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Universidade Federal do Rio de Janeiro
Instituto de Bioquímica Médica
Programa de Educação, Gestão e Difusão em Biociências
Suely Pereira Rosa
O CAMPO DE CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
UMA ABORDAGEM CIENTOMÉTRICA
Rio de Janeiro
2010
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ii
Suely Pereira Rosa
O CAMPO DE CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO
FÍSICA: uma abordagem Cientométrica
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Química Biológica, Instituto
de Bioquímica Médica, Universidade Federal do
Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários para obtenção do título de Doutor
em Ciências (Química Biológica. Área de
concentração: Educação, Gestão e Difusão em
Biociências).
Orientadora: Profª DrªJacqueline Leta
Rio de Janeiro
2010
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Rosa, Suely Pereira.
O Campo de Conhecimento da Educação Física: Uma
abordagem Cientométrica/Suely Pereira Rosa. Rio de Janeiro,
2010.
Xi,____f.: il.
Tese (Doutorado em Ciências . Área de concentração:
Educação, Gestão e Difusão em Biociências) – Universidade
Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Bioquímica Médica, 2010.
Orientadora: Jacqueline Leta
1.
Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física.
Parte 1: Uma análise a partir de periódicos nacionais. 2.
Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física
Parte 2: A heterogeneidade epistemológica nos Programas de
Pós-Graduação. 3. Physical Education: A multifaceted research
field.
I. Leta, Jacqueline (orient.). II. Universidade Federal do
Rio de Janeiro. Instituto de Bioquímica Médica. III.
Título.
iv
Suely Pereira Rosa
O CAMPO DE CONHECIMENTO DA EDUCAÇÃO FÍSICA:
uma abordagem cientométrica
Tese submetida ao corpo docente do Instituto de Bioquímica Médica da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos necessários à
obtenção do título de Doutor em Ciências (Química Biológica. Área de
concentração: Educação, Gestão e Difusão em Biociências).
Rio de Janeiro, ______________ de 2010.
_____________________________________
Drª. Jacqueline Leta, Instituto de Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de
Janeiro. (orientadora)
____________________________________________________
Dr. Victor Andrade de Mello, Escola de Educação Física e Desportos Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
_____________________________________________________
Dr. Rogério Mugnaini, Escola de Artes, Ciências e Humanidades, Universidade de
São Paulo.
_____________________________________________________
Drª. Eleonora Kurtenbach, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, Universidade
Federal do Rio de Janeiro.
___________________________________________________
Drª. Martha Meriwether Sorenson, Instituto de Bioquímica Médica, Universidade
Federal do Rio de Janeiro. (revisora interna)
__________________________________________________
Drª. Isabel Gomes Rodrigues Martins, Núcleo de Tecnologia Educacional em Saúde,
Universidade Federal do Rio de Janeiro. (revisora externa)
v
Dedico este trabalho ao meu pai, José Rosa e minha mãe, Marlene Pereira Rosa.
(in memoriam)
vi
AGRADECIMENTOS
Agradeço a “Deus” pela sua presença na minha vida que é sentida desde os momentos
alegres aos momentos difíceis e tristes, quando ele me dá forças para superá-los.
A Professora Jacqueline Leta do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM/UFRJ), pela
atenção, disponibilidade, preocupação, compreensão e o carinho que sempre
demonstrou seja nas situações pedagógicas como no apoio aos sérios problemas
enfrentados durante o desenvolvimento da tese. Meus agradecimentos à forma humana
e delicada que adota ao se dirigir aos seus discípulos orientando, mas, ensinando
inclusive o verdadeiro sentido da amizade.
A Professora Martha Sorenson, do mesmo instituto, pela sua gentileza, atenção,
dedicação e boas contribuições, que por ter uma grande capacidade de análise crítica,
sugeriu caminhos que ajudaram a concretizar este trabalho.
A Professora Verônica Salerno, da EEFD da UFRJ e, também, do Instituto de
Bioquímica Médica (IBqM/UFRJ) por me atender, com muita generosidade, e tirar muitas
dúvidas durante o processo.
As Professoras Margarete Magdesian, do Instituto de Bioquímica Médica (IBqM/UFRJ),
Victoria Brants do NUTES/UFRJ e Tânia Goldbach do IFRJ pelas sugestões,
colaborações durante o ECG, realizadas por meio de um atendimento carinhoso.
A Professora Isabel Martins pelas orientações iniciais e por apoiar a idéia do meu
trabalho junto a minha orientadora.
Ao Professor Victor Andrade de Melo da EEFD/UFRJ pela disponibilidade em me
receber e pelas sugestões dadas aos artigos.
A doutoranda Margarete Friedrich pelo apoio nos difíceis momentos por que passei.
Ao doutorando Carlos Henrique Lobo, por contribuir com o olhar de um profissional da
área de Educação Física que tem o meu respeito.
Aos colegas do Laboratório que me ajudaram durante o processo.
A todos os professores do IBQM/UFRJ e do NUTES que, direta ou indiretamente,
contribuíram para a minha formação.
vii
RESUMO
ROSA, Suely Pereira. O Campo de Conhecimento da Educação Física: Uma
Abordagem Cientométrica. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Ciências.
Área de concentração: Educação, Gestão e Difusão em Biociências) Instituto de
Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
Ao se resgatar a história da construção da Educação Física (EF) como campo
de conhecimento, é possível perceber a influência médica e biológica no seu
desenvolvimento. O campo de conhecimento da EF fundamentou-se no pensamento
científico do século XIX, quando predominava o modelo de conhecimento que se
baseava, sobretudo, na Biologia e na História Natural, e também na Física. Assim,
neste momento da história a EF era entendida como um conjunto de conhecimentos
sistematizado pelo pensamento científico voltado para educação do corpo. Somente
no início do século XX, a EF ganha status de disciplina formal, quando são criadas
as primeiras escolas específicas e formam-se os primeiros especialistas em EF.
Mais recentemente, saberes oriundos das Ciências Humanas passam também a
influenciar a EF. Assim, hoje a EF parece viver um momento de múltiplas
identidades. É neste contexto que o presente estudo tem com objetivo central
caracterizar a pesquisa recente em EF, a fim de identificar elementos que nos
permitam responder à questão: O quanto a pesquisa atual nesta área reflete, ainda
hoje, a sua construção histórica? Para tal, fundamentou-se nos pilares da
Cientometria e da Sociologia da Ciência por meio da ótica de Pierre Bourdieu e da
própria evolução histórica do campo. Num primeiro momento, a análise da pesquisa
em EF se debruçou sobre 595 publicações publicadas em quatro periódicos
brasileiros em EF, disponíveis no Portal CAPES. Uma segunda análise focou na
produção bibliográfica de 11 programas de pós-graduação em EF no Brasil, o que
somou 5.628 publicações. O terceiro momento deste trabalho se deu a partir da
viii
análise das publicações internacionais em EF, catalogadas nas bases de dados
MEDLINE, ISI-Web of Science e SCOPUS, nos períodos 1991-95, 1996-00 e 2001-
05. Concluiu-se que a pesquisa em EF, seja ela brasileira ou internacional, está
predominantemente ancorada em disciplinas das áreas biológicas e médicas e
fortemente na fisiologia. Neste caso, pesquisas em EF com abordagem biológica
seriam as de maior prestígio no campo. Portanto, o envolvimento de pesquisadores
da EF com tais pesquisas, no contexto da teoria de Bourdieu, pode se reverter em
maior capital científico. Apesar da prevalência de estudos com base biológica na
pesquisa em EF, verifica-se, também, a presença de outras áreas fundamentando
esta pesquisa. Considerando a perspectiva de Bourdieu, a ainda incipiente inserção
de outras disciplinas pode ser um indicativo de ruptura com o histórico paradigma
biológico da área, o que corrobora a característica multifacetada do campo.
Palavras-chave:
Educação Física; Cientometria; Campo Científico
ix
ABSTRACT
ROSA, Suely Pereira. O Campo de Conhecimento da Educação Física: Uma
Abordagem Cientométrica. Rio de Janeiro, 2010. Tese (Doutorado em Ciências.
Área de concentração: Educação, Gestão e Difusão em Biociências) Instituto de
Bioquímica Médica, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010.
The history of the construction of physical education (PE) as a field of
knowledge shows the influence of medical and biological studies in its development.
The field of PE was based on the scientific thought of the nineteenth century, when
the predominant model of knowledge which was derived from biology and natural
history, as well as physics. At that time, PE was understood as a search for
knowledge centered on education of the body. Not until the early twentieth century
did PE gain the status of a formal discipline, with creation of the first specific schools
and formation of the first specialists in PE. More recently, knowledge from the
humanities has also influenced PE. Thus today PE seems to be a field of many
facets. In this context the present study aims to characterize recent research in PE,
using different strategies in order to identify elements that could answer the question:
How much does current research in this area reflect, even today, its historical
development? To this end, this study was based scientometrics and on the sociology
of science from the perspective of Pierre Bourdieu and the historical evolution of the
field. An initial analysis of research in PE examined 595 publications in four peer-
reviewed journals published in Brazil in PE, available online through the CAPES
website. A second analysis focused on the academic output of 11 graduate programs
in PE in Brazil, which totaled 5,628 publications. Finally, international publications in
PE were retrieved from three databases: MEDLINE, ISI-Web of Science and
SCOPUS.
x
Al of these data show that research in PE, whether Brazilian or international, is
predominantly anchored in the disciplines of biological and medical areas, especially
in physiology, leading to the inference that research in PE with a biological approach
offers the greatest prestige in this field and in the context of Bourdieu's theory,
greater scientific capital. Despite the prevalence of studies based on biological
research in PE, other fields are also present. Considering the perspective of
Bourdieu, the incipient insertion of other subjects may be indicative of a rupture with
the historical paradigm of the biological area, which supports the multifaceted
character of the field.
Keywords:
Physical Education; Scientometrics; Scientific Field
xi
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO
10
INTRODUÇÃO
16
1. CAPÍTULO 1 – O CAMPO DE CONHECIMENTO DA EF 19
1.1. A ATIVIDADE FÍSICA AO LONGO DA HISTÓRIA 19
1.2. DE ATIVIDADE FÍSICA A EDUCAÇÃO FORMAL 37
1.3. DEBATES ATUAIS 44
1.3.1. Formação em EF 45
1.3.2. Produção acadêmico-científica em EF 52
1.3.3.
Denominações e concepções para o campo da EF 59
1.3.4.
A crise de identidade 60
2. CAPÍTULO 2 – TEÓRICO METODOLÓGICO 70
1.1.
SOCIOLÓGICOS
70
2.1.1. Breve bibiografia 70
2.1.2. Obra e principais conceitos 72
2.2. CIENTOMETRIA 77
2.3. JUSTIFICATIVA E OBJETIVO 85
2.4. METODOLOGIA
86
3. CAPÍTULO 3 – A PESQUISA EM EF NO BRASIL 92
3.1. APRESENTAÇÃO DO MANUSCRITO 1 92
3.2. APRESENTAÇÃO DO MANUSCRITO 2 94
3.3. MANUSCRITO 1 96
3.4. MANUSCRITO 2
122
4. CAPÍTULO 4 – A PESQUISA INTERNACIONAL EM EF 145
4.1. A PRÁTICA DA EF E A FORMALIZAÇÃO DA ÁREA
: UMA
BREVE HISTÓRIA PELO MUNDO
145
4.2. EF COMO UM CAMPO DE MÚLTIPLOS INTERESSES E
OBJETOS
147
xii
4.3. A PESQUISA INTERNACIONAL EM EF: EVOLUÇÃO
148
4.4. OS PERIÓDICOS QUE PUBLICAM EM EF
150
4.5. CAMPOS DE CONHECIMENTO DAS PUBLICAÇÕES EM EF
154
5. CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
158
6. REFERÊNCIAS
167
7. APÊNDICE 1 MANUSCRITO 3 175
8. ANEXO 1
LISTA DE PERIÓDICOS NO CAMPO SPORT
SCIENCES CATALOGADOS NA BASE ISI -
WEB OF SCIENCE,
2005
191
9. ANEXO 2 – CURRICULUN VITAE 194
10
APRESENTAÇÃO
Como docente da disciplina Educação Física (EF) atuando desde a educação
infantil à graduação, trabalhando em escolas da rede particular e pública de ensino,
foi possível perceber o pouco prestígio e importância atribuída a esta disciplina na
maioria dessas escolas. Identifiquei que muitos professores de outros ramos de
conhecimento, bem como grande parte do pessoal administrativo, consideravam
que, por ser uma prática corporal, a EF pouco contribuía para o desenvolvimento
intelectual dos alunos se restringindo aos aspectos corporais.
Fica claro nessa constatação a visão dualista entre corpo e mente,
influenciando a condição hierárquica da EF na escola frente a outras disciplinas.
Observei, além disso, o despreparo de muitos professores de EF no que diz
respeito à prática docente. Estes, na maioria das vezes, apresentavam uma forte
tendência tecnicista
1
e/ou esportivista
2
, preocupados apenas com os aspectos
biológicos e/ou os técnicos na perspectiva de melhorar o rendimento físico e/ou o
aprimoramento dos gestos próprios das modalidades esportivas (os fundamentos)
de seus alunos. Percebi que muitos daqueles profissionais com quem convivi,
consideravam que o objetivo da disciplina era, simplesmente, formar atletas.
Conheci, ainda, professores que sequer tinham algum objetivo pré-estabelecido.
1
De acordo com o Coletivo de autores (1992), a pedagogia tecnicista difundiu, na década de 70, no
Brasil, os princípios de racionalidade, eficiência e produtividade. Os pressupostos dessa pedagogia
advêm da concepção de neutralidade científica e reforçam os princípios de objetividade e
racionalidade no trabalho escolar. A pedagogia tecnicista fortalece a identidade esportiva da EF por
possuir pressupostos idênticos aos do esporte, como a racionalização de meios em busca de
eficiência e eficácia. Segundo Oliveira (1983), a visão tecnicista de EF promove a especialização
prematura das crianças nas escolas cobrando destas uma perfeição técnica na execução dos gestos
esportivos.
2
A tendência esportivista é entendida como a instrumentalização da EF pelo esporte (BRACHT,
2007). É o esporte na escola, voltado para o desempenho, quer dizer, para a busca de resultados,
bem como, para a descoberta de campeões. Neste caso o esporte tem o fim em si mesmo e reproduz
os valores veiculados pela mídia (BETTI, s/d). “A influência do esporte no sistema escolar é de tal
magnitude que temos, então, não o esporte da escola, mas sim o esporte na escola” (Coletivo de
autores, p. 54, 1992). Portanto, a EF fica subordinada aos códigos da instituição esportiva e, assim, é
vista por muitos como sinônimo de esporte.
11
Estes forneciam uma bola para os alunos e iam conversar com alguém ou ler jornal,
deixando os alunos a mercê do jogo.
Ao tratar com alguns destes professores de EF, pude identificar que estavam
bastante desatualizados sobre a produção acadêmica da área
3
, no que tangia às
questões didáticas, tanto quanto às metodológicas do ensino da EF.
Os professores, em geral, se mostram desmotivados pelas condições de
trabalho que lhes são propiciadas. No caso específico da EF, faltam equipamentos,
instalações ou até mesmo espaços livres e com segurança para o professor ser
inventivo e criativo. Mas, isso não justifica a postura profissional destituída de uma
visão crítico-social.
Minha motivação para entender o campo de conhecimento da EF, claro, teve
relação com a minha vivência profissional como educadora. Foi, também, a partir da
constatação do despreparo dos alunos que recebia nas aulas de EF, com relação à
cultura corporal de movimento, que comecei a refletir sobre: por que esses alunos
chegavam tão despreparados ao ensino médio? Como a EF está sendo trabalhada
pelos profissionais da área? E fora do contexto escolar? Qual a importância do
profissional da EF e da prática de EF? Qual será a concepção de EF que permeia
estes outros contextos?
Estas e muitas outras questões foram surgindo quando refletia sobre minha
profissão, tais como: O que a maioria dos professores de EF entendia por EF? Para
estes professores, quais seriam os objetivos da EF no trabalho escolar? Como se
trabalhava a EF nos diferentes níveis de ensino? Por que se encontram formas tão
diferenciadas de atuação profissional, por exemplo, no contexto escolar? Quais as
possibilidades de atuação da EF na sociedade atual?
3
Neste estudo a terminologia área é usada na perspectiva de designar a esfera de ação profissional
da EF. E o termo campo, na ótica de Pierre Bourdieu, para indicar o espaço onde se manifestam as
relações de poderes dessa área.
12
Questões como estas surgiram porque me deparei, ao longo da minha
vivência como professora, com as mais diferentes formas de práticas, e
consequentemente de concepções de EF por parte de colegas de profissão. Mas
sem dúvida, precisava fazer alguma coisa para entender o que estava se passando
dentro deste campo de conhecimento, que se refletia na prática em geral. Assim, vi
na Pós-graduação uma oportunidade para estudar e analisar o campo da EF.
Evidentemente, estava ciente de que não seria possível examinar e
responder todas as minhas questões. Mas, dar início investigando pelo menos
alguns aspectos deste campo que me levasse a entendê-lo melhor.
Num primeiro momento, devido à forte influência da minha vivência prática,
projetei a idéia de desenvolver um trabalho de campo para identificar como as aulas
de EF estavam sendo aplicadas em um universo de escolas da rede fundamental de
ensino. A intenção era entender que tipo de informação os alunos recebiam neste
segmento de ensino, a forma como essa informação estava sendo ministrada e as
condições físicas e materiais para a realização das mesmas. E foi com este projeto
que, em agosto de 2004, fui aceita na Pós-Graduação do IBqM/UFRJ, sob a
orientação da Dra. Maria Lúcia Bianconi. Mas algumas incompatibilidades de
trabalho e de relação orientador orientando invibializaram o projeto inicial e me
conduziram a buscar entender o que se passava no campo da EF por um outro
ângulo: o da produção acadêmico científica.
Até que um segundo projeto se concretizasse, após eu deixar oficialmente,
em maio de 2006, a primeira orientação, passaram-se pelo menos três meses.
Foram realizadas reuniões com a profª. Jacqueline Leta, algumas contaram com a
profª. Isabel Martins, do NUTES/UFRJ, que sugeriu Pierre Bourdieu como
fundamentação teórica para este novo projeto. A idéia era que esse projeto aliasse a
13
competência da profª Jacqueline Leta, na Área da Ciência da Informação, com a
competência da profª Isabel, na Sociologia da Ciência. Infelizmente, por diferentes
motivos esta colaboração não ocorreu tal como havíamos planejado, mas o projeto
seguiu em frente.
Desta forma, o projeto que tem como objeto central de estudo a produção
científica em EF “nasceu” somente em agosto de 2006, com o título Periódicos
Capes: Uma análise quali-quantitativa da pesquisa da área de Educação Física. Ao
longo dos três anos, o título foi sendo modificado até o atual “O campo de
conhecimento da EF: uma abordagem cientométrica”.
Assim, foi bastante oportuno o meu encontro com a professora Jacqueline
Leta, uma pesquisadora atuante na área da Ciência da Informação e que possui
uma produção consolidada nesta área.
O entendimento, portanto, das características deste campo está
fundamentado nos pilares da Cientometria, da Sociologia da Ciência por meio da
ótica de Pierre Bourdieu e da própria evolução histórica do campo de conhecimento
denominado EF.
Num primeiro momento, a análise da produção científica brasileira em EF
deu-se por meio de um recorte das únicas quatro revistas nacionais, as quais
estavam disponíveis no Portal CAPES no segundo semestre de 2006. Esta análise
gerou trabalho “Tendências atuais da Produção Científica Brasileira em EF: uma
análise a partir de periódicos nacionais”, aceito como pôster no Congresso
Regional de Informação em Ciências da Saúde, em 2008, e, posteriormente, um
segundo trabalho, “Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física.
Parte 1: Uma análise a partir de periódicos nacionais”, aceito para publicação na
Revista Brasileira de Educação Física e Desporto.
14
Ainda com o foco na produção científica brasileira em EF, uma segunda
análise foi realizada, focando na produção bibliográfica de 11 programas da Pós-
graduação, todos da área básica e área de avaliação em EF, segundo a CAPES.
Esta segunda abordagem gerou o manuscrito “Tendências atuais da pesquisa
brasileira em Educação Física Parte 2: A heterogeneidade epistemológica nos
Programas de Pós-Graduação”, também aceito para publicação na Revista
Brasileira de Educação Física e Desporto.
Finalmente, o terceiro e último momento deste trabalho se deu a partir da
análise da publicação internacional em EF, veiculada em bases de dados
internacionais. Esta fase do trabalho originou o pôster “Physical Education: a
multifaceted research field”, apresentado na “12th International Conference on
Scientometrics and Infometrics”, em 2009, e também o manuscrito A Picture of the
International Research in Physical Education: a Field of Multiple Interests”,
submetido ao periódico Sport, Education and Society.
Resumindo, a construção da análise do campo seguiu a lógica de mapear a
publicação da área de EF, a partir de diferentes estratégias, as quais compõem o
corpo desta tese.
Esta tese está, então, organizada de forma que no Capítulo 1 é apresentado
o contexto do desenvolvimento do campo de conhecimento da EF, dividido em
tópicos que tratam da atividade física ao longo da história, a atividade física na
educação formal e os debates atuais neste campo de conhecimento.
O Capítulo 2 apresenta a abordagem teórico-metodológica do estudo que
inclui os tópicos Vida e obra de Pierre Bourdieu; Cientometria; Justificativa e
Objetivos; Metodologia.
15
O Capítulo 3 trata sobre a pesquisa em EF no Brasil, apresentada sob a
forma de manuscritos (1 e 2). O Capítulo 4 versa sobre a pesquisa em EF
internacional, apresentada no manuscrito 3. No último Capítulo, são apresentadas
as considerações finais.
16
INTRODUÇÃO
Algumas questões atravessam a história da construção do campo de
conhecimento da EF, desde a sua origem aos dias de hoje. Uma delas, muito
presente nas discussões atuais, dedica-se à tentativa de definir uma identidade para
a EF.
Dentro do campo diferentes posições sobre o que é EF, isto é, se ela é
uma ciência ou prática pedagógica (BRACHT, 2007). Tenta-se, também, definir qual
o objeto de estudo e a metodologia que caracteriza a pesquisa da área. Busca-se
entender qual o perfil epistemológico e o tipo de pesquisa mais apropriada para o
desenvolvimento de novos e pertinentes conhecimentos para a EF.
No interior desse debate se reconhece, ao longo da história, a posição
hegemônica das disciplinas com abordagem biológica na construção do campo EF.
Mas seque isto se reflete na produção acadêmico-científica do campo? Nesta
perspectiva, a produção da pesquisas em EF com interface para questões e
temáticas da biologia e/ou da medicina parece receber, ainda hoje, maior
reconhecimento pelos pares. Também esse tipo de pesquisa parece ser mais
facilmente divulgado na medida em que um grande número de periódicos
disponíveis, ávidos por novos conhecimentos dentro deste tema.
Partindo da perspectiva da sociologia de Pierre Bourdieu, procurar-se-á
refletir sobre o debate que acontece no campo de conhecimento da EF. Serão
consideradas nesta reflexão as escolhas dos pesquisadores [os agentes], no que
tange a posição ocupada pela sua produção acadêmica [a prática] dentro do campo
[universo no qual estão inseridos os agentes que produzem, reproduzem ou
difundem o conhecimento (BOURDIEU, 2004)] da EF.
17
Desse ponto de vista e considerando a noção de capital científico
4
, o lucro
[obtenção de reconhecimento] alcançado, em termos de investimento, em uma
abordagem de pesquisa que encontre prestígio no interior do campo, como a
biológica, deve ser maior do que o lucro obtido por investimentos em pesquisas com
abordagem não-biológica. Tal fato parece evidenciar o habitus
5
, isto é, o
condicionamento social que é incorporado e reproduzido pelos agentes, permitindo,
dessa forma, a manutenção do ethos deste campo científico, entendido aqui como o
espaço no interior do qual se trava a luta pelos pesquisadores em torno dos
interesses da área (BOURDIEU, 1990).
Além do conceito de habitus, o trabalho também se debruça sobre o conceito
de capital científico e como este se relaciona com o impacto da produção gerada no
campo. Em outras palavras, a publicação como um bem de valor de capital que está
intimamente associado ao tipo e à visibilidade do periódico onde está publicada.
Estes dois conceitos cunhados por Bourdieu são os pilares teóricos que
incorporamos nesta tese para entender as atuais discussões do campo da EF. Ortiz
(1983) ressalta que Bourdieu apoiou-se nas análises de Durkheim e Mauss sobre os
sistemas classificatórios de povos primitivos para mostrar que esses sistemas (as
escolhas/percepções) têm origem social, quer dizer, do entendimento de que as
relações sociais são consideradas historicamente determinadas. Bourdieu recupera
e amplia esse entendimento ao formular o conceito de habitus.
Assim, pode-se inferir que a noção de habitus expõe, sob um determinado
ponto de vista, a importância do contexto histórico para se conhecer as normas e
valores que podem influenciar as ações e decisões dos indivíduos. Portanto, para o
melhor entendimento do atual debate existente neste espaço social (o campo da EF)
4
Maiores detalhes ver tópico 2.1. Vida e Obra de Pierre Bourdieu – conceitos sociológicos.
5
Maiores detalhes ver tópico 2.1. Vida e Obra de Pierre Bourdieu – conceitos sociológicos.
18
é preciso compreender o contexto histórico da construção do campo de
conhecimento da EF. Quer dizer, perceber o espaço onde se manifestam as
relações de poderes, as quais são historicamente determinadas, e saber como foi o
seu desenvolvimento, a fim de promover uma reflexão sobre as tendências atuais da
área.
De fato, para Bourdieu (1990, p.46), (...) “existem condições históricas para o
surgimento das formas sociais de comunicação que tornam possível a produção da
verdade. A verdade é um jogo de lutas em todo o campo”.
Corroborando, então, a pertinência de uma análise histórica para o
entendimento do contexto de construção do campo da EF, Melo (1999, p.11) revela
que a pesquisa histórica pode favorecer a construção de
(...) um passeio por um tempo que é passado e é presente, pois apesar de
distante na cronologia, carrega em si proximidades com representações,
conceitos e preconceitos, formulações teóricas, construções estéticas, políticas
e ideológicas desse tempo que é hoje e que é nosso. É procurar nos
fragmentos do passado vínculos, persistências e possibilidades com o presente
e o futuro, não no seu desenrolar contínuo e cronológico, mas na
descontinuidade dos enlaces que entre eles se vão construindo.
Assim, nesta tese serão apresentados o contexto histórico do
desenvolvimento do campo da EF e as discussões atuais que giram em torno deste
ramo de conhecimento, a Cientometria, ferramenta que deu suporte ao
desenvolvimento de procedimentos metodológicos, o que permitiu levantar os dados
que foram analisados a partir da ótica da teoria de Bourdieu, que fundamentou as
discussões e as conclusões deste trabalho.
19
1. CAPÍTULO 1 – O CAMPO DE CONHECIMENTO DA EF
O capítulo 1 apresenta alguns marcos da construção da área de EF, desde
sua aplicação como exercícios físicos em práticas sociais de diferentes povos, até
sua consolidação como disciplina. O capítulo também apresenta como se deu a
incorporação da EF como disciplina escolar e os atuais debates e discussões que se
travam no interior deste campo.
1.1. A ATIVIDADE FÍSICA AO LONGO DA HISTÓRIA
Ao longo da história da humanidade, a prática da atividade física sempre
atendeu a um interesse específico do ser humano, apresentando significados
diferentes para a sociedade, de acordo com o estágio de desenvolvimento da
mesma. Assim, parafraseando Melo (1999), nesse momento do trabalho será
realizado um passeio por tempos passados na tentativa de entender os propósitos
atribuídos à prática da atividade física ao longo da história.
Este passeio será apresentado seguindo a ordem cronológica formal de
grandes períodos da história, ou seja, será para efeito didático, um passeio em uma
história de tempo linear, com base em Marinho (1980) e Ramos (1982), e se
apresenta da seguinte forma:
Pré-História do surgimento do homem sobre a terra até a introdução
da escrita. O primeiro escrito conhecido, anterior a 3000 a.C, é atribuído aos
sumérios da Mesopotâmia.
História Antiga do surgimento da escrita (3000 a.C.) ao século V
(queda do Império Romano do Ocidente - 476).
20
Idade Média Do culo V (da queda do Império Romano do Ocidente
– Rômulo Augusto - 476) até o século XV (a queda do Império Romano do Oriente –
1453).
Alta Idade Média Refere-se à primeira fase desse período
(séculos V a X)
Baixa Idade Média Refere-se à segunda fase (séculos XI a
XV)
Renascimento Época de transição da Idade Média para
a Idade Moderna caracterizada pela eclosão de
movimentos culturais artísticos, literários e científicos
que se opunham aos ideais da Idade Média (séculos XIV
a XVI).
História Moderna Da queda do Império Romano do Oriente (1453)
século XV até a Revolução Francesa (1789) – século XVIII.
História Contemporânea A partir do século XVIII (da Revolução Francesa
[1789] até os dias de hoje).
No contexto da Pré-História, a vida do homem era regida por desafios
ambientais como condições atmosféricas (temperatura, chuvas, ventos, umidade).
Também fazia parte dessa superação rotineira vencer as difíceis e longas jornadas
que tinham que percorrer uma vez que o modo de vida nômade era o que
prevalecia. Nessa busca constante por melhores condições de subsistência eram
impelidos a lutar contra outras tribos bem como contra animais ferozes. Dessa
maneira, o homem da Pré-História tinha um estilo de vida muito ativo, pois para
defender suas conquistas e sua vida praticava de modo espontâneo e assistemático,
21
muitos tipos de atividade física (RAMOS, 1982). Assim, sem uma habitação fixa e
deslocando-se constantemente à procura de alimentos e melhores lugares para sua
sobrevivência, o homem da Pré-História era muito exigido fisicamente.
Segundo Marinho (1980, p. 29), “a vida simples mantida pelos recursos que a
natureza lhe proporcionou, levava o homem primitivo a obedecer, sem o sentir,
aquela lei da fisiologia: movimento continuado e repetido desenvolve os órgãos e
aperfeiçoa as funções”. Segundo Ramos (1982), os estudos sobre as civilizações
primitivas se baseiam em interpretação de pistas encontradas em várias partes do
mundo, pois não se tem tantos vestígios arqueológicos com informações sobre o
homem neste período. Portanto, é natural que se realizem deduções sobre a
condição física daqueles homens, com base no estilo de vida a que eram
submetidos. Assim, se fundamentando em conhecimentos recentes da fisiologia do
exercício, é possível formular a hipótese de que a prática de atividade física, mesmo
que realizada inconscientemente, provavelmente contribuiu para o desenvolvimento
de um homem de constituição forte, ágil e resistente.
Este homem explicava o desconhecido, criando mitos e realizando rituais
religiosos, nos quais utilizava a dança, praticada respeitosamente, como uma das
formas de manifestação espiritual. De acordo com Ramos (1982, p.16),
nos tempos pré-históricos, principalmente a partir do período paleolítico,
existiram expressões de jogos utilitários e recreativos ... as atividades físicas
das sociedades pré-históricas dentro de um aspecto natural, utilitário,
guerreiro, ritual e recreativo objetivavam a luta pela vida, os ritos, e cultos, a
preparação guerreira, as ações competitivas e as práticas recreativas.
Fica, portanto, evidente que a natureza, as crenças e a luta desse homem
para atender às suas necessidades básicas o impeliam à prática espontânea da
atividade física.
22
Assim, os homens deste período atacavam e defendiam, devido às
contingências naturais do seu habitat, como também para atender às necessidades
básicas da sua vida cotidiana. Portanto, a atividade física realizada neste período
evidenciava um caráter natural, recreativo, religioso, utilitário e guerreiro.
Entretanto, com o passar dos séculos, algumas mudanças significativas
ocorreram na relação do homem com a terra. O homem da Pré-História aperfeiçoou
instrumentos que o ajudaram a ter mais domínio sobre o seu ambiente, favorecendo
na sua fixação à terra, deixando, portanto, de ser nômade.
É importante entender que essa mudança não se deu linearmente com todos
os grupamentos humanos existentes. Ocorreu de forma fragmentada, o que
ocasionou um modo de vida diferenciado entre as diversas tribos que co-existiam
então. Com o tempo, algumas pequenas sociedades, que se fixavam às terras,
desenvolveram novos instrumentos que facilitavam a realização de suas atividades
cotidianas. Esse novo comportamento, naturalmente, levou à diminuição da prática
de atividade física desses povos, tornando os seus indivíduos menos aptos
fisicamente do que aqueles das tribos nômades que praticavam, espontaneamente,
muito mais atividade física. Ainda que pelo fato de a vida tornar-se menos dura
devido ao progresso, as tribos sedentárias perceberam a necessidade de se
prepararem para ficar em melhores condições físicas e combativas a fim de
defenderem suas conquistas (RAMOS, 1982).
Estes povos se estabeleceram e se desenvolveram em vários pontos
geográficos como África, Europa, Ásia, dando origem a civilizações que instituíram
muitas formas de atividades físicas na História Antiga.
Na Antiguidade, as atividades físicas também atenderam aos aspectos
natural, recreativo, religioso, utilitário e guerreiro, tal como na Pré-História. A
23
inovação na prática de atividades físicas nesse período histórico se deu em relação
à incorporação de aspectos higiênicos (desenvolver a saúde, a força e prevenir
contra doenças) e terapêuticos (tratar de doenças), introduzidos por povos como os
chineses e os hindus (MARINHO, 1980). Outra inovação foi a incorporação de
aspectos pedagógico
6
, formativo
7
e eugênico
8
pelos gregos (RAMOS, 1983;
OLIVEIRA, 1983).
Os gregos, também, se espelhavam em seus Deuses atléticos, fortes e belos.
Procuravam homenageá-los por meio de festas populares e religiosas. Estas festas
se traduziam através dos Jogos Gregos, como os Olímpicos, realizados em
homenagem a Zeus; os Píticos, em honra a Apolo; os Nemeus, em honra a
Heracles; e os Ístmicos, em homenagem a Poseidon. Assim, a cultura religiosa
grega exercia grande influência sobre a adesão à prática dos exercícios físicos pelos
cidadãos livres.
Mechikoff e Estes (1998) destacam visões opostas, para este período da
história, sobre a prática de atividade física com base em duas escolas metafísicas
de pensamento: a de abordagem naturalista e antinaturalista (ou sistemática). A
primeira percebia a natureza do homem tanto como um ser espiritual como corporal,
mas que buscava alcançar a harmonia entre espiritual/mental e físico. Em
contrapartida, a segunda abordagem, que tem como seus maiores ícones crates
e Platão, formula posições filosóficas sobre o corpo baseadas no dualismo
metafísico, onde o corpo é considerado separado da mente/espírito e visto como
inimigo desta. A alma (eterna) é considerada mais importante que o corpo
(temporal).
6
Atividade física pensada na dimensão da educação e entendida de um modo mais sistemático e
racional preocupação em investigar os exercícios mais úteis ao desenvolvimento de um corpo forte
e saudável e suas possibilidades de acordo com as diferentes faixas de idade.
7
Preocupação com a formação do homem total, isto é, do caráter e do corpo.
8
Preocupação com a melhoria da raça.
24
Para os autores, a posição de Sócrates e Platão parece paradoxal, visto que
ambos foram atletas completos, mas consideravam o corpo fonte sem fim de
problemas. Entretanto, os autores ressaltam que Platão, apesar de convicto de que
o corpo é subserviente à mente, reconhece os benefícios do exercício para a saúde
e propõe a prática da ginástica na educação dos cidadãos.
Esta percepção também está presente na visão de Aristóteles, discípulo de
Platão. Para ele, a educação deveria incluir os exercícios físicos; tinha como objetivo
desenvolver um corpo forte e saudável, visto que a mente dependia da saúde do
corpo (MECHIKOFF e ESTES, 1998).
Mas para Oliveira (1983), a educação grega teve o rito de promover tanto
as atividades intelectuais e espirituais quanto as atividades físicas. Segundo este
autor, os gregos postulavam uma educação baseada em princípios humanistas,
voltada para o desenvolvimento integral do homem. Sobre isso, Mário Gonçalves
Viana (apud RAMOS, 1982, p. 101) expressou “o adestramento do corpo constituía
um meio para a formação do espírito e da moral”. Aristóteles afirma no seu
quinto livro que a ginástica serve para formar a coragem (MARINHO, 1980).
Mas há diferenças entre a forma de considerar a educação entre atenienses e
espartanos. Em Atenas, as meninas recebiam uma educação voltada para a vida
doméstica, sendo a dança a atividade física recomendada para elas. Entretanto, a
educação dos meninos era diferenciada.
Numa primeira fase a educação era dada aos rapazes que freqüentavam a
escola, onde eram instruídos através da leitura, da escrita, da música e da
prática de atividades físicas... Central era também o cuidado com o corpo,
para torná-lo sadio, forte e belo (...) Aos 18 anos (...) prestavam serviço
militar por dois anos” (CAMBI, 1999, p.84).
25
Em Esparta, a educação dos meninos cabia ao Estado. Estes eram retirados
da família a partir dos sete anos. Eles recebiam educação, basicamente, de cunho
militar, utilizando atividades físicas violentas com propósitos de prepará-los para a
guerra. A mulher espartana adulta praticava exercício físico tão intenso quanto o
homem, com o objetivo de se tornar fisicamente vigorosa, gerar filhos saudáveis e
fortes para o Estado (RAMOS, 1982).
O modo de vida grego exerceu um papel importante na formação cultural das
civilizações, em todos os setores e atividades inclusive no que se refere às
atividades físicas. Os Jogos Gregos eram realizadas em honra aos Deuses e era um
privilégio participar das competições. Os atletas eram respeitados e valorizavam-se
os comportamentos virtuosos, nobres e a firmeza de caráter. Muitos desses
comportamentos valorizados na cultura grega foram tratados na literatura com
livros cujas histórias deram origem à produções cinematográficas que se tornaram
famosas, tais como: A Vingança do Gladiador (direção Nick Willing, 2006), Hércules
(direção Roger Young, 2005), Tróia (direção Wolfgang Petersen, 2004), Heróis da
Grécia Antiga, (direção não identificada, 2004 realizador: Jean Claude Bragard),
Helena de Tróia (direção John Kent Harrison, 2003), A Odisséia (direção Andrei
Konchalosky, 1997), Os 300 de Esparta (direção Rudolph Mate, 1962).
Entretanto, com o passar do tempo esses valores foram desvirtuados.
Segundo Marinho (1980), a decadência da civilização grega coincide com o domínio
militar romano. Os Jogos passaram a ter conotação profissional e os atletas
passaram a receber de acordo com seus desempenhos. Instaura-se, a partir de
então, a corrupção do idealismo inicial dos Jogos. É o início do declínio do ideal
grego e da prática do exercício físico, que perde importância na educação e na
cultura daquela sociedade (OLIVEIRA, 1983; RAMOS, 1983; MARINHO, 1980).
26
Como conseqüência desse processo os Jogos Olímpicos foram suprimidos pelo
Imperador Romano Teodosio no ano de 394 d.C.
