16
Henrique Pongetti relembra, na revista Comunicação, as dificuldades dos anos iniciais:
a falta de capital para um projeto ousado e com um agravante, a concorrência de alta
qualidade da revista O Cruzeiro, já consolidada no mercado.
Não podendo competir com o volume de matéria da revista dominante eu só
poderia tomar um caminho jornalístico: As reportagens originais, os fatos de
impacto, a grande colaboração literária, a alta caricatura, os serviços fotográficos
exclusivos das agencias estrangeiras. Muito menos, mas muito bom. Bossa, bossa e
mais bossa. Bossa, modéstia à parte, nunca me faltou, mas bossa sem dinheiro bota
a gente na situação de comprar o refugo do fotógrafo nas agencias secundárias e de
solancar dia e noite para escrever – como escrevi – quarenta por cento dos
primeiros números.
10
Posteriormente, foram adquiridas novas máquinas e um terreno no subúrbio de Parada
de Lucas, onde se construiu o parque gráfico. Inversamente à estratégia de O Cruzeiro
de alardear tiragens inacreditáveis, a Manchete não revelava essa informação. A
estimativa só poderia ser feita com base no relato de Adolpho Bloch sobre a capacidade
das rotativas
11
.
O investimento em equipamentos e instalações foi simultâneo à
reformulação da política editorial de 1956. A mudança abrangeu todos os setores da
publicação, transformando a paginação e atualizando o texto, com o objetivo de
fornecer ao leitor elementos necessários à compreensão dos acontecimentos.
A equipe de redação foi reforçada. Do quadro de jornalistas, redatores e colaboradores
— selecionados entre pessoas de destaque no meio intelectual — de fato, a equipe que
compunha aquele semanário era composta por profissionais notoriamente competentes.
A exemplo disso cito alguns nomes, sem querer ser injusta com o quadro editorial que
foi de primeira grandeza: Henrique Pongetti, Dirceu Nascimento, Otto Lara Resende, já
citados anteriormente, e Raimundo Magalhães Junior, que começaram com a revista;
Nahum Sirotsky, Newton Carlos e Murilo Melo Filho, Carlos Drummond de Andrade,
Rubem Braga, Joel Silveira, Orígenes Lessa, Guilherme Figueiredo, Otto Maria
Carpeaux, Manuel Bandeira, Fernando Sabino, Antônio Maria, Nelson Rodrigues,
Marques Rebello, Paulo Mendes Campos, Lígia Fagundes Telles, Antônio Callado,
Heitor Cony, Sérgio Porto, Ciro dos Anjos, Olegário Mariano, Jânio de Freitas e muitos
outros. Entre os vários editores, Justino Martins, que ocupou tal cargo de 1959 até sua
morte, em 1983. Jean Manzon, que trabalhou para a Paris Match e O Cruzeiro, foi o
principal fotógrafo. Ao seu lado, estiveram Darwin Brandão, Gil Pinheiro, Gervásio
Baptista, Fúlvio Roiter, Jader Neves e outros.
A partir da revista nº. 219 de junho de 1956, a página do editorial aparece com uma
nova imagem gráfica. Antes era composta apenas pelo editorial, assinado por Henrique
Pongetti, que ocupava a maior parte de página, e um pequeno quadro “Atualidades”,
ilustrado por uma ou duas fotos na parte inferior. Nesta revista a página conta, além do
editorial (que ainda ocupa a maior parte da página), com um sumário, um quadro com
dados da revista como endereço e representantes (diretor, redator...) e uma foto
miniatura da capa da revista destacando o nome do fotógrafo e da imagem retratada.
10
PONGETTI, Henrique. Tudo começou como uma bela e louca aventura. Comunicação. Rio de Janeiro,
Ano 6.(22): p.6, 1977.
11
ANDRADE, Ana Maria Ribeiro; CARDOSO, José Leandro Rocha. Aconteceu, virou manchete. In:
Revista Brasileira de História. São Paulo, V.21, nº41, p. 243-264. 200. (apud) Bloch, Adolpho. De Kiev
ao Rio. Manchete. Rio de Janeiro. Ed. Especial, p.242-253 e 256. nov. 1997.