Rio de janeiro, pelo professor e artista plástico Augusto
Rodrigues, se constitui em um marco do movimento da Arte-educação no Brasil.
49
redemocratização da sociedade, traz à baila novamente a questão da escola. Isto
resulta na instituição de uma nova LDB - Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional - em 1996 (lei 9394/96). É proveitoso discorrermos brevemente sobre o
processo de implantação desta lei.
O primeiro projeto desta LDB foi apresentado à Câmara dos deputados em
1988, pelo deputado Octávio Elísio. Logo depois, em junho de 1990, foi aprovado
um projeto substitutivo, encabeçado por Jorge Hage e, finalmente, em 1996, foi
sancionada a versão final da LDB, fruto de projeto do senador Darcy Ribeiro, que
teve amplo apoio do MEC. É interessante notar que os dois primeiros projetos,
referentes aos anos de 1988 e 1990, respectivamente, apresentavam uma
concepção de garantia de educação por parte do Estado, o primeiro através de
uma orientação socialista e o segundo por meio de um direcionamento social-
democrata. Antagonicamente, a última versão, o projeto de Darcy Ribeiro, trouxe à
tona uma concepção conservadora, alinhada com os interesses dos grupos
privatistas
3
e compatível com a idéia do Estado mínimo. Esta averiguação é
ratificada por Saviani (2000), que assinala o fato de que, dentre as incoerências
notadas na versão aprovada, pode ser citada a coexistência entre propostas
avançadas (transpostas da primeira versão do projeto) e medidas que constituíram
verdadeiro retrocesso à educação, tais como a redução do ensino fundamental
obrigatório e a restauração dos exames de madureza. O autor termina com a
conclusão de que a última versão da LDB traz como significado político um
alinhamento do sistema educacional brasileiro ao neoliberalismo (SAVIANI, 2000,
p. 200), dedução esta que julgamos ser bastante coerente. A ótica neoliberal, se já
era percebida no governo Collor (1990-1992), no período FHC (1994-2002) se
3
Um episódio narrado por Saviani (1997, p. 161) ilustra a influência que o setor privado exerceu
sobre aquela lei. No dia da votação final da LDB, João Carlos Di Genio, proprietário da Rede de
cursos e Colégios Objetivo e da Universidade Paulista (Unip), esteve presente no senado e sugeriu
que o senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA) apresentasse uma emenda que retirasse a
exigência de que as instituições de nível superior, para que pudessem se constituir como
universidades, tivessem a maioria de seu corpo docente formado por mestres ou doutores. O
empresário, alegando que isto seria impraticável pelas universidades particulares, conseguiu que o
senador apresentasse esta emenda, que foi aprovada pelo congresso. Teria o senador exercido,
neste momento, o delito da Advocacia Ilegal?.
50
intensifica ainda mais, expressando seus efeitos ainda hoje vistos no cenário
educacional, por meio de medidas como, por exemplo, a transferência da
responsabilidade educacional do Estado para a família (Programas como Escola
da Família, Amigos da Escola, etc...), incentivos à universidade privada em
detrimento da pública (enquanto milhões são gastos com bolsas de estudos, no
Prouni, ocorre votação para desvincular os gastos das três universidades paulistas
- USP, Unicamp, Unesp – do orçamento estadual) e os projetos de ensino à
distância.
O oferecimento de educação inicial gratuita para as massas parece ser algo
pretendido pela burguesia que, desta maneira, cria-se um contingente de mão-
de-obra a ser empregado na indústria, em trabalhos que exigem pouca
especialização e, indo além, instaura-se uma noção de eqüidade social, que
todos “tiveram as mesmas chances” por meio do acesso gratuito à escola. Isto
resulta na diminuição da possibilidade de haver críticas ao sistema
4
, sendo,
portanto, algo alinhado aos interesses privatistas. Contudo, uma vez que o se
pode eliminar a educação pública totalmente, que desta maneira poderia haver
um conflito de classes, se diminui a qualidade da instituição, para que desta
maneira o povo, alienado, fique marginalizado das decisões que balizam o destino
da sociedade. Frigotto (2001, p. 173) a respeito deste panorama, já afirmara:
“Trata-se de uma desqualificação orgânica, uma irracionalidade racional, uma
improdutividade produtiva, necessária à manutenção da divisão social do trabalho
e, mais amplamente, à manutenção da sociedade de classes”. Panorama este que
parece vir ao encontro ao que propunha Adam Smith, o teórico do capitalismo:
este autor dizia que o ensino para as massas deve ser dado em “doses
homeopáticas”.
Em relação à precarização da escola pública, devemos ainda citar como um
motivo importante o desvio de verbas destinadas à educação, o que se deve à
4
A respeito das ações de manipulação das massas, Saviani (2000, p. 101) declarara que “A
função de mascarar objetivos reais em função de objetivos proclamados, de forma que os
proclamados mascarem os reais, é ideologia típica do capitalista, que introduziu, pelo interesse
mercadológico, a opacidade nas relações sociais”.
51
corrupção que se faz presente no meio político. Conforme nos mostra Davies
(2000, p. 13), “até 1999, centenas, talvez milhares de prefeitos, governadores e
presidentes não aplicaram nem aplicam o que devem legalmente à educação”. O
autor ilustra sua proposição, citando inúmeros exemplos de desvios de verbas que
identificou através de estudo levado a cabo no estado do Rio de Janeiro. Assim
sendo, se os recursos previstos para o ensino público são poucos, devido à
orientação política dominante, ainda menores são as verbas de fato aplicadas no
ensino público, fato este que se deve à corrupção endêmica de nosso país. Estes
são os fatores que estabelecem a situação precária da escola pública no Brasil.
Os parágrafos acima nos forneceram um panorama das questões políticas
envolvidas no processo de homologação da LDB de 96, especificamente. Todavia,
devemos perceber que tais condutas não parecem se resumir somente a um
episódio em específico. Na verdade, estes procedimentos são comuns na política
brasileira, ou seja, as decisões referentes ao ensino público de nosso país
parecem se pautar, via de regra, por condutas que nem sempre visam a real
qualidade de ensino, mas sim a manutenção de uma massa alienada, manipulável
pela classe dominante.
Desta maneira, por mais que, à primeira vista, pareça ter havido um
momento de divagação do mote de nossa pesquisa, que se entender que a
demonstração de tais dados tem como objetivo deixar-nos atentos para o fato de
que não se pode adotar uma visão ingênua que parta do pressuposto de que, ao
serem comprovados os benefícios de uma atividade educacional qualquer (dentre
as quais se inclui a Música), em relação à comunidade, automaticamente se cria
apoio massivo dos governantes a favor de sua implementação no currículo
padrão. Para que se instaurem novos espaços educativos, esperar pela
consciência política dos governantes parece não ser sempre a melhor alternativa.
Cremos que outras medidas são mais efetivas, medidas estas que serão vistas
adiante neste texto.
Retornemos, então, à questão da Educação Musical no ensino público: É
válido percebermos que a nova LDB garante lugar para o ensino de Arte na escola
52
sem, no entanto, estabelecer maiores detalhes sobre sua implantação. Neste
sentido, é necessário conhecermos o conteúdo dos PCN (Parâmetros Curriculares
Nacionais) de 1997 e 1998, elaborados pelo Ministério da Educação (MEC) com a
função de prover diretrizes ao ensino básico brasileiro. Apesar de estes
documentos não apresentarem parâmetros educacionais em caráter de
obrigatoriedade, os mesmos têm servido como referência aos procedimentos
adotados pelas escolas, que a alocação de recursos governamentais para cada
instituição tem os PCN como a referência de condutas a serem adotadas pelos
educandários. Os PCN propõem, ao ensino fundamental, a prática de quatro
modalidades artísticas (Música, Dança, Teatro e Artes Visuais)
5
. Esta diretriz
estabelece uma diferença entre as concepções do ensino de Arte dadas por este
momento político e aquelas presentes nos anos 70, institucionalizadas pelo
parecer CFE 1284/73: Se, nos anos 70, priorizava-se o ensino das Artes Visuais,
conforme visto anteriormente, na nova LDB, de 96, abre-se precedentes para
um trabalho efetivamente distribuído entre as quatro Artes (inclui-se também a
Dança, não contemplada anteriormente).
Entretanto, é interessante nos questionarmos: Estas novas diretrizes
efetivamente trouxeram reflexos à prática do ensino de Arte nas Escolas, ou
ficaram restritas à teoria, a exemplo do que ocorre com muitas das leis aprovadas
em nosso país? A resposta a esta questão é: “- A lei modificou a prática, porém
não instantaneamente”. Isto porque, conforme nos indica Barros (s.d., p. 39), leis
como estas têm o prazo de dez anos para serem implementadas. Assim sendo,
até o ano de 2006, os concursos blicos para admissão de professores de Arte
do ensino público aceitavam somente graduados em Educação Artística. É
importante vermos que esta condição (aceitação somente de graduados em
Educação Artística) perpetua o “monopólio” das Artes Plásticas no ensino público,
que o número de educadores artísticos com habilitação em Música é menor do
que os habilitados em Artes Plásticas: A maior parte dos cursos de graduação em
Educação Artística de nosso país não possui a opção de habilitação em Música,
5
Os PCN (BRASIL, 1999 do ensino médio propõem ainda o trabalho com as Artes Visuais.
53
reflexo da tradicional predominância das Artes Plásticas no ensino de Arte na
escola pública brasileira e, ao mesmo tempo, da institucionalização de tal
predominância a partir dos anos 70. Pra ser mais exato, dentre os 90 cursos de
Educação Artística existentes no Brasil, 28 apresentam a Música dentre suas
habilitações, ou seja, apenas 31% dos cursos. Situação bastante diversa ocorre
em relação às Artes Plásticas, que, dentre os 90 cursos, 54 possuem esta
opção, ou seja, 60% dos cursos. A habilitação em Desenho, por outro lado, faz-se
presente em 27% dos cursos, fato este que potencializa as discrepâncias, que a
prática do Desenho pode ser englobada dentro das Artes Plásticas
6
. Não
bastassem as desproporções que são institucionalizadas, por meio do menor
oferecimento de cursos de Educação Artística com habilitação em Música, em
relação às outras habilidades, podemos citar ainda outro fato: Em muitos dos
cursos de Educação Artística que apresentam as opções de Plásticas e Música, a
maioria dos ingressantes opta pela habilitação em Artes Plásticas. Os dados
fornecidos por Penna (2004, p. 10) ilustram a afirmação. A autora relata que, no
período de 1991 a 2001, o curso de Educação Artística da UFPB (Universidade
Federal da Paraíba), que tem a maior parte de seus egressos atuando na rede
pública da capital, teve 253 habilitados em Artes Plásticas, 124 em Cênicas e
apenas 50 em Música. Esta verificação é apontada ainda por outros autores,
como, por exemplo, Mateiro (2003). Acreditamos que esta preponderância de
educadores artísticos com habilitação em Plásticas seja, na realidade, um reflexo,
ainda presente, do alinhamento ocorrido entre o discurso de Arte-educação e as
Artes Plásticas, fato ocorrido a partir da década de 60.
Desta maneira, a década de 90 pode ser caracterizada como um período de
reinserção da Música no ensino público na teoria, porém não na prática.
ANOS 2000: A Virada Histórica da Música no ensino superior e a real
inserção desta Arte no ensino público.
6
Estes são dados oficiais do INEP, um órgão pesquisa educacional vinculado ao MEC. Os
mesmos foram elencados a partir de pesquisa no sítio deste órgão (BRASIL, 2007).
54
Conforme supracitado, as leis apresentam um período necessário a sua
implementação. No ano de 2006 seria chegada, então, a hora de concretizar-se a
proposta da LDB de 96. E exatamente isso se sucede: O documento referente às
instruções especiais do concurso público de professores de Educação Básica da
rede pública do Estado de São Paulo, do ano de 2006 (documento DOE SE - 2,
DE 18 / 12 / 2006, que definiu as regras para o provimento de 6903 cargos de
professores das matérias Educação Artística, Filosofia, Física, Geografia e
Matemática (disponível em www.drhu.edunet.sp.gov.br/eventos/arquivos/AA2.doc,
acesso em 27 de novembro de 2007, grifo nosso), trouxe uma nova concepção ao
ensino de Arte no país. Abaixo segue transcrito o artigo 1 de tal documento, trecho
este que trata da contratação dos professores de Arte:
1 - De acordo com o Anexo III da Lei Complementar
836, de 30, publicada no DOE de 31-12-97, no que
concerne à habilitação/qualificação dos profissionais de
educação, para provimento de cargo de Professor Educação
Básica II, o candidato deverá comprovar conclusão de Curso
Superior: licenciatura de graduação plena, com habilitação
específica em área própria ou formação superior em área
correspondente e complementação nos termos da legislação
vigente conforme segue:
1.1 - EDUCAÇÃO ARTÍSTICA:
1.1.1 - ser portador de diploma de Licenciatura em
Educação Artística;
1.1.2 - ser portador de diploma de Licenciatura em
Arte em qualquer das linguagens: Artes Visuais, Artes
Plásticas com ênfase em Design, Música, Teatro, Artes
Cênicas e Dança.
O fato de serem aceitos profissionais formados em diferentes modalidades
da Arte, e não somente os graduados em Educação Artística, traz um novo
panorama ao ensino de Arte em nosso país, ao menos no estado de São Paulo.
55
Este cenário favorece a volta da Música ao ensino público (não só da Música, mas
também das outras formas artísticas). Isto porque, como vimos, até então se via
quase que somente a inserção de artistas plásticos, ao passo que, a partir deste
documento, é possível que os formados em outras Artes (dentre as quais a
Música) desenvolvam seus trabalhos nas escolas.
É certo ainda termos em conta que, muitas vezes, vicissitudes ocorrem
quanto a real modificação do modelo de ensino artístico no país. O caso ocorrido
em Sumaré, município do interior de São Paulo, no ano de 2008, exemplifica isso:
Algumas professoras de Arte que enfatizavam conteúdos referentes a
modalidades que não fossem as Artes Plásticas enfrentaram problemas junto a
Diretoria de Ensino daquela cidade para prosseguirem seu trabalho. A inércia da
concepção da Educação Artística como sinônimo de Educação em Artes Visuais
parece ter suplantado, nesse caso, os novos ares trazidos pela última legislação.
De qualquer modo, a despeito de episódios como esse, as concepções
preconizadas pela LDB atual sinalizam mudanças no paradigma do ensino de
Arte.
Tal fato parece ter sido bem percebido pelos empresários do ramo do
ensino, principalmente no tocante à Música: Pesquisa realizada junto ao sítio do
INEP, órgão do MEC responsável pelas pesquisas sobre o ensino superior
brasileiro, demonstra dados surpreendentes: Nos últimos dez anos, criou-se uma
quantidade de licenciaturas em Música igual ao número de licenciaturas em
Música aberta no período dos 74 anos anteriores (1925-1996), ou seja, em toda a
história do ensino superior do Brasil. Para ser mais exato, de 1997 a 2007, em
nosso país, ao passo que foram abertas 17 novas licenciaturas em Teatro, 14 em
Plásticas e oito em Dança, 57 licenciaturas em Música foram criadas. no ano
de 2006, ápice do fenômeno, enquanto foram inauguradas três licenciaturas em
Teatro, nenhuma em Plásticas e Dança, 14 licenciaturas em Música foram
implantadas. Veja o gráfico na página seguinte:
56
57
Este fenômeno, que batizamos aqui de “virada histórica” da Música no
ensino superior brasileiro, traz então panorama diverso do anterior, em relação ao
ensino artístico do país: No ano de 2007, não mais há predominância de
graduações em Artes Plásticas, mas sim de cursos superiores de Música no
Brasil:
O fenômeno trouxe mudanças tão profundas ao ensino de Arte no Brasil
que vivemos novamente um momento de predominância das licenciaturas em
Música, em detrimento das Artes Plásticas, situação esta que não era vista desde
1973 em nosso país. Para termos uma clara noção da dinâmica histórica da
abertura de cursos de Artes Plásticas e Música, se especificam, no gráfico abaixo,
os ciclos de predominância destas duas modalidades artísticas:
ARTES
PSTICAS
37%
TEATRO
14%
MÚSICA
43%
DANÇA
6%
QUANTIDADE DE LICENCIATURAS EM ARTE NO BRASIL
MÚSICA: 115 CURSOS
ARTES PLÁSTICAS*: 97 CURSOS
TEATRO: 37 CURSOS
DANÇA: 16 CURSOS
Fonte: INEP/MEC/BRASIL
* FORAM CONSIDERADAS LICENCIATURAS EM ARTES PLÁSTICAS OS CURSOS/HABILITÕES DE/EM
ARTES PLÁSTICAS (67), DESENHO (28) E DESENHO GEOMÉTRICO (3).
58
59
Se tivermos em mente o fato de que as licenciaturas apresentam uma carga
horária que é geralmente concluída em um período de quatro anos, tecemos,
então, a previsão de uma maior inserção da Educação Musical no ensino público
brasileiro a partir de 2010.
Poderá o professor de Música que entrar para a escola pública ensinar Música
mesmo ou terá de abordar conteúdos de outras formas de Arte que não domina?
O que está em jogo neste questionamento é o velho dilema entre a
polivalência e a concentração em uma determinada linguagem artística:
Pleiteando, o licenciado em Música, uma vaga ao ensino de Artes, e não somente
de Música, poderá o mesmo aplicar os conhecimentos que possui de forma
aprofundada, ou deverá dividir o conteúdo do ano entre quatro formas artísticas?
A opção pela polivalência parece trazer consigo a superficialidade no
tratamento das diferentes formas de expressão artística, isto porque a
responsabilização de um único profissional pelo ensino, efetivo, de quatro
diferentes modalidades artísticas é algo inexeqüível, dadas as especificidades de
cada uma destas formas de expressão. Por outro lado, o trabalho com apenas
uma modalidade o permite que haja uma visão geral de todas as formas
artísticas. Assim, não é possível que sejam descobertos os potenciais de alguns
alunos para determinadas formas de arte, que estas estariam, assim,
suprimidas do processo de ensino-aprendizagem. Além disso, a concentração em
um conteúdo, apenas, traz consigo a possibilidade de não haver uma continuidade
de aprendizado entre uma rie e outra, que professores de diferentes séries
poderiam optar por linguagens artísticas diferenciadas, de acordo com suas
formações.
Cremos que o ideal seja o ensino de cada linguagem artística, por
especialistas, em séries separadas. existem, atualmente, alguns esforços no
sentido de realizar um trabalho nesses moldes. Algumas escolas de Guarulhos,
60
por exemplo, no interior deo Paulo, realizam o ensino de Arte distribuindo, para
cada ano letivo, uma forma específica, contando com especialistas de cada área,
de forma condizente com nossa proposta. Assim, se, por exemplo, na sexta série
é praticada a Dança, na sétima ocorre trabalho com Artes Visuais, na oitava com
Música e no Primeiro ano do Ensino Médio, as aulas de Teatro.
Entretanto, apesar destas propostas serem adequadas no campo teórico,
faz-se necessário que mantenhamos nossos pés no chão: apesar de haver alguns
locais que apresentam projetos efetivos, ao pensarmos em larga escala,
percebemos que a contratação de profissionais de diferentes áreas envolveria
gastos que não são compatíveis com o orçamento que as escolas estaduais
dispõem. Seriam necessários quatro professores ao invés de um, o que oneraria a
folha de pagamento de forma inviável. Trabalhos nos moldes do que se em
Guarulhos estariam restritos mais à esfera municipal de cidades mais
desenvolvidas, ou então à rede particular. A todo o resto das escolas públicas,
estabeleceria-se a presença de apenas um profissional responsável pelo ensino
da Arte.
Uma vez que a situação possível é a existência de um profissional
relacionado ao ensino de Artes, e não vários, como talvez fosse o ideal, voltamos
à nossa questão inicial: - Uma vez que os PCN sugerem o trabalho com quatro
linguagens artísticas, o profissional que fosse contratado para o ensino de Arte
nas escolas teria que trabalhar com todas as expressões artísticas, mesmo que
sua formação se remetesse a uma modalidade em específico? Ou seja, o músico
que entrasse na escola pública teria que dar aulas de Dança, Teatro e Artes
Plásticas, também?
Neste sentido, deve-se notar que, se por um lado os PCN explicitam as
linguagens artísticas sugeridas ao trabalho no ensino público, estes documentos
não estabelecem quais serão as abordagens escolhidas, e nem como e quando
as mesmas serão oferecidas. Estas decisões cabem à direção da escola, que a
LDB prevê uma autonomia a cada instituição, delegando às instituições a tarefa de
“elaborar e executar sua proposta pedagógica” (Lei 9394/96, Art. 12).
61
Neste sentido, percebemos que as diretrizes adotadas por cada instituição
vão depender exclusivamente da concepção do coordenador pedagógico de cada
local, uma vez que ele é o principal responsável pela confecção do projeto
pedagógico da instituição. A entrevista que realizamos com a coordenadora
pedagógica da Escola Jornalista Roberto Marinho nos fez compreender como esta
divergência se resolve, em geral. Segundo ela, o conteúdo curricular da disciplina
Arte é sugerido pelo professor da escola e enviado para aprovação por parte do
coordenador pedagógico. Ela afirma que os coordenadores, de uma forma geral,
têm consciência de que os educadores de Arte têm formação específica em uma
das modalidades artísticas, e por este motivo, permitem que o professor de
Educação Artística, apesar de tratar brevemente de conceitos referentes às
diferentes modalidades, dê um enfoque à sua modalidade em específico.
Devido a este fato, podemos afirmar que, de maneira geral, a modalidade
artística abordada em cada escola dependerá, em essência, da formação do
educador aprovado em seu concurso público. Ou seja, o músico poderá enfatizar
o ensino de Música, o dançarino o ensino de Dança, etc... Os possíveis
empecilhos à concretização de trabalhos de ensino musical não se remeterão,
assim, a questões de concepção educacional, mas sim a questões de ordem
prática, tais como a aquisição de materiais, instrumentos musicais, etc...
É possível que o bacharel em Música também lecione na escola pública ou
somente o licenciado pode pleitear tal vaga?
A resposta a esta questão é: - Sim, porém com menos chances. Conforme
informações coletadas em entrevistas feitas com Nivaldo Vicente e Helena
Ramos, supervisores de ensino da Delegacia de Ensino seção Leste, da cidade de
Campinas-SP, os bacharéis também podem concorrer a tais vagas. Entretanto,
somente são contratados se, mesmo após todos os licenciados aprovados
ocuparem as vagas, ainda sobram postos de trabalho. Segundo os referidos
supervisores, tal fenômeno é comum na rede pública, sendo que, em geral, os
bacharéis o convocados em chamadas posteriores, alguns meses após as
62
primeiras contratações.
Um dado relevante que deve ser assinalado é que um bacharel com
mestrado ou doutorado em sua área específica continua tendo menos chances
que um licenciado, ao concorrer a tais vagas. Porém, um bacharel com mestrado
ou doutorado em Educação ultrapassa o licenciado que não possui nenhum
desses títulos.
SUMÁRIO DO CAPÍTULO
A Educação Musical em nosso país sempre esteve ligada aos cursos
técnicos profissionalizantes, desenvolvidos em conservatórios e escolas de
música particulares. No microcosmo da escola pública de ensino fundamental,
vemos, na déc. de 30, a Educação Musical a serviço do Estado Novo getulista, por
meio da prática do canto orfeônico. Em 50, após o fim do Estado Novo, o ensino
musical se dilui junto a outras formas artísticas e, em 70, esta forma de Arte se
distancia notavelmente do ensino público. Neste momento, a tradicional
predominância das Artes Plásticas no ensino público se torna ainda mais
proeminente, devendo-se esta predominância a quatro fatores: maior
convergência desta modalidade artística com a ótica utilitarista, o que a fez mais
presente desde os princípios do ensino brasileiro; menor tempo de formação
necessário ao educador artístico com habilitação em Artes Visuais, do que ao
educador artístico habilitado em Música, o que se adequou às necessidades
emergenciais de provimento de educadores artísticos a partir da déc. de 70;
menor custo de implementação de atividades em Artes Visuais do que em Música;
influência estética do movimento Arte-educação, que têm em sua essência a
prática das Artes Plásticas. Na década de 90, dada a nova LDB, de concepção
mais igualitária entre as Artes, a Educação Musical recebe um incentivo implícito,
que não é, entretanto, posto em prática, fato este devido ao tempo necessário à
concretização desta nova lei. Nos anos 2000, por fim, dois fatores apontam para
63
uma mudança do paradigma da Música na escola pública: a nova concepção de
contratação de educadores artísticos que se fez presente a partir do documento
DOE SE - 2 , DE 18 / 12 / 2006, o que permite que licenciados em Música possam
pleitear uma vaga no ensino público e a “virada histórica” da Música no ensino
superior (explosão de abertura de licenciaturas em Música no país). Conclui-se a
revisão com a constatação prospectiva de que, a partir de 2010, há forte tendência
a uma maior inserção da Música no ensino público fundamental brasileiro.
64
Uma vez que nosso objetivo principal é “delinear um trabalho científico que
trate dos efeitos extra-musicais das aulas de sica”, e contribua “para com uma
possível reversão do quadro de ausência da música da grande maioria das salas
de aula de nosso país”, uma realização fundamental consiste em conhecer os
fatores históricos que estabeleceram este panorama de ausência. Isto porque as
possíveis medidas de re-inserção constituem-se, em verdade, em providências
que possam reverter tais motivos.
Daí a importância do capítulo anterior: ele nos mostra quais são esses
motivos. Percebemos, através do mesmo, que a Música nunca se fez presente de
forma satisfatória no ensino gratuito, a não ser na déc. de 30, período em que a
mesma era aprendida nas escolas como um meio de afirmação do regime político
de então. Paralelamente, notamos que as Artes Plásticas, diferentemente da
Música, se fez tradicionalmente presente na educação gratuita devido ao fato de
que a mesma fora ensinada como um meio de capacitação técnica para projetos
industriais, ou mesmo como preparação para outras carreiras profissionais.
Podemos nos indagar então: o que em comum entre os dois exemplos
anteriores, que mostram a Arte inserida no currículo escolar, contrariando o
paradigma da marginalidade das atividades artísticas no currículo escolar?
Simples: o fato de, em ambos os casos, a mesma se associou a uma utilização
que perpassa o limite do puramente artístico, demonstrando uma função extra. A
partir de tal verificação, podemos deduzir que, para que possamos reavivar o
interesse pela Música no ensino público, atingindo a meta deste estudo, um
caminho que parece ser bastante efetivo é demonstrar alguma ligação da prática
musical com um fator que ultrapasse o puramente artístico.
Paralelamente, vemos que, ao adentrar no microcosmo da investigação
científica sobre a Educação Musical, nota-se a existência de duas linhas diversas
de pensamento: uma baseia suas argumentações no valor estético da prática
musical, vendo esta como um “fim” em si mesma, e não como um “meio” de
obtenção de outros efeitos desejados. Entre os adeptos a esta linha, podemos
65
citar Reimer (1989) e Smith (1992), que consideram a experiência estética advinda
da Educação Musical como a conseqüência mais importante da mesma, um passo
em direção à formação completa da pessoa.
A outra linha, por sua vez, enfatiza os efeitos benéficos da Música em
relação aos aspectos o-musicais do indivíduo, como, por exemplo, o
psicomotor, perceptivo, cognitivo, emocional, e social. A Música não mais é vista,
desta forma, como um fim em si mesma, mas sim como um meio de potenciação
de outros aspectos que saem do âmbito estritamente musical. São os efeitos
conhecidos como benefícios extra-musicais da aula de Música.
É interessante, contudo, percebermos que, apesar destes estudos
apresentarem diferentes concepções, podendo causar uma impressão de que tais
processos ocorrem separadamente e são excludentes (ou seja, enquanto
determinada atividade resulta em aquisições extra-musicais, outra apenas
permanece no campo da experiência estética), as duas realizações são, em
realidade, dependentes. Ou seja, não é possível haver um ganho extra-musical
sem que haja experiência estética. Afinal, como socializar uma criança, por
exemplo, por meio do ensino violonístico, sem antes fornecer o instrumental
técnico-artístico para que ela toque este instrumento, ou seja, sem que tenha
acesso a tal experiência estética?
Entretanto, reconhecemos que, apesar desta inter-relação, os processos
argumentativos geralmente se baseiam em uma destas linhas e, historicamente, a
linha dos benefícios extra-musicais têm sido mais recorrente, por apresentar maior
poder de convencimento perante os potenciais mantenedores de programas
musicais, tanto da esfera pública quanto da privada (governantes, diretores de
escola, pais e responsáveis). Para exemplificar esta afirmação, basta citarmos as
justificativas utilizadas por Lowell Mason quando este solicitava permissão para
iniciar os trabalhos de ensino musical nas escolas de Boston (EUA), em 1837: A
defesa de sua proposta se baseou nas possibilidades que a Música tinha de
contribuir para o exercício da leitura e fala das crianças e, além disso, em seu
potencial de restauração das energias necessárias a outras tarefas mais
66
“trabalhosas” (ABELES; HOFFER; KLOTMAN, 1984, p. 73, tradução nossa). A
necessidade de justificativas do ensino musical que se baseiem nos benefícios
extra-musicais é citada ainda por outros estudiosos, como, por exemplo, Haack
(1992, p. 463, tradução nossa):
Em um tempo no qual a Educação Musical parece de
novo longe de estar segura dentro do currículo padrão,
torna-se extremamente importante que nós
racionalizemos e publiquemos o valor da Música não
estreitamente, na base da função estética somente,
mas também em relação aos valores de função e
utilidade da Música, algo que pode ser legitimado
através da pesquisa.
Philips ratifica o fato: “Se a experiência estética for a única justificativa para
que se estude Música, estaremos limitando severamente nosso argumento em
favor da Música no currículo e, além disso, ignorando as várias e importantes
contribuições da Música à vida” (PHILIPS, 1993 apud AUSTIN e REINHARDT,
1999, p. 21, tradução nossa).
Neste sentido, para que possamos contribuir para com a volta desta Arte ao
ensino público, cremos que se fazem necessárias algumas ações políticas, por
parte da classe da Educação Musical, que tenham na base de seu processo
argumentativo dados oriundos de pesquisas sobre os benefícios extra-musicais.
Então, caro leitor, os a obra! Façamos um estudo empírico sobre tais
benefícios.
Mas, antes, que tal dar uma olhada no que já foi feito a este respeito?
67
CAPÍTULO 4
69
como poderosas bases ao processo argumentativo que visa a inclusão da
Educação Musical nos redutos pedagógicos. Entretanto, quais são estes
benefícios? O presente capítulo intenta responder a esta questão.
Em nosso país, são escassas as pesquisas referentes aos benefícios extra-
musicais, como citamos anteriormente, sendo que a maior parte destes estudos
é localizada na literatura estrangeira, notadamente a norte-americana. Estes
trabalhos são levados a cabo através dos mais diversos formatos, como por
exemplo, estudos de caso, quase-experimentos, observações, pesquisas
correlacionais, declarações, remetendo-se estas investigações basicamente a
quatro aspectos da vida dos indivíduos: cognitivo, intrapessoal, interpessoal e
psicomotor. A revisão que segue abaixo tratará separadamente de cada uma
destas áreas, e o serão elencados os estudos referentes aos benefícios
decorrentes da prática da musicoterapia (associada geralmente aos estudantes
com necessidades especiais), à utilização de “música ambiente” em contextos
escolares; à utilização de determinadas músicas ao ensino específico de outras
disciplinas; e também aos benefícios que não envolvam transferência
7
. Desta
maneira, investigações que relacionam, por exemplo, “as conseqüências da
Educação Musical na auto-eficácia musical do indivíduo”, ou ainda, “benefícios da
participação em atividades musicais na motivação para o estudo da Música” não
serão considerados nesta revisão. Isto porque estudos desta natureza se referem
a benefícios que se remetem exclusivamente ao aspecto artístico-musical e,
antagonicamente, a motivação de nossa pesquisa é tratar dos benefícios extra-
musicais, ou seja, os ganhos “extras” da Música e advindos de sua prática
8
.
7
Cabe aqui um parêntese: Benefícios de transferência são as conseqüências positivas que se
“transferem de um aspecto para outro da vida do indivíduo. É o que acontece, por exemplo,
quando o sujeito desenvolve sua capacidade artística e, por este motivo, sua auto-estima aumenta
a ponto de haver uma melhoria em seu desenvolvimento acadêmico. Houve, assim, “transferência”
do aspecto artístico para o aspecto acadêmico.
8
A respeito dos tópicos que não serão cobertos nesta revisão - benefícios decorrentes da
musicoterapia, da música ambiente e benefícios sem transferência - material significativo se
C
onforme vimos no capítulo anterior, os benefícios extra-musicais são tidos
70
Outros supostos benefícios não-musicais, tais como diminuição da ansiedade,
diminuição do stress, entre outros, foram encontrados em nossa investigação,
porém não citados neste capítulo devido ao fato de que não localizamos estudos
relevantes sobre tais tópicos.
Muito foi falado em referência à utilização da Música como ferramenta de
incremento do desempenho acadêmico, seja isto ocorrendo através do
aprendizado da mesma, da inclusão da Música em outras disciplinas do currículo
escolar ou ainda do uso de “música de fundo” na sala de aula. O escopo total
dessas pesquisas é muitas vezes contraditório, que, ao passo que algumas das
mesmas demonstram correlação positiva entre a Música e desempenho
acadêmico, outras não suportam tal afirmação.
MÚSICA E DESEMPENHO ACADÊMICO GERAL
Algumas pesquisas afirmam que o aprendizado musical favorece o
desempenho acadêmico geral (o desempenho acadêmico geral consiste no
rendimento em matérias acadêmicas consideradas básicas: Língua, Matemática e
Ciências). Dentre essas, podemos citar Babo (2001), Cardarelli (2003), Cobb
(1997), Cox (2001) e Frakes (1984).
Diferentemente, outros estudos não demonstram tal relação: Hines (2000),
que pesquisou a Educação Musical com estudantes com dificuldade de
aprendizagem, e Legette (1993), que analisou aulas de Música com crianças do
primeiro ciclo do ensino fundamental, são exemplos de investigações que não
encontra em Teachout (2006) e Hodges & O´Connell (2006).
Benefícios extra
-
musicais no Aspecto Cognitivo
71
suportam tal relação. Dentro desta categoria, podemos ainda citar a pesquisa de
Money (1997): O autor comparou o nível de capacidade crítica de universitários de
cursos de Música, Economia e Enfermagem de uma universidade norte-
americana, percebendo não haver diferenças dentre os três grupos.
Portanto, as pesquisas nesta área se mostram inconclusivas e
contraditórias, que, enquanto algumas relatam correlação positiva entre o
desempenho acadêmico geral e a participação em atividades musicais, outras não
suportam tal proposição.
MÚSICA E HABILIDADE DE LEITURA
Dentre as hipóteses dos autores que defendem uma correlação positiva
entre Música e leitura, podemos citar a suposição de que a prática da leitura à
primeira vista, procedimento recorrente nas aulas de sica instrumental, por
exemplo, beneficiaria a capacidade de leitura o-musical. Para outros como, por
exemplo, Lamb & Gregory (1993), o principal fator de incremento de habilidades
básicas de leitura não seria a prática da leitura à primeira vista, mas sim o
exercício da discriminação auditiva de alturas das notas musicais, tarefa comum
às aulas de Percepção Musical
9
.
Dentre os estudos que indicaram benefício da música em relação à
capacidade de leitura, podemos citar a pesquisa de Huriwitz, Wolff, Bortnick &
Kokas (1975): Esses autores detectaram melhoria significativa na habilidade de
leitura de estudantes do ensino básico que se submeteram a aulas de Música
através do método Kodaly. Nicholson (1972) encontrou resultado similar, porém
avaliando aulas de Música tradicionais.
Stringer (2004), por outro lado, não demonstrou aumento significativo na
habilidade de leitura de pré-escolares que participaram de aulas de Música. A
pesquisa de Bowles (2003) retrata conclusão similar, não detectando ganhos
9
A identificação rítmica e timbrística não apresenta maiores influências no aspecto da leitura,
segundo estes autores.
72
acadêmicos significativos em estudantes que receberam vinte semanas de um
curso de Música. Estudos meta-analíticos (revisões bibliográficas) de Butzlaff
(2000) e Palmarini (2000), da mesma maneira, não demonstraram suporte
significativo para a hipótese de melhoria da capacidade de leitura em decorrência
da Música.
Portanto, vemos que a interface entre a capacidade de leitura e a prática
musical foi mote de vários estudos. Contudo, a despeito das hipóteses
explicativas levantadas por alguns autores, maioria das pesquisas realizadas com
esse objetivo não indica relação positiva entre a Educação Musical e a habilidade
de leitura.
MÚSICA E MATEMÁTICA
O aumento do desempenho em matemática como decorrência do
aprendizado musical, algo citado por muitos autores (VAUGHN, 2000, SUZIGAN,
1986), é tido como resultado da presença de elementos similares na prática da
Música e da Matemática: ambas se valem de números, padrões recorrentes e
proporções em suas realizações.
Em pesquisa de Whitehead (2001), percebeu-se que um programa de
ensino musical baseado nas técnicas Orff resultou em ganho nas habilidades
matemáticas. Cheek (1999), por sua vez, atestou que as aulas de instrumentos de
teclado têm maior potencial de aumentar o rendimento em matemática do que
aulas dos demais instrumentos. Na pesquisa de Haley (2001), percebeu-se que
alunos que participaram da banda escolar demonstraram maiores rendimentos em
matemática do que aqueles que não participaram. O benefício era potenciado em
relação aos indivíduos que possuíam experiência com um instrumento musical
antes de ingressarem na banda.
Rafferty (2003), antagonicamente, registrou que as aulas de piano não
propiciaram aumento significativo no rendimento em matemática.
73
MÚSICA E MEMÓRIA
Um estudo levado a cabo por Chan, Ho & Cheung (1998) identificou
melhoria na capacidade de memorização de palavras faladas daqueles que
iniciaram seus estudos musicais antes dos doze anos de idade. Paralelamente, as
pesquisas de Balch, Bowman, & Mohler (1992); Boltz, Schulkind, & Kantra (1991);
e Wallace, (1994) demonstraram que a associação de músicas com informações
específicas auxiliou significativamente o processo de lembrança de tais
informações. Este parece ser o recurso utilizado por alguns professores de cursos
pré-vestibulares que criam melodias didáticas que contém fórmulas ou explicações
científicas, por exemplo. Entretanto, tais pesquisas não explicitam se tal fenômeno
é privilégio desta arte ou apenas resultado do pareamento de estímulos, premissa
básica da psicologia comportamental, o que estabeleceria, dessa maneira, o fato
de que qualquer outro estímulo poderia ter a mesma conseqüência.
MÚSICA E HABILIDADE ESPACIAL (EFEITO MOZART)
A habilidade espacial consiste em uma capacidade de lidar com localização
de seres no espaço, sendo utilizada, por exemplo, quando imaginamos
mentalmente um novo posicionamento de determinados objetos inicialmente
dispostos de outra maneira, ou então quando interpretamos um mapa. Muito foi
falado sobre um efeito de melhoria da habilidade espacial que supostamente
surgiria após a audição de 10 minutos da música de Mozart, o chamado Efeito
Mozart. Tendo aparecido no início da década de 90, a partir dos estudos de
Raucher, Shaw & Ky (1993), tal proposição motivou esforços diversos na tentativa
de replicar o fenômeno. Algumas das novas pesquisas realizadas convergiram
com o resultado inicial, apontando para uma real melhoria da habilidade espacial,
em decorrência da audição de música clássica (RIDEOUT, DOUGHERTY &
WERNERT, 1998; RIDEOUT e LAUBACH, 1996; RIDEOUT e TAYLOR, 1997).
Outras, no entanto, não demonstraram dados que apoiassem tal efeito
74
(CARSTENS, HUSKINS & HOUSHELL,1995; CHABRIS, 1999; STEELE, BASS &
CROOK, 1999; STEELE, BROWN, & STOECKER, 1999; STEELE, DELLA BELLA,
PERETZ, DUNLOP, DAWE, HUMPHREY, SHANNON, KIRBY & OLMSTEAD,
1999). Uma terceira fase de pesquisas referentes ao Efeito Mozart (THOMPSON,
SCHELLENBERG & HUSAIN, 2001, HUSAIN, THOMPSON & SCHELLENBERG,
2002) apontou para o fato de que a melhoria da habilidade espacial não se devia à
Música em específico, e sim ao positivo estado de espírito que ela proporcionava
aos seus ouvintes.
Desta maneira, a conclusão final a que se chega é que a Música realmente
tem o potencial de causar este efeito benéfico, mas que, todavia, tal fenômeno
não é exclusivo dessa arte, podendo ser alcançado através de quaisquer outras
atividades que possam conferir sensação prazerosa ao indivíduo.
MÚSICA E INTELIGÊNCIA GLOBAL
A inteligência global é um constructo que se refere, em linhas gerais, ao
desempenho em quatro aspectos: compreensão verbal, organização perceptiva,
velocidade de processamento e capacidade de concentração. A escala Wechsler
(WECHSLER, 1991) é o instrumento comumente utilizado para mensurar tal
característica.
Schellenberg (2004) comparou o desempenho nesta escala de alunos de
um curso de teatro, de um curso de Música e de alunos não participantes de
nenhuma atividade extra-classe. Ao final de seu estudo, os estudantes de Música,
em comparação aos demais sujeitos avaliados, demonstraram maior nível de
inteligência global.
A conclusão final a que se chega em relação à interface Música-cognição é a
de que esta Arte tem o potencial de causar efeitos benéficos em alguns aspectos
específicos da inteligência humana, notadamente em relação à capacidade
75
matemática e habilidade espacial. Nos quesitos memória, habilidade de leitura,
desempenho acadêmico geral e inteligência global, faz-se necessária a realização
de mais pesquisas para que se possa chegar a dados mais conclusivos.
Psicomotor é adjetivo que se refere aos movimentos (representado pelo
sufixo motor) que são comandados pela mente humana (sentido trazido pelo
prefixo psico). Não são muitas as pesquisas que avaliam a relação entre a Música
e este tema, e as poucas que foram levadas a cabo utilizaram, em sua maioria,
crianças pré-escolares ou do primeiro ciclo do ensino fundamental.
Brown, Sherrill & Gench (1981) examinaram dois grupos de crianças de
quatro a seis anos de idade, sendo que, enquanto um recebia aulas de Música
integradas à Educação Física, outro participou de sessões de exploração de
movimentos. Ao final do estudo, os autores perceberam que o grupo que recebeu
aulas de Música apresentava maior capacidade psicomotora do que aqueles que
se submeteram unicamente a sessões de exploração de movimentos.
A pesquisa de Kalmar (1982), por sua vez, comparou o desempenho no
aspecto psicomotor de um grupo de alunos que participou de um curso de canto
associado à eurritmia e de outro que participou de aulas normais de pré-escola.
Ao final da pesquisa, o grupo que participou das aulas de canto apresentou maior
capacidade de coordenação motora e improvisação corporal do que os
participantes do grupo envolvido apenas com cursos do currículo padrão.
Zachopoulou, Tsapakidoub & Derric (2004), similarmente, avaliaram a
evolução psicomotora de alunos que fizeram parte de um programa de
aprendizado de Música e movimento e a evolução de alunos que participaram de
aulas padrão de Educação Física, ambos os grupos recebendo duas aulas
Benefícios extra
-
musicais no Aspecto Psicomotor
76
semanais de 40 minutos cada. Os autores indicam que o grupo que recebeu aulas
de sica apresentou evolução da habilidade rítmico-motora mais acentuada do
que o grupo que se submeteu apenas às aulas de Educação Física.
Devries, em 2004, investigando um grupo de crianças pré-escolares que
receberam aulas de Música durante seis meses, notou aumento no desempenho
psicomotor, dentre outros ganhos.
Por fim citamos a investigação de Baer (1987), realizada com uma amostra
de conveniência, que indicou que os alunos participantes de uma orquestra
escolar apresentaram aumento da coordenação motora fina, tendo tal ganho
atingido em maior magnitude os executantes de instrumentos de corda.
Como pudemos perceber, apesar de não haver grande número de pequisas
referentes a este tema, praticamente a totalidade das mesmas indica correlação
positiva entre a Música e o desenvolvimento psicomotor.
Desenvolvimento interpessoal significa, em nossa análise, o
desenvolvimento das potencialidades necessárias para viver em sociedade (tais
como a capacidade de fazer perguntas, de lidar com críticas, solicitar mudança de
comportamento e cooperar, por exemplo). Indo além, o termo se refere, na
concepção do presente trabalho, ao desenvolvimento do nível de inclusão social,
ou seja, o aumento do acesso a oportunidades culturais, educacionais e
profissionais.
A Música geralmente é tida como um instrumento socializador que
apresenta vantagens em relação a outras atividades: Comparando-a com o
esporte, por exemplo, percebe-se que a Música tem a possibilidade de socializar
Benefícios extra
-
musicais no A
specto Interpessoal
77
através da prática em grupo sem, no entanto, haver o nível de competição que se
percebe em um torneio desportivo. Isto pode ser considerado um aspecto positivo
desta Arte, que a competitividade, apesar de ser motivadora em várias
situações, faz com que os que não foram sagrados campeões possam ter sua
auto-estima prejudicada. Além disso, outro fator que parece tornar a Música uma
atividade especialmente indicada para fins de socialização é sua característica
“democrática”: o professor habilidoso tem a possibilidade de realizar um arranjo
musical que permite que alunos iniciantes, tendo participado de poucas aulas de
Música, toquem junto de aprendizes que estejam em estágios mais avançados,
havendo as horas determinadas para que cada aluno toque e as outras nas quais
devem apenas ouvir o colega. E a salva de palmas no final é para o grupo, e não
apenas para um aluno. Não se define quem foi o campeão, porque, de fato, não
um campeão, mas sim vários, sendo um “jogo onde todos ganham”. Na Música
não há pódio, mas sim um palco compartilhado pelos artistas.
MÚSICA E SOCIALIZAÇÃO
Maioria das pesquisas que dizem respeito a esta relação, dentre as quais
podemos citar Suther (2001), Livermore e Mcpherson (1998), Forrai (1997), Miller
(1983), Oriol e Parra (1977), e Hood (1973), indica que a participação em
atividades musicais pode propiciar o aumento de algumas capacidades
interpessoais relevantes. Dentre as capacidades tratadas pelos autores, podemos
citar o aumento da habilidade de iniciação de contato social; a maior propensão à
realização de atividades cooperativas, em detrimento de atividades de interface
exclusiva entre professor e aluno; além da diminuição da evasão escolar.
Muitos destes estudos afirmam que os possíveis ganhos no aspecto
interpessoal florescem nas situações de aprendizado coletivo, que o aluno tem,
nas situações de execução instrumental em grupo, as horas definidas para
expressar-se (as partes da música nas quais ele tem de tocar ou cantar); e as
outras nas quais ele deve esperar e ouvir o colega (os trechos da música em que
78
ele o canta ou toca). Outros autores enfatizam a questão da integração social,
afirmando que isto decorre da sensação de aceitação social que o indivíduo tem
devido à sua habilidade “especial” de saber tocar determinado instrumento.
Como exemplo de estudo referente ao aspecto interpessoal, podemos citar
a pesquisa de Forray (1997) que, através de uma pesquisa longitudinal com
crianças de seis meses a três anos de idade que participaram de um curso de
Música, percebeu evolução em aspectos sociais diversos, incluindo a capacidade
de iniciação de contato social.
MÚSICA E COOPERATIVISMO
Cooperação é a característica estabelecida quando dois ou mais indivíduos
atuam conjuntamente para o mesmo fim, atividade esta que necessita de dose
considerável de habilidades sociais, tais como: dar e solicitar retorno verbal, lidar
com críticas, formular perguntas e solicitar mudança de comportamento.
Sendo a maioria dos programas de ensino musical levados a cabo de forma
coletiva, cria-se de maneira bastante acentuada a possibilidade de exercício de
tais habilidades. Situações como, por exemplo, o recebimento de críticas do
regente, a combinação da articulação a ser utilizada dentro de um mesmo naipe,
ou mesmo a própria formulação de perguntas, são exemplos de situações
propícias a este fim. Apesar de ser este um ganho bem provável das atividades
musicais, poucas pesquisas que exploram esta relação, dentre as quais
citamos Livermore & Mcpherson (1998), além de Oriol e Parra (1977).
Além disso, podemos citar também um estudo do Departamento de
Educação da Florida (1990) que explicita o fato de que alunos de cursos de Artes
em geral aprenderam como lidar com o próximo e aumentaram seu respeito pelos
colegas.
BENEFÍCIOS DA MÚSICA PARA ESTUDANTES EM SITUAÇÃO DE RISCO
79
Os estudantes em situação de risco são aqueles que têm propensão a ou
ligação com a delinqüência, prostituição, abuso de drogas, evasão escolar,
apresentando falta de motivação acadêmica e falta de auto-disciplina, e não
possuindo perspectivas otimistas em relação a seu processo formativo. A
existência de alunos nesta situação parece se dever a fatores como, por exemplo,
a desestruturação do círculo familiar de muitos destes estudantes. A Música
sempre foi tida como ferramenta de inclusão social útil aos casos
supramencionados. Prova desta premissa é a existência de inúmeros projetos
sociais que se valem da Música, dentre os quais podemos citar o Projeto Guri
(São Paulo-SP), Meninos do Morumbi (São Paulo-SP), Fundação Orsa
(Campinas-SP), e Projeto Allegro (Campinas-SP). Os objetivos de tais realizações
foram bem retratados por Santos (2005, 31): “A Música tem sido apresentada
como forma de afastar jovens da marginalidade social, como alternativa de
profissionalização, como instrumento de valorização da cultura popular, de
melhorar a qualidade de vida da população atendida”.
É fácil perceber o porquê deste potencial da Música: A mesma é utilizada,
muitas vezes, como um “chamariz” para retirar as crianças das ruas. E um
chamariz bastante efetivo, devemos notar, que a experiência estética intrínseca
à esta arte faz com que tal atividade seja bastante prazerosa aos que com ela se
envolvem, o que nem sempre ocorre com outras ocupações, tais como
informática, cursos de línguas, ou cursos profissionalizantes. O prazer trazido pela
prática da música é sua qualidade única, seu “ponto forte”, servindo como uma
luva ao processo de educação de jovens em situação de risco. Isto porque a
Música possui o poder de atrair as crianças e adolescentes para o recinto
educativo, o que abre as possibilidades para que as mesmas sejam incluídas em
um processo formativo mais completo, com outros cursos como, por exemplo, os
supracitados.
Indo ainda mais além, pode-se perceber que amiúde a participação em uma
apresentação musical é a única maneira que o adolescente tem de tornar-se
80
visível. Se na escola ele não obtém bons resultados, em casa conflitos e na
rua ele muitas vezes lida com ocupações um tanto quanto humilhantes, é no palco
que ele poderá destacar-se.
Alguns autores discorrem sobre maiores especificidades em relação a este
tema. Dentre esses, podemos citar Shuler (1991), que afirma que as atividades
composicionais são procedimentos altamente indicados aos alunos em situação
de risco, que as mesmas propiciam a auto-expressão, algo que muitas vezes é
um das maiores necessidades dos estudantes em situação de risco.
uma rie de estudos que tratam especificamente dos benefícios que a
participação em atividades musicais pode propiciar aos alunos em situação de
risco, sendo que, no âmbito nacional, podemos citar Prelúdio (2003) e Vírus da
Música (2004), ambas produções audiovisuais que documentam a rotina e as
declarações de estudantes de Música do Projeto Guri. Dentre os benefícios
relatados pelos participantes, temos, por exemplo, o benefício espiritual, o
aprendizado de uma profissão, e a criação de vínculos sociais.
Com relação à literatura internacional, citamos o estudo de Acer (1987), que
assinalou que os alunos em situação de risco que participaram de atividades de
ensino de Música demonstraram aumento na auto-estima, sucesso acadêmico,
auto-disciplina e maior nível de responsabilidade.
Coronado (1999), avaliando os resultados de um programa de verão de
ensino de artes performáticas, percebeu aumento do desempenho acadêmico dos
alunos em situação de risco que participaram do mesmo.
Jenlink (1993), por sua vez, concluiu que os estudantes em situação de
risco que participaram da prática coletiva de Música obtiveram ganhos em
cooperativismo, liderança e desempenho acadêmico, dentre outras coisas.
A título de conclusão, podemos afirmar que a Música tem realmente um
potencial socializador, sendo o mesmo especialmente efetivo em relação aos
estudantes em situação de risco.
81
MÚSICA E CRIATIVIDADE
A criatividade é uma característica mental que pode ser compreendida,
conforme nos indica Webster (1990), como um processo dinâmico de alternância
entre o pensamento divergente (imaginativo) e o convergente (factual).
Alguns estudos, tais como Hodges (1987), Curnow (1987), Duarte Jr.
(1991), e Zampronha (2002), atestam o potencial da Educação Musical como
propulsora do pensamento criativo, sendo algumas atividades especialmente
relacionadas a esta meta: sessões de improvisação instrumental, geralmente
associadas à música popular, além da prática de improvisação de letras o que
poderia ser aplicado com facilidade em estilos como, por exemplo, o Partido Alto
(estilo de samba caracterizado pela presença de estrofes improvisadas e repetidas
por um coro de cantores), o RAP, ou então o repente nordestino. Além disso, a
atividade de composição também é vista como potencializadora do pensamento
criativo por alguns autores como Flagg (1986), por exemplo. É fácil entender o
motivo de serem citados tais procedimentos em relação à criatividade: Estas são
atividades que envolvem o processo de criação musical, sendo a improvisação
pensada como uma “composição instantânea”. Desta forma, nesses momentos
específicos o músico exercita ao máximo suas habilidades criativas.
MÚSICA E FREQÜÊNCIA ESCOLAR
Uma correlação positiva entre a participação em atividades musicais e a
freqüência escolar é mote de muitos estudos empreendidos. Como hipóteses
explicativas de tal relação, poderíamos citar o fato de que, em muitos casos, para
que o aluno possa fazer parte das classes de Música, ele deve apresentar, como
Benefícios extra
-
musicais no Aspecto Intrapessoal
82
pré-requisito, freqüência escolar considerável nas demais disciplinas.
O nível de freqüência escolar dos alunos que participam de atividades de
aprendizado musical não é, entretanto, a variável principal de grande parte das
referidas pesquisas, consistindo apenas em uma observação secundária.
Como exemplo, podemos citar um estudo com alunos de ensino médio
levado a cabo por Zanutto (1997) que indicou que os estudantes envolvidos nas
classes de música instrumental apresentavam maior nível de presença do que
aqueles que não tinham tal participação. Cardarelli (2003), em estudo similar,
porém com crianças de terceira série, chegou a resultados convergentes ao
estudo de Zanutto. Zehr (2003), por sua vez, indicou que a participação em um
grupo de música folclórica contribuiu para que alunos de uma instituição norte-
americana aumentassem o nível de freqüência escolar.
Outras pesquisas como, por exemplo, as realizadas por Taetle (1999) e
McClain (1996), chegaram a resultados similares, contudo com relação não a
Música, mas também a outras atividades extra-curriculares como o esporte, por
exemplo.
