Download PDF
ads:
1
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC – SP
Alderico José Santos Almeida
O processo eleitoral e a reprodução de grupos políticos no
Maranhão: embates recentes
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
São Paulo
2010
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PUC – SP
Alderico José Santos Almeida
O processo eleitoral e a reprodução de grupos políticos no
Maranhão: embates recentes
MESTRADO EM CIÊNCIAS SOCIAIS
Dissertação apresentada à Banca Examinadora como
exigência parcial para obtenção do título de Mestre em
Ciências Sociais: Política, pela Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, sob a orientação do Prof. Dr. Lúcio
Flávio Rodrigues de Almeida.
São Paulo
2010
ads:
3
Banca Examinadora
______________________________________________
____________________________________________
____________________________________________
4
Dedico este estudo ao meu pai
Raimundo Viana (in memoriam) e a
minha filha Telícia (in memoriam),
pelo valor que representam na minha
vida.
5
AGRADECIMENTOS
- A minha mulher Socorro pelo amor, pelo incentivo, pelo companheirismo, pela
solidariedade e pela tolerância às minhas impaciências;
- A minha filha Yasmim pelo poder do seu carinho e do seu sorriso de transformar as minhas
preocupações em alegrias;
- A minha Santa mãe querida por tudo que me tem proporcionado na vida;
- A minha irmã Madalena pelo grandioso apoio, pela hospitalidade e pelo estímulo. Você foi e
é tudo de bom.
- Ao meu querido amigo e orientador Lúcio Flávio Rodrigues de Almeida, não pelo rigor
de suas valiosas contribuições para o enriquecimento deste estudo, como também na forma
sempre receptiva e solidária que acolheu a mim e a minha família;
- A minha querida amiga Zulene Barbosa pela disposição em sempre me ouvir e pelas
valiosas críticas e sugestões;
- A Francisco Araújo, companheiro e amigo, pelas críticas e contribuições;
- Aos meus filhos Adroaldo, Marcony, Saint-Clair e Segundo pela compreensão da dimensão
da realização deste trabalho na minha vida;
- Aos Professores Ramon Vilarino e Vera Chaia, pelas contribuições sugeridas por ocasião da
Qualificação;
- Aos meus queridos sobrinhos Danilo e Nicole, pela atenção, solidariedade e carinho;
- A minha irmã Gracilda, pelo apoio e solidariedade;
- As pessoas que estiveram comigo nesse período de realização da pesquisa.
6
A miséria é de quem a sofre; a responsabilidade,
porém, cabe a todos nós.
Florestan Fernandes
7
RESUMO
Através do presente estudo, nos propomos a descrever o processo político-eleitoral
em um estado pobre como o Maranhão, destacando suas principais forças políticas e
compreender como atuam, se reproduzem e se legitimam.
Contudo, o cerne da nossa pesquisa está em examinar como o processo de
modernização e os próprios avanços das relações capitalistas contribuíram para a evolução do
coronelismo para formas sofisticadas de clientelismo político, ou seja, a conversão do voto em
um instrumento de barganha, em cuja transação o Estado é utilizado, na maioria das vezes,
como elemento intermediário.
Outro objetivo do nosso trabalho é compreender, também, a razão do Maranhão não
conseguir se desenvolver economicamente, apesar de possuir condições potenciais de
crescimento. Daí porque nos propomos ainda demonstrar as duas faces do Maranhão: a
primeira moderna, na qual si insere “os grandes projetos” que prometem ótimos resultados
para a economia do estado e a segunda a do “atraso”, da extrema pobreza da sua população,
medida pelos indicadores sociais, que acreditamos ser o lócus para a persistência de práticas
político-eleitorais e para a reprodução dos grupos oligárquicos.
Para este trabalho fizemos uso da pesquisa documental, consulta à bibliografia
especializada e do trabalho de campo, visando à caracterização, principalmente, das práticas
clientelistas.
Chegamos a um resultado diferente do encontrado em boa parte dos estudos sobre
práticas políticas eleitorais no Norte e Nordeste do país, os quais negam o exercício da
barganha eleitoral como fator determinante para os políticos vencer as eleições. A persistência
da pobreza no Maranhão e as condições de vida da população, demonstrada através dos
péssimos indicadores sociais, parecem explicar a manutenção do clientelismo no estado,
embora isso não se restrinja apenas às pessoas que se enquadram nessa situação. A população
tida como “letrada” contribui para a consolidação de tais práticas na tentativa de obter
vantagens e privilégios.
Palavras- chave: clientelismo, oligarquias, eleições, embates.
8
ABSTRACT
Through this study, we propose to describe the political and electoral process in a
poor state such as Maranhão, highlighting its main political forces and understand how they
work, are reproduced and legitimated.
However, the core of our research is to examine how the process of modernization
and the actual progress of capitalist relations contributed to the evolution of the Colonels to
sophisticated forms of political patronage, or the conversion of the vote in a bargaining tool,
in which the transaction state is used, most often, as a middleman.
Another goal of our work is to understand, too, why do Maranhão unable to develop
economically, despite having potential conditions for growth. That is why we propose to also
demonstrate the two faces of Maranhão, the first modern, in which each part of "big projects"
that promise great results for the state's economy and the second of the delay, the extreme
poverty of its population, as the social indicators, which we believe to be the locus for the
persistence of political and electoral practices and the reproduction of oligarchic groups.
For this work we made use of desk research, consultation with professional literature
and field work, to characterize, mainly clientelist practices.
We have reached a different result than found in most of the studies on practical
electoral politics in the North and Northeast, which deny the exercise of electoral bargaining
as a determinant for the politicians to win elections. The persistence of poverty in Maranhao
and living conditions of the population, demonstrated by the dismal social indicators seem to
explain the maintenance of patronage in the state, although this is not restricted only to people
who fall into this situation. The population considered to be "literate" contributes to the
consolidation of such practices in an attempt to obtain benefits and privileges.
Keywords: clientelism, oligarchies, elections, clashes.
9
SIGLAS
AC - Ato Complementar
AI - Ato Institucional
ALUMAR - Alumínio do Maranhão
ARENA - Aliança Renovadora Nacional
CAEMA - Companhia de Água e Esgoto do Maranhão
CBF - Confederação Brasileira de Futebol
CEFET - Centro Federal de Educação Tecnológico
COHEBE - Companhia Hidrelétrica de Boa Esperança
COMARCO - Companhia Maranhense de Colonização
CPDOC - Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea do Brasil
EJA - Educação de Jovens e Adultos
FPM - Fundo de Participação dos Municípios
GTAD - Grupo de Trabalho da Assessoria de Planejamento
IBAM - Instituto Brasileiro de Administração Municipal
IBAMA - Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
IDH - Índice de Desenvolvimento Humano
IFMA - Instituto Federal de Educação do Maranhão
IMESC - Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográficos
IPEAC - Instituto de Pesquisa e Assessoria do Congresso
JK - Juscelino Kubitschek de Oliveira
MDB - Movimento Democrático Brasileiro
MDS - Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome
PAIR - Programa de Ações Integradas e Referenciais do Enfrentamento à Violência
10
Infanto-Juvenil
PBF - Programa Bolsa Família
PC do B - Partido Comunista do Brasil
PDS - Partido Democrata Social
PIB - Produto Interno Bruto
PL - Partido Liberal
PPB - Partido Proletário Brasileiro
PR - Partido Republicano
PRODASEN - Processamento de Dados do Senado
PSD - Partido Social Democrático
PSDB - Partido Social Democrata Brasileiro
PSP - Partido Social Popular
PST - Partido Social Trabalhista
PTB - Partido Trabalhista Brasileiro
PTC - Partido Trabalhista Cristão
PTN - Partido Trabalhista Nacional
SUDAM - Superintendência do Desenvolvimento da Amazônia
SUDEMA - Superintendência do Desenvolvimento do Maranhão
SUDENE - Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste
TELMA - Telecomunicações do Maranhão
TRE - Tribunal Regional Eleitoral
TSE - Tribunal Superior Eleitoral
UDN - União Democrática Nacional
UNICEUMA - Centro de Ensino Universitário do Maranhão
URM - União Republicana Maranhense
11
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO..................................................................................................................... 12
1 OLIGARQUIAS E ELEIÇÕES NO MARANHÃO....................................................... 17
1.1 A era vitorinista e a ascensão de José Sarney ao Governo do Estado do
Maranhão....................................................................................................................... 17
1.2 O “Maranhão Novo” sob o comando de José Sarney................................................ 33
1.3 Sarney na Presidência da República........................................................................... 42
2 CORONELISMO E CLIENTELISMO: FACES DO MARANHÃO MODERNO.... 50
2.1 Coronelismo e Clientelismo: uma compreensão conceitual........................................ 50
2.2 Algumas práticas clientelistas operadas no Maranhão............................................... 55
2.3 O Maranhão, outra vez, na perspectiva modernizadora............................................ 65
3 REPRODUÇÃO E EMBATES RECENTES NAS ELEIÇÕES NO MARANHÃO
(2002 – 2006)......................................................................................................................... 70
3.1 A Frente de Libertação do Maranhão versus oligarquia Sarney............................... 70
3.2 O perfil do eleitorado maranhense................................................................................ 82
3.3 Resultado Geral das Eleições (2002 – 2006)................................................................. 85
3.3.1 Governador................................................................................................................... 87
3.3.1.1 As eleições de 2006 nos 10 maiores colégios eleitorais do Estado o embate entre
o grupo Sarney e seus opositores na eleição para governador.......................................... 88
3.3.1.2 Como foram as eleições nos 10 municípios com menor número de eleitores...... 91
3.3.2 Perfil dos Deputados Eleitos (2002 – 2006)................................................................ 99
3.3.3 Senador........................................................................................................................ 103
4 INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DO MARANHÃO: A REALIDADE
SOCIAL DO MUNICÍPIO DE BURITICUPU................................................................. 107
4.1 Indicadores Socioeconômicos do Maranhão................................................................ 107
4.2 A importância dos Municípios na distribuição de Benefícios Federais.................... 111
4.3 A Cidade de Buriticupu: reflexo da realidade estadual............................................. 114
4.3.1 Caracterização do Município de Buriticupu............................................................ 115
4.3.2 A revelação da face do Município............................................................................. 120
CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................................................. 126
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................. 129
ANEXOS (Extrato de entrevistas e fotos)......................................................................... 133
1
INTRODUÇÃO
Por conta de certo maniqueísmo que se engendrou nas discussões políticas no
Maranhão, inclusive em muitos trabalhos acadêmicos, tivemos dificuldade de encontrar
leituras cujas abordagens fossem desapaixonadas, no sentido de uma análise que fugisse da
polarização pe anti Sarney. Mais do que uma lacuna, esta polarização contribuiu para a
consolidação de um forte bloqueio ao estudo teórico e empírico dos processos políticos
transcorridos no Maranhão ao longo de mais de meio século, com sérias implicações para o
conhecimento da política brasileira. De certo modo, nosso trabalho é uma modesta tentativa
de superar este bloqueio. Trata-se, aqui, de contribuir para demonstrar que o processo
político-eleitoral no Maranhão, especialmente no que se refere à reprodução dos grupos
políticos predominantes, é bem mais complexo, mesmo quando apreendido pelo viés de um
curto recorte temporal (2002-2006).
Estamos longe de ignorar os avanços recentes no estudo do tema, a partir de várias
angulações. Mesmos os trabalhos acadêmicos que, nas duas últimas décadas, focalizaram o
cenário político maranhense, tendo como principal personagem o senador pelo Amapá, José
Sarney, forneceram contribuições valiosas, as quais foram imensamente úteis para nosso
trabalho, o que não impede, em alguns momentos, um certo distanciamento crítico. É o caso
da tese de doutorado (2005) da professora Arleth Borges, que trata do sistema eleitoral e
partidário no Brasil e analisa o Legislativo, bem como a atuação dos parlamentares no
Maranhão; da tese (2006) do professor Francisco Araújo, que aborda sobre a cadeia
sucessória do mandonismo e a cultura política no Maranhão; da pesquisa (2006) do professor
Wagner Cabral, que aborda o poder oligárquico no Maranhão, no período de Vitorino Freire a
José Sarney, na qual analisa, enfaticamente, a administração governamental do então
governador José Sarney; da pesquisa do professor Benedito Buzar, que aborda o período
vitorinista até a chegada de Sarney ao governo do estado. Destacamos ainda a tese de
doutorado (2005) da professora Zulene Barbosa, que analisa a reestruturação capitalista no
Brasil, particularizando o caso maranhense a partir da implantação do “Programa Grande
Carajás”.
Contudo, o cerne da nossa pesquisa está em examinar como o processo de
modernização e os próprios avanços das relações capitalistas contribuíram para a evolução do
coronelismo para formas sofisticadas de clientelismo político, ou seja, a conversão do voto em
2
um instrumento de barganha, em cuja transação o Estado é utilizado, na maioria das vezes,
como elemento intermediário.
Dessa forma, nos propomos ainda a abordar as transformações políticas, econômicas
e sociais no Maranhão e examinar de que modo as oligarquias se ajustam à estrutura jurídico-
política do Estado democrático burguês, abarcando o coronelismo e o clientelismo como
mecanismos de barganha eleitoral.
Para tanto, nos apropriamos de alguns conceitos e noções (oligarquia, clientelismo,
mandonismo, coronelismo, classes sociais), a partir das quais procuramos identificar as
práticas oligárquicas no estado, verificando, principalmente, como se estruturam, se
legitimam e se reproduzem, com base nas eleições mais recentes (2002 2006). Daí o caráter
bem atual da nossa pesquisa por abordar fatos novos correlacionando com velhas práticas
políticas, porém com nova roupagem.
Queremos destacar ainda a importante contribuição para o nosso trabalho da pesquisa
do cientista político Francisco Farias, a qual analisa o coronelismo e o clientelismo no
noroeste do Estado do Piauí (1982-1996) e a transição de um padrão de dominação para outro,
sob a égide da expansão capitalista.
Não podemos deixar de nos deter na figura de José Sarney e de seu grupo político,
que este é o ator principal desse cenário, cuja atuação política ganhou força a partir da sua
vitória no comando da máquina governamental sobre Vitorino Freire então oligarca de
renome nacional – com a sua posse em 31 de janeiro de 1966.
São, portanto, trinta e oito anos ininterruptos de domínio da máquina estadual sob o
controle do grupo Sarney, interrompidos em razão da crise intra-oligárquica envolvendo o
seu afilhado político José Reinaldo Tavares (depois de uma série de atritos com a então
senadora Roseana Sarney e o irmão desta, Fernando), eleito governador em 2002 justamente
com a forte influência política e econômica do grupo Sarney.
Uma das questões a ser problematizada, é como o Maranhão, sob a principal
influência do grupo político comandado por José Sarney (tendo este exercido os principais
cargos públicos no país), e apesar de ter recebido enormes investimentos nessas últimas
décadas e, ainda, possuir todas as condições objetivas para se desenvolver, não conseguiu sair
do atraso socioeconômico em relação aos demais estados da Federação.
Também questionamos por que, mesmo com a expansão de tantos investimentos no
estado, a qualidade de vida da população é ruim, conforme atestam seus péssimos indicadores
sociais. Assim, partimos da hipótese de que as condições de pobreza da maioria da população
favorecem a persistência de práticas político-eleitorais e a reprodução dos grupos
3
oligárquicos, no Estado do tipo clientelista, o que contribuiu para que, em um primeiro
momento, se freasse e, em seguida, se acelerasse um certo padrão altamente predatório de
desenvolvimento capitalista, no curso do qual, os mais recônditos rincões do Maranhão foram
conectados ao processo de acumulação em escala mundial.
A união de vários partidos de “oposição” e de esquerda, denominada de “Frente de
Libertação do Maranhão”, criada com o intuito de liquidar a hegemonia do grupo Sarney no
estado nas eleições de 2006, constituiu um fato bastante relevante, considerando-se que a
“oposição” estava sob a liderança de um governador. Tal fato ensejou o fortalecimento às
velhas práticas político-eleitorais, as quais o grupo Sarney trabalha muito bem e que
remontam à época do vitorinismo, cuja oligarquia se estabeleceu durante duas décadas no
estado (1945 a 1965). Porém, entre esses dois tempos (vitorinismo e sarneísmo) essas práticas
foram ressignificadas e estas mudanças serão destacadas no capítulo dois deste trabalho.
Convém ressaltar que, apesar de o senador Sarney não haver concorrido diretamente
em qualquer disputa eleitoral no Maranhão, nos últimos trinta e um anos (desde 1978, quando
se reelegeu senador) o mesmo conseguiu emplacar todos
1
os seus aliados no comando do
governo estadual, após o ano eleitoral de l965, quando se elegeu governador do estado,
tento esta hegemonia no governo estadual seriamente ameaçada em 2004, quando o então
governador José Reinaldo no meio de seu mandato rompeu com o grupo político
comandado por Sarney.
Mesmo com a vitória da “Frente de Libertação”, não se pode afirmar que a
hegemonia Sarney esteja liquidada no Maranhão e tampouco subestimar a sua capacidade de
liderança, cooptação e influência tanto local quanto no plano federal. Paradoxalmente, seus
próprios opositores se encarregam de difundir e fortalecer o “mito Sarney”, dando sua parcela
de contribuição para que o oligarca, mesmo sem ser representante oficial do Maranhão no
Senado, e, sim, do estado do Amapá, em dois mandatos consecutivos, represente a principal
força política do Maranhão, o que, na prática, coloca este estado como o único da Federação a
ter quatro representantes no Senado Federal.
Retrabalhamos, ainda que de modo incipiente, neste trabalho o conceito de oligarquia
e o seu processo de adequação no Maranhão, bem como algumas transformações econômicas
e sociais ocorridas em duas fases distintas: 1965 (Maranhão Novo) e 1985 (Nova República)
e, ainda, os principais aspectos políticos das eleições desses períodos, o que será abordado no
primeiro capítulo sob o título de “Oligarquia e eleições no Maranhão”. Também fazemos
1
Exceção feita ao Deputado Estadual Oswaldo da Costa Nunes Freire, eleito indiretamente no Governo Geisel,
por indicação de Vitorino Freire em 1974.
4
neste capítulo um recorte histórico do período vitorinista (1945-1965) para melhor
compreender como essas relações clientelistas se processam.
No segundo capítulo trabalhamos o “Coronelismo e o Clientelismo: as faces do
Maranhão moderno”, procurando identificar e compreender as práticas político-eleitorais que
se processam em um estado paupérrimo como o Maranhão e examinar as relações que se
estabelecem entre os principais grupos políticos em períodos eleitorais, particularmente as
formas como os dominados se organizam e lutam. Também neste capítulo demonstramos as
faces do Maranhão moderno, através dos grandes projetos propostos para o Maranhão.
No terceiro capítulo, abordamos alguns dos embates recentes, notadamente os
personagens principais da trama política, no Maranhão, permeada por rompimentos,
favorecimentos e cooptações, os quais dão motivações ao acirramento das disputas pela
máquina estatal e pelas posições de mando, o qual se intitula “A reprodução de grupos
políticos no Maranhão e os embates recentes nas eleições de 2002-2006”. Neste capítulo, nos
propusemos examinar o processo eleitoral no estado e a sua conexão com a reprodução dos
grupos políticos, através de suas práticas político-eleitorais, dando ênfase às análises das
eleições majoritárias nos dez maiores e nos dez menores colégios eleitorais do estado, para
verificar um aspecto da correlação de forças dos grupos políticos.
No quarto capítulo, intitulado “Indicadores Sociais do Maranhão: a realidade social
do município de Buriticupu” demonstramos ainda as faces de um Maranhão “atrasado”, visto
sob o ângulo de seus principais indicadores sociais, da distribuição de benefícios dos
programas federais e através do estudo de caso realizado no município de Buriticupu.
Para este trabalho fizemos uso da pesquisa documental em arquivo público,
biblioteca pública, Departamento de Assuntos Culturais (DAC/UFMA), Procuradoria da
República no Maranhão, Diários Oficiais do Estado e do Município de São Luís e junto ao
Tribunal Regional Eleitoral (TRE), além da pesquisa de campo. Inicialmente realizamos um
levantamento bibliográfico pertinente ao nosso objeto, seguido de um estudo no sentido de
compreender os termos, conceitos e categorias empregados na abordagem temática.
Concomitante a esse procedimento, realizamos pesquisa de campo no município de
Buriticupu, na qual foram empregadas as técnicas da observação e da entrevista (feita
aleatoriamente e com um roteiro elaborado), com o intuito de conhecermos como se
processam algumas relações clientelistas nesta localidade, a partir da sua realidade
socioeconômica. O emprego da técnica da observação etnográfica foi essencial para
checarmos os dados e informações obtidos por meio das entrevistas. Aplicamos também o
questionário somente para conhecer os aspectos sócio-culturais dos entrevistados.
5
O caráter da escolha desse Município se deu em face do seu surgimento, o qual se
originou como conseqüência de um projeto de colonização ocorrido no estado no início dos
anos 1970, localizado em uma região ao sul do Maranhão, conhecida nacionalmente pelas
diversas formas de conflitos ali desenvolvidos. Tal motivação coincidiu com o fato de termos
sido designados para trabalhar nesse local, após aprovação em concurso público ao cargo de
professor do atual Instituto Federal de Educação do Maranhão (IFMA), antigo CEFET.
Sabemos das dificuldades em realizar uma pesquisa de cunho político no Maranhão,
em razão do temor, e até pânico, que o eleitorado sente diante da possibilidade, no seu
imaginário, de ser descoberto ou identificado pelo que diz e pelo que pensa. Pois, sabe ele, o
eleitor, das conseqüências disso acontecer: perseguições, ameaças, violências física e moral e
perdas materiais, represálias, entre outras. E isso foi constatado durante a realização da
pesquisa em Buriticupu. Observamos por parte das categorias sociais envolvidas certo receio,
e até desconfiança, em emitir determinadas opiniões que, no entendimento das mesmas,
pudesse comprometê-las de alguma forma ou “revelar identidade”,
O simples contato do “estranho” com essa gente do interior do estado desperta certa
desconfiança e causa incômodo no seu modo de vida e, se não tomarmos os devidos cuidados,
refletirá em seus depoimentos e respostas. Por isso, foi importante à nossa investigação o
período aproximado de um ano que lá passamos (28 de outubro de 2008 a 02 de setembro de
2009), o que contribuiu para o estabelecimento de uma relação discreta e de confiança com os
munícipes. Daí a importância da técnica da observação na caracterização da realidade sócio-
política do município, sendo que no caso das entrevistas, logo no início dos trabalhos, não
houve roteiro a ser seguido formalmente, que pretendíamos, nessa situação, dar um caráter
informal durante a realização das mesmas, a fim de ganharmos mais confiança. mais tarde
nos municiamos de um roteiro, que foi incrementado na construção e aplicação de formulários
e entrevistas, não gravadas.
Mantivemos contatos freqüentes com várias categorias sociais - trabalhadores
urbanos e rurais (10), militantes (02), jovens entre 15 e 25 anos (13), dirigentes de associações
(03), vereadores (02), funcionários da Prefeitura (05) e funcionários públicos estaduais (05)
que atuam não na sede como também em outras localidades do município, tais como:
Buritizinho, Terrabela, Sagrima, Vila Primo, Vila Isaías, Brejinho, Verona e Vila dos
Professores, o que nos auxiliou na caracterização das práticas clientelistas eleitorais. Convém
ressaltar que todos os entrevistados tiveram as suas identidades preservadas.
6
1 - OLIGARQUIAS E ELEIÇÕES NO MARANHÃO
Os vícios da língua são tantos, que fez Drexélio um abecedário inteiro e muito
copioso deles. E se as letras deste abecedário se repartissem pelos estados de
Portugal, que letra tocaria ao nosso Maranhão? Não há dúvida, que o M. M -
Maranhão, M - murmurar, M - motejar, M - maldizer, M - malsinar, M - mexericar,
e, sobretudo, M - mentir: mentir com as palavras, mentir com as obras, mentir com
os pensamentos, que de todos e por todos os modos aqui se mente. Novelas e
novelos são as duas moedas correntes desta terra, mas têm uma diferença, que as
novelas armam-se sobre nada, e os novelos armam-se sobre muito, para tudo ser
moeda falsa. (Padre Antônio Vieira, 1654 Sermão da Quinta Dominga da
Quaresma)
No presente capítulo nos propomos analisar as práticas políticas eleitorais no
Maranhão, verificando de que modo as estruturas oligárquicas se ajustam à estrutura jurídico-
política do Estado democrático burguês (abarcando o coronelismo e o clientelismo como
mecanismos de barganha eleitoral).
Para esta análise, nos apropriamos de autores clássicos e contemporâneos com ênfase
nos autores maranhenses e de reflexões produzidas por este autor.
Também foi interessante destacar aqui, a conexão entre alguns momentos políticos
relevantes desse período (1965 1985) e o seu respectivo contexto econômico, a fim de se
buscar uma melhor compreensão do modo de utilização do aparelho estatal na composição de
alianças e sustentação político-partidária e de suas práticas eleitorais no estado.
1.1 - A era vitorinista e a ascensão de José Sarney ao Governo do Estado do Maranhão
Para uma melhor compreensão da abordagem desse período político que se inicia
com a chegada do pernambucano Vitorino Freire ao Maranhão e se finaliza com a eleição de
José Sarney ao governo do estado, examinamos o contexto da época, após a Revolução de
Trinta.
Como desdobramento desta Revolução, o governo do Maranhão passou a ser
dirigido, em um primeiro momento, por interventores locais, identificados com o Movimento
Revolucionário, no caso, José Luso Torres, José Maria Reis Perdigão e Astolfo Serra, os quais
se revezaram no comando do estado no período de outubro de 1930 a agosto de 1931. Já no
segundo momento (agosto de 1931 a junho de 1935) os interventores eram militares de fora,
7
estranhos à vida política do Maranhão. O primeiro interventor foi Lourival Seroa da Mota,
Capitão do Exército, natural do Rio de Janeiro e um dos comandantes da Coluna Prestes.
(BUZAR, 1998)
Diante da relevância das eleições para a Assembléia Nacional Constituinte, em 03 de
maio de 1933, determinada pela lei eleitoral de 24 de fevereiro de 1932 e pelo desgaste
político dos primeiros interventores, o Presidente Getúlio Vargas nomeou o Capitão Antonio
Martins de Almeida, interventor do Maranhão que, por sua vez, traz consigo o pernambucano
Vitorino Freire, o qual havia conhecido na Revolução Constitucionalista de São Paulo, para
exercer o cargo de Secretário de Governo.
Nas eleições de outubro de 1934, para a Assembléia Constituinte Estadual, surgia o
Partido Social Democrata (PSD), (produto da cisão havida no interior do Partido da União
Republicana Maranhense (URM), tendo Vitorino Freire recebido a incumbência de organizar
o partido, ao mesmo tempo em que se lançou candidato a Deputado Federal. Não se elegeu,
mas, mesmo assim, conseguiu estabelecer alguns vínculos políticos importantes na capital, os
quais viriam mais tarde contribuir para a sua ascensão política no estado e no país. Porém,
diante do cenário da ditadura Vargas e com a dissolução dos partidos políticos (1937),
Vitorino cai no ostracismo e regressa ao Rio de Janeiro para trabalhar no Gabinete do general
Eurico Gaspar Dutra, o futuro sucessor de Vargas, retornando ao Maranhão em 1945,
justamente no período de redemocratização do país, quando a vida partidária foi reorganizada
através da Lei Constitucional 09 de 28 de fevereiro de 1945, a qual “estabelecia a
realização de eleições presidenciais e de deputados à Câmara Federal e às Assembléias
Legislativas”. ( CPDOC –FGV, arquivo)
Com a renúncia de Paulo Ramos como interventor do Maranhão, que se negara a
apoiar a candidatura presidencial de Eurico Gaspar Dutra, então Ministro da Guerra, em razão
de “ser entregue o Maranhão ao Sr. Vitorino Freire e ao grupo que o acompanha”, o PSD
ressurge no Maranhão em 1945 sob a iniciativa de Vitorino.
A convenção do PSD, ocorrida em 17 de junho de 1945, elegeu o Diretório Regional
do Partido, com a seguinte composição:
Genésio de Moraes Rego – Presidente
Afonso de Silva Matos – Vice-Presidente
Almir Cruz – Tesoureiro
Elizabetho Carvalho – Secretário
8
Membros:
Antonio José Pereira Júnior
Odilon da Silva Soares
Saturnino Bello
Sebastião Archer da Silva
Tancredo Mattos
Representantes na Convenção Nacional:
Vitorino Freire
Manoel João de Moraes Rego (BUZAR, 1998)
Nas eleições estaduais (senadores e deputados federais constituintes) de 02 de
dezembro de 1945, Vitorino Freire é eleito deputado federal, sendo que naquele mesmo mês,
sob sua influência, foi empossado Interventor do Maranhão o empresário Saturnino Bello.
Diante de vários desentendimentos no interior do PSD em razão da escolha do
candidato do partido ao governo do Estado e da disputa pelo controle do partido no Maranhão
(entre Genésio Rêgo e Vitorino Freire), surge o nome do industrial e ex-prefeito de Codó,
Sebastião Archer da Silva, como candidato a governador, apoiado por Vitorino Freire. As
disputas internas no PSD extrapolaram para o campo jurídico e o grupo comandado por
Vitorino Freire ficou sem legenda naquele momento para lançar seu candidato ao governo do
estado. A saída foi criar no Maranhão o Partido Proletário Brasileiro (PPB), de apoio a Dutra,
no sentido de dar legitimidade à candidatura de Sebastião Archer nas eleições (governador,
senador e deputado estadual) marcadas para 19 de janeiro de 1947.
Segundo o resultado das eleições proclamadas pelo Tribunal Regional Eleitoral
(TRE), o PPB elegeu os dois senadores (Vitorino Freire e José Neiva), o governador
(Sebastião Archer) e 20 dos 37 deputados estaduais, sendo que o PSD elegeu 4; o Partido
Republicano - PR, 8; a União Democrática Nacional -UDN, 4 e o Partido Trabalhista
Brasileiro -PTB, 1.
Em 10 de abril de 1947 Sebastião Archer da Silva assume o governo do Estado,
integrando seu secretariado, entre outros, Renato Archer, seu filho, na Chefia de Gabinete.
Diante desse cenário e em face dos desdobramentos jurídicos que culminaram com a
sua saída do PSD e entrada no PPB, bem como em face do propósito de ampliar seu leque de
domínio político no estado, Vitorino funda o Partido Social Trabalhista (PST) em 05 de
novembro de 1947. Dessa forma, o PPB sai da cena política maranhense com a renúncia
coletiva do seu diretório estadual e subseqüente formação da Comissão Executiva do PST.
9
Aliás, vários partidos proliferaram por essa época, principalmente partidos pequenos, como o
PPB, os quais eram utilizados como instrumentos de barganha política.
Nesse período, o prestígio de Vitorino estava em alta no cenário político brasileiro,
em razão da defesa que fazia do Presidente Dutra. Isto se refletia em sucessivas vitórias
eleitorais no Maranhão, como pode ser constatado, por exemplo, no resultado da eleição para
a Câmara Municipal de São Luís, quando o PST, sob seu controle, conseguiu eleger oito dos
onze vereadores.
A sua força oligárquica se expressava ainda no controle sobre os poderes públicos e
privados, uma vez que nomeava delegados de polícia, procuradores, elegia governadores,
parlamentares, além de manter sob a sua tutela políticos locais como Sebastião Archer,
Renato Archer, Saturnino Bello, Mattos Carvalho e Eugênio Barros.
Esse período compreendido entre 1945 a 1948 foi muito exitoso para Vitorino Freire,
mas a partir de 1949 a sua liderança política é colocada em “xeque” em razão dos confrontos
com os seus aliados, sendo que um desses embates ocorreu em 28 de julho de 1948 na eleição
da Mesa Diretora da Assembléia. O PST exigiu a renovação completa da Mesa, para desgosto
do deputado José Pires, então presidente da Assembléia e membro do partido. Abre-se, assim,
uma crise na Assembléia.
Nessa batalha pelo domínio da Assembléia, o cenário político-partidário
convulsiona-se e agita-se. De ambas as partes irrompem atos de violência, em que
deputados sofrem vexames de toda sorte: Joel Barbosa Ribeiro é ameaçado de
seqüestro; o governo abre inquérito contra o dissidente Januário Figueiredo; J. Pires
é vítima de pressões; atenta-se contra a vida de Theoplistes Teixeira; lutas corporais
acontecem entre situacionistas e oposicionistas (JoMatos e Luís Cortez Vieira da
Silva) em plena via pública... (BUZAR, 1998, 80)
Após as eleições e destituições da Mesa Diretora da Assembléia e de várias
manobras políticas e mandatos de segurança, é eleita a Mesa Diretora, presidida pelo
deputado do PST, Alcindo Guimarães, sob a liderança política de Vitorino Freire.
Observamos que este é mais um partido do qual Vitorino se apropria para se fortalecer
politicamente no Maranhão. Fortalecendo-se cada vez mais no comando da política no estado,
a partir também de suas relações com o poder central, Vitorino indica Eugênio Barros
industrial e prefeito de Caxias como candidato ao governo do estado e Renato Archer da
Silva, então tenente da Marinha, filho do governador Sebastião Archer da Silva, como vice,
nas eleições de 1950 (presidente, governadores, deputados estaduais e federais).
Apesar de as oposições terem efetuado vários questionamentos junto à Justiça
Eleitoral, inclusive contra a participação de Renato Archer no governo comandado pelo pai,
10
quando deveria afastar-se de suas funções de chefe de gabinete do governador, o recurso
jurídico não fora acolhido e Renato continuou candidato. Ressalte-se que nessas eleições
Vitorino (PSD) concorre à vice-presidente da República na chapa encabeçada pelo paulista
Cristiano Machado (PST).
Essas eleições no estado foram bastante tumultuadas devido às inúmeras denúncias
de supostas fraudes ocorridas em várias zonas eleitorais no interior. Em face disso, os
oposicionistas impetraram vários recursos junto ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de tal sorte que impediram que se conhecesse oficialmente
o vencedor do pleito ao governo do Estado, objeto de tantos questionamentos. Apesar disso, o
TRE proclamou, em janeiro de 1951, Eugênio Barros como vitorioso. Tal resultado não foi
aceito apenas pelos oposicionistas, como também por parte significativa da população que
esperava que Saturnino Bello (candidato das oposições) fosse o eleito, o que culminou com
um dos maiores movimentos populares de que tem registro a política do Maranhão.
Para agravar a crise, ocorre uma fatalidade: a morte de Saturnino Bello, em 16 de
janeiro de 1951, vítima de enfarto. A revolta popular foi acirrada ainda mais quando o TRE
referendou a vitória de Eugênio Barros, descartando qualquer possibilidade de novas eleições.
Diplomado Eugênio, enquanto os vitorinistas tratavam de organizar a posse marcada
para 31 de janeiro de 1951, os oposicionistas articulavam-se para adiá-la até que o
TSE julgasse os recursos pendentes. Diante da resistência dos governistas, os líderes
das Oposições resolveram mobilizar a população e promoveram em 26 de janeiro
uma grande concentração popular, no Largo do Carmo; a residência da vereadora do
PR, Maria de Lourdes Machado, transformou-se em “Quartel General das Oposições
Coligadas”, núcleo de resistência organizado para manter as classes populares
permanentemente mobilizadas contra a posse de Eugênio Barros. (BUZAR, 1998,
p.102)
Como desdobramento desse contencioso (a greve política contra a posse de Eugênio
Barros), a população revoltada assim reagiu: realizou passeatas no centro da capital, depredou
residências de desembargador (Henrique Costa Fernandes) e de Juiz (Rui Moraes), ambos do
TRE, houve confronto entre populares e policiais militares, nos quais saíram vários feridos e
02 (duas) mortes (José Ribamar Prado, operário e o Monsenhor Dourado, da cidade de
Rosário). Cinemas, bondes e taxis deixaram de operar. O comércio e as repartições públicas
paralisaram suas atividades. Casas na periferia da cidade foram incendiadas.
Diante dessa situação, foi criado o Comitê do Fundo Econômico Pró-Libertação do
Maranhão, com a finalidade de arrecadar fundos para a subsistência dos grevistas.
11
As fábricas de tecidos, de óleo de babaçu, de cânhamo, de sabão e de algodão
hidrófilo, além das pequenas indústrias deixaram de produzir. Os bancos cerraram as
portas. A Estrada de Ferro parou. As companhias de aviação suspenderam os vôos
para São Luís. Somente o telégrafo ainda ligava os 120.000 habitantes da ilha ao
resto do mundo. Dentro da própria cidade não havia serviço de transporte. (BUZAR,
1998, p. 118)
Assim, em razão da paralisação das atividades produtivas, o abastecimento de
gêneros alimentícios, principalmente, estava comprometido. “A situação chegou a ser de
calamidade pública a ponto de mais de mil pessoas invadirem o Matadouro Público
Municipal, saqueando-o”.
A cidade volta à “normalidade” somente em 15 de março, vinte dias após a
diplomação de Eugênio Barros, quando este se licencia para aguardar o desfecho dos recursos
impetrados pelas oposições junto ao TSE, o que veio a ocorrer após aproximadamente seis
meses, período este em que permaneceu no Rio de Janeiro, amparado pelas constantes
renovações de licenças obtidas junto à Assembléia Legislativa.
Nesse ínterim, quem comandava o Governo do Estado era o Presidente da
Assembléia Legislativa, deputado César Aboud, o qual ficaria no cargo a o dia 03 de
setembro de 1951, data esta em que o TSE concluiu o julgamento de todos os recursos e
decidiu pela manutenção de Eugênio Barros no comando do Governo do Maranhão. Em Nota
Pública, publicada no jornal O Imparcial de 05 de setembro de 1951, os partidos das
oposições coligadas criticaram a decisão do TSE,
Surpreendidos e revoltados com a inexplicável decisão do Tribunal Superior
Eleitoral que fere profundamente a sensibilidade democrática do povo do Maranhão,
vimos testemunhar aos valiosos companheiros da Campanha da Libertação nossa
irrestrita solidariedade nesta dramática etapa de conquista das liberdades públicas.
Reafirmamos ao heróico povo maranhense nosso decidido apoio, sejam quais forem
os sacrifícios exigidos.
Os movimentos populares se revoltaram contra a postura do TSE em ratificar sua
decisão em detrimento aos recursos das oposições. E o clima na capital, principalmente,
voltou a sacudir a população, a ponto de se ter incendiado o TRE, o que adiou a volta de
Eugênio Barros a São Luís, a qual se deu somente em 18 de setembro. Para garantir a
“ordem” no estado, tropas federais foram enviadas ao Maranhão.
Para por fim àquela anormalidade, o governador Eugênio Barros e o Senador
Vitorino Freire tratavam de convencer os Ministros da Guerra e da Justiça a
retirarem as tropas federais, assegurando que o governo do Estado estava apto e em
condições de manter a ordem pública da cidade. (BUZAR, 1998, p. 147)
12
Com a saída das tropas federais, por intervenção de Vitorino Freire, principalmente,
o qual tinha livre trânsito nos poderes do Distrito Federal (Rio de Janeiro), o governador
Eugênio Barros aproxima-se mais da população, notadamente daqueles que tiveram as suas
casas incendiadas, oferecendo-lhes ajuda financeira e, ao mesmo tempo, contornando a crise.
