Download PDF
ads:
1
O FOLCLORE, O BRINQUEDO E A BRINCADEIRA
Hansen, Marco Antônio
1
Weber, Fabiano ²
RESUMO:
O presente trabalho tem como objetivo contribuir com o conteúdo da educação
física do ensino fundamental, propondo atividades que estimulem os alunos no
gosto pelas brincadeiras folclóricas, fazendo-os entender que os mesmos
brinquedos que seus pais e avôs brincaram, fazem parte do cenário atual das
brincadeiras que ele está revivendo nas aulas de educação física, que são
fundamentais para a transmissão dos costumes e hábitos folclóricos de geração
para geração, além de ser uma rica fonte de transmissão de conhecimentos.
Utilizando-se das capacidades básicas do aluno e sempre respeitando sua
individualidade, as intervenções aconteceram na escola E.E.B. Paulo Bauer onde
se fez as aplicações práticas utilizando a abordagem interventiva, pesquisas
bibliográficas, relatórios de observação e planos de aula. Assim, a partir das
observações e intervenções na realidade escolar, foi desenvolvido e construído
uma prática pedagógica voltada para a formação do aluno, levando sempre em
conta o aspecto disciplinar, onde se valorizou os interesses sociais de cada
indivíduo no seu processo de ensino aprendizagem. Verificou-se através das
estratégias utilizadas e com o conteúdo específico sobre o folclore, que os alunos
interagem no processo de construção de uma prática pedagógica, evidenciado
que é possível ensinar conteúdos de educação física com brincadeiras que
ultrapassaram a barreira do tempo. Ao final das intervenções na escola percebeu-
se que tanto os alunos como a escola valorizam a nossa cultura, aspecto este que
foi relevante para as intervenções e favoreceu a proposta de contribuir com a
educação física através das brincadeiras folclóricas.
Palavras Chave: educação física, brincadeiras folclóricas e ensino fundamental.
INTRODUÇÃO
Considerando que a Educação Física escolar tem muitas influências na
vida da criança e que um de seus objetivos é desenvolver a confiança, tornando
1
Discente do curso de Educação Física Universidade do Vale do Itajaí
² Docente do curso de Educação Física da Universidade do Vale do Itajaí
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
2
mais compreensível o ambiente a qual está envolvida, estimulando a sua
comunicação e socialização.
Diante do exposto e embasado no resgate de minha própria história como
aluno de educação física, acredito que ao praticar as diversas brincadeiras
folclóricas como: bilboquê, bolinha de vidro, peão, pipa, amarelinha e outras que
me faziam passar horas e horas brincando no pátio da escola ou na casa de
algum colega, onde ficaram marcadas como um fator importante na formação de
minha infância.
Assim, respondendo a questão problema de quais as contribuições das
brincadeiras folclóricas para o conteúdo da educação física escolar, fazendo o
aluno entender que na mais simples das brincadeiras ele poderá estar
aprendendo os movimentos do aparelho fita da ginástica rítmica ao interagir com
o brinquedo barangandão, na coordenação motora fina do brincar das cinco
marias, relacionado com o gesto motor usado nos movimentos com o aparelho
maça, da dança com a folclórica atividade do pau de fita e da brincadeira da
queimada com os jogos.
Outro objetivo é mostrar que na educação física escolar existem diversas
formas de transmissão de aprendizado e as brincadeiras folclóricas podem
representar mais uma forma de ensinar, fazendo com que a criança elabore seus
próprios brinquedos, vendo como eles podem ser adaptados, tanto para brincar
nas aulas de educação física como para se divertirem no ambiente social em que
estão inseridos, divulgando e resgatando a cultura popular de toda uma região, de
maneira que estabeleçam a relação de diversas brincadeiras folclóricas com os
conteúdos da educação física.
Nesta perspectiva o presente trabalho pretendeu contribuir na formação
dos alunos das séries iniciais do Ensino Fundamental, pois entendo da
importância de se trabalhar com as brincadeiras folclóricas, pelo estimulo
oferecido por estas atividades no processo de construção dos valores individuais
da criança. Por estarem fazendo uma atividade lúdica e ao mesmo tempo cultural,
através da motivação e do prazer, espero ter contribuido para a superação de
muitas de suas dificuldades relacionadas com o aprendizado escolar. Para
Kishimoto
(2007, p. 18): ”o brinquedo coloca a criança na presença de
ads:
3
reproduções: tudo o que existe no cotidiano, a natureza e as construções
humanas”.