Indo além, notamos o estudo publicado pelo Centro Norte-americano de
Pesquisa em Música (1990), que demonstrou que a participação em cursos de
prática de banda, coro ou orquestra, diminuiu a taxa de evasão escolar de vários
dos participantes da pesquisa.
MÚSICA E MOTIVAÇÃO
Motivação se refere aqui à motivação intrínseca, ou seja, aquela oriunda do
próprio sujeito, e não dos demais que estão a sua volta, como, por exemplo, seus
pais ou professores (neste caso, referir-nos-íamos à motivação extrínseca).
Apesar de haver estudos que defendem correlação positiva entre Música e
motivação, não sabemos ao certo a causa de tal interface. Uma proposição
explicativa poderia se apoiar no fato de que a percepção de evolução na área da
Música devido ao esforço próprio conferiria ao aluno o que é chamado de locus
83
interno de causalidade, ou seja, a crença de que muitos dos eventos que ocorrem
em sua vida têm causa em suas próprias decisões. Não se sentiria, nesse caso,
um ser passivo frente aos fenômenos, mas sim teria a crença de que o esforço
próprio lhe traz resultados, o que, por sua vez, conferiria maior nível de motivação
a quaisquer objetivos aos quais se propusesse. É importante perceber que esta
tese nos infere uma pressuposição restritiva, que tal benefício poderia ocorrer
apenas em relação aos estudantes que apresentam bom desempenho na
atividade musical.
Pode-se citar como exemplos de estudos referentes a este tema Adderley,
Kennedy, Berz (2003) e Olanoff and Kirschner (1969). Este último indicou que,
após três anos de participação em classes de música instrumental ou vocal, um
grupo de alunos relatou, através de entrevistas, um aumento da motivação para
com os compromissos escolares.
MÚSICA E AUTODISCIPLINA
Este tópico já deu origem a inúmeras pesquisas, sendo que sua base
argumentativa geralmente reside no fato de que o domínio de um instrumento
musical costuma ser um processo longo e trabalhoso. Essa característica exigiria
que o estudante estabelecesse um hábito de disciplina e dedicação bastante
acentuado que, por conseguinte, seria transferido a outros domínios da vida do
sujeito.
Um estudo de McDowell (2002) demonstrou que inúmeros estudantes de
uma escola avaliada citaram, como conseqüência positiva da Música, o
fortalecimento da auto-disciplina.
Dean e Gross (1992), por sua vez, relatam que os professores de uma
escola americana afirmaram que 93% dos estudantes que participaram de um
programa de aprendizado musical na referida instituição apresentaram aumento
no nível de auto-disciplina ao final do programa. Schuler (1991), de forma análoga,
84
cita a auto-disciplina como um dos possíveis ganhos decorrentes da Educação
Musical.
MÚSICA E AUTO-ESTIMA
A auto-estima pode ser entendida, conforme nos indicam alguns autores -
Coopersmith (1967) e Sisto & Martinelli (2004) - como o componente afetivo do
autoconceito: Uma vez que o autoconceito é a percepção que o indivíduo possui
de si mesmo, a auto-estima consiste nos sentimentos que acompanham esta auto-
percepção. A correlação positiva entre Música e esse constructo parece ser algo
bastante plausível, sendo, a nosso ver, decorrente das experiências de sucesso
que o aluno pode ter através da participação em aulas de Música, como, por
exemplo, as bem-sucedidas apresentações em público. Devemos notar, inclusive,
que a criação de possibilidades de exposição ao público é qualidade intrínseca
das práticas musicais, o que, mais uma vez, consiste em uma possibilidade de
grande benefício ao processo educativo. Isto porque, ao lidarmos com uma
concepção mais social do autoconceito e, por conseguinte, da auto-estima,
chegamos ao conceito do eu refletido (looking-glass self), constructo bastante
aceito nos meandros da psicologia, proposto pelo sociólogo americano Charles
Cooley em sua obra Human Nature and the Social Order (1902). Este estudioso
propõe que as pessoas desenvolvem seu autoconceito e, portanto, sua auto-
estima, com base nas opiniões expressas e dicas implícitas que os outros as o.
Assim, se todos me dizem que sou simpático e bonito, por exemplo,
paulatinamente passarei a considerar-me de tal maneira.
Ora, imaginando uma situação de apresentação em público, algo recorrente
aos programas de ensino musical, concluímos que tais momentos são
oportunidades para que o aluno receba opiniões a seu respeito, expressas muitas
vezes por outros significantes, como, por exemplo, seus pais, professores e
amigos mais próximos. Sendo bem-sucedidas as apresentações, tais opiniões
serão positivas e, portanto, favoráveis à consolidação de uma auto-estima
85
satisfatória. Clarifica-se, assim, o fato de que a Educação Musical possui potencial
considerável à consolidação da auto-estima.
Entretanto, o que se percebe é um panorama divergente no tocante aos
resultados encontrados pelas pesquisas que exploraram este tema. Enquanto
alguns estudos (BARRY, 1992; ACER, 1987, JENLINK, 1993) demonstram um
reflexo positivo da música em relação à auto-estima, outros divergem deste
resultado (LEGETTE, 1994; LINCH, 1994; ZIMMERMANN, 2001).
Quanto ao primeiro grupo de pesquisas, destaca-se a pesquisa de Costa-
Giomi (2004), que verificou que, após três anos de participação em um curso de
aprendizagem pianística, alunos apresentaram aumento de auto-estima. Além
deste, temos também o de Bréscia (2003), que demonstra estudantes de um
projeto de Educação Musical para crianças e adolescentes de baixa renda da
cidade de Indaiatuba-SP relatando um aumento de auto-estima após terem
participado das classes de Música.
Antagonicamente, pesquisas como as de Zimmerman (2001) e Linch
(1994), que avaliaram, respectivamente, estudantes em situação de risco que
participaram da banda escolar e alunos que participaram de um curso de Música
instrumental. Ambas as investigações não verificaram correlação positiva entre
auto-estima e participação em atividades musicais.
Desta maneira, em virtude da incongruência dos resultados acima
expostos, notamos um panorama não conclusivo em relação ao tema Música e
auto-estima.
MÚSICA E PERSEVERANÇA
Perseverança é a característica de prosseguimento na execução de
determinada tarefa até sua consumação, a despeito de possíveis empecilhos que
possam surgir no decorrer de sua realização. Os benefícios de tal qualidade, ao
indivíduo, são evidentes, e se supõe que o aprendizado musical, por ser
geralmente longo e trabalhoso (conforme supracitado), tem potencial de
86
desenvolvimento de tal característica. Isto poderia ser explicado através da
verificação das longas horas de estudo necessárias à execução de determinadas
peças musicais, notadamente aquelas que exigem grande demanda técnica do
instrumentista. Indo além, podemos pensar em instrumentos como, por exemplo, a
flauta transversal, que possui notas que são passíveis de serem executadas
após longo período de treino. Dessa forma, para que o sujeito realize a simples
tarefa de produzir determinada sonoridade, são exigidas longas horas de estudo, o
que possibilita que infiramos um ganho em perseverança a partir de tal atividade.
Apesar de haverem muitas divagações neste sentido, apenas um estudo
científico foi localizado: Scott (1992) estabeleceu engenhosa maneira de verificar o
nível de perseverança de alguns grupos de crianças do ensino fundamental um
que participava de aulas de violino através do método Suzuki, outro que
participava do currículo escolar normal e outro que não participava em nenhuma
das duas realizações citadas. O autor solicitava que cada uma das crianças
avaliadas conferisse determinado formato, pré-estabelecido, a um bloco de
plástico, e media o tempo gasto por cada uma das crianças na realização da
tarefa, subentendendo proporcionalidade direta entre as variáveis tempo
despendido na realização e nível de perseverança do sujeito examinado. Ao final
de sua investigação, Scott percebeu que as crianças que tinham envolvimento
com Música apresentavam, em média, de 7 a 10 minutos a mais de dispêndio de
energia na tarefa, o que conferia maior perseverança aos participantes das
atividades musicais.
Os dados supracitados nos levam a crer, portanto, que o envolvimento em
classes musico-pedagógicas pode resultar em vários benefícios no aspecto
intrapessoal, dentre os quais se destacam: criatividade, freqüência escolar,
motivação intrínseca e auto-disciplina. Em relação à auto-estima, não
resultados conclusivos, uma vez que os estudos localizados demonstram
divergência entre si e, no tocante à perseverança, ainda não escopo suficiente
de estudos para que possa haver qualquer conclusão definitiva.
87
SUMÁRIO DO CAPÍTULO
Realizamos, neste momento, um sumário do presente capítulo, através de
uma lista que elenca os benefícios extra-musicais localizados em nossa revisão
bibliográfica e traz exemplos de estudos empreendidos em relação a cada um
deles. Encontram-se, também, alguns aspectos não presentes nas discussões
acima, mas que podem ser de interesse do leitor:
LISTA DOS PRINCIPAIS BENEFÍCIOS EXTRA-MUSICAIS ENCONTRADOS,
COM EXEMPLOS DE ALGUNS ESTUDOS REALIZADOS
Atenção seletiva (HURWITZ, WOLFF, BORTNICK, & KOKAS, 1975).
Autoconceito (BARRY, 1992; ACER, 1987, JENLINK, 1993).
Auto-disciplina (MCDOWELL, 2002; DEAN e GROSS, 1992).
Auto-estima (COSTA-GIOMI, 2004; BRÉSCIA, 2003; BARRY, 1992; JENLINK,
1993; ACER, 1987).
Cooperativismo (LIVERMORE, MCPHERSON, 1998; DEPARTAMENTO DE
EDUCAÇÃO DA FLORIDA, 1990; ORIOL E PARRA, 1977).
Criatividade (ZAMPRONHA, 2002; DUARTE JR., 1991; HODGES, 1987;
CURNOW, 1987, FLAGG, 1986).
Desempenho acadêmico geral (BABO, 2001; CARDARELLI, 2003; COBB,
1997; COX, 2001; e FRAKES, 1984).
88
Freqüência escolar (CARDARELLI, 2003; TAETLE, 1999; ZANUTTO, 1997;
McClain, 1996).
Habilidade de leitura (LAMB & GREGORY, 1993).
Habilidades espaciais (RIDEOUT, DOUGHERTY & WERNERT, 1998;
RIDEOUT e TAYLOR, 1997; RIDEOUT e LAUBACH, 1996).
Habilidade linguística (ORIOL, 1979; SUZIGAN, 1986; BUTZLAFF, 2000).
Habilidade matemática (HALEY, 2001; WHITEHEAD, 2001; VAUGHN, 2000,
CHEEK, 1999; SUZIGAN, 1986).
Habilidades Sociais (FORRAI, 1997; HOOD, 1973, SUTHER, 2001, MILLER,
1983).
Inteligência global (SCHELLENBERG, 2004).
Memória para estímulos verbais (CHAN, HO, & CHEUNG, 1998; HO,
CHEUNG, & CHAN, 2003; JAKOBSON, CUDDY, & KILGOUR, 2003).
Memória (BALCH, BOWMAN, & MOHLER, 1992; BOLTZ, SCHULKIND, &
KANTRA, 1991; WALLACE, 1994).
Motivação (ADDERLEY, KENNEDY, BERZ, 2003; ZEHR, 2003).
Perseverança (SCOTT, 1992).
Psicomotricidade (DEVRIES, 2004; ZACHOPOULOU, TSAPAKIDOUB &
DERRIC, 2004; BAER, 1987; KALMAR, 1982; BROWN, SHERRILL & GENCH,
1981).
89
Estes dados nos dão um satisfatório conhecimento do que os
estudiosos dizem a respeito dos benefícios que o estudo da Música pode
propiciar. No entanto, como pudemos ver, praticamente todas as pesquisas
localizadas em nossa revisão bibliográfica foram realizadas no exterior,
notadamente nos Estados Unidos. Neste sentido, levanta-se mais uma
justificativa a nosso trabalho: Uma vez que indivíduos imersos em culturas
diferentes, com outros costumes, rodeados por infra-estruturas e currículos
escolares diversos podem ter concepções diferentes sobre determinadas
práticas educativas (dentre as quais, a Música) cremos que é de suma
importância a realização de uma pesquisa sobre este tema em território
nacional. Isto porque somente efetuando uma investigação em nosso contexto
social, específico, portanto, orientado para a conjuntura brasileira é que
poderemos ter resultados efetivamente aplicáveis ao contexto de nosso país.
O capítulo seguinte nos dá um panorama do estudo que levamos a cabo,
nossas concepções investigativas, a maneira pela qual selecionamos a
amostra, as técnicas de coleta utilizadas para mensurar os aspectos
psicológicos dos adolescentes, etc... Vire a página e conheça os passos que
levaram à concretização deste trabalho.
91
CAPÍTULO 5
93
Durante muito tempo se buscou utilizar, nas pesquisas em educação, os
métodos oriundos das ciências físicas e naturais. Contudo, durante as últimas
décadas, este paradigma positivista
10
parece ter paulatinamente se distanciado da
pesquisa educacional. Isto porque os estudiosos começaram a perceber que a
situação que se apresenta em uma sala de aula é resultante da múltipla ação de
inúmeras variáveis (desconhecidas ou não controláveis pelo pesquisador) que
alteram o fenômeno como um todo, não havendo, assim, possibilidade de
afirmarmos seguramente que determinado fato ou comportamento se deve à
influência de uma variável em específico (ou seja, estabelecer relações causais).
Assim, a opção metodológica mais disseminada atualmente em relação à
pesquisa em Educação é o chamado paradigma pós-positivista. Este modelo se
alinha à pesquisa qualitativa e parte do pressuposto de que as concepções
prévias do pesquisador não podem ser totalmente controladas de maneira a não
influenciarem o processo de coleta e análise de dados.
Este trabalho foi desenvolvido através de ambos os modelos: foram
colhidos dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a
situação estudada, havendo preocupação em retratar a perspectiva dos
participantes
11
e, além disso, lançamos mão de dados quantitativos, resultantes do
uso de um teste psicológico aplicado antes e após uma intervenção (curso de
iniciação violonística). Julgamos ser esta miscigenação de abordagens um
aspecto positivo do presente trabalho, já que a associação destes diferentes
enfoques estabelece uma relação simbiótica que possibilita um maior
10
A expressão é citada por Lüdke e André (1986, p. 6) e denota o modelo de pesquisa baseado
nos pressupostos da corrente filosófica conhecida como positivismo, do francês Augusto Comte.
Esta pregava o “transplante” dos métodos das ciências físicas e naturais para as ciências de cunho
social.
11
Tais características condizem com a definição de BOGDAN e BIKLEN (1982) apud DKE e
ANDRÉ (1986:13), que, segundo estes autores, a pesquisa qualitativa ou naturalística é aquela
que "envolve a obtenção de dados descritivos, obtidos no contato direto do pesquisador com a
situação estudada, enfatiza mais o percurso do que o produto e se preocupa em retratar a
perspectiva dos participantes".
94
conhecimento do objeto de estudo. QUEIROZ (1992) já ratificara tal proposição:
O conhecimento qualitativo traça os contornos externos e
internos da coletividade estudada; em seguida, a abordagem
quantitativa desvenda o número de vezes em que ocorre o
fenômeno e sua intensidade, segundo as divisões
efetuadas. A associação das duas abordagens possibilita
um aprofundamento cada vez maior das facetas do objeto
de estudo.
Tendo em vista o tipo da questão enfocada em nosso trabalho, nossa
pesquisa se define como pesquisa avaliação, mais especificamente, avaliação
educacional, segundo definição de Borg e Gall (1989). Isto porque um estudo
empírico da relação entre a participação em atividades musico-pedagógicas e o
desenvolvimento global do indivíduo se configura claramente em uma avaliação
de possíveis méritos e valores de um programa educacional (no caso, um
programa de ensino de música), o que vem de encontro à definição de avaliação
educacional dada por estes autores: eles denominam este tipo de pesquisa como
o “processo de realizar julgamentos sobre o mérito, vantagens e valor de
programas educacionais” (Borg e Gall, 1989, p. 742, tradução nossa). Outro fator
que nos remeteu a este molde de investigação foi o fato de que este tipo de
pesquisa parece conectar-se satisfatoriamente com o universo da política da
educacional, servindo, em alguns casos, como base para as decisões de
administradores de programas de ensino. Isto vem de encontro aos nossos
objetivos, que desejamos elaborar um material que possa contribuir com as
decisões em relação à inclusão da Música nas salas de aula de nosso país.
Quanto à formatação, por outro lado, outra nomenclatura pode ser
empregada: Uma vez que os participantes foram alocados para dois diferentes
grupos aleatoriamente, realizou-se uma intervenção e os dados foram
comparados, ao final do trabalho, a fim de que pudesse ser verificada a diferença
de resultados em virtude da manipulação de uma variável (participação em um
95
curso de iniciação musical), pode-se caracterizar esta investigação como uma
pesquisa experimental. Isto, é interessante notar, pode ser considerado um ponto
bastante forte deste trabalho. Isto porque, apesar de haverem sido realizadas
em outros países inúmeras pesquisas experimentais, com tratamento estatístico,
sobre os benefícios da Educação Musical, um trabalho nesses moldes era ainda
inédito em nosso país.
Assim sendo, de maneira sintetizada, poder-se-ia identificar esta
investigação como uma pesquisa avaliativa experimental.
Vejamos, nesse momento, a maneira como organizamos o estudo:
ESTRUTURAÇÃO GERAL DO ESTUDO
Conforme citado no capítulo introdutório, realizamos intensa busca, no
ano de 2005, no intento de encontrar um lugar no qual poderia desenvolver-se
nossa pesquisa. Para que este lugar se adeqüasse aos nossos objetivos, o
mesmo deveria apresentar atividades de ensino musical com finalidades não-
musicais e, sendo assim, o Projeto Guri serviu como uma luva ao que
procurávamos. Demos início então às investigações no Projeto Guri pólo
Campinas, sendo que estas observações tiveram de ser prematuramente
interrompidas dada a extinção do Projeto naquele local. Devido a essa tentativa
mal-sucedida de estudo, fez-se necessário que primeiramente criássemos um
curso completo de ensino musical para, a partir daí, poder avaliar sua relação com
aspectos da saúde mental dos alunos envolvidos. Para tanto, vários
procedimentos foram necessários: buscar um novo local para a pesquisa, obter
instrumentos musicais e estantes de partitura, estabelecer um programa de ensino
musical e definir quem seriam os participantes do curso. Para visualizar o
instrumento musical e a estante de partitura utilizados, consulte o ANEXO VIII.
Num primeiro momento, nos ocupamos da consecução dos materiais
96
necessários à realização do curso, supramencionados. Passado tal
procedimento, iniciamos a busca de um local propício ao estudo. Nesta realização,
fomos gentilmente acolhidos pela Escola Estadual Jornalista Roberto Marinho,
situada na periferia de Campinas, onde demos início ao nosso trabalho de campo:
a aplicação do teste EMAE em todos os adolescentes matriculados nas 5as. e
6as. séries desta escola (n=225), aplicação esta feita pela psicóloga de nossa
equipe de pesquisa.
Após a profissional ter aplicado esse teste, sob a alegação de que se
realizava, através deste procedimento, uma pesquisa requisitada pela diretoria da
escola, sem nenhuma relação com o curso que iria ocorrer, localizamos o quartil
inferior da amostra, ou seja, quais eram os alunos com menor auto-estima da
referida escola. Deste quartil inferior formaram-se, aleatoriamente, dois grupos
(n=10 cada um). Após colhidas as devidas autorizações dos pais destes alunos,
através do consentimento livre e esclarecido (vide ANEXO I), os sujeitos se
submeteram, entre 23/08/2006 e 31/08/2006, a uma bateria de mensurações
psicológicas (os testes serão mais adeqüadamente caracterizados abaixo).
Passado tal fato, iniciamos um curso de iniciação ao violão com três meses
de duração (29/08/2006 a 01/12/2006), do qual participou um dos grupos
previamente formados (n=10). Com o outro grupo, não realizamos nenhuma
atividade.
Após o término do curso, executamos nova bateria de testes junto aos dois
grupos (entre os dias 27/11/2006 e 01/12/2006), testes estes que foram
submetidos a uma comparação inter-grupos, análise de conteúdo e testes
estatísticos.
CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE
A escola na qual realizamos o trabalho se situa em um bairro de nível sócio-
econômico extremamente baixo, segundo avaliações de profissionais de
97
assistência social que trabalham nos arredores.
As instalações do educandário, seus enormes muros, grades e portões
trancados, demonstram seu caráter ocluso. Algumas das salas de aula se
encontram no último andar, tendo os alunos que subirem diariamente três
escadarias para chegar até o local de estudo. Os muros, todos brancos, sugerem
a falta de vivacidade visual do ambiente. Logo à frente da instituição, situa-se um
grupo residencial popular (CDHU), no qual centenas de famílias residem,
praticamente todas com filhos matriculados na referida escola. A maioria das ruas
que cercam o colégio não têm asfaltamento e se nota também lugares com parco
saneamento sico. Para compreender melhor as descrições acima, vide ANEXO
VII.
A diretoria da escola demonstra conduta um tanto quanto autoritária com os
alunos. Para se ter uma idéia, o pesquisador, nos três meses em que se
encontrava na escola, presenciou a expulsão de dois alunos, procedimentos estes
motivados por fatores como, por exemplo, desentendimentos verbais com algum
dos professores da escola. Indagados sobre tal fato, funcionários afirmaram que
isto se sucede devido ao objetivo que a diretora tem de eliminar qualquer
possibilidade de influência dos traficantes da região, os quais apresentavam, até a
última diretoria que a escola teve, uma interferência maléfica junto aos alunos.
PARTICIPANTES
A pesquisa contou inicialmente com 24 participantes, 10 desses alocados
para o grupo experimental e 14 para o grupo controle. O número maior de
participantes no grupo controle se deve ao fato de que se buscou uma maior
garantia em relação à pós-testagem: Seria possível que, no momento da última
bateria de testes psicológicos, não mais estivessem presentes na escola todos os
alunos que participaram do pré-teste. Desta forma, ainda que quatro desses
estudantes se ausentassem nesse segundo momento, teríamos o número ideal de
98
participantes nesse grupo, ou seja, 10 adolescentes.
Com o desenrolar das atividades, entretanto, a quantidade de participantes
de cada grupo se modificou: Quatro alunos do grupo experimental abandonaram
as atividades, sendo que um desses não compareceu a nenhuma aula. Em
relação ao grupo controle, deve-se assinalar que, no momento da pós-testagem,
seis dos alunos que haviam sido testados no início estavam de férias, não mais
se fazendo presentes na escola. que tivemos a evasão de 10 alunos (quatro do
grupo controle e seis do experimental), modificou-se o número de participantes do
estudo: dos 24 alunos que iniciaram o trabalho, apenas 14 chegaram ao fim.
Faixa etária da amostra
O estudo foi realizado com adolescentes
12
de 11 e 12 anos de idade, tendo
a decisão por tal faixa etária se baseado em alguns fatos específicos:
Em primeiro lugar, percebemos que, se optássemos por estudar crianças
de até 10 anos de idade, poderiam apresentar-se problemas ergonômicos em
relação ao violão, que os instrumentos disponíveis para nossa pesquisa não
eram de modelo infantil. Além disso, algumas atividades que possuíamos em
nosso planejamento requeriam uma dose grande de concentração por parte dos
aprendizes, o que provavelmente seria mais dificilmente conseguido em uma
classe muito jovem.
Por outro lado, se nosso público fosse formado por indivíduos do final da
adolescência (a partir dos 15 ou 16 anos de idade) ou mesmo na juventude,
provavelmente o haveria o mesmo nível de adesão às atividades, uma vez que,
em geral, nessa fase de vida os sujeitos direcionam suas atenções à preparação
para o exame vestibular. Deste modo, haveria a probabilidade de que os mesmos
não depositassem muitos esforços em atividades que não pudessem requeridas
12
Uma vez que a demarcação etária da adolescência varia de autor para autor, sendo levados em
conta aspectos bio-psico-sociais para tal definição, é importante citar que a concepção teórica que
fundamenta a caracterização de nossos participantes como adolescentes é a de Santrock (1994).
99
nesta examinação, como geralmente é o caso da Música.
A tabela abaixo caracteriza os sujeitos participantes quanto ao gênero e
faixa etária:
ASPECTOS GRUPO EXPERIMENTAL
GRUPO CONTROLE
GÊNERO Masc.: 50%
Fem.: 50%
Masc.: 50%
Fem.: 50%
FAIXA ETÁRIA
Moda: 11 anos
Média: 11,5 anos
Mediana: 11 anos
Moda:
11,5 anos
Média:
11,87 anos
Mediana: 12 anos
Perfil sócio-econômico da amostra
Quanto ao perfil sócio-econômico escolhido, extremamente baixo, conforme
citamos, devemos explicitar o fato de que buscamos uma amostra sem maiores
poderes financeiros porque críamos que, por não terem tantas chances de
participarem de atividades extra-curriculares (já que seus pais provavelmente não
teriam condições financeiras de os matricularem em cursos pagos), adolescentes
oriundos de classes mais desfavorecidas apresentariam grande receptividade e
empenho em relação ao curso desenvolvido. Para que localizássemos
adolescentes deste perfil, demos início a uma série de visitas em escolas públicas
de regiões periféricas de Campinas, uma vez que escolas públicas de ensino
médio costumam ter seu corpo discente formado por alunos de classes
desfavorecidas.
100
Além disso, uma vez que buscávamos a homocedasticidade da amostra,
fazia-se necessário que todos os alunos estivessem no mesmo nível de
proficiência desta Arte, ou seja, que todos fossem iniciantes. Desta maneira, se
optássemos por realizar este trabalho em uma escola particular, por exemplo,
poderiam surgir vicissitudes, uma vez que seria mais provável encontrar ali
sujeitos que tivessem alguma experiência prévia com Música como um curso
pago fora da escola ou mesmo na própria instituição.
TÉCNICAS DE COLETA DE DADOS
TESTE PROJETIVO HTP
Os alunos se submeteram ao teste HTP - House-tree-person, ou seja, casa-
árvore-pessoa (BUCK, 2003) em dois momentos da pesquisa (pré e s-teste).
Esta ferramenta psicométrica foi desenvolvida na década de 40 por Buck, um
psicólogo clínico norte-americano, e vem sendo largamente utilizado na psicologia
clínica. Nesta prova, pede-se que o indivíduo desenhe três figuras (uma casa, uma
árvore e uma pessoa), sendo que, ao final, ele deve também responder a um
inquérito (vide ANEXO II) que traz respostas através das quais a corretora realiza
uma ponderação de dados e emite, mais acertadamente, seus laudos finais.
Os testes aplicados foram corrigidos por Dra. Florentina Retondo, psicóloga
considerada referência nacional da psicometria HTP, autora do manual oficial de
interpretação deste teste no Brasil.
A adoção deste teste foi bastante relevante ao nosso trabalho, uma vez que
se pôde, através do mesmo, detectar aspectos do inconsciente dos participantes,
não passíveis de serem indicados por meio dos demais testes utilizados. A
possível camuflagem das reais concepções do sujeito devido a traços psicológicos
101
de defesa como, por exemplo, a desejabilidade social ou a falsa modéstia ao
responder um questionário diminui sensivelmente por meio do uso deste teste
projetivo.
Quanto à questão metodológica, também um importante ponto a
ressaltar: a psicóloga corretora não sabia quem havia participado das aulas de
Música e quem não havia. Tal procedimento é de suma importância ao estudo,
pois o mesmo garante a confiabilidade dos resultados, uma vez que não há
possibilidade de haver uma correção parcial por parte da profissional.
ENTREVISTAS SEMI-ESTRUTURADAS
Esta foi, sem dúvida, a técnica de coleta de dados mais recorrente em
nossa pesquisa, nos sendo útil em diversos momentos: Quando visávamos
elencar relatos sobre benefícios extra-musicais, entrevistamos pessoas envolvidas
com programas de ensino musical. Na fase do estudo exploratório, realizamos
entrevistas com alunos, com os pais dos mesmos e com uma assistente social, o
que permitiu que tivéssemos informações a respeito do microcosmo avaliado.
Para o aprofundamento teórico, entrevistamos pesquisadores da área de
psicologia. Finalmente, para que pudéssemos conhecer o significado que a
participação no curso de iniciação musical teve para os alunos, a partir de seus
próprios pontos de vista, foram efetuadas entrevistas com os mesmos. Estas
foram realizadas na forma semi-estruturada, sendo que optamos por este formato
por acreditarmos ser este o tipo de entrevista que proporciona descrições mais
aprofundadas e também maior liberdade de atuação do entrevistador.
Cabe ainda assinalar que as entrevistas foram pautadas também pelo
conceito de “atenção flutuante” proposto por Thiollent (1980 apud LÜDKE e
ANDRÉ, 1986, p. 36), que se refere à necessidade do entrevistador “estar atento
não apenas (e não rigidamente, sobretudo) ao roteiro preestabelecido e às
respostas verbais que vai obtendo ao longo da interação”. Assim, as entrevistas
102
não foram apenas um meio de captação das informações verbais, mas também de
gestos, expressões, entonações, hesitações, alterações de ritmo e outros fatores
que puderam ser confrontados com as informações verbais.
Vejamos agora uma descrição mais detalhada de cada entrevista realizada:
Entrevistas sobre participação familiar
Após averiguados os dados sobre os aspectos psicológicos dos alunos
através do HTP, notou-se grande diferença inter-grupo, ou seja, ao passo que
alguns alunos manifestaram melhoria em muitos aspectos psicológicos, outros
apresentaram poucos benefícios, e alguns ainda demonstraram declínio. Com
base em tal fato, levantamos a hipótese de que o florescimento dos aspectos
psicológicos positivos poderia estar positivamente correlacionado com o nível de
participação que a família de cada educando teve em relação ao curso. Por tal
motivo, nos lançamos à nova pesquisa de campo, realizando entrevistas com os
alunos e com os pais dos mesmos. Estas entrevistas tinham como objetivo
explorar aspectos da qualidade da interação que a família de cada aluno
apresentou em relação à participação em nosso curso de iniciação musical. A
entrevista foi composta por 15 questões e aplicada aos alunos (pessoalmente) e
aos pais ou responsáveis (via telefone).
Entrevistas sobre variáveis externas
Uma vez que discorremos, na presente dissertação, sobre a relação entre
aspectos psicológicos dos alunos e as vivências do curso de Música analisado,
uma questão que veio à tona foi a seguinte: Até que ponto as conseqüências
psicológicas demonstradas pelos testes se deveram ao curso realmente, e não à
influência de outros eventos da vida dos alunos? Neste sentido, julgamos de bom
alvitre a efetivação de um estudo sobre os acontecimentos que tomaram parte da
vida dos alunos durante o período em que os mesmos participavam do curso de
103
violão, a fim de verificar a possível existência de episódios que pudessem influir
nos resultados. Utilizamos, para tal intento, dez questões objetivas do
Questionário de eventos vitais de Holmes e Rahe (1967 apud SAVOIA, 1995),
associadas a outras seis discursivas elaboradas pelo pesquisador, sendo cinco
destas indagadas aos alunos e uma aos pais. Cremos que tal procedimento
minimiza a impossibilidade de inferir relações causais em Educação, tópico esse
já discutido no capítulo referente à metodologia.
Entrevistas sobre auto-estima
Intentamos um maior aprofundamento em relação ao constructo auto-
estima, que este nos parecia ser um dos aspectos mais passíveis de influência
por meio de cursos como o que avaliamos.
Em busca deste maior detalhamento, elaboramos uma entrevista que
tratasse separadamente do constructo auto-estima explícita (ou seja, a carga de
valor expressa verbalmente pelo sujeito). Isto porque, uma vez que a auto-estima
implícita (a auto-percepção presente no nível do inconsciente) fora um dos
aspectos estudados pelo HTP, para que pudéssemos ter uma visão completa
deste constructo, seria necessário o estudo desta sua outra forma, ou seja, a auto-
estima explícita. A investigação destas duas modalidades de auto-percepção nos
daria então um completo entendimento deste aspecto psicológico (maiores
detalhamentos sobre a existência de duas diferentes auto-estimas e o suporte
teórico a esta verificação serão expostos mais adiante, no capítulo sete). A
entrevista foi elaborada de forma coerente com a concepção multi-facetada da
auto-estima (defendida por GOBITTA e GUZZO, 2003), sendo, assim, composta
por questões relacionadas a cinco domínios: pessoal, acadêmico, social, familiar e
responsabilidade. A transcrição integral das entrevistas sobre auto-estima se
fazem presentes no ANEXO IV.
104
TESTE PSICOLÓGICO EMAE
Ainda em relação ao estudo da auto-estima explícita, lançamos mão de
outro instrumento: a escala EMAE - Escala multidimensional de auto-estima,
desenvolvida por Mônica Gobitta e Raquel Guzzo, da PUCC, em 2003. Utilizamos
o mesmo em dois momentos distintos: antes do curso começar e após seu
término. Esta escala foi validada através de uma população com faixa etária de 8
a 16 anos e se compõe de 56 afirmações coerentes com a concepção
multifacetada da auto-estima. Dentre as frases presentes no teste e relativas a
cada um dos cinco aspectos, podemos citar, por exemplo: “Meus pais e eu nos
divertimos juntos” (aspecto familiar), “Numa festa é muito cil eu enturmar-me
rápido” (aspecto social), “Eu me sinto bem na minha escola” (aspecto acadêmico),
“Sou um fracasso” (aspecto pessoal), “O que eu prometo fazer sempre faço”
(responsabilidade). cinco opções de respostas, listadas no formato Likert, ou
seja, com uma rie de alternativas de resposta qualitativamente modificadas de
forma gradual (“não tem nada a ver comigo”, “tem um pouco a ver comigo”, “tem
mais ou menos a ver comigo”, “tem a ver comigo”, “tem muitíssimo a ver comigo”).
Os adolescentes deveriam, assim, optar por uma das alternativas que fosse mais
fiel ao que pensassem em relação a cada um dos tópicos citados.
FILMAGENS COM ANÁLISE MICROGENÉTICA
Esta cnica de coleta teve como objetivo realizar uma caracterização mais
detalhada de algumas das atividades realizadas no curso. Permitiu que
analisássemos, posteriormente, inúmeros aspectos que se faziam presentes nas
aulas, tais como os fatores de interação aluno-aluno e professor-aluno, a estrutura
física da sala de aula, as interrupções ocorridas e a conduta pedagógica do
professor.
Indo além, os registros audiovisuais possibilitaram que verificássemos
105
momentos específicos do trabalho realizado que tivessem relação com diferentes
benefícios extra-musicais. Para tanto, aplicamos a técnica da análise
microgenética junto a esses dados, procedimento definido por Góes (2000, p. 9)
como “uma forma de construção de dados que requer a atenção a detalhes e o
recorte de episódios interativos, sendo o exame orientado para o funcionamento
dos sujeitos focais, as relações intersubjetivas e as condições sociais da situação,
resultando num relato minucioso dos acontecimentos”.
É interessante notar que muitas das pesquisas qualitativas em Educação
adotam a observação como uma de suas principais técnicas de coleta de dados,
mas, no presente trabalho, ao invés da observação, lançamos mão das filmagens.
Tal medida foi tomada porque a mesma parece apresentar algumas vantagens em
relação à observação como, por exemplo, o fato de que é possível, através deste
recurso, analisar diferentes aspectos que ocorrem concomitantemente no
ambiente educacional. Neste sentido, podemos citar que, em uma das aulas
filmadas, avaliamos a maneira pela qual o professor se dirigia a um aluno, durante
uma atividade, e o comportamento de outro educando enquanto esta era
desenvolvida. A análise em separado de cada um destes fatores foi possível
através de várias exibições do mesmo trecho, o que não poderia ocorrer se a
técnica adotada fosse a observação. A fim de que fosse facilitado o processo de
interpretação desses registros, transcrevemos os encontros filmados, relatando os
principais fatos que ocorriam em cada aula. Esta transcrição se encontra no
ANEXO V.
ANÁLISE DOCUMENTAL
13
Dentre os documentos avaliados, podemos citar as cartas que os alunos
escreveram para o professor, que continham informações referentes aos aspectos
13
A análise documental consiste na avaliação de “quaisquer materiais escritos que possam ser
usados como fonte de informação sobre o comportamento humano” (1974 apud LÜDKE e ANDRÉ,
1986, p. 38).
106
positivos e negativos do curso do qual participavam, além das frases que alguns
destes aprendizes escreviam no quadro-negro antes do início das aulas e também
nas pastas que continham o material didático das aulas. Outros documentos
analisados foram as fichas de matrícula dos alunos na escola, que foram
consultadas para que tivéssemos informações como, por exemplo, a idade de
cada um dos participantes.
107
CAPÍTULO 6
109
Após estruturada a pesquisa conforme as diretrizes acima expostas,
demos início à realização do curso propriamente dito. Primeiramente, no período
entre 23/08/2006 e 31/08/2006, ocorreu a bateria de pré-testes psicológicos, feita
pela psicóloga de nossa pesquisa. Então tabulamos os dados, solicitamos
autorização dos responsáveis para que houvesse a participação no curso,
alocamos os alunos para dois diferentes grupos - conforme procedimentos
descritos acima - e demos início ao curso de iniciação ao violão. É interessante
caracterizarmos um pouco o trabalho realizado:
O mesmo se estendeu por aproximadamente três meses (29/08/2006 até
01/12/2006), tendo 13 aulas, um ensaio geral, duas apresentações em público e
uma confraternização final. Houve uso de diferentes materiais didáticos (vide
ANEXO VI) e as duas apresentações ocorreram em diferentes locais: Uma foi
externa (25/11/2006), havendo, para tanto, condução dos alunos através de um
microônibus para uma instituição próxima onde ocorria um Festival de Talentos,
no qual se apresentaram. A outra apresentação foi interna (01/12/2006), assim
chamada por ter ocorrido na própria escola onde o curso se passou. Além das
apresentações, houve também a confraternização final, logo após a última
apresentação, evento este que consistiu em uma pequena reunião para a qual o
professor levou salgados e alguns alunos levaram bebidas. Na confraternização,
ocorreu uma atividade de auto-valorização dos alunos: O professor afixou um
cartaz no quadro-negro com os nomes de cada participante, e solicitou que cada
um dos colegas escrevesse uma qualidade do mesmo em um papel e afixasse
este no cartaz. O professor serviu ainda como intermediador em algumas
situações de conflito surgidas na sala. Conclui-se, assim, o curso propriamente
dito.
Inicia-se, então, a segunda bateria de testes psicológicos (entre os dias
27/11/2006 e 01/12/2006) e, após coletados os dados com todos os participantes,
dá-se início a análise dos dados, procedimento este realizado por três diferentes
pessoas: análise da psicóloga (teste HTP), análise do pesquisador (EMAE,
110
entrevistas e análise microgenética) e análise do estatístico (EMAE). Os
resultados de cada grupo foram, então, cotejados.
Ainda seria realizada uma terceira bateria de exames, sendo estes duas
entrevistas semi-estruturadas realizadas com os alunos e com os pais, uma
referente ao nível de participação familiar e outra relacionada às variáveis
externas (eventos vitais dos indivíduos).
Os capítulos seguintes tratam dos dados encontrados por meio destas
análises:
111
CAPÍTULO 6.1
113
O HTP nos trouxe informações valiosas pois, conforme citado no capítulo
cinco, os testes projetivos apresentam grande eficiência em relação à captação de
aspectos que se encontram no plano do inconsciente, como, por exemplo,
conflitos na esfera sexual, insegurança, imaturidade, sensação de ansiedade,
dificuldades na esfera familiar, etc...
Este teste foi realizado da seguinte maneira: Cada aluno foi conduzido até
uma sala, na qual lhe era solicitada a realização de três desenhos: uma casa, uma
árvore e uma pessoa (daí o nome House-Three-Person). Sempre que o sujeito
finalizava o desenho, o aplicador solicitava que o mesmo respondesse a um
inquérito (vide ANEXO II), a fim de coletar informações que poderiam corroborar
ou contrariar as conclusões advindas da análise das gravuras feitas. Tal
procedimento ocorreu em dois momentos: antes da participação no curso e após a
realização do trabalho. Para ser mais exato, podemos dizer que a primeira fase de
testagem dos grupos experimental e controle ocorreu entre 23/08/2006 e
31/08/2006 e, a segunda, entre os dias 27/11/2006 e 01/12/2006 (grupo controle)
e em 01/12/2006 (grupo experimental).
A análise do HTP foi realizada em duas etapas: A primeira foi feita pela
psicóloga contratada por nossa equipe de pesquisa, Dra. Florentina Retondo,
referência nacional em psicometria HTP, autora do manual oficial de interpretação
deste teste no Brasil. A mesma emitiu 28 laudos (vide ANEXO III), um para cada
aluno, sendo 14 referentes ao momento um (pré-teste) e 14 referentes ao
momento dois (pós-teste). Estes laudos apresentaram composição tripartida: uma
2) ANÁLISES REALIZADAS
1) CRITÉRIOS DE REALIZAÇÃO E ANÁLISE DO HTP
114
seção de análise qualitativa, outra de análise dos desenhos, e outra referente
especificamente aos aspectos de personalidade evidenciados. Devemos ressaltar
a medida de confiabilidade tomada pelo pesquisador e citada anteriormente: a
psicóloga não sabia se as respostas que avaliava tinham sido emitidas pelo sujeito
que participara do curso de música ouo. Tal aspecto impossibilitou que a
psicóloga realizasse laudos de maneira parcial, favoráveis a determinado ponto de
vista, garantindo-se, desta forma, a confiabilidade de nossos resultados.
A segunda etapa desta análise consistiu na interpretação dos laudos
psicológicos e foi levada a cabo pelo próprio pesquisador. Os aspectos
evidenciados nestes documentos foram enumerados e categorizados como
“positivos” ou “negativos”. A categoria dos aspectos positivos compreendeu traços
como, por exemplo, “aumento da sociabilidade”, ”assertividade”, ”melhoria na
auto-estima”, ”confiança no desempenho”, ” diminuição da timidez”, etc...
Por outro lado, à categoria dos aspectos negativos foram alocados traços
como, por exemplo, “conflitos referentes à adolescência e sexualidade”,
”dificuldade de interação com meio e de contato afetivo”, ”falta de confiança para
ações independentes”, ”imaturidade”, ”negativismo”, ”tendência à depressão”,
etc...
Os gráficos abaixo relacionam a porcentagem de sujeitos de cada grupo
(coordenadas) e traços específicos de personalidade (abscissas):
115
Diminuiu dificuldade no
seio familiar
Diminuiu dificuldade de
inter
ação com o meio e de
contato afetivo
Diminuíram os conflitos
referentes a adolescência
e sexualidade
Aumentou a confiança no
desempenho
Aumentou a sociabilidade
Aumentou a assertividade
Diminuiu a imaturidade
Diminuiu a indecisão
Melhoraram as
relações
familiares
Diminuiu a fixação no
passado ou em estágios
mais primitivos
Diminuiu a falta de
confiança para ações
independentes
Diminuiu o medo,
ansiedade e tensão
Diminuiu a insegurança
Diminuiu a inibição e
timidez
Diminuiu a ambivalência
0
10
20
30
40
50
60
Grupo Experimental (n=6) Grupo Controle (n=8)
116
Diminuiu a tendência a
mascarar emoções pra
sentir
-
se aceito
Tendência a hostilidade e
agressão
Diminuiu a tendência a
devaneios e fantasias
Diminuiu a tendência à
depressão
Diminuiu a tendência a
comportamentos
impulsivos
Diminuiu sentimento de
inferioridade e baixa auto-
estima
Diminuiu o sentimento de
culpa
Diminuiu sentimento de
desamparo e abandono
Diminuiu a sensação de
pressão por parte do meio
Diminuiu o negativismo
Diminuiu necessidade de
auto-afirmação
Melhorou a auto-estima
Diminuíram os traumas
Diminuiu a tendência ao
pensamento concreto
0
10
20
30
40
50
60
Grupo Experimental Grupo Controle
117
0
10
20
30
40
50
60
70
Grupo Experimental Grupo Controle
Aumentou a ambivalëncia
Aumentou a imobilização
e dificuldade de
autonomia
Aumentou a imaturidade
Aumentou a fixação
no
passado ou em estágios
mais primitivos
Aumentou falta de
confiança para ações
independentes
Aumentou dificuldade de
discriminação do ambiente
Aumentou dificuldade de
contato com o meio e de
contato afetivo
Aumentou a desatenção e
pouco contato com a
realidade
Diminuiu a criatividade
Aumentaram os conflitos
Aumentaram conflitos
referentes à adolescência
e sexualidade
Aumentou a indecisão
Aumentou a inibição e
timidez
118
0
10
20
30
40
50
60
Grupo Experimental Grupo Controle
Aumentou a insegurança
Aumentou a tendência a
devaneios e fantasias
Aumentou a tendência a
comportamentos impulsivos
Aumentou o sentimento
de inferioridade e baixa
auto-estima
Aumentou a sensação de
desamparo e abandono
Aumentou a sensação
de
pressão por parte do meio
Diminuíram os recursos
internos de defesa frente
ao estresse
Aumentou o negativismo
Aumentou o medo de
fantasias
Aumentou medo,
ansiedade e tensão
Aumentou a tendência ao
pensamento concreto
Au
mentou a tendência ao
isolamento
Aumentaram os traumas
119
A análise dos gráficos acima expostos elucidam alguns pontos importantes:
3.1) ASPECTO INTER-GRUPOS
a) Dos 29 aspectos positivos evidenciados nos laudos psicológicos, seis
mostraram diferenças notórias entre a pontuação dos grupos
14
, com
predominância do grupo experimental:
Melhoraram relações familiares: (50% a mais no grupo experimental)
Diminuiu sentimento de inferioridade e baixa auto-estima: (37,5% a mais no grupo
experimental)
Diminuiu a sensação de pressão por parte do meio: (37,5% a mais no grupo
experimental)
Aumentou a sociabilidade: (33,3% a mais no grupo experimental)
Melhorou a auto-estima: (33,3% a mais no grupo experimental)
Diminuiu dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo: (33,3% a mais
no grupo experimental)
b) No caso dos aspectos negativos, percebemos uma distribuição mais
equilibrada, uma vez que temos 13 picos do grupo experimental e 13 do grupo
14
Algumas outras variações inter-grupos foram percebidas. Entretanto, as que não ultrapassaram
25% de diferença não foram citadas nesta análise.
3) DISCUSSÃO
120
controle. Apenas dois destes aspectos apresentaram diferença relevante entre a
pontuação de cada grupo (>25%). Em um destes, houve predomínio do grupo
experimental e, em outro, predomínio do grupo controle:
Aumentaram os conflitos (62,5% a mais no grupo controle).
Aumentou a tendência ao devaneio e fantasias (50% a mais no grupo
experimental).
Apesar de fazer-se visível, à primeira vista, a predominância de picos de
aspectos positivos em relação ao grupo experimental, julgamos de bom alvitre
realizar uma investigação mais apurada relacionada a duas metas em específico:
a) Detectar se a diferença verificada entre a pontuação dos grupos
apresenta ou não significância estatística;
b) Precisar qual o nível de probabilidade de que um sujeito
participante do curso avaliado tenha mais benefícios psicológicos,
em relação a um sujeito não-participante.
Para que realizássemos tais inferências, valemo-nos da assessoria do estatístico
de nossa equipe, que aplicou, através dos programas Excel e Minitab dois
diferentes testes, associados a cada um dos objetivos: em relação ao objetivo da
alínea a), utilizamos o teste chi-quadrado (χ²) e, para atingir a meta de b), valemo-
nos do teste da Razão de Odds. Abaixo seguem os dados encontrados em
relação a cada um dos testes.
Teste chi-quadrado (χ²)
É interessante notar que, quando buscávamos estabelecer a significância
121
estatística das diferenças encontradas, tivemos como objetivo verificar a melhoria
psicológica global dos alunos, e não a melhoria de aspectos em específico. Para
tanto, configurar-se-ia um procedimento adequado a realização de um teste de
associação entre variáveis categóricas, neste caso, as seguintes:
1) Condição à qual o aluno se submeteu (participação no curso ou não-
participação).
2) Benefícios psicológicos percebidos ao final do curso (modificação dos aspectos
psicológicos ao final da intervenção ou não)
Sendo o exame chi-quadrado (χ²) um teste desta categoria (associação de
variáveis categóricas), o mesmo se configurou adequado para o propósito. Esta
técnica estatística funciona através dos seguintes procedimentos: Primeiramente,
estima uma situação na qual as pontuações de cada um dos grupos, nos
respectivos testes psicológicos, o equivalentes, denominando esta de V.E.
(valor esperado no caso de haver equivalência entre os grupos). Após isso,
verifica a situação realmente observada (V. O., valor observado). Realiza então
uma comparação entre esses dois valores (o V. E. e o V. O.) e verifica a
discrepância entre os mesmos, calculando, a partir disso, a significância estatística
do experimento (considera proporcionalidade direta entre esses dois fatores, ou
seja, quanto maior a discrepância entre o V. E. e o V. O., maior será a
significância estatística do tratamento).
Realizamos o teste duas vezes: uma vez em relação aos benefícios
percebidos e outra em relação aos aspectos negativos surgidos ao final do curso.
Os dados resultantes se encontram abaixo expostos:
122
Valor P = 0,009
VALORES DO CHI-QUADRADO ENCONTRADOS EM RELAÇÃO
AOS 29 ASPECTOS POSITIVOS AVALIADOS PELO HTP
VALORES DO CHI-QUADRADO ENCONTRADOS EM RELAÇÃO
AOS 26 ASPECTOS NEGATIVOS AVALIADOS PELO HTP
GRUPO EXPERIMENTAL
VALORES ASPECTOS
POSITIVOS
ASPECTOS
ESTÁVEIS*
V. O. 47 127
V. E. 36,43 137,57
alor χ²
3,068 0,812
GRUPO CONTROLE
VALORES ASPECTOS
POSITIVOS
ASPECTOS
ESTÁVEIS
V. O. 38 194
V. E. 48,57 183,43
Valor χ²
2,301 0,609
GRUPO EXPERIMENTAL
VALORE
S
ASPECTOS
NEGATIVOS
ASPECTOS
ESTÁVEIS
V. O. 21 135
V. E. 23,57 132,43
Valor χ²
0,281 0,050
GRUPO CONTROLE
VALORE
S
ASPECTOS
NEGATIVOS
ASPECTOS
ESTÁVEIS
V. O. 34 174
V. E. 31,43 176,57
Valor χ²
0,210 0,037
Valor P = 0,447
123
MELHORIAS (1) E ESTABILIZAÇÕES
(2) DOS DOIS GRUPOS
0
50
100
150
200
250
1 2
Grupo Experimental Grupo controle
PIORAS (1) E ESTABILIZAÇÕES (2)
DOS DOIS GRUPOS
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
200
1 2
Grupo experimental Grupo controle
* A expressão “aspectos estáveis” consiste na diferença entre o número total de
possibilidades de melhoria do grupo e as melhorias efetivamente demonstradas.
Para haver uma maior compreensão, peguemos o exemplo do grupo
experimental: Uma vez que há 6 participantes neste grupo e, ao mesmo tempo, 29
aspectos psicológicos positivos passíveis de serem indicados pelo teste, temos
um montante de 174 possibilidades (29X6=174). Subtraindo-se, então, os 47
benefícios efetivamente vivenciados pelo grupo (47 é a soma de todos os
benefícios de cada sujeito) do valor total (174), chega-se ao número dos possíveis
benefícios que o ocorreram efetivamente, ou seja, os aspectos estáveis (174 -
47 = 127).
Os gráficos abaixo simbolizam os resultados do chi-quadrado de maneira mais
explícita:
A gravura demonstra o fato de que o grupo experimental, apesar de ser
formado por menos sujeitos do que o grupo controle, apresentou maior número de
124
modificações psicológicas positivas. Por outro lado, quanto aos decréscimos
psicológicos percebidos, o panorama é inverso, predominando os sujeitos do
grupo controle. Deve-se notar também que o valor P de 0,009 nos assegura da
significância do tratamento em relação aos aspectos positivos dos participantes.
Teste da Razão de Odds
Dando prosseguimento às análises estatísticas, chegamos ao nosso
segundo objetivo: perceber qual a porcentagem de chances que um sujeito que
participa de um curso de iniciação musical nos moldes do avaliado tem de obter
benefícios psicológicos, em relação às chances que um sujeito não-participante de
vivenciar tais vantagens. Para tanto, conforme supramencionado, utilizamos o
teste da Razão de Odds (Odds Ration), que nos trouxe os seguintes resultados:
TRATAMENTO Melhorias Estabilidades TOTAL
Experimental 47 127 174
Controle 38 194 232
Estatística do teste (z) = 2,584
P-valor (teste unilateral) = 0,005
P-valor (teste bilateral) = 0,010
OR = 1,889
F(=Ln(OR)) = 0,636
Var (F) = 0,061
RO (Razão de Odds) dos aspectos psicológicos positivos adquiridos
125
TRATAMENTO Melhorias Estabilidades TOTAL
Experimental 34 174 208
Controle 21 135 156
A RO nos demonstra dados importantes, especialmente em relação aos
benefícios psicológicos positivos: um valor OR de 1,889 e um P-valor de 0,005. A
partir de tais valores, pode-se inferir que quem participa de um curso de Música
nos moldes do que foi avaliado possui quase 90% (88,9%) a mais de chance de
obter os benefícios psicológicos, em comparação a quem não participa de tal
curso.
Em resumo, notamos que os valores encontrados através das cnicas
estatísticas supracitadas podem precisar-nos qual o impacto que um trabalho de
iniciação musical com esta formatação pode propiciar aos adolescentes.
3.2) ASPECTO INTRA-GRUPO
A análise intra-grupo demonstra um fato: o grande desvio-padrão entre a
Estatística do teste (z) = 0,759
P-valor (teste unilateral) = 0,224
P-valor (teste bilateral) = 0,448
OR = 1,256
F(=Ln(OR)) = 0,228
Var (F) = 0,090
RO (Razão de Odds) dos aspectos negativos adquiridos
126
-6
-4
-2
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
1 2 3 4 5 6
quantia de melhorias psicológicas vivenciadas por cada indivíduo. O gráfico abaixo
ilustra a afirmativa. Cada número, de um a seis, representa cada um dos
participantes do grupo experimental (números negativos simbolizam que, na
somatória final, houve mais resultados negativos do que positivos):
A existência deste desvio-padrão bastante significativo nos conduziu a um
Quantia de benefícios
1:
E. B. G., 11 anos:
7 aspectos positivos, 4 negativos.
2: L. P. S., 12 anos: 2 aspectos positivos, 6 negativos.
3: L.W. P., 11 anos: 4 aspectos positivos, 5 negativos.
4: L. O. G., 11 anos: 18 aspectos positivos, 2 negativos.
5: M. S. A., 11 anos: 3 aspectos positivos, 3 negativos.
6: R. M., 13 anos: 13 aspectos positivos, 1 negativo.
127
questionamento: Uma vez que todos os participantes fizeram-se presentes nas
mesmas experiências músico-pedagógicas, vivenciaram os mesmos episódios
durante os meses de curso, o que teria motivado tão diversa reação ao trabalho?
Por que alguns estudantes demonstraram melhorias relevantes e outros não?