A tática empregada por Eugênio de abrir as portas do Palácio dos Leões para o povo,
com o objetivo de esvaziar a luta oposicionista, deu certo e a repercussão do fato
extrapolou da esfera estadual para o Rio e Janeiro dando nítida impressão às
autoridades federais de que ele conseguira, com tenacidade e habilidade, estabelecer
um diálogo com os grevistas. O recuo do Governo federal com relação à intervenção
era evidente e disso não tinham mais dúvidas as Oposições, que começaram a
desconfiar das novas intenções do presidente da República. (BUZAR, 1998, p.
176)
Dessa forma, o grupo político liderado por Vitorino Freire foi consolidando a sua
hegemonia encontrando na mediação do governo central, através de um de seus aparelhos de
Estado, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), um ponto de sustentação para suas práticas
eleitorais, as quais imprimiram um sentimento de revolta popular e de indignação dos grupos
oposicionistas.
É importante ressaltar que a ascensão de Vitorino Freire possui uma vinculação
direta com o clientelismo praticado numa mediação com o governo federal, tendo como
grande beneficiário, em termos de votação, o Partido Social Democrata (PSD), tanto no plano
regional como nacional.
Sobre a potencialidade da força política que o PSD detinha, Borges assim esclarece:
De caráter eminentemente fisiológico, dependia do Estado para realizar sua política
de remunerar seus integrantes, através de cargos e nomeações, além de empréstimos
e obras públicas que alimentavam a rede clientelista através da qual os recursos eram
transformados em votos. Como as suas bases eram predominantemente rurais,
contestava no Parlamento, ainda que sem unidade, medidas que ameaçassem os
interesses desse segmento, como a proposta de reforma agrária e a extensão dos
direitos trabalhistas aos trabalhadores rurais. Mas também abrigava setores
favoráveis à modernização, daí a ocorrência de sérios conflitos internos, sobretudo a
partir de meados dos anos 50. (BORGES, 2005, p. 76)
Percebemos, assim, a forte ligação do PSD - leia-se Vitorino e seu grupo político -
com os grandes proprietários rurais e o locus da construção de parte de sua sólida base
eleitoral, apesar da ocorrência de constantes conflitos no interior do Partido em razão das
práticas clientelistas adotadas.
Por outro lado, a mobilização popular que reagiu contra as forças policiais vitorinista
gerou um conflito de tamanha amplitude que culminou com a criação do “Movimento Pró-
13
Libertação do Maranhão.” Essa passagem pode, em alguns aspectos, ser atualizada pelo
movimento recente das eleições de 2006, organizado pelas “oposições” a José Sarney,
denominado de “Frente da Libertação do Maranhão”, que enfocaremos no terceiro capitulo.
Nas eleições suplementares do ano seguinte, 1952, para a Assembléia Legislativa e
Câmara dos Deputados no Maranhão, determinadas pelo TSE em face do incêndio no TRE,
novamente o partido vitorinista (PST) ganha das oposições, o que possibilita a reconquista do
PSD e o seu conseqüente controle político no estado.
O vitorinismo se fortaleceu a ponto de articular e garantir a eleição ao Senado, como
representante do Maranhão, do jornalista Assis Chateaubriand, proprietário da maior cadeia
de rádio e de jornais do país, o qual tinha sido derrotado em sua própria terra natal, Paraíba,
em 03 de outubro de 1954. Esta articulação contribuiu para o ressurgimento das disputas
intra-oligárquicas (as dissidências no interior do grupo liderado por Vitorino Freire), assim
como novas lideranças “desejosas de influenciar nas decisões partidárias e de projetar-se no
cenário nacional, dentre as quais a de Pedro Braga Filho e José Sarney”. (BUZAR, 1998)
Convém ressaltar que José Sarney ingressou na política com o aval de Vitorino
Freire, o qual lhe agraciou com o cargo de assessor no governo de Eugênio Barros. Já em
1954 foi lançado candidato a deputado federal pela legenda do PSD, ficando na quarta
suplência. Porém, exerceu o mandato por alguns meses com o afastamento do titular, sob a
interferência de Vitorino. (ARAÚJO, 2006)
A eleição de Assis Chateaubriand ao senado da República pelo Maranhão talvez
tenha sido um dos principais fatos relevantes para a época, diante das circunstâncias em que o
ato foi consumado.
A imprevisível derrota de Chateaubriand para o candidato da UDN [na Paraíba],
Argemiro Figueiredo, provocou inusitada repercussão nos meios políticos, pois o
poderoso diretor dos Diários Associados, proprietário da maior cadeia de rádio e de
jornal do país, não era um político qualquer, cujo insucesso nas urnas fosse aceito
tranquilamente pelo partido que controlava o poder.
A força e a penetração dos meios de comunicação sob sua direção e orientação,
revestiam-se de transcendental importância para o esquema político nacional que
pretendia continuar à frente do aparelho estatal, representado pela candidatura à
presidência da República do governador de Minas Gerais, Juscelino Kubitscheck.
(BUZAR, 1998, p. 222)
A própria escolha do Estado do Maranhão para essa empreitada não foi por acaso,
tendo em vista as sucessivas conquistas eleitorais de Vitorino Freire e a sua forte influência
junto aos poderes federais.
14
Porém, faltava criar um fato novo para a consolidação desse pleito. Assim, como o
Maranhão tinha dois senadores eleitos em 1954 (o próprio Vitorino e o ex-governador
Sebastião Archer da Silva) e Antonio Bayma, eleito em 1950, Vitorino propõe a este a sua
renúncia ao senado e de seu suplente Newton Bello, seus grandes aliados, tendo isso se
consolidado em 31 de janeiro de 1955. A repercussão desse gesto agitou não os políticos
maranhenses, como também a política e a mídia nacional.
Desse modo, o caminho estava preparado para a barganha política. Como havia certa
resistência do governador Eugênio Barros nessa empreitada, ele foi “convencido” por
Vitorino Freire e pelo deputado mineiro Tancredo Neves a aceitá-la mediante a negociação de
duas propostas colocadas por Tancredo: a primeira era a possibilidade de Eugênio Barros vir a
ser candidato a vice na chapa de Juscelino Kubitschek a presidente da República e a segunda
proposta seria a oferta ao Maranhão de um Ministério, além de órgãos federais caso fosse
eleito presidente. (BUZAR: 1998)
Homologadas as candidaturas de Assis Chateaubriand (PSD) e de seu suplente, o
desembargador Raimundo Públio Bandeira de Mello e do candidato das oposições, coronel da
aeronáutica Armando Serra de Menezes e de seu suplente o jornalista Franklin de Oliveira, a
eleição é marcada para o dia 20 de março, após vários embates jurídicos.
Apesar das pretensas impugnações apresentadas pelo deputado Clodomir Millet ao
TRE envolvendo supostas fraudes, Chateaubriand foi eleito sob a liderança política do
senador Vitorino Freire, com quase o quíntuplo dos votos de seu concorrente Armando
Menezes, vindo a ser empossado em 1º de julho de 1955 no Rio de Janeiro.
Aliás, esse feito não foi muito diferente daquele ocorrido em 1952 no estado da
Paraíba quando Chateaubriand se elegeu justamente a partir da renúncia do senador
Vergniaud Wanderley e do seu suplente Antonio Pereira Diniz. Só que, enquanto na Paraíba
fora candidato único, no Maranhão, sob o domínio político de Vitorino Freire, disputara o
cargo com outro candidato representante dos partidos de oposição.
Nessas eleições proporcionais de 1954, sob a égide do vitorinismo, o PSD elegeu
oito dos dez deputados federais. Os outros dois eram do PSP (oposição). Na Assembléia
Legislativa, das quarenta vagas, 28 ficaram com o PSD; seis com o PSP; três com o PDC; e o
PR, PTN e a UDN, com uma vaga cada. Os três senadores eram: Vitorino Freire, Sebastião
Archer e Assis Chateaubriand, todos do PSD. (BUZAR, 1998)
A força do PSD, no Maranhão, estava associada aos mecanismos de controle
operados por Vitorino Freire. Desse modo, o partido de Vitorino Freire detinha a hegemonia
no plano estadual e prestígio e influência política no nacional, com uma representação
15
maranhense bastante significativa tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, o que
contribuía para a legitimação de suas praticas político-eleitorais e o crescimento do seu poder
de barganha.
O domínio de Vitorino na política maranhense esteve marcado por uma sucessão de
crises políticas, enfrentando constantes dissidências dentro do PSD e conseguindo
contornar o cerco ao Palácio dos Leões graças a manobras quase inacreditáveis na
Assembléia Legislativa e no Judiciário, sempre referendadas nos altos escalões da
República. (REIS, 2007, p. 207)
Na convenção do PSD de 30 de julho de 1955 para a escolha do candidato à sucessão
de Eugênio Barros, nova crise se iniciava com a homologação da candidatura de José de
Mattos Carvalho, secretário estadual de Saúde e a de Alexandre Costa, secretário estadual de
Interior, a governador e a vice, respectivamente, indicados por Vitorino Freire. Por conta
dessa escolha houve forte dissidência no interior do PSD, da qual se aproveitaram as
oposições para lançar um nome fruto da dissidência, surgindo assim, o nome do brigadeiro da
aeronáutica e deputado Hugo da Cunha Machado. Inclusive, a oposição (UDN) questionou a
candidatura de Alexandre Costa a vice por ele ser cunhado do governador Eugênio Barros.
Mais um imbróglio jurídico para o TRE e o TSE, envolvendo a política maranhense. E, mais
uma vez, o desfecho foi favorável aos governistas liderados por Vitorino Freire.
Novamente a intranqüilidade toma conta das eleições no Maranhão, com denúncias
de várias práticas políticas em desacordo com a legislação eleitoral, principalmente no que diz
respeito aos atos envolvendo supostas fraudes.
Nessas horas, além do prestígio político do Senador Vitorino Freire, o PSD contava,
também, com a influência jornalística do Senador Assis Chateaubriand, que colocava à
disposição dos governistas a sua estrutura midiática para a divulgação dos episódios ocorridos
em São Luís, em consonância às idéias de seu grupo político.
Dessa forma, em 05 de dezembro de 1955, o TRE reúne-se para divulgar o resultado
final das eleições, apesar dos recursos interpostos pelas oposições denunciando fraudes e as
manobras políticas do grupo situacionista para governador. Foi proclamada a vitória de
Mattos Carvalho, da coligação PSD PTB PL, e de seu vice Alexandre Costa, sobre o
candidato das oposições Cunha Machado (PSP – UDN – PDC – PR – PTN – PRP).
No período compreendido entre 31 de janeiro de 1956 e 9 de julho de 1957, o
Maranhão assistiu indignado e o Brasil acompanhou perplexo a episódios políticos
constrangedores e decisões judiciais deploráveis, que serviram para macular a
imagem dos homens públicos, ávidos de conquistarem o aparelho estadual,
16
empregando, para tanto, métodos alheios à lei e distantes dos objetivos preconizados
pela democracia representativa. (BUZAR, 1998, 264)
Em face às manobras políticas de ambos os lados (situação e oposição) e das
freqüentes eleições à Mesa Diretora, o estado do Maranhão chegou a ter quatro governadores
(Ivar Saldanha, Alderico Machado, Henrique Costa Fernandes e Eurico Ribeiro) no período
de um ano (02 de maio de 1955 a 2 de maio de 1956).
Esse era o cenário da política no Maranhão sob o comando do senador Vitorino
Freire e de seu grupo: alterações na Constituição Estadual e no Regimento Interno da
Assembléia Legislativa, rompimentos, dissidências, barganha política, batalhas jurídicas nos
tribunais, eleições complementares (que não foram realizadas nas datas previstas) e
suplementares (em razão de anulações de urnas e de impugnações de votações), presença de
forças federais em zonas eleitorais, postergação de posse dos eleitos a cargo majoritário
(governador e senador), intervenções iminentes nos poderes constituídos do estado e crises
sucessivas.
Embora tivesse um milhão e meio de habitantes em 1960, dos quais 75% de
analfabetos, o Maranhão contava com 560 mil eleitores registrados, “era o eleitorado
fantasma que decidia as eleições a favor do governo, isto é, do antigo PSD”. (PINHEIRO,
1993, p. 290)
Para se ter uma idéia desse quadro político, em maio de 1957 o TRE determinou
eleições suplementares ao governo no Maranhão, cuja indefinição se arrastava desde as
eleições de 03 de outubro de 1955, sendo que somente em 08 de julho de 1957 o TRE,
finalmente, diplomou Mattos Carvalho e Alexandre Costa governador e vice,
respectivamente; fato esse que deveria ter ocorrido em 31 de janeiro de 1956, portanto,
aproximadamente 16 meses após a data que deveria ocorrer à posse de ambos.
A cada eleição ocorrida no Maranhão o quadro se repetia com as mesmas práticas
político-eleitorais, o que apontava que tais procedimentos e métodos não acabariam em um
curto espaço de tempo, o que repercutia negativamente em grande parte da população,
principalmente da capital, que, não raro, culminava em greves, passeatas e outras formas de
protestos.
O Tribunal Regional Eleitoral (TRE) era o principal aparelho de Estado, submetido a
constantes questionamentos, críticas e denúncias dos oposicionistas em face da suposta
conivência com as ilegalidades praticadas no processo eleitoral pelo grupo vitorinista. A esse
respeito, o deputado Neiva Moreira assim se manifestou no Congresso Nacional: “Os Juízes
17
do Maranhão são capazes de fraudar eleições na Suíça e no Sacro Colégio do Vaticano”.
(BUZAR, 1998, 256)
Nessa perspectiva, o oposicionista Marcelino Machado, líder do PR, declarou que “a
política situacionista do Maranhão gira sobre a maior e mais prejudicial das perversões do
nosso regime: a transformação do Judiciário em instrumento político, fazendo dos juízes de
Direito, chefes das respectivas comarcas.”. (REIS, 2007, p. 104)
Nas eleições de 03 de outubro de 1958, sob a égide do mesmo cenário das eleições
anteriores, o PSD elege ao senado Eugênio Barros e seis deputados federais, entre estes
Newton Bello e Renato Archer e vinte e um deputados estaduais. As Oposições Coligadas,
contando com o reforço de alguns dissidentes do PSD vitorinista, elegem quatro deputados
federais (entre estes José Sarney e Neiva Moreira) e quinze deputados estaduais; e o PTB
elege quatro deputados estaduais. Assim, a oligarquia vitorinista vai se consolidando no
Maranhão. (CPDOC- FGV, arquivo)
Segundo Borges (2005), por essa época o PTB no Maranhão não foi nem populista,
nem trabalhista. Seus representantes eram empresários ou profissionais liberais, e a marca de
sua política “era o clientelismo, patrocinado pelo PSD como contrapartida de seu apoio”.
Nas eleições ao governo do Estado em 03 de outubro de 1960, a UDN “abandonava a
luta oposicionista” e apoiava a candidatura do deputado estadual Newton Bello, lançada pelo
PSD, à sucessão de Mattos Carvalho, tendo as oposições lançado a candidatura do deputado
federal Clodomir Millet. Convém ressaltar que essa coligação, PSD UDN, era na eleição
local para governador, que no plano federal o PSD apoiava a candidatura presidencial do
General Henrique Lott e a UDN a de Jânio Quadros. Dessa forma, Newton Bello assumiu o
governo do estado apoiado por Vitorino e Sarney.
Enquanto isso, com a eleição de Jânio Quadros à Presidência da República, o
prestígio do Deputado José Sarney cresce, o que lhe possibilitou ganhar visibilidade política
nacionalmente em razão, entre outras, de pertencer ao grupo progressista no Congresso que
apoiava o Presidente, o que ofuscava a figura política do senador Vitorino Freire.
Com a queda de Janio em 1961 e a posse de João Goulart em setembro do mesmo
ano, agora sob a égide de um regime parlamentarista, apoiado pelo PSD e PTB, tendo como
primeiro-ministro Tancredo Neves, o prestígio de Vitorino voltava a crescer a ponto de ter
feito algumas indicações junto aos órgãos federais, como a de Remy Archer para a
presidência do Banco Nacional de Crédito Cooperativo. Por outro lado, Renato Archer se
viabilizou como subsecretário do Ministério das Relações Exteriores. (CPDOC- FGV)
18
Com a UDN rompida com o governo federal, Sarney perdeu espaço político tanto no
plano nacional como local o que culmina com o rompimento de seu partido UDN com o
governo estadual de Newton Bello. Por outro lado, o domínio vitorinista na política do
Maranhão pode ser mensurado através do resultado das eleições de 1962 (Câmara Federal,
Assembléia Legislativa e Senado). Mas, como de costume, o eleitorado não teve
conhecimento, no tempo previsto, dos eleitos nesse pleito, devido aos recursos que chegaram
ao TRE, envolvendo a suposta parcialidade de juízes no interior do estado. Somente três
meses após o pleito é que o TRE divulgou através do jornal O Imparcial de 05 de janeiro de
1963, o resultado das eleições, com a seguinte composição:
- Senadores (re)eleitos: Vitorino Freire e Sebastião Archer
- Deputados Federais:
11 do PSD (entre estes, Renato Archer e Luís Fernando Freire, filho de Vitorino)
03 do PSP (entre estes, Neiva Moreira)
02 da coligação PR, UDN, PDC e PTN (José Sarney e Pedro Braga)
- Deputados Estaduais:
23 do PSD
06 do PSP
06 da coligação PR, UDN, PDC e PTN
03 do PL
02 do PTB
Dessa forma, somados os votos do PL e do PTB na eleição de deputado estadual, o
vitorinismo passava a deter expressiva maioria na Assembléia Legislativa com 28 deputados.
Porém, o destaque dessas eleições foi a votação obtida pelo Deputado José Sarney (21.294), o
segundo mais votado no estado (o primeiro foi José Burnett, do PSD, com 23.156 votos), o
que ampliava o seu espaço político e o credenciava a uma disputa ao cargo de governador em
1965. Mas, não sem antes do seu partido (UDN) ter se constituído na principal base de apoio
à indicação, no Congresso Nacional, do Marechal Castelo Branco como Presidente da
República.
Ao examinarmos esse quadro, verificamos que há um descompasso entre esses
números e o comportamento do eleitorado, pois não reflete a luta deste, haja vista as
manifestações realizadas contra os governistas, sobretudo no que dizia respeito a supostas
fraudes. Se havia uma insatisfação popular muita grande em razão dessas supostas práticas,
19
isso pode apontar de que as eleições tinham o referendum das zonas eleitorais e do TRE, mas
não do eleitorado.
Também verificamos que quando os governistas começavam a perder força era
porque havia uma crise no interior desse grupo ou nos Partidos comandados por Vitorino. É o
que ocorreu com a hegemonia do PSD no estado no ano seguinte, 1963, em razão de disputas
de liderança no Congresso, de indicação do governador, e de indicações a cargos federais, o
que culminou com a deserção de seis deputados federais e a filiação deles ao PTB. Esse fato
possibilitou a antecipação do processo sucessório ao governo do estado com o lançamento das
candidaturas dos deputados federais José Sarney (UDN), Cid Carvalho, dissidente do PSD,
agora do PTB, e Renato Archer (PSD).
Diante desse novo quadro político e com o golpe militar de 1964, apoiado pela parte
conservadora da UDN e hostilizado pelo PSD e PTB, a candidatura de José Sarney ao
governo do estado ganhava força.
Com o golpe militar de 1964, adviriam vários Atos Institucionais, ao todo 17. O
primeiro deles delegava poderes, entre outros, ao Presidente da República de cassar mandatos
legislativos e suspender direitos políticos, o que muito refletiu na política e nas instituições do
Maranhão. De pronto, foi cassado o deputado federal Neiva Moreira e procedida intervenções
nas instituições federais e nas suas representações classistas (Sindicato dos Bancários e a
União dos Ferroviários do Maranhão) e até nos Diretórios Estudantis secundaristas e
universitários. (CPDOC -FGV)
Aproveitando-se desse tenso momento, o governo do estado do Maranhão encaminha
ao comandante do IV Exército, general Justino Alves Bastos os nomes dos deputados que não
se alinhavam à política governista, para serem submetidos a processo de cassação.
Mesmo não tendo competência legal para aplicar sanções que eram privativas do
Presidente da República, a Assembléia Legislativa cassou os mandatos dos deputados
estaduais Sálvio Dino, Benedito Buzar, Joaquim Mochel e Vera Cruz Marques, além dos
suplentes William Moreira Lima, José Tribuzi Pinheiro Gomes e José Bento Neves, por
exercício de “atividades comunistas”. Ainda nesse início do regime militar houve um
desdobramento positivo para os partidos de oposição. A insistente luta do Deputado Clodomir
Millet em torno do combate à fraude eleitoral no estado redundou no acolhimento em 28 de
julho de 1964 de suas denúncias, relativas às eleições de 1962, pelo TSE, e a conseqüente
revisão eleitoral no estado. (BUZAR: 1998)
Assim, sob a intervenção do TSE, o TRE realiza a revisão eleitoral de 52 municípios.
Para termos uma idéia dessas discrepâncias em termos de números de votantes por município,
20
selecionamos apenas dez deles pesquisados que mais expressaram essa situação e daí fizemos
o comparativo das eleições de 1962 com a de 1965 para conhecer o número de títulos
eleitorais (votos) expurgados.
Eleitorado do Maranhão – 1965
Município 1962 Revisão de
1965
Expurgo
Codó 11.573 6.263 5.310
Pedreiras 8.640 3.325 5.315
Poção de Pedras 3.777 597 3.180
Santo Antonio dos
Lopes
6.913 1.561 5.352
Viana 6.207 3.352 2.855
Colinas 4.583 2.861 1.722
Parnarama 4.325 849 3.476
Penalva 5.009 2.251 2.758
Lago da Pedra 5.881 910 4.771
Vargem Grande 5.951 1.853 4.098
Total
38.837
Fonte: Jornal O Dia, São Luís, 19 set. 1965
Essa conjuntura política nacional favorecia mais aos partidos que não estavam
alinhados ao governo do estado do Maranhão, no caso, as oposições coligadas, do que aos
partidos governistas. Sendo que a primeira vitória das oposições ao governo já tinha sido
conquistada com a eliminação de milhares de títulos suspeitos com a revisão eleitoral.
O foco das atenções passou a ser as eleições de outubro de 1965. Diante das
dificuldades dos partidos governistas encontrarem um candidato de consenso à sucessão de
Newton Bello, ocorre o rompimento entre este e Vitorino Freire que, por sua vez, alia-se a
Renato Archer, na tentativa de viabilizá-lo candidato ao governo, mesmo com a resistência à
sua candidatura pelos militares, tendo em vista suas ligações com o governo deposto (João
Goulart).
Considerando o rompimento entre o governador Newton Bello e o senador Vitorino e
o lançamento de diferentes candidaturas ao pleito de 1965 ao governo por ambos – o primeiro
21
apoiando Costa Rodrigues e o segundo a do deputado Renato Archer –, os governistas se
dividiram e os oposicionistas acabaram se beneficiando dessa situação, já que o PSD, a
principal força política no estado, participaria do processo sucessório no estado bastante
enfraquecido.
Desse modo, tal como fizera Vitorino nas eleições de 1947 – quando buscou o
inexpressivo PPB para homologar a candidatura de Sebastião Archer – Newton Bello se
apropriava do Partido Democrata Cristão (PDC) para dar legenda a Costa Rodrigues, que o
Diretório do PSD maranhense havia sofrido intervenção do Diretório Nacional, por
interferência dos Senadores Vitorino Freire, Eugênio Barros e Sebastião Archer.
Diante desse quadro, não restava outra saída a Vitorino senão apoiar a candidatura de
Renato Archer, que nas oposições havia algumas resistências históricas ao seu nome, entre
elas a do deputado Clodomir Millet. Assim, as oposições no Maranhão (UDN, PSP e PR)
formalizaram a candidatura de José Sarney ao governo do Estado, fortalecido por meio da
expressiva votação que obtivera em 1962 para deputado e também pela força política do seu
partido (UDN) adquirida no regime militar.
Em 14 de outubro de 1965 o TRE proclama o seguinte resultado das eleições para
governador:
José Sarney 120.810 votos
Costa Rodrigues 67.971 votos
Renato Archer 35.840 votos
Analisando esses números observamos que não foi a cisão, apenas, entre governistas
a causa principal da oligarquia que comandou o governo estadual durante vinte anos (1945-
1965) ter sucumbido. Era o começo da destruição de um partido político o qual, durante muito
tempo expressou as feições do próprio Estado, materializado no Estado Novo. Outros fatores
importantes contribuíram, também, para essa derrocada política vitorinista, como a revisão
eleitoral, a qual eliminou milhares de eleitores inexistentes, o controle por parte das
autoridades federais do uso da máquina estadual em benefício dos governistas e a presença de
tropas militares federais no interior do estado.
Apesar dessas ações inibidoras, as práticas políticas utilizadas em períodos eleitorais
persistiram no governo seguinte, adaptando-se em momentos distintos de cada época. As
22
práticas “tradicionais” modernizaram-se e até sofisticaram-se, como poderemos observar no
decorrer deste trabalho.
1.2 - O “Maranhão Novo” sob o comando de José Sarney
Com a posse de José Sarney no governo do Maranhão em 1966, sepulta-se a era
oligárquica vitorinista no estado e inicia-se outra agora sob o seu comando. Convém ressaltar,
que com a revisão eleitoral determinada pelo Tribunal Superior Eleitoral ao Tribunal Regional
do Maranhão foi constatado que,
Dos 497.463 eleitores que votaram em 1962, foram extirpados mais de 200 mil
fantasmas, o que significava uma redução do eleitorado em torno de 58 por cento. A
certeza de que o pleito de 1965 não apresentaria as irregularidades e as distorções
passadas, motivou o imaginário popular a registrar no muro do cemitério de São
Luís uma frase verdadeiramente lapidar: os mortos agradecem a tranqüilidade
nestas eleições. (BUZAR, 1998, p. 498)
Sarney encontrava no PSD e no vitorinismo um ambiente político, até certo ponto,
favorável à sua administração no comando do Estado, isto porque, com o desdobramento do
AI–2
2
, surge o Ato Complementar (AC), 04, instaurando o bipartidarismo, o que
possibilitou o abrigo partidário político de Sarney e Vitorino no mesmo partido (ARENA), o
que forjava formalmente uma unidade, que de certa forma atenuou os embates entre os dois
grupos políticos, possibilitando ao grupo de Sarney agir mais livremente diante dos seus
adversários. E foi esse partido (ARENA) que passou a dar sustentação política ao regime
militar. Assim, Sarney não experimentou uma oposição explícita dos seus adversários,
enquanto esteve à frente do governo do estado.
Pertencente ao grupo político denominado de “Bossa Nova” termo tomado do
movimento renovador da música popular brasileira Sarney defendia idéias bastante
progressistas para o momento: a reforma agrária, combate à inflação, defesa das riquezas
2
O AI-2 estabeleceu eleição indireta para presidente da República, a dissolução de todos os partidos políticos, o
aumento do número dos ministros do STF de 11 para 16, a reabertura do processo de punições dos adversários
do regime e a impossibilidade de reeleição do presidente da República. O presidente poderia decretar estado de
sítio, sem consultar o Congresso, ordenar a intervenção federal nos estados, decretar o recesso do Congresso e
demitir funcionários civis e militares, além de poder emitir Atos Complementares (AC) e baixar decretos-leis
sobre “assuntos de segurança nacional” (CPDOC - FGV).
23
minerais, reforma de lei de imposto de renda, a democratização do ensino, entre outras.
(CPDOC - FGV)
Nessa linha de interpretação, José de Souza Martins assim discorre sobre esse
momento:
O governo militar cassou os mandatos e direitos políticos de muitos dos mais
progressistas parlamentares. Mas manteve o mandato de um grande número de
parlamentares que representavam o que havia de mais típico das tradições
oligárquicas e clientelistas. Foi dessa base tradicionalista que os militares tiraram o
seu esquema de sustentação política, assegurando a legitimidade que seu regime
podia obter a partir da cooperação servil que era e é típica da representação
partidária despolitizada e desideologizada da tradição oligárquica e clientelista: o
mandato é sempre um mandato em favor de quem está no poder, pois é daí que vêm
as retribuições materiais e políticas que sustentam o clientelismo, não importa a
orientação ideológica de quem está no poder. (MARTINS, 1994, p. 33)
Mesmo defendendo as reformas de base, Sarney consegue ocupar um espaço político
de destaque junto ao regime militar, o que parece apontar para o fato de que os militares
estavam com o propósito de, aos poucos, combaterem a força política do vitorinismo no
Maranhão, porém sem causar grandes rupturas, que o senador Vitorino Freire era não
menos importante aos projetos políticos do novo governo federal. Se os militares viram em
Sarney seu aliado ideal, é provável que este tenha visto naqueles seus parceiros úteis.
A eleição de José Sarney para o Governo do Estado em 1965 representa para a
história política contemporânea do Maranhão, apenas o referendum da sociedade
civil do Estado para a consecução dos objetivos do Governo Central, o que permite
concluir que, para a sociedade do Maranhão, os resultados daquela eleição se
constituíram em uma “vitória outorgada”. Prova disso pode ser revelada pelo
empenho despendido pelo Governo Central para a eleição do candidato por ele
ostensivamente apoiado, no caso, José Sarney. (CALDEIRA, 1978, p. 66)
A respeito dessas relações estabelecidas entre as forças locais e o centro político
nacional, Cabral (2006) afirma “que o vitorinismo e sarneísmo, qual irmãos siameses, foram,
cada um a seu modo, produtos da vontade do poder federal e da utilização patrimonialista da
máquina pública.”
De acordo com Pinheiro,
A razão principal da boa imagem de Sarney, àquela época, era o seu posicionamento
liberal nas questões políticas e ideológicas, que quase lhe custaram o mandato de
deputado em 1964, quando era considerado muito à esquerda pela linha dura militar,
por causa da sua vinculação com a ala progressista da UDN, chamada de “bossa
nova”. Sarney ofereceu o próprio Palácio de Leões para cenas do filme Terra em
Transe, de Glauber Rocha, que era uma crítica inteligente ao movimento de 64; e
garantiu a segurança e a tranqüilidade do maranhense Jo do Valle, autor de
músicas consideradas contestatórias pelo regime de então. (PINHEIRO, 1993, p.
289)
24
Diante do contexto político desse período, Sarney encontrou condições objetivas para
implementar mudanças estruturais significativas no Maranhão. Convidado por Sarney para
fazer um documentário sobre a sua posse, o cineasta Glauber Rocha produziu um material
cinematográfico no qual mostrava de um lado, a triste realidade maranhense e apontava por
outro lado, para as potencialidades econômicas do estado. O documentário, ao ser exibido em
um dos cinemas da capital, provocou embates entre as correntes políticas da época, pois a
idéia serviria, além da autopromoção, para demonstrar os péssimos indicadores
socioeconômicos do período vitorinista e comparar, posteriormente, com as mudanças
estruturais que se iniciariam a partir de sua posse. Daí porque a tentativa de chocar” o
povo com o documentário foi muito bem pensado, conforme descreve Cabral:
As estratégias de agressão adotadas por Glauber no documentário, especialmente a
montagem vertical (imagem e som independentes entre si) nas seqüências que
acompanham o discurso de posse, acabaram surtindo o efeito desejado:
estranhamento, problematização, paralisia. Em lugar dos aplausos unânimes a
exaltar a genialidade de Glauber Rocha as reações do público à “estética da
violência” foram bem outras. (2006, p.32)
Do documentário Maranhão 66: Posse do Governador José Sarney, do cineasta
Glauber Rocha, extraímos alguns trechos do discurso de posse de Sarney, a seguir:
O Maranhão não quer a desonestidade no governo, a corrupção nas repartições e
nos despachos.
O Maranhão não quer a violência como instrumento da política para banir direitos os
mais sagrados, que são os da pessoa humana; nem a impunidade dos assassinos
garantidos pelos delegados e a liberdade reduzida apenas a uma oportunidade para
abastardar os homens.
O Maranhão não quer a miséria, a fome e o analfabetismo, as mais altas taxas de
mortalidade infantil, de tuberculose, de malária, de xistossoma, como um exercício
do cotidiano.
O Maranhão não quer e não quis morrer sem gritar. Não quis morrer estático e de
olhos parados e ficar caudatário, marginal do progresso, olhando o Brasil e o
Nordeste progredir, enquanto nossa Terra, mergulhada na podridão, não podia
marchar nem caminhar.
Ao enfatizar o combate ao analfabetismo e à miséria, o discurso de Sarney
prenunciava mudanças nas estruturas político-administrativas, ao mesmo tempo que incutia a
esperança dos maranhenses de viver dias melhores sob o que denominou de “Maranhão
Novo”. “Tratava-se, para José Sarney, de superar no campo político o que denominara de
atraso e decadência”. (BARBOSA, 2003, p. 20). O seu governo dava início à “fase de
25
prosperidade da economia maranhense” com a instauração de um novo formato na economia,
a qual se
articulava ao movimento de expansão do capitalismo monopolista sob a égide dos
militares, adotando no seu governo (1966-1970) uma política desenvolvimentista
materializada na aliança Estado capital privado e na subordinação da máquina estatal
os interesses da acumulação capitalista, sem prejuízo do forte padrão oligárquico.
(BARBOSA, 2007, p. 21)
Sob a égide do “Maranhão Novo”, o governo reivindicava para si a condição de
moderno, ao mesmo tempo em que destacava a ruptura com o atraso, com a miséria, com a
falta de liberdade e com o mando oligárquico. Esses elementos eram recorrentemente
enfatizados no discurso do governador José Sarney, nos quais ficavam caracterizados a
distinção entre o passado e o presente.
A sustentação desse discurso político tinha por base a ideologia do “progresso”, da
“modernização” como forma de superação da situação de decadência historicamente herdada.
Esse viés se articulou ao próprio padrão de acumulação que se desenvolveu a partir da
segunda metade dos anos de 1950, que incluía o Maranhão no circuito do capitalismo
industrial. Esse processo que teve na indústria automobilística o seu pólo mais dinâmico foi
inaugurado nos anos JK
3
com a implantação da indústria de base, a qual impulsionou o
processo de acumulação capitalista, através de investimentos públicos e privados, numa
aliança explícita com o capital estrangeiro, a partir da compreensão de que o “nacionalismo
sadio não rescinde dos capitais estrangeiros”.
Sobre a complexidade dessas relações que se estabeleciam naquele momento, o
cientista político Lúcio Almeida assim analisa,
Práticas “tradicionais” não foram, dentro e fora do Brasil, incompatíveis com
políticas de desenvolvimento capitalista acelerado. Reciprocamente, atores ligados
ao grande capital e/ou às atividades mercantis-financeiras, incrustados em algumas
agências do aparelho estatal onde articulavam uma prática autoritária ao catecismo
liberista, não têm o costume de, em nome do discurso da modernidade e da
condução racional da coisa pública, abrir mão do clientelismo. (ALMEIDA, 2006, p.
278)
Na dinamização desse processo de modernização conservadora do Estado, Sarney
começa a trabalhar antes mesmo da sua diplomação e posse ao viajar para exterior Estados
Unidos e Europa buscando firmar contratos e financiamento para projetos que objetivavam
3
Para um melhor aprofundamento sobre os anos JK ver especialmente o estudo de Lúcio Flávio de Almeida
(2006): Uma ilusão de desenvolvimento – nacionalismo e dominação burguesa nos anos de JK.
26
o desenvolvimento econômico do Estado. Internamente buscou contratos e parceiras com
órgãos de desenvolvimentos regionais, a exemplo da SUDENE, SUDAM, Banco do Nordeste
e Banco da Amazônia.
Do mesmo modo, buscou a viabilização de uma política de desenvolvimento para o
Maranhão, através da criação do GTAP – Grupo de Trabalho da Assessoria de Planejamento –
mais tarde (30 de julho de 1966) transformada em autarquia, então denominada de
Superintendência de Desenvolvimento do Maranhão (SUDEMA), a qual teve como
incumbência, entre outras, de proceder à aplicação dos investimentos em áreas estratégicas.
As principais metas eram: criação da infra-estrutura, adequação dos recursos humanos,
mobilização administrativa, além de estímulo à produção que se intensificou nos anos 1970, a
partir da combinação terra/capital, estratégia que não apenas estimulou como também
possibilitou a entrada de grandes grupos econômicos (capital nacional e internacional).
Com esta política de incentivo, a modernização do campo maranhense avançou
através da incorporação de grandes áreas (extensões territoriais) impulsionada pela Lei de
Terras (Lei 2.979 de 17 de julho de 1969), criada pelo governo José Sarney (1966-1970),
tendo esta implicado na criação da Companhia Maranhense de Colonização (COMARCO),
cujo papel foi o de dinamizar o mercado de terra no Maranhão.
Essa via se articulou à estratégia de desenvolvimento dos militares que, segundo
Feitosa (1998), tinha como objetivo a integração local ao mercado mundial. Ao incorporar
esta lógica, o governo Sarney acabou direcionando-se para grandes obras de infra-estrutura
como porto, estradas, redes de transmissão elétrica, construção e pavimentação da malha
rodoviária estadual. Em função desta lógica, a rede rodoviária passou de 600 para mais de
2.000 km, sendo que 800 km eram pavimentados.
Apoiado nos militares, José Sarney deu efetividade ao seu programa de governo
construindo estradas (asfaltamento da São Luís/Teresina), criando as companhias de
água e energia, implantando o projeto de alfabetização João-de-barro, ampliando o
curso ginasial com as Unidades Bandeirantes, além de programa de habitação. Essas
realizações ainda hoje são apontadas pelo ex-presidente José Sarney como um marco
e um avanço em relação aos seus antecessores. (ARAÚJO, 2006, p. 34)
O impacto social e econômico da maioria dessas ações para o estado foi bastante
positivo, em razão de ter proporcionado, entre outras realizações, o substancial aumento das
matrículas escolares e promovido a abertura de várias frentes de trabalho na construção civil.
Também facilitou o escoamento dos produtos vindos de outros estados, principalmente os
perecíveis, permitindo o abastecimento no estado.
27
Entretanto, por trás desse “progresso e desenvolvimento” uma teia de interesses se
desenvolveu cimentada pela prática do mandonismo, tão importante para a manutenção e
perpetuação do controle político. Embora Sarney tenha alijado os líderes da oligarquia
vitorinista, por outro lado preservou muitas características fundamentais dessa estrutura de
mando, entre elas, a utilização clientelista do Estado.
Ressalte-se que é justamente nesse período do governo Sarney que são editados os
Atos Institucionais e os Atos Complementares, mecanismos jurídicos nos quais os militares se
apoiaram para coibir a liberdade de expressão, inclusive dos poderes constituídos. Sendo que
o mais sinistro desses Atos Institucionais foi editado em 13 de dezembro de 1968 (AI-5), na
tentativa de conter as manifestações políticas desencadeadas por estudantes, sindicatos e
setores da igreja, cujas manifestações (reuniões, comícios e passeatas) tinham sido proibidas
por meio da Portaria Nº 177 de 05 de abril daquele ano.