A educação física escolar deve explorar os elementos do corpo da criança,
do companheiro e do ambiente em sua volta, tendo como objetivos formar
atitudes saudáveis e de respeito ao próximo. Assim esta proposta ofereceu à
criança a oportunidade de ter contato com o elemento lúdico, através das diversas
brincadeiras folclóricas, desfrutando de valores inseridos na sociedade através de
brinquedos culturais que fizeram parte de diversas gerações. Além disso, estas
atividades podem gerar uma integração no ambiente familiar, onde pais e filhos
podem reviver juntos, brincadeiras que marcaram épocas, promovendo e
preservando a saúde da criança tanto na escola quanto no ceio da família. Foram
elaboradas atividades grupais e individuais diversificadas, que proporcionaram o
desenvolvimento das qualidades necessárias para o bem estar do ser humano,
formando inclusive, valores importantes para a vida de um cidadão.
REFERENCIAL TEÓRICO
O Folclore no Brasil
O folclore pode ser encontrado em diversos lugares, como nos livros, em
escritos de contos, provérbios, canções e nas tradições dos povos como danças,
jogos e brincadeiras. Também pode ser encontrado nas artes e nos diversos tipos
de manifestações de uma raça, podendo-se dizer que o folclore representa a alma
de um povo.
Apesar do estudo do folclore ser recente, é a cultura mais antiga da
humanidade, mais velha do que a sua história, pois antes da ciência histórica
existir, já os mitos, as lendas e o artesanato eram transmitidos através das
gerações desde os tempos pré-históricos, principalmente por via oral. Segundo
diz Megale (1999, p. 12) “o folclore é a civilização tradicional reunindo tudo que o
homem de qualquer nível cultural aprendeu fora dos livros, da escola ou de
qualquer meio de difusão cultural.”
O folclore está enraizado em nossas vidas e tem grande influência em
nosso jeito de pensar, sentir e agir. Na nossa infância fomos embalados pelas
canções para dormir e pelas historinhas infantis contadas por nossos avôs, pois
4
todos nós conhecemos o “boi da cara preta”. Os meninos aprendem o folclore
espontaneamente em brincadeiras de pegador ou de soltar pipas e as meninas,
ao pularem corda ou brincarem de roda. Na escola aprendemos as danças da
quadrilha, as danças portuguesas, que foram trazidas pelos nossos descendentes
açorianos no período da colonização do litoral catarinense. Essas danças eram
ensaiadas para apresentações aos nossos pais e familiares, durante os festejos
juninos da escola ou mesmo na comunidade onde morávamos. Conforme diz
Megale (1999, p. 13) “a música folclórica torna-se parte integrante de nossa vida
e, quando velhos, com ela recordamos os belos tempos da mocidade”. Por isso,
sempre vem a saudade desses tempos quando relembramos a nossa infância.
No Brasil o folclore recebe muitas influências vindas da formação de seu
povo. O índio, o branco e o negro que aqui se misturaram formando diferentes
culturas, desde a chegada dos portugueses ao Brasil, unindo-se aos índios que
aqui estavam com seus hábitos e costumes, explicando a diversificação do
povo brasileiro. Além dessas três raças formadoras de nossa nacionalidade, o
folclore brasileiro sofreu influência de diversos povos que surgiram em nosso
território nos período colonial, imperial e republicano.
Brinquedos, Brincadeiras Folclóricas e educação
Baseado em minha infância e ciente de sua influência em minha formação,
vejo o folclore como importante instrumento de transmissão de conhecimentos,
fazendo que a criança não aprenda a tradição de seu povo, mas que evite a
sua substituição por outros modelos da tecnologia moderna, como videogames e
jogos de computador.
O professor deve estar ciente da importância do folclore para ensinar seu
aluno em sala de aula ou mesmo na atividade extracurricular. O seu ensinamento
na escola primária e principalmente na disciplina de educação física através das
brincadeiras folclóricas pode contribuir na formação do aluno.
O brinquedo tem uma função fundamental no processo de aprendizagem,
pois é ele quem interage com a criança, testemunhando o que se passa entre
esta relação e fazendo toda a construção do mundo imaginário a partir do contato
com o brinquedo. Para kishimoto (2007, p. 18) “Podemos dizer que é um dos
5
objetivos do brinquedo dar à criança um substituto dos objetos reais, para que
possa manipulá-los”. Através deste processo ela consegue viver de forma
imaginária o mundo real que é proibido. Ex: casinha de boneca, loucinhas de
barro, cabo de vassoura como cavalo, etc.