Instigados por tal fato, nos lançamos a uma caracterização mais detalhada de
cada um dos referidos sujeitos, a fim de saber se as diferenças percebidas no pós-
teste projetivo poderiam estar correlacionadas com algum traço em específico.
Focamo-nos, assim, em quatro aspectos do trabalho: nível de participação em
aula, participação nas apresentações, nível de domínio do conteúdo e freqüência.
A caracterização dos três primeiros aspectos se deu através da análise
microgenética dos registros audiovisuais, e o quarto traço foi conceituado através
de análise documental das listas de freqüência:
1: E. B. G., 11 anos
O aluno apresentou nível alto de participação nas aulas. Na décima
primeira aula, por exemplo, foi o único aluno que solicitou que o professor
ensinasse outras notas, além das que haviam sido aprendidas. Na primeira
aula, foi um dos primeiros a pegarem os instrumentos e era um dos primeiros a
chegarem após os intervalos ocorridos durante a aula. Apesar de ter participado
de todas as apresentações, faltou quatro vezes, o que o caracteriza como um
aluno faltoso. Quanto ao domínio de conteúdo, apresentou bom desempenho,
sendo inclusive o aluno mais aplaudido durante a atividade “Minha Música” (vide
ANEXO IX) (décima primeira aula).
2: L. P. S., 12 anos
L. P. S. demonstrou vel médio de participação. Na quinta aula, por
exemplo, foi a primeira a chegar. Ausentou-se de uma das apresentações e
também do ensaio geral, tendo, no total, cinco faltas. Quanto ao domínio do
conteúdo, podemos pensar em um domínio médio, que, se em alguns
momentos a mesma interpretava as peças corretamente, em outros, se
128
equivocava na execução (em uma ocasião, houve inclusive deboche a respeito de
seu desempenho, por parte de seus colegas). Outro fato que ratifica seu baixo
nível de domínio é a falta de afinação de sua voz, que ficava bastante evidente
quando a mesma cantava junto das colegas mais afinadas.
3: L.W. P., 11 anos
Este aluno apresentou traço bastante característico: foi o que mais
demonstrou comportamentos rebeldes em sala: Por vezes, emitia ruídos a fim de
atrapalhar a explicação do professor e, durante outros momentos, envolvia-se em
confrontos físicos (ainda que não violentos) com os colegas. Esta relação um tanto
quanto desarmônica com seus iguais se confirmara na última atividade do curso,
“Pessoas importantes da sala”: Nesta, os alunos deviam escrever características
de seus colegas em papéis e afixá-los em um cartaz e, além disso, falavam em
público sobre seus colegas. Ao passo que, aos outros alunos, as características
citadas eram geralmente positivas, a L. W. P., as referências eram nem sempre as
melhores. O professor então intermediava o processo, indicando o fato de que era
necessário que os mesmos apontassem apenas qualidades naquele momento, e
não os defeitos. Quanto à freqüência, consideramos o aluno como faltoso (quatro
faltas), sendo uma dessas na apresentação externa de final de curso. Em relação
ao domínio do conteúdo, o mesmo apresentou baixo rendimento, tendo
problemas, muitas vezes, com aspectos de ritmo.
4: L. O. G., 11 anos
L. O. G. apresentou grande domínio do conteúdo, fato que se confirmava
através dos exercícios feitos em classe, nos quais o mesmo se ocupava, muitas
vezes, de ensinar conceitos aos colegas que se encontravam em estágio menos
avançado. Quanto à freqüência, o aluno pode ser considerado assíduo, com
apenas duas faltas, e em relação à participação em apresentações, seu conceito
foi também bom, uma vez que o mesmo compareceu em todas. Participação em
classe foi alta: geralmente L. era o primeiro a chegar (na primeira aula, por
129
exemplo, o mesmo chegou meia hora antes do horário de início da aula) e, além
disso, por diversas vezes ficava após o final da aula solicitando explicações ao
professor. Em resumo, o aluno, apresentou conceito alto em todos os aspectos.
5: M. S. A., 11 anos
M. teve, no decorrer do curso, grande dificuldade em relação ao domínio do
conteúdo. Quanto à freqüência, a aluna foi considerada assídua, possuindo
apenas duas faltas. Em relação à participação em classe, temos um conceito
baixo, pois a mesma não demonstrava grande envolvimento em muitas das
atividades. Por fim, no tocante à participação em apresentações, a aluna
apresentou bom rendimento, fazendo-se presente em todas. Fato interessante é
de que a aluna esqueceu de levar sua pasta na apresentação final importante
notarmos que a pasta pode ser considerada um fator de valorização pessoal
perante o blico, pois este acessório possuía o nome de cada aluno escrito em
sua capa), fato este que pode ter minimizado sua possibilidade de aumento de
auto-estima.
6: R. M., 13 anos
Em relação à freqüência, podemos considerá-la como aluna assídua, pois a
mesma teve apenas duas faltas. No tocante à participação, consideramos boa sua
participação em classe, fato que é ratificado no episódio em que a mesma pede
que o curso tenha, ao invés de uma, duas aulas semanais interessante
percebermos que apenas esta aluna manifestou tal desejo). Além disso,
percebemos que a mesma apresentava boa dose de perseverança, uma vez que,
em determinado momento, quando o professor indagou a classe a respeito da
dificuldade do conteúdo que estava sendo trabalhado em classe, enquanto alguns
alunos afirmavam estar difícil compreender os temas abordados, a mesma dizia
que “estava difícil, mas dava pra pegar o jeito”. Em relação à participação em
apresentações, percebemos que esta educanda se fez presente em todas. Quanto
ao domínio do conteúdo, alguns fatos devem ser assinalados. Em relação a este
130
último aspecto, evidenciou-se o grande destaque apresentado pela mesma em
relação à voz. A mesma foi a única aluna com voz afinada, sendo, por esse
motivo, solista nas apresentações. Não era necessário, assim, que o professor
utilizasse algum recurso específico de valorização pessoal, como emissão de
elogios, por exemplo: a aluna, por si , percebia que tinha maior domínio da
afinação do que seus colegas, o que provavelmente lhe trazia grande sensação de
competência e, muito provavelmente, de auto-valorização.
A tabela abaixo sumariza as descrições qualitativas acima expostas:
ALUNO
DOMÍNIO DO
CONTEÚDO
PARTICIPA-
ÇÃO EM
CLASSE
PARTICIPA-
ÇÃO NAS
APRESENTA-
ÇÕES
ASSIDUIDA-
DE
E. B. G., 11
anos (3
melhorias)
L. P. S., 12
anos (4 pioras)
L.W. P., 11
anos (1 piora)
L. O. G., 11
anos (16
melhorias)
M. S. A., 11
anos (estável)
R. M., 13 anos
(12 melhorias)
Então, ao dispormos os alunos em ordem decrescente de melhorias
vivenciadas após a participação no curso, temos nova tabela:
131
ALUNO
DOMÍNIO DO
CONTEÚDO
PARTICIPA-
ÇÃO EM
CLASSE
PARTICIPA-
ÇÃO NAS
APRESENTA-
ÇÕES
ASSIDUIDA-
DE
L. O. G., 11
anos (16
melhorias)
R. M., 13 anos
(12 melhorias)
E. B. G., 11
anos (3
melhorias)
M. S. A., 11
anos (estável)
L.W. P., 11
anos (1 piora)
L. P. S., 12
anos (4 pioras)
A última tabela exposta estabelece fato digno de nota: A quantia de
indicadores que se faz presente, em relação a cada indivíduo, se mostra
correlacionada positivamente com o montante de melhorias vivenciadas pelo
aluno, ao final do curso.
Isto nos sugere que, quanto maior o domínio de conteúdo, a participação
em classe, a freqüência e a participação em apresentações, maior será a
possibilidade de que o aluno seja beneficiado com aspectos extra-musicais
positivos.
que é desejável, portanto, que os participantes de um curso de Música
132
que objetiva a aquisição de benefícios extra-musicais apresentem tais
características, uma nova questão é trazida à baila: alguma característica em
comum entre os alunos que apresentaram estes traços?
A análise documental de nosso diário de campo e também do anedotário da
pesquisa nos forneceu subsídios para uma maior compreensão do fenômeno,
que ele fez com que percebêssemos uma característica que diferenciou L. O. G. e
R. M. dos demais alunos: Ambos possuíam suporte familiar aos seus estudos
musicais. O episódio em que a mãe de L. O. G. procura o professor, durante um
intervalo, para indagá-lo a respeito do desempenho de seu filho na aula demonstra
bem tal fato. No caso de R. M., podemos citar o fato de que, em uma das
apresentações, seu irmão compareceu para assisti-la. A isso se soma o fato de
que seu irmão também toca violão, havendo, portanto, provavelmente, grande
aceitação e incentivo da atividade por parte da família. Tal hipótese foi levantada
somente em nossa análise de dados, realizada um ano após o curso. Neste
sentido, julgamos necessária uma etapa extra de pesquisa de campo, com o
objetivo de investigar a magnitude da participação familiar de cada sujeito
participante. As conclusões às quais chegamos após este procedimento se
encontram esmiuçadas no capítulo seis.
Além disso, há ainda um outro fato, citado nas caracterizações acima,
que deve ser ressaltado: a posição de destaque que R. M. ocupa devido ao seu
melhor desempenho vocal. Isto abre precedentes para uma nova discussão,
relacionada à valorização da carga cognitiva que o aluno apresenta antes da
intervenção educacional. Adentramos, assim, em questões de valorização do
conteúdo prévio do educando, tratada por estudiosos de diferentes áreas da
pedagogia.
Cognitivistas como, por exemplo, Ausubel, afirmam que a aprendizagem
significativa ocorre quando “uma nova informação é relacionada a um aspecto
relevante, existente, da estrutura de conhecimento de um indivíduo”. Esta linha
teórica indica a necessidade de que se descubram os subsunçores do indivíduo,
133
ou seja, seus conhecimentos prévios, e que se considere os mesmos como
alicerces para os novos conteúdos a serem aprendidos, de maneira que ocorra
maior assimilação dos novos conceitos.
Sócio-interacionistas, por sua vez, vêem a detecção dos conteúdos prévios
do aluno como a construção de “pontes” de aproximação cultural entre dois
indivíduos provenientes de meios sócio-culturais diferenciados (o professor e o
aluno).
Vista sob uma ótica cognitiva, ambas as teorias citadas apontam para a
maior eficiência do processo de aprendizagem. Entretanto, se olharmos tal
premissa sob uma ótica da afetividade, o conteúdo pode se traduzir no princípio
da “valorização do aluno”, uma vez que, ao ter potencialidades percebidas e
valorizadas por seus iguais, o educando internaliza, se apropria deste discurso. O
que antes era a verbalização de terceiros, agora passa a ser seu próprio conceito.
Desdobrando a discussão para o microcosmo musico-educacional, tal
reflexão se traduz na recomendação de práticas convergentes com a descoberta
das habilidades que o aluno apresenta antes de iniciar o curso. Um exemplo
simples de procedimento relacionado com tal objetivo seria, a exemplo do ocorrido
no curso que avaliamos nesta pesquisa, a adoção de um programa curricular rico
e abrangente, que incluísse músicas vocais, e não somente instrumentais. Isto
porque, desta maneira, possibilita-se que sejam detectados os alunos que têm
facilidade também com o canto, e não somente com a execução de um
instrumento. Não vemos tal fato como um desvio de foco prejudicial ao trabalho,
mas sim, cremos que, se o aluno demonstra boa execução vocal, o mesmo se
sente motivado a repetir o feito em relação ao instrumento, o que seria, assim,
uma conseqüência positiva de tal procedimento.
3) RESUMO DOS RESULTADOS DO TESTE PROJETIVO HTP
134
As análises estatísticas nos demonstram que o nível de benefícios
psicológicos vivenciados pelos participantes do curso de iniciação violonística foi
significativamente maior (P=0,009) do que o nível de benefícios vivenciados pelos
sujeitos não-participantes e, indo além, clarifica-se que um indivíduo que participa
de tal curso tem quase 90% (88,9%) a mais de chance de obter tais vantagens do
que um indivíduo não-participante. Acrescenta-se o fato de que alguns aspectos
tiveram melhorias especialmente significativas, a saber: estabilização de conflitos,
melhoria das relações familiares, diminuição do sentimento de inferioridade e
baixa auto-estima, diminuição da sensação de pressão por parte do meio,
aumento da sociabilidade, dificuldade de interação com o meio e com o contato
afetivo e melhoria da auto-estima implícita, sendo o benefício referente à auto-
estima implícita potencializado em relação aos alunos que apresentaram suporte
familiar e habilidades paralelas valorizadas. Quanto a aspectos que poderiam ser
considerados negativos, os alunos que participaram do curso de Música
apresentaram um: tendência a devaneios e fantasias.
135
CAPÍTULO 6.2
137
1) CRITÉRIOS DE ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
Conforme já explicitado no capítulo anterior, as entrevistas referentes à
participação familiar constituíram um procedimento investigativo extra, realizado a
fim de que se pudesse levantar dados que corroborassem ou refutassem hipótese
levantada em nossa análise de dados (a teoria de que poderia haver uma
correlação positiva entre a participação familiar e a aquisição de benefícios
psicológicos positivos). Este novo procedimento investigativo ocorreu em duas
etapas: A primeira consistiu na realização de uma entrevista semi-estruturada com
os participantes, nos dias 8 e 9/11/2007 (o processo ocorreu facilitadamente
porque todos os alunos, por sorte, ainda estudavam na mesma instituição). A
segunda fase, referente às entrevistas com os pais, se deu em 9 e 10/11/2007,
sendo feita por telefone.
A entrevista com os alunos, realizada na Escola Jornalista Roberto Marinho,
consistiu em dez questões relacionadas a aspectos que denotam maior ou menor
participação da família (pais, irmãos, tios, etc...) no processo de ensino-
aprendizagem. Participação sendo, neste caso, compreendida como o grupo dos
seguintes atos: conversas em casa sobre o curso; presença dos familiares nas
apresentações; existência de familiares que tocam algum instrumento musical;
manifestação dos pais em relação ao certificado final do aluno.
A entrevista com os pais foi feita por telefone e consistiu de cinco questões.
A fim de que se pudesse comparar o nível de participação de cada aluno, bem
como chegar a um dado final resultante das duas entrevistas, realizamos
conversão dos dados qualitativos para dados quantitativos. Chegamos, assim, a
um valor final que denominamos IPF (índice de participação familiar). Abaixo
segue a bula de conversão utilizada para se encontrar o IPF, juntamente com as
questões englobadas na entrevista:
138
BULA DA ENTREVISTA COM OS ALUNOS:
1) Tem alguém que toca na sua família?
Conversão: Se há dois que tocam e moram em casa = 1. Se há interesse em
aprender = 1. Se há um que toca na casa = 0,7. Se não há = 0. Se há mas é
distante = 0,5.
2) O que seus pais dizem sobre Música e violão?
Conversão: Se gostam de Música e violão = 1. Se gostam só de um = 0,5. Se o
aluno não sabe = 0.
3) O que seus irmãos dizem sobre Música e violão?
Conversão: Se não tem irmão = repete a nota da anterior. Se gostam de Música e
violão = 1. Se gostam só de um = 0,5. Se o aluno não sabe = 0.
4) O que seus pais disseram quando você falou em participar do curso?
Conversão: Se gostaram e incentivaram = 1. Se gostaram = 0,5. Se foi indiferente
= 0.
5) E seus irmãos, o que disseram?
Conversão: Se não tem irmão = repete a nota da anterior. Se gostaram e
incentivaram = 1. Se gostaram = 0,5. Se foi indiferente = 0.
6) Sua família sabia que você iria participar de apresentações? Vieram
assistir?
Conversão: Se foram em alguma = 1. Se não foram porque não sabiam onde era
ou estavam trabalhando = 0,5. Se não foram porque não queriam = 0.
7) Você mostrou o certificado para eles? O que disseram sobre o
certificado?
Conversão: Se gostaram e quiseram emoldurar = 1. Se gostaram = 0,5. Se viram
e não deram nenhuma opinião = 0.
8) Alguma vez vocês conversaram sobre o curso, em casa? O que diziam?
Conversão: se conversaram bastante = 1. Se conversavam pouco = 0,5. Se não
conversaram = 0.
9) Tem violão em casa? Você tocava em casa, enquanto participava do
curso?
139
Conversão: Se tem violão e tocou = 1. Se tem por causa do curso, mas não tocou
= 0,7. Se tem e tocou, mas é distante = 0,5. Se tem e não tocou = 0,5. Se não tem
= 0.
10) Você acha que sua família participou do processo de realização do curso
o suficiente ou poderia ter participado mais?
Conversão: Se acha que participou bastante = 1. Se acha que participou pouco =
0,5.
BULA DA ENTREVISTA COM OS PAIS:
1) Organize as atividades seguintes hierarquicamente em termos de
importância para a formação de seu filho: Informática; Línguas estrangeiras;
Música; Esportes.
Conversão: Se Música antes de esporte = 1. Se Música depois de esporte = 0.
2) O que vocês acharam do seu filho ter participado do curso de violão na
escola?
Conversão: Se bom devido a motivos dos pais = 1. Se bom devido à vontade da
criança = 0,5. Se bom devido a ser experiência nova = 0,5. Se indiferente = 0.
3) Vocês acham que participaram satisfatoriamente do processo de
realização do curso de violão de seu filho?
Conversão = Se participaram satisfatoriamente = 1. Se não participaram
satisfatoriamente = 0.
4) Alguma vez vocês falaram com seu filho sobre o curso, enquanto ele
participava das aulas?
Conversão: Questão 5 = Se muitas vezes = 1. Se poucas vezes = 0.
5) Vocês assistiram alguma das apresentações do seu filho?
Conversão: Se foi = 1; Se não foram porque não puderam ou não foram avisados
= 1. Se não foram porque não quiseram = 0.
140
Após realizadas as entrevistas e estabelecidos os IPF de cada participante,
pudemos então realizar uma classificação ranqueada. Os sujeitos que mais
tiveram participação familiar foram, de cima para baixo:
SUJEITO IPF
R. M. 14
E. B. G. 13,2
L. O. G. 13
L. W. P. 10,5
L. P. S. 8,2
M. S. A. 7
Sendo o valor DHTP a diferença dos aspectos psicológicos positivos e
negativos encontrados no pré e no pós-teste do HTP (por exemplo, se tiverem
surgido 10 aspectos positivos e 4 negativos, no segundo teste HTP, a DHTP se
6, pois 10 – 4 = 6), podemos cotejar o ranqueamento do IPF de do DHTP:
3) DISCUSSÃO
2) ANÁLISES REALIZADAS
141
SUJEITO IPF
R. M. 14
E. B. G. 13,2
L. O. G. 13
L. W. P. 10,5
L. P. S. 8,2
M. S. A. 7
A comparação não demonstra completa coincidência entre os lugares
ocupados por cada aluno. Entretanto, os ressaltes em verde e vermelho nos
demonstram a convergência das metades das duas tabelas. Esta verificação pode
ser considerada um elemento de corroboração de nossa hipótese inicial, ou seja,
percebe-se que, quanto maior a participação familiar, maior a quantia de aspectos
psicológicos passíveis de florescerem.
As entrevistas supracitadas nos sugerem que, quanto maior a participação
familiar, maior a chance de que os alunos do curso de Música avaliado
apresentem benefícios psicológicos.
SUJEITO DHTP
L. O. G. 16
R. M. 12
E. B. G. 3
M. S. A. 0
L. W. P. -1
L. P. S. -4
4) RESUMO DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE
PARTICIPAÇÃO FAMILIAR
143
CAPÍTULO 6.3
145
1) CRITÉRIOS DE ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
As entrevistas sobre variáveis externas foram direcionadas a diferentes
sujeitos: os alunos e os pais dos alunos. A parte direcionada aos alunos foi feita
nos dias 8 e 9/11/2007, pessoalmente, na escola onde se realizou a pesquisa de
campo. A parte dos pais ocorreu na mesma data, porém, por telefone.
A exemplo do ocorrido em referência às entrevistas sobre participação
familiar, realizou-se também a conversão dos dados qualitativos para
quantitativos. Contudo, neste caso, também foi discriminada a valência dos pontos
(positiva ou negativa), que os eventos que ocorrem na vida do indivíduo podem
ter caráter positivo ou negativo. O valor final de variáveis externas, ora em diante
denominado IVE (índice das variáveis externas) é, sendo assim, diretamente
proporcional à positividade dos eventos vividos e relatados. Vejamos, abaixo, a
bula de interpretação destas entrevistas, juntamente com as questões transcritas:
ENTREVISTA COM OS ALUNOS:
1) Enquanto participava do curso de violão, algo de importante aconteceu,
que te deixou triste ou alegre?
Conversão: Se triste = -1. Se alegre = 1.
2) Namorou alguém?
Conversão: Se namorou = 1. Se não = 0.
3) Que cursos mais você fez enquanto participava do curso de violão?
Nestes cursos você ia bem ou mal?
Conversão: Se fez e foi bem = 1. Se fez e foi mal = -1. Se não fez = 0.
146
4) No final do ano, como foram suas notas?
Conversão: Se bom = 1. Se razoável = 0. Se mal = -1.
5) Houve problemas de dinheiro na família?
Conversão: Se sim = -1. Se não = 0
6) Quais dos seguintes eventos ocorreram com você enquanto participava
do curso de violão?
( ) morte de alguém da família
( ) gravidez
( ) doença na família
( ) acréscimo ou diminuição do número de pessoas morando em sua casa
( ) nascimento na família
( ) mudança de casa
( ) problemas de saúde
( ) morte de um amigo
( ) acidentes
Conversão: a cada evento vivido, computa-se -1.
QUESTÃO PARA PAIS:
7) Algo de importante aconteceu com seu filho que deixou mais alegre ou
mais triste no final de 2006?
Conversão: Se aconteceu algo de bom = +1. Se não aconteceu nada = 0. Se
aconteceu algo de ruim = -1.
Segue o ranqueamento das pontuações encontradas em relação aos
participantes. Ressalta-se o fato de que, quanto maior a pontuação, mais eventos
2) ANÁLISES REALIZADAS
147
positivos ocorreram; por outro lado, quanto menor a pontuação, mais influências
negativas foram detectadas.
SUJEITO IVE
L. P. S. +2
L. W. P. +2
M. S. A. +1
E. B. G. -1
L. O. G. -1
R. M. -1
Se compararmos, então, os resultados encontrados no HTP com o IVE,
podemos interpretar as supostas modificações de maneira mais acertada.
SUJEITO IVE
L. P. S. +2
L. W. P. +2
M. S. A. +1
E. B. G. -1
L. O. G. -1
R. M. -1
SUJEITO DHTP
L. O. G. 16
R. M. 12
E. B. G. 3
M. S. A. 0
L. W. P. -1
L. P. S. -4
3) DISCUSSÃO
148
Conforme as setas indicam, o panorama que se mostra em relação ao IVE
é o oposto do que se percebeu em relação ao IPF (índice de participação familiar).
O que se tem agora é uma correlação negativa entre as metades, ou seja, os
alunos que tiveram maior número de variáveis externas negativas foram os que
apresentaram maior aquisição de aspectos positivos. Estes dados nos levam a
crer que os eventos vitais de cada participante não tiveram influência tal a ponto
de modificar os dados trazidos pelo HTP. Uma vez que tais eventos não
causaram, assim, diferenças signficativas no resultado do HTP, pode-se crer, mais
acertadamente, que as modificações observadas realmente se devam às
experiências vivenciadas no curso de Música. Ou, como explicação alternativa,
pressupondo que as variáveis externas tenham exercido influência ao aspecto
psicológico dos indivíduos, poderíamos concluir que o tratamento experimental foi
suficientemente relevante a ponto de superar as negatividades causadas por estes
episódios.
As entrevistas sobre variáveis externas nos levam a crer que os aspectos
psicológicos positivos percebidos, ao final do curso, realmente se devam às
vivências do curso de Música, e não a variáveis externas.
4) RESUMO DOS
RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE VARIÁVEIS
EXTERNAS
149
CAPÍTULO
6.4
151
1) CRITÉRIOS DE REALIZAÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS
As entrevistas foram realizadas na Escola Estadual Jornalista Roberto
Marinho, em sala apropriada, silenciosa e em duas etapas. A primeira ocorreu,
com os grupos controle e experimental, entre 23/08/2006 e 31/08/2006. A segunda
fase se sucedeu, para o grupo controle, entre os dias 27/11/2006 e 01/12/2006 e,
para o grupo experimental, em 01/12/2006. A transcrição integral das entrevistas
levadas a cabo encontra-se no ANEXO IV. Este instrumento de coleta objetivou
avaliar a auto-percepção do indivíduo em cinco aspectos:
1) Familiar (uma questão): “1) O que as pessoas da sua casa acham de você?”
2) Social (uma questão): “2) O que seus amigos acham de você?”
3) Acadêmico (duas questões): “3) O que seus professores falam de você?” e
“4) Você vai bem na escola?”.
4) Nível de responsabilidade (uma questão): “5) A gente é responsável quando
fazemos aquilo que prometemos. Você se acha responsável? Em que situações
você é responsável?”
5) Pessoal (cinco questões): “6) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu
jeito de ser?” ; “7) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito?”;
“8) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?”;
“9) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você: Eu sou...” ; 10) Se você der uma nota de 1 a 10 pro tanto que você
gosta de você do jeito que você é, qual seria essa nota?”
152
As respostas dos sujeitos foram avaliadas qualitativamente e classificadas
dentro de um dos três conceitos: Bom – Médio – Ruim. Vejamos um
exemplo: Se na questão 4 (“Você vai bem na escola?”), a resposta dada é
“- Vou bem sim. Vou bem em todas as matérias.”, o conceito presente na
tabela de análise é “Bom”. Se a resposta dada pelo sujeito é: “Vou bem em
matemática, mas em Artes não”, então o conceito em nossa avaliação se
“Médio”, pois o mesmo apontou aspectos positivos e negativos de seu
rendimento. Se, por fim, o aluno respondeu “Vou mal nas matérias”, então o
conceito descrito na tabela será “Ruim”. A preposição “para” separa o
conceito da primeira entrevista realizada, antes da realização do curso de
Música, e da segunda entrevista, após a participação no curso de Música,
simbolizando que o indivíduo passou de um estado psicológico “para” outro.
Respostas “Nada” e “Não sei” foram computadas como o conceito “Médio”,
pois julgamos que tais respostas não traduzem nem aspectos positivos,
nem aspectos negativos.
Na questão 8, “Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas
em você? O quê?”, consideramos como “Bomas respostas negativas, ou
seja, na qual o indivíduo não manifesta desejo de mudança, uma vez que
cremos que, ao manifestar tal posicionamento, o sujeito demonstra auto-
aceitação, aspecto psicológico positivo. Inversamente, respostas que
manifestaram desejo de mudança foram consideradas como “Ruim”.
Respostas baseadas em suposição do aluno foram válidas para o conceito
final: Por exemplo, se à questão “3) O que seus professores falam de
você?” , a resposta dada pelo sujeito é: - Não sei, mas imagino que eles
pensem que não sou bom aluno, o conceito em nossa análise será: “Ruim”,
pois o aluno supôs uma avaliação negativa.
153
O aspecto 3, “acadêmico”, foi avaliado a partir das respostas dadas às
questões 3 e 4. O conceito final, exposto na tabela, consistiu em um uma
média final das respostas emitidas em todas as questões envolvidas,
baseada em algumas diretrizes:
a) Um conceito “Bom” e um conceito “Ruim” resultam em conceito “Médio”.
b) Na questão um, a soma de um conceito “Bom” e um conceito “Médio” resultam
em conceito “Médio-Bom”, um conceito “Ruim” e um conceito “Médio” resultam em
conceito “Médio-Ruim”.
O aspecto 5, “pessoal”, foi avaliado a partir das respostas dadas às
questões 6, 7, 8, 9 e 10. O conceito final, exposto na tabela, consistiu em
um uma média final das respostas emitidas em todas as questões
envolvidas, baseada em algumas diretrizes:
a) Um conceito “Bom” e um conceito “Ruim” resultam em conceito “Médio”.
b) O conceito final é definido pelo conceito que mais apareceu nas respostas. Ex.:
Se na primeira questão do aspecto pessoal, o examinando apresenta conceito
“Bom”, na segunda, Médio”, na terceira “Médio”, na quarta, “Bom”, e na quinta,
“Bom” novamente, então o conceito apresentado na análise de resultados será
“Bom”, pois o mesmo se fez presente três vezes, enquanto o conceito “Médio”
apareceu apenas duas vezes.
c) Se, no pré e no pós-teste, o aspecto pessoal apresenta mesmo conceito, porém
originado de diferentes maneiras, a tabela final indica que houve melhoria ou
declínio. Por exemplo, se no pré-teste, o conceito “Bom” resultou da somatória
entre três conceitos “Bom” e dois “Médio” e, no pós-teste, o conceito resultante
154
também “Bom”, contudo, resultante, desta vez, de cinco conceitos “Bom”, então o
resultado final será, no pré-teste, “Bom”, e no pós-teste, “bom (com aumento)”.
d) Em referência às respostas para a questão 9, os adjetivos extrovertido,
engraçado, carinhoso, meiga, resiliente, feliz, divertida, responsável e obediente
foram conceituados como “bom”. O adjetivo bravo foi considerado “Médio”. Por
outro lado, o adjetivo bagunceiro foi conceituado como “Ruim”.
e) Na questão 10, “Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta
de você do jeito que você é, qual seria essa nota?”, notas de 0 a 5 foram
consideradas “”Ruim”, de 5,1 a 7 foram consideradas ”Médio” e de 7,1 a 10 foram
consideradas ”Bom”. Para melhor percepção das sutilezas, a nota de cada
entrevistado foi descrita entre parênteses.
SUJEITO: E. B. G., 11 anos
1) FAMILIAR: Bom para Bom.
2) SOCIAL: Bom para Bom.
3) ACADÊMICO: Médio para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Médio.
GRUPO EXPERIMENTAL
2) ANÁLISES REALIZADAS
155
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Bom.
5) PESSOAL: Bom para Bom (com leve aumento).
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Bom para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (8) para Bom (9).
SUJEITO: L. O. G., 11 anos
1) FAMILIAR: Bom para Bom.
2) SOCIAL: Bom para Bom.
3) ACADÊMICO: Médio-bom para médio-bom.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Bom para Bom.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Médio para Bom.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Bom.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
156
Ruim para Ruim.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Ruim para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (7) para Bom (8).
SUJEITO: L.W. P., 11 anos
1) FAMILIAR: Bom para Médio (porque agora os pais reclamam que ele quer
jogar bola).
2) SOCIAL: Bom para Bom.
3) ACADËMICO: Médio para Bom.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Bom.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Bom.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Bom com aumento.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Bom para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Ruim para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (9) para Bom (10).
SUJEITO: L. P. S., 12 anos
157
1) FAMILIAR: Ruim para Médio.
2) SOCIAL: Médio para Médio.
3) ACADÊMICO: Médio para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Médio.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Ruim para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Médio para
Médio.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Bom para Ruim.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (9) para Bom (9).
SUJEITO: R. M., 13 anos
1) FAMILIAR: Bom para Bom.
2) SOCIAL: Bom para Bom.
3) ACADÊMICO: Bom para Bom.
3.1) O que seus professores falam de você: Bom para Bom.
158
3.2) Você vai bem na escola? Bom para Bom.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Bom.
5) PESSOAL: Médio para Bom.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Médio para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Ruim para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Médio (7) para Bom (10).
SUJEITO: M. S. A., 11 anos
1) FAMILIAR: Ruim para Ruim.
2) SOCIAL: Bom para Médio.
3) ACADÊMICO: Médio-Bom para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Bom para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Bom (com queda pequeníssima).
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
159
Ruim para Ruim.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (10) para Bom (9,5).
SUJEITO: W. M., 12 anos.
1) FAMILIAR: Ruim para Médio.
2) SOCIAL: Bom para Bom.
3) ACADÊMICO: Médio para Médio-ruim.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Ruim.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Médio.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Médio.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Bom para Ruim.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (10) para Bom (10).
GRUPO CONTROLE
160
SUJEITO: I. M., 12 anos.
1) FAMILIAR: Médio para Médio.
2) SOCIAL: Bom para Médio.
3) ACADÊMICO: Médio-bom para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Bom para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Bom.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Bom para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (8) para Médio (6).
SUJEITO: C.C.V., 12 anos.
1) FAMILIAR: Bom para Bom.
2) SOCIAL: Bom para Médio.
3) ACADÊMICO: Médio-Ruim para Médio-Bom.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Médio.
161
3.2) Você vai bem na escola? Ruim para Bom.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Bom (com decréscimo).
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Ruim.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Bom para Ruim.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (9) para Bom (9).
SUJEITO: M.P.S., 11 anos.
1) FAMILIAR: Médio para Médio.
2) SOCIAL: Médio para Médio.
3) ACADÊMICO: Bom para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Bom para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Bom para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Bom (com acréscimo).
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Médio para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
162
Bom para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (10) para Bom (8).
SUJEITO: C.A.V., 13 anos.
1) FAMILIAR: Bom para Médio.
2) SOCIAL: Bom para Bom.
3) ACADÊMICO: Médio para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Médio para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Bom para Bom.
5) PESSOAL: Bom para Bom (com leve acréscimo).
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Ruim para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (10) para Bom (9).
SUJEITO: J. P. M., 11 anos.
163
Alguns pontos importantes sobre este sujeito:
- Quando indagado em relação à questão 9) “Complete a frase com uma palavra
só, que você ache que tenha bastante a ver com você: eu sou...”, o aluno
respondeu feliz”. O entrevistador prosseguiu no questionamento, lançando a
seguinte pergunta:
“Mas tem alguma vez que você se sente triste?” Então o aluno respondeu: - Na
maior parte das vezes eu triste. Porque às vezes os amigos me deixam
magoado. Por esse motivo, a resposta final, em nossa análise, foi “Médio”,
resultante de uma avaliação positiva e de uma negativa dada pelo aluno.
- Quanto a questão 6) “O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de
ser?”, o aluno respondeu “- Nada de ruim. De bom eu não lembro”. Tal resposta foi
considerada, em nossa análise, como “Médio”.
1) FAMILIAR: Bom para Médio.
2) SOCIAL: Médio para Bom.
3) ACADÊMICO: Médio-Bom para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Bom para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Médio para Bom.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Ruim para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
164
com você. Médio para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Médio (7) para Médio (6).
SUJEITO: U. A. O., 11 anos.
1) FAMILIAR: Bom para Bom.
2) SOCIAL: Médio para Ruim.
3) ACADÊMICO: Médio-Bom para Médio.
3.1) O que seus professores falam de você: Bom para Médio.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Médio.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Bom para Bom (com leve acréscimo).
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Médio.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Bom para Bom.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Médio para Bom.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (10) para Bom (10).
SUJEITO: D. F. S., 12 anos.
165
Alguns pontos importantes sobre este sujeito:
- A resposta dada à questão 3.1 consistiu em suposição do aluno.
- A questão 5.5 não foi considerada no cômputo devido à falha na coleta de dados
do pós-teste.
1) FAMILIAR: Médio para Ruim.
2) SOCIAL: Ruim para Ruim.
3) ACADÊMICO: Médio-Bom para Ruim.
3.1) O que seus professores falam de você: Bom para Ruim.
3.2) Você vai bem na escola? Médio para Ruim.
4) RESPONSABILIDADE: Médio para Médio.
5) PESSOAL: Médio-Bom para Ruim.
5.1) O que tem de bom e o que tem de ruim no seu jeito de ser? Médio para Ruim.
5.2) Você tem mais de coisas boas ou de coisas ruins no seu jeito? Bom para Bom.
5.3) Se você pudesse, você mudaria alguma ou algumas coisas em você? O quê?
Ruim para Ruim.
5.4) Complete a frase com uma palavra só, que você ache que tenha bastante a ver
com você. Bom para Ruim.
5.5) Se você fosse dar uma nota de 1 a 10 pro tanto que você gosta de você do jeito
que você é, qual seria essa nota? Bom (10) para [faltou na coleta] [questão cancelada]
A tabela abaixo resume o processo de análise das entrevistas. “AE”
significa auto-estima geral, sendo que a coluna do meio define se houve melhoria,
decréscimo ou se a mesma permaneceu estável. As cinco colunas da direita
especificam os fenômenos ocorridos especificamente em cada aspecto: F
166
(familiar), S (social), A (acadêmico), R (responsabilidade) e P (pessoal). A flecha
ascendente () indica aumento, a descendente () indica decréscimo e o
asterisco (*) indica que a modificação ocorrida foi sutil.
ASPECTOS ALUNO AE
MELHOROU
AE
ESTÁVEL
AE
PIOROU
F S A R P
E. B. G., 11 anos
X
*
L. O. G., 11 anos
X
*
L. W. P., 12 anos
X
*
L. P. S, 12 anos
X
M. S. A., 11 anos
X
*
*
R. M., 13 anos
X
GRUPO EXPERIMENTAL
167
GRUPO CONTROLE
As entrevistas realizadas nos demonstram diferenças significativas entre o
grupo experimental e o grupo controle. Em relação ao grupo experimental, 66,66%
apresentou melhoria da auto-estima após a participação no curso de Música,
ASPECTOS ALUNO AE
MELHOROU
AE
ESTÁVEL
AE
PIOROU
F S A R P
W. M., 12 anos
X
*
I. M., 12 anos
X
*
C.C.V., 12 anos
X
*
M.P.S., 11 anos
X
*
C.A.V., 13 anos
X
*
J. P. M., 11 anos
X
*
U. A. O., 11 anos
X
*
*
D. F. S., 12 anos
X
3) DISCUSSÃO
168
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
1 2
Apresentaram aumento de AE
AE permaneceu estável
Apresentaram declínio de AE
Grupo ControleGrupo Experimental
16,66% permaneceu com a auto-estima estável e 16,66% vivenciou declínio da
auto-estima. Quanto ao grupo controle, a situação se mostrou oposta: 87,5% dos
alunos apresentaram queda de auto-estima, 12,5% apresentou melhoria da auto-
estima e 0% teve a auto-estima estável, sem modificações. O gráfico abaixo
demonstra as afirmações (o eixo vertical representa a porcentagem dos alunos
entrevistados):
É interessante, ainda, notar alguns outros aspectos que vieram à tona
ENTREVISTAS SOBRE AUTO-ESTIMA:
DIFERENÇA ENTRE MOMENTO UM E DOIS
169
através da análise das entrevistas. Em relação ao grupo controle, dentre os
fatores percebidos, um dos mais marcantes é o fato de que 75% dos alunos
entrevistados apresentou declínio no aspecto da auto-imagem acadêmica. É
preciso notarmos, em referência a tal fato, que a segunda entrevista fora realizada
entre 27/11/2006 e 01/12/2006, período este no qual os alunos recebem os
conceitos acadêmicos finais das disciplinas escolares, sabendo se foram
reprovados ou aprovados. É possível que a queda do autoconceito acadêmico se
deva a algum resultado de caráter negativo que os alunos porventura tenham
recebido ao final do semestre, em disciplinas escolares.
Outra questão trazida à baila se refere à modificação percebida no aspecto
pessoal dos alunos do grupo que participou das aulas de Música: todos estes
demonstraram aumento específico no quesito pessoal, o que nos sugere que os
procedimentos de valorização pessoal presentes no curso avaliado se mostraram
efetivos.
As entrevistas nos sugerem que o curso de sica avaliado se mostrou
efetivo no intento de prover melhoria na auto-estima dos educandos, sendo que tal
melhoria ocorreu notadamente na esfera pessoal.
4) RESUMO DOS RESULTADOS DAS ENTREVISTAS SOBRE AUTO-
ESTIMA
171
CAPÍTULO 6.5
173
Algumas condutas adotadas na análise da EMAE (Escala Multidimensional
de Auto-estima) devem ser observadas:
a) Em muitas alternativas, a despeito das orientações prévias dadas pela
psicóloga aplicadora, os sujeitos emitiram mais de uma resposta, resultando em
ambigüidade no momento da correção. Nesses casos, foram computadas na
análise as respostas mais positivas que o indivíduo assinalara. Assim, se, por
exemplo, à questão 3: Eu gosto de mim do jeito que sou, o sujeito assinalara “Não
tem nada a ver comigo” e também “Tem mais ou menos a ver comigo”, a resposta
considerada seria a última, “Tem mais ou menos a ver comigo”, pois esta tem
caráter mais positivo que a anterior.
b) No tocante às alternativas deixadas em branco, nas quais o sujeito não
escolheu nenhuma resposta, consideramos a maior pontuação possível. Ou seja,
para cada alternativa em branco, adicionávamos cinco pontos ao resultado final.
Devido ao fato de que a EMAE utiliza uma pontuação numérica como dado
resultante, julgamos adequado realizar análise estatística dos dados. Explanações
sobre os conceitos utilizados em tal análise foram incluídos em nossa dissertação.
Isto porque, como estarmos no universo das Ciências Humanas, da Educação e
da Música, e não das Ciências Exatas, cremos que seria necessária uma
facilitação do entendimento deste conteúdo por parte dos leitores que porventura
não possuam arcabouço teórico relevante da área da estatística.
1) CRITÉRIOS DE ANÁLISE DA EMAE
2) ANÁLISES REALIZADAS
174
4,254,003,753,503,253,002,752,50
6
5
4
3
2
1
0
Média
Freência
Grupo Controle
Grupo Experimental
Histograma da Média EMAE no momento 1
Para esta avaliação, contamos uma vez mais com a assessoria do
estatístico de nossa equipe e dos programas Minitab e Excel. Tínhamos como
intento testar duas hipóteses:
1) Hipótese nula – o grupo experimental e o controle apresentarão mesmo nível de
auto-estima ao final do experimento.
2) Hipótese alternativa - O grupo experimental apresentará maior auto-estima do
que o grupo controle, ao final do experimento.
Buscamos, então, escolher o teste estatístico mais adequado. Para tanto,
realizamos, primeiramente, o histograma referente à distribuição dos sujeitos em
cada faixa de média do teste:
175
Valor P** = 0,391
Valor T*** = 0,90
O histograma demonstrou que a curva de distribuição de nossa amostra
pode ser considerada normal, fato este que indica a aplicação do teste T de
Student como medida adequada para nosso objeto de estudo. Após aplicarmos o
mesmo, mostraram-se os seguintes resultados:
Sendo:
* DVM: O teste possui 56 questões, sendo que, para cada questão, o sujeito emite
uma resposta que vale 0, 1, 2, 3, 4 ou 5. Somamos o total desta pontuação e
dividimos pelo número de questões do teste (56), chegando, assim, à média de
pontuação de cada sujeito. Somamos, então, as médias de cada sujeito e
dividimos pelo número de sujeitos de cada grupo (experimental n=6, controle n=8).
Realizamos este procedimento duas vezes em relação a cada grupo, sendo uma
vez referente ao pré-teste e, outra, referente ao pós-teste. Isto define a diferença
entre o valor médio do pós-teste e o valor médio do pré-teste, chegando, assim, à
GRUPO CONTROLE
DVM = 0,283
Desvio-padrão = 0,247
Erro padrão = 0,087
GRUPO EXPERIMENTAL
DVM* = 0,145
Desvio-padrão = 0,307
Erro-padrão = 0,13
176
DVM, ou seja, diferença entre valores médios do pós e pré-teste.
** Valor P: Este define a probabilidade de que a rejeição da hipótese nula seja
procedimento equivocado. O valor resultante (0,391) denota que há, sendo assim,
quase quarenta por cento de probabilidade de que a rejeição da hipótese nula seja
algo equivocado, valor bastante superior ao limite padrão da significância
estatística (p < 0,05).
*** Valor T: Refere-se à relação entre o valor da média final de pontuação e o
desvio-padrão de cada grupo. Tal valor, sendo inferior a 1,0, denota que a
diferença entre as médias do pré e pós teste é relativamente pequena, em
comparação ao desvio-padrão e, portanto, não significativa estatisticamente.
Julgamos também procedente a realização de um gráfico de intervalo de
confiança dos dados resultantes. Isto porque, apesar do fato de que a amostra
fora selecionada aleatoriamente a partir de uma população, o que se percebeu
nos quatorze sujeitos estudados não necessariamente se repetiria em relação a
todos os outros sujeitos da amostra. Poderia, assim, haver determinada taxa de
variação dos resultados que encontramos neste estudo. O gráfico de intervalo de
confiança demonstra o quanto os resultados encontrados em relação à amostra
poderiam variar, se realizássemos o tratamento com outros sujeitos da população
total. É a tentativa de encontrar, a partir da média amostral, a média populacional,
com 95% de confiança. As linhas verticais representam a taxa de variabilidade da
média em relação a outros sujeitos da população, e os círculos sobre as mesmas
demonstram a média da população:
177
TRAT
PEODO
EXPCONT
PREPOSPREPOS
4,0
3,8
3,6
3,4
3,2
3,0
Média
Intervalo das Médias
Intervalo de Confiança=95%
Elucida-se, a partir da análise deste gráfico, o fato de que os resultados
encontrados em relação ao grupo experimental poderiam ser bastante diversos, se
aplicados com outros sujeitos da população. Isto porque a linha vertical do pós-
teste, do grupo experimental é bem maior que a linha vertical do grupo controle.
Os dados provenientes da análise acima descrita nos sugerem alguns
pontos em específico:
1) O curso não causou diferenças significativas na auto-estima dos alunos
3) DISCUSSÃO
178
envolvidos.
O valor P encontrado através do teste T de Student estabeleceu o fato de
que a diferença entre as DVM de cada um dos grupos não é estatisticamente
significante, uma vez que o mesmo representou um valor muito acima do limite
crítico de rejeição da hipótese nula (p <0,05). O teste estatístico verificou, assim,
que não houve evidência suficiente para rejeitarmos a hipótese nula, ou seja, as
crianças e adolescentes que participaram das aulas de Música não apresentaram
melhoria significativa de auto-estima, em comparação aos que não participaram.
Pelo contrário, o grupo que não se submeteu às aulas de Música demonstrou,
paradoxalmente, maior aquisição de auto-estima do que o grupo participante do
curso, conforme podemos ver no gráfico abaixo:
INCREMENTO NA AUTO-ESTIMA
0
2
4
6
8
10
12
14
16
18
pontuação EMAE
Grupo experimental
Grupo controle
2) Os participantes apresentaram reações bastante diferentes ao curso
Grande disparidade pôde ser observada em relação às pontuações finais
dos sujeitos, notadamente os do grupo experimental. É o que vemos abaixo:
179
MODIFICAÇÃO DA AE - GRUPO CONTROLE
140
150
160
170
180
190
200
210
220
230
240
1 2
pontuação EMAE
C. C. V., 12 anos
C. A. V. 13 anos
D. F. S., 12 anos
I. M., 12 anos
J. P. M., 11 anos
M. P. S., 11 anos
W. M., 12 anos
W. A. O., 11 anos
1 = PRÉ-TESTE
2 = PÓS-TESTE
MODIFICAÇÃO DA AE - GRUPO EXPERIMENTAL
140
150
160
170
180
190
200
210
220
230
240
1 2
pontuação EMAE
E. B. G., 11 anos
L. P. S., 12 anos
L. W. P., 11 anos
L. O. G., 11 anos
M. S. A., 11 anos
R. M., 12 anos
1 = PRÉ-TESTE
2 = PÓS-TESTE
180
Isto nos retrata um fato referente à dinâmica psicológica do fenômeno em
questão: Cada participante reagiu ao curso de maneira particular. No caso
específico do grupo experimental, notamos que, enquanto três alunos
apresentaram aumento significativo de auto-estima, dois permaneceram com a
auto-estima praticamente estável e um mostrou declínio neste construto. Em
relação ao grupo controle, o desvio-padrão é um pouco mais ameno, havendo um
acréscimo em nível de auto-estima de todos os participantes, exceto de dois que
apresentaram declínio.
Os alunos do grupo experimental sinalizaram, sendo assim, reações
bastante diversas ao curso desenvolvido. Este fato é confirmado através do
gráfico do intervalo de confiança que, conforme supracitado, demonstrou ser o
grau de variabilidade na generalização bastante grande, especialmente no caso
do grupo experimental.
Tais resultados devem ser, todavia, interpretados com cautela, devido a
alguns fatores em específico:
Em primeiro lugar, podemos citar que o tamanho da amostra é bastante
pequeno para pesquisas de caráter estatístico. É certo que não se mostrou
possível a realização de uma pesquisa maior, uma vez que, a despeito de
esforços do educador no sentido de manter o número inicial de alunos envolvidos
no referido curso (dez), houve 40% de desistência.
de se notar também que as respostas de questionários de auto-relato
estão sujeitas à conduta de cada indivíduo respondente. Assim, fatores como
desejabilidade social, ou o nível de sinceridade ao responder as questões, têm
peso indiscutível no momento de coleta de dados, sendo possível, assim, que
cada indivíduo tenha agido com diferente nível de sinceridade ao responder as
questões. Isto impossibilita a realização de comparações fidedignas dos
resultados emitidos por cada aluno. A posição defendida por Baumeister et al
(2004) ratifica o proposto: “é extretamente complexo medir construtos psicológicos
como inteligência e criatividade, porque não maneira de saber se as respostas
181
dadas pelo sujeito realmente refletem a realidade”.
Além disso, é possível que, pelo fato do mesmo questionário ter sido
aplicado em momentos diferentes, porém relativamente próximos temporalmente
(três meses), os sujeitos podem ter respondido as questões, no segundo
momento, de forma “viciada”: Podem ter lembrado das alternativas por terem as
respondido, e dessa forma, elegido a mesma opção que fora escolhida no pré-
teste apenas para que não houvesse contradição, mesmo que isto não refletisse
sua real concepção naquele momento.
que se perceber, também, a duração do curso empreendido: É possível
que neste programa de ensino, relativamente curto - três meses de duração - não
tenha havido tempo suficiente para que alguns dos alunos internalizassem os
conteúdos musicais de forma fluente e significativa, o que impossibilitaria, assim, a
aquisição de benefícios extra-musicais no aspecto psicológico. Isto porque, como
citado no quarto capítulo, a experiência estética, apesar de, à primeira vista,
parecer ser algo dissociado dos objetivos de trabalhos de Educação Musical que
visem o desenvolvimento psicológico, na verdade é pré-requisito a tal intento. Por
isso, sendo esse o caso, como ver benefícios decorrentes da execução de um
instrumento musical se não houve ao menos tempo para que o indivíduo
efetivamente aprendesse a tocá-lo?
Indo além, a grande variação nos resultados obtidos pelos membros do
mesmo grupo pode conduzir-nos a uma discussão mais aprofundada: Adentra-se
na seara das discussões referentes aos modelos teóricos que procuram explicar a
conduta humana. A dinâmica psicológica percebida, na qual cada sujeito age de
determinada maneira frente a um mesmo estímulo, poderia ser interpretada como
fator de rejeição de linhas teóricas estritamente comportamentais, baseadas no
sistema binário S – R (estímulo - resposta). Este mecanismo não ocorre de
maneira invariável, da mesma forma para com todos os alunos. Clarifica-se o fato
de que, entre o S e o R, o educando como sujeito ativo do processo, com sua
opção, sua aceitação ou não do trabalho levado a cabo. Isto nos conduz a uma
182
corroboração de linhas teóricas de caráter existencialista, e não comportamentais.
Faz-se necessário, assim, que o educador musical que intenta a evolução
psíquica de seus alunos tenha em mente o fato de que sua atividade não consiste
em fator onipotente em relação à psique de seus pupilos, mas sim em uma das
peças deste intrincado quebra-cabeças chamado personalidade.
A EMAE apresentou como resultado o fato de que não evidências para
afirmar-se que o curso de Educação Musical através do violão, nos moldes do que
foi avaliado nesta pesquisa, efetivamente aumentou a auto-estima das crianças e
adolescentes envolvidos. Explicita-se também o fato de que os sujeitos
respondem de maneira bastante diversa ao trabalho de Educação Musical em
questão. que se avaliar tais resultados com cautela, entretanto, uma vez que o
tamanho da amostra que foi utilizada é relativamente pequeno.
4) RESULTADOS DA EMAE
183
CAPÍTULO 6.6
185
A análise microgenética foi levada a cabo através do seguinte roteiro:
Filmamos todos os encontros realizados, incluindo ensaios e apresentações e, logo
após, assistimos a todos esses registros e realizamos descrições dos mesmos.
Feito isso, passamos a avaliar cada uma das descrições e identificar fatores
relacionados aos diferentes benefícios extra-musicais. É preciso notar: A análise
microgenética não teve como intuito verificar categoricamente que os educandos
adquiriram determinados benefícios. Na realidade, as descrições realizadas
apenas nos demonstram episódios que, aparentemente, apresentaram potencial de
propiciar essas melhorias.
Tais observações foram organizadas através de blocos temáticos, cada um
possuindo um benefício extra-musical específico como mote de investigação. Cada
um dos blocos temáticos foi ilustrado com cenas específicas - chamadas no
contexto desta análise de episódios.
Obs.: Conforme citado no capítulo 5, As transcrições integrais das
filmagens se encontram no ANEXO V.
As avaliações levadas a cabo evidenciaram a presença de momentos
propícios ao florescimento de determinados benefícios extra-musicais. Abaixo
dispomos as discussões que foram levadas a cabo em relação a cada constructo,
sendo que, além de descrever os episódios específicos, incluímos uma breve
conceituação de cada um dos aspectos enfocados:
1) CRITÉRIOS DE REALIZAÇÃO DA ANÁLISE MICROGENÉTICA
2) ANÁLISES REALIZADAS
186
Cooperar é trabalhar em conjunto para uma mesma finalidade. Tal
procedimento envolve habilidades de liderança, comunicação, negociação,
resolução de conflitos, fatores de grande importância em muitos momentos de
nossas vidas, como, por exemplo, nas relações familiares, no ambiente
profissional, ou ainda no ambiente educacional. Especificamente quanto a este
último microcosmo, nos citam Cava e Musitu (2000, p.43, tradução nossa) que
atividades educacionais realizadas cooperativamente têm possibilidade de
melhorar a auto-estima dos educandos, porque “os alunos que as realizam aceitam
mais os demais e se sentem também mais aceitos por eles, por trabalharem em
conjunto”. Por terem ocorrido de forma coletiva, as aulas observadas apresentaram
inúmeros trabalhos cooperativos. Os episódios descritos abaixo ilustram tal fato:
O professor praticava dois acordes com os alunos, “D” e “A7”. De repente,
inicia-se o aprendizado de uma sica que utiliza estes dois acordes: La Bella
Luna, da banda Paralamas do Sucesso. O educador chama, então, a aluna R.M., e
solicita que ela entregue para os colegas algumas partituras, previamente
preparadas para a atividade. Dava-se início a uma atividade que o mesmo
denominou “quebra-cabeças”, uma técnica de ensino adaptada do método de
ensino cooperativo jigsaw (quebra-cabeças, em inglês), presente em Cava e
Musitu (2000, p. 42) (vide ANEXO IX). Os diálogos empreendidos em sala são
transcritos abaixo:
O professor forma alguns grupos na sala e então distribui diferentes folhas
de exercícios para cada aluno, indagando-os:
Episódio 1 Sexta aula, 0:44:43 a 1:43:00
COOPERATIVISMO
187
Professor: - Gente, sabe o que é cooperar? É trabalhar em conjunto para o
mesmo fim. Cada um tem uma peça da música e no final junta e vai dar certo.
