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conviver e moralizar. Então haveria uma reconstrução do modo de vida, de produzir,
consumir, substituindo a quantidade pela qualidade.
“A elevação do nível de vida no âmbito da civilização ocidental está
gangrenada pelo abaixamento da qualidade de vida. O mal estar parasita o
mal estar.” (MORIN, 1997: p. 136).
Nesse contexto, a ânsia de uma vida melhor e mais confortável faz com que os
homens produzam uma sociedade injusta e destruam o meio natural, imprescindível
para todos, num desenvolvimento desenfreado, que vai moldando novos valores e
perspectivas de vida para os cidadãos urbanos.
Dessa reconstrução cultural, um dos novos elementos que vai se destacando é o
tempo do trabalho e em contraste, ao de lazer. Ou o lazer moderno, no qual o
trabalhador conquista um tempo livre para o descanso, consumo ou o lazer
propriamente dito. Esse indivíduo urbano, cosmopolita, inserido numa civilização
preocupada com o bem estar procura em seu tempo livre, diversas atividades culturais e
turísticas. De dentro do bem estar, nasce o mal estar; se por um lado cresce o poder de
compra e turístico dos cidadãos, por outro aumentam as doenças psicológicas, suicídios
e consumo de remédios anti-stress, depressões, pressão alta, artritismo, entre outras.
“...Há uma angústia que deve, necessariamente, assaltar o ser humano,
o qual, quando se torna tudo, sabe ao mesmo tempo que não é nada. A cultura
de massa recalca essa angústia tanto nos divertimentos cósmicos como no mito
da felicidade ou na procura da segurança. Na realidade, a angústia sai por
todos os poros da cultura de massa, mas, precisamente, sai expulsa por
movimentos, agitações, trepidações, imagens de golpes, armadilhas, ataques,
homicídios...(...)Na realidade, a cultura de massa é tão frágil quanto
conquistadora, frágil na medida em que ela depende das contradições da crise
mundial, conquistadora na medida em que se baseia nos processos dominantes
da era técnica...(...)De um lado uma vida menos escravizada às necessidades
materiais e às probabilidades naturais, de outro lado, uma vida escravizada às
futilidades. De um lado, uma vida melhor, de outro lado, uma insatisfação
latente. De um lado, um trabalho menos penoso, de outro lado, um trabalho
destituído de interesse. De um lado, uma família menos opressiva, de outro
lado uma solidão mais opressiva. De um lado uma sociedade protetora e um
Estado assistencial, de outro lado, a morte sempre irredutível e mais absurda
do que nunca. De um lado o aumento das relações de pessoa a pessoa, de
outro lado a instabilidade das relações. De um lado o amor mais livre, de
outro lado, a precariedade dos amores. De um lado a emancipação da mulher,