A brincadeira permite que a criança possa desenvolver diversas
experiências para aprender os movimentos, compreendendo seus significados
para seu processo de transformação e crescimento físico e mental. Para Barbosa
(2006, p.12): “o ato de brincar é uma atividade através da qual a inteireza fica
preservada, a aprendizagem e o desenvolvimento acontecem, a criatividade
vislumbra espaço e o conhecimento sistematizado encontra seus verdadeiros pré-
requisitos”.
Dos momentos marcantes de minha época de criança, lembro-me das
histórias, das fantasias e todas essas experiências vividas foram fortes
contribuições de meus antepassados, que nas mais variadas formas
desenvolveram habilidades que construíram um mundo cheio de lembranças do
passado que ficaram registradas como importantes na vida adulta.
Acredito que num mundo cada vez mais tomado pela violência, seria
preciso se investir mais no lúdico para as crianças do ensino fundamental, pois a
alegria, a sensação de fazer algo gratificante, ao invés de ficar parado olhando a
violência entrar em nossas casas, nos deixando cada vez mais indignados com as
autoridades que muito pouco ou quase nada tem feito para mudar este cenário
triste de espaços seguros para “o brincar”. Para Barbosa (2006, p. 10); “brincar é
um direito das crianças; é uma necessidade física, simbólica e emocional; é uma
atividade humana significativa que auxilia na aprendizagem de mundo e na
acadêmica”.
Sendo assim, selecionei algumas brincadeiras de criança ligada à minha
tradição folclórica e que vivenciei na infância. A pandorga, o pião, as bolinhas de
vidro e cinco marias são exemplos marcantes de brincadeiras que somaram
contribuições de variadas procedências. O saudosismo desses tempos menos
violentos, a lembrança de brincadeiras com amigos e o respeito pelos
ensinamentos dos mais velhos são exemplos que aguardo na memória e que
ficaram impregnadas na minha formação cultural. Além disso, algumas
brincadeiras trazem influências culturais de nossos colonizadores e que estão
6
presente em todo estado de Santa Catarina. A pandorga é exemplo de um
agradável divertimento infantil, mas pode envolver pessoas de todas as idades. O
pião é um brinquedo fabricado de madeira torneada e de formato cônico. A
brincadeira de pião acontece com a criança enrolando em todo o corpo do
brinquedo um forte fio ou cordão, chamado fieira, cuja ponta fica presa em seu
dedo. Para KISHIMOTO:
“A tradicionalidade e a universalidade das brincadeiras
assentam-se no fato de que os povos distintos e antigos, como
os da Grécia e do Oriente, brincaram de amarelinha,
empinaram papagaios, jogaram pedrinhas e até hoje as
crianças o fazem quase da mesma forma. (2007, p. 38)
METODOLOGIA
O presente trabalho utiliza-se do método de investigação qualitativa,
tendo como base a importância das brincadeiras folclóricas como uma proposta
pedagógica de ensino que melhore o nível de aprendizado, através do despertar
do interesse dos alunos do ensino fundamental.
As brincadeiras folclóricas trabalhadas foram cabra-cega, pular corda,
jogos de perseguição, amarelinha, bilboquê, pião, pelada, queimada, confecção
do boizinho, confecção do barangandão (figura 1), stop (figura 2) e jogo da velha
(figura 3).
O campo de pesquisa deste trabalho aconteceu na E.E.B. Paulo Bauer,
no bairro São João, localizada em Itajaí (SC), mantida pelo governo do Estado de
Santa Catarina e integra a rede pública oficial, sendo uma turminha de série do
ensino fundamental, contendo 34 alunos, destes, 18 eram meninos e 16 eram
meninas. Os encontros aconteceram nas aulas de educação física, durante doze
dias, no período de 28 de agosto a 20 de outubro
O objetivo geral da instituição escolar é propiciar uma educação de
qualidade ao itajaiense, promovendo a apropriação do conhecimento de forma
interdisciplinar, através do desenvolvimento físico, emocional, cognitivo e social,
numa interação com a realidade.
A coleta e análise dos dados se deram qualitativamente, começando pela
observação das aulas, plano de ensino, planos e relatórios de aula, desenvolvidos
7
durante a pesquisa, sendo que uma das aulas foi diagnóstica, servindo como
base de conhecimento prévio dos alunos.
