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homem, e que sem o cerebro seria elle, quando muito, hum mero automato. 1ª. Todas as
partes do corpo podem–se lesar, sem que os phenomenos affectivos e intellectuaes se
aniquilem. 2ª. Não se observa huma só manifestação de intelligencia sem cerebro. 3ª. Hum
desenvolvimento anormál da massa encephalica prejudica e impede phenomenos affectivos e
intellectuaes. 4ª. A experiencia tem demonstrado, que a mór parte das grandes intelligenciais
tem tido por instrumento hum cerebro mais volumoso. 5ª. Algumas faculdades mentaes são
mais activas nos homens, e outras nas mulheres, a medida que o cerebro de hum e outro sexo
igualmente varia. 6ª. Que ha caracteres nacionaes assim como ha cabeças nacionaes. 7ª. Que
os phenomenos da percepção e conhecimento varião na rasão directa da desigualdade do
cerebro nos diversos periodos da vida” (PINTO, 1841: 5-6).
Estendendo as proposições para cinquenta
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, Pinto deixa transparecer que, ao longo
do tempo, médicos brasileiros também se debruçaram mais sobre a doutrina frenológica,
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“1º. A Phrenologia he a phiziologia do cerebro; 2º. As faculdades são multiplas: o cerebro he seo instrumento; 3º.
Segundo as experiencias de Gall e Spurzhein, em harmonia com as idéas de muitos philosophos, ha substancia branca do
cerebro, que forma os orgãos que presidem a estas faculdades. Broussais adopta esta propozição, e eu a creio; 4ª.
Despresando as muitas divisões genericas, que tantos psycologistas apotheozárão, a phrenologia as classifica em tres
ordens: instinctos, sentimentos, e faculdades intellectuaes propriamente dictas. Esta doutrina me lisongéa e convence; 5ª. As
tres ordens de faculdades tem por instrumento massas distinctas; 6ª. Conforme as experiencias já mencionadas, o cerebello e
seos lobolos, bem como os posteriores e lateraes do cerebro, são os que servem á manifestação dos instinctos: a parte
superior dos hemispherios, a dos sentimentos, e a porção anterior, a das faculdades intellectuaes propriamente dictas; 7ª. Os
orgãos para cada huma das faculdades nascem, neste caso, da subdivizão das massas; 8ª. Estes orgãos, guardadas as
proporções de vitalidade, apenas impressionados, entrão em acção; 9ª. As impressões dispertão e exaltão a funcção
cerebral: logo compete-lhes o nome de estimulo; 10ª. He bem reconhecido que estes estimulos nascem humas vezes do
interior e outras do exterior; 11ª. Delles resultão, como já está sub-entendido, os instinctos, sentimentos e faculdades
intellecutaes; ao que se deve reunir os movimentos; 12ª. Os instinctos, que nascem por occasião do estimulo na massa
posterior e lateral do cerebro, provocão os movimentos necessarios á conservação da vida. Elles dividem-se em instinctos
propriamente dictos e inclinações; e são communs aos homens e aos animaes; 13ª. Os instinctos, que resultão do estimulo
sobre a massa superior do cerebro, segundo as idéas de Gall, não são outra cousa mais do que instinctos de huma ordem
mais elevada. Por elles busca o homem a vida em sociedade. 14ª. Destes sentimentos huns partilha o homem com o resto dos
animaes, outros são o apanagio exclusivo delle. Broussais porêm pensa que os animaes das classes mais elevadas parecem
possuir tambem os ultimos; 15ª. As faculdades intellectuaes dividem-se em perceptivas e reflectivas; 16ª. As faculdades
perceptivas nos fazem conhecer as sensações internas e o mundo externo; 17ª. As reflectivas, dom exclusivo do homem,
elabórão as impressões e os sentimentos para a formação dos actos, que nos elevão á cathegoria de racionalidade, em que
nos achamos; 18ª. Os movimentos partem do cerebro depois de estimulado; 19ª. He por meio dos nervos, que lhe são
proprios, que o cerebro transmitte sua vitalidade: destes huns fazem-se sentir nos orgãos interiores, outros externamente.
Aqui he bem apreciado o valor dos musculos; 20ª. Os orgãos de cada faculdade são pares e symetricos; 21ª. A maioria dos
casos diviza-se mais ou menos na superficie externa do craneo o signal das elevações da massa encephalica; 22ª. O
exercicio provóca o desenvolvimento material os orgão, e subministra-lhes facilidade de acção; 23ª. O poder de
manifestação de hum orgão está na razão directa de seo desenvolvimento; e tambem do gráo de excitabilidade; por que póde
acontecer que em volume igual as fibras nervozas movão-se com mais facilidade em huns individuos que em outros sob a
influencia do mesmo poder estimulante; 24ª. Como explicar esta excitabilidade nervosa particular a certos individuos não só
de differente, mas ainda da mesma especie? No estado actual da sciencia só poderemos responder com hypotheses; 25ª. A
natureza dando-nos algum regozijo nos trabalhos de nossas faculdades, quiz desta sorte, como que obrigar-nos a exercel-as,
a fim de as termos sempre em gráo conveniente de excitabilidade; 26ª. Nenhuma faculdade he má em si mesma: ao contrario
são todas origem de prazer legitimo, quando devidamente exercitadas; 27ª. Huma faculdade obrando com energia, póde
servir para excitar outra ou muitas outras; 28ª. A alteração de hum orgão perverte a funcção, mas não aniquila a faculdade;
29. Pode hum orgão ser mais desenvolvido em hum individuo que em outro, sem comtudo dominar no primeiro; 30ª. Hum
orgão póde ser mais desenvolvido que outros, sem comtudo dominar; 31ª. Gall admitte vinte e sete orgãos; Spurzhein trinta
e cinco, e depois d’elles alguns tem admittido trinta e sete; 32ª. Não penso que se tenha chegado a huma divizão exacta; mas
julgo que he forçozo admittil-a por momento, afim de melhor se averiguarem os factos sobre que ella se apoia, e então
conhecermos a verdade; 33ª. Ha circumvolações no cerebro, cujo volume durante a vida não se póde apreciar; mas que por
analogia suppõe-se corresponder á algumas faculdades affectivas; 34ª. As faculdades que primeiro se manifestão no homem,
são os instinctos; depois os sentimentos; e muito mais tarde a intelligencia. PROPOSIÇÕES DE PHRENOLOGIA
APPLICADA: 35ª. A phrenologia dirige o homem no cumprimento de seos deveres: revéla seos direitos; e lhe mostra quanto
elle, superior as vicissitudes de sua organisação, póde conseguir da subida intelligencia, que lhe deo a natureza; 36ª.
Estudando as nossas faculdade e as relações entre ellas reconhecidas, a phrenologia demonstra a influencia secundaria, que
tem a organisação cerebral sobre os actos da intelligencia; 37ª. A phrenologia póde mesmo determinar a organisação
phizica mais favoravel á boa moral do homem; 38ª. Exercitar e manter todas as nossas faculdades com harmonia he o
grande desideratum da educação; e quem melhor o consegue do que a sciencia phrenologica?; 39ª. Na applicação desta
sciencia aos principios de educação, deve-se ter bastante cuidado em conservar o predominio da intelligencia e dos
sentimentos moraes, 40ª. Não convêm de modo algum desenvolver disproporcionalmente hum só orgão: da falta de
equilibrio das faculdades pode resultar a mania ou a loucura; 41ª. A proposição precedente he tanto mais verdadeira,