É dentro deste contexto que, segundo Padovani e Castagnola (1978, p. 158),
ocorre a conquista da Macedônia (168 a.C.) pelos romanos e “a Grécia tornou-se
efetivamente parte do império romano”.
Roma era um Estado belicoso, onde a prática de atividades físicas assumia
fins militares, tendo a organização, a disciplina e o espírito prático como pontos
fortes da sua civilização. Tal como os espartanos, até os sete anos a educação
romana ficava a cargo da família. Após esta idade, a educação se dava por um
mestre ou, em caso de falta de recurso, a criança entrava em escolas particulares,
chamadas ludus. A ênfase na prática de atividade física na educação dos meninos
ocorria aos 12/13 anos, a partir da participação deles em jogos, tarefas agrícolas
e militares. A partir dos 18 anos, os exercícios físicos eram praticados, basicamente,
com fins militares.
As diferentes formas de jogos da época prestavam-se, neste momento da
história, a um propósito político: eram usadas como instrumento de diversão e
controle da massa. Os imperadores romanos passaram a promover disputas
realizadas nos jogos circenses, as quais eram muito apreciadas pelo povo romano,
através das corridas de carro. Apesar de muito populares, na prática, esses eventos
tinham por objetivo desviar a atenção da difícil realidade social vivida pela maioria
da população (MELO e ALVES JR., 2003).
O exercício físico na educação em Roma era praticado com intuito de formar
o caráter militar, porém, a atividade física foi sendo desvalorizada em detrimento da
prática de atividades prazerosas e de uma formação mais voltada para o estudo da
retórica (MARINHO, 1980). Esta nova proposta filosófica de educação voltada para
27
a retórica foi defendida por Cícero e Quintiliano. O primeiro tratou da educação
retórica, principalmente, em sua obra “De Oratore”, composta em 46 a.C. Já o
segundo, apesar de espanhol, dirigiu-se muito cedo para Roma, no século I, onde foi
professor de eloqüência e tornou-se o primeiro professor pago pelo Estado. Após
deixar de ensinar, redigiu a obra De Institutione Oratoria”, considerada um
verdadeiro tratado pedagógico (Marinho, 1980).
A maior ênfase na educação retórica favoreceu a diminuição do interesse dos
romanos pela prática ativa de exercícios. Tal mudança corroborou para uma maior
vulnerabilidade física que levou ao abrandamento da índole guerreira desse povo.
Houve, também, a redução do interesse da população pelos jogos circenses. Havia
entretanto aqueles que o concordavam com a ênfase na educação retórica, como
por exemplo, Juvenal, poeta romano contrário aos vícios exacerbados instalados na
sociedade, criticou a educação romana com o célebre aforismo “mens sana in
corpore sano”, publicado no século II, em suas “Sátiras”, composições poéticas que
censuravam tais vícios, (MARINHO, 1980).
Assim, com o intuito de manter a curiosidade da população nestes jogos,
além das corridas de carros, foram introduzidos os combates, primeiramente
realizados entre gladiadores e, depois, entre gladiadores e animais. Porém, com o
império romano em franca decadência, os organizadores lançaram mão da cruel
estratégia de realizar combates entre animais e seres humanos (cristãos), utilizando,
principalmente, os cristãos como atração (OLIVEIRA, 1983). Um verdadeiro
morticínio. Até que no ano 313, com a conversão do imperador Constantino o
Grande ao cristianismo, foi concedida a liberdade do culto cristão e as perseguições
aos cristãos deixaram de existir.
28
A sociedade medieval vivenciou um contexto político bastante conturbado.
Com a queda do Império Romano do Ocidente, no ano de 476, os nobres do povo
germano exerceram seu poder na Europa, dominando os pequenos camponeses
que se tornavam seus súditos. Essas invasões contribuíram para a formação do
feudalismo, que é definido “pelas relações servis de produção, em que o senhor é
proprietário da terra e o servo depende dele, devendo cumprir integralmente as
obrigações servis, tanto na prestação de serviços gratuitos quanto na entrega de
parte de sua produção” (PAZZINATO & SENISE, 1999, p. 7).
Para manter seus domínios, os nobres uniam suas forças e firmavam um
contrato de fidelidade político-militar para defenderem seus feudos mutuamente.
Criavam seus próprios grupos de vassalos e, em troca dos seus serviços (militares),
ofereciam benefícios.
Este período da história é também fortemente influenciado pela Igreja. O
poder da igreja se manifestava por meio de expedições militares cristãs,
organizadas entre 1096 e 1270, que inicialmente apresentavam o caráter religioso,
isto é, a defesa da Terra Santa dos muçulmanos. Posteriormente, passou a atender
interesses comerciais junto ao oriente (PAZZINATO & SENISE, 1999).
Para Marinho (1980, p.76), o cristianismo era “uma religião que pregava o
descaso pelas coisas do corpo para salvação da alma”. Essa concepção sobre o
corpo provocou uma regressão em relação ao interesse pela prática de atividades
físicas na Idade Média, exceto no que dizia respeito à preparação militar dos
cavaleiros.
A atividade física era praticada com o propósito de adestrar os jovens nobres
para que se tornassem bons cavaleiros, sendo os torneios
9
e as justas
10
os
9
No século XIII, o torneio primitivo era uma competição entre dois grupos que simulavam uma guerra
medieval em escala reduzida. Apesar de não ter o propósito deliberado de matar ou ferir, nas lutas
29
principais jogos da Idade dia. Os participantes demonstravam sua força,
habilidade e resistência, bem como a sua nobreza e generosidade. Por conseguinte,
tais práticas militares eram aceitas, respeitadas e valorizadas de tal forma que era
atribuído ao ideal cavalheiresco deste período “o espírito de lealdade”. Segundo
Bernardo Gillet (apud RAMOS, 1982) esta relação entre lealdade e a atividade física
deu origem ao modelo de espírito desportivo que é o ideal perseguido até os dias de
hoje quando se pensa em fair play
11
.
Entre o século XII e o XIV, aconteceu um grande desenvolvimento do
comércio que promoveu algumas mudanças no setor, dentre elas, a transformação
de feiras periódicas em feiras permanentes, as quais deram origem aos burgos
(cidades). Esses burgos situavam-se dentro dos feudos e, por isso, seus habitantes
tinham que pagar taxas aos senhores feudais. Entretanto, os habitantes dos burgos
se organizaram em associações, que conseguiram, por meio da garantia do rei, a
autonomia das cidades, isentando-as do pagamento de tributos e obrigações servis,
decisão esta que teve que ser acatada pelos senhores feudais. Surgem, assim, os
traços de uma nova ordem social, a ordem burguesa que ganha importância e
ascende como classe econômica (PAZZINATO & SENISE, 1999). Como
mercadores e comerciantes se agrupavam para terem mais segurança e se
defenderem mutuamente, assim formou-se o grupo burguês “mais livre, mais
individualista, mais laico e empreendedor” (CAMBI, 1999, p. 174).
O poder político, antes exercido pelos senhores feudais nas suas respectivas
cidades medievais autônomas, centrava-se agora nas mãos do soberano de cada
com armas reais ocorriam mortes e ferimentos. O refúgio, local onde os combatentes não podiam ser
atacados era a única regra do torneio. No século XIV, surgiu o torneio moderno que passou a utilizar
armas sem corte e cume, mas ainda produzia vítimas (Capinussú, 2005)
.
10
Combate entre dois cavaleiros armados de lança. Para maiores informações sobre torneios e justas
ler Ramos, 1983 e Capinussú, 2005.
11
É o jogo limpo e a conduta cavalheiresca (RAMOS, 1982, p. 251).
30
nação, o rei. Os burgueses apoiavam o rei, contribuindo para o fortalecimento do
poder real. Dessa forma, conseguiram a unificação do mercado interno e seu
conseqüente desenvolvimento. A formação dos Estados nacionais, através do poder
real, enfraqueceu a nobreza e o clero.
A realidade européia nesse período é de desenvolvimento econômico e
técnico e também de afirmação da burguesia como uma nova classe social, com
novos valores. Os artesãos passaram a trabalhar como assalariados dos grandes
comerciantes, dando origem ao que mais tarde se constituiu no proletariado urbano
(PAZZINATO e SENISE, 1999).
Assim, o contexto social da Baixa Idade Média é um contexto de
modificações econômicas, políticas, sociais e culturais. Conflitos entre os poderes
da igreja, da nobreza, da burguesia e dos camponeses favoreceram uma ruptura
cultural com a tradição medieval. De uma sociedade teocêntrica medieval, que
detinha uma visão de mundo em que Deus era o centro de todas as coisas, passou-
se a uma sociedade antropocêntrica, que considerava o homem como o centro das
atenções e do conhecimento (PAZZINATO e SENISE, 1999). Nesta última, houve o
resgate e valorização do laico em oposição ao escolástico.
No final da Idade Média, o Renascimento
12
, foi um período da história
européia que se caracterizou por um renovado interesse pelo passado greco-
romano clássico. O saber obtido por estudos de manuscritos antigos inspirou o
humanismo, movimento artístico, científico e literário que alicerçou a idéia do
homem universal, capaz de amplos conhecimentos em várias áreas (PAZZINATO e
SENISE, 1999).
12
Eugenio Garin (apud Cambi, 1999) remete a um conceito de Renascimento que abrange todo o
pensamento dos séculos XV e XVI. E Cambi (1999, p.222) afirma que “na origem da civilização
renascentista estão as grandes transformações políticas e culturais, iniciadas no século XIV e até
mesmo antes, fazem sentir seus efeitos nos séculos seguintes”.
31
O Renascimento testemunhou uma série de trabalhos relacionados ao
conhecimento do corpo humano, evidenciando nomes e suas obras, entre outros,
Andrea Vesalius, De Humani Corporis Fabrica Ubri Septum (1543); Hieronymous
Mercurialis, De Arte Gymnastica (1569). Também recuperou autores como
Hippocrates, Celsus e Mercurialis, resgatando o interesse pelo corpo e o
treinamento físico (PARK, 1989), além de tratados em educação e manuais de
cortesia, exaltando as virtudes do exercício físico.
Essa mudança de paradigma, na perspectiva da prática da atividade física, é
responsável pelo resgate de disputas que faziam parte de manifestações populares
oriundas de ritos pagãos e que foram incorporadas pela Igreja Católica. De acordo
com Ramos (1982, p. 171), “pouco a pouco, os exercícios praticados de maneira
espontânea pelo povo foram retomando como na velha Grécia, por indicação de uns
tantos educadores, seu lugar no quadro da educação integral”.
A partir do Renascimento ocorrem movimentos que preconizavam a
reorganização da educação, sugerindo que esta ficasse sob a responsabilidade do
Estado e atendesse às necessidades da sociedade, tornando-se menos retórica e
literária e mais funcional para a formação de um homem mais livre e responsável.
Uma educação que sustentasse um propósito de formação mais utilitária e científica,
conseqüentemente, mais adequada à sociedade burguesa vigente (CAMBI, 1999).
Assim, o Renascimento, que apresenta um caráter revolucionário em relação
às idéias tradicionais da Idade Média, abre caminho para a Modernidade. Esta
revolução, na perspectiva da corporeidade, transforma a forma de considerar as
atividades corporais, concebidas na Idade Média como perniciosas devido a uma
visão de mundo teocêntrica, que valorizava o espiritual e desprezava o corporal. O
movimento humanista é definido por Padovani e Castagnola (1978, p. 261-262)
32
como o “homem potenciado, celebrado, exaltado aà divindade, livre de si mesmo,
dominador da natureza, senhor do mundo”. Assim, o movimento humanista
apresenta uma visão de mundo mais antropocêntica. Logo, intelectuais
representantes de diferentes correntes filosóficas postularam a importância da
prática do exercício físico na educação e passaram a valorizar as práticas corporais
para a formação integral do indivíduo (aspectos intelectuais, físicos e sociais).
Marinho (1980) apresenta alguns exemplos desses intelectuais precursores
da concepção que defendia o ponto de vista das atividades físicas como instrumento
de educação, são eles: Vittorino Ramboldi (1378-1446), Leonardo da Vinci (1452-
1519), Erasmo de Rotterdã (1466-1536), François Rabelais (1493-1553), Michel
Eyquem de Montaigne (1533-1592), François Fénelon (1651-1751), Friedrich
Hoffmann (1660-1742), John Locke (1632-1704), Jean-Jacques Rousseau (1712-
1780), Francisco Maria Arouet, dito Voltaire (1694-1778), Immanuel Kant (1724-
1804), Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827), Herbert Spencer (1820-1903). Estes
e outros importantes nomes de diferentes áreas exerceram grande influência sobre
a importância da prática de exercícios e jogos na educação infantil. Essas idéias
alcançaram muitos dos idealizadores dos métodos ginásticos que surgiriam em
países da Europa como, por exemplo, Suécia, França, Alemanha e Dinamarca no
período da História Contemporânea.
Correntes filosóficas como o empirismo, o racionalismo, o iluminismo
13
, bem
como o desenvolvimento do método científico
14
geraram novos saberes que foram
se consolidando em novos campos de conhecimento.
13
Revolução intelectual efetivada na Europa, especialmente na França no século XVIII, que
representou o ápice das transformações culturais iniciadas no século XIV pelo movimento
renascentista. Para os iluministas através da razão o homem poderia alcançar o conhecimento, a
convivência harmoniosa em sociedade, a liberdade individual e a felicidade. O racionalismo (uso da
razão), o liberalismo e o desenvolvimento do pensamento científico foram as bases do pensamento
iluminista. Visão racional versus visão tradicional teocêntrica (PAZZINATO e SENISE, p. 98, 1999).
33
De acordo com Padovani e Castagnola (1978,
p. 287-288
), o
empirismo (Bacon, Hobbes, Locke, Berkeley, Hume) correspondia à índole
positiva e prática da mentalidade anglo-saxônica. (...) O racionalismo, ao
contrário, tem origem francesa, pois seu fundador, Descartes, é francês. O
empirismo torna-se puro fenômeno sentista, em que tudo derivaria da
subjetividade dos sentidos e o racionalismo torna-se puro fenômeno
intelectualista em que tudo derivaria, a priori da razão humana, tudo seria
deduzido das verdades primeiras atingidas imediatamente pelo intelecto. (...) O
empirismo adota o método indutivo, experimental; já o racionalismo foi atraído
pelo ideal físico-matemático, quantitativo-mecanicista, portanto, adota um ideal
de noções claras e distintas, inteligíveis e racionais.
O Iluminismo foi o movimento cultural europeu (1688-1789) que buscou
iluminar com a razão o obscurantismo da tradição, guiando a humanidade na
direção da civilização. Pois para os iluministas por meio da razão se poderia
atingir um alto nível de civilidade (PADOVANI & CASTAGNOLA, 1978).
Neste processo, o racionalismo fornece ao iluminismo o método crítico, a
atitude demolidora da tradição para instaurar a luz, a evidência, a clareza e a
distinção da razão, mais ligado ao ideal físico-matemático, quantitativo mecanicista
(PADOVANI & CASTAGNOLA, 1978).
É neste contexto que, no século XIX, surgiu a biologia, ciência que se
preocupa em estudar os organismos vivos, sua forma (estrutura e suas partes),
função (o entendimento do seu processo vital) e transformação (suas mudanças ao
longo do tempo). Essa nova ciência fundamenta o desenvolvimento orgânico de
cada indivíduo e provoca um grande estímulo na definição do papel e do escopo do
campo que seria posteriormente denominado Educação Física (MECHIKOFF e
ESTES, 1998). Na medicina, a anatomia e a fisiologia são disciplinas que também
deram base ao corpo de conhecimento da EF.
14
Numa perspectiva histórica, considera-se que o método científico foi definitivamente consolidado
por René Descartes, que em 1637 publicou a obra intitulada o Discurso sobre o método”, seus
estudos o conduziram a compor uma filosofia que se associava à matemática, onde observação e
interpretação eram legitimadas pela demonstração (de Meis, 2007).
34
Assim, é neste ambiente de nascimento das áreas e disciplinas que
fundamentam, ahoje, o campo de conhecimento em EF, que surgem os Sistemas
Ginásticos, considerados como um conjunto de conhecimentos sistematizado pelo
pensamento científico se consolidou na Europa. Ao longo do século XIX, se
constituíram nas principais formas modelares de educação do corpo (SOARES,
2000). A “Ginástica privilegiou em suas sistematizações o conhecimento científico,
localizado, sobretudo, na Anatomia, Fisiologia, Higiene e Mecânica, fazendo alguma
alusão à Filosofia, à Música e ao Canto” (SOARES, 2000, p. 48).
As primeiras sistematizações de exercícios físicos surgem a partir de
demandas originadas entre médicos, filósofos, militares e professores, os quais
perceberam na ginástica um excelente veículo para promover o desenvolvimento
humano. Este, então, é o início dos sistemas ou dos métodos
15
ginásticos, os quais
de acordo com Targa (1973, p. 187) o “um conjunto de princípios plásticos e
flexíveis”.
Os idealizadores dos diferentes métodos ginásticos foram, então,
influenciados por idéias de filósofos de diversas correntes, além de conhecimentos
oriundos das áreas médico-biológica, pedagógica e militar. Exemplos foram Guts-
Muts, Jahn Basedow e Adolph Spiess, importantes idealizadores de métodos
ginásticos, que sofreram grande influência do iluminista francês Jean-Jacques
Rousseau (1712-1778) (MARINHO, 1980).
O Quadro 1 apresenta os todos ginásticos e as suas respectivas
características.
15
Targa (1973) exemplos de autores que fazem distinção entre o significado dos termos, sistemas
e métodos. Entretanto, o autor afirma que frequentemente os termos, sistemas e métodos, são
usados como equivalente.
35
Como é possível observar no Quadro 1, os métodos ginásticos
16
tiveram
diferentes origens na Europa, tendo cada um deles características próprias que os
diferem entre si. O quadro apresenta os idealizadores dos métodos e uma relação
cronológica do período de vida desses idealizadores com os métodos ginásticos.
Entretanto, apesar desses métodos apresentarem características próprias, eles
naturalmente exerceram influência uns sobre os outros e, também, contribuíram
para gerar métodos diversos deles (NAUL, 2003).
Quadro 1: Primeiros Métodos Ginásticos Europeus
* Inaugura, em 1903, o 1º curso superior de EF na França (Lycée Jannson – de Sailly).
# Termo utilizado nas fontes consultadas.
Fontes: Marinho (1980), Ramos (1982) e Gutierrez (1985).
16
Para maior aprofundamento sobre o caráter dos métodos ginásticos ler Marinho, 1980; Ramos,
1982; Gutierrez, 1985.
17
Os métodos de cunho pedagógico/escolar preocupavam-se com a formação integral e com
aspectos lúdicos; os de cunho militar incutiam sentimentos nacionalistas e preparavam fisicamente
para o combate; os de cunho médico se preocupavam em assegurar a saúde; e os de cunho estético
promoviam a beleza por seus efeitos corretivos e ortopédicos; a ginástica feminina buscava a
harmonia espiritual e corporal; os de caráter civil e industrial visavam a todas as pessoas e tinham
fins utilitários e nobres; o natural adequado a homens, mulheres e crianças visava o endurecimento, a
aptidão completa e o utilitarismo; o de característica científica lançou as bases da EF francesa
fundamentada, principalmente, na fisiologia do exercício e buscava a eficiência do movimento com
menor gasto de energia.
Origem do Método Idealizadores Característica
17
Alemanha
Johann Bernard Basedow (1723-1790)
Johann Chistoph Guths Muths (1759-1839)
Friedrich-Ludwig Janh (1778-1825)
Adolph Spiess (1810-1858)
Pedagógica
Pedagógica
Militar
Pedagógica
Suécia
Per Henrik Ling (1776- 1839)
Hjalmar Ling (1820-1886)
Ellin Falk (1872-1942)
Elli Björkstein – (em torno de 1912)
Pedagógica, militar, médico e
estética
Pedagógica
Pedagógica (lúdico e psico-social)
Ênfase movimento feminino
França
Francisco Amoros y Ordeano (1770-1848)
George Démeny (1850-1917)*
Georges Hébert (1875-1957)
Philipe Tissié – (1852-1935)
Escola de Joinville-le-Point (fundada em 1852)
Utilitária (civil e industrial, militar e
médica)
Base fisiológica do movimento
Movimento Natural
Pedagógica (jogos ao ar livre)
Militar
Dinamarca Fraz Nachtegal (1777-1847)
Pedagógico e militar (exercícios em
aparelhos)
Tchecoslováquia# Miroslaw Tyrs – Sokols (1862)
Nacionalista (unificação dos
tchecoslovacos)
36
O método ginástico alemão impulsionou o uso do exercício físico com
propósito pedagógico, mas este modelo foi substituído pela ginástica de conteúdo
de caráter militar que tinha como característica o uso de aparelhos pesados e fixos
como a barra fixa, as barras paralelas e o cavalo. O objetivo deste último modelo era
o de promover o fortalecimento físico e o espírito combativo dos praticantes
(MARINHO, 1980; RAMOS, 1982; OLIVEIRA, 1983). Contudo, o caráter pedagógico
da ginástica é resgatado por Spiess (considerado o pai da ginástica escolar alemã) e
torna-se a base para o desenvolvimento do sistema escolar alemão (RAMOS, 1982).
O método alemão foi adotado pelos militares brasileiros e seu uso reforçado pelo
Governo Imperial que estimulou a tradução de um guia em 1870 (MELO e
NASCIMENTO, 2000).
Os países nórdicos (Dinamarca, Suécia) e a então Tchecoslováquia (atual
República Tcheca) foram influenciados pela corrente alemã. É, principalmente, a
preocupação com a execução correta dos exercícios que acentua o caráter corretivo
da ginástica sueca, pautada fundamentalmente em bases anátomo-fisiológicas,
conferindo-lhe reconhecimento internacional (RAMOS, 1982; OLIVEIRA, 1983). Este
método foi divulgado no Brasil a partir da primeira década do século XX (MARINHO,
1980).
o todo ginástico francês se caracterizava por seu marcante espírito
militar e o desenvolvimento da força muscular (OLIVEIRA, p. 43, 1983). Inicialmente
essa ginástica militar era ministrada nas escolas e em 1927 foi elaborado
finalizado o plano que codificou todos os conhecimentos da época gerando a
publicação Regulamento Geral de Educação Física que era destinada ao conjunto
da nação (RAMOS, 1982). Este método foi introduzido no Brasil por militares
franceses, largamente difundido e adotado nas escolas brasileiras a partir de 1931
37
(MARINHO, 1980). Nele a sessão de EF era dividida em três partes: preparatória
(evoluções e exercícios localizados); propriamente dita (exercícios naturais) e a volta
à calma (atividades lentas e exercícios respiratórios).
1.1. DE ATIVIDADE FÍSICA À EDUCAÇÃO FÍSICA FORMAL
A ginástica foi a precursora do que hoje se entende por EF. Inicialmente, vista
como forma de divertimento, aos poucos teve seu caráter modificado para, através
de cnicas e fundamentada em conhecimentos científicos, ser utilizada com fins
educacionais. Neste percurso, diferentes ideologias permearam o desenvolvimento
desse ramo de conhecimento, propiciando o surgimento de variadas concepções de
EF.
De acordo com Soares (1996, p. 8) a
Educação Física Escolar tal como a concebemos hoje - como matéria de
ensino - têm suas raízes na Europa de fins do século XVIII e início do século
XIX. Com a criação dos chamados Sistemas Nacionais de Ensino, a Ginástica,
nome primeiro dado à Educação Física e com caráter bastante abrangente,
teve lugar como conteúdo escolar obrigatório.
Saviani (1994 apud MELO, 2006, p 189), considera sistematização como a
“seleção, seqüenciação e dosagem dos conhecimentos e habilidades de cada
disciplina no tempo e no espaço escolar, dando-lhes assim, um caráter de
conteúdos de ensino”. Considerando tal perspectiva, os Métodos Ginásticos foram
as primeiras sistematizações dos exercícios físicos adaptadas ao uso escolar.
A transição do termo Ginástica para EF no meio escolar é esclarecida por
Soares (1996, p.9) no texto abaixo e evidencia a força do paradigma das ciências
naturais na concepção desta recém criada disciplina escolar.
A partir da última década do século XIX, o termo ginástica ainda é largamente
utilizado para denominar a aula que trata das atividades físicas, mas vem
surgindo um outro termo, com o qual convivemos até hoje: Educação Física.
Este termo vem acompanhado de um requinte no âmbito da pesquisa
38
científica. Tem lugar a educação do gesto, pensada a partir de análises
laboratoriais. Tem lugar também um conteúdo predominantemente de natureza
esportiva. A abrangência anterior perde terreno para a aula como o lugar do
treino esportivo e do jogo esportivo como conteúdo senão único, certamente
predominante. O modelo de aula é buscado nos parâmetros fornecidos pelos
métodos de treinamento. As partes constitutivas de uma aula são ditadas mais
pela Fisiologia, agora acrescida do item “esforço”, do que pela Pedagogia.
Uma parte inicial da aula será destinada a um trabalho de natureza aeróbica,
com um tempo para corridas e saltitamentos; numa segunda parte da aula
vamos encontrar exercícios de força, flexibilidade e agilidade; numa terceira
parte alojam-se os fundamentos de um determinado jogo esportivo com sua
posterior aplicação propriamente dita e, para finalizar, há uma volta a calma.
A partir da incorporação da ginástica ao currículo escolar, a Educação Física
passou a ser considerada um símbolo de aprimoramento do físico. Logo, por meio
desta atividade os indivíduos “estariam mais aptos para contribuir com a grandeza
da indústria nascente, dos exércitos, assim como com a prosperidade da pátria”
(COLETIVO DE AUTORES, 1992, p. 52). A EF atendia, dessa forma, aos interesses
da sociedade capitalista que se consolidava.
Ao longo do tempo, é possível caracterizar a concepção que norteou o ensino
da disciplina EF através de sua prática pedagógica. De acordo com Soares (1996),
desde a origem da EF, como disciplina sistematizada, o conteúdo das aulas se
baseava nos métodos ginásticos europeus, a aula de ginástica compreendia
exercícios militares, jogos, dança, esgrima e equitação. Os principais métodos
ginásticos difundidos no Brasil foram o alemão, o sueco e o francês (MARINHO,
1980; MELO e NASCIMENTO, 2000). Este último fundamentou os programas de EF
adotados nas escolas brasileiras, a partir de 1931 (MARINHO, 1980).
Apesar de o modelo esportivo inglês ter sido difundido na Europa entre 1880
e 1890 (NAUL, 2003), no Brasil é a partir de 1940 que firma-se o movimento
esportivo com o predomínio dos desportos como conteúdo de ensino. A inserção do
esporte nas aulas de EF início à construção de um novo paradigma para a EF
presente nos debates atuais do campo que trata da esportivização. A ênfase ao
39
esporte dada nas aulas de EF e o reconhecimento deste como forte fenômeno social
contribui para fomentar a crise de identidade no interior do campo no que tange ao
entendimento de que a EF estaria mais bem denominada por Ciências do Esporte
(COLETIVO DE AUTORES, 2005; BRACHT, 2007).
Na década de 1970, os estudos sobre a psicomotricidade orientaram o campo
da EF no Brasil. Tal situação se refletia nas escolas, uma vez que nas aulas de EF
havia a preocupação com o ensino das condutas motoras.
A partir da década de 1980 conteúdos da EF ginástica, dança, desporto,
luta e jogos passaram a compor a disciplina EF, o que trouxe para o Brasil a
perspectiva da cultura corporal de movimento dentro um novo paradigma no
pensamento da EF (SOARES, 1996).
A prática da EF reflete o poder simbólico
18
da ciência de cada época e, da
forma como foi engendrada, ela apresenta uma concepção que fortalece a cultura
dominante sendo um símbolo importante para a manutenção dessa cultura. No
Brasil, a incorporação da Educação Física ao currículo escolar como disciplina
obrigatória se deu em 1961, com a promulgação da Lei de Diretrizes e Bases, onde
no artigo 22 estava explícito “Será obrigatória a prática da educação física nos
cursos primário e médio, até a idade de 18 anos” (BRASIL, 1961). A EF, no Brasil, já
incorporada em muitas escolas de ensino primário e secundário
19
mesmo antes da
promulgação da Lei que estabeleceu a sua obrigatoriedade no currículo escolar.
A maioria das concepções pedagógicas que orientou o desenvolvimento da
Educação Física brasileira, desde a inclusão desta pratica educativa na escola até
recentemente, sofreu forte influência da filosofia liberal. De acordo com o contexto
18
Para melhor entendimento do conceito ver 2.1.2 Obras e principais conceitos
19
Atualmente o ensino fundamental compreende o que no passado denominou-se ensino primário e
secundário, sendo que o primário corresponderia ao que hoje tratamos por primeiro ciclo do ensino
fundamental e o secundário corresponderia ao segundo ciclo.
40
sócio-político de cada período histórico e os respectivos interesses dominantes,
eram veiculadas ideologias que norteavam as visões de EF
20
.
Ghiraldelli Jr. (1991) identificou cinco concepções pedagógicas que
orientaram o ensino em EF no Brasil. Tais concepções foram evidenciadas por meio
da análise de 1863 artigos publicados em periódicos de EF, dos anos 1930 aos anos
1990, bem como por meio da leitura de livros nos anos 1910 e 1920. As concepções
identificadas foram: a) higienista, b) militarista, c) pedagogicista, d) competitivista, e)
popular.
A higienista tinha por objetivo promover a formação de cidadãos fortes e
saudáveis. A militarista adotava como propósito a busca pela melhoria da raça por
meio da formação de homens fortes, obedientes e adestrados para defender a pátria
quando necessário. A pedagogicista advogava que somente por meio da educação
do movimento se conseguiria a educação integral, mas considerava a EF como uma
prática eminentemente educativa e neutra em relação aos conflitos sociais
21
. A
competitivista valorizava a competição e a superação individual, visava descobrir
talentos para o desporto competitivo de alto nível e utilizava-se do espetáculo
(desporto de alto nível) como distração para alienar a população
22
. Por fim, a
concepção popular, ligada ao movimento de organização das classes populares
para o embate da prática social, tinha como objetivo promover a organização e
mobilização dos trabalhadores por meio das atividades físicas que tinham o caráter
lúdico e favoreciam a cooperação e podiam ser praticadas nos momentos de lazer.
20
Para maior aprofundamento ler Ghiraldelli Jr. (1991)
21
Esta concepção estava impregnada de teorias psicopedagógicas de Dewey e da sociologia de
Durkeim.
22
Ela era sustentada pela ideologia tecnoburocrática militar que incentivava a tecnização da EF no
sentido de uma racionalização despolitizadora, isto é, promover o desporto e trazer medalhas
olímpicas ao mesmo tempo em que preconizava o distanciamento das reflexões sobre os conflitos
sociais.
41
A partir da década de 80, são identificadas algumas novas concepções
pedagógicas para o ensino de EF no Brasil, as quais se contrapõem às concepções
anteriores, que estavam impregnadas de interesses militares e políticos desses
períodos, que se preocupavam em formar indivíduos fortes, produtivos e alheios aos
acontecimentos sócio-políticos (DARIDO, 1999). Essas novas concepções são
assim conhecidas: a) desenvolvimentista; b) construtivista-interacionalista; c) crítico-
superadora; d) sistêmica.
A concepção desenvolvimentista que visava de acordo com Tani at al. (1988),
“estabelecer uma fundamentação teórica para a Educação Física Escolar, dirigida às
crianças, em sua maioria dos quatro aos quatorze anos de idade”. Esta abordagem
tem como foco principal o estudo do movimento humano, através da análise da
relação dinâmica do ser humano com o meio ambiente. De acordo com Darido
(1999), nesta abordagem o principal objetivo da EF é oferecer experiências de
desenvolvimento adequadas ao seu nível de crescimento e desenvolvimento, a fim
de que a aprendizagem das habilidades motoras seja alcançada. Utiliza Piaget como
base de seus estudos.
A concepção construtivista-interacionalista parte do princípio de que a
proposta pedagógica da EF deve levar em conta as diferenças individuais e as
experiências vividas pelos alunos. A criança possui experiência em relação ao
brincar que pode ser aproveitada na aula de EF. Valoriza-se o conhecimento
construído através do jogo aprendido e praticado em outros espaços (não-formais).
Acredita-se que essas atividades lúdicas poderão propiciar a construção de novos
conhecimentos (DARIDO, 1999).
A concepção crítico-superadora se baseia no discurso da busca de uma
sociedade mais justa e é fundamentada pelas teorias marxistas e neo-marxistas.
42
Essa concepção visa desenvolver a consciência crítica em relação à sociedade e o
estímulo a uma participação ativa nos diversos setores desta sociedade, tais como:
na política, na cultura, no desporto e no trabalho. Enfatiza o caráter político da
prática docente, à medida que as finalidades da educação são definidas a partir de
interesses sociais que dependem da relação de poder entre as classes dominantes
e classes de trabalhadores (DARIDO, 1999).
A concepção sistêmica entende a EF como um sistema hierárquico aberto
porque sofre influência da sociedade, ao mesmo tempo em que a influencia. Esta
concepção considera que o ensino de habilidades motoras é um dos objetivos da
EF. Mas, é fundamental que o aluno seja capaz de realizar o movimento corporal,
sabendo, principalmente, porque está fazendo, como deve fazê-lo e quais os
benefícios que essa prática pode lhe proporcionar, de forma a transferir estes
conhecimentos e utilizá-los na sua vida de um modo geral. Esta abordagem mostra
a importância de se vivenciar os movimentos em situações práticas e se baseia nos
princípios da diversidade e da não exclusão do aluno em qualquer atividade da aula
de EF. Isto significa que devem ser propostas atividades diferenciadas com
vivências em atividades esportivas, rítmicas e ginásticas relacionando-as com o uso
do tempo livre no lazer (DARIDO, 1999; FERREIRA, 1999).
O campo da EF difundiu diferentes valores para a prática da atividade física
na sociedade mundial ao longo do tempo e a adoção de uma concepção pedagógica
parece passar por uma questão de ideologia. Na educação formal brasileira esse
processo não foi diferente.
Para Marinho (1980), movimentos em prol da EF têm início ainda no Brasil
império, seja com a importação de vasta literatura em EF (exemplos: “Tratado de
Educação Física e Moral” de Luiz Carlos Muniz Barreto, de 1787; “Tratado de
43
Educação Física dos Meninos”, de Francisco Melo Franco, de 1890; “Tratado de
Educação Física”, de Francisco José de Almeida, de 1891) seja pelas atividades
físicas promovidas pela Academia das Agulhas Negras ou pelo próprio Exército
Brasileiro.
É no Brasil República que surge o primeiro interesse real da incorporação da
EF no currículo escolar brasileiro. A prática de jogos nos jardins de infância das
escolas públicas ganha apoio legal, após regulamentação específica na Reforma
Fernando Azevedo, em 1928. Fernando Azevedo considerava as práticas de
atividades físicas importantes para formar o povo brasileiro e no seu projeto de
educação ressalta que
“... embora seja preciso tornar o indivíduo um colaborador consciente de seu
aperfeiçoamento corporal e despertar em cada um o desejo de adaptar sua
vida individual à conquista da saúde e da beleza não é menos necessária a
ação social do Estado no sentido de não somente tornar obrigatória a
educação física escolar, também proporcionar todas as ocasiões de exercício à
mocidade, fora da escola”. - grifos do original - (AZEVEDO, 1920 apud
PAULILO & BAEZA, 2002).
Assim, o entendimento da importância da inclusão da EF como disciplina
escolar
23
para a formação integral dos estudantes aumenta a demanda social por
profissionais capacitados para atuar nas escolas brasileiras. É, portanto, nesse
contexto que são criadas as primeiras escolas civis em nível superior (USP – 1931 e
UFRJ 1939) para a formação de professores a fim de ministrar aulas de EF nas
escolas, atividade exercida, até então, por instrutores militares.
Atualmente, de acordo com o ranking de Cursos de EF no Brasil
24
, fornecido
pela Escola Superior de Muzambinho, tem-se um total de é 531 escolas superiores
de EF. Ainda que o número de cursos com graduação em EF tenha crescido e o
23
Castellani Filho (2007) ressalta, entretanto, o caráter galtoniano (de melhoria da raça) na
concepção de EF idealizada por Azevedo.
24
Disponível em:
<http://www.efmuzambinho.org.br/escolas/escolas.asp?vvuf=TT&vvnome=Escolas%20do%20Brasil>.
Acesso em 18-03-2010.
44
número de estudantes nas graduações tenha aumentado para atender à demanda
social, muitas questões que permearam as discussões desde o início sobre este
campo de conhecimento se mantêm até os dias de hoje.
1.2. DEBATES ATUAIS
Muitos pesquisadores vêm tentando responder se é possível uma definição
única para EF. Mas, para esta questão não existe uma resposta simples. São
encontradas diferentes posições quanto à forma de entender o que é EF.
Nahas e Bem (1997) acreditam que a EF tem sobrevivido à ausência de
paradigmas, à influência médica e militar, à fragmentação pela subdisciplinarização,
ao cientificismo absoluto e ao pedagogismo exacerbado. Eles consideram também
que o foco de estudos da área é a atividade física do ser humano, a qual deve ser
pensada na perspectiva da qualidade de vida. Identificam que, apesar da EF escolar
ser um serviço relevante, ela transcende à escola por existirem outros fazeres,
também relevantes, para a sociedade na perspectiva da promoção da qualidade de
vida. Os autores ressaltam, ainda, a característica peculiar da multidimensionalidade
profissional.
Massa (2002) confirma a crise de identidade da EF, afirmando que ela vem
sendo discutida algum tempo. Apresenta as questões sobre a caracterização
acadêmica e profissional da EF como motivadoras desta crise e expõe as
discussões em torno do significado da EF e as propostas de uso de diferentes
terminologias para designar EF. Massa também apresenta a visão de diferentes
autores, que corroboram nessa discussão.
Os autores apresentados por Massa (2002) procuram distinguir os aspectos
acadêmicos de aspectos profissionais como na concepção dualista teoria versus
45
prática. Um deles, Broekhoff (1982), apresenta James Bryant Conant como
responsável pela crise de identidade da EF ao questionar, em 1963, a presença dos
cursos de formação profissional em EF na Universidade norte-americana. Tal
questionamento tinha como base a falta, nas Universidades, de um perfil acadêmico
- cientifico, assim como a falta de um objeto de estudo exclusivo e bem definido.
Tem início, então, um modelo transdisciplinar, onde a interação da EF com
disciplinas como a fisiologia do exercício, aprendizagem motora, biomecânica,
psicologia do esporte, sociologia do esporte, entre outras, caracterizariam a
disciplina acadêmica de EF e justificaria sua permanência na Universidade (HENRY,
1964 apud MASSA, 2002).
Assim, o fato de a EF ser considerada um campo de estudo multidisciplinar
tem gerado debates sobre uma possível falta de identidade desse ramo de
conhecimento. Esses debates trazem à tona outras questões que permeiam: 1) a
formação do profissional em EF; 2) as especificidades da produção acadêmico-
científica da EF; 3) diferentes denominações; e 4) a própria crise de identidade.
Estas questões serão, então, apresentadas em maior detalhamento a seguir.
