pensar como americano... mas torce pelo Sadam Hussein! É uma coisa própria do terceiro mundo. Se veste,
tem a mesma atitude, faz a tatuagem, o piercing e tudo...
Júlio: É complexado né.
Dori: É complexado. E depois acusa o cara...de complexo...assim, “agora vamos esculhambar ele pro
pessoal pensar que a gente não tem influência, mas vamos continuar usando a blusa da Ralph Lauren que é
bom”, entedeu? Então é um troço....o jeans, e bermuda que americano usa, e surf, que não era uma coisa
brasileira, e windsurf, e tudo que vem pra cá pra essa garotada, é americano. As fórmulas todas de programas,
de jogo na tv e tudo americano.
Júlio: E como é que é esse [conflito], você é super crítico dessa coisa, mas você mora lá, como é
que...
Dori: Eu moro lá, mas eu moro com a mulher que eu amo...eu não moro é aqui, porque aqui eu vou
acabar tendo um problema sério, um atrito sério com as pessoas, por total incapacidade de pensar como
brasileiro. Esse é um país maravilhoso, com um povinho de terceira. Esse é que é o problema do Brasil. Então
eles nunca cuidaram da pobreza, nunca cuidaram das outras pessoas, então isso redundou, (?) uma
redundância.
Júlio: A tua opção em ficar lá, é porque lá você consegue fazer o teu trabalho, é isso?
Dori: Não, eu até to trabalhando menos, eu até tô sentindo que a parte criativa ta menos pronunciada,
porque faz-se menos coisas. Nesses últimos anos, assim, você me pergunta uma música que eu adorei...talvez
uma ou outra do Ivan [Lins]. Tem uma música do Ivan chamada....ele musicou uma poesia da [Marina]
Colasante, poetisa...muito bonita, sobre a água...um poema, muito lindo. A coisa que mais me agrada nesses
anos todos é Beatriz, do Edu [Lobo]. A última grande coisa que eu fiz assim de composição tá no disco do
Quincy Jones, de mil novecentos e....
Júlio: O “If Ever” foi o último né, em 94?
Dori: É, foi o último. Eu tenho algumas músicas novas pra gravar, novas, assim, que o Paulinho
[César Pinheiro] fez letra. Fiz o “Saudade de Amar”, que é do “If Ever”, que virou “Saudade de Amar” no
Brasil, ganhou o Grammy, e não sei o que...de melhor canção.
Júlio: A Nana gravou isso não foi?
Dori: Foi, gravou. “Saudade...tetiritore..”. Eu tinha feito essa música a um pedido de um amigo meu,
que disse assim, “o Julio Iglesias vai gravar, eu vou mandar...eu sou produtor, me dá o troço, que eu quero
que ele cante um bolero lindo, feito por um brasileiro”. Aí eu fiz, fizeram uma letra em inglês pra ele, e não
sei o que...Aí eu ouvi a música e falei, “eu não vou dar essa música pro Julio Iglesias não, que ele não vai
cantar essa merda. Ele não sabe cantar pô!”Aí não dei. A minha mulher ficou puta! “Pô, mas você não fez a
música pro Julio Iglesias?” Desisti, ficou muito boa pro Julio Iglesias!
Mas desse disco eu gosto do “Romeiros”, que já era uma coisa da TV Globo, que eu fiz, o... como
que é o nome do programa...”Padre Cícero”! Paulinho fez a letra: “Terra vermelha, dedo do cão/Quando o sol
cai, cada centelha queima o chão/Virgem Maria... adidia.../Olhai por mim o meu Padim Cisso Romão...” Aí
eu faço, padididididido. A diminuta sangrenta, né... (Começa a tocar...)
”Terra vermelha...’. Esse acorde eu sempre adoro ele porque ele dá uma distância... (toca o acorde
m7#5), “Dedo do cão.../Quando o sol cai cada centelha queima o chão...”etc..
(Faz o dedilhado do meio...) Isso tem um pouco a ver com uma coisa que o Edu fazia no violão, que
ficou um pouco no meu ouvido, que é o “Canudos”, que é... (vai tentando lembrar...). Oh rapaz, lindo, o Edu
toca um violão também misteriosíssimo, bonito pra caralho. Isso é uma coisa que também me veio da idéia
dele de “Canudos”.
Júlio: De onde que é isso, uma trilha?
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