final, já abrasileirava o “yeah-yeah”, querendo pronunciar “iê-iê”, organizar o
movimento, inaugurar o monumento (Sanches, 2004: 32-33).
Sabe-se, porém, que os primeiros passos do Rock’n’Roll em território nacional
coincidiram com o surgimento da Bossa Nova através de Celly Campello, a primeira
revelação da chamada “música jovem”
25
. No entanto, a explicação para que o gênero
mundialmente popularizado pelos norte-americanos não ter sido amplamente difundido se
deve ao fato de que “o Rock só servia ao rádio pela metade, dado o seu apelo visual”. Tal
fato se explica perfeitamente ao nos lembrarmos das apresentações de TV do primeiro rei
do Rock, Elvis Presley. Na medida em que o público norte-americano (e conseqüentemente
o mundial) tomou contato com o magnetismo contido em sua presença de palco contagiante
– o artista mexia largamente os quadris, balançava as pernas de modo altamente libidinoso,
o que enlouquecia as fãs de todas as idades, rendendo para o cantor a alcunha de Elvis, the
Pelvis –, o autor de “Love me tender” se tornou, instantaneamente, em um dos maiores
símbolos da música Pop. (cf. Aguiar, 2002: 81).
Com a TV, o Jovem Guarda tornou-se um verdadeiro fenômeno, encantando as
massas, pois “o eletrizante balanço de guitarra, baixo e bateria (a base até hoje do Rock)
pedia que os cantores se mexam no palco, estimulando a platéia a balançar com eles”
(Aguiar, 2002: 81). Posteriormente, com as novas tecnologias televisivas
26
, a chegada do
videotape em meados da década de 60, possibilitou a transmissão dos programas de TV
para todo o Brasil. A televisão e o seu impecável apelo imagético fez com que, em curto
espaço de tempo, O fino da Bossa perdesse a audiência para o Jovem Guarda, formando
divisões na música popular brasileira: de um lado, a Bossa Nova, representante da “música
nacional”, e, de outro, o Iê-Iê-Iê, considerado um artigo de importação estrangeira. Elis
25
No final dos anos 50 até meados da década seguinte, quando os jovens tinham de lutar contra a repressão
das mães, uma cantora já garantia popularidade nos corações do povo brasileiro. Celly Campello foi
considerada não apenas um estandarte deste primeiro momento do Iê-Iê-Iê, mas representou também toda a
inocência característica deste movimento cultural em “Banho de lua”, um de seus maiores sucessos: “Fui à
praia me bronzear / me queimei, escureci / mamãe bronqueou, nada de sol / hoje só quero / a luz do luar //
Tomo um banho de lua, fico branca como a neve / se o luar é meu amigo / censurar ninguém se atreve / é tão
bom sonhar contigo / oh, luar tão cândido (...)” (IN: Medeiros, 1984: 22-23).
26
Outros avanços significativos da tecnologia televisiva foi a transmissão via satélite em 1969, (possibilitando
a transmissão da chegada do homem à lua para todo o mundo) e a aparição da TV a cores no ano de 1973, o
que significou um tremendo tiro de misericórdia na cultura do rádio (cf. Aguiar, 2002: 81-82). Segundo
Joaquim Alves de Aguiar, com o advento dos televisores coloridos, “o rádio se tornaria um veículo subalterno
das comunicações, suporte da grande mídia. Nem de longe reabilitaria o prestígio de que havia desfrutado
entre as décadas de 30 e 50” (Aguiar, 2002: 82).