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exemplo, não é possível garantir que esse tipo de função de bem-estar social
aponte sempre para um estado socialmente preferido
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Não é difícil pensarmos em regras que, com base nesse conjunto de preferências,
determinam, entre os 4 estados, um socialmente preferido. Poderíamos, por exemplo, adotar
a regra majoritária ou associar valores às utilidades individuais, determinando assim o
estado d como o socialmente preferido, já que dentre os estados ele é o que mais figura na
primeira posição nos rankings individuais. Mas se é assim, por que a New Welfare
Economics não define uma regra desse tipo para a escolha social? A resposta a esta
pergunta nos remete diretamente ao sentido da inovação que essa abordagem introduziu em
relação à tradição precedente, que é justamente o passo que ela deu na direção do que
Amartya Sen denomina de neutralidade. A neutralidade deve ser entendida como a
desconsideração de “qualquer uso direto de informações diferentes da utilidade [nonutility
information] com respeito ao estado de coisas” (SEN, 1985a, p. 334). Ainda na mesma
página segundo Sen essa característica “é uma grande perda em muitos problemas, um dos
quais é o julgamento sobre a distribuição de renda”. Essa noção está evidente nas seguintes
palavras de Samuelson (1983, p. 212) “é possível distinguir entre a New Welfare
Economics, [...] que não formula suposições com relação à comparação da utilidade entre
as pessoas, e a antiga economia do bem-estar, que parte dessas suposições”.
Assim percebemos que a inovação da New Welfare Economics em relação à teoria
precedente foi justamente a exclusão de qualquer outra informação que não seja
estritamente a comparação que os indivíduos fazem entre os estados sociais. Poder-se-ia
dizer que a neutralidade da New Welfare Economics possui pelo menos duas implicações:
1) todos os estados sociais possíveis são admissíveis, e mesmo aqueles que contenham
características como, por exemplo, a extrema desigualdade, são em princípio válidos;
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É importante ressaltar que para Bergson e Samuelson, a ênfase da função de bem-estar social recai sobre a
alocação de recursos nas condições ótimas de produção e troca. Por essa razão, esta abordagem está mais
preocupada com as curvas de indiferença pessoais - que refletem os gostos individuais pelas distribuições
possíveis de bens, trabalho e lazer - que nas condições ótimas geram uma curva de contrato social, do que
propriamente com a escolha entre dois estados sociais. Assim, para Bergson & Samuelson, uma configuração
de trabalho e lazer que se encontre fora da curva de contrato seria certamente pior do que uma que se encontre
em cima dela, porém nada pode ser dito sobre a comparação de pontos sobre a curva de contrato. Apesar de
partir do trabalho de Bergson, Arrow está mais preocupado com a questão da escolha social propriamente dita
orientada pelos valores individuais. Essa abordagem de Arrow é, de certa forma, mais abrangente que a de
Bergson & Samuelson, pois funciona até mesmo para a comparação de dois estados sociais que se encontrem
dentro da mesma curva de contrato.