mas nunca fui de me apegar muito a coisa material, meu negócio foi sempre outro,
mais paixão, emoção, casei três vezes, tenho uma vida meia boêmia. Cheguei
gastar um salário inteiro num puteiro, não nego, não escondo, curti minha vida pra
cacete, agora que eu estou mais devagar, to mais geração saúde porque fiquei
doente e to me recuperando, mas sempre fui meio boemão. Mas o argumento que
ele me deu foi este aqui: “escuta aqui, televisão são as luzes da ribalta, o
jornalismo escrito é o palco com as luzes apagadas”, é isto ficou na minha cabeça.
Quem vai pro vídeo, mesmo sendo jornalista tem que ter um pouco de artista. Até
porque às vezes tem que improvisar, e improvisação só faz quem tem como
improvisar, quem tem um pouco de talento pra isso. E este pouquinho de talento
você acaba desenvolvendo de uma tal forma, que eu já vi muitos amigos meus,
jornalistas de televisão acabarem virando atores mesmo. Muitas meninas atrizes,
trabalhei com atrizes-jornalistas, jornalistas-atrizes. Eu acho que tem sim um
pouco de ator, porque você vai, passa maquiagem, você se prepara, muita gente
faz plástica pra não mostrar que tem defeito no rosto, que fica mais velho, se bem
que eu não, eu não vou fazer plástica, porque eu vou ficar velho mesmo, com
cabelo branco mesmo, rosto caído mesmo e daqui a três, quatro anos to fora do
vídeo. E aí vou para o bastidor, sei lá, fazer alguma coisa.
Mas que tem sim um pouco de palco no jornalista tem, até porque é preciso ter, se
o William Bonner não improvisasse no Jornal Nacional e a mulher dele, a Fátima
Bernardes não improvisasse também, eles não conseguiriam fazer o jornal
nacional. Se você ouvisse o que tem gente gritando no ouvido dele no ponto..se o
cara não tiver um pouco de jogo de cintura o cara está morto, né?
Patrícia - O que você pensa sobre os jornalistas envolvidos em vendas de
jogadores, vendas de placas de publicidades e que fazem assessoria de
imprensa para jogador e ao mesmo tempo trabalham em um veículo de
comunicação. É possível manter a isenção nestes casos?
CL: Aí eu sou contra, muita gente me procura, muito jogador, muito empresário
procura mas eu falo, meu amigo eu sou jornalista, eu não sou empresário, não
mexo com isso, não me leve a mal mas tô fora. E a minha resposta será sempre a
mesma. Eu acho que o jornalista não pode ser empresário, se quiser ser
empresário tem que parar der ser jornalista para ser empresário. Acabei de falar
com você, daqui a quatro anos eu devo parar, e aí sim, como diretor da Gazeta eu
vou negociar com um Presidente de Clube, vou negociar no Grupo dos 13, vou
negociar na Federação, vou negociar na CBF. Vou querer que a Gazeta transmita
a Copa de 2014, vamos brigar por isso. Mas aí eu serei um homem da direção,
não vou ser mais jornalista. Mas aí eu vou ser jornalista para escrever um artigo
pra jornal, ter participações esporádicas, mas de preferência não em programas
de esporte, mas enfim, aí tem toda uma ética mesmo.
Como que o cara vai elogiar o jogador que ele tem o passe? O jogador pode até
ser bom, mas como é que fica a ética dele, ele com a consciência dele mesmo. Aí
eu acho que já está errado, eu sou contra, não gosto de trabalhar com cara que é
assessor de imprensa e também trabalha em televisão. Tem muito cara em setor
de produção fazendo isso em TV. Eu não tenho cargo aqui de direção, eu só devo