Se cada um fizer a sua parte, no final vai dar certo. Se fizer sozinho, daí não
certo, mas se juntar dá.
Escreve algo no quadro e torna a dialogar:
Professor: - Se no final der certo, é que a equipe fez certo as coisas. Se o der
certo, aí o problema não é de uma pessoa só, é da equipe inteira...
- Então todos têm que trabalhar juntos pra dar certo... Então cada um tem uma
folha diferente... Tem um que escrito melodia, não tá?... Quem com o escrito
melodia aí?
M. S. A.: Eu.
Professor: E quem tá com harmonia?
R. M.: Eu.
Professor: Legal. Harmonia é o acompanhamento. Melodia é a nota que soa por
cima, entenderam?
- Então, o que vai acontecer: Na hora em que juntar harmonia e melodia, daí vo
consegue tocar a música inteira. um ou só o outro não consegue tocar a
música... Então o que a gente vai fazer: a gente vai agora pegar um grupo
especializado em melodia, tá?
O professor se desloca pra um canto da sala e chama os alunos que
tinham recebido a folha denominada como “folha da melodia”,
desconstituindo, assim, os grupos que havia formado e formando novos
grupos na sala:
Professor: - E todo mundo que for da harmonia vai pro outro grupo, entenderam?
Agora é o grupo dos especialistas em cada coisa.
Um longo tempo é transcorrido, sendo que vários e diferentes
momentos tomam parte do episódio (os alunos saem para ir ao banheiro,
treinam suas respectivas partes, o professor passa em cada grupo para ver
188
como estava ocorrendo a execução, etc...). Após isto, o professor inicia a
segunda parte da atividade:
Professor: - “Vamo” fazer agora o seguinte, gente, ó...
Agora vai voltar pra aqueles grupos de antes, gente... Qual era o grupo?
Então agora, gente... Esse aqui era o grupo dos especialistas, especialistas em
melodia e especialistas em harmonia. Então agora cada um vai voltar pro seu
grupo, tá?
Os alunos retornam aos grupos que haviam sido montados no início da
atividade, antes da formação dos grupos de especialistas.
Professor: - Agora “vamo” fazer o seguinte, ó... Quem sabe a melodia vai ensinar
pros outros que não sabem, tá?
Os alunos iniciam mais uma vez uma atividade coletiva de aprendizado,
sendo que, desta vez, cada um ensinava ao outro um elemento da música
que havia aprendido melodia ou harmonia constituindo, assim, a
execução completa da peça.
Desta maneira, faz-se presente uma situação na qual os alunos realizam o
exercício proposto de maneira cooperativa, exercitando as diversas habilidades
envolvidas (negociar, comunicar-se, resolver conflitos, emitir retorno verbal, lidar
com críticas, etc...)
Nesta aula, ocorria treinamento da coordenação motora básica dos alunos,
através de exercício dos dedos indicador, médio, anular e mínimo. Dentro de
alguns instantes, o aluno L. O. G., 11 anos se destacava frente a seus colegas,
executando com maior destreza a atividade proposta. O professor, verificando tal
Episódio 2 Segunda aula, 0:31:47 a 0:35:30
189
fato, logo sugeriu que esse aluno auxiliasse os colegas que ainda o conseguiam
realizar a atividade:
Professor (se dirigindo a L. O. G.): - Legal, você tá conseguindo fazer já, né?
L. O. G.: Tô.
Professor: - Jóia, então faz assim ó... Você ensina a M., ta?
Nesse momento, L. se dirige até M. e lhe auxilia a realizar o exercício.
Instaura-se, portanto, um ambiente de aprendizagem cooperativa, na qual
quem está em nível mais avançado auxilia seu companheiro.
Professor: E aí, L., tá conseguindo fazer?
L. O. G.: Ah, tá difícil.
Professor: Então, R., você pode ajudar ele? (se dirigindo a R.).
Assim, R. se dirige a L. e lhe ensina como realizar a atividade proposta.
Mais uma vez temos, então, a aprendizagem ocorrendo de forma
cooperativa, e assim se instaura a possibilidade de potenciação das diversas
habilidades interpessoais dos educandos.
É interessante notarmos que a realização de atividades cooperativas tem
relação estreita com um conceito da teoria cio-histórica: a ZDP (Zona de
Desenvolvimento Proximal). Este constructo, um dos alicerces da teoria
Episódio 3 Sétima aula, 18:23 a 19:10
190
vygotskyana, consiste na “distância cognitiva” do indivíduo entre seu
desenvolvimento real (montante de operações e funções psicológicas que o
indivíduo tem capacidade de realizar sem o auxílio de outros mais capazes) e seu
desenvolvimento potencial (grupo de operações e funções psicológicas que a
criança possui em seu "repertório" comportamental e psicológico e que
prescindem do auxílio de outros para serem levadas a cabo). O desenvolvimento
das potencialidades dos membros mais imaturos de uma dada cultura é estimulado
pelas interações sociais com indivíduos mais capazes e, assim, se estabelece a
premissa de que "o que a criança pode fazer hoje com o auxílio dos adultos poderá
fazê-lo amanhã por si só" (VYGOTSKY 1991, p. 113). Tal fato pode ser claramente
percebido nos episódios supracitados.
No episódio um, por exemplo, cada aluno ensinava para seu colega um
elemento que faltava para tornar a música completa, montando assim o “quebra-
cabeças musical”. Isto claramente exemplifica a presença do conceito das ZDPs
nas atividades realizadas, que o desenvolvimento real dos alunos era, como
pudemos ver, potencializado através da criação de ZDPs por seus colegas, que
lhes ensinavam os elementos faltantes da peça. Os estudantes alcançavam, desta
maneira, seu nível de desenvolvimento potencial em relação ao objeto de estudo
em questão.
A criatividade fora bem definida por Webster (1990) como a união do
pensamento divergente (imaginativo) com o convergente (factual) e, conforme
vimos no capítulo quatro, a mesma pode ser potencializada através de atividades
de criação musical, tais como improvisação e composição. Alguns momentos do
trabalho observado compreenderam atividades relacionadas a estes fins, como nos
CRIATIVIDADE
191
demonstram os episódios descritos abaixo.
Neste momento, o educador desenvolvia uma atividade denominada “Minha
música”, que consistia na composição de uma obra por cada um dos alunos,
através do uso de algumas notas pré-estabelecidas pelo educador. A composição
deveria, após finalizada, ser escrita no quadro e executada na frente da sala para
que os colegas pudessem ver.
Professor: - Então é o seguinte. Cada um vai fazer a sua própria música,
entenderam? - Vai escrever no caderno, e eu vou dar um tempinho pra que vocês
venham aqui na frente, escrever lá no quadro e tocar, apresentar pros outros. –Dez
minutinhos, tá?
L .O. G.: Dez minutos só, ô louco...
Os alunos começam a criar suas próprias músicas e, ao final do período, E.
é chamado pelo professor para executar o que tinha composto na frente da sala,
para que todos os colegas pudessem ver. Após escrever no quadro, tocar e ser
aplaudido pelos amigos, o professor se dirige aos demais alunos:
Professor: - E aí, viu que bonito? Gente, estão conseguindo tocar a música de
E.?
Classe: - Não!
Neste momento, o professor novamente se dirige a E.:
Professor: - Tá, agora você vai ensinar os outros da sala a tocar sua música, tá?
Então E. se dirige aos colegas e lhes ensina a tocar sua música, sendo
que, ao final do episódio, todos já podiam executá-la.
Quando indagados a respeito da possibilidade de executar a música que E.
havia transcrito no quadro, os alunos respondem negativamente. Então, o
Episódio 4 Décima Primeira Aula, 0:55:37 a 1:18:44
192
professor pede que E. ensine a seus colegas sua música. Desta forma, além de
haver potencialização da criatividade, por tratar-se de composições dos próprios
alunos, mais uma vez a criação de ZDPs dos aprendizes, por meio das
instruções dadas pelo colega que estava em estágio mais avançado.
Neste momento, se dava prosseguimento à atividade “Minha Música”,
supramencionada. Cada aluno tinha executado sua própria música na frente da
sala, para os colegas verem. Então, o professor diz que, quem quisesse, poderia
criar outra música e toca-la na frente da sala. O aluno L. O. G. se apresenta como
interessado na atividade e, então, compõe uma nova peça e a executa para os
colegas. Tal música era composta apenas por uma nota, executada continuamente
através de semínimas. O professor, instigado por tamanha constância melódica,
indaga L. O. G. a respeito do fato. O aluno então lhe responde que isso ocorreu
porque o nome da música era “Vitrola Quebrada”, ou seja, a música tinha uma
nota porque a vitrola tinha parado naquele lugar do disco. Vejamos o diálogo
abaixo, transcrito da filmagem:
Professor: - Bom, “vamo” gente. Agora, já que todo mundo tocou sua música,
nós vamos pra segunda rodada, tá? Ou seja, cada um que quiser compor mais
uma música, vai ter a chance de novo...
L. W. P.: - Ah, mais uma, professor?
L. O. G.: - Oba, vou compor mais uma!
Professor: - Então vamos lá.... dez minutinhos, ta?
Passam-se cerca de dez minutos, e o professor então questiona a
classe:
Professor: - E aí, quem fez?
Episódio 5 Décima Primeira Aula, 1:35:12 a 1:41:15
193
L. O. G.: - Eu fiz! Posso mostrar, professor?
Professor: - Pode. Pode vir aqui na frente.
Então, L. O. G. vai até a frente da sala e executa sua música.
Professor: - Tá, mas e aí? É só uma nota mesmo?
L. O. G.: - Ué... É a vitrola quebrada, né, professor...
Pôde-se perceber, através deste episódio, a criatividade demonstrada pelo
aluno, realizando algo bastante inusitado, uma imitação de uma vitrola quebrada
por meio da repetição de apenas uma nota. A insistente execução de um mesmo
som metaforiza, assim, o aparelho de som que retorna sempre ao mesmo ponto do
disco. Percebe-se, assim, um momento de florescimento do potencial criativo dos
educandos.
A auto-estima pode ser entendida, conforme vimos anteriormente, como o
sentimento que o indivíduo possui em relação a si mesmo. Uma auto-estima
satisfatória é, portanto, o sentimento positivo que o indivíduo tem a seu respeito.
Para Rogers (1970 apud Moysés, 1982, p. 15), fator de grande importância
para que se alcance uma boa auto-estima é a presença de um clima de aceitação
da pessoa, isento de ameaças ou declarações punitivas. Mead (1934), por sua
vez, com uma visão mais social do autoconceito, chama a atenção para a
importância das avaliações que o sujeito recebe, a seu respeito, dos outros
significantes. Os outros significantes são aqueles com os quais o sujeito tem um
forte vínculo afetivo, tais como os pais, professores, e seus iguais (companheiros
que estão em fases similares de madureza cognitiva, social e emocional). Isto,
AUTO
-
ESTIMA
194
traduzido para o microcosmo educacional, resulta em dois procedimentos sicos:
A emissão de avaliações positivas, como, por exemplo, elogios (o que vem de
encontro ao proposto por Mead, uma vez que o professor pode ser considerado um
outro significante à criança); e o estabelecimento de uma conduta democrática por
parte do professor (coerente ao clima de aceitação citado por Rogers). Estes dois
fatores se fizeram presentes em alguns episódios observados, conforme vemos
abaixo:
Neste momento, os alunos estavam praticando um poutporrit de sicas
folclóricas, composto pelas músicas Pezinho (folclore gaúcho) e Trem de Ferro
(folclore nacional). O professor, coordenando a atividade, estabeleceu que a
música deveria acabar com uma frase melódica descendente, especificando quais
notas deveriam ser cantadas pelos alunos. Nesse momento, a aluna R. M. olha
para o professor e diz que o final poderia ser também ascendente, ao invés de
descendente. Então, o professor acata a sugestão e executa a música da maneira
proposta pela aluna, configurando-se, desta forma, um clima de aceitação da
opinião da aluna:
Professor: - Olha só, gente, presta atenção! Vocês fazem, depois desta música,
assim, ó (cantando a melodia sugerida como final do poutporrit). É diferente da
parte de antes, entenderam?
R. M.: - Pode ser assim também, , professor? (cantando uma melodia
diferente da sugerida pelo professor).
Professor: - É verdade, pode ser assim também. (e executa novamente a
música, porém desta vez acabando da maneira proposta pela aluna).
Episódio 6 Quinta Aula, 1:28:03 a 1:28:45
195
Nesta aula, o professor treinava os acordes de D e A7, junto aos alunos.
Certa altura, fitou-os e os parabenizou, afirmando que os mesmos haviam evoluído
bastante tecnicamente desde a primeira aula realizada.
Professor (após os alunos terem terminado a execução do exercício de
acordes): - Legal... Muito bom, gente! Quero parabenizar vocês porque vocês
estão bem melhores do que estavam na primeira aula. Vocês melhoraram
bastante!
Assim, se no exemplo supramencionado se mostrou uma situação democrática,
neste momento se faz presente a emissão de elogios, de maneira que as duas
premissas citadas anteriormente se concretizam nos encontros realizados.
Conforme visto anteriormente, perseverança é a característica de
prosseguimento na execução de determinada tarefa até sua consumação, a
despeito de possíveis empecilhos que possam surgir no decorrer de sua
realização. Algumas situações do trabalho realizado, tais como a que
descreveremos abaixo, nos demonstram momentos de exercício da perseverança
dos educandos:
Episódio 7 Quinta Aula, 1:28:03 a 1:28:45
PERSEVERAN
ÇA
196
Neste encontro, dedicado ao treino das sicas que seriam executadas na
primeira apresentação que os alunos iriam fazer (no dia seguinte), o professor
buscava eliminar os últimos equívocos de execução que ainda se faziam presentes
nas músicas. Solicitava que os alunos repetissem determinados trechos da peças,
já previamente aprendidas nas aulas anteriores, até que as obras estivessem
sendo executadas satisfatoriamente, ou seja, com as notas e figuras rítmicas
corretas. Isto não ocorreu de pronto, mas sim, fizeram-se necessárias inúmeras
repetições, estudos, práticas de alguns dos trechos mais problemáticos das peças.
Os alunos mostravam-se indispostos a seguir praticando a mesma sica,
em muitos dos momentos, apesar de não terem ainda alcançado uma execução
satisfatória. Nessas horas, o professor solicitava que eles continuassem treinando
a passagem que era mais dificultosa, apesar da vontade momentânea que eles
apresentavam de não mais prosseguir no treinamento. Tal cena se repetia diversas
vezes, até que, em determinado momento, os alunos conseguiram tocar a música
do início ao fim corretamente. Nessa hora, ficaram bastante satisfeitos com o
resultado que alcançaram, o que possibilitou que o professor lhes transmitisse a
idéia de que a perseverança traz resultados positivos a qualquer área de interesse
do indivíduo. Abaixo se encontra a transcrição do trecho:
Os alunos acabam de executar a música que estavam treinando.
L. O. G.: - Agora saiu!
R.M.: - Êba! Agora ficou legal! (levantando os braços).
Professor: - Legal, né? Viu? Então, tem horas que tem que se concentrar... Certo?
Vocês perceberam que, às vezes, pra você conseguir um resultado bom, você
precisa o quê?
L. W. P.: - Silêncio...
Episódio 8 Ensaio Geral (Décimo quarto encontro) 0:52:12 a 0:59:15
197
Professor: - Silêncio pra quê? Pra poder se concentrar e treinar... E isso pra
qualquer coisa na vida... Se você quer ser jogador de futebol, o que precisa?
L. W. P.: - Precisa a bola, professor...
Professor: - Certo, e o que mais? Precisa se concentrar, pra treinar, certo, até
conseguir acertar os chutes..,Ó, se você quer ser advogado, você precisa o quê?
L. O. G.: - Você precisa ter cliente, professor! (brincando).
Professor: - Certo, mas pra virar advogado, precisa o quê? Treinar muito. O que é
isso? Ler muito livro, fazer silêncio pra poder treinar bastante as leis... Entenderam,
pra qualquer coisa na vida...
A análise microgenética nos sugere que o trabalho realizado apresentou
inúmeros momentos propícios à aquisição de benefícios extra-musicais no aspecto
intrapessoal, especificamente em relação ao cooperativismo, criatividade,
perseverança e auto-estima.
3) RESUMO DOS RESULTADOS DA ANÁLISE MICROGENÉTICA
199
CAPÍTULO 7
201
Uma vez que diferentes instrumentos de medida foram utilizados em nossa
pesquisa, faz-se necessário que discutamos os dados encontrados de maneira
sincrética, em busca de uma visão ampla do fenômeno.
Em primeiro lugar, é preciso relembrar que as quatro técnicas de coleta de
dados utilizadas apresentaram diferentes finalidades: Uma resultou em uma
descrição do trabalho e levantamento de indícios de situações favoráveis à
aquisição de benefícios diversos (análise microgenética). Outra cnica, o teste
projetivo, ocupou-se da avaliação de aspectos do inconsciente dos educandos,
sendo abrangente por trazer dados referentes a 38 diferentes traços de
personalidade. Os outros dois instrumentos (EMAE e entrevistas semi-
estruturadas) trataram especificamente do constructo auto-estima, sendo o
primeiro um levantamento de dados objetivos e, o segundo, um método semi-
estruturado com orientação qualitativa. Devido aos direcionamentos surgidos nessa
discussão, organizamos a presente seção de maneira tripartida: 1) Conseqüências
extra-musicais percebidas
15
, 2) Detalhamento referente à auto-estima, 3) A
importância da participação familiar à aquisição de benefícios extra-musicais.
Este tópico será norteado pelos dados oriundos do HTP, dada a maior
abrangência deste instrumento de coleta em relação a variados aspectos do
indivíduo, mas, concomitantemente, citaremos informações provenientes dos
outros instrumentos utilizados. Abaixo estão elencados os benefícios psicológicos
de maneira hierárquica de acordo com a magnitude da diferença percebida ao final
do curso entre os dois grupos (diferentes itens com números iguais denotam uma
15
Uma vez que as análises não demonstraram somente aspectos positivos manifestados pelos
alunos do curso de música, mas também um traço negativo, julgamos mais adequada a utilização
do termo “conseqüência”, em detrimento de “benefício”.
1) CONSEQÜÊNCIAS EXTRA-MUSICAIS PERCEBIDAS
202
mesma colocação no ranqueamento).
1) Diminuição de conflitos (62,5% a mais no grupo experimental)
Apesar do fato de que esta foi a diferença mais significativa percebida entre
os grupos, não muitas hipóteses a este respeito, uma vez que, conforme consta
no capítulo quatro, não localizamos estudos que tratam de tal relação. Para que se
possa sugerir alguma possível explicação, devemos, antes de mais nada, tentar
compreender o sentido deste traço psicológico: Tal substantivo, por ter sido
utilizado de maneira genérica, nos remete às mais variadas dificuldades
psicológicas encontradas pelo indivíduo, em variados momentos de sua vida.
Pensando no microcosmo específico de nosso estudo, ou seja, a adolescência,
pode-se especificar um pouco mais o sentido deste termo.
Para Erikson (1950), o conflito-mor da adolescência seria o que ele chama
de “crise da identidade”, que pode ser entendida como um tempo de procura por
um novo senso de self, composto por antigas e novas concepções adquiridas a seu
respeito.
Outros autores indicam ainda algumas crises típicas desta fase de vida,
dentre as quais se destacam a necessidade de independência; hostilidade para
com as figuras representativas de autoridade; conflitos de estudo e trabalho, atritos
familiares (muitas vezes relacionadas ao divórcio dos pais), vicissitudes referentes
a temas morais (como, por exemplo, discussões sobre gravidez e aborto), e
também a escolhas amorosas.
Também se destacam os conflitos referentes à esfera sexual: Para Santrock
(1994, p. 25), estes seriam originados da incongruência entre o processo de
maturação corporal e as normas sexuais repressoras, que são transmitidas, muitas
vezes, pelos pais. Poderíamos, então, lançar a seguinte questão: Pode realmente a
participação no referido curso de Música ter contribuído para com a estabilização
de conflitos desta natureza? Acreditamos não haver, aparentemente, uma relação
direta entre a atividade musical e conflitos sexuais e conflitos de estudo e trabalho,
por exemplo. Entretanto, uma vez que, conforme a concepção eriksoniana, esta
203
fase se caracteriza pela busca da identidade, é possível imaginar-se que, a partir
do momento em que o adolescente se conscientiza de uma habilidade que possui
(no caso específico, a habilidade musical), favorece-se, em última instância, o auto-
conhecimento por parte deste sujeito. Esta maior auto-percepção, por sua vez,
poderia contribuir para que se consolidasse seu senso de identidade, diminuindo,
assim, o nível global de conflitos do adolescente.
2) Melhoria das relações familiares (50% a mais no grupo experimental)
O HTP indica que 50% dos alunos do grupo experimental apresentaram
melhoria das relações familiares, ao final do curso.
É possível que o curso tenha propiciado maior desenvolvimento dos
educandos, de maneira que os mesmos passassem a sentir-se mais seguros de si
e, por conseguinte, mais tolerantes no microcosmo familiar. Paralelamente, pode
ter havido percepção, por parte dos pais, e também dos irmãos, de uma nova
habilidade adquirida por seus filhos a capacidade de executar um instrumento
musical de maneira que os mesmos pudessem valorizar seus filhos de maneira
mais acentuada do que já vinham fazendo.
2) Tendência a devaneios e fantasias (50% a mais no grupo experimental)
Dentre todas as diferenças significativas, esta foi a única que apresentou
teor negativo em relação ao grupo experimental. Isto porque a tendência a
devaneios e fantasias é, muitas vezes, empecilho à efetivação de tarefas mais
objetivas, ligadas ao concreto, uma vez que o sujeito tende a se prender em
aspectos fantasiosos e se distancia, assim, da realidade. Esta falta de percepção
da realidade pode ser considerada um problema, na medida em que não há,
nestes casos, modo do sujeito agir da forma adequada, realista e compatível com
suas próprias características e aspectos do ambiente que o cerca.
É complexo supormos alguma reflexão que demonstre possíveis relações
204
entre o trabalho de ensino musical observado e este aspecto psicológico em
específico, uma vez que não foi localizado, em nenhum momento de nossa revisão
bibliográfica, qualquer pesquisa referente a isso. Contudo, poderíamos supor que o
trabalho com Arte, voltado muitas vezes para o pensamento divergente,
imaginativo, tem o potencial de exercer influência tal nos educandos a ponto dos
mesmos apresentarem um padrão cognitivo relativamente distanciado do
pensamento concreto, factual. Atividades de composição musical, por exemplo,
poderiam exercitar este sistema de pensamento, uma vez que supõem uma
postura imaginativa, abstrata, por parte do aluno.
3) Diminuição do sentimento de inferioridade e baixa auto-estima (37,5% a
mais no grupo experimental)
É interessante perceber que, dentre os alunos do grupo experimental que
apresentaram diminuição de sentimento de inferioridade e baixa auto-estima,
33,33% apresentou melhoria mais acentuada que os demais alunos, tendo, além
da diminuição do sentimento de inferioridade, uma efetiva melhoria da auto-estima.
A análise microgenética e as entrevistas confirmam o resultado, como
pudemos ver no capítulo anterior. Dentre os fatores que cremos terem
possivelmente propiciado tal resultado, podemos citar: a emissão de elogios, a
presença de um clima democrático em sala, a utilização da regulação integrada ao
invés da regulação introjetada (ao invés de dar ordens, mostram-se aos alunos
razões plausíveis para o pedido que se quer fazer, de maneira que os mesmos
possam ter a sensação de escolha, e não de submissão); a presença do nome de
cada aluno na pasta que o mesmo utilizaria nas apresentações em público;
existência de elogios nos materiais didáticos no programa de curso, apresentado
na primeira aula, já constava a afirmação de que os alunos que foram selecionados
ao curso eram inteligentes (vide ANEXO VI); realização de atividades de
composição e execução em sala, para que os outros colegas pudessem ver e
aplaudir; a eleição de um ajudante do professor, em cada aula, que tinha seu nome
205
escrito em uma placa afixada ao lado do quadro-negro, além do recebimento de
um certificado ao final do curso (vide ANEXO VIII).
3) Diminuição da sensação de pressão por parte do meio (37,5%)
A “pressão por parte do meio” pode ser definida como a presença de
elementos intimidadores no ambiente que cerca o indivíduo. Não temos
conhecimento de bibliografia que aborde relação entre a Educação Musical e tal
constructo, e também não dispomos de muitas deduções hipotéticas, explicativas,
em referência a tal tópico. Todavia, poderíamos supor que as crianças, antes de
participarem do curso, apresentavam desempenho escolar mais reduzido que o de
seus colegas, (uma vez que os alunos participantes foram selecionados por terem
auto-estima reduzida e muitas vezes o mau desempenho escolar se correlaciona
positivamente com uma baixa auto-estima) e, por esse motivo, serem motivos de
zombaria por parte dos colegas. Assim, ao participarem das aulas de Música e
verem florescer uma nova habilidade, podem ter fortalecido sua auto-percepção
geral e, por conseguinte, podem ter transferido esta sensação para o microcosmo
escolar, de forma que o mesmo não mais lhes apresentasse tamanha ameaça.
Também se pode inferir que, pelo fato de que o trabalho ocorreu em um ambiente
permeado por relações afetivas saudáveis, isento de cobranças excessivas, a
chance de que se desenvolvesse a percepção de pressão por parte do meio se
reduzia, uma vez que, em linhas gerais, quanto mais cobrança, mais chance
de haver ansiedade e, portanto, tal sentimento.
4) Melhoria da sociabilidade (33,33% a mais no grupo experimental)
De forma convergente ao que estudos que trataram do tema Música e
sociabilidade (FORRAY, 1997; ORIOL E PARRA, 1979) nos sugerem, o HTP indica
que o curso teve um reflexo positivo na sociabilidade dos sujeitos envolvidos. A
análise microgenética corrobora o achado, por citar indícios de desenvolvimento do
206
cooperativismo, uma faceta da sociabilidade.
Pelo fato de que muitas das atividades empreendidas eram levadas a cabo
por meio de realizações coletivas, cremos que realmente o curso pode ter
propiciado uma melhoria em tal característica. Dentre estas atividades, podemos
citar a atividade do quebra-cabeças, na qual os alunos tinham que treinar partes
específicas da música; a atividade Minha música, na qual os alunos ensinavam
seus colegas a executarem a peça que haviam composto; além das atividades de
prática de regência, por exemplo, nas quais os aprendizes executavam a música
ao comando de algum de seus colegas. O fato do HTP ter indicado também uma
diminuição da dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo (33,33% no
grupo experimental), reforça a idéia do incremento das habilidades sociais das
crianças que participaram do curso de ensino musical.
A análise microgenética levantou indícios ainda de alguns outros aspectos
que o se fizeram presentes dentre as principais conseqüências do HTP: a
criatividade e a perseverança. O paradigma indiciário, utilizado na análise
microgenética, nos leva a crer na efetiva potencialização destes traços, uma vez
que diversas situações consideradas favoráveis a tais aspectos foram identificadas
no trabalho observado (para maior detalhamento a esse respeito, vide capítulo
6.1). Entretanto, não nos alongaremos em relação a estas conseqüências, que
tais aspectos não foram corroborados por nenhum dos outros instrumentos.
Uma vez que três foram os instrumentos que se relacionaram ao constructo
auto-estima, algumas informações adicionais devem ser expostas, em relação a
este traço de personalidade.
Conforme pudemos ver nos capítulos anteriores, apesar de três dos
2) DETALHAMENTO REFERENTE À AUTO-ESTIMA
207
diferentes instrumentos de coleta de dados utilizados (EMAE, HTP e entrevistas)
terem mensurado o mesmo constructo (no caso do HTP, não exclusivamente
dirigido a este constructo, mas também sensível a ele), os mesmos nos
demonstram resultados divergentes: ao passo que o HTP e as entrevistas semi-
estruturadas sinalizam um aumento significativo da auto-estima dos alunos que
participaram da aula de música, a EMAE não demonstra tal aquisição. Indo além,
podemos notar que, qualitativamente, o EMAE indica menor aquisição de auto-
estima dos alunos do curso de música, em comparação aos que não participaram.
A partir disso, propomos que, uma vez que ambos os testes trazem
resultados bastante diferentes, poderíamos supor que os mesmos não medem
exatamente o mesmo constructo. Ou melhor, esses diferentes instrumentos
poderiam estar medindo diferentes tipos de auto-estima. Desta maneira, teríamos
uma auto-estima detectável por declarações verbais, objetivas e, por outro lado,
uma auto-estima mais associada aos mecanismos inconscientes, investigável,
portanto, por meio de dados projetivos. É exatamente isso que nos diz a CEST
(Cognitive-experential self theory), que poderia ser traduzida, para o português,
para TSCA (Teoria do Self Cognitivo-afetivo), teoria contemporânea de
personalidade desenvolvida por Epstein e Morling (1995). Esta linha de
pensamento entende que o ser humano responde ao mundo por meio de duas
vias: a racional - que opera no nível consciente e se norteia pela lógica e pelas
ações a longo prazo - e a afetiva que se associa às emoções e se relaciona às
ações imediatas. Embora os sistemas sejam independentes, eles interagem e o
comportamento é quase sempre influenciado por ambos. Geralmente estes são
sincronizados de maneira que as pessoas vivenciam um sistema único, havendo,
entretanto, situações nas quais estes dois aspectos entram em conflito.
Havendo, portanto, dois modos de interpretação do mundo, há também duas
maneiras de compreender o self e, por conseguinte, duas auto-estimas
diferenciadas: a chamada auto-estima implícita, ou seja, aquela proveniente das
respostas afetivas do sujeito, e a auto-estima explícita, que é a avaliação mais
cognitiva do sujeito em relação a si mesmo, ou seja, os sentimentos que ele julga
208
ter, racionalmente, a seu respeito.
Tendo em vista esta premissa, chegamos ao ponto-chave desta discussão:
o fato de que as duas diferentes auto-estimas citadas são mensuradas de
maneiras distintas. Os testes objetivos, valendo-se da via de comunicação verbal,
de expressão calcada em aspectos racionais, cognitivos, se adéqua à captação da
AE explícita, uma vez que esta se baseia na auto-avaliação cognitiva do indivíduo.
Por outro lado, em relação à AE implícita, temos panorama diverso: sendo
esta uma auto-avaliação de ordem afetiva, e tendo o indivíduo duas interpretações
de mundo nem sempre coincidentes, conforme vimos anteriormente, é razoável
termos em mente o fato de que nem sempre o sujeito expressará sua auto-
avaliação implícita através de palavras. Ou seja, quando se solicita que o mesmo
fale, ou complete um questionário, a respeito do que julga pensar a seu respeito,
nem sempre suas respostas retratarão fielmente suas auto-avaliações situadas no
plano do inconsciente. Diga-se de passagem que a tendência geral apresentada
por diversos estudos, como, por exemplo, o de Savin-Williams e Jacquish (1981
apud Epstein e Morling, 1995); Bosson et al (2003); além de Jordan et al. (2003), é
a de que há correlações apenas modestas entre diferentes métodos de medição,
como, por exemplo, auto-relato e escalas de comportamento. Isto porque há muitos
fatores que, apesar de influenciarem nossas avaliações e comportamentos
diariamente, não são percebidas conscientemente pelo indivíduo. Conforme nos
indicara Pelham et al. (2005 apud Dijksterhuis, Albers e Bongers, 2007, tradução e
grifo nosso), “algumas pessoas podem ter melhor acesso (do que outras) às reais
concepções que têm a seu respeito”.
Neste caso, tem-se claro o fato de que a AE implícita não pode ser
mensurada através de testes objetivos, que se valem fundamentalmente da via
verbal. Adéquam-se, neste sentido, as categorias psicométricas dirigidas ao plano
do inconsciente, dentre as quais podemos citar: tabelas de indicadores de
comportamentos diários, testes de apercepção temática, medições sobre
condições estressantes em relação a tempo ou carga de atividades, provas de
associação de palavras e testes projetivos de desenho.
209
A última categoria citada (testes projetivos de desenho) foi justamente a
empregada em nossa pesquisa: a realização do HTP. Neste sentido, podemos
afirmar que os instrumentos aos quais lançamos mão não mensuraram exatamente
os mesmos constructos: ao passo que a EMAE verificou o nível de auto-estima
explícita de cada educando, por tratar do tópico verbalmente, o HTP se ocupou da
auto-estima implícita, o que nos fornece, assim, uma visão mais abrangente do
constructo
16
.
Vejamos, então, os principais achados através das análises dos
instrumentos, alicerçando-nos, a partir de agora, na teoria citada.
A EMAE indica um incremento de auto-estima maior em relação ao grupo
controle do que em relação ao grupo experimental, porém o HTP e as entrevistas
indicam melhoria significativa da auto-estima do grupo experimental. Este resultado
pareceria paradoxal em primeira instância, porém, se olhado sob a ótica da teoria
de Epstein e Morling, torna-se perfeitamente aceitável, uma vez que, como vimos,
existem duas diferentes auto-estimas em níveis que não necessariamente devem
coincidir.
Sendo assim, os dados nos mostram um aumento da auto-estima implícita
dos alunos que se submeteram a aula de Música, porémo da auto-estima
explícita. Agora, resta-nos saber: pode ser este resultado considerado uma
conseqüência positiva do curso?
Revisões bibliográficas empreendidas nos levam a crer que sim, uma vez
que os estudos nos indicam que, apesar de ambas as modalidades de auto-estima
refletirem a auto-estima global do indivíduo, a auto-estima explícita amiúde é
construída ativamente pelo sujeito, sendo, assim, sujeita a fatores como
desejabilidade social, estilo de auto-apresentação, falsa modéstia, etc... Como bem
metaforizaram Dijksterhuis, Albers e Bongers (2007), “se a auto-estima explícita é
16
A convergência do HTP para com a medição da auto-estima implícita e, ao mesmo, da EMAE
para com a medição da auto-estima explícita já fora bem demonstrada no estudo de Silva e
Villemor-Amaral (2006), que discute a evidência de validade entre esta escala e dois testes
projetivos, o CAT-A e o HTP.
210
arquitetura, a auto-estima implícita é arqueologia”. Sendo assim, explicita-se o fato
de que a auto-estima implícita é, grande parte das vezes, mais fiel à “auto-estima
central”
17
do que é a auto-estima explícita.
Adiciona-se a isto o fato de que, uma vez que a consciência reside no
cérebro, os processos conscientes são necessariamente precedidos por processos
inconscientes, o que estabelece que não é possível crer-se que haja consciência
de aspectos afetivos sem antes vivenciá-los. Desta maneira, clarifica-se uma
coexistência hierárquica das duas modalidades de auto-estima, na qual a auto-
estima implícita reflete com mais fidelidade a auto-estima central do indivíduo.
A relação estreita da auto-estima implícita com o comportamento do sujeito
é ratificada quando verificamos os traços que, segundo estudiosos, correlacionam-
se positivamente com a uma auto-estima implícita satisfatória: capacidade de
desempenho sem ansiedade em entrevistas (SPAlDING e HARDING, 1999);
habilidade de superar eventos ameaçadores ao autoconceito (Dijksterhuis, 2004,
Greenwald e Farnham, 2000; Jones et al, 2002; SPALDING e HARDING);
capacidade de manter a auto-estima elevada sem ter de lançar mão de recursos
não saudáveis, como agressão, auto-decepção ou humilhação de terceiros
(DIKSTERHUIS, 2004), capacidade de manter bom estado de espírito após retorno
negativo, além da menor necessidade de responder agressivamente após um
insulto (BACCUS, BALDWIN e PACKER, 2004).
Já, em relação ao grupo controle, transparece uma pontuação alta em auto-
estima explícita, porém baixa em auto-estima implícita, o que denota uma auto-
avaliação denominada pelos pesquisadores de “auto-estima alta e frágil”. Esta
outra modalidade de auto-estima discrepante (assim chamada por não apresentar
coincidência entre os níveis das duas diferentes auto-estimas) apresenta traços
característicos: Segundo os estudos de Jordan, Spencer, Zanna, Hoshino-Browne,
and Correll (2003), pessoas com esta modalidade de auto-estima têm maior
propensão ao narcisismo, defensividade e preconceito.
17
“Auto-estima central” é termo utilizado por Dijksterhuis, Albers e Bongers, 2007, para definir a
auto-estima resultante da auto-avaliação explícita e implícita do indivíduo.
211
Concluindo...
Pode-se dizer, então, que os resultados da análise inter-grupos sugerem
que o trabalho de ensino musical aqui avaliado teve influências importantes em
relação ao constructo auto-estima, uma vez que estas influências perpassaram o
aspecto puramente verbal, atingindo a esfera do inconsciente dos participantes.
Este resultado é congruente à proposição de Dijksterhuis, Albers e Bongers (2007,
p. 12), uma vez que os mesmos demonstram que tanto a auto-estima implícita
quanto a explícita podem ser modificadas, ao menos por um período breve de
tempo, através de manipulações experimentais diversas.
Nova contribuição ao debate Música e Auto-estima
Se nos remetermos ao capítulo quatro, nos recordamos do panorama não
conclusivo das investigações referentes à Música e auto-estima: Conforme
exposto, na página 15, “Enquanto alguns estudos (BARRY, 1992; ACER, 1987,
JENLINK, 1993) demonstram um reflexo positivo da Música em relação à auto-
estima, outros divergem deste resultado (LEGETTE, 1994; LINCH, 1994;
ZIMMERMANN, 2001)”, não havendo, assim, resultado unívoco em relação à
interface entre a Música e este aspecto psicológico. Ora, a partir dos dados
encontrados no presente estudo, podemos agregar novas informações ao tema:
É possível supor-se que os estudos localizados nesta revisão bibliográfica
não tenham considerado, em suas discussões, as especificidades dos diferentes
tipos de auto-estima (explícita e implícita). Desta maneira, seria possível que as
técnicas psicométricas utilizadas em cada uma dessas pesquisas não tenham sido
equivalentes, ou seja, relacionadas à mesma espécie de auto-estima enquanto
em alguns estudos seriam utilizados testes objetivos, em outros, as cnicas de
apercepção temática ou associação de palavras se fariam presentes, por exemplo.
Uma vez que tais técnicas não trazem dados sobre o mesmo constructo, seria cil
compreender o porquê da divergência notada entre os resultados.
Os dados resultantes da presente pesquisa, ao demonstrarem benefício em
212
uma das auto-estimas, mas não em outra, sinalizam uma nova visão ao tópico, e
assim é possível que os estudos que indicaram melhoria tenham mensurado a
auto-estima implícita ao passo que os estudos que não demonstraram relação
significativa podem ter lidado com a auto-estima explícita.
A presente pesquisa traz, assim, uma maior compreensão do paradoxo que
estudos anteriores referentes a este tema sinalizavam. Temos, assim, a noção de
que o ensino musical propiciou, ao menos neste caso em específico, melhorias em
relação à auto-estima implícita, mas não da auto-estima explícita.
Ainda outro ponto da análise inter-grupo deve ser citado: Conforme discutido
anteriormente, o florescimento de aspectos psicológicos positivos se mostrou
potencializado em relação aos alunos que tiveram maior participação da família em
seu processo de aprendizado (para discussões mais detalhadas, vide cap. 6.3).
Julgamos ser tal proposição bastante coerente, uma vez que a mesma encontra
ressonância em toda uma bibliografia referente à relação família-escola que
defende ser a participação dos pais um fator de potencialização do
desenvolvimento cognitivo do aluno. Diversos autores defendem que a interação
pais-escola resulta em fatores como: melhoria do rendimento escolar (Walberg,
Bole, & Waxman, 1980; Henderson, 1987), diminuição das faltas e repetências,
além da redução dos problemas de comportamento (Comer, 1980). Algumas
verbalizações de professoras, descritas por Nogueira, Romanelli e Zago (2000),
exemplificam bem o proposto: “Os pais dos alunos com dificuldades de
aprendizagem são exatamente aqueles que não comparecem às reuniões”; “Eu
mando lições e pesquisas para casa, e o menino vem me dizendo que seu pai ou
mãe não teve tempo de ajudá-lo”.
3) A IMPORTÂNCIA DA PARTICIPAÇÃO FAMILIAR
À AQUISIÇÃO DE AUTO-ESTIMA
213
Em relação aos alunos que possuem apoio da família, os resultados
costumam ser diferentes, fato este que foi verificado no curso que observamos: No
caso de R.M, 12 anos, o suporte familiar se deu não através da participação de
seu irmão na apresentação de final de curso, como ouvinte, mas também pelo fato
de que seu irmão também toca violão. Neste caso, em específico, supomos que a
aluna possa ter compartilhado momentos de execução musical em casa, tocando
com seu irmão e mostrando a ele o que tinha aprendido em classe. Assim, no caso
de R. M., 13 anos, não discrepância entre o microcosmo familiar e o
microcosmo de aprendizado musical, havendo, assim, uma continuidade, um
reforço dos conteúdos aprendidos em sala, reforço este que pode ter resultado em
maior domínio do conteúdo e, por conseguinte, em maior aquisição de benefícios
extra-musicais.
L. O. G., 11 anos, por sua vez, parece ter tido a participação familiar através
de um outro mecanismo: a mãe do aluno demonstrava evidente interesse em
relação a seu desempenho na aula. Adiciona-se a isto o fato de que, no episódio
no qual a mãe do aluno indagava o professor a respeito do desempenho de seu
filho, o aluno também se fazia presente. O professor, afirmando que o aluno estava
indo bem, que era “um dos melhores” alunos que tinha, certamente contribuiu para
que se estabelecesse uma sensação de auto-valor satisfatória por parte do aluno.
A expectativa e a avaliação parental geralmente norteia muitas das
aspirações e atitudes das crianças e adolescentes, fato este já indicado por
inúmeros estudiosos como, por exemplo, Winicott e Coopersmith. Uma vez que os
pais demonstram afeto positivo em relação aos feitos musicais da criança, essa
na realização destas atividades a possibilidade de causar prazer aos pais e,
portanto, a probabilidade de ter a aprovação de um outro significante (no caso,
seus pais).
Em resumo, percebemos que o suporte familiar ocorreu através de
diferentes maneiras de indivíduo para indivíduo, valendo-se de diferentes
mecanismos psicológicos, e contribuiu para a maior aquisição cognitiva e afetiva
dos sujeitos avaliados.
215
CAPÍTULO 8
217
Após tantas pesquisas de campo, revisões bibliográficas, entrevistas,
observações, deduções e revisitações a nosso tema de pesquisa sob diferentes
prismas, é chegada a hora de sumarizar nossos achados e relacioná-los a nossas
questões primeiras.
Conforme seção introdutória, constante na gina, todos os esforços
empreendidos neste trabalho de mestrado tiveram como pretensão “delinear um
trabalho científico que trate dos efeitos extra-musicais das aulas de Música e possa
fornecer informações relevantes aos educadores musicais. Informações estas que
possam embasar as argumentações destes profissionais em relação a justificativas
de sua atuação e, por conseguinte, que contribuam para com uma possível
reversão do quadro de ausência da música da grande maioria das salas de aula de
nosso país”.
Tendo em vista este intento, pode-se dizer que o objetivo a que nos
propusemos inicialmente foi plenamente alcançado, uma vez que foram reunidos,
por meio das investigações, dados relevantes sobre os benefícios extra-musicais
das aulas de Música e, mais do que isso, informações de cunho político,
econômico e estético relevantes à compreensão do atual panorama do ensino
musical gratuito no ensino médio brasileiro.
Vejamos, então, quais foram as principais conclusões às quais chegamos ao
final desta pesquisa:
1) O curso de Música com duração de três meses, avaliado em nossa pesquisa,
apresentou benefícios psicológicos significativos aos adolescentes envolvidos.
Conforme discutido no capítulo anterior, pôde-se ver uma diferença
estatística significativa entre as aquisições de benefícios psicológicos dos alunos
que participaram do curso avaliado e as aquisições dos alunos que o
participaram. Os cinco diferentes benefícios evidenciados, do mais para o menos
significante estatisticamente, foram: Diminuição de conflitos psíquicos, melhoria
218
das relações familiares, diminuição do sentimento de inferioridade e baixa auto-
estima, aumento da auto-estima implícita, diminuição da sensação de pressão por
parte do meio e melhoria da sociabilidade. Percebeu-se ainda um outro aspecto,
que aqui caracterizamos como negativo: maior tendência ao devaneio e à fantasia
dos alunos que participaram do curso de Música.
2) O curso apresentou melhoria de auto-estima implícita, porém não da auto-estima
explícita.
Conforme visto anteriormente, pesquisas realizadas até o presente
momento, em relação ao tema Música e auto-estima, demonstravam pontos de
divergência: ao passo que muitas delas apontavam ganhos na auto-estima, como
decorrência da participação em aulas de Música, outras não demonstravam tal
correlação. O presente trabalho, por lidar com este constructo sob diferentes
pontos de vista, traz uma nova contribuição, uma vez que aponta um aumento da
auto-estima implícita, porém não da explícita.
3) A participação da família no processo de ensino-aprendizagem potencializa a
melhoria em auto-estima implícita.
Percebeu-se que o suporte familiar, seja através da participação dos pais
nas apresentações, seja por meio da existência de um familiar que tenha ligação
com música, ou pela manifestação de interesse pelo desempenho do filho,
contribuiu para uma maior aquisição de auto-estima implícita por parte dos alunos.
4) O aproveitamento das potencialidades específicas de cada aluno potencializa a
melhoria da auto-estima implícita.
Isto foi concluído a partir da verificação de maiores ganhos da auto-estima
implícita de uma aluna que se destacou através da execução vocal, habilidade que
não era o objetivo principal do curso.
219
5) Não falta ao educador musical uma oportunidade de trabalho na escola pública
de ensino fundamental, mas sim a iniciativa do próprio profissional de ocupar seu
espaço em potencial, garantido pelos PCN 99.
Conforme vimos no terceiro capítulo da presente dissertação, os PCN 99,
norteadores das condutas pedagógicas vigentes a partir da LDB de 96 (lei 9394),
propõem a prática da Música no ensino médio, ao lado de outras três formas
artísticas, porém, não definem que todas as artes deverão se fazer presentes,
podendo, a escola, optar entre uma ou algumas das quatro artes. Como resultado
de uma espécie de inércia à tradicional predominância das Artes Plásticas no
ensino médio, percebemos que tal decisão, com exceção a algumas poucas
escolas, prima pelo ensino das Artes Visuais. Não é coerente imaginar-se que as
escolas, no atual panorama educacional, primem pelo professor de Música, ainda
que tal espaço lhe seja sugerido por lei. Cabe, então, ao próprio educador musical,
a busca de seu espaço em potencial nas escolas públicas
6) Estima-se que a partir de 2010 haja maior inserção do educador musical na
escola pública brasileira.
A detecção da “virada histórica” do ensino superior de Música no Brasil,
ocorrida em 2006, permite que estimemos uma maior inserção do educador
musical no ensino público a partir de 2010, uma vez que, por ser a formação do
licenciado concluída, em média, em quatro anos, haverá mais formandos em
Educação Musical do que em Educação em Artes Visuais neste ano em específico.
Com base nas diferentes conclusões acima expostas, temos consciência de
que nos encontramos em um momento crucial de colheita dos frutos que
semeamos nesse período de três anos. Como forma de prover um retorno deste
investimento acadêmico para com a classe da Educação Musical e, por
conseguinte, para com a sociedade brasileira como um todo, confeccionamos, nos
parágrafos seguintes, uma listagem de medidas que, se tomadas pelos educadores
220
musicais, a nosso ver, poderão contribuir para a reversão do quadro de ausência
da Música do ensino médio gratuito. É, em essência, a forma de aplicação dos
resultados desta pesquisa:
Subdividiremos as medidas em dois tópicos principais, ligados a diferentes
objetivos: 1) Medidas para criação de novos espaços de ensino musical e 2)
Medidas para melhoria do ensino musical já desenvolvido.
Chegamos ao final da pesquisa despojados de uma esperança inocente de
que possam haver novos incentivos “de cima pra baixo”, ou seja, de que os
governantes criem novas oportunidades para a Educação Musical e recrutem os
profissionais necessários a esta realização. Isto seria, em realidade, um esforço em
direção à educação completa, à formação de qualidade e abrangência para as
camadas carentes da população, o que, conforme pôde ser visto no capítulo,
parece estar longe das concepções da maioria dos governantes de nosso país.
Neste sentido, defendemos a idéia de que um procedimento efetivo seria
uma maior aproximação dos educadores musicais em relação a este nicho de
atuação, que, como foi visto, se por um lado não uma garantia legal da
Educação Musical na esfera pública, por outro um espaço em potencial para
sua existência. A ocupação deste espaço não caberá, sendo assim, aos políticos,
aos administradores, nem aos diretores. Caberá, sim, aos próprios professores de
Música. Neste sentido, não propomos, por exemplo, a inclusão de uma disciplina
de Educação Musical a nível federal ou estadual (ao contrário do que propõem
autores como, por exemplo, os educadores musicais que compuseram o Simpósio
Nacional de Ensino Musical de 1987, conforme citado por Nogueira, 1996, p. 6).
Isto seria, a nosso ver, uma proposta bastante utópica, dado o atual panorama
1) Medidas para a criação de novos espaços de ensino musical
221
precário da escola pública e a concepção vigente do sistema educacional de nosso
país, concepção esta que prioriza a formação básica para a atuação no mercado
de trabalho e não atribui importância ao desenvolvimento de atividades mais
humanistas, como seria o caso da prática da Arte.
Dentre ações que poderiam ser levadas a cabo com o intento de promover
esta maior aproximação entre os educadores musicais e o espaço de ensino da
escola pública, poderíamos citar:
1) Inserção do professor de Música na docência da disciplina Artes
(Educação Artística)
18
O número de profissionais graduados em Música que atuam no ensino
público fundamental é bastante reduzido. Para exemplificar a afirmação, podemos
citar Penna (2004, p. 8) que, realizando pesquisa junto a 152 escolas públicas
estaduais e municipais da Grande João Pessoa, capital da Paraíba, constatou que
apenas 4,8% dos professores de Educação Artística daquela rede de ensino
possuíam formação específica em Música.
É preciso notar que, em muitos casos, a própria prova que é ministrada no
momento de contratação de professores é parcial, por conter o maior número de
suas questões específicas relacionadas às Artes Plásticas, e não às outras
modalidades. Nesse sentido, se mostra necessária uma ação política em prol da
modificação do conteúdo abordado em prova, a exemplo do que ocorrera no Pará,
em 2002: Nesta ocasião, houve um concurso público para contratação de
professores de Educação Artística na rede estadual, sendo que as provas
demonstraram prioridade dos conteúdos de Artes Cênicas e Artes Plásticas, em
detrimento da Música e da Dança. Um grupo de educadores musicais organizou
uma ação, com o apoio da ABEM (Associação Brasileira) e conseguiu promover
uma modificação do conteúdo do concurso, que passou, deste modo, a incluir
18
Aqui expomos as duas nomenclaturas porque a disciplina de Educação Artística está em vias de
ter, devido aos últimos PCNs, seu nome modificado para “Artes”.
222
conteúdos referentes à Música.
No tocante a este movimento de maior inserção dos educadores musicais na
escola pública, algumas dúvidas podem surgir:
Poderá o professor de Música que entrar para a escola pública ensinar Música
mesmo ou terá de abordar conteúdos de outras formas de Arte, que não domina?
Ou seja, pleiteando, o licenciado em Música, uma vaga ao ensino de Artes,
e não somente de Música, poderá o mesmo aplicar os conhecimentos musicais
que possui de forma aprofundada, ou deverá ele dividir o conteúdo do ano entre as
quatro formas artísticas? Temos, assim, o velho dilema entre a polivalência e a
concentração em uma determinada linguagem.
A opção pela polivalência parece trazer consigo a superficialidade no
tratamento das diferentes formas de expressão artística. Isto porque a
responsabilização de um único profissional pelo ensino, efetivo, de quatro
diferentes modalidades artísticas é algo inexeqüível, dadas as especificidades de
cada uma destas formas de expressão. Por outro lado, o trabalho com apenas um
conteúdo o permite que haja uma visão geral de todas as formas artísticas.
Assim, não é possível que sejam descobertos os potenciais de alguns alunos para
determinadas formas de arte, que estas estariam, assim, suprimidas do
processo. Além disso, a concentração em um conteúdo traz consigo a
possibilidade de não haver uma continuidade de aprendizado entre uma série e
outra, que professores de diferentes séries poderiam optar por linguagens
artísticas diferenciadas, de acordo com suas formações.
Cremos que o ideal seja o ensino de cada linguagem artística por
especialistas em séries separadas. existem, atualmente, alguns esforços no
sentido de realizar o trabalho nesses moldes. Algumas escolas de Guarulhos, por
exemplo, no interior de São Paulo, realizam o ensino de Arte distribuindo, para
cada ano letivo, uma Arte específica, contando com especialistas de cada área, de
forma condizente com nossa proposta. Assim, se, por exemplo, na sexta série é
223
praticada a Dança, na sétima ocorre trabalho com Artes Visuais, na oitava com
Música e no Primeiro ano do Ensino Médio, as aulas de Teatro.
Entretanto, faz-se necessário que mantenhamos nossos pés no chão:
apesar de vermos exemplos como o supracitado, ao pensarmos em larga escala,
percebemos que a contratação de profissionais de diferentes áreas envolveria
gastos que não são compatíveis com o orçamento que as escolas estaduais
dispõem. Seriam necessários quatro professores ao invés de um, o que oneraria a
folha de pagamento de maneira bastante significativa. Os trabalhos aos moldes do
que se vê em Guarulhos estariam restritos mais à esfera municipal de cidades mais
desenvolvidas, ou então à rede particular. A todo o resto das escolas públicas
restaria então a presença de apenas um profissional responsável pelo ensino da
Arte.
Sendo o mais possível, assim, a existência de um profissional relacionado
ao ensino de Artes, e o vários, como talvez fosse o ideal, voltamos à nossa
questão inicial: - Uma vez que os PCN sugerem o trabalho com quatro linguagens
artísticas, o profissional que fosse contratado para o ensino de Arte nas escolas
teria que trabalhar com todas as formas de Arte, mesmo que sua formação se
remetesse a uma modalidade em específico? O músico que entrasse na escola
pública teria que dar aulas de Dança, Teatro e Artes Plásticas, também?
Neste sentido, deve-se notar que, se por um lado os PCN explicitam as
linguagens artísticas sugeridas ao trabalho no ensino público, estes documentos
não estabelecem quais serão as abordagens escolhidas, e nem como e quando
as mesmas serão oferecidas. Estas decisões cabem à direção da escola, que a
LDB prevê autonomia a cada instituição, delegando às mesmas a tarefa de
“elaborar e executar sua proposta pedagógica” (Lei 9394/96, Art. 12).
Neste sentido, percebemos que as diretrizes adotadas por cada instituição
vão depender exclusivamente da concepção do coordenador pedagógico de cada
local, uma vez que ele é o principal responsável pela confecção do projeto
pedagógico. A entrevista com a coordenadora pedagógica da Escola Jornalista
Roberto Marinho nos fez compreender como esta divergência se resolve
224
geralmente. Segundo ela, o conteúdo curricular da disciplina Arte é sugerido pelo
professor e enviado para aprovação por parte do coordenador pedagógico. Assim,
os coordenadores, de uma forma geral, têm consciência de que os educadores de
Arte têm formação específica em uma das modalidades artísticas, e por este
motivo, permitem que o professor de Educação Artística, apesar de tratar
brevemente de conceitos referentes às diferentes modalidades artísticas, um
enfoque à sua modalidade em específico.
