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O novo mito da Importância do Não Saber e o rito do desinteresse na sala de
aula.
Como professor proponho uma breve analise de um novo mito que tenho observado
no dia a dia, em sala de aula: A importância do não saber. Buscando, ainda,
entender a relação entre esse mito e o desinteresse observado em alguns alunos,
meus e de amigos professores.
Primeiramente, é interessante estabelecermos uma concepção de mito. O mito é “ o
modo como um povo ou civilização entende e interpreta a existência”( Mircea Eliade,
Aspectos do Mito, pág12/13). E, ainda, faz-se necessário entendermos que o
objetivo do mito é “... criar valores, senso de identidade e coesão entre os membros
de um grupo social ou de uma nação. Ele visa fazer com que os indivíduos
comunguem a mesma cosmovisão, as mesmas emoções, os mesmos sentimentos e
a mesma vontade, produzindo um elo de ligação e de identidade”.¹ Porém, para
analisarmos o Novo Mito da importância do Não Saber, devemos olhar para trás e
contemplar um outro mito, que entendo como o mito original deste: o mito do Saber
Escolástico como Redentor da Civilização. A história nos mostra a escrita como um
antigo instrumento de poder. Os que detinham o conhecimento da escrita e da
leitura não estavam sujeitos aos trabalhos manuais e penosos e ocupavam cargos
importantes na hierarquia política.² Com a assimilação deste fato pelas massas e
com a observação desta realidade no decorrer dos tempos criou-se o mito que o
saber escrever melhorava a condição de vida de um homem.
Com a criação da instituição escolar, o aprendizado da leitura e da escrita, e de
outros saberes, foi deslocado para dentro das salas de aula e a escola começou a
fazer parte do mito do saber, como um local “sagrado”, o lugar onde se obtém o
conhecimento, tão necessário para o homem que queria destacar-se. Houve então a
democratização do ensino e a escola deixou de ser apenas freqüentada por
privilegiadas classes sociais.
A desilusão.
Agora, ricos e pobres podiam ir às escolas. O conhecimento “estava lá”, à
disposição de todos que o quisessem. Educação gratuita e constitucional. Mas o
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tempo mostrou que ainda assim, com o acesso ao conhecimento escolar, a
sociedade não se tornou tão melhor. Os pobres que freqüentavam a escola não
saíram de lá ricos. Ainda existiam problemas econômicos, sexuais, judiciais,
religiosos e etc. E a população passou a desacreditar do poder mágico que a escola
deveria ter. Paralela a desilusão, ou como agravante à ela, estudiosos, como Michel
Foucault, mostravam uma outra visão da escola , uma visão pesada e as vezes até
assustadora.³
A escola passou a ser mostrada como um centro de alienação e adestramento de
pessoas.
A instituição escolar perde então seu caráter de transmissora do conhecimento e da
verdade e adquire um aspecto repressor, totalitário e manipulador. Obviamente,
algumas pessoas permaneceram fiéis a crença da Educação Transformadora, e
correntes pedagógicas ( Construtivismo, por exemplo) surgiram para tentar mudar o
sistema de ensino.Talvez esse fosse o problema: o sistema de ensino...não a
escola.
A divulgação de um novo padrão. Mídia e sociedade. O cinema, a televisão e a
mídia em geral mostram um novo herói na epopéia capitalista. O herói que supera a
fome, o desconhecimento e a solidão amorosa através do seu poder. Este herói não
tem uma visão de raio X, não é feito de aço, não voa e nasceu pobre – estes itens e
outros são responsáveis pela identificação que o adolescente estabelece com o
herói- O poder que o herói tem é o capital. O dinheiro. Como explanado
anteriormente, houve um tempo em que os heróis, os modelos bem sucedidos,
necessitavam de estudo, mas os heróis mudaram com o tempo e hoje a mídia
divulga esse novo herói que não estudou para ter o que tem. Muitas vezes esse
herói não pôde estudar por falta de condições propícias como o trabalho infantil e
etc, mas o fato é o mesmo.
O herói analfabeto funcional que é jogador de futebol, o herói traficante, o herói
contrabandista, o herói que toca pandeiro em um grupo musical... que anda em
carro importado, que namora as louras mais sensuais, que é famoso e aparece na
caixa mágica da televisão. E como o objetivo do herói é o exemplo, o modelo, a
imitação, torna-se muito mais fácil identificar-se com esse herói humano, supra-
citado, do que com o que voa e segura um projétil nas mãos. Começa-se então,
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talvez inconscientemente, a imitação. Assim surge o novo mito, que é primeiramente
assimilado pela massa e depois entendido como verdade: A importância de não
saber.
O não saber adquire importância na medida em que os ídolos, heróis e referenciais
se aproximam dele. O saber que me refiro é, obviamente, o saber curricular, o saber
que é transmitido pela escola e não o saber vivência de mundo. Logo, se o herói
imitado pelo adolescente não precisou do estudo para conseguir sua ascensão
financeira, o adolescente crê não precisar também. Eis o mito em si. Infelizmente, é
raro encontrarmos, nas escolas, alunos que estudem por prazer, por buscarem o
conhecimento e as verdades oferecidas na escola. A maioria estuda por obrigação,
por que seus pais determinam. De modo cíclico os pais estão presos aos velhos
heróis, que estudaram para ganhar dinheiro, e entendem que para que os filhos
tenham dinheiro também ( ou seja, o estudo se torna um meio para o fim capital)
devem estudar. Mas os filhos possuem outros heróis para espelharem-se.
Rito.
Entendendo que o rito é o que possibilita vivência do mito e sua permanência no
campo social, como por exemplo os rituais religiosos que através de suas cerimônias
–ritos, ensinam e fundamentam suas crenças e deuses-mito, na consciência-
inconsciência?, das pessoas que estão envolvidas, analisemos, agora, qual a
relação entre o rito e o desinteresse dos alunos.
Antes, é importante entender que está não é uma analise simplista que tem com
objetivo determinar o motivo único do desinteresse pela escola entre os alunos.
Tenho plena consciência de que outros fatores, talvez até mais relevantes,
determinam e culminam nesse desinteresse. O que busco é a analise e
compreensão de um desses fatores. Como uma parcela que foi, por questões
didáticas, isolada das outras para o estudo. O desinteresse apresentado por alguns
alunos, a falta de empenho na realização dos trabalhos, e a falta da vontade de
estudar na verdade fazem parte de uma cerimônia, de um ritual que vivenciado
diariamente e internalizado faz a manutenção do Mito da Importância do Não Saber.
Aplicada então a teoria do Mito e Rito na rotina escolar, faz-se necessário a busca
de uma solução. Não, exatamente, com o pensamento de que a escola mudará a
vida destes alunos – embora muito me agrade esta idéia- mas com a consciência de
que o saber apreendido pode ser um instrumento importante para o alcance dos
objetivos destes mesmos alunos.
Texto escrito por: Vinícius Oliveira em 20/07/2009.
Bibliografia
1- http://www.sociedadeteosofica.org.br/bhagavad/site/livro/cap65.htm
2- http://www.nossaversao.pro.br/historia_detalhes.php?numero=47
3-http://revistaescola.abril.com.br/historia/pratica-pedagogica/critico-instituicao-
escolar-423110.shtml
http://psicoforum.br.tripod.com/index/artigos/mito1.htm
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