Adotar-se-á a estratégia de reproduzir o pensamento de autores, na maioria
brasileiros, da EF na tentativa de apresentar de forma mais realística possível como
estas questões se interpõem no campo, no que concerne ao entendimento das
disputas existentes no mesmo.
1.3.1. Formação em EF
Para o Conselho Federal de Educação Física (CONFEF), o profissional de EF
é assim definido:
O Profissional de Educação Física é especialista em atividades físicas, nas
suas diversas manifestações - ginásticas, exercícios físicos, desportos, jogos,
lutas, capoeira, artes marciais, danças, atividades rítmicas, expressivas e
46
acrobáticas, musculação, lazer, recreação, reabilitação, ergonomia,
relaxamento corporal, ioga, exercícios compensatórios à atividade laboral e do
cotidiano e outras práticas corporais, sendo da sua competência prestar
serviços que favoreçam o desenvolvimento da educação e da saúde,
contribuindo para a capacitação e/ou restabelecimento de níveis adequados de
desempenho e condicionamento fisiocorporal dos seus beneficiários, visando à
consecução do bem-estar e da qualidade de vida, da consciência, da
expressão e estética do movimento, da prevenção de doenças, de acidentes,
de problemas posturais, da compensação de distúrbios funcionais, contribuindo
ainda, para consecução da autonomia, da auto-estima, da cooperação, da
solidariedade, da integração, da cidadania, das relações sociais e a
preservação do meio ambiente, observados os preceitos de responsabilidade,
segurança, qualidade técnica e ética no atendimento individual e coletivo
(CONFEF, 2002).
Assim, a definição do “profissional em EF”, emitida pelo CONFEF, sugere um
profissional com múltiplas facetas e competências. Mas será que as Escolas em EF
favorecem a formação deste profissional? Não vida, portanto, que a formação
do profissional em EF é um dos temas sobre os quais os pensadores do campo
ainda não chegaram a um consenso.
Hoje as Escolas em EF no Brasil somam 531 e, na maior parte delas, a
organização curricular segue uma programação de quatro anos; o profissional
recebe o título de Licenciado em Educação Física.
Sobre esta estrutura, de um lado, os que defendem a formação superior
em EF como licenciatura plena e, do outro lado, os que advogam pela divisão em
licenciatura e bacharelado. Os favoráveis à divisão argumentam que na licenciatura
plena a ênfase dada é na formação para atuar em escolas e os profissionais
destinados a trabalhar fora da educação não receberiam a preparação adequada.
É importante ressaltar que dificilmente se formará especialistas com o perfil
estabelecido pelo CONFEF seja por meio da licenciatura ou do bacharelado. Pois,
além de se acreditar que esta não é uma atribuição da graduação, formar
profissionais conhecedores profundos de todos os ramos das atividades físicas seria
uma missão improvável de ser alcançada.
47
Outra questão que surge em torno da formação do profissional em EF é a
necessidade ou não dele seguir uma trajetória acadêmica e se diplomar no nível da
Pós-Graduação (PG). Esse tipo de titulação em EF favorece a formação de
docentes para atuar em EF no nível superior do ensino, seja como docente
somente, seja como docente/orientador da Pós-Graduação/pesquisador.
No que tange à polarização referente à formação acadêmica ou profissional,
Kokubun (2003, p.15) apresenta dados indicando que o corpo docente atuante na
PG em EF no Brasil ainda é tipicamente exógeno. Segundo este autor, a PG é
dependente de doutores formados fora do sistema de PG nacional e em diferentes
áreas, o que poderia explicar a falta de identidade epistemológica da EF. Critica,
portanto, a formação de docentes para atuar no magistério superior, a qual, segundo
ele, tem uma grade curricular que pouco estimula a formação de pesquisadores.
Assim, se a formação do docente para atuar no ensino superior em EF está
ainda pouco focada na formação de pesquisadores e desenvolvimento de pesquisa
no campo, o que deve acontecer na formação geral do profissional em EF?
Verenguer (1997) procura mapear as discussões sobre as dimensões
profissionais e acadêmicas da EF no Brasil. A autora aponta a abertura dos
mestrados, a partir de 1977, e a consolidação de um ambiente propício ao
desenvolvimento da pesquisa, na década de 80, como desencadeadores de uma
análise mais crítica sobre a área. Para ela, neste ponto, iniciaram-se as discussões
sobre a preparação profissional e o campo de conhecimento em EF e sua mútua
relação.
Verenguer (1997) indica que na literatura não consenso sobre a formação
propiciada tanto pela licenciatura, que apresenta foco na escola, quanto pelo
bacharelado, com foco em programas fora da escola. Apesar dessa discussão, a
48
autora verifica que ainda é dada maior atenção à formação do profissional na
licenciatura.
Para a autora, “embora a questão relativa ao bacharelado em EF
freqüentemente seja vista pelo prisma da formação dos recursos humanos e a sua
atuação no mercado de trabalho, é preciso vê-la, também, pelo prisma acadêmico”
(VERENGUER, 1997, p.167). Nesse sentido, a formação do profissional em EF deve
ser desenvolvida de forma que os conteúdos sejam aplicados com profundidade e
permita a preparação de bons e respeitados profissionais, sejam eles dedicados ao
magistério ou à pesquisa.
A autora, também, sugere que as discussões em torno do campo de
conhecimento da EF tornaram-se foco de atenção e se concretizaram como
preocupação da comunidade acadêmica, no início dos anos 90. Por isso, a autora
considera que o
parecer nº. 215/87, que suporte à resolução . 3/87 que fixa os mínimos
de conteúdo e duração a serem observados nos cursos de graduação em
EF, vai de encontro às preocupações da comunidade acadêmica, na medida
em que antecipa a necessidade de legitimar os cursos de graduação em EF
na Universidade (VERENGUER, 1997, p. 167).
Para Massa (2002), a EF não precisa ser uma disciplina acadêmica para
estar na Universidade e se fundamenta em Mariz de Oliveira (1993) quando afirma
que é característica da EF ser eminentemente profissional e aplicativa, não sendo
demérito ser considerada como tal.
Guedes e Rubio (2004), informam que
desde que a educação física surgiu no cenário nacional como uma
necessidade da sociedade brasileira, seja na educação seja na saúde, tem-
se procurado compreender e organizar o seu campo do conhecimento, o
qual vem tomando forma desde os cursos para normalistas no início do
século, à entrada na academia, com os cursos de pós-graduação na década
de 70, até o grande debate dos nossos dias sobre a conceitualização da
educação física enquanto área acadêmica e profissão.
49
Contrariamente a Massa, as autoras engrossam
o debate que deverá ainda seguir por muitos anos, onde tomam a EF como
uma disciplina acadêmica, um curso de preparação profissional, uma
disciplina no currículo formal e uma profissão. Não entendem nenhuma
fragmentação nestes conceitos, pelo contrário, entendem que eles se inter-
relacionam, sendo distintos, porém complementares (GUEDES e RUBIO,
2004).
Na visão de Rocha Jr. (2005), a busca pela cientificidade na EF demonstra a
necessidade de legitimação para este ramo de conhecimento e da indefinição no
entendimento do que é EF, corroborando, assim, com o sentimento da existência da
uma crise de identidade no seu interior.
a EF, por tradição, sempre buscou identificar e definir conceitualmente as
diferentes modalidades de intervenção que seu campo profissional abarca. É
constante a luta que trava por argumentos que lhe fundamentem cientifica
e/ou pedagogicamente, seja do ponto de vista acadêmico, profissional ou
educacional. Nela, a busca por legitimidade e status origem a toda uma
produção de narrativas.
Rocha Jr. (2005) afirma que foram formuladas diversas orientações para
combater o sentimento negativo dos profissionais da área e, nessa perspectiva,
pensar o papel social da EF, a atuação do professor e as políticas governamentais
são estratégias fundamentais. Para o autor, essas orientações pretendem fornecer
pelo menos dois exemplos do fazer do professor de EF: 1) aqueles que advogam a
unidade, isto é, o profissional de EF é um educador independente do campo de
intervenção e 2) aqueles que pensam a profissão a partir dos diferentes tipos de
intervenção. O lugar do educador para este grupo limita-se ao ensino formal de
crianças e jovens. Este grupo advoga que a formação universitária deve garantir o
atendimento das demandas diferenciadas, as quais estão sendo impostas pelo
mercado para o profissional de educação física.
Saindo do contexto brasileiro, também, são apresentadas as considerações e
sentimentos de alguns autores em EF dos Estados Unidos; m
uitas das questões
50
destes autores estão de acordo com a discussão no Brasil sobre a formação
profissional em EF.
Com base em Park (1989), nos EUA, os debates sobre a EF giravam em
torno de várias questões como o prestígio profissional do educador físico, a
qualidade da formação profissional, o valor da pesquisa pura em relação à pesquisa
aplicada. A partir de uma perspectiva histórica, a autora apresenta a evolução da EF
nos EUA e aponta divergências sobre a formação profissional desde as últimas
décadas do século XIX. A autora mostra as diferenças no conteúdo e duração dos
cursos que variavam de 1 a 4 anos, além de declarar que muitas instituições
preparavam seus professores de forma superficial.
Mechikoff e Estes (1998) levantaram a contenda sobre a formação do
professor de EF nos EUA, no século XIX e início do século XX. Uma formação que,
naquele momento, não atendia às diferentes necessidades sociais, quer dizer, não
era adequada tanto ao trabalho no ensino formal como não-formal, por exemplo, em
playgrounds, colônias de férias e programas de atividade física. Segundo os
autores, a urgência em atender o mercado de trabalho limitou a qualidade da
formação dos profissionais da EF.
Logo, o país sentiu a premência em criar cursos de formação para
profissionais de EF. Assim, de acordo com os autores, o primeiro curso em nível
superior foi criado em 1901, na Teachers College-Columbia University. A fraca
condição física dos convocados para a I Guerra Mundial acelerou-se a condição
compulsória da EF e, como resultado, em 1921, a EF foi inserida como disciplina
obrigatória nas escolas públicas de 28 estados norte-americanos (MECHIKOFF e
ESTES, 1998).
51
Os autores identificaram uma mudança de paradigma na EF a partir do
fracasso do modelo anterior cujos objetivos focavam o desenvolvimento da saúde e
do fitness por meio principalmente da prática da ginástica. Segundo Mechikoff e
Estes (1998) esses objetivos foram subjugados por objetivos que promoviam o
desenvolvimento social e pela a adoção de novas atividades como os esportes e os
jogos.
Ainda nos EUA, junto com a adoção dos desportos na EF emergiram,
também, as competições escolares. Com intuito de dirigir suas equipes, as escolas,
tanto as públicas quanto as privadas, passaram a contratar os técnicos ou
coaches”. Estes profissionais não eram necessariamente professores com título
universitário em EF, mas ministravam as aulas de EF. Instaurou-se, então, um
problema de identidade profissional da EF no que tangia à participação de técnicos
esportivos, sem domínio do corpo de conhecimentos da EF e sem formação
universitária. A contratação de tal profissional provocou polêmica e desgaste no
campo, nos EUA.
Atualmente todas as atividades corporais, esportes, fitness e jogos, estão
inseridas nos programas escolares de EF nos EUA. Segundo Mechikoff e Estes
(1998), os profissionais norte-americanos de hoje são bem formados e estão
preparados para assumir ambas as funções, a de professor e a de técnico esportivo.
Mas, continua existindo uma grande diferença entre a posição de professores de EF
e cnicos esportivos׃ estes últimos dificilmente são encontrados liderando
departamentos de EF nas Universidades, por exemplo.
Fica evidente aqui o valor da formação acadêmico-científica para atuar na
Universidade, enquanto que para o técnico a vivência desportiva e o conhecimento
técnico são fundamentais.
52
1.3.2. Produção acadêmico-científica em EF
Como se a produção acadêmico-científica em EF? Como é avaliada e entendida
a produção em virtude do caráter multidisciplinar da área? Questões como estas
permeiam os debates em torno da produção acadêmica em EF, oriunda
essencialmente dos programas de pós-graduação, os quais vivem momentos de
insatisfação frente às formas de avaliação dessa produção.
A seguir, o explicitadas as posição de alguns autores sobre se a EF é
ciência, o seu objeto de estudo e método, além de outras dicotomias.
Com base em dados da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de
Nível Superior (CAPES) sobre a produção internacional de Pós-graduação (PG) de
diferentes áreas, Kokubun (2003) afirma que a produção intelectual total da EF é
muito baixa, se comparada à produção total das grandes áreas do conhecimento. O
autor também demonstra que a produção de artigos em periódico oriundos das PGs
em EF é menor do que, por exemplo, das Humanidades. Por outro lado, ele
apresenta dados indicando que as PGs em EF publicam proporcionalmente maior
número de livros e capítulos do que as PGs em Humanidades. Com base nesta
comparação, ele se mostra contrário com o freqüente argumento da produção das
PGs em EF ser baixa por estar ancorada em temas socioculturais e pedagógicos
baseado na justificativa de que estas áreas veiculariam suas produções
predominantemente em forma de livros e capítulos. Para ele, a baixa produção
“ilustra a grande deficiência que vem, há anos, sendo apontada como o maior
desafio da área” (KOKUBUN, p.23, 2003).
Kokubun afirma que a “atual indefinição da identidade da área pautada,
sobretudo em polarizações (acadêmica ou profissional, ciências naturais ou
humanidades, saúde ou educação), em nada contribui para o futuro da PG” (2003,
53
p.15). Além disso, concorda com Tani (2000) que aponta como um dos desafios
para a melhoria da PG em EF a reflexão sobre a base epistemológica dos
programas, bem como, o aumento da quantidade e qualidade da produção
intelectual e redução da heterogeneidade da produção docente.
Para Betti et al. (2004), no entanto, o perfil multidisciplinar torna impossível a
formação de uma unidade epistemológica para a pesquisa em EF. Apontam,
também, diversas dicotomias que a área tenta superar, tais como: pesquisa básica
versus aplicada, disciplina acadêmica versus profissão, ciências naturais versus
humanidades. Os autores criticam os critérios de avaliação utilizados pela CAPES
no que diz respeito à pós-graduação em geral e da EF em especial. Questionam a
acentuada preocupação com a quantidade de publicação e não necessariamente
com a qualidade das mesmas.
Os autores discordam de Kokubun, pois consideraram que a temática
pedagógica/sociocultural tem as suas especificidades como a produção de trabalhos
de natureza local, baixa publicação de artigos e maior publicação de livros,
diferentemente das subáreas biológica e exatas, as quais apresentam maior
facilidade para inserção internacional. Advogam que os critérios de avaliação
utilizados na grande área das Ciências da Saúde, onde se enquadra a área
Educação Física, não atendem às especificidades da temática sociocultural da EF.
Sugerem que a manutenção dos atuais critérios de valoração das publicações
poderá provocar a migração dessa temática da grande área Saúde para grande área
Humanidades, onde se encontra a área da Educação. Segundo os autores, esta
última aparentemente usa critérios mais compatíveis com o perfil de produção dos
docentes da EF que se debruçam sobre questões pedagógica/sociocultural.
Entretanto, estes autores corroboram a afirmativa de Kokubun (2003) ao
54
sustentarem que a proporção das publicações internacionais da pós-graduação
(incluindo artigos, livros, capítulos e anais) na área de EF (5%) é muito baixa em
relação à produção da pós-graduação no Brasil (30%).
Em resposta às criticas de Betti et al. (2004), em relação à falta de unidade
epistemológica da EF mencionada por Kokubun no artigo publicado em 2003,
Kokubun (2004) se justifica, indicando a existência de um debate recorrente na EF.
Debate este que confronta as pesquisas em EF, que se valem dos conhecimentos
oriundos das ciências naturais (às quais se convencionou chamar de Biodinâmica),
com aquelas que buscam seu alicerce nas ciências sociais e humanidades
(denominadas de socioculturais). O autor também concebe a EF como uma área de
conhecimento plural e multifacetada. Por esse motivo, considera importante admitir
a existência de diferentes abordagens e temáticas e considera também necessário o
diálogo entre os diversos interlocutores. Além disso, diferente do primeiro artigo, em
que considerou dados do triênio 1998-2000 (KOKUBUN, 2003), o autor apresenta
dados do triênio 2001-2003, os quais revelaram um enorme crescimento da
produtividade docente. Por fim, aponta que a valorização da produção intelectual
das temáticas socioculturais da pesquisa em EF é um desafio a ser enfrentado na
avaliação da área (KOKUBUN, 2004).
Bracht (2007) entende que, na história da consolidação do campo EF, se
buscou alicerçar a produção do conhecimento em EF em disciplinas científicas não
da área biológica, como também, mais recentemente, em disciplinas ligadas às
ciências humanas, com o propósito de transformar a EF em uma ciência. Entretanto,
o autor considera que a pesquisa em EF tem sua identidade epistemológica
ancorada fortemente nas ciências-mãe. Para ele, a EF não é capaz de oferecer uma
identidade epistemológica própria a essas pesquisas. A pesquisa em Fisiologia do
55
Exercício não é ciência da EF e, sim, Ciência Fisiológica, assim como História do
Esporte não é ciência do Esporte e, sim, Ciência Histórica.
Passando para a discussão referente ao dualismo pesquisa básica versus
aplicada, alguns autores (BETTI et al, 2004; BRACHT, 2007) acreditam que, quando
pensada na perspectiva da construção do conhecimento sobre seu objeto de estudo
(a motricidade humana ou movimento humano), a pesquisa em EF apresenta o
caráter sico. Por outro lado, quando considerada sob o ponto de vista do
desenvolvimento de recursos para intervenção e atuação profissional na EF, é
concebida como pesquisa de natureza aplicada.
Massa (2002) advoga que as pesquisas desenvolvidas nessas disciplinas não
resultam na formação de um corpo integrado de conhecimentos em EF, capaz de
dar a esperada identidade acadêmica à área. Ao contrário, cita Lima (1994) que
afirma que os pesquisadores em EF têm se aproximado daqueles das disciplinas-
mães e se distanciado da EF, propriamente dita.
Massa (2002) pergunta se a EF pode ou não ser considerada uma disciplina
acadêmica e se uma área de conhecimento precisa ser uma disciplina acadêmica
para estar no ensino superior. Para ele, o que caracteriza uma disciplina acadêmica
é ter um foco ou objeto particular de estudo, com uma metodologia própria e um
corpo único de conhecimento. Nesta linha de pensamento, ele encontra
concordância com Mariz de Oliveira (1993), que afirma que a EF não se caracteriza
como uma disciplina acadêmica. A EF não apresenta métodos próprios e não possui
objeto único de investigação. Para Mariz de Oliveira (1993), tal condição não é
demérita e não a excluí do contexto acadêmico. Segundo ele, o que importa é
produzir e acumular conhecimento (entendimento, explicação) sobre a motricidade
humana (área temática integrativa de ciência e pesquisa).
56
O’Hanlon & Wandzilak (1980 apud MASSA, 2002) discutem se a EF teria no
Movimento Humano uma área integrativa de ciência e pesquisa. Entretanto,
Renshaw (1973 apud MASSA, 2002) destaca que é preciso ter clareza de que o
Movimento Humano não é objeto exclusivo de estudo da EF.
Dessa forma, Massa (2002, p.35) compartilha com Mariz de Oliveira (1993),
Renshaw (1973) e Renson (1989) o pensamento de que para a consolidação do
campo de conhecimento em EF, os pesquisadores devem se
“preocupar em ter um relacionamento acadêmico sólido que possua o
Movimento Humano como ‘tema’ essencial de investigação e pesquisa.
Podendo, com sentido integrativo, ‘tomar emprestadas’ metodologias de
outras áreas e disciplinas genuinamente acadêmicas para estudar o
Movimento Humano a partir das questões que emergem da prática
profissional da EF e, portanto, formar um conhecimento exclusivo da
área”.
Guedes e Rubio (2004) ressaltam que, apesar do aumento da produção de
conhecimento em EF como disciplina acadêmica nos últimos anos, muitas vezes
não se consegue identificar na mesma proporção as contribuições dos estudos
sobre o movimento humano. Declaram que ainda existe uma resistência muito forte
para o entendimento das especificidades metodológicas e diretrizes teóricas das
subáreas que começaram a fazer parte do cenário das investigações científicas. As
autoras ainda destacam a subárea compreendida como estudos socioculturais do
movimento humano. Embora esta se encontre consolidada em diversos países,
recebendo a devida atenção e compreensão por parte da comunidade acadêmica
(com organizações fortes, revistas científicas de impacto e programas de mestrado e
doutorado), no Brasil, é ainda vista com um misto de desconfiança e preconceito.
Isto porque possui metodologia e perspectiva investigativa distintas de um fenômeno
considerado do âmbito das ciências biológicas até pouco tempo.
57
Segundo as autoras,
A proposta do estudo do movimento humano a partir de uma abordagem
macro social deveria trazer para a Educação Física argumentos e
metodologias tanto das Ciências Sociais, como da História, da Filosofia,
da Sociologia, da Antropologia, da Psicologia e da Pedagogia,
diretamente relacionados a questões do esporte e da atividade motora
ampliando para além do âmbito anátomo-fisiológico a compreensão
desses fenômenos (GUEDES, 2000 apud GUEDES e RUBIO, 2004).
As autoras consideram que “embora a Educação Física tenha construído seu
edifício acadêmico alicerçado em conhecimentos produzidos em uma perspectiva
biológica (TANI, 2000) a produção com enfoque sociocultural vem ganhando
adeptos e força”. E finalizam afirmando que “o movimento humano não é um evento
per se., ele acontece num determinado contexto, devido a algum estímulo, tem um
significado e traz consigo marcas indeléveis da personalidade de quem o executa”.
(GUEDES, não publicado, p.21
apud GUEDES e RUBIO, 2004
).
no contexto norte-americano, a necessidade do mercado, no início do
século XIX, gerou a criação de uma variedade de cursos, cada qual com um
currículo, pouco respeitável, com conhecimento superficial e sem levar ao
desenvolvimento de uma vivência científica. Assim, era comum que os
departamentos de EF fossem ocupados por profissionais de outras áreas. Sobre
isso, Park (1989) faz o seguinte comentário:
While there certainly were individuals in departments of physical
education who made important contributions to basic science and
scholarship during the half century between 1910 and 1960, the vast
majority of faculty members were occupied with practical, clinical, and/or
applied activities (Park, 1989, p. 13.).
Foram estes profissionais que conduziram a pesquisa norte-americana em EF
nas primeiras décadas do século passado. Entretanto, a autora indica uma mudança
no perfil da pesquisa em EF nos EUA, que apresenta um crescimento, tanto
qualitativo como quantitativo, a partir de 1960. Park explica, também, que tal
58
mudança gerou conflito entre aqueles que apresentam o ponto de vista favorável
aos objetivos profissionais tradicionais da EF e os que são favoráveis às recentes
preocupações com aspirações científicas e acadêmicas da EF.
Park (1989) aponta a participação de um maior número de pesquisadores
capacitados a produzirem novos conhecimentos na EF, atuando nas universidades
norte-americanas desde os anos de 1970. Ela menciona, ainda, um maior número
de periódicos e as perspectivas de estudos ancorados em disciplinas e métodos
oriundos de diferentes áreas, como as ciências sociais, por exemplo, além das
biológicas.
A autora destaca também, que no debate interno do campo, de um lado o
estigma de um dualismo cartesiano (educação do físico) que acompanha o termo, e,
de outro lado, o estigma pela relação da EF com disciplinas ou temas pedagógicos.
Conclui salientando a importância de uma formação crítica e consistente que
estimule da mesma forma a prática cientifica, o trabalho acadêmico de qualidade e a
prática profissional. Acredita no valor tanto da pesquisa pura quanto aplicada e
reconhece a importância de disciplinas oriundas de áreas diferentes da médica e
biológica para ancorarem os estudos no campo de conhecimento da EF.
Por ser a EF um campo de conhecimento multifacetado lhe é facultada dessa
forma a realização de pesquisas ancoradas em disciplinas de diferentes áreas de
conhecimento. Não se lhe impõe, portanto, que sejam realizadas apenas pesquisas
fundamentadas por disciplinas oriundas da área biológica e/ou das ciências da
saúde, áreas estas reconhecidas e que apresentam um forte poder simbólico devido
à sua tradição histórica no campo.
59
1.3.3. Denominações e concepções para o campo da EF
Educação Física? Ciência do Movimento? Cinesiologia? Qual, enfim, deve ser
a denominação deste campo que tem múltiplas abordagens? Estas e outras
questões semelhantes estão incluídas no debate que ocorre no campo da EF.
Identifica-se no interior desse debate a idéia de que uma relação entre objeto de
estudo e a denominação da área de conhecimento, acreditando-se, assim, que o
uso de uma terminologia mais específica e diferente de EF poderia tornar mais claro
o objeto de estudo da área.
Dentre as propostas de transformações para área encontra-se a mudança do
nome EF. Entretanto, esta proposta esbarra em um entrave maior, relacionado ao
entendimento do que é a EF, um campo científico ou uma área de intervenção?
Em virtude das circunstâncias que envolvem o debate em torno da concepção
de EF, Rocha Júnior (2005) identifica duas vertentes nessas proposições
conceituais: a do viés científico e a do político e/ou cultural. O autor afirma que cada
uma apresenta sua justificativa para a matriz teórica escolhida, definindo, assim, o
papel social da EF e sob que ótica ela deve atender à sociedade.
Quanto à discussão sobre a terminologia “educação física”, alguns autores
consideram que este nome “não mais traz uma significação real ao que se pensa
sobre a área e sobre o que ela deve ser. Esta divergência em relação ao nome vem
significar mais um momento de crise interna, que existe uma diversidade de
proposições que tentam dar-lhe uma nova denominação” (ROCHA JÚNIOR, 2005,
p. 73).
No Brasil e no mundo, existem algumas propostas para se alterar o nome do
campo de EF. Verenguer (1997), Rocha Júnior (2005) e Bracht (2007) apresentam
alguns autores que sugerem os seguintes termos em substituição ao termo EF: 1.
60
Cinesiologia (Tani, 1989; Teixeira, 1993), 2. Ciência do Movimento Humano
(Canfield, 1993; Manoel Sergio, 1995), 3. Ciência da Motricidade Humana (Tojal,
1993) e 4. Ciências do Esporte (Brochado, 1995).
Em oposição a estes, também aqueles que advogam a favor da
manutenção do termo EF, tais como: Bracht (1993), Lovisolo (1995) e Betti (1996).
Apesar de o primeiro grupo acreditar que o uso do termo EF é inadequado
para designar o campo e propor outros termos, os autores deste grupo defendem a
idéia de que a EF é ciência. Entretanto, segundo Verenguer (1997) e Bracht (2007)
a maior parte dos autores que se posiciona a favor da manutenção do termo EF
para designar o campo não entende a EF como ciência, mas como um campo de
atuação eminentemente profissional e de conhecimento aplicativo que deve estar
preocupado com a formulação de intervenção social e/ou pedagógica.
Sem dúvida a o existência de consenso nem mesmo em relação à
denominação do campo é por si um indicativo da crise existente no interior do
campo.
1.3.4. A crise de identidade
Segundo o dicionário da língua portuguesa intitulado: Aurélio Século XXI
(Versão 3.0), identidade é “o aspecto coletivo de um conjunto de características
pelas quais algo é definitivamente reconhecível, ou conhecido”.
Assim, entendendo a EF como um campo de conhecimento regido por
normas e valores de múltiplos interesses, é possível constatar traços da sua
identidade?
Para esta pergunta, alguns autores o categóricos e afirmam que a EF vive
uma crise de identidade. Algumas hipóteses buscam sustentar os motivos que
geraram a crise de identidade da EF. Entre elas a de que tal crise tem sua origem:
61
1) no desenvolvimento da EF e difusão por militares, 2) pela formação inicial de
professores não ter sido em nível superior, 3) pela necessidade de legitimar sua
presença na Universidade, e 4) por apresentar um forte conteúdo prático, condição
esta que propiciou uma das dicotomias mais profundas, teoria versus prática. Neste
caso, o conceito relacionado ao conteúdo prático é de que este valor é menos
valorizado do que o conteúdo teórico; esta condição parece refletida, inclusive, na
maior valoração atribuída à pesquisa básica em relação à aplicada.
Logo, modificar a denominação do campo de conhecimento, levar este campo
a ser reconhecido como ciência, identificar um objeto próprio de estudo e ligar-se a
diferentes disciplinas para fundamentar pesquisas são algumas das estratégias
identificadas para alcançar não somente o status e prestígio no meio acadêmico,
mas uma identidade própria que sustente os diferentes interesses do campo EF.
De acordo com Verenguer (1997), alguns autores consideram que o termo EF
é impróprio para designar o campo pelo fato de acreditarem que este reforça a
dicotomia mente e corpo ou por acreditarem que o termo educação traz apenas a
idéia educacional e o termo física enfatiza a dimensão biológica.
Rocha Júnior (2005, p. 75) sugere que a mudança do termo EF não contribui
para a construção de uma identidade para área, mas pelo contrário,
dar um novo nome para uma nova área tem servido para aumentar a
confusão e as lutas internas da educação física, num confronto entre
grupos que pretendem assumir para si a verdade absoluta e o poder de,
com uma nova denominação, reorganizarem a área. O nome torna-se
quase uma solução mágica.
O autor ressalta a difícil busca no interior do campo, que apresenta um perfil
multidisciplinar, por uma unidade epistemológica.
Este movimento de lutas internas em uma área especializada, onde se
identificam várias relações, como força, poder e interesses, é composto
basicamente por pessoas que acreditam e têm paixão por algo que é o
objeto central, que Bourdieu (1983) chama de campo. Nesta análise, se
valendo de Bourdieu, o autor afirma que estas lutas na educação física se
62
dão na intenção de constituir um campo de conhecimento específico e
unitário (ROCHA JÚNIOR, 2005, p. 75).
Ainda, segundo Rocha Júnior (2005, p. 75-76), autores como Lovisolo (1995 e
2000), Betti (1996) e Bracht (1997 e 1999)
entendem que a educação física é uma área que se pauta na intervenção e
que, portanto, deve ser pensada para além dos dualismos estabelecidos
entre campo científico - área de intervenção, ciências humanas - ciências
biológicas como vem acontecendo, e acreditam numa mediação que
contribuir para que se qualifique o ato de intervenção profissional, nos
vários campos possíveis de atuação de um profissional de educação física.
O autor afirma que “a educação física brasileira traz consigo uma
característica constante, que é a idéia de crise que circula no meio, fazendo com
que pareça ser rotineira e perene. Neste trajeto, dois aspectos sempre se fizeram
presentes: a luta por status acadêmico e a crise de identidade. Pode-se dizer que
um se motivado pelo outro, onde o debate encerra-se numa espécie de
circularidade” (ROCHA JÚNIOR, 2005).
O autor identifica que “pesquisadores vêm tentando reconhecer qual seria o
campo de conhecimento específico da educação física, tentando dar unidade e
identidade própria à educação física, buscando também auferir prestígio para este
campo do conhecimento” (ROCHA JÚNIOR, 2005).
O referido autor afirma, ainda, que
esta busca por prestígio dá-se quando existe um diálogo externo, quando
profissionais de educação física vão produzir ou debater em outras
frentes, indo dialogar ou produzir em áreas diferentes da de sua
formação original. Além disso, esta busca por um objeto de estudo
específico vem da meta de querer tornar a educação física uma ciência,
por entender que assim estaria em condições de obter conhecimento,
de ter uma afirmação no espaço universitário, e também na sociedade
em geral (ROCHA JÚNIOR, 2005).
Rocha Júnior (2005, p. 69) ressalta que a crise de identidade da EF “é
provocada pelo intenso debate acerca da legitimidade social da educação física e do
prestígio de seus profissionais” (ROCHA JÚNIOR, 2005). O autor identifica dois
63
eixos nesta contenda: o primeiro que se refere à luta interna pela busca por status e
legitimidade da EF e o segundo que tem relação com a forma negativa como o
professor de EF vê a si próprio na sua prática diária.
Bracht (2007) apresenta várias questões que têm aparecido nos debates da
área ao abordar o tema da epistemologia em sua obra “Educação Física e Ciência:
cenas de um casamento (in)feliz”. Ele considera a pergunta “se a EF é uma ciência”,
uma questão que assumiu grande importância no debate sobre a identidade da EF.
A partir daí, ele levanta a tese de que a superação da crise de identidade viria com a
afirmação da EF como ciência, isto é, com a definição de um objeto, método e
linguagem próprios.
Para o autor, o fato de a EF nascer na modernidade, época em que a
racionalidade científica era a maneira mais aceitável de ler a realidade, fez com que
ela sofresse a influência do pensamento científico desde a sua origem (BRACHT,
2007).
O autor revela que na produção do conhecimento deste campo predomina o
enfoque disciplinar ou mono disciplinar determinado pela chamada disciplina-mãe.
Ele afirma que parte da crise de identidade da EF vem do desejo desta tornar-se
ciência e da constatação de sua dependência em relação a outras disciplinas
científicas. Assim, afirma que surgiram especialistas, não em EF, mas, em fisiologia
do exercício, em biomecânica, em psicologia do esporte, em aprendizagem motora,
em sociologia do esporte etc. (BRACHT, 2007). Assim, o autor ressalta que dada a
importância e o status que a ciência goza na sociedade e, principalmente, no meio
acadêmico, coloca-se como meta para o campo que a EF torne-se uma ciência.
Bracht (2007, p. 25) aponta a existência de três perspectivas para o campo da
EF, a tentativa de:
64
a. delimitação de um campo acadêmico que teoriza a prática
pedagógica que tematiza manifestações da cultura corporal de
movimento. Um teorizar que estaria voltado para a construção de
uma teoria da EF, entendida enquanto prática pedagógica
[posição adotada pelo autor];
b. construir um campo interdisciplinar a partir das Ciências do
Esporte, em alguns casos, voltada para as necessidades da
prática esportiva;
c. construção de uma nova ciência, a Ciência da Motricidade
Humana.
Essas perspectivas estão associadas a uma disputa por espaços dentro deste
campo, que se reflete nas diversas tentativas de mudar a denominação do termo EF
para outros termos, como Ciências do Esporte, Ciência do Movimento Humano ou
Ciência da Motricidade Humana. É importante ressaltar que estas mudanças são
acompanhadas das respectivas ideologias e interesses que estão associadas a
cada um dos novos termos propostos no que tange ao objeto, metodologia e
conhecimento da área.
Bracht (2007) denuncia a existência de forte pressão no sentido da
construção de um campo acadêmico voltado ao esporte e que a reivindicação de
uma ciência do esporte teria como base a importância sociopolítica (e econômica)
do esporte e a contribuição da ciência para o seu progresso.
O autor entende EF como “uma prática social que tematiza as manifestações
da cultura corporal de movimento com a intenção pedagógica”. Seu ponto de vista é
de que esta prática busca fundamentar-se em conhecimentos científicos, oferecidos
pelas abordagens das diferentes disciplinas.
Sobre a discussão em torno da crise de identidade da EF em outros
continentes, Naul (2003), a partir de uma contextualização histórica da EF, afirma
que atualmente existem muitos diferentes termos e concepções de EF convivendo
na Europa. O autor ressaltou que a década de 1980 foi um período de transição
65
para a EF escolar e, também, de desvalorização dessa disciplina em muitos países
da Europa, quando sofreu influência dos valores de uma sociedade pós-moderna
que provocavam discordância sobre o conceito.
Naul diz que depois deste processo de transição é impossível associar o
conceito europeu de EF a uma única e antiga concepção de Esporte, Educação do
Movimento ou Educação da Saúde, relacionada aos conceitos de EF. A posição do
autor é de que, em tempos de mudança, o melhor é identificar tendências e
desenvolvimentos de correntes oriundos das antigas estruturas da EF, sugerindo,
então, um modelo de vetores.
Ele propõe, para a Europa, um modelo com quatro vetores principais,
suplementados por outros quatro menores, os quais ao serem posicionados entre
dois vetores maiores trazem equilíbrio para os novos programas cujas concepções
de EF estejam posicionadas entre os vetores maiores. Assim, de acordo com o
autor, os conceitos centrais de (1) Educação Física e (2) Esporte originaram outros
conceitos, também considerados centrais, são eles (3) educação do movimento e (4)
educação da saúde (Figura 1).
66
Figura 1: Concepções atuais de EF na Europa.
25
Fonte: Naul (2003)
A partir destes vetores, o autor identifica um processo de renovação e
desenvolvimento da EF na Europa. Este processo teria como propósito equilibrar as
antigas concepções centrais de EF com concepções mais recentes (vetores
menores entre os vetores centrais), representando, assim, o desenvolvimento de um
espectro de concepções e tendências da EF na Europa para o milênio. Assim, o
modelo demonstra que mais recentemente, paises como a França, Itália, Alemanha
e Áustria apresentam concepções de EF dirigidas à educação do movimento.
Enquanto que países como a Suécia, a Grã Bretanha, a República Tcheca e a
Bélgica voltam-se para concepções ligadas à educação da saúde.
Esse modelo de vetores abarca diferentes concepções de EF. Dessa forma
permite que a dinâmica da produção do conhecimento favoreça o desenvolvimento
25
Definições das abreviações da figura 1: SWE – Suécia; GBR – Grã Bretanha; FRAFrança; GER
Alemanha; AUT Áustria; ITA Itália; BEL Bélgica; CZE República Tcheca; FIN Finlândia;
NED – Holanda.
67
de outros vetores. A partir de características comuns de concepções
consolidadas, novas concepções podem ser geradas e, assim, equilibrar a tensão
dentro do campo pela disputa de uma identidade.
Mechikoff e Estes (1998), a partir de um estudo histórico, apresentam o
desenvolvimento do campo de conhecimento da EF nos EUA. Nesse trabalho, os
autores esclarecem que, no contexto norte-americano, a EF surgiu como uma
subdisciplina da medicina, voltada para minimizar problemas de ordem social
ligados à saúde da população. Assim, os conhecimentos que inicialmente deram
suporte à EF vieram da medicina e das ciências biológicas. O corpo de
conhecimento da EF ancorado nestas ciências tinha por propósito desenvolver a
saúde e promover concepções de higiene por meio de diferentes métodos
ginásticos.
Segundo os autores, termos como ginástica, cultura física, treinamento físico
e educação física eram utilizados, praticamente, como sinônimos para designar os
programas sistematizados de exercícios físicos que emergiam no período entre
1830 1860; o fato do corpo de conhecimento da EF ter sido, inicialmente,
estruturado com base em uma variedade de fontes como a fisiologia, anatomia,
biologia e, principalmente, a medicina, provavelmente tenha originado a crise de
identidade do campo, dificultando a definição do seu objeto ou foco de pesquisa.
Na análise de um período de 30 anos (1954-1984) de sua carreira, Sage
(1984) apresenta sua visão sobre as questões que atravessaram o campo da EF.
Ele considera que muitas questões importantes foram discutidas nesse período e
avalia que foi uma fase extremamente dinâmica da história. Mas, aponta a questão
da identidade do campo como a questão mais endêmica, a qual se deparou durante
todo seu exercício na profissão.
68
O autor afirma que atualmente a questão sobre a identidade do campo tem
várias dimensões, porém, ele se atém, principalmente, àquelas relacionadas aos
problemas da instrução básica, aos aspectos acadêmicos disciplinares do campo e
à preparação profissional. Ele também afirma que alguns programas surgiram para
estabelecer uma instrução básica em EF para todos os alunos, o que, de certa
forma, legitimou a presença da EF nas instituições de ensino médio e superior. O
autor alega que alguns aspectos contribuíram para o desgaste e eliminação da EF
em diversas instituições, tal como a separação entre EF e Esporte (este último
enfatizando agora a competição). Motivadas por diferentes interesses, as
instituições passaram a contratar os ”técnicos” para dirigirem suas equipes, os
quais, pela baixa qualificação e interesse em ministrar aulas de EF, colaboraram
para o declínio de sua qualidade. Como conseqüência os alunos, também, perderam
o interesse pelas mesmas.
O autor menciona ainda que, nas duas primeiras décadas do século XX, o
programa de instrução básica em EF, nos EUA, ficou relegado à atuação de
profissionais com pouca experiência e competência, em detrimento da preocupação
com a formação de professores para atuarem no ensino superior. Portanto, formou-
se um ciclo que provocou a perda de status e decadência do programa básico de
ensino da EF.
A outra dimensão dessa crise observada pelo autor envolve o papel da EF
como disciplina acadêmica, nos avanços do conhecimento sobre o movimento
humano e da preparação profissional para trabalhar com o movimento. O autor
comenta que faltou um compromisso com a pesquisa básica, com estudos
acadêmicos sobre o conhecimento e os métodos na EF, bem como, para com
preparação profissional.
69
O autor salienta, também, que a preparação profissional enfatiza a formação
de professores. Mas afirma que, nesses 30 anos analisados, o estilo de vida
americano passou por uma verdadeira revolução social e de empreendimentos
comerciais que dão suporte a uma sociedade centrada na saúde e no lazer.
Portanto, existe uma demanda de profissionais da EF para atenderem às novas
necessidades e interesses dessa sociedade, que o se trata apenas do ensino
formal. Considera que o campo de EF despendeu muito tempo na busca por uma
identidade no ensino superior e está sendo lento na busca por respostas às
necessidades sociais mais recentes.
Para se minimizar a crise de identidade do campo talvez seja o momento de
se preocupar em identificar os pontos comuns nas concepções existentes e
reconhecer o caráter multifacetado da EF, para que a partir de características mais
gerais sejam desenvolvidos conceitos que satisfaçam à maioria do campo.
70
2. CAPÍTULO 2 – TEÓRICO METODOLÓGICO
Neste capítulo são apresentados os marcos teóricos, assim como a
metodologia usada neste trabalho. Começamos com a vida e obra de Pierre
Bourdieu e os principais conceitos que o autor aplica para a atividade da ciência,
segundo os quais debruçamos nossa reflexão crítica acerca do campo da EF. Em
seguida, é apresentada a Cientometria, cujas análises e técnicas foram adotadas
como estratégia metodológica para, após definido o universo da pesquisa, coletar,
organizar e analisar os dados deste estudo. Por fim, são apresentados a definição
do problema da pesquisa, a justificativa, os objetivos e a delimitação do estudo.
2.1. VIDA E OBRA DE PIERRE BOURDIEU: CONCEITOS SOCIOLÓGICOS
Pierre Bourdieu é considerado um dos grandes sociólogos do século XX
(VASCONCELLOS, 2002). Na opinião de Lahire (2002), a obra de Bourdieu
propunha uma das mais estimulantes e complexas orientações sociológicas
contemporâneas. Entretanto, sua obra suscitava, no campo da sociologia francesa,
desde atitudes de desprezo a atitudes de idolatria entre os pesquisadores da área.
2.1.1. Breve bibiografia
Pierre Felix Bourdieu nasceu em agosto de 1930, em Béarn, uma região rural
do sudoeste da França, encravada no pé dos Pirineus (WACQUANT, 2002). Por ser
filho de um funcionário dos correios teve suas trajetórias política e intelectual
influenciadas por sua origem modesta (VALLE, 2007).
Crítico contundente da sociedade capitalista, ele escreveu sobre um vasto
campo de conhecimento nas áreas da cultura, política, educação, mídia e literatura.
Como sociólogo, Bourdieu é um dos intelectuais franceses de maior projeção
71
internacional. Procurou demonstrar as injustiças sociais e econômicas, bem como
desvelar o que não é revelado pela mídia por meio do olhar da sociologia
(GLOBONEWS.COM, 2002).
Segundo Vasconcellos (2002), Bourdieu empreendeu uma leitura das
relações sociais com o propósito de desvendar os mecanismos de dominação
dissimulados na sociedade. Para esta análise, lidou com uma diversidade de setores
da sociedade francesa, como campesinato, artes, escola, bispos, patronato, política,
consumo, cultura, mídia, desporto etc. Nessa leitura do ser humano como agente
social, Bourdieu fundamentou suas análises em disciplinas como Sociologia,
Antropologia, Etnologia, Filosofia, Lingüística, Economia, História, entre outras. Para
a autora, muitos o consideram um pesquisador inovador talvez por trazer novas
interrogações em cada uma dessas disciplinas.
Bourdieu estudou na École Normale Supérieure, uma instituição de grande
prestígio na França, na área da Filosofia. Contudo, apesar de graduado em
Filosofia, foi cumprir o serviço militar na Argélia, durante a guerra travada pela
independência desse país, que se encontrava sob o domínio francês, no período de
1954 - 1962. Durante sua permanência na Argélia, percebeu a mudança que ocorria
no sistema de agricultura desse país que passava de um modelo tradicional para um
sistema de capitalismo moderno.
Em sua obra, Bourdieu procurou responder algumas questões, tais como:
Como funciona a dominação dos dominadores sobre os dominados? Por que ela se
reproduz e é vista muitas vezes como legítima e natural pelos dominados? Para
chegar a uma resposta, Bourdieu, ao longo de 40 anos, observou populações de
todos os tipos, desde os camponeses argelinos até patrões, jornalistas e operários,
buscando desmontar os mecanismos da dominação (GLOBONEWS.COM, 2002).
72
2.1.2. Obra e principais conceitos
Da vasta obra deste autor, serão apresentadas a seguir algumas delas;
aquelas nos quais alguns dos conceitos formulados por Bourdieu e que serão a
base de nossa reflexão teórica - habitus, capital cultural, violência simbólica, campo,
campo científico e capital científico.
A transformação do campesinato na Argélia ao capitalismo moderno permitiu
que Bourdieu desenvolvesse seus estudos sobre a emergência do capitalismo e as
transformações no espírito da organização social e política dessa sociedade. Dessa
forma, a vivência de Bourdieu na Argélia propiciou a produção de muitos trabalhos –
“Sociologia da Argélia” (1958), “Argélia ano 60” (1977), Le “Deracinement” (1964),
“Trabalho e trabalhadores na Argélia” (1963), “Celibato e a condição camponesa”
(1962) (VASCONCELLOS, 2002).
Na obra intitulada “Trabalho e trabalhadores na Argélia”, Bourdieu
desenvolveu um dos conceitos-chave da sua teoria, o conceito de habitus
(BOURDIEU, 2004). O autor define habitus “como um sistema de disposições
duráveis, estruturas estruturadas predispostas a funcionar como estruturas
estruturantes” (1980 apud ORTIZ, 1983, p. 61). Para Vasconcellos (2002), o
conceito de habitus corresponde a uma matriz, determinada pela posição social do
indivíduo que lhe permite pensar, ver e agir nas mais variadas situações, traduzindo,
assim, estilos de vida, julgamentos políticos, morais, estéticos. São, portanto, essas
disposições adquiridas que terminam por orientar as escolhas e as ações dos
indivíduos.
Na França, Bourdieu foi eleito, em 1964, orientador de pesquisa da Ecole des
Hauts Etudes en Sciences Sociales. Passou, então, a trabalhar nesta instituição com
Jean Claude Passeron, também filósofo (BOURDIEU, 2004). De acordo com
73
Vasconcellos (2002), juntos questionaram o ideal republicano de igualdade de
oportunidades, bem como a relevância do sistema de ensino como forma de garantir
igualdade social.
Na obra Les héritiers” (1964), Bourdieu e Passeron defenderam que os
estudantes mais abastados tinham maior possibilidade de sucesso escolar do que
os menos abastados. Bourdieu demonstra, assim, que existe uma relação entre a
cultura e as desigualdades escolares, ao afirmar que a escola pressupõe certas
competências que são de fato adquiridas na esfera familiar (BAUDELOT, 2002 apud
VASCONCELLOS, 2002).
De acordo com Cunha (2007), a obra “Les héritiers” foi considerada uma
sociologia das desigualdades sociais diante da escola e da cultura. Neste trabalho o
autor desenvolve o conceito de capital cultural, que
para se tornar operacional, exige dispositivos que arbitrem e definam a
cultura de um determinado grupo como a cultura legítima e que se
constituam como instância de validação da posse dessa (ou do
pertencimento a essa) cultura, emitindo indicadores, na forma ou o de
certificados, que dão entrada às posições reservadas àqueles que detêm
essa cultura (ALMEIDA, 2007, p. 50 apud CUNHA, 2007, p. 506).
O capital cultural é constituído através da ação direta dos hábitos culturais
familiares e das disposições herdadas do meio de origem (CUNHA, 2007). A posse
desse capital abre caminho para o sucesso e denota distinção, que reflete a cultura
transmitida pela família.
Para Cunha (2007), a posse de “capital” permitiria o acesso a percursos
escolares marcados pelo sucesso e pela distinção, legitimando, pela via da escola,
um “patrimônio” familiar a cultura transmitido por herança às futuras gerações
entre famílias de classe social favorecida. Para Bourdieu (1998, apud CUNHA), o
74
capital cultural constitui o elemento da herança familiar que teria o maior impacto na
definição do destino escolar.
Assim, a autora afirma que “neste sentido, convém salientar que a posse
desse novo capital pode derivar de investimentos culturais diversos e que o que
assegura, de fato, a reprodução deste capital (distintivo) é a sua transmissão
(CUNHA, 2007, p. 519).
Na obra La Reproduction” (1970), Bourdieu apresenta o conceito de
violência simbólica e através desse conceito “ele tenta desvendar o mecanismo
que faz com que os indivíduos vejam como ‘natural’ as representações ou as idéias
dominantes” (VASCONCELOS, 2002, p. 80).
Bourdieu (2005, p. 7) define o poder simbólico como “o poder invisível o qual
pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que não querem saber que lhe
estão sujeitos ou mesmo que o exercem”. Esse poder é posto em ação na
sociedade por meio de sistemas simbólicos (arte, religião, língua, educação,
ciência), que exercem seu poder estruturante porque são estruturados (BOURDIEU,
2005). É por meio da ideologia que serve aos interesses da classe dominante que
esse poder estabelece as hierarquias e a organização da sociedade.
Para Vasconcellos (2002, p. 80), “a violência simbólica é desenvolvida pelas
instituições e pelos agentes que as animam e sobre a qual se apóia o exercício da
autoridade”. A autora afirma que:
Bourdieu considera que a transmissão pela escola da cultura escolar
(conteúdos, programas, métodos de trabalho e de avaliação, relações
pedagógicas, práticas lingüísticas), própria à classe dominante, revela uma
violência simbólica exercida sobre os alunos de classes populares
(VASCONCELLOS, 2002, p. 80-81).
Bourdieu (1990 p.163) ressalta que “os que exercem a violência simbólica são
possuidores de capital simbólico que não é outra coisa se não o capital econômico
75
ou cultural quando conhecido ou reconhecido, quando conhecido segundo as
relações de força tendem a reproduzir e reforçar as relações de força que
constituem a estrutura do espaço social”.
A preocupação de Bourdieu com as questões sociais alimentou seus estudos
sobre o processo de diferenciação social. Assim, no trabalho nomeado La
distinction(1979) ele procura elaborar uma correspondência entre práticas culturais
e classes sociais, bem como o princípio que legitima a hierarquia implícita
(VASCONCELLOS, 2002, p.81).
Vasconcellos (2002, p.82), afirma que:
em La distinction”, Bourdieu expõe duas idéias centrais e originais. De um
lado, as relações de poder como categoria de dominação o analisadas
pela metáfora do capital cultural no qual se apóia o principio de reprodução
social. De outro, o entrecruzamento das relações de poder com as várias
formas de ações organizadas favorece a capacidade dos indivíduos para
elaborar estratégias que, todavia, não ultrapassam as relações de
desigualdades sociais.
Com base na lógica de mercado, que é intrínseca a todo tipo de produção,
Bourdieu elabora o conceito de campo, o qual é aplicado em análises da produção
de diferentes esferas da sociedade, como, por exemplo, artes, educação, economia,
moda, literatura e ciência.
O conceito de campo se deu no bojo de várias obras, entre elas o artigo sobre
“Le marché dês biens savants” (1971), no qual Bourdieu
propõe as bases da análise do campo da produção, introduzindo a distinção
entre a produção erudita” restrita, visando o público produtor de idéias e
seus próprios concorrentes. No artigo sobre a “Especificidade do campo
científico e as condições sociais do progresso da razão” (1975), ele introduz
os conceitos de campo e de capital científico, rompendo com a tradição
sociológica dominante na sociologia da ciência e da “comunidade científica”
(VASCONCELLOS, 2002, p.82).
76
Bourdieu (2004, p.20) diz que para desenvolver a noção de campo partiu de
uma idéia simples, a de que:
Para compreender uma produção cultural (literatura, ciência, etc.) não basta
referir-se ao conteúdo textual dessa produção, tampouco, referir-se ao
contexto social contentando-se em estabelecer uma relação direta entre o
texto e o contexto... Minha hipótese consiste em supor que, entre esses dois
pólos, muito distanciados, entre os quais se supõe, um pouco
imprudentemente, que a ligação possa se fazer, existe um universo
intermediário que chamo o campo literário, artístico, jurídico ou científico, isto
é o universo no qual estão inseridos os agentes e as instituições que o
produzem, reproduzem ou difundem a arte, a literatura ou a ciência. Esse
universo é um mundo social como os outros, mas que obedece a leis sociais
mais ou menos específicas.
O autor define campo como “lugares de relação de forças” (BOURDIEU,
2004, p.27). No que concerne à ciência o autor trata do conceito de campo
científico no artigo sobre a “Especificidade do campo científico e as condições
sociais do progresso da razão” (1975), neste trabalho introduz os conceitos de
campo e de capital científico. Define, então, campo científico como um “campo de
forças e um campo de lutas para conservar ou transformar esse campo de forças”
(BOURDIEU, 2004, p. 22-23).
Nas palavras de Bourdieu (1976), o campo científico,
enquanto sistema de relações objetivas entre posições adquiridas (em lutas
anteriores) é o lugar, o espaço de jogo de uma luta concorrencial. O que es
em jogo especificamente nessa luta é o monopólio da autoridade científica
definida, de maneira inseparável, como capacidade técnica e poder social;
ou se quisermos, o monopólio da competência científica, compreendida
enquanto capacidade de falar e de agir legitimamente (isto é, de maneira
autorizada e com autoridade), que é socialmente outorgada a um agente
determinado.
Portanto, o capital científico é definido pelo autor como uma “espécie
particular do capital simbólico (o qual, sabe-se, é sempre fundado sobre atos de
conhecimento e reconhecimento) que consiste no reconhecimento (ou no crédito)
atribuído pelo conjunto de par-concorrentes no interior do campo científico”
(BOURDIEU, 2004, p.26). Esse capital “assegura um poder sobre os mecanismos
77
constitutivos do campo e que pode ser convertido em outras espécies de capital”
(BOURDIEU, 1976). Assim, o capital científico é o reconhecimento, isto é, a
reputação, a autoridade, a competência e o prestígio conquistados pelos trabalhos
dos pesquisadores ao serem examinados e valorados pelos pares (também
concorrentes).
2.2. CIENTOMETRIA
A ciência moderna, tal como conhecemos atualmente, produz conhecimento
que é disseminado por meio de publicações científicas, cada vez mais
especializadas, as quais contribuem para que a própria ciência possa se
desenvolver. Assim, a comunicação científica escrita pode ser considerada a
manifestação, o espelho, desse conhecimento que é produzido nos laboratórios de
todo o mundo.
O florescimento da ciência moderna tem início formal a partir do século XVII,
quando surgem as primeiras sociedades e academias científicas. Era este o lugar
onde especialistas de diversas áreas do saber se reuniam para apresentar e discutir
seus estudos. Foi também o lugar onde o conhecimento relatado era transcrito e
apresentado em forma de atas, as quais posteriormente se transformaram nos
primeiros periódicos. Assim, os periódicos científicos, desde a sua origem, tiveram
como função a divulgação científica.
Desde o seu surgimento, no século XVII, os periódicos científicos passaram
a desempenhar importante papel no processo de comunicação da Ciência.
Eles surgiram como uma evolução do sistema particular de comunicação que
era realizado por meio da troca de cartas entre os investigadores e das atas
ou memórias das reuniões científicas (NETO & NASCIMENTO, 2002).
78
De acordo com Braga (1974, p. 160), “toda a moderna literatura científica
originou-se da correspondência trocada entre personalidades como Henry
Oldenburg e Mersenne, da então incipiente Royal Society of London”.
A autora descreve o processo que caracterizou a transformação da
comunicação cientifica que inicialmente acontecia sob a forma de correspondência
pessoal até o surgimento dos periódicos que permitia uma maior visibilidade do
conhecimento pelos pares. Afirma que com a franca ascensão dos periódicos no
século XVIII, o livro passa a ser usado para condensar o conhecimento
solidificado. E que no século XIX, as publicações em periódicos, papers, tornaram-
se veiculo central na comunicação científica. Além disso, aponta, como
características dessa mais recente forma de comunicação entre os cientistas, o uso
de notas de rodapé, citações e da linguagem impessoal, sob o pretexto de preservar
a Ciência da subjetividade (BRAGA, 1974).
Para Meadows (1974, p. 66), “the scientific journal, as we know it, grew out of
the seventeenth century revolution in science”. O autor afirma que no início as
correspondências e as revistas científicas preenchiam diferentes funções. Ainda no
século XVII, as revistas não eram vistas como uma forma definitiva de publicação e
as principais pesquisas continuavam a ser publicadas no formato de livro.
A partir do século XIX, a atividade científica foi incorporada pelas
Universidades. Este novo modelo de Universidade, que surgiu na Alemanha,
conferiu à atividade científica um novo status: a de atividade social, uma atividade
que tem um lócus, regras e normas próprias (BEN-DAVID, 1963). A partir daí, a
ciência passou a atrair um número cada vez maior de pessoas e, com mais
cientistas no mundo, um número cada vez maior de conhecimento é produzido. Este
79
novo cenário gera uma demanda por publicações mais rápidas, de menores custos,
o que favoreceu o surgimento, cada vez maior, de revistas científicas.
De fato, o século XX é marcado por uma a explosão de conhecimento,
essencialmente estimado pelo número de papers. Assim, é dentro deste contexto,
que o paper passa a ser reconhecido como a principal forma da comunicação
científica da ciência moderna; um elemento que reflete o conhecimento que é
produzido nos laboratórios de todo o mundo.
Com base nesta prerrogativa, já no início do século XX, começam a ser
desenvolvidos estudos sobre a evolução e dispersão de papers, o início de uma
área do conhecimento que, posteriormente, seria denominada de a Ciência da
Ciência
26
ou, mais recentemente, Bibliometria e/ou Cientometria.
Um dos estudos pioneiros foi realizado por Alfred J. Lotka em 1926
(GLÄNZEL, 2005). Mas, foi Derek de Solla Price, doutor em Física e em História da
Ciência (BRAGA, 1974), quem definitivamente contribuiu de forma mais significativa
para a consolidação desta área, com a publicação do livro Little Science-Big Science
(1963) Neste trabalho, Price descreveu as mudanças ocorridas na atividade
científica, essencialmente no período pós - Guerra Mundial, dentre elas, a
comunicação científica.
De acordo com Braga, Price descreveu a natureza da ciência, da
comunicação e da produção científica. Ele observou um padrão de crescimento na
comunicação científica que seguia um fator exponencial (Figura 2). Assim, segundo
o autor, a literatura científica dobra de volume aproximadamente a cada 10-15 anos.
Esse comportamento foi observado por Price para as publicações científicas e
resumos. Um dado interessante que ele apresentou é que quando os artigos de
26
De acordo com Braga (1974), essa terminologia foi utilizada pela primeira vez em 1935, por Maria e
Stanislaw Ossowski.
80
revisão começavam a ser publicados, o quantitativo de periódicos que existia
girava em torno de 300.
De acordo com Braga (1974, p.157),
Este aumento exponencial governa, também, o tamanho da Ciência. Desde
1700 (ou mesmo antes, desde a Revolução Científica e os tempos de
Newton) a Ciência vem aumentando dessa maneira. Em outras palavras, é
preciso ter em mente que o índice normal do crescimento científico no
passado e no presente — conduz a uma duplicação após alguns anos.
Qualquer estimativa baseada em um crescimento linear subestima a
realidade.
Figura 2: Crescimento do número de periódicos de acordo com Price
Fonte: Price, 1963
Derek de Solla Price, com seu trabalho Little Science Big Science (1963),
revolucionou as análises sobre a dinâmica da comunicação científica. Neste
período, foram desenvolvidos modelos teóricos para explicar a dinâmica da
comunicação científica, entre eles o conceito de crescimento e de obsolescência da
informação. Este último conceito, que se caracteriza pelo declínio da utilidade da
81
informação ou da literatura através do tempo (OBERHOFER, 1991), está
intimamente ligado ao crescimento da ciência.
Poucos anos depois do trabalho de Price, surgem os primeiros termos que
dariam identidade aos estudos métricos da ciência. Os termos Bibliometria e
Cientometria foram introduzidos quase simultaneamente por Pritchard e por Nalimov
e Mulchenko, em 1969. Inicialmente, seus cunhadores criaram definições com
significados ligeiramente diferentes. Segundo Glanzel (2005), “Pritchard explica o
termo Bibliometria como a aplicação de métodos matemáticos e estatísticos em
livros e outros meios de comunicação”; Nalimov e Mulchenko definem
Cientometria como “a aplicação daqueles métodos quantitativos que lidam com a
analise da ciência vista como um processo de informação”. Apesar da confusão
terminológica que existe para designar Cientometria e Bibliometria (WORMELL,
1998), assumir-se-á aqui as considerações de Glänzel (2005).
Segundo o autor, os estudos em Cientometria têm como foco a literatura
científica, enquanto os estudos em Bibliometria lidam com processos mais gerais de
informação escrita. O autor indica que as fronteiras entre as duas especialidades
praticamente desapareceram nas últimas três décadas e, atualmente, ambos os
termos são, com freqüência, usados como sinônimos
27
.
Logo, a Cientometria, desde as suas origens, busca conhecer a tendências e
perfis da produção do conhecimento, a partir de uma abordagem essencialmente
quantitativa. Na história da consolidação desse campo de conhecimento, alguns
trabalhos podem ser considerados como os principais marcos. Por exemplo, o
trabalho de Alfred James Lotka (1880-1949), publicado em 1926, foi o primeiro que
usou a análise estatística da literatura científica para mensurar a produtividade de
27
A partir deste momento passar-se-á a usar sempre o termo Cientometria para designar a área.
82
autores, conhecida como “Lei de Lotka”
28
. Outro marco importante foi o trabalho de
Samuel C. Bradford (1878-1948), publicado em 1934, sobre a freqüência e
distribuição de artigos nos periódicos científicos; tal análise é conhecida como Lei de
Bradford
29
. Também significativo foi o trabalho de George Kingsley Zipf (1902–
1950) que analisou a freqüência da palavra no texto. Esta análise, conhecida como
Lei de Zipf
30
, que foi inicialmente aplicada à Lingüística, foi apropriada também aos
estudos de Cientometria (GLÄNZEL, 2005).
Assim, se por um lado começava a se formar massa crítica de especialistas
em Cientometria, por outro lado, novas iniciativas, tal como a criação do periódico
Scientometrics, em 1979, favoreciam a consolidação deste campo de conhecimento.
Ao mesmo tempo, o aumento significativo de pesquisadores e a demanda cada vez
maior por recursos públicos fizeram das análises e indicadores, oriundos dos
estudos cientométricos, importantes ferramentas estratégicas para avaliação de
desempenho. Um exemplo do uso de indicadores para tomada de decisão sobre
políticas científicas na universidade é apresentado por Braun (1999).
Na perspectiva de Bufrem e Prates (2005), as técnicas bibliométriicas se
aplicam a diversos campos do conhecimento. Nesse sentido, pode-se dizer que
apresentam característica multidisciplinar visto que podem ser utilizadas para se
estudar e melhor compreender como se produção científica de diferentes
ciências, sob diferentes enfoques.
28
Lei de Lotka, ou Lei do Quadrado Inverso, “the number (of authors) making n contributions is about
1/n² of those making one; and the proportion of all contributors that make a single contribution, is
about 60 per cent”(GLÄNZEL, 2005, p.6).
29
Lei de Bradford, ou Lei de Dispersão, “if scientific journals are arranged in order of decreasing
productivity on a given subject, they may be divided into a nucleus of journals more particularly
devoted to the subject and several groups or zones containing the same number of articles as the
nucleus when the numbers of periodicals in the nucleus and the succeeding zones will be as 1: b :
…”(GLÄNZEL, 2005, p.6).
30
Lei de Zipf, também conhecida como Lei do Mínimo Esforço, “According to Zipf rf = C, where r is the
rank of a word, f is the frequency of occurrence of the word and C is a constant that depends on the
text being analysed.” (GLÄNZEL, 2005, p.7)
83
Glänzel (2005) afirma que as fontes da pesquisa cientométrica são as
inúmeras bases de dados informacionais que existem disponíveis atualmente. O
autor ressalta a característica multidisciplinar da base de dados do Institute for
Scientific Information (ISI), a mais utilizada nos estudos cientométricos. Também
destaca a multidisciplinaridade como uma dificuldade para as bases de dados
apresentarem uma classificação por temas.
De acordo com Okubo (1997, p.27), entre as variáveis utilizadas nas
principais análises cientométricas estão: número de publicações; número de
citações; número de co-autores; Co-publicações; Índice de afinidade; Co-citações;
Co-ocorrência de palavras.
A pesquisa em Cientometria apresenta objetos e enfoques diversificados,
estando relacionada, entre outros, ao estudo quantitativo de livros, revistas, boletins,
atas, publicações catalogadas em bases de dados. Mas os estudos cientométricos
possibilitam, também, traçar tendências de campos da ciência bem como das áreas
de produção e consumo, de modo a permitir que se planeje o desenvolvimento da
sociedade (BUFREM e PRATES, 2005).
Estudos sobre o “estado da arte” também são muito comuns em Cientometria.
Este tipo de estudo é um indicador de conhecimento, apresenta caráter bibliográfico
e tem como desafio mapear e discutir a produção acadêmica em diferentes campos
do conhecimento, tentando responder que aspectos e dimensões vêm sendo
destacados e privilegiados em diferentes épocas e lugares. Estes trabalhos são,
geralmente, sustentados e movidos pelo desafio de conhecer o já construído e
produzido para depois buscar o que ainda não foi feito (FERREIRA, 2002).
Nesse sentido, a nossa pesquisa soma-se àqueles trabalhos produzidos
que reconhecem na utilização das análises cientométricas a possibilidade de
84
mapear a produção acadêmica de um campo. Aqui o intuito é, a partir destas
análises, determinar as tendências do conhecimento produzido no campo da EF, no
Brasil e no mundo. Estas análises constam dos capítulos centrais desta tese
(capítulos 3 e 4), onde o detalhamento de cada análise é apresentado.
85
2.3. JUSTIFICATIVA E OBJETIVO
Como apresentado no capítulo 1, são muitos os dualismos existentes no
campo da EF que contribuem para a propalada crise de identidade desse campo.
Neste sentido, um estudo que analise a uma das dimensões desse campo de
conhecimento pode trazer contribuições para o seu melhor entendimento e, dessa
forma, proporcionar argumentos mais sólidos que venham a contribuir com as atuais
discussões do campo.
A EF é um campo de conhecimento multidisciplinar, pois se correlaciona com
outros campos de conhecimento, o que lhe confere um espectro de atuação
bastante amplo. Embora o diálogo entre diferentes disciplinas de diversas áreas
possa ser interessante, por permitir a construção de novos saberes, o uso dessa
estratégia também pode oferecer um efeito adverso: anular as peculiaridades de
uma disciplina em detrimento da outra. Pensando em termos de tal relação entre EF
e diferentes disciplinas, esta ligação poderia ampliar a crise de identidade no interior
desse campo, na medida em que estudos oriundos desta relação se aproximem
mais dessas disciplinas e se afastem da própria EF.
Assim, na dimensão da produção acadêmica, o uso de indicadores
cientométricos como ferramenta de análise de periódicos nacionais de EF, dos
cursos de pós-graduação em EF e de publicações veiculadas por três bases de
dados internacionais (MEDLINE, SCOPUS e ISI – Web of Science), pode auxiliar na
identificação do perfil e das tendências da produção acadêmica contemporânea da
área.
A possibilidade de usar tais indicadores e refletir sobre eles a partir da ótica
de alguns conceitos da obra de Pierre Bourdieu (neste caso, nos conceitos de
86
campo, capital científico e habitus) poderá contribuir com um olhar inovador sobre as
questões que permeiam os debates recentes da área.
Além disso, a relevância desse estudo também se no sentido de gerar
indicadores concretos que possibilitarão identificar tendências e o perfil da pesquisa
em EF, o que permitirá caracterizar e melhor compreender esta dimensão do campo
e, quiçá, gerar elementos que embasem melhor a reflexão crítica sobre os
interesses que transpassam o campo.
Partindo da discussão de campo, o presente trabalho tem como objetivo
principal identificar a tendência atual da pesquisa em EF no Brasil e no mundo e
contextualizá-la com as discussões e debates atuais sobre o campo EF. Tal
objetivo busca responder às perguntas:
Será que a pesquisa atual em EF reflete a instabilidade do campo?
Qual a concepção que norteia a pesquisa atual em EF?
Será que o perfil da pesquisa atual em EF reflete sua construção histórica?
Com base nestas questões, a hipótese de trabalho deste estudo considera
que, em virtude da construção histórica da EF, a concepção biológica ainda se
constitui como paradigma do campo. Acredita-se, assim, que a pesquisa em EF
esteja ancorada, prioritariamente, em disciplinas das ciências biológicas e da saúde,
sendo essas, portanto, ainda hegemônicas no campo.
2.4. METODOLOGIA
Muito embora esta tese esteja embasada em uma discussão qualitativa a
respeito do campo de conhecimento e da área EF, a natureza da pesquisa
desenvolvida aqui é de caráter essencialmente quantitativo. Isso por que a pesquisa
87
se debruçou em informações coletadas, organizadas e compiladas a partir da
bibliografia em EF, as quais foram tratadas a partir de análises quantitativas.
A partir destas informações foi possível gerar dados oriundos de dois tipos de
abordagens, a quantitativa e a qualitativa. A abordagem quantitativa foi realizada a
partir de análises sobre: autoria dos trabalhos, tipologia dos artigos, instituições de
origem dos primeiros autores, periódicos, critérios de avaliação Qualis, publicações
internacionais e co-publicações. Na abordagem qualitativa, os dados originais das
publicações em EF foram analisados a fim de identificar, para cada publicação, a
grande área a que pertencia, a(s) disciplina(s) que ancorava(m) o estudo, a(s)
temática(s) principal(is) e a tendência atual da abordagem das publicações
nacionais e internacionais da área, ou seja, se biológica ou não-biológica.
Tendo como base estas abordagens, o trabalho de pesquisa dividiu-se em
três etapas principais para as quais estão apresentados detalhes da metodologia:
Etapa 1: Os periódicos brasileiros em EF
Para esta etapa, que está apresentada em detalhes no Manuscrito 1, foram
analisadas 545 publicações extraídas de quatro periódicos disponibilizados no Portal
CAPES, durante o período de 2000 a 2005. A análise dos periódicos contou com as
seguintes etapas: 1) coleta e organização dos dados; 2) categorização e análises
quantitativa e qualitativa dos mesmos.
Assim, para a primeira fase, criou-se um banco de dados da Produção
Científica Brasileira em EF (PCBEF) com as seguintes informações: (1) Autoria dos
trabalhos; (2) Tipologia dos artigos; (3) Instituição de origem do primeiro autor, (4)
Publicações internacionais e co-publicações.
88
Na segunda fase, cada uma das 595 publicações foi caracterizada segundo a
grande área, a área e a temática principal. Esta classificação se deu a partir,
inicialmente, da análise das palavras-chave, dos resumos e, quando necessário, da
leitura completa do artigo.
Etapa 2: Os programas de PGs da área de EF.
Esta etapa, que está apresentada no manuscrito 2, foi dedicada à análise da
produção intelectual de 11 programas de pós-graduação em EF (Ciências da
Motricidade / UNESP RC; Educação Física / USP; Educação Física / UNICAMP;
Educação Física / UFSC; Ciências do Movimento Humano / UDESC; Educação
Física / UGF; Ciência da Motricidade Humana / UCB RJ; Ciências do Movimento
Humano / UFRGS; Educação Física / UCB; Educação Física / UNIMEP; Educação
Física / UFPR), coletada a partir dos relatórios anuais de desempenho enviados
para a CAPES. Todos os programas estão inseridos na área de avaliação e área
básica de Educação Física. Os relatórios analisados referem-se ao triênio
2001/2003, todos disponíveis online pela CAPES (CAPES, 2007).
A partir das informações contidas nos relatórios de cada programa durante o
triênio analisado, que somam 28 relatórios, foram coletados 5.628 títulos publicados
em diversos tipos de produção bibliográfica. Cada título vinha acompanhado de
informações como: autoria, tipo de publicação, referência completa e classificação
segundo os critérios Qualis, para as publicações do tipo periódico. A estas
informações foram agregadas outras, em particular, a temática central da
publicação, a disciplina, a grande área e a abordagem.
89
Etapa 3: A pesquisa internacional em EF
Nesta etapa, apresentada no Capítulo 4 e Manuscrito 3 (Apêndice 1), as
informações sobre a produção internacional em EF foram extraídas de três bases de
dados: MEDLINE, ISI – Web of Science (WoS) e SCOPUS.
A primeira delas é uma base de dados de domínio público, mantida pelo
governo dos EUA, na qual as publicações são indexadas por meio de descritores
primários e secundários (o Mesh, sigla de Medical Subject Headings). Essa
classificação padronizada é realizada manualmente por especialistas que
categorizam as temáticas na área das ciências da saúde, o que facilita o acesso e a
recuperação da informação na base.
De maneira diferente, as bases SCOPUS e WoS são mantidas por
instituições do setor privado, Elsevier e Thompsom Reuters, respectivamente
(SCOPUS, 2010; ISI, 2010). Estas bases são facilmente acessadas de qualquer
instituição brasileira de pesquisa uma vez que os gastos para acesso a estas bases
são custeados pelo governo federal, através da CAPES.
Na base MEDLINE, usando o termo “Educação Física e Treinamento” como
descritor primário, obteve-se um total de 5.726 publicações para o período de 1966-
2008, as quais foram coletadas e incorporadas em uma planilha de excel. Este
processo foi realizado por Adalberto O. Tardelli, analista da BIREME/OPAS/OMS
(Bireme, 2010). Cada publicação estava associada às seguintes informações: ano
de publicação, título do periódico, descritores secundários, resumo, país de
publicação, idioma do primeiro autor e país de origem.
A análise do tema principal, do campo e das disciplinas que ancoram as
5.726 publicações baseou-se em 1.690 descritores secundários associados a estas
publicações. Estes descritores foram organizados primeiramente por ordem de
90
ocorrência nas 5,726 publicações, quando foram descartados 1.481 descritores que
apresentavam menos do que 10 ocorrências. Assim, permaneceram 209 descritores
secundários. A partir destes descritores, criou-se uma categorização para classificar
as disciplinas que ancoravam as publicações. Com base na classificação de
descritores em Ciências da Saúde (DeCS), elaborado pela BIREME, foi construída
uma lista identificando as disciplinas que fundamentavam as publicações de acordo
com seus respectivos descritores.
No sentido de complementar a análise do MEDLINE, foram também coletados
dados da publicação em EF de outras duas bases de dados: WoS e SCOPUS. Em
termos de cobertura de área, estas bases apresentam um perfil multidisciplinar uma
característica diferenciada da base MEDLINE. A WoS é constituída por sete bases
de dados diferentes, sendo as principais delas as: (1) Science Citation Index
Expanded, que indexa mais de 6.650 periódicos, (2) Social Sciences Citation Index,
que indexa cerca de 2.000 periódicos e (3) Arts & Humanities Citation Index, que
cobre em torno de 1.200 principais periódicos destas áreas. a SCOPUS,
atualmente, indexa aproximadamente 16.500 periódicos relacionados à literatura
científica, técnica, médica e ciências sociais, incluindo artes e humanidades. A base
de dados SCOPUS também cobre 100% dos títulos da base MEDLINE.
Com o propósito de resgatar as publicações em EF nestas bases, se
estabeleceu duas abordagens: (1) buscar na SCOPUS e na WoS o termo “physical
education” a partir do filtro, estabelecido pelas bases: título, resumo ou palavra-
chave; (2) buscar na SCOPUS o termo “physical education” a partir do filtro:
afiliação. Esta última abordagem foi realizada somente na SCOPUS e denominada
SCOPUS-Affil.
91
Usando estas estratégias de busca foram obtidas 9.493 publicações na WoS,
12.512 na SCOPUS e 7.962 SCOPUS-Affil, para o período de 1966 a 2005. Devido
a algumas limitações e/ou inconsistências em relação a cobertura de tempo e de
endereços das bases SCOPUS e WoS, análises debruçaram-se apenas sobre os
períodos mais recentes, 1991-1995, 1996-2000 e 2001-2005.
Para estes períodos, foram coletadas as informações sobre os periódicos e
sobre os campos de conhecimento que as publicações em EF são classificadas.
Estas informações são geradas automaticamente nestas bases sempre que uma
busca é realizada. A lista de campos tem como base os periódicos nos quais as
publicações são veiculadas. Um periódico pode ser classificado em mais de um
campo e, portanto, não é recomendável a soma das publicações que aparecem
vinculadas aos diferentes campos.
Também foram identificados os periódicos centrais ou core journals, nas três
bases de dados. Esses periódicos que são os mais representativos da área foram
estabelecidos a partir do total de publicação, em um determinado período de tempo,
dividido por três, achando-se assim, 1/3 dessas publicações. As publicações de
cada periódico foram organizadas na planilha em ordem decrescente, isto é, em
primeiro lugar na planilha foram organizados os periódicos que apresentavam um
maior número de publicações seguido dos demais. A partir desse processo
identificou-se o conjunto de periódicos que veiculavam o terço das publicações do
período.
92
3. CAPÍTULO 3 – A PESQUISA EM EF NO BRASIL
O Capítulo 3 trata da pesquisa em EF no Brasil, num primeiro momento a
partir da apresentação do artigo “Tendências atuais da pesquisa brasileira em
Educação Física. Parte 1: Uma análise a partir de periódicos nacionais”, que analisa
a publicação em 4 periódicos nacionais. E num segundo momento, a partir da
apresentação do artigo “Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação
Física Parte 2: A heterogeneidade epistemológica nos Programas de Pós-
Graduação”, que analisa a publicação de 11 programas de pós-graduação em EF no
Brasil.
Os dois próximos tópicos que se seguem contêm uma breve apresentação de
cada um desses artigos, os quais estão incluídos, na íntegra, e fazem parte do
capítulo 3.
3.1. APRESENTAÇÃO DO MANUSCRITO 1
“A verdade é um jogo de lutas em todo o
campo... O campo científico é um jogo em que é
preciso munir-se de razão para ganhar” (Bourdieu,
p. 46, 1990).
A partir dos conceitos formulados por Bourdieu lançou-se um olhar sobre o
campo de conhecimento da EF por meio da produção acadêmica publicada em
periódicos nacionais a fim de analisar as tendências e o crescimento do
conhecimento produzido no campo, bem como levantar os principais temas de
interesse dos pesquisadores. Foi possível, também, caracterizar a pesquisa da área
quanto ao perfil dos autores e mapear a produção institucional do campo.
93
A primeira parte do trabalho contém uma breve contextualização histórica,
onde se procurou demonstrar como se deu a sistematização do campo de
conhecimento da EF, bem como a contribuição de outras áreas de conhecimento e
respectivas disciplinas para a formação de diferentes concepções de EF que
permeiam este campo.
A adoção de análises cientométricas foi utilizada como estratégia para
caracterizar as publicações nos únicos quatro periódicos nacionais disponíveis on-
line no Portal dos Periódicos Capes, em 2006, são eles: Revista Brasileira de
Medicina do Esporte (RBME), Revista Brasileira de Educação Física e Esporte
(RBEFE), Revista Brasileira de Ciência do Movimento (RBCM) e Revista Mackenzie
de Educação Física e Esporte (REMEFE).
No total, foram analisadas 595 publicações no período de 2000 a 2005. As
análises mostraram que as publicações em EF apresentam um número reduzido de
colaboradores, com 1 a 3 autores, e os autores são majoritariamente homens.
Também se observou que as publicações originais (tipologia definida pelas próprias
revistas) predominam um indicativo de que estes veículos estão voltados para o
público acadêmico científico. Das 595 publicações analisadas, 435 têm abordagem
biológica (73%). Entre elas, identifica-se a presença expressiva de publicações com
a temática em Fisiologia (n=376).
O resultado, obtido por meio da análise desses periódicos, sugere a
existência da influência histórica na construção do campo na recente produção
científica em EF no país. Entretanto, apesar da hegemonia das disciplinas de
abordagem biológica na pesquisa brasileira, o trabalho também identificou um
aumento da pesquisa com abordagem não biológica, mas que ainda é muito
94
incipiente. Portanto, o resultado evidencia a força simbólica das ciências biológicas e
médicas direcionando o paradigma da pesquisa brasileira em EF.
3.2. APRESENTAÇÃO DO MANUSCRITO 2
“Os dominantes consagram-se às
estratégias de conservação, visando
assegurar a perpetuação da ordem
científica estabelecida com a qual
compactuam. (...) Essa ordem engloba
também o conjunto das instituições
encarregadas de assegurar a produção e a
circulação dos bens científicos ao mesmo
tempo em que a reprodução e a circulação
dos produtores (ou reprodutores) desses
bens...”. Pierre Bourdieu (apud ORTIZ, 1983,
p.137).
Com o propósito de ampliar o olhar sobre o campo da EF, buscou-se no
manuscrito 2 levantar as principais temáticas, bem como a tendência epistemológica
da produção acadêmico - cientifica da pós-graduação brasileira em EF. Assim, para
entender como se configura a produção científica do campo da EF em relação às
disciplinas e abordagens analisaram-se os relatórios anuais (num total de 28)
referentes às produções bibliográficas de 11 programas de pós-graduação, todos
inseridos na área de avaliação e área básica de EF, referente ao triênio 2001/2003,
todos disponíveis online pela CAPES.
A discussão central considera o modelo de avaliação da CAPES, no qual
publicações em periódicos Internacionais recebem maior peso, sendo adotada, para
as publicações em periódicos, uma escala com as notas A, B ou C e Internacional,
Nacional ou Local. É, portanto, a partir deste critério de avaliação que os trabalhos
95
são avaliados e o status do grupo de pesquisa e dos programas de pós-graduação
em relação ao seu capital científico é determinado.
Assim, foi com base neste contexto que 5.628 títulos dos diversos tipos de
produção bibliográfica publicados pelos 11 programas de pós-graduação foram
coletados e analisados. Os resultados indicam uma predominância de publicações
tais como livros e anais. Entre as publicações em periódicos predominam aquelas
em periódicos nacionais (64%). Visualizou-se também uma diversidade de temáticas
na pesquisa em EF: foram encontradas 136 temáticas, ancoradas em 35 disciplinas,
sendo a fisiologia do exercício a mais freqüente. Esses dados evidenciam o caráter
multidisciplinar deste campo.
Os dados indicam que uma relação entre visibilidade e abordagem, ou
seja, artigos com abordagem biológica tendem a ser publicados em periódicos com
maior nota na escala CAPES; enquanto os artigos com abordagem não biológica
são publicados em periódicos avaliados com notas inferiores. E na maior parte dos
programas, a abordagem biológica predomina quantitativamente.
Este estudo, tal como o anterior, evidencia a hegemonia das disciplinas da
área biológica que ancoram as pesquisas da pós-graduação, no campo da EF. Por
outro lado, aponta também a participação de algumas disciplinas de outras áreas
que não a biológica. Esse cenário, portanto, não aponta para uma unidade
epistemológica, como é enunciado por muitos autores; ao contrário, demonstra o
perfil multidisciplinar da pesquisa no campo de conhecimento da EF.
96
3.3. MANUSCRITO 1
Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física. Parte 1: Uma
análise a partir de periódicos nacionais
Rosa, S.P. & Leta, J.
Aceito pela Revista Brasileira de Educação Física e Desporto (volume 24, número 1,
jan./mar. 2010)
Resumo
Após poucos séculos de existência, a disciplina de Educação Física (EF) convive, de
um lado, com a tradicional valorização de aspectos biológicos e médicos e, de outro,
com a recente valorização de aspectos sócio-culturais, políticos e filosóficos. Estes
parecem promover uma ruptura com a concepção tradicional de corpo, concepção
“biologizada”, da EF. Neste contexto, iniciamos um amplo estudo sobre as
tendências atuais da pesquisa brasileira em EF. Por meio de uma abordagem
bibliométrica, neste trabalho apresentamos uma análise das comunicações
científicas em EF, veiculadas em quatro periódicos nacionais, no período de 2000 a
2005. O objetivo central foi caracterizar um recorte da pesquisa contemporânea
brasileira em EF publicada nestes periódicos, incluindo-se na análise as questões
acerca das temáticas de maior interesse dos pesquisadores. O estudo seguiu duas
etapas principais: (a) coleta e organização dos dados e (b) categorização e análises
quantitativa e qualitativa. As 595 publicações analisadas classificaram-se em 20
áreas do conhecimento, sendo fisiologia a de maior incidência (n = 376).
Publicações com enfoque em áreas mais humanísticas e/ou sociais, como a
filosofia, a história, a sociologia do esporte, a psicologia aplicada à educação física e
ao esporte, a didática, também são encontradas, porém, o ainda minoria. Estes
resultados apontam a predominância da concepção biologizada da pesquisa em EF
no universo do estudo. As razões podem ser variadas, incluindo o perfil dos
periódicos analisados.
Palavras-chave: Educação Física; comunicação científica; periódicos científicos,
bibliometria.
97
Introdução
Ao longo da história da humanidade, a prática da atividade física atendeu a
diferentes interesses e motivações. O homem primitivo, por exemplo, praticava
atividade física seja para sobreviver às condições inóspitas de vida, seja para seus
momentos de lazer ou rituais religiosos. Em períodos mais recentes, a prática da
atividade física também se associou a outros propósitos, tais como: o militar, o
higiênico, o eugênico, o terapêutico, o pedagógico, o rendimento esportivo, o de
fitness e o da estética corporal (Marinho, 1980; Ghiraldelli Júnior, 1991; Coletivo de
Autores, 1992; Betti, 2004; Bracht, 2007)
1
.
Sob a influência do conhecimento gerado, primeiro pelas crenças, depois pela
filosofia e, mais tarde pela ciência, teve início, então, o processo de sistematização
das atividades físicas. O marco deste processo foi o desenvolvimento de diferentes
métodos ginásticos que rapidamente se espalharam pelo mundo, sendo
incorporados também pelas instituições de ensino formal. Surge, assim, uma nova
disciplina acadêmica, a Educação Física (EF).
A história e a evolução da EF apontam para uma disciplina que busca a
valorização e o entendimento do corpo a partir de aspectos biológicos e tecnicistas.
Isso se deve, principalmente, à forte influência de dicos e militares, considerados
os mentores intelectuais da construção desta área. Segundo Bracht (1999), os
exercícios repetitivos e sistematizados aos quais os militares eram submetidos
colocavam em prática o conhecimento médico em torno do corpo, numa perspectiva
não apenas terapêutica e educacional, mas também de virilidade. Já Marinho (1980)
argumenta que os militares dominavam a técnica dos exercícios, mas foram os
médicos e cientistas que contribuíram para formar o corpo de conhecimento em
torno da prática das atividades físicas, com base na fisiologia do exercício.
Por meio da produção bibliográfica das primeiras revistas da área de EF,
também, é possível identificar as concepções militaristas e ideologias políticas que
permeavam a construção dessa disciplina em diferentes momentos. Assim, o quadro
1 apresenta uma relação das primeiras revistas brasileiras de EF, acompanhada de
uma descrição de perfil.
QUADRO 1
98
Não obstante a forte influência médico-militar, a disciplina de EF buscou, mais
recentemente, valores e referenciais em outras disciplinas, especialmente naquelas
das ciências humanas e sociais. Esse processo parece ter se iniciado nos
movimentos estudantis, políticos e culturais que ocorreram em várias partes do
mundo no final dos anos de 1960 e incidiram profundamente sobre a pedagogia
(Cambi, 1999). Elementos dessa nova pedagogia foram incorporados no corpus
teórico da EF nos anos 70, ainda que na sua versão tecnicista, via didática. Porém,
a perspectiva da EF como prática social surge mais fortemente nos anos de 1980
(Oliveira, 1994).
Assim, após poucos séculos de existência, a disciplina de Educação Física
convive com a tradicional valorização de aspectos biológicos e dicos e com a
recente valorização de aspectos sócio-culturais, políticos e filosóficos, os quais
parecem promover uma ruptura com a concepção tradicional, “biologizada” da EF.
Transitando entre uma “Educação do físico” e uma “Educação pelo físico”, os
profissionais e, em especial, os pesquisadores em Educação Física se deparam
com as dualidades da área, que podem ser motivo de disputas internas para a área
como um todo. Isso fica claro na discussão encaminhada por Betti, Carvalho, Daolio
e Pires (2004), os quais também apontam outras dicotomias na área de EF: a
pesquisa em EF deve se voltar mais para uma pesquisa básica ou para uma
pesquisa aplicada? A área e a formação do profissional em EF devem ter enfoques
mais acadêmico ou somente profissional?
No presente trabalho, um recorte da publicação científica brasileira em EF foi
adotado para caracterizar a pesquisa contemporânea nacional em EF. Para esta
abordagem foram utilizados quatro periódicos nacionais da área, sobre os quais
realizamos análises acerca das temáticas de maior freqüência nestes veículos.
Assim, empregando-se uma abordagem bibliométrica foi possível estabelecer
variáveis de desempenho, que retratam uma parte do cenário da pesquisa em EF no
Brasil.
Procedimentos Metodológicos.
Segundo Neto e Nascimento (2002), os principais periódicos em EF no Brasil
são: Revista Brasileira de Ciências do Esporte, Revista Motus Corporis, Revista
Paulista de Educação Física (atual Revista Brasileira de Educação Física e Esporte),
Revista Brasileira de Ciência e Movimento, Revista Movimento, Revista
99
Motrivivência, Revista Mineira de Educação Física, Revista de Educação
Física/UEM, Revista Motriz, Revista Licere, Revista Kinesis. Apesar de
reconhecermos a importância destes periódicos para a difusão do conhecimento na
área, optamos por um recorte a partir dos 59 periódicos disponíveis on-line no Portal
dos Periódicos Capes
2
em 2006. Deste total, somente 4 eram brasileiros. Como o
nosso interesse estava centrado na produção científica da EF nacional, optamos por
periódicos deste último grupo. Importante destacar que, muito embora o recorte
deste trabalho exclua uma parte das revistas de EF no país (especialmente, aquelas
indicadas por Neto e Nascimento que à época não se encontravam disponíveis no
Portal), entendemos que a análise dos dados coletados nesta amostra cobre não
apenas o conhecimento científico em EF validado e referendado pela CAPES, mas
também aquele de maior visibilidade no país.
Uma breve análise dos periódicos selecionados revela alguns detalhes e
diferenças importantes entre eles, que podem explicar alguns dos resultados que
apresentaremos. A Revista Brasileira de Ciência do Movimento (RBCM), lançada em
1987 pela a Universidade Católica de Brasília, teve parceria firmada com o Centro
de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São Caetano do Sul (CELAFISCS) a
partir de 1999. Tem por missão publicar resultados de pesquisas originais, revisões,
comentários e notas científicas em Ciências do Esporte, com ênfase no movimento
humano.
a Revista Brasileira de Medicina do Esporte (RBME) é a revista oficial da
Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. Desde 1999, passou a ser publicada
com periodicidade bimensal e tem por “missão disseminar a produção científica nas
áreas de ciências do exercício e do esporte”. A terceira revista, a Revista Brasileira
de Educação Física e Esporte (RBEFE), é uma publicação trimestral da Escola de
Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo e tem por objetivo
publicar estudos acerca do movimento humano relacionados à EF, Esportes e áreas
afins. Até 2004, o periódico intitulava-se Revista Paulista de Educação Física.
Finalmente, a Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte (REMEFE) está
vinculada à Faculdade de Educação Física da Universidade Presbiteriana
Mackenzie e seus principais temas de interesse são: (1) Dimensões Pedagógicas e
Sociais da Educação Física e Esporte e (2) Dimensões Biodinâmicas da Educação
Física e Esporte.
100
A coleta dos dados das publicações destes periódicos estendeu-se por cerca
de 6 meses, sendo finalizada em janeiro de 2007. No total, foram coletadas 595
publicações. A análise das publicações varreu o período de 2000 a 2005, que variou
de acordo com a história e a data em que cada revista se tornou disponível on-line
(Quadro 2).
A análise das 595 publicações contou com duas etapas principais: (a) coleta e
organização dos dados; (b) categorização e análises quantitativa e qualitativa dos
mesmos. Para a coleta, a página de cada periódico foi acessada individualmente e
suas respectivas publicações foram salvas em formato pdf. Uma a uma estas
publicações foram analisadas e, a partir delas, diversas informações foram,
manualmente, coletadas e organizadas em uma planilha, constituindo, assim, um
banco de dados da Produção Científica Brasileira em EF (PCBEF). As informações
contidas neste banco de dados incluem: (1) Autoria dos trabalhos - Autoria pessoal,
autoria múltipla, gênero dos autores, (2) Tipologia dos artigos - Artigo Original,
Revisão, Seção Especial e Outros (neste último, incluem-se publicações como
Ponto de Vista, Opinião, Relato de Caso e Diretriz), (3) Instituições de Origem dos
Primeiros Autores, e (4) Publicações internacionais e co-publicações.
QUADRO 2
Em um segundo momento, buscou-se a categorização da grande área, da
área e da temática principal de cada uma das 595 publicações. Para definir áreas de
conhecimento nos artigos foi realizada, inicialmente, a análise das palavras-chave,
dos resumos e, quando necessário, a leitura completa do artigo. Isso possibilitou
um melhor entendimento das motivações, do objeto de estudo e do objetivo de cada
publicação pela especialista da área (Suely Rosa). Uma vez conhecido o escopo de
uma publicação, esta foi classificada em uma das nove grandes áreas de
conhecimento que constam da lista elaborada pela Coordenadoria de
Aperfeiçoamento de Pessoal de Ensino Superior (CAPES). Em nossa análise, no
entanto, foram identificados artigos que transitavam com temáticas em sete dessas
grandes áreas: Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Medicina, Ciências Exatas e
da Terra, Ciências Sociais Aplicadas, Ciências Humanas e Lingüística, Letras e
Artes. Portanto, no pool de artigos analisados não encontramos nenhum nas
grandes áreas das Ciências Agrárias e das Engenharias.
101
Uma vez classificadas em grandes áreas, foi possível identificar a área do
conhecimento de cada uma das 595 publicações analisadas. No total, estes
trabalhos classificaram-se em 20 disciplinas: nas Ciências Biológicas: Anatomia,
Biofísica, Biologia, Bioquímica, Fisiologia, Neurofisiologia; nas Ciências da Saúde:
Educação Física e Saúde Coletiva; na Medicina: Medicina e Reabilitação; nas
Ciências Exatas e da Terra: Ciências da Computação; nas Ciências Humanas:
Antropologia, Educação, Filosofia, História, Psicologia, Sociologia; nas Ciências
Sociais Aplicadas: Administração; e na área de Lingüística, Letras e Artes:
Lingüística e Artes.
Finalmente, adotou-se uma terceira classificação referente ao
escopo/abordagem central de trabalho: (1) abordagem biológica e (2) abordagem
não biológica (que na maioria tinham o caráter humanístico). O primeiro grupo,
abordagem biológica, engloba os trabalhos que foram categorizados nas grandes
áreas das Ciências Biológicas, Ciências da Saúde, Medicina e apresentaram um
conteúdo no qual o uso da atividade física atendeu às questões ligadas aos
aspectos anatômicos, bioquímicos, biofísicos, biológicos, fisiológicos, médicos, de
reabilitação e da saúde do ser humano. Já o segundo grupo, abordagem o
biológica engloba os trabalhos que foram classificados nas grandes áreas das
Ciências Exatas e da Terra, Ciências Sociais Aplicadas, Lingüística, Letras e Artes,
Ciências Humanas, ou seja, aqueles que apresentam questões ligadas a aspectos
como sociológicos, antropológicos, artísticos, educacionais, filosóficos, entre outros.
Todas as 23 publicações classificadas na disciplina “Educação Física e
Esportes”, que compõe a grande área das Ciências da Saúde, foram classificadas
como tendo abordagem não biológica. Nestes casos, as temáticas eram
relacionadas às técnicas, táticas esportivas e estudos olímpicos, não fazendo,
portanto, nenhuma referência nem à bioquímica, anatomia, fisiologia, ou outro
aspecto relacionado à abordagem biológica.
Para melhor visualizar este processo de categorização são apresentados dois
exemplos de publicações (Quadro 3).
QUADRO 3
102
Este processo de categorização foi validado por uma análise complementar
realizada pela Dra. Verônica Salerno Pinto, professora e pesquisadora da Faculdade
de Educação Física e Desportos da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Resultados
Os resultados apresentados a seguir estão organizados em dois blocos
principais: (1) uma caracterização geral da pesquisa atual em EF e (2) tendências
temáticas e de abordagem da pesquisa em EF.
Caracterizando a pesquisa brasileira atual em EF: quantos, quem e onde estão
os pesquisadores da área?
A análise da autoria de publicações pode revelar informações importantes
acerca do perfil de uma dada comunidade científica, seja ela de um país, instituição
ou área, por exemplo. As análises mais comuns de autoria são: a distribuição de
Lotka (1926) e a contagem de autores por publicação. Essa última análise foi
realizada para as 595 publicações em EF de nossa amostra (Figura 1). É possível
verificar que a maior parte destas publicações tem de 1 a 3 autores e somam 390, o
que representa 65.5% do total analisado. O perfil encontrado para as publicações
em EF assemelha-se ao das áreas de Ciências Humanas e Sociais. As
características intrínsecas destas áreas favorecem o trabalho isolado ou com um
número reduzido de colaboradores. Por outro lado, as áreas de ciências ditas hard
sciences, se caracterizam por um alto e crescente grau de colaboração que se
reflete no número médio de autores por publicações, o qual, em média, é superior
aquele encontrado para as Ciências Humanas e Sociais
3
.
FIGURA 1
Outra variável analisada foi o sexo dos autores. Historicamente, a ciência
sempre foi tida como uma atividade realizada por homens. No Brasil, a participação
cada vez maior de mulheres nessa atividade inicia-se nos anos de 1980, como um
reflexo da crescente entrada delas no mercado de trabalho como um todo. Hoje,
elas são maioria entre a totalidade dos matriculados e concluintes do ensino
superior no país (INEP, 2006). Na atividade científica, dados do Conselho Nacional
de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq, 2004) mostram que o número
103
e a fração de mulheres têm crescido significativamente nos últimos anos. Entre os
5.238 pesquisadores-doutores cadastrados em 2004, 42,5% eram mulheres; entre
aqueles da área de saúde, que inclui os da EF, esta fração é de 53%. para os
479 pesquisadores-doutores cadastrados neste mesmo ano na EF, 199 eram
mulheres, o que representa 41,5% do total, uma fração próxima ao encontrado para
o país. Na análise das 595 publicações, considerando apenas o primeiro autor
(Figura 2), encontramos, na REMEFE, um panorama semelhante aquele encontrado
para os pesquisadores da área de EF: as mulheres autoras representam cerca de
45% do total de autores. Fração menor de mulheres autoras é encontrada na
RBEFE, RBME e na RBCM.
FIGURA 2
Uma última variável que caracteriza o perfil dos autores da EF,
majoritariamente homens, é a instituição a qual estão vinculados. A Figura 3 mostra
as instituições cujos autores são mais freqüentes em nossa análise. A soma das
publicações destas instituições equivale a 374 (62,85% da amostragem). Dentre a
totalidade de primeiros autores, observamos que a maior parte deles tem vínculo
com a USP (Universidade de São Paulo), que são responsáveis por 85 publicações
(14,28% do total). Em seguida, encontramos 50 publicações (8,4%) cujos primeiros
autores têm vínculo com UNESP (Universidade Estadual de São Paulo). A grande
presença de autores da USP indica uma forte produção dessa instituição na área
EF. Entretanto, é importante salientar que a USP é a instituição brasileira com o
maior número de publicações científicas do país, na maior parte das áreas (Leta,
Glanzel & Thujs, 2006), e, portanto, a concentração de publicações em EF nesta
instituição se configura como algo já esperado.
FIGURA 3
A análise individual das revistas mostra que as publicações originadas por
autores filiados à USP ou são as mais freqüentes, tal como na RBCM e RBEFE, ou
estão entre as mais freqüentes, RBME e RMEFE. No caso da RMEFE, predominam
as publicações cujos autores estão filiados à Universidade Presbiteriana Mackenzie
(UPM), o que pode ser explicado pelo fato de a revista ser de responsabilidade
104
desta Universidade, o que parece caracterizar um caso de endogenia. na RBME,
o predomínio é de publicações originadas na Universidade Gama Filho (UGF),
seguida de publicações com afiliação na USP e na UNESP (dados o
apresentados).
Na análise por setor, público e privado, verificamos que dos 595 endereços
dos primeiros autores, 347 (58,31%) se originaram em instituições públicas, 208
(34,95%) em instituições privadas enquanto 39 (6,55%) não apresentavam nenhuma
afiliação (dados não apresentados). Esses dados contrastam, no entanto, com os
dados sobre a afiliação dos autores das publicações brasileiras em periódicos
internacionais, catalogados na base de dados do ISI/Thomson Scientific (2008), em
que as universidades públicas brasileiras são responsáveis por 80 % (Leta, Glanzel
& Thujs, 2006).
A análise individual das revistas mostra que a RBEFE e a RBME apresentam
um número maior de publicações com autores de afiliação em instituições públicas,
enquanto a REMEFE, vinculada à universidade particular, apresenta um número
maior de publicações com afiliação em instituições privadas (dados não
apresentados).
1.2. Caracterizando a pesquisa brasileira atual em EF: qual o formato e as
parcerias?
A análise de formato das publicações pode seguir por diversos caminhos, por
exemplo, tipologia, desenho experimental, paginação. Em nosso estudo, optamos
pela tipologia das publicações para discutir o formato da pesquisa atual em EF em
periódicos nacionais. Importante salientar que as quatro revistas analisadas
elaboram e apresentam em seus manuais de submissão, as tipologias que
interessam para publicação, que inclui artigos originais, de revisão, seção especial,
ponto de vista, opinião, relato de caso. Em todos os casos, esta tipologia é
apresentada pelas revistas, dentro de cada publicação ou no índice de cada
número. Foi com base nessa informação que elaboramos essa análise. É possível
verificar que os artigos originais são maioria em todas as revistas (Figura 4) e soma
503 (84,5% do total). Na REMEFE e RBEFE, esta fração é ainda maior. O fato de as
publicações originais predominarem nestas revistas é um indicativo de que estes
veículos estão voltados para o público acadêmico científico, os pares. É consenso
que um artigo original tem formato que é entendido e decodificado essencialmente
105
pelos pares da área, o que, em geral, não ocorre em outros tipos de publicações, tal
como nas revisões.
FIGURA 4
Além da tipologia das publicações, analisamos também a questão das
parcerias na pesquisa atual em EF. É fato que o número de parceiros na pesquisa
tem crescido significativamente nas últimas décadas. Isso se deve ao encarecimento
das novas tecnologias e à qualificação cada vez mais especializada dos
pesquisadores, em ambos os casos há necessidade de grandes investimentos (Katz
& Martin, 1997). No Brasil, a análise das publicações indexadas na base de dados
do ISI/Thomson Scientific mostra que a fração de publicações brasileiras com
parceria internacional representa pouco mais de 30% do total de publicações
(Glanzel, Leta & Thijs, 2006). Cenário como este, no entanto, não é observado para
as publicações nacionais em EF. Das 595 publicações, apenas 26 (4,3%) são
publicações em parceria com outros países (Figura 5). A baixa cooperação com
pesquisadores de outros países pode ser explicada pelo fato de serem periódicos
nacionais sem projeção internacional. Da mesma forma, pode ser um indicativo de
uma área onde a cultura do trabalho colaborativo ainda não se consolidou, seja por
dificuldades lingüísticas que prejudicam o estabelecimento de contatos com
parceiros de línguas estrangeiras, seja por conta de ainda seus estudos estarem
voltados principalmente a questões de interesse nacional.
FIGURA 5
Dentre os poucos parceiros internacionais, predominam aqueles de países da
Europa e da América do Norte. Neste caso, repete-se o cenário da pesquisa
nacional (Leta & Meneghini, 2002). Assim, se por um lado os autores brasileiros
pouco buscam a colaboração de parceiros internacionais, quando isso acontece, a
tendência é buscá-la nos países do hemisfério norte, seja por suas tradições em
pesquisa, seja pelas lideranças específicas da área.
106
2. Temáticas e abordagens na pesquisa em EF: um campo em consolidação?
Na história da construção da área de EF, a forte presença e influência dos
conhecimentos biológicos e em saúde são facilmente identificadas. O quanto a
pesquisa brasileira atual nesta área reflete, ainda hoje, a sua construção histórica?
Quais as temáticas mais freqüentes nestes estudos? Qual importância que a
pesquisa em EF a outros aspectos que não os biológicos? A fim de responder
estas perguntas, o escopo de cada uma das 595 publicações foi analisado, o que
permitiu definir uma temática para cada uma delas e uma classificação posterior em
disciplina, grande área até chegar à de abordagem.
Partindo da análise de grande área do conhecimento, 431 publicações
(72,43% do total) foram classificadas na grande área de Ciências Biológicas. A
soma deste total com as publicações classificadas em Medicina (2) e em Ciências
da Saúde (26) corresponde a 459 publicações, ou seja, 77,14% do total. Em
contraste, as publicações classificadas nas grandes áreas de Ciências Humanas
(127), Ciências Sociais Aplicadas (5), Lingüística, Letras e Artes (2) e Ciências
Exatas e da Terra (2) somam 136, o que representa 22,85% do total analisado.
Percebe-se, assim, que apenas 1/5 do conhecimento divulgado nestes periódicos se
destina às áreas que não são Biologia ou Saúde.
A análise das publicações segundo as disciplinas em que melhor se
enquadram seus escopos revelou uma característica importante: a presença
expressiva de publicações em Fisiologia (n=376). A forte presença desta disciplina
nos trabalhos explica a prevalência de publicações nas Ciências Biológicas.
Publicações classificadas em outras disciplinas obviamente também contribuíram
para este cenário, e, as principais foram: Bioquímica (18 publicações), Biofísica (14),
Anatomia (9), Biologia (8) e Neurofisiologia (4). nas publicações classificadas nas
áreas do conhecimento que compõem a grande área das Ciências Humanas e afins,
verificou-se a prevalência de publicações nas disciplinas: Psicologia (54), Educação
(29), Sociologia (28), Filosofia (11) e História (6).
Entre as publicações classificadas como Psicologia, as temáticas mais
freqüentes tratavam sobre Psicologia do esporte (27), seguidas de Aprendizagem
motora (13). Já naquelas da Educação, foram encontradas temáticas ligadas à
Formação do profissional em EF e Esporte (6), Currículo e EF (4), EF escolar (4),
ensino (4) e Metodologia e estratégias de ensino (3). Para aquelas com escopo em
Sociologia, as temáticas que predominavam estavam ligadas à Sociologia aplicada à
107
EF e Esporte (11), Questões de gênero (5) e Lazer (4) enquanto em Filosofia as
temáticas mais freqüentes relacionadas tratavam de questões ligadas à Ética e
Estética (valor) na EF (8) e Filosofia aplicada a EF e Esporte (3).
Tendência semelhante é também observada na análise de disciplinas
segundo os periódicos (Figura 6). Com exceção da RMEFE, é visível também a
preponderância de publicações cujo escopo se enquadra em Fisiologia. Na RMEFE,
predominam as publicações cujo foco central enquadra-se em Educação (9), as
quais representam 21,4% do total da revista.
FIGURA 6
As publicações classificadas em Fisiologia apresentavam várias temáticas, a
mais freqüente tratava sobre “Testes e instrumentos de análise” (119). Outra
temática bastante encontrada nestas publicações relacionava-se à “Fisiologia do
exercício” (n=52). Alimentação/suplementação e exercício (26), Atividade física (26),
Atividade física envolvendo idosos (24), Treinamento (24), Cineantropometria (19),
Força muscular (22), Aptidão física (11) e Hidratação no exercício (7) foram também
temáticas freqüentes nesta área. Importante mencionar que para a realização de
muitos desses estudos são necessários instrumentos, equipamentos e laboratórios
que demandam grandes investimentos, entretanto, apesar dessa condição, as
pesquisas em fisiologia foram as que prevaleceram. Isso sugere o forte diálogo da
pesquisa em EF com a disciplina da Fisiologia, demonstrando a intensa influência da
grande área biológica neste campo de conhecimento.
Os dados de disciplina e grandes áreas foram reunidos em dois únicos
grupos: (1) publicações com abordagem biológica e (2) publicações com abordagem
não biológica. No total, 435 publicações de nossa análise têm abordagem biológica
(73%) enquanto 160 publicações (27%) têm abordagem não biológica. A análise por
periódicos mostra um cenário semelhante: com exceção da REMEFE e RBEFE, os
outros dois periódicos mostram uma tendência absoluta de publicações cuja
abordagem é de caráter biológico: a RBCM com 182 publicações deste tipo (74%), a
RBME com 166 (96%), a RBEFE com 77 (57%) publicações, apresenta valores mais
equilibrados e a REMEFE com 10 (24%) (Figura 7).
108
FIGURA 7
Cenário semelhante a este, com predominância de publicações classificadas
nas áreas das ciências biológicas e reduzido número nas ciências humanas e
sociais, foi também observado por Faria Jr. em 1987. Neste estudo, intitulado
“Pesquisa, descrição e interpretação das tendências em EF”, o pesquisador verificou
que apenas 6,47 % dos trabalhos em EF, publicados no período de 1975 a 1984,
apresentavam preocupação de ordem filosófica/sócio-antropológicas enquanto a
maioria absoluta, 64,54%, apresentava preocupações de ordem biológicas / técnicas
(apud Oliveira, 1994).
Segundo Oliveira (1994), é a partir da reforma curricular de 1987 que os
aspectos sócio-filosóficos da formação geral do novo currículo passam a ser
consubstanciados em três áreas do conhecimento: conhecimentos filosóficos,
conhecimentos do ser humano e conhecimentos da sociedade. No entanto, tal
mudança parece ainda não se refletir na pesquisa brasileira em EF, através dos
periódicos analisados.
Discussão
Os dados apresentados neste trabalho referem-se exclusivamente às
informações extraídas de um conjunto limitado de periódicos nacionais,
credenciados por uma das principais agências de fomento à pesquisa do país, a
CAPES. Esse credenciamento lhes garante credibilidade e também visibilidade, uma
vez que os quatro periódicos analisados neste estudo são integralmente acessíveis
na Internet para qualquer cidadão da área de EF ou não. No entanto, vale
mencionar que este conjunto de dados espelha uma parte do conhecimento gerado
nesta área e que, portanto, o entendimento completo da questão central deste
trabalho - e de outras que aparecem - necessitará de análises complementares, com
outros enfoques e olhares, iniciativas que já estão sendo tomadas pelos autores.
Apesar destas limitações, as informações geradas neste trabalho levantam
evidências acerca das tendências e das características atuais de uma parte
importante da pesquisa brasileira em EF com visibilidade nacional: ela vem sendo
conduzida por grupos pequenos, com maior participação de homens como primeiro
autor, em formato de trabalhos originais, com grande concentração institucional,
mas pouca colaboração internacional.
109
No conjunto das publicações, é possível observar uma maior valorização dos
saberes advindos das ciências biológicas e, em especial, da fisiologia (são 376
publicações). Por outro lado, saberes procedentes de outras grandes áreas ou
disciplinas mais humanísticas e/ou sociais, como a filosofia, a história, a sociologia,
a psicologia, a educação, também são encontradas, porém, são ainda minoria.
A comparação de nossos achados com aqueles de Faria Jr. sugere que os
estudos com temáticas nas ciências humanas (psicologia, sociologia, educação) e
sociais estão ganhando espaço na pesquisa em EF no Brasil. Esta parece ser uma
tendência natural na área que, muito embora tenha a base de sua construção
histórica nas áreas médica e biológica, é sobre as áreas humanísticas, sociais e/ou
culturais que tem buscado cada vez mais respaldo para melhor entender como se
dão as relações entre a prática de atividade física e questões acerca do bem-estar,
lazer, envelhecimento, de comportamentos sociais, etc.
Discussões acerca de como o movimento humano deve ser tratado, sob a
perspectiva de fenômeno cultural ou biológico, são freqüentes na EF (Oliveira, 1994;
Bracht, 1999; Satin in Moreira, 2005). Entretanto, os resultados do nosso estudo
confirmam a forte presença de questões relacionadas à preocupação com a
atividade física numa perspectiva biológica. Fatores como o poder da história da
construção da área, os currículos da graduação e pós-graduação e a crença no
status proporcionado pelas pesquisas (básicas) nas ciências naturais podem ser as
razões para a continuidade dessa tendência. Além disso, não devem ser
desprezados fatores relativos ao perfil dos periódicos analisados. Dos quatro
periódicos analisados neste estudo, dois deles, RBCM e RBME, apresentam um
direcionamento temático da pesquisa em EF mais voltado para a área médica e
biológica. No entanto, de se destacar o papel destes dois periódicos na difusão
dos conhecimentos produzidos pelos programas de pós-graduação em EF. Tal
como será apresentado na parte 2 deste trabalho, de um total de 1.377 publicações
em periódicos com filiação nas 11 pós-graduações analisadas, 167 (12,1%) e 102
(7,4%) foram publicadas na RBCM e RBME, respectivamente. Assim, se por um
lado parte dos periódicos examinados neste estudo apresenta um viés biológico, por
outro eles representam parte importante da pesquisa em EF, vinculada aos
programas de pós-graduação.
Logo, considerando a ênfase na disciplina da fisiologia do exercício apontada
neste estudo, cabe lembrar o dualismo grego
4
no que se refere à forma dicotômica
110
de ver o homem, divido em corpo e mente. O pesquisador ou o profissional em EF,
ao considerar o indivíduo de forma dicotômica, irá, sem vida, adotar uma posição
filosófica diferente daquele que assumir uma visão de homem enquanto uma
unidade. Atualmente, muito se discute sobre o que é EF e se este seria o nome mais
apropriado para designar este campo de conhecimento. Um coletivo de autores
(2005) observa que necessidade de uma teorização mais ampla sobre o que é
EF. Apesar das limitações, o presente estudo aponta características que podem
contribuir para esta discussão. Além disso, suscita algumas questões: será que o
prestígio que advém da medicina, área fundadora da EF, seria a motivação que está
por trás da maior tendência de pesquisa na área das ciências biológicas? Será que
esta escolha garante ao pesquisador da EF maior status? Por outro lado, o que
explicaria uma pesquisa em EF ainda pouco interessada nos aspectos humanísticos
e sociais? Escolher este caminho significaria optar por temáticas de menor prestígio
e status?
A situação atual pela qual passa a EF pode ser entendida e refletida a partir
da Teoria de Campo, pensada e elaborada por Pierre Bourdieu (2003). Para este
sociólogo, campo é um espaço social de dominação e conflitos, que segue regras
próprias de organização e de hierarquia. Um ponto importante desta teoria é o
conceito de autonomia, definido como “a capacidade de refratar, retraduzindo sob
uma forma específica as pressões e ou as demandas externas” (Bourdieu, 2003,
p.22). Segundo ele, quanto maior a autonomia do campo menor os efeitos de
pressões externas. Desta forma, ao analisar a Educação Física como campo, seria
possível sugerir que a dualidade de concepções tem causado desequilíbrios em sua
estrutura? Será que ocorrem conflitos internos por poder e legitimação?
A literatura sugere que as disputas por paradigma no campo da EF e por sua
identidade são recorrentes
(Verenguer, 1997, Nahas e Bem, 1997, Massa 2000,
Kokubun, 2003, Betti; Carvalho; Daolio; Pires, 2004, Guedes e Rubio, 2004, Cunha,
(in Moreira, 2005), Rocha Júnior, 2005). Enquanto isso, nosso trabalho aponta para
o predomínio da visão mecanicista de homem no cenário da pesquisa atual nacional
em EF, visão que se contrasta com a demanda atual pelo entendimento do homem
como um ser uno.
111
Agradecimentos:
As autoras agradecem à Dra Verônica Salerno Pinto pela valiosa contribuição nos
critérios de classificação, ao doutorando Carlos Henrique Lobo e aos doutores Sonia
M. R. Vasconcelos, Martha M. Sorenson e Victor Andrade de Melo pela revisão e
análise crítica do manuscrito.
Notas
(1) Resumidamente tais propósitos podem ser definidos como: (1) o militar, no qual
a atividade física aparece associada à construção de corpos fortes para o combate
nas guerras, (2) o higiênico, onde a formação de um corpo disciplinado, forte e
saudável do trabalhador, a partir da atividade física, é requisito indispensável para
atender às demandas das classes dominantes (3) o eugênico, no qual a atividade
física relaciona-se diretamente ao projeto de melhoria da raça (4) o terapêutico,
onde a prática da atividade física está associada ao tratamento de doenças, (5) o
pedagógico, no qual a atividade física é entendida como uma prática eminentemente
educativa, (6) o rendimento esportivo que usa o treinamento físico para alcançar a
eficiência na performance e melhorar os resultados dos atletas, (7) o fitness que
busca na prática da atividade física a melhoria da aptidão física e da saúde e a (8)
estética corporal modelo no qual a prática de atividade física é usada para se
alcançar um corpo que atenda aos padrões estéticos da atualidade.
(2) De acordo com Martins (2006), desde 2001, o Portal Periódicos CAPES tem se
constituído como a principal ferramenta de acesso para pesquisadores, estudantes e
docentes de instituições públicas e privadas de ensino superior e de pesquisa, com
uma coleção de 12.572
2
periódicos nacionais e internacionais nas mais diferentes
áreas do conhecimento. Apesar do grande volume de periódicos, disponibilizados
pela CAPES, o Portal não cobre, por diversas razões, inclusive econômicas, 100%
dos periódicos das áreas; portanto, o Portal não cobre todo o conhecimento gerado.
(3) Detalhes sobre o modus operantis das ciências sociais e humanas e das ciências
biológicas e exatas, inclusive a questão de autoria, são apresentadas e discutidas
em diversas obras, tal com “As duas culturas e uma segunda leitura”, de Snow C.P.
(1995)
(4) Um exemplo é o de Platão que considerava que “a alma (mente) estava no corpo
como num cárcere” (Padovani & Castagnola, 1978 p.118)
112
Abstract
After few centuries of its foundation, the discipline of Physical Education (PE) resides
with a dichotomic approach: on the one hand, the tradition of its medical and
biological aspects and on the other hand, socio-cultural, political and philosophical
issues are highlighted. This seems to disrupt the historical concept of “the biologized
body”. Within this context, we have started an investigation of trends in Brazilian
research on PE. Using a bibliometric approach, in the present paper we analyze
scientific publications from four Portuguese-language journals, in the 2001-2005
period. Our aim is identify with of the two concepts prevail in Brazilian current
research on EP. The following steps were taken: (a) data-gathering and
categorization; and (b) quantitative and qualitative analyses. We found that 431
(72.43%) out of 595 of the publications analyzed were from the biological sciences.
More specifically, 376 (63.19%) were from physiology. These results point to the
prevalence of a broad biological approach to PE, in which anatomical, biochemical,
biophysical, and medical aspects at large are prevalent. Although our data does not
allow us to give a complete picture of research trends in PE in Brazil, they suggest
that PE’s current research in the country is still biologically-oriented, revealing its
strong historical concept.
Key-words: Physical Education; scientific communication, national journals,
bibliometrics.
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115
Legendas:
Quadro 1: Visão evolutiva e o perfil dos primeiros periódicos da área de EF.
Quadro 2: Periódicos analisados: período e total de artigos.
Quadro 3: Exemplo da categorização dos artigos.
Figura 1: Publicações de EF segundo o número de autores e periódicos.
Figura 2: Autoria das publicações de EF segundo sexo e periódicos.
Figura 3: Número e distribuição acumulada (inset) das publicações em EF, segundo
as principais instituições de afiliação dos autores.
Legenda: USP (Universidade de São Paulo); UNESP (Universidade Estadual
Paulista); CELAFISCS (Centro de Estudos do Laboratório de Aptidão Física de São
Caetano do Sul); UGF (Universidade Gama Filho); UPM (Universidade Presbiteriana
Mackenzie); UCB (Universidade Católica de Brasília); UEL (Universidade Estadual
de Londrina); UNIFESP (Universidade Federal de São Paulo); UNICAMP
(Universidade Estadual de Campinas); UFRJ (Universidade Federal do Rio de
Janeiro); UERJ (Universidade do Estado do Rio de Janeiro); UFRGS (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul); UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais);
UFSC (Universidade Federal de Santa Catarina); UCB/RJ (Universidade Castelo
Branco); UniFMU (Centro Universitário das Faculdades Metropolitanas Unidas);
UFPR(Universidade Federal do Paraná); UFU (Universidade Federal de Uberlândia).
Figura 4: Publicações de EF segundo a tipologia e periódicos.
Figura 5: Publicações de EF com e sem colaborações Internacionais.
Figura 6: Publicações nacionais em EF segundo a disciplina e periódico.
Figura 7: Publicações de EF segundo a abordagem e periódico.
116
Quadro 1:
Período
Revista Chancela Perfil
1932 – 1960
Revista EF Escola de EF do Exército Produzia e veiculava
doutrina sobre EF aplicada
ao Exército, co-produzia e
veiculava um projeto
nacional para a área. A
partir da década de 1960,
volta-se, exclusivamente,
para as pesquisas com
ênfase na preparação física
da tropa e de atletas de alto
nível.
1932 – 1945
Revista
Educação
Physica
Revista técnica de ensino
de caráter privado e
comercial editada pela
Companhia Brasil
Editora.
Buscava divulgar os
princípios científicos, a
formação profissional, os
esportes, os fins morais e
sociais, colaborando com os
governos e instituições
particulares na implantação
e consolidação da Educação
Física no País.
1941 – 1958
Boletim de
Educação Física
Divisão de Educação
Física do Ministério da
Educação e Saúde.
Veiculava a política e ações
governamentais na área.
1944 – 1952
Revista Brasileira
de Educação
Física
Revista de ensino de
caráter privado e
comercial feita pela
Editora A Noite. A
coordenação editorial é
de Inezil Penna Marinho.
evidências de que esta é
uma revista de síntese do
pensamento brasileiro para
a área.
1945-1966 Arquivos da
ENEFD
Criada e vinculada à
Universidade do Brasil
(UB)
Difusão de conhecimentos
por meio da divulgação de
informações obtidas a partir
de pesquisas.
Fonte: Adaptada de Dacosta, 2005 (apud Neto, 2005, p. 776) e Melo, 2005
117
Quadro 2:
Títulos Período Artigos
A Revista Brasileira de Ciência do Movimento - RBCM 2000/2005 246
Revista Brasileira de Medicina do Esporte – RBME 2001/2005 172
Revista Brasileira de Educação Física e Esporte – RBEFE
2000/2005 135
Revista Mackenzie de Educação Física e Esporte –
REMEFE
2002/2005 42
Total
595
Quadro 3:
Título Temática Disciplina
Grande
Área
Abordagem
Efeito do treinamento
físico com natação sobre
o sistema cardiovascular
de ratos normotensos.
Treinamento
Fisiologia
Ciências
Biológicas
Biológica
A estética como um valor
na Educação Física
Estética Filosofia Ciências
Humanas
Não
Biológica
118
Figura 1:
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
0
10
20
30
40
50
60
70
Número de publicações
Número de autores
RBCM
RBME
REMEFE
RBEFE
Figura 2:
0% 20% 40% 60% 80% 100%
RBME
RBCM
RBEFE
REMEFE
Autores, %.
Mulheres Homens
119
Figura 3
USP
U
n
esp
U
P
M
UGF
C
ELAFISCS
UE
L
UCB
UF
M
G
UNIFES
P
Unicamp
UF
RJ
UF
RGS
UERJ
UP
UF
S
C
0
20
40
60
80
100
Nº publicações
USP
U
n
esp
UP
M
UGF
CELAFISCS
UEL
U
CB
U
F
M
G
UNIFESP
U
n
ica
m
p
U
F
R
J
UFRGS
UERJ
UP
U
F
SC
--
0
20
40
60
80
100
Acumulado, %
Figura 4
Original Revisão Outros
0
50
100
150
200
Nº Publicações
RBCM
RBME
RBEFE
REMEFE
120
Figura 5
0% 20% 40% 60% 80% 100%
RBCM
RBEFE
RBME
REMEFE
Publicações, %.
Sem colaboração Com colaboração
121
Figura 6
Figura 7
0% 20% 40% 60% 80% 100%
REMEFE
RBEFE
RBCM
RBME
Publicações, %
Biológica Não biológica
122
3.4. MANUSCRITO 2
Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física Parte 2: A
heterogeneidade epistemológica nos Programas de Pós-Graduação
Rosa, S.P. & Leta, J.
Aceito pela Revista Brasileira de Educação Física e Desporto (2010b)
Resumo
A fim de contribuir com o debate sobre a heterogeneidade epistemológica da
Educação Física (EF) e a falta de critérios adequados para avaliar a pesquisa e
estudos com enfoques pedagógicos e socioculturais, o presente trabalho se propõe
a caracterizar a pesquisa atual em EF que tem origem nos programas de pós-
graduação (PGs) no Brasil. A pergunta central é qual a principal tendência
epistemológica da pesquisa originada nas PGs em EF no Brasil? Partindo desta
pergunta, iniciamos uma detalhada análise da produção acadêmica de 11 PGs
inseridos na área de avaliação de Educação Física. A análise baseou-se nos
relatórios anuais do triênio 2001/2003, disponíveis on-line pela CAPES e que
apresentavam as produções bibliográficas de cada PG. No total foram analisados
5.628 títulos dos diversos tipos de produção bibliográfica. Os dados sugerem que a
pesquisa em EF, gerada pelas PGs, tem visibilidade muito restrita, uma vez que
livros e anais, com circulação limitada, constituem-se nos principais veículos para
difundir o conhecimento em EF. Os dados também indicam a prevalência de estudos
com base biológica e, apoiados principalmente na fisiologia, o que reflete a
construção histórica da área de EF. Entretanto, observou-se também um forte
influencia de outras disciplinas, ou em outras palavras uma grande heterogeneidade
epistemológica.
Palavras-chave: Educação Física; pós-graduação; pesquisa; visibilidade;
multidisciplinar.
123
Introdução
Durante a Idade Media, o cristianismo pregava que para se alcançar a
salvação da alma as atividades relacionadas ao corpo deveriam ser desprezadas
(Ramos, 1983, p.165). A prática de atividade física também não era recomendada
para fins pedagógicos, especialmente na educação voltada às classes mais pobres,
que estava confiada essencialmente à Igreja (Cambi, 1999, p. 296). Este cenário se
modifica a partir do século XIV, quando um movimento de valorização de aspectos e
ideais do ser humano se difunde por diferentes setores. Ao contrário da ideologia
difundida na Idade Média, com o Humanismo as atividades físicas e os jogos o
entendidos como um meio de educar e passam a ser valorizados assim como os
aspectos psicológicos, morais e sociais da infância.
É a partir desta valorização e da concomitante organização do conhecimento
em disciplinas, que a Educação Física (EF) começa a ser introduzida nas escolas. O
processo de sistematização desta área tem inicio na Europa através dos sistemas
ginásticos e mais tarde pelo desporto. O Philantropinum, criado em 1774, por
Johann Bernhard Basedow, foi a primeira escola a incluir a ginástica no currículo no
mesmo plano das disciplinas teóricas, marcando, assim, o inicio da incorporação da
EF pelo sistema de educação formal (Marinho, 1980; Ramos, 1983). Porém, é na
Inglaterra, por influência do contexto sócio-político da época, que a prática do
desporto é apropriada pela EF, organizando-se de forma mais consistente para fins
educativos (Ramos, 1983, p.230). Neste processo, os jogos começaram a ser
ensinados em todas as public schools, ganhando rápida difusão entre os jovens.
Aos poucos, os sistemas ginásticos e o desporto passaram a ser adotados
pelos sistemas de educação formal de diversos outros países. Por traz disso, estava
a percepção, especialmente de filósofos e pedagogos, do potencial da atividade
física como veículo para a formação dos estudantes. Entretanto, no início, essa nova
disciplina escolar era ministrada por instrutores ou por militares, ainda sem
preparação específica. Segundo Ramos (1983), esse quadro começa a se modificar
com a fundação de algumas escolas específicas na Europa, tais como Real Instituto
Central de Ginástica em Estocolmo, Suécia, em 1813 (hoje Escola Superior de
Ginástica e Desporto) e a Escola Normal Civil e Militar de Ginástica da França, em
1820. Posteriormente, outras escolas superiores voltadas para a formação do
124
profissional em EF são fundadas não somente na Europa, mas também nos EUA
(Mechikoff e Estes, 1998).
No Brasil, a fundação da Escola Superior de Educação Física do Estado de
São Paulo, em 1934, e da Escola Nacional de Educação Física e Desportos (ligada
à Universidade do Brasil, atual UFRJ), em 1939, são marcos da incorporação da EF
no ensino superior brasileiro. No entanto, segundo Marinho (1980), movimentos em
prol da EF têm início ainda no Brasil império, a partir de conferências, elaboração de
livros e de outras iniciativas. Neste período, surgem os primeiros clubes que
ofereciam infra-estrutura, estimulando, assim, a prática de formas variadas de
atividades físicas. no Brasil República, a prática de jogos nos jardins de infância
das escolas públicas ganha apoio legal, após regulamentação específica, tal como a
aquela referente à Reforma Fernando Azevedo, em 1928, que tornou a EF
obrigatória nas instituições de educação em nível de ensino primário, normal e
profissional (Marinho, 1980, p.172). Essa lei gerou demanda específica para
formação de profissionais na área, motivação necessária para a criação das
primeiras Escolas Superiores de EF no país; fato ocorrido na Europa e EUA
mais de um século.
A Pós-Graduação em EF no Brasil
Se por um lado os cursos de graduação em EF ganharam espaço no Brasil
ainda na 1
a
metade do século XX, a criação dos primeiros cursos de pós-graduação
(PG) ainda teve que aguardar algumas décadas. A primeira instituição a oferecer um
curso de mestrado e doutorado em EF no Brasil foi a Universidade de São Paulo,
em 1977 e 1988, respectivamente (Figura 1). Segundo Betti (1991 apud Verenguer,
1997) alguns fatores foram fundamentais para a consolidação das PGs em EF no
Brasil, dentre eles: o retorno de pós-graduandos brasileiros que se encontravam no
exterior, a sistematização de eventos científicos, a fundação de periódicos da área e
um ambiente favorável ao desenvolvimento da pesquisa em EF.
Mas foi a partir dos anos de 1980, que as pós-graduações em EF cresceram
e se espalharam por todo o país, vinculadas tanto a instituições públicas como
privadas.
FIGURA 1
125
Kokubun (2003) confirma o crescimento do número de programas de PGs em
EF no Brasil, mas ressalta que esse crescimento oculta enormes desafios. Dentre
eles, o autor destaca a manutenção da qualidade dos programas, a reflexão sobre
sua base epistemológica, o aumento da quantidade e da qualidade da produção
intelectual, a redução da heterogeneidade da produção docente e a formação de
docentes de ensino superior voltada para a pesquisa e não apenas para o ensino.
A partir de dados coletados pela Coordenadoria de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior (CAPES), para o período de 1996 a 2001, Kokubun
(2003) destaca que as PGs em EF no Brasil enfatizam a formação de recursos
humanos para as atividades de ensino. Tal cenário tem como base a análise
realizada pelo autor sobre a produção intelectual gerada nestes programas, que
apontou para uma produção essencialmente doméstica, com pouca visibilidade
internacional. O autor também analisa o desempenho individual dos docentes
vinculados aos programas de PG e percebe que somente 1/3 deles atinge o mínimo
de publicações exigido pela CAPES para uma boa avaliação das atividades de
pesquisa.
Em 2008, as PGs em EF no Brasil somavam 29 com mestrado e 13 com
doutorado. Todos estes programas se encontram vinculados à grande área do
conhecimento das Ciências da Saúde e eram avaliados segundo critérios objetivos
que valorizam alguns aspectos, são eles: a proposta do Programa, a qualificação do
corpo docente, as atividades de pesquisa, as atividades de formação, as teses e
dissertações e a produção intelectual de docentes e discentes do programa
(CAPES, 2008).
O uso de critérios objetivos, dentre os quais as publicações internacionais,
para avaliar as PGs e a pesquisa em EF no Brasil tem gerado intenso debate na
área (Kokubun, 2003; Betti, Carvalho, Daolio & Pires, 2004; Lovisolo, 2007; Tani,
2007). Na base desta discussão estão, pelo menos, dois aspectos: a diversidade
temática, ou em outras palavras, a heterogeneidade epistemológica da EF e falta de
critérios adequados para avaliar o desempenho de pesquisadores que desenvolvem
pesquisas e estudos em temáticas de EF com enfoques pedagógicos e
socioculturais. Para Betti (2003), Bracht (1999) e Lovisolo (1998) uma área
multidisciplinar como a EF - que tem base em diferentes tradições disciplinares e,
portanto, diferentes pressupostos - dificilmente alcançará uma unidade
epistemológica (apud Betti, Carvalho, Daolio & Pires, 2004, p. 189).
126
Assim, com o propósito de contribuir com este debate, o presente trabalho se
propõe a caracterizar a pesquisa atual em EF que tem origem nos programas de
pós-graduação no Brasil. Na parte 1 deste projeto que estamos conduzindo, nos
debruçamos sobre algumas revistas nacionais voltadas para a pesquisa em EF.
Dentre outros aspectos, percebemos que o caráter multidisciplinar está presente nas
publicações analisadas, mas é na disciplina “fisiologia” que repousa o maior enfoque
da pesquisa em EF no Brasil. Neste trabalho, que entendemos ser uma continuidade
do anterior, a pergunta central é qual a principal tendência epistemológica da
pesquisa originada nas PGs em EF no Brasil? Seque o perfil desta produção se
assemelha aquele nos periódicos nacionais? Para responder esta pergunta,
mergulhamos no universo das PGs e apresentamos também algumas outras
características que possibilitam visualizar a diversidade entre elas.
Procedimentos metodológicos
Este trabalho insere-se em um projeto que busca entender a pesquisa em EF
no país a partir de diferentes abordagens. Na parte 1 deste estudo, analisamos
quatro periódicos nacionais a fim de caracterizar a pesquisa contemporânea
brasileira em EF. Nesta parte, o foco está sobre os programas de PGs da área de
EF, os quais têm sido cada vez mais exigidos a produzir e publicar o conhecimento
gerado por eles em veículos classificados em um ranking de visibilidade, que vai
daqueles veículos mais locais aqueles mais internacionais. Como, então, se
configura esta produção em relação às disciplinas e abordagens?
Assim, partindo desta pergunta, foram coletados os relatórios anuais
referentes às produções bibliográficas de 11 programas de pós-graduação, todos
inseridos na área de avaliação e área básica de Educação sica. Estes
representam somente os programas específicos de Educação Física, Motricidade ou
Movimento Humano. Os relatórios analisados referem-se ao triênio 2001/2003,
todos disponíveis on-line pela CAPES (CAPES, 2007). Estes 11 programas
constavam na lista de programas ativos e avaliados pela CAPES em 2004, mas três
deles não apresentaram relatórios em um ou dois anos de avaliação, uma vez que
haviam sido recém criados (Quadro 1). A escolha desta janela temporal, o triênio
2001/03, deve-se ao fato de que quando este projeto iniciou-se, ainda não estavam
finalizadas e disponíveis as avaliações do triênio 2004/2006. Além disso, esse o
127
referido triênio é também o período da análise que realizamos sobre o perfil das
revistas (Parte 1).
QUADRO 1
Após a coleta, cada um dos 28 relatórios teve toda a informação bibliográfica
extraída manualmente para uma planilha em Excel 2.0. Ao final, foram coletados
5.628 títulos dos diversos tipos de produção bibliográfica publicados pelos 11
programas. Cada tulo contém várias informações, tais como: autoria, referência
completa, classificação segundo os critérios Qualis. A estas informações foram
agregadas outras, em particular, a temática central da publicação, a disciplina, a
grande área e a abordagem. Detalhes desta classificação estão descritos em Rosa e
Leta (2010a).
Resultados
Os resultados apresentados a seguir estão organizados em dois blocos
principais: (1) a visibilidade e (2) a heterogeneidade epistemológica da pesquisa
gerada pelas PGs em EF.
1. A visibilidade da pesquisa em Educação Física: qual o público alvo das
PGs?
Segundo os critérios de avaliação da CAPES para os programas de PG da
grande área da saúde, no item ‘produção intelectual’, os trabalhos impressos
originados pelas PGs em EF são classificados em uma escala decrescente, que vai
da nota A, B ou C, em Internacional, Nacional ou Local. A pontuação dos programas
se baseia nessa escala hierárquica, onde os trabalhos publicados em periódicos
classificados como Internacional A são os de maior peso (CAPES, 2008).
A análise dos veículos utilizados pelos programas evidencia, no entanto, que
a produção intelectual publicada em periódicos não é a de maior ocorrência, mas
sim as publicações em anais de congresso (Figura 2). No triênio, das 5.628
publicações analisadas, encontramos 3.594 em anais, 1.377 em periódicos e 657
em livros e/ou capítulos de livros. Apesar de haver alguma tendência de mudança,
este perfil pouco se altera quando comparamos os dados de 2001 com aqueles de
2003 (dados não apresentados).
128
FIGURA 2
Importante perceber que a tendência de publicar em anais não tem relação
com volume de publicações das PGs e é justificada pela “tradição bem-sucedida na
realização de eventos científicos de grande porte, de boa qualidade, tanto em
conteúdo como em forma, nos quais se reúnem e interagem pesquisadores
experientes e iniciantes. Nós gostamos de nos encontrar e debater de viva voz”
(Betti, Carvalho, Daolio & Pires, 2004, p. 187).
a análise do desempenho destes programas em relação à visibilidade da
produção intelectual publicada em periódicos (n=1.377) – Classificação Qualis -
mostra uma predominância em periódicos nacionais: no total foram 877 publicações
nestes periódicos, o que representa 64% do montante de trabalhos neste formato.
Esse dado corrobora a observação de Kokubun (2003), quanto ao baixo impacto da
produção intelectual das pós-graduações em EF. A análise por programa mostra, no
entanto, que esta é uma tendência que não se repete em todas as PGs (Figura 3).
FIGURA 3
A análise comparativa entre 2001 e 2003 indica um tímido crescimento das
publicações em periódicos internacionais (dados não apresentados). De fato, ao
analisar mais detalhadamente os periódicos, é possível evidenciar a forte presença
de artigos escritos em Português e/ou em periódicos nacionais, a qual se mantém
ao longo dos três anos analisados. Esta predominância fica bem evidenciada na
análise apresentada no Quadro 2. Do total de artigos publicados (1377) pelos
programas, cerca de 80% são escritos em português. Dentre o total de periódicos
onde são publicados os artigos dos programas, observa-se também o peso dos
periódicos nacionais, que representam cerca de 60% do total. entre os periódicos
centrais, aqueles onde 1/3 dos artigos de nossa amostra foram publicados e são
considerados o núcleo central da área (Bradford, 1934), apenas o FIEP bulletin (que,
apesar de aceitar trabalhos em português, pertence a uma associação internacional)
não é nacional. Importante aqui destacar que dentre os periódicos centrais estão
três dos quatro periódicos considerados na parte 1 deste estudo (Rosa & Leta,
2010a), um indicativo da forte influência deles para a produção da academia.
129
2. A heterogeneidade epistemológica da pesquisa em EF: dilemas de uma
área?
Tal como sugerido por Tani (2000 apud Kokubun, 2003), a EF entendida
como campo de conhecimento carece de uma unidade epistemológica. A análise
das disciplinas que embasam a produção intelectual em Educação Física permite
identificar a diversidade temática que compõe a pesquisa nesta área e, portanto,
inferir sobre esta questão dentro dos programas de PGs. Assim, para as 5.628
publicações das PGs em EF, foram encontradas 136 temáticas, dispersas em 35
disciplinas. Dentre as temáticas mais freqüentes encontram-se: fisiologia do
exercício (n=527), testes e instrumentos de análise. (n=488), biomecânica (n=310),
aspectos sociais aplicados à EF (n=299) e psicologia do esporte (n=206).
O agrupamento destas temáticas permite visualizar tal diversidade. A Figura 4
mostra a distribuição segundo a “disciplina-mãe” de 5.301 publicações, que
representam 94% do volume analisado. Assim, é possível observar que apesar de
as publicações com temática na disciplina fisiologia predominarem, temáticas de
outras disciplinas são também importantes para a produção das PGs em EF, mesmo
que ocorram em menor número.
FIGURA 4
A partir da classificação por disciplinas, as publicações das PGs em
Educação Física foram agrupadas segundo o tipo de abordagem: biológica ou não
biológica. Temáticas com conteúdo no qual o uso da atividade física atendia a
questões ligadas aos aspectos anatômicos, bioquímicos, biofísicos, biológicos,
fisiológicos, médicos, de reabilitação e da saúde do ser humano, foram classificadas
como de abordagem biológica. As demais foram classificadas como abordagem não
biológica. Assim, dos 5.628 títulos analisados, 5.600 puderam ser classificados, e
deste total, 2.981 (53,2%) estão voltados para temas e/ou foco com abordagem
biológica, enquanto 2.619 (46,8%) têm abordagem não biológica, uma relação que
se mantém estável ao longo dos três anos analisados.
Em um estudo anterior, Faria Jr. (1987 apud Oliveira, 1994) identificou, no
período de 1975 a 1984, que 64,5% das publicações em EF apresentavam
preocupações de ordem biológica / técnica. Rosa e Leta (2010a) identificaram
que 73% dos artigos publicados em quatro periódicos nacionais apresentavam
abordagem biológica e 27% abordagem não biológica. Nestes dois trabalhos, é
130
possível observar uma diferença marcante na presença destas duas abordagens,
biológica e o biológica. Quando olhamos para toda nossa amostra (n=5.628) não
encontramos esta mesma tendência. No entanto, quando examinamos
individualmente para o total da produção acadêmica de cada uma das PGs
analisadas, observamos uma variação maior entre estas abordagens (Figura 5).
FIGURA 5
A análise institucional mostra que a pesquisa com abordagem biológica é
muito mais freqüente em cinco dos 11 programas analisados. Nestes programas,
mais de 60% das publicações apresentam esta abordagem. um segundo grupo,
com 5 PGs, que se assemelha mais ao padrão que encontramos para o total da
amostra, ou seja, a fração de publicações com abordagem biológica e não biológica
não difere significativamente. E finalmente, um único caso, o programa da UGF,
que mostra uma tendência muito forte de publicações com abordagem não
biológica. Estes dados indicam o caráter multifacetado da área.
Ao longo dos três anos, verificamos um discreto (aproximadamente 7%)
aumento quantitativo de publicações com abordagem biológica em periódicos e um
pequeno decréscimo em anais (dados não apresentados). as publicações com
abordagem não biológica aumentam nos artigos em periódicos no último ano do
triênio somente, mas em se tratando de anais, observou-se um crescimento ao
longo de todo o triênio.
Diversidade epistemológica versus a visibilidade da pesquisa
Considerando a relação entre o tipo de abordagem – biológica e não biológica
e o tipo de veículo, é possível verificar que nos periódicos predominam as
produções com abordagem biológica (Figura 6A). nos anais, praticamente
uma equivalência na freqüência de ambas as abordagens, enquanto nos livros
predominam aquelas com abordagem não biológica. Betti, Carvalho, Daolio & Pires
(2004) explicam esse comportamento informando que:
É preciso compreender que, nas Ciências Humanas, o livro/capítulo de
livro, muitas vezes, divulga o próprio relatório da pesquisa realizada e é o
veículo mais adequado para os trabalhos nessa área que, por sua
natureza e características, são, em geral, mais longos e cujo conteúdo
ficaria prejudicado se restrito às poucas páginas permitidas nas revistas
131
científicas. Tal não parece ocorrer nas Biológicas ou Exatas, áreas em
que o livro costuma ter caráter didático/ou de revisão; de fato, a
proporção de livros/capítulos é bem menor nessas duas grandes áreas.
Particularmente na subárea pedagógica e sociocultural da Educação
Física, os livros e capítulos têm tido papel importante porque nela ainda
se estão abrindo novas frentes de investigação, nas quais os livros
costumam funcionar como referência inicial. Muitos livros resultaram e
muitos ainda resultarão da publicação de dissertações e teses
“pioneiras” na área.
Esse dado sugere uma relação entre visibilidade e abordagem. Os livros que,
em geral, tem uma circulação mais limitada e, portanto, visibilidade mais local são os
veículos que mais divulgam o conhecimento em EF com abordagem não biológica.
Por outro lado, os periódicos, que podem ter uma circulação mais ampla, mostram
um perfil oposto. Uma análise mais detalhada dos periódicos (Figura 6B) mostra que
esta mesma relação ocorre também entre eles. É cil observar que quanto maior o
Qualis, ou seja, quanto maior a visibilidade dos periódicos, maior a proporção de
artigos com abordagem biológica. E se o artigo está escrito em língua inglesa
(Figura 6C), maior ainda é a freqüência de publicações com abordagem biológica.
Importante destacar que neste grupo de publicações uma forte presença de
periódicos com enfoque nas ciências biológicas. Os periódicos que concentram 1/3
dos artigos em inglês mostram tal tendência, o eles: FIEP Bulletin (nº de artigos=
22), Medicine and Science in Sports and Exercise (n=21), Brazilian Journal of
Medical and Biological Research (n= 10), Electromyography and Clinical
Neurophysiology (n=9) Journal of Hypertension (n=8), Neuroscience Letters (n=7) e
Cell Biochemistry and Function (n=7).
O conjunto de resultados apresentados sugere, assim, que a produção de
artigos das PGs em EF com abordagem biológica está voltada para um público
especializado, de pesquisadores com interesses comuns a esta abordagem, os
pares. aquelas produções com abordagem não biológica, a se considerar todos
os formatos de publicações, estão principalmente voltadas para um público local, o
qual não necessariamente é formado por especialistas.
FIGURA 6:
132
Na tabela 1 é possível identificar as abordagens adotadas pelos diferentes
programas e inferir sobre a visibilidade das suas produções. Independente da
abordagem, o veículo mais utilizado pelos programas são os anais de Congressos,
indicando a importância destes eventos na divulgação dos novos conhecimentos
produzidos na área. Em relação aos artigos em periódicos, aqueles com abordagem
biológica predominam quantitativamente na maior parte dos programas; um
indicativo do maior interesse dos pesquisadores por pesquisas com esta
abordagem. A comparação com a Figura 5 sugere, então, que a tendência biológica
ou não biológica apontada para os programas pode ser diferente se considerarmos
o total da produção ou somente os artigos em periódicos, por exemplo.
Considerações Finais
Neste trabalho, focamos nossa atenção para a pesquisa originada em 11 PGs
em EF, credenciadas e ativas no período de 2001-2003. Todas as análises tiveram
como base os relatórios enviados pelas 11 PGs à CAPES, como parte da avaliação
institucional organizada pela agência, cujo enfoque central se dava a partir da
qualificação Qualis da produção. A partir de 2009, no entanto, um novo modelo de
avaliação institucional foi implantado, substituindo aquele consolidado, o Qualis.
Assim, entendemos que um gap temporal com os dados aqui apresentados e
discutidos, que tem a base em um modelo de avaliação que não existe mais.
Acreditamos, no entanto, que este gap não invalida os dados que apresentamos.
Estes servem como importantes ferramentas para auxiliar na reflexão e discussão
em torno da heterogeneidade da pesquisa em EF no país. Os dados são um retrato
daquilo que as PGs produziram em um período recente da nossa história, onde
foram submetidos a um modelo de avaliação que privilegiava a produção
internacional. Neste item específico, o modelo atual de avaliação parece não divergir
do anterior, o que corrobora ainda mais a validade de nossos dados.
Assim, apesar de tal gap, as informações geradas neste trabalho levantam
evidências acerca da visibilidade e da heterogeneidade da produção em EF gerada
pelas PGs, o “carro-chefe” da pesquisa brasileira.
Sobre a visibilidade, os dados apontam para uma pesquisa voltada para um
público essencialmente nacional (Figura 2 e 3). Este mesmo público tem acesso a
um conhecimento em EF que traz prioritariamente uma abordagem não biológica. Já
133
para o público internacional, a pesquisa brasileira em EF apresenta principalmente
abordagem biológica.
Sobre a heterogeneidade temática da pesquisa brasileira em EF, os
resultados indicam a prevalência, ainda hoje, de estudos com base biológica e,
apoiados principalmente na fisiologia, o que reflete a construção histórica da área de
EF. Entretanto, percebe-se, também, um crescimento da pesquisa com
fundamentação nas ciências humanas mostrando, assim, uma possível mudança
em relação à construção inicial desse campo de conhecimento. Dessa forma, esse
estudo aponta para um perfil multidisciplinar da EF e demonstra os múltiplos
enfoques da pesquisa gerada pelos PGs nesta área, o que vai ao encontro dos
dados e discussão apresentados na parte 1 deste trabalho.
A partir do conhecimento das disciplinas que ancoram as pesquisas geradas
nos programas em EF é possível inferir sobre as concepções que norteiam a
produção intelectual da EF. Assim, considerando aqueles trabalhos que m relação
direta com disciplinas como a fisiologia, biofísica e bioquímica, é possível acreditar
que eles carregam uma concepção de EF voltada para o rendimento, a melhoria da
aptidão física e da saúde. Dessa forma, ao se considerar a EF sob a perspectiva da
biologia, o movimento humano será visto “não como construção social e histórica e,
sim, como elemento natural e universal, portanto, não histórico, neutro política e
ideologicamente, características que marcam, também, a concepção de ciência
onde vão sustentar suas propostas” (Bracht, 2007).
aqueles trabalhos relacionados com a sociologia, bem como a filosofia e a
história podem apresentar uma concepção de EF ligada principalmente à cultura
corporal ou cultura corporal de movimento que tem por característica correlacionar a
prática da atividade física às suas dimensões histórica e social (Soares, Taffarel e
Escobar, 2005). Os trabalhos voltados para temáticas da educação - como a
didática, o currículo, as estratégias e métodos de ensino - parecem considerar o
movimento humano sob o olhar pedagógico, isto é, dentro de uma concepção
pedagógica de EF.
Os dados sugerem que a pesquisa em EF, gerada pelas PGs, ainda que
apontem grande ênfase nos aspectos biológicos do corpo e do exercício, tem um
forte caráter multidisciplinar, ou em outras palavras uma grande heterogeneidade
epistemológica. Mas será que esta pesquisa multidisciplinar está voltada para
atender questões relacionadas às diferentes realidades sociais, como a prática
134
pedagógica (ligada à educação formal)? Será que tem relação com práticas
informais de atividade física, como as atividades executadas de forma espontânea e
sem regularidade nos momentos de lazer, por exemplo? Ou estarão mais
preocupadas em responder as questões relacionadas com as práticas regulares de
atividades físicas/treinamento em academias e clubes? Assim, perguntas como
estas - que os dados do presente trabalho não permitem responder - o essenciais
para entender a dinâmica não só da pesquisa mas da EF como um todo.
Há, sem dúvida, diferenças significativas na forma de entender a EF como
campo de conhecimento. Na perspectiva pedagógica, ela tem uma ligação estreita
com as ciências da educação, mas, do ponto de vista de atividades de treinamento
para a melhoria do rendimento ou de manutenção da aptidão física e da saúde, a EF
tem relação com as ciências que fundamentam os desempenhos esportivos e o
fitness. Assim, é possível inferir que essa heterogeneidade epistemológica é própria
deste campo de conhecimento.
Para este recorte temporal, nossos dados apontam que vivemos um momento
em que, apesar da característica multifacetada, a pesquisa das PGs em EF no país
enfatiza a concepção biológica. As motivações que estão por traz deste perfil podem
ser as mais variadas, tais como: financiamentos específicos que privilegiam os
projetos e pesquisas com este foco, avaliações que valorizam a produção
acadêmica de maior visibilidade, a busca por maior status e/ou reconhecimento do
pesquisador. Estes fatores e outros não apresentados aqui estão em sintonia com a
reflexão apresentada por Bourdieu (2005) acerca do acúmulo de capital simbólico no
meio acadêmico e científico. Pesquisadores envolvidos e dedicados à temáticas da
EF com ênfase nas ciências biológicas estariam, neste momento, com capital
científico maior Assim, em um movimento histórico-social de circularidade, ora uma
concepção poderá receber mais ênfase, ora a outra.
Agradecimentos:
As autoras agradecem aos doutores Verônica Salerno Pinto, Martha M. Sorenson e
Victor Andrade de Melo pela valiosa revisão e análise crítica do manuscrito.
135
Abstract
In order to contribute to the national debate on the epistemological
heterogeneity in the field of Physical Education (PE) and to the lack of adequate
criteria to evaluate research in PE that emphasizes social and pedagogical aspects,
the present study aims to characterize current Brazilian research on PE published by
Graduate Programs (GP). The research question is: what is the main epistemological
trend of research that originates in Brazilian GPs? The data consist of a detailed
analysis of the academic production of 11 GPs in PE, based on the GP triennial
report (2001-2003) available on the website of CAPES, the national agency of
accreditation of graduate programs. From the list of publications of the 11 programs,
a total of 5,628 publications were analyzed. The results suggest that the research in
PE published by Graduate Programs has a limited visibility, since books and
proceedings constitute the most frequent format. The results also show that
publications with a biological approach, especially those based on physiology, are
prominent, possibly an indication of the historical consolidation of the PE.
Nevertheless, a strong influence of other disciplines is also evident, suggesting a
remarkable epistemological heterogeneity.
Key-words: Physical education; graduate programs; research; visibility;
multidisciplinary.
136
Referências:
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________. Educação física escolar: do idealismo à pesquisa-ação. 2002. 336 f. Tese
(Livre-Docência em Métodos e cnicas de Pesquisa em Educação Física e
Motricidade Humana), Faculdade de Ciências, Universidade Estadual Paulista,
Bauru, 2003.
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138
Legendas das figuras:
Figura 1: Evolução da PG na área de Educação Física no Brasil.
Fonte: CAPES (Documento disponível em
http://www.capes.gov.br/images/stories/download/avaliacao/SaudeGrAreaCritAvaliac
ao2001_2003.pdf . Acesso em 24-11-08)
Figura 2: Produção intelectual das PGs em Educação Física segundo o meio de
divulgação, 2001-2003.
Figura 3: Publicações em periódicos das PGs em Educação Física segundo a
classificação Qualis, 2001-2003.
Figura 4: Publicações das PGs em Educação Física segundo as disciplinas mais
freqüentes, 2001-2003.
Figura 5: Publicações das PGs em Educação Física segundo a abordagem, 2001-
2003.
Figura 6: Abordagem Biológica e Não Biológica nas Publicações das PGs em
Educação Física: relação com o formato da publicação (A), com visibilidade do
periódico (B), e língua do artigo (C) 2001-2003.
I = Periódico internacional, N= Periódico nacional, L = Periódico local. As letras A,
B e C que acompanham o I ou o N correspondem ao nível de impacto desses
periódicos, que não ocorre nos periódicos L.
Quadro 1: Programas de Pós-graduação em Educação Física no Triênio 2001/2003.
Quadro 2: Distribuição de artigos e de periódicos – total e em Português – por ano.
Tabela 1: Publicações das PGs em Educação Física segundo a abordagem e
formato, 2001-2003.
Figura 1:
139
USP
1970
1975
1980
1985
1990
1995
2000
2005
2010
0 5 10 15 20 25 30 35
mero acumulado de programas de PG
Ano de criação da PG
Figura 2
85 99 525
101 126 304
129 37 418
70 36 193
263 38 809
27 34 45
221 83 535
225 150 418
35 2 64
129 34 175
92 18 108
0% 20% 40% 60% 80% 100%
UFSC
UGF
UDESC
UFRGS
UNESP/RC
UNIMEP
USP
UNICAMP
UFPR
UCB/RJ
UCB
Periódico Livro Anais
140
Figura 3:
15 69
27 101
36 92
10 24
77 183
73 136
24 46
10 17
38 51
44 53
114 105
0% 20% 40% 60% 80% 100%
UFSC
UCB/RJ
UDESC
UFPR
UNESP/RC
UNICAMP
UFRGS
UNIMEP
UCB
UGF
USP
Qualis Int Qualis Nac Qualis Local
Figura 4:
1918
963
697
475
394
262
245
124
116 107
Fis
i
o
l
ogi
a
Sociologi
a
Psicologia
Bio
f
ís
ica
Educação
Física
B
i
oquí
m
ic
a
Ed
uca
ç
ã
o
His
t
ória
Filosofia
Bio
lo
gi
a
Disciplina
mero de Publicações
141
Figura 5:
139 390
313 392
47 59
353 437
154 140
574 532
538 297
387 195
69 32
245 91
162 54
0% 20% 40% 60% 80% 100%
UGF
UFSC
UNIMEP
UNICAMP
UFRGS
UNESP/RC
USP
UDESC
UFPR
UCB/RJ
UCB
Biológica Não Biológica
142
Figura 6:
214 438
1815 1761
952 420
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Livro
Anais
Periódico
A
Biológica Não Biológica
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Qualis - Local
Qualis - N/C
Qualis - N/B
Qualis - N/A
Qualis - I/C
Qualis - I/B
Qualis - I/A
B
Biológica Não Biológica
0% 20% 40% 60% 80% 100%
Outras
Inglês
Português
C
Biológica o Biológica
143
Quadro 1.
Relatório CAPES
PROGRAMAS DE PG EM EF Ano Ano Ano
Produção
intelectual
Ciências da Motricidade / UNESP - RC 2001 2002 2003 1110
Educação Física / USP 2001 2002 2003 839
Educação Física / UNICAMP 2001 2002 2003 793
Educação Física / UFSC 2001 2002 2003 709
Ciências do Movimento Humano / UDESC 2001 2002 2003 584
Educação Física / UGF 2001 2002 2003 531
Ciência da Motricidade Humana / UCB -
RJ
2001 2002 2003 338
Ciências do Movimento Humano / UFRGS 2001 2002 2003 299
Educação Física / UCB 2002 2003 218
Educação Física / UNIMEP 2003 106
Educação Física / UFPR 2003 101
Total de produção intelectual 1451 1889 2288 5.628
Quadro 2:
ARTIGOS PERIÓDICOS PERIÓDICOS CENTRAIS
Ano Total
Em
Português
Total
Em
Português
Total
Títulos Artigos
2001
279 222 102 64 5 Motriz
42
(79,6%) (62,7%) Rev. Paulista de Educação Física
17
Rev.Brasileira de Ciência e Movimento
13
Rev. Brasileira de Atividade Física e
Saúde
12
Rev. Brasileira de Ciências do Esporte
10
2002
461 388 101 67 3 Rev. Brasileira de Ciência e Movimento
91
(84,2%) (66,3%) Rev. Brasileira de Medicina do Esporte
42
Fitness and Performance Journal
23
2003
637 501 150 91 4 Motriz
82
(78,6%) (60,7%) Rev. Brasileira de Ciência e Movimento
63
Rev.Brasileira de Medicina do Esporte
50
FIEP Bulletin
27
144
Tabela 1:
Biológica Não Biológica
Anais
Artigo em
periódico Livro Anais
Artigo em
periódico Livro Total
UNESP/RC 363 199 12 443 63 26 1106
USP 317 177 44 215 44 38 835
UNICAMP 194 127 32 222 98 117 790
UFSC 226 50 37 296 35 61 705
UDESC 265 100 22 152 28 15 582
UGF 62 54 23 242 46 102 529
UCB/RJ 139 95 11 36 33 22 336
UFRGS 110 35 9 78 35 27 294
UCB 86 66 10 21 25 8 216
UNIMEP 14 20 13 31 7 21 106
UFPR 39 29 1 25 6 1 101
1815 952 214 1761 420 438 5600#
# A diferença entre o total da produção intelectual das PGs no triênio e o total desta
tabela refere-se às publicações que não conseguimos classificar em disciplinas.
145
4. CAPÍTULO 4 – A PESQUISA INTERNACIONAL EM EF
Neste capítulo serão apresentados e discutidos os resultados da terceira e
última etapa metodológica desta tese, a pesquisa internacional em EF. Esta etapa
deu-se a partir da coleta e análise das publicações em EF catalogadas em três
bases de dados, Medline, WebOfScience (WoS) e Scopus, tal como descrito na
metodologia (tópico 2.4). Os dados apresentados aqui compõem o manuscrito 3,
intitulado A Picture of the International Research in Physical Education: a Field of
Multiple Interests. Este manuscrito foi submetido para a revista Sport, Education
and Society.e se encontra na íntegra no Apêndice 1.
4.1. A PRÁTICA DA EF E A FORMALIZAÇÃO DA ÁREA: UMA BREVE HISTÓRIA
PELO MUNDO
31
Analisando a história da EF é possível identificar que a prática da atividade
física é uma das mais antigas atividades humanas. Há evidências de que os Gregos
praticavam atividades físicas de forma regular na Antiguidade e que para estes
povos praticar exercícios era essencial, pois buscavam conquistar uma imagem
corporal semelhante àquelas dos deuses que adoravam. Para filósofos como
Aristóteles e Platão, a prática da atividade física era considerada uma ferramenta
que propiciava, também, o desenvolvimento nas dimensões espiritual, intelectual,
sentimental, além de fortalecer a personalidade dos praticantes.
na Idade Média, devido a ideologias de caráter religioso, a prática de
atividade física era desestimulada. A crença de que a realização de exercícios
31
Boa parte da contextualização histórica que inicia este capítulo e o manuscrito foi apresentada
no Capítulo 1 desta tese.
146
físicos era atividade pecaminosa, no entanto, sofreu resistência durante a
Renascença, período em que a prática de atividades físicas ganhou importância
devido ao florescimento do Humanismo, que resgatou a concepção de corpo dos
Gregos.
Muito embora a associação entre atividade física e a educação tenha surgido
durante o século XIV, a incorporação da ginástica como disciplina regular no sistema
de educação formal ocorreu somente no século XVIII, exatamente em 1774, na
Alemanha. Inicialmente esta nova disciplina era ensinada por instrutores militares ou
praticantes de ginástica, visto que não existiam escolas de formação em EF. Pelo
que se conhece uma das primeiras escolas a formar em EF foi a Royal Central
Gymnastics Institute, fundada em Suécia, em 1813 (OLIVEIRA, 1983). Depois outras
escolas surgiram, tanto na Europa como nos EUA. Quase cem anos depois, em
1901, foi fundado o primeiro curso superior em EF, na Universidade de Columbia,
nos EUA (MECHIKOFF e ESTES, 1998).
A sistematização do conhecimento em EF se estruturou principalmente com
base em informações oriundas da medicina e das ciências naturais, em especial das
ciências biológicas, bem como, por princípios pedagógicos (MECHIKOFF e ESTES,
1998; PARK, 1989). Nos anos de 1800, diferentes sistemas ginásticos foram criados
na Europa e deles emergiram algumas concepções de EF com base,
principalmente, nos sistemas alemão, sueco e inglês, os quais dominaram no campo
da educação (NAUL, 2003). Cada um desses sistemas apresentava uma concepção
diferente de EF: no alemão, a ênfase se dava nos aspectos pedagógicos; no sueco,
a maior preocupação se dava nos aspectos anatômicos e fisiológicos; e no sistema
inglês, o foco estava nos jogos e esportes.
147
Imputa-se aos modelos Europeus, principalmente o alemão e o sueco, a
influência pelo desenvolvimento da EF nos EUA no começo dos anos 1800. Como a
saúde era considerada um assunto de grande importância entre os norte-
americanos, a EF foi recebida com entusiasmo. Assim, a EF floresceu naquele país
com o propósito de prevenir doenças e foi considerada uma subdisciplina da
medicina (MECHIKOFF e ESTES, 1998).
4.2. EF COMO UM CAMPO DE MULTIPLOS INTERESSES E OBJETOS
A EF tem recebido diferentes terminologias, seja na Europa como nos EUA,
as quais corroboram a diversidade de concepções em torno da área. Atualmente
diferentes termos, tais como cinesiologia, ciências dos esportes, ciência do
movimento humano e EF, coexistem, indicando múltipos interesses pelos
profissionais e pesquisadores em EF. Tal contexto sugere uma identidade
multidisciplinar para o campo da EF.
A multidisciplinaridade do campo da EF tem sido tema de muito debate,
incluindo aí aspectos que dizem respeito à atividade de pesquisa. De um lado, há os
que consideram que a EF “é um campo de estudo fundamentado por conteúdos e
métodos originários das ciências biológicas e das sociais” (PARK, 1989, p.15). De
outro lado, a busca por um projeto de pesquisa em EF com interface com as
ciências duras parece oferecer mais prestígio ao campo e a seus agentes. Esta
disputa por reconhecimento associada ao habitus científico parece refletir uma
dualidade em termos do interesse da pesquisa no campo: aqueles que entendem a
EF como um campo fundamentado nas ciências biológicas e aqueles que a
entendem como um campo fundamentado pelas ciências sociais e humanas.
148
O presente cenário da pesquisa em EF pode ser entendido no contexto da
definição de campo científico de Bourdieu (BOURDIEU, 1976, in ORTIZ, 1983).
Bourdieu define campo científico como uma arena social, onde os agentes (os
pesquisadores) lutam para estabelecer o domínio de uma dada concepção. Nessa
luta, aqueles que possuem maior capital social (boas credenciais acadêmicas,
como ter estudado em escolas importantes, por exemplo) bem como maior capital
científico (autoridade científica – prestígio, reconhecimento – e visibilidade nas
publicações) têm maiores chances de sucesso.
Assim, as noções de campo científico e habitus de Bourdieu nortearam as
análises deste estudo, que teve como objetivo caracterizar a publicação
internacional em EF com o propósito de entender em que extensão a pesquisa
internacional em EF apresenta características que indiquem um perfil multifacetado.
4.3. A PESQUISA INTERNACIONAL EM EF: EVOLUÇÃO
Para caracterizar a publicação internacional utilizou-se como estratégia a
análise da publicação em EF nas bases de dados MEDLINE, SCOPUS e
Webofscience (WoS). Detalhes sobre as bases e a metodologia encontram-se no
item 2.4 e no Apêndice 1 (manuscrito 3) desta tese.
Neste trabalho, considerou-se publicação em EF aquelas que apresentam (1)
o termo “educação física e treinamento” como descritor primário (MEDLINE), (2) o
termo “physical education” como palavra-chave no título ou no resumo (WoS e
SCOPUS) e (3) o termo “physical education como palavra-chave no endereço.
Considerando, então, tais parâmetros a análise da distribuição das publicações em
149
EF nestas três bases de dados indicou um crescimento no número de publicações
(Figura 3).
Figura 3: Distribuição das publicações em EF nas três bases de dados
ao longo de diferentes qüinqüênios
0
1000
2000
3000
4000
5000
1991-1995 1996-2000 2001-2005
Perdo da publicação
mero de publicações
MEDLINE
WoS
SCOPUS
SOCPUS - Affil
Na base MEDLINE esse crescimento foi de 68% (de 722 para 1.064) em todo
período analisado). Um crescimento menor foi observado para as publicações em
EF catalogadas nas duas bases multidisciplinares. Na WoS este crescimento foi de
35% (de 1.551 para 4.473); na SCOPUS, identificou-se um crescimento de 51% (de
1.539 para 2.989), quando a busca se deu a partir do termo no resumo ou no título,
e de 50% (de 1.400 para 2.814), quando a busca se deu por meio do endereço.
A comparação entre o crescimento observado para as publicações em EF na
base SCOPUS acompanha o crescimento de publicações da base como um todo.
Nesta base, as publicações cresceram 57%, de 4.225.640 no período 1991-95 para
150
7.411.306 no período 2001-05. para as outras duas bases, não foi possível fazer
esta análise visto que o dado de produção anual da base não estava disponível.
4.4. OS PERIÓDICOS QUE PUBLICAM EM EF
Desde o início do século passado, os periódicos se tornaram o principal
veiculo de divulgação do conhecimento científico. Estimou-se que no ano de 2000
mais de um milhão de periódicos, distribuídos por todas as áreas de conhecimento,
circulavam no mundo (PRICE, 1963).
No contexto dos estudos de Cientometria, uma forma usual de caracterizar
uma determinada área é a análise de seus periódicos centrais, ou core journals, que
são aqueles que concentram 1/3 das publicações em cada período (Bradford, 1934).
O conhecimento desse grupo de periódicos permite reconhecer algumas tendências
sobre a área, como por exemplo, as temáticas mais freqüentes. Patra e Mishra
(2006), Ming-Yueh (2008) e Glänzel, Janssens e Thijs (2009) o alguns exemplos
de estudos recentes que conduziram análises referentes a core journals.
As publicações internacionais em EF nas três bases de dados também foram
submetidas a uma análise dos core journals (Quadros 2 e 3).
O quadro 2 descreve o número de artigos em EF, totais e publicados nos core
journals, nos três períodos analisados em cada uma das bases. É possível perceber
que esse grupo de periódicos é menor na base MEDLINE, fato que deve estar ligado
ao perfil de cobertura de áreas da base, que é voltado essencialmente para as áreas
das ciências da saúde. Enquanto nesta base 1/3 das publicações está restrita a 3-6
periódicos, nas bases WoS e SCOPUS este número varia de 6 a 131. Este cenário
demonstra que nestas bases, com cobertura de área mais ampla e perfil
151
multidisciplinar, as produções em EF encontram um maior número de periódicos
com escopo voltado para a área, oferecendo, portanto, maiores chances para esta
produção ser divulgada.
Quadro 2: Publicações e periódicos centrais na EF.
Nº de publicações em EF
Base de dados Período
Total Em periódicos
centrais
periódicos
centrais
1991-95 722 225 4
1996-00 471 173 5
MEDLINE
2001-05 1.064 326
3
1991-95 1.536 449 131
1996-00 1.582 517 10
WoS
2001-05 2.989 976
15
1991-95 1.551 505 6
1996-00 2.783 545 10
SCOPUS
2001-05 4.473 1.025
9
1991-95 1.400 455 6
1996-00 1.624 533 16
SCOPUS – Affil.
2001-05 2.814 939
17
Analisando em detalhe os periódicos centrais das três bases, é possível notar
que os alguns periódicos que compõem os core journals se repetem nas diferentes
bases. Os periódicos Perceptual and Motor Skills e Research Quarterly for Exercise
and Sport aparecem nas três bases. Os periódicos Adapted Physical Activity
Quarterly, Journal of teaching in Physical Education, Quest e Sport education and
society aparecem entre os periódicos centrais das bases SCOPUS e WoS. Todos os
periódicos centrais da base MEDLINE (European Journal of Applied Physiololgy and
Occupational Physiology, International Journal of Sports Medicine, Journal of Applied
Physiology, Medicine and Science in Sports and Exercise, Perceptual and Motor
152
Skills, Research Quarterly for Exercise and Sport, The Journal of Strength &
Conditioning Research) aparecem também entre os periódicos centrais da base
SCOPUS.
Muito embora se observe um espectro ampliado de periódicos centrais nas
bases multidisciplinares, é possível também notar a prevalência de periódicos cujo
escopo principal se constitui de saberes oriundos das ciências médicas e biológicas
(títulos em negrito). Na MEDLINE, cinco dos sete periódicos centrais têm esta
característica; na WoS, são 10 em 18; na base SCOPUS, esta relação é de 9 em 16
quando se busca o termo no título e resumo e de 15 em 22, quando se busca o
termo no endereço (SCOPUS Affil.). As demais revistas (sem negrito) apresentam
um escopo mais multidisciplinar, divulgando trabalhos em diferentes disciplinas,
sejam elas oriundas de ciências médicas e biológicas ou das ciências sociais e
humanas.
Esta tendência sugere que uma parte importante da pesquisa internacional
em EF, indexada em bases de dados de diferentes perfis, está orientada por
concepções ancoradas em saberes fundamentos nas ciências médicas e biológicas,
dentre esta se destaca a fisiologia.
153
Quadro 3: Lista de periódicos centrais
Período Títulos dos periódicos centrais
1991-95
Journal of Applied Physiology
(78); Research Quarterly for Exercise
and Sport (58);
European Journal of Applied Physiology and
Occupational Physiology
(52);
International Journal of Sports
Medicine
(37)
1996-00
Research Quarterly for Exercise and Sport (43);
Medicine and
Science in Sports and Exercise
(34); Perceptual and Motor Skills
(32);
Journal of Applied Physiology
(24);
European Journal of
Applied Physiology and Occupational Physiology
(21)
M
E
D
L
I
N
E
2001-05
The Journal of Strength & Conditioning Research
(199);
Medicine
and Science in Sports
and Exercise
(71); Research Quarterly for
Exercise and Sport (56)
1991-95*
Physical Therapy
(25); Quest (14); Research Quarterly for Exercise
and Sport (14); International Review of Education (12); Perceptual and
Motor Skills (8)
1996-00
Journal of teaching in Physical Education (100);
Archives of Physical
Medicine and Rehabilitation
(82); Research Quarterly for Exercise
and Sport (81); Quest (70);
Physical Therapy
(37);
Preventive
Medicine
(36); Perceptual and Motor Skills (32); Adapted Physical
Activity Quarterly
(29);
Journal of the American Geriatrics Society
(27);
American Journal of Epidemiology
(23)
W
o
S
2001-05 Research Quarterly for Exercise and Sport (277); Journal of teaching in
Physical Education (94);
Archives of Physical Medicine and
Rehabilitation
(78); Perceptual and Motor Skills (57);
Preventive
Medicine
(54); Sport education and society (53); Quest (52);
International Journal of Obesity
(49);
Social Science & Medicine
(48);
Pediatrics
(42);
Journal of the American Geriatrics Society
(39); Adapted Physical Activity Quarterly (36);
American Journal of
Preventive Medicine
(33);
European Journal of Clinical Nutrition
(32);
Journal of American Dietetic Association
(32)
1991-95
Journal of Applied Physiology
(107);
Medicine and Science in
Sports and Exercise
(106);
European Journal of Applied
Physiology and Occupational Physiology
(90); Research Quarterly
for Exercise and Sport (81);
International Journal of Sports
Medicine
(71); Journal of Sports Sciences (50)
1996-00
Quest (103); Journal of Teaching in Physical Education (75);
Medicine
and Science in Sports and Exercise
(71); Research Quarterly for
Exercise and Sport (55); Perceptual and Motor Skills (54); Sport
Education and Society (40);
European Journal of Applied
Physiology and Occupational Physiology
(37);
Sports
Medicine
(35);
International Journal of Sports Medicine
(33);
Adapted Physical Activity Quarterly (32)
S
C
O
P
U
S
2001-05
Journal of Strength and Conditioning Research
(247); Research
Quarterly for Exercise and Sport (151);
Medicine and Science in
Sports and Exercise
(124); Quest (120);
International Journal of
Sports Medicine
(79);
British Journal of Sports Medicine
(77);
Journal of Teaching in Physical Education (76);
European Journal of
Applied Physiology
(76);
Chinese Journal of Clinical
Rehabilitation
(75)
154
1991-95 Journal of Sports Sciences (112); Perceptual and Motor Skills (99);
Research Quarterly for Exercise and Sport (78);
Medicine and
Science in Sports and Exercise
(60); Adapted Physical Activity
Quarterly (54);
Journal of Sports Medicine and Physical
Fitness
(52)
1996-00 Perceptual and Motor Skills (60); Journal of Sports Sciences (48);
European Journal of Applied Physiology and Occupational
Physiology
(43);
Biology of Sport
(38);
Journal of Human
Movement Studies
(37); Quest (36);
Medicine and Science in
Sports and Exercise
(36);
Journal of Athletic Training
(36);
Research Quarterly for Exercise and Sport (33);
Journal of Applied
Physiology
(27);
Journal of Strength and Conditioning
Research
(26); Journal of Teaching in Physical Education (25);
Adapted Physical Activity Quarterly (23);
Journal of Sports Medicine
and Physical Fitness
(22); Journal of Aging and Physical
Activity (22);
International Journal of Sports Medicine
(21)
S
C
O
P
U
S
-
A
f
f.
2001-05
Chinese Journal of Clinical Rehabilitation
(244); Perceptual and
Motor Skills (71);
Medicine and Science in Sports and
Exercise
(64);
European Journal of Applied Physiology
(57);
Journal of Strength and Conditioning Research
(55);
Biology of
Sport
(54);
Journal of Applied Physiology
(54);
Journal of Sports
Medicine and Physical Fitness
(51);
Journal of Human Movement
Studies
(50); Research Quarterly for Exercise and Sport (44); Adapted
Physical Activity Quarterly (34); Journal of Teaching in Physical
Education (31);
Revista Brasileira De Medicina do Esporte
(31);
British Journal of Sports Medicine
(30);
Journal of Sports Science
and Medicine
(24);
Pediatric Exercise Science
(23); Journal of
Sports Sciences (22)
* Como neste período as publicações em EF estavam dispersas em 131 periódicos, optou-se por
fazer um recorte nas revistas, listando até a
Perpetual and Motor Skills
que apresentou oito
publicações, o que representava 0,5% do total do período.
4.5. CAMPOS DE CONHECIMENTO DAS PUBLICAÇÕES EM EF
Os campos de conhecimento das publicações em EF foram estabelecidos
manualmente para as publicações da base MEDLINE. para as bases WoS e
SCOPUS, a informação sobre os campos foi obtida diretamente das mesmas (ver
2.4. Metodologia). O Quadro 4 apresenta um recorte da lista de campos de
conhecimento das publicações em EF nas três bases. Para este recorte foram
considerados os campos cujas publicações correspondiam 5% ou mais do total de
publicações do período.
155
De uma forma geral, percebe-se que a maior parte dos campos dominantes
nas três bases de dados relaciona-se com os saberes oriundos das ciências
médicas e biológicas. Nas bases MEDLINE e SCOPUS esta tendência é clara. Na
primeira, identifica-se que a Fisiologia é o campo de conhecimento que predomina
entre os demais. As publicações deste campo representam 45%, 44% e 51% nos
três períodos analisados, respectivamente. Na SCOPUS, o campo Medicina é o que
prevalece. As publicações deste campo representam 84%, 73% e 79% nos três
períodos, respectivamente.
Para as publicações em EF catalogadas na base WoS, nota-se um quadro
diferente. O campo Ciência dos Esportes é o que predomina entre os demais
campos, representando cerca de 20% das publicações nos três períodos.
Entretanto, cabe ressaltar que a distribuição das publicações por campos é menos
acentuada, quando comparada à distribuição anterior.
Com o intuito de esclarecer a abrangência do campo Ciência dos Esportes na
base WoS, onde este campo é definido como aquele que inclui publicações da
fisiologia aplicada do desempenho humano, condicionamento físico para
participação em esportes, da nutrição dirigida para o desempenho esportivo e
prevenção e tratamento de lesões e doenças relacionadas aos esportes. Esta
categoria também inclui publicações em psicologia e sociologia do esporte. Assim,
mesmo esse campo sendo definido como multidisciplinar nota-se um forte viés na
cobertura de periódicos voltados para as ciências médicas e biológicas (Anexo 1).
A partir do Quadro 4 também é possível identificar outros campos de
conhecimento diferentes daqueles mencionados. Na base MEDLINE, dentre os
campos com 5% ou mais de representatividade, aparecem os campos Educação e
Psicologia. na WoS, além destas duas, também encontra-se o campo
156
Hospitalidade, Lazer, Esporte & Turismo. Na SCOPUS, além da psicologia, o campo
Ciências Sociais também está presente.
A presença de publicações de diversos campos de conhecimento é um
indicativo da multidisciplinaridade do campo da EF. Dentro deste contexto é possível
identificar pelo menos duas tendências em termos de campos de conhecimento que
ancoram a pesquisa internacional em EF. De um lado, os campos relacionados a
questões biológico-médica (Fisiologia, Medicina, Bioquímica e Anatomia); por outro
lado, aqueles relacionados a questões não biológicas (Psicologia, Educação,
Ciências Sociais e Hospitalidade, Lazer, Esporte & Turismo). Claramente a maioria
das publicações adota a abordagem biológico-médica.
Apesar desta multidisciplinaridade, notou-se um predomínio de publicações
em campos relacionados a questões biológico-médica. Este perfil pode estar
relacionado ao contexto histórico da EF, uma vez que estes campos foram os
pioneiros neste processo. Por este motivo, acredita-se que as principais
concepções, práticas e idéias das ciências biológicas e médicas foram
primeiramente consolidadas e incorporadas no ethos do campo da EF. Este
comportamento está em consonância com o conceito de habitus de Bourdieu.
Assim, o peso do conhecimento biológico parece dirigir o habitus do campo bem
como a orientação e os interesses da pesquisa em EF.
O cenário encontrado para as publicações coletadas nas três bases de dados
sugere um campo de pesquisa multifacetado e corrobora a hipótese inicial de que o
campo da EF possui uma identidade múltipla.
157
Quadro 4: Campos de conhecimento das publicações em EF
Campo 1991-95
Campo 1996-00
Campo 2001-05
Fisiologia
325
Fisiologia
208
Fisiologia
547
Psicologia
85
Psicologia
50
Psicologia
129
bioquímica
67
bioquímica
42
Anatomia
87
Anatomia
61
Anatomia
32
bioquímica
65
M
E
D
L
I
N
E
Educação
39
Medicina
25
Campo 1991-95
Campo 1996-00
Campo 2001-05
Ciências dos Esp. 347 Ciências dos Esp 579 Ciências dos Esp 945
Educação 272
Ambiente Pub e
Saúde Ocup
428
Ambiente Pub e
Saúde Ocup
685
Ambiente Pub e
Saúde Ocup
221 Educação 308 Psicologia 408
Medicina Geral 157 Reabilitação 273
Hospitalid, Lazer,
Esporte & Turismo
398
Reabilitação 115 Medicina Geral 235 Educação 379
Psicologia 107 Psicologia 149 Medicina Geral 345
Hospitalid, Lazer,
Esporte & Turismo
99 Psicologia Aplicada 341
Psicologia Aplicada 94 Reabilitação 295
W
O
S
Nutrição & Dieta 266
Campo 1991-95
Campo 1996-00
Campo 2001-05
Medicina
1.289 Medicina 1.158 Medicina 2.351
Profissões da
Saúde
645 Profissões da Saúde 596 Profissões da Saúde 1.474
Bioq, Genet e Bio
Molecular
371 Ciências Sociais 311 Ciências Sociais 424
Psicologia
174
Bioq, Genet e Bio
Molecular
257
Bioq, Genet e Bio
Molecular
357
S
C
O
P
U
S
Psicologia 174 Psicologia 353
Campo 1991-95
Campo 1996-00
Campo 2001-05
Medicina
1.003 Profissões da Saúde 625 Medicina 1.984
Profissões da
Saúde
551
Bioq, Genet e Bio
Molecular
362 Profissões da Saúde 920
Bioq, Genet e Bio
Molecular
268 Psicologia 251
Bioq, Genet e Bio
Molecular
551
Psicologia
268 Ciências Sociais 167 Psicologia 373
Ciências Sociais
80 Neurociências 91 Ciências Sociais 245
S
C
O
P
U
S
-
A
f
f
i
l.
Neurociências 157
158
5. CAPÍTULO 5 – CONSIDERAÇÕES FINAIS
As informações contidas nesta tese apontam para um cenário no qual o
campo da EF sofre forte influência de disciplinas da biologia e da saúde. No entanto,
é importante ressaltar que este trabalho se debruçou sobre uma única dimensão
deste campo, a produção acadêmico-científica, seja ela produzida no contexto
brasileiro ou no contexto internacional. Assim, o alcance de nossas análises e
reflexão é limitado a esta dimensão.
Importante considerar algumas limitações deste recorte e olhar. A primeira
delas diz respeito ao recorte nacional da produção em EF. Na época da coleta dos
dados havia disponível um número limitado de revistas nacionais da área com
acesso gratuito e garantido pelo Portal dos Periódicos CAPES ou Portal Brasileiro
de Informação Científica, um dos principais mecanismos de atualização da
comunidade acadêmica brasileira em relação à produção científica nacional e
internacional. Portanto, a primeira etapa do estudo ficou limitada a estes periódicos,
independente do perfil dos mesmos, visto que se pretendia analisar a produção
nacional que apresentasse confiabilidade da CAPES e estivesse disponível para
qualquer docente ou pesquisador. Uma segunda limitação tem a ver com o processo
de categorização das publicações na segunda etapa. A grande dificuldade se deu
por não ser viável acessar o conteúdo de um número tão grande de títulos (n=
5.628) publicados pelos 11 programas de pós-graduação, que a maioria não se
encontrava disponível via Portal CAPES. Finalmente, uma última limitação a ser
considerada diz respeito às características da base de dados MEDLINE, uma das
bases utilizadas na etapa 3 desta tese. Esta base tem claramente como escopo a
disseminação de conhecimento em ciências da saúde, o que introduz um viés nas
análises sobre a publicação internacional em EF nesta base. Contudo, esta limitação
foi contornada na medida em que foram incluídas, nesta etapa, publicações em EF
159
catalogadas em outras duas bases de dados, ISI - Web of Science e SCOPUS, que
apresentam um perfil claramente multidisciplinar.
Ao resgatar a história da construção da EF como área e campo de
conhecimento, é possível perceber as origens da influência biológica. Desde a
antiguidade, filósofos como Pitágoras, Platão, Santo Agostinho e Plotino
contribuíram para distinguir o corpo da consciência humana (MORAIS, 2005). Por
exemplo, Platão considerava que a alma (mente) estava aprisionada no corpo como
num cárcere (PADOVANI & CASTAGNOLA, 1978). Ao difundirem essa idéia, esses
pensadores ajudaram a disseminar a concepção dualista de homem dividido em
corpo e mente. Este conceito está fortemente arraigado até os dias de hoje,
também, fortalecido pelos conhecimentos científicos que afloraram na Idade
Moderna, principalmente na figura de Descarte. Como matemático e filósofo francês,
Descarte desenvolveu a concepção mecanicista de corpo, comparando suas
funções às de uma máquina, como se ele, o corpo, fosse um mero instrumento da
razão ou alma.
Portanto, predominou no pensamento científico no século XIX, o modelo de
conhecimento que se baseava sobretudo na Biologia e na História Natural, como
também na Física, o modelo mecanicista
32
, que busca entender o individuo através
do entendimento de suas partes. Este modelo abstrai, no entanto, elemento
histórico-social do objeto em estudo, que passa a ser explicado somente pelas leis
biológicas (SOARES, 2000).
32
Conceito cunhado por Descartes que considera explicar geométrica e mecanicamente todo o
mundo natural por meio de uma filosofia natural puramente mecanicista. Encara o corpo humano e o
animal como uma máquina, assim como considera uma máquina todo o universo (PADOVANI &
CASTAGNOLA, 1978, p. 293). Descartes criou a distinção entre
res extensa
(extensão, corpo,
matéria) e
res cogitans
(pensamento, consciência racional) e atribuiu inequívoca substancialidade ao
corpo, deste desenvolvendo uma concepção maquinal atualmente conhecida como mecanicismo
cartesiano (MORAIS, 2005, p.77).
160
A EF, como campo de conhecimento, tem origem em ideais positivistas, as
quais se baseavam principalmente nos conhecimentos gerados na biologia e nos
preceitos da concepção mecanicista. E de acordo com Soares (2000, p.51),
A abordagem positivista de ciência, pautada por este modelo do
conhecimento, vai produzir um conjunto de teorias que passarão a justificar as
desigualdades sociais pela via das desigualdades biológicas e, como tal,
“desigualdades naturais”. Uma vez abstraído o elemento histórico-social na
constituição do sujeito que conhece o que resta é um ser determinado pelas
leis biológicas, cujas relações humanas não vão além daquelas que a própria
natureza estabelece.
Assim, a autora supracitada informa que,
Os Sistemas Ginásticos Europeus foram, portanto, um primeiro esboço deste
esforço e o lugar de onde partiram as teorias da hoje denominada Educação
Física no Ocidente. Balizaram o pensamento moderno em torno das práticas
corporais que se construíram fora do mundo do trabalho, trazendo a idéia de
saúde, vigor, energia e moral coladas à sua aplicação, podendo ser pensados
como conjunto sistematizado, pela ciência e pela técnica, do que ocorreu em
diferentes países ao longo do século XIX, especialmente na Alemanha, Suécia
e França (SOARES, 2000, p.50).
Diante disto, infere-se que o campo de conhecimento da EF é oriundo de uma
concepção de ciência positivista que exerceu grande influência sobre o
entendimento do que era EF. Concomitantemente, na perspectiva da educação,
como disciplina escolar, os fins da EF objetivavam a formação de homens fortes,
saudáveis e disciplinados para atenderem aos interesses da sociedade da época.
O campo de conhecimento de EF que considera o corpo humano apenas sob
perspectiva biológica, anatômica ou de outra disciplina das áreas biológicas e
médicas, que pode ser analisada minuciosamente dentro de um laboratório,
contrapõe-se a um campo de conhecimento de EF que considera o corpo humano
no contexto da vida diária, permeado de estímulos diversos e das dificuldades da
realidade social.
Se por um lado, a valorização de aspectos biológicos e médicos assim como
o respaldo científico forneceram (e ainda fornecem) certo status à EF e favoreceram
161
um maior reconhecimento do campo, por outro, a valorização de aspectos sócio-
culturais, políticos e filosóficos do conhecimento produzido em EF promove uma
ruptura à concepção biologizada da Educação Física. Assim, mais recentemente, a
base teórica da EF também é composta por conhecimentos gerados em outras
áreas, como as ciências humanas e sociais. Neste sentido, é interessante
considerar os argumentos de Soares (2000, p.59) no que tange ao alerta de que o
(...) predomínio de uma abordagem traz sérias conseqüências, uma vez que
amplia um campo que é reconhecido como hierarquicamente superior aos
demais para fornecer explicações sobre o corpo, sua funcionalidade e as
atividades ditas “físicas”. Tal qual nos Sistemas Ginásticos, a formação
científica é dada pela Anatomia, Fisiologia, Biomecânica, portanto é o campo
das ciências biológicas e físicas que fornece o argumento de autoridade para
o profissional do ramo.
Apesar de muitos dos mentores intelectuais, como filósofos, cientistas e
pedagogos, pensarem na atividade física como um instrumento para formação
integral do homem, havia, também, aqueles que se preocupavam apenas com o
desenvolvimento do físico. Portanto, dependendo da visão de mundo adotada, a
concepção de Educação Física pode transitar entre Educação pelo físico ou a
Educação do físico.
Uma prática de atividade física realizada com base em uma concepção
filosófica que entende o ser humano de forma unívoca estará voltada para o
desenvolvimento integral do homem. Mas, se ao contrário, estiver fundamentada por
um conceito filosófico dualista, no qual a mente ou alma é considerada uma
“entidade” independente do corpo, a tendência é que a preocupação com o
praticante seja parcial, privilegiando, apenas o aspecto físico.
O surgimento de novas ciências que constituíram diferentes campos ligados
às ciências biológicas, como a psicologia, as ciências sociais e a antropologia, entre
outros, contribuiu para mudar o paradigma até então estabelecido e, por
162
conseguinte, aquecer o debate sobre a identidade do campo da EF. De acordo com
Oliveira (1994), a partir da década de 80, a EF tornou-se um espaço multidisciplinar
em busca da sua compreensão como prática social. E os saberes oriundos dessas
áreas passaram a ancorar as pesquisas em EF, ampliando a base teórica deste
campo de conhecimento.
A sistematização da ginástica no século XIX coincidiu com um momento de
grandes transformações da sociedade da época, resultado da Revolução Industrial.
Uma dessas transformações foi o aumento demográfico
33
que ocorreu nas cidades
da Europa devido, entre outras causas, à saída do campo pelos camponeses em
busca das ofertas de emprego nas cidades. Como conseqüência desse aumento
populacional e da falta de infra-estrutura para acomodar essa população, surgem
doenças relacionadas às condições precárias de higiene, moradia e alimentação
dessa camada mais pobre da população.
É dentro deste contexto que a ginástica, como prática corporal que propicia o
desenvolvimento de qualidades físicas, por receber forte influência do pensamento
médico higienista, atendia perfeitamente ao interesse da ideologia dominante na
perspectiva de ser um mecanismo a mais na construção de um corpo limpo, sadio e
útil (Soares, 2000). Inserida no sistema formal de ensino, a ginástica passa a ser
denominada EF e passa a contribuir para a circulação das ideologias higienistas,
muito convenientes ao ambiente do nascente sistema capitalista.
Considerando o contexto histórico e atual do campo de conhecimento da EF
apresentado no presente estudo, foi possível perceber que algumas questões que
eram discutidas no passado ainda estão presentes nas discussões atuais. Entre
33
De 190 milhões de habitantes no como do culo XIX saltou para 430 milhões no início do
século seguinte (Pazzinato e Senise, 1999, p. 170).
163
elas, o emprego do termo EF que, até os dias de hoje, ainda não apresenta
consenso sobre a adequação do seu uso para designar este campo de
conhecimento. Muitas outras questões permeiam as discussões em torno do que é
EF, mas poucas são as respostas que traduzem consenso no campo. A discussão
se a EF é ciência, polarizações como pesquisa básica versus aplicada, disciplina
acadêmica versus profissão, ciências naturais versus humanidades são alguns
desses exemplos, além de questões relativas à produção acadêmica do campo.
Logo, buscou-se entender melhor o campo de conhecimento da EF a partir da
sua produção acadêmica atual e refletir sobre o mesmo com base na sociologia de
Pierre Bourdieu, a fim de tentar contribuir com achados que pudessem lançar luz
sobre alguns aspectos das discussões correntes.
Assim, partindo deste recorte, concluiu-se neste estudo que a pesquisa, seja
ela nacional ou internacional, em EF é predominantemente ancorada em saberes
oriundos de campos de conhecimento das ciências biológicas e médicas e
fortemente na fisiologia. Para a produção nacional, percebeu-se, também, que a
maior proporção de artigos com abordagem biológica é publicada em veículos que
apresentam maior conceito na avaliação da CAPES (conceito este que pode ser
retraduzido em poder simbólico). Tal fato demonstra que o maior interesse dos
pesquisadores brasileiros em EF está voltado para a pesquisa com abordagem de
caráter biológico e médico. Isso pode estar relacionado ao contexto histórico da EF,
mas também a questões que permeiam o fazer científico. Neste caso, pesquisas em
EF com abordagem biológica exerceriam maior prestígio no campo, o que, por sua
vez, se reverteria em maior lucro para o pesquisador, gerando aumento do seu
capital científico.
164
Apesar da prevalência de estudos com base biológica e médica na pesquisa
em EF, verifica-se, também, a presença de estudos com base não biológica e
médica, ou seja, fundamentados por outros campos de conhecimento. Considerando
a perspectiva de Bourdieu, a ainda incipiente inserção de outras disciplinas pode ser
um indicativo de ruptura com o histórico paradigma biológico do campo de EF e
corroborar sua característica multifacetada.
A produção de novos conhecimentos pode provocar transformações na
sociedade, o que, também, pode resultar em mudanças no perfil da EF para atender
às novas exigências sociais. Consequentemente, essas novas demandas sustentam
o caráter multifacetado da EF.
Um ponto importante a ser destacado é que este trabalho não pretende ser
exaustivo e responder a todas as questões acerca dos debates atuais da EF. Outros
estudos são, obviamente, necessários para complementar as informações que
mostramos aqui. Oportuno seria levantar as características dos currículos de
graduação e pós-graduação em EF. Logo, seria interessante investigar quais
disciplinas constituem as grades curriculares dos cursos para avaliar o peso das
mesmas na formação deste profissional e o conseqüente reflexo na construção do
habitus científico no campo da EF.
Também um estudo aprofundado sobre a pesquisa em EF em periódicos e
cursos de pós-graduação de outras disciplinas poderia confirmar o caráter
interdisciplinar ou multidisciplinar da EF. Além deste, também entender e identificar
o peso das concepções biológica e não biológica entre os diferentes profissionais e
estudantes da EF, o que poderia indicar o real valor associado a elas por aqueles
que se apropriam do campo nas diversas formas.
165
É fundamental, da mesma forma, que as questões sobre o campo da EF
sejam mais amplamente veiculadas e discutidas entre os profissionais da área,
inclusive desde o início de sua formação, para que possam refletir ao longo dela e
se posicionar de forma crítica.
Na medida em que surgem novas demandas de práticas corporais ampliam-
se, também, as possibilidades de atuação do profissional de EF. Portanto, é
essencial a combinação de uma sólida formação acadêmica com profundas
vivências práticas em diferentes setores da sociedade. Igualmente, os profissionais
da EF devem desenvolver a capacidade de perceber os diferentes locais dos
destinatários de seus serviços. E, além disso, identificar as suas expectativas para
poder nortear os objetivos e as formas como as práticas corporais serão
desenvolvidas de maneira a favorecer uma maior adesão às mesmas, seja nas
dimensões da educação, competição, lazer, fitness, saúde ou por meio da produção
de novos conhecimentos.
A existência de várias dimensões na pesquisa em EF favorece o surgimento
de uma grande variedade de temas ancorados em diferentes saberes para produzir
novos conhecimentos para o campo em EF. Mas o habitus científico dos
pesquisadores e os interesses do campo podem favorecer o retardo de novas
descobertas ao atribuir um alto valor simbólico às pesquisas das áreas biológicas e
médicas em detrimento de pesquisas fundamentadas em outras áreas.
Assim, espera-se que nos debates acerca das concepções de EF não se
reduza o entendimento de EF, submetendo-a apenas ao poder simbólico das
disciplinas de áreas biológicas e médicas. o se tem dúvida da importância destas
disciplinas na pesquisa em EF. Mas é importante que se perceba a riqueza da
característica multidisciplinar deste campo ao se olhar o movimento humano, seu
166
objeto de estudo. E, portanto, para que se possa explorar todas as dimensões desse
objeto, espera-se que o diálogo da EF com os diferentes saberes, que fundamentam
seus estudos, também seja respeitado.
Logo, as boas investigações, sejam quais forem as temáticas ou saberes que
as fundamentam, devem ter o mesmo valor e as mesmas chances de serem
veiculadas, pois é justamente a possibilidade de múltiplos olhares sobre o objeto de
estudo que pode trazer boas contribuições para o campo, que inegavelmente
apresenta essa característica multidisciplinar.
167
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175
APÊNDICE 1 - MANUSCRITO 3
A Picture of the International Research in Physical Education: a Field of
Multiple Interests
Leta, J. & Rosa, S.
Abstract
Here, we investigate to what extent the diversity of approach in the Physical
Education (PE) appears in international research in PE. Publications in PE were
accessed from MEDLINE, ISI - Web of Science (WoS) and SCOPUS. From
MEDLINE, publications in PE were retrieved through the term Physical Education
and training as the major topic or primary descriptor. Publications in PE from WoS
and SCOPUS were retrieved through two search approaches: (1) searching the term
“physical education” in the title, abstract or key-word within SCOPUS and WoS and
(2) searching the term “physical education” in the affiliation address (SCOPUS-Afill.).
Using these strategies, we analyzed the trends of 2,257, 8,807, 6,110 and 5,838
publications catalogued in MEDLINE, WoS, SCOPUS and SCOPUS Affil 1991-
1995, 1996-2000 and 2001-2005. Our findings provide evidence that although PE
research is mostly related to fields in biological and medical sciences, it receives
contributions from different fields, suggesting a multifacetaded field.
Key-words: Interest; Research in Physical Education; MEDLINE; Bourdieu; Scientific
Field; Habitus
Introduction
Physical Education (PE) is maybe one of the oldest human activities. There is
evidence for the practice of physical activities in daily life since the time of the ancient
Greeks. For them, physical exercise was essential as a means of molding the body in
the image of gods. Some philosophers, including Aristotle and Plato, considered the
practice of physical activities as a tool for building an individual’s spirit, mind, feelings
and personality.
176
The Greeks’ concept of physical activity as a prerequisite for achieving an ideal
body and spirit persisted into the Middle Ages, when “the body was thought to be a
tool of the devil that was to infect and pervert the soul”. As a consequence the
training of the body and the body as a mode of being and existing was mortified,
degraded, and so far as possible ignored and held as repugnant and repulsive”
(Mechikoff & Estes, 1998). These ideas, however, found resistance during the
Renaissance, when the practice of physical activities gained importance once more
due to the flourishing of Humanism, which brought back the Greeks’ concept of the
body.
Although the association between physical activity and education appeared
during the 14th century, the incorporation of gymnastics as a regular discipline in the
formal education system occurred only in 1774, in Germany. Initially, this new
discipline was taught by military instructors or practitioners of gymnastics, since there
were no faculties devoted to physical education. As far as is known, one of the
earliest schools to award a degree in PE was the Royal Central Gymnastics Institute,
founded in Sweden in 1813 (Oliveira, 1983). Later on, other schools appeared not
only in Europe but also in North America, where the Teachers’ College of Columbia
University, in 1901, was the first institution in the U.S.A. to offer a degree in PE at the
higher education level (Mechikoff & Estes, 1998).
The systematization of knowledge in PE was based primarily on information
from medicine and natural sciences, especially biological sciences, and also on
pedagogical principles (Mechikoff & Estes, 1998; Park, 1989). Different systems of
gymnastics were created in Europe in the 1800’s, such as the German, Swedish and
English systems (Naul, 2003). Each of these models had a different concept of PE.
For the Germans, the practice of PE emphasized pedagogical aspects; for the
Swedes, the emphasis was on anatomical and physiological aspects. For the
English, the focus was on games and sports.
The European models influenced the development of PE in the U.S.A. at the
beginning of the 1800’s, when health was considered a subject of great importance
among North Americans. Thus, PE flourished as a means to prevent disease, and
was considered a sub-discipline of medicine (Mechikoff & Estes, 1998). Accordingly,
during the 19
th
century, there was great enthusiasm for PE as a new professional
field, advocated by “a large number of physicians, and several biologists and
psychologists” (Park, 1989, p. 2). In 1890, Luther Halsey Gulick, one of
PE’s
177
champions, advocated the establishment of PE curricula as a means to promote
good health as well as to enhance the social, psychological and moral fiber of the
North American inhabitants. According to Gulick, the practice of PE had three main
goals: to cure, to entertain and to educate.
The most widely disseminated gymnastics systems were those from Sweden,
Germany and England. These models have influenced the way PE is defined and
perceived worldwide. In fact, recently in Europe, Bain indicated that the diversity in
the concepts of PE “firstly depends on the definition of the term concept and
secondly on the function and structure of physical education as a school subject”
(Bain, 1994 as cited in Naul, 2003). Also, Naul (2003) pointed out that “across
Europe, concepts of physical education are just as diverse as their terminological
definitions”. As for Mechikoff & Estes (1998, p. 205) “terms such as gymnastics,
physical culture, physical training and physical education were used more or less
synonymously to describe the systematic exercise programs that emerged during this
time” [referring to the 1800’s]. Hence, at the present, different terms – such as
kinesiology, sport science, science of human movement and PE and concepts
coexist, indicating multiple interests and aims among their professionals.
Regarding research activities, such multiplicity in the field of PE has been the
subject of much debate. On the one hand, there is a sense that PE “is a field of study
that draws from subject and methods in both the biological and social sciences”
(Park, 1989, p. 15). On the other hand, pursuit of a project within the purview of the
hard sciences seems to carry more prestige. This dispute for recognition associated
to the scientific habitus of the field seems to reflect a duality in terms of field research
interest: those who understand PE as a field of biological sciences and those who
see PE as a field of social sciences and humanities.
The present scenario in PE research can be understood in the context of
Bourdieu’s definition of scientific field (Bourdieu, 1976, in Ortiz, 1983). A field is a
social arena in which people the researchers - strive to establish dominance of a
given concept, with greater success going to those who possess the greater social
capital (including, for instance, that of academic credentials, such as having studied
in important schools) as well as the greater scientific capital (including scientific
authority - prestige, recognition, celebrity - and visibility of their publications).
Based on Bourdieu’s notion of scientific field and habitus and the current lack
of a clear epistemological identity, we designed a project to trace the profile of
178
research in the field of PE. Our main questions were: What is the state-of-the-art for
research in PE? What is the weight of biological sciences in PE research? Do
publications in the field reveal multiple interests that may contribute to a multifaceted
profile? What are the main concepts and/or disciplines that attract research in PE?
Taking these questions into consideration, we started by identifying the major
trends in PE research. Our first step was to investigate these questions in the
Brazilian context. We found that research related to biological issues, mainly
physiology, predominates among papers published in the four Brazilian physical
education journals analyzed (Rosa & Leta, 2010a) as well as among publications
originating from 11 Brazilian graduate programs in PE (Rosa & Leta, 2010b). We
identified a much lower number of papers that approached the subject from the point
of view of humanities and social sciences, revealing the (still) prevalence of biological
and medical issues in PE research.
For the present work our aim was to characterize international publications in
PE retrieved from the MEDLINE, SCOPUS and ISI - Web of Science databases, in
order to understand to what extent international research in PE also exhibits a profile
with multiple interests and aims.
Methods and Procedure
Publications in PE were accessed from three different databases: MEDLINE
ISI - Web of Science (WoS) and SCOPUS. MEDLINE is a public domain
bibliographic database that is maintained by the US National Library of Medicine.
Each publication indexed in MEDLINE contains a series of bibliographic metadata,
including primary and secondary descriptors that characterize the paper’s main
theme, fields and disciplines. These concepts are manually assigned by skilled
librarians or health specialists in MeSH, the standardized Medical Subject Headings
vocabulary used to classify publications in MEDLINE. Differently, SCOPUS and WoS
are databases supported and maintained by private organizations, Elsevier and
Thompsom Reuters, respectively (SCOPUS, 2010; ISI, 2010). These databases can
be easily accessed from any research institute in Brazil since it is supported by the
Ministry of Education.
International publications in PE were first retrieved from MEDLINE, a process
carried out automatically in October 2008. Since there is no MeSH term called simply
PE, we opted to retrieve publications identified by the term PE and training as the
179
major topic or primary descriptor. Using this search strategy for the period of 1966-
2008, we obtained a total of 5,726 publications which we assume describe the
research in PE. For each publication, we collected the following information:
publication year, journal title, secondary descriptors, abstract, country of publication,
language and first author’s country of affiliation. Based on the MeSH secondary
descriptors (n=1,690), we carried out an analysis of the core disciplines. These
descriptors were first ordered according to the number of occurrences among the
5,726 publications, and those with 10 or fewer occurrences were discarded (a total of
1,481). Then, each of the remaining 209 secondary descriptors was logged into a
structured and dynamic vocabulary descriptor, DeCS, in order to identify its core
discipline. On the basis of the DeCS classification, we elaborated a list of core
disciplines and their respective descriptors. This list was used to identify the
descriptors of the 5,726 publications and one by one they were categorized and
associated to one core discipline that anchored the study. Using this approach, we
were able to identify the core discipline of 4,696 publications (82% of the original
sample).
In order to complement MEDLINE analysis, we also collected data from two
other databases, which present a multidisciplinary coverage, WoS and SCOPUS.
WoS consists of seven different databases, especially the (1) Science Citation Index
Expanded, with over 6,650 major journals, (2) Social Sciences Citation Index that
indexes over 1,950 journals, and (3) Arts & Humanities Citation Index, that covers
1,160 of the world's leading arts and humanities journals. As for SCOPUS, at the
present, the database coverage includes around 16,500 peer-reviewed journals
related to Scientific, Technical, Medical and Social Sciences literature including Arts
& Humanities. SCOPUS also covers 100% Medline titles
In order to recover publications in PE from these databases, we established
two search approaches: (1) searching the term “physical education” in the title,
abstract or key-word within SCOPUS and WoS and (2) searching the term “physical
education” in the affiliation address. This last strategy was only carried out for
SCOPUS and it was named SCOPUS-Affil. Using these strategies, we obtained a
total of 9,493 publications in WoS, 12,512 in SCOPUS and 7,962 in SCOPUS-Aff,
from the period of 1966-2005. These publications were assumed to describe
research in PE.
180
Due to some inconsistencies in the time and address coverage in SCOPUS
and WoS databases, we analyzed the trends of PE publications in recent times only,
1991-1995, 1996-2000 and 2001-2005. Hence, we analyzed 2,257, 8,807, 6,110 and
5,838 publications catalogued in MEDLINE, WoS, SCOPUS and SCOPUS - Affil in
these periods.
In the case of SCOPUS and WoS, for each of these periods, all information
about journals and publication fields was collected directly from the databases. This
information is provided automatically by the databases.
Results
Publication trends in Physical Education over time
Considering the time trends, we have found a quantitative growth of the
international publications in PE within the three databases (Figure 1). For
publications retrieved from MEDLINE, we observed a growth of 68% (from 722 to
1,064) from the first to the last five-year studied period. As for WoS, we found a
growth of 35% (from 1,551 to 4,473) while for SCOPUS, this growth was 51% (from
1,539 to 2,989), when the term “physical education” was searched in the title,
abstract or key-word, and 50% (from 1,400 to 2,814), when the term “physical
education” was searched in the affiliation address.
FIGURE 1
Important to note that the growth of the PE publications catalogued in
SCOPUS follows the growth of the whole publications catalogued in this database. In
the period of 1991-1995, a total of 4,225,640 publications were indexed in SCOPUS.
This number increased to 7,411,306 in the period of 2001-2005, a growth of 57%.
A similar analysis can not be carried out to the others databases, since the
annual number of publications catalogued is not available at their websites.
Physical Education research: main journals
The first scientific journals appeared in Europe in the 1600’s. Since then, the
number of journals has increased markedly, reflecting in part an increasing demand
181
from specialized fields (Meadows, 1974). Although the current number of scientific
journals is not known with certainty, deSolla Price (1963), in his classical work, Little
Science, Big Science, estimated that it would reach 1 million by the year 2000. Just a
small fraction of those journals is available and visible. In this sense, databases such
as MEDLINE, SCOPUS and WoS contribute to dissemination of new knowledge
published in these periodicals.
Considering the scientometrics’ perspectives, a usual approach to
characterize a scientific field is to analyze its core journals, which represent the
journals where 1/3 of publications (in a defined period) are published (Bradford,
1934). Knowing this set of journals allows one to recognize some trends about the
field, as an example, its most frequent thematic. Ming-Yueh (2008) and Glänzel,
Janssens & Thijs (2009) are recent studies to carry out core journals analysis for
understanding a field.
The international publications in PE were also analyzed in terms of core
journals (Table 1 and 2). Table 1 presents the number of publications in PE as well
as the number of journals, total and core journals, for each period and database. It is
easy to note that MEDLINE presents the lowest number of core journals, a fact that
may be related to its restricted field coverage. While in MEDLINE 1/3 of publications
in PE are published in 3 to 6 journals, in WoS and SCOPUS this number varies from
6 to 131. This scenario suggests that these databases, which have larger field
coverage and a multidisciplinary profile, offer more opportunities to the diffusion of
the research in PE.
TABLE 1
Regarding MEDLINE journals that publish reports of research in PE, we
observed journals dedicated to biological and medical issues, especially those
dedicated to physiological, were in the majority among the set of core journals (Table
2).
Taking a deeper look at the core journals, it is possible to identify an overlap of
journals within the three databases. The journals Perceptual and Motor Skills and
Research Quarterly for Exercise & Sport appear simultaneously in the three
databases. The journals Adapted Physical Activity Quarterly, Journal of teaching in
Physical Education, Quest and Sport education & society appear in SCOPUS and
182
WoS. And all core journals from MEDLINE (European Journal of Applied Physiology
& Occupational Physiology, International Journal of Sports Medicine, Journal of
Applied Physiology, Medicine and Science in Sports & Exercise, Perceptual & Motor
Skills, Research Quarterly for Exercise & Sport, The Journal of Strength &
Conditioning Research) are also included in core journals from SCOPUS.
Although we do observe a wide spectrum of core journals in the two
multidisciplinary databases, WoS and SCOPUS, we can also note a clear prevalence
of journals whose main purpose is constituted of knowledge from medical and
biological sciences (see titles in bold in Table 2). In MEDLINE, five of the seven core
journals have this feature; in WoS, this ratio is 10 in 18; in SCOPUS, this ratio is 9 in
16, when the search of “physical education” was in the title or abstract, and 15 in 22,
when the search was in the address (SCOPUS - Affil.).
The other journals (not in bold) present a more interdisciplinary scope,
publishing papers in different disciplines, whether derived from medical and biological
sciences or from social sciences and humanities.
TABLE 2
Physical Education research: core disciplines
As found in our previous studies dealing with Brazilian research in PE (Rosa &
Leta, 2010a; Rosa & Leta, 2010b), international research in PE, catalogued in the
MEDLINE, WoS and SCOPUS databases also seems to be driven by concepts
centered on biological and medical sciences.
Table 3 presents the most representative fields that describe publications in
PE. The list of fields includes only those in which publications sum up 5% or more in
the respective period.
As a general feature, we found that the majority of dominant fields in the three
databases are related to the knowledge derived from medical and biological
sciences. For MEDLINE and SCOPUS this trend is clear. For the first, it is observed
that physiology prevails among the other fields of knowledge. Publications of this field
represent 45%, 44% and 51% in the three studied periods, respectively. As for
SCOPUS, medicine prevails and its publications represent 84%, 73% and 79% in the
three studied periods, respectively.
183
Table 3
A different picture is found for publications cataloged in WoS. The field of
Sports Science is predominant among other fields. Its publications represent about
20% of publications published in each of the three studied period. It should be also
noted that the distribution of publications by fields is less pronounced, in other words,
is not as concentrated as the previous distribution.
Aiming to clarify the scope of the field of Sports Science, we found its
definition at WoS, which includes publications of “the Applied Physiology of human
performance, fitness for participation in sports, nutrition directed toward the
prevention and sports performance treatment of injuries and illnesses related to
sports. This category also includes publications in psychology and sociology of
sport”. So even if this field is defined as a multidisciplinary one notices a strong bias
in coverage of its journals, which are focused on the medical and biological sciences.
From Table 4 is also possible to identify the influence of other fields - different
from those already mentioned in the PE research. In MEDLINE, among the fields
with 5% or more of representativeness, Education and Psychology appear among
these fields. In WoS, besides these two fields, also is the field of Hospitality, Leisure,
Sport & Tourism appear. In SCOPUS, besides Psychology, the field of Social
Sciences is also present.
Discussion
The information and findings contained in this paper point to a scenario in
which the field of EF has a strong influence on the fields of biological and medical
sciences. However, it is important to remark that this study has focused on a single
dimension of this field: the academic and scientific production, produced in the
international context and accessed through different criteria at three different
databases. Hence, the scope of our analysis and discussion is limited to this
dimension.
Our findings provide a preliminary view of the scientific trends in PE research.
We have seen that the number of papers in PE research published in journals
catalogued in MEDLINE, WoS and SCOPUS has increased, but more slowly than the
184
database as a whole in the case of SCOPUS. Also, we found that PE research is
mostly related to fields in biological and medical sciences, especially physiology.
The results for the main fields (Table 3) are in accordance with our previous
studies. Our survey of Brazilian journals indicated that physiology is predominant
among papers published in the four local PE journals analyzed (Rosa & Leta, 2010a).
The same was found for publications produced in 11 Brazilian graduate programs in
PE (Rosa & Leta, 2010b). The current results also corroborate the study of Yaman &
Atay (2007), who analyzed PhD theses in Turkish sports sciences. The authors found
that 86.3% of theses were from health sciences institutes, whereas only 10%
originated in social sciences institutes.
Our results also show that international research in PE receives contributions
from different areas of biology as well as from non-biological areas. Research in
these latter areas seems to have less prestige and visibility than research in the
biological areas. This profile may be related to the historical context of PE. The main
concepts, practices and ideas from biological sciences have been consolidated and
incorporated into the ethos of the PE field. This is in accordance with Bourdieu’s
concept of the habitus. Thus, the weight of biological knowledge in PE seems to drive
the field’s habitus and thus its research orientation and interest.
The scenario we found for publications retrieved from the MEDLINE, WoS and
SCOPUS databases suggests a multifaceted research field and corroborates our
initial hypothesis that the field of PE does have multiple profile. Research in PE
appears to be anchored in several disciplines, what seems to be a remarkable
feature of this field.
Currently, there is an intense debate concerning the concepts and directions
of the field of PE (Haag, 1989; Naul, 2003; Park, 1989; Sage, 1984; Sage, 1996).
Within this debate, it is clear that there is no real consensus regarding the term PE to
designate the field.
Although we believe that a discussion concerning the underlying themes in the
field can be useful, we do not believe it will contribute to consolidate the field, in
Bourdieu’s sense. In our view, acceptance of its multifaceted character as well as the
recognition of its current social necessities should be the first step for PE researchers
and professionals. Additionally, researchers and professionals should recognize the
importance of a diversity of disciplines to the field’s development as well as the
relevance of constructing a concept of PE broad enough to embrace all of the field’s
185
ramifications (Naul, 2003). This would reduce the current stress in the field,
especially in terms of biological and non-biological approaches. In this ideal scenario,
different forces within the scientific field of PE would be drawn together and could
contribute toward strengthening and consolidating the field.
Acknowledgments
Authors thank Adalberto O. Tardelli (BIREME/OPAS/OMS) for the data retrieval and
Dr. Martha Sorenson (IBqM – UFRJ) for comments on the manuscript.
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Yaman, H. & Atay, E. (2007). PhD theses in Turkish sports sciences: A study
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187
Figure 1: Number of publications in PE catalogued in MEDLINE, SCOPUS and
WoS databases.
0
1000
2000
3000
4000
5000
1991-1995 1996-2000 2001-2005
Period of publication
Number of publications
MEDLINE
WoS
SCOPUS
SOCPUS - Affil
188
Table 1: Number of publications and core journals in PE international research
Period Number of
publications
Number of
core journals
Number of
publications in
the core jounals
1991-95 722 4 225
1996-00 471 6 163
MEDLINE
2001-05 1.064 3 326
1991-95 1.536 131 449
1996-00 1.582 10 517
WoS
2001-05 2.989 15 976
1991-95 1.551 6 505
1996-00 2.783 10 545
SCOPUS
2001-05 4.473 9 1.025
1991-95 1.400 6 455
1996-00 1.624 16 533
SCOPUS – Affil.
2001-05 2.814 17 939
189
Table 2: Core journals in PE publications
Period Titles #
1991-95 Journal of Applied Physiology (78); Research Quarterly for Exercise and Sport (58);
European Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology (52); International
Journal of Sports Medicine (37)
1996-00 Research Quarterly for Exercise and Sport (43); Medicine and Science in Sports and
Exercise (34); Perceptual and Motor Skills (32); Journal of Applied Physiology (24);
European Journal of Applied Physiololgy and Occupational Physiology (21)
M
E
D
L
I
N
E
2001-05 The Journal of Strength & Conditioning Research (199); Medicine and Science in Sports
and Exercise (71); Research Quarterly for Exercise and Sport (56)
1991-95 Physical Therapy (25); Quest (14); Research Quarterly for Exercise and Sport (14);
International Review of Education (12); Perceptual and Motor Skills (8)
1996-00 Journal of teaching in Physical Education (100); Archives of Physical Medicine and
Rehabilitation (82); Research Quarterly for Exercise and Sport (81); Quest (70); Physical
Therapy (37); Preventive Medicine (36); Perceptual and Motor Skills (32); Adapted
Physical Activity Quarterly (29); American Journal of Epidemiology (23)
W
o
S
2001-05 Research Quarterly for Exercise and Sport (277); Journal of teaching in Physical
Education (94); Journal of teaching in Physical Education (100); Archives of Physical
Medicine and Rehabilitation (78); Perceptual and Motor Skills (57); Preventive Medicine
(54); Sport education and society (53); Quest (52); International Journal of Obesity (49);
Social Science & Medicine (48); Pediatrics (42); Journal of the American Geriatrics
Society (39); Adapted Physical Activity Quarterly (36); American Journal of Preventive
Medicine (33); European Journal of Clinical Nutrition (32); Journal of American Dietetic
Association (32)
1991-95 Journal of Applied Physiology (107); Medicine and Science in Sports and Exercise
(106); European Journal of Applied Physiology and Occupational Physiology (90);
Research Quarterly for Exercise and Sport (81); International Journal of Sports
Medicine (71); Journal of Sports Sciences (50)
1996-00 Quest (103); Journal of Teaching in Physical Education (75); Medicine and Science in
Sports and Exercise (71); Research Quarterly for Exercise and Sport (55); Perceptual
and Motor Skills (54); Sport Education and Society (40); European Journal of Applied
Physiology and Occupational Physiology (37); Sports Medicine (35); International
Journal of Sports Medicine (33); Adapted Physical Activity Quarterly (32)
S
C
O
P
U
S
2001-05 Journal of Strength and Conditioning Research (247); Research Quarterly for Exercise
and Sport (151); Medicine and Science in Sports and Exercise (124); Quest (120);
International Journal of Sports Medicine (79); British Journal of Sports Medicine (77);
Journal of Teaching in Physical Education (76); European Journal of Applied
Physiology (76); Chinese Journal of Clinical Rehabilitation (75)
1991-95 Journal of Sports Sciences (112); Perceptual and Motor Skills (99); Research Quarterly
for Exercise and Sport (78); Medicine and Science in Sports and Exercise (60); Adapted
Physical Activity Quarterly (54); Journal of Sports Medicine and Physical Fitness (52)
1996-00 Perceptual and Motor Skills (60); Journal of Sports Sciences (48); European Journal of
Applied Physiology and Occupational Physiology (43); Biology of Sport (38); Journal of
Human Movement Studies (37); Quest (36); Medicine and Science in Sports and
Exercise (36); Journal of Athletic Training (36); Research Quarterly for Exercise and
Sport (33); Journal of Applied Physiology (27); Journal of Strength and Conditioning
Research (26); Journal of Teaching in Physical Education (25); Adapted Physical
Activity Quarterly (23); Journal of Sports Medicine and Physical Fitness (22); Journal of
Aging and Physical Activity (22); International Journal of Sports Medicine (21)
S
C
O
P
U
S
-
A
f
f.
2001-05 Chinese Journal of Clinical Rehabilitation (244); Perceptual and Motor Skills (71);
Medicine and Science in Sports and Exercise (64); European Journal of Applied
Physiology (57); Journal of Strength and Conditioning Research (55); Biology of
Sport (54); Journal of Applied Physiology (54); Journal of Sports Medicine and Physical
Fitness (51); Journal of Human Movement Studies (50); Research Quarterly for
Exercise and Sport (44); Adapted Physical Activity Quarterly (34); Journal of Teaching
in Physical Education (31); Revista Brasileira De Medicina do Esporte (31); British
Journal of Sports Medicine (30); Journal of Sports Science and Medicine (24); Pediatric
Exercise Science (23); Journal of Sports Sciences (22)
190
Table 3: Main fields of PE publications
Fields 1991-95
Fields 1996-00
Fields 2001-05
Physiology
325
Physiology
208
Physiology
547
Psychology
85
Psychology
50
Psychology
129
Biochemistry
67
Biochemistry
42
Anatomy
87
Anatomy
61
Anatomy
32
Biochemistry
65
M
E
D
L
I
N
E
Education
39
Medicine
25
Fields 1991-95
Fields 1996-00
Fields 2001-05
Sport Sc. 347 Sport Sc. 579 Sport Sc. 945
Education 272
Public, Environ.&
Occupational Health
428
Public, Environ.&
Occupational Health
685
Public, Environ.&
Occupational Health
221 Education 308 Psychology 408
Med., General &
Internal
157 Rehabilitation 273
Hospitality, Leisure,
Sport & Tourism
398
Rehabilitation 115
Med., General &
Internal
235 Education 379
Psychology 107 Psychology 149
Med., General &
Internal
345
Hospitality, Leisure,
Sport & Tourism
99 Applied Psychology 341
Applied Psychology 94 Rehabilitation 295
W
o
S
Nutrition & Dietetics 266
Fields 1991-95
Fields 1996-00
Fields 2001-05
Medicine
1.289 Medicine 1.158 Medicine 2.351
Health Professions
645 Health Professions 596 Health Professions 1.474
Bioch, Genetics and
Molecular Biology
371 Social Sciences 311 Social Sciences 424
Psychology
174
Bioch, Genetics and
Molecular Biology
257
Bioch, Genetics and
Molecular Biology
357
S
C
O
P
U
S
Psychology 174 Psychology 353
Fields 1991-95
Fields 1996-00
Fields 2001-05
Medicine
1.003 Health Professions 625 Medicine 1.984
Health Professions
551
Bioch, Genetics and
Molecular Biology
362 Health Professions 920
Bioch, Genetics and
Molecular Biology
268 Psychology 251
Bioch, Genetics and
Molecular Biology
551
Psychology
268 Social Sciences 167 Psychology 373
Social Sciences
80 Neuroscience 91 Social Sciences 245
S
C
O
P
U
S
-
A
f
f.
Neuroscience 157
191
8. ANEXO 1 – LISTA DE PERIÓDICOS NO CAMPO SPORT SCIENCES
CATALOGADOS NA BASE ISI - WEB OF SCIENCE, 2005
{2005}
Impact
Immediacy
{2005} Cited
Abbreviated Journal
Title
ISSN
Total
Cites
Factor
Index Articles
Half-life
ACSMS HEALTH FIT
J
1091-5397 55
0.417
0.000
25
ADAPT PHYS ACT Q 0736-5829 330
0.717
0.043
23
8.7
AM J PHYS MED
REHAB
0894-9115 2087
1.142
0.198
126
7.0
AM J SPORT MED 0363-5465 9233
2.396
0.340
200
9.5
ARCH PHYS MED
REHAB
0003-9993 9771
1.734
0.388
392
8.3
ATHLET THER
TODAY
1078-7895 92
0.154
0.000
86
AUST J
PHYSIOTHER
0004-9514 409
1.478
0.333
24
6.8
AVIAT SPACE ENVIR
MD
0095-6562 2889
0.971
0.376
194
>10.0
BIOL SPORT 0860-021X 75
0.051
0.000
34
BRIT J SPORT MED 0306-3674 2376
1.855
0.421
171
5.6
CAN J APPL
PHYSIOL
1066-7814 635
1.133
0.151
53
5.7
CLIN BIOMECH 0268-0033 2295
1.505
0.150
147
6.0
CLIN J SPORT MED 1050-642X 1198
2.783
0.197
71
5.0
CLIN SPORT MED 0278-5919 1335
1.120
0.167
54
8.3
DEUT Z SPORTMED 0344-5925 120
0.236
0.028
36
7.6
EUR J APPL
PHYSIOL
1439-6319 5907
1.619
0.134
209
8.8
EXERC IMMUNOL
REV
1077-5552 185
3.467
0.000
9
4.6
EXERC SPORT SCI
REV
0091-6331 1219
2.492
0.387
31
7.3
GAIT POSTURE 0966-6362 1304
1.691
0.330
94
5.2
HIGH ALT MED BIOL 1527-0297 270
2.030
0.036
28
3.0
HUM MOVEMENT
SCI
0167-9457 925
1.045
0.042
48
8.1
192
INT J SPORT NUTR
EXE 1526-484X 623
0.968
0.021
48
6.7
INT J SPORT
PSYCHOL
0047-0767 480
0.341
0.154
13
9.1
INT J SPORTS MED 0172-4622 3518
1.433
0.215
144
9.6
ISOKINET EXERC
SCI
0959-3020 114
0.263
0.027
37
9.0
J AGING PHYS
ACTIV
1063-8652 345
0.794
0.167
30
5.8
J APPL BIOMECH 1065-8483 337
0.438
0.000
33
8.0
J APPL PHYSIOL 8750-7587 33403
3.037
0.732
605
9.9
J APPL SPORT
PSYCHOL
1041-3200 367
0.906
0.240
25
6.9
J ATHL TRAINING 1062-6050 637
1.144
0.062
48
4.7
J BACK
MUSCULOSKELET
1053-8127 83
0.000
0.000
13
J ELECTROMYOGR
KINES
1050-6411 990
2.181
0.215
65
4.9
J MOTOR BEHAV 0022-2895 1228
1.706
0.196
46
>10.0
J ORTHOP SPORT
PHYS
0190-6011 1791
1.395
0.149
74
8.3
J ORTHOP TRAUMA 0890-5339 2103
0.902
0.171
105
7.7
J PHILOS SPORT 0094-8705 70
0.269
0.000
14
J REHABIL MED 1650-1977 455
1.799
0.169
59
2.8
J SCI MED SPORT 1440-2440 372
1.050
0.149
47
4.5
J SHOULDER ELB
SURG
1058-2746 1870
0.729
0.028
142
6.6
J SPORT EXERCISE
PSY
0895-2779 1242
1.167
0.138
29
>10.0
J SPORT MANAGE 0888-4773 138
0.688
0.227
22
8.0
J SPORT MED PHYS
FIT
0022-4707 1214
0.856
0.017
59
9.2
J SPORT REHABIL 1056-6716 214
0.283
0.000
28
8.2
J SPORT SCI 0264-0414 1599
1.697
0.180
100
6.1
J STRENGTH COND
RES
1064-8011 1192
1.130
0.160
150
4.4
J TEACH PHYS
EDUC
0273-5024 252
0.500
0.000
19
8.5
JPN J PHYS FIT 0039-906X 40
0.082
0.000
34
193
SPORT
KNEE 0968-0160 405
0.735
0.076
79
4.1
KNEE SURG SPORT
TR A
0942-2056 1282
1.018
0.112
116
6.2
MED SCI SPORT
EXER
0195-9131 13821
2.831
0.376
298
7.4
MED SPORT 0025-7826 63
0.067
0.000
23
MOTOR CONTROL 1087-1640 235
0.778
0.125
24
5.3
OPER TECHN
SPORT MED
1060-1872 141
0.288
0.080
25
5.8
PEDIATR EXERC SCI
0899-8493 580
1.576
0.033
30
7.1
PHYS MED REHAB
KUROR
0940-6689 127
0.783
0.030
33
3.6
PHYS THER SPORT 1466-853X 70
0.513
0.083
24
PHYSICIAN
SPORTSMED
0091-3847 721
0.380
0.178
45
>10.0
PSYCHOL SPORT
EXERC
1469-0292 152
1.281
0.220
41
2.9
QUEST 0033-6297 294
0.577
0.038
26
9.5
RES Q EXERCISE
SPORT
0270-1367 2583
1.106
0.222
63
>10.0
SCAND J MED SCI
SPOR
0905-7188 1121
2.151
0.404
47
6.0
SCI SPORT 0765-1597 105
0.186
0.000
70
5.8
SOCIOL SPORT J 0741-1235 370
0.622
0.000
24
>10.0
SPORT EDUC SOC 1357-3322 94
0.441
0.000
17
SPORT PSYCHOL 0888-4781 568
0.942
0.148
27
8.1
SPORTS MED 0112-1642 3598
3.333
0.250
60
7.6
SPORTS MED
ARTHROSC
1062-8592 109
0.222
0.120
25
7.1
SPORTVERLETZ
SPORTSC
0932-0555 118
0.255
0.000
27
8.5
STRENGTH COND J 1524-1602 163
0.324
0.000
44
6.3
WILD ENVIRON MED 1080-6032 155
0.585
0.032
31
4.6
194
9. ANEXO 2 – CURRICULUN VITAE
Nome
: Suely Pereira Rosa
Nascimento
: 17/03/1954
Naturalidade
: Rio de Janeiro
1. Formação Acadêmica:
Escola de Educação Física e Desportos Licenciatura Plena em Educação Física pela
Universidade Federal do Rio de Janeiro, março de 1975 a outubro de 1978.
Mestrado em Educação Física na Escola de Educação Física e Desportos da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, área de concentração em Didática da Educação
Física.
Doutorado em Química Biológica do Instituto de Bioquímica Médica da Universidade
Federal do Rio de Janeiro, área de concentração em Educação, Difusão e Gestão em
Biociências.
2. Orientação de Monografia de Conclusão de Curso de Graduação
A Importância do Produtor Cultural como Agente Sensibilizador e Conscientizador”,
monografia apresentada por Roberta dos Santos Kwasinski, em julho de 2009, no Curso
Superior de Tecnologia em Produção Cultural no Instituto Federal do Rio de Janeiro,
Campus Nilópolis.
3. Orientação de Monografia de Conclusão de Pós-Graduação Latto Sensu em
Ensino de Ciências
Ciência e Televisão: A Influência da Mídia no Ensino Fundamental”, a
monografia será
apresentada por Natasha Marins Prati de Castro, apresentação agendada para junho de
2010, no Instituto Federal do Rio de Janeiro, Campus Maracanã.
4. Comunicação em Congresso
Congresso Regional de Informação em Ciências da Saúde Formato Pôster:
“Tendências Atuais da Produção Científica Brasileira em Educação Física: Uma análise
a partir de periódicos nacionais”, em setembro de 2008.
12th International Conference on Scientometrics and Infometrics
– Formato Pôster:
“Physical Education: a multifaceted research field”, em julho de 2009,
5. Publicações:
ROSA, S
.,
LETA, J
. Tendências atuais da pesquisa brasileira em Educação Física
Parte 1: uma análise a partir de periódicos nacionais. Revista Brasileira de Educação
Física e Esporte, São Paulo, v.24, n.1, p.121-34, jan./mar. 2010.
ROSA, S
.,
LETA, J
. “A heterogeneidade epistemológica nos Programas de Pós-
Graduação”. Revista Brasileira de Educação Física e Esporte, São Paulo, volume 24,
n.4, 2010 – no prelo.
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Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
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Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo