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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
___________________________________________
__________________
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO
GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA
VEGETAL
GECIANI MIRIAM SILVA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O GÊNERO BAUHINIA L. (CAESALPINIOIDEAE - LEGUMINOSAE) NO ESTADO
DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL
Orientador(a): Ângela Lúcia Bagnatori Sartori
Co-orientador(a): Ângela Maria Studart da Fonseca Vaz
CAMPO GRANDE – MS
2008
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ii
MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO
___________________________________________
__________________
FUNDAÇÃO UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO
GROSSO DO SUL
CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM BIOLOGIA
VEGETAL
GECIANI MIRIAM SILVA
DISSERTAÇÃO DE MESTRADO
O GÊNERO BAUHINIA L. (CAESALPINIOIDEAE - LEGUMINOSAE) NO ESTADO
DE MATO GROSSO DO SUL, BRASIL
Dissertação apresentada como um dos
requisitos para obtenção do grau de
Mestre em Biologia Vegetal junto ao
Departamento de Biologia do Centro de
Ciências Biológicas e da Saúde.
CAMPO GRANDE – MS
2008
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iii
Dedicatória
Dedico este trabalho a minha mãe Maria das Graças, minha irmã Giselly,
meu sobrinho Cadu e meu namorado e amigo Heitor pela dedicação, auxílio
e apoio no decorrer destes dois anos.
iv
Agradecimentos
Agradeço a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) e a FUNDECT (Fundação de Apoio ao
Desenvolvimento de Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso do Sul) pela bolsa concedida.
Agradeço à Coordenação do Mestrado em Biologia Vegetal da UFMS e à Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação, pelo
auxílio financeiro na confecção do banner e ida ao Congresso Nacional de Botânica.
Agradeço ao corpo docente do Curso de Mestrado em Biologia Vegetal da UFMS que contribuíram com este trabalho.
Agradeço de coração à Profª Drª. Ângela Lúcia Bagnatori Sartori, pelo constante estímulo, amizade, carinho, apoio e
incentivo durante a execução deste trabalho e por se o exemplo de profissional que eu quero seguir.
Agradeço à Profª Drª. Ângela M. S. da Fonseca Vaz pela Co-orientação e auxilio na visita ao Jardim Botânico do Rio de
Janeiro.
Agradeço aos membros da banca, Drª. Adriana Guglieri e Dr. Vidal de Freitas Mansano, por terem aceitado meu convite e
oferecerem sugestões imprescindíveis para o aperfeiçoamento deste trabalho.
Aos Professores Geraldo Damasceno Júnior, Rosângela Sigrist e Vali Joana Pott pelas sugestões e colaboração durante a
qualificação.
Ao Dr. Arnildo Pott pela colaboração durante a execução deste trabalho.
Aos curadores dos herbários BHCB, CEUL, CGMS, COR, ESA, HB, HMS, HRBC, IAC, INPA, R, RB, SPF, SPSF, UB e
UFMT, pelo empréstimo dos materiais.
A todos os pesquisadores que coletaram Bauhinia em Mato Grosso do Sul.
A Leila pelas ilustrações e pela grande auxílio durante a dissertação.
Aos amigos que conquistei no mestrado e em especial a minha turma: Ana Cristina, Carlos, Esther, Fabio, Joelma, Jucélia,
Karina, Samuel e Zildamara.
v
Aos amigos e companheiros da Biossistemática Ana Cristina, Esther Amolar, Fábio, Aurora, Cristiane, Wellington e
Jaqueline pelo carinho e amizade demonstrado e pela preciosa ajuda em todas as etapas deste projeto.
Ao nosso mascote Boris, pela companhia durante as noites, feriados e finais de semana na Biossistemática.
Aos Estagiários Vivian, Halisson, Wanderleia e Thales, pela colaboração no trabalho e momentos de descontração no
Herbário.
Toda turma da turma dos almoços na Botânica.
A Profª Vera, diretora da Escola Estadual Alice Nunez Zampiere e a todos meus alunos pelo incentivo e compreensão.
Ao Dr. José Roberto Campos Sousa, pelo incentivo na realização deste projeto.
Aos amigos que direta ou indiretamente contribuíram neste trabalho meu muito obrigado
Ao meu namorado e amigo Heitor e a minha família pelo incentivo e por compreender minha ausência durante o período da
realização deste trabalho.
E principalmente a Deus, por me dar força e saúde para concluir mais essa etapa da minha vida.
A TODOS MEUS MAIS SINCEROS AGRADECIMENTOS!
vi
RESUMO
(O gênero Bauhinia L. (Caesalpinioideae - Leguminosae) no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil) -
Bauhinia sensu stricto (Caesalpinioideae - Leguminosae) é um gênero pantropical com cerca de 150
espécies. Este trabalho consiste no levantamento de representantes de Bauhinia s. s. ocorrentes no estado
de Mato Grosso do Sul. Para tanto, foram analisados espécimes herborizados provenientes de acervos
regionais e nacionais e de coletas realizadas em diferentes regiões do Estado. É confirmada a ocorrência
de 14 espécies de Bauhinia s. s., sendo estas B. bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr., B. bicolor (Bong.)
Steud., B. cheilantha (Bong.) Steud., B. corniculata Benth., B. curvula Benth., B. hagenbeckii Harms, B.
holophylla (Bong.) Steud., B. leptantha Malme, B. longifolia (Bong.) Steud., B. marginata (Bong.)
Steud., B. mollis (Bong.) D. Dietr., B. pentandra (Bong.) D. Dietr., B. pulchella Benth. e B. ungulata L.,
distribuídas em quatro séries, todas pertencentes à seção Pauletia. Bauhinia bicolor não havia sido
reportada para Mato Grosso do Sul até o momento e B. corniculata também é referida pela primeira vez
para o Estado e para a região Centro-Oeste do Brasil. Bauhinia hagenbeckii, não registrada desde 1895,
foi confirmada para o Brasil. As ilustrações de B. hagenbeckii e B. corniculata também são inéditas. Os
resultados incluem descrições, comentários taxonômicos, chave de identificação, ilustrações e dados
atualizados de floração, frutificação e ambientes de ocorrência das espécies.
Palavras-chave: Taxonomia Vegetal, Fabaceae, Cercideae, Flora, Centro-Oeste
vii
ABSTRACT
(The genus Bauhinia L. (Caesalpinioideae - Leguminosae) in the state of Mato Grosso do Sul, Brazil) -
This study is a survey of species of Bauhinia sensu stricto (Leguminosae) occurring in the State of Mato
Grosso do Sul. Therefore, dried specimens from regional and national herbaria and field collections in
different regions of the State were analysed. The occurrence of 14 species of Bauhinia sensu stricto is
confirmed, which are B. bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr., B. bicolor (Bong.) Steud., B. cheilantha
(Bong.) Steud., B. corniculata Benth., B. curvula Benth., B. hagenbeckii Harms, B. holophylla (Bong.)
Steud., B. leptantha Malme, B. longifolia (Bong.) Steud., B. marginata (Bong.) Steud., B. mollis (Bong.)
D. Dietr., B. pentandra (Bong.) D. Dietr., B. pulchella Benth. and B. ungulata L., distributed in four
series, all belonging to the section Pauletia. Bauhinia bicolor had not been reported for Mato Grosso do
Sul so far and B. corniculata is also referred for the first time in the State and Central-West of Brazil.
Bauhinia hagenbeckii was confirmed for Brazil, had not been recorded since 1895. The illustrations of B.
hagenbeckii and B. corniculata are also inedited. The results include descriptions, taxonomic comments,
identification key, illustrations and updated data on the flowering and fruiting and habitats of the species.
Key words: Plant Taxonomy, Fabaceae, Cercideae, Flora, Central-West
viii
ÍNDICE
RESUMO...................................................................................................................................................vi
ABSTRACT..............................................................................................................................................vii
ÍNDICE....................................................................................................................................................viii
INTRODUÇÃO GERAL............................................................................................................................x
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS....................................................................................................xiii
Artigo: O Gênero Bauhinia L. (Leguminosae) no Estado de Mato Grosso do Sul, Brasil.........................1
Resumo........................................................................................................................................................1
Abstract.......................................................................................................................................................1
Introdução...................................................................................................................................................2
Material e Métodos.....................................................................................................................................3
Resultados e Discussão...............................................................................................................................3
Descrição do gênero Bauhinia L. ..............................................................................................................4
Chave de identificação para as espécies de Bauhinia sensu stricto ocorrentes em Mato Grosso do Sul,
Brasil ..........................................................................................................................................................5
Descrição da série Aculeatae Vaz & A.M.G.A. Azevedo..........................................................................6
Descrição de Bauhinia mollis (Bong.) D. Dietr..........................................................................................6
Descrição da série Cansenia (Raf.) Wunderlin...........................................................................................7
Descrição de Bauhinia bicolor (Bong.) Steud. ..........................................................................................8
Descrição de Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud. .....................................................................................9
Descrição de Bauhinia curvula Benth. ....................................................................................................10
Descrição de Bauhinia holophylla (Bong.) Steud. ...................................................................................11
Descrição de Bauhinia leptantha Malme .................................................................................................13
Descrição de Bauhinia longifolia (Bong.) Steud. ....................................................................................14
Descrição de Bauhinia pulchella Benth. ..................................................................................................15
Descrição de Bauhinia ungulata L. ..........................................................................................................16
Descrição da série Pentandrae Wunderlin et al. ......................................................................................17
Descrição de Bauhinia corniculata Benth. ..............................................................................................18
Descrição de Bauhinia hagenbeckii Harms .............................................................................................19
Descrição de Bauhinia marginata (Bong.) Steud. ...................................................................................20
Descrição de Bauhinia pentandra (Bong.) D. Dietr.................................................................................21
Descrição da série Perlebia (Mart.) Wunderlin........................................................................................23
Descrição de Bauhinia bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr. .......................................................................23
Agradecimentos
.......................................................................................................................................24
Referências bibliográficas.........................................................................................................................24
ix
Prancha 1- Bauhinia mollis (Bong.) D.Dietr., Bauhinia bicolor (Bong.) Steud. e Bauhinia cheilantha
(Bong.) Steud. ..........................................................................................................................................27
Prancha 2- Bauhinia curvula Benth., Bauhinia holophylla (Bong.) Steud. e Bauhinia leptantha
Malme.......................................................................................................................................................28
Prancha 3- Bauhinia longifolia (Bong.) Steud., Bauhinia pulchella Benth. e Bauhinia ungulata L. .....29
Prancha 4- Bauhinia corniculata Benth., Bauhinia hagenbeckii Harms..................................................30
Prancha 5- Bauhinia marginata (Bong.) Steud., Bauhinia pentandra (Bong.) D. Dietr. e Bauhinia
bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr. ............................................................................................................31
CONSIDERAÇÕES FINAIS....................................................................................................................32
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS......................................................................................................33
x
O gênero Bauhinia L. (Leguminosae) no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil
Introdução geral
A família Leguminosae Adans., de distribuição cosmopolita (Polhill 1981), possui representantes
com hábito variando de grandes árvores a ervas diminutas e efêmeras, que podem ocupar diferentes
ambientes desde floresta úmida tropical até desertos, havendo inclusive espécies aquáticas (Lewis 1987).
Leguminosae compreende cerca de 720 gêneros e 19.000 espécies (Polhill 1981; Barroso 1991; Lewis
2005), sendo considerada a terceira maior família de fanerógamas depois de Compositae Giseke e
Orchidaceae Juss. (Lewis 1987).
De importância econômica considerável, os representantes de Leguminosae constam como o meio
mais eficaz de aumentar a produção de proteína comestível, principalmente em países subdesenvolvidos
(Lewis 2005); produzem também algumas tinturas importantes, resinas viscosas e goma arábica, podendo
ainda ser utilizados como fonte de tanino para a indústria de couro, produção de perfumes, óleos e
inseticidas (Lewis 1987). Várias espécies são destinadas à recuperação de solos empobrecidos ou
adubação verde devido à simbiose com bactérias fixadoras de nitrogênio, que é uma característica comum
às leguminosas. Certas espécies são utilizadas na apicultura e diversas madeiras nobres e valiosas são
provenientes de leguminosas (Pott & Pott 1994), além disso, várias espécies têm propriedades medicinais.
O Brasil possui uma das floras mais ricas do globo, abrangendo cerca de 50 mil espécies de
Angiospermas (Barbosa & Peixoto 2003), o que deve estar relacionado à vasta extensão territorial e à
grande diversidade de clima, solo e geomorfologia, resultando em grande variedade de tipos
vegetacionais. A ocorrência de leguminosas pode ser verificada em diferentes formações vegetacionais
em distintas regiões brasileiras, onde figura sempre como uma das mais representativas. Em Mato Grosso
do Sul, alguns estudos indicam a sua ocorrência em floresta semidecídua, mata ciliar, mata de galeria,
vegetação aquática, vegetação chaquenha, campos, cerradão e cerrado (Pott & Pott 1994; Mendonça et al.
1998). Além disso, Leguminosae encontra-se bem representada nos acervos nacionais e estrangeiros
totalizando cerca de 300 espécies para Mato Grosso e Mato Grosso do Sul (Dubs 1998).
Mesmo com a grande diversidade de Leguminosae (Polhill & Raven 1981), a taxonomia da
família na América do Sul continua pouco conhecida, particularmente em comparação com o
conhecimento atual sobre as leguminosas africanas (Lewis 1987). Desta forma, ainda são necessárias
revisões taxonômicas para que haja um entendimento das ligações evolucionárias entre as leguminosas
neotropicais e as de outras regiões do globo (Lewis 1987).
Nos tratamentos taxonômicos conferidos a Leguminosae (Polhill 1981; Lewis 1987; Lewis 2005)
são geralmente reconhecidas três subfamílias: Caesalpinioideae (5 tribos, 152 gêneros), Mimosoideae (5
tribos, 63 gêneros) e Papilionoideae (31 tribos, 443 gêneros). Estas subfamílias são consideradas por
Cronquist (1988) como famílias distintas pertencentes à ordem Fabales. Porém, Leguminosae é
xi
atualmente reconhecida como um grupo monofilético em distintas propostas de classificação (APG II
2003; Lewis 2005).