Consideramos que a observação no campo de trabalho foi a principal
metodologia na busca das informações necessárias no desenvolvimento de uma
investigação qualitativa. Sabedores da sua importância para o sucesso da
investigação, procuramos registrar cada detalhe, por mais simples e insignificante
que pudesse parecer. Neste sentido, concordamos com Kanitz (2004, p.18)
quando afirma que “o primeiro passo para aprender a pensar, curiosamente, é
aprender a observar”.
Análise e Discussão dos dados
Desde o primeiro dia na escola e principalmente durante a visita,
procurou-se observar todo o cenário da escola, buscando apropriar-se de todos
os aspectos necessários para o cumprimento do planejamento escolar previsto
para o meu estágio curricular. Na aula diagnóstica percebeu-se que a turma de
terceira série era grande e agitada, confirmando neste momento que seria preciso
muita disciplina, requerendo uma postura de professor desde o primeiro dia de
aula. Afirma Tiba (1996, p. 107) que “por isso é importante que os professores
adotem um padrão básico de atitudes perante as indisciplinas mais comuns, como
se todos vestissem o mesmo uniforme comportamental.” Neste sentido, adotou-se
como padrão uma postura única frente aos alunos, deixando registrado que os
limites de disciplina dos alunos seriam cobrado desde o primeiro dia para que ao
final da aula algum conhecimento possa ser assimilado.
Na construção do brinquedo boizinho de mamão que é feito de mini garrafa
pet, retalhos de tecidos, carinha de cartolina pintada com lápis de cor, recortada e
colada, trabalhou-se com as crianças a importância das brincadeiras folclóricas e
sua importância regional, deixando evidenciado que essa era uma das tradições
importantes do nosso estado. Assim diz d’ávila (2001, p. 56) que “o boi de mamão
constitui-se na manifestação mais popular do folclore de Santa Catarina e que se
mantém viva na região de Itajaí”. Durante essa mesma atividade percebe-se que
o ritmo de elaboração de uma tarefa para um aluno não é o mesmo para outro,
sendo que esse fator influencia diretamente no andamento da aula, pois o tempo
8
deve ser controlado pelo professor, tendo em vista a conclusão de todas as
etapas do processo de elaboração do brinquedo. Diante disto uma grande
preocupação por parte do professor se instalava na aula, pois enquanto alguns
alunos se demonstravam ágeis e adiantados na confecção do brinquedo, outros
estavam sempre pedindo a ajuda do professor, caracterizando neste caso a
individualidade, sendo esta também uma tarefa da educação física, conforme os
Parâmetros Curriculares Nacionais, Brasil (2001, p.71) deve-se “conhecer os
limites e possibilidades do próprio corpo de forma a poder controlar algumas de
suas atividades corporais com autonomia e a valorizá-las como recurso para
manutenção de sua própria saúde”. Assim o professor auxilia esse mesmo aluno
com dificuldade, entendendo que ele também é capaz, podendo fazer as mesmas
tarefas que seus colegas fazem.
Foram muitos os contratempos e dificuldades encontradas na escola, mas a
maior de todas foi o período de chuvas que enfrentei durante os dias que estive
realizando a pesquisa, pois a escola não tinha quadra coberta e o tio estava
estocando carteiras escolares, assim, como a aula planejada era em ambiente
externo, utilizei uma “carta na manga”, que era o plano de aula reserva com
atividades para a sala de aula, com a preocupação de não fugir ao plano de
ensino, neste caso as brincadeiras folclóricas. Esta situação serviu para mostrar
de como é importante o professor estar sempre preparado para as emergências e
situações adversas, que para Libâneo (1987, p. 225) “a ação docente vai
ganhando eficácia na medida em que o professor vai acumulando e enriquecendo
experiências ao lidar com as situações concretas de ensino”. Assim vou
enriquecendo meu aprendizado no sentido de entender o quanto é importante o
planejamento para a escola, para o professor e também para o aluno.
Em algum momento das intervenções foi preciso ser mais enérgico, pedindo
silêncio e cobrando dos alunos mais disciplina na aula, pois estavam bem
inquietos sendo que para conter a algazarra a forma encontrada foi deixar
participar das atividades os alunos que estivessem sentados e em silêncio. Como
boa parte dos alunos queria participar da atividade, a resposta acabava sendo
positiva, confirmando o que diz Tiba (1996, p. 146) o maior estímulo para se ter
disciplina é o desejo de atingir um objetivo”. Neste caso, o que os alunos queriam
era participar da brincadeira, resultando então em disciplina com participação.