Devido a este fato, podemos afirmar que, de uma forma geral, a Arte
abordada em cada escola dependerá, em essência, do perfil do educador artístico
aprovado em seu concurso público. Ou seja, o músico poderá enfatizar o ensino de
Música, o dançarino o ensino de Dança, etc... Os possíveis empecilhos à
concretização de trabalhos de ensino musical não se remeterão, assim, a questões
de concepção educacional, mas sim a questões de ordem prática, tais como a
aquisição de materiais, instrumentos musicais, etc...
É possível que o bacharel em Música também lecione na escola pública, ou
somente o licenciado pode pleitear uma vaga?
A resposta a esta questão é: - Sim, porém com menos chances. Conforme
informações coletadas em entrevistas feitas com supervisores de ensino da
Delegacia de Ensino seção Leste, da cidade de Campinas-SP, os bacharéis
podem também concorrer a tais vagas. Entretanto, somente são contratados se,
mesmo após todos os licenciados aprovados ocuparem as vagas, sobrarem postos
de trabalho. Segundo os supervisores de ensino, tal fenômeno é comum na rede
pública e, assim, geralmente os bacharéis são convocados em chamadas
posteriores, alguns meses após as primeiras contratações.
Um dado relevante que deve ser assinalado é que um bacharel com
mestrado ou doutorado em sua área específica continua tendo menos chances que
um licenciado, ao concorrer a tais vagas. Porém, um bacharel com mestrado ou
doutorado em Educação ultrapassa o licenciado que não possui nenhum desses
outros títulos.
225
2) Negociação com a diretoria das escolas municipais
As escolas municipais têm relativa autonomia em relação ao currículo
adotado, podendo, muitas vezes, adicionar matérias que não constam do currículo
padrão estabelecido pelos PCN. Em pesquisa de campo realizada pelo
pesquisador, a coordenação pedagógica de uma escola municipal da região de
Campinas-SP, afirmando que a partir do outro semestre haveria um horário livre,
no qual deveria ser incluída alguma nova disciplina, demonstrou interesse na
realização de um trabalho de ensino musical, fato este que exemplifica uma real
possibilidade de negociação com este âmbito do ensino. Momento oportuno para
tal negociação seria o período dedicado aos estágios supervisionados, nos quais
os alunos da licenciatura em Música entram em contato com as escolas e têm a
chance de demonstrar seu trabalho. Outro aspecto positivo em relação a este nicho
é o fato de que em alguns estados como, por exemplo, São Paulo, Paraná e Santa
Catarina, a rede municipal dispõe de mais recursos do que a rede estadual,
abrindo-se, assim, novas possibilidades de aquisição de recursos como, por
exemplo, instrumentos musicais.
3) Realização de trabalhos vinculados à Escola de Tempo Integral
A nova proposta de ensino em tempo integral, que começou a ser praticada
no ano de 2006 em muitas escolas públicas, parece abrir ainda mais um espaço
em potencial para a inclusão de trabalhos que não estejam tradicionalmente
associados ao currículo público, qualificação esta que se adéqua ao caso
específico da Música. Já que a implementação de trabalhos educativos neste
programa depende de um processo de tramitação bastante simples - a confecção
de um projeto e envio de currículo à escola onde se pretende implantar a proposta
e o trabalho musical parece ser uma das disciplinas extracurriculares mais
aceitas por parte de alunos adolescentes, por exemplo, se abre um novo nicho
para a Educação Musical. É importante notar que as condições de trabalho do
professor que trabalha no sistema da Escola de Tempo integral são praticamente
226
as mesmas que as condições do professor concursado: a remuneração é a
mesma, e também o direito ao décimo terceiro salário e férias. O único aspecto
que diferencia os dois é o sistema de demissão. Ao passo que ao professor
concursado se reserva maior estabilidade, o professor que trabalha em um sistema
de tempo integral tem seu contrato de trabalho reservado bimestralmente, podendo
ser desligado após este período se desenvolver, por exemplo, um trabalho que não
satisfaça os interesses da escola.
4) Negociação com clínicas de reforço escolar
Na pesquisa de campo, o proponente travou contato com uma clínica de
reforço escolar da cidade de Campinas destinada a crianças que apresentam
dificuldades como, por exemplo, rendimento cognitivo deficiente, pouca
socialização, e déficit em auto-estima. Tendo em mente a possibilidade que um
curso, nos moldes do que foi observado, tem em relação ao florescimento da auto-
estima, a proprietária do estabelecimento demonstrou grande interesse na
utilização de uma intervenção musico-educacional com alguns de seus pacientes,
Apresenta-se, assim, mais uma possibilidade de inserção profissional do educador
musical.
As medidas supracitadas, a nosso ver, podem contribuir para a conquista do
valor da Música no ensino público. A maior inserção do profissional é citada
como uma necessidade por Penna (2004, p. 11), quando esta discorre sobre a
inércia do sistema de educação artística em relação à ênfase do ensino de Artes
Visuais:
[...] pelo fato de não ocupar esses espaços potenciais, torna-se
difícil conquistar reconhecimento e valorização, seja no
227
contexto escolar ou social mais amplo; por conseguinte, a
escola (a rede de ensino, ou mesmo a sociedade) deixa de
considerar a Música como uma parte integrante e necessária
de sua prática educativa – afinal, a Educação Musical tem
estado ausente da maioria das escolas -, e deixa também de
procurá-la e reivindicá-la.
É importante atentarmos para o fato de que a consecução destes
procedimentos, em especial dos dois últimos que citamos (negociação com as
escolas municipais e vinculação de trabalhos ao projeto da Escola em Tempo
Integral) deve se pautar, muitas vezes, em negociações com administradores. E
quando falamos de negociação, quando nos referimos a processos de
argumentação em prol da inclusão do ensino de sica, adentramos no campo da
chamada advocacia do ensino musical, que pode ser entendida como “um
processo pragmático que envolve traduzir a filosofia do ensino musical e muitos
outros benefícios auxiliares em uma justificativa coerente que pode ser
compreendida por indivíduos que se encontram fora do universo da Educação
Musical” (AUSTIN; REINHARDT, 1999, p. 20, tradução nossa). Quanto a estes
processos argumentativos, podemos afirmar que as argumentações baseadas em
dados oriundos de pesquisas científicas certamente têm maior crédito junto aos
administradores. Tal fato também fora indicado por Abeles, Hoffer e Klotman
(1984, p. 73, tradução nossa), quando estes citaram o episódio no qual muitos
educadores musicais passaram a questionar, tempos atrás, a validade da
advocacia do ensino musical que se baseia em benefícios extra-musicais. O
primeiro fator citado como causa das dúvidas, foi a “falta de pesquisa
demonstrando que as aulas de Música influenciaram estudantes a se tornar
cidadãos melhores ou mais saudáveis”. E, justamente neste ponto, temos a
aplicação direta de nossa pesquisa: esta dissertação de mestrado pode ser
utilizada como embasamento científico aos processos de negociação junto aos
228
administradores, uma vez que a mesma expõe dados objetivos referentes aos
benefícios extra-musicais das aulas de Música.
Passemos, então, à segunda seção deste capítulo conclusivo, relacionada a
possíveis medidas a serem tomadas em relação a programas de ensino musical
em funcionamento.
1) Promover a participação da família no processo de ensino-aprendizagem
musical
Conforme discutido, a participação familiar traz reflexos positivos à
aquisição de auto-estima por parte do aluno. Neste sentido, propomos que os
programas de ensino musical que tenham como intento o florescimento de
benefícios extra-musicais passem a ver o diálogo família-escola como uma faceta
de fundamental importância à obtenção de sua meta. Algumas realizações
poderiam ser empreendidas, como, por exemplo: a) Realizar reunião com os pais
ou responsáveis antes do início do curso, conscientizando-os da importância de
sua participação no processo; b) Agendar as apresentações de curso em datas nas
quais os pais ou responsáveis possam comparecer e, assim, prestigiarem a
atuação de seus filhos; c) definir tarefas extra-classe que possam ser realizadas
com o auxílio dos pais ou responsáveis; d) incluir, no repertório dos adolescentes,
músicas que possam ser executadas como homenagem aos pais ou responsáveis.
Medidas como estas, por simples que possam parecer, podem trazer
resultados bastante positivos, principalmente quando o trabalho é direcionado a
classes mais jovens. Isto porque, conforme vimos no presente trabalho, a opinião
dos pais ou responsáveis é bastante importante para o filho dessa faixa etária, uma
2) Medidas para melhoria do ensino musical já desenvolvido
229
vez que os pais ou responsáveis são geralmente os mais importantes “outros
significantes”.
2) Explorar as habilidades específicas de cada aluno, inclusive as que ele já
possuía antes de participar do curso
Esta medida vem de encontro à verificação de que uma aluna que se
destacou no desempenho vocal (aspecto extra, uma vez que o mote do curso era o
aprendizado de violão) apresentou maiores ganhos de auto-estima implícita do que
os demais. Neste sentido, podemos pensar em algumas medidas positivas, dentre
as quais: a) incluir músicas vocais no repertório, mesmo que o curso seja de um
instrumento qualquer que não o canto, e incentivar os alunos a cantarem; b)
promover atividades lúdicas no decorrer do curso, como, por exemplo, “concurso
de talentos”, “concurso de piadas”, etc..., fato este que, além de servir como um
momento de descanso dos trabalhos de aprendizado musical, pode propiciar o
ressalte de aspectos que aumentam a auto-percepção de valor dos sujeitos; c)
alocar, inicialmente, os diferentes alunos a atividades para as quais os mesmos
apresentam melhor desempenho – por exemplo, se um aluno tem agilidade cnica
reduzida, é possível criar uma linha de baixo facilitada, de forma que o mesmo
possa executar a música junto com os demais (dizemos inicialmente porque, em
estágios posteriores do aprendizado, o objetivo é haver um nivelamento dos
alunos, ou seja, todos terem as capacidades desenvolvidas em estágio
equivalente).
Possibilidades de novas investigações
O trabalho realizado aponta também para a realização de novas pesquisas,
dentre as quais podemos citar: Realizar uma investigação similar com uma amostra
considerada estatisticamente significativa (a partir de 30 sujeitos). Uma vez que,
conforme visto anteriormente, configura-se bastante complexa a realização de
230
uma pesquisa sobre ensino de Música que envolva número elevado de alunos,
sugere-se o estabelecimento de um projeto de ensino com várias, ao invés de
apenas uma turma. Pode haver, por exemplo, a formação de três grupos de dez
alunos cada, o que confere um grupo total de 30 alunos, amostra mais
significante do ponto de vista da estatística.
Outro tema que parece passível de atenção se refere ao tempo transcorrido
após o tratamento experimental. Seria válido realizar uma pesquisa longitudinal,
com medições um ano após o trabalho ter acabado, por exemplo, para que
tivéssemos idéia do quão os possíveis efeitos do curso de Música podem estender-
se no tempo.
Outro fator se refere ao tempo de permanência do aluno com o instrumento
musical e também à existência de trabalhos extra-classe: propõe-se, assim, que se
realize uma pesquisa, aos moldes da que foi feita, porém cedendo um instrumento
que cada aluno possa levar para casa e estudar nos momentos extra-classe.
Poderia ser delineado, nesse caso, um grupo controle, o qual não teria acesso aos
instrumentos nos momentos extra-classe, de forma que fosse detectada a possível
diferença de aquisições entre os dois grupos.
Por fim, pode-se sugerir a realização de uma pesquisa que verifique o
o aspecto afetivo dos adolescentes envolvidos, mas também o cognitivo: Neste
caso, seria de bom alvitre realizar um trabalho integrado com professores de outras
disciplinas, bem como realizar a análise documental dos boletins escolares dos
participantes do curso.
Como procedimentos metodológicos aconselháveis a tais pesquisas,
podemos citar os seguintes: a necessidade de se iniciar o trabalho de investigação
com um número maior de alunos, do que a quantidade que se espera chegar até o
fim. Por exemplo, se a intenção é ter um grupo de 10 alunos, indica-se que se
comece a intervenção com 15 estudantes, em média, para que, assim, minimizem-
se as dificuldades trazidas pela desistência dos pupilos no decorrer do curso,
fenômeno percebido nesta pesquisa (houve desistência de 40% dos alunos).
Além disso, cremos que, no caso de aplicação de testes objetivos, como foi
231
o caso da EMAE, seria adequada a confecção de diferentes formas do teste a ser
aplicado, específicas para cada momento da avaliação (uma forma para o pré e
outra para o pós-teste). Isto reduziria o possível efeito de resposta ao pré-teste de
forma “viciada”, influenciada pela resposta ao primeiro teste, uma vez que as duas
formas são iguais – conforme já comentado no capítulo 6.4.
A título de fechamento, devemos citar o fato de que a aprendizagem
humana é fenômeno permeado por tantas variáveis que qualquer explanação
simplista deve ser rejeitada. Como afirmar, por exemplo, que determinados
resultados de programas de ensino se devem à metodologia adotada, e não às
idiossincrasias pedagógicas do educador? Ou ainda, como saber se a participação
em atividades de Música resulta em melhor desempenho acadêmico ou se alunos
com melhor desempenho acadêmico procuram por aulas dessa arte? A exemplo
da questão anedótica “Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha?”, chegar a uma
resposta final no tocante a tal dúvida definitivamente não é algo factível.
A construção dos aspectos psicológicos do ser humano e, portanto, a
possibilidade de florescimento de benefícios extra-musicais, fundamenta-se em
incontáveis fatores, referentes à sua história de vida, relações familiares e
experiências vivenciadas no decorrer de sua existência e, dessa maneira, cabe ao
educador musical conscientizar-se da limitação de seu trabalho.
Deixamos claro, portanto, que esta pesquisa não visa emitir uma visão da
Música como uma panacéia para os estudantes. Em verdade, alguns tipos de
experiências musicais têm impacto positivo sob alguns tipos específicos de
circunstâncias, e a elaboração de conclusão direta e simplificada referente a este
aspecto é tarefa inexeqüível.
As divagações a respeito dos benefícios extra-musicais o podem ser
levadas a cabo através de uma concepção definitiva, binária, antagônica. A
resposta a qual chegamos em relação ao questionamento “- A música faz bem ao
indivíduo?” não é nem “sim” e nem “não”. A resposta é “depende”.
232
Entretanto, a despeito desta dinâmica não cartesiana dos empreendimentos
musico-educacionais, não se pode olvidar da real possibilidade de
desenvolvimento humano através da Música, fato este demonstrado através da
presente pesquisa.
Esperamos, assim, ter contribuído para com o maior embasamento de todos
aqueles que se embrenham nos meandros do ensino musical em nosso país. A
pesquisa está no papel, porém quem poderá torná-la útil é você, caro leitor. Por
isso, é chegada a hora de retirar-me de cena. Ausento-me, contando com você
para que todos os esforços empreendidos neste trabalho se justifiquem.
- Mãos a obra e boa sorte, bravo guerreiro da mágica missão da Educação
Musical no Brasil!
233
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249
251
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO I
253
255
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO II
257
INQUÉRITO DOS DESENHOS
CASA
Seqüência do desenho _____________________________________________
C1. Muito bem, vejamos agora se inventamos uma história sobre essa casa como
se fosse uma novela ou uma peça de teatro. Por exemplo, de quem é essa casa?
C2. Quantas pessoas moram nela? Quem são elas?
C3. Falta alguma coisa nessa casa?
C4. Em que essa casa faz você lembrar ou pensar?
C5. Alguém ou alguma coisa já machucou essa casa? Por quê?
C6. De que essa casa necessita mais?
C7. Como está o tempo nessa figura?
C8. Existe algum vento soprando?
C9. Desenhe um sol. Vamos imaginar que esse sol seja alguma coisa ou pessoa
que você conhece. Quem seria?
C10. Enquanto desenhava, Você imaginou:
ÁRVORE
Seqüência _____________________________________________
A1. Que tipo de árvore é essa que você desenhou?
258
A2. Onde ela poderia estar situada?
A3. Quem plantou? Por quê?
A4. Que idade ela tem?
A5. Essa árvore está sozinha ou em um grupo de árvores?
A6. Você pensa nela como estando:
( ) Viva ou ( ) Morta.
Porque você acha que ela está viva?
Existe alguma parte morta nessa árvore? Porque você acha que morreu?
A7. Em que essa árvore faz você lembrar ou pensar?
A8. Essa árvore está sadia? Porque você acha que ela está sadia?
A9. ESTA É UMA ÁRVORE FORTE? POR QUÊ?
A10. Se esta árvore fosse uma pessoa, quem poderia ser?
FIGURA HUMANA
Seqüência ____________________________________________________
FH1. Isto é um homem, uma mulher, um menino, uma menina, ou um
adolescente?
FH2. Quantos anos tem?
259
FH3. Em quem você estava pensando enquanto desenhava?
FH4. O que essa pessoa faz você lembrar ou pensar? Por quê?
FH5. Como ele(a) se sente? Porque?
FH6. Essa pessoa tem amigos? ( ) sim ( ) não.
Caso tenha: ( ) muitos, ( ) poucos, ( ) mais ou menos,
( ) mais velhos, ( ) mais novos, ( ) da mesma idade, ( ) de todas as idades.
FH7. Você gostaria de ser como essa pessoa? Por quê?
FH8. Alguém já feriu ou magoou essa pessoa? Por quê?
FH9. Você acha que a maioria das pessoas se sente assim?
FH10. Que tipo de roupa esta pessoa está vestindo?
261
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO III
263
1 – L. O. G.
IDADE: 11 ANOS E 6 MESES DATA DE NASCIMENTO: 23/02/1995.
ESCOLARIDADE : 5ª SÉRIE
1ª APLICAÇÃO: 23/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
L. O. G. desenha em um padrão, todos os desenhos são pequenos, no
canto inferior esquerdo da folha, com traços controlados e firmes. Esse padrão
é demonstrativo de inibição, timidez, repressão da agressividade, sentimento
de inferioridade com dificuldade de se colocar assertivamente no meio e
comportamento emocionalmente dependente e ansioso. Também sugere
conflitos, fixação no passado, baixa auto-estima, sensação de insignificância,
excesso de autocontrole e em alguns casos reações não adequadas às pressões
ambientais. Esse tipo de colocação também é bastante comum em deprimidos.
Tanto o desenho da casa como o da árvore, os traços são com pressão
média, a figura humana a pressão manual ao desenhar é forte e percebe-se o
uso da borracha.
Essa mudança no padrão não é de todo incomum, pois é esperado que
haja uma progressão gradual da dificuldade psicológica dos testandos em
efetuar os desenhos, na medida em que eles vão deixando de ser mais ou
menos neutros e passam a provocar associações mais conscientes com a auto-
imagem. Assim, sentimentos proibitivos e aspectos mais inconscientes da
personalidade, são, em geral, projetados, com menos ameaça para o sujeito,
nas figuras da casa e da árvore do que na da figura humana.
O uso da borracha no desenho da figura humana, denuncia conflitos em
relação da auto-imagem e uma insatisfação consigo mesmo. Essas rasuras
falam a favor de conflitos mais conscientes e periféricos. Representam também
o desejo de tornar perfeito o desenho.
ANÁLISE DOS DESENHOS
264
Interpretando agora cada figura separadamente e comparando-as naquilo
que tem em comum e em seus significados, podemos acrescentar os seguintes
dados:
L. O. G. parece revelar conflitos na área da fantasia, os quais podem ser
evidenciados pela observação das características do telhado, da copa da árvore
e da cabeça no desenho da figura humana regiões que se equivalem
simbolicamente.
A conformação do telhado em ponta e com uma ponta descendente que
avança sobre a parede do lado esquerdo, pode ser interpretada como
simbolismo sexual. Contudo esse detalhe pode ser, também, um sinal de que as
fantasias ultrapassam, às vezes seus limites de contenção, “derramando-se” na
vida real.
Desenha a sua casa em perfil parcial (sem perspectiva de profundidade),
o que sugere confiança no desempenho, maturidade, porém também mostra
dificuldade nos contatos sociais. É comum em sujeitos que se utilizam de uma
máscara social a fim de agradar e serem aceitos.
As paredes, firmes e retas, do mesmo jeito que os seus equivalentes
simbólicos, o tronco da árvore e as pernas no desenho da figura humana,
apontam para uma personalidade forte e com recursos internos para se
defender das angústias.
Quando observamos o desenho da casa, percebemos a existência de uma
porta exageradamente grande e aberta; um muro na frente; e uma janela ao alto
(próxima do teto) pequena e fechada com grades.
Essas construções apontam para dificuldades nos relacionamentos
interpessoais. A porta excessivamente grande e aberta sugere tanto alta
sociabilidade como grande dependência das pessoas em geral. O fato do muro
estar na frente nos leva a pensar que L. O. G. é reservado em relação ao meio
ou as pessoas, utilizando-se mais uma vez de uma máscara social a fim de ser
aceito ou querido. A janela no alto também sugere que ele apresenta uma
tendência a se relacionar mais no campo da fantasia do que no da realidade,
com isolamento emocional e afastamento do contato íntimo com as pessoas.
Não desenha a chaminé e o sol está entre nuvens, são detalhes
sugestivos falta de calor e afeto no lar, pouca energia para vencer os
problemas, ansiedade, sensação de pressão ambiental ou expressão de conflitos
na puberdade.
Esses dados se confirmam no inquérito. Suas respostas são confusas
como se não tivesse certeza se a casa é sua ou do vizinho, assim como sobre os
265
componentes da família, ora entra na fantasia e responde sobre uma família
idealizada e sonhada, ora volta para a realidade comentando que na própria
casa falta paz e amizade.
Quando questionado sobre a representação do sol, responde que pode ser
um amigo meu amigo do peito, que me ajuda pra caramba”, isso também
pode ser interpretado, que calor e afeto estão fora do lar ou das figuras
parentais.
Observando-se, especificamente o desenho da árvore como um todo,
percebemos que ele a desenhou levemente inclinada para a esquerda e usou a
base do papel como linha do solo. Esse tipo de construção sugere certa aversão
ou rejeição por parte do ambiente, medo de afetos, fixação ao passado com
medo do futuro, e também demonstra que sofre de sentimentos de inadequação
para lidar com o meio, “se prendendo” à parte inferior da folha em busca de
uma segurança compensatória.
No inquérito comenta que é uma árvore bastante velha (50 anos),
mostrando mais uma vez vivências depressivas e inadequadas para a idade.
O tronco, apesar de consistente, é pequeno e aberto na parte superior e
inferior (solto), sugerindo falta de apoio e firmeza, desorientação, indecisão e
dificuldade de compreensão na vida.
Em relação à copa, o fato de ela ser achatada na parte superior e sugerir
uma sensação de vazio com apenas dois frutos isolados, esses detalhes podem
estar representando que o testando sofre de forte pressão ambiental e
dificuldades em lidar com o meio. A copa é o campo de expressão da árvore e,
simbolicamente o jeito do indivíduo interagir com o mundo e particularmente
com as pessoas.
Essa pressão ambiental também é mostrada na cabeça pequena e
achatada no desenho da figura humana. Esse tipo de construção mostra
também sentimentos de menos-valia, inferioridade, preocupação com a crítica
(já que omite também as orelhas), obediência não desejada, ou desejo
obsessivo em negar pensamentos dolorosos e sentimentos de culpa.
No desenho da figura humana, vê-se de início que L. O. G. identifica-se
com seu próprio sexo.
Quando olhamos o desenho como um todo percebemos que a figura está
rígida, estática, mostrando um controle rigoroso sobre a vida impulsiva,
conflitos, dificuldade para relaxar, medo de relações espontâneas, repressão
dos estímulos interiores, necessidade de se “segurar” em frente uma ameaça de
desorganização e medo de que os impulsos proibitivos se rompam.
O rosto está com contorno reforçado, indicando mais uma vez
266
dificuldade de inter-relação social, insegurança, ansiedade ou culpa nos
contatos sociais.
Os cabelos apresentam um com sombreado forte, sugerindo conflitos
referentes a força e virilidade, ou ansiedade com relação aos pensamentos e
fantasias sexuais.
Os olhos são de diferentes tamanhos sugerindo conflitos, impulsividade,
ou medo de perder o controle ou de não “enxergar” tudo.
A boca grande e aberta mostra ambição, voracidade, erotismo oral e
desejo de inter-relação social (L. O. G. se mostrou comunicativo e disponível
na entrevista).
Percebemos conflitos e dificuldade em controlar e dirigir impulsos
instintivos na construção do pescoço. Este foi desenhado com ênfase e
precisou fazer uso da borracha. Esses conflitos provavelmente estão na esfera
sexual, pois se observarmos a calça, esta está com a vista acentuada.
L. O. G. mais uma vez “grita” suas dificuldades no campo das inter-
relações sociais, quando desenha os ombros grandes e desproporcionais
(desejo de afirmação, necessidade de mostrar-se forte e de dominar o
ambiente), braços estáticos e desproporcionais e mãos fechadas e com
contorno impreciso.
Por último, pode-se interpretar que L. O. G. reage aos conflitos com
sentimentos ambivalentes e insegurança, que desenha os pés um para cada
lado.
Dentre os traços de personalidade e as zonas de conflito que puderam ser
evidenciadas, podemos relacionar as seguintes:
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Inibição e timidez;
3. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
4. Tendência à hostilidade e agressão;
5. Fixação no passado ou em estágios mais primitivos;
6. Tendência a mascarar emoções para sentir-se aceito;
7. Sensibilidade a críticas;
8. Tendência à rigidez;
9. Tendência a comportamentos impulsivos;
10. Sensação de pressão por parte de meio;
11. Tendência à depressão;
12. Ambivalência, insegurança e indecisão;
267
13. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
14. Dificuldade no seio familiar;
15. Sentimentos de culpa;
16. Conflitos referentes à adolescência e à sexualidade; e,
17. Necessidade de auto-afirmação.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
A análise qualitativa abrange: pressão manual para desenhar, tipo de
traço, localização no papel, tamanho das figuras e o uso da borracha.
L. O. G. faz todos os desenhos pequenos, embora bem estruturados.
Imaginando-se que a folha de papel simboliza o ambiente, um desenho
pequeno sugere que o examinando sente-se pequeno frente ao meio.
Ele também coloca os desenhos em um padrão, todos estão localizados
no canto inferior esquerdo da folha, o qual simboliza o canto da regressão.
Esses dois detalhes são indicativos de um déficit na auto-estima.
No desenho da casa, constrói uma janela pequena e fechada Janela
simboliza o meio secundário de interação com o mundo.
Analisando o conjunto, a cabeça pequena e achatada e a ênfase dada aos
cabelos no desenho da figura humana, esses detalhes também são sugestivos de
baixa auto-estima.
2ª APLICAÇÃO: 01/12/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
L. O. G. “cresceu” nos seus desenhos, estão mais centrais, e os traços
continuam controlados e firmes. Continua em evidência o aumento da pressão
manual no desenho da figura humana, porém não se percebe o uso da borracha.
Essas mudanças sugerem melhoria na auto-estima. Parece que
gradativamente L. O. G. está procurando uma posição mais central” na vida,
mostrando maior capacidade de assertividade e independência frente ao meio.
268
ANÁLISE DOS DESENHOS
Comparando-se as duas casas, podemos acrescentar os seguintes dados:
A segunda está mais exposta, mais clara, embora ainda continue
desenhando-a em perfil (sem perspectiva de profundidade), o que sugere
confiança no desempenho e maturidade. Porém também mostra dificuldade nos
contatos sociais, esse tipo de desenho é comum em sujeitos que se utilizam de
uma máscara social a fim de agradar e serem aceitos.
O telhado continua em ponta, e o nariz, assim como a vista da calça da
figura humana continuam evidenciados, mostrando preocupações na área
sexual (comum na puberdade).
A casa está firme ao solo, do mesmo jeito que os seus equivalentes
simbólicos, o tronco da árvore e as pernas no desenho da figura humana,
detalhes que apontam para uma personalidade forte e com recursos internos
para se defender das angústias.
No desenho anterior da casa, percebia-se a existência de uma porta
exageradamente grande e aberta; um muro na frente; e uma janela ao alto
(próximo do teto), pequena e fechada com grades.
Neste o muro foi eliminado, e percebe-se a existência de uma porta
grande e detalhada com trinco e uma janela ao alto. Embora essas construções
apontem para dificuldades nos relacionamentos interpessoais, existe uma
modificação radical pela eliminação do muro, mostrando maior sociabilidade e
independência frente ao meio.
Como a janela permanece no mesmo lugar (no alto) que no desenho
anterior, mostra que L. O. G. continua com tendências a se relacionar mais no
campo da fantasia do que no da realidade e com afastamento do contato íntimo
com as pessoas.
A composição do sol e nuvens também mudou, no anterior eles estavam
bem acima da casa, neste está mais do lado e de um formato mais ameno,
mostrando que frente a pressão ambiental ele está reagindo com menos
ansiedade.
No inquérito as respostas também estão mais precisas e coerentes.
Quanto a representação do sol, desta vez diz que este simboliza a mãe, não
mais um amigo, mostrando que sua atuação no lar não está mais tão caótica.
O desenho da árvore também mudou drasticamente, agora além de estar
bem maior, está cheia de maçãs. A copa não está mais achatada, mostrando
mais uma vez que atualmente reage as pressões ambientais com assertividade e
269
autoconfiança.
O tronco é consistente, sugerindo firmeza, desenvolvimento adequado e
recursos internos de defesa frente ao estresse.
O desenho da figura humana também mudou de forma consistente. Está
muito mais nítido e preciso que o anterior, porém algumas características
permanecem:
A cabeça continua achata, assim como a omissão das orelhas. Podemos
inferir que frente a críticas L. O. G. reage com sentimentos de menos-valia e
inferioridade.
Observando-se a figura como um todo percebemos que continua rígida,
estática, mostrando um controle rigoroso sobre a vida impulsiva, conflitos e
dificuldade para relaxar. Também podemos pensar em medo de relações
espontâneas ou de que os impulsos proibitivos se rompam. Esses medos
também são evidenciados pela expressão dos olhos (arregalados) e pelo
formato da boca, em linha reta.
O pescoço está mais harmonioso em relação aos ombros, sugerindo
maior controle dos impulsos.
Os ombros, porém continuam grandes, mostrando o desejo de afirmação,
de mostrar-se forte e de dominar o ambiente. Os braços e mãos também
continuam estáticos e desproporcionais, sugerindo medo ou ansiedade no
contato com o meio.
Dentre os traços de personalidade e as zonas de conflito que puderam ser
evidenciadas, podemos relacionar as seguintes:
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Melhoria na auto-estima;
3. Assertividade e confiança no desempenho;
4. Tendência a mascarar emoções para sentir-se aceito;
5. Sensibilidade a críticas;
6. Tendência à rigidez;
7. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
8. Aumento da sociabilidade;
9. Necessidade de auto-afirmação;
10. Tendência a devaneios e fantasias;
11. Melhoria no seio familiar; e,
12. Medo ansiedade e tensão.
270
2 – W. M.
IDADE: 12 ANOS E 11 MESES – DATA DE NASCIMENTO: 18/09/1993.
ESCOLARIDADE : 6ª SÉRIE.
1ª APLICAÇÃO: 28/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
A análise dos aspectos expressivos e projetivos dos desenhos acrescenta
dados qualitativos interessantes que enriquecem a descrição dos traços da
dinâmica da personalidade de W. M.. Vejamos alguns desses dados
qualitativos.
A examinanda faz os três desenhos com traços fortes (põe muita pressão
manual no lápis ao desenhar). Essa característica é comum em indivíduos com
excesso de energia e vitalidade, iniciativa, decisão e confiança em si mesmo.
Da mesma forma também é comum em pessoas medrosas, inseguras,
agressivas ou hostis para com o ambiente, e com aguda consciência da
necessidade de autocontrole.
Os desenhos são pequenos, sugerindo inibição, timidez, repressão da
agressividade (excesso de autocontrole), e sentimentos de inferioridade pela
dificuldade de se colocar assertivamente no meio.
Quanto à localização dos desenhos na folha, observa-se que W. M.
começa no alto (canto superior esquerdo) e depois desce para o canto esquerdo
inferior.
Este dado nos permite levantar a hipótese de que diante de seus conflitos
internos, W. M. procura orientar-se para o concreto (objetivismo) e fixar-se no
real (pés no chão) para não se perder em fantasias.
Pode-se interpretar também que esta tendência descendente dos
desenhos revela certa inclinação à depressão.
O uso freqüente da borracha no desenho da figura humana, sugere
conflitos em relação a auto-imagem e uma insatisfação consigo mesma. Estas
rasuras falam a favor de conflitos mais conscientes e periféricos. Representam
o desejo de tornar perfeito o desenho.
271
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando agora as diversas partes de cada figura separadamente e
comparando-as em seus significados simbólicos, apresentamos os seguintes
dados:
W. M. mostra um certo senso prático, com diminuição da fantasia,
que desenha o telhado da casa e a copa da árvore vazios. Quando observamos a
cabeça da figura humana percebemos que ela é relativamente grande em
relação ao corpo, sugerindo confiança nas funções sociais, valorização da
inteligência, mas também podendo ser indícios de compensação por
sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima.
Sobre o telhado desenha também uma chaminé pequenina, diminuta e
sem fumaça, sugerindo falta de calor e afeto no lar. Essa interpretação se
confirma no inquérito, visto que não desenha a própria casa projetando uma
casa idealizada com amigos, cheia de compreensão e ordem. Esse dado
também se confirma na representação do sol, não imagina nenhuma figura
parental.
O traçado das paredes pode ser comparado com o tronco da árvore e
com as pernas e pés da figura humana, e essas regiões nos dão indícios sobre a
força interna da personalidade da examinanda. Percebemos que as paredes e o
tronco são relativamente firmes. Conforme o teste vai progredindo, ou seja, no
desenho da figura humana, percebemos que está com movimento hesitante,
ligeiramente inclinada para a direita. Esse tipo de movimento mostra além de
insegurança, certa instabilidade e fraco controle sobre as reações e impulsos.
Voltando agora para o desenho da casa, percebemos que W. M., além de
rasurar uma das janelas, a faz maior que a porta. Essa distorção de tamanho
sugere conflitos e relutância em estabelecer contato com o ambiente,
afastamento das trocas interpessoais, timidez e receio nas relações com os
outros. Percebe-se que existe uma certa ansiedade nas relações interpessoais,
com tendência a fazer seus contatos mais na fantasia do que no “cara a cara”,
visto que desenha as janelas bem no alto, perto do teto.
Esses dados se confirmam no recheio” da copa (a copa é vazia, isto é,
sem galhos, folhas, flores ou frutos), e se olharmos com agudeza percebemos
que ela pende para os lados do tronco mostrando imobilização da emoção, falta
de agressividade, de energia, passividade, indecisão e apatia (esse tipo de
construção é comum em deprimidos). E como é maior que o tronco, percebe-se
272
mais uma vez que os seus relacionamentos são feitos mais na fantasia do que
na realidade, além de serem permeados de conflitos entre a ambição e a
capacidade de realização, dados estes que se confirmam na inquérito.
O tronco posicionado na margem inferior da folha e aberto em ambas as
extremidades, é comum em desenho de pessoas indecisas e de comportamento
flutuante, sugerindo uma necessidade de maior segurança.
Analisando os aspectos projetivos e expressivos da figura humana o
primeiro dado que nos chama a atenção é a configuração dos cabelos
compridos, repartidos ao meio, ralos e cheio de rasuras. Isso mostra conflitos
referente a força e virilidade, ansiedades com relação aos pensamentos e
fantasias, insegurança, sentimentos de inferioridade e inadequação,
ambivalência, sensualidade e necessidade de seduzir (são compridos).
O rosto está sorrindo, mas a boca está tencionada com um traço reto
mostrando que W. M. utiliza uma máscara social a fins de se sentir aceita, e,
como não desenha as orelhas, percebemos que ela também é sensível a críticas.
Vamos descer para o pescoço, é fino e longo, sugerindo dificuldades em
controlar e dirigir impulsos instintivos, certa consciência de impulsos corporais
com grande esforço para contê-los.
Esses dados se confirmam na configuração da cintura e nas rasuras da
calça-saia, mostrando o quanto está ansiosa a respeito da sexualidade e
ambivalente entre expressão e controle corporal.
Mais uma vez W. M. mostra as suas dificuldades nos contatos
interpessoais. Desenha os braços da figura humana finos e para trás. Ela não se
sente confiante em participar do ambiente, ora sente culpa, ora sente medo de
contato com as pessoas, ora sente necessidade em controlar a expressão de
impulsos agressivos ou hostis.
Finalmente essa ambivalência e necessidade de apoio também são
confirmadas pela configuração dos pés, um para cada lado e de diferente
tamanho.
Foram evidenciados os seguintes traços de personalidade e zonas de
conflitos:
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Tendência à depressão;
3. Medo, ansiedade e tensão;
4. Inibição e timidez;
5. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
273
6. Dificuldade no seio familiar;
7. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
8. Tendência à hostilidade e agressão;
9. Ambivalência, insegurança e indecisão;
10. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
11. Tendência ao devaneio e fantasias;
12. Sensibilidade a críticas;
13. Criatividade; e,
14. Sentimentos de culpa.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
W. M. faz todos os desenhos pequenos, sugerindo auto-estima reduzida.
O desenho da figura humana é construído com maior riqueza de detalhes,
porém a cabeça é desproporcional ao corpo e apresenta rasuras nos cabelos, os
quais tambémo detalhes sugestivos de baixa auto-estima.
2ª APLICAÇÃO: 27/11/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Comparando-se os dois testes percebe-se tanto modificações positivas
como negativas nesses três meses de intervalo.
O teste anterior embora os traços fossem precisos e controlados, também
eram com muita pressão manual. O atual os traços continuam precisos e o
com pressão média, sugerindo maior tranqüilidade e confiança no
desempenho.
Os desenhos aumentaram de tamanho, porém estão mais “doentes”,
sugerindo conflitos.
Quanto a localização dos desenhos na folha, neste houve uma maior
modificação e constância, todos estão mais centrais e no lado esquerdo da
folha. indicações que W. M. esbuscando um equilíbrio, porém sente-se
insegura, regredida e com medo para enfrentar os novos desafios.
274
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando as diversas partes de cada figura separadamente e
comparando-as em seus significados simbólicos, apresentamos os seguintes
dados:
Quando se observa a área simbolizada pela fantasia (telhado da casa,
copa da árvore e cabeça da figura humana), percebemos algumas
modificações. O telhado continua o mesmo, a cabeça está um pouco maior que
o corpo, mas a copa da árvore está excessivamente grande, vazia e pendida aos
lados do tronco configurações sugestivas de preocupações ou ambições
superiores a capacidade de realização, sentimentos de menos-valia e
inferioridade.
No teste atual não desenha a chaminé, porém no inquérito indícios de
uma maior valorização da família.
Analisando-se as paredes da casa, o tronco da árvore e as pernas e pés da
figura humana, regiões que nos dão indícios sobre a força interna da
personalidade, percebemos grandes modificações nesse pós-teste. As paredes
continuam firmes, porém desta vez percebemos um tronco minúsculo, solto
(sem a linha representativa do chão) e aberto tanto na parte superior como
inferior. E no desenho da figura humana omissão dos pés. Esses tipos de
representação nos dão indícios de insegurança, falta de estabilidade,
dificuldade de autonomia em expressar sentimentos íntimos.
Sobre a superfície do tronco, desta vez ela faz uma espécie de buraco,
sinalizando possível trauma ou necessidade de regressão para um estágio mais
primitivo ou uma época mais feliz.
Voltando agora para o desenho da casa, percebemos que W. M. desta
vez desenha apenas uma janela e no alto (no anterior desenhou duas), a copa
grande e vazia, e braços finos e para trás na figura humana como no desenho
anterior. Parece que nos contatos sociais houve uma certa regressão, estes
tipos de construções sugerem relutância e afastamento das trocas interpessoais,
timidez e receio ou medo. Percebe-se, mais uma vez que existe uma certa
ansiedade nas relações com os outros, com tendência a fazer seus contatos
mais na fantasia do que no “cara a cara”, visto que desenha a janela bem no
alto, perto do teto.
Observando mais uma vez esta copa vazia (sem galhos, folhas, flores ou
frutos), inclinada para a esquerda e sobre os lados do tronco, podemos deduzir
que no momento W. M. sente-se imobilizada, talvez com objetivos mais altos
do que o poder de realização, com falta de agressividade ou de energia.
275
Analisando os aspectos projetivos e expressivos da figura humana,
percebemos que desta vez, embora os cabelos não apresentem rasuras, eles
estão mais ralos, em uma linha , mostrando mais uma vez conflitos
referentes à força e à virilidade.
No rosto desta vez o que nos chama mais a atenção é o formato dos
olhos, grandes e com cílios, dos quais podemos inferir que a nossa examinanda
está preocupada em não perder nenhum detalhe, são olhos que demonstram
medo e ao mesmo tempo mostram necessidade em seduzir e, como não
desenha as orelhas percebemos que ela continua é sensível a críticas.
Pela configuração do pescoço e do cinto percebemos também que ela
continua com dificuldades em controlar e dirigir impulsos instintivos.
Foram evidenciados os seguintes traços de personalidade e zonas de
conflitos:
1. Confiança no desempenho;
2. Conflitos;
3. Medo, ansiedade, tensão;
4. Insegurança;
5. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
6. Imobilização, dificuldade de autonomia;
7. Trauma;
8. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
9. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade; e,
10. Sensibilidade à críticas.
3 – R. M.
IDADE: 12 ANOS 3 11 MESES DATA DE NASCIMENTO:06/09/1993.
ESCOLARIDADE : 5ª SÉRIE.
1ª APLICAÇÃO: 23/08/2006
276
ANÁLISE QUALITATIVA
Os desenhos são com traços contínuos e a examinanda faz uso de muita
pressão manual. Esses detalhes denotam ansiedade, medo frente a situações
novas, falta de autoconfiança ou agressividade.
As figuras são pequenas, com exceção à árvore que é um pouco maior;
características típicas de pessoas inibidas, introvertidas, tímidas, com baixa
auto-estima e com problemas de ajuste ao ambiente; visto que não existe um
padrão de tamanho na execução dos desenhos.
Outra coisa que chama a atenção é que todos os desenhos estão na
metade inferior da folha, o que se constitui em um sinal evidente de
dependência e da necessidade de suporte da examinanda. Esse detalhe também
é demonstrativo de insegurança e inadequação frente ao meio. Simboliza ainda
tendências à depressão e orientações para o concreto.
ANÁLISE DOS DESENHOS
A orientação para o concreto fica clara na construção do desenho da
casa. As paredes são excessivamente maiores do que o teto, mostrando uma
menor valorização da fantasia e um funcionamento mais prático, voltado para a
realidade concreta.
Vários detalhes indicam que R. M. apresenta sérios problemas de
relacionamento. Existe uma distorção entre a porta e a janela (a porta é muito
menor que a janela, a árvore não possui galhos e os braços da figura humana
são pequenos e as mãos são disformes).
A janela, apesar de grande e aberta, está fechada com grades, mostrando
relutância em estabelecer contato com o ambiente, afastamento das trocas
interpessoais, timidez e receio nas relações afetivas. Também pode estar
simbolizando um medo defensivo de perigos externos com desejo de proteção,
ou ainda defesa contra os impulsos internos.
A solidão nos relacionamentos é confirmada no inquérito quando
fantasia que mora na casa e em outro momento comenta “Às vezes me sinto
meio de um monte de pessoas” e em outro ainda “Eu preciso de mais
atenção. Na minha casa, estamos eu e a minha família, mas eles não me dão
atenção, os meus pais precisam ter mais atenção comigo”.
Finalizando o desenho da casa, R. M. desenha um sol grande, porém
distante, dizendo que simboliza Deus. Essa verbalização mais uma vez fala, do
277
seu distanciamento nos relacionamentos familiares da sua dificuldade de
contato próximo.
As paredes no desenho da casa e o tronco no desenho da árvore,
representam os mesmos simbolismos, ambos nos dizem da capacidade de auto
sustentação e força do ego do sujeito. Percebemos que nos desenhos, são
firmes, fortes e estáveis, sugerindo uma personalidade estável.
Quando observamos a copa, a impressão que se tem é que ela “cai”
como uma massa achatada, ou melhor, é posta em cima desse tronco estável,
como “uma bola de sorvete”. Essa configuração sugere forte pressão
ambiental, indicando sentimentos de inadequação, baixa auto-estima e
desamparo para lidar com o meio.
No inquérito R. M. diz que a árvore tem 24 anos, sugerindo vivências
depressivas e inadequadas para a idade, com necessidade de crescer logo para
se sentir ouvida e notada.
Quando se observa a figura humana como um todo, a primeira coisa que
notamos é o excesso de detalhes. Isso é comum em indivíduos inseguros,
imaturos com dificuldade de entendimento. Como os desenhos anteriores
foram precisos, podemos inferir que R. M. quis aqui deixar expostas as suas
dificuldades emocionais.
Analisando parte a parte o desenho da figura humana, chegamos a mais
dados interessantes:
A examinanda desenhou uma cabeça grande em relação ao corpo e fez
uso da borracha. Isso é sugestivo de valorização da inteligência e conflitos
referentes a sentimentos de inferioridade.
Visto que faz uma menina sorrindo, podemos inferir que R. M. faz uso
de uma máscara social a fins de se sentir aceita e querida ou para encobrir seus
sentimentos de inadequação e baixa auto-estima.
O interessante é que mesmo esse rosto sorridente mostra conflitos, pois
os olhos são com disparidade de tamanho e cegos; e o nariz está em perfil -
voltado para a esquerda. Essas configurações são sugestivas de uma percepção
vaga e não diferenciada do mundo, recusa em enfrentar a realidade, ou meio de
evitar o contato com coisas tristes e penosas.
Como a sua menina está careca e faz uso de uma espécie de chapéu,
podemos pensar na sua necessidade de proteção frente aos seus sentimentos de
fraqueza, debilidade, impotência e inferioridade para enfrentar o meio. Dados
estes que se confirmam com o posicionamento dos ombros (estreitos em
relação à cabeça).
O pescoço grosso e longo em relação aos ombros, sugere perturbação
278
por incapacidade de coordenação dos impulsos.
vários indícios que relacionamentos são o ponto fraco de R. M.. O
desenho da casa há uma distorção entre a janela e porta, e no desenho da figura
humana também percebemos essa mesma distorção. Quando observamos os
braços da figura, percebemo-los abertos e receptivos, em contrapartida são
pequenos e as mãos estão em formato de “bola”. Essa distorção é indicativa de
sérios conflitos nas interações sociais, reagindo ora com receptividade, ora
com agressividade.
Finalmente quando olhamos para as pernas percebemos que estão muito
separadas e, aparentemente, deslocadas dos quadris. A nosso ver, esta
distorção do esquema corporal pode ser reflexo de conflitos em relação à
sexualidade.
Realmente, no desenho, as pernas desta figura humana não poderiam
sustentar nem conduzir o corpo, porque não se articulam corretamente com os
quadris. Ora esta pode ser a maneira que R. M. encontrou para revelar que
também se sente deslocada e desconjuntada em relação a sua casa e ao meio
em geral.
Os traços de personalidade e as áreas de conflitos que apareceram no
teste foram:
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Inibição e timidez;
3. Tendência à hostilidade e agressão;
4. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
5. Tendência à depressão;
6. Imaturidade com tendência a pensamentos concretos;
7. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
8. Dificuldade no seio familiar;
9. Medo, ansiedade e tensão;
10. Falta de confiança para ações independentes; e,
11. Sensação de pressão por parte do ambiente.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
O tamanho das figuras é um detalhe que traz indicações referentes a
279
auto-estima. São detalhes que simbolizam como o examinando se sente e como
se posiciona no mundo. R. M. desenha a casa relativamente pequena e a figura
humana menor ainda, e esses detalhes sugerem uma auto-estima reduzida.
A copa da árvore sem galhos, como uma bola achatada também é
indicativa de déficit. Da mesma forma que a construção da cabeça e dos olhos.
2ª APLICAÇÃO: 02/12/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Três meses após a primeira aplicação do teste, é notória a mudança nos
desenhos. Os traços estão com predominância de linhas controladas e a pressão
manual mudou de excessiva para normal, sugerindo maior segurança e
confiança no desempenho.
Todas as figuras aumentaram de tamanho e continuam ocupando uma
posição central, mostrando melhoria na auto-estima e maior ajuste ao
ambiente.
Apenas a figura humana está central e na metade inferior da folha, dado
irrelevante se olharmos o aspecto geral do desenho.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Ao se observar a casa como um todo, percebemos um sol “sorrindo”,
emanando calor e uma chaminé adequada. O desenho é bem diferente do
anterior, essa construção sugere harmonia nas relações familiares e melhoria
na auto-estima.
Houve também uma modificação na apresentação da mesma. Agora está
em perfil parcial, mostrando uma certa tendência ao uso de uma máscara social
a fim de ser aceita ou querida. Por outro lado pode ser indício de um sinal
indicativo de evolução, ou melhor, está desenvolvendo a percepção de uma
maior necessidade de polimento nas relações sociais.
A porta e janela continuam com distorção (janela maior que a porta e no
alto), e a árvore continua sem galhos, mas os braços e mãos da figura humana
estão mais adequados, mostrando também uma evolução nos contatos
280
sociais. No inquérito, fantasia uma mansão onde toda a família mora junta e
em paz, há indícios de esperança de dias melhores.
As paredes, o tronco e as pernas da figura humana continuam mostrando
estabilidade.
Como dito acima, os desenhos aumentaram de tamanho. A árvore é o
desenho que mais aumentou, fez um desenho tão grande que ocupou toda a
folha mostrando expansão do ego. A copa, porém está bem mais achatada que
a anterior. No inquérito diz que a família está passando por dificuldades
financeiras. Provavelmente é a forma que R. M. encontrou para falar da
pressão ambiental que envolve toda a família. Também comenta que a árvore
tem 50 anos, o que poderia ser interpretado como vivências depressivas e
inadequadas para a idade, porém indicações que não tem muita noção de
tempo.
Quando se observa a figura humana como um todo, percebe-se também
grandes modificações. Agora faz uma menina feliz pulando corda e diz que
estava pensando nela mesma enquanto desenhava. A configuração total do
desenho e a verbalização de R. M. sugere melhoria no seu estado emocional.
Os detalhes do desenho também estão mais adequados. Apenas a cabeça
foi rasurada e continua grande em ralação ao corpo, algo sugestivo de
valorização da inteligência e conflitos referentes ao corpo.
Podemos inferir também conflitos referentes à sexualidade visto que faz
uma figura infantilizada embora esta esteja mais elaborada que a anterior.
Os traços de personalidade e as áreas de conflitos que apareceram no
teste foram:
1. Melhoria na auto-estima;
2. Harmonia nas relações familiares;
3. Aumento da sociabilidade;
4. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
5. Sensação de pressão por parte do meio; e,
6. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade.
4 – L. W. P.
IDADE: 11 ANOS E 9 MESES DATA DE NASCIMENTO: 26/11/1994.
281
ESCOLARIDADE : 6ª SÉRIE.
1ª APLICAÇÃO: 24/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
L. W. P. utiliza muita pressão manual para executar os desenhos,
mostrando excesso de energia, vitalidade, iniciativa, decisão e confiança em si
mesmo. Em outras ocasiões esse detalhe também sugere medo, tensão,
insegurança, agressividade e hostilidade para com o ambiente. E também é
indicativo de isolamento e necessidade de proteger-se das pressões externas.
Não existe um padrão quanto à localização dos desenhos na folha, nem
sobre o tamanho dos mesmos.
Essa mudança na localização do canto inferior esquerdo (canto da
regressão e da fixação no passado) para metade superior (fantasia) pode ser
interpretada como o fato de que L. W. P. tende a resolver seus conflitos mais
na fantasia que na realidade.
Essa interpretação é condizente com o tamanho das figuras. Começa o
teste fazendo o desenho da casa relativamente grande e o termina com o da
figura humana pequena, mostrando que se sente inferior, dependente e com
dificuldade para se colocar assertivamente no meio.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Há várias indicações que são os relacionamentos interpessoais a área que
o examinando tem maiores dificuldades. Vamos por partes em cada desenho:
Casa: porta minúscula em relação às paredes com distorção de
tamanho em relação as janelas; e janelas fechadas com grades e
perto do teto.
Árvore: copa pequena em relação ao tronco e dois galhos em
forma de cruz.
Figura humana: braços abertos receptivos, mas mal inseridos no
tronco.
282
Essas construções mostram conflitos e isolamento, ou relutância em
estabelecer contato com o ambiente, afastamento das trocas interpessoais,
timidez e receito nas relações com os outros. Sugerem também medo defensivo
de perigo externo, desejo de proteção e barreiras nos contatos sociais.
Conforme os desenhos vão progredindo, essas dificuldades de
relacionamento vão se tornando mais marcantes. L. W. P. provavelmente
apresenta sérios conflitos no quesito relacionamentos.
Os galhos (os braços da árvore), como dito acima, estão cruzados,
mostrando que ele reage ao mundo com negativismo e pessimismo. Esse
detalhe é comum em pessoas que fazem o teste com pouco cuidado, rejeitando
a tarefa proposta. Na maioria das vezes sentem-se inadequados para o
cumprimento da tarefa, apresentam dificuldade em arriscar-se e em receber
julgamentos, mostram atitudes de oposição em relação ao ambiente.
Interpretações essas que se confirmam no inquérito, suas respostas são pobres
e pouco esclarecedoras.
Esses conflitos também são evidenciados na figura humana, os braços
são abertos e receptivos; porém mal inseridos no tronco, apresentam
disparidade de tamanho na largura e as mãos estão com o contorno impreciso.
Também podemos pensar em limitação na capacidade de receber afeto e
dificuldade de manter vínculos com as pessoas.
As mãos também são sugestivas de imaturidade, falta de confiança nos
contatos interpessoais ou na produtividade. Também são indicativas de
sentimentos de culpa em relação a agressividade ou a atividades auto eróticas.
Observando mais uma vez o desenho da casa, percebemos que ele fez
uso da margem da folha como parede. Esse detalhe é típico de pessoas
dependentes, que não possuem autoconfiança e podem experimentar intenso
desconforto quando sozinhas. Geralmente apresentam dificuldades em tomar
decisões independentes sem um excesso de aconselhamento.
Por outro lado, também percebemos que as outras paredes são firmes, a
árvore apresenta um tronco grande e ereto; e a figura humana está com contato
adequado com o chão. Esses dados indicam que apesar das dificuldades citadas
acima, ele apresenta bom ajustamento e controle do ego.
A copa pequena em relação ao tronco e achatada na parte superior é
indicativa de pressão ambiental, imaturidade, regressão a níveis mais
primitivos, sentimento de inadequação e dificuldade de realização.