Segundo os sistemas de classificação tradicionais, Bauhinia pertence à subfamília
Caesalpinioideae de Leguminosae, tribo Cercideae (Wunderlin et al. 1987). Porém, Souza & Lorenzi
(2005) reconhecem o grupo monofilético Cercideae como uma quarta subfamília de Fabaceae (=
Leguminosae), e inclui Bauhinia como o principal gênero desta subfamília. Apesar disso, Lewis (2005)
consideram Cercideae como uma tribo de Caesalpinioideae. Análises de seqüenciamento de genes de
cloroplastos rbcL comprovam que a tribo Cercideae é monofilética (Doyle et al. 1997). Embora muitos
estudos taxonômicos tenham sido realizados com a tribo nos últimos 30 anos, poucas espécies têm sido
incluídas em análises filogenéticas, sendo que as relações inter e intragenéricas permanecem ainda não
resolvidas (Lewis 2005). Wunderlin et al. (1987), propuseram uma classificação para a tribo Cercideae,
que passou a incluir os gêneros Cercis L., Brenierea Humbert, Adenolobus (Harvey ex Benth. & Hook. f.)
Torre & Hillc., Grifonia Baill. e Bauhinia L. Estudos recentes de filogenia sugerem Brenierea como o
gênero mais relacionado a Bauhinia (Lewis 2005).
A tribo Cercideae caracteriza-se pela folha bifoliolada, folíolos geralmente parcialmente
concrescidos, com movimentos nictinásticos e nervação palmada (Vaz 2001). Esse tipo de folha é um
caráter singular dentro de Leguminosae, compartilhado pelos representantes de Cercideae (Wunderlin et
al. 1987). Bauhinia apresenta-se como um dos principais integrantes de Cercideae, sendo o único gênero
deste grupo nativo no Brasil (Souza & Lorenzi, 2005).
Bauhinia é um gênero pantropical com distribuição na Ásia, África e alguns países da América
Latina. Wunderlin et al. (1987) classificaram cerca de 300 espécies de Bauhinia em 22 seções e 30 séries.
As espécies brasileiras de Bauhinia foram revisadas por Bentham (1870), que reconheceu 64 espécies
classificadas em três seções. Vaz & Tozzi (2003) relataram 98 espécies de Bauhinia para o Brasil,
distribuídas em seis seções, correspondentes a três dos quatro subgêneros propostos por Wunderlin et al.
(1987). Entretanto, com o aumento progressivo das coleções botânicas, novas espécies foram citadas e
descritas, resultando em um total de mais de 200 nomes de espécies relativos ao gênero no Brasil,
conforme mencionado por Vaz & Tozzi (2005).
De acordo com a classificação de Wunderlin et al. (1987), o subgênero Bauhinia possui nove
seções, sendo três neotropicais (Bauhinia, Pauletia e Amaria). Bauhinia subg. Elayuna possui apenas
duas seções, sendo uma neotropical; Bauhinia subg. Barklya não está representado nos neotrópicos;
Bauhinia subg. Phanera possui nove seções paleotropicais e duas neotropicais. No entanto, Lewis (2005),
com base em análises moleculares recentes, divide o gênero Bauhinia sensu lato (Wunderlin et al. 1987)
em oito gêneros, incluindo o subgênero Phanera que foi segregado de Bauhinia e elevado à categoria de
gênero. Segundo Lewis (2005), Bauhinia sensu stricto corresponde a Bauhinia subg. Bauhinia de
Wunderlin et al. (1987) e possui cerca de 150 espécies pantropicais.
xii
O termo “Bauhinia” é uma homenagem a dois botânicos suíços, os irmãos Bauhin. No Brasil, as
plantas do gênero Bauhinia são conhecidas como “pata-de-vaca”, “pé-de-boi” ou “unha-de-boi” (Corrêa
1952) em alusão ao formato das folhas geralmente bilobadas, o que torna o reconhecimento deste gênero
relativamente fácil. Porém, a identificação das espécies de Bauhinia pode ser dificultada devido às
variações morfológicas e à diversidade de espécies, o que diminui a confiabilidade das citações da
literatura.
Representantes de Bauhinia podem ser utilizados na arborização pública e como ornamentais. A
madeira de algumas espécies é utilizada para lenha e carvão (Lorenzi 1992; Vaz 2001). Bauhinia
forficata, planta pioneira e de rápido crescimento, é recomendada para plantios mistos em áreas
degradadas destinados à recomposição da vegetação arbórea (Lorenzi 1992). Além disso, 12 espécies de
Bauhinia encontram-se na lista vermelha da IUCN (União Internacional para Conservação da Natureza),
que alerta para a conservação de vários táxons, sendo consideradas “vulneráveis”, “ameaçadas/em
perigo” ou “criticamente ameaçadas/em perigo”, reforçando ainda mais a necessidade de estudos sobre o
gênero para promover sua efetiva preservação.
As espécies de Bauhinia também se destacam pelas suas propriedades medicinais, sendo utilizadas
como fitoterápicas para o tratamento de várias enfermidades, principalmente diabetes, processos
dolorosos e infecções (Teske & Trentini 1995). Dentre estas, se destacam pelo uso na medicina popular
Bauhinia manca Standl., B. rufescens Lam., B. forficata Link, B. cheilantha (Bong.) Steud. e B. splendens
Kunth. O mais antigo registro de estudo clínico do uso de Bauhinia como planta anti-diabética foi
efetuado por Juliani (1931) e atualmente muitas pesquisas têm confirmado o potencial hipoglicêmico de
espécies do gênero (Damasceno et al. 1999; Volpato 2001; Brunetti 2002; Silva & Cechinel-Filho 2002).
Estudos sobre Bauhinia sensu stricto reportam a ocorrência de 12 espécies para o Estado de Mato
Grosso do Sul (Vaz & Tozzi 2003; 2005). Dubs (1998) registrou 16 espécies para o Estado, sendo que
algumas destas foram sinonimizadas: B. corumbensis S. Moore = B. mollis (Bong.) D. Dietr., B.
cuyabensis (Bong.) Steud. = B. ungulata var. cuiabensis (Bongard) Vaz e B. nitida Benth.= B. dubia G.
Don. Além disso, B. riedeliana Bong., também citada por Dubs (1998), pertence ao gênero Phanera
segundo a classificação de Lewis (2005). Desta forma, o número de espécies válidas de
Bauhinia s. s.
citadas por Dubs (1998) para o Estado é reduzido para 12 e, dentre estas, B. cupulata Benth., B. ovata
Vogel e B. rufa (Bong.) Steud. não foram confirmadas por Vaz & Tozzi (2003) e B. estrellensis Hassler é
mencionada por estas autoras como possível sinônimo de B. campestris.
Levantamentos regionais são de extrema importância para ampliar a compreensão sobre distribuição
geográfica, ambientes preferenciais e variação morfológica local de uma determinada espécie,
auxiliando o entendimento das relações interespecíficas do gênero. No entanto, o estado de Mato
Grosso do Sul possui um dos índices de coleta mais baixos do país (Peixoto & Morim, 2003),
salientando a necessidade de estudos sobre a flora local.
xiii
O conhecimento fanerogâmico é essencial às pesquisas relacionadas a vegetação, ecologia e
conservação (Pott & Pott 1999) e a identificação taxonômica das plantas é a primeira etapa para se
realizar tais estudos (Pott & Pott 1994). Sendo assim, a citação do maior número possível de espécies pela
ciência constitui um dos pontos essenciais para informar racionalmente sobre os recursos naturais
renováveis (Van Den Berg 1986). Além disso, os estudos das famílias botânicas representam excelente
oportunidade para acelerar o conhecimento botânico de uma determinada região (Brasil 1997). Dada a
importância tanto econômica quanto ecológica de Bauhinia, e da existência de vários equívocos
taxonômicos dentro deste gênero, faz-se necessário seu estudo a fim de subsidiar estudos florísticos,
fitossociológicos, taxonômicos, ecológicos, de conservação e recuperação de áreas degradadas no Estado
de Mato Grosso do Sul.
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O gênero Bauhinia L. (Caesalpinioideae - Leguminosae) no estado de Mato Grosso do Sul, Brasil
Geciani Miriam Silva
I
Ângela Lúcia Bagnatori Sartori
II
Ângela Maria Studart da Fonseca Vaz
III
RESUMO - (O gênero Bauhinia L. (Caesalpinioideae - Leguminosae) no estado de Mato Grosso do Sul,
Brasil) - Bauhinia sensu stricto (Caesalpinioideae - Leguminosae) é um gênero pantropical com cerca de
150 espécies. Este trabalho consiste no levantamento de representantes de Bauhinia s. s. ocorrentes no
estado de Mato Grosso do Sul. Para tanto, foram analisados espécimes herborizados provenientes de
acervos regionais e nacionais e de coletas realizadas em diferentes regiões do Estado. É confirmada a
ocorrência de 14 espécies de Bauhinia s. s., sendo estas B. bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr., B. bicolor
(Bong.) Steud., B. cheilantha (Bong.) Steud., B. corniculata Benth., B. curvula Benth., B. hagenbeckii
Harms, B. holophylla (Bong.) Steud., B. leptantha Malme, B. longifolia (Bong.) Steud., B. marginata
(Bong.) Steud., B. mollis (Bong.) D. Dietr., B. pentandra (Bong.) D. Dietr., B. pulchella Benth. e B.
ungulata L., distribuídas em quatro séries, todas pertencentes à seção Pauletia. Bauhinia bicolor não
havia sido reportada para Mato Grosso do Sul até o momento e B. corniculata também é referida pela
primeira vez para o Estado e para a região Centro-Oeste do Brasil. Bauhinia hagenbeckii, não registrada
desde 1895, foi confirmada para o Brasil. As ilustrações de B. hagenbeckii e B. corniculata também são
inéditas. Os resultados incluem descrições, comentários taxonômicos, chave de identificação, ilustrações
e dados atualizados de floração, frutificação e ambientes de ocorrência das espécies.
Palavras-chave: Taxonomia Vegetal, Fabaceae, Cercideae, Flora, Centro-Oeste
ABSTRACT – (The genus Bauhinia L. (Caesalpinioideae - Leguminosae) in the state of Mato Grosso do
Sul, Brazil) - This study is a survey of species of Bauhinia sensu stricto (Leguminosae) occurring in the
State of Mato Grosso do Sul. Therefore, dried specimens from regional and national herbaria and field
collections in different regions of the State were analysed. The occurrence of 14 species of Bauhinia
sensu stricto is confirmed, which are B. bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr., B. bicolor (Bong.) Steud., B.
cheilantha (Bong.)
I
Parte da dissertação de Mestrado da primeira autora, Programa de Pós-graduação em Biologia Vegetal, Universidade Federal
de Mato Grosso do Sul (UFMS)
II
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, Centro de Ciências Biológicas e da Saúde, Departamernto de Biologia,
Laboratório de Botânica. Cidade Universitária, Caixa Postal 549, 79070-900 Campo Grande, MS, Brasil
III
Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/Pesquisador conveniado do Instituto de Pesquisas Jardim
Botânico do Rio de Janeiro. Rua Pacheco Leão 915, CEP 22460-030. Rio de Janeiro, RJ, Brasil.
e-mail para correspondência: geciani.bio@gmail.com
2
Steud., B. corniculata Benth., B. curvula Benth., B. hagenbeckii Harms, B. holophylla (Bong.) Steud., B.
leptantha Malme, B. longifolia (Bong.) Steud., B. marginata (Bong.) Steud., B. mollis (Bong.) D. Dietr.,
B. pentandra (Bong.) D. Dietr., B. pulchella Benth. and B. ungulata L., distributed in four series, all
belonging to the section Pauletia. Bauhinia bicolor had not been reported for Mato Grosso do Sul so far
and B. corniculata is also referred for the first time in the State and Central-West of Brazil. Bauhinia
hagenbeckii was confirmed for Brazil, had not been recorded since 1895. The illustrations of B.
hagenbeckii and B. corniculata are also inedited. The results include descriptions, taxonomic comments,
identification key, illustrations and updated data on the flowering and fruiting and habitats of the species.
Key words: Plant Taxonomy, Fabaceae, Cercideae, Flora, Central-West
Introdução
Bauhinia L. pertence à subfamília Caesalpinioideae de Leguminosae Adans., tribo Cercideae
(Wunderlin et al. 1987; Lewis 2005). O gênero é pantropical com distribuição nos continentes Asiático e
Africano e alguns países da América Latina. Wunderlin et al. (1987) classificaram cerca de 300 espécies
de Bauhinia em 22 seções e 30 séries. As espécies brasileiras do gênero foram revisadas por Bentham
(1870), que reconheceu 64 espécies classificadas em três seções. Vaz & Tozzi (2003) relataram 98
espécies de Bauhinia para o Brasil, distribuídas em seis seções, correspondentes a três dos quatro
subgêneros propostos por Wunderlin et al. (1987). No entanto, Lewis (2005) dividiram Bauhinia sensu
lato em oito gêneros, com base em análises moleculares recentes, e consideraram apenas Bauhinia subg.
Bauhinia de Wunderlin et al. (1987) como o gênero Bauhinia sensu stricto, com cerca de 150 espécies
pantropicais.
As plantas deste gênero são conhecidas popularmente como “pata-de-vaca”, “pé-de-boi” ou
“unha-de-boi” (Corrêa 1952) em alusão ao formato das folhas geralmente com dois folíolos parcialmente
fundidos. Apesar de o gênero ser facilmente reconhecido pela forma das folhas, a diferenciação entre as
espécies é dificultada pelas variações morfológicas dentro de um mesmo táxon e pela a sobreposição de
características entre espécies distintas, que configura complexos onde a delimitação das espécies é
bastante difícil.
Representantes do gênero se destacam pelas suas propriedades medicinais, sendo utilizados como
fitoterápicos para o tratamento de várias enfermidades, principalmente diabetes, processos dolorosos e
infecções. Atualmente muitas pesquisas têm confirmado o potencial hipoglicêmico de espécies do gênero
(Volpato 2001; Brunetti 2002; Silva & Cechinel-Filho 2002). Algumas espécies podem ser usadas na
recuperação de áreas degradadas (Lorenzi 1992) e na arborização pública como ornamentais.