Por meio desse Ato, o presidente da República estava autorizado a decretar o recesso
do Congresso Nacional e de outros órgãos legislativos, a interferir nos estados e municípios,
sem as limitações previstas na Constituição, a cassar mandatos eletivos, suspender direitos
políticos, confiscar bens e a suspender a garantia de hábeas corpus. (CPDOC - FGV)
Através do AI-5 foram cassados em 30 de dezembro de 1968, onze deputados
federais, sendo que os três primeiros que encabeçavam esta lista eram dos deputados federais
Márcio Moreira Alves, Hermano Alves e Renato Archer. Dois meses depois, outras cassações
ocorreram, dentre os cassados outro maranhense: Cid Carvalho, além de outros da própria
base do governo (ARENA), como Rafael de Almeida Magalhães e Jorge Curi.
As punições aos “inimigos” do regime eram: cassação de mandato, cassação de
mandato com suspensão de direitos políticos, suspensão de direitos políticos e aposentadoria
compulsória.
Ainda como efeito do AI-5, 219 professores universitários e pesquisadores foram
aposentados, entre eles Florestan Fernandes, Otávio Ianni, Fernando Henrique Cardoso,
Emília Viotti, Paul Singer e Caio Prado Júnior. Também vários pesquisadores foram
destituídos de seus cargos ou funções na administração direta ou indireta, bem como em
instituições de ensino e pesquisa, o que causou grande prejuízo no âmbito da pesquisa no
Brasil. No entanto, a onda dos atos autoritários terminaria em dezembro de 1978 (final do
governo Geisel) quando o AI-5 foi revogado através Emenda Constitucional nº 11. (CPDOC -
FGV)
Esse clima tenso político no país parece não ter criado embaraços para Sarney no
comando do governo do Maranhão. Muito pelo contrário. Examinando melhor o momento
28
sócio-cultural dessa época (1966-1969), período esse que coincide com o governo Sarney,
observamos a presença muito forte da idéia do “moderno”, de “vanguarda”, nas mais variadas
manifestações da cultura brasileira, como na música, cinema, teatro, literatura, artes,
costumes. Esse ambiente era favorável às mudanças, o que impelia o governo Sarney, sob
essa condição, na efetivação das ações propostas em seus discursos.
Essa efervescência do moderno ganha força, por exemplo, no plano musical, através
do movimento denominado “Bossa Nova”. Tal rótulo expressava uma revolução” no jeito
novo de cantar e de manifestar o sentimento de amor e não mais de dor, de sofrimento e
também, em alguns momentos, de revolta, de protesto e de crítica à desigualdade social,
principalmente. E essa idéia se fazia presente justamente nas músicas do compositor
maranhense João do Vale, sendo que em uma delas, Carcará, ganhava notoriedade nacional
na interpretação da, até então desconhecida, cantora baiana Maria Betânia.
Essa dupla (João do Vale e Maria Betânia) fez enorme sucesso, ao lado de Nara Leão
e Kéti, no show realizado no Teatro Opinião no Rio de Janeiro, mais tarde, 1965,
transformado em peça teatral, “Opinão”. Nesta, João do Vale declamava um trecho dos versos
contido em sua música:
Perguntei à natureza e ela não me respondeu não. Se não é seca e enchente, fazendo
daquela gente, brava, forte e robusta, tem que estender a mão. Em 1950, 10% da
população do Piauí viviam fora da sua terra natal, 13% do Ceará, 15% da Bahia,
17% de Alagoas. Problema: fome. Enquanto isso, um colar com 40 pedras de algas
marinhas era dado à Rainha da Inglaterra.
A vida de João do Vale foi documentada através de um curta metragem dirigida por
Werington Kerres, sob o título João do Vale Muita Gente Desconhece, no qual destaca a
relação do compositor com a realidade sócio-política no Maranhão. Apesar da sua
pouquíssima formação escolar, João do Vale, negro e pobre, tinha uma destacada consciência
política e conhecia perfeitamente os impactos da discriminação racial e da desigualdade social
na vida do ser humano, pois viveu na própria pele essas experiências, quando, em uma delas,
deixou de ser matriculado na escola de sua cidade (Pedreiras MA) para ceder sua vaga ao
filho do Coletor do município: “na escola tinha uns trezentos alunos, mas escolheram justo eu
para dar lugar ao filho do homem”.
Paralelamente a esse contexto revolucionário musical, o qual incluía ainda as
músicas de João Gilberto, Tom Jobim, Chico Buarque e de outros, surgia o “Cinema Novo”, o
“Cinema Verdade” ou Cinema Documentário”, no qual o “povo falava”, sob a iniciativa do
cineasta Glauber Rocha, impulsionado pelo sucesso de seu filme Deus e o diabo na terra
29
do sol, de 1964. E logo a seguir ao ano da posse de José Sarney, 1967, produziu seu outro
filme, Terra em transe, que, segundo Cabral Costa (2006), recebeu patrocínio do Banco do
Estado do Maranhão. Surgiam ainda as peças teatrais irreverentes dirigidas por dois grandes
teatrólogos: José Celso Martinez e Plínio Marcos, tendo este sido preso várias vezes pelo
regime militar.
Ainda nesse caminho, destacamos as idéias trabalhadas pelo educador Paulo Freire,
difundidas através da literatura pedagógica, materializadas em seus livros lançados nesse
período: Educação como prática da liberdade (1967) e Pedagogia do oprimido (1969).
Segundo suas idéias, a alfabetização de adultos devia estar “diretamente relacionada ao
cotidiano do trabalhador”, ou seja, este teria que conhecer a sua realidade “para poder inserir-
se de forma crítica e atuante na vida social e política”.
Nessa trajetória progressista, reformista, modernizadora e desenvolvimentista existia
ainda a expressiva figura de Oscar Niemeyer e também de Juscelino Kubitschek, bem como a
materialização da nova capital federal: Brasília. Acreditamos que todos esses componentes
contribuíram para a construção da imagem política do líder político José Sarney, cujos
elementos foram utilizados como estratégias políticas no seu governo. Aliás, aproveitando-se
desse momento, já no terceiro mês do seu governo, (11 de abril de 1966) assume a presidência
da Academia Maranhense de Letras, na condição de imortal, eleito em 1952.
Porém, essa efervescência de modernização na gestão administrativa sofreu uma
retração antes mesmo de Sarney sair do governo para se candidatar ao senado, devido não
aos efeitos da modernização, como também pelo fato de não ter conseguido encurtar a
distância entre o discurso e a prática, agravada ainda mais devido ao rompimento com o seu
então vice-governador Antonio Dino.
A promessa de reforma agrária e incremento da propriedade familiar, pontos
nevrálgicos para o Maranhão rural daquela época, foi suplantado por uma política de
projetos agropecuários voltados para grandes empresários, geralmente de outros
estados, que vieram para o Maranhão atraídos pelos baixos preços das terras e
facilidades creditícias instituídos pela Lei de Terras, de 1969. Os resultados da
política agrária do governador Sarney foram a explosão de conflitos fundiários e da
violência no campo, ao lado da especulação imobiliária e financeira de terras que
deveriam servir para investimentos produtivos. (BORGES, 2005, p. 88)
Talvez a questão social mais grave dessa situação residisse no fato de uma parte da
população do Maranhão viver “fora da sua terra natal”, em razão da fome, conforme
denunciava a música Carcará de João do Vale. Porém, este omitiu o caso maranhense em sua
30
música, haja vista ter havido uma redução populacional no estado, no período do governo
Sarney.
Segundo o Anuário Estatístico do IBGE, a população do Maranhão em 1966 (início
do governo Sarney) era de 3.173.000 e em 1970 (final do governo Sarney) era de 2.992.686.
Portanto, houve uma redução de 180.314 habitantes.
A formalização de uma estrutura do Estado em moldes racional/legal não fez com
que o universalismo de procedimentos enfraquecesse ou substituísse
significativamente as formas de intermediação de interesses (clientelismo,
apadrinhamento, nepotismo) dando continuidade a elementos típicos da dominação
tradicional. E, em grande escala, alimentando as formas de dominação carismática.
(ARAÚJO, 2005, p. 42)
Os efeitos da política de modernização ocorrida no campo, a partir da instalação de
indústrias de grande capital no governo Sarney se manifestaram por meio dos seguintes
fatores: propagação de latifúndios improdutivos, especulação da terra, aumento da
concentração de terras e destruição de várias unidades de produção familiar, perseguição
política a líderes rurais, formação de palafitas na capital e a ocupação em terrenos da periferia,
gerando daí vários movimentos de apoio a essas ocupações.
Eleito senador, assim que assumiu o mandato (1971), Sarney foi designado para
ocupar a presidência do Instituto de Pesquisas e Assessoria do Congresso (IPEAC), o que lhe
possibilitou integrar uma Comissão no Senado com a finalidade de promover a modernização
daquela Casa, o que redundou na criação do PRODASEN, serviço de informatização.
Em 1974, no governo Ernesto Geisel, Vitorino Freire reaparece com a sua
influência política no Maranhão, ao indicar à eleição (indireta) o nome do deputado estadual e
ex-secretário de Saúde de Sarney, Oswaldo Nunes Freire, o que provocou uma forte oposição
entre este e Sarney, tendo gerado uma crise política no período eleitoral de 1976,
materializada através das disputas eleitorais.
Nessas eleições de 1976 a liderança de Sarney se acentua no estado, através do
expressivo número de prefeituras que o seu partido (ARENA) obteve em relação ao MDB.
Paulatinamente, Sarney vai galgando lugares de destaques no cenário político nacional. Na
condição de vice-líder da maioria no senado e pertencente à base de apoio do governo federal,
o mesmo faz uso freqüente da tribuna do senado para defender a situação da política nacional,
em resposta, principalmente, as críticas feitas às políticas do governo pelo senador do MDB
do Rio Grande do Sul, Paulo Brossard, na época, político de destaque nacional por sua
postura progressista.
31
Em abril de 1978, o governador Nunes Freire acirrava a disputa pela sucessão
governamental ao tentar embaraçar a possível indicação de Sarney ao governo do Maranhão
denunciando no STF possíveis irregularidades fundiárias na Fazenda Maguari, de propriedade
do senador, o que culminou com o arquivamento da representação criminal contra este.
Diante desse episódio, Sarney articulava-se no sentido de viabilizar a sua candidatura
ao governo do estado, mas desistiu da sua empreitada ao comunicar à imprensa a decisão de
permanecer no senado, em atendimento ao pedido que lhe fora feito pelo general Figueiredo,
o qual viria mais tarde ser candidato oficial à presidência, disputando com o general Euler
Bentes Monteiro (MDB). Nessa nota à imprensa, Sarney indicava os nomes do deputado
federal João Castelo ao governo do estado e de Alexandre Costa para senador “biônico”.
Na condição de relator, Sarney entregou ao presidente Geisel projeto de reformas
políticas, o qual consagrava, entre outros, o fim do AI-5, a restauração do estado de direito e a
superação dos atos de exceção. Essas proposições coincidiam com algumas das já
incorporadas no projeto político do MDB, o que permitia, dessa forma, uma relação mais
estreita com este partido.
Nas eleições de 1978, Sarney se reelegeu ao senado com o maior percentual obtido
por um candidato da ARENA. Do mesmo modo, seu filho Zequinha Sarney foi eleito
deputado estadual nessas eleições com o mesmo destaque em termos de votação.
Sob a indicação do presidente João Figueiredo, Sarney ocupou a presidência da
ARENA, em substituição a Francelino Pereira, o qual fora indicado ao governo de Minas
Gerais. Convém ressaltar que, como Sarney não fazia parte do Diretório Nacional da
ARENA, jamais poderia galgar aquele posto. Entretanto, o governo encontrou um jeito de
acomodá-lo no Diretório Nacional, abrindo uma vaga por meio de renúncia de um de seus
membros da Executiva Nacional da ARENA.
1.3 - Sarney na Presidência da República
Em 15 de março de 1979, assumiu a presidência da República o general João Batista
Figueiredo e logo cinco meses mais tarde, agosto, são dados os primeiros passos para a
abertura democrática no país, através da Lei da Anistia, o que possibilitou o retorno ao país
dos exilados políticos.
32
Diante desse momento político no país, Sarney apoiou eleições diretas em todos os
níveis e defendeu a extinção dos partidos (ARENA e MDB), como fundamento à “criação de
uma estrutura partidária democrática, que permita a alternância de poder.” (CPDOC- FGV)
Desse modo, em 29 de novembro de 1979, foi extinto o bipartidarismo e iniciada a
reformulação partidária, passando Sarney a coordenar a nova agremiação político-partidária,
então denominada de Partido Democrático Social (PDS). Logo no início do ano seguinte,
Sarney distribuiu à população o manifesto do partido, de sua autoria, no qual defendia, entre
outros pontos, o estado social de direito, a participação dos trabalhadores nos lucros e na
administração das empresas, também a participação na gestão dos fundos sociais, o direito de
greve, a liberdade sindical, a inviolabilidade parlamentar. (CPDOC - FGV)
Por essa época (fevereiro de 1980), é fundado o Partido dos Trabalhadores (PT) e
concedido o registro provisório junto ao TSE do PTB, do PDT, do PMDB, além do PDS sob a
presidência de José Sarney.
Nesse início da década de 80, como conseqüência do processo de modernização
desencadeado no governo Sarney, começava a surgir no Maranhão grandes projetos
industriais, trazidos pelo Programa Carajás, através do qual, segundo Barbosa, “o Maranhão
si insere na reestruturação capitalista como corredor de exportação de minério de ferro”, tendo
como “carro- chefe” a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e a fábrica de alumínio da
ALCOA (CONSÓRCIO ALUMAR -Shell, Billiton Metais e Alcoa).
A despeito das mudanças ocorridas nas áreas social, econômica e política em função
desses projetos,
Foram desencadeadas por uma industrialização desenvolvida às custas da exploração
intensiva de recursos naturais, sustentada por uma política governamental
socialmente perversa que produziu a expropriação e desorganização do espaço da
pequena produção maranhense acelerando os processos migratórios campo-cidade.
(BARBOSA, 2006, p. 52)
A partir dessa nova dinâmica industrial, diversos grupos passaram a ocupar extensas
áreas de terras ao longo do chamado “corredor de exportação” para implantação de indústrias
e pólos industriais que, em larga medida, foram responsáveis pelo crescimento desordenado
de São Luís e de algumas cidades do interior do estado.
Na instalação desses projetos, a população local foi vista como um entrave à
modernização industrial. A população, em grande parte, constituída de famílias de
pequenos produtores rurais, foi alijada de qualquer planejamento. (...) Deslocados da
pequena produção, esses trabalhadores não conseguem ser absorvidos como força de
trabalho assalariada, uma vez que se encontram desqualificados para exercer as
33
tarefas exigidas pela nova dinâmica industrial e passam fazer parte da reserva de um
amplo exército industrial (BARBOSA, 2006, p. 60)
Nessa perspectiva, a cientista política Arleth Borges afirma que:
O foco desses projetos não é gerar riquezas para o local onde se encontra e sim
exportá-las, de modo que os poucos empregos que geraram (pois operam com
tecnologia de ponta) e o verniz de modernidade que empresta ao estado foram pagos
a preço elevado, com transferência de recursos públicos (infra-estrutura, matérias
primas e incentivos fiscais e creditícios) para empresas privadas de atuação
internacional. Nesse contexto, o Maranhão figura apenas como um corredor de
exportação geográfica e politicamente atraente para o capital. (BORGES, 2005, p.
89)
Dessa forma, parece haver um consenso entre Barbosa e Borges, no que diz respeito
a “euforia” que tomou conta do Programa Grande Carajás diante das promessas em
proporcionar milhares de empregos aos maranhenses e dos efeitos danosos que causou:
aumento do êxodo rural, elevação do desemprego, subemprego e agravamento dos conflitos
no campo.
Em seu artigo sobre “Do Maranhão Novo” ao “Novo Tempo”: A trajetória da
oligarquia Sarney no Maranhão, Cabral também faz uma abordagem sobre a questão da
instalação da fábrica da Alcoa em São Luís,
A função econômica desempenhada pela oligarquia pode ser ilustrada com o
exemplo da implantação da Alcoa/Alumar na Ilha de São Luís, elucidativo das
alianças estabelecidas entre a oligarquia regional e os interesses do grande capital
nacional e estrangeiro. Apesar dos relatórios oficiais condenando a sua instalação
devido aos impactos ambientais, o governo João Castelo, através da Companhia de
Desenvolvimento Industrial (CDI) não concedeu permissão como ainda cedeu a
preços simbólicos 10 mil hectares para a Alumar, ocasionando a retirada de 5 mil
famílias da área. Além disso, a empresa contou com incentivos, subsídios e isenções
fiscais de toda ordem, concedidos pelos governos federal e estadual. (CABRAL,
1997, p. 13)
Esses projetos, ao contrário do que a mídia local divulga, trazem muito mais
prejuízos para o estado e para a população do que possibilidades de melhoria da qualidade de
vida da população. Inclusive, o alardeado discurso pregado pelas autoridades do governo de
que a instalação desses empreendimentos proporciona empregos aos maranhenses, não se
reflete diretamente na vida destes. No caso específico da Alumar, o que se constata é que
além dos danos que a sua fábrica provoca ao meio ambiente, ela excluiu socialmente parte dos
trabalhadores da zona rural que produziam produtos hortifrutigranjeiros, ao indenizá-los na
34
aquisição de suas propriedades visando à instalação e expansão de sua fábrica o que, mais
tarde, verificou-se que tais indenizações não possibilitaram melhorias na vida dessa gente.
Significa dizer que a geração de milhares de empregos que marcou a “euforia” de
Carajás, não se concretizou. Apesar das transformações da sócio economia
maranhense, não uma efetiva e correlata incorporação da força de trabalho. Ao
contrário, cresceu o desemprego, o subemprego, o êxodo rural, o agravamento da
questão fundiária e das tensões sociais. (BARBOSA, 2006, p. 62)
A título de ilustração e corroborando com esse fato, interessante a destacar é que,
segundo declaração do técnico da Refinaria da Alumar, Nelson Dapper, em recente encontro
no Sindicato dos Sociólogos, afirmou que “no mês de dezembro (2009) foram contratados
seis engenheiros para a fábrica, sendo que destes um era do Maranhão, o resto era tudo de
fora.”
Ao se examinar a trajetória política de Sarney e os efeitos da sua liderança na
economia, na política e na cultura do estado, é freqüente a observação de que, em julho de
1980, foi eleito para a cadeira nº 38 da Academia Brasileira de Letras, vindo a tomar posse em
novembro. Embora não seja nosso objetivo centrar o foco nas relações entre literatura e
prática política Maranhão, faremos uma breve menção ao forte e persistente caráter
clientelista que estes vínculos adquiriram neste Estado, com repercussões na política
brasileira
4
. Isto faz com que a obra (o livro, na maioria dos casos) além de ser usada como
instrumento de autopromoção, também personifique a relação política com o destinatário da
dedicatória. Em outros termos, esta não expressa apenas uma forma sutil de se destacar uma
relação interior ao campo estético, mas, principalmente, uma troca e um compromisso de
lealdade políticos
5
.
Em seu trabalho sobre a cultura maranhense, intitulado Atenas Brasileira, Corrêa
relaciona alguns autores, e os seus livros, com a respectiva dedicatória, sendo que desta lista
acrescentamos mais outros nomes de políticos.
AUTOR LIVRO DEDICATÓRIA
Josué Montello Um rosto de menina e
outras novelas reais
“A José Sarney”.
Josué Montello Cais da Sagração “A Francisco Negrão de Lima e Pedro Neiva de Santana, este
romance é dedicado”.
Nunes Pereira A casa das minas “Aos presidentes das Repúblicas do Senegal e da Nigéria. Ao
4
Foge totalmente aos objetivos desta redação analisar a qualidade estética da obra de qualquer autor
maranhense.
5
A respeito das relações que se dão no interior dos campos, no caso o estético e o político, bem como entre eles,
ver Bourdieu (2007:64-73).
35
senador Jo Sarney, que como governador do estado do
Maranhão, proporcionou ao seu autor os meios necessários à
realização de pesquisas sobre o Culto dos Voduns...”
Carlos Cunha As lâmpadas do sol “Para os amigos: José Sarney e D. Marly, João Castelo e D.
Gardênia, Bayma Júnior e D. Gylse”
Mário Meirelles Tempo Ladeado “Ao amigo Haroldo Tavares que sempre me prestigiou.”
Vitorino Freire A laje da Raposa “Minha agradecida homenagem aos meus amigos e protetores, a
quem devo o meu encaminhamento na vida pública: doutor João
Lopes da Siqueira Santos, Ministro Juarez Távora, Ministro José
Américo de Almeida, Ministro Gustavo Capanema, Ministro João
Mendonça Lima, Capitão Martins de Almeida”
Arlete Nogueira
da Cruz
A Atual Poesia do
Maranhão
“À Senhora Eney Tavares de Santana”
Fonte: CORRÊA, 2001, p. 38
Segundo Corrêa, “o problema condicionante da cultura maranhense é o poder
oligárquico, exercido por meio de um Estado clientelista. Não testemunho mais eloqüente
do namoro, quase casamento com o poder, estabelecido como uma mentalidade intelectual em
vigência no panorama gonçalvino...”. (CORRÊA, 2001, 37)
No capítulo seguinte retomaremos essa discussão sobre a utilização da cultura
maranhense como instrumento de barganha.
No mês seguinte à sua posse na Academia Brasileira de Letras, o clima político no
país voltou a ficar tenso, em razão da ocorrência de atentados terroristas, como a bomba que
explodira na sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), no Rio de Janeiro, causando a
morte da diretora da Secretaria desta Ordem. Outro atentado terrorista viria ocorrer em 30 de
abril de 1981, véspera do dia do trabalho, no Riocentro, Rio de Janeiro, matando um militar e
ferindo outro. Esse clima, de certa forma, gerou uma ameaça à abertura política propugnada
pelo governo Figueiredo, pelo fato da direita reacionária usar esses atentados em seus
discursos para conter o clima que se vislumbrara com o processo de abertura democrática.
Nas eleições de novembro de 1982, Sarney apoiou a candidatura vitoriosa do
deputado Luís Rocha, da sua corrente política, ao governo do Maranhão. Convém ressaltar
que desde 1965 não havia tido eleição direta para governador. Apesar do PDS, de Sarney, ter
sido derrotado parcialmente nas eleições estaduais daquele ano, inclusive perdendo a maioria
na Câmara, no Maranhão ocorreu o contrário, quando o partido sai das eleições bastante
fortalecido sob o comando de Sarney.
Em março de 1983, o Deputado Dante de Oliveira apresentava proposta de Emenda
Constitucional que restabelecia as eleições diretas para presidente da República, a qual
mobilizou o país em torno da campanha Diretas Já, desencadeando uma série de comícios
pelo país, cuja proposta viria a ser derrotada mais tarde no Congresso. Estava assim posta ao
36
público a disputa às eleições presidenciais, via Congresso Nacional, marcadas para janeiro de
1985.
Dentro do PDS a disputa era para saber quem seria o indicado pelo partido. Vários
membros pleiteavam essa indicação, entre eles, o ex-governador de São Paulo, Paulo Maluf;
Mário Andreazza, Ministro do Interior e Marco Maciel, senador de Pernambuco.
Como a Executiva do PDS não concordou com a proposta de realizar uma consulta
prévia às bases sobre os pretensos candidatos, apresentada por Sarney, este renunciou a
presidência do PDS, gerando outras renúncias que se organizaram em torno da “Frente
Liberal”, mais tarde transformado em partido, a qual indicou Sarney para vice, cuja chapa,
Tancredo- Sarney foi homologada na convenção do PMDB em 12 de agosto de 1984, com
a filiação de Sarney ao PMDB.
Desse modo, a eleição presidencial indireta, pelo Congresso, ocorreu em 15 de
janeiro de 1985 com a vitória de Tancredo Neves por 300 votos de diferença do seu
concorrente Paulo Maluf, (480 contra 180).
Porém, com a morte de Tancredo Neves por problemas de saúde, Sarney assume a
presidência da República, cuja posse se deu em 15 de março de 1985, mas sem a presença de
Figueiredo, o qual se recusou a participar da cerimônia de transmissão do cargo, em face dos
episódios ocorridos quando da renúncia Sarney do PDS.
É interessante tentar compreender a trajetória do político José Sarney, o qual se
desenvolveu junto às esquerdas, fazendo forte oposição ao grupo dominante de então
(vitorinismo) e, de repente, conseguiu sobreviver politicamente na efervescência do regime
militar e da “onda autoritária”, com a edição de vários Atos Institucionais (Nº 02, e 03,
outubro de 1965 e fevereiro de 1966, respectivamente), por meio dos quais possibilitou a
extinção dos partidos políticos, a decisão de intervir nos estados, a cassação de mandatos e
direitos políticos e o estabelecimento de eleições indiretas para governadores e Presidente da
República, o que culminou com a formação de apenas dois partidos: ARENA e MDB, o
primeiro de sustentação política ao Governo e o segundo de “oposição”.
Não cabe aqui examinar o período em que Sarney ocupou o cargo de Presidente da
República durante cinco anos ou descrever em detalhes como foi a sua relação com o
Maranhão por esse tempo, mesmo porque, do ponto de vista político, suas práticas
continuaram, só que mais revigoradas sob o manto do fortalecimento do seu poder político no
estado. Enquanto o Brasil se regozijava diante da chegada da redemocratização, como que
prenunciando uma nova era, no Maranhão o que era antigo e tradicional ganhava mais força
37
para consolidar sua continuidade. Entretanto, destacamos alguns fatos que consideramos
relevantes em função da nossa abordagem, a saber:
Reconciliação com seu principal adversário político no Estado
Um dos fatos políticos mais significativos do período em que Sarney esteve na
Presidência da República, foi a sua reconciliação com Epitácio Cafeteira (PMDB) – rompidos
desde 1966 – que culminou na eleição deste para o governo do estado, embalado pela
coligação com o PFL e apoiado por outros partidos de expressão eleitoral como o PTB e PDT.
Segundo dados do TSE, a vitória de Cafeteira foi proporcionalmente a maior do país: 81% do
eleitorado.
Quanto à questão econômica nesse período, Borges ressalta que:
Entre as estratégias de crescimento econômico adotadas pelo governador Cafeteira
destacavam-se a duplicação das linhas de transmissão da Usina Hidrelétrica de
Tucuruí, a implantação de uma Refinaria de Petróleo e de uma Zona de
Processamento e Exportação (ZPE) e a construção da ferrovia Norte-Sul. Para
operacionalizar estes e outros projetos, o Maranhão foi recordista na aquisição de
verbas a fundo perdido liberadas pela Secretaria de Planejamento do Governo
Federal. No entanto, tais empreendimentos jamais foram efetivados, embora o
Maranhão tenha liderado a recepção de verbas de fundos especiais. (BORGES,
2005, p. 89)
A transferência dessas verbas redundou na criação de uma Comissão Parlamentar de
Inquérito (CPI), visando apurar as denúncias de supostas corrupção no Governo Sarney.
Tendo sido, mais tarde, arquivado pela Câmara dos Deputados.
Revitalização do Centro Histórico de São Luís
Concebido em 1985, o Programa de Preservação e Revitalização do Centro Histórico
de São Luís atingiu o seu auge a partir de 1987, tendo como incumbência recuperar a infra-
estrutura urbana do local onde outrora ocorreu a efervescência cultural e econômica da
capital. Para tanto, Sarney liberou à época inúmeras verbas públicas visando a consolidação
desse projeto, que se propunha ainda resgatar todo o seu conjunto arquitetônico e a sua vida
cultural. A partir de pesquisas documentais, sobretudo de fotografias do início do século XX,
engenheiros, arquitetos, historiadores e urbanistas do projeto reconstituíram a parte mais
significativa dessa localidade, denominada “Praia Grande”, restaurando-lhe o aspecto original
que tinha sido descaracterizado ao longo do tempo.
38
Criação da Fundação José Sarney
Embora a data da sua criação (06 de abril de 1990, através da Lei 5007) tenha
ocorrido logo após a sua saída da Presidência, Sarney influenciou na consolidação do Ato que
autorizou a incorporação de todo o imóvel denominado de “Convento das Mercês” - cuja obra
de alto valor arquitetônico e histórico, construído entre os anos de 1651 e 1655, segundo o
Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) - ao patrimônio da Fundação
Memória Republicana, hoje Fundação José Sarney. Tal Lei foi assinada pelo então
governador João Alberto, outro grande aliado da família Sarney, atualmente, uma vez mais,
na condição de vice-governador no governo Roseana Sarney.
Até a presente data tal ato está sendo questionado no Ministério Público Federal pela
“oposição” ao sarneismo, “para anulação ou declaração de nulidade de atos lesivos ao
patrimônio público ou à moralidade administrativa do Estado...”, pelo fato do supracitado
imóvel ter deixado “de integrar o patrimônio do Estado para se incorporar ao patrimônio
particular da Fundação”. Além disso, por meio do Convênio Nº 002/2004, celebrado em 27 de
janeiro de 2004 entre a Secretaria de Estado da Cultura (Governo Roseana Sarney) e a
Fundação José Sarney, o Estado do Maranhão comprometeu-se “a repassar, mensalmente e
sem qualquer contrapartida, à Fundação a importância de R$ 80.000,00 (oitenta mil reais)...
objetivando condições de conservação, divulgação e exposição blica do acervo
bibliográfico, documental, textual e museológico, incluindo, ainda, o custeio das despesas
necessárias ao funcionamento da Fundação José Sarney”. (Ministério Público Federal –
Procuradoria da República no Estado do Maranhão, p. 2 e 3, Ação Civil Pública
08109.000035/95-87)
O nosso propósito foi examinar a trajetória política de José Sarney desde quando se
elegeu deputado federal. Durante mais de meio século, não foi derrotado diretamente em
qualquer eleição e permanece como a mais forte presença política no estado (e uma das mais
influentes no Brasil), mesmo sendo, oficialmente, eleitor e representante do Amapá no Senado
da República, aliás, presidido por ele.
39
2 - CORONELISMO E CLIENTELISMO: FACES DO MARANHÃO MODERNO
Neste capítulo nos municiamos teoricamente da literatura política pesquisada, no
intuito de compreender as práticas político-eleitorais que se processam em um Estado
clientelista e saber de suas possíveis conexões com a realidade maranhense, bem como
discutir os conceitos de coronelismo e clientelismo e estabelecer a sua distinção.
Pretendemos ainda compreender o modo como as forças políticas no estado, através
das práticas clientelistas, atuam, se consolidam e se reproduzem e, ainda, conhecer as faces do
Maranhão, através da retórica da “modernização”.
2.1 Coronelismo e Clientelismo: uma compreensão conceitual
Ao analisar os grupos políticos e a estrutura oligárquica no Maranhão, na Primeira
República (1890/1922), Flávio Reis (2007) faz uma abordagem sobre os atores sociais já
incorporados no período imperial (fazendeiros, grandes comerciantes, classe média
tradicional), estabelecendo que “nesse tipo de organização social haveria estreita relação entre
poder econômico e poder político e pouco espaço para a discussão da autonomia do Estado”.
Para ele, essa questão “passa diretamente pela percepção de que a propagação do clientelismo
no aparelho estatal era determinada por grupos cujos interesses giravam em torno da grande
propriedade rural e de suas formas de compadrio político”. (2007, p. 206)
Essa questão levantada por Reis contribui para uma abordagem sobre a compreensão
da relação entre oligarquia e clientelismo. Seria o clientelismo que fomenta a oligarquia ou o
contrário? Antes que encontremos uma resposta plausível para tal questionamento,
podemos nos cercar de alguns instrumentos que podem apontar para o entendimento dessa
relação. O que ele designa por “oligarquia”, diz respeito ao
Setor especificamente político que iniciou sua formação entre as décadas de 1850 e
1860, cujas funções primordiais no processo mais amplo de construção do Estado
Nacional eram a organização das disputas políticas no âmbito regional, aglutinando
as facções e permitindo o funcionamento do jogo partidário, estabelecendo, enfim, a
mediação entre a corte imperial e a província. As características do seu eixo de
sustentação e reprodução, uma confluência de centralização de recursos políticos e
financeiros e a possibilidade de sua utilização clientelista, abriram espaço para a
sedimentação de interesses próprios de grupo, no caso a perpetuação nos postos de
mando. (REIS, 2007, p. 51)
40
Seguindo a linha de entendimento traçada por Reis verificamos que o termo
“oligarquia” é constituído de aspectos sociais, políticos, econômicos e culturais. O oligarca
era aquele identificado entre os que detinham grandes propriedades rurais e que possuía uma
condição econômica privilegiada e que, por essa razão, desempenhava uma função na
administração pública e, dessa sua ligação com o Estado, era desencadeada algumas
atribuições que lhe dava permissão ao “controle das nomeações para os cargos públicos”, o
que lhe garantia “livre trânsito” nas instâncias superiores da administração nacional e
possibilitava um lugar de destaque na política.
Assim, a oligarquia surgiu no “interior dos grupos de famílias importantes da
região”, que se aproveitava das condições de sua atuação política para a sedimentação de
interesses próprios”, desencadeando daí freqüentes crises no interior dessa classe dominante
“em razão das disputas pelo acesso aos postos de comando”. Dessa forma,
Os grupos políticos percebiam o aparelho do Estado como um bem a ser utilizado
em favor dos correligionários, desenvolvendo um traço da cultura política que
legitimava a utilização clientelista das funções de governo em benefícios dos aliados
e como moeda de troca na formação de alianças. (REIS, 2007, p. 64)
No Maranhão, a forte penetração oligárquica não impediu que se desenvolvesse uma
estrutura de modernização onde as relações sociais capitalistas são dominantes. Ao que
parece, o Maranhão particulariza as contradições mais profundas da formação social
brasileira nos seus aspectos econômicos, políticos e sociais revelando a força de sua tradição
política.
Em sua abordagem sobre “O poder do atraso”, na qual discute a persistência das
relações políticas atrasadas, em que se baseia o Estado, sobretudo através do clientelismo e do
oligarquismo, José de Souza Martins enfatiza que
As oligarquias políticas no Brasil colocaram a seu serviço as instituições da
moderna dominação política, submetendo a seu controle todo o aparelho de Estado.
Em conseqüência, nenhum grupo ou partido político tem hoje condições de governar
o Brasil senão através de alianças com esses grupos tradicionais. E, portanto, sem
amplas concessões às necessidades do clientelismo político. Nem mesmo os
militares (...) conseguiram nos vinte anos de sua recente ditadura destruir as bases
do poder local das oligarquias. Tiveram que governar com elas, até mesmo
ampliando-lhes o poder. (MARTINS, 1994, p. 20)
Exemplo do que ocorre no Brasil, a prática do clientelismo encontra-se presente,
quando não a regra, no processo político eleitoral. Esta prática encontra nas relações de
dependência pessoal o espaço para se estabelecer e, desse modo, manter o controle político de
41
uma determinada região, funcionando, nesse sentido, como base para a sustentação de
oligarquias regionais. Para Saes,
A condição fundamental para a cristalização do coronelismo, e ao mesmo tempo o
seu elemento determinante, é a presença de relações de produção pré-capitalistas
no campo, ou seja, relações entre proprietários de terra e trabalhadores (...) que,
tendo como objeto a cessão da posse da terra, se exprimem, para usar a expressão
consagrada por Marx, como relações de dominação e dependência pessoal. (1998,
p.p. 84-85)
Saes faz uma leitura desse fenômeno associando-o a estrutura do Estado do tipo
capitalista. Para o autor, embora o voto de cabresto ainda persista como resquício das relações
de dependência pessoal, o coronelismo pode ser analisado no quadro da problemática dos
tipos de Estado. Significa pensar o coronelismo como uma prática capaz de adaptar-se em
diferentes modalidades de dominação de classe.
O estudo de Victor Nunes Leal sobre coronelismo particulariza-o como típico da
Velha República e chama atenção para a questão da falta de garantia da cidadania poder
proporcionar-lhe a existência. Para ele,
O “coronelismo” é, sobretudo um compromisso, uma troca de proveitos entre o
poder público, progressivamente fortalecido, e a decadente influência social dos
chefes locais, notadamente dos senhores de terra. o é possível, pois, compreender
o fenômeno sem referência à nossa estrutura agrária, que fornece a base de
sustentação das manifestações de poder privado ainda o visíveis no interior do
Brasil. (...) Desse compromisso fundamental resulta as características secundárias do
sistema “coronelista”, como seja, entre outras, o mandonismo, o filhotismo, o
falseamento do voto, a desorganização dos serviços públicos locais. (LEAL, 1993,
p. 20)
Desse modo, segundo Leal, o coronelismo se instaura onde os municípios não
conseguiam suprir os direitos de cidadania da população. Porém, com as transformações
capitalistas ocorridas no campo - como as descritas no capítulo anterior - o coronelismo
começava entrar em crise, embora a natureza das práticas políticas continuasse, ou seja, tais
práticas estavam se modernizando, tomando um formato mais sofisticado, mesmo ainda não
eliminando as formas coronelísticas de mando pessoal nas instâncias do poder local e
regional.
A relação de dependência, estabelecida no âmbito econômico continuava e acabava
por se imbricar com a engrenagem que transmuta o coronel em chefe clientelista. Esse
elemento, fundamental para o funcionamento da engrenagem de sustentação do poder e do
mandonismo político, é a lealdade que se passa a ter para com esse chefe político-econômico.
42
Ou seja, essa lealdade do trabalhador ao coronel era algo tão arraigado que perpassava a
questão de honra daquele que se vê como devedor dessa lealdade. Segundo Farias,
O voto coronelício define-se pela manifestação de fidelidade pessoal do eleitor a um
chefe político – o coronel. Como tal, o voto não é redutível nem às formas de
coerção física, nem ao mecanismo da troca mercantil. Ao contrário, esse tipo de
legitimidade do ato eleitoral, como uma obrigação moral, se concretiza
fundamentalmente na doação pura e simples do voto ao candidato do coronel.
(1999, p. 11)
Desse modo, a relação de dependência econômica que se transmutava para o campo
político permeava as decisões político-eleitorais do Estado democrático burguês que o
exercício do voto é o que legitima esse Estado democrático: a realização de eleições alimenta
a ilusão das classes trabalhadoras acerca da natureza do Estado, apresentando-o como um
poder neutro, acima das classes sociais (SAES). Assim sendo, as oligarquias e a sua
permanência no poder acabam legitimadas já que são frutos da “escolha” do eleitorado, ainda
que tal “escolha” seja motivada pela relação de dependência e pela lealdade ao chefe político-
econômico local. No Maranhão, o processo de modernização e o próprio avanço das relações
capitalistas contribuíram para a evolução do coronelismo e para formas sofisticadas de
clientelismo político.
Entendemos que no Maranhão a crise do coronelismo toma força a partir não das
mudanças ocorridas na estrutura agrária (com a instalação de empresas capitalistas no campo)
e das transformações no funcionamento do aparelho estatal (com o advento da Constituição
Federal de 1988), mas, sobretudo, diante da mudança de comportamento do eleitorado em
função do noticiário nacional a respeito da atuação de alguns políticos no país, o que permitiu
que elaborasse um melhor juízo sobre o caráter das eleições no estado. Convém destacar que
o rádio é um mecanismo de forte penetração no interior do estado, principalmente onde o
sinal de televisão é precário, e a Voz do Brasil ainda continua “líder de audiência” nessas
localidades. E o “homem do interior” hoje sabe até quanto o município recebeu no mês por
conta do Fundo de Participação dos Municípios.
Porém, isso não foi capaz de possibilitar nele uma mudança de postura visando
transformar as práticas clientelistas em novos instrumentos avaliativos da administração
pública. Pelo contrário, isso contribuiu para reforçar mais ainda o entendimento que o
eleitor tem do político: “ele não faz nada”, “a família dele tá cada dia mais rica”, “prá onde
indo todo esse dinheiro?”, “prenderam mais prefeitos ontem por desvio de dinheiro”.
43
Com base nesse entendimento e percebendo que nada muda para melhor em seu
município em benefício da maioria da população, o eleitor acaba estabelecendo um pacto com
o político visando tirar proveito do seu voto: “não dou meu voto de graça prá político
nenhum”. Desse modo, no Maranhão a tradição política recorrente é a prática do tipo
clientelista, caracterizada pelo uso do favor como moeda de troca nas relações políticas.
A despeito dessa discussão, na qual suscita alguns termos como “tradicional” ou
“atrasado” (levantados por Martins), Goetz Ottmann analisa em sua pesquisa sobre
“Processos de democratização da política municipal no Brasil”, alguns dos processos e
procedimentos políticos da política brasileira em termos de “moderno” e “tradicional”,
tomando por base as administrações do Partido dos Trabalhadores (PT), nas cidades de São
Paulo, Porto Alegre e Itabuna (BA), demonstrando que as demandas de cidadania o
mediadas através de práticas clientelistas, cujo termo - clientelismo necessita de maior
clareza conceitual, a fim de não ser confundido com algumas outras categorias como
“populismo”, “patrimonialismo”, “personalismo” e “patronagem”, assim explicitados:
Patrimonialismo se refere a situações em que os políticos lidam com os recursos
públicos como se fossem deles: em vez de distribuí-los de acordo com critérios
universalistas e impessoais, privilegiam familiares, amigos e sua clientela política.
Em outras palavras, empreendem uma forma privada de patronagem política. Por
fim, clientelismo se refere a uma relação de troca de favores em que os indivíduos
envolvidos se beneficiam mutuamente, mas de modo desigual. Assim, enquanto
“patrimonialismo” diz respeito à apropriação privada de recursos públicos,
“clientelismo” denota uma relação de dependência entre patronos e seus clientes, a
qual geralmente envolve uma série de mediadores ou agentes. (OTTMANN, 2006,
p. 158)
O fato de os direitos de cidadania não estarem disponíveis para as populações pobres,
o termo clientelismo é operado por Ottmann “num contexto político de cidadania mediada”,
em que se engendra uma teia de assistência social, na qual “o acesso à cidadania é
constantemente negociado”, por meio de “ação coletiva”.
Ottmann refuta algumas análises que foram feitas sobre transições democráticas em
países como o Brasil, ao adotarem “a democracia como resultado de um processo evolutivo
pelo qual se eliminam elementos políticos “tradicionais” para se construir uma política
“moderna”, baseada em critérios racionais, preocupação com o bem comum e regras
procedimentais”. Contrariando esse entendimento, ele acredita que “o processo de
democratização não erradica práticas políticas como o clientelismo e a patronagem: antes,
transforma-as ao incorporá-las”. (OTTMANN, 2006, p. 173)
44
Esse processo é percebido por Ottmann ao estudar, na cidade de Itabuna, por
exemplo, a atuação dos “mediadores” (líderes comunitários e movimentos sociais) os quais
intercedem nas demandas de cidadania dos moradores junto ao poder municipal ele
demonstrou “que num contexto sócio-político de cidadania mediada a inclusão democrática
da população pobre tende a envolver alguma forma de subsídio estatal”. (OTTMANN, 2006,
p. 175)
para Martins, o clientelismo político não pode ser interpretado meramente, ou
principalmente, nessa relação entre os ricos e os pobres, uma vez que a sua concepção
É a de que o oligarquismo brasileiro se apóia em algo mais amplo do que esse
relacionamento ele se apóia na instituição da representação política como uma
espécie de gargalo na relação entre a sociedade e o Estado. Não os pobres, mas
todos os que, de algum modo, dependem do Estado, são induzidos a uma relação de
trocas de favores com os políticos. (MARTINS, 1994, p. 29)
Desse modo, a relação se estabelece, nesse caso, na troca de “favores políticos”, por
“benefícios econômicos”, seja em que gradação for, pois, segundo ele, muito antes de os
pobres terem adquirido o direito de votar - e negociar o seu voto o Estado mantinha com
os “senhores de terras” (os ricos) uma relação de troca e favores, como pode ser observado
adiante e no terceiro capítulo deste trabalho.
2.2 - Algumas práticas clientelistas operadas no Maranhão
A despeito do debate, enfatizado por Ottmann, do dualismo do “tradicional” e do
“moderno” na sociedade brasileira, Martins explica que
A conduta ambígua dos brasileiros sugere que são esses os dois principais partidos
políticos do País: o do tradicional e o do moderno, mesclados entre si, um como
mediação do outro. Os políticos tradicionais e oligárquicos fazem política e se
revigoram politicamente tornando-se indispensáveis através de instituições
modernas. (MARTINS, 1994, p. 49)
Nessa perspectiva, é bastante difundida tanto no interior do estado como na capital
do Maranhão a prática de se criar associações, clubes de mães, escolas comunitárias e até
ONGs com o intuito de receber recursos públicos, principalmente em ano eleitoral. Sob a
égide de implementar políticas sociais, “tem muito vereador aqui que tem várias associações
45
para receber dinheiro da prefeitura e empregar os deles”. A esse tipo de clientelismo Farias
refere-se como estatal, o qual, segundo sua definição, é
A modalidade de clientelismo na qual os “políticos de profissão” distribuem
recursos “públicos” e favores ligados às instituições governamentais, em troca de
sustento eleitoral. Os cabos eleitorais tendem a dirigir-se a comunidades inteiras, e
menos a pessoas privadas. O clientelismo passa a ter um caráter grupal e impessoal,
visto que é mediado pela alocação de benefícios [aparentemente] públicos, o que
implica um mínimo de racionalidade administrativa. (1999, p. 24)
Foi justamente esse tipo de clientelismo que implicou na cassação do então
governador Jackson Lago, segundo decisão do TSE, ratificada por este Tribunal em 16 de
abril de 2009, em face de rias associações no interior do estado terem supostamente
recebido benefícios materiais do governo, visando o apoio eleitoral sob a forma de voto.
Aliás, questionamos aqui tal penalidade imposta a Jackson Lago, tendo em vista que a atual
governadora Roseana Sarney supostamente fizera uso de tais práticas nas eleições de 2002 e
2006, tendo sido encaminhadas as denúncias ao Tribunal Regional Eleitoral (TRE) e ao
Tribunal Superior Eleitoral (TSE), pelo então deputado estadual Aderson Lago, sem que, no
entanto, tivesse os mesmos desdobramentos jurídicos.
Portanto, as eleições no Maranhão costumam provocar alvoroços não só no
comportamento dos candidatos e nos movimentos sociais, como também dos eleitores. Tal
fenômeno é constatado a partir da intensidade de deslocamentos, da capital para o interior do
estado, de uma parte bastante significativa do eleitorado que insiste em manter suas ligações
políticas com a sua cidade de origem. O que nos chama atenção, é que os meios de transportes
utilizados (ônibus, vans, ferry-boat, trens e lanchas) partem todos lotados de São Luís e que,
mesmo diante das dificuldades de se conseguir transporte nesse período e do elevado preço
das passagens, considerando a precariedade financeira do eleitorado e da condição de estado
pobre e, ainda, tendo aquele a opção cômoda de justificar seu voto, o eleitorado se vê
motivado para a grande “festa do interior”. Qual o fator de motivação ou de ensejamento a tal
fato?
A explicação para tal questionamento e comportamento do eleitorado fomos buscar
através de um tipo de prática política clientelista que ocorre no Maranhão, transformada em
barganha eleitoral. Segundo Saes,
Trata-se, todavia, de um fenômeno político distinto do coronelismo, e que se
desenvolve exatamente ali, onde as práticas do coronelismo nunca se consolidaram,
ou onde o coronelismo decaiu em razão da desagregação das relações de
dominação e dependência pessoal. Tal fenômeno se exprime, basicamente, como
46
uma relação entre o cabo eleitoral e a sua clientela: uma troca de favores
econômicos por favores políticos, de vantagens materiais por votos. (1998, p. 95)
A história político-eleitoral brasileira é entranhada dessas “trocas de favores” que
podem ser recompensadas de forma direta ou indireta, ou seja, recompensas materiais
reforma de casa, doações de recursos públicos, contratação de serviços e obras civis,
empregos ou títulos, cargos, que se reverte em poderio político e instrumento de barganha.
No Maranhão isso não é diferente; o eleitor, por exemplo, “apóia quem apóia a gente”.
A utilização da cultura maranhense – principalmente através de suas principais
manifestações folclóricas, tais como o Bumba-meu-boi, Tambor de Crioula, Tambor de Mina,
Divino Espírito Santo, Quadrilhas de São João e as Escolas de Samba como mecanismo de
barganha de votos pelos políticos, se constitui uma prática político-eleitoral bastante
difundida no estado. Ocorre que, diante dos parcos recursos que tais grupos dispõem, estes
têm que apelar e contar com ajuda e os favores de políticos, ainda que seja na condição de
intermediários dos recursos oficiais do Estado clientelista, destinados para essa finalidade.
Entretanto, o que verificamos, é que o critério determinante para cada grupo receber
recursos governamentais é estar do lado do governo ou do político, o que aponta que nesse
condicionamento está implicada uma “troca”, a qual será retribuída e materializada por meio
do voto do grupo que se beneficiou do “favor” ou do compromisso assumido com o “cabo
eleitoral”, que é o líder do grupo.
Segundo Arleth Borges,
Além, ou por causa, da força eleitoral, vale-se do controle da máquina do governo
estadual e da maioria dos municípios, de influências sobre os poderes legislativo e
judiciário e sobre o Tribunal de Contas do Estado (TCE), do forte poder econômico
e controle privado dos meios de comunicação de massa e de manifestações culturais
populares. Com isso Sarney, Roseana e seus aliados mais devotados estimulam o
cultivo e o culto de imagem modernizadora, mobilizando para tanto arrojadas e caras
estratégias de marketing e uso da mídia (BORGES, 2005, p. 100)
Assim, como nas relações políticas podem conter uma maior ou menor dose de
clientelismo, também são variáveis os diversos níveis sociais nos quais essas práticas
clientelistas se reproduzem. Se o coronelismo encontra seu meio de reprodução na relação de
submissão das camadas mais pobres, que mantêm com o coronel uma relação de lealdade, o
clientelismo perpassa as várias camadas sociais, superando essa perspectiva de que o mais
pobre se submete à troca de favores e proteção política.
Desse modo, Farias justifica o comportamento desse eleitorado,
47
que se levar em conta que os trabalhadores têm um conhecimento dos
mecanismos de manipulação do voto. A avaliação de que os políticos são na maioria
“desonestos”, “interesseiros”, defensores da “panela deles indica uma percepção
das formas pelas quais são eleitos. As classes dominadas não apenas têm um
conhecimento da manipulação eleitoral, mas também tendem a jogar com essa
situação como uma “estratégia de diminuição de riscos”. Trata-se menos de um
conformismo, resultado da ignorância, que de uma prática defensiva, pois não se
vislumbram vantagens concretas em romper com os esquemas de manipulação.
(FARIAS, 1999, p. 123)
Desse modo, então, o eleitorado acaba formalizando, através dessas práticas político-
eleitorais um pacto no qual o exime de qualquer rótulo que venha qualificá-lo como
“alienado”, “ignorante”, “analfabeto”, “pobre miserável”, pois a sua ação não difere daqueles
“letrados” e “bem de situação” que trocam seus votos por cargos ou serviços no âmbito da
administração estadual. O comportamento desse eleitor expressa mais uma tática de defesa e
de melhor sobrevivência, que perdeu as esperanças no político como elemento capaz de
representar as grandes causas de interesse da coletividade, principalmente dos menos
favorecidos. Assim, constatamos, através dos variados exemplos descritos ao longo deste
trabalho, que a prática clientelista não se efetiva apenas no âmbito dos mais pobres ou no
nível de escolaridade mais baixo, o clientelismo político se faz presente em todas as instâncias
e níveis socioeconômicos.
Um desses exemplos de como se processam certas práticas clientelistas eleitorais no
Maranhão em torno da troca de votos envolvendo diferentes atores sociais, pode ser
observado através de uma Carta Aberta de autoria do deputado estadual Joaquim Haickel
dirigida à governadora Roseana Sarney, publicada no jornal O Estado do Maranhão, do dia
06 de dezembro de 2009. Nesta Carta, o mencionado deputado, da base aliada da
governadora, lamenta que:
Em quase vinte e oito anos de política (sete mandatos) eu nunca havia perdido
nenhum amigo ou correligionário. Perdi uma amiga pelo simples fato de eu ter
ligado para a mãe dela, que vota comigo doze anos, e ter comentado que haviam
me dito que ela estaria pedindo votos para um outro candidato e ela me respondeu
que estava fazendo isso porque este havia lhe dado um cargo comissionado no
governo.
O motivo da lamúria do deputado Haickel se deu em razão da governadora ter
recebido em audiência o prefeito de Altamira do Maranhão, Arnaldo Gomes (PT) - até então
adversário político da governadora – que lhe fora fazer vários pleitos para a sua administração
municipal. Ocorre que essa pauta de reivindicação do prefeito já tinha sido feita pelo deputado
48
ao governo anterior – Jackson Lago – não tendo sido atendido, devido ao fato de não
pertencer ao grupo político do ex-governador.
Segundo ainda a narrativa do deputado, este foi privado do apoio efetivo de dois
prefeitos, incluindo o de Altamira do Maranhão, outrora aliados de vários mandatos, pelo fato
de que o governo de então [Jackson Lago] bateu às suas portas oferecendo vantagens a seus
municípios que eles não poderiam recusar, sob pena de prejudicar seus munícipes.”
Diante da possibilidade de o supracitado parlamentar perder mais aliados e,
conseqüentemente, ter seus votos subtraídos, ele recorre à governadora em Carta Aberta
publicada em jornal de grande circulação para, em nome da sua lealdade ao grupo político da
governadora, preservar seu mandato na próxima legislatura. E a relação que ele fez para que
se consumasse a perda tanto da amiga como dos correligionários foi com o cargo que alguém
ocupa no governo e “das vantagens que tal cargo pode oferecer”. Nesse caminho, o deputado
também demonstrou que o uso da máquina é importante para cooptar prefeitos, outrora
“adversários políticos”, quando o governo do estado estava sob outro comando.
Assim, o deputado a demonstração clara da existência de práticas clientelistas no
governo do Maranhão, como instrumento de barganha de votos e da importância dessas
práticas como “meios de garantir o controle do topo do aparelho estatal pelos membros da
classe dominante”, (FARIAS, 1999, p. 101)
Outro exemplo interessante fomos buscar na relação entre o governo municipal de
São Luís e os vereadores da capital. Recentemente, os vereadores Fernando Lima e Rose
Sales, ambos do PCdoB, receberam mais de R$ 600 mil em emendas parlamentares da
Prefeitura de São Luís, conforme consta na edição do Diário Oficial do Município, datado de
07 de janeiro de 2010.
Ocorre que as entidades beneficiadas com tais recursos são dirigidas por parentes
desses vereadores, conforme divulgou o jornal O Estado do Maranhão, do dia 30 de janeiro
do corrente: “O Instituto Hugo Reis (homenagem ao pai da vereadora), presidido por
Henrique Moreira, marido da vereadora Rose Sales, recebeu R$ 330 mil. a Associação de
Pais e Amigos de Deficientes Auditivos (Apada), dirigida por Dirce Lima, esposa do vereador
Fernando Lima recebeu R$ 270 mil.”
Convém ressaltar que O PC do B faz “oposição” ao Prefeito João Castelo (PSDB),
tendo inclusive requerido na Justiça Eleitoral a cassação do seu mandato por abuso de poder
econômico.” As ações foram ajuizadas pelo deputado federal Flávio Dino (PCdoB). Ressalte-
se ainda que a cidade de São Luís é uma das poucas capitais do país em que o vereador
consolida emenda ao orçamento para suas bases eleitorais.
49
Verificamos, assim, que também o parlamentar, em uma instância mais superior,
precisa do apoio do governo (da máquina pública), para garantir e ampliar suas bases
eleitorais (os votos), tão necessários à sua continuidade no Parlamento.
Sobre essa relação dos parlamentares com os municípios maranhenses e de suas
intermediações junto ao Executivo Estadual, Borges esclarece que,
A persistente pobreza dos municípios maranhenses e, por conseguinte, a
dependência destes em relação ao governo estadual e federal, por outro lado,
favorece que esse grupo [Sarney] tenha enorme poder sobre as carreiras dos
políticos de modo geral, devido à sua posição de comando no governo estadual e
posição de intermediário privilegiado entre a esfera municipal e a federal.
(BORGES, 2005, p. 96)
Tal discussão passa pelo caráter da representação política do parlamentar junto aos
municípios que abrange o seu reduto eleitoral e pela maneira como os partidos e os políticos
se relacionam com a sociedade e o Estado, assim explicitado por Scott Mainwaring:
No Brasil contemporâneo, a questão de a quem e como alguém representa varia
enormemente de político para político. Não obstante, no fim das contas, é digna de
nota a medida em que a classe política representa os interesses das regiões do
interior brasileiro, os setores privilegiados da sociedade, e uma fusão perversa entre
o Estado e a própria classe política. A liberdade dos políticos de negociar como
quiserem e com quem quiserem foi um dos pilares fundamentais de um sistema
político elitista e patrimonialista, no qual muitos políticos talvez a maioria usou
essa autonomia para se apropriar privadamente da res publica. (MAINWARING,
1991, p. 55)
Essa relação entre os políticos e o Executivo é corroborada através do artigo de
Pereira e Mueller, denominado “Partidos Fracos na Arena Eleitoral e Partidos Fortes na Arena
Legislativa: a conexão eleitoral no Brasil”. Essa situação descrita por eles no plano federal é
análoga ao que ocorre no plano estadual.
Se, por um lado, pelas regras de seleção dos parlamentares, os deputados recebem
incentivos para se comportarem individualmente, por outro, em função do
funcionamento centralizado do processo decisório interno da mara, os deputados
recebem incentivos para se comportarem de acordo com o líder do partido e, por que
não dizer, de acordo com os interesses do presidente, no caso do presidencialismo de
coalizão majoritário brasileiro. (PEREIRA e MUELLER, 2003, p. 738)
Conforme posto por Pereira e Mueller, os parlamentares não agem individualmente
no Congresso, do mesmo modo que o Executivo não negocia no “varejo” o voto do
parlamentar. As medidas de interesse do Executivo são negociadas no “atacado” com o
comando da liderança de cada partido, o qual os parlamentares têm que seguir.
50
Para dispor desse poder de barganha, o Executivo conta, entre outros mecanismos,
com o instituto da Lei Orçamentária Anual (LOA), instrumento por meio do qual os
deputados têm aprovadas as suas emendas, cujo objetivo é o de beneficiar suas bases
eleitorais, o que, na prática, o Executivo tenta recompensar ou punir os parlamentares em
função das matérias de seus interesses.
Nessa perspectiva, Limongi e Figueiredo em “As reformas políticas e do Estado”
descrevem a posição vantajosa do Executivo para barganhar com os parlamentares:
Líderes partidários intermediam as relações entre o Executivo e as bancadas,
controlando e cobrando dos parlamentares a sua contrapartida em voto à sua
participação no governo. Por meio desta intermediação, líderes podem impor
disciplina às suas bancadas. Os recursos para tanto, ao menos, estão disponíveis.
(LIMONGI e FIGUEIREDO, 1996, p. 41)
O que os autores estão destacando é a importância do papel do Colégio de Líderes e
da Presidência da Mesa na decisão da pauta dos trabalhos legislativos, os quais sofrem,
também, forte controle por parte do Executivo. Desse modo, assim como o Executivo precisa
do voto do parlamentar para a aprovação das matérias de seu interesse, o político garante a
sua sobrevivência política através de benefícios concedidos por aquele. Assim, Pereira e
Mueller dão a dimensão dessa relação:
Se o deputado sistematicamente seguir a indicação do líder partidário, isto
naturalmente pode lhe trazer alguns benefícios políticos importantes, tais como sua
indicação para uma posição de destaque em uma comissão, maior empenho de seu
líder nas negociações de suas demandas junto ao Executivo, maior acesso a setores
do Executivo, ou mesmo ser nomeado Ministro ou ter o poder de indicar alguém de
sua confiança para um determinado ministério;... Ou benefícios financeiros, tais
como conseguir um emprego público para seu (a) sobrinho (a), obter uma dotação
orçamentária especial que gere benefícios diretos para seu eleitorado, conseguir uma
permissão (concessão) de um canal de rádio ou TV e assim por diante. (PEREIRA e
MUELLER, 2003, p. 744)
Ao contrário do que possam parecer, as posições de Pereira e Mueller e de
Figueiredo e Limongi não são conflitantes, no que diz respeito às relações que se estabelecem
entre o Executivo e Legislativo, apesar dos primeiros entenderem que o Executivo leva ligeira
vantagem na barganha política e os segundos afirmarem o contrário, ou seja, para estes “os
parlamentares seriam o lado forte”.
No Maranhão, o Executivo sempre foi o lado forte e hábil nas negociações com os
parlamentares. Não uma oposição significativa capaz de dar trabalho ou ameaçar as ações
do governo, o que possibilita ao Executivo navegar sem nenhuma tormenta.
51
Por outro lado, a indústria eleitoral com todos seus desdobramentos político-
financeiros ao envolver custos elevados para sustentação de campanhas, faz da grande
maioria parlamentar uma eterna dependente das benesses do governo, sem as quais não teria
sobrevida política. Isso tudo leva o senso comum a (des)qualificar o Legislativo como um
grande “balcão de negócios” que abrange não interesses públicos, partidários e eleitorais,
como também privados e particulares.
Talvez por isso, nessa complexidade, do jogo de interesses, ocorram de tempos em
tempos sérios problemas de representação política, que envolvem perda do controle da
corrupção, do crime organizado, do caixa dois e outras práticas entranhadas no cotidiano da
atividade política profissional.
Não é nosso propósito aprofundar aqui a discussão sobre as relações que se
estabelecem entre o Executivo e os parlamentares, mas sim saber a natureza dessas práticas
clientelistas no Maranhão e se estas se fundamentam nos interesses imediatos do eleitorado
em face de suas necessidades emergenciais ou se na sobrevivência política e reprodução dos
grupos que dominam a política no estado. Em todos esses casos parece se consolidar o caráter
privado de um tipo de clientelismo, expressado em uma determinada prática eleitoral, assim
destacado por Farias,
O Clientelismo privado deu origem à “máquina eleitoral”, que pode ser
caracterizada como uma organização eleitoral ligada quase exclusivamente a sua
clientela por interesses materiais particulares e especializada na organização e
distribuição de vantagens. (FARIAS, 1999, p. 23)
Também, ao que aponta as práticas clientelistas atualmente estão intrinsecamente
ligadas à estrutura do Estado, cujas práticas hoje não são mais possíveis de concretização sem
a participação direta do Executivo. Daí porque,
... as máquinas são caracterizadas como uma espécie particular de partido político,
cujo funcionamento baseia-se principalmente na utilização de incentivos materiais
específicos, implicando dispêndio de recursos monetários, ou alocação de bens e
prestação de serviços traduzíveis em termos monetários. Tais recompensas podem
ser concedidas tanto aos quadros e militantes, quanto a pessoas não integrantes da
organização partidária, porém que fazem parte de seu círculo de apoio, tais como
eleitores de zonas eleitorais específicas, cidadãos influentes, proprietários de jornais,
homens de negócios, entre outros (DINIZ, 1982, p. 32).
O entendimento sobre o clientelismo privado no Maranhão está no fato do político -
não em época de eleições, mas durante todo o seu mandato prestar serviços
assistencialistas ao eleitorado (aviamentos de receituários médicos, reforma de casa, aquisição
52
de material escolar, ajuda em transportes, etc.) como forma de garantir a sua continuidade no
Parlamento. Entretanto, com o passar do tempo, essa prática clientelista ganhou um novo
formato e foi se adequando a uma nova realidade socioeconômica, que essas e outras
necessidades foram institucionalizadas pelos governos em vários níveis como forma de
garantir direitos àqueles que se encontram nessa situação. Daí a dificuldade de se separar, em
alguns casos, o clientelismo privado da “máquina eleitoral”.
Raramente o político tira “dinheiro do próprio bolso” para prestar esses serviços, pois
o Estado os disponibilizou parte destes à população. Porém esta, especialmente sua parte
constituída como mais carente”, depende, via de regra, da intermediação do político para
consegui-los. Em quase tudo quanto é programa assistencialista promovido pelo Governo
Federal (“Viva Luz”, “Minha Casa Minha Gente”, “Programa Bolsa Família” e mais as
recentes - 2009 - criações do governo Roseana “Viva Gente”, “Viva Água”, “Viva Meu
Primeiro Emprego”), o político (ou seu cabo eleitoral) tem de se introduzir para fazer a sua
intermediação e, com esta, proselitismo e arregimentação eleitoral.
Observamos que, no caso do primeiro emprego, as pessoas selecionadas vão
trabalhar justamente nas empresas que direta ou indiretamente estão ligadas à família e/ou
grupo Sarney, como o Uniceuma, de propriedade do senador Mauro Fecury (era suplente de
Roseana) e os Supermercados Mateus, de propriedade de Ilson Mateus, o qual tem forte
ligação com a família Sarney. Convém ressaltar que quem paga os três primeiros meses de
trabalho do pessoal selecionado é o governo do estado.
Na recente inauguração (janeiro de 2010) de um conjunto de casas construídas onde
até então existiam palafitas, no bairro da Camboa e que contou com as presenças do
presidente Lula e da Ministra Dilma Rousseff, além da governadora Roseana Sarney, tais
imóveis foram entregues aos seus donos já mobiliadas: geladeira, cama, guarda-roupa.
Assim, tais Programas passam a ter uma configuração clientelista estatal e, em
períodos eleitorais, as autoridades jurídicas fazem “vista grossa” diante da proliferação de tais
“programas sociais.”
Recorrentemente, essas práticas são tidas como normais e fazem parte desse processo
das quais os políticos se apropriam para manter seus redutos políticos. Diferentemente do
clientelismo estatal abordado por Farias, no qual tem “um caráter grupal e impessoal”, o
contato, nesse caso, é feito entre a pessoa privada e o político ou seu preposto.
Farias, ao fazer a distinção entre coronelismo e clientelismo, afirma que tanto o
coronelismo quanto o clientelismo fazem parte de uma política de direita, sendo que no
coronelismo o agente político é o “coronel” e no clientelismo, o “cabo eleitoral”. As
53
condições estruturais para o estabelecimento dessas práticas se fundamentam nas relações de
produção pré-capitalistas, no caso do coronelismo; e nas relações de produção capitalistas, no
caso do clientelismo. Enquanto o primeiro se materializa através do “voto de cabresto”
originário do “eleitorado gregário” (produto do curral eleitoral), o segundo se consolida por
meio do “voto de barganha”, advindo do eleitor “livre” para negociar o seu voto. No geral, o
quadro político que se delineia no coronelismo é bipartido, ou seja, situacionista (governo) e
oposição, no clientelismo é tripartido, ou seja, de um lado a “oposição de direita”, a qual
compete com outro, o “governo,” e o terceiro, que é a “oposição de esquerda, a qual compete
com os dois. Aliás, embora ambos (coronelismo e clientelismo) estejam estruturados por laços
políticos, em termos de classes verticais, no coronelismo isso se dá por meio da “corporação”,
enquanto no clientelismo através da competição (a clientela eleitoral). (FARIAS, 1999 p.76)
Nessa perspectiva, o termo clientela tem a conotação mercantilista, principalmente
em períodos eleitorais, ou seja, considerando que as relações clientelistas se dão sob a forma
de trocas, o voto passa a ser configurado como mercadoria, que o eleitor, nesse tipo de
relação, não doa mais seu voto como outrora fazia em “fidelidade” ao “patrão-coronel”, agora
ele negocia, troca, vende, disso resulta uma cumplicidade entre o político e o eleitor, pois os
“benefícios” são quase que imediatos para ambos.
Com base no trabalho de Ottmann, identificamos outra forma de clientelismo político
muito utilizado no Maranhão, diz respeito à figura dos “cargos comissionados” no aparelho
estatal. O que observamos, é que o principal critério adotado para o preenchimento dos cargos
de maior relevância no serviço público do estado não se fundamenta na meritocracia, mas,
sim, na habilidade e na desenvoltura do pretenso candidato ao cargo exercer a função,
sobretudo, de “cabo eleitoral” do grupo político dominante.
Os legislativos municipais normalmente aprovam dotações orçamentárias que
subsidiam as atividades assistenciais privadas de seus membros, consolidando assim
suas bases de apoio eleitoral. Os políticos eleitos para os executivos municipais, por
sua vez, tendem a visar estrategicamente o “alvo” da implantação dos serviços
públicos e a convertê-los em “favores pessoais”, buscando ampliar seu eleitorado.
Uma vez que dependem do Poder Legislativo para viabilizar essa estratégia,
procuram firmar alianças com os políticos dos legislativos municipal, estadual e
federal a fim de assegurar a transferência de recursos às suas municipalidades e
maximizar sua “governabilidade”. Os inúmeros postos públicos preenchidos por
nomeação os chamados “cargos de confiança” são moeda corrente nesse
processo de barganha política por meio do qual as alianças são forjadas
(freqüentemente envolvendo trocas de partido). (OTTMANN, 2006, p. 159)
54
Ressalte-se que na composição do atual secretariado da governadora Roseana Sarney
existe sete deputados, o que possibilitou a ascensão aos parlamentos estadual e federal de
igual número de suplentes. Assim,
O crescimento recente do número de pessoas empregadas no setor público brasileiro,
caracterizando uma flagrante contradição com as proposta de redução do Estado e
revisão de suas atribuições, deixa de ser surpreendente se levarmos em conta que o
empreguismo atinge sobretudo os escalões superiores dos aparelhos estatais,
atendendo, em boa parte, ao imperativo de busca de sustentação política. (FARIAS,
1999, p. 116)
Na tentativa do grupo político dominante, que detém a máquina estatal, de atender os
compromissos políticos com seus correligionários, a estrutura burocrática do Estado é
ampliada sob o disfarce de “modernização”.
2.3 - O Maranhão, outra vez, na perspectiva modernizadora
E essa “invenção” foi feita no primeiro governo de Roseana Sarney (1995-1998) que,
a pretexto de modernizar a máquina burocrática estatal, criou várias Gerências (18 no total) no
interior do estado, com status de Secretaria, para abrigar seus correligionários, aumentando
assim o seu controle de mando (liderado pelo pai José Sarney) nos municípios maranhenses.
Embalada pelas medidas adotadas pelo Governo Fernando Henrique Cardoso,
principalmente no que diz respeito às privatizações e às idéias neoliberais do PSDB, Roseana
Sarney criou, através da Lei 7.359, de 29 de dezembro de 1998, as Gerências em
substituição às Secretarias Estaduais de Governo.
Tendo como mote a retórica “modernização, descentralização e eficiência
administrativa”, essa reforma tinha um caráter centralizador, já que alijava os deputados
estaduais do processo de intermediação das demandas e soluções alusivas às políticas dos
municípios, já que tradicionalmente exerciam essa função entre prefeitos e governo estadual.
A princípio, a criação das Gerências poderia até ser entendida como algo positivo,
que eliminaria, entre outros, alguns vícios da política local, que era a figura do “atravessador”
na administração pública - o deputado estadual - uma vez que este age tradicionalmente de
acordo com seus interesses eleitorais, os quais, na maioria das vezes, não coincidem com as
demandas dos munícipes.
55
Também essas Gerências tinham a finalidade de “descentralizar as ações do
governo” edar mais agilidade aos processos de decisão e na implantação de ações do
governo”, além de encurtar a distância entre o Executivo e a população do município. Porém,
na prática, serviu a outros propósitos:
Nos municípios em que as prefeituras eram administradas por adversários políticos,
a Gerência Regional atuava com maior intensidade, desenvolvendo projetos e obras
que, por contraste, desqualificassem ou ressaltasse a inoperância do governo
municipal. Agia-se assim em favor de algum adversário do prefeito. nas situações
em que os prefeitos tinham um alinhamento total ao executivo estadual, os gerentes
assumiam a condição de secretários extraordinários do prefeito e a Gerência
funcionava quase como uma secretaria municipal. (ARAÚJO, 2005, p. 54)
Desse modo, as Gerências acabaram funcionando como instrumento de práticas
clientelistas, na tentativa de fortalecer cada vez mais o poder do grupo que estava no comando
da máquina estadual, no caso a governadora Roseana Sarney.
A partir de 17 de abril de 2009, uma vez mais o governo do estado do Maranhão
retorna ao comando de Roseana Sarney, agora por decisão do TSE, conforme frisamos.
Como 2010 é um ano eleitoral e considerando a forma como se processou a sua volta, a lógica
do seu grupo político é a de demonstrar o quanto ela é necessária para o Maranhão, criando
fatos novos os quais possam se encaminhar para a retomada do crescimento econômico do
estado e colocar a população maranhense em perspectiva de dias melhores de condições de
vida, ao mesmo tempo tentar minimizar os péssimos indicadores sociais que envergonham o
país.
Assim, seis meses após ter assumido o governo, Roseana promoveu no período de 14
a 16 de outubro de 2009 um evento na capital intitulado Painel Empresarial Oportunidades
e Parcerias em que reuniu os investidores de peso da economia nacional.
Alardeado na mídia o tal evento - inclusive com produção de matéria jornalística de
doze páginas, o qual constou como encarte do jornal da família Sarney (O Estado do
Maranhão), do dia 18 de outubro (domingo) - do qual nos municiamos como fonte de
reprodução - o grande enfoque foi dado no montante dos investimentos previstos e na geração
de milhares de empregos aos maranhenses. Era a face do Maranhão moderno que se
apresentava não internamente, mas para todo o Brasil; naquele momento representado
pelos grandes investidores.
Para uma melhor compreensão desse “revolucionário” evento, sintetizamos abaixo,
sob forma de um quadro, o que esses investidores e as autoridades presentes falaram; e
56
elencamos apenas os principais projetos que, segundo eles, serão instalados no estado e os
“benefícios” que trarão, principalmente em termos de oportunidades de emprego:
Projetos Local Invest.
Previsto
(R$)
Empregos O que e quem falou
Expansão da
Refinaria -
Alumar
São Luís 5,5
bilhões
13.000 O Maranhão vive o mais alto desenvolvimento do
mundo, com pesados investimentos estatais e,
fundamentalmente, privados. (Franklin Feder,
presidente da Alcoa no Brasil)
Termelétrica
do Porto de
Itaqui
São Luís 1,4
bilhão
6.000 Um novo Brasil está acontecendo aqui no Maranhão,
onde existe essa parceria público-privada, porque os
projetos grandes necessitam dessa simbiose. (Eike
Batista, presidente do grupo EBX)
Fábrica da
Suzano de
Papel e
Celulose
Imperatriz 3,6
bilhões
23.000 Nós vamos fazer aqui não uma fábrica, mas atrair
fornecedores e montar um grande pólo de papel e
celulose se a gente tiver uma formação de pessoal de
recursos humanos muito intensa. (Antonio Maciel
Neto, presidente da Suzano)
Refinaria
Premium I -
Petrobrás
Bacabeira 19,8
bilhões
(US$)
132.000 Nós identificamos a necessidade de treinamento de
22.600 pessoas no Maranhão. Isso é imediato. Nós
precisamos iniciar o treinamento porque quando
começarem as obras as pessoas têm que estar treinadas
para serem empregadas, porque senão nós vamos ter
que trazer gente de fora para trabalhar aqui. (Sérgio
Gabrielli, presidente da Petrobrás)
Expansão da
Vale no
Maranhão
_ 7 bilhões
(US$)
2.500
postos de
trabalho
Esses investimentos, na sua conclusão, vão significar a
geração de dezenas de milhares de empregos e milhões
de dólares em divisas, contribuindo não para o
desenvolvimento da região, mas para todo o país. (José
Carlos Martins, diretor de Ferrosos da Vale)
Aciaria da
Gusa
Nordeste
Açailândia 300
milhões
2.000 Eu faço votos que o projeto que a governadora tem de
qualificação de mão-de-obra possa ser colocado
imediatamente em prática, porque com as condições
que o Maranhão tem, eu posso assegurar à senhora
que o Maranhão é um estado que tem um futuro muito
grande dentro do contexto do Brasil. (Ricardo
Nascimento, presidente do grupo Ferroeste)
57
Não poderíamos deixar de registrar também nessa oportunidade as palavras da
governadora Roseana Sarney,
O Maranhão vive hoje um dos momentos mais marcantes de sua história recente,
com a perspectiva real de crescimento exponencial nos próximos anos, decorrente
dos grandes investimentos que estão acontecendo. São mais de 80 bilhões de dólares
que irão gerar 150 mil empregos para a população e propiciarão oportunidades de
negócios nas diversas cadeias produtivas do estado. O que se ouvirá aqui não é
promessa. Nos próximos anos, de braços dados com a classe empresarial do nosso
estado, trabalharemos para consolidar, ampliar e modernizar os setores de ponta da
economia e oferecer condições privilegiadas de eficiência e competição nas áreas de
logística, serviços portuários, telecomunicações, lançamento de satélites,
agronegócio, silvicultura, petróleo e gás, mineração, siderurgia, metalurgia, geração
de energia, cultura e turismo. (...) Até o fim de novembro [2009], anunciarei o
Programa de Incentivos Industriais e de Tecnologia do Maranhão, o ProMaranhão.
Entre outras medidas, vamos zerar os impostos estaduais para as indústrias
pioneiras. (Governadora Roseana Sarney)
E do Ministro maranhense das Minas e Energia Edison Lobão, sobre essas “novas
perspectivas para o Maranhão”,
O nosso estado do Maranhão quarenta anos era apenas um território, não havia
aqui um palmo de asfalto. Foi o Dr. Sarney que começou tudo isso. Ele teve a
coragem de iniciar uma revolução no estado que, em muitos momentos, não foi
prosseguida. Não importa, cada um fez de qualquer modo a sua parte. Nós, agora,
vamos fazer a nossa ou vamos continuar a fazê-la, porque em nenhum momento o
nosso grupo deixou de cuidar dos interesses do povo. (Ministro Edison Lobão)
Podemos, talvez, estabelecer um marco temporal a partir desta data para melhor
examinar no futuro não muito distante, quais foram os desdobramentos desses projetos em
relação, principalmente, às condições de vida da população e dos seus indicadores sociais,
comparando-os aos atuais, a fim de que possamos nos instrumentalizar de mais elementos
visando à construção de novos fatos ou de velhas práticas. Por outro lado, entendemos que
esses atos agridem os interesses de grande parte da população do estado. Pois constituem clara
transformação de atos empresariais privados em ações de governo e, por esta via, no que se
chama de políticas públicas.
É claro que por trás de toda essa demonstração de força e prestígio político está a
figura de seu pai, o senador José Sarney, atualmente presidente do Senado Federal.
Em entrevista a Terra Magazine, em 20/01/2008, Marco Antônio Villa, professor do
departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de São Carlos, analisa a trajetória
de Sarney e afirma que “Sarney vende um apoio maior do que ele tem.” Diz ainda que: “ele só
tem poder no Maranhão, porque tem o poder em Brasília. É o poder nacional que dá base para
ele ter o poder local”.
58
A nosso ver, esta afirmação é tão unilateral como seria a oposta. A influência de
Sarney em Brasília tem muito a ver com o poder local e regional, que se projeta em uma
bancada de senadores liderada por ele no Congresso Nacional, cuja importância é bastante
significativa para os poderes Executivo e Judiciário. E esse poder que ele tem no Maranhão é
muito significativo, como será demonstrado no decorrer deste trabalho.
Constata-se, ainda, que a influência política de Sarney é produto de uma construção
que, por sua vez, está atrelada ao poder econômico que detém em parte materializada através
dos meios de comunicação, tão necessários para a manutenção e consolidação dos seus
projetos políticos e da sua relação com o poder central, para daí ampliar as suas relações
clientelistas.
Abordaremos a seguir a correlação de forças entre os principais grupos políticos no
Maranhão, em função do caráter de suas lideranças e das práticas políticas utilizadas em
períodos eleitorais.
59
3 - REPRODUÇÃO E EMBATES RECENTES NAS ELEIÇÕES NO MARANHÃO
(2002 – 2006)
Neste capítulo, examinamos as eleições majoritárias, principalmente, de 2002 e
2006, no que diz respeito às coligações e à distribuição de votos nos municípios (os mais
pobres e os mais desenvolvidos) no sentido de compreender a relação entre esses números e a
força política de suas principais lideranças no Maranhão, em dois momentos diferentes das
eleições (2002 e 2006):
Examinamos ainda outras formas de clientelismo e de cooptação de lideranças e os
embates políticos que ocorrem no estado, ressaltando a idéia do termo “oposição” no estado.
Traçamos também os perfis dos eleitores e dos eleitos, ao mesmo tempo em que apresentamos
e comentamos o resultado geral das eleições de 2006.
3.1 – A Frente de Libertação do Maranhão versus oligarquia Sarney
O grande fato novo ocorrido nos últimos 40 anos, no processo político eleitoral no
Maranhão foi a criação no ano eleitoral de 2006- de uma frente parlamentar, denominada
“Frente de Libertação do Maranhão”, produto da união de vários partidos, cujo propósito era
o de “libertar” o povo do domínio da oligarquia Sarney.
Essa coalizão, que redundou na vitória de Jackson Lago em 2006, e que tinha velhos
aliados de Sarney, usou como lema de campanha a “Libertação” - o mesmo utilizado na
“Greve de 51” cujo mote foi assimilado pela grande maioria dos eleitores como o início de
mudanças na forma de administrar a coisa pública e que traria, principalmente,
transformações profundas na base da sociedade. Assim, este sentimento foi plantado pela
“Frente de Libertação do Maranhão” e abstraído pelo povo como um prenúncio de um novo
tempo político no estado.
O que se constata é que, para impor a derrota ao sarneísmo nas eleições de 2006,
foram utilizadas pelos “oposicionistas” as mesmas práticas de cooptação de lideranças
políticas no interior do estado e as mesmas estratégias de poder econômico usadas pelo grupo
da oligarquia Sarney, como será demonstrado neste capítulo.
Tudo parece apontar para o fato de que, com a mudança política no comando
governo do estado, em função das eleições de 2006, não ocorreram as transformações
profundas que amplos contingentes da população vislumbraram. Curiosamente havia certas
60
condições para uma política de mudanças, haja vista o grupo liderado por Jackson Lago deter,
também, o controle político da Prefeitura da capital 20 anos, contados a partir de l989,
período no qual foi prefeito por três mandatos. Aliás, o PDT de Jackson Lago adquiriu o
caráter de uma oligarquia municipal, não por esse tempo em que controlou a Prefeitura de
São Luís, mas pela forma que tem atuado politicamente, cada vez mais identificado com as
práticas clientelistas do Grupo Sarney. Do mesmo modo, tudo isso não foi capaz de superar a
estrutura oligárquica no Maranhão.
Todavia, a polarização entre esses dois grupos políticos Sarney e Lago - nos leva a
questionar a forma como se a alternância de “poder” nas chamadas democracias eleitorais
e o discurso da livre escolha dos governantes pelos governados, sob a égide do voto. No caso
do Maranhão, as normas eleitorais, e a existência da patronagem e da dependência, bem como
do clientelismo eleitoral, parecem, entre outras, implicarem na reprodução dos grupos
políticos e das elites políticas no estado.
Tudo indica que as eleições periódicas e os discursos dos políticos profissionais
construídos com base nas demandas sociais do povo maranhense servem como instrumentos
para a legitimação, reprodução e perpetuação de grupos políticos, bem como para a
consolidação de oligarquias no estado. Pois o que se verifica é que os dominados somente se
mobilizam em períodos eleitorais e, neste caso, a grande maioria das pessoas, carentes de
assistência social e humanitária, vislumbra naqueles instantes a possibilidade de materializar
parte de suas necessidades imediatas. Se bem que não podemos atribuir apenas aos pobres tal
prática, conforme nossa abordagem demonstra.
Por outro lado, os políticos profissionais em geral têm consciência de que sem a
ajuda do Executivo, e da conseqüente máquina estadual, não se viabilizam e muito menos têm
sobrevida política. E esse é o fato mais importante para eles: consolidar os seus interesses e a
sua sobrevivência parlamentar. De modo que o grau dessa relação entre o Legislativo e o
Executivo (ou entre os partidos políticos e os governantes) é que vai determinar o futuro
político dos parlamentares e as suas relações com os seus eleitores.
E é nesse caminho que a “Frente de Libertação do Maranhão” seguiu. Oficialmente,
faziam parte daquela “Frente” os seguintes partidos: PDT, PAN e PPS, então coligados na
eleição proporcional para deputado federal, embora outras agremiações tenham feito parte
efetivamente daquele propósito, como PCdoB, PT e PSB, então na mesma coligação. E o
PSDB, mesmo sem estar coligado com nenhum partido, era um dos principais partidos
afinados com esse “projeto político”.
61
Ressalte-se a confusão que a “Frente de Libertação” passava para o eleitorado
através de seu discurso libertário”. Se os poderes - legislativos do município de São Luís e
do Estado e mais a chefia do governo estavam sob o comando da “Frente de Libertação”, o
povo do Maranhão seria libertado de quem ou de qual poder? Do mesmo modo havia certa
dificuldade para se entender os reais propósitos da “Frente de Libertação”, que muitos de
seus membros eram notórios governistas e conservadores.
Ocorre que tanto o governador José Reinaldo (PSB) como o prefeito Tadeu Palácio
(PDT) estavam apoiando a tal “Frente de Libertação”. Considerando esse fato de estarem
investidos nos principais postos de comando político no Estado e, ainda, de que a idéia de
“oposição” no campo político geralmente se caracterizar ao se opor ao grupo que está no
governo, verificamos um fato inédito nesse embate entre sarneístas e governistas: os
principais grupos políticos que estavam no comando do poder local uniram-se para fazer
“oposição” ao grupo que não detinha o poder legal na burocracia estatal, ou seja, tais grupos
saíram da condição de “vidraça” e passaram para a de “pedra”, atirando para todos os lados
na tentativa de diminuir a influência política do grupo Sarney no estado.
Diante dessa confusão de ordem conceitual, o termo oposição adquiriu um sentido
diferente a partir do conflito intra-oligárquico (José Reinaldo e Roseana Sarney). Como o
grupo Sarney comandava o governo estadual várias décadas, o termo “oposição” passou a
significar “anti-sarneísmo”. Por isso, os então governistas da gestão José Reinaldo e de
Jackson Lago passaram a se rotular de “oposição”, ao mesmo tempo em que os sarneístas
reivindicavam essa condição de “opositores”, já que não participavam do governo Sarney.
Assim, ser oposicionista no estado do Maranhão é, sobretudo, ser anti-Sarney.
Por outro lado, uma significativa parte dos membros dessa “Frente de Libertação”,
era, historicamente, da base contrária de apoio político do governador José Reinaldo por
suas fortes ligações com o grupo Sarney – até o dia em que este rompeu com a família Sarney.
Também existiam aqueles políticos que sempre aderiram ao grupo sarneísta, ou melhor, são
eternos governistas, mas, ao verem a máquina estadual mudar de comando, passaram a aderir
à “nova” concepção política.
Convém ressaltar que José Reinaldo, embora apoiando acintosamente a candidatura
de Jackson Lago ao governo do estado no turno das eleições, não pertencia àquela época a
nenhum partido do grupo político de Lago. Porém foi condicionado, impelido e incitado a
compor essa “Frente de Libertação”, a fim de ganhar mais espaço político em razão do seu
rompimento com a família Sarney. No auge desse conflito intra-oligárquico, José Reinaldo sai
62
do PFL e filia-se ao PTB e em outubro de 2005 ao PSB, partidos estes que não possuíam
tradição de oposição no estado.
Assim, sob o comando do então governador José Reinaldo Tavares, outrora aliado do
grupo Sarney, a “Frente de Libertação” elegeu 03 deputados federais além de 04 do PSDB, 01
do PT, 01 do PC do B e 02 do PSB, que integravam extra-oficialmente essa coligação,
totalizando assim 11 deputados federais dos 18 eleitos pelo estado do Maranhão, sendo que
dois deles (01 do PSB e 01 do PDT) são aliados do grupo Sarney, ao ponto de terem mudado
de partido, após a consolidação de suas eleições. Isso tudo aponta para um equilíbrio de forças
entre as hegemonias políticas do estado, que o grupo Sarney elegeu 07 (sete) deputados
federais, assim distribuídos: PMDB – 03, PV – 01, PTB – 01, PFL (DEM) – 02.
Na prática, desse modo, o resultado foi de 09 contra 09. Coincidentemente, o mesmo
ocorreu no plano estadual, onde o grupo Sarney conseguiu eleger 14 deputados, reeditando a
mesma coligação no plano federal. que, acrescente-se a este número, 07 deputados eleitos
por outros partidos, os quais sempre estiveram ao lado do grupo Sarney, embora, na prática, o
então governador Jackson Lago tivesse uma maioria na Assembléia, diante do universo de 42
deputados eleitos.
Entretanto, com a ascensão da ex-senadora Roseana Sarney ao governo do estado,
em razão da cassação de Jackson Lago por abuso do poder econômico, segundo o TSE, a sua
base aliada hoje ultrapassa o número de 30 deputados.
Por outro lado, a barganha política envolvendo o próprio PT no Maranhão, acirrou os
ânimos no interior do partido, em razão da cooptação de uma facção do partido por Roseana
Sarney. Isso fez com que se intensificassem as divergências existentes: a ala “comandada
pelo Deputado Federal Domingos Dutra, continua sendo de combate à oligarquia Sarney,
enquanto o suplente de Deputado Federal Washington Luís, (alinhado ao sarneísmo) ascendeu
à Câmara Federal, graças à interferência direta da governadora Roseana Sarney, em razão da
convocação do Deputado Federal titular, Waldir Maranhão (PP), para a Secretaria de Ciência
e Tecnologia.
É importante ressaltar que não apenas os “seguidores” de Washington, mas outros
setores do PT também aderiram ao governo Roseana, a exemplo de outro membro do partido,
José Antônio Heluy, filho da Deputada Estadual petista Helena Barros Heluy, que assumiu a
Secretaria de Trabalho e Economia Solidária. O que provocou um acirramento ainda maior no
interior do PT.
Todo esse cenário nos lembra um pouco do famoso embate entre “Davi e Golias”.
Isso ajuda a manter e fortalecer a figura construída no imaginário popular da idéia de José
63
Sarney como um homem poderoso, religioso, mágico, carismático, taumaturgo, que tudo pode
e faz. Além da autoridade legal que possui, adquirida em função de seus mandatos políticos, o
que ajuda crescer a sua legião de súditos e aliados e ao mesmo tempo espalhar o seu poder, a
figura de Sarney parece operar milagres, em face do que pode fazer.
Daí a importante contribuição de Weber:
Na realidade concreta, é indispensável dizer que a obediência dos súditos é
condicionada por motivos extremamente poderosos, implantados pelo medo ou pela
esperança tanto pelo medo de uma vingança das potências mágicas ou dos
detentores do poder quanto à esperança de uma recompensa nesta terra ou de outro
mundo. (WEBER, 2003, p. 61)
Dos três tipos “puros de dominação trabalhado por Weber legal, tradicional e
carismático ao que parece, Sarney incorpora todos eles. Aliás, essa questão da religiosidade
é muito forte no estado, de tal modo que o respeito dos eleitores a esses líderes carismáticos
geralmente é expressado através do voto. É normal se ver, a cada eleição municipal da capital,
por exemplo, representantes de terreiros de umbanda e de Igrejas Evangélicas na Câmara de
Vereadores.
Por isso, não foi à-toa a escolha do Pastor Porto como vice na chapa encabeçada pelo
então candidato a governador Jackson Lago. quem afirme que a sua participação na chapa
majoritária foi decisiva na vitória de Lago, o que teria sido ignorado pela sua opositora
Roseana Sarney.
Porém, todo esse poder político de Sarney e de seu grupo não contribuiu para
reverter os péssimos indicadores sociais do Maranhão, de acordo com os Institutos que
medem a qualidade de vida do brasileiro, em termos de expectativa de vida, educação, saúde,
segurança e emprego.
Também, na condição de estado mais pobre da Federação, é de supor-se que os
poderes econômicos e políticos no Maranhão constituam-se como componentes importantes
para favorecer a dominação dos poucos que tem muito sobre os muitos que tem pouco. Dessa
forma, essa extrema desigualdade de riqueza e poder parece contribuir na promoção do
estabelecimento de relações clientelistas e contribui na organização da atividade política que
há várias décadas se desenvolve no estado. Isso sem mencionar o fato de que a ineficiência do
Estado provoca também o desenvolvimento de instituições clientelistas.
Por outro lado, o patrimônio midiático do grupo Sarney é muito importante na
manutenção do poder de mando, no culto à sua figura e na propagação de práticas
clientelistas. Convém destacar que os principais meios de comunicação do Maranhão estão
64
todos hoje entregues ao comando de políticos. As repetidoras das redes Globo de Televisão,
SBT, Bandeirantes e Record, são comandadas, respectivamente, pelas famílias Sarney
(senador e atual residente do Senado), Lobão (senador licenciado e atual ministro das Minas e
Energia), Ribeiro (ex- presidente da Assembléia Legislativa do Estado, durante 12 anos e
atualmente no exercício de mandato de deputado estadual) e Rocha (deputado federal mais
votado nas eleições de 2006, filho do ex-governador Luiz Rocha).
É interessante destacar que todos eles são aliados históricos de José Sarney na
condução da política do Maranhão, com exceção de Rocha, um dissidente, cujo pai foi,
todavia, um fiel aliado da família Sarney. Igualmente, existem outras famílias espalhadas no
interior do estado que controlam também os meios de comunicação e estão alinhadas com o
grupo Sarney.
A respeito do poder dos meios de comunicação na política contemporânea, Octávio
Ianni afirma que:
É a mídia que forma e conforma ou influencia decisivamente, as mentes e os
corações de muitos, da grande maioria, em todo o mundo, compreendendo tribos,
nações e nacionalidades, ou continentes, ilhas e arquipélagos. Isto não significa que
o leitor, ouvinte, espectador, audiência ou público é inerte, passivo. É claro que ele é
sempre ativo, radicado no jogo das atividades sociais, compreendendo as condições
concretas de vida e trabalho. E não vida de que as situações sociais em que se
inserem os indivíduos e as coletividades são fundamentais no processo de
elaboração ou desenvolvimento da sua consciência social. Mas também é claro que
os meios de comunicação, informação e análise organizados na mídia e na indústria
cultural agem com muita força e preponderância, no modo pelo qual se formam as
mentes e os corações da grande maioria, pelo mundo afora. (IANNI, 1997, p. 21)
A concentração desse poder midiático compromete a liberdade de pensamento e de
opinião, o que cria, também, dificuldades para o processo democrático que o exercício do
direito de discordar, seja de um grupo ou de outro, quase não existe no Maranhão. Tendo em
vista que tais meios são controlados por políticos ou empresários (ou ambas as coisas), isso
contribui ainda para a difusão dos modelos clientelistas. Essa forma de controle social no
Maranhão está tão cristalizada, que se espraia para outras esferas onde permeiam as relações
de mando e de força. Não os grandes meios de comunicação, mas também a saúde, o
ensino superior e prédios públicos passam para o uso privado sendo, acintosamente
controlados pelo grupo Sarney, sem que isso lhes cause qualquer constrangimento.
Esta é uma das razões pelas quais a grande maioria dos políticos não tem a menor
preocupação com a repercussão do uso de práticas que agridem e afrontam parte substancial
da
população. A meritocracia técnica profissional, por exemplo, não se constitui em critério
de elegibilidade para conseguir emprego na administração pública. Daí porque “justifica” o
65
fato de o governador cassado Jackson Lago ter nomeado parentes próximos na sua
administração, apesar dessa prática nepotista ter sido sempre condenada por todos aqueles que
fazem “oposição” a José Sarney.
O grau de amizade ou parentesco se sobrepõe ao mérito por competência e são
determinantes na consolidação de práticas clientelistas e na reprodução dos grupos
oligárquicos no estado.
A esse respeito, em nossas conversas com o saudoso Professor Caldeira, este nos
informava que no Maranhão “os casamentos se dão na mesma classe social” (rica e com poder
político). A título de exemplo ilustramos abaixo apenas as relações familiares de alguns dos
filhos do Senador José Sarney; e logo a seguir alguns laços familiares da família Lago.
A Governadora Roseana Sarney é casada com o empresário Jorge Murad, que é
irmão do Deputado Estadual Ricardo Murad e da empresária Tereza Murad, que é casada com
Fernando Sarney (irmão de Roseana), que tem uma filha casada com um membro de
tradicional família maranhense – Dualibi – que por sua vez é parente da atual Vice-Prefeita de
São Luís Helena Dualibi, que é casada com o Deputado Estadual Afonso Manuel, que é
também próspero empresário.
Diante desse exemplo, observamos que a expressão “sarneísmo” não se refere apenas
aos membros da família Sarney, mas a rede familiar que se forma e se expande sobre diversos
interesses em jogo.
O cientista político Francisco Araújo esclarece que:
De forma combinada, tais agentes atuam em diversos espaços sociais para
inviabilizar a renovação política, diminuindo os espaços para as expressões
divergentes, como também agem para minimizar ou extinguir toda e qualquer
concorrência aos seus negócios. Essa teia comunga, a um só tempo, negócio
empresarial e domínio político, associação do patrimônio público ao patrimônio
privado, cujo campo relacional é marcado pela intermediação de interesses. Tal
exercício fere os princípios da res pública e da tradição democrática e do Estado de
Direito de forma recorrente e continuada, pois suprime, por esse pacto restrito e não
público, os princípios da meritocracia, da impessoalidade, do bem público separado
do privado, da supremacia do bem-comum frente aos interesses exclusivamente
particulares e pessoais. (ARAÚJO, 2005, p. 46)
Se formos construir aqui os vínculos familiares desses principais grupos políticos no
Maranhão (Lobão, Ribeiro, Archer, Sarney, Lago, Dualibi, Murad) verificaremos uma forte
marca de endogamia presente nessas relações, o que acaba provocando mais “uma
solidariedade afetiva do que racional e legal”. casos em que membros da mesma teia
familiar disputar vários cargos no Executivo Municipal e Câmara de Vereadores em diversos
municípios no interior do estado. Desse modo, entendemos que esses vínculos familiares
66
acabam interferindo também nas práticas políticas eleitorais no estado, embora esse fenômeno
parece não ser uma exclusividade da política maranhense, pois o estado apenas reproduz
algumas dessas mazelas nacionais.
Assim, constam no Diário Oficial do Poder Executivo do dia 05 de Janeiro de 2007,
as seguintes nomeações: Maria Clay Moreira Lima Lago para o cargo em comissão de
Secretária particular do Governador (mulher do então Governador Jackson Lago), Maria
Cristina Raposo Moreira Lima (cunhada) para o cargo em comissão de Secretária adjunta da
Casa Civil e Aderson Lago (primo) para Secretário-Chefe da Casa Civil. Existiram, ainda, na
estrutura de pessoal da administração de Jackson Lago um irmão Antonio Carlos Lago na
diretoria administrativo-financeira do Porto de Itaqui, órgão este com maior performance no
estado; e um outro – Wagner Lago – como Secretário Extraordinário da representação
política do Governo do Maranhão em Brasília/DF, afora o cunhado, José Reinaldo Moreira
Lima, na Assessoria Especial do Governador e o genro, Júlio Noronha, como titular da
Secretaria de Indústria e Comércio e, assim, outros tantos parentes em cargos de menor
relevância no governo.
Aliás, em entrevista à Revista VEJA de 29 de abril de 2009, Jackson Lago explica,
nesse particular, que “a diferença [sua para a família Sarney] é que os meus parentes recebiam
salários modestos” da administração pública governamental. Esse tipo de explicação dada por
uma autoridade governamental vem ratificar a nossa compreensão sobre a formação de
uma teia clientelista, legitimada pelo próprio estado. Assim, a meritocracia é suprimida pelos
mecanismos de clientelismo e nepotismo estatal. Por isso, para o eleitorado, tanto faz Sarney
ou Lago, “são todos farinha do mesmo saco”.
Diferentemente do Movimento Pró-Libertação do Maranhão, de 1951, organizado
pelos partidos de oposição em torno da não aceitação da vitória nas urnas de Eugênio Barros e
das práticas político-eleitorais desencadeadas pelo vitorinismo, a Frente de Libertação do
Maranhão, de 2006, parece não ter tido a mesma habilidade para conscientizar e arregimentar
os movimentos populares diante de crises políticas, tampouco para a militância contra os seus
“opositores”. Embora tenha vencido as eleições ao governo do Estado, a Frente de Libertação
do Maranhão, que tinha como principal liderança a figura política de JoReinaldo, então no
comando da máquina estadual, teve questionadas as práticas políticas adotadas nesse processo
eleitoral.
Podemos, assim, estabelecer a distinção entre esses dois movimentos, na tentativa de
compreender as ações que permaneceram ou que mudaram diante desses significativos
momentos políticos no Maranhão.
67
Movimento Pró-Libertação do
Maranhão - 1951
Frente de Libertação do
Maranhão - 2006
Questionamentos
- O caráter da escolha política do
eleitorado;
- A hegemonia política de uma oligarquia
e suas práticas eleitorais;
- O comportamento das instituições
jurídicas (TRE, TJ e TSE).
- A hegemonia política de
uma oligarquia e suas práticas
político-eleitorais.
Características
do Movimento
- Oposição ao governo. - Oposição ao sarneísmo.
Atores Políticos
- Partidos de oposição ao governo;
- Movimentos sociais.
- Partidos situacionistas;
- Movimentos sociais.
Ações
Desenvolvidas
- Greves;
- Mobilização dos partidos de oposição e
dos movimentos sociais;
- Paralisação das atividades produtivas;
- Reuniões, conscientização da
população, passeatas, comícios.
- Mobilização dos partidos
situacionistas;
- Passeatas, reuniões,
cooptação de lideranças
políticas no interior do
estado.
Desdobramentos
dessas Ações
- Confrontos com policiais, ocupação de
praças, incêndio do TRE, apedrejamento
de residências de juízes, escassez de
alimentos, prisões, mortes e feridos.
- Mudança (temporária) no
quadro partidário
governamental.
Desdobramentos
Políticos
- Fortalecimento dos partidos
situacionistas;
- Repercussão nacional e internacional;
- Fortalecimento da oligarquia via
instituições jurídico-eleitorais com a
manutenção do governador.
- Repercussão local;
- Fortalecimento dos partidos
de esquerda;
- Mudança temporária no
quadro partidário
governamental;
- Fortalecimento de uma
oligarquia via instituições
jurídicas (TRE, TSE, STF)
com a deposição do
governador.
- Enfraquecimento dos
partidos de esquerda.
A Frente de Libertação do Maranhão parece ter subestimado a capacidade de
articulação e o poder de seu principal adversário, o sarneísmo, ao mesmo tempo em que o
governador eleito, Jackson Lago, frustrou a expectativa do eleitorado, que via na sua figura de
homem público a materialização dos anseios da população e a possibilidade de tirar o
Maranhão do “atraso”.
Porém, no seu governo, além da ocorrência de sucessivos escândalos envolvendo
seus principais auxiliares inclusive o seu próprio nome, - ele se indispôs com algumas
categorias importantes de trabalhadores como professores, agentes civis, defensores públicos
e delegados de polícia, as quais fizeram uso de greves como forma de pressionar o governo
para que este atendesse às suas reivindicações.
68
Esse cenário se refletiu quando da sua deposição do governo. Imaginando que a
população estaria ao seu lado quando se aquartelou no “Palácio dos Leões”, logo que soube
do veredicto do TSE, favorável à Roseana Sarney, contou apenas com a solidariedade de
alguns auxiliares de sua administração e de sua base de apoio político na Assembléia e
Câmara dos Deputados.
Até alguns partidários do sarneísmo se surpreenderam com a reação da população,
como o Deputado Pedro Fernandes (PTB), que acreditava que haveria uma “revolta popular”
no Maranhão com a saída, via jurídica, de Jackson Lago do governo. Porém, nada disso
aconteceu.
Observamos no Maranhão uma precariedade na organização política dos partidos de
esquerda e dos movimentos sociais, o que reflete na atuação da sua militância nos dias atuais.
Talvez estejam enfraquecidos e fragilizados em razão das práticas utilizadas pela oligarquia
sarneísta no sentido de cooptar algumas dessas lideranças tanto no interior do estado como na
capital.
A outra face desse domínio é a fraqueza da oposição. Alguns dos seus mais
destacados representantes são ex-integrantes do grupo Sarney e mesmo o PDT,
principal partido de oposição, e sua liderança maior, Jackson Lago, tiveram seu
momento de aliança com a família Sarney, quando da eleição para prefeito de São
Luís em 2000. O PT, embora venha se fortalecendo no plano institucional, tem sido
duramente nocauteado pela aliança nacional do partido com José Sarney e Roseana,
desde a campanha eleitoral de 2002 e, sobretudo, agora, quando esta aliança se
tornou crucial devido ao lugar estratégico de Sarney, como presidente do Congresso,
e de Roseana como articuladora de votos e apoios para as reformas pretendidas por
Lula. (BORGES, 2005, p. 102)
Nessa perspectiva, Borges destaca ainda que,
O PSB entrou na campanha de 2002 ainda com o status de oposição, mas, no meio
da disputa, o candidato ao governo aliou-se à candidatura pefelista [José Reinaldo
Tavares], sendo posteriormente recompensado com um dos cargos de maior
destaque do governo estadual, enquanto os deputados estaduais do partido
integraram a base de apoio ao governo no legislativo, ainda que à custa de conflitos
e contraposições internas. O PCdoB participou dos dois governos de Roseana e os
demais partidos que tenham alguma expressão política ou eleitoral atuam como
satélites ou sublegendas do grupo dominante. (BORGES, 2005, p. 103)
Nesse aspecto, essa situação praticamente nada mudou desde as eleições municipais
de 2000 para cá. O que temos observado é que a ocorrência freqüente de cisões internas,
destacada por Borges, é mais um elemento que cria dificuldade nesses partidos de se
afirmarem como oposição de fato, o que acaba deixando muitos eleitores na orfandade, por
não ser mais referência para a militância.
69
O PT talvez seja o partido que mais tem sofrido com a influência do grupo Sarney
no estado, ou melhor, uma parte significativa de seus membros. A presença constante de
membros do Diretório Nacional no Diretório Regional por interferência do Presidente Lula
em razão do apoio político que recebe do Presidente do Senado José Sarney (PMDB) – com a
finalidade de atenuar os conflitos internos do Partido que derivam, primordialmente, da
aliança com o PMDB nacional, da qual faz parte o grupo liderado por Sarney, nos a
dimensão da relevância dos efeitos desses conflitos na construção do projeto político do PT
nacional nas eleições de 2010.
Convém ressaltar que a própria militância petista no Maranhão também é
responsável pelo o encolhimento eleitoral do Partido no estado, pois radicalizou em muitos de
seus encaminhamentos, principalmente diante da tentativa de desqualificar a postura política
do grupo Sarney, através de duras declarações na mídia e no horário eleitoral, as quais não são
mais aceitas pela população. Isso sem contar nos inúmeros conflitos no interior do Partido
que, quando não chega até as Delegacias de Polícia, esbarra nos Tribunais.
Desde as eleições municipais de 1996, o PT tem sofrido queda eleitoral em termos de
quantitativos de votos em São Luís, principalmente. Nestas eleições foram eleitos, segundo o
TRE, 02 vereadores. Já em 2000 foi eleito apenas 01 vereador. E nas eleições de 2004 e 2008
não conseguiu eleger nenhum vereador na capital, cujo cenário se refletiu nos demais
municípios do estado. Assim, pertencer a um partido de oposição, a exemplo do PT, implica
estar alijado de todo o processo clientelista no município, inclusive dos programas sociais
governamentais. “O PT é que nem mandacaru, não faz sombra e nem serve para se encostar.”
Nas eleições recentes (2009) do Diretório Regional, o comando do Partido passou
para o grupo que apoio político ao grupo Sarney, em particular ao Governo Roseana, no
qual integra a equipe principal de auxiliares.
Nessa perspectiva, o mesmo ocorreu com parte da militância do PDT, tendo
inclusive o Partido saído enfraquecido das eleições municipais de 2008, que em 2004
elegeu seis vereadores que agora se reduziram a dois. Para agravar ainda mais a situação, o
ex-prefeito pedetista Tadeu Palácio, um dos principais aliados históricos do grupo de Lago,
deixou-se seduzir pelo grupo Sarney e foi filiar-se no PMDB, sendo agraciado com uma
Secretaria (Turismo) no atual governo Roseana Sarney.
Dessa forma, a oligarquia sarneísta tal como a vitorinista tem em sua base de
apoio, além dos partidos de direita, partidos de centro e de esquerda, o que expressa a pouca
importância, neste caso, das siglas partidárias em termos de posição política ideológica.
70
Também fazem parte dessa base de apoio alguns militantes de outras organizações sociais
que, por esse principal motivo, estão enfraquecidas e até desacreditadas politicamente.
Desse modo, Araújo (2006) esclarece que “os setores de oposição assumem a
condição de forças anexadas ao bloco de sustentação do sarneísmo”, inclusive deixando de
priorizar a ação direta nos movimentos sociais, que muitos deles passaram a trabalhar nos
gabinetes da burocracia estatal. Aliás, isso também ocorreu com a parte sectária da militância
petista que passou a ocupar cargos de destaques ofertados pelo ex-governador José Reinaldo,
acentuando no Governo Jackson Lago.
Para garantir a continuidade de certos privilégios de alguns cargos de confiança do
governo e a fim de reforçar a sua base de apoio político, essas militâncias, outrora ativas,
principalmente do PT, PDT e PCdoB, passaram a adotar a tática da “negociação” e não mais
de “confrontos”. E como não houve uma renovação da militância, esses partidos foram
perdendo paulatinamente o caráter da impetuosidade e da postura crítica-questionadora, e até
mesmo a referência de movimento social, tão marcantes nas lutas das organizações sociais
ativas no estado. O que não parece não deixar dúvidas, por outro lado, é que tanto a esquerda
quanto a oposição passaram a se utilizar também de mecanismos clientelísticos, entre eles o
empreguismo, para garantir a reprodução dos grupos políticos no estado, em detrimento de
seu antigo propósito de instrumentos de organização de massa e de mobilização eleitoral.
É interessante destacar aqui um fato que ocorreu no dia 07 de abril de 2009 nove
dias antes de Jackson Lago ser deposto do Governo por decisão ratificada pelo TSE, embora
já tivesse sido cassado pelo mesmo Tribunal em março do mesmo ano.
A deputada estadual petista Helena Heluy promoveu em seu escritório político uma
sessão de estudo para debater naquela ocasião a situação política no Maranhão, na qual nos
fazíamos presente. Entre os debatedores do evento estavam o professor Wagner Cabral, da
UFMA, e o jornalista político Walter Rodrigues, responsável por um blog bastante consultado
pelos internautas maranhenses. Na platéia, universitários, professores, militantes e políticos.
Para Cabral, “o pivô da disputa entre os grupos Lago e Sarney, é tão somente o poder político,
que não é capaz de melhorar as condições de vida da população miserável que vive no estado,
cuja capital tem relativamente uma das maiores concentrações de renda no país, com índices
comparáveis às grandes cidades industriais”. Já para Rodrigues, “Jackson Lago foi cassado
não por ter cometido corrupção, que é a prática comum no processo eleitoral no estado, mas
pela exacerbação da prática”.
Parece que a sede de ganhar as eleições e, consequentemente, continuar no poder era
tanta que o grupo que apoiou a candidatura Lago não conseguiu operacionalizar o discurso
71
que tanto pregara junto à população, condenando o uso da “máquina eleitoral” em favor do
grupo Sarney. Por outro lado, a “militância oposicionista” relegou a tarefa de arregimentar
novos militantes e fortalecer a já existente.
3.2 - O perfil do eleitorado maranhense
Em relação às eleições de 2002, o eleitorado maranhense cresceu 15% em 2006, ou
seja, passou de 3.391.814 para 3.920.608, o que supera, segundo dados do TSE, a média
nacional no período (9,25%) e da própria população maranhense que foi de 6,57%, pela
estimativa do IBGE. Dessa forma, entre os estados da Federação, o Maranhão foi um dos que
apresentou maior crescimento demográfico, ficando atrás apenas dos estados do Amapá,
Amazonas, Pará e Alagoas.
Entretanto, esses dados ainda são insuficientes para colocar o Maranhão entre os
mais participativos na vida política nacional. Esse eleitorado representa apenas 63% da
população maranhense, o que aponta para uma exclusão desta modalidade de exercício da
cidadania. Ao compararmos com os outros estados, a posição do Maranhão nesse aspecto está
em 21º lugar, à frente dos estados do Acre, Alagoas, Pará, Amapá, Roraima e Amazonas. O
eleitorado maranhense é composto, em sua maioria, de mulheres, cujo percentual (51%)
coincide com o da população feminina do estado. Esse dado é importante para verificarmos a
participação da mulher na política e sua contribuição na efetivação de políticas afirmativas de
gênero e mesmo de representação parlamentar. Em relação a 2002, houve uma evolução desse
eleitorado em 1% - que naquelas eleições a outra metade era do sexo masculino - o que
equivale a aproximadamente 39.000 eleitores, segundo dados do TRE.
Quanto à faixa etária, a maioria dos eleitores encontra-se na idade entre 25-59 anos
(60%); 16 a 24 anos, 27% e 60 anos ou mais, 13%. Notamos que o intervalo compreendido no
primeiro caso é muito grande, mas é o que consta nos dados estatísticos do TRE. Traduzidos
em outros números e comparando com a situação de 2002, temos o seguinte quadro:
72
923363
2039958
428493
16 a 24 anos 25 a 59 anos 60 anos ou mais
2002
16 a 24 anos 25 a 59 anos 60 anos ou mais
1052100
2355464
513044
16 a 24 anos 25 a 59 anos 60 anos ou mais
2006
16 a 24 anos 25 a 59 anos 60 anos ou mais
(Fonte: TRE- MA)
no item escolaridade, comparando a situação de 2002 com a de 2006, constata-se
que não houve significativas melhorias no grau de instrução dos eleitores maranhenses,
embora o índice de eleitores analfabeto tenha caído de 17,36% para 16,15% no período,
segundo o TRE. Nas demais situações, o quadro ficou assim:
Grau de Instrução 2002 2006
Não informado
0,24% 0,14%
Lê e escreve 31,15% 26,96%
Primeiro Grau (completo) 5,29% 5,41%
Primeiro Grau (incompleto): 28,82% 30,99%
Segundo Grau (completo) 7,07% 7,42%
Segundo Grau (incompleto) 8,83% 11,53%
Superior (completo) 0,75% 0,81%
Superior (incompleto): 0,49% 0,59%
(Fonte: TRE- MA)
73
Se somarmos o percentual de analfabetos (2006) com o percentual daqueles que
declararam que somente lêem e escrevem - mas que não se enquadram na situação daqueles
que não concluíram o ensino fundamental
6
teremos um percentual de 43,11% entre
analfabetos e semi-analfabetos em 2006, o que representa um número muito alto dos que
sequer entraram em uma escola de ensino fundamental. Se somarmos ainda a este percentual
de 43% os percentuais correspondentes àqueles que cursaram o ensino fundamental (completo
e incompleto), chegaremos a um resultado de 79,51% de eleitores que não iniciaram o curso
de ensino médio.
Traduzindo esses números em palavras, implica dizer que aproximadamente 80% do
eleitorado maranhense não dispõem de uma formação profissional qualificada, capaz de
atender as exigências do mercado de trabalho.
Diante desse cenário fazemos as seguintes indagações: Quais os tipos de benefícios
clientelistas oferecidos pelos políticos no Maranhão e os mais atrativos? Existem diferenças
nas formas de efetivação da satisfação das necessidades no passado e no presente? Quem são
os doadores das campanhas eleitorais? Quais as características estruturais do atual sistema
clientelista? Quais as formas de clientelismo operadas no Maranhão, além das destacadas
até aqui?
As respostas para tais questionamentos serão mais bem explicitadas a partir da
revelação de outros dados importantes observados, os quais se incorporarão aos até aqui
trabalhados, a fim de nos dá uma melhor compreensão da nossa pesquisa.
Constatamos a importância fundamental dos programas sociais tanto do governo
federal como estadual na vida das famílias carentes maranhenses por meio de “benefícios
implementados pela política assistencialista, os quais quase sempre são intermediados por
políticos, ou seus prepostos, com relação a escolha dos destinatários desses “benefícios”. Por
outro lado, considerando o universo em que essas pessoas necessitadas habitam, com pouca
ou quase nenhuma informação política, verifica-se uma interdependência de fato entre
candidatos e eleitores, embora os interesses sejam conflitantes em relação aos resultados
buscados.
A despeito da compreensão do eleitor sobre o papel do parlamentar, Borges destaca
que,
6
De acordo com a atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), 9.394 de 20 de dezembro de
1996, Art. 21, a composição dos níveis escolares passou a ter uma nova nomenclatura que muitas instituições
ainda não se adequaram a essa nova realidade. A supracitada Lei estabelece que a educação escolar compõe-se
de: I- educação básica, formada pela educação infantil, ensino fundamental e ensino médio; II- educação
superior.
74
A visão majoritária de que eleitores de classes sociais mais baixas compreendem
menos o papel dos membros do poder Legislativo é coerente com o entendimento de
muitos parlamentares de que o eleitor pouco valoriza o seu voto, que é dado em
troca de dinheiro ou assistência. Isto, nas palavras de um deputado, leva a que, ‘após
a eleição, o deputado não assuma compromisso nenhum com o eleitor, porque a sua
colaboração já foi paga’. (BORGES, 2005, p. 160)
Do mesmo modo que o deputado entende que não tem “compromisso nenhum com o
eleitor” em razão da materialização de uma troca de um benefício por voto, observamos, por
outro lado, que o eleitor maranhense está tão consciente que o “deputado não faz nada” e que
“cada dia está mais rico” que procura, quando necessita, o político para tirar dele tudo que
pode e até o que não deve para a satisfação de suas necessidades, como é o caso de
identificação por parte dos órgãos públicos de fraudes no cadastro do Bolsa Família e em
outros programas assistenciais.
O caráter da sua informação (do eleitor) pode não ser capaz de mudar a situação de
miséria da grande maioria da população do estado, compreendendo o que é difícil de
compreensão até mesmo aos mais letrados, mas esse eleitorado tem uma capacidade de
discernimento e observação ao perceber a mudança repentina do estilo de vida daqueles que
entram na política, cuja ostentação é feita sem o menor constrangimento, chegando às vezes
ao acinte.
O Maranhão vive um permanente quadro de miséria. O fenômeno do medo
proveniente do estado de violência que se instaurou em muitos municípios também é
constante. Em períodos eleitorais os ânimos se exaltam mais ainda, prevalecendo quase
sempre a lei do mais forte, o que favorece a manutenção e a reprodução de práticas
clientelistas.
3.3 - Resultado Geral das Eleições (2006)
para lembrar: o governador eleito em 2002 foi José Reinaldo Tavares, o qual
venceu a eleição logo no primeiro turno com a força de seu padrinho político JoSarney,
mas que no meio do seu mandato, em função de uma crise intra-oligárquica, rompeu com toda
a família do padrinho. Convém ressaltar que todos os cargos públicos que José Reinaldo
exerceu até o momento Superintendente da SUDENE, Presidente da NOVACAP, Ministro
dos Transportes, deputado federal, vice-governador, governador – foram efetivados através de
Sarney.
75
No turno das eleições de 2006 houve um comparecimento de 3.103.527 eleitores
ou 79,15% dos aptos a votar. Logo, a abstenção foi 817.081 ou 20,84%. Deste
comparecimento, apenas 2.715.810 foram validados, ou seja, entre os votos nulos e brancos,
387.717 eleitores não consolidaram seus votos. no turno, considerando-se o número de
eleitores aptos a votar (3.920.608), houve uma abstenção de 24,16%, ou seja, compareceram
apenas 75,83% ou 2.973.091 eleitores. Destes, foram validados somente 2.689.634, ficando
fora da contagem 283.457 votos que foram descartados como nulos e brancos.
A diferença, portanto, entre os que estavam habilitados a votar e os que validaram
seus votos foi de 1.230.974 eleitores, o que representa um percentual de 31% de participação
passiva desse processo eleitoral de 2006 no Maranhão. Em outras palavras, este número
representa um total bastante significativo de eleitores que se omitiram em participar
ativamente do processo eleitoral no estado. Tais dados podem apontar para o fato dessas
eleições terem sido mais uma recusa do que uma escolha, ao se considerar, ainda, que a
abstenção no estado foi a mais alta do país, conforme quadro a seguir:
ABSTENÇÃO ABSTENÇÃO
ESTADO 1º TURNO 2º TURNO ESTADO 1º TURNO 2º TURNO
AC 18,96% PB 16,30% 17,14%
AL 18,59% PE 18,24% 19,94%
AM 17,75% PI 16,14%
AP 14,27% PR 16,20% 17,56%
BA 20,68% RJ 15,01% 17,34%
CE 17,38% RN 14,81% 16,72%
DF 13,88% RO 20,50%
ES 16,83% RR 14,70%
GO 17,14% 20,42% RS 13,85% 15,44%
MA 20,84% 24,16%
SC 13,92% 15,23%
MG 17,88% SE 14,48%
MS 14,43% SP 15,21%
MT 20,13% TO 18,19%
PA 19,82% 24,14%
(Fonte: TSE)
Pode ser também que parte do eleitorado tenha perdido o interesse na eleição para o
governo do estado por entender que “são tudo farinha do mesmo saco”. O caráter da
representatividade política pode ser questionado ainda já que apenas 44% da população
participaram ativamente dessas eleições, embora o eleitorado maranhense represente 63%
desta (o que é pouco), sendo que o governador eleito obteve somente 22,8 % dos votos da
população.
76
Desse modo, as eleições majoritárias no Maranhão e as proporcionais (deputado
federal) tiveram os resultados a seguir.
3.3.1 – Governador
Aptos: 3.920.608
Comparecimento Abstenção
1º Turno 3.103.527 817.081
2º Turno 2.973.091 947.517
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 933.089 1.393.754 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 1.282.053 1.295.880 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 387.337 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 93.651 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 11.987 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 6.159 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 1.534 Não eleito
BRANCOS 79.295 23.259
NULOS 308.422 260.198
(Fonte: TRE-MA)
Se verificarmos a diferença de votos entre o primeiro e segundo colocados ao cargo
de Governador, encontraremos o quantitativo de 97.874 favoráveis ao candidato eleito
Jackson Lago (líder do grupo anti-Sarney no Maranhão). E se for aplicado o mesmo cálculo
para a outra eleição majoritária (senador), a constatação será a de que a diferença de votos
entre o eleito e o segundo colocado foi bem próxima ao que ocorreu na eleição de governador,
ou seja, 97.539, sendo que o eleito Epitácio Cafeteira pertence ao grupo político liderado
por Sarney, o que representa um peso político bem significativo na perpetuação de uma das
principais forças no estado, haja vista os outros dois senadores, na metade dos mandatos,
pertencerem à mesma base aliada de Sarney.
Parece ficar claro que o embate é mais de interesses pessoais do que ideológico, pois
tão logo José Reinaldo rompeu as relações com a família Sarney, quase todos os
parlamentares que eram aliados de Sarney viraram “reinaldistas” e apenas 06 deputados
passaram a fazer oposição explícita ao governador José Reinaldo. Ou seja, há uma tradição no
âmbito da instituição do Parlamento Estadual do Maranhão, nessas últimas quatro décadas, de
não haver oposição significativa de parlamentares ao governador de plantão, tal postura
contribui para a permanência da maioria dos deputados, ou de seus prepostos, a cada
legislatura na Assembléia Legislativa. Daí porque essa maioria parlamentar ser uma eterna
dependente das benesses do governo.
77
3.3.1.1 - As eleições de 2006 nos 10 maiores colégios eleitorais do Estado o embate
entre o grupo Sarney e seus “opositores” na eleição para governador.
Dos 217 municípios maranhenses, Roseana Sarney saiu vencedora em 134. Ocorre
que nos 10 maiores colégios eleitorais do estado houve empate (5 x 5). Mas, os votos obtidos
por Jackson Lago na capital (São Luís) e no principal colégio eleitoral do interior do estado
(Imperatriz) foram decisivos na consagração da sua vitória, o que implicou também, em um
volume eleitoral ligeiramente superior da “oposição”, conforme distribuição dos municípios
abaixo:
01. SÃO LUÍS
Aptos: 615.977
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 512.202 103.775 13.251 37.748
2º Turno 495.751 120.226 4.152 23.666
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 233.323 311.634 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 148.794 156.299 Não eleito
02. IMPERATRIZ
Aptos: 145.265
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 114.973 30.292 2.843 6.096
2º Turno 111.912 33.353 651 7.135
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 48.901 79.987 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 24.087 24.139 Não eleito
03. TIMON
Aptos: 89.866
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 72.306 17.560 2.412 7.417
2º Turno 71.038 18.828 775 8.153
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 18.483 24.898 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 26.346 37.212 Não eleito
04. CAXIAS
Aptos: 91.158
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 69.905 21.253 1.784 7.625
2º Turno 68.118 23.040 688 6.805
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 6.412 30.662 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 27.704 29.963 Não eleito
05. CODÓ
Aptos: 73.067
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 50.583 22.484 1.400 5.968
2º Turno 49.346 23.721 494 5.301
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 17.431 22.997 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 20.952 20.554 Não eleito
78
06. AÇAILÂNDIA
Aptos: 61.029
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 47.922 13.107 1.483 3.323
2º Turno 45.802 15.227 361 4.415
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 13.256 20.315 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 22.327 20.711 Não eleito
07. BACABAL
Aptos: 60.551
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 46.325 14.226 1.038 4.233
2º Turno 44.785 15.766 370 3.693
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 17.031 19.504 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 17.747 21.218 Não eleito
08. SÃO JOSÉ DE RIBAMAR
Aptos: 53.511
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 44.279 9.232 991 3.196
2º Turno 42.683 10.828 306 2.634
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 18.159 22.561 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 15.212 17.182 Não eleito
09. SANTA INÊS
Aptos: 49.452
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 39.775 9.677 923 3.578
2º Turno 38.406 11.046 251 2.863
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 14.474 17.548 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 14.378 17.744 Não eleito
10. BARRA DO CORDA
Aptos: 48.241
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 37.922 10.319 1.342 4.498
2º Turno 36.364 11.877 386 3.956
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 4.631 9.621 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 24.790 22.401 Não eleito
(Fonte: TRE-MA)
Notamos que em Caxias o número de eleitores aptos a votar (91.158) foi menor que
em Timon (89.866), mas o número de comparecimento deste município às urnas foi maior
que em Caxias, devido à abstenção ter sido bastante significativa, em torno aproximado de
26%.
A tese levantada por muitos estudiosos da política do Maranhão, entre esta a da
Cientista Política Arleth Borges, de que a “hegemonia do Grupo Sarney tem como locus
privilegiado os pequenos municípios, pois, nos maiores colégios eleitorais, são menores as
79
margens de apoio a esse grupo...” (2005, p. 96) não se confirmou nas eleições de 2006, pelo
menos no que diz respeito aos 10 maiores aqui discriminados.
Se considerarmos o turno das eleições quando a disputa se travava entre as duas
maiores forças políticas no estado e, portanto, o comando do governo estadual ainda não tinha
definido oficialmente o seu candidato - constataremos que o candidato Jackson Lago venceu
apenas em três dos dez maiores colégios eleitorais do estado: São Luís e Imperatriz (1º e
maiores colégios eleitorais, respectivamente) e São José de Ribamar (8º). Já a candidata
Roseana Sarney, venceu em Timon (3º), Caxias (4º), Codó (5º), Açailândia (6º), Bacabal (7º),
Santa Inês (9º) e Barra do Corda (10º), obtendo uma significativa vantagem de votos, em
relação ao seu principal concorrente, na grande maioria desses municípios.
Com relação ao turno, verificamos viradas espetaculares pró-Jackson em relação
ao turno, como em Imperatriz que de 48.901 votos saltou para 79.987; em Timon, de
18.483 para 24.898; em Caxias, de 6.412 votos para 30.662; em Codó, de 17.431 para 22.997
e em Açailândia, de 13.256 para 20.315 votos. Convém ressaltar que Jackson Lago estava
sendo apoiado por todos os prefeitos desses municípios, com exceção de Timon, que apoiou a
candidatura Roseana. Aliás, esses feitos eleitorais em alguns desses municípios constou na
peça jurídica que derrubou Lago do governo do estado, por “abuso do poder político”.
O que demonstramos, é que não passa de mito a idéia de que o grupo Sarney só leva
mais vantagem em termos de votos nos municípios menores. Os embates entre os grupos
políticos no Maranhão são travados em todas as localidades em busca pela consolidação do
poder. Porém, o que deve ser analisado é a importância da “máquina eleitoral” nas eleições do
estado. Não podemos deixar de levar em consideração a significativa mudança estrutural
ocorrida no contexto das eleições de 2002 (a qual Arleth Borges se apega) para as de 2006,
em razão do comando da máquina estadual estar fora do controle do grupo Sarney.
Como o grupo Sarney controlava o governo do estado até as eleições de 2002, era
imaginada que a sua força residisse apenas nos municípios menores. Diante disso, as
oposições e as militâncias políticas procuravam fazer campanhas mais enfaticamente nos
municípios maiores, até mesmo por uma questão de otimização de custos. Porém, a realidade
de 2006 foi outra. A quina estadual mudou de comando e parecia não haver limites para
gastos, já que os recursos eram públicos e, desse modo, como pode ser comprovado, foi
decisivo na virada espetacular no turno a favor de Jackson, com relação ao turno, tanto
em alguns municípios maiores, como em outros menores, principalmente, como verificaremos
adiante.
80
3.3.1.2 – Como foram as eleições nos 10 municípios com menor número de eleitores
Com relação aos dez menores colégios eleitorais do estado, também aqui não se
confirmou, por outro lado, o domínio absoluto da força política do grupo Sarney conforme
afirma Arleth Borges: “quanto menor e mais pobre é o município, mais forte é o apoio aos
partidos e candidatos governistas
7
e menor o apoio aos oposicionistas” (BORGES, 2005 p.
100). Isto porque, mesmo com a vantagem de votos na maioria desses municípios a favor de
Roseana Sarney, a “oposição” - Jackson Lago virou o placar a seu favor em todos esses
municípios em relação ao turno, sendo beneficiada, em termos de votos, inclusive com
viradas espetaculares no turno das eleições, como podemos constatar. Essa disputa,
portanto, foi acirradíssima e não havia o caráter de escolha deste ou daquele lugar, tampouco
territórios demarcados ideologicamente.
01. BERNARDO DO MEARIM
Aptos: 4.011
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 3.222 789 79 363
2º Turno 3.156 855 27 272
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 709 1.039 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 1.980 1.818 Não eleito
02. SUCUPIRA DO RIACHÃO
Aptos: 3.907
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 3.151 756 58 384
2º Turno 3.019 888 23 297
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 77 408 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 2.552 2.291 Não eleito
03. SÃO ROBERTO
Aptos: 3.646
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.971 675 40 264
2º Turno 2.851 795 9 201
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 1.590 1.640 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 866 1.001 Não eleito
04. JUNCO DO MARANHÃO
Aptos: 3.947
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.971 976 56 367
2º Turno 2.885 1.062 18 284
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 328 657 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 2.061 1.926 Não eleito
7
A referência que Borges faz do termo “governistas” refere-se ao grupo Sarney, o qual estava no comando do
governo do estado em 2002.
81
05. BACURITUBA
Aptos: 3.958
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.928 1.030 48 269
2º Turno 2.755 1.203 20 173
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 233 1.257 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 1.454 1.305 Não eleito
06. NOVA COLINAS
Aptos: 3.432
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.920 512 42 316
2º Turno 2.803 629 17 242
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 1.071 1.379 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 1.305 1.165 Não eleito
07. BOA VISTA DO GURUPI
Aptos: 3.684
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.908 776 46 262
2º Turno 2.708 976 19 259
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 1.364 1.597 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 905 833 Não eleito
08. SÃO FÉLIX DE BALSAS
Aptos: 3.389
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.800 589 85 268
2º Turno 2.485 904 17 322
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 120 305 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 2.198 1.841 Não eleito
09. NOVA IORQUE
Aptos: 3.351
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.709 642 70 334
2º Turno 2.603 748 18 295
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 87 374 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 2.094 1.916 Não Eleito
10. SÃO PEDRO DOS CRENTES
Aptos: 3.214
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 2.701 513 28 196
2º Turno 2.586 628 7 227
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 925 1.370 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 1.367 982 Não eleito
(Fonte: TRE-MA)
Nesses municípios com menor número de eleitores, Roseana Sarney venceu em
Bacurituba, Junco do Maranhão, Nova Iorque, São Félix de Balsas, Sucupira do Riachão e
Bernardo do Mearim. E Jackson Lago em Nova Colinas, São Pedro dos Crentes, São Roberto
82
e Boa Vista do Gurupi, nestes obteve 9.926 votos. Roseana obteve 15.078 votos naqueles
municípios.
O total de votos obtidos por Jackson Lago no turno em muitos outros municípios,
tanto menores quanto maiores, é praticamente o somatório do que obteve no turno,
acrescido dos votos dos outros dois candidatos mais votados que faziam oposição a Roseana
Sarney, o que pode apontar para uma possível transferência de votos a favor de Lago ou o
suposto uso da máquina estadual como fator determinante da vitória de Jackson Lago. É o que
demonstra o resultado apresentado pelos seguintes municípios:
AÇAILÂNDIA
Aptos: 61.029
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 47.922 13.107 1.483 3.323
2º Turno 45.802 15.227 361 4.415
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 13.256 20.315 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 22.327 20.711 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 3.695 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 3.673 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 92 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 68 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 5 Não eleito
AMARANTE DO MARANHÃO
Aptos: 19.245
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 15.888 3.357 235 1.862
2º Turno 15.079 4.166 99 2.014
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 1.704 3.942 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 10.356 9.024 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 1.111 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 578 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 25 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 11 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 6 Não eleito
ARARI
Aptos: 19.524
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 15.673 3.851 750 1.469
2º Turno 14.639 4.885 172 1.285
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 4.447 6.865 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 7.052 6.317 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 1.547 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 326 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 48 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 27 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 7 Não eleito
83
BURITI
Aptos: 16.896
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 13.336 3.560 447 1.624
2º Turno 12.643 4.253 131 1.667
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 1.989 4.892 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 6.350 5.953 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 2.032 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 862 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 19 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 11 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 2 Não eleito
CAXIAS
Aptos: 91.158
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 69.905 21.253 1.784 7.625
2º Turno 68.118 23.040 688 6.805
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 6.412 30.662 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 27.704 29.963 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 24.414 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 1.705 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 150 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 93 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 18 Não eleito
COLINAS
Aptos: 22.063
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 17.154 4.909 357 2.265
2º Turno 16.738 5.325 122 1.962
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 1.197 5.201 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 9.552 9.453 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 2.981 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 729 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 56 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 15 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 2 Não eleito
COELHO NETO
Aptos: 32.246
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 24.320 7.926 885 2.897
2º Turno 23.560 8.686 242 2.783
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 3.667 8.403 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 12.713 12.132 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 3.382 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 690 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 64 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 17 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 5 Não eleito
84
COROATÁ
Aptos: 39.450
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 30.434 9.016 627 3.697
2º Turno 30.008 9.442 303 2.845
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 11.204 13.159 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 12.715 13.701 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 1.612 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 513 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 36 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 21 Não eleito
27 ANTONIO AUGUSTO SILVA ARAGAO PSDC 9 Não eleito
GOVERNADOR EDISON LOBÃO
Aptos: 7.734
Comparecimento: Abstenção: Brancos: Nulos:
1º Turno 6.215 1.519 88 419
2º Turno 5.876 1.858 27 544
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 1.651 2.907 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 2.736 2.398 Não eleito
40 EDSON CARVALHO VIDIGAL PSB 1.007 Não eleito
45 ADERSON DE CARVALHO LAGO FILHO PSDB 277 Não eleito
56 JOAO MELO E SOUSA BENTIVI PRONA 32 Não eleito
50 CARLOS SATURNINO MOREIRA FILHO PSOL 5 Não eleito
(Fonte: TRE-MA)
situações em que Jackson Lago mais que dobrou seus votos, em relação ao
turno, em algumas outras localidades menores e médias, como é o caso dos seguintes
municípios:
MUNICÍPIO 1º TURNO 2º TURNO
Governador Nunes Freire 2.156 4.099
Itaipava do Grajaú 271 2.467
Lago da Pedra 2.514 11.772
Lago do Junco 300 2.379
Lago dos Rodrigues 529 2.606
Lago Verde 2.192 4.219
Lagoa Grande do Maranhão 1.279 3.276
Magalhães de Almeida 377 3.164
Mata Roma 960 4.875
Matões 1.396 3.503
Palmeirândia 1.299 3.942
Passagem Franca 1.225 2.514
Pastos Bons 694 4.143
Paulino Neves 985 2.669
Presidente Dutra 3.087 9.151
São Domingos do Maranhão 668 8.722
João Batista 1.726 4.503
São João do Sóter 844 2.257
Tuntum 520 9.478
Turiaçu 3.031 5.686
Urbano Santos 1.866 7.361
Santa Rita 1.991 7.718
(Fonte: TRE-MA)
85
Uma vez mais, não podemos afirmar que a força do grupo Sarney é maior nos
pequenos municípios, os chamados grotões que, além de reduzido número de eleitores e os
piores indicadores sociais, apresentam mercado de baixíssima competitividade e, pode-se
dizer, oligarquizado,...”, conforme destaca Borges em sua tese. (Borges, 2005, p. 98).
O que parece ficar claro, é que tanto o grupo Sarney como o grupo Lago tem se
beneficiado eleitoralmente dessa situação de extrema pobreza da população e do uso da
máquina estadual, visando ampliar seus espaços políticos por meio de práticas clientelistas.
Com base na leitura desses números isso pode apontar, em um primeiro momento,
para o fato de ter havido uma transferência de votos, principalmente se formos levar em
consideração que os demais candidatos que disputaram o turno estavam apoiando
explicitamente a candidatura Lago no 2º turno. Por outro lado, não podemos deixar de
destacar também a tradicional importância da máquina estadual nessas eleições de 2006
como em tantas outras ocorridas no Maranhão - sob o comando de José Reinaldo, o qual
apoiava entusiasticamente a candidatura Lago. É tanto o fato que foi comprovado não
juridicamente (TSE, Ministério Público, Procuradoria Federal), como também testemunhado e
relatado por pessoas que acompanharam todo esse processo eleitoral de 2006, conforme
declarações contidas no bojo da nossa abordagem.
Desse modo, constata-se a importância da “máquina eleitoral” como principal
instrumento para a reprodução desses grupos hegemônicos. Seguindo esse entendimento,
Flávio Reis assim se manifesta:
Sem a máquina estadual, Lago provavelmente não teria vencido, e não porque a
maioria da população não desejasse derrotar a família Sarney, pois tal sentimento
vem se desenvolvendo tempos, tendo se colocado na eleição de 1994, quando o
então oposicionista Epitácio Cafeteira perdeu em mais uma virada de mesa; ou no
pleito de 2002, que elegeu justamente José Reinaldo contra o mesmo Jackson Lago,
quando a utilização da máquina estadual foi novamente larga e ostensiva, um
verdadeiro escândalo que a mídia nacional preferiu não ver. (REIS, 2007, p.14)
Aliás, dos estados do nordeste que tinham candidatos apoiados pelo governo
estadual, o Maranhão foi o único que elegeu seu governador dentre aqueles que não
disputavam reeleição. Esse aspecto é interessante para se analisar em que medida as regras da
legislação eleitoral e o uso da máquina estatal favorecem, também, a manutenção das
oligarquias no Maranhão.
Outro fato interessante a registrar desse embate eleitoral em 2006 dos grupos
políticos hegemônicos, é que dos 217 municípios maranhenses o então candidato Jackson
Lago teve um crescimento bastante expressivo em todos esses municípios, com exceção
86
apenas de três deles onde perdeu votos em relação ao primeiro turno das eleições, de acordo
com o quadro a seguir:
PINHEIRO
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 17.106 16.124 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 13.150 16.849 Não eleito
SANTA HELENA
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 6.071 5.923 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 6.070 7.042 o eleito
TURILÂNDIA
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
12 JACKSON KEPLER LAGO PDT 4.282 4.149 Eleito
25 ROSEANA SARNEY MURAD PFL 2.498 2.970 o eleito
(Fonte: TRE-MA)
Quanto às informações prestadas pelos dois candidatos ao governo do estado sobre a
prestação de suas contas de campanha ao TRE nas eleições de 2006, constatamos que, no caso
de Jackson Lago, o valor das receitas totalizou R$ 3.367.035,00, sendo que destacamos 23
pessoas jurídicas listadas como doadoras de recursos para a campanha: 14 são construtoras,
02 do setor comercial, 02 do setor agrícola, 02 do setor hospitalar, 01 de segurança, 01 do
setor hoteleiro e 01 do setor educacional.
Mais de um terço do valor da receita informada pelo então candidato Jackson Lago é
proveniente de construtoras, importando a quantia de R$ 1.209.500,00.
Quanto ao valor das receitas informadas pela então candidata Roseana Sarney,
totalizou R$ 6.935.160,17. Das 28 pessoas jurídicas listadas como doadoras de recursos para a
campanha 14 são construtoras, 06 do setor comercial e representações, 03 do setor de
mineração e química, 01 do setor educacional, 01 do setor bancário (Banco Alvorada), 01 do
setor de bebidas, do próprio comitê financeiro do partido e da Confederação Brasileira de
Futebol (CBF). Só para ilustrar: o filho de José Sarney, Fernando, é vice-presidente da CBF.
Percebemos, uma vez mais, a relação entre economia e a política (votos), a qual não
se apenas entre os mais carentes, os mais necessitados, e o seu interlocutor político. Essa
relação também se estabelece entre o poder político e o poder econômico. O construtor, o
empresário, o banqueiro e o grande capitalista em geral participam ativamente da vida
política, sob o disfarce de “doadores” de recursos financeiros para as campanhas eleitorais,
sendo que tais recursos são convertidos em votos para o político.
87
Na verdade, são investidores que estão sempre se articulando com os políticos, com
o intuito de obter favores e privilégios do governo. Esses favores se dão sob diversas maneiras
e de forma legal, como na construção civil, na divulgação de matérias de interesse do governo
na mídia e na efetivação de serviços em geral. E inclusive situações previstas em lei que
dispensa até licitação, como “nos casos de emergência ou de calamidade pública...” (Lei
8.666, de 21 de junho de 1993, Art., 24).
Dessa forma, o voto transmuta-se em mercadoria, passando a ter equivalência
econômica neste e nos outros casos em que o clientelismo se faz presente; a política de
clientela torna-se uma das formas de inserção dos capitalistas no campo da ação política”,
conforme afirma Farias (1999, p. 20).
Não é à-toa que muitos desses capitalistas se beneficiam até com a desgraça dos
despossuídos, como em situações de secas ou de enchentes, nas quais são “convocados” pelas
autoridades do governo para minimizar o sofrimento dessa gente, por meio de prestação de
serviços ao estado e venda de materiais ou alimentos. E nessas ocasiões a figura do deputado,
além do prefeito, se faz presente para levar os benefícios para a população prejudicada, com o
intuito de tirar proveitos da situação.
Conhecedor profundo desses fatos, o presidente Lula em visita ao Maranhão no dia
07 de maio de 2009 para ver de perto o problema das enchentes que atingiram vários
municípios do estado - o que provocou a destruição de várias moradias, pontes e estradas
deu recado “duro” aos prefeitos das áreas atingidas presentes em uma reunião improvisada no
aeroporto da capital: “façam projetos bem feitos para que seja possível a liberação de recursos
para o município, pois se o projeto estiver mal feito os recursos não sairão”, (Jornal O Estado
do Maranhão, 08/5/09).
88
3.3.2 – Perfil dos Deputados Eleitos (2002 – 2006)
A princípio, não era o nosso propósito fazer qualquer abordagem sobre eleições
proporcionais, já que havíamos demarcado o limite das eleições apenas no campo majoritário,
com ênfase na de governador. Porém, verificamos que esses deputados não atuam de forma
isolada, pois são reprodutores das relações clientelistas que estão estruturadas no poder
estadual e é a partir dessas relações simbióticas que os grupos políticos também vão
consolidando as suas hegemonias e se reproduzindo no estado.
Constatamos que, entre os candidatos eleitos no Maranhão nas eleições
proporcionais, o quadro de parlamentares é composto em sua grande maioria de advogados,
vindo a seguir médicos, administradores, engenheiros e prósperos comerciantes, sendo que
dos 18 deputados federais eleitos 15 tem o grau de instrução superior completo, 01
incompleto e 02 o ensino médio.
Isto leva a crer que a política não é um meio de ascensão social, como também é
a garantia privada de manutenção do progresso econômico, pois não se tem conhecimento que
alguém tenha ficado menos pobre ou menos rico na política do estado, muito pelo contrário.
Daí porque aqueles que mais têm estrutura econômica são os que saem vencedores, conforme
atesta o perfil que traçamos dos dezoito deputados federais eleitos.
NOME PARTIDO
ATUAL
OCUPAÇÃO/PROFISSÃO/ ATIVIDADES EXERCIDAS
1-Clóvis Fecury DEM Engenheiro Civil, empresário do ensino superior, inclusive com
instituições em Brasília (Euroamericana) e Belém-PA (UNICEUPA),
além de São Luís (UNICEUMA). Filho do Senador Mauro Fecury
2-Nice Lobão DEM Empresária do ramos das comunicações, cuja família é dona da
representante do canal SBT no estado. Esposa do Ministro das Minas
e Energia Edson Lobão e mãe do senador Lobão Filho.
3-Pinto da
Itamaraty
PSDB Administrador, empresário, regueiro e festeiro. Aluga radiolas no
estado, promovendo festas de reggae.
4-Waldir Maranhão PP Veterinário, ex-reitor da Universidade Estadual do Maranhão, e
comerciante de gêneros alimentícios.
5-Sebastião
Madeira
PSDB Médico e atual prefeito de Imperatriz.
6-Sétimo Waquim PMDB Professor de ensino médio da rede pública, no estado do Piauí; Ex-
Secretário Municipal de Esportes e Lazer, esposo da atual prefeita de
Timon
7-Pedro Fernandes PTB Engenheiro Civil, ex-presidente da Companhia de Limpeza e
Serviços Urbanos de São Luís; Ex-Secretário Municipal de Obras e
Transportes, São Luís; Ex-Secretário Municipal de Infra-Estrutura.
Irmão do deputado estadual Manoel Ribeiro, que foi presidente da
Assembléia Legislativa durante doze anos.
8-Pedro Novais PMDB Advogado, Ex- Auditor Fiscal do Tesouro Nacional e ex-Secretário
da Fazenda do Estado do Maranhão e fazendeiro.
89
9-Roberto Rocha PSDB Administrador, empresário do ramo das comunicações, proprietário
da repetidora da rede Record no estado e de várias estações de rádio
AM e FM. Filho do ex-governador Luiz Rocha. Foi o deputado mais
votado no estado.
10-Sarney Filho PV Advogado, filho do Senador José Sarney. Ex-Ministro de Meio
Ambiente. Segundo deputado mais votado no estado.
11-Julião Amim PDT Advogado, ex-Secretário de Estado e ex-diretor do Banco do Estado
do Maranhão. Na administração da capital já ocupou os cargos de
Secretário da Fazenda, Secretário Chefe de Gabinete e Secretário
Extraordinário de Segurança Alimentar.
12-Gastão Vieira PMDB Advogado, ex-secretário de Educação do estado e grande aliado da
família Sarney. Atualmente, está licenciado da Câmara Federal para
exercer o cargo de secretário de Estado de Planejamento do Governo
do Maranhão.
13-Ribamar Alves PSB Médico, empresário do ramo hospitalar. Aliás, a maioria dos
hospitais no interior do estado é controlada por políticos.
14-Davi Silva Jr. PDT Comerciante bem sucedido da região de Imperatriz, herdeiro político
do pai, ex-deputado federal, assassinado em 1998.
15-Domingos Dutra PT Advogado, fundador do PT no estado, advém da luta junto às
Comunidades Eclesiais de Base (CEB’s), ex-vice prefeito de São
Luís
16-Flavio Dino PCdoB Ex-juiz federal garantiu sua eleição na 3ª cidade mais importante do
estado (Caxias). Filho do ex-prefeito de João Lisboa vio Dino,
tradicional aliado do grupo Sarney.
17-Carlos Brandão PSDB Empresário, ex-secretário de estado no governo de Jo Reinaldo.
Também foi diretor da Rádio e Televisão Nova Era.
18-Cléber Verde PAN Bacharel em Direito, professor, servidor público federal (INSS). Sua
principal bandeira de luta diz respeito aos aposentados.
(Fonte: TRE-MA)
Verificamos que mais da metade desses deputados exerceu cargos na
administração pública e a maioria deles dispõe de grandes recursos econômicos e segue a
tradição da política como atividade de elites formalmente instruídas em termos de
escolaridade. Também percebemos a relação de parentesco dessa maioria com outros políticos
do estado e a sua origem advinda de famílias mais urbanizadas.
Convém ressaltar que o deputado Flávio Dino além de ter garantido sua eleição na
terceira cidade mais importante do estado, onde recebeu importante apoio do prefeito local
Humberto Coutinho então adversário político de Roseana, seus adversários o acusam de ter
sido um dos principais beneficiários da máquina estadual nas eleições de 2006, sob o
comando do ex-aliado do Senador José Sarney, José Reinaldo Tavares. Esse mesmo
entendimento é imputado a outros - “oposicionistas governistas” - deputados federais eleitos:
Carlos Brandão, Julião Amim, Roberto Rocha (o mais votado) Ribamar Alves e Domingos
Dutra.
Ao compararmos o quadro de deputados estaduais e federais eleitos em 2006 com o
de 2002, por ocupação, segundo declaração do próprio eleito, temos o seguinte cenário:
90
Profissão Declarada 2002 2006
A- Administrador 4 4
B- Advogado 5 8
C- Aposentado (Exceto Servidor Público) 1 1
D- Comerciante 2 3
E- Comunicólogo 1 -
F- Deputado 15 15
G- Economista 2 2
H- Empresário 4 2
I- Engenheiro 4 2
J- Estudante, Bolsista, Estagiário e Assemelhados 1 1
L - Jornalista e Redator 1 1
M- Médico 6 5
N- Outros 3 6
O- Professor de Ensino Médio 1 1
P- Professor de Ensino Superior 2 2
Q- Servidor Público Estadual 1 1
R- Servidor Público Federal 1 1
S- Servidor Público Municipal 1 1
T- Sociólogo 1 -
U- Trabalhador Rural 2 1
V- Vereador 1 2
X- Veterinário 1 1
(Fonte: TRE-MA)
Quanto ao grau de instrução dos deputados estaduais e federais eleitos, o quadro
comparativo entre os anos de 2002 e 2006 é o seguinte:
Grau de Instrução Eleições: 2002 2006
A- 1º Grau completo 2 2
B- 1º Grau incompleto 1
C- 2º Grau completo 4 10
D- 2º Grau incompleto 1
E- Lê e escreve 1
F- Não informado 2
G- Superior completo 46 45
H- Superior incompleto 3 3
(Fonte: TRE-MA)
91
Observamos que, no caso da profissão declarada pelos então candidatos junto ao
TRE, uma parte significativa destes (15) declarou o cargo de deputado como “profissão”, em
razão do tempo que ocupa no parlamento, assumindo, portanto, a sua condição de político
profissional, quando muitos não querem ser estigmatizados como tal.
Verificamos certa semelhança, tanto no caso da profissão declarada quanto no grau
de instrução, das eleições de 2002 com a de 2006. E em ambas se confirma a predominância
dos eleitos com formação instrucional superior.
Paradoxalmente o Maranhão se destacasse na mídia nacional por ter a primeira
mulher no comando do governo do estado (1994), a representação feminina nos parlamentos
estadual e federal ainda não é muito expressiva. Ao compararmos o quadro atual (relativo às
eleições de 2006) com o de 2002, verificamos não ser muito diferente deste, apesar de ter
havido uma diminuição do número de cadeiras nesta legislatura. Dos 42 deputados estaduais
eleitos em 2002 havia nove mulheres e dos dezoito deputados federais eleitos havia duas.
em 2006 foram eleitas sete deputadas estaduais: Cleide Coutinho (PSDB),
Eliziane Gama (PPS), Graciete Lisboa (PSDB), Helena Heluy (PT), Graça Paz (PDT), Fátima
Vieira (PSDB) e Maura Jorge (PDT). E para a Câmara Federal foi (re) eleita apenas uma
mulher: Nice Lobão (PMDB), esposa do atual Ministro das Minas e Energia e senador
licenciado Edison Lobão.
Ao observar as informações prestadas ao TRE pelos parlamentares eleitos em 2006,
com respeito aos gastos de campanha e da origem das doações, nos surpreendemos com os
valores apresentados por muitos deles.
Dos 18 Deputados Federais eleitos, 10 deles afirmam que entraram com recursos
próprios como parte de seus gastos de campanha:
Deputado Gastos Totais de Campanha (R$) Recursos Próprios (R$)
1. Waldir Maranhão 359.520,00 100.000,00
2. Sarney Filho 320.612,91 2.000,00
3. Flávio Dino 566.627,74*
4. Domingos Dutra 111.009,98 80.00,00
5. Clóvis Fecury 520.600,00 250.600,00
6. Nice Lobão 342.830,00*
7. Gastão Vieira 227.000,00 25.000,00
8. Carlos Brandão 133.000,37 0,37
9. Roberto Rocha 266.495,45*
10. Pedro Fernandes 153.809,01 55.149,01
92
11. Julião Amin 97.185,00 51.760,00
12. Cleber Verde 240.120,00 115.220,00
13. Sétimo Waquim 274.541,51*
14. Davi Silva Júnior
15. Sebastião Madeira 448.894,89 33.500,00
16. Ribamar Alves
17. Pedro Novais
18. Pinto Itamaraty
(Fonte: TRE-MA)
*
100% oriundo do comitê financeiro estadual.
Tais valores parecem não corresponder, na prática, ao estilo de campanha
desenvolvido pelos candidatos eleitos, contrastando com o poder econômico ostentado.
Verificamos, ainda, no bojo das “doações” efetivadas a presença de grandes construtoras,
algumas conhecidas nacionalmente como a OAS, Camargo Corrêa, Norberto Odebrecht,
Gautama, sendo esta envolvida recentemente (2009) em escândalos financeiros por supostos
superfaturamentos em diversas obras espalhadas pelo país, inclusive no Maranhão, onde
membros dos grupos Lago e Sarney foram citados pela Controladoria Geral da União.
3.3.3 - Senador
Nº Candidato Partido 1º Turno 2º Turno Situação
141 EPITACIO CAFETEIRA AFONSO PEREIRA PTB 1.016.240 Eleito
455 JOAO CASTELO RIBEIRO GONCALVES PSDB 918.701 Não eleito
131 UBIRAJARA DO PINDARE ALMEIDA PT 557.035 Não eleito
401 LUIZ SOARES FILHO PSB 35.304 Não eleito
361 NAZARE BEZERRA CARVALHO COLLINS PTC 25.909 Não eleito
567 LUIZ CARLOS BARBOSA NOLETO PRONA 17.655 Não eleito
163 RAMON SILVA GOMES PSTU 4.743 Não eleito
O vencedor para o Senado da República nas eleições de 2006 foi o candidato apoiado
pelo grupo Sarney, Epitácio Cafeteira, do PTB, de 85 anos de idade (27/06/1924), mas com
muita disposição física para os embates políticos. Com a eleição de Cafeteira, o senado
maranhense passou a ter 03 senadores integrantes do mesmo grupo político liderado por
Sarney, sendo que dois deles Mauro Fecury e Edison Lobão Filho não foram votados para
o cargo de senador, haja vista serem suplentes dos senadores titulares (atualmente
licenciados), devido a ascensão de Roseana Sarney ao governo do estado, e de Edison Lobão,
93
pai, ao Ministério das Minas e Energia, respectivamente. Convém ressaltar que o Senador
Sarney foi eleito pelo estado do Amapá o que, na prática, coloca o Maranhão na condição de
único estado da federação a ter 04 senadores, em face da forte liderança daquele político neste
estado e o reconhecimento dessa força pelos grupos que lhe fazem “oposição”.
A propósito, o presidente nacional da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Cezar
Brito, afirmou em entrevista ao jornal O Globo, de 21/01/2008, referindo-se à posse do filho
do ministro Edison Lobão, no lugar do pai no Senado, que
Nada expressa melhor o nível de indigência moral do sistema político brasileiro do
que a regra anômala dos senadores suplentes, que venho chamando desde o ano
passado de senadores clandestinos e que precisam ser extintos por uma reforma
política.
Vamos ter mais um senador clandestino o biônico quanto aqueles inventados
pelo pacote de Abril, da Ditadura Militar, de triste memória.
Aliás, outra prática perpetuada no Maranhão pelas frações dominantes da política é
colocar como suplentes dos titulares aos cargos de senador filhos, esposas, parentes ou seus
prepostos. O que contribui, assim, para a perpetuação de uma determinada família ou de
pequenos grupos no poder político do estado sob as bênçãos da legislação eleitoral.
Ressaltamos que os eleitos ao senado em 2002 foram Roseana Sarney e Edison
Lobão, sendo que todos os eleitos (2002 e 2006) têm grau de instrução superior e em ambas
legislaturas todos os representantes do Maranhão no senado são fortes aliados de José Sarney.
Pelo que foi demonstrado, a impressão que dá, contrariando o maniqueísmo político
no estado, é a de que o grupo Sarney saiu fortalecido politicamente não nas eleições de
2002, como também nas eleições de 2006 no Maranhão, apesar da vitória de Jackson Lago ao
governo do estado. Porém, as três vagas de senador continuaram sendo ocupadas pelos
liderados de Sarney, o que representa um peso político significativo para o Executivo Federal
e, ao mesmo tempo, possibilita aumentar o poder de barganha junto às demais esferas
públicas e privadas.
Por outro lado, se formos comparar a quantidade de votos obtidos por Jackson Lago
e por Roseana Sarney e considerarmos o universo de votos válidos no turno das eleições
para governador (2.689.634), a diferença é pequena (97.874) a favor de Jackson Lago:
1.393.754 contra 1.295.880 de Roseana. Convém considerarmos, ainda, que apesar de tudo, a
máquina estadual estava toda contra a candidatura de Roseana.
Entretanto, considerando o peso político do Senado como instituição suprema para
aprovar empréstimos e outros importantes interesses de ordem financeira dos estados e, ainda,
94
o fato de os senadores maranhenses pertencerem à mesma base ideológica comandada pelo
senador Sarney, pode-se mensurar uma ligeira vantagem política de seu grupo em relação aos
demais, em termos de representação do Maranhão, no âmbito federal, mesmo quando, no
estado, a liderança do então governador Jackson Lago pareceu consolidar-se.
Aliás, esse cenário político-partidário das eleições de 2006, não foi muito diferente
das eleições de 2002, quando o governo estava sob o comando de Roseana Sarney. Nestas
eleições, das 42 vagas existentes no Legislativo 34 foram ocupadas por aliados do grupo
Sarney. Já na Câmara Federal, foram 13 das 18 vagas pertencentes ao Maranhão. E no Senado
todas as 03 vagas foram ocupadas por membros do grupo Sarney.
Outro fato interessante a destacar desse embate eleitoral e na correlação de forças
políticas no Maranhão, diz respeito à vinculação do nome do presidente Lula na campanha
para governador. Tanto Jackson Lago quanto Roseana Sarney, convencidos do favoritismo
expressivo de Lula no estado, demonstrado no primeiro turno das eleições, estavam em
plena campanha em prol do mesmo.
Entretanto, a candidatura que mais se identificou com o lulismo foi a de Roseana, já
que o próprio Lula fez, no turno das eleições, um discurso no interior do estado (Timon)
pedindo votos para ela. Aliás, o Maranhão foi o segundo estado brasileiro a dar a maior
votação, proporcionalmente ao número de votantes, ao então candidato Lula da Silva
(84,63%). O primeiro foi o estado do Amazonas, com 86,80%. Também o município de
Central do Maranhão ficou conhecido nacionalmente em 2006 porque foi naquela cidade que
o Presidente Lula obteve sua maior votação no país: 97,1%. Por ironia, a Prefeitura era
administrada pelo PSDB, do candidato presidencial Geraldo Alckmin.
Considerando-se os votos obtidos no Maranhão pelo candidato Lula no e 2º turnos
das eleições (2.128.103 e 2.280.520, respectivamente) e a soma dos votos dos demais
candidatos - exceção a Geraldo Alckmin - no primeiro no turno (160.331), verifica-se que
houve uma transferência substancial de votos para Lula em termos percentuais (95%), com a
diferença de apenas 7.914 votos, o que parece apontar que o eleitor anti-Lula no estado ficou
quase órfão. Isto pode ser comprovado ainda diante do fato da quantidade de votos brancos e
nulos no turno (284.929) ter diminuído em relação ao turno (278.463), cuja diferença
importou em 6.466. Ressalte-se que disputavam no turno da eleição presidencial, entre
outros, os candidatos Cristovam Buarque e Heloísa Helena, os quais tinham como eleitores
aqueles alinhados mais à esquerda. Por outro lado, o candidato Alckmin perdeu 116.056 votos
(530.164 e 414.108, respectivamente no e turnos). Dessa forma, o eleitor anti-Lula tanto
95
de esquerda ou de centro, ou mesmo de direita, ficou sem espaço e sem palanque político no
2º turno das eleições presidenciais no Maranhão.
Assim, procuramos demonstrar como os embates político-eleitorais se processam e
se reproduzem no Maranhão, tendo como atores principais os grupos liderados por José
Sarney e Jackson Lago, os quais se utilizam da política de clientela fortemente ancorada no
aparelho estatal, para continuarem se consolidando como forças políticas no estado, sendo que
isso se materializa em função de algumas singularidades econômicas e sociais que delineiam
os municípios.
96
4 - INDICADORES SOCIOECONÔMICOS DO MARANHÃO: A REALIDADE
SOCIAL DO MUNICÍPIO DE BURITICUPU
Neste capítulo examinamos facetas de um Maranhão “atrasado”, visto sob um
cenário de extrema pobreza e de desigualdades sociais, demonstradas através de seus
indicadores sociais e da distribuição dos benefícios federais pelos municípios. Também
apresentamos aqui os resultados da pesquisa de campo realizada no Município de Buriticupu,
localizado ao sul do Maranhão, como reflexo da realidade socioeconômica e política do
estado.
4.1- Os Indicadores Socioeconômicos do Maranhão
Segundo dados do IBGE/DPE/Coordenação de População e Indicadores Sociais
(2004) o Estado do Maranhão possui 217 municípios, abrangendo uma área de 331,9 mil
Km², com uma população de 6.103.327. Deste total, 3.920.608 estão aptos a votar, conforme
dados do Tribunal Regional Eleitoral (2006). Os poderes legislativos, estadual e municipal, de
São Luís ocupam, respectivamente, 42 e 21 vagas. Enquanto na Câmara dos Deputados a
representação do estado é de 18 vagas.
Considerando-se os aspectos geográficos, políticos, sócio-econômicos e culturais, do
nordeste brasileiro, o Maranhão apresenta alguns dados e peculiaridades significativas e
contrastantes dessa sua realidade.
A condição de estado mais pobre da Federação engloba alguns dados alarmantes, tais
como: das 100 cidades com menor renda per capita no país, 83 estão no Maranhão; enquanto
a média de escolaridade nacional é de 6,4 anos por sinal decepcionante no Maranhão é de
3,6 anos; a sua taxa de mortalidade infantil (por mil crianças vivas) é de 42,1 e a nacional, de
25,06; o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) é 0,636, enquanto no Brasil é 0,766; O
PIB per capita obteve o pior resultado em 2004 (R$ 2.748,00), obtendo o 28° lugar no
ranking brasileiro. A taxa de analfabetismo é de 21,5%, mais que o dobro da média nacional.
87% não têm acesso a esgoto, enquanto a média brasileira é de 30%.
Segundo dados do IBGE (2002), que coincide com o final do segundo mandato de
Roseana Sarney à frente do governo, eis alguns indicadores sociais do Maranhão:
63% de
indigentes, 23% de analfabetos (quase ¼ da população), escolaridade média de apenas 4 anos;
97
0.3 médico para cada grupo de mil habitantes; 37,9% de domicílios com acesso à água, sendo
que os atendidos pela rede de esgoto sanitário era de 27,5% e os contemplados com a coleta
de lixo da área urbana era de 40,3%.
Nessa perspectiva, o Maranhão era o estado brasileiro que possuía o maior número
de municípios com menores IDH, as maiores taxas de “exclusão social” e também como um
dos maiores exportadores de mão-de-obra escrava e sem qualificação para outros estados. Tal
fato pode ser constatado por meio do recrutamento dos cortadores de cana-de-açúcar no
interior de São Paulo, caso este divulgado em inúmeras reportagens pela dia nacional. O
Estado detém ainda o ranking de segundo maior número de menores trabalhando nas ruas e de
ter o município mais pobre (Araióses), cujo índice de Desenvolvimento Humano é 0, 486.
Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Administração Municipal (Ibam)
(2007), a cidade com menor renda per capita do país é Paço do Lumiar. Localizada na Ilha de
São Luís, recebeu em 2006, o equivalente a R$ 296 por habitante em receitas federais,
estaduais e municipais. De acordo com o estudo do Ibam, quatro em cada cinco municípios
brasileiros não têm receita suficiente para prestar serviços públicos de qualidade e quase um
em cada quatro pode ser considerado miserável ou pobre.
O estado padece de problemas sociais crônicos e o péssimo resultado do desempenho
do Maranhão na questão educacional (o pior entre todos os estados do Brasil) tem coerência
com os demais indicadores sociais do estado. A distribuição de renda continua péssima, a
mortalidade infantil é alta. Desse modo, a qualidade da educação passa por todos esses fatores
sócio-econômicos.
Segundo dados do Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e
Cartográficos (IMESC) de dezembro de 2009, apenas cinco municípios concentram 54,03%
do PIB do Maranhão. São Luís, a capital, é responsável por 38,95% do PIB estadual, que é de
R$ 31, 606 bilhões. Ocupando o segundo lugar aparece o município de Açailândia com 5,7%
de participação no PIB estadual. A terceira posição em relação ao percentual de contribuição
na formação do PIB estadual é do município de Imperatriz com 4,98%. A quarta posição é de
Caxias com 2,39% e a quinta colocação é de Balsas com 2,01%.
Para uma melhor compreensão sobre a questão econômica e social do Maranhão,
com relação aos seus indicadores sociais, elencamos os dez maiores e os dez menores
municípios maranhenses, discriminados no item 3.3.1, acrescidos de doze municípios médios,
e elaboramos um quadro sintético contendo algumas informações pesquisadas junto ao TRE,
Tesouro Nacional e IBGE (Incluindo o Mapa de Pobreza e Desigualdade).
98
MUNICÍPIO
ÁREA Km²
POPULAÇÃO
(HABITANTES)
(ESTIMATIVA
2009)
NÚMERO DE
ELEITORES
(2008)
PIB PER
CAPITA
(R$)
(2007)
FUNDO DE
PARTICIPAÇÃO
(FPM) (DEZ/09)
(R$)
INCIDÊNCIA
DE POBREZA
(%)/ÍNDICE DE
GINI* (2003
)
Açailândia 5.806 101.130 67.096 18.569 2.420.466,18 58,66 - 0,41
Amarante do
Maranhão
7.669 37.388 21.492 3.000 1.276.800,94 52,70 - 0,37
Arari 1.100 28.787 20.044 2.284 1.116.623,89 55,01 - 0,42
Buriti 1.474 26.202 18.197 3.122 1.116.954,82 52,58 - 0,39
Buriticupu 2.545 64.685 37.313 3.439 1.914.277,95 58,80 - 0,35
Bacabal 1.683 98.489 61.614 3.795 2.396.610,67 57,19 - 0,43
Bacabeira 616 15.574 9.182 6.782 801.412,90 52,24 - 0,39
Bacurituba 675 5.687 4.534 2.496 478.619,09 59,27 - 0,37
Barra do Corda 7.962 81.329 51.833 4.575 2.077.149,53 60,04 – 0,39
Balsas 13.142 83.617 47.313 8.045 2.105.730,74 64,09 – 0,44
Bernardo do
Mearim
261 6.249 4.473 5.817 478.667,59 45,51 – 0,36
Boa Vista do
Gurupi
401 7.895 4.185 2.486 478.677,67 75,26 – 0,33
Caxias 5.224 148.072 97.719 5.282 6.310.889,02 58,44 – 0,43
Codó 4.365 113.937 75.903 3.160 2.556.992,96 59,37 – 0,41
Colinas 2.034 36.787 23.202 2.962 1.277.823,67 55,30 – 0, 40
Coelho Neto 976 45.624 33.578 2.866 1.597.555,36 59,62 – 0,41
Coroatá 2.264 63.081 42.280 2.429 1.913.659,24 54,67 – 0,40
Governador
Edison Lobão
6.161 14.921 9.343 5.002 798.971,45 57,77 – 0,35
Imperatriz 1.368 236.691 149.416 6.854 6.486.823,25 55,28 – 0,46
Junco do
Maranhão
539 3.950 4.269 5.389 478.598,72 55,28 – 0,30
Lago da Pedra 1.636 44.272 31.637 2.816 1.435.510,53 56,53 – 0,40
Nova Colinas 743 5.094 3.731 2.975 478.745,69 55,32 – 0,34
Nova Iorque 977 5.087 3.547 2.819 478.689,59 57,59 – 0,40
Nova Olinda do
Maranhão
2.464 17.835 10.764 3.499 957.371,38 67,30 – 0,39
São Félix de
Balsas
2.032 4.442 3.504 2.486 478.807,04 59,62 – 0,41
Santa Inês 408 85.701 51.820 3.773 2.236.585,38 59,62 – 0,41
São José de
Ribamar
386 139.473 69.154 2.768 6.294.870,36 53,28 – 0,40
São Luís 827 997.098 636.781 12.858 30.799.580,63 54,83 – 0,49
São Roberto 227 5.217 3.806 2.675 478.630,02 56,52 – 0,35
São Pedro dos
Crentes
980 4.144 3.421 4.044 478.697,80 60,05 – 0,34
Sucupira do
Riachão
565 4.869 3.602 2.471 479.044,43 51,14 – 0,36
Timon 1.741 150.635 96.913 3.505 6.298.885,98 60,22 – 0,42
*Medida do grau de concentração de uma distribuição, cujo valor varia de zero (perfeita igualdade) até um (a desigualdade máxima). É um
parâmetro internacional usado para medir a desigualdade de distribuição de renda entre os países (IBGE).
99
Com base nesses dados talvez fosse possível fazer um planejamento mais eficaz e
eficiente que traduzisse em crescimento econômico e social mais justo e equilibrado em todas
as regiões do Maranhão. Porém, diante da persistência desse quadro durante décadas,
verificamos que esses números parecem não fazer muita diferença na efetividade do
planejamento estadual, haja vista a concentração de rendas aumentar cada vez mais e a grande
maioria da população, composta por pobres e miseráveis, depender peremptoriamente das
transferências de recursos de programas assistenciais federais, para não morrer de fome.
Contrastando com esses indicadores sociais, o estado do Maranhão possui algumas
características de um estado promissor: é o maior litoral brasileiro, o maior estado em
extensão territorial, não incidência de secas tão comum no nordeste possui ainda
privilegiada posição portuária, além de recursos naturais em potencialidade como rios, praias,
cachoeiras e lagos, o que garante a exploração de extrativismos vegetais e aquáticos, além da
sua visibilidade turística. Também, durante décadas, foi o único estado das Regiões Norte e
Nordeste, a receber recursos da SUDAM e da SUDENE.
Esse quadro de extrema pobreza parece aumentar e fortalecer as relações
clientelísticas consolidadas no Maranhão e é muito interessante para se compreender as
condições em que são promovidas o estabelecimento de relações de clientelas. Isso pode
implicar uma relação pessoal entre dois indivíduos, “díade”, ou relações interpessoais, o que
desencadeia laços pessoais.
Dessa forma, a aliança se torna uma realidade e ganha força com a continuidade da
troca de favores e que só acaba quando estas param de ocorrer ou quando um pedido de ajuda,
em caso de necessidade, for ignorado.
Pelo que percebemos no Maranhão, diante desse estado de necessidade, a classe
dominante se aproveita da fragilidade socioeconômica do eleitorado, especialmente o das
classes dominadas, sobrecarregando amplos contingentes dele com um “débito impagável”,
de tal sorte que essa aliança se estruturará a partir da obediência em razão da “gratidão”.
Não é nosso propósito aqui aprofundar a discussão sobre a política diádica
8
,
trabalhada por Landé (1977, p.p. 22-40) envolvendo as alianças entre pessoas não de status
diferentes (as verticais) como as de status iguais que são as alianças horizontais. Porém, a
nossa pesquisa suscita algumas discussões que têm uma relação direta com o clientelismo,
como é o caso dos modelos diádicos, os quais podem contribuir na análise do comportamento
dos grupos políticos no Maranhão, diante das trocas de favores que se consagram,
8
Para um aprofundamento sobre díades ver especialmente o estudo de C. H. Landé (1977): A Base Diádica do
Clientelismo: política de grupo e política diádica. Versão em português.
100
principalmente, em períodos de eleições. E também podem esclarecer a profundidade das
explorações humanas que ocorrem em um ambiente como esse de elevada desigualdade de
poder, principalmente econômico. Entretanto, fica para uma outra pesquisa o aprofundamento
dessa abordagem.
4.2 - A Importância dos Municípios na Distribuição de Benefícios Federais
Nessa perspectiva, convém destacar a grande importância do Programa Bolsa
Família (PBF) para a população maranhense. Criado pela Lei 10.836, de 09 de janeiro de
2004, e regulamentado pelo Decreto 5.209, de 17 de setembro de 2004, este Programa
atende, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome - MDS,
2008, 55% da população; e no município de Junco do Maranhão atende a 95,4% da população
daquele município, o que se constitui em um tipo de clientelismo estatal.
Tais beneficiários, na intenção de assegurar a manutenção do Programa, no
momento da eleição, optam por aqueles que eles acreditam que vão prosseguir com essa
política. Embora seja um programa federal, a “distribuição” final é de responsabilidade das
prefeituras locais, o que margem para que pessoas que não se enquadrem no perfil de
beneficiários sejam contemplados, ao passo que existem pessoas que correspondem ao perfil
exigido pelo Programa, mas muitas vezes não conseguem ingressar no mesmo. Essa
manipulação de acesso ao benefício faz com que aqueles que são beneficiados identifiquem os
seus ingressos no programa por “favor” ou “boa vontade” de determinado político.
Todos os 217 municípios maranhenses são atendidos pelo PBF. Segundo dados do
MDS, outubro de 2009, 850.839 famílias são beneficiárias deste Programa, sendo que o total
de famílias cadastradas no CadÚnico é de 1.098.130, abrangendo 3,4 milhões de pessoas,
cerca de 55% da população. Esse número é maior do que a média do Nordeste, que tem
aproximadamente 48% de sua população atendida. O Maranhão ocupa o lugar em número
de beneficiados, atrás dos estados da Bahia, Pernambuco e Ceará, os quais são os mais
populosos da região, o que lhe garante o primeiro lugar em termos proporcionais.
Se levarmos em consideração a abrangência de outros Programas Sociais do MDS no
Maranhão, como o de Assistência Social e Segurança Alimentar e Nutricional, o total de
beneficiados chega a cinco milhões de pessoas, importando a cifra de R$ 2,09 bilhões por
ano. Só por conta do Programa Bolsa Família, o estado recebe mensalmente R$ 89,5 milhões,
segundo dados de novembro de 2009, do MDS.
101
Embora o PBF esteja configurado como um modelo de gestão compartilhada, no qual
envolve os três níveis de governo como co-responsáveis pela sua implementação, o Município
tem um papel importantíssimo nesse Programa.
Ocorre que a Portaria GM/MDS 246, de 20 de maio de 2005, que aprovou os
instrumentos necessários à formalização da adesão dos municípios ao PBF e à designação dos
gestores municipais do Programa e à informação sobre sua instância local de controle social,
entre outras, estabelece em seu Art. 2º que: “São requisitos da adesão do Município ao
Programa Bolsa Família:
I a existência formal e o pleno funcionamento de um comitê ou conselho local de
controle social do Programa Bolsa Família; e
II – a indicação do Gestor Municipal do Programa”.
Dessa forma, o Gestor Municipal é o responsável pela coordenação das atividades do
Cadastro Único e da gestão do PBF, sendo designado formalmente para esta função pelo
Prefeito, conforme determina ainda tal Portaria.
São atribuições, entre outras do Gestor Municipal: “Coordenar a execução dos
recursos transferidos pelo governo federal para o Programa Bolsa Família nos municípios.
Esses recursos serão transferidos do Fundo Nacional de Assistência Social aos fundos de
assistência municipal. Assim, o Gestor Municipal do Programa Bolsa Família será o
responsável pela aplicação dos recursos financeiros do Programa – poderá discutir se o
recurso será investido na contratação de pessoal, na capacitação da equipe, na compra de
materiais que ajudem no trabalho de manutenção dos dados dos beneficiários locais, dentre
outros.”
Constatamos, desse modo, o fundamental papel das Prefeituras nesse Programa.
Poder esse que é corroborado pela Constituição de 1988 no seu Art. 1º: “A República
Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito
Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
I – a soberania;
II – a cidadania;
III – a dignidade da pessoa humana;
IV – os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa;
V – o pluralismo político”.
102
Nessa condição de ente constitutivo da República, os municípios detêm um grau de
autonomia muito significativo. E essa questão se materializa, no caso do PBF, a partir do
cadastramento das famílias do município, nas ações e serviços de saúde e educação e no
emprego dos recursos públicos, conforme determina o MDS.
Dessa forma, os municípios têm autonomia para definir quais as suas prioridades
para a utilização dos recursos financeiros repassados mensalmente pelo PBF, com base na
qualidade da gestão do Programa apresentado pelos municípios.
É interessante destacar como um Programa de tamanha envergadura social, o qual
tem como objetivo principal “superar a fome e a pobreza, por meio da transferência direta de
renda à família”, possibilita a sua apropriação pela maioria das prefeituras para fins de
proselitismo político eleitoral no Maranhão, onde os políticos locais se utilizam das propostas
do Programa, para dele tirarem proveitos próprios, traduzido sob a forma de votos.
Embora todos tenham direito ao Programa, desde que atendam aos critérios
estabelecidos pelo governo federal, observamos que a grande maioria dos beneficiários do
Programa precisa recorrer aos políticos locais para ter seus direitos efetivados, como se fosse
um “favor”, o que, na prática eleitoral, isso se traduz em barganha de votos.
BOLSA FAMÍLIA – MA
População Total 6.305.539
2008
Estimativa Famílias Pobres - Perfil Bolsa Família
(PNAD 2006)
833.084
2008
INFORMAÇÕES GERAIS
Estimativa Famílias Pobres - Perfil Cadastro Único
(PNAD 2006)
1.118.581
2008
Total de Famílias Cadastradas 1.078.876
30/6/2009
Total de Famílias Cadastradas - Perfil Bolsa Família 1.018.598
30/6/2009
CADASTRO ÚNICO
O CadÚnico é um instrumento de identificação
e caracterização sócio-econômica das famílias
brasileiras de baixa renda (aquelas com renda
familiar per capita menor ou igual a meio
salário mínimo). Dessa forma, o mero de
famílias cadastradas no CadÚnico é maior que a
quantidade de famílias beneficiadas pelo PBF.
Total de Famílias Cadastradas - Perfil Cadastro Único 1.098.130
10/2009
BENEFÍCIOS
Contemplam os benefícios liberados e
bloqueados até o momento da geração da folha
de pagamento, podendo não corresponder à
situação mais recente dos benefícios.
Número de Famílias Beneficiárias do Programa Bolsa
Família
850.839
10/2009
Fonte: Site do MDS – Ministério do Desenvolvimento Social.
103
Segundo Borges, existe uma relação muito íntima entre economia e política no
Maranhão,
Economicismos à parte é possível notar que os modelos econômicos praticados no
Maranhão, onde mais de 60% das famílias sobrevive com renda inferior a um salário
mínimo, coloca os eleitores em condição de dependência e de vulnerabilidade a
práticas eleitorais corruptas, como a compra e venda de votos e abusos de poder
econômico, reduzindo, portanto, a sua autonomia. Isto revela clara vinculação entre
economia e política e, ao mesmo tempo, permite especular que a garantia, pelos
governantes, de condições de sobrevivência à população não parece ser questão de
primeira grandeza no julgamento do eleitor. (BORGES, 2005, p. 103)
Nesse viés, a pesquisa recente (2009) feita pela Socióloga Maria Tereza Sadek, da
Universidade de São Paulo (USP), a pedido da Associação dos Magistrados Brasileiros,
demonstra a relação existente entre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do
Maranhão e o número de ações que ingressam na Justiça. Segundo ela, “quanto menor a
proporção de pobres, maior é a proporção de ações”, ou seja, isso significa que “nos estados
desenvolvidos as pessoas têm mais consciência dos seus direitos”. Nesse estudo, Sadek
mostra ainda que, apesar dessa relação, o Maranhão é o estado que paradoxalmente mais gasta
com o Judiciário.
Na pesquisa realizada por Sadek, o Maranhão aparece como o estado com o menor
IDH do país (0, 636), cujo gasto do Judiciário com relação ao Produto Interno Bruto (PIB)
estadual é de 0,92%, seguido dos estados do Alagoas (0,97%), Piauí (1,02%), Paraíba (1,17%)
e Sergipe (1,14%).
Esse caótico cenário sócio-econômico do Maranhão parece apontar para a
consolidação das práticas clientelistas desenvolvidas no estado, favorecendo os interesses dos
grupos hegemônicos e o seu fortalecimento junto às esferas de poder, permitindo
conseqüentemente a sua manutenção e reprodução.
4.3- A Cidade de Buriticupu: reflexo da realidade estadual
Na impossibilidade de pesquisar os 217 municípios maranhenses em um médio
espaço de tempo visando diagnosticar seus aspectos políticos, econômicos e sociais, optamos
pelo município de Buriticupu, cujo caráter da escolha se processou, entre outros, em função
da experiência que nos submetemos, iniciada em 2008, quando, após termos sido aprovado
em concurso público federal ao cargo de professor para o antigo CEFET, hoje Instituto
104
Federal de Educação do Maranhão, IFMA, fomos designados a entrar em exercício funcional
em um de seus Campi, localizado neste município ao sul do Maranhão.
Durante aproximadamente um ano estivemos nesta cidade - até sermos removidos
para outra localidade (Alcântara) - oportunidade na qual conhecemos a sua realidade
socioeconômica e política, através de vários trabalhos desenvolvidos de cunho social e do
contato freqüente com os estudantes, donas de casa, pais de alunos, políticos, trabalhadores
rurais e urbanos, autônomos, empresários e autoridades constituídas, quando passamos a
observar com acuidade as relações que se desenvolvem entre a população e os políticos locais,
as quais serão demonstradas no decorrer deste trabalho.
4.3.1 - Caracterização do Município
O então Povoado de Buriticupu foi desmembrado do Município de Santa Luzia do
Tide e elevado à categoria de Município através da Lei nº. 6.162 de 10 de novembro de 1994,
sancionada pelo então Governador José Ribamar Fiquene, político de confiança do grupo
Sarney. O Município nasceu a partir de um Projeto de Colonização, em 1971, no governo
Pedro Neiva de Santana, aliado de José Sarney. Segundo dados do IBGE, 2007, o Município
de Buriticupu possui uma população de 61.480 habitantes, cuja área territorial é de 2.545 km²,
pertencente à Pré-Amazônia Maranhense e sua sede localiza-se à margem da Rodovia Federal
BR 222, tendo um contingente de 37.313 eleitores (TRE, 2008).
Através de pesquisa realizada junto ao Instituto Maranhense de Estudos
Socioeconômicos e Cartográficos (IMESC), obtivemos alguns dados importantes com relação
ao Município, a seguir:
PIB per capita R$ 2.287,00*
Arrecadação de Impostos (ICMS) R$ 2.345.005,00*
IDH 0.595**
Taxa de Crescimento 1,027
Densidade Demográfica 24,16*
Dados
socioeconômicos e
demográficos
População Residente por faixa etária 15 a 19 anos: 7048*
20 a 24 anos: 6.171
Na Administração Pública
Número de emprego: 1353
Salário médio: R$ 550,66
No Comércio
Número de emprego: 282
Salário médio: R$ 404,22
Na agropecuária
Número de emprego: 239
Salário médio: R$ 433,00
Trabalho e
Rendimento
Serviços industriais de utilidades:
Número de emprego: 04
Salário médio: R$ 844,40
*Dados de 2006 **Dados de 2000
105
Nessa Rodovia (BR 222), mais precisamente no trecho compreendido entre os
municípios de Santa Luzia do Tide e Açailândia, no qual está encravado Buriticupu, apresenta
um contorno geológico bastante singular. A estrada é extremamente perigosa em razão da
existência de dezenas de curvas bastante fechadas, cheia de precipícios e, em alguns
momentos, sem acostamento. Tudo isso contribui para os constantes acidentes de trânsito e
facilita as ações de bandidos em assaltos, principalmente a ônibus, cujos motoristas são
forçados a reduzir a velocidade do veículo em função, ainda, das subidas bastante íngremes.
Segundo a Polícia Rodoviária Federal (PRF), “Buriticupu está localizado no trecho
onde ocorre a maior incidência de assaltos a ônibus interestaduais e intermunicipais em todo o
Estado do Maranhão”. Tal fato expõe o município a uma a situação de constante tensão e, não
raro, de pânico por parte principalmente daqueles que têm de se deslocar com freqüência para
esta localidade, aliada a outras formas de violência que ainda manifesta.
Aliás, em momentos recentes, Buriticupu foi palco de dois incidentes, os quais
serviram de manchetes para a grande mídia nacional. O primeiro caso ocorreu em 03 de
agosto de 1999, quando o povo, revoltado com uma ação da Polícia Rodoviária Federal (PRF)
destruiu com uma corrente puxada a um trator, o posto da PRF e expulsou o seu contingente
policial, o qual, até o presente, não mais se reinstalou no município. O segundo se deu em 15
de outubro de 2007, por meio de uma ão de populares em querer linchar um preso da
Delegacia de Polícia, tendo como desdobramento dessa ão a soltura de todos os detentos e
ateamento de fogo nas suas instalações. E até hoje os responsáveis por esses atos jamais
foram identificados.
Ressalte-se que, antes mesmo dessas datas, outros atos de violência tinham sidos
praticados no município, sendo objeto de comentários nos noticiários da grande imprensa
nacional como, por exemplo, a ocupação pelo Movimento dos Sem Terra (MST) na então
Fazenda Terra Bela, de propriedade do pecuarista Fernando Brasileiro, em 29 de julho de
1988, o que redundou na morte de duas pessoas, vitimadas por emboscada praticada pelos
lavradores revoltosos. Tendo inclusive um dos mortos, o pistoleiro Agenor de Macedo Silva
Neto, sido torturado, castrado, degolado, os olhos furados e a cabeça esmagada a pauladas.
(AGUIAR, 2005, p.75)
Mesmo diante desse cenário histórico-cultural, nenhuma providência fora tomada no
sentido de prover a cidade de um Destacamento Militar ou de criar melhores condições
estruturais na Delegacia de Polícia. Até dezembro de 2009, essa estrutura de segurança no
município se constituía de um contingente de quatro policiais militares, dois civis e um
Delegado.
106
O que fica demonstrado é que quem chega pela primeira vez em Buriticupu, tem a
sensação de que tudo está fora da ordem social e legal. E a pessoa sente-se abandonada e
entregue a própria sorte. “Buriticupu é uma cidade violenta, sem lei e sem atrativos culturais”,
essa é a frase que mais se ouve tanto de seus moradores como daqueles que a visitam.
Apesar disso, a cidade apresenta números bem significativos, em termos de
arrecadação de tributos, com relação aos demais municípios do Estado. Segundo dados do
Tesouro Nacional, foram repassados no mês de dezembro de 2009 ao município, por conta de
do Fundo de Participação do Município - FPM, o montante de R$ 1.914.277,95 (hum milhão
novecentos e catorze mil duzentos e setenta e sete reais e noventa e cinco centavos).
Os serviços de comunicação existentes são de péssimas qualidades. A telefonia
móvel atual (TIM E CLARO) não oferece um serviço satisfatório aos seus usuários, havendo
falhas constantes no sistema. O mesmo ocorre com a utilização da Internet, cuja conexão é
muito lenta e não raro, interrompida abruptamente.
Quanto aos canais de televisão, existe sinal apenas para a reprodução da TV Mirante,
afiliada da Rede Globo, de propriedade da família Sarney. Em vista disso, muitos preferem
utilizar a antena parabólica. Também não existe jornal local em circulação e os serviços de
difusão radiofônica são realizados através de sete rádios com freqüência FM, todas
controladas por políticos.
A vida cultural da cidade se restringe a encontros freqüentes em bares e praças e
também a festas esporádicas no clube social do Banco do Brasil (AABB), que o município
não dispõe de cinema, teatro ou outro espaço de lazer educativo-cultural.
A economia do Município gira fundamentalmente em torno da indústria madeireira,
a qual contribui, junto com as carvoarias, para a degradação ambiental, em função do
desmatamento da região e da poluição atmosférica provocada pelas queimadas das madeiras
que não são aproveitadas por aquela.
Sobre essa questão do Meio Ambiente do Município de Buriticupu, assim afirma o
historiador Isaias Neres Aguiar:
A destruição não tem qualquer limite ou controle: depois que as carvoarias se
instalam em determinado lugar, retiram toda a cobertura florestal existente na área,
usando tratores e passando o “correntão” que puxado por dois tratores destroem toda
a vegetação que se tenha pela frente. A partir daí, a paisagem que fica é de uma terra
arrasada, com árvores seculares arrancadas pela raiz. Existem também as carvoarias
instaladas na sede do município, que trazem a matéria-prima para os pátios das
serrarias e, da mesma forma, fabricam carvão, produzem emprego e renda, poluição
do ar e doenças respiratórias. (AGUIAR, 2005, p.118)
107
O que constatamos, é que a população do município já se acostumou a todo esse
cenário e que parece não mais incomodar-se ao que vê. Mas, por outro lado, assusta aos que
chegam pela primeira vez à cidade, despertando nestes um sentimento que não é de
conformismo, como pode ser percebido por nós, mas, sim, de indignação.
Assim, nessa perspectiva de buscarmos uma melhor compreensão desse contexto
socioeconômico, é importante, ainda, descrever alguns números relacionados à saúde,
educação e meio ambiente.
Os serviços de Saúde são precários: não existem estabelecimentos de Saúde com
atendimento de emergência neurocirurgia, pediatria, traumato ortopedia, cirurgia, psiquiatria.
Também não existem mamógrafo, raios-X para densitometria óssea, tomógrafo, ressonância
magnética, ultrassom, eletroencefalógrafo e equipamento de hemodiálise. Segundo dados da
Secretaria Municipal de Saúde, a maioria desses serviços “são custeados pelo Município, mas
realizados em outros centros como: São Luís, Imperatriz e Açailândia.”
Os principais indicadores de saúde obtidos pelo IMESC foram:
Mães adolescentes de 10 a 19 anos (2005)
285
Taxa de mortalidade infantil (2005)
Menor de 1 ano (por 1000 nascidos vivos)
12,48%
Leitos por 1000 habitantes (2007) 1,7
Médicos por 1000 habitantes (2007) 0,4
Doenças infecto-contagiosas (2006)
Tuberculose
Leishmaniose
AIDS
15
61
02
Quanto aos dados mais significativos obtidos da Educação, referentes a dezembro de
2008, através da sua Secretaria Municipal, havia um quantitativo de 17.811 matrículas no
ensino fundamental, na rede pública do Município, tendo ocorrido 280 repetências e 40
evasões. Já a quantidade de matrículas no ensino médio (rede estadual de ensino) foi de 3.105,
enquanto o total de matrículas da rede particular foi 1.073. São, portanto, 80 escolas no
Município de Buriticupu, sendo 05 particulares, 02 estaduais, 01 federal e 72 municipais,
destas, 09 estão na Zona Urbana.
Segundo dados do IMESC, a taxa de analfabetismo para maiores de 14 anos é de
38,70% (dados de 2000) e a taxa de abandono no ensino fundamental é de 8,5% (dados de
2005). Com relação aos trabalhadores formais (5ª e série) o número é de 633 trabalhadores.
108
Quanto aos que detém o ensino médio, o quantitativo é de 773 trabalhadores formais e com o
ensino superior 97. Em 2007, a transferência de recursos para a educação importou a cifra de
R$ 15.673.734,00.
Na questão do meio ambiente obtivemos, por meio do IMESC, os seguintes dados
com relação à taxa de desflorestamento do Município (2007):
Da Amazônia Legal: 71%
Da área da floresta: 29%
Quanto ao índice de atendimento total de água, segundo o IMESC (2006), é de 14%
de domicílios.
O supracitado instituto socioeconômico destaca ainda em seus dados os benefícios da
Previdência Social no Município de Buriticupu, cujo valor de benefícios emitidos pela
Previdência, em 2006 (incluindo o Urbano e Rural), importou R$ 15.738.849,00. a
quantidade de famílias atendidas no Programa Bolsa Família, segundo dados do Sistema de
Benefícios ao Cidadão - SIBEC (janeiro de 2010) foi 7.516.
Outro dado interessante obtivemos através do Programa de Ações Integradas e
Referenciais de Enfrentamento à Violência Infanto Juvenil (PAIR), no qual revela que de
quase 300 cidades consultadas, “Imperatriz e Açaílândia estão entre as mais vulneráveis ao
tráfico e à exploração sexual de crianças e adolescentes do país.” Sendo que Buriticupu, além
de estar bem próxima às essas cidades, é a principal via de transporte que liga esses
Municípios, através da BR 222.
