A sessão solene da sua inauguração foi presidida por João Leuenroth
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, presidente do
jornal O GRAPHICO, contando ainda com a participação do tipógrafo Carlos Dias, que
discursou acerca da história e evolução da classe gráfica. Presentes à solenidade estavam, para
além dos gráficos do Rio de Janeiro, representantes da Associação Tipográfica Fluminense,
assim como representantes de outras associações.
Fizeram-se representar na festa comemorativa do nosso 1° aniversário e enviaram-
nos carinhosos incitamentos, por meio de ofícios as seguintes co-irmãs:
Associação Tipográfica Fluminense, que se fez representar pelo colega Sabino
Antonio do Nascimento, acompanhado de um ofício de solidariedade, que
deixamos de publicar por falta de espaço.
União dos Operários Estivadores, representada pelo companheiro de luta José J.
Alves, e um ofício agradecendo o convite e felicitando-nos pela auspiciosa data.
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Considerando-se como herdeiros da Arte de Imprimir
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, surgida no mundo ocidental
a partir do século XV
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, os tipógrafos projetam, não só para os membros do seu grupo, como
para os outros, uma imagem de “artistas/artesãos” de um ofício detentor de um conhecimento
e/ou saber, determinante para os diferenciarem dos outros operários
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.
Ao valorizarem o conhecimento fornecido pelo seu ofício evidenciavam a sua
profissão, pois era através do seu labor que as grandes idéias se materializavam impressas
através dos seus tipos. Orgulhavam-se do seu passado/tradição baseado em uma cultura
letrada, onde não eram apenas meros receptores de um saber, mas se viam e mostravam-se
como agentes participativos na construção do conhecimento da sociedade em que estavam
inseridos
71
.
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O presidente da Associação era irmão de um dos principais militantes do anarquismo no Brasil, o jornalista
Edgard Leuenroth. Sobre o tema ver:
http://www.cpdoc.fgv.br/nav_historia e
http://recollectionbooks.com/bleed/Encyclopedia/LeuenrothEdgard. Ele é citado diretamente no jornal quando da
greve em São Paulo, em 1917: “O governo paulista para dar uma satisfação aos burgueses ofendidos pela última
greve que ali rebentou, (...), começou a fazer prisões em massa de inofensivos operários, sob o pretexto- (...) de
que eles tentavam alterar a ordem pública e atentavam contra a liberdade do trabalho. (...) , prenderam e
espancaram o nosso camarada Edgard Leuenroth, diretor da Plebe, e pretendem expulsa-lo como estrangeiro,
quando ele não é mais nem menos brasileiro que o Sr. Altino Arantes, pois nasceu em Mogi mirim, nesse
Estado”. (O Graphico, 16/09/1917, p. 02).
67
Ver, ‘Várias Notas’, In: O Graphico, RJ, 01/11/1916, p. 02.
68
Ver, ‘Esboço Typographico’, In: O Graphico, RJ, 01/01/1916, p. 03.
69
Ver, ASA, Briggs & BURKE, Peter. Op. cit.
70
Ver, BARBOSA, Marialva. Op.cit., p. 215, em seu trabalho a autora analisa inúmeros jornais e termina por
constatar que os gráficos se vêem como trabalhadores diferentes do restante dos outros por: (...) “lidar
diuturnamente com maneiras de pensar. O domínio desse saber e, sobretudo, o fato de a leitura e a escrita ser o
objeto do seu trabalho cotidiano fornecia as especificidades do grupo. Era igualmente o domínio desse saber que
lhe conferia na sua própria visão, o valor natural de condutor dos demais trabalhadores”.
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O “letramento” fazia com que esses homens assumissem como seu o direito de transmitir suas mensagens a
inúmeras pessoas alfabetizadas ou não. Isso fazia com que houvesse a circularidade da informação que passava a
ser lida e interpretada a partir das necessidades de cada grupo. Como afirma A. Rama, “A força do grupo letrado
pode ser percebida através de sua extraordinária longevidade”. Ver, RAMA, Angel Op. Cit. P. 46.
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