No Brasil, levantamentos referentes às floras regionais registraram 28 espécies de Bauhinia para a
Bahia (Lewis 1987) e 26 para o Mato Grosso (Dubs 1998). Levantamentos sobre Bauhinia s. s.
reportaram a ocorrência de 12 espécies para Mato Grosso do Sul (Vaz & Tozzi 2003; 2005). Dubs (1998)
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também listrou 12 nomes válidos referentes a Bauhinia s. s. no Estado, sendo que oito espécies são
citadas em ambos os estudos (Dubs 1998; Vaz & Tozzi 2003; 2005).
Em Mato Grosso do Sul, o gênero Bauhinia encontra-se amplamente distribuído em diversas
fisionomias de Cerrado e Pantanal, sendo que representantes do gênero podem ser encontrados em
distintas formações vegetacionais do Estado como mata decídua e semidecídua, cerradão e cordilheira
desmatada (Pott & Pott 1994). No entanto, Mato Grosso do Sul não dispõe de um registro satisfatório de
sua flora, onde levantamentos florísticos têm resultado em novas ocorrências para o Estado, região
Centro-Oeste e Brasil.
Desta forma, este estudo objetivou identificar e descrever espécies de Bauhinia s. s. ocorrentes no
estado de Mato Grosso do Sul, fornecer chave de identificação, ilustrações e dados atualizados de
floração e frutificação e dos ambientes de ocorrência das espécies.
Material e métodos
Este estudo foi baseado na análise de espécimes herborizados de Bauhinia s. s. provenientes dos
principais acervos regionais e nacionais e de coletas realizadas em diferentes regiões do estado de Mato
Grosso do Sul. Os espécimes coletados encontram-se depositados no Herbário CGMS. As siglas dos
herbários seguiram Holmgren et al. (1990).
A identificação das espécies foi realizada através de consultas às bibliografias especializadas e
especialistas, além da utilização de chaves de identificação, comparação com descrições e diagnoses. A
classificação do gênero foi baseada em Lewis (2005) e das seções e séries, em Vaz & Tozzi (2003).
As descrições correspondem à amplitude de variação morfológica dos espécimes coletados no
estado de Mato Grosso do Sul. A terminologia utilizada para as estruturas vegetativas e reprodutivas foi
baseada em Font Quer (1953), Radford et al. (1974) e Harris & Harris (1994). A classificação do hábito
foi baseada em Guedes-Bruni et al. (2002). As informações sobre floração e frutificação basearam-se em
todo o material analisado. Informações sobre os ambientes de ocorrência das espécies de Bauhinia foram
baseadas em observações dos locais de coleta e nas informações encontradas nas etiquetas das exsicatas.
As ilustrações foram confeccionadas em câmara-clara acoplada a estereomicroscópio Zeiss.
Foram utilizadas as seguintes abreviações: s. s.= sensu stricto; fl.= flores; fr.= frutos; s/ fl. fr. =
estéril; s/ col.= sem coletor (es); s/n.= sem número de coletor; s/d.= sem data; s/loc.= sem localidade;
compr.= de comprimento; e alt.= de altura.
Resultados e discussão
Foi confirmada a ocorrência de 14 espécies de Bauhinia sensu stricto, distribuídas em quatro
séries, pertencentes à seção Pauletia: Aculeatae (B. mollis (Bong.) D. Dietr.), Cansenia (B. bicolor
(Bong.) Steud., B. cheilantha (Bong.) Steud., B. curvula Benth., B. holophylla (Bong.) Steud., B.
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leptantha Malme, B. longifolia (Bong.) Steud., B. pulchella Benth., B. ungulata L.), Pentandrae (B.
corniculata Benth., B. hagenbeckii Harms, B. marginata (Bong.) Steud. e B. pentandra (Bong.) D. Dietr.)
e Perlebia (B. bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr.).
Dentre as 12 espécies de Bauhinia citadas para Mato Grosso do Sul por Vaz & Tozzi (2003;
2005), apenas B. brevipes Vog. e B. campestris Malme não foram confirmadas. Dubs (1998) também
citou B. brevipes e ainda mais quatro espécies não confirmadas neste estudo: B. cupulata Benth., B.
estrellensis Hassler, B. ovata Vog. e B. rufa (Bong.) Steud. No entanto, estudos mais recentes sobre o
gênero não reportaram a ocorrência destas espécies no Estado (Vaz & Tozzi 2003; 2005).
Bauhinia bicolor não havia sido reportada para Mato Grosso do Sul até o momento e B.
corniculata também é referida pela primeira vez para o Estado e para a região Centro-Oeste do Brasil.
Bauhinia hagenbeckii, para a qual há mais de cem anos não havia registro de coleta no Brasil, foi coletada
confirmando sua ocorrência no país. Espécies raras e pouco representadas nas coleções como B.
hagenbeckii, B. marginata e B. bicolor foram recoletadas e descritas para o Estado. As ilustrações de B.
hagenbeckii e B. corniculata também são inéditas.
Características como contorno e nervação do botão floral, presença ou ausência de acúleos, forma
dos acúleos, presença ou ausência de nectários, número de estames férteis e estaminódios, forma e
indumento das pétalas são importantes na separação das séries que ocorrem no Estado. A separação das
espécies de uma mesma série requer a observação de um maior número de caracteres diagnósticos além
dos mencionados, como grau de concrescimento e forma dos folíolos, forma das estípulas, comprimento
da coluna estaminal, presença ou ausência e o tipo de indumento da coluna estaminal, do ovário, do fruto
e da parte interna do hipanto.
Bauhinia L.
Árvores, arbustos ou subarbustos; ramos cilíndricos a quadrangulares, estriados a estriado-
sulcados, aculeados ou inermes, nectários presentes em ramos inermes. Acúleos geminados, adpeciolares,
intra-estipulares. Nectários adpeciolares ovóides, oblongos ou subuliformes ou obsoletos, raro caducos.
Estípulas caducas ou persistentes, escamiformes, curto-triangulares, lineares, estreito-lanceoladas ou
estreito-elípticas, raro semilunares (em B. cheilantha). Folhas com nervação palmatinérvea, unifolioladas
ou bifolioladas, folíolos livres ou parcialmente concrescidos. Nervuras da face adaxial sempre menos
conspícuas que as da face abaxial, nevuras primárias geralmente mais emersas que secundárias e
terciárias. Inflorescência em racemos laterais, 2-3 floras, ou pseudo-racemo terminal, com bráceas ou
folhas reduzidas no eixo floral; uma bráctea e duas bractéolas na base do pedicelo. Flores com hipanto
tubuloso, cálice espatáceo, com um lobo fenestrado ou fendido em 2-5 lobos; pétalas espatáceas, elípticas
a lineares, ungüiculadas, unguícula indistinta do limbo, raro distinta (em B. mollis); estames férteis 10 ou
5, alternados com 5 estaminódios filiformes ou com anteras reduzidas, conados na base formando uma
coluna (coluna estaminal) de comprimento variável; ovário com ginóforo geralmente longo, estigma
5
clavado. Legumes raro indeiscentes (em B. bauhinioides), lineares, valvas tardiamente espiraladas, a
falcadas (em B. bauhinioides), geralmente lenhosos, raro coriáceos (em B. mollis e B. bauhinioides), raro
septos entre os compartimentos das sementes (em B. bauhinioides).
Chave de identificação para as espécies de Bauhinia sensu stricto ocorrentes em Mato Grosso do Sul,
Brasil
1. Ramos aculeados, nectários extraflorais ausentes
2. Legumes indeiscentes, pétalas externamente lanosas............................................4.1 B. bauhinioides
2. Legumes deiscentes, pétalas glabras, curto-pubescentes ou vilosas em ambas as faces ou
internamente tomentulosas a esparso-vilosas, nunca lanosas
3. Pétalas espatáceas, cálice fendido em 1 lobo após a antese........................................1.1 B. mollis
3. Pétalas lineares a estreito-elípticas, cálice fendido em 2-3 lobos após a antese
4. Folhas unifolioladas ou bifolioladas com folíolos concrescidos em 2/3 a 4/5 do
comprimento total
5. Dois acúleos por pecíolo, ápice do botão 5-alado....................................3.3 B. marginata
5. Um acúleo por pecíolo, ápice do botão 5-corniculado...........................3.1 B. corniculata
4. Folhas bifolioladas com folíolos livres ou concrescidos em até 1/2 do comprimento total
6. Coluna estaminal até 5,4 mm compr., folíolos ovados assimétricos divergentes, pétalas
glabras.......................................................................................................3.4 B. pentandra
6. Coluna estaminal até 14,0 mm compr., folíolos oblongos até largo-oblongos ou ovados,
pétalas curto-pubescentes.......................................................................3.2 B. hagenbeckii
1. Ramos inermes, nectários extraflorais presentes ou caducos
7. Estípulas foliáceas semilunares, botões 15-costados, costas sulcado-onduladas......2.2 B. cheilantha
7. Estípulas escamiformes submilimétricas a lineares, estreito-triangulares, estreito-lanceoladas ou
estreito-ovadas, raro uncinadas, nunca foliáceas nem semilunares, botões lisos ou 5-estriados, 15-
estriados ou 5-costados, nunca 15-costados, costas raro levemente onduladas, nunca sulcado-
onduladas
8. Botões lineares
9. Ovário tomentoso, botões 5-costados..............................................................2.5 B. leptantha
9. Ovário glabro, glabrato ou pubérulo, botões 5-estriados a lisos
10. Folhas bifolioladas com folíolos concrescidos em cerca de 3/4 a 4/5 do comprimento
total, oblongos................................................................................................2.7 B. pulchella
10. Folhas bifolioladas com folíolos livres ou concrescidos em 1/5 a 1/2 do comprimento
total, elípticos a largo-elípticos ou ovados.......................................................2.3 B. curvula
8. Botões clavados ou estreito-subclavados
11. Coluna estaminal internamente glabra
6
12. Folhas unifolioladas, raro bifolioladas com folíolos concrescidos em cerca de 5/6 a
7/8 do comprimento total, botão floral 5-costado a 5-estriado..............2.4 B. holophylla
12. Folhas bifolioladas com folíolos concrescidos em até 3/4 do comprimento total, botão
floral 15-estriado.....................................................................................2.6 B. longifolia
11. Coluna estaminal internamente com tufos de tricomas vilosos
13. Pecíolo 0,2-0,9 cm compr., reduzido a um pulvino, face abaxial da folha com nervuras
primárias e secundárias emersas..................................................................2.1 B. bicolor
13. Pecíolo 1,0-2,5 cm compr., com pulvino distinto, face abaxial da folha com nervuras
primárias emersas, secundárias imersas...................................................2.8 B. ungulata
1. Série Aculeatae Vaz & A.M.G.A. Azevedo, Novon 13:141. 2003. Tipo: Bauhinia aculeata L.
Distribuição: América tropical (Vaz & Tozzi 2005). No Brasil, ocorrem dez espécies, sendo nove nativas
e uma cultivada (Vaz & Tozzi 2005).
Ramos aculeados; nectários extraflorais ausentes; folhas unifolioladas a bifolioladas, folíolos
parcialmente fundidos; tricomas glandulares presentes em pedicelos, raro na face abaxial da folha.
Inflorescência em racemos laterais subsésseis, 2-flora, brácteas foliáceas ausentes; botões florais
subclavados a clavados, freqüentemente com constrição subapical, 5-estriados; hipanto internamente
glabro; cálice fendido após a antese em um lobo, base fenestrada, espatáceo; pétalas espatáceas,
estreitando-se em direção à base ungüiculada, glabras; 10 estames férteis, anteras iguais, estaminódios
ausentes, coluna estaminal rudimentar até 5,5 mm compr., internamente tomentosa, externamente glabra;
legume deiscente, valvas não divididas internamente em compartimentos; tricomas glandulares presentes
em botões, hipanto e estilete.
1.1. Bauhinia mollis (Bong.) D. Dietr., Syn. Pl. 2:1475. 1840. - Pauletia mollis Bong., Mém. Acad. Imp.
Sci. Saint-Pétersbourg, sér. 6, Sci. Math. seconde Pt. Sci. Nat. 4:133. 1838. Fig 1-8
Arbusto ou árvore, (0,5) 1,0-3,5 (5,0) m alt. Ramos cilíndricos a quadrangulares, estriados, aculeados,
glabros até pubescentes ou tomentosos. Acúleos aos pares, cônicos ou cuspidados, raro uncinados, 1-5,3 x
0,8-4,8 mm. Estípulas persistentes, lineares, raro estreito-elípticas ou estreito-lanceoladas, 2,5-12,3 x 0,3-
0,6 mm, tomentosas em ambas as faces. Nectários ausentes. Folhas unifolioladas, ápice profundamente
emarginado ou bifolioladas, folíolos concrescidos em 5/6 do comprimento total, oblongos a
semiorbiculares, ápice arredondado, base profundamente cordada a subtruncada, 2,6-7,1 x 1,5-4,0 cm, 9-
11-nérveas, face adaxial glabra, face abaxial geralmente tomentosa ou velutina, raro pubescente ou
puberulenta, nervuras primárias e secundárias emersas, terciárias imersas. Pecíolos 0,6-2,5 cm compr.,
tomentosos. Inflorescência com bráctea foliácea e nectários ausentes; folhas reduzidas entre as
inflorescências; bráctea e bractéolas lineares a estreito-lanceoladas, 1,8-5,6 (11,4) mm compr.,
persistentes. Pedúnculo obsoleto ou raro até 0,6 cm compr. Botões subclavados a clavados, 5-estriados,
7
ápice 5-cuspidado, 2,6-5 x 0,6-0,7 cm, tomentulosos a tomentosos. Pedicelos 0,7-2,5 cm compr.,
tomentosos. Flores com hipanto 5-estriado, 0,5-1,2 x 0,2-0,5 cm, externamente tomentoso, internamente
glabro; cálice espatáceo, fendido após a antese em um lobo, base fenestrada; pétalas espatáceas, ápice
arredondado a obtuso, 26,8-47,9 x 4,4-9,4 mm, glabras; anteras iguais, coluna estaminal até 5,5 mm
compr., internamente tomentosa; gineceu 2,3-3,8 cm compr., ovário tomentoso, estilete e estigma glabros,
estigma clavado; ginóforo 1,2-1,9 cm compr., glabro. Legumes tomentosos a grabratos na maturidade,
valvas tomentosas, 9,8-14,5 (21) x 1,1-1,8 cm. Carpóforo 1,5-2,8 cm compr. Sementes com lobos
funiculares curto triangular a levemente uncinado-lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Aquidauana, 05/V/2002, fr. fl., Pott et al. 9916
(HMS); Bonito, 01/III/2000, fl., Damasceno Jr. et al. 1888 (COR); Camapuã, 26/II/2002, fr., Pott et al.
9531 (HMS); Corumbá, 19/II/1992, fl. fr., Resende 98 (CGMS); Corumbá, 31/XII/1984, fr., Conceição
1662 (CGMS); Miranda, 03/XI/1990, fr. fl., Conceição 2731 (CGMS); Piraputanga, 12/XII/2007, fl.,
Ramos 116 (CGMS); Porto Murtinho, 15/III/2004, fl., Hatschbach et al. 7307 (ESA); Três Lagoas,
21/V/1964, fr., Gomes Jr. 1743 (SPF).
Floração de fevereiro a maio, outubro e novembro. Frutificação o ano todo.
Distribuição e ambiente: Ocorre na Bolívia, Paraguai e Brasil, estados de Goiás, Mato Grosso, Mato
Grosso do Sul, Minas Gerais e Tocantins (Vaz & Tozzi 2005). Em Mato Grosso do Sul, ocorre na região
centro-oeste, no Pantanal e em áreas de cerrado, campo cerrado, cerradão, floresta decídua e semidecídua
e áreas brejosas. Também ocorre em áreas de regeneração de cerrado e cerradão, em pastagem e em área
urbana (terreno baldio) e freqüentemente em beira de estrada.
Os materiais analisados freqüentemente apresentaram folhas com 9 e 11 nervuras no mesmo
espécime e brácteas e bractéolas geralmente semelhantes em forma e tamanho, sendo a bráctea
ligeiramente maior que as bractéolas. No entanto, brácteas com comprimento 5 vezes maior que as
bractéolas e formato diferente ocorreram em alguns materiais. Bauhinia mollis foi a única espécie da série
Aculeatae coletada no Estado até o momento e distingue-se das demais espécies analisadas por apresentar
botão floral clavado com uma constrição na região mediana dividindo o cálice em duas partes, brácteas
lineares a estreito-lanceoladas e pétalas espatáceas, ungüícula cerca da metade do comprimento total da
pétala, associadas a folhas unifolioladas com ápice profundamente emarginado a bifolioladas, folíolos
fundidos em mais da metade do comprimento total, oblongos a semiorbiculares e ramos aculeados.
2. Série Cansenia (Raf.) Wunderlin, K. Larsen & S. S. Larsen, Biol. Skr. 28: 12-13. 1987. Espécie-tipo:
Cansenia ungulata (L.) Raf. [= Bauhinia ungulata L.], lectótipo designado por Wunderlin (1976).
Distribuição: América Tropical (Wunderlin et al. 1987). Ocorrem 35 espécies no Brasil (Vaz & Tozzi
2003).
Ramos inermes; nectários extraflorais presentes, raro caducos; folhas unifolioladas ou bifolioladas,
folíolos livres ou parcialmente fundidos; tricomas glandulares geralmente abundantes em ramos,
8
estípulas, face abaxial da folha e pecíolos, raro escassos em ramos, pecíolos (B. longifolia e B. curvula)
e face abaxial da folha (B. holophylla e B. cheilantha). Inflorescência em pseudo-racemo terminal áfilo,
inflorescências parciais subsésseis 2-floras, brácteas foliáceas presentes; botões florais clavados, estreito-
subclavados, pentagonais ou lineares, lisos a 5-15-estriados ou 5-15-costados; hipanto internamente
glabro; cálice fendido após a antese em 2-5 lobos parcialmente unidos no ápice ou livres, base fenestrada,
nunca espatáceo; pétalas lineares, elípticas, estreito-obovadas ou estreito-lanceoladas, glabras, raro
externamente puberulenta ou esparso-vilosa; 10 estames férteis, anteras iguais, estaminódios ausentes,
coluna estaminal rudimentar até 3 mm compr., internamente glabra a vilosa, pubescente ou tomentosoa,
externamente glabra; legume deiscente, valvas não divididas internamente em compartimentos; tricomas
glandulares geralmente abundantes em botões, pedicelos, hipanto, ovário, estilete; raro escassos (B.
curvula e B. holophylla), escassos no ginóforo; geralmente abundantes em legumes, raro escassos (B.
holophylla, B. longifolia e B. ungulata) ou ausentes (B. curvula).
2.1. Bauhinia bicolor (Bong.) Steud., Nom. Bot. ed. 2, 191 sphalm. 291. 1840 - Pauletia bicolor Bong.,
Mém. Acad. Imp. Sci. Saint-Pétersbourg, sér. 6, Sci. Math. seconde Pt. Sci. Nat. 4:121. 1838. Fig. 9-16
Arbusto, subarbusto ou árvore, 1,0-3,0 m alt. Ramos cilíndricos, lisos a finamente estriados, inermes,
pubérulos a tomentelos. Estípulas persistentes, estreito-triangulares a lanceoladas, 0,7-1,2 x 0,5-0,9 mm,
externamente pubérulas. Nectários adpeciolares ovóides a oblongos, 0,8-1,6 mm compr. Folhas
bifolioladas, folíolos concrescidos em 1/3 a 2/3 do comprimento total, ovados, paralelos, ápice agudo ou
levemente obtuso, base cordada, 1,2-7,5 x 0,4-2,2 cm, 7-9-nérveas, face adaxial glabra, face abaxial
pubérula a curto-pubescente ou tomentelas, nervuras primárias e secundárias emersas, terciárias imersas.
Pecíolos 0,2-0,9 cm compr., pubérulo a tomentelo. Inflorescência com bráctea foliácea nectarífera ovada,
1,3-2,3 mm compr.; nectário ovóide 1,5 mm compr.; folhas reduzidas entre as inflorescências parciais
ausentes; bráctea e bractéolas ovado-lanceoladas, 1,9-2,9 x 0,4-1,2 mm, persistentes. Pedúnculo 1,2-2,5
cm compr. Botões clavados, lisos ou levemente 15-estriados, ápice obtuso, 0,5-3,0 x 0,2-0,6 cm,
pubérulos. Pedicelos 0,6-1,1 cm compr., pubérulos a tomentelos. Flores com hipanto 15-estriado ou liso,
0,6-1,1 x 0,3-0,5 cm, externamente pubérulo, internamente glabro; cálice fendido após a antese em 2-3
lobos espiralados, base fenestrada; pétalas elípticas a estreito-obovadas, ápice agudo-acuminado, 14,9-
25,6 x 1,1-4,0 mm, glabras; coluna estaminal rudimentar, 1 mm compr., internamente com tufos de
tricomas vilosos; gineceu 1,2-1,8 cm compr., ovário denso-tomentoso, estilete esparso tomentoso,
estigma glabro, clavado; ginóforo 0,5-1,2 cm compr., glabrato. Legumes pubérulos a tomentelos, 6,3-14,9
x 0,8-1,2 cm. Carpóforo 1,4-2,2 cm compr. Sementes com lobos funiculares triangulares a levemente
uncinados-lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Camapuã, 19/IX/2002, fl., Pott et al. 10401
(HMS); Campo Grande, 15/IX/1992, fl. fr., Conceição 2840 (CGMS); Corguinho, 21/VIII/2005, fl. fr.,
9
Pott & Pott 13116 (HMS); Nioaque, 18/VIII/2001, fl. fr., Pott et al. 4839 (HMS); São Gabriel do Oeste,
15/VI/2002, fl. fr., Pott et al. 5566 (HMS); Terenos, 08/VI/1986, fl., Cruz Filho 4 (CGMS).
Floração de maio a setembro. Frutificação de junho a setembro.
Distribuição e ambiente: Bauhinia bicolor até o momento foi pouco estudada e não foi revisada por Vaz
& Tozzi (2003) no trabalho sobre a série Cansenia. Na descrição original como Pauletia bicolor, Bongard
(1836) citou esta espécie como habitando áreas de campo seco no Brasil, mas não havia registro para
Mato Grosso do Sul até o momento. Ocorre em áreas mais abertas de cerrado, campo cerrado pastejado,
vegetação secundária em beira de estrada e vegetação rupícola com cactos, nas regiões central, sudoeste e
norte de Mato Grosso do Sul.
Bauhinia bicolor assemelha-se a B. ungulata por apresentar folhas bifolioladas, folíolos
concrescidos em mais da metade do comprimento total, ovados, botões clavados, hipanto internamente
glabro e coluna estaminal internamente com tufos de tricomas vilosos, características que as diferenciam
das demais espécies da série Cansenia. No entanto, B. bicolor diferencia-se de B. ungulata por apresentar
folhas com nervuras primárias e secundárias na face abaxial emersas e pecíolo de 0,2-0,9 cm compr.,
reduzido a um pulvino, enquanto que B. ungulata possui folhas com nervuras secundárias imersas na face
abaxial e pecíolo de 1,0-2,5 cm compr., com pulvino distinto. No entanto, as características utilizadas
para distinguir B. ungulata de B. bicolor podem representar uma variação morfológica da segunda espécie
e, portanto, é possível que novas coletas e estudos sobre a morfologia de B. bicolor possam incluí-la na
categoria de variedade de B. ungulata.
2.2. Bauhinia cheilantha (Bong.) Steud., Nomencl. Bot., ed. 2, 1:191. agosto 1840.- Pauletia cheilantha
Bongard, Mem. Acad. Imp. Sci. St. Petersb.,ser. 6, Sci. Math. 4(2):120.1836. Fig. 17-24
Arbusto, (0,5) 1,0-4,0 m alt. Ramos quadrangulares ou cilíndricos, sulcados, inermes, vilosos. Estípulas
geralmente persistentes, foliáceas, semilunares, 3,3-18,8 x 0,8-8,4 mm., externamente esparso-vilosa,
internamente vilosa. Nectários adpeciolares rudimentares até 0,6 mm compr., ou raro caducos. Folhas
bifolioladas, folíolos concrescidos em 2/3 do comprimento total, oblongos a oblongo-elíticos ou largo-
elíticos, paralelos, ápice obtuso a levemente acuminado ou arredondado, base geralmente cordada até
levemente truncada, região das nervuras mais escuras, (7,0) 10-19,2 x (2,6) 4,3-8,4 cm, 9-11 (13)-nérveas,
face adaxial glabra, curto-pubescentes sobre as nervuras, face abaxial vilosa, tricomas na região das
nervuras, nervuras primárias e secundárias emersas, terciárias imersas. Pecíolos 1,4-4,4 cm compr.,
denso-vilosos a tomentosos. Inflorescência com bráctea foliácea não nectarífera, 0,7-1,9 mm compr.;
folhas reduzidas entre as inflorescências parciais; bráctea e bractéolas rômbicas a elípticas, ápice agudo
8,3-15,7 x 3,6-4,9 mm, freqüentemente caducas na maturidade. Pedúnculo 0,8-2,6 cm compr. Botões
clavados, 15-costados, costas sulcado-onduladas, ápice arredondado a obtuso, 2,1-3,1 x 0,7-0,9 cm,
vilosos a tomentelos. Pedicelos 0,7-1 cm compr., esparso-vilosos. Flores com hipanto 15-costado, 1,4-1,7
x 0,6-0,7 cm, externamente esparso-viloso, internamente glabro; cálice não observado na antese; pétalas
10
estreito-obovadas a elípticas, ápice agudo, 16-19 x 1,5-3,5 mm, internanente glabras, externamente
esparso-vilosa; coluna estaminal rudimentar, 2 mm compr., internamente tomentosa; gineceu 2,7-7,0 cm
compr., ovário denso-viloso, estilete e estigma glabrescentes, estigma capitado; ginóforo 2,0-2,6 cm
compr., glabrescente. Legumes vilosos a glabrescentes, 13,3-18,8 x 1-1,3 cm compr. Carpóforo 1,9-2,9
cm compr. Sementes com lobos funiculares uncinados-lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Corumbá, 01/XI/2004, fl. fr., Bortolloto et al.
1449 (COR); Corumbá, 02/II/1985, fl., Conceição 1679 (CEUL); Corumbá, 06/II/1985, fl. fr., Conceição
1.704 (CEUL); Corumbá, 31/III/2003, fl., Pott & Pott 11.114 (HMS); Miranda, 05/III/2001, fl. fr., Pott
8.554 (HMS); Nioaque, 27/VIII/2001, fr., Pott & Pott 4873 (HMS).
Floração em fevereiro, março e novembro. Frutificação em praticamente o ano todo.
Distribuição e ambiente: Distribui-se pela Bolívia, Paraguai e Brasil, nos estados de Bahia, Ceará,
Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte e
Sergipe (Vaz & Tozzi 2003). Ocorre freqüentemente em topo de morro, interior de floresta seca e floresta
decídua nas regiões noroeste e sudoeste de Mato Grosso do Sul.
Bentham (1870) incluiu Bauhinia cheilantha no grupo informal das espécies com pétala obtusa e
com acúleos, correspondente a Bauhinia ser. Aculeatae. No entanto, apesar de possuir pétalas mais largas
e obtusas, Vaz & Tozzi (2003) incluíram-na em Bauhinia ser. Cansenia, pois esta espécie não apresenta
acúleos e sim nectários extraflorais rudimentares. Botões clavados com costas sulcado-onduladas e
estípulas foliáceas semilunares apresentaram-se constantes nos materiais analisados e diferenciam B.
cheilantha de todas as outras espécies da série Cansenia em Mato Grosso do Sul. Entretanto, segundo
Vaz & Tozzi (2003), estas características podem ser ocasionalmente variáveis em materiais provenientes
de outros Estados.
2.3. Bauhinia curvula Benth., in C. Mart., Fl. Bras. 15(2):194. 1870. Fig.25-32
Arbusto, 1,0-2,0 m alt. Ramos cilíndricos, finamente estriados, inermes, tomentelo. Estípulas caducas não
observadas. Nectários adpeciolares oblongos, 0,5 -1,5 mm compr. Folhas bifolioladas, folíolos
concrescidos em 1/6 ou 1/2 do comprimento total, oblongo-elípticos a largo-elipticos ou ovados,
paralelos, ou folíolos livres, ovado-elípticos, levemente falcados, convergentes, ápice arredondado a
obtuso, base cordada, 1,4-5 (5,9) x 0,7-3,0 cm, 7-9-nérveas (folíolos 3-nérveos), face adaxial glabra, face
abaxial tomentela, nervuras primárias emersas, secundárias e terciárias imersas. Pecíolos 0,4-1,3 cm
compr., tomentelos. Inflorescência com bráctea foliácea nectarífera, ovado-lanceolada a escamiforme,
0,9-1,6 mm compr.; nectário rudimentar submilimétrico ou caduco; folhas reduzidas entre as
inflorescências parciais às vezes presentes; bráctea e bractéolas escamiformes, 0,5-1,1 x 0,3-0,8 mm,
persistentes. Pedúnculo 0,7-2,4 cm compr. Botões lineares, levemente falcados na pré-antese, 5-estriados
ou lisos, ápice obtuso a 5-apiculado, 2,1-5 x 0,2-0,4 cm, tomentelos. Pedicelos 1,0-2,2 cm compr.,
tomentelo. Flores com hipanto 5-estriado a liso, 0,5-0,9 x 0,3-0,4 cm, externamente tomentelo,
11
internamente glabro; cálice fendido após a antese em 3-4 lobos espiralados; pétalas lineares a estreito-
elípticas, ápice agudo, 8,6-20,8 x 0,5-0,8 mm, glabras; coluna estaminal rudimentar, 2,9 mm compr.,
internamente tomentosa; gineceu 1,9 cm compr., ovário glabro, estilete glabro, estigma glabro, estigma
clavado; ginóforo 1,7 cm compr., glabro. Legumes glabros, 7,1-10,7 (17,1) x 1,9-3,4 cm. Carpóforo 2,6-
4,1 cm compr. Sementes com lobos funiculares uncinados-lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Campo Grande, 19/X/2007, fl., Silva & Cristaldo
89 (CGMS); Campo Grande, 24/VI/2003, fl. fr., Chaves s/n. (CGMS 11987); Campo Grande,
26/XI/1985, fl. fr., Barros s/n. (CGMS 412); Corguinho, 19/VIII/2007, fl., Silva et al. 105 (CGMS);
Costa Rica, 26/X/2004, fl. fr., Penha et al. 49 (CGMS); Pedro Gomes, s/d., fl., Silva & Rodrigues Jr.
1120 (SPF); Três Lagoas, 17/IX/1964, fl., Gomes Jr. 2142 (UB).
Floração e frutificação de junho a novembro.
Distribuição e ambiente: Ocorre apenas no Brasil, nos estados de Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Pará
e no Distrito Federal (Vaz & Tozzi 2003). Bauhinia curvula, pouco documentada para Mato Grosso e
Mato Grosso do Sul (Vaz & Tozzi 2003), foi reportada pela primeira vez para Mato Grosso do Sul por
Pott et al. (2006), e foi aqui confirmada para o Estado, onde habita em áreas de cerrado, cerradão, mata
ciliar e beira de estrada, nas regiões central, nordeste e leste do Estado.
Bauhinia curvula e B. pulchella fazem parte do mesmo complexo e compartilham características
como botões lineares, 5-estriados a lisos e hipanto internamente glabro. Bauhinia curvula difere por
apresentar folhas bifolioladas, folíolos livres ou concrescidos em 1/6 ou 1/2 do comprimento total,
oblongo-elípticos a largo-elipticos ou ovados e ovário glabro, enquanto que B. pulchella apresenta folhas
bifolioladas, folíolos concrescidos em 3/4 ou 4/5 do comprimento total, oblongos e ovário pubérulo a
glabrato.
Considerando-se as descrições de B. curvula e B. pulchella fornecidas por Vaz & Tozzi (2003),
alguns materiais apresentaram características intermediárias entre estas espécies, mas verificou-se com
observações de campo que se tratavam apenas de formas mais extremas da variação morfológica de B.
curvula, pois foram encontrados até ramos do mesmo indivíduo com características das duas espécies.
Portanto, espécimes com folhas bifolioladas, folíolos concrescidos em até 1/2 do comprimento total,
oblongo-elípticos a largo-elípticos ou ovados e paralelos são incluídos neste estudo em B. curvula,
abrangendo desta forma, a ampla variação morfológica observada em campo.
2.4. Bauhinia holophylla (Bong.) Steud., Nomencl. Bot. ed.2, 1:191. Agosto 1840. Pauletia holophylla
Bongard, Mem. Acad. Imp. Sci. St. Petersb., ser. 6, Sci. Math. 4:129, 1836. Fig. 33-40
Arbusto ou árvore, 1,0-6,0 m alt. Ramos geralmente quadrangulares e finamente estriados a estriados-
sulcados, inermes, tomentosos. Estípulas geralmente caducas, lineares a estreito-lanceoladas, raro
uncinadas, cerca de 8,5 x 0,5-1,4 mm, externamente tomentosas. Nectários adpeciolares subuliformes até
1,0 mm compr. Folhas unifolioladas até raramente bifolioladas, folíolos concrescidos em cerca de 5/6 a
12
7/8 do comprimento total, folhas ovadas a obcordadas até raro semiorbiculares, ápice agudo ou
levemente acuminado a retuso ou profundamente emarginado, base geralmente cordada até truncada ou
raro oblíqua, (3,5) 6,4-14,6 x (3,1) 5,1-13,5 cm, 9-11 (13)-nérveas, face adaxial glabra, face abaxial denso
a esparsamente tomentosa ou rufo-tomentosa até vilosa, nervuras primárias e secundárias emersas,
terciárias imersas. Pecíolos 0,9-1,7 cm compr., denso-tomentosos. Inflorescência com bráctea foliácea
nectarífera ovada, 0,93-1,6 x 0,64-1 mm; nectário subuliforme rudimentar submilimétrico; folhas
reduzidas entre as inflorescências parciais raramente presentes; bráctea e bractéolas ovado-lanceoladas,
cuspidadas, 2,0-3,5 x 0,5-1 mm, freqüentemente caducas. Pedúnculo 1,9-4,4 cm compr. Botões estreito-
subclavados, pentagonais, 5-costados ou 5-estriados, freqüentemente apresentando 2 estrias imersas
intercalando as estrias do botão, raro levemente onduladas, ápice 5-reentrante, 2,0-6,9 x 0,8-1,6 cm,
tomentosos. Pedicelos 1,3-1,7 cm compr., tomentosos. Flores com hipanto 5-costado, 1,2-1,7 x 0,7-0,9
cm, externamente denso-tomentoso, internamente glabro; cálice fendido após a antese em 5 lobos
espiralados; pétalas lineares a estreito-elípticas, ápice agudo-acuminado, 15,4-28,2 x 0,1-0,1 mm, glabras;
coluna estaminal rudimentar, 2 mm compr., glabra; gineceu 1,6-2,5 cm compr., ovário denso-tomentoso,
estilete e estigma tomentelos, estigma clavado; ginóforo 1,2-2,3 cm compr., tomentoso. Legumes
tomentelo a pubérulo, (8,9) 11,8-28,8 x 0,9-2,7 cm. Carpóforo 2,9-5,3 cm compr. Sementes com lobos
funiculares uncinado-lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Amambai, 20/III/2005, fl. fr., Pott & Pott 12743
(HMS); Aquidauana, 5/II/1998, fl, Ribas & Pereira 2559. (ESA); Bataguaçu, 23/I/1992, fl. fr., Los s/n.
(SPF); Campo Grande, 18/V/2007, fr., Silva 52 (CGMS); Chapadão do Sul, 31/V/2001, fr., Pott et al.
4712 (HMS); Dourados, 24/III/2002, fl. fr., Sciamarelli et al. 1599 (CGMS); Paranaíba, 2/XI/1996, fl. fr.,
Ratter et al. s/n. (UB); Selvíria, 18/X/1990, fr., Tiritan & Paiva 201 (RB); Três Lagoas, 3/XI/1996, fl.,
Ratter et al. s/n. (UB 7611).
Floração de janeiro a julho, novembro e dezembro. Frutificação o ano todo.
Distribuição e ambiente: Ocorre no Paraguai e no Brasil, no Distrito Federal e estados de Goiás, Minas
Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná, Rondônia e São Paulo (Vaz & Tozzi 2003). Distribui-
se nas regiões oeste, central, sul, sudeste e leste de Mato Grosso do Sul em áreas de cerrado, campo
cerrado e cerradão, ocorrendo em vegetação secundária de cerrado e cerradão, cerrado em regeneração,
pastagens e vegetação de cerrado em planície de várzea do Rio Paraná.
Bauhinia holophylla, B. longifolia e B. rufa fazem parte de um complexo de espécies que
compartilham a coluna estaminal rudimentar, até 3 mm compr., glabra, pétalas lineares e longo-
acuminadas, botão floral desde anguloso-5-costado ou 15-estriado a levemente costado e subcilíndrico
(Vaz & Tozzi 2003). Bauhinia holophylla diferencia-se de B. longifolia por apresentar freqüentemente
botão pentagonal, 5-costado a 5-estriado e folhas unifolioladas enquanto que B. longifolia apresenta botão
15 estriado e folhas bifolioladas, folíolos parcialmente concrescidos. Segundo Vaz & Tozzi (2003), B.
rufa distingue-se das espécies do complexo B. holophylla/B. longifolia por apresentar folhas bifolioladas,
13
folíolos concrescidos em quase todo o comprimento total, ápice obtuso a arredondado ou subtruncado,
face adaxial levemente bulada, indumento ferrugíneo e velutino a hirsuto nos ramos, pecíolo, face abaxial
da folha, raque floral até o botão floral e o cálice, estípulas lineares a oblongas, agudas, botão floral
tomentoso-hirsuto com bractéolas lineares.
No entanto, a distinção morfológica entre estas espécies é bastante difícil. Vaz & Tozzi (2003)
relataram as sobreposições de características entre B. rufa e B. longifolia, e a dificuldade de separar as
duas espécies, especialmente quando os materiais apresentam folhas mais coriáceas. Do mesmo modo,
porém menos freqüentemente, também existe sobreposição de características entre B. holophylla e B.
longifolia, como o contorno e nervação do botão floral, caracteres florais, forma de brácteas e estípulas.
Os materiais provenientes de áreas de cerrado dos municípios de Três Lagoas, Paranaíba e
Selvíria, região leste de Mato Grosso do Sul, identificados anteriormente como B. rufa, apresentam
características intermediárias entre B. rufa e B. holophylla, como folhas largo-ovadas a semi-orbiculares,
bifolioladas, folíolos concrescidos em quase todo o comprimento total, face abaxial denso-rufo-
tomentosa, 11-13 nervuras primárias enquanto que os demais materiais apresentam folhas unifolioladas
(inteiras), ovadas, face abaxial tomentosa e 9-11 nervuras primárias. Desta forma, estes materiais foram
identificados como B. holophylla, pois não foram encontradas características distintivas suficientes para
separar os dois táxons no material analisado. É possível que B. rufa e B. holophylla sejam apenas tipos
extremos de variação morfológica de uma mesma espécie, apresentando-se como um gradiente de
variação local.
2.5. Bauhinia leptantha Malme, Ark. Bot. Stockh. 5(5):11. 1905. Fig. 41-48
Arbusto, 2,0-2,5 m alt. Ramos geralmente cilindricos e lisos a finamente estriados, inermes, pubérulos a
tomentelos. Estípulas caducas, lineares a triangulares ou estreito-lanceoladas, 1,6-3,4 x 0,5 mm, externa e
internamente esparso tomentosas. Nectários adpeciolares oblongos, geralmente rudimentares
submilimétricos até raro 1,3 mm compr. Folhas bifolioladas, folíolos concrescidos em cerca de 3/4 a 5/6
do comprimento total, ovados, paralelos a levemente convergentes, ápice obtuso a subagudo, base
geralmente cordada a subtruncada, (2,9) 6,5-10,3 x (1,6) 2,9-4,5 cm, 7-9-nérveas, face adaxial glabra,
face abaxial pubérula a tomentela, nervuras primárias emersas, secundárias e terciárias imersas. Pecíolos
0,8-2,2 cm compr., pubérulos. Inflorescência com bráctea foliácea nectarífera estreito-lanceoladas, 2,2-
3,8 x 0,5 mm compr., caducas; nectário oblongo rudimentar submilimétrico; folhas reduzidas entre as
inflorescências parciais ausentes; bráctea e bractéolas ovado-lanceoladas, 1,3-1,9 x 0,5-0,7 mm,
geralmente persistentes. Pedúnculo 1,6-2 cm compr. Botões lineares, 5-costados, ápice 5-cuspidado, 2,7-
5,6 x 0,2-0,4 cm, pubérulos. Pedicelos 1,4-2,1 cm compr., pubérulos. Flores com hipanto 5-costado, 1,1-
2,1 x 0,6-0,7 cm, externamente pubérulo, internamente glabro; cálice fendido após a antese em 2-4 lobos
espiralados; pétalas lineares, ápice acuminado, (12,7) 35,8-37,4 x 0,4-1,2 mm, glabras; coluna estaminal
até 2,9 mm compr., internamente curto-vilosa; gineceu 2,2-4,7 cm compr., ovário tomentoso, estilete e
14
estigma esparso-tomentosos, estigma clavado-achatado; ginóforo (0,9) 1,5-4,6 cm compr., glabrato.
Legumes pubérulos, 16,7 x 1,7 cm. Carpóforo 4,2-5,1 cm compr. Sementes com lobos funiculares
triangulares, levemente uncinados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Corumbá, 31/V/1989, fr., Pott et al. 822 (CPAP);
Corumbá, 22/X/1953, fl., Pereira et al. 432 (RB); Corumbá, 30/XI/2006, fl., Alves 250 (CGMS); Porto
Murtinho, 9/II/2005, fl., Atique 1 (CGMS).
Floração de fevereiro, outubro e novembro. Frutificação em maio e novembro.
Distribuição e ambiente: Ocorre apenas no Brasil, Mato Grosso do Sul (Vaz & Tozzi, 2003), em floresta
de “pé de serra” e topo de morro com solo calcário, geralmente em ambientes inundados na época
chuvosa. Até o momento esta espécie era considerada endêmica restrita do município de Corumbá,
noroeste de Mato Grosso do Sul, com uma única população conhecida. No entanto, o material Atique 1
(CGMS) proveniente de Porto Murtinho, região oeste do Estado, apresenta também botões lineares, 5-
costados, ápice 5-cuspidado e nectários adpeciolares oblongos, sendo portanto, considerada como uma
variação de B. leptantha adaptada a topo de morro, diferindo apenas por apresentar folhas mais coriáceas
e botões com estrias menos evidentes.
Bauhinia leptantha distingue-se das demais espécies de Mato Grosso do Sul por apresentar botões
lineares, 5-costados, ápice 5-cuspidado e pétalas lineares associados a folhas bifolioladas, folíolos
parcialmente concrescidos, ovados, paralelos a levemente convergentes. As folhas são geralmente
membranáceas a subcartáceas, nunca coriáceas. Esta espécie é pouco conhecida em relação às afinidades
taxonômicas.
2.6. Bauhinia longifolia (Bong.) Steud., Nomencl. Bot. ed.2, 1:191. Ago 1840.- Pauletia longifolia
Bongard, Mem. Acad. Imp. Sci. St. Petersb., ser. 6, Sci. Math. 4:122,1836. Fig. 49-56
Arbusto ereto ou apoiante, subarbusto ou árvore, 1,0-5,0 m alt. Ramos cilíndricos a quadrangulares e
estriado-sulcados, inermes, esparsamente tomentosos. Estípulas caducas, escamiformes submilimétricas,
externamente tomentosas. Nectários adpeciolares subuliformes até 2,5 mm compr. Folhas bifolioladas,
folíolos concrescidos em cerca 1/2 até 3/4 do comprimento total, ovados, ápice agudo, base subtruncada a
cordada, 7,5-17,2 x 2,6-6 cm, 9-11-nérveas, face adaxial glabra, raramente puberulenta na nervura central,
face abaxial vilosa, nervuras primárias e secundárias emersas, terciárias imersas. Pecíolos 1-2,8 cm
compr., denso-tomentosos. Inflorescência com bráctea foliácea nectarífera largo-ovada, 0,8-1,9 mm
compr.; nectário subuliforme até 1,5 mm compr.; folhas reduzidas entre as inflorescências parciais
ausentes; bráctea e bractéolas escamiformes, ápice agudo, 0,9-1,2 mm compr., persistentes. Pedúnculo
2,2-2,5 cm compr. Botões estreito-subclavados, 15-estriados, ápice 5 reentrante, 2,8-6,3 x 0,3-0,6 cm,
tomentosos. Pedicelos 1,5-3,1 cm compr., denso-tomentosos. Flores com hipanto 5-costado, 1,2–3,3 x
0,4-0,7 cm, externamente denso-tomentoso, internamente glabro; cálice fendido após a antese em 5 lobos
espiralados; pétalas lineares a estreito-elípticas, ápice agudo, 13,9-15,7 x 0,7-1,5 mm, glabras até
15
raramente externamente puberulenta; coluna estaminal rudimentar, 1,8 mm compr., glabra; gineceu
1,5-1,7 cm compr., ovário denso-tomentoso, estilete e estigma tomentelos, estigma clavado; ginóforo 2,3-
4,1 cm compr., denso-tomentoso. Legumes esparso-tomentelos a pubérulos até glabrescentes, (10,8) 13,3-
18,5 x 0,9-2,1 cm. Carpóforo 4,0-4,6 cm compr. Sementes com lobos funiculares uncinados-lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Camapuã, 26/II/2002, fl. fr., Pott et al. 9532
(HMS); Dourados, 06/VI/1984, fl. fr., Franco 5 (CGMS); Maracaju, 05/VIII/2001, fr., Sciamarelli et al.
948 (CGMS); Paraíso, 12/IV/2004, fl. fr., Sciamarelli et al. 1694 (CGMS).
Floração de fevereiro a junho. Frutificação de fevereiro a agosto.
Distribuição e ambiente: Distribui-se pela Bolívia, Paraguai, Peru e Brasil, nos estados da Bahia, Espírito
Santo, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Paraná, Rio de Janeiro, Rondônia,
São Paulo e no Distrito Federal (Vaz & Tozzi 2003). Em Mato Grosso do Sul, ocorre nas regiões
noroeste e sudoeste, em áreas de cerrado e cerradão com vestígios de mata até borda de mata, mata de
encosta e pasto.
Esta espécie faz parte de um complexo que inclui Bauhinia holophylla e B. rufa, onde a distinção
morfológica é dificultada pelas sobreposições de características entre as espécies (ver comentários em B.
holophylla). Vaz & Tozzi (2003) reconhecem B. rufa, B. holophylla e B. longifolia como espécies
distintas, mas mencionam a possibilidade dos espécimes representarem formas de vida diferentes da
mesma espécie e que estas três espécies poderiam ser tratadas como variedades da mesma espécie.
2.7. Bauhinia pulchella Benth., in C. Mart., Fl. Bras. 15(2): 190. tab 49. 1870. Fig. 57-63
Arbusto, 2,5 m alt. Ramos cilíndricos, finamente estriados, inermes, tomentelos. Estípulas caducas não
observadas. Nectários adpeciolares subuliformes até 1,6 mm compr. Folhas bifolioladas, folíolos
concrescidos em 3/4 ou 4/5 do comprimento total, oblongos, paralelos, ápice arredondado a levemente
obtuso, base truncada, 2,9-5,6 x 1,2-2,5 cm, 9-nérveas, face adaxial glabra, face abaxial tomentela,
nervuras primárias emersas, secundárias e terciárias imersas. Pecíolos 1,1-0,8 cm compr., tomentelos.
Inflorescência com bráctea foliácea caduca não observada; nectário subuliforme até 1,0 mm de compr.;
folhas reduzidas entre as inflorescências parciais; bráctea e bractéolas escamiformes submilimétricas,
freqüentemente caducas na maturidade. Pedúnculo 1,8-2,2 cm compr. Botões lineares, 5-estriados a quase
completamente lisos, ápice 5-reentrante, 1,9-4,3 x 0,1-0,5 cm, tomentelos. Pedicelos 0,6 cm compr.;
tomentelo. Flores com hipanto tubuloso no botão floral, não observado na antese, externamente
tomentelo, internamente glabro; cálice não observado na antese; pétalas lineares a estreito-elípticas, ápice
agudo, 6,1 x 0,4 mm, glabras; coluna estaminal rudimentar, 1,0 mm compr., internamente pubescente a
vilosa; gineceu 1,7 cm compr., ovário pubérulo a glabrato, estilete glabro, estigma glabro, estigma
clavado-achatado; ginóforo não observado na maturidade, 0,8-1,7 cm compr. no botão, glabro. Legumes e
sementes não observados.
16
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Três Lagoas, 15/VII/1993, fl., Caliente 908
(HRCB).
Floração em julho.
Distribuição e ambiente: Ocorre apenas no Brasil, nos estados da Bahia (e limítrofes de Goiás),
Tocantins, Ceará, Maranhão, Piauí, Rio Grande do Norte, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rondônia,
Minas Gerais e Pará. (Vaz & Tozzi 2003). Habita áreas de campo cerrado em regeneração na região leste
de Mato Grosso do Sul, divisa com São Paulo.
Bauhinia pulchella faz parte de um complexo de espécies que inclui B. curvula. Observações de
campo mostraram que alguns materiais com características que podiam ser incluídas na descrição de B.
pulchella, representam extremos de variação morfológica de B. curvula (ver discussão em B. curvula).
Portanto, neste estudo só foi considerada como B. pulchella apenas um espécime com folhas bifolioladas,
folíolos concrescidos em 3/4 ou 4/5 do comprimento total, oblongos, paralelos, ápice arredondado a
levemente obtuso e ovário pubérulo a glabrato.
2.8. Bauhinia ungulata L., Sp. Pl. ed. 1, 374. 1753.- Cansenia ungulata (Linnaeus) Rafinesque, Sylva
Tell. 122.1838, sphalm. Fig. 64-71
Arbusto, subarbusto ou árvore, (0,6) 1,0-5,0 (8,0) m alt. Ramos cilíndricos a quadrangulares e finamente
estriados, inermes, pubérulos a tomentelos até glabros na maturidade. Estípulas geralmente caducas,
estreito-ovadas, 0,7-2 x 0,9 mm, externamente glabratas a pubérulas. Nectários adpeciolares ovóides 1-
2,7 mm compr. Folhas bifolioladas, folíolos ovados paralelos ou convergentes, ápice agudo, base cordada,
(0,9) 1,4-14,1 x 0,5-4,3 cm, 7-9-nérveas, face adaxial glabra, face abaxial geralmente glabra ou glabrata,
raro com tricomas pretos, curtos e esparso-pubescentes na região das nervuras primárias, nervuras
primárias emersas, secundárias e terciárias imersas. Pecíolos 1,0-2,5 cm compr., pubérulo tomentelo.
Inflorescência com bráctea foliácea nectarífera ovada, 3,7 mm compr.; nectário ovóide 2,0 mm; folhas
reduzidas entre as inflorescências parciais ausentes; bráctea e bractéolas ovado-lanceoladas, 1,9-2,7 x 0,6-
0,8 mm, persistentes. Pedúnculo 1,7-2,8 cm compr. Botões clavados, lisos ou 15-estriados, ápice obtuso,
1,1-4,2 x 0,3-0,7 cm, rufo tomentelos a pubérulos. Pedicelos (0,2) 0,4-1 (1,3) cm compr., rufo tomentelos.
Flores com hipanto estriado ou liso, 0,7-2 x 0,4-1,2 cm, externamente rufo tomentelos, internamente
glabro; cálice fendido após a antese em 3 lobos espiralados; pétalas lineares a estreito-lanceoladas ou
estreito-elípticas, ápice acuminado, 16,5-21,6 x 1,2-2,8 mm, glabras; coluna estaminal rudimentar, 1 mm
compr., internamente com tufos de tricomas vilosos; gineceu 1,4-1,9 cm compr., ovário denso-rufo-
tomentoso a viloso, estilete esparso tomentoso a vilosoto, estigma glabro, clavado; ginóforo 0,8-1,4 cm
compr., glabro. Legumes esparso-tomentelos a pubérulos, 6,2-20,6 x 0,5-1,3 cm. Carpóforo 0,7-1,6 cm
compr. Sementes com lobos funiculares triangulares a uncinados-lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Bonito, 14/VI/2001, fl., Pott et al. 9089 (HMS);
Campo Grande, 12/V/1992, fl. fr., Conceição 2833 (CGMS); Corguinho-Taboco, 19/VIII/2007, fl.,
Silva
17
et al. 106 (CGMS); Corumbá, 31/V/1989, fl., Pott et al. 828 (CPAP) ; Paraíso, 31/X/2004, fr., Penha
250 (CGMS); Piraputanga, 06/VII/1988, fl., Conceição 2297 (CGMS); Porto Brilhante, s/d., fl. fr.,
Kirizawa 1717 (EX); Sonora, 17/VIII/2002, fr., Pott et al. 10122 (HMS) ; Três Lagoas, 18/VII/1994, fr.,
Jacques 291 (CEUL).
Floração de abril a agosto e outubro. Frutificação em maio a outubro.
Distribuição e ambiente: Sua distribuição abrange Belize, Costa Rica, Guatemala, Nicarágua, Panamá
Bolívia, Colômbia, Guiana, México, Paraguai, Venezuela e Brasil, nos estados do Acre, Amapá,
Amazonas, Bahia, Ceará, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Minas Gerais, Pará, Piauí,
Rio de Janeiro, Rondônia, Roraima, São Paulo, Tocantins e Distrtito Federal (Vaz & Tozzi 2003). Esta é
a espécie mais amplamente distribuída da série Cansenia (Vaz e Tozzi, 2003), ocorrendo nas regiões
noroeste, sudoeste, central e leste de Mato Grosso do Sul, em diferentes ambientes como cerrado,
cerradão, floresta decídua, floresta semidecídua ao redor de afloramento rochoso, até área seca de rocha
arenítica em formação de solo. Também ocorre comumente em vegetação secundária de cerrado e
cerradão, cerrado perturbado e outras áreas degradadas como pastagem e em beira de estrada.
Bauhinia ungulata é uma espécie com grande variabilidade morfológica, mas considerando-se sua
ampla área de ocorrência, apresenta certos padrões locais, os quais foram reconhecidos como variedades,
admitindo-se formas intermediárias entre elas (Vaz & Tozzi, 2003). Neste estudo não foram considerados
os táxons infraespecíficos de B. ungulata, pois os caracteres diferenciais entre as variedades não se
mostraram consistentes no Estado. Esta espécie apresenta características muito próximas de B. bicolor
conforme discutido anteriormente.
3. Série Pentandrae Wunderlin et al., Biol. Skr. 28:13. 1987. Tipo: Bauhinia pentandra (Bong.) Steud.
Distribuição: América tropical. Sete espécies na América do Sul até o México (Wunderlin et al. 1987).
Ocorrem cinco espécies no Brasil (Vaz & Tozzi 2005).
Ramos aculeados; nectários extraflorais ausentes; folhas unifolioladas ou bifolioladas, folíolos livres ou
parcialmente concrescidos; tricomas glandulares ausentes em estruturas vegetativas. Inflorescência em
racemos laterais subsésseis, 2-floras ou 2-3-floras (B. marginata), raro pseudo-racemo terminal com
inflorescências parciais subssésseis ou pecíolos raramente até 0,9 cm compr. (B. corniculata), brácteas
foliáceas ausentes; botões florais clavados, pentagonais, raro oblongos (B. marginata), quilhados,
quilhado-alados, alados, 5-estriados ou 5-costado; hipanto internamente viloso a denso-viloso; cálice
fendido após a antese em 2-3 lobos parcialmente unidos no ápice ou livres, base fenestrada, nunca
espatáceo; pétalas lineares estreito-elípticas, glabras ou internamente tomentulosas a vilosas ou curto-
pubescentes em ambas as faces; 10 estames férteis, anteras iguais (B. corniculata e B. marginata) ou 5
estames férteis alternados com 5 estames com anteras reduzidas 2:3 (B. hagenbeckii) ou ainda 5 estames
férteis alternados com 5 estaminódios com anteras reduzidas 1:3 ou vestigiais (
B. pentandra), coluna
estaminal até 14 mm compr., internamente em geral vilosa, externamente glabra; legume deiscente,
18
valvas não divididas internamente em compartimentos; tricomas glandulares ausentes em todas
estruturas, raro escassos no ovário (B. marginata).
3.1. Bauhinia corniculata Benth., in C. Mart., Fl. Bras. 15 (2):198. 1870. Fig. 72-79
Arbusto ou subarbusto, 1,0-3,0 m alt. Ramos geralmente cilíndricos ou levemente angulosos até
quadrangulares e finamente estriados, aculeados, glabros ou glabrescentes até pubérulos. Apenas um
acúleo, oposto a folha, adpeciolar, triangular a levemente uncinado, 1,5-4,9 x 0,9-3,2 mm. Estípulas
geralmente caducas, lineares a subuladas, 1,8-2,6 x 0,2-0,4 mm, externamente pubérulas. Nectários
ausentes. Folhas unifolioladas até bifolioladas, folíolos concrescidos em 3/4 ou 5/6 do comprimento total,
folhas 3,9-9,2 x 3,4-8,3 cm, 9-11-nérveas, ovadas a obcordadas, ápice profundamente emarginado, base
cordada, face adaxial glabra, exceto na nervura principal pubérula, face abaxial glabra ou pubérula,
nervuras primárias e secundárias emersas, terciárias imersas. Pecíolos 0,6-2,7 cm compr., glabro ou
pubérulos a tomentulosos. Inflorescência com bráctea e bractéolas estreito-triangulares a ovado-
lanceoladas, cuspidadas, 2,0-2,5 x 0,5-0,7 mm, geralmente caducas; bráctea triangular-escamiforme,
cerca de 1,0 x 0,7 mm no ramo da inflorescência; 1 acúleo ao lado de cada bráctea ao longo da
inflorescência; nectário na inflorescência ausente; folhas reduzidas entre as inflorescências parciais
raramente presentes. Pedúnculo 6,3 cm compr. Botões clavados, apresentando uma constrição subapical,
5-estriados, ápice 5-corniculado, 2,6-3,6 x 0,5-0,5 cm, tomentulosos. Pedicelos 1,2-1,8 cm compr.,
tomentulosos. Flores com hipanto 5-estriado-costado, 1,6-1,8 x 0,7-0,8 cm, externamente tomentuloso,
internamente denso-viloso; cálice fendido após a antese em 2-3 lobos, base fenestrada; pétalas lineares
estreito-elípticas, ápice acuminado, 34,2-1 mm, internamente tomentulosas a esparso-vilosas na metade
inferior; coluna estaminal até 5,3 mm compr., internamente denso vilosa; gineceu 2,6-3,0 cm compr.,
ovário denso viloso apenas na região central, estilete e estigma glabros, estigma levemente capitado-
achatado; ginóforo 2,0 cm compr., glabro. Legumes glabros a glabratos ou pubérulos, 11,7-15,6 (21,2) x
1,2-5,9 cm. Carpóforo 2,2-2,8 cm compr. Sementes com lobos funiculares uncinados-filiformes.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Corumbá, 06/V/2001, fr., Damasceno Júnior et al.
2359 (COR); Corumbá, 22/XI/2001, fl. fr., Pott et al 5020 (HMS).
Floração em setembro e novembro. Frutificação em maio, setembro e novembro.
Distribuição e ambiente: Ocorrência verificada para Bolívia, Colômbia, Peru e Brasil, estados do
Amazonas e Pará (Vaz & Tozzi 2005). Em Mato Grosso Sul ocorre apenas no noroeste, habitando mata
ciliar inundável e barranco fluvial com solo argiloso, ou vegetação secundária alagável em beira de
estrada. A ocorrência desta espécie é inédita para Mato Grosso do Sul e região Centro-Oeste do Brasil, o
que demonstra uma distribuição disjunta da espécie no país, pois até o momento só havia registro para os
estados do Amazonas e Pará, habitando a floresta Amazônica, em vegetação de várzea (Vaz & Tozzi
2005).
19
Bauhinia corniculata foi incluída por Bentham (1870) no terceiro grupo de espécies da seção
Pauletia juntamente com B. mollis, que corresponde a atual série Aculeatae. No entanto, Vaz & Tozzi
(2005) incluíram esta espécie na série Pentandrae pelo tipo de acúleo e botão floral. Esta espécie
distingue-se das demais da série Pentandrae, principalmente por apresentar apenas um acúleo na base do
pecíolo e botões florais com ápice 5-corniculado, enquanto as demais possuem um par de acúleos
adpeciolares e botões não corniculados.
3.2. Bauhinia hagenbeckii Harms, Bot. Jahrb. Syst. 33(72):21. 1903. Fig. 80-87
Arbusto ou subarbusto, 0,3-1,5 m alt. Ramos geralmente cilindicos e finamente estriados, aculeados,
curto-pubescentes a glabrescentes. Acúleos aos pares, triangulares a cuspidados, raro levemente
uncinados, 1-1,24 x 0,7-0,8 mm. Estípulas geralmente persistentes, escamiformes a cuto-triangulares,
submilimétricas até 1,5 x 0,4 mm, externamente pubérulas. Nectários ausentes. Folhas geralmente
bifolioladas, folíolos livres ou concrescidos em 1/5 a 1/8 do comprimento total, 1,4-7,3 x 0,7-2,8 cm, 3-4-
nérveos, geralmente oblongos até largo oblongos ou ovados, paralelos ou divergentes ou ainda paralelos
divergindo apenas no ápice, ápice agudo ou obtuso a arredondado, base da folha cordada, face adaxial
glabra, face abaxial curto-pubescente ou pubérula, nervuras primárias emersas, secundárias e terciárias
imersas. Pecíolos 0,8-2,4 cm compr., curto-pubescentes a pubérulos. Inflorescência com bráctea e
bractéolas escamiformes, submilimétricas, persistentes; bráctea foliácea e nectários ausentes; folhas
reduzidas ou não entre as inflorescências. Inflorescência subséssil, pedúnculo adnato ao ramo. Botões
estreito-clavados, pentagonais, levemente 5-quilhado, ápice 5-apiculado, 1,2-5 x 0,2-0,5 cm, pubérulo a
tomentuloso. Pedicelos 0,8-1,3 cm compr., curto pubescentes a pubérulos. Flores com hipanto estriado,
2,0-3,2 x 0,3-0,4 cm, externamente pubérulo a tomentuloso, internamente viloso; cálice fendido após a
antese em 2-3 lobos ondulados; pétalas lineares, ápice acuminado, 19,2-25,2 x 0,8-1,3 mm, curto
pubescentes em ambas as faces; coluna estaminal até 14,0 mm compr., internamente vilosa; gineceu 2,8-
3,6 cm compr., ovário glabrato a esparso viloso, estilete e estigma glabros, estigma clavado; ginóforo 1,9-
2,9 cm compr., glabrato. Legumes glabratos, (4,8) 7-11,9 x 0,9-1,3 cm. Carpóforo 2,1-3,3 cm compr.
Sementes com lobos funiculares levemente uncinados -lobados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Porto Murtinho, 16/II/2007, fr., Alves et al. 12
(CGMS); Porto Murtinho, 08/V/2007, fl. fr., Alves & Silva 375 (CGMS); Porto Murtinho, 16/II/2007, fl.
fr., Alves et al. 275 (CGMS), Porto Murtinho, 10/V/2007, fl. fr., Silva et al. 115 (CGMS), Porto
Murtinho, 5/XII/2007, fl. fr., Sartori & Alves 1084 (CGMS).
Floração e Frutificação em fevereiro e maio.
Distribuição e ambiente: Bauhinia hagenbeckii é uma espécie característica de Chaco (Harms 1903) e sua
distribuição abrange Paraguai e Brasil (Wunderlin 1968). No entanto, até o momento não existia
referência sobre sua distribuição dentro do território brasileiro. Esta espécie foi coletada apenas no
município de Porto Murtinho, em uma área chaquenha no sudoeste de Mato Grosso do Sul, fronteira com
20
o Paraguai. O tipo de B. hagenbeckii foi coletado por Hagenbeck em 1895 no “Gran Chaco, Brasil”
(Wunderlin 1968) e desde então não havia registro de coleta para o Brasil. Portanto, o registro de B.
hagenbeckii neste estudo confirma sua ocorrência em território brasileiro.
Esta espécie tem afinidade com B. pentandra, mas geralmente os materiais mais característicos de
B. pentandra e B. hagenbeckii são facilmente distinguíveis pelo tamanho e forma das folhas e pelo grau
de concrescimento dos folíolos. Entretanto, os materiais de B. hagenbeckii com folíolos concrescidos na
base e as formas de B. pentandra bifolioladas apresentam sobreposição destas características, tornando
difícil a distinção vegetativa entre estas espécies. Nestes casos a diferenciação pode ser realizada com a
observação adicional de características de flores e botões florais. B. hagenbeckii diferencia-se de B.
pentandra por apresentar coluna estaminal com o comprimento máximo de até 14,0 mm, facilmente
visível na flor em antese, botões florais estreito-clavados e pétalas curto-pubescentes enquanto que B.
pentandra apresenta coluna estaminal com comprimento de cerca de 5,0 mm, botões clavados, e pétalas
glabras. B. hagembeckii é uma espécie ainda pouco conhecida pela ciência e novas coletas e estudos
posteriores devem ser realizados a fim de entender melhor sua variação morfológica.
3.3. Bauhinia marginata (Bong.) Steud., Nom. Bot. ed. 2, 191 sphalm. 291. 1840 - Pauletia marginata
Bong., Mém. Acad. Imp. Sci. Saint-Pétersbourg, sér. 6, Sci. Math. seconde Pt. Sci. Nat. 4:121. 1838.
Fig. 88-94
Arbusto ou subarbusto, 0,5-1,5 m alt. Ramos cilíndricos e finamente estriados, aculeados, vilosos a
esparso-tomentosos ou pubérulos até glabros na maturidade. Acúleos aos pares, cuspidados ou curto-
triangulares com ápice acuminado a obtuso, rudimentares com base alargada 0,8-1,4 x 1,1-1,9 mm.
Estípulas geralmente persistentes, lineares a estreito-lanceoladas, 1,2-5,0 x 0,3-0,5 mm, externamente
curto vilosa a tomentulosas. Nectários ausentes. Folhas bifolioladas, folíolos concrescidos em 2/3 a 4/5 do
comprimento total, largo elípticos a oblongos até ovados, algumas vezes levemente divergentes no ápice,
ápice obtuso ou arredondado a subtruncado, base profundamente cordada, (3,9) 7,7-11,5 x 2,0-5,0 cm, 7-9
(11)-nérveas, face adaxial glabra, face abaxial vilosa a pubérula ou ainda esparso pubescente no limbo e
vilosa apenas na região das nervuras primárias, nervuras primárias emersas, secundárias emersas a
imersas, terciárias imersas. Pecíolos 1,0-2,9 cm compr., vilosos a esparso pubescentes ou pubérulos.
Inflorescência com bráctea foliácea e nectário na inflorescência ausentes; folhas reduzidas entre as
inflorescências; bráctea e bractéolas escamiformes a lanceoladas, 1,1-2 x 0,4-1,1 mm, geralmente
persistentes. Inflorescência subséssil até 0,6 cm compr. Botões oblongos a clavados quando jovens,
pentagonais, 5-quilhado-alados, ápice 5-alado, 5,1-6,6 x 0,6-0,8 cm, curto-pubescentes ou tomentulosos
até pubérulos. Pedicelos (0,6) 0,8-1,9 cm compr., viloso a pubérulo. Flores com hipanto costado-
caniculado, 2,4-3,7 x 0,6-0,8 cm, externamente tomentoso a curto pubescente, internamente denso viloso;
cálice fendido após a antese em 3 lobos ondulados; pétalas lineares a estreito-elípticas, ápice acuminado,
20,3 x 1,6 mm, vilosas em ambas as faces; coluna estaminal até 6,4 mm compr., internamente vilosa;
21
gineceu 2,7 cm compr., ovário viloso, estilete e estigma glabros, estigma clavado; ginóforo 4,2 cm
compr., glabro. Legumes tomentelos, 21,4 x 1,8 cm. Carpóforo 4,8 cm compr. Sementes com lobos
funiculares não observados.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Campo Grande, 24/I/2002, fl. fr., Sciamarelli et
al. 1359 (CGMS); Campo Grande, 19/X/2007, fl., Silva & Cristaldo 85 (CGMS).
Floração em janeiro e outubro. Frutificação em janeiro.
Distribuição e ambiente: Ocorre apenas no Brasil, estados de São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul (Vaz & Tozzi 2005). Em Mato Grosso do Sul, ocorre em áreas de cerrado, na região central
(município de Campo Grande), sendo representada apenas por dois materiais provenientes do município
de Campo Grande.
Bauhinia marginata foi incluída por Bentham (1870) no primeiro grupo informal da seção
Pauletia, correspondente a série Cansenia, por apresentar pétalas estreito-linear, agudas, todas as anteras
férteis, acúleos freqüentemente reduzidos ou obsoletos. Benthan (1870) não fez distinção entre acúleos
reduzidos apresentados por B. marginata e nectários, que ocorrem nos representantes da série Cansenia.
No entanto, os acúleos dessa espécie algumas vezes apresentam-se revestidos por tricomas curto-
pubescentes e freqüentemente apresentam uma sutura apical que lembra a abertura de um nectário. Talvez
se trate de um nectário não funcional, característica da série Cansenia, mas pela ausência de estudos
anatômicos, essa estrutura foi considerada como um acúleo reduzido, já que características como tipo de
inflorescência, botão floral, forma das pétalas e indumento de partes vegetativas e hipanto são comuns às
espécies pertencentes à série Pentandrae. Bauhinia marginata difere das demais espécies desta série
principalmente pelas folhas bifolioladas, folíolos largo-elípticos a oblongos, acúleos reduzidos com base
alargada e botão floral profundamente quilhado-alado.
3.4. Bauhinia pentandra (Bong.) D. Dietr., Syn. Pl. 1475. 1840. - Pauletia pentandra Bong., Mém.
Acad. Imp. Sci. Saint-Pétersbourg, sér. 6, Sci. Math. seconde Pt. Sci. Nat. 4:126. 1838. Fig. 95-102
Arbusto, subarbusto ou arvoreta até raro arbusto escandente, 1,2-4,0 m alt. Ramos cilíndricos e finamente
estriados, aculeados, glabros, pubérulos a curto-pubescentes. Acúleos aos pares, triangulares com ápice
agudo, comumente um dos acúleos maior que o outro ou ambos rudimentares submilimétricos com base
alargada e ápice obtuso, algumas vezes atrofiados apresentando-se como uma pequena saliência
submilimétrica, 0,4-1,6 x 0,1-2,3 mm. Estípulas caducas não observadas. Nectários ausentes. Folhas
bifolioladas, folíolos concrescidos em cerca de 1/2 a 1/8 do comprimento total, raramente livres, ovados
assimétricos, divergentes, ápice obtuso a arredondado até acuminado ou cuspidado, base cordada até
levemente subtruncada, cartácea a membranácea, 4,6-12,7 x 0,9-4,1 cm, 9-nérveas, face adaxial glabra,
face abaxial pubérula a curto-pubescente ou glabra, nervuras primárias emersas, secundárias emersas ou
imersas, terciárias imersas. Pecíolos 1,4-4,2 cm compr., pubérulo a curto-pubescente ou glabro.
Inflorescência com bráctea foliácea e nectário na inflorescência ausentes; folhas entre as inflorescências;
22
bráctea e bractéolas escamiformes submilimétricas, persistentes. Pedúnculo 0,2-0,8 cm compr. ou
inflorescência subséssil. Botões clavados, pentagonais, 5-quilhado-alados, raro levemente 5-alados ou 5-
costado, ápice 5-alado-apiculado, (1,5) 2,3-5 x (0,4) 0,4-0,6 cm, curto-pubescentes a tomentulosos ou
pubérulos. Flores com hipanto estriado-sulcado ou profundamente costado, 1,2-2,3 x 0,4-0,6 cm,
externamente curto-pubescente a pubérulo, internamente viloso; cálice fendido após a antese em 2 lobos
retos ou ondulados, base dos lobos fenestradas; pétalas lineares a estreito-elípticas, ápice agudo-
acuminado, 11,6-19,1 x 1,3-2 mm, glabras; geralmente uma das anteras maior que as outras ou atrofiada
submilimétrica, coluna estaminal até 5,4 mm compr., internamente vilosa; gineceu 2,7-4,5 cm compr.,
ovário glabro, estilete e estigma glabros, estigma clavado; ginóforo 2,2-3,1 cm compr., glabro. Pedicelos
2,5-2,7 cm compr., pubérulo. Legumes glabratos ou completamente glabros, 10,1-16,2 x 1,2-1,5 cm.
Carpóforo 2,7-3,8 cm compr. Sementes com lobos funiculares levemente uncinados-lobados a
subtriangulares.
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Aquidauana, 06/I/1990, fr., Pott 1259 (CPAP);
Bodoquena, 16/V/2002, fr., Hatschbach et al. 73007 (SPSF); Corumbá, 03/VIII/1999, fr., Arruda s/n.
(CGMS); Corumbá, 05/XII/2000, fl. fr., Pott & Pott 4278 (HMS); Miranda, 15/VII/1990, fr., Conceição
s/n. (CGMS); Porto Murtinho, 10/V/2007, fr., Silva et al. 112 (CGMS); Selvíria, 18/III/1985, fr., Pereira
Noronha 576 (RB); Três Lagoas, 19/III/2003, fl. fr., Jacques et al. 878 (CEUL).
Floração e Frutificação praticamente o ano todo.
Distribuição e ambiente: Ocorre na Bolívia e no Brasil, nos estados de Alagoas, Bahia, Ceará, Goiás,
Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Norte, São Paulo e Sergipe (Vaz & Tozzi 2005). Bauhinia pentandra é amplamente distribuída
em Mato Grosso do Sul, sendo mais coletada nas regiões sudoeste, noroeste e leste do estado, em áreas de
cerrado freqüentemente pastejado, cerradão, clareira de mata e floresta estacional semidecídua, podendo
ainda ocorrer em encosta de morro e terreno pedregoso.
Bentham (1870) reconheceu B. pentandra e B. heterandra como espécies distintas com base
principalmente em características do androceu e botão. Segundo esse autor, B. pentandra possui cinco
estames alternados com cinco estaminódios filiformes desprovidos de anteras e botões angulosos e B.
heterandra possui 10 estames férteis com anteras de dois tamanhos e botões 5-alados. A área de
ocorrência de B. pentandra abrangia o Estado do Mato Grosso (incluindo Mato Grosso do Sul) e o
Paraguai enquanto que B. heterandra ocorria somente na Bahia, no Ceará, no Piauí e em Goiás. No
entanto, espécimes provenientes de Mato Grosso do Sul apresentaram cinco estames alternados com
cinco estaminódios providos de anteras reduzidas e botões alados ou levemente alados, se enquadrando
melhor em B. heterandra, conforme Bentham (1870). Porém, a circunscrição de B. pentandra aceita neste
estudo é a mesma proposta por Vaz & Tozzi (2005), que sinonimiza
B. heterandra com B. pentandra pela
sobreposição destas características. Bauhinia pentandra possui afinidade taxonômica com B. hagenbeckii
(ver comentários em B. hagenbeckii) e pode ser facilmente reconhecida pelo formato das folhas,
23
geralmente bifolioladas, folíolos concrescidos em 1/2 a 1/8 do comprimento total, ovados assimétricos
e divergentes.
4. Série Perlebia (Mart.) Wunderlin, K. Larsen & S.S. Larsen, Biol. Skr. 28:13. 1987. Tipo: Perlebia
bauhinioides Mart. [= Bauhinia bauhinioides (Mart.) J.F. Macbr.]
Distribuição: Cuba, Brasil, Paraguai e Argentina (Fortunato 1986; Wunderlin et al. 1987). Esta série é
representada por apenas uma espécie no Brasil (Vaz & Tozzi 2005).
Ramos aculeados; nectários extraflorais ausentes; folhas bifolioladas; tricomas glandulares ausentes em
partes vegetativas. Inflorescência em racemos laterais subsésseis, 2-3-floras, brácteas foliáceas ausentes;
botões florais subclavados, 5-estriados; hipanto internamente glabro; cálice fendido após a antese em um
lobo, base fenestrada, espatáceo; pétalas lineares a estreito-elípticas, lanosas externamente e na ungüícula;
5 estames férteis, anteras iguais, alternados com 5 estaminódios filiformes ananteríferos com filetes mais
afilados, ás vezes com uma antera vestigial, coluna estaminal até 5,5 mm compr., interna e externamente
denso-lanosa; legume indeiscente, raro tardiamente deiscente (Fortunato 1986), valvas internamente
divididas em compartimentos com câmaras que alojam as sementes; tricomas glandulares geralmente
ausentes, raro escassos no botão floral e no ovário.
4.1. Bauhinia bauhinioides (Mart.) J. F. Macbr., Contrib. Gray Herb. n. ser. 59:22. 1919. - Perlebia
bauhinioides Mart. ex Spix & Mart., Reise Bras. ed.1, vol 2:555. 1823. Fig. 103-110
Arbusto, 1,0-3,0 m alt. Ramos cilíndricos, finamente estriados, aculeados, puberulentos. Acúleos aos
pares, cônicos, 1,7-7,0 x 0,9-1,9 mm. Estípulas caducas, triangulares-escamiformes submilimétricas
(cerca de 0,5 mm de compr.), externamente tomentosas. Nectários ausentes. Folhas bifolioladas, folíolos
1,0-2,3 x 0,7-1,7 cm, 3-nérveos, oblongo-orbiculares, ápice arredondado, base oblíqua, face adaxial
glabra, face abaxial glabrata, nervuras primárias emersas, secundárias imersas, terciárias imersas.
Pecíolos 0,5-1,4 cm compr., tomentosos. Inflorescência com bráctea foliácea e nectário na inflorescência
ausentes; folhas reduzidas entre as inflorescências; bráctea e bractéolas escamiformes submilimétricas,
caducas. Inflorescência séssil ou subséssil. Botões subclavados, geralmente apresentando constrição
subapical, 5-estriado, ápice levemente acuminado, 1,4-3,6 x 0,2-0,5 cm, tomentosos. Pedicelos 1,9-2,3 cm
compr., tomentosos. Flores com hipanto estriado, 5,7 x 2,1 cm, externamente tomentoso, internamente
glabro; cálice espatáceo, fendido após a antese em um lobo, base fenestrada; pétalas lineares a estreito-
elípticas, ápice agudo, 10 x 0,6-1 mm, externamente lanosas a partir da unguícula até cerca de 1/2 ou 2/3
da pétala; anteras iguais, coluna estaminal até 5,5 mm compr., interna e externamente denso-lanosa;
gineceu 1,4-3,3 cm compr., ovário lanoso apenas na região central, estigma clavado; ginóforo 0,8-2,3 cm
compr., glabro. Legumes glabros a puberulentos, (3,6) 7,5-11 x 1,6-3,3 cm. Carpóforo 2,1-3,2 cm compr.
Sementes com lobos funiculares filiformes.
24
Material selecionado: BRASIL. Mato Grosso do Sul: Corumbá, 02/XI/1996, fr., Prestes et al. 5320
(CGMS); Corumbá, 11/III/2005, fr., Pott et al. 7534 (HMS); Corumbá, 19/IX/1991, fr., Resende et al.
1032 (CGMS); Corumbá, 2/VIII/2007, s/ fl. fr., Alves 513 (CGMS); Corumbá, 22/V/2001, fr., Pott & Pott
4665 (HMS); Corumbá, 01/X/2004, fl., Takahasi & Campos 623 (CGMS); Miranda, 17/V/2002, fr.,
Hatschbach & Ribas 73076 (SPF); Miranda, 28/XII/1990, fr., Resende et al. 373 (CGMS); Porto
Murtinho, 10/V/2007, s/ fl. fr., Silva et al. 111 (CGMS);
Floração em outubro. Frutificação em março, maio, setembro, novembro e dezembro.
Distribuição e ambiente: Argentina e Paraguai (Fortunato 1986), Cuba e Brasil, nos estados da Bahia,
Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul e Piauí (Vaz & Tozzi 2005). Ocorre em locais alagados ou
periodicamente inundáveis, no Pantanal, em mata ciliar, em vegetação secundária e em beira de estrada
alagável, nas regiões noroeste, oeste e sudoeste de Mato Grosso do Sul.
Bauhinia bauhinioides é a única espécie da série Perlebia no Estado e pode ser prontamente
identificada pelos legumes indeiscentes, provavelmente adaptados à flutuação na água, pétalas lanosas, 5
estames intercalados com 5 estaminódios e folhas bifolioladas, folíolos oblongo-orbiculares.
Agradecimentos
As autoras agradecem aos curadores dos herbários BHCB, CEUL, CGMS, COR, ESA, HB, HMS, HRBC,
IAC, INPA, R, RB, SPF, SPSF, UB e UFMT, pelo empréstimo dos materiais; a Leila Carvalho da Costa,
pelas ilustrações. A primeira autora agradece a Capes/Fundect, pela bolsa concedida.
Referências bibliográficas
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Considerações finais
Das 14 espécies de Bauhinia sensu stricto confirmadas para Mato Grosso do Sul, nove foram
coletadas e seus ambientes de ocorrência observados em campo, auxiliando também no entendimento da
variação morfológica destas espécies. Entre estas, destacam-se B. marginata, raramente representada nas
coleções botânicas, B. bicolor reportada pela primeira vez no Estado e B. hagenbeckii, para a qual não
havia registro para o Brasil desde a 1895, quando foi coletado o holótipo. Além disso, o tipo havia sido
destruído por bombas durante a segunda Guerra Mundial, restando apenas fotografias e um fragmento de
folha e, portanto, impossibilitando, até o momento, a comprovação da ocorrência desta espécie no Brasil.
Bauhinia cheilantha, B. lepthantha, B. longifolia, B. pulchella e B. corniculata foram analisadas apenas
através de material herborizado. A ocorrência de B. corniculata é inédita para o estado de Mato Grosso
do Sul e região Centro-Oeste do País. Além disso, não havia até o momento descrições taxonômicas das
espécies brasileiras das séries Aculeatae, Pentandrae e Perlebia. As ilustrações de B. hagenbeckii e B.
coniculata aqui fornecidas também são inéditas. Duplicatas de B. hagenbeckii e B. marginata serão
enviadas a outras instituições.
Bauhinia marginata apresenta estruturas adpeciolares classicamente denominadas por
especialistas no gênero de acúleos, característica compartilhada por toda a série Pentandrae. Entretanto,
essas estruturas apresentam-se revestidas por tricomas curto-pubescentes e freqüentemente com uma
sutura apical que lembra a abertura de um nectário, podendo tratar-se de um nectário não funcional. Desta
forma, estudos anatômicos que investiguem a origem e função destas estruturas são imprescindíveis para
auxiliar novos estudos taxonômicos com o gênero.
A ocorrência de Bauhinia rufa no Mato Grosso do Sul não foi confirmada neste estudo. No
entanto, pelo fato dos materiais que apresentaram características intermediárias entre B. rufa e B.
holophylla estarem apenas no estágio de frutificação, é possível que avaliações posteriores, com novas
coletas de materiais com botão e flor em distintas áreas do Estado, venham confirmar a ocorrência de B.
rufa ou corroborar os indícios de se tratar da variação de uma mesma espécie.
A dificuldade de identificar as espécies de Bauhinia, principalmente as pertencentes a um mesmo
complexo, evidencia-se pelo grande número de identificações errôneas nas etiquetas dos materiais
incorporados nos acervos. Muitas exsicatas estavam identificadas somente ao nível de gênero, salientando
a importância de estudos taxonômicos como este.
Adicionalmente, considerando-se o gênero Bauhinia em sentido amplo de Wunderlin et al. (1987)
foram coletadas no Estado três espécies, B. coronata, B. glabra e B. riedeliana, pertencentes ao
subgênero Phanera, elevado à categoria de gênero por Lewis et al. (2005). Destas, B. riedeliana se
destaca por representar ocorrência inédita para o Estado, além de ser pouco estudada. Estas espécies não
foram analisadas neste estudo, que seguiu a classificação de Lewis (2005), mas por sua importância e a
falta de estudos, merecem estudos posteriores mais detalhados.
33
Referências bibliográficas
Lewis, G.; Schrire, B.; Mackinder, B. & Lock, M. 2005. Tribo Cercideae. In: Legumes of the World.
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