9
Durante a aplicação da brincadeira da queimada observou-se que muitos
alunos não conheciam a forma de brincar que estava sendo aplicada, então a
professora de EF da escola que estava assistindo as atividades na quadra
informou que realizava esta brincadeira de outra forma, demonstrando que uma
mesma brincadeira folclórica pode ser realizada de diversas formas, dependendo
do lugar ou região onde ela é praticada, confirmado por Kishimoto (2007, p.38)
que “muitas brincadeiras preservam sua estrutura inicial, outras se modificam
recebendo novos conteúdos”.
A confecção do brinquedo barangandão é um exemplo de brinquedo que
pode receber diversos nomes, sendo que na apresentação de um modelo pronto
aos alunos resultou em muito espanto, pois a grande maioria o conhecia com
outros nomes, ficando evidenciado em kishimoto (2007, p. 38) que “por ser um
elemento folclórico, a brincadeira tradicional infantil assume características de
anonimato, tradicionalidade, transmissão oral, conservação, mudança e
universalidade”. Após a confecção do brinquedo foi demonstrado aos alunos que
através das diversas possibilidades do brincar com o barangandão pode-se
reviver os movimentos feitos pelo aparelho “fita” da ginástica rítmica, sendo este
um dos conteúdos da educação física. Diante do término da confecção do
brinquedo e da necessidade de brincar instalada nos alunos através de uma
ansiedade aparente, fomos todos para o pátio externo brincar, afirmando neste
momento que a proposta de fabricar o brinquedo e em seguida brincar se
caracteriza em uma satisfação em dobro para os alunos, justificado por Kishimoto
(2007 p. 68) que “ a manipulação do brinquedo leva a criança à ação e à
representação, a agir e a imaginar”.
Em certo momento da aula sobre a brincadeira folclórica do Stop, alguns
alunos mais ativos começaram a dispersar na sala de aula, alegando estarem
ganhando todas as partidas, então lancei o desafio “Quem vence o professor?”
seguindo o que sugere Tiba (1996, p.131) que o professor pode estimular a
rivalidade e a competição entre os alunos”. Neste momento a aula se transforma
positivamente em algo muito gratificante, pois consegui trazer de volta o interesse
pela aula, motivando os alunos que queriam algum tipo de desafio. Sempre que
se conseguia motivar algum aluno disperso, me deslocava para outra carteira,
tentando motivar outros alunos e assim sucessivamente, justificando o que diz
10
Tiba (1996, p.105) “o professor precisa despertar no aluno a função de discípulo,
cativá-lo para que ache interessante o tópico que está sendo estudado”.
Na brincadeira folclórica da cabra-cega registrou-se um fato bem
interessante, onde a atividade iniciou normalmente com um aluno sendo o cabra
cega com objetivo de pegar os outros colegas, mas logo se percebe que os
alunos invertem o sentido da brincadeira que era de não deixar ser pego, onde na
prática acontece o contrário. Na verdade o que todos queriam era ser o cabra-
cega e para atender essa necessidade imposta pela brincadeira, criou-se novos
cabras-cegas, chegando a ter quatro ao mesmo tempo, oportunizando a todos o
gostinho de ser o cabra-cega. Neste momento verifica-se a presença do prazer,
da integração, da gratuidade, do lúdico, justificado por Kishimoto (2007, p. 32)
“que ao manifestar a conduta lúdica, a criança demonstra o nível de seus estágios
cognitivos e constrói conhecimentos”, uma confirmação que brincar é fazer algo
muito importante, neste caso, brincar é aprender.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Durante as visitas feitas na escola, procurou-se atingir o objetivo de
vivenciar o trabalho pratico pedagógico e sua relação com as brincadeiras
folclóricas, interagindo com os alunos e possibilitando a formação de sujeitos mais
integrados à sociedade.
A partir das intervenções realizadas na escola Paulo Bauer pode-se
identificar o quanto é importante o planejamento escolar nas aulas de educação
física, devendo o professor estar atento e preparado para alterar o planejamento
suprindo de forma a não comprometer os conteúdos propostos, mas se preciso
for, fugir o menos possível do tema a ser trabalhado.
Estou consciente que encontrei muitas pedras no caminho, mas tamm
tenho a certeza que este trabalho contribuiu para a minha formação docente,
desenvolvendo um tema muito rico e de grande relevância tanto para a escola na
tarefa de perpetuar as tradições folclóricas regionais, quanto para o aluno como
transferidor de saberes culturais para as outras gerações que virão. Desta forma
acredito que este estudo colaborou de forma significativa no aprendizado dos
alunos da terceira série do ensino fundamental, revivendo algumas práticas
11
pedagógicas rotineiras nas aulas de educação física, e assim beneficiando uma
reflexão a respeito das concepções utilizadas na busca do ensino-aprendizagem.
O universo escolar é muito grande, transformando a tarefa de ser
professor em uma profissão exigente em constante aperfeiçoamento, pois no
cotidiano o enfrentamento de muitas adversidades, o que não foi diferente
nesse trabalho na escola.
Concluo que cada um tem uma forma diferente de entender e assimilar os
conteúdos propostos, pois a individualidade sempre estará presente em todas as
etapas da vida e não somente na escola, tendo o professor a obrigação tanto de
ensinar como de fazer seu aluno com mais dificuldade entender que ele também
é capaz. Com isso vou percebendo o quanto é gratificante o campo do
conhecimento na tarefa de ensinar, pretendendo ser um professor
compromissado com a missão maior de educar, pois as habilidades para tal não
são inatingíveis, desde que não nos esqueçamos de que “a maneira como cada
um de nós ensina está diretamente dependente daquilo que somos como pessoa
quando exercemos o ensino” (NÓVOA, s.d., p.17).
Com a finalização da pesquisa, acredito ter contribuído com o conteúdo
da educação física, fazendo sempre a relação da atividade proposta, neste caso,
as diversas brincadeiras folclóricas com o conteúdo relacional, assim fazendo o
aluno compreender que mesmo na mais simples das brincadeiras ele poderá
estar assimilando ou entendendo que os movimentos feitos por ele com o
brinquedo barangandão são similares aos feitos pela atleta de ginástica rítmica
com a fita, e assim também na coordenação motora fina do brincar das cinco
marias relacionada com o gesto utilizado nos movimentos com a maça, da dança
com a folclórica atividade do pau de fita e da queimada com os jogos.
REFERÊNCIAS
BARBOSA, L.M.S. A Educação de crianças pequenas. Pulso Editorial. 2006.
BRACHT, Valter. Educação Física no Grau: Conhecimento e
Especificidade. Revista Paulista de Educação Física. São Paulo. p. 23-28, 1996.
12
BRASIL (Parâmetros Curriculares Nacionais): educação Física. Ministério da Educação.
Secretaria da Educação Fundamental. – 3. Ed. – Brasília: A secretaria, 2001.
BROUGÈRE, Gilles. Brinquedo e Cultura. São Paulo: ed. Cortez. 4 ed. 2001.
D’ÁVILA, Edson. Festas e Tradições Populares de Itajai. 2. Ed. ´Itajai:
Fundação Genésio Miranda Lins, 200l.
FENSTERSEIFER, Paulo Evaldo. Desafios da Educação Física Escolar: Entre
o não mais e o ainda não.
KANITZ, Stephen. Observar e Pensar. Revista Veja. São Paulo, ano 37, n. 31, p.18, ago.
2004. (edição 1865)
KISHIMOTO, T,M. Jogo, brincadeira, brinquedo e a educação. São Paulo. ed.
Cortez. 11º. ed. 2008.
LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez, 1994 – Coleção magistério. 2ºGrau.
Série formação do professor.
MEGALE, Nilza Botelho. Folclore Brasileiro. Petrópolis. Ed. Vozes. 1999.
NÓVOA. Antônio. O processo histórico de profissionalização do professorado. In:
NÓVOA, Antônio et al. Profissão professor. Porto: Ed. Porto, s.d. cap. 1, p. 15-21.
TIBA, Içami. Disciplina: limite na medida certa; São Paulo: Editora Gente, 1996 1a ed.
TIBA, Içami. Disciplina: Limite na Medida Certa. Novos Paradigmas. São Paulo:
Integrare Editora, 2006.
Bibliografia de Apoio:
BETTI, Mauro. ZULIANI, Luiz Roberto. Educação Física escolar: Uma proposta de
Diretrizes Pedagógicas. Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte. Ano I, 1,
2002.
UNIVALI. Cadernos de Ensino. Elaboração de trabalhos acadêmico-científicos, n 2.,
Itajaí: Univali, 2004. Disponível: www.univali.br
13
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo