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que em (2), o antecedente fósforo F tivesse sido riscado (R) em concurso com as
mesmas leis causais gerais (L) e agora fatos como F não teria acendido (¬ A) nos
levaria à conclusão de que F não estaria seco (¬ S). Segundo o critério de
Goodman, (1) seria verdadeiro porque F estava seco (S) é co-sustentável com F
tivesse sido riscado (R); enquanto “(2) é falso porque, embora o fósforo não tenha
acendido [...¬ A...], isto não é co-sustentável com a assunção de que [o fósforo]
foi riscado” (Edgington, 1995, p.248), de modo que quando “o fósforo tivesse sido
riscado” é verdadeiro, “o fósforo não acenderia” torna-se falso.
Pois notemos que, se tivéssemos um conjunto P de sentenças verdadeiras,
ele incluiria, no primeiro caso, a condição relevante F estava seco (S), enquanto
no segundo caso, inclui a condição relevante F não está aceso, então, teremos que
(R ∧ L ∧ P... ∧ S) → A é logicamente equivalente a (R ∧ L ∧ P... ¬ A) → ¬ S.
Bennett alude a este problema, de forma bastante oportuna, de o “problema do
contrapositivo causal” (‘causal contrapositive problem’) (Bennett, 2003, p.310).
Como disse Wilfrid Sellars, referindo-se ao problema, “é neste ponto que
Goodman explode sua bomba” (Sellars, 1958, p.229) e é isso que o levou a adotar
o critério de co-sustentabilidade que é, em suma, circular. Pois Goodman quer que
não seja o caso que fósforo tivesse sido riscado implique fósforo não está seco (R
→ ¬ S), ou seja, ¬ (R → ¬ S); mas que seja inequivocamente o caso que (R →
A). Então, o critério de co-sustentabilidade excluirá (R → ¬ S), mas isso é
totalmente circular, pois o critério afasta (R → ¬ S) pelo fato de que (R → A), e o
critério aceita (R → A) porque proíbe (R → ¬ S).
A propósito, com respeito a este artigo de 1958, Counterfactuals,
Dispositions, and the Causal Modalities, podemos afirmar que Wilfrid Sellars foi
o primeiro autor a conseguir destrinchar um pouco melhor este problema, embora
não o tenha feito de forma a resolvê-lo completamente. Sellars reconhecia que o
fósforo não poderia ser ao mesmo tempo riscado, estar seco... e não acender, ou
equivalentemente, não estar aceso, ser riscado... e não estar seco. Sellars se
concentrou em precisar uma assimetria causal entre os enunciados, de maneira a
romper “a simetria ao mover de estados [completos] a entradas de estados”
(Bennett, 2003, p.311), ou seja, que uma coisa era algo estar completamente – de
forma acabada - em um estado, outra coisa seria algo ingressar, ou se mover a
esse estado. Sellars diz explicitamente que “o enigma de Goodman sobre a co-