No inquérito, reponde que a sua árvore é velha (três anos ???) e que vai
morrer logo por ter vivido muitos anos. Essas verbalizações poderiam ser
283
interpretadas como sofrimentos internos e/ou perda de controle e poder para o
alcance do bem-estar. Porém, pelas construções dos seus desenhos podemos
inferir que L. W. P. é imaturo, “chutou” uma idade para a árvore e depois
resolveu que três anos era a idade máxima de vida para uma árvore.
Suas respostas, no inquérito, sugerem que ele apresenta dificuldade em
fazer avaliações provisórias de uma situação e de se utilizar das experiências
de modo que se aproveite num futuro. Em vez disso, sente o desejo ardente de
entrar em novas aventuras, na base do ensaio e erro, parece ser lento,
descuidado e desatento.
Observando a figura humana, percebemos a escassez dos cabelos,
detalhe indicativo de insegurança, sentimento de inferioridade ou de sensação
de falta de virilidade. Dados que também se fazem presentes quando
observamos a parte inferior do corpo. Existe uma transparência na calça
(pernas vistas sob as calças) e um risco parecendo um pênis?
Essas configurações são indicativas de imaturidade, exibicionismo e
curiosidade sexual. Esses dados se confirmam com a construção do telhado
que é em ponta.
Finalmente, indicação de conflitos na esfera sexual e dificuldade de
controle dos impulsos corporais, visto que desenha um pescoço muito fino que
dificilmente sustentaria essa cabeça.
Em relação aos traços de personalidade e as áreas de conflito, podemos
perceber:
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
3. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
4. Tendência à hostilidade e agressão;
5. Sensação de pressão por parte do meio;
6. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
7. Imaturidade com tendência ao pensamento concreto;
8. Falta de confiança para ações independentes;
9. Inibição e timidez; e,
10. Medo, ansiedade e tensão.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
284
A diminuição abrupta dos desenhos da casa para a figura humana nos
dizem que frente a estresse L. W. P. reage com sentimentos de inferioridade e
baixa auto-estima.
O tamanho diminuto da porta e janelas, da copa em relação ao tronco no
desenho da árvore e o cabelo escasso da figura humana, também são detalhes
indicativos de que, no trato com as pessoas, o examinando reage com
sentimentos de inadequação e baixa auto-estima.
2ª APLICAÇÃO: 02/12/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Neste pós-teste, a pressão manual passou de excessiva para média,
sugerindo maior relaxamento.
Agora todos os desenhos estão localizados no canto inferior esquerdo da
folha (canto da imaturidade, da regressão ao passado), com exceção da figura
humana, que está um pouco mais central. Esse movimento mostra um desejo
em ser mais notado.
As primeiras figuras são de tamanho médio e a humana é pequena,
indicando que se sente inferior, dependente e com dificuldade para se colocar
assertivamente no meio.
A qualidade dos desenhos caiu drasticamente, podendo-se inferir que L.
W. P. apresenta, no momento, intenso sentimento de inferioridade, bloqueios,
atitudes de negativismo e oposição ao meio.
ANÁLISE DOS DESENHOS
No teste anterior, a área dos relacionamentos interpessoais era a que L.
W. P. apresentava as maiores dificuldades.
Neste pós-teste, observando-se a casa como um todo, a porta apresenta
um tamanho mais adeqüado, porém ele sinaliza um trinco ou fechadura e faz
uma janela junto ao teto fechada com grades. No inquérito responde que ambas
estão abertas. indicações de dispersão e problema emocional, e o
examinando responde sem prestar atenção no que desenhou. Esse tipo de
desenho na maioria das vezes simboliza que L. W. P. vive mais no mundo da
285
fantasia do que no da realidade. Essa indicação é bastante acentuada também
quando se observa o telhado em ponta e com riscos tortos que ultrapassam o
limite do desenho, sugestão de impulsividade, fantasias e conflitos sobre
sexualidade.
A impulsividade é percebida tanto no formato como no tipo de traçado
da copa da árvore. sérias indicações que L. W. P. sofreu algum trauma
neste período, pois faz o tronco com galhos cortados e contido por duas linhas.
Se pensarmos que o tronco simboliza o desenvolvimento do ego, esse traçado
no topo do mesmo denota um desenvolvimento contido, barrado.
Comparando a figura humana com a anterior, percebe-se que a atual está
mais doente.
O que mais chama a atenção ao se observar é o formato dos olhos
cegos e com disparidade de tamanho. São olhos que nada vêem, que recusam a
enfrentar a realidade, imaturos, que não discriminam o ambiente. Esse mesmo
tipo de olhos ele faz no sol e diz que simboliza o avô que já morreu.
Os braços continuam abertos, menos receptivos e mal inseridos ao
tronco, apresentam disparidade de tamanho no comprimento e na largura, e as
mãos estão com menos de cinco dedos.
São braços imaturos, que não contém nada, não produzem e não o
capacitam para receber ou dar afetos.
Ao contrário que o teste anterior, nesta figura os cabelos estão em
negrito e espetados, simbolizando conflitos referentes à sexualidade e ao
poder.
O pescoço também continua mostrando conflitos na esfera sexual e na
dificuldade de controle dos impulsos corporais. Essa preocupação com o poder
e agressividade reprimida é observada no formato dos ombros e tórax como
uma caixa.
As pernas e pés, além da disparidade de tamanho, são mal inseridos nos
quadris, mostrando imaturidade, desajuste, falta de autonomia e conflitos na
esfera sexual.
Em relação aos traços de personalidade e as áreas de conflito, podemos
perceber:
1. Imaturidade;
2. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
3. Tendências à devaneio e fantasias;
286
4. Tendência à comportamentos impulsivos;
5. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
6. Traumas;
7. Dificuldade de discriminação do ambiente;
8. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
9. Tendência a hostilidade e agressão; e,
10. Falta de confiança para ações independentes.
5 – I. M. P.
IDADE: 12 ANOS E 11 MESES DATA DE NASCIMENTO:
08//09/1993. ESCOLARIDADE : 6ª SÉRIE.
1ª APLICAÇÃO: 24/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Os desenhos são feitos com pressão manual média e com predominância
de linhas decisivas, controladas e livres. Detalhes que sugerem boa energia,
tônus muscular adequado e vitalidade.
indicações que I. dedica bastante do seu tempo em fantasias, visto
que faz todos os desenhos no canto superior esquerdo da folha.
Faz saber, que o papel simboliza o ambiente e a localização dos
desenhos na folha revelam a adaptação do sujeito ao meio, como ele o
manipula, assim como a maneira de estar no mundo.
Os desenhos nesse quadrante sugerem além da tendência de buscar
satisfação mais na fantasia do que na realidade, uma tendência também a se
manter distante e inacessível. Também se pode pensar que I. tem objetivos
altos e muitas vezes inatingíveis reagindo a esses com passividade, reserva ou
inibição.
Essa forma de reação ao meio condiz com o tamanho das figuras, são
pequenas, minúsculas, sugerindo sentimentos de inadequação e baixa auto-
estima, repressão da agressividade e comportamento emocionalmente
287
dependente e ansioso.
Também podemos pensar que I. é inteligente, que os desenhos são
bem estruturados; porém apresenta problemas emocionais e reações não
adequadas às pressões ambientais.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Essa dedicação à fantasia também é confirmada pela construção do
telhado, subdividido em compartimentos, os quais são separados das paredes
que compõe a casa propriamente dita, por uma linha divisória. Esse tipo de
construção sugere uma tentativa de defesa sobre a perda de controle pela
fantasia. Temor que os impulsos atualmente expressos na fantasia se expandam
para o comportamento manifesto ou ainda distorçam a percepção da realidade,
mostram receio de perder o controle sobre a vida imaginativa.
Quando observamos a porta e a janela percebemos uma distorção no
tamanho, a janela é bem maior que a porta. Esses dados nos fazem pensar que
I. reluta em estabelecer contato com o ambiente, reagindo com timidez nas
relações com os outros.
De uma forma quase que oposta ao tronco da árvore, as paredes da casa
são firmes, mas o tronco é solto, torto, aberto na parte inferior e superior,
sugerindo que I. é indecisa, ambivalente e apresenta um comportamento
flutuante.
A ausência de raízes e da linha representativa solo ou chão nos indica a
sua falta de firmeza, a sua dificuldade de objetivação e diferenciação na vida.
Parece que ela vive como que suspensa no ar, sem os pés no chão.
Quando olhamos para a copa a percebemos vazia, sem recheio (sem
galhos, flores, folhas ou frutos). Isso nos faz pensar em sensação de vazio
interior, estagnação e interação pobre com o mundo.
Deixamos por último o desenho da figura humana, visto que I. no
inquérito diz ser uma adolescente de 12, 13 anos e o desenho represente uma
figura parecendo ser do sexo masculino. Isso nos faz pensar em dificuldades na
esfera sexual.
Mas vamos por partes para vermos o que mais ela quer nos dizer.
Uma construção que chama a atenção é a posição dos cabelos – cobrindo
quase que totalmente o rosto. Essa configuração é característica de pessoas
dissimuladas, com conflitos referentes à força e à virilidade, e com ansiedades
com relação a pensamentos e fantasias sexuais.
288
Ao que parece, I. está com problemas na contenção dos seus impulsos e
com conflitos entre os pensamentos e as funções do corpo (instintos) visto que
desenha um pescoço grande em relação à cabeça e faz uso da borracha.
Vamos para os ombros, são grandes e másculos (símbolo de
masculinidade), mostrando ambivalências na esfera sexual, necessidade de
poder, auto-afirmação, agressividade e de mostrar-se forte e dominar.
Esses dados se confirmam com o tamanho e a largura dos braços, porém
eles estão pendentes, sugerindo que apesar de serem braços fortes, pouco
poder de realização e de interação com o meio. Podemos interpretar que I.
reage ao mundo com passividade, inatividade, dependência e com sentimentos
de culpa.
As mãos fechadas nos fazem pensar tanto em agressividade como falta
de confiança nos contatos sociais e na produtividade. Também podemos inferir
que ela é passiva, apresenta possibilidade de contato limitada com o meio, com
dificuldade de toque ou relacionamentos afetivos.
outra construção que nos fala sobre a sexualidade da examinanda - a
calça está com o gancho elevado, mostrando preocupações sexuais,
possivelmente com a masturbação.
As pernas são desproporcionais na largura e altura, sugerindo conflitos,
falta de equilíbrio, autonomia e mobilidade.
Finalmente esses dados se confirmam pela posição dos pés um para
cada lado, mostrando indecisão, ambivalência e dissimulação de conflitos.
Dentre os traços de personalidade mais significativos e as áreas de
conflito que puderam ser identificadas, temos:
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Tendência a devaneio e fantasias;
3. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
4. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
5. Inibição e timidez;
6. Tendência à hostilidade e agressão;
7. Falta de confiança para ações independentes;
8. Sentimento de culpa;
9. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade; e,
10. Ambivalência, insegurança e indecisão.
289
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
O tamanho diminuto dos desenhos nos dão indicações claras de que,
frente ao meio, I. reage com sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima.
2ª APLICAÇÃO: 27/11/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Os desenhos aumentaram levemente de tamanho, continuam com
pressão manual média e com predominância de linhas decisivas, controladas e
livres. Detalhes que sugerem boa energia, vitalidade e necessidade de ser
importante.
A localização do desenho não mudou, continua no canto superior
esquerdo da folha. Indicações que continua dedicando bastante do seu tempo
em fantasias.
Os desenhos nesse quadrante sugerem além da tendência de buscar
satisfação mais na fantasia do que na realidade, uma tendência também a se
manter distante e inacessível. Também se pode pensar que I. tem objetivos
altos e muitas vezes inatingíveis reagindo a esses com passividade, reserva ou
inibição.
Observa-se que I. é inteligente, já que os desenhos são bem estruturados;
porém apresenta problemas emocionais e reações não adequadas às pressões
ambientais.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Numa observação superficial podemos achar que o desenho da casa
mudou de forma consistente, mas olhando com mais agudeza, percebemos que
os detalhes continuam os mesmos. A porta e a janela continuam com distorção
no tamanho e as janelas são bem maiores que a porta. Esses dados nos fazem
pensar que I. continua relutando em estabelecer contato com o ambiente,
reagindo de forma distante nas relações com os outros.
O tronco continua solto, e aberto na parte inferior e superior, sugerindo
290
que I. é indecisa, ambivalente e apresenta um comportamento flutuante.
A ausência de raízes e da linha representativa solo ou chão nos indica
falta de firmeza, dificuldade de objetivação e diferenciação na vida. Parece que
ela vive como que suspensa no ar, sem os pés no chão.
A copa continua vazia, sem recheio (sem galhos, flores, folhas ou
frutos). Isso nos faz pensar em sensação de vazio interior, estagnação e
interação pobre com o mundo.
Quanto à figura humana, desta vez I. desenha uma menina com aspecto
tímido e retraído.
Desta vez o cabelo não cobre mais o rosto, mas a cabeça é grande em
relação ao corpo, sugerindo conflitos.
Algo que nos chama a atenção é a construção dos ombros e braços. Os
ombros são em linha reta com ângulos e os braços e mãos estão atrás do corpo.
Estas construções mostram conflitos entre a necessidade de poder e auto-
afirmação e a capacidade de realização. I. não interage, é contida, tensa.
As pernas estão presas umas as outras, mostrando mais uma vez tensão,
imobilidade, possibilidade de contato limitada com o meio. Esse detalhe
também simboliza preocupações na área da sexualidade.
Finalmente, observa-se que os pés continuam um para cada lado,
mostrando indecisão, ambivalência e dissimulação de conflitos.
Dentre os traços de personalidade mais significativos e as áreas de
conflito que puderam ser identificadas, temos:
1. Tendência a devaneios e fantasias;
2. Tendência ao isolamento;
3. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
4. Ambivalência e indecisão;
5. Conflitos;
6. Medo, ansiedade e tensão; e,
7. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade.
6 – E. B. G.
IDADE: 11 ANOS E 1 MÊS DATA DE NASCIMENTO: 01/07/1995.
ESCOLARIDADE : 5ª SÉRIE
291
1ª APLICAÇÃO: 25/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Olhado os desenhos como um todo, percebemos que o examinando faz
uso de muita pressão manual para desenhar e utiliza traços longos e contínuos.
Isso é característico de pessoas com excesso de energia e vitalidade; assim
como de pessoas medrosas, inseguras, impulsivas, agressivas e hostis para com
o ambiente.
Existe uma disparidade de tamanho nos desenhos. A casa é média, a
árvore grande e a figura humana bem pequena.
E. B. G. pode estar nos falando de sua impulsividade e falta de padrão,
ou melhor, que ora reage às pressões ambientais com sentimentos de expansão,
agressão e idéias de grandeza; ora com sentimentos de inferioridade e menos-
valia e com dificuldade de se colocar assertivamente no meio.
Também não existe um padrão quanto à localização dos desenhos na
folha. Faz a casa relativamente central e a árvore e a figura humana na metade
inferior da folha. Podemos pensar que E. B. G. frente às pressões ambientais
reage com baixa auto-estima, retraimento, auto-envolvimento, insegurança e
humor deprimido.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Olhando a casa como um todo, percebemos a inclusão de mais detalhes
do que o solicitado (flores, uma espécie de animal?). A princípio, poderíamos
pensar em criatividade, mas pela configuração total do desenho, existe uma
sugestão maior de imaturidade, insegurança ou sentimento que o mundo é
incerto ou perigoso; como se ele precisasse encher de detalhes para se sentir
seguro.
Observando-se o telhado (área da fantasia), percebe-se que é dividido
em compartimentos, detalhe sugestivo de necessidade de controle da fantasia a
fim de não se perder na mesma (nem todas as linhas se cruzam). No canto
direito, ele desenha uma chaminé sem fumaça, indicando que há pouco calor e
afeto no lar. Esses dados são confirmados no inquérito.
292
As paredes estão tortas como que desabando, mostrando o seu fraco
controle de ego, seu desgaste emocional e a sua sensação de desintegração.
Essa casa como que suspensa no ar, nos faz pensar em rejeição ou
distanciamento da situação familiar e dos valores pertinentes, reagindo com
sentimento compensatório de superioridade.
Relacionamentos provavelmente não é o forte de E. B. G., visto que
desenha uma porta pequena em ralação ao corpo da casa e uma janela
distorcida. Essas configurações nos falam da sua relutância em estabelecer
contato com o ambiente e da sua tentativa de encobrir o desejo de manter-se
distante empregando uma afabilidade superficial, faz um caminho fechado
conduzindo a porta.
As flores e o animal são sugestivos de insegurança, necessidade de
proteção externa, ou então necessidade de erguer barreiras defensivas no
contato com as pessoas.
Vamos para à árvore:
E. B. G. a faz bem grande mostrando a sua necessidade de ser
importante. Percebe-se que atualmente é imaturo, tem predomínio da vida
instintiva, e, apresenta falta de adequação para expressar-se e interagir com o
ambiente, visto que a copa é relativamente pequena.
Comentando um pouco mais sobre a copa, percebemos que ele a
concebe com traçado encaracolado, o que é característico de indivíduos
impulsivos, com falta de autenticidade e com medo da vida real.
Os frutos soltos nos levam a duas interpretações: ou o examinando
apresenta um forte desejo de realizar, prosperar, de obter sucesso rápido; ou
pode também estar falando de desprendimento afetivo, sensação de rejeição, de
perda de valor e de que as boas relações com os familiares são inatingíveis.
Quando observamos o tronco, o percebemos reto, firme e estável, porém
ele o faz com uma cicatriz central. Essa cicatriz é sugestiva de traumas
psíquicos, algo que marcou o desenvolvimento em uma época mais remota.
E. B. G. desenha uma menina ao invés de alguém do próprio sexo, no
inquérito diz que é a irmã, que gostaria de ser como ela porque é feliz e que
está vestindo uma saia. Ora, a figura não apresenta nenhuma indicação de saia,
mostrando o pouco contato que tem com a realidade.
Desenhar uma figura feminina ao invés da masculina sugere não
aceitação do próprio sexo ou maior valorização do sexo oposto, o qual é visto
como mais importante.
Além disso, pode ser um indício que ele se identifica mais com esse
sexo ou, que o escolhe para projetar, nessa figura, aspectos seus.
293
Quando olhamos para a figura como um todo, percebemos que ela se
parece mais um boneco o que pode ser interpretado como fuga de situações
emocionais, esforço inconsciente de deformar a realidade numa atitude auto-
depreciativa.
Analisando agora passo a passo as características da figura chegamos a
mais dados interessantes.
Os cabelos (com rasuras e reforço de linhas) e o nariz (demarcado por
um ponto), podem representar que E. B. G. apresenta conflitos referentes a
força e virilidade; assim como, ansiedade frente a sentimentos de imobilidade
e/ou falta de defesas frente a fantasias e pensamentos sexuais. Essa
interpretação condiz com a omissão do pescoço, sugerindo também grande
dificuldade para a coordenação dos impulsos que vem do corpo e sensação de
desamparo por controle interno pobre.
Dificuldades de inter-relação social e de contato afetivo, podem ser
evidenciadas pela análise do rosto e dos braços no desenho.
Os olhos são cegos e distanciados, mostrando uma percepção vaga e não
diferenciada do mundo.
evidência de ansiedades, erotismo oral, dificuldade de inter-relação e
encobrimento de sentimentos de baixa auto-estima, através do desenho da boca
– grande, enfatizada e com as comissuras para cima igual à de um palhaço.
Os braços parecem estar refletindo as dificuldades de E. B. G. nas
interações sociais e nos vínculos afetivos. A posição em que se encontram é
desmostrativa de uma falta de naturalidade e espontaneidade no ambiente.
As mãos mostram necessidade de afeto, mas também revelam falta de
confiança nos relacionamentos ou na produtividade.
Parecem expressar ainda, sentimentos de culpa por agressividade ou
atividades auto eróticas.
O formato dos dedos como pétalas de flor é sinal conhecido de
imaturidade psíquica, baixo nível intelectual ou regressão, mas pode ser
também um indício de agressividade reprimida.
As pernas muito separadas e de diferentes tamanho, denotam uma
distorção do esquema corporal, dificuldades de locomoção e equilíbrio.
E, finalmente, a posição dos pés indica ambivalência e necessidade
apoio.
Dentre os traços marcantes de personalidade e tendências pode-se
destacar:
294
1. Medo, ansiedade e tensão;
2. Tendência à hostilidade e à agressão;
3. Tendência a comportamentos impulsivos;
4. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
5. Imaturidade;
6. Dificuldade no seio familiar;
7. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
8. Traumas;
9. Conflitos referentes à adolescência e à sexualidade;
10. Ambivalência, insegurança e indecisão; e,
11. Tendência a mascarar emoção para sentir-se aceito.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
A falta de padrão no tamanho dos desenhos são dados indicativos de
baixa auto-estima.
Outro detalhe relevante é a construção da figura humana, desprovida de
qualquer força, estática e dura como um boneco.
2ª APLICAÇÃO: 02/12/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
A pressão manual de excessiva passou para média, sugerindo maior
relaxamento. Todos os desenhos cresceram”, estão mais claros e melhor
estruturados.
Esse crescimento abrupto, com exceção da figura humana, pode estar
simbolizando tanto uma expansividade do ego como uma forte tendência à
impulsividade.
Os desenhos estão localizados na metade inferior da folha, sugerindo
tendência a pensamentos concretos.
ANÁLISE DOS DESENHOS
295
A casa continua com mais detalhes do que o solicitado, e agora existe a
presença de uma árvore. Esta árvore junto a casa sugere insegurança,
comportamento dependente, submisso e aderente.
O telhado está bem mais subdividido que o anterior, com linhas tortas
simbolizando telhas, mostrando a necessidade de controle da fantasia a fim de
não se perder na mesma.
Agora ele faz uma chaminé pegando toda a extensão da casa com
fumaça, simbolizando maior calor no lar ou profusão de fantasias sexuais.
Ao se observar as portas e janelas, percebe-se que são diminutas em
relação às paredes e à casa em geral, mostrando ainda a sua relutância em
estabelecer contato com o ambiente e da sua tentativa de encobrir o desejo de
manter-se distante empregando uma afabilidade superficial (no teste atual ele
elimina o caminho que conduz à casa e faz flores na janela).
O desenho da árvore quase que ultrapassa o limite da folha. O tamanho
da copa está mais harmonioso com o tronco, porém parece um quadrado
disforme. Ao observá-la, são claros os sinais de imaturidade e de pressão
ambiental (faz inclusive frutos soltos caídos).
O tronco continua firme, estável e com a cicatriz central. Desta cicatriz
sai um pequeno galo com um pássaro. Essas configurações são sugestivas tanto
de traumas psíquicos como de imaturidade.
Novamente E. B. G. desenha uma menina ao invés de alguém do próprio
sexo. Também continua afirmando que é a irmã, que gostaria de ser como ela
porque é feliz e que está vestindo uma saia. O desenho é o mais imaturo e
disforme dos três, sugere pouco contato com a realidade, pois não demarca a
cintura e diz que está vestindo uma saia.
Desenhar uma figura feminina ao invés da masculina sugere não
aceitação do próprio sexo e/ou maior valorização do sexo oposto, o qual é visto
como mais importante.
Analisando agora passo a passo as características da figura chegamos os
mais dados interessantes.
Os cabelos continuam com rasuras e reforço de linhas, sugerindo
conflitos referentes a força e virilidade; assim como, ansiedades ou
sentimentos de imobilidade e/ou falta de defesas frente fantasias e
pensamentos sexuais. Essa interpretação condiz com a omissão do pescoço,
sugerindo também grande dificuldades para a coordenação dos impulsos que
vem do corpo e sensação de desamparo por controle interno pobre.
Os olhos são cegos apesar da presença de sobrancelhas, simbolizando
296
mais uma vez sua percepção vaga e não diferenciada do mundo.
Os braços são ainda mais disformes que o anterior, no teste atual estão
um para cima e outro para baixo e as mãos são enormes e desproporcionais.
Estas construções refletem dificuldades nas interações sociais e nos vínculos
afetivos. As mãos expressam imaturidade, sentimentos de culpa por
agressividade ou atividades auto eróticas.
As pernas continuam muito separadas e de diferentes tamanho,
denotando uma distorção do esquema corporal, dificuldades de locomoção e
equilíbrio. E, finalmente, a posição dos pés indica ambivalência e necessidade
apoio.
Dentre os traços marcantes de personalidade e as principais tendências
pode-se destacar:
1. Tendência à comportamentos impulsivos;
2. Imaturidade com tendência ao pensamento concreto;
3. Falta de confiança para ações independentes;
4. Tendência à devaneios e a fantasias;
5. Harmonia nas relações familiares;
6. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
7. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
8. Sensação de pressão por parte do meio;
9. Tendência à hostilidade e agressão; e,
10. Ambivalência e indecisão.
7 – M. S. A.
IDADE: 11 ANOS E 1 MÊS DATA DE NASCIMENTO: 02/07/1995.
ESCOLARIDADE : 5ª SÉRIE
1ª APLICAÇÃO: 25/08/2006
297
ANÁLISE QUALITATIVA
M. S. A. desenha em um padrão: todos os desenhos estão localizados no
canto inferior esquerdo da folha, faz uso de muita pressão manual, e são
desenhos pequenos.
Ela está nos dizendo que estas são características dela e não reações
momentâneas frente a prova.
Apesar dos traços terem predominância de linhas decisivas e
controladas, como dito acima, são com muita pressão manual. Isso é indicativo
de excesso de energia e vitalidade; mas também o é de medo, insegurança,
tensão, ou agressividade e hostilidade para com o ambiente.
Pela localização na folha e pelo tamanho das figuras, fica claro que ela
apresenta um certo desajuste ao meio, reage às pressões ambiental com
sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima. Sente-se regredida
internamente, cheia de conflitos e fixada em estágios mais primitivos.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando aspectos gerais das figuras produzidas, pudemos verificar
que a examinanda dedica pouca energia para devaneios e pensamentos
fantasiosos. Ela é mais concreta, mais com os “pés no chão”, e tamm
podemos inferir que apresenta fortes tendências depressivas.
No momento indicações que está passando por fortes pressões por
parte do ambiente nuvens sobre a casa, borboleta de tamanho
desproporcional sobre a árvore e a cabeça extremamente achatada da figura
humana.
Esses detalhes são sugestivos de uma sensação mais ou menos
constante de ameaça e constrição por parte do ambiente. Estão mostrando
sentimentos de inadequação, insignificância e de desamparo para lidar com o
meio.
Observando-se ainda o desenho da casa, percebe-se que sobre o teto a
examinanda faz uma chaminé com omissão da fumaça, algo que pode ser
interpretado que no lar há pouco calor e afeto, dados esses que se confirmam
no inquérito.
No inquérito, fantasia que a casa desenhada é de uma amiga, em seguida
sai da fantasia e exprime aspectos seus e da sua própria família, comentando da
sua solidão e das desavenças intra-familiares.
298
Outro dado ainda no inquérito e compatível com os anteriores é que
imagina o tempo triste e nublado e ainda com muito vento. Essas verbalizações
podem simbolizar que, no momento, a testanda está em um período de fortes
pressões ambientais e com sérias tendências depressivas.
Também imaginou tanto a porta como as janelas fechadas, são respostas
coerentes com o desenho. Mas observando esses detalhes, percebemos uma
porta muito pequena em relação às paredes e janelas, que estão junto ao teto.
Esses detalhes nos dizem o quanto a examinanda está fechada para os
relacionamentos tanto dentro da própria casa, bem como para com o ambiente
em geral. Os relacionamentos são permeados por conflitos, retraimento,
cautela nas trocas interpessoais, relutância na interação com os outros, e de
medo defensivo do perigo externo com desejo de proteção.
Lendo as respostas do inquérito de M. S. A., percebemos que ela
realmente está num momento difícil. Comenta que sua árvore está morta
(resposta não comum). Em outro momento que a árvore a faz lembrar de coisas
tristes porque quebraram os galhos dela, mas que por outro lado é uma árvore
forte, pois apesar do mau trato, ela volta a crescer.
Os galhos são os braços da árvore. Alguns examinandos fazem o
desenho da casa cheia de janelas abertas, a figura humana com braços bem
grandes e a árvore com os galhos pendentes ou quebrados, o que nos leva a
interpretar que aparentemente essa pessoa se relaciona de maneira adequada
com o meio, mas que no fundo não é bem assim.
No caso de M. S. A. a situação é bastante caótica, pois no desenho da
casa como comentado acima, ela nos diz das suas dificuldades de
relacionamentos tanto intra-familiares como pessoais, a árvore idem; e a figura
humana ela a faz com braços rígidos, grudados ao corpo.
São braços que não interagem e, além disso, mostram controle interno
rígido, falta de flexibilidade, com sérias dificuldades em se aproximar e
estabelecer relações com as pessoas. Podemos perceber que também mostram
medo vinculado a impulsos hostis, fortes fantasias de agressividade ou
agressividade dissimulada, já que desenha punhos cerrados.
Vamos voltar para a árvore:
M. S. A. apresenta um ego rígido, vive sob forte necessidade de controle
frente às emoções, mostra necessidades de defesas para manter a integridade
da personalidade. Detalhe que pode ser observado pela sua construção do
tronco no desenho da árvore reto, rígido como um poste também nos diz
que apresenta recursos mais manuais do que afetivos.
299
Quando se observa a copa, a percebemos caída pelos lados do tronco e
sem ligação com o mesmo. Essa configuração é sugestiva de desprendimento,
imobilização da emoção, cansaço, falta de energia, indecisão, apatia e é muito
comum em pessoas com Transtorno Depressivo.
Vários dados da figura humana foram falados. Porém podemos
observar ainda outros bem interessantes que se complementam.
Percebemos que M. S. A. desenha uma figura masculina ao invés de
alguém do próprio sexo. Isto pode ser interpretado como uma não aceitação do
próprio sexo e/ou como uma maior valorização do sexo oposto, o qual é visto
como mais importante.
Por outro lado, desenhar primeiro a figura do sexo oposto, pode ser um
indício de que a examinanda se identifica mais com esse sexo ou que o escolhe
para projetar, nessa figura, aspectos seus.
De fato, podemos interpretar o desequilíbrio da figura desenhada, como
sendo uma representação de sua instabilidade psíquica e de suas dificuldades
pessoais. O adolescente está sobre um skate e este em cima de uma pedra, e
pela rigidez do corpo - “morrendo de medo de cair”.
Pode-se inferir que a examinanda está com uma preocupação ansiosa a
respeito do equilíbrio pessoal e a sua posição precária, mostra-se insegura e
com fraco controle sobre as reações e impulsos.
Outro detalhe que nos chama bastante a atenção são os olhos enormes.
Ora, isso é sugestivo de desconfiança, necessidade de controle, de maior
observação e de sensibilidade a críticas (dado compatível com a omissão das
orelhas).
Finalmente pode–se inferir que M. S. A. reage ao meio com uma
agressividade disfarçada (interna ou passiva).
Na maioria das vezes é comum em pessoas que voltam a sua cólera para
si mesma, assumindo muitas vezes um comportamento auto destrutivo.
Também em pessoas que não se expressam assertivamente, apresentando
pensamentos ou fantasias violentas, as quais nem sempre a mostram em
público e sofrem pela invasão interior de pensamentos negativos e destrutivos
e pelos esforços maciços de repressão para contenção desses impulsos. Outras
ainda são de difícil convivência e na maioria das vezes enfrentam problemas
com relacionamentos íntimos, mostram-se desconfiadas, hostis, apresentando
muitas vezes um afastamento silencioso e ressentido do convívio social.
Esses dados são confirmados pelos seguintes detalhes bocas com
dentes, ombros pequenos, braços rígidos e apertados ao corpo, punhos
fechados e pernas juntas.
300
Foram também evidenciados os seguintes traços de personalidade e
áreas de conflito:
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Tendência à hostilidade e agressão;
3. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
4. Imaturidade com tendências ao pensamento concreto;
5. Tendência à depressão;
6. Sensação de pressão por parte do meio;
7. Dificuldade no seio familiar;
8. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
9. Tendência à rigidez;
10. Medo, ansiedade e tensão; e,
11. Conflitos frente à adolescência e a sexualidade.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
O tamanho reduzido dos desenhos assim como a localização dos
mesmos no canto inferior esquerdo (canto da regressão) são detalhes
indicativos de baixa auto-estima.
2ª APLICAÇÃO: 01/12/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Nesses três meses quase não houve modificações no teste de M. S. A.,
os desenhos continuam localizados no canto inferior esquerdo da folha,
continua fazendo uso de muita pressão manual, e quase não aumentaram de
tamanho.
Esses detalhes simbolizam medo, insegurança, tensão, ou agressividade
e hostilidade para com o ambiente. Sugerem também certo desajuste ao meio,
301
que reage à pressão ambiental com sentimentos de inferioridade e baixa auto-
estima. indicações de que se sente regredida internamente, cheia de
conflitos e fixada em estágios mais primitivos.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando aspectos gerais das figuras produzidas, e comparando no que
elas têm de comum, pudemos verificar que a examinanda dedica pouca energia
para devaneios e pensamentos fantasiosos. Ela é mais concreta, mais com os
“pés no chão”, e também podemos acreditar que continua apresentando fortes
tendências depressivas.
Quanto à sensação de pressão por parte do ambiente, indicações de
que nada mudou, continua desenhado nuvens sobre a casa, borboleta de
tamanho desproporcional sobre a árvore e a cabeça extremamente achatada na
figura humana.
Esses detalhes são sugestivos de uma sensação mais ou menos
constante de ameaça e constrição por parte do ambiente. Estão mostrando
sentimentos de inadequação, insignificância e de desamparo para lidar com o
meio.
No desenho da casa desta vez ela elimina a chaminé, mostrando mais
uma vez a sensação de pouco calor no ambiente familiar, e no inquérito
comenta que vive com amigos e não com a família.
Ainda no desenho da casa, ao se observar a porta e janelas, percebe-se
que a mesma é muito menor que as janelas e que estas estão junto ao teto. A
examinada continua fechada para os relacionamentos tanto dentro da própria
casa, bem como para com o ambiente em geral.
Desta vez, houve uma pequena modificação no desenho da árvore,
havendo a construção de frutos soltos; podendo-se pensar em desapego,
desprendimento, reações desarmoniosas com os familiares e é muito comum
em pessoas com Transtorno Depressivo.
Ainda no desenho da árvore algo que nos chama a atenção é a
construção do tronco, reto feito um poste, mostrando extrema rigidez. Esse
tronco entra na copa da árvore em total desarmonia. Fica claro o pouco contato
que apresenta com o meio e as sérias dificuldade em se aproximar e
estabelecer relações com as pessoas.
Desta vez M. S. A. desenha uma figura humana feminina bastante
detalhada. Um detalhe muito chamativo é o formato dos braços, em total
302
desarmonia com os ombros, mostrando mais uma vez toda a sua dificuldade
em estabelecer relações afetivas com o meio. As mãos estão fechadas
denotando medo vinculado a impulsos hostis, fortes fantasias de agressividade
ou agressividade dissimulada.
Outro detalhe que nos chama bastante a atenção são os olhos
estrábicos, mostrando rebeldia e contato escasso com o meio.
várias indicações sobre a preocupação e policiamento dos impulsos
(olhos estrábicos, construção do nariz, boca tencionada, pescoço saliente e
cinto), parece que reage ao meio com uma agressividade disfarçada (interna ou
passiva).
Foram também evidenciados os seguintes traços de personalidade e
áreas de conflito:
1. Medo, ansiedade e tensão;
2. Tendência à hostilidade e agressão;
3. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
4. Fixação no passado ou em estágios mais primitivos;
5. Tendência a depressão;
6. Sensação de pressão por parte do meio;
7. Sentimento de desamparo e abandono;
8. Dificuldade no seio familiar;
9. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo; e,
10. Tendência à rigidez.
8 – C. C. V.
IDADE: 12 ANOS DATA DE NASCIMENTO: 28/08/1994.
ESCOLARIDADE : 5ª SÉRIE
1ª APLICAÇÃO: 29/08//2006
ANÁLISE QUALITATIVA
303
Observando-se os desenhos, a primeira coisa que chama a atenção é o
seu tamanho, reduzidíssimo, bem como sua localização, no cantinho esquerdo
do papel.
Ora, estas são características típicas de pessoas muito inibidas,
introvertidas e tímidas, com forte sentimento de inferioridade e com problemas
de ajustamento ao ambiente.
A explicação tem lógica: se a folha em branco representa o mundo
externo, colocar-se de forma tão pequena, num cantinho dela, significa que,
provavelmente é assim que a pessoa se sente frente ao mundo, isto é,
amedrontada, querendo fugir do mesmo. Indica também uma tendência à
depressão e a manter um controle intelectual frente a situações difíceis.
Além disso, o fato de ter escolhido a parte inferior esquerda da folha
sugere insegurança e uma necessidade de manter-se presa, firme e solidamente,
à realidade e ao concreto. Também significa um comportamento mais
regressivo, como se tivesse que voltar ao passado, em uma época mais feliz
para manter o equilíbrio.
Através da muita pressão manual utilizada ao desenhar, C. C. V. revela
medo, tensão, insegurança, agressividade e hostilidade para com o ambiente.
Também mostra aguda consciência da necessidade de autocontrole, mas com
falta de adaptação para manter o equilíbrio.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando agora aspectos comuns das figuras e observando detalhes de
cada uma delas, pode-se acrescentar novos dados:
A casa, apesar dos traços fortes, parece estar balançando, mostrando
além de excessiva pressão por parte do ambiente, certo colapso do ego.
Quando observamos a porta e a janela percebe-se aí uma distorção,
sendo que a janela é bem maior que a porta. Esses dados nos fazem pensar que
a examinanda reluta em estabelecer contato com o ambiente, reagindo com
timidez nas relações com os outros.
A janela junto ao teto sugere que os relacionamentos não são no aqui e
agora”, são feitos por meio de devaneios e fantasia. As folhas da janela, apesar
de estarem abertas, apresentam um sinal da cruz, sugerindo conflitos e
oposição. indicações de que C. C. V. quer se relacionar com os outros,
304
mesmo que seja no nível de fantasias, mas ao mesmo tempo não quer, prefere
manter-se isolada.
Vamos para a porta pequena e encostada na parede. Ora isso pode ser
interpretado como extrema dependência do meio, é comum em pessoas que
visam obter atenção e cuidados, acreditando-se incapazes de funcionar
adequadamente sem o auxílio de outras pessoas. Na maioria das vezes
apresentam muita dificuldade em tomar decisões independentes, estão sempre
precisando de aconselhamento e tranqüilização por parte de outros.
Olhando a árvore com bastante agudeza, percebemos o tronco firme e
estável, e aberto na parte superior. Esse tipo de tronco é comum em pessoas
que “empurram com a barriga”, não concluem nada, não tomam decisões
consistentes. Geralmente se omitem por falta de confiança e baixa auto-estima.
Percebe-se também a copa caída pelos lados do tronco, algo que é
esperado em desenhos de depressivos Os três frutos caídos mostram, além da
depressão e pressão ambiental; sentimentos de rejeição e perda.
No desenho da figura humana, vê-se que a intenção foi simplificar ao
máximo, apelando para representações esquemáticas. Este dado pode ser
interpretado primeiramente como grande dificuldade nas relações
interpessoais, assim como expressão de desprezo e hostilidade em relação a si
mesmo.
O desenho pedagógico (figura de palitos), no caso da examinanda
extremamente rasurado, também pode ser interpretado como uma dissimulação
exagerada dos conflitos, medo extremo de se expor; e desprezo ou censura ao
corpo.
Ao representar os olhos com disparidade de tamanho, C. C. V.
demonstra recorrer a meios imaturos para enfrentar a vida, revela imaturidade
e carência afetiva, tendência à introversão, isolamento e à não aceitação do
meio.
A representação da boca, com um traço reto mostra tensão e dificuldade
em colocar-se assertivamente no meio, além de rejeição do ambiente e
negação.
E finalmente a omissão do nariz sugere sentimento de imobilidade, falta
de defesa, timidez e sensação de desamparo.
Dentre os traços de personalidade observados, destacam-se basicamente:
1. Inibição e timidez;
2. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
305
3. Tendência à depressão;
4. Fixação no passado ou em estágios primitivos;
5. Tendência à hostilidade e agressão;
6. Medo, ansiedade e tensão;
7. Sensação de pressão por parte do meio;
8. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
9. Falta de confiança para ações independentes;
10. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade; e,
11. Tendência ao isolamento.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
A construção dos desenhos de pequenos para um tamanho
reduzidíssimo, minúsculo, mostra que C. C. V. se posiciona no mundo de
forma totalmente desprovida de qualquer força, reagindo ao mesmo com
intensos sentimentos de baixa auto-estima.
2ª APLICAÇÃO: O1/12/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Nesses três meses qualitativamente a única coisa que mudou foi a
pressão do lápis ao desenhar. Os traços de pressão excessiva passou para
média sugerindo maior relaxamento. Os desenhos continuam extremamente
pequenos e localizados no cantinho esquerdo do papel.
Percebe-se que C. C. V. continua inibida, introvertida e tímida; com
baixa auto-estima, sentimento de inferioridade e dificuldade de ajuste ao meio.
Também continua com forte tendência à depressão.
Como no teste anterior o canto inferior esquerda da folha, sugere
insegurança e uma necessidade de manter-se presa, firme e solidamente à
realidade e ao concreto. Também significa um comportamento mais
regressivo, como se tivesse que voltar ao passado à uma época mais feliz para
manter o equilíbrio.
306
ANÁLISE DOS DESENHOS
Comparando cada desenho em particular e analisando os aspectos
comuns podemos acrescentar novos dados:
A casa atual parece mais doente” que a anterior. Desenha uma espécie
de chalé. O teto apesar dos vários riscos indicando telhas, é minúsculo em
relação as paredes, mostrando um comportamento mais prático, voltado para a
realidade concreta.
A porta e janela continuam na mesma posição que o anterior (porta
encostada na parede e a janela junto ao teto), sugerindo que a examinanda
continua relutando em estabelecer contato com o ambiente e reagindo com
timidez nas relações com os outros.
Como no anterior a janela junto ao teto sugere que os relacionamentos
não são no “aqui e agora”, são feitos por meio de devaneios e fantasias; além
de serem permeados de conflitos, oposição e isolamento.
A porta pequena e encostada na parede continua mostrando dependência
do meio e das pessoas em geral para novos relacionamentos.
A árvore desta vez está mais consistente e saudável.
O tronco continua firme e estável, e desenha uma copa vazia e em ponta.
Este tipo de copa é comum em pessoas agressivas e intolerantes com críticas.
O desenho da figura humana desta vez está quase completo. O principal
detalhe que nos chama a atenção é a ausência das características faciais
(omissão de olhos, nariz e boca). Essa ausência simboliza extrema dificuldade
nas relações interpessoais, medo de se expor, assim como expressão de
desprezo e hostilidade em relação a si mesmo.
Os braços também são com disparidade de tamanho e mal postos aos
ombros, mostrando toda a dificuldade de C. C. V. em interagir com o meio de
forma assertiva.
As pernas também são de diferentes tamanhos e abertas, simbolizando
falta de equilíbrio e ambivalência quanto à autonomia e dependência.
Dentre os traços de personalidade observados, destacam-se basicamente:
1. Inibição e timidez;
2. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
3. Tendência à depressão;
4. Insegurança;
5. Tendência à pensamentos concretos;
307
6. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
7. Tendência ao isolamento;
8. Falta de confiança para ações independentes;
9. Tendência à hostilidade de agressão;
10. Medo, ansiedade e tensão; e,
11. Ambivalência e indecisão.
9 – M. P. S.
IDADE: 11 ANOS E 3 MESES DATA DE NASCIMENTO: 01/5/1995.
ESCOLARIDADE : 5ª SÉRIE
1ª APLICAÇÃO: 29/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
A localização das figuras, na parte inferior da folha, constitui-se de um
sinal evidente de dependência e da necessidade de suporte da examinanda.
Este dado é também demonstrativo de insegurança e inadequação frente
ao meio. Simboliza ainda tendência à depressão e orientações para o concreto.
Seu traçado contínuo e com excesso de pressão manual denota tensão,
medo de tomar iniciativas e/ou falta de autoconfiança.
O uso da borracha no desenho da casa e da figura humana pode ser
interpretado como uma evidência de conflitos relativos à auto-imagem e
autoconceito.
A disparidade de tamanho, do crescente para o decrescente (a casa é
grande, a árvore é média e a figura humana é pequena) sugere que, conforme o
teste vai progredindo, M. P. S. vai ficando cada vez mais ansiosa e vai se
diminuindo”.
Essa diminuição indica que, na medida em que os desenhos vão
deixando de ser mais ou menos neutros e passam a provocar associações mais
conscientes com a auto-imagem, os conflitos vão se emergindo com mais força
308
e as dificuldades psicológicas vão ficando mais evidentes.
ANÁLISE DOS DESENHOS
O que primeiro nos chama a atenção no aspecto geral dos três desenhos
é a quantidade de detalhes. Independente do pedido do aplicador, há indicações
que a examinanda começou a desenhar e não parou enquanto não encheu toda
a folha.
Em um primeiro momento poderíamos pensar que ela é impulsiva ou
criativa. Lendo o inquérito, percebe-se que as respostas são pobres, pouco
esclarecedoras, sugerindo ansiedade e uma insegurança profunda.
Além disso, os detalhes nos três desenhos, mostram falta de confiança
no próprio julgamento e dúvidas sobre a capacidade de discernir para tomar
decisões, levando-a a defender-se contra o caos interno criando um mundo
altamente estruturado.
Essa colocação de detalhes não solicitados (cercas, árvores, borboletas,
casas menores, flores, nuvens, etc.) também revelam necessidade de proteção e
suporte.
Revelam falta de confiança em si para ações independentes e fortes
necessidades de apoio e proteção das pessoas em geral.
Esse tipo de apresentação é comum em pessoas que muitas vezes
subordinam suas próprias necessidades às dos outros, fazem com que outras
pessoas assumam responsabilidades pelas principais áreas de suas vidas, e
podem experimentar intenso desconforto quando sozinhas.
Outras visam obter atenção e cuidados, acreditando-se incapazes de
funcionar adeqüadamente sem o auxílio das pessoas.
Passando-se agora à análise dos aspectos expressivos dos desenhos e
comparando-os no que eles têm de comum, novos dados podem ser
acrescentados:
Com respeito ao desenho da casa, a examinanda revela fortes pressões
por parte do ambiente (o telhado está abaulado, as paredes tortas). Essas
construções são indicativas que M. P. S. vive com uma sensação mais ou
menos constante de ameaça e constrição por parte do ambiente.
Observando-se também a copa do desenho da árvore, a percebemos
levemente achatada. Na cabeça da figura humana, M. P. S. precisou fazer uso
da borracha.
Ora, podemos acreditar que, além das pressões por parte do ambiente,
309
M. P. S. apresenta fortes sentimentos de inadeqüação, inferioridade e de
desamparo para lidar com o meio.
Esses apontamentos são condizentes quanto observamos as janelas no
desenho da casa, os galhos no da árvore e os braços da figura humana.
No inquérito, M. P. S. diz que as janelas estão abertas mas, em
contrapartida as desenha fechadas, mostrando pouco contato com a realidade.
Se pensarmos na localização das mesmas, percebemos que uma está
encostada na parede e junto ao teto e, a outra, no sótão, revelando a sua
dificuldade para encarar a realidade e o pouco contato direto com o meio.
Observando o desenho da árvore percebe-se um tronco firme e estável
terminando em dois galhos opostos. Várias interpretações podem advir dessa
construção:
O galho esquerdo é bem maior do que o direto, mostrando que os
contatos são regressivos, ou que talvez em épocas anteriores a interação com o
meio era mais prazerosa. Como eles estão opostos e fechados, esse tipo de
construção sugere que M. P. S. reage ao mesmo com negativismo e
agressividade.
No lado direto do tronco um galho soldado em formato fálico
mostrando preocupações no campo da sexualidade.
A cabeça grande no desenho da figura humana mais uma vez mostra os
sentimentos de inferioridade e menos-valia da examinanda.
Novamente ela está nos trazendo que a adolescência está chegando com
uma serie de preocupações com o poder e a virilidade, visto que faz uso da
borracha na construção do cabelo e constrói o nariz em perfil e voltado para o
lado esquerdo da folha.
Os olhos - os olhos são grandes e espertos, sugerindo desconfiança,
medo de perder algum detalhe do ambiente, mostrando a necessidade de
observar tudo para não perder nada. Quando se observa em conjunto com a
boca, pode-se inferir que ela apresenta grande necessidade de obter aprovação
e aceitação social, pois a boca está fechada, tensa, e com as comissuras para
cima (um sorriso forçado).
O pescoço curto e grosso mais uma vez mostra que M. P. S. está tendo
dificuldade em controlar e entender seus impulsos.
O posicionamento dela frente ao meio é destituído de qualquer tipo de
força, visto que os ombros são extremamente estreitos.
A examinada também mostra sérios problemas de comunicação e
interação com o meio. Amplos sentimentos de desamparo, abandono,
inadequação e menos-valia, visto que faz os braços amputados.
310
Podemos interpretar também essa amputação como culpa e ansiedade
por atividades masturbatórias (necessidade de auto mutilação).
Finalmente percebe-se que omissão dos pés, mostrando toda a sua
dificuldade em caminhar na vida e interagir com o meio.
As tendências e os traços de personalidade principais que podemos
destacar foram:
1. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
2. Medo, ansiedade e tensão;
3. Falta de confiança para ações independentes;
4. Sensação de pressão por parte do meio;
5. Fixação no passado ou em estágios primitivos;
6. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
7. Tendência à mascarar emoções para sentir-se aceita;
8. Sentimento de desamparo e abandono;
9. Sentimento de culpa;
10. Insegurança;
11. Criatividade; e,
12. Imaturidade.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
O excesso de detalhes não solicitados juntamente com uma diminuição
do tamanho das figuras conforme o teste vai progredindo, pode-se inferir que
M. reage ao meio com sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima.
2ª APLICAÇÃO: 27/11/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Qualitativamente, nesses três meses, pouca coisa mudou nos desenhos.
Continuam centrais e na metade inferior da folha e com excesso de detalhes,
simbolizando insegurança e dependência do meio e necessidade de suporte.
O traço permanece contínuo (impulsividade), mas a pressão do lápis ao
311
desenhar passou de excessiva para média sugerindo maior relaxamento.
Os desenhos continuam com disparidade de tamanho, da crescente para
o decrescente (casa é grande, a árvore é média e a figura humana é pequena) o
que indica que conforme o teste vai progredindo M. P. S. vai ficando cada vez
mais ansiosa e vai “se diminuindo”.
O excesso de detalhes nos dois testes indica insegurança, sentimento de
que o mundo é incerto ou perigoso, conflitos e dificuldade de entendimento.
No caso da nossa examinanda esses detalhes excessivos não enriqueceram os
desenhos, ao contrário, mostraram desordem emocional e pouca percepção da
realidade visto que faz no desenho da casa uma parede transparente.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Ao ser solicitada para desenhar a casa, M. P. S. faz uma escola cheia de
detalhes, algo não comum. Além disso, desenha carteiras que podem ser vistas
através de uma parede transparente. Esses detalhes denotam pouca percepção
da realidade. Também desenha duas árvores ao lado da escola, mostrando
necessidade de proteção e acolhimento.
Não desenha janelas e faz uma porta com indicação de estar fechada
com uma menina na frente. No inquérito comenta que a porta está aberta
mostrando mais uma vez o seu pouco contato com a realidade. indicações
que M. P. S. foi desenhando de uma forma impulsiva e nem olhou o desenho
para responder o questionário. Além disso responde que a “casa” desenhada é
da mãe e que nela mora toda a família.
Outros detalhes significativos são a nuvem, o sol com carinha e olhos
cegos, telhado como que desabando; e a fantasia (no inquérito) de vento forte.
Esses detalhes sugerem sensação de pressão por parte do meio. indicações
que o excesso de detalhes é uma tentativa que a examinanda encontrou para se
defender do caos interno, uma maneira de reestruturação.
O desenho da árvore desta vez está mais saudável que o anterior.
Detalha flores e frutos na copa e no solo, simbolizando desejo de realizar,
interesse pela aparência e vaidade. Mas esses detalhes estão em conflito, visto
que desenha uma copa pequena em relação ao tronco, mostrando baixa auto-
estima, sentimento de inadequação e dificuldade de realização. Esses detalhes
são compatíveis com o sol entre nuvens, mostrando mais uma vez indícios de
pressão ambiental.
O tronco está mais forte e grosso, porém continua dividido em dois
312
galhos opostos. Esse tipo de construção é indicativa de ambivalência,
negativismo e agressividade.
No desenho da figura humana, os detalhes são realmente excessivos e
totalmente incompatíveis com o inquérito. Faz duas figuras e responde que é
uma menina com o primo. Na questão seguinte comenta que pensava no pai,
mãe e irmã e o restante das perguntas responde que não sabe.
Como dito acima esse excesso de detalhes sugere além de
impulsividade, tentativa de estruturação por parte do ego.
Vamos à figura humana: em primeiro lugar no inquérito diz que
desenhou uma menina com seu primo e desenha duas meninas (deficiência no
contato com a realidade). As figuras estão próximas - de braços dados, porém
assemelham-se a pessoas desnutridas totalmente desfalecidas.
Os cabelos são ralos, mostrando falta de vitalidade, os olhos são cegos
dizendo mais uma vez do pouco contato com a realidade.
As mãos estão escondidas atrás das costas e os braços são finos, mal
ligados ao tronco e desnutridos. Essas configurações mostram, além de toda a
dificuldade de interação com o meio, extrema dependência.
O pescoço grosso e em desarmonia com o tronco nos diz da dificuldade
de M. P. S. em controlar e entender seus impulsos.
Também desenha uma espécie de linha indicando o chão, porém os pés
não fazem contato com a mesma, as figuras estão no ar mostrando mais uma
vez o pouco contato que a examinanda apresenta com a realidade.
As tendências e os traços de personalidade principais que podemos
destacar foram:
1. Insegurança;
2. Falta de confiança para ações independentes;
3. Tendência à comportamentos impulsivos;
4. Conflitos;
5. Desatenção e pouco contato com a realidade;
6. Sensação de pressão por parte do meio;
7. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
8. Ambivalência e indecisão;
9. Dificuldade de contato com o meio e de contato afetivo; e,
10. Conflitos referentes a adolescência e a sexualidade.
313
10 – L. P. S.
IDADE: 12 ANOS DATA DE NASCIMENTO: 29/08/1994.
ESCOLARIDADE : 6ª SÉRIE
1ª APLICAÇÃO: 24/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Em relação ao tipo de traço e a pressão manual, L. P. S. demonstra ser
uma pré-adolescente ajustada e auto-dirigida e centrada.
Os dois primeiros desenhos estão localizados no lado esquerdo da folha,
e a figura humana é central. Esse movimento pode simbolizar que L. P. S.
começa o teste introvertida, preocupada e depois vai relaxando e procurando
uma posição mais central.
O mesmo acontece com o tamanho das figuras, começa a casa pequena e
a árvore e a figura humana são médias, sugestivo de ansiedade apenas
situacional.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Observando a casa como um todo, percebe-se uma pequena
desproporção no tamanho do telhado, ou melhor, ele é levemente maior em
relação às paredes. Essa desproporção é característica de pessoas que
interagem com o meio mais a nível de fantasia do que de realidade. Esse dado
é compatível com a posição da janela, visto que está próxima ao teto e fechada.
L. P. S. é relutante nos contatos, é introvertida.
Essa construção é comum em pessoas que primeiro “cheiram” o
ambiente para depois se abrirem, apresentando uma interação controlada com
o meio.
No inquérito, L. P. S. diz que a casa precisa de alegria e que o tempo
está nublado e com vento. Esses dados podem ser interpretados como uma
sensação mais ou menos constante de ameaça por parte do meio, sugerindo
314
sentimentos de inadequação e desamparo para lidar com o ambiente.
O desenho da árvore é mais expressivo quanto ao tamanho, porém o
tronco é totalmente solto, sem raízes, linha do solo e sem ligação com a copa.
Esse tronco solto e aberto nas duas extremidades mostra a sua falta de
apoio, desorientação, falta de firmeza e insegurança.
É comum em pessoas que sentem falta de confiança no próprio
julgamento, que vivem vacilando entre dois extremos, entre dois caminhos ou
duas possibilidades. Na maioria das vezes agem como uma balança em
constante movimento, oscilando de um extremo ao outro no sétimo céu ou
miserável como o inferno, extremamente ativo ou complemente apático, num
dia entusiasmado por uma idéia nova, no dia seguinte totalmente
desinteressado.
Também pode-se interpretar que L. P. S., sente-se solta, isolada, não
fazendo parte de nenhum contexto.
A copa vazia, sem ligação com nada, nos mostra um distanciamento nos
relacionamentos sociais, dificuldade de contato próximo com as pessoas,
inibição das vias de expressão, reserva, retraimento, distanciamento e até
talvez desejo de romper com o mundo exterior.
Esse tipo de construção é comum em pessoas inacessíveis nas relações
interpessoais e que têm medo de se exporem. São pessoas que parecem não
possuir desejo de intimidade, mostram-se indiferentes às oportunidades de
desenvolver relacionamentos íntimos e parecem não obter satisfação do fato de
fazerem parte de uma família ou de algum grupo social.
Muitas delas vivem absortas em si mesmas e freqüentemente reagem ao
meio com sentimentos compensatórios de superioridade, onipotência ou
resignação fantasiosa.
L. P. S. no inquérito disse que desenhou uma menina de oito anos.
Observando o desenho como um todo se percebe que a figura parece ser mais
masculina do que feminina.
Tal dado pode ser interpretado como uma não aceitação do próprio sexo
ou maior valorização do sexo oposto.
Por outro lado, desenhar uma figura feminina com características
masculinas, também pode ser um indício de que a examinada se identifica mais
com esse sexo ou que escolhe para projetar nessa figura, aspectos seus.
315
A figura está estática e rígida, e acusa uma certa passividade ou uma
contenção forçada dos impulsos instintivos. Também mostra uma atitude
expectante frente à vida.
Observando o desenho passo a passo, novos dados podem ser
levantados:
A testa, muito curta e encoberta por uma franja repartida ao meio, pode
ser analisada como dificuldades intelectuais dissimuladas e sentimentos
ambivalentes.
Observando-se o rosto como um todo, o que mais nos chama a atenção
são os olhos - grandes e bem delineados. São olhos sedutores, observadores e
desconfiados.
Os braços desproporcionais, rígidos e curtos demonstram a pouca
mobilidade e espontaneidade que tem nos contatos com as pessoas. Além
disso, revelam inibição de movimento, timidez e pouca espontaneidade no
ambiente.
A representação das mãos e dos dedos em forma de pétalas é um aspecto
primitivo que sugere agressividade reprimida, submissão, insegurança, temor
ou sentimento de culpa nos contatos interpessoais, na produtividade ou
atividades sexuais.
Também podemos inferir que nas mãos grandes, L. P. S. está revelando
que é grande a sua cota de agressividade e tendências hostis.
A representação das pernas denota certa insegurança e instabilidade, e
falta de firmeza no contato com o ambiente (são desproporcionais uma é
mais fina que a outra).
A posição dos pés (um para cada lado) imprime a figura um movimento
hesitante, e também mostra ambivalência, indecisão, oposição e dissimulação
de conflitos.
Concluindo, através da postura das pernas e dos pés, fica evidenciado
que a pessoa ali representada teria dificuldade para movimentar-se e mesmo,
para manter o equilíbrio.
Os traços de personalidade e as tendências mais significativas que
puderam ser identificadas são:
316
1. Recursos internos de defesa frente ao estresse;
2. Tendência à devaneios e fantasias;
3. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
4. Sensação de pressão por parte do meio;
5. Tendência ao isolamento;
6. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
7. Tendência à rigidez;
8. Ambivalência e insegurança;
9. Sentimento de culpa;
10. Tendência à hostilidade e agressão.
DETALHES REFERENTES À AUTO-ESTIMA
Entre as tendências mais significativas e as zonas de conflito, não houve
nenhum detalhe condizente com a auto-estima. Podemos inferir que a
examinanda apresenta uma auto-estima elevada e apresenta recursos internos
de defesa frente ao estresse.
2ª APLICAÇÃO: 02/12/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Nesses três meses os desenhos diminuíram levemente de tamanho,
sugerindo uma maior dificuldade em se colocar no meio de forma assertiva,
timidez e repressão da agressividade. Como os desenhos estão mais centrais
podemos inferir que ela pensa ou se conscientiza das dificuldades, mas sente-
se incapaz de ultrapassar os seus limites. O traço e a pressão manual continuam
normais.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Observando a casa como um todo, percebe-se uma construção levemente
torta, como que desabando, sugerindo colapso do ego. Esse tipo de construção
317
também é comum em pessoas negativistas, ou que fazem o teste com pouco
caso, desenham de qualquer jeito só para ficar livre da situação.
A construção do telhado desta vez está mais proporcional em relação as
paredes, simbolizando esforços em interagir mais na realidade do que na
fantasia. No inquérito, L. P. S. continua dizendo que a casa precisa de alegria.
O desenho da árvore é menor que o anterior. O tronco continua
totalmente solto - sem raízes, linha do solo, ou sem ligação com a copa e com
reforço de linhas no lado esquerdo. Essas configurações são sugestivas de
desorientação, falta de firmeza, insegurança e falta de apoio. É comum em
pessoas que se sentem “soltas”, isoladas, não fazendo parte de nenhum
contexto.
A copa vazia, sem ligação com nada continua mostrando distanciamento
nos relacionamentos sociais, inibição das vias de expressão, reserva,
retraimento, distanciamento e até talvez desejo de romper com o mundo
exterior.
Na figura humana, desta vez L. P. S. comenta que desenhou um menino
de 11 anos. Comparando os dois desenhos percebemos muitos pontos
semelhantes, porém o atual além de estar menor que o anterior, percebe-se que
está mais “doente”.
Essa redução no tamanho da figura podemos inferior que a examinanda
sente-se pequena e inferior frente ao meio, com dificuldade em se expor e em
defender-se. Além disso, desenhar uma figura masculina ao invés de feminina
com idade inferior a dela mostra que L. P. S. não está projetando aí um
possível objeto de desejo (paquera) e sim uma não aceitação do próprio sexo
ou maior valorização do sexo oposto.
A figura continua estática e rígida, e com uma atitude expectante frente
à vida.
Vários detalhes nos chamam a atenção: primeiro a testa, muito curta e
encoberta por uma franja repartida ao meio, que como no teste anterior pode
ser analisada sentimentos ambivalentes frente a virilidade e sexualidade.
Os olhos são grandes e cegos (no anterior eram bem delineados e com
pupila). indicações que a examinanda está apresentando dificuldade tanto
de observação e contato interno como com do próprio meio.
Os braços continuam desproporcionais e rígidos demonstrando pouca
mobilidade e espontaneidade nos contatos interpessoais. Além disso, revelam
318
inibição de movimento, timidez e falta de espontaneidade no ambiente.
As mãos e dedos estão ainda mais primitivas que o anterior, mostrando
agressividade reprimida, temor e sentimento de culpa nos contatos
interpessoais, na produtividade e/ou atividades sexuais.
Também podemos inferir que nas mãos grandes, L. P. S. está revelando
que é grande a sua cota de agressividade e tendências hostis.
As pernas estão desproporcionais mostrando insegurança, instabilidade,
e falta de firmeza no contato com o ambiente. Os pés são pequenos, de
diferente tamanho e em direção opostas, mostrando dificuldade e contato,
sentimentos ambivalentes, oposição e conflitos.
Os traços de personalidade e as tendências mais significativas que
puderam ser identificadas foram:
1. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
2. Inibição e timidez;
3. Tendência a hostilidade e agressão;
4. Negativismo;
5. Insegurança;
6. Tendência ao isolamento;
7. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
8. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
9. Tendência à rigidez;
10. Ambivalência e indecisão;
11. Desatenção e pouco contato com a realidade; e,
12. Sentimento de culpa.
11 – C. A. V.
IDADE: 13 ANOS E 2 MESES DATA DE NASCIMENTO: 13/08/1993.
ESCOLARIDADE : 6ª SÉRIE
319
1ª APLICAÇÃO (SEM INQUÉRITO)
ANÁLISE QUALITATIVA
Existe uma diminuição gradual no tamanho dos desenhos da casa à
figura humana, algo que pode ser interpretado como baixa auto-estima e
dificuldade em atuar assertivamente no meio.
Faz a casa no canto inferior esquerdo e conforme o teste vai progredindo
procura uma posição mais central (figura humana). Esse movimento simboliza
um desejo interno de ser visto, de ser notado, mas com poucos recursos
internos, visto que faz a figura pequena.
Quando se observa os traços, embora as linhas sejam firmes, C. A. V.
faz uso de muita pressão, sugerindo ansiedade, medo, insegurança,
agressividade e hostilidade para com o ambiente.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando agora os aspectos comuns nos desenhos, percebe-se dedica
pouco tempo à fantasia, ele atua e entende os aspectos da vida mais no
concreto.
Observando-se a posição e tamanho da porta e janelas, assim como os
galhos da árvore e os braços da figura humana, itens que se equivalem
simbolicamente; podemos inferir que C. A. V. apresenta dificuldades nos
relacionamentos interpessoais. A porta além de rasurada, é desproporcional as
janelas, os galhos estão um para cada lado, em posições opostas; e a figura
humana, está com os braços estendidos lateralmente em angulo reto em relação
aos ombros. Estes tipos de construções mostram além de sérias dificuldades de
interação com o meio, muitas vezes reação ao mesmo ora com negativismo e
oposição, ora com extrema rigidez.
Observando-se as raízes da árvore, a posição dos cabelos e a construção
das mãos (maiores que os braços), percebe-se que C. A. V. reage ao meio com
um certo grau agressividade passiva (os braços estão estendidos lateralmente
mostrando extrema rigidez). Na agressividade passiva ou interna, o indivíduo
volta sua cólera para si mesmo, assumindo muitas vezes um comportamento
auto destrutivo. É comum em pessoas que não se expressam assertivamente,
320
geralmente apresentam pensamentos ou fantasias violentas, as quais nem
sempre a mostram em blico, e sofrem pela invasão interior de pensamentos
negativos e destrutivos e pelos esforços maciços de repressão para contenção
desses impulsos. Outras, são pessoas de difícil conivência e na maioria das
vezes enfrentam problemas com relacionamentos íntimos, mostram-se
desconfiadas, hostis, apresentando muitas vezes um afastamento silencioso e
ressentido do convívio social.
Como a figura está estática, podemos inferir além de extrema rigidez,
sérias dificuldades de locomoção no meio, visto que desenha os pés um para
cada lado mostrando sentimentos ambivalentes e de posição.
Dentre os traços de personalidade e as tendências mais significativas que
puderam ser identificadas, temos:
1. Sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima;
2. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
3. Medo, ansiedade e tensão;
4. Insegurança;
5. Tendência à hostilidade e agressão;
6. Tendência ao pensamento concreto;
7. Negativismo;
8. Tendência à rigidez; e
9. Ambivalência e indecisão.
2ª APLICAÇÃO: 28/11/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Novamente percebe-se uma diminuição gradual no tamanho dos
desenhos da casa à figura humana, algo que confirma a interpretação anterior
(déficit na auto-estima e dificuldade em atuar assertivamente frente ao meio).
Agora todos os desenhos estão localizados no canto inferior esquerdo da
folha, canto dos comportamentos mais regredidos. As pessoas que fazem uso
deste quadrante na maioria das vezes prendem-se ao passado como uma forma
321
de gratificação, ou melhor fixam-se em uma época mais feliz, apresentam
dificuldade em se fazerem presente ou de se colocarem com maturidade no
meio.
As interpretações anteriores condizem com o tamanho dos desenhos
(pequenos). Quando se observa a pressão do lápis ao desenhar, no teste atual
percebe-se certa modificação, desta vez ele não utiliza de tanta pressão, algo
que pode estar simbolizando maior confiança no desempenho.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Ao se observar os desenhos das casas nos dois momentos, percebe-se
grande semelhança com a anterior, quanto ao formato, apresentação e posição
das janelas e porta. O único dado que difere é que desta vez faz um traço
separando o telhado das paredes. Este traço pode estar simbolizando um medo
que os conteúdos fantasiados se rompam e se “derramem” na realidade.
Analisando o desenho das árvores, percebe-se que o atual “cresceu”, está
mais consistente, porém diz que desenhou uma macieira, o que não condiz com
o desenho, visto que não põe nenhuma indicação da fruta. Algumas pessoas
respondem ao inquérito sem nem ao mesmo lembrarem o que desenharam ou
mesmo olharem o desenho; isto mostra, além de desatenção e ansiedade, pouco
contato com a realidade.
No inquérito comenta que a árvore desenhada poderia ser ele mesmo. O
tronco é longo e largo em relação a copa, sugerindo predomínio da vida
instintiva, imaturidade, falta de adequação para expressar-se.
As raízes continuam terminadas em ponta simbolizando além do
predomínio da vida instintiva, falta de agilidade mental e agressividade.
Os galhos continuam um para cada lado, em posições opostas; e a figura
humana também continua como no desenho anterior, com os braços estendidos
lateralmente em angulo reto em relação aos ombros. Estas construções
confirmam as sérias dificuldades de interação com o meio de C. A. V..
Observando-se o desenho da figura humana, a primeira impressão que se
tem é que C. A. V. desenhou uma menina. No inquérito fantasia que é um
homem (o irmão) de 20 anos. indicações de sérios conflitos, tanto
referentes à própria idade, quanto a características masculinas e femininas.
Imaginar uma idade muito superior à própria denota conflitos ou vivências
322
depressivas e inadequadas para a idade.
Outro detalhe que chama a atenção é o chapéu sobre a cabeça,
simbolizando a sua necessidade de proteção.
A figura humana continua estática, com os braços estendidos
lateralmente mostrando extrema rigidez. É importante se falar também que os
braços são desproporcionais (grandes em relação ao corpo) e as mãos além de
extremamente grandes, os dedos são em forma de pétalas de flor, o que é sinal
conhecido de imaturidade psíquica, baixo nível intelectual ou regressão, mas
pode ser também um indício de agressividade reprimida.
As pernas também são desproporcionais na largura, a esquerda é bem
mais fina que a direita. Essa construção pode ser interpretada além de
imaturidade, ambivalência referente ao impulso para a autonomia, angústia
referente à capacidade de caminhar no meio.
Puderam ser identificadas as seguintes tendências e traços de
personalidade:
1. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
2. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
3. Fixação no passado ou em estágios primitivos;
4. Medo das fantasias;
5. Desatenção e pouco contato com a realidade;
6. Imaturidade;
7. Tendência à hostilidade e agressão;
8. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
9. Falta de confiança para ações independentes;
10. Tendência à rigidez; e,
11. Ambivalência e indecisão.
12 – J. P. M.
IDADE: 11 ANOS E 2 MESES DATA DE NASCIMENTO: 10/06/1995.
ESCOLARIDADE: 5ª SÉRIE.
323
1ª APLICAÇÃO: 31/08/06
ANÁLISE QUALITATIVA
Os dois primeiros desenhos estão localizados no canto inferior esquerdo,
canto da regressão, dos comportamentos mais imaturos. Na figura humana ele
procura uma posição mais central.
Os traços são firmes e em alguns detalhes ele utiliza muita pressão,
mostrando conflitos.
Os desenhos são pequenos sugerindo sentimento de inferioridade com
dificuldade de se colocar no meio, inibição, timidez, repressão da
agressividade, comportamento emocionalmente dependente e excesso de
autocontrole.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Observando-se agora áreas e os aspectos comuns aos três desenhos
chegamos a novos dados:
Há indicações que J. P. M. dedica grande parte do seu tempo à fantasias,
visto que faz o telhado da casa com vários riscos indicando telhas, a copa bem
maior que o tronco e a cabeça da figura humana embora seja proporcional ao
corpo há uma abundância de cabelos.
Podemos inferir que os relacionamentos interpessoais também são feitos
mais no nível da fantasia do que da realidade. Ao se observar o desenho da
casa percebe-se que ele faz uma janela aberta junto ao teto com grades, bem
maior que a porta (também fechada). Estas configurações mostram conflitos,
além de uma relação criteriosa com o meio. Estes dados se confirmam com a
construção dos braços, finos, desproporcionais e com os dedos em ponta.
No inquérito ele complementa esses dados, comentando da
agressividade e da falta de harmonia no seio familiar.
Toda a árvore está com reforço nas linhas. A copa é bem maior que o
tronco sugerindo preocupação nos relacionamentos e ambição maior que a
capacidade de realização.
No inquérito fantasia que desenhou uma macieira, porém faz uma copa
vazia, o que sugere desatenção e pouco contato com a realidade.
O tronco é fino mostrando vulnerabilidade e insegurança, e termina em
dois galhos opostos, indicando indecisão, ambivalência e negativismo.
324
J. P. M. desenha uma menina ao invés de alguém do próprio sexo.
Quando um pré adolescente faz o desenho do sexo oposto, várias hipóteses
podem ser levantadas desde fantasias românticas, preocupações momentâneas
até conflitos frente a própria identidade sexual.
De acordo com o inquérito, á indicações que J. P. M. lembrou de uma
época feliz em que brincava com a prima.
Conflitos e sentimentos ambivalentes também podem ser observados em
outros detalhes do desenho; começando pela construção dos cabelos:
abundantes, repartidos ao meio e com reforços nas pontas; e pés também com
reforços nas linhas e um para cada lado.
Na figura humana também vários detalhes mostram sentimentos
agressivos e hostis, medo de perder o controle interno e tendência a rigidez
(terminação dos cabelos e dos dedos em ponta).
O que mais nos chama a atenção na figura humana é o vestido da
menina, com reforço em todas as linhas periféricas. Esse reforço mostra
conflitos em relação ao corpo, rigidez e medo de que os impulsos internos ser
rompam para a realidade.
Finalmente as pernas separadas longas e finas nos mostram falta de
equilíbrio, necessidade de auto-afirmação social, busca de autonomia e
independência.
Foram observados neste teste vários traços de personalidade e
tendências do sujeito, tais como:
1. Fixação no passado ou em estágios primitivos;
2. Imaturidade;
3. Conflitos;
4. Dificuldade no seio familiar;
5. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
6. Desatenção e pouco contato com a realidade;
7. Falta de confiança para ações independentes;
8. Tendência à devaneios e fantasias;
9. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
10. Tendência à rigidez
11. Ambição maior que a capacidade de realização;
12. Insegurança;
13. Ambivalência e indecisão;
14. Negativismo;
325
15. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
16. Medo ansiedade e tensão;
17. Tendência à hostilidade e agressão; e,
18. Necessidade de auto-afirmação.
2ª APLICAÇÃO (SEM INQUÉRITO)
ANÁLISE QUALITATIVA
Desta vez todos os desenhos estão localizados no canto inferior
esquerdo, mostrando imaturidade e fixação no passado.
Os traços continuam com reforços em alguns detalhes, sugerindo
conflitos. Em relação ao tamanho dos desenhos, desta vez eles estão pouca
coisa menores que o anterior, indicando que neste espaço de tampo nada
mudou quanto ao sentimento de inferioridade, baixa auto-estima,
comportamento emocionalmente dependente e excesso de autocontrole.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Novos dados podem ser observados através da construção dos três
desenhos.
Em relação ao teste anterior a casa está mais elaborada, no telhado as
telhas estão com traços mais leves, mostrando maior equilíbrio entre fantasia e
realidade.
Frente aos detalhes - porta e janela - a janela desta vez apresenta
florzinhas, porém ambas continuam na mesma posição que o anterior e estão
com reforço nas linhas.
A árvore toda continua com reforço (semelhante ao teste anterior), a
copa é bem maior que o tronco e os braços da figura humana estão pendentes e
presos ao corpo. Essas configurações sugerem conflitos, dificuldade de contato
com o mundo exterior, sentimento de menos-valia, controle interno rígido,
medo vinculado a impulsos hostis, além de dificuldade em aproximar e
estabelecer relações com as pessoas.
Como explicado acima, a árvore é muito semelhante ao teste anterior,
mostrando grande ambição e ao mesmo tempo sensação de vulnerabilidade,
326
negativsmo, oposição e ambivalência.
Desta vez JoPauto desenhou uma figura masculina com omissão da
metade inferior das pernas e pés. Esse tipo de omissão é bastante raro, sugere
sentimentos extremos de castração e constrição ambiental, angustia frente a
realidade, insegurança no caminhar na vida, falta de autonomia e extrema
baixa estima.
Os detalhes em negrito mostram necessidade de controle, preocupação
com a contenção dos impulsos corporais (punhos e decote enfatizados).
Os olhos são cegos simbolizando mais uma vez a sua percepção vaga e
não diferenciada do mundo, a dificuldade em aceitar os estímulos tanto
internos como externos e a sua recusa em aceitar a realidade.
Os traços de personalidade e as tendências que foram percebidas neste
teste foram:
1. Imaturidade;
2. Fixação no passado ou em estágios primitivos;
3. Conflitos;
4. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
5. Falta de confiança para ações independentes;
6. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivos;
7. Tendência à rigidez;
8. Medo, ansiedade e tensão;
9. Tendência à hostilidade e agressão;
10. Ambição maior que a capacidade de realização;
11. Negativismo;
12. Ambivalência e indecisão;
13. Insegurança; e,
14. Desatenção e pouco contato com a realidade.
13 – U. A. O.
IDADE: 11 ANOS E 5 MESES DATA DE NASCIMENTO: 17/03/95.
ESCOLARIDADE : 5ª SÉRIE.
327
1ª APLICAÇÃO: 30/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
Os traços são firmes, porém estão com excesso de pressão sugerindo
medo, tensão, insegurança ou hostilidade para com o ambiente, também pode
ser indicativo de falta de adaptação e esforço para manter o equilíbrio interno.
Os desenhos são centrais e na metade inferior da folha, indicando
tendência ao materialismo, orientações para o concreto, mas também mostram
humor deprimido.
Existe uma diminuição gradativa no tamanho da casa à figura humana,
há indicações que U. começa bem os desenhos, mas conforme aumenta a
dificuldade psicológica, ou melhor, os desenhos vão deixando de ser mais ou
menos neutros e passam a provocar associações mais conscientes com a auto-
imagem, o testando mostra com mais clareza o sentimento de inferioridade,
baixa auto-estima e a sua dificuldade em se colocar assertivamente no meio.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando agora os detalhes em comum nos três desenhos, novos dados
podem ser elucidados.
Em um exame superficial U. faz uma casa de tamanho médio e
consistente, mas quando olhamos com mais agudeza, percebemos que ele
rasura a linha indicativa do solo ou chão. Isto pode é indicativo de insegurança,
o que também mostra nos outros desenhos (árvore e figura humana). Na figura
humana não é comum o examinando fazer a linha representativa do chão,
quando acontece é indicativo de insegurança extrema, dificuldade em
“caminhar” na vida, necessidade de assessoramento ou dependência.
Observando-se as portas e janelas, percebe-se que ele faz três janelas e
duas portas (uma delas parece ser uma espécie de garagem). Poderíamos
pensar que U. é comunicativo, porém todas as janelas além de extremamente
desproporcionais em relação às portas estão fechadas com grades e a porta
principal está encostada na parede. Esses detalhes são indicativos de
necessidade de apoio, medo de ações independentes, falta de autoconfiança,
dificuldade de contato direto e relacionamentos mais na base da fantasia do
328
que da realidade.
Quando observamos os galhos da árvore, percebe-se desarmonia, um
galho central mostrando sexualidade inadaptada, algo que aparece também na
construção da cintura e pernas.
Ao se observar o desenho da árvore, U. diz que desenhou uma
mangueira, o tronco é bem largo, semelhante a árvore frutífera, esse tipo de
construção é comum a pessoas imaturas, com pensamento concreto. A copa é
achatada, mostrando pressão ambiental, da mesma forma que a cabeça da
figura humana.
Os frutos estão soltos, mostrando além de imaturidade, desapego, muito
provavelmente aos familiares.
A figura humana é totalmente desarmoniosa. A cabeça como dito acima
é achatada (pressão ambiental), as características faciais (olhos, nariz e
orelhas) em formato de bola indicando imaturidade, sentimento de menos-valia
e baixa auto-estima.
Os braços, além de desproporcionais e de diferentes tamanhos, são
“pregados” aos ombros estreitos. Esses detalhes também são indicativos de
sentimento de menos-valia, inferioridade e imaturidade e séria dificuldade de
contato afetivo com o meio. Essa dificuldade também é mostrada na
construção das mãos – grandes e com contorno impreciso.
A cintura como explicito acima mostra rigidez e fantasia ou preocupação
sexual, da mesma forma que a construção das pernas (muito juntas) e pés.
Entre as tendência e traços de personalidade podemos destacar:
1. Medo, ansiedade e tensão;
2. Insegurança;
3. Tendência à hostilidade e agressão;
4. Imaturidade com tendência a pensamento concreto;
5. Tendência à depressão;
6. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
7. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
8. Falta de confiança para ações independentes;
9. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade; e,
10. Sensação de pressão por parte do meio.
329
2ª APLICAÇÃO
ANÁLISE QUALITATIVA
Existe uma deterioração gritante em relação ao teste anterior. Todos os
desenhos estão localizados na metade inferior da folha, indicando um processo
depressivo. Os traços estão com reforços em determinados detalhes mostrando
conflitos e os desenhos são pequenos; sugerindo sentimentos de menos-valia,
inferioridade, repressão da agressividade, comportamento emocionalmente
dependente e dificuldade em se colocar no meio de forma adequada.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Analisando os três desenhos nos aspectos que têm em comum novas
observações podem ser acrescentadas:
Está claro nos três desenhos que U. está passando uma fase de grande
pressão ambiental (sol cego entre as nuvens, teto desabando, copa da árvore
achatada e cabeça achatada da figura humana).
A pressão ambiental é uma sensação mais ou menos constante de
ameaça e constrição por parte do meio. As pessoas que sofrem de pressão
ambiental mostram sentimentos de inadequação e de desamparo para lidar com
a vida. Apresentam também sentimentos de inferioridade e baixa auto-estima,
outras ainda apresentam baixo nível de energia para responder aos estímulos
ambientais, sensação de vida árdua e falta de controle para as idéias negativas.
No que diz respeito aos relacionamentos também percebemos uma piora
gritante. No teste atual a porta não encosta na linha representativa do solo ou
chão e a janela além de ser muito maior que a porta está fechada e com grades.
A árvore continha com os galhos desarmoniosos e a figura humana além dos
braços serem de diferentes tamanhos, as mãos são desproporcionais e
extremamente grandes. Esses detalhes mostram grande dificuldade de
interação com o meio, relutância e falta de confiança para estabelecer contato
com as pessoas, tentativa de se conservar inacessível ou defesa contra os
estímulos externos. Também percebemos através das mãos excessivamente
grandes um grau excessivo de agressividade e hostilidade para com o
330
ambiente.
A copa da árvore é muito pequena em relação ao tronco, mostrando mais
uma vez os fortes sentimentos de inadequação e baixa auto-estima, uma
dinâmica emocional regredida e imatura. No tronco ele faz um detalhe grande
indicando trauma ou assalto à personalidade.
A figura humana é totalmente diferente do teste anterior (parece que foi
desenhado por outra pessoa). Esta apresenta o cabelo encaracolado e em
negrito mostrando conflitos referentes à força e virilidade ou ansiedade com
relação à pensamentos e fantasias de agressão.
Os olhos são vesgos (estrábicos) sugerindo dificuldade em enfrentar a
realidade e dificuldade de discriminação.
Por último deixei para comentar sofre a linha representativa do solo ou
chão. Tanto na casa como no desenho da árvore ele a faz por toda a largura do
papel (insegurança e ansiedade) e na figura humana ela a põe numa espécie de
mesa com apenas um pé central e com duas rodinhas. Fica claro que esta mesa
não oferece nenhum equilíbrio, nos mostra toda a sua dificuldade de apoio, o
seu sentimento de colapso, falta de firmeza e objetivação na vida.
As principais tendências e traços de personalidade são:
1. Tendência à depressão;
2. Conflitos;
3. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
4. Tendência à hostilidade e agressão;
5. Falta de confiança para ações independentes;
6. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
7. Sensação de pressão por parte do meio;
8. Imaturidade;
9. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade;
10. Desatenção e pouco contato com a realidade;
11. Insegurança; e,
12. Traumas
14- D. F. S.
IDADE: 12 ANOS E 6 MESES DATA DE NASCIMENTO: 04/02/1994.
331
ESCOLARIDADE: 6ª SÉRIE
1ª APLICAÇÃO: 30/08/2006
ANÁLISE QUALITATIVA
uma diminuição gradual de tamanho da casa à figura humana. Isto é
demonstrativo de que, conforme o teste vai progredindo e vão aparecendo
estímulos mais próximos com a auto-imagem, D. F. S. vai ficando mais tenso e
demonstra com mais clareza a sua dificuldade em arriscar-se e em receber
julgamentos.
Os traços o com muita pressão e tortos sugerindo medo, tensão,
insegurança, falta de adaptação e esforço para manter o equilíbrio.
Todos os desenhos estão localizados na metade inferior da folha
mostrando uma tendência à depressão, orientação para o concreto e
imaturidade.
ANÁLISE DOS DESENHOS
Olhado de forma geral os desenhos percebe-se que a casa é grande e
com excesso de detalhes. A primeira árvore desenhada é um pinheiro central,
em seguida desenhou mais duas, uma de cada lado. E para a figura humana,
desenhou primeiro uma espécie de boneco estático, apagou e fez outra.
Esses detalhes na maioria das vezes simbolizam uma ansiedade e
insegurança extrema.
A insegurança é um comportamento que mostra falta de confiança no
próprio julgamento, nas convicções, dúvida sobre a capacidade de discernir
para tomar decisões e desconfiança da própria inteligência e intuição.
Analisando cada desenho separadamente e observando os aspectos
comuns entre eles, novas interpretações podem ser adquiridas.
A casa com excesso de detalhes, mostra, além da insegurança e
imaturidade, uma tendência à impulsividade. A impulsividade sugere uma
dificuldade de coordenação ou controle dos impulsos com predominância de
desejos e instintos.
Ele nos apresenta uma espécie de sobrado com um telhado pequeno e
bastante detalhado, algo sugestivo de uma orientação para o concreto, porém
332
com certo grau de impulsividade.
O pinheiro e o cabelo da figura humana são pontudos, mostrando uma
tendência à hostilidade e agressão.
No desenho da casa, as janelas são no alto e a porta esencostada na
parede. Isto pode estar simbolizando as dificuldades em seus contatos
interpessoais. Ora a relação é no nível da fantasia, ora sente-se tão inseguro
que apresenta dependência de outros para o mesmo.
No inquérito as respostas também são confusas, ora responde baseado na
realidade, ora baseado na fantasia.
O tronco do pinheiro é rígido, feito um poste e a figura humana está
estática. Esses detalhes são característicos de controle interno rígido, tendência
a defender-se contra o caos externo criando um mundo rigidamente organizado
e altamente estruturado com esforço e vigilância pra manter a integridade da
personalidade.
Na figura humana vários detalhes indicam uma tendência à hostilidade e
agressão e necessidade de controle dos impulsos (cabelos, boca, pescoço e
cintura).
Finalizando percebemos a ausência dos pés, mostrando a sua dificuldade
de caminhar na vida, dependência do meio e dificuldade para alcançar
satisfação.
Várias tendências e traços de personalidade puderam ser elucidados
neste teste:
1. Medo, ansiedade e tensão;
2. Insegurança;
3. Tendência à depressão;
4. Tendência ao pensamento concreto;
5. Imaturidade;
6. Tendência a comportamentos impulsivos;
7. Tendência à hostilidade e agressão;
8. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
9. Falta de confiança para ações independentes; e,
10. Tendência à rigidez.
2ª APLICAÇÃO: 28/11/2006
333
ANÁLISE QUALITATIVA
D. F. S. não desenha em um padrão, os desenhos diminuem de tamanho
da casa à figura humana e quanto à pressão do lápis, ele começa com pressão
média e termina com excesso de pressão. Isso mostra que, conforme o teste vai
progredindo, vão aparecendo os conflitos. Ele vai ficando mais tenso e ansioso,
e o seu sentimento de inferioridade e menos-valia vai se acentuando.
Os desenhos continuam na metade inferior da folha mostrando tendência
à depressão, orientação para o concreto e imaturidade.
ANÁLISE DOS DESENHOS
A orientação para o concreto fica claro na construção da casa, as paredes
continuam bem maiores que o teto.
Desta vez a casa não está tão detalhada, mas embora o desenho esteja
mais claro algumas características permanecem as mesmas.
As janelas continuam desproporcionais a porta (esta continua encostada
na parede), sugerindo sentimento de dependência do meio e das pessoas em
geral e relacionamentos mais na base da fantasia do que na realidade.
O desenho da figura humana continua mostrando sérios conflitos nos
detalhes que simbolizam relacionamentos. Ele faz um menino com doze
(mesma idade que ele) com ombros geométricos e largos e braços caídos e
desproporcionais. Esses detalhes mostram imaturidade, necessidade de provar-
se capaz, forte, certa dose de hostilidade e agressividade para com o ambiente,
mas com poucos recursos internos.
A hostilidade e agressividade dirigida ao meio aparece também no
desenho da árvore. D. F. S. faz os galhos da árvore abertos e envolvidos por
uma linha semelhante a um chumaço de algodão. Isto é característico, de
pessoas agressivas que atenuam as verdadeiras intenções, que tem medo e
dificuldade em expressar agressividade ou se expor (a dura expressão dos
galhos é ocultada pela almofada de algodão). É característico também com
pessoas que apresentam dificuldade de contato direto e próximo com as
pessoas.
Ao se observar o tronco, percebe-se que as linhas de contorno são com
334
traços descontínuos e na superfície ele põe umas espécies de cicatrizes. Isto é
sugestivo de traumas, assaltos à personalidade, como também de
vulnerabilidade, excitabilidade e impaciência. A copa é achatada, sugerindo
pressão ambiental.
A figura humana continua estática, rígida, os olhos são cegos mostrando
a sua pouca capacidade de discriminação e imaturidade.
Novamente percebemos a sua preocupação com o policiamento dos
impulsos e dependência do meio, visto que desenha a figura com as mãos no
bolso e enfatiza a cintura.
No teste anterior “não coube os pés”, mas neste ele os desenha.
Observando com bastante agudeza, percebe-se que ele mostra muita
dificuldade em desenhá-los, apaga várias vezes. Isso é característico da sua
dependência do meio e das pessoas e da sua dificuldade para alcançar
satisfação por seus próprios meios.
Neste teste as tendências e traços de personalidade que puderam ser
evidenciadas foram:
1. Conflitos;
2. Medo, ansiedade e tensão;
3. Sentimento de inferioridade e baixa auto-estima;
4. Tendência à depressão;
5. Tendência ao pensamento concreto;
6. Imaturidade;
7. Falta de confiança para ações independentes;
8. Dificuldade de interação com o meio e de contato afetivo;
9. Tendência à hostilidade e agressão;
10. Traumas;
11. Tendência à rigidez; e,
12. Conflitos referentes à adolescência e a sexualidade.
335
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO IV
337
NOME: U. A. O.
IDADE: 11 DATA DE NASCIMENTO: 17.03.95
ESCOLARIDADE: 5ª. B DATA: 30.08.06.
U. tem problemas fortes na visão. Isso causa um certo complexo nele, pois o
mesmo disse que os amigos não gostam dele por causa de sua visão. Ele pareceu
um pouco brincalhão, ficava assoviando enquanto esperava para a próxima
pergunta. Ele ficou muito feliz quando eu disse que ele seria entrevistado. (foi o
aluno que mais mostrou alegria de ser entrevistado). Disse que era um pouco
nervoso, bravo, e parecia ser mesmo.
1
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou legal.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Uns não gostam de mim porque eu
tenho problemas na vista. Outros gostam.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Não sei (imagino que eles
gostam de mim).
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Um pouco. Vou melhor em Ed. Artística e ed.
Física. História eu vou mal.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sim. Com os professores, não sei se sou responsável. Com os
amigos, não sou responsável. Com os pais, sou também, porque fico em casa
cuidando.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
ruim, é a minha vista que é ruim. De bom é que eu posso fazer tudo que os
meninos fazem, como por exemplo, jogar bola.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
De coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU W. (seu nome) ... depois que
pedi pra ele escrever um adjetivo, ele escreveu bravo.
338
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA?
Nota 10.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou legal
(sou bom, ajudo os outros).
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Eles são chatos, não gostam de
mim. vem falar comigo se eu tenho lanche (querendo dizer que são
interesseiros).
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Não sei.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim, um pouco. EM QUE MATERIA VOCE VAI
MAL? Em geografia.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Um pouco. Às vezes não tenho vontade de fazer.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Nada.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Mais de coisas boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU bonito.
.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
NOME: W. M.
IDADE: 13. DATA DE NASCIMENTO: 18.09.1993.
ESCOLARIDADE: 6ª. A DATA: 27.11.06
W. M. parece ser uma menina que sofreu bastante já, por algum motivo,
339
talvez por ser negra. Mas é vaidosa, tem um cuidado com a aparência, pois passa
maquiagem sempre. Tem uma ligação com os amigos, talvez por não ter um
suporte suficiente por parte dos pais. Ela se acha muito resiliente e tem facilidade
pra se expressar.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Me acham bestinha,
porque eu não sei dizer não pra ninguém. As pessoas pisam em cima de mim.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Legal.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? O professor de matemática
é o único que fala. Ele diz que eu sou boa pra faze perguntas e expressar os
sentimentos. Outros professores falam que eu converso demais.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Mais ou menos.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sou responsável pra fazer comida em minha casa. Pra fazer
lição. Com os amigos sou responsável. Com o material escolar, às vezes eu
esqueço.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom, é que converso muito, sou carinhosa e me valorizo (por exemplo, se minha
irmã fala que meus dentes são ruins e meu cabelo é feio, falo que ninguém é
perfeito, que não tem nada a ver ficar falando assim). Também sou vaidosa, acho
isso uma coisa boa de mim. De ruim é que sou estourada com os outros: por
exemplo, se alguém fica olhando pra mim, vou perguntar se perdeu alguma coisa.
Vou tirar satisfação, meu modo de expressar não é muito bom.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU uma pessoa que não é atingida
por qualquer coisa. Se tivesse que escolher uma palavra só, eu ia escolher meiga.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
340
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Uma pessoa boa.
Não consigo dizer não. Isso ás vezes é bom e às vezes é ruim.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Carinhosa, simpática e brincalhona.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que eu brinco demais.
Outros dizem que eu gosto de me expressar.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Não.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Não. Pra ajudar minha mãe, sou responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Bom:
que eu não me deixo levar por qualquer coisa.
Ruim: que sou muito nervosa às vezes.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
O mesmo tanto das duas coisas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Ser mais calma e parar de passar maquiagem.
POR QUE PARAR DE PASSAR MAQUIAGEM? Porque a longo prazo isto estraga
a pele.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU carinhosa e brincalhona.
.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
NOME: D. F. S.
IDADE: 12 DATA DE NASCIMENTO: 04.02.94
ESCOLARIDADE: 6ª. A DATA: 28.11.06
Esta entrevista foi interrompida duas vezes, uma pra ele ir tomar lanche, e
341
outra pra entregar um trabalho que tinha que entregar pro professor.
Este aluno sem dúvida demonstrou uma baixa auto-estima. Isto porque ele
não se sente “homem de verdade, porque faz balé”, transcrevendo suas próprias
palavras. Parece não conseguir se impor perante os outros. Os colegas da escola
zombam dele devido ao fato dele ser um pouco delicado. Ele chega a ver defeitos
físicos que não tem, como por exemplo, falar de umas manchas que ele acha que
tem no rosto, mas que na verdade nem aparecem. Olha por baixo, denotando uma
postura corporal de submissão e passividade.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Meu pai e minha
mãe me acham um filho bom. Acho que meus irmãos me acham um pouco chato.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Besta. (Porque eu não tenho
quase nenhum amigo. Tenho poucos, e esses poucos me sacaneiam. Não querem
fazer trabalho da escola comigo, tiram meu nome do trabalho. Não aceitam minha
ajuda, quando eu quero ajudar eles, tentei ajudar. E eles não me ajudam, além
de não querer minha ajuda. Teve uma menina que um dia me ajudou, mas
depois também parou. tenho duas pessoas que são meus amigos, na minha
sala. Eu assumo as coisas, e eles me acham chato por isso, eles não assumem.
Eles não aceitam opinião no trabalho. Não deixam eu escrever, pois falam que
minha letra é feia. Não preciso de amigos, porque tenho meu Deus. Eu sou crente.
Ele é o único amigo verdadeiro que você pode contar. Quando eu peço pra Ele
ajudar, Ele me ajuda.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que fico quieto, não
bagunço, por isso falam que eu responsável.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Vou mal, mais ou menos. Vou bem em Arte,
português, inglês, leitura. Matemática, geometria não vou muito bem.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sim. Me acho responsável porque sou pontual. Com os
professores e com os amigos, eu sou responsável. Com os pais, eu sou mais ou
menos, porque às vezes, eles pedem pra eu lavar a louça e eu não lavo.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Não
sei. De ruim é que às vezes fico nervoso com meus primos, porque eles me
sacaneiam. Pra que ficar nervoso, se minha mãe tudo pra mim? De bom, é que
sou prestativo, solidário. Quando minhas roupas não servem mais pra mim, dou
pra outro. Agora, quando é pra emprestar pra mim, ninguém empresta.
342
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
De coisas boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Sim, eu ia tentar não ficar nervoso.Não sou muito de brigar, mas
também não posso apanhar né... Quem pode me bater é minha mãe e meu pai,
né, os outros não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU obediente e ajudo os outros.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Tem vergonha de
mim. Porque eu sou filho único, porque faço balé. E também porque quando eu era
pequeno, eu tinha problemas com comida. Eu vomitava o que eu ingeria e não
comia muito.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Meninos me chamam de bichona, e
uma menina dise que eu tinha virado homem, num dia que eu fiquei bravo com um
menino.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que eu não entendo nada.
Isso é o que eu imagino que seja, não é que eles tenham falado.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Não.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Mais ou menos. Eu não tenho nenhum amigo aqui na escola.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Sou
bom a demais. Porque eu sofri demais. Ruim: é que eu agüento demais as
coisas.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
343
VOCÊ? O QUÊ? Sim. Minha cara. Porque tenho manchas. Queria ser mais magro,
fazer mais amigos.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU bom demais.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOÉ, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 1.
Tenho vergonha de mim. Fico quieto em casa, não tenho amigos.
NOME: R. M.
IDADE: 12 quase 13 DATA DE NASCIMENTO: 06/09/93
ESCOLARIDADE: 6ª. D DATA: 02/12/06
R. M. aparenta ter aspectos psicológicos positivos. Ela não se deixa abater
pelo fato de que erra nas músicas às vezes. Se expressa com clareza, parece por
isso ter assertividade. Inclusive foi a única que interagiu com o entrevistador,
perguntando por exemplo, se o entrevistador gostaria de ter uma casa, e também
se ele sabia desenhar.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Me acham legal,
carinhosa.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Engraçada, que eu faço eles rirem.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Quieta, que não sou igual
às outras. Que eu sou diferente, que sou mais quieta, que ao sou assanhada como
as outras, que ficam se mostrando pros meninos.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim. Em Português vou melhor.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Não muito. Nem sempre cuido da casa, quando minha mãe
sai pra trabalhar. Com os professores mais ou menos. Com os amigos, sou. Com
minhas coisas, também sou responsável.
344
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom, é que eu sou carinhosa, sincera, humilde. De ruim, é que às vezes o que a
gente fala de verdade pra uma pessoa, ela não gosta, quando é sincera. Também
é ruim (8) que às vezes eu tenho vergonha de mim. Eu me acho muito magra, às
vezes passo perto de alguém e quero me esconder. Esconder minha perna. Mas
eu sei que eu tenho que acreditar em mim, né. Se alguém me acha feia, eu tenho
que me achar bonita. E também é ruim que às vezes eu falo uma mentirinha, mas
é de medo do meu pai e da minha mãe.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Acho que tenho o mesmo tanto de coisas boas e coisas ruins. Às vezes fico
provocando minhas amigas, puxo nos cabelos delas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Mudaria, pra ser mais responsável comigo, com minhas coisas.
Às vezes meus pais saem pra trabalhar e eu tenho que cuidar da casa. Acho que
eu tinha que cuidar mais de mim mesma.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU carinhosa.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 7.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou uma boa
menina. Porque não dou muito trabalho.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Que sou muito engraçada,
divertida.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou muito esforçada. É
BOM SER ESFORÇADA? Sim.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim. Vou bem em todas as matérias e quando
não vou bem faço de tudo pra me recuperar.
EM QUAL MATERIA VOCE VAI BEM? Vou melhor em inglês e vou pior em
ciências.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
345
É RESPONSÁVEL? Sim, sou responsável em tudo. Cuido muito bem da minha
casa, na escola, dos amigos e das minhas coisas.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom: É que eu sei ser educada, respeito todo mundo, e gosto de ver as pessoas
sorrindo. De ruim, é que eu pego demais no pé das minhas amigas, quando eu não
concordo com elas. Eu acho isso horrível.
E DÁ PRA MUDAR ISTO QUE ESTÁ TE INCOMODANDO?
Acho que dá pra deixar de ser assim, se eu me esforçar.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Mais de coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ?
Até tempos atrás, eu queria mudar de corpo, porque como eu sou bastante magra,
eu levava muitos apelidos. Mas isso é bobagem, eu acho que eu tenho que gostar
de mim do jeito que eu sou. Hoje em dia eu gosto de mim do jeito que eu sou, eu
sei que com meu corpo eu posso ser várias coisas: posso ser modelo, posso
dançar, praticar esporte. Por isso, hoje em dia eu não quero mudar nada em mim.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU carinhosa.
.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
NOME: L. W. P.
IDADE: 12 DATA DE NASCIMENTO: 26.11.94.
ESCOLARIDADE: 6ª. D DATA: 02.12.06.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Bonito, legal. Meu
pai e minha falam isso. Eu vejo meus pais no fim-de-semana. Durante a
semana eles trabalham e eu fico com minha vó.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Falam que sou legal, bacana.
346
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Falam que de vez em
quando eu faço muita bagunça, mas que sou bom aluno.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim. fui mal em ciências, em português vou
bem.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sou responsável com tudo, mas com meus amigos sou
responsável de vez em quando.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom: É que eu gosto de jogar bola. De ruim, é que eu não gosto de estudar, de
ficar escrevendo.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Mais de coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU bagunceiro.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou um bom
menino. Mas acham que algumas vezes eu faço coisa errada. Por exemplo quando
tem prova eu não estudo, porque só penso em jogar bola.
VOCÊ ACHA QUE ELES ESTÃO CERTOS DE PENSAR ISSO? Acho que estão
certos sim.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou legal, porque não faço
mal pra ninguém.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou bom aluno, porque
a maioria das minhas notas é boa.
347
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sim. Na aula de violão eu fui responsável. Com os
professores, amigos e família, eu sou responsável. Com minhas coisas, sou mais
ou menos (por exemplo, meu celular eu deixo cair no chão).
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Nada.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Coisas boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não. Porque ninguém pode ser perfeito.
ENTÃO VOCÊ ACHA QUE TEM ALGUNS DEFEITOS TAMBÉM? Tenho.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU inteligente.
.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
NOME: M. P. S.
IDADE:11 DATA DE NASCIMENTO: 01.05.
ESCOLARIDADE: 5ª.C DATA: 27.11.06
M. P. S. foi a menina que agiu de forma mais depressiva, dentre todas. Ela
passa a impressão de ser bastante depressiva, não olhando no olho do
entrevistador, olhando pra baixo, não sorrindo em nenhum momento.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Não sei. Nunca me
falaram.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Não sei. Também nunca falaram.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou ótima em fazer
lição.
348
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim. Vou bem em Inglês e Matemática.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Com os amigos não. Com os pais e com os professores, sim.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Nada
de bom e nada de ruim.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Nada.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU legal.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Não sei.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Não sei.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Não sei.
JÁ FALARAM ALGUMA VEZ? Não.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Mais ou menos. Em História vou bem. Em
Matemática vou mal.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Mais ou menos responsável. Na escola não sou.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Nada.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Coisa boa.
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8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU legal.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 8.
NOME: M. S. A.
IDADE: DATA DE NASCIMENTO:
ESCOLARIDADE: 5ª. C DATA: 01-12-06
Pareceu que o clima da entrevista com M. S. A. foi bastante solto,
desinibido. Ela falou bastante, deixou a imaginação fluir. Aparentou muitos traços
de tristeza, desânimo. Não olhava no olho e parecia ser bem contida. Fugia o olhar
quando eu tentava fixar no olho dela, não fixava o olhar.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou um
pouco teimosa
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Me acham super legal, falam que
eu sou”loca”, que eu sou legal.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou uma aluna boa,
porque eu não bagunço.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Às vezes.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Pessoal sim. Me acho responsável quando cuido dos filhos de
uns conhecidos de meus pais. Com os professores eu não sou responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom, é que eu ajudo os outros, e também sou boa pra brincar. De ruim, é que sou
chorona.
350
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
De coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Eu mudaria pra ser um pouco mais forte, não ser tão chorona.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU feliz.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Um pouco
bagunceira, porque brinco demais com o cachorro, aí ele começa a latir.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Às vezes um pouco chata, às vezes
um pouco legal.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Não sei, mas imagino que
eles acham que sou uma aluna mais ou menos.
POR QUE SERÁ QUE TE ACHAM MAIS OU MENOS? Porque em algumas
matérias eu vou bem, e em outras não.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Mais ou menos.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sim. Por exemplo, na aula de violão aqui, eu falei que ia vir e
vim mesmo. Com os pais e amigos também. Com as minhas coisas, sou mais ou
menos responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom, é que eu sempre ajudo os outros. De ruim, é que eu sou muito boba, porque
qualquer coisinha eu choro.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
De coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
351
VOCÊ? O QUÊ? Sim. Eu gostaria de ser mais vergonhosa, tímida, porque eu me
acho muito aberta.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU uma pessoa boa.
.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9,5.
NOME: L. O. G.
IDADE: 11 anos DATA DE NASCIMENTO: 23.02.95
ESCOLARIDADE: 5ª. C DATA: 01.12.2006
L. O. G. chamou a atenção por ser muito comunicativo. Quando perguntei se
podíamos fazer a entrevista, ele disse que não teria problema não. Mostrou-se
muito disponível na entrevista, de uma forma geral. Muito falante, ilustrava bastante
as respostas, e era decidido na hora de responder.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Meu pai quer me
educar do jeito dele, mas minha mãe quer me educar de um jeito diferente. Meu pai
fala que minha mãe ta levando pra outro caminho, que ta colocando muita coisa na
minha cabeça. Meu pai quer que eu seja da classe rica, mas eu sou da classe
média. Minha mãe não concorda com isso. Diz que ta bom ser da classe média....
Eu concordo com minha mãe.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Eles falam que sou legal, que eu
brinco muito, brinco com eles. Quando cada um quer brincar de uma coisa,
primeiro eu brinco do jeito deles depois do meu.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Eles falam que sou um
aluno bom, mas que converso pra caramba, que tenho que conversar menos.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sempre vou bem.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Ah, mais ou menos. Eu sou responsável quando minha mãe
pede ajuda. Com os amigos também, quando eles pedem pra eu brincar com eles,
mesmo que eu não queira muito. Com os professores, às vezes falo que acabei a
352
lição, mas na verdade acabo em casa. Com dinheiro, não sou responsável, se tiver
50 reais no bolso, eu gasto em 10 minutos.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? É que
o que os meus amigos pedem, o que eu puder eu faço. De ruim é que minha
sobrinha mexe muito comigo, e eu bato nela, e daí, minha irmã me põe de castigo.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
De coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Eu seria mais paciente. Se meu professor reclama comigo, pede
muito, eu fico emburrado.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU nervoso.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 7.
2
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que sou uma pessoa
boa. ALGUMA COISA MAIS? Mais nada.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Acham que eu sou um amigo legal,
que gosta de brincar.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou bem bagunceiro,
mas que eu faço a lição.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim, tenho notas boas.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Mais ou menos. Não muito, mas a maioria das coisas que eu
prometo eu faço. Por exemplo, na aula de violão, eu sou responsável. Pra fazer
tarefas de casa, não sou responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom, é o jeito que eu sou, que eu gosto de fazer as pessoas rirem. De ruim, eu não
lembro o que tem.
353
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Mais de coisas boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não..... ah, aqui na escola eu iria mudar meu comportamento,
porque eu bagunço muito.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU sincero.
.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 8.
NOME: C. C. V.
IDADE: 12 DATA DE NASCIMENTO: 28.08.94
ESCOLARIDADE: 5ª. A DATA: 01.12.06
C. C. V. falava muito rapidamente. Ela parecia ser bastante superficial, não
se envolvendo totalmente e não deixando a imaginação fluir tanto.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Importante. Porque
sou a única que não fica batendo em ninguém, e xingando. Sou a única que ajuda
minha mãe.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Legal.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Nada.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Não. Matemática é a que vou melhor. Artística e
Português eu vou mal.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Não. Com os pais, sou responsável, com a tia, com a vó, com
os professores, também. Com os amigos, não sou.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Não
sei.
354
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU legal no vestir, no falar, no fazer.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9.
2
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que sou
interessante, porque sou parecido com o meu pai, no sentido de que eu não faço
críticas.
TEM ALGO MAIS? Tem. Meu não gosta que eu use saia curta e shorts, mas eu
gosto. Quando minha mãe compra, meu vô quase tem um ataque.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Interessante, legal, brincalhona.
Eles não gostam de uma coisa, que eu bato nas pessoas quando eu estou com
raiva.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Não sei. Tomara que eles
pensem bem.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Eu acho que sim. Vou bem em Matemática,
Ciências e Artes.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Eu me acho responsável. Quando era pequena, minha mãe
me achava responsável. Na escola, não me acho responsável. Com os amigos e
com minhas coisas sou responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
ruim, é meu jeito de falar e de andar, porque acham metida, tipo bêbada andando.
De bom, eu não sei.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
355
De coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Mudaria quase a metade do meu corpo, mudaria o rosto.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU legal.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9.
NOME: E. B. G.
IDADE: 11 DATA DE NASCIMENTO: 01.07.95
ESCOLARIDADE: 5ª. D DATA: 02.12.2006
E. B. G. se apresentou como uma pessoa calma, falando baixo, pouco e não
tendo muitas oscilações de humor. Ele pareceu ter facilidade de concentração.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Muito alegre.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Legal.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Falam que minhas notas às
vezes tão boas e às vezes ruins.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim. (Inglês eu vou bem e matemática eu vou
mal).
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sim, porque não conto o segredo que me contaram pros
outros. Sou responsável com meus amigos. Com os professore, com os pais e com
minhas coisas, sou mais ou menos responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Não
lembro.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Coisas boas
356
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU alegre.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 8
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Acham que sou
legal, simpático. ALGO MAIS? Não sei, nunca perguntei.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Acham que eu sou legal, me
respeitam, e eu também respeito eles.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que eu sou esforçado, mas
que eu tenho que estudar mais, ser mais esforçado ainda.
4) VO VAI BEM NA ESCOLA? Sim. Em matemática não vou bem, mas nas
outras vou bem sim.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sim, sou. Na aula de violão, por exemplo, eu fui responsável,
também sou responsável na minha casa e na casa dos outros.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Não
sei.
VOCÊ NÃO LEMBRA DE NADA BOM NEM RUIM? Não.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Acho que mais de coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU alegre.
.
357
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9.
NOME: L. P. S.
IDADE: 13 DATA DE NASCIMENTO: 29.08.94
ESCOLARIDADE: 6ª. B DATA: 02.12.2006
Ela tem um sorriso um pouco nervoso constante no rosto, parece um sorriso
defensivo.
1
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Meu pai e minha
mãe me acham um pouco chata.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Me acham legal. Às vezes falam
que eu sou um pouco chata.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Falam que sou legal. Às
vezes falam que eu converso muito.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Mais ou menos. Vou bem em Ciências e mal em
Matemática.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sou responsável com os pais e comigo mesmo. Com os
amigos e com os professores sou mais ou menos responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
ruim, é que sou chata, porque implico às vezes com alguém injustamente, e a
pessoa acha ruim.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Tenho o mesmo tanto de coisas ruins e boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU sincera.
358
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9.
2
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Me acham às vezes
chata e às vezes legal.
POR QUE QUE TE ACHAM CHATA E LEGAL? Chata não sei por que. Legal
porque eu ajudo.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Simpática, extrovertida, legal. Às
vezes chata também.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou uma aluna mais ou
menos, inteligente e legal. Que eu tenho que estudar mais.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Mais ou menos. Porque dá preguiça de estudar.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Às vezes. A maioria das vezes eu não cumpro. Fui
responsável por exemplo quando eu falei que ia pra casa tal hora e fui mesmo.
Com os amigos e minhas coisas, sou responsável. Com os professores e pais, sou
mais ou menos responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
ruim é que eu sou chata às vezes. De bom é que sou simpática e sincera.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Os dois, empatado.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Sim, o seria chata. Acho que não pra mudar, porque eu
nasci desse jeito.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU extrovertida.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9.
359
NOME: J. P. J. M.
IDADE: 11 DATA DE NASCIMENTO: 10.06.95
ESCOLARIDADE: 5ª. E DATA: 28.11.06
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Todos me acham
legal.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Alguns falam que sou chato, e
alguns me acham legal.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Alguns falam que eu me
comporto bem.
VOCÊ ACHA QUE SEUS PROFESSORES GOSTAM DE VOCÊ? Sim.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Mais ou menos.
EM QUE MATÉRIAS VOCÊ VAI BEM OU MAL? Vou mal em Matemática, História,
e vou bem em Inglês.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Não. Com os professores e amigos eu sou responsável. Com
minha mãe, teve um dia que eu não fui responsável, porque disse que ia limpar a
casa, mas fiquei na rua brincando.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Não
lembro de nada.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? O jeito de falar com os outros, porque minha mãe fala que eu sou
ignorante com os outros.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU feliz.
360
MAS TEM ALGUMA VEZ QUE VOCÊ SE SENTE TRISTE? Na maior parte das
vezes eu estou triste. Porque às vezes os amigos me deixam magoado.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 7.
2
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Algumas acham que
eu sou legal. Outras acham que eu sou chato. Minha irmã me acha chato de vez
em quando.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou bem legal com eles.
Que eu sempre ajudo a hora que eles precisam.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou bagunceiro, e
também que eu sou estudioso.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim. Mas o vou bem em Inglês, Português e
Educação Física.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Mais ou menos. Com os amigos, sou responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Nada
de ruim. De bom eu não lembro.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Mais de coisas boas.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não. Nada. Porque eu gosto do jeito que eu sou.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU responsável.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA?
Nota 6.
361
NOME: C. A. V.
IDADE: 13 DATA DE NASCIMENTO: 13.08.93
ESCOLARIDADE: 6ª. C DATA: 28.11.06
Chama a atenção o fato dele ser chamado de Cristian pelos amigos, e
preferir ser chamado assim, do que ser chamado de por seu verdadeiro nome. Ele
inclusive assinou Cristian na folha de teste psicológico que respondeu na pesquisa.
Também o fato dele querer ter um olho azul, se pudesse mudar a cor de seu olho,
nos chama a atenção.
1
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Acham que eu sou
legal.
TEM MAIS ALGUMA COISA? em casa Minha mãe me ama, principalmente,
mas meu pai e meus irmãos também me amam.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Me acham legal.
ALGO MAIS? Falam que eu sou bom de bola.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Falam que eu to ruim na
matéria, e também falam que sou educado.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Às vezes.
E NA MAIOR PARTE DAS VEZES? Vou bem na maior parte. Vou bem em Inglês e
Ciências. Não vou bem em Matemática e Português.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sou. Com os pais, amigos, professores e também com minhas
coisas eu sou responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? De
bom, tudo. De ruim é que eu sou feio.
O QUE POR EXEMPLO QUE É BOM EM VOCË? Eu jogar bola.
E NO SEU JEITO O QUE É BOM? Que eu sou legal.
362
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Mais de coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Sim. Mudaria meu olho, pra deixar ele azul.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU legal.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 10.
2
a
. ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Que eu sou legal. E
também meu pai fala que eu sou ruim de bola.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Me acham legal.
O QUE QUER DIZER UMA PESSOA LEGAL? É uma pessoa que brinca.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Não sei.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Sim. Só que em Português e projeto eu vou mal.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sim. Quando meu pai pede pra eu fazer alguma coisa, por
exemplo, eu sou responsável.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Nada.
Não lembro.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Mais de coisa boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU legal.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
363
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 9.
NOME: I. M. P.
IDADE: 13 DATA DE NASCIMENTO: 08.09.93
ESCOLARIDADE: 6ª. E DATA: 27.11.06.
Esta aluna tem o pensamento bastante rápido, pareceo se fixar muito em
nada, fala rápido.
1
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Não sei, nunca
falaram.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Alguns gostam, outros não. Não sei
porque. A maioria gosta.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Alguns falam que sou
excelente, outros não.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Acho que sim.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Sou responsável a maioria das vezes. às vezes não
cumpro alguma coisa que falo pros meus pais, mas poucas vezes.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER?
De ruim é que falo muito alto em casa. De bom, não sei falar agora.... apesar de
eu achar que tem coisa boa no meu jeito.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
Boa.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU feliz.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
364
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 8.
2
a.
ENTREVISTA
1) O QUE AS PESSOAS DA SUA CASA ACHAM DE VOCÊ? Não tenho idéia.
2) O QUE SEUS AMIGOS ACHAM DE VOCÊ? Eles nunca falam. Não sei também.
3) O QUE SEUS PROFESSORES FALAM DE VOCÊ? Que sou quieta, e que eu
tenho que melhorar. Só alguns falam isso.
4) VOCÊ VAI BEM NA ESCOLA? Mais ou menos.
5) A GENTE É RESPONSÁVEL QUANDO FAZEMOS AQUILO QUE
PROMETEMOS. VOCÊ SE ACHA RESPONSÁVEL? EM QUE SITUAÇÕES VOCÊ
É RESPONSÁVEL? Mais ou menos. Às vezes, sou responsável com a lição de
casa, às vezes esqueço.
6) O QUE TEM DE BOM E O QUE TEM DE RUIM NO SEU JEITO DE SER? Não
tenho nem idéia.
7) VOCÊ TEM MAIS DE COISAS BOAS OU DE COISAS RUINS NO SEU JEITO?
De coisas boas. Sou educada, às vezes responsável.
8) SE VOCÊ PUDESSE, VOCÊ MUDARIA ALGUMA OU ALGUMAS COISAS EM
VOCÊ? O QUÊ? Acho que não.
9) COMPLETE A FRASE COM UMA PALAVRA SÓ, QUE VOCÊ ACHE QUE
TENHA BASTANTE A VER COM VOCÊ: EU SOU feliz.
10) SE VOCÊ FOSSE DAR UMA NOTA DE 1 A 10 PRO TANTO QUE VO
GOSTA DE VOCÊ DO JEITO QUE VOCÊ É, QUAL SERIA ESSA NOTA? Nota 6.
ISSO QUER DIZER QUE VOCÊ GOSTA MAIS OU MENOS? Sim.
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ANEXO V
Obs.: Quando a narrativa se refere à aluna J. ou à aluna D., faz-se alusão à
duas alunas que iniciaram o curso mas não o terminaram.
367
PRIMEIRA AULA
A aluna R. M. foi a primeira a chegar. L. W. P. foi o segundo a chegar. O
professor ficava puxando assunto, pra quebrar o gelo. Ficava falando “vamos lá”. A
música ambiente que o professor colocou no início da aula parecia servir pra
quebrar o gelo.
O professor entregou o programa das aulas. No programa constava “todos
são muito inteligentes”. Isto foi bom, soou bem, parece que fez eles se sentirem
valorizados.
O aluno G. ficou usando boné na primeira aula e L. W. P., toca. Foram os
únicos que ficaram usando acessórios na cabeça, na primeira aula.
O professor ficou perguntando se alguém tinha violão em casa. O professor
ficava numa posição informal, pois ficava sentado em cima da mesa. Ficava
falando umas piadinhas, pra quebrar o gelo. O professor perguntou que tipo de
música eles gostavam de ouvir, e ninguém respondeu nada. Estava um clima de
não participação nesta primeira aula. L. O. G. falou que ouvia a rádio
Educadora.
O professor perguntou então quem tinha instrumento musical em casa. Isto
pode ser meio ruim, talvez, porque a criança que não tem vai se sentir mal.
O professor fez o contrato pedagógico com os alunos. Definiram, em conjunto, o
professor perguntava e deixava os alunos responderem, de um jeito que fosse feita
a regra, ou seja, os alunos vão ter que ficar em silêncio quando o professor estiver
explicando. Também combinaram a tolerância de 5 minutos ao atraso.
Na hora de explicar que, se o aluno ficasse tocando durante a explicação, o
professor poderia tomar o violão, o educador usou o exemplo de um aluno de outra
escola, pra não ter que falar-lhes diretamente que eles poderiam ficar sem o
instrumento, se houvesse muita conversa na hora da explicação.
O professor ensinou sobre história do violão. Explicou que nada aparece do
nada, por isso o violão apareceu do alaúde. Depois da história, o professor
368
perguntou o que eles queriam fazer, se ouvir algumas músicas ao vivo, ou aquelas
do aparelho de som. Os alunos não se empolgaram muito em ouvir a música do
passarinho. O professor perguntou qual estilo poderia ser tocado no violão.
Aí o professor mexeu com eles, dizendo: “Tá todo mundo animadão hoje hein..”
A aula foi interrompida uma vez, pois a inspetora estava procurando uma
criança. O professor ficou mostrando vários estilos musicais tocados pelo violão, o
roque, o clássico, o chorinho, o forró, o reggae. Eles não sabiam o que era
chorinho.
o professor falou pros alunos pegarem os instrumentos, os primeiros a
pegar foram L. O. G. e E. B. G.. Daí o professor começou a ensinar as partes do
violão.
O professor elogiou L. W. P., porque ele disse que o violão tinha cordas,
quando o professor perguntou quais eram as partes do violão. Eles perguntaram se
teria prova no curso, e o professor disse que a prova do curso era a apresentação.
O professor chamou a atenção de L. W. P., porque a corrente dele tava
riscando o violão.
O professor apagou do quadro e falou: ai de quem não souber... (brincando).
Falou que ia contar até 10 e iria apagar.
Perguntou para a D. e ela não soube responder. O professor agradeceu o L. W. P.
quando ele trouxe o violão. O professor conquistou o aluno L. O. G. e a aluna M. S.
A. porque tocou as musicas que eles pediram pra tocar. Isso fez eles admirarem
muito o professor.
O professor pediu para eles se queriam terminar a primeira aula mais cedo
ou ir até meio-dia mesmo. L. W. P. quis terminar mais cedo, e por isso foi até
meio-dia mesmo. O professor ensinou os números das cordas. Pedia pra todos
irem tocando a corda 6, por exemplo, enquanto ele estava afinando os violões. Ao
final da aula, houve um exercício que envolveu jogos entre grupos.
369
SEGUNDA AULA
O professor começou afinando os instrumentos na aula. Tinha oito
pessoas. R. M. foi a última a chegar. O professor começou perguntando o que eles
lembravam da aula passada.
O professor tocou acompanhamentos divertidos junto com os exercícios.
ele falou: - Hoje tem coisa nova pra vocês. Vocês vão aprender acordes. Vão
aprender o que é uma nota e o que é um acorde. O professor tocava notas ou
acordes, e perguntava se eles conseguiam descobrir qual das duas era. O
professor chamava pelo nome quando queria que fizesse o exercício.
O professor começou as bases para ensinar acordes, e revisou as partes do
violão. Ele explicou como se fazia a representação do acorde graficamente.
Daí ia pedindo pra cada aluno fazer uma combinação específica dedo-corda.
Ensinou também que tocava as primas com indicador e dio e os bordões com
polegar. Pedia então que tocassem as combinações e falava pra tocarem com o
dedo certo da mão direita. Ficava pedindo pra eles identificarem quantos acordes
tinha determinada música.
O professor fazia os meninos trabalharem cooperativamente, e solicitava
que L. O. G. ajudasse seus colegas.
M. S. A. apresentava dificuldades até mesmo pra copiar certo os dedos que
estavam anotados no quadro representativo.
O professor corrigiu a postura de R. M.. Ela parece ter uma dificuldade
especial por ser canhota. O professor começou a afinar os violões no meio da aula.
Isso interrompeu um pouquinho, mas não chegou a atrapalhar. O professor
passava em cada um pra conferir e dava dicas objetivas pra cada um.
O professor falava que não interessava velocidade, o que importava era
tocar bonito. O objetivo principal parecia ser que eles tocassem no ritmo.
370
TERCEIRA AULA
Como sempre, L. O. G. tinha aparecido antes de todos os alunos e ficou
ajudando o professor. O professor conversou um pouquinho com os alunos no
início da aula. Se mostrou amistoso. Perguntou sobre qual prova eles iam ter nas
outras matérias, etc... Pediu a ajuda de L. O. G. L. W. P., por sua vez, ficava
brincando um pouco com o violão. O professor começou revisando o conteúdo que
eles tinham aprendido na última aula, perguntando pra eles se lembravam.
R. M. continuava trocando a perna de apoio do violão, algo eu parecia ser
um sintoma de sua orientação de escrita que era diferente. Nesta aula o professor
ficou treinando a troca entre os acordes A7 e o D.
O professor elogiou eles dizendo que eles estavam bem melhores. Também
fez o exercício chamado “toque o acorde diferente do seu vizinho”, que era uma
espécie de competição entre os alunos. O L. W. P. saiu, depois J., depois L. O. G.,
depois E. B. G., e, por fim, R. M. ganhou.
Mas, quando o aluno errava, ele falava que tava tudo bem, que na próxima
acertava, que não tinha problema. Ele foi indo, e logo após o início da aula, os
alunos estavam trocando nas cabeças de tempo, entre D e A7. O professor tem
o costume de ir passando de aluno em aluno, vendo como eles estão fazendo.
O professor perguntou como estava, se estava cil ou difícil, e então o L. W. P.
disse que estava difícil, mas R. M. disse que dava pra pegar o jeito. R. M. ficou
pedindo para ter mais aulas. Daí o professor falou que aula na terça faltavam
vários alunos, então não havia motivos pra ter aula mais dias.
No meio da aula, o professor falou: - Chegou a hora das pastas, e entregou
uma pasta para cada um. Quando o professor entregou a pasta de L. W. P., ele
falou: - poxa, a minha tem esse negócio que descolou. Daí o professor falou: -
Não, tem em outras também. L. O. G. passou em frente à câmera e fez sinal, pra
aparecer na filmagem. Isto leva a crer que eles podem se importar com a câmera.
O professor perguntou pra eles quem conhecia a música “O trem de ferro”, e
então R. M. disse que conhecia, que ela conhecia como “O Trem Maluco”.
371
Então, ela cantou a música para os colegas ouvirem. L. W. P. ficava raspando a
mão nos trastes, pra fazer um ruído irritante.
Eles aprenderam a letra de “O trem de ferro” e cantaram. O professor
escreveu a letra no quadro e deu o papel com a letra da música pra eles também.
O professor insistiu para que eles primeiro cantassem e depois tocassem.
O professor falou que era bom começar com essas músicas folclóricas e depois
aprender as outras.
O professor passou um exercício pra eles fazerem, que consistia em transcrever a
seqüência de acordes no caderno, e então explicou o que era pentagrama, barra
de compasso e compasso.
Enquanto eles estavam fazendo exercício, a diretora chegou e viu que
alguns alunos tinham faltado e disse: - Que absurdo. Então deu um sermão neles
dizendo que não podia faltar.
O professor ia passando, vendo quem tinha feito, e anotava um sinal de certo no
caderno.
QUARTA AULA
Nesta aula houve um problema. A diretora pediu que a aula fosse feita em
outra sala. Isso fez com que a aula começasse 15 minutos depois do horário
estipulado. foram quatro alunos, L. W. P., L. O. G., L. P. S. e M. S. A. A última
citada tem realmente muita diiculdade no violão, evoluindo bem lentamente. Foi
implantada a questão do ajudante do dia, sendo que foi L. W. P. o primeiro a ser
escolhido como ajudante. L. O. G. também ficou ajudando M. S. A.. A aula foi até
meio-dia, sendo que o professor estava um pouco apressado para acabar o
conteúdo.
L. W. P., como sempre, foi o mais agitado, mas não chegou a atrapalhar a
aula. O professor deu uma ênfase de atenção para M. S. A., porque ela
372
apresentava muita dificuldade. No mais a aula foi tranqüila. L. O. G. ajudou o
professor no final da aula, ele ficou carregando as coisas. O professor, em
contrapartida, ficou brincando de aviãozinho com ele. O professor ficou fazendo
exercícios com eles, um cantava e os outros contavam até quatro.
Foi a terceira falta do G., e por isso o professor foi procurar ele na sala, e
conversou numa boa, mostrou a pasta que tinha sido feita pra ele, disse que todos
estavam sentindo falta dele na aula. O professor perguntou no final da aula, para L.
O. G., quando os outros tinham ido embora, se ele estava gostando da aula, do
que ele não estava gostando, etc... Ele disse que tava gostando de tudo.
QUINTA AULA
As primeiras a chegar foram L. P. S. e M. S. A., que chegaram juntas. Depois E. B.
G., e R. M. L. P. S. falou “oi” pra câmera quando o professor saiu.
O professor disse que eles estavam melhorando. J. chegou atrasada e
mentiu dizendo que estava cuidando do irmão. Mas na verdade ela teve que voltar
pra casa porque estava com uma saia muito curta, e a coordenadora mandou ela
voltar. J. disse que não sabia o que tinha que fazer, quando chegou na vez dela.
Então o professor falou na frente de todo mundo: - Viu, gente... por isso que não
pode chegar atrasado na aula.
O professor fez um elogio para M. S. A. na frente de todo mundo, dizendo
que ela tinha melhorado bastante. R. M. disse que tava fácil de fazer, e o professor
disse que estava fácil porque eles estavam tocando bem, que no começo do curso
era difícil. O professor perguntou qual sica tinham aprendido na última aula. R.
M. disse que um dia ela ainda iria aprender a tocar igual ao professor.
Depois foi treinando o poutporrit, falando pra cada um tocar de cada vez.
Elogiou J. O professor perguntou pra todos o que eles faziam no fim de semana. O
professor deixou livres para que eles decidissem como iriam fazer a contagem pra
373
dar certo de tocar as músicas, pois não estava dando muito certo. Então eles
falaram pra ir R. M. na frente, pra ela liderar.
Eles quiseram fazer o inverso do que o professor propôs, inverter a ordem
das músicas. O professor deixou. R. M. deu uma sugestão de como podia ser o
final da musica, e o professor disse que poderia ser daquele jeito também.
Passaram algumas professoras na sala e as alunas, principalmente R. M.,
perguntou se queriam ouvir eles tocando. As professoras disseram que não,
porque estavam com pressa.
O professor ensinou então um novo acorde, o sol maior (G), e deu várias
opções de como este poderia ser feito, sendo que cada aluno poderia escolher
qual lhe agradava mais. A primeira ajudante foi J., e teve vários afazeres: ajudou
os outros a fazer o acorde de G, ajudou a acender a luz, ajudou a entregar as
pastas.
SEXTA AULA
No começo da aula, o professor ficou conversando com os alunos L. W. P. e
J., que estavam sentados nas cadeiras do fundo esperando os outros chegarem.
Chegou L. W. P., J., M. S. A. e R. M.. O Leo, como sempre, ficou fazendo ruídos no
violão. A aula estava com um ritmo um pouco lento.
O professor elogiou os alunos porque eles estavam fazendo corretamente a
troca entre os acordes D e A7. O professor requisitou a ajudante pra ensinar o
aluno que não tinha vindo na aula passada. O professor ficava perguntando sobre
as aulas que eles iriam ter na escola.
O professor ficou praticando a troca entre D e G e entre A7 e G e conferiu as
pastas de quem tinha levado. A ajudante do dia distribui as músicas para todos.
Organizou-se também uma atividade em grupo, e o educador ia em cada grupo
para assessorar na realização das atividades.
Percebo que fazer as tarefas cooperativas era algo de que os alunos
374
gostavam. R. M. pediu se eles podiam beber água, e o professor disse que sim. E.
B. G. voltou antes de todo mundo, depois que beberam água, e fez sinal pra
câmera. As meninas foram, e ficaram mais tempo, bebendo água. Demoraram a
voltar. L. W. P. ficou em cima da cadeira, e ficou batendo com o violão na cabeça
de J.
Formaram então uma roda e ocorreu uma brincadeira de nomes, na qual
cada aluno tinha que decorar o nome de todos seus colegas, como uma tentativa
de haver valorização de cada um dos sujeitos. L. W. P. derrubou o violão e o
professor falou que não podia deixar o violão ali, que o certo seria deixá-lo na
cadeira. Falou também que não era pra ser tão relaxado, porém falando que ele
era um cara legal, pra contrabalancear. Este aluno tem dificuldade rítmica.
Explicou o que era cooperativismo. Ocorreu uma atividade de aprendizado
cooperativo de La Bella Luna, na qual cada um tinha de aprender uma parte da
música, em um grupo separado, e então voltava ao seu grupo para ensinar aos
demais. Após isso, eles tocavam a música para os colegas verem. Explicou o que
era breque.
SÉTIMA AULA
Começamos com L. O. G. ajudando o professor, e o professor agradecendo-lhe. L.
W. P. foi tocando na frente da câmera. Nessa aula, os alunos estavam
conseguindo realizar a troca entre os acordes de D e A7 mais rapidamente.
Muitos alunos acabaram ficando com os dedos doendo, e por isso não
conseguiram tocar durante o tempo todo.
L. W. P. ficou falando que era meio-dia (ele sempre fala isso, parece querer ir
embora antes). Este parece ser o aluno mais rebelde da sala.
O professor ficou falando que não era pra eles se incomodarem com a
câmera, falou que era pra eles continuarem do jeito que eles comportavam
normalmente, que não era pra mudar nada. Perguntou se eles estavam se
375
incomodando, se eles quisessem tirar a câmera, poderia, não tinha problema.
Disse também que era meia hora de filmagem, que a fita tinha duração de
meia hora e, portanto, não havia necessidade de se preocuparem. A aula se
caracterizou por apresentar um treinamento intensivo de uma mesma música,
buscando uma execução satisfatória. Depois ocorreu o treino de D e A7, quatro
vezes cada. Deu bolha no dedo de L. W. P.. O professor ficou divagando,
inventando um improviso. Falou para R. M. ensinar pro Leo, havendo assim um
espírito de cooperação.
Os alunos falaram que queriam ir ao banheiro. Então o professor deixou,
mesmo estando no fim da aula, porém falou que deveriam voltar logo. O professor
perguntou para a classe uma coisa que tinha ensinado na primeira aula do curso.
Elogiou L. O. G. porque ele acertou a resposta.
Ensinou a clave de sol, pedindo para que cada um a desenhasse, e ficava
passando em cada carteira pra orientar individualmente. Ficou muito tempo
orientando M. S. A., pois ela não estava conseguindo de jeito algum desenhar a
clave. Durante a explicação, o professor manteve sempre a paciência, o auto-
controle. Ficou mais de três minutos explicando a mesma coisa pra aluna.
OITAVA AULA
L. O. G. foi o primeiro aluno a chegar, e o professor foi amistoso com ele.
Ficou olhando a câmera, o professor falou então pra ele pegar a câmera e filmar
um pouquinho, se ele quisesse, deixando o aluno livre, portanto. A segunda a
chegar foi M. S. A.. O professor estava apressado no início da aula, para dar conta
de começar no horário. L. ficava brincando com o violão, explorando diferentes
jeitos de tocar, meio que pra fazer bagunça, e o professor não intervia.
O professor ficou falando com eles, mostrou-se interessado, perguntou do
grupo “Rebeldes” (grupo então na moda) para eles, já que alguns gostavam,
perguntou o que tinham feito no feriado. Falou que M. S. A. era a ajudante do dia.
376
O professor disse que quem tivesse mais presença no final do curso ganharia
prêmio. Viu as pastas, pediu pros alunos mostrarem pros demais da classe. Teve
uma que não quis mostrar, então ele não insistiu, disse que não havia problema, se
ela não quisesse mostrar.
Valorizou L. W. P., apesar dele ser o mais bagunceiro da classe (valorizou
ele até mais que os outros, aparentemente). E. B. G. chegou atrasado, e então o
professor, ao invés de chamar-lhe a atenção na frente de todos os alunos, resolveu
falar para a classe que o máximo de atraso permitido era de 5 minutos, no máximo.
Esta parece ser uma maneira de evitar constrangimentos em frente dos alunos.
Perguntou como se chamava o pentagrama, R. M. respondeu e ele a parabenizou.
Usou analogia para explicar o pentagrama, com a palavra pentacampeão (já que o
Brasil é pentacampeão no futebol).
Usou metáfora pra explicar toque alternado, dizendo que pra se tocar violão você
deve pensar que sua mão é um “homenzinho caminhando”, sendo que os dedos
indicador e médio são as pernas do homenzinho.
O professor é firme nas coisas que ele acredita na técnica, não deixa os
alunos livres pra tocar do jeito que quiserem. Por exemplo, a questão de usar o
polegar nos bordões. Também é firme na postura, pede que os alunos tenham uma
boa postura.
O professor corrigiu M. S. A., através de falar sobre a forma certa de tocar
para todos, e não apontando o erro dela. Agiu, assim, similarmente ao modo como
tinha agido com E. B. G.. Parabenizou R. M., porque ela acertou a seqüência mi e
sol na partitura.
O educador explicou firmemente que não podia usar o polegar pra tocar as
cordas finas, e mostrou por que isto era assim, através do exemplo de uma música
na qual tocou com os dedos certos, e que ficou visível que não seria possível
executar tal música tocando apenas com o dedo polegar, sem exercitar os demais
dedos.
L. O. G. ficou olhando pra mera. M. S. A., ajudante do dia, foi solicitada
cerca de seis vezes para ajudar o professor durante a aula. L. O. G. perguntou se
377
podia ir beber água, e daí todos quiseram ir também. Após isso, praticaram a
música La Bella Luna. Firmou o senso rítmico dos alunos, com exercício de
contagem de números de acordo com a regência do professor. Passou o baixo pra
eles, pra tocar junto com os acordes, do La Bella Luna, de forma sincronizada
(baixo em quatro semínimas e acordes em cabeças de tempo).
NONA AULA
O professor tentou ser mais falante com os alunos neste dia, sendo que na
hora em que as meninas chegaram ele logo falou: - Oi, Meninas! Chegaram L. P.
S., M. S. A., R. M., L. W. P. e L. O. G.. O professor falou: Gente, vou parabenizar
vocês pela última aula, pois vocês tocaram muito bem. Disse que o ajudante do dia
seria L. O. G., e ele falou: Ah, eu não quero ser, toda aula eu já ajudo mesmo...
O professor elogiou L. O. G. porque ele conseguiu acender a luz, que estava
com defeito. O L. W. P. ficou cantando uma música do Zezé di Camargo e Luciano,
e o professor não o reprimiu.
O educador disse no início da aula que aquela era “aula livre”, que era pra
eles fazerem o que quisessem. O professor falou que se quisessem contar piadas,
ou algo do tipo, tudo bem. Eles começaram então a contar piadas. O L. O. G. foi o
que mais contou piadas, o L. W. P. também. R. M. contou duas e E. B. G. uma L.
P. S. e M. S. A. não contaram nenhuma. Pediram ao professor que ele contasse
uma piada, e ele disse que não sabia nenhuma. Terminadas as piadas, o professor
perguntou o que eles queriam fazer. Eles disseram que queriam ouvir músicas.
O professor fez então a brincadeira de ouvir músicas e falar pra eles
adivinharam qual era a música. Depois pediram para o professor tocar músicas pra
eles ouvirem. O professor falava pra eles escolherem as músicas que eles
quisessem, que então ele tocaria. L. W. P. então ficava se levantando e cantando,
fazendo de conta que era popstar. L. O. G. ficou falando que o Leo era “doido”, por
378
estar fazendo aquilo. L. O. G. passou pela frente da câmera e fez sinal.
O educador parabenizou E. B. G. porque acertou a resposta e uma pergunta
que tinha feito.
O professor fez então a revisão das notas que tinham sido aprendidas,
tocando um acompanhamento harmônico agradável para as notas sol, e mi R.
M. disse que aquele acompanhamento era legal.
Perguntou, à classe, quantas notas tinha cada compasso daquela música, e
então parabenizou E. B. G., pois ele acertou a resposta.
Foram tirar fotos na sala, e o professor se mostrou bastante à vontade,
fazendo brincadeiras com os alunos, através de frases engraçadas.
O professor fez exercícios com as notas , sol e mi, fazendo o
acompanhamento, com a dinâmica de “um toca - todos tocam”, quase como uma
estrutura de concerto, na qual todos podem aparecer sem haver, entretanto, o
perigo dos outros alunos terem de ficar esperando sua vez de tocar e poderem se
distrair.
Passou as partituras pros baixos, e ensinou como as mesmas deveriam ser lidas.
Explicou o “Zé carioca” – maneira lúdica de explicar a pausa de semínima.
O Leo ficou imitando som de porta no violão, pra enganar o professor, mas o
professor levou numa boa, até deu risada junto.
Depois ocorreram exercícios de fixação rítmica, no qual cada um era um
maestro cada vez, e os outros tinham que seguir quem estava regendo naquele
momento. Ficavam na frente da sala, havendo assim uma possibilidade de auto-
afirmação.
Tinha gente que falava: ai, eu não consigo.... Então o professor dava um
empurrãozinho, nem considerava as palavras de desânimo dos alunos, falava: -
Vai, rápido!
M. S. A. errou a regência, então o professor falou que tinha algo diferente,
mas o que era um erro, pedindo para os outros alunos que soubessem falar o
que era aquilo. Pediu para L. W. P. ficar em silêncio, pois ele estava fazendo muito
barulho na aula.
379
L. W. P., no final da aula, disse que teria que sair do curso, e o professor
disse que não era possível, porque ele era necessário ao grupo.
Treinou La bella luna, ensinou e praticou com eles a forma de realização do
breque. Fazer o breque e tirar da rodada quem errava o breque parecia ser muito
excitante para os alunos. Eles adoravam saber que tinham acertado mais que o
amigo. L. P. S. ficou achando justificativa para seu erro, dizendo que a parte dos
outros era mais fácil de tocar do que a dela, e por isso ela tinha errado. O professor
compensou falando que sabia que ela tocava bem, que não era pra se preocupar.
R. M. disse que achou legal fazer o esquema do breque na música. Não
ela, mas a maioria dos alunos estava excitada com a execução desta sica com
breque.
Pediram pra ir ao banheiro, faltando 10 minutos para acabar, e então o
professor pediu que esperassem acabar a aula para poder ir. L. W. P. ficou
tocando em cima da mesa, e o professor deixou.
DÉCIMA AULA
L. O. G. e E. B. G. ficaram olhando pra câmera e fazendo brincadeiras. O professor
saudou L. W. P. quando ele chegou na sala, e perguntou se os alunos queriam
fazer aula livre de novo. L. w. P. estava fazendo bastante bagunça.
Então R. M. pediu que o professor tocasse uma música, a Marcha Nupcial.
Ele tocou, e eles gostaram. Ocorreu revisão da música “O Trem de ferro”. Deu
exercício pra fazerem em duplas. O que estivesse na esquerda deveria cantar e o
da direita deveria tocar, com a música “O Trem de Ferro”.
O professor ficou fazendo exercícios de ritmo batendo palmas. Pediu pra
eles se levantarem e ficarem caminhando, fazendo combinações de palmas e
passos, como por exemplo, dois passos e uma palma, duas palmas e um passo,
etc...
L. W. P. e E. B. G. fizeram gracinhas na frente da câmera, e o professor
380
pedia para que eles parassem de fazer tanta bagunça. O professor iniciou uma
série de exercícios corporais com os alunos, situação em que M. S. A. se mostrou
bastante inibida. Em toda as aulas ela parece ser assim desse jeito.
Eles pediram pra ir ao banheiro e o professor deixou. L. O. G. ficou
mostrando a música “O Trem de Ferro” pro professor.
O professor ficou ensinando o breque para eles e acompanhava cada aluno
individualmente. Eles estavam com problemas de ritmo. Então o professor falou pra
eles ouvirem a bateria melhor, e baterem palmas de jeitos variados, que o
professor indicava como deveria ser. Falou também, de maneira lúdica, que era
importante ter ritmo porque quando eles fossem mais velhos eles poderiam dançar
se alguma menina bonita os chamasse.
O professor passou para eles o ritmo da música na bateria eletrônica e ficou
falando diferentes combinações pra eles baterem palmas e pés. Alguns alunos
ficaram sentados enquanto os outros estavam de pé fazendo os exercícios.
O professor perguntou L. W. P. e E. B. G., que mexiam um com o outro
durante a aula inteira, se era namoro ou amizade, na tentativa de inibir a bagunça
deles.
L. O. G. perguntou se podia tocar o baixo ao invés de harmonia, o professor
disse que não, pois precisava de mais pessoas tocando a harmonia. Falou que se
L. P. S. não faltasse poderia, ele poderia, mas como ela havia faltado, ele não
poderia mudar. Foi uma aula um pouco estafante. Treinou o pezinho e “O Trem de
Ferro”, falando do ritmo como se este fosse o barulho de um relógio.
Quando estava chegando ao fim, o professor perguntou: e aí, o que vocês
querem fazer agora? Eles responderam que queriam ir embora. Então o professor
dispensou dez minutos antes.
No final da aula o professor arrumou as cordas de um violão que L. O. G.
havia levado na escola.
DÉCIMA PRIMEIRA AULA
381
No começo da aula, L. estava fazendo desenhos no quadro. O professor
falou então que estava bonito. L. O. G. ficou pedindo pro professor o apagar. O
professor falou que apagaria se precisasse, e precisou. Falou para L. O. G. que
ele precisava se concentrar, que era pra fazer silêncio.
L. P. S. também estava desenhando, o professor deixava que eles
desenhassem à vontade no quadro.
O professor inseriu a atividade “Minha Música” mostrando primeiramente
como era possível compor uma música apenas três notas que eles haviam
acabado de aprender. Para tanto, pediu que cada um sugerisse uma nota e, ao
final, executou a música que havia sido composta. O professor deu um prazo pra
eles comporem, e cada um criou sua peça.
L. O. G. gozou do professor, na brincadeira, e o professor falou: escolhe um
dedo pra eu fazer cócegas. Este aluno parece muitas vezes tentar humilhar os
outros na sala, fica vaiando, quer ser ele o bom sempre. Parece não interagir e
prestar a tenção nos outros. Ficou falando o tempo todo de sua música que se
chamava “Bicho Paraguaio”, tanto que os outros começaram a caçoar dele, falando
que era “Lixo” Paraguaio.
A primeira música apresentada durante a atividade “Minha Música” foi a de
R. M. Ela parecia ser a mais confiante de todos os alunos. E. B. G., logo após,
tocou sua música e foi muito aplaudida por seus colegas. Ele gostou muito disso,
pedindo, inclusive, que o professor lhe ensinasse outras notas para que pudesse
compor mais músicas.
R. M. perguntou pro professor qual era o jeito certo de compor, se deixando
três ou quatro notas por vez.
L. O. G. ficava todo momento querendo chamar a atenção dos colegas. E o
interessante é que, na hora dele tocar, travou um pouco, e errava muito na frente
da sala. Mas, no fim das contas, com o professor incentivando bastante, ele
conseguiu tocar e foi aplaudido. Após isso, o aluno compôs uma segunda música,
chamada “Vitrola Quebrada”, que consistia em tocar uma nota só. Demonstrou,
382
assim, muita criatividade, que o sentido de se tocar apenas uma nota era o fato
de a vitrola estava “quebrada”.
Em determinado momento, o educador ficou apenas praticando afinação da
voz dos alunos, para que eles estivessem preparados para a apresentação.
Depois, para fixar o senso rítmico, realizou práticas corporais: Pedia que eles
levantassem, ficassem dançando e batendo palmas no contratempo, e que
também parassem na hora do breque.
L. O. G. quis filmar com a câmera que o professor usava pra registrar os
encontros, mas desta vez o professor não deixou. R. M. é super extrovertida,
chega na aula pulando, brincando.
DÉCIMA SEGUNDA AULA
O professor começou elogiando os alunos pelas músicas que eles tinham
composto na ultima aula. Depois pegou as estantes e levou para cada um dos
alunos, lançando o desafio: quem será que ia saber montar a estante? L. O. G. foi
o primeiro a montar. Depois ficou lá falando que M. S. A. não conseguia. O
professor disse então que M. S. A. era inteligente, incentivou-a dizendo que
conseguiria.
O educador falou então que sempre tem que mexer o corpo na hora de
tocar, para ter o senso rítmico. Contudo, M. S. A. não conseguia ter esta
flexibilidade corporal.
L. P. S. e R. M. tinham mais leveza para dançar.
O professor insistiu a aula inteira pra que eles dançassem sempre na hora
de tocar. Treinou as duas músicas. Deixou eles bem soltos, falando que era
imaginarem que estivessem no palco, fazendo um show, na hora em que
praticavam a música La Bella Luna”. Quando acabaram de tocar a sica, eles
mesmo se aplaudiram.
383
Após isso, o professor deu uma atividade de composição em dupla. As
meninas (R. M. e L. P. S.) estavam bem entrosadas nesta atividade e utilizaram
inclusive pausas de semínima na composição. No outro grupo, entretanto, M. S. A.
se mostrava um pouco passiva com seu parceiro L. O. G. e eles não utilizaram
pausas, mas sim apenas semínimas.
As alunas R. M. e L. P. S. chamaram então o professor e mostraram a
Música que tinham acabado de criar, juntamente com a partitura feita. A partitura
continha erros, que não a deixavam condizentes com o que era realmente tocado.
Para corrigir isso, o professor não indicou o erro, mas sim conduziu as alunas a
refletirem, de maneira que elas mesmas identificaram o que era necessário ser
corrigido.
O L. O. G. ficou tentando denegrir M. S. A. para o professor, dizendo que ela
não estava conseguindo tocar. O professor então reverteu o quadro, falando que
M. S. A. tocava bem e precisava de um detalhezinho pra resolver, solicitando,
ao mesmo tempo, que L. O. G. fosse cooperativo com sua colega, e não
competitivo. Depois, as duplas foram na frente da sala e foram gravadas.
R. M. sempre esteve mais solta, desinibida, gritando e fazendo torcida para
os outros que iam se apresentar. O professor ria da reação das meninas. Ele
deixava elas gritarem na torcida. No final do encontro, L. O. G. ofereceu um
chocolate pro professor.
ENSAIO GERAL
Após alguns minutos, todos haviam chegado em sala, menos R. M. Como
era muito importante sua presença, por tratar-se de um ensaio geral, o educador
solicitou que E. B. G. e L. W. P. fossem na casa dela para chamá-la. Além disso, o
professor teve de ligar para a casa de L. P. S. e perguntar para sua mãe se ela
participaria da apresentação ou não, pois ela esteve um pouco doente naqueles
384
dias.
L. O. G. ficou tentando chamar a atenção a todo momento, inclusive
passando em frente à câmera algumas vezes e fazendo gracejos. No início, o
professor tentou ignora-lo para que seu comportamento se extinguisse, mas
depois, como isto não causou resultados satisfatórios, o educador teve de dar
limites a este aluno.
Em um determinado momento L. O. G. foi acender a luz, porém não
conseguiu, pois o interruptor estava com problemas de contato. O professor então
o incentivou, dizendo que se ele tentasse mais um pouco conseguiria, o que
realmente aconteceu.
O professor sugeria as atividades e passava pelos alunos para corrigi-los,
ocorrendo aí uma espécie de trabalho com as zonas de desenvolvimento proximal.
R. M. comemorava, dizendo que tinha ficado “bonito” eles tocando. L. O. G. disse: -
Agora saiu legal. Reconheceram, assim, o próprio sucesso.
Nesse momento, parece ter havido o fortalecimento da resiliência dos
alunos.
APRESENTAÇÃO
O professor apresentou os alunos um a um, anunciando estes no palco. De
maneira geral, foi uma apresentação muito boa. Os alunos começaram e
terminaram corretamente todas as músicas, e foram bastante aplaudidos. Também
é interessante observarmos que na platéia se faziam presentes os pais de alguns
dos alunos que se apresentaram.
385
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO VI
Obs.: O programa abaixo exposto foi entregue aos alunos no primeiro encontro do
curso, realizado em 29 de agosto de 2005. O trabalho não compreendeu
exatamente todas as atividades pré-estabelecidas nesse programa, isto porque os
alunos participantes não demonstraram uma evolução cnica compatível com a
expectativa inicial do professor. De qualquer maneira, julgamos adequada a
anexação deste programa porque, dessa maneira, o leitor pode ter uma noção da
maneira pela qual o trabalho se iniciou.
387
ESCOLA ESTADUAL JORNALISTA ROBERTO MARINHO
CURSO DE VIOLÃO
Prof. Pablo.
Alunos: D., E., G., J., J., L., L., L., M. e R..
E aí, pessoal! É com muito prazer que recebemos todos vocês aqui hoje. Nosso
objetivo é, todos nós juntos, aprendermos a tocar violão, até o final deste ano. Nesta nossa
meta, o professor vai ser responsável por uma parte do trabalho, que é passar os
conhecimentos que tem a todos os estudantes. Mas a maior parte mesmo é com vocês:
Depende do esforço de cada um aprender ou não aprender a tocar.
Temos certeza que não teremos problemas quanto a isso, porque sabemos que todos
aqui são muito inteligentes.
Vocês sabiam que...
... todos tem a mesma capacidade de aprender? Pois é, não depende do talento, e sim do
esforço de cada um.
... não podemos ter vergonha de perguntar para alguém (um colega ou o professor) que sabe
mais. Esse é um jeito muito bom pra aprender.
... no começo é difícil pra todo mundo, mas no final, se a gente se esforça, vale a pena.
O nosso curso será bastante curto: vamos ter 16 aulas. Por isso, se concentrem, prestem
atenção nas aulas e aprendam o máximo que puderem esta grande oportunidade!
Divirtam-se, e boa sorte a todos!
Prof. Pablo.
PLANO DAS AULAS
29 de Agosto
-
1
a
. aula
> APRESENTAÇÃO DO CURSO
388
Apresentação dos alunos.
Conhecer o plano de aulas.
Definição do contrato pedagógico.
História do Violão.
Audição de diferentes músicas com violão.
Partes do violão.
Postura.
Técnica básica de otimização de mão direita e esquerda.
Unhas.
Racionalização dos movimentos de mão.
Cordas, casas e dedos da mão esquerda, com exercícios.
Exercício 1234 mão esquerda.
Diferença entre nota e acorde, ligando com melodia e ritmo e solo e acompanhamento.
Explicar cifra (nomear os acordes por letras e as qualidades dos mesmos).
Explicar a representação de acordes.
Acordes de D e A7.
Treinamento de Acordes de D e A7.
Exercícios tácitos de D e A7 (seqüência de contagem regressiva).
Exercícios sonoros de D e A7 (seqüência de contagem regressiva).
Letra do “Trem de Ferro”.
Formação de duplas.
12 de setembro
-
3
a
.
aula
-
> PRIMEIRA MÚSICA: “O TREM DE FERRO”
5
de setembro
2
a
.
aula
-
> ESTRUTURAÇÃO TÉCNICA
389
Apresentação da música “O Trem de Ferro”.
Acorde de G.
Exercícios tácitos D e G (seqüência de contagem regressiva).
Exercícios sonoros D e G (seqüência de contagem regressiva).
Harmonia de “Debaixo dos Caracóis”.
Audição de “Debaixo dos Caracóis”.
História da música “Debaixo dos Caracóis”.
Letra da música.
Separação em grupos: harmonia e melodia.
Interações com solo ou harmonia de cada um acompanhado pelo professor, sem parar o
ritmo
Interações com pares formados pelo professor (um faz harmonia e outro a melodia).
Interações com solo de cada um acompanhado pelo professor, sem parar o ritmo,
tocando as duas músicas.
Interações com pares formados pelo professor (um faz harmonia e outro a melodia)
tocando as duas músicas.
26 de setembro
-
5
a
.
aula
-
> 2
ª
MÚSICA: “DEBAIXO DOS CARACÓIS
19 de setembro - 4
a
. aula -> APRESENTAÇÃO “O TREM DE FERRO” E
ACORDE DE G.
3 de outubro - 6
a
. aula -> CONTINUAÇÃO DE "DEBAIXO DOS
CARACÓIS" E NOVO TREINAMENTO DE “O TREM DE FERRO”
10 de outubro
-
7
a
.
aula
> 3
ª
MÚSICA: LA BELLA LUNA
390
Audição da Música.
Harmonia e letra da música.
Breque.
Separação em dois grupos: melodia e harmonia.
Interações com o professor.
Formação de duplas.
Audição e história de Asa Branca.
Harmonia de Asa Branca.
Jogo da memória musical.
Solo de Asa Branca.
17 de outubro – 8
a
. aula -> CONTINUAÇÃO DE “LA BELLA LUNA” E
RELEMBRAR "TREM DE FERRO" E “DEBAIXO DOS CARACÓIS”.
24 de outubro
-
9
a
.
aula
>
ENSAIO PARA APRESENTAÇÃO
25 de outubro
-
>
APRESENTAÇÃO: DIA DO PROFESSOR.
31 de outubro - 10
a
. aula –> PÓS-APRESENTAÇÃO. 4
A
. MÚSICA:
“ASA BRANCA”.
7 de novembro
-
11
a
. aula
> CONTINUAÇÃO DE “ASA BRANCA
”.
14 de novembro – 12
a
. aula -> CONTINUAÇÃO DE ASA BRANCA.
RELEMBRAR LA BELLA LUNA E CHICO MINEIRO.
391
- Harmonia, letra e solo de “Noite Feliz”.
21 de novembro - 13
a
. aula –> 5
A
. MÚSICA: NOITE FELIZ
28 de novembro - 14
a
. aula –> CONTINUAÇÃO DE NOITE FELIZ.
5 de dezembro
15
a
. aula
> RELEMBRA
R MÚSICAS DO CURSO.
12 de dezembro
-
16
a
. aula
> ENSAIO PARA APRESENTAÇÃO FINAL
13 de dezembro –> APRESENTAÇÃO DE NATAL – CONFRATERNIZAÇÃO
FINAL
393
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO VII
395
Foto do bairro onde se encontra a escola na qual realizamos o curso.
Vista frontal da Escola Estadual Jornalista Roberto Marinho
396
Sala de aula onde foi realizado o curso.
397
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO VIII
398
Kit
de trabalho de concedido a cada
aluno participante: Um violão, uma estante
de partituras e uma pasta contendo as
músicas a serem aprendidas e outros
conteúdos relevantes.
Atividade
Ajudante do dia
:
Em cada aula,
um aluno diferente era selecionado para
auxiliar nas mais diversas atividades, tais
como: entregar as folhas de atividades para
os colegas, ajudar a carregar os
instrumentos e acender as luzes da sala de
aula. O sentido de tal procedimento era criar
uma situação na qual os alunos pudessem
sentir-se úteis, de maneira que sua auto-
estima fosse beneficiada.
399
Atividade
auto-avaliação: No final de algumas aulas, o professor mostrava
este cartaz para os alunos, para que os mesmos pudessem avaliar seu próprio
desempenho. Isto fora proposto por Moyses (2002) como um meio efetivo
de potencializar a auto-estima dos adolescentes.
Atividade
Pessoas Importantes da sala
:
Na confraternização final, em
01/12/2006, o professor fixou na parede este cartaz contendo o nome de cada
participante. Solicitou, então, que cada aluno escrevesse alguma qualidade de
seu colega e colocasse junto do nome do mesmo. Após isso, cada aluno ia até
a frente da sala e lia os adjetivos que tinha recebido dos outros. Tal atividade
foi realizada para que se propiciasse valorização pessoal de cada um dos
educandos.
400
Certificado final entregue aos alunos
:
Entregue também na ocasião da
confraternização final, o certificado teve como objetivo promover a valorização
pessoal dos estudantes.
401
__________________________________
__________________________________________
_________________________________________________________
_________________________________________________________
__________________________________________
__________________________________
ANEXO IX
As atividades abaixo transcritas foram utilizadas em nosso trabalho de campo, sendo
desenvolvidas a partir de pesquisas bibliográficas e intercâmbio de experiências com
educadores musicais.
402
Ensina-se, primeiramente, como tocar e escrever três notas da primeira
corda: o mi (corda solta), o sol (terceira casa) e o (quinta casa) e também
a pausa de semínima.
Após todos os alunos terem assimilado essas notas, pede-se que cada um
componha uma música com estas três notas.
Chama-se um aluno de cada vez para tocar na frente da sala de forma que
todos os colegas possam ver e aplaudir. Neste ponto, é importante citar que
o professor deverá realizar um acompanhamento harmônico à melodia
criada pelo educando, ratificando-se, desse modo, a importância da
competência musical do educador.
Após cada aluno tocar sua peça e seus colegas o aplaudirem
aconselhável que o professor incentive a classe a prestigiar quem se
apresentou), solicita-se que o mesmo até o quadro-negro e escreva a
partitura de sua música, de modo que todos os outros alunos possam
aprendê-la.
Pede-se, então, que o educando que acabou de executar sua peça passe
entre os demais colegas, verificando as dúvidas que os mesmos possam ter
em relação ao aprendizado de sua peça e auxiliando-os a assimilar a obra.
Depois de todos os alunos estarem executando a música de maneira
razoável, o aluno-compositor retorna à frente da sala e todos executam sua
música ao mesmo tempo, com o acompanhamento harmônico do professor.
Atividade “Minha Música”
403
Esta atividade foi adaptada da atividade “Minha criação”, descrita em “A
auto-estima se constrói passo a passo”, de Lucia Moysés. É um procedimento
extremamente completo e aconselhável aos trabalhos de educação musical com
finalidades extra-musicais. Isto porque este procedimento exercita diferentes
habilidades do educando: criatividade (por consistir em uma atividade de criação),
auto-estima (por ser aplaudido pelos demais aprendizes e por sentir-se útil e
valorizado na medida em que ensina seus colegas a executarem sua peça).
Seleciona-se uma música compatível ao nível de proficiência dos alunos;
Realiza-se partituras de partes distintas da peça (baixo, harmonia e
melodia);
Forma-se grupos na sala, com um nome do grupo definido pelos alunos, e
distribui as diferentes partituras (baixo, harmonia e melodia) para os
diferentes alunos de cada formação;
Os grupos se desfazem e cada aluno se junta com os componentes dos
demais grupos que receberam as mesmas partituras (todos os alunos com a
partitura “baixo” vão para o mesmo grupo, todos com a partitura “melodia”
vão para o mesmo, e todos que têm a partitura “harmonia” ficam juntos, da
mesma maneira). Criam-se, assim, os “grupos dos especialistas”;
Dá-se um tempo determinado para que cada grupo de especialistas atinja o
domínio de sua parte específica, havendo, para tanto, o auxílio do professor,
Atividade “Quebra-cabeças musical”
404
que deverá percorrer a sala de aula verificando o desempenho de seus
pupilos;
Após terem assimilado sua partes específicas, o grupo de especialistas se
separa e cada aluno volta ao seu grupo de origem, havendo, assim, a
execução completa da peça, com suas diferentes partes;
Cada grupo executa sua peça em frente da sala e é aplaudido pelos
colegas.
Esta é uma técnica de ensino adaptada do método de ensino cooperativo
jigsaw (quebra-cabeças, em inglês), presente em Cava e Musitu (2000, p. 42). Ela
consiste de fato na aprendizagem de uma peça musical de maneira cooperativa, o
que constitui um fator benéfico ao aprendizado, uma vez que as atividades
educacionais realizadas cooperativamente têm possibilidade de melhorar a auto-
estima dos educandos, porque os alunos que as realizam aceitam mais os demais
e se sentem também mais aceitos por eles, por trabalharem em conjunto. Com
isso, verifica-se também um fator de vantagem possibilitado somente em situações
onde a aula de música é realizada coletivamente.
Ao ensinar a pausa de semínima aos alunos, podemos usar um recurso
didático que torna a assimilação do conceito mais prazerosa e lúdica. “Zé Carioca”
é um “apelido” que pode ser dado pelo professor à pausa de semínima. Na
realidade, é uma forma lúdica de transmitir este conhecimento, baseada na
semelhança da forma da pausa de semínima com as letras “Z”, de “Zé” e “C”, de
“Carioca”, se colocadas em forma de fração, onde “Z” é numerador e “C” é
Aprendizagem lúdica da pausa de semínima
405
denominador. Esta representação se mostra muito produtiva para a assimilação
deste conceito: Em exercícios de leitura rítmica, por exemplo, o professor pode
treinar o fato de não tocar na hora da pausa, dizendo: - Cuidado pra o atropelar
o Zé, gente! Olha o papagaio no meio da estrada! Isto maximiza as chances de
haver uma aprendizagem significativa e prazerosa. O gráfico abaixo ilustra a
analogia citada:
C
g
Z
+
C
Z
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