Segundo, ainda o PAIR, o Maranhão está em terceiro lugar no ranking de casos de
pedofilia no Brasil. Ocorre que a prática de pedofilia nesses municípios é uma questão
cultural. Pois muitas pessoas banalizaram o problema, e muitos não têm conhecimento de que
isso é crime e acabam não denunciando.
Ressalte-se que o atual prefeito, no seu segundo mandato, embora seja filiado ao
PDT, partido que faz “oposição” ao grupo Sarney, apóia politicamente o deputado federal
Gastão Vieira, homem forte do grupo Sarney, tendo sido o segundo candidato mais votado no
município nas eleições de 2006, com 5.408 votos, conforme dados do TRE, (o primeiro foi
Davi Alves Silva Júnior com 7.477 votos). Registre-se o fato de que Gastão Vieira foi
presidente da Comissão de Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, missão esta que lhe
deu grande visibilidade nacional e tributa-se a ele o fato de ter trazido para o município de
Buriticupu o antigo CEFET. Um fato curioso é que o logradouro em que está instalado este
109
Instituto Federal de Educação recebia a denominação de Rua do Mercado, passando a
chamar-se agora, por decisão municipal, Rua Deputado Gastão Vieira.
Na indústria madeireira, a principal fonte econômica do município, tanto a extração
como a comercialização é cheia de irregularidades, conforme constataram o IBAMA e a
Secretaria Estadual do Meio Ambiente, em recente operação no município, que contou com a
ajuda da Polícia Federal e da Força Nacional, além do Ministério Público. O prefeito é dono
de várias serrarias e o seu sócio e principal aliado político é o presidente da Câmara
Municipal, fato este que gerou um comentário do Ministro do Meio Ambiente, Carlos Ming,
(publicado na coluna do jornalista Jorge Bastos Moreno, no jornal O Globo – 05/09/2009), ele
próprio comandante daquela operação que resultou em apreensão das mais diversas:
A Decepção do Ministro Carlos Minc
Vejam como o nosso Ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, é um homem de fé.
Foi fazer uma blitz na divisa do Maranhão com o Pará, precisamente na cidade de
Buriticupu, crente de que teria a ajuda das autoridades municipais.
De cara, Minc fechou 30 madeireiras e prendeu 20 pistoleiros que agiam na região a
serviço dos contrabandistas e de outros inimigos da floresta. Com tanta gente ainda
para prender, o ministro buscou ajuda do nobre presidente da mara Municipal.
Cadê o chefe do Poder Legislativo?
Estava entre os donos de madeira preso com um carro roubado. Minc ainda
acreditou que pudesse haver político do bem na Câmara. Outra decepção: nove dos
dez vereadores estavam envolvidos com pistoleiros e madeireiros. Só sobrou o
prefeito. Mas, ao chegar à prefeitura, Minc soube que o prefeito havia fugido, depois
que o seu sócio, o presidente da Câmara, fora preso em flagrante.
Aí o ministro não se conteve:
_ Poxa! Nesta cidade, se gritar “pega ladrão”, não fica um, meu irmão.
Essa “decepção” do Ministro Minc diante do que constatou, caracteriza de forma
enfática a situação social, econômica e política desse município, daí verificar o sentimento do
eleitorado com as autoridades constituídas.
4.3.2 - A Revelação da Face do Município
O cenário do município de Buriticupu não é muito diferente do que se apresenta em
outras cidades do interior do Maranhão. Porém, por ser um município ainda novo (15 anos de
emancipação), apenas 18% dos entrevistados nasceram no então povoado de Buriticupu; 27%
em Santa Luzia do Tide (que deu origem à sua criação); 46% advêm dos demais municípios
do interior do estado e 9% de outros estados da Federação.
110
Destes, 76% possuem uma faixa de renda familiar que vai até três salários mínimos
(base de 2008); 14% mais de três até cinco salários mínimos; 5% mais de cinco até dez
salários mínimos e mais de dez salários mínimos apenas 5%. Tais rendas advêm, sobretudo,
do trabalho informal, seja na condição de trabalhador sem carteira assinada ou mesmo como
prestador de serviços. Somente nos casos em que a família do entrevistado possui renda
superior a cinco salários nimos, a sua origem vem do serviço público mais bem qualificado
profissionalmente e do ramo industrial madeireiro.
Observamos inclusive que muitos alunos estão deixando de freqüentar o Instituto
Federal de Educação, em razão da exigência do uniforme escolar (sapato, meia, calça e
blusão), devido às dificuldades financeiras para a sua aquisição.
Quanto ao grau de escolaridade, verificamos que aproximadamente 52% dos
entrevistados cursaram entre a e série do ensino fundamental; 16% de a ; 15% o
ensino médio; 5% o curso superior e 12% nenhuma escolaridade. Destes, 67,5% possuem
computador em casa e parte dos 32,5% que não possuem fazem uso nas lanhouse da cidade.
Com respeito ao hábito de jornais e como os entrevistados se informam acerca dos
acontecimentos do mundo, verificamos que 75% disseram que raramente lêem, 15%
diariamente e 10% algumas vezes. A televisão é a principal fonte de informação dos
entrevistados (65%), a internet vem logo a seguir (10%), depois o rádio (15%) e o jornal
(10%).
O objetivo da aplicação do questionário foi tão somente de conhecer os aspectos
sócio-culturais dos entrevistados; e não o de abordar aspectos políticos com relação ao
município para não gerar “desconfiança” com o nosso trabalho, daí termos nos restringido à
faixa de renda, ao grau de escolaridade, à disponibilidade de computador em casa, a
freqüência em que jornais e como se informa acerca dos acontecimentos do mundo, além
do local de nascimento. Aliás, esse quadro cio-cultural dos entrevistados está coerente com
a realidade social do município abordada neste trabalho, daí porque esses números não
apresentaram nada distorcido do que constatamos.
Observamos que diante da enorme precariedade existente na zona rural, o
deslocamento dos poucos jovens que freqüentam o ensino médio na sede do município se
por meio das indefectíveis “jardineiras” ou “pau-de-arara”, que são utilizadas como meios de
transportes devido a sua estrutura mecânica de tração nas quatro rodas, mas que no período
chuvoso tornam-se difíceis sua trafegabilidade pelas péssimas condições das estradas, o que
compromete a formação escolar desses estudantes e o seu nível crítico.
111
Mesmo na sede do Município, verificamos que essa questão da “postura crítica” em
face à realidade social praticamente não existe por duas razões: a primeira porque não os
jovens, como também a população, estão sem referência para estabelecer parâmetros que os
auxiliem ou os motivem na construção de uma mentalidade questionadora e crítica,
principalmente aquela manifestada publicamente, ainda mais quando se constata que os meios
de comunicação disponíveis, além de insuficientes, são de propriedade de políticos vinculados
às classes dominantes. A segunda razão se dá através dos exemplos de perseguição e
represálias que muitas pessoas foram submetidas por “ousar” em questionar determinadas
práticas políticas adotadas pelos poderes constituídos no Município, o que torna a população
mais comedida em suas ponderações, mesmo esta tendo a consciência das mazelas existentes.
Portanto, diante do ceticismo do eleitorado, em termos de melhorias qualitativas para
o município em um curto ou médio prazo, este acaba optando pelo estabelecimento imediato
da relação de trocas, a qual se materializa por meio do clientelismo político-eleitoral, parceria
esta em que se beneficia de alguma forma movida pelo interesse particular, ou seja, o seu voto
tem um valor material, transformado em mercadoria, que por sua vez é utilizado,
principalmente em períodos eleitorais, como mecanismo de barganha, beneficiando-se
mutuamente desse “negócio” eleitor e candidato. Não se trata apenas de ser cético, é uma
questão de constatação ao que os olhos da população vêem. Mesmo avaliando a administração
municipal de “ruim”, que “o prefeito não faz nada” e que “a cidade é muito feia e imunda”, o
eleitorado acaba reelegendo com certa folga de votos o dito prefeito.
Constatamos que a falta de perspectivas tanto dos jovens e adultos no município foi
melhor expressada a partir de quando estes perceberam claramente a indiferença do poder
público municipal diante da instalação de alguns cursos técnicos profissionalizantes no
Instituto Federal de Educação (IFMA) na cidade, visando justamente atender as demandas do
mercado de trabalho local e poder proporcionar oportunidades àqueles que estão sem
qualificação profissional.
Assim, através do EJA (Educação de Jovens e Adultos), cujo programa educacional
procura incluir socialmente essas pessoas no mercado de trabalho, o IFMA, preocupado com
essa situação no município, criou os cursos Técnico de Secretariado Escolar e o de
Administração. que ao invés da Câmara Municipal criar tais cargos para serem
preenchidos através de concursos públicos pelos egressos desses cursos atendendo inclusive
ao pedido feito pelos alunos e Diretoria do Instituto seus vereadores aprovaram proposição
do Executivo Municipal, criando esses cargos sob a égide de “comissionados”, o que na
112
prática significa que serão usados como barganha eleitoral pelos políticos locais,
caracterizando, assim, um tipo de clientelismo estatal. Segundo Farias,
A tendência é o declínio do uso do emprego público como recurso de manipulação
política no nível inferior do aparato administrativo-governamental. Ao mesmo
tempo, cresce a oferta de empregos mais qualificados (secretarias, chefias
departamentais, assessorias) objeto do clientelismo de cúpula. Em conseqüência, a
constituição de uma burocracia simultaneamente política e profissional reforça a
capacidade de negociação (manipulação) das prefeituras junto às classes populares.
(FARIAS, 1999, p. 116)
No entanto, o que observamos em Buriticupu é que a manipulação de cargos para
fins clientelísticos se dá tanto nos escalões superiores como inferiores, principalmente mais
nestes do que naqueles, cujas indicações são determinadas pelas afinidades políticas e pelas
relações de parentesco, o que deixa esses jovens mais desestimulados e sem perspectiva de
vida futura, que a “meritocracia” não encontra espaço no âmbito da administração
municipal.
Se tudo isso não bastasse, a precariedade de atividades lúdicas e sócio-culturais
expõe esses jovens e adultos a uma situação de alto risco. Observe-se ainda que essa rotina
dos finais de semana, principalmente, está cansando essas pessoas que, por esse motivo,
procuram novas emoções desencadeando “novos” problemas sociais, com o aumento das
estatísticas da (o): prostituição, gravidez prematura, proliferação de doenças sexualmente
transmissíveis, tráfico de drogas, alcoolismo e delinqüência juvenil.
Segundo dados do IBGE (2007), a população compreendida nessa faixa etária (15 a
29 anos) é de 15.040, dividido quase pela metade entre homens e mulheres, o que totaliza em
aproximadamente ¼ da população do município. Portanto, é um número bastante considerável
de pessoas jovens em busca de oportunidades e, ao que tudo indica, alimentará as estatísticas
dos péssimos indicadores sociais no estado nas questões mais diversas.
Por outro lado, percebemos que esses jovens respondem bem, e até com muita
satisfação, todas as vezes que são convocados para realizar alguma tarefa de cunho social,
como a que desenvolvemos com eles no período natalino em busca de doações de brinquedos
para as crianças carentes que residem em volta da instalação do IFMA. Verificamos o talento
artístico expressado por eles através da música, da dança e do teatro, em gincanas escolares.
Isso aponta para o fato de que a desigualdade social é, também, produto da falta de
oportunidades.
Com a expansão de vários Programas Assistencialistas tanto do Governo Federal
quanto do Estadual e da autonomia administrativa dos municípios garantidos pela
113
Constituição Federal, as práticas clientelistas em Buriticupu se fortalecem cada vez mais e o
político não tira mais recursos “do próprio bolso”, como antes fazia, para formar suas
clientelas. Ele faz isso agora se utilizando da máquina pública estadual e municipal e dos
poderes que também lhe são conferido institucionalmente, através ainda de concessões e
privilégios às elites econômicas locais.
Nas eleições municipais de 2008, o prefeito de Buriticupu se reelegeu com 54,03%
dos votos válidos - disputando a eleição com a oposição de direita no município (PMDB) -
com base no prestígio adquirido na negociação de favores não com parte da população,
mas, sobretudo, com as classes dominantes tradicionais advindas da indústria madeireira que
se formou no município, sobre as quais exerce forte liderança, por ser um dos maiores donos
de serraria da região.
Dos dez vereadores eleitos, não existe nenhum de oposição, e estão assim
distribuídos por partido: PR - 03; PMDB - 03; PDT - 01; PTB - 01; PSDB - 01 e PTC - 01.
Segundo dados do TRE- MA, o número de eleitores aptos a votar nessas eleições era 37.313,
sendo que a quantidade de comparecimento às urnas foi 31.568, o que implicou uma
abstenção de 5.745 eleitores (15,39%). Porém, o número de votos válidos para prefeito foi
29.480, o que gerou o total de 284 votos em branco e de 1.804 votos nulos, totalizando 2.088.
Aliás, a trajetória sucessória eleitoral desenvolvida em Buriticupu, com o instituto da
reeleição do prefeito ou de seu preposto, alternando-se no poder municipal, não é diferente da
que ocorre na grande maioria dos municípios maranhenses, o que é coerente com a lógica das
práticas clientelistas que estamos abordando como fator de peso a ser considerado na
reprodução e manutenção dos grupos políticos no estado, em função da pobreza da população.
Entretanto, o cientista político Edir Veiga Siqueira em sua tese A competição política
e os determinantes do resultado eleitoral nas disputas para o executivo: Municípios do Pará,
ao pesquisar o processo eleitoral em trinta municípios no estado vizinho (entre pequenos,
médios e grandes) nas três últimas eleições municipais, afirma que dos eleitos “apenas 40%
deles conquistaram o segundo mandato consecutivo”. E o que é surpreendente, para a nossa
realidade maranhense, é que, segundo ele, “os municípios classificados como pobres, que
vivem quase que exclusivamente do Fundo de Participação dos Municípios, a reeleição não
passou de 30%”. E mais surpreendente ainda é a conclusão que Veiga chega: “a pouca
eficácia da tentativa de troca do voto por barganhas de última hora. (...) o eleitor não recusa a
camiseta, a madeira e o aterro, mas o que faz definir seu voto é a avaliação do desempenho do
prefeito durante toda a administração.” (VEIGA, 2004).
114
Para Veiga, se um prefeito está mal avaliado, o eleitorado não se unirá a ele. Nessa
perspectiva, a política de clientela estaria moribunda no Pará e por extensão as oligarquias
nesses municípios menores. Tal entendimento, e o que está consubstanciado no bojo da
abordagem de Veiga, se choca com a teoria do controle oligárquico, como a defendida por
Arleth Borges citada neste trabalho, com respeito a essa questão - na qual estabelece que
quanto mais pobres os municípios, as oligarquias têm mais facilidade de controlar o poder,
embora Borges tenha se referido na sua tese apenas a uma oligarquia (Sarney) e, como
corolário, o seu grupo político no Maranhão.
Convém ressaltar que a pesquisa de Borges foi concluída em 2005 e, por esse tempo,
se tinha - e alguns ainda têm - o entendimento da existência de apenas uma oligarquia no
Maranhão. Aliás, essa compreensão alimentou e tem alimentado - o discurso das esquerdas
no Maranhão em responsabilizar o grupo Sarney pelos péssimos indicadores sociais no
estado.
A nossa pesquisa demonstrou que, no caso maranhense, existe não apenas uma
oligarquia, mas várias. E estas não escolhem lugar para se instalar e se reproduzir, desde que
encontrem condições favoráveis para tal, seja em pequeno, médio ou grande município. Por
outro lado, o eleitor maranhense - tal como o paraense abordado por Veiga, ao aceitar a
“madeira” ou o “aterro” está quase sempre negociando seu voto, até porque o “político não
nada de graça a ninguém”, claro. que o que vai definir o voto do eleitor maranhense,
neste caso, não é “a avaliação do desempenho do prefeito” à frente da administração
municipal, mas sim diante do que esse prefeito, ou outro político, nos demais casos, for
efetivamente capaz de fazer por ele (o eleitor) ou por sua família.
É isso que parece fazer diferença no Maranhão, onde a grande maioria dos eleitores
considera os políticos em geral como “da mesma laia”. E como deixou de acreditar neles e em
seus discursos, nem vislumbram perspectivas de transformação social, transforma o voto em
mercadoria, procurando valorizá-lo por meio de barganhas políticas que se materializam
através de relações clientelísticas que são estabelecidas com o prefeito, deputado ou seus
prepostos, na tentativa de poder minimizar as suas necessidades emergenciais. E isso vale não
apenas aos mais necessitados, como também àqueles que descobriram na força do voto não
como um instrumento capaz de mudar uma situação de penúria que se perpetua no Maranhão,
mas como uma forma de obter ganhos, vantagens ou privilégios para si, para seus parentes ou
para seu grupo político.
115
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A pesquisa partiu da hipótese de trabalho que se confirmou, em parte. Acreditávamos
que as condições de pobreza da maioria da população do Maranhão favoreciam a persistência
de determinadas práticas político-eleitorais e a reprodução dos grupos oligárquicos.
Dos 217 municípios maranhenses, 174 tinham em 2006 um eleitorado inferior a
20.000 - embora em outros 16 municípios o comparecimento às urnas tenha sido menor que
20.000 - sendo que é nesse universo que se encontra 83 dos 100 municípios com os piores
IDH do país, o que implica dizer que mais de 80% dos municípios maranhenses possuem um
eleitorado numa situação de vulnerabilidade alta, o que, dada a atual fragilidade das ações
coletivas autônomas, favorece a persistência de práticas políticas eleitorais marcadas pelo
clientelismo.
No entanto, constatamos ainda que não as pessoas mais necessitadas se submetem
às relações de clientelas. As pessoas mais “letradas” e socialmente “bem posicionadas”
utilizam-se também dessas relações para conseguir cargos públicos ou obter vantagens e
privilégios para si e para o seu grupo, seja político, seja familiar ou econômico.
Verificamos que a política maranhense não se desenvolve de modo independente das
regras nacionais, pois dessa mesma política participam sulistas, paulistas, cariocas, mineiros,
mato-grossenses, nortistas e, não apenas, nordestinos. Muitas dessas barganhas políticas
foram criadas pela “máquina” federal e apropriadas pelos estados e municípios que, por
exemplo, controlam a distribuição dos benefícios federais. De tal sorte que as forças dos
grupos políticos não mais se estruturam na posse de latifúndios e de suas relações de mando
no campo. Os programas assistencialistas do governo federal hoje servem como inspiração
para a criação e proliferação de tantos outros programas dessa natureza que, por sua vez,
possibilita e consagra as relações clientelistas. Até a natureza dos conflitos mudou, não mais
predomina a questão agrária. Agora a forma de conflito se pauta na violência urbana.
O cenário agora é outro, o município, através do governo federal, presta inúmeros
serviços assistencialistas aos seus munícipes, porém, na maioria deles, intermediados pelos
políticos locais. De modo que, ao considerarmos as precárias condições econômicas e sociais
dessas populações no estado e a redução de suas liberdades diante de suas carências, as
atitudes políticas predominantes neste eleitorado o impedem de avaliar seus candidatos
segundo uma perspectiva de transformação social. Tomam como referência apenas a
capacidade dos políticos profissionais para realizarem “favores”. Ou melhor, esse eleitorado
116
até que avalia a administração pública e os políticos, mas não pensando em usar o voto com
vistas a mudar a situação de precariedade em que vive. Isto por “não acreditar neles [os
políticos]” e por observar que mesmo com a “alternância de poder”, “as coisas não mudam”.
Também os deputados federais e estaduais e agora até os vereadores da capital
aliados aos governos, conseguem ter suas emendas aprovadas, possibilitando, assim,
“transformar” os recursos públicos em benefícios privados junto aos municípios.
De uma forma ou de outra, o que constatamos é que a máquina pública referenda ou
legitima essas relações clientelistas e, na maioria dos casos, na forma da lei, cujas práticas o
eleitorado, em geral, se “acostumou”, “banalizou”, o que redundou na formação, ao que
parece, da cultura do “conformismo”, da “acomodação”, da resignação”, em razão,
principalmente, das forças dos grupos políticos em cooptar lideranças populares de oposição
ou de esquerda e também aqueles que detêm o comando da administração nos municípios do
estado. Daí porque não surgiram lideranças novas no estado, principalmente nos municípios
maiores, ao mesmo tempo em que observamos que a maioria dos grupos sociais organizados,
senão todos, estão atrelados a um partido ou a um grupo político que se beneficia dessas
relações clientelistas.
Chegamos a um resultado diferente do encontrado em boa parte dos estudos sobre
práticas políticas eleitorais no Norte e Nordeste do país, os quais negam o exercício da
barganha eleitoral como fator determinante para os políticos vencer as eleições. A persistência
da pobreza no Maranhão e as condições de vida da população, demonstrada através dos
péssimos indicadores sociais, parecem explicar, em parte, a manutenção do clientelismo no
estado.
Talvez esse fato explique a razão do “atraso” do Maranhão em relação aos demais
estados da Federação, apesar de possuir condições objetivas para se desenvolver
economicamente e até ultrapassar outros, como demonstrado. Aliás, o Maranhão apresenta
duas faces: uma que pode ser melhor analisada através de suas potencialidades e outra por
meio de seus indicadores sociais.
Também ficou aqui demonstrado que o uso da “maquina pública”, principalmente
em períodos eleitorais, é determinante para vencer eleições, seja comandada pelo grupo
político de direita, seja pela “oposição”.
Por outro lado, enquanto em determinadas regiões do país os eleitores dos
municípios menores estão sendo mais seletivos e criteriosos nas escolhas de seus
representantes políticos, inclusive refletindo
no combate das oligarquias locais, no Maranhão
tal fato ainda não se ensejou. São nesses “grotões” que as oligarquias (não se trata de apenas
117
uma), procuram ganhar força, embora os embates políticos não sejam diferentes nos
municípios médios e maiores, onde o a correlação de forças entre os principais grupos
políticos se acirram.
Constatamos que o grupo político liderado pelo atual presidente do senado, José
Sarney, continua muito forte no estado e fortalecido também nas estruturas dos poderes
constituídos nacionais. E isso percebemos quando não verificamos qualquer penalidade aos
implicados em denúncias de corrupção supostamente ocorridas nas administrações do
governo estadual, sob o comando de seu grupo político.
Muitas dessas denúncias foram feitas no âmbito nacional, onde outras forças
políticas atuam, mas sem que tenha dado sequer uma resposta satisfatória à opinião pública. O
caso Lunus é um, entre inúmeros, de conhecimento da mídia nacional, quando em de
março de 2002, a Polícia Federal encontrou na mencionada empresa “27 mil notas de 50
reais”, dinheiro que foi explicado em várias versões na mídia, porém, mais tarde, foi
devolvido aos donos (Roseana Sarney e o seu marido Jorge Murad).
Não cabe aqui, e nem é nossa pretensão, fazer qualquer proposição diante do que foi
demonstrado. O nosso propósito foi o de analisar fatos sociais, sistematizando-os para uma
melhor compreensão do caráter sócio-político e econômico do estado do Maranhão,
privilegiando a reprodução das relações sociopolíticas e não investigar em profundidade sob a
ótica da transformação. Tal estudo poderá suscitar vários outros na tentativa de aprofundar o
que não foi muito explorado ou que exige nova análise para comparar com situações de outras
localidades.
118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGUIAR, Isaias Neres. Buriticupu sua história, geografia e características gerais do
antigo Projeto de Colonização ao progressista município maranhense. São Luís: Gráfica e
Editora Tauá, 2005.
ALMEIDA, Lúcio Flávio. Uma ilusão de desenvolvimento: nacionalismo e dominação
burguesa nos anos JK. Florianópolis: EDUFSC, 2006.
ARAÚJO, Francisco. Mandonismo e cultura política pós 1985. Araraquara: UNESP. Tese
(Doutorado em Sociologia) Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara, Universidade
Estadual Paulista, 2006.
BARBOSA, Zulene Muniz. Maranhão, Brasil: Lutas de classes e reestruturação produtiva
em uma nova rodada de transnacionalização do capitalismo. São Luís: UEMA, 2006.
_____________________. Transformações econômicas, políticas e sociais do Maranhão
contemporâneo: cenários de “desenvolvimento” regional. In: LIMA, Terezinha Moreira.
(org.) Desenvolvimento, poder e cultura política. São Luís: UEMA, 2006
BORGES, Arleth Santos. Conexão eleitoral e atuação parlamentar representantes e bases
eleitorais no Maranhão. Tese (Doutorado em Ciência Política) Instituto Universitário de
Pesquisas do Rio de Janeiro, 2005.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007.
BUZAR, Benedito. Politiqueiros, politicalha, politiquice, politicagem e política do
Maranhão. São Luís: SIOGE, 1989
_______________. O vitorinismo: lutas políticas no Maranhão (1945 a 1965). São Luís:
Lithograf, 1998
_______________. A Greve de 51: os trinta e quatro dias que abalaram São Luís. São Luís:
Editora Alcântara, 1983.
CALDEIRA, José de Ribamar Chaves. Estabilidade social e crise política: o caso do
Maranhão. Revista Brasileira de Estudos Políticos. São Paulo, nº 46, p.p. 55-101, 1978.
CORRÊA, Rossini. Atenas Brasileira: a cultura maranhense na civilização nacional. Brasília:
Thesaurus; Corrêa & Corrêa, 2001.
COSTA, Wagner Cabral de. Sob o signo da morte: o poder oligárquico de Victorino a Sarney.
São Luís: Edufma, 2006.
_______________. Do “Maranhão Novo” ao “Novo Tempo”: a trajetória da oligarquia
Sarney no Maranhão. 1997. Disponível em:
www.fundaj.gov. Acesso em: 10 de nov. 2009.
119
CPDOC. Fundação Getúlio Vargas. Dicionário Histórico Biográfico Brasileiro. Disponível
em: http://www.cpdoc.fgv.br. Acesso: 5 de nov. 2009.
DINIZ, Eli. Voto e Máquina Política Patronagem e Clientelismo no Rio de Janeiro. Rio de
Janeiro: Paz e Terra. 1982.
DOWBOR, L., IANNI, Octavio, RESENDE, Paulo E. A. (orgs). Desafios da globalização.
Petrópolis: Vozes, 1997.
FARIAS, Francisco Pereira de. Do coronelismo ao clientelismo: a transição política
capitalista no Noroeste do Piauí (1982- 1996). Campinas, SP: [s.n.], 1999.
FEITOSA, Raimundo Moacir Mendes. Tendências da economia mundial e ajustes nacionais
e regionais. Dissertação (Mestrado em Políticas Públicas), Universidade Federal do
Maranhão, São Luís, 1998.
FIGUEIREDO, Argelina C. & LIMONGI, Fernando. Executivo e Legislativo na nova ordem
constitucional. Rio de Janeiro: Editora FGV, 1999.
IBGE. Anuário Estatístico – Censo Demográfico, 1960, 1970.
LANDÉ, C. H. Introduction: the dyadic basis of clientelism. SCHMID, S. W. et. Alli. (Eds.)
Friends, Followers and Factions. A Reader in political clientelism. Berkeley,University,
University of California Press, 1977. Versão em Português.
LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto. ed., São Paulo: Editora Alfa-Omega,
1993.
LIMONGI, Fernando & FIGUEIREDO, Argelina. As Reformas (des) necessárias. São Paulo:
São Paulo em Perspectiva, vol. 10, n. 4, Out/Dez 1996. p.p. 37-43.
MAINWARING, Scott. Políticos, partidos e sistemas eleitorais. São Paulo:Novos Estudos
CEBrap, n. 29, março de 1991, pp. 34-58.
MARTINS, José de Souza. O poder do atraso: ensaios de sociologia da história lenta. São
Paulo: Editora Hucitec, 1994.
OTTMANN, Goetz. Cidadania mediada: processos de democratização da política municipal
no Brasil. Revista Novos Estudos: CEBRAP, São Paulo, 74, março 2006, p.p. 155-175.
Tradução do inglês: Alexandre Morales.
PEREIRA, Carlos e MUELLER, Bernardo. Partidos fracos na arena eleitoral e partidos
fortes na arena legislativa: a conexão eleitoral no Brasil. Rio De Janeiro: Dados Revista de
Ciências Sociais, v. 46, n. 4, 2003, pp. 735-771.
PINHEIRO, Luiz Adolfo. A república dos golpes: de Jânio a Sarney. São Paulo: Editora Best
Seller, 1993.
120
REIS, Flávio. Grupos políticos e estrutura oligárquica no Maranhão. São Luís: [s.n.], 2007.
SAES, Décio. Estado e democracia: ensaios teóricos. 2 ed. Campinas: UNICAMP, Instituto
de Filosofia e Ciências Humanas, 1998.
VERBETE Sarney do dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (D-HBB), produzido e
publicado pelo Centro de Pesquisa e Documentação de História Contemporânea (CPDOC) da
Fundação Getúlio Vargas (FGV).
VIEIRA, Pe. Antônio. Sermão da Quinta Dominga da Quaresma. Sermões Escolhidos,
Volume I. Literatura Brasileira. Edameris, São Paulo. 1995. Disponível em:
http://www.cce.ufsc.br/~nupill/literatura/5dominga.html. Acesso em 5 de out. de 2009.
WEBER, Max. Ciência e Política Duas Vocações. Tradução MELVILLE, Jean. Editora
Martin Claret. São Paulo, 2003.
Documentários
Maranhão 66: Posse do Governador José Sarney. Curta metragem. Reportagem
cinematográfica de Glauber Rocha e Fernando Duarte. Produção: Luís Carlos Barreto.
DIFILM.
João do Vale Muita Gente Desconhece. Direção: Werinton Kermes. Companhia
Produtora: Gramppo Filmes. Ano: 2005. Curta metragem.
Fontes Eletrônicas Citadas
Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicada: www.ipea.gov.br
Tribunal Superior Eleitoral – TSE: www.tse.gov.br
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE: www.ibge.gov.br
Sistema de Benefícios ao Cidadão – SIBEC: www.beneficiossociais.caixa.gov.br
Tesouro Nacional: www.tesouro.fazenda.gov.br
Portal do Governo do Estado do Maranhão: www.ma.gov.br
121
Acervos de Instituições
Arquivo Público do Estado – Maranhão
Biblioteca Pública do Estado
Departamento de Assuntos Culturais – Universidade Federal do Maranhão
Diário Oficial do Estado
Diário Oficial do Município
Fundação da Memória Republicana/Memorial José Sarney São Luís – MA
Instituto Maranhense de Estudos Socioeconômicos e Cartográfico
Procuradoria da República no Maranhão
Tribunal Regional Eleitoral do Maranhão – TRE
JORNAIS
O Dia
O Estado do Maranhão
O Globo
O Imparcial
1
ANEXOS
EXTRATO DAS ENTREVISTAS E DAS OBSERVAÇÕES REALIZADAS
Destacamos aqui os principais trechos extraídos das entrevistas e das observações
realizadas para a pesquisa.
Do eleitor sobre o político:
“Ele é bom porque se você dá uma ajuda [voto] prá ele, ele te ajuda.” (trabalhador
rural)
“Eu voto nele porque se eu pedir qualquer coisa para ele, ele me ajuda.” (trabalhador
rural)
“Tem muito político que promete, promete e não cumpre o que promete.” (jovem)
“O mais votado para vereador foi [fulano] porque ele ajuda muita gente.”
(trabalhador urbano)
“Se a gente não votar nele, ele sabe. E se ele é eleito ele vai querer ferrar com a
gente.” (trabalhador rural)
“Ele [o político] fala tanto, mas não faz nada.” (jovem)
“São tudo farinha do mesmo saco.” (funcionário público)
“São todos da mesma laia.” (funcionário público)
“Político não faz nada, cada dia ele tá mais rico.” (jovem)
“Político não dá nada de graça a ninguém.” (trabalhador urbano)
“A gente recebe tinta e cimento para reformar a casa.” (trabalhador urbano)
“Eles só lembram da gente na época das eleições.” (dirigente de associação)
“Eu espero a época das eleições para poder ganhar algum material de construção para
arrumar a minha casinha”. (trabalhador urbano)
“Tem muita gente fazendo mutreta com esse negócio de bolsa família. Tem gente
na minha rua que trabalha e tem carro na porta e no dia de pagamento do benefício tá
lá na fila prá receber o dinheiro. Só porque é amiga do vereador.” (jovem)
“O político não faz nada, só para os deles.” (trabalhador urbano)
“Os caras que se encostam nesses políticos estão todos bem de situação.” (militante)
2
“Não dou meu voto de graça prá político nenhum, não sou besta” (trabalhador
urbano)
“Deputado não faz nada.” (jovem)
“Se você não votou no político que se elegeu, você tá ferrado.” (trabalhador rural)
“Adianta reclamar? Prá quem reclamar?” (jovem)
“Se você reclamar fica visado.” (jovem)
“Isso aqui não muda não. Vai ser assim até quando Deus quiser.” (trabalhador
urbano)
“O povo é ignorante, não sabe votar.” (jovem)
“O povo é alienado.” (jovem)
“Analfabeto não sabe votar.” (jovem)
“Deputado cada dia está mais rico.” (militante)
Do político sobre o eleitor:
“O eleitor vota por causa do dinheiro [ajuda].” (vereador A)
“O cara só vota por causa do dinheiro. Se não der dinheiro o cara não vota.”
(vereador A)
“Se a gente não prometer, não se elege.” (vereador B)
“Se a gente fizer toda hora concurso prá esse povo, eles vão acabar virando as costas
prá nós.” (vereador B)
“Se o cara não der nada a ninguém não se elege.” (vereador A)
“O povo é muito ingrato, não reconhece o que a gente faz prá eles e ainda quer
sempre mais.” (vereador B)
Na eleição passada [para vereador] o cara botou mais de setecentas carradas de barro
pro povo e achava que tava eleito, se deu mal. Não teve nem trezentos votos. Quem
deu mais foi quem se elegeu.” (vereador A)
“O pessoal aqui que não é funcionário público e nem empregado do comércio, vive
exclusivamente dos programas sociais do governo. O pessoal até se acomodou,
esperando no fim de cada mês para receber esses benefícios.” (vereador A)
“O pobre vota nos políticos porque precisa deles.” (vereador A)
3
Sobre o prefeito e a administração pública municipal
“O prefeito, em vez de fazer concurso público, fica é botando os deles na
Prefeitura.” (militante)
“Nem em casa se tem mais tranqüilidade. Semana passada entraram na casa dessa
minha vizinha e levaram todas as jóias dela. Ela foi dar parte na Delegacia e o
Delegado ficou foi debochando dela dizendo que não podia fazer nada porque a
viatura estava sem combustível para fazer diligência.”
“Lá na minha rua prá andar a noite é um breu. Não tem uma lâmpada nos postes.”
“O prefeito não faz nada.” (jovem)
“Soube outro dia que prenderam um monte de prefeitos por desvio de dinheiro, mas
o daqui não prendem não.” (militante)
“Queria saber prá onde indo todo esse dinheiro do FPM que vem para cá [o
município].” (funcionário público)
“Essa administração é muito ruim.” (jovem)
“As coisas aqui no ‘Buriti’ não mudam nunca.” (militante)
“Veja como a nossa cidade é imunda e feia. É lixo e poeira espalhado prá tudo
quanto é lado.” (trabalhador urbano)
“O carro de lixo passa aqui uma vez por semana, quando a catinga braba.”
(funcionário público)
“Não temos uma área de lazer para praticar esportes.” (jovem)
“O prefeito até que é esforçado.” (vereador)
“Não podemos mais sair a noite por causa dos vagabundos que vem tomar o pouco
que a gente tem.” (jovem)
“As pessoas daqui do Buriti’ quando tem problema sério de saúde, tem que se
deslocar às pressas para Açailândia ou Santa Inês, isso se não morrer no caminho.”
(funcionário público)
“O prefeito tá no segundo mandato e nem rodoviária ele faz.” (jovem)
“O prefeito colocou no hospital gente dele e quando a gente precisa de uma
consulta ou de um exame tem que ir até o pessoal dele para pedir favor.” (militante)
“O juiz, o delegado, o promotor, é tudo deles [pertencente ao grupo político do
prefeito.” (militante)
4
“Prá sair daqui em dia de muita chuva, só montado [ a cavalo].” (trabalhador rural)
“Não acredito em nenhum político.” (funcionário público)
“Você viu o prefeito? Era do lado de Jackson quando tava no governo, agora pulou
pro lado de Roseana.” (militante)
“A gente aqui trabalhando, mas a gente faz o que o prefeito quer. Se a gente não
fizer ele bota outro no nosso lugar.” (funcionário público)
“O prefeito muito rico, tem até apartamento de milhões de reais em São Luís.”
(funcionário público)
Sobre os partidos políticos e as associações comunitárias
“O PT é que nem mandacaru, não faz sombra e nem serve para se encostar.”
(vereador)
“A Polícia Federal vem de vez em quando aqui prender esse pessoal, mas no outro
dia tá todo mundo solto.” (jovem)
“A associação que não recebe dinheiro do município não sobrevive. Toda associação
está ligada a um político.” (dirigente de associação)
“Tem muito vereador aqui que tem várias associações para receber dinheiro da
prefeitura e empregar os deles.” (dirigente de associação)
“Não adianta [o partido] ser contra o prefeito porque nós não vamos conseguir fazer
nada e na próxima eleição a gente não se elege.” (vereador)
“Essas associações é só para pegar dinheiro” (jovem)
“A gente apóia quem apóia a gente.” (dirigente de associação)
“Ser oposição aqui no ‘Buriti’ é perda de tempo.” (vereador)
“Tentei estruturar vários movimentos sociais aqui e o povo não quer nada.”
(militante)
“Tínhamos uma rádio comunitária na Terra Bela para informar melhor a nossa
comunidade, mas aí veio o pessoal da prefeitura e mandou destruir tudo.” (militante)
5
PRINCIPAIS REIVINDICAÇÕES DOS ESTREVISTADOS PARA O
MUNICÍPIO, PELA ORDEM DE PRIORIDADE
Segurança pública
Emprego
Saúde pública
Abastecimento de água encanada
Limpeza das ruas
Asfalto nas ruas e na zona rural
Iluminação pública
Praça de esportes
Ônibus circular
TIPOS DE RECOMPENSA DO ELEITOR NA “TROCA” DE VOTO, PELA
ORDEM DE NECESSIDADE
Facilidades na hora de conseguir benefícios do governo
Emprego
Ajuda para reformar a casa
Ajuda para as associações
Serviços
6
FOTOS
BR 222 - Entrada do Município de Buriticupu Instituto Federal de Educação – IFMA, ex CEFET
Contraste das edificações Carvoaria em operação
7
Meio de transporte utilizado na zona rual – As “Jardineiras” ou “Pau-de-Arara”
Restaurante “ De Costa Prá Rua”
8
“Rodoviária” Centro Comercial do Município de Buriticupu
Detalhe das condições das ruas BR 222 – Saída para Açailândia e Imperatriz
9
BR 222 – Saída para Açailândia e Imperatriz
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo