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VERA REGINA CASARI BOCCATO
AVALIAÇÃO DE LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA EM
FONOAUDIOLOGIA NA PERSPECTIVA DO USUÁRIO:
estudo de observação da recuperação da informação com
protocolo verbal
MARÍLIA
2005
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VERA REGINA CASARI BOCCATO
AVALIAÇÃO DE LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA EM
FONOAUDIOLOGIA NA PERSPECTIVA DO USUÁRIO:
estudo de observação da recuperação da informação com
protocolo verbal
Dissertação apresentada ao Curso de
Mestrado em Ciência da Informação da
Universidade Estadual Paulista, campus de
Marília, para obtenção do título de Mestre em
Ciência da Informação.
Orientadora: Profª. Drª. Mariângela Spotti
Lopes Fujita
MARÍLIA
2005
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Boccato, Vera Regina Casari
B664a Avaliação de linguagem documentária em Fonoaudiologia na
perspectiva do usuário: estudo de observação da recuperação da
informação com protocolo verbal / Vera Regina Casari Boccato. --
Marília, 2005.
239 f. : il. ; 30 cm
Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) –
Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual
Paulista, 2005.
Bibliografia: f. 219-229.
Orientadora: Profª. Drª. Mariângela Spotti Lopes Fujita
1. Linguagem documentária 2. Avaliação 3. Sistemas de
informação 4. Recuperação da informação 4. Cultura organizacional 5.
Protocolo verbal 6. Fonoaudiologia I. Autor. II. Título.
CDD 029.94
VERA REGINA CASARI BOCCATO
AVALIAÇÃO DE LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA EM
FONOAUDIOLOGIA NA PERSPECTIVA DO USUÁRIO:
estudo de observação da recuperação da informação com
protocolo verbal
Banca Examinadora:
Profª. Drª. Mariângela Spotti Lopes Fujita
Drª. Helen de Castro Silva
Drª Nair Yumiko Kobashi
Marília, 22 de novembro de 2005.
DEDICATÓRIAS
Aprendi a ser um SER HUMANO com as pessoas que sempre agiram
como tal.
Aos meus pais Olga e Victorino (in memorian) o meu muito obrigada por vocês
existirem em vida e eternamente em meu coração.
Com todo o meu amor.
À minha querida irmã e amiga Vilma por, simplesmente, ser como é.
O meu carinho sincero.
Às minhas lindas tias Emília e Tercília, também minha madrinha, eterna
gratidão por tudo de bom que sempre desejaram a mim. Tenho-nas como segundas
mães.
À Márcia, querida amiga e madrinha, pelo compartilhamento de momentos
felizes, muitas vezes longe e ao mesmo tempo sempre muito perto. Um beijo
saudoso.
À minha sogra Latifa (Tita) por todo o seu carinho e amizade. Um beijo grande.
Aos meus amados “filhinhos” de quatro patas que a natureza me concedeu, Kika
(Tití), Toby (Totó), Hanna, Lunna e Nanno, muito obrigada pela expressão de
carinho e afeto em todos os momentos de minha vida.
Um beijo grande da “mamãe”.
Ao meu querido e amado marido, companheiro e amigo Paulo (Papi) por todo apoio,
dedicação e incentivo, e por acreditar na minha capacidade para realizar esta
dissertação.
Eu te amo muito e, por toda a vida, sempre o farei.
À todos vocês, dedico este trabalho.
“A ciência só pode ser criada por aqueles que estão
verdadeiramente imbuídos na busca da verdade e do
entendimento”.
A. Einstein
AGRADECIMENTOS
A Deus e à minha querida “Santa” Laura de Vicuña pela força e por
me guiarem pelo caminho da felicidade pessoal e da realização profissional.
À minha querida orientadora e amiga Mariângela Spotti Lopes Fujita
pelo incentivo constante e pela confiança ao acreditar na realização desta
dissertação. Sua competência profissional e sua beleza como ser humano são
indiscutivelmente majestosas. Muito obrigada por tudo. Sou sua “protocolete
incondicional.
À linda Família Fujita os meus eternos agradecimentos pela
recepção e acolhida em seu lar. Um beijo muito carinhoso ao Celso, Tiemi, Tamye e
Mayumi.
Às queridas amigas e docentes do Departamento de Fonoaudiologia
da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo - FOB-USP -
o meu muito obrigada pelas orientações e apoio sem os quais esta pesquisa não
poderia ter sido realizada.
Aos competentes profissionais da informação da BIREME, Olga
Pedroza Ribeiro e
Arthur Alberto Correa Treuherz, responsáveis pela elaboração e
atualização do DeCS – Descritores em Ciências da Saúde e à amiga e colaboradora
Elenice de Castro com a expressão de um grande carinho e admiração.
Ao meus queridos Professores do Departamento de Ciência da
Informação da UNESP, Campus de Marília, os meus agradecimentos pela
oportunidade de ter compartilhado de sua sabedoria e amizade. Um beijo especial
com muito carinho à Prof
a
. Dr
a
. Silvana Aparecida Borsetti Gregorio Vidotti.
Aos meus colegas do Mestrado com quem aprendi a compartilhar momentos
de suma intelectualidade, importância e felicidade e em especial aos amigos Rogério
Ramalho e Willy Dantas de Macedo aos quais dedico um carinho fraternal. Um
grande beijo a todos, da “Mamma”.
Aos profissionais da informação atuantes na biblioteca da UNESP, Campus
de Marília, o meu muito obrigada pelas orientações, pela excelência no
atendimento, pela disposição e pela amizade e carinho que sempre me dedicaram.
Um beijo grande para a minha amiga e bibliotecária Maria Luzinete Euclides.
Às amáveis “meninas” do Setor de Pós-graduação da UNESP, Campus de
Marília, Edna, Yara, Márcia, Aline e Andréia por toda competência, atenção e
simpatia com que me receberam durante todo o tempo deste trabalho.
Às minhas amigas, profissionais da informação, Milena Rubi, Vânia Lima e
Cibele Araújo o meu eterno agradecimento pelo incentivo e apoio na realização
deste trabalho.
Às minhas amigas e colegas do Grupo de Gerenciamento do
Vocabulário Controlado USP o meu reconhecimento pelo companheirismo desses
12 anos de trabalho e pelo incentivo constante na realização desta minha
caminhada. Em especial, à minha querida amiga e Prof
a
Dr
a
Nair Yumiko Kobashi
por confiar em mim.
Às amigas bibliotecária e Diretora Técnica Lucia Verônica Ramos e
Telma de Carvalho, respectivamente, agradeço pela oportunidade primeira em
trabalhar diretamente com os serviços desenvolvidos pela BIREME e,
consequentemente, com o DeCS.
À Prof
a
Dr
a
Maria Fidela de Lima Navarro, Diretora da Faculdade de
Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo – FOB-USP, os meus sinceros
agradecimentos pelo apoio nessa jornada acadêmica/profissional.
Ao Prof. Dr. Carlos Ferreira dos Santos, amigo e docente da
disciplina de Farmacologia do Departamento de Ciências Biológicas da FOB-USP,
todo o meu reconhecimento e admiração por sua competência e amizade.
À Cybelle de Assumpção Fontes, Diretora Técnica do Serviço de
Biblioteca e Documentação da FOB-USP, também os meus agradecimentos.
Ao meu amigo Ademir Padilha, companheiro de trabalho e de
almoços diários, os meus agradecimentos pelo apoio e por atender todas as minhas
solicitações de comutação bibliográfica com muita agilidade e presteza. Os meus
respeitos ao profissional da informação que você é.
Aos colegas do Setor de Fotocópias da Biblioteca da FOB-USP,
Salvador Cruz Felix e Ana Paula Bertonha, o meu reconhecimento pelos serviços
prestados na impressão desta dissertação, bem como à Maristela Petrenuci Ferrari e
Eloisa Maria P. Pereira pela realização da formatação e revisão da língua
portuguesa, deste trabalho, respectivamente.
Os meus eternos agradecimentos à todas as pessoas que direta ou
indiretamente contribuíram para a realização desta pesquisa.
Finalmente, os cinco momentos profissionais mais importantes de minha vida.
Esse caminho só pode ser percorrido pela convivência direta com pessoas e
profissionais brilhantes co-responsáveis por essa trilha. O meu eterno
agradecimento pela oportunidade de conhecer, nesta ordem, e aprender com Ligia
Gullo Daumichen, Rosa Maria Rodrigues Correa, Rosaly Fávero Krzyzanowski,
Elenice de Castro e Mariângela Spotti Lopes Fujita.
Amigo é coisa prá se guardar debaixo de sete chaves, dentro do coração [..]”.
Milton Nascimento
“Completou-se uma jornada.
Chegar é cair na inércia de um ponto final.
Na euforia da chegada, porém,
Há um convite irrecusável
Para uma nova partida”.
Helena Kolody
BOCCATO, Vera Regina Casari. Avaliação de linguagem documentária em Fonoaudiologia
na perspectiva do usuário: estudo de observação da recuperação da informação com
protocolo verbal. 2005. 239 f. Dissertação (Mestrado em Ciência da Informação) –
Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, Marília, 2005.
RESUMO
A linguagem documentária, instrumento mediador da informação documentária entre o Sistema de
Informação e o usuário, tem papel fundamental no acesso à informação, proporcionando a satisfação
na recuperação da informação e, conseqüentemente, a geração do conhecimento científico que
contribui para desenvolvimento da ciência brasileira e para o bem-estar da sociedade. Quando a
linguagem documentária não oferece compatibilidade com a linguagem de busca do usuário,
compromete a qualidade da pesquisa realizada e a credibilidade do Sistema de Informação quanto à
sua eficácia na recuperação da informação documentária e satisfação do usuário. Dessa maneira, a
proposição é avaliar, por meio da observação do usuário, a linguagem documentária DeCS –
Descritores em Ciências da Saúde, utilizada para a recuperação da informação no sistema LILACS
(Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde), com o intuito de obter indicadores
para delinear as estratégias de aprimoramento da linguagem na área de Fonoaudiologia. Para
avaliação dessa linguagem empregou-se a técnica do protocolo verbal ou “pensar alto” (thinking
aloud), tendo como sujeitos pesquisadores do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de
Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo – FOB-USP. A aplicação dessa técnica foi
realizada no próprio ambiente de trabalho dos sujeitos, tendo sido verificado, anteriormente, o
conhecimento de cada um deles no acesso ao sistema LILACS, bem como na utilização da
linguagem DeCS. A partir de então, foram selecionados quatro sujeitos representantes das quatro
especialidades formadoras da área de Fonoaudiologia: Linguagem, Voz, Motricidade Oral e
Audiologia, e observados, com protocolo verbal, na tarefa de realizar a recuperação de informações,
no campo de descritor de assunto da interface de busca da base de dados LILACS utilizando a
linguagem DeCS. A análise das transcrições dos protocolos verbais demonstrou que a metodologia
empregada foi eficaz por possibilitar a coleta, em tempo real, das declarações dos sujeitos
(usuários/pesquisadores) sobre o desempenho da linguagem DeCS utilizada para a recuperação de
informações no sistema LILACS. O estudo realizou uma reflexão sobre as declarações emitidas pelos
quatro sujeitos participantes desta pesquisa e os resultados obtidos da análise revelam que a
linguagem DeCS, em Fonoaudiologia, conduziu as buscas à resultados insatisfatórios quanto à
recuperação da informação a partir dos seguintes aspectos relevantes: insuficiência de termos
genéricos e/ou específicos representativos da área de Fonoaudiologia; necessidade de atualização
de termos disponíveis na linguagem com relação à terminologia encontrada na literatura científica da
área e adotada pelos especialistas; hierarquização de termos em categorias de assuntos não
equivalentes aos seus conceitos, entre outros aspectos. Conclui-se que o aprimoramento da
linguagem documentária DeCS na área de Fonoaudiologia requer atualização dos descritores e
definições correspondentes conforme a realidade de avanço científico da área, revisão da tradução
para a língua portuguesa dos descritores existentes no Vocabulário DeCS e o estabelecimento das
relações de equivalência, hierárquica e não-hierárquica a todos os descritores. Por outro lado, o
levantamento da terminologia da área de Fonoaudiologia utilizada pelos especialistas, Sociedades de
Pesquisas e pela literatura científica deve representar as especialidades de Linguagem, Voz,
Motricidade Oral e Audiologia. Recomenda-se ao Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação
em Ciências da Saúde – BIREME, instituição responsável pela elaboração do Vocabulário Controlado
DeCS, a construção de uma categoria específica para a área de Fonoaudiologia, representante da
literatura e da comunidade científica brasileira da área, a exemplo da inclusão das categorias de
Saúde Pública e Homeopatia, tendo em vista que sua representação terminológica não condiz com
as necessidades dos usuários/pesquisadores para a recuperação de informações.
Palavras-chave: Linguagem Documentária. Avaliação. Sistema de Informação.
Recuperação da Informação. Protocolo Verbal. Fonoaudiologia.
Evaluation of indexing language in the user´s view in Speech-Language Pathology and
Audiology: an observation study of the information retrieval with a verbal protocol
ABSTRACT
The Indexing language, a mediator tool of the indexing information between the information system
and the user, plays a crucial role in the access to information, providing a satisfaction in information
retrieval and, thus, the generation of scientific knowledge which adds to the welfare of society. When
the indexing language is not compatible with the user´s search language, it jeopardizes the quality of
the research performed and the credibility of the information system as to its efficacy in retrieving
indexing information and the user´s satisfaction. Therefore, the proposition is to assess, by observing
the user, the DeCS – Health Sciences Descriptors indexing language, utilized for the retrieval of
information in the LILACS system (LILACS - Latin American and Caribbean Health Sciences), aiming
at obtaining indicators to outline strategies to improve the language in the field of Speech- Language
Pathology and Audiology. The verbal protocol technique (thinking aloud) was utilized to evaluate this
language, having as subjects, researchers of the Speech-Language Pathology and Audiology
Department at the Dental School – University of São Paulo – FOB-USP, at Bauru, SP. This technique
has been applied in the subjects´ own working environment, being their knowledge on the access to
LILACS system as well as the use of DeCS language previously verified. Then, four subjects
representing the four forming specialties in the area of Speech-Language Pathology and Audiology,
i.e., Language, Voice, Oral Motricity and Audiology were selected and observed, with the verbal
protocol, in the task of performing information retrieval, in the field of subject descriptor of the search
interface of LILACS´database, utilizing the DeCS language. The analysis of the transcriptions for the
verbal protocols demonstrated that the methodology employed was effective in enabling the collection,
in real time, of the subjects´ statements (users /researchers) on the performance of DeCS language
utilized for information retrieval in the LILACS system. The study carried out a reflection on the
declarations issued by the four subjects participating in our research and the results obtained from the
analysis show that the DeCS language, in Speech-Language Pathology and Audiology, led the
searches to unsatisfactory results as to information retrieval from the following relevant aspects:
insufficiency of generic and/or specific terms representative of the Speech-Language Pathology and
Audiology area; terms available in the language regarding the terminology found in the scientific
literature of the area and adopted by specialists need to be updated; ranking of terms in subject
categories not equivalent to their concepts, among others aspects. It is concluded that the
improvement of the DeCS indexing language in the field of Speech-Language Pathology and
Audiology requires the updating of descriptors and corresponding definitions according to the reality of
scientific advancement in the area, review of the translation for the Portuguese language, of
descriptors existing in the DeCS Vocabulary, and the establishment of hierarchical and nonhierarchical
equivalence relations to all descriptors. On the other hand, the survey of terminology in the area of
Speech-Language Pathology and Audiology utilized by specialists, Research Societies and by
scientific literature must represent the specialties of Language, Voice, Oral Motricity and Audiology. It
is recommended that the Latin-American and Caribbean Health Science Information Center –
BIREME, an institution responsible for the compilation of DeCS Controled Vocabulary, elaborate a
specific category for the area of Speech-Language Pathology and Audiology, representing the
literature and the Brazilian Scientific community in the area, such as the inclusion of Public Health and
Homeopathy, since its terminological representation is not consistent with the needs of users
/researchers engaged in information retrieval..
Key-words: Indexing Language. Evaluation. Information System. Information Retrieval.
Verbal Protocol. Speech-Language Pathology and Audiology.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ...........................................................................................13
2 A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO E A ESTRATÉGIA DE BUSCA EM
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO..................................................................29
2.1 A Abordagem de Recuperação da Informação Tradicional/Simplista .31
2.2 A Abordagem de Recuperação da Informação Orientada para o
Usuário ......................................................................................................32
2.3 A Abordagem de Recuperação da Informação Orientada para o Usuário
pela visão cognitiva..................................................................................35
2.4 A Estratégia de Busca para a Recuperação da Informação em Sistemas
de Informação...........................................................................................37
2.5 A Estratégia de Busca para a Recuperação da Informação no Sistema
de Informação LILACS .............................................................................39
3 O SISTEMA DE INFORMAÇÃO LILACS NA PERSPECTIVA DA
CULTURA ORGANIZACIONAL.................................................................41
3.1 Os Sistemas de Informação na Perspectiva da Cultura Organizacional:
pressupostos teóricos .............................................................................41
3.2 O Sistema de Informação LILACS No Contexto da Cultura
Organizacional: análise e discussão ......................................................44
4 A LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA COMO INSTRUMENTO MEDIADOR
PARA A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO ........................................49
4.1 Conhecendo as Linguagens Documentárias .........................................54
5 A LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA DeCS: análise formal e discussão..65
5.1 Estrutura Lógico-semântica do Vocabulário DeCS e Sua
Coordenação: análise formal e discussão.............................................67
5.1.1 Forma de apresentação dos termos .......................................................74
5.1.2 Sistemas de coordenação........................................................................83
5.1.3 Forma de apresentação da linguagem....................................................83
5.1.4 Síntese da análise formal da linguagem documentária DeCS..............86
6 O DESEMPENHO DAS LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS NOS
SISTEMAS DE RECUPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO: as metodologias
de avaliação ..............................................................................................88
6.1 A Abordagem Quantitativa.......................................................................90
6.1.1 Estudos de avaliações quantitativas internacionais.............................90
6.1.2 Estudos de avaliações quantitativas nacionais.....................................98
6.1.3 Estudos de avaliações quantitativas sobre o Vocabulário Controlado
DeCS........................................................................................................100
6.2 A Abordagem Qualitativa.......................................................................103
6.3 A Abordagem Qualitativa/Cognitiva......................................................105
7 A AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA DeCS: estudo de
observação com protocolo verbal ........................................................110
7.1 Pressupostos Teóricos..........................................................................110
7.2 Análise da Tarefa....................................................................................116
7.3 Metodologia Para a Realização da Coleta de Dados ...........................120
7.3.1 Caracterização da instituição e dos sujeitos da pesquisa..................120
7.3.2 Seleção dos sujeitos da pesquisa.........................................................121
7.3.3 Procedimentos que antecederam à aplicação da técnica do protocolo
verbal.......................................................................................................122
7.3.4 Procedimentos durante a aplicação da técnica do protocolo verbal.123
7.3.5 Procedimentos após a aplicação da técnica do protocolo verbal .....124
7.3.6 Local e infra-estrutura da realização da coleta de dados ..................124
7.4 Apresentação dos Dados: transcrição literal do protocolo verbal ....126
8 RESULTADOS PARA A DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE QUALIDADE
PARA O APRIMORAMENTO DA LINGUAGEM
DOCUMENTÁRIA DeCS..........................................................................128
8.1 Sujeito 1 ..................................................................................................129
8.2 Sujeito 2...................................................................................................141
8.3 Sujeito 3...................................................................................................157
8.4 Sujeito 4...................................................................................................169
8.5 Discussão da Análise dos Resultados da Aplicação dos Quatro
Protocolos Verbais Individuais .............................................................175
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS .....................................................................192
REFERÊNCIAS...................................................................................................197
GLOSSÁRIO.......................................................................................................207
APÊNDICES .......................................................................................................210
ANEXO ...............................................................................................................239
13
1 INTRODUÇÃO
Os avanços tecnológicos e a expansão dos apoios financeiros à
pesquisa, ocorridos no final da década de 1940, foram alguns dos fatores
determinantes do crescente desenvolvimento da ciência brasileira.
Nesse contexto, a universidade, que inicialmente objetivava oferecer
ensino de qualidade voltado à formação de profissionais competentes para atuarem
em diversos setores, passou a concentrar esforços também na realização de
pesquisas que visam à produção de conhecimento - “[...] mistura fluida de
experiência condensada, valores, informação contextualizada
1
e insight
experimentado, a qual proporciona uma estrutura para a avaliação e incorporação
de novas experiências e informações [...]” (Davenport e Prusak, 1998, p. 6) – apto a
contribuir para a expansão econômica e social do país.
Assim, a pesquisa científica
2
é entendida como um dos agentes
propulsores do desenvolvimento dos setores de produção, educação, meio
ambiente, saúde, entre outros, capaz, portanto, de proporcionar a melhoria da
qualidade de vida e o bem-estar da sociedade.
Por outro lado, além de beneficiária, a sociedade também é
1
A informação contextualizada é a informação registrada, objeto de estudo da Ciência da Informação.
Entende-se por informação as “estruturas simbolicamente significantes, codificadas de forma
socialmente decodificável e registradas [...] e que apresentam a competência de gerar conhecimento
para o indivíduo e para o seu meio”. (SMIT, J. W.; BARRETO, A. de A. Ciência da informação: base
conceitual para a formação profissional. IN: VALENTIN, M. L. (Org.). Formação do profissional da
informação. São Paulo: Polis, 2002, cap. 1, p. 21-22).
2
Pesquisa científica é a realização concreta de uma investigação planejada, desenvolvida e redigida
de acordo com as normas da metodologia consagrada pela ciência. É o método de um problema em
estudo que caracteriza o aspecto científico de uma pesquisa (RUIZ, J. A. Metodologia científica: guia
para eficiência nos estudos. 4. ed. São Paulo: Atlas, 1996. 181 p. 48).
14
contribuinte do desenvolvimento das pesquisas, estimulando a descoberta de novos
conhecimentos por meio de insumos provenientes do seu próprio cotidiano.
Para tanto, um Sistema de Informação, capaz de produzir
informação, tem a função de disseminá-la e promover, conseqüentemente, sua
recuperação a serviço da pesquisa e da ciência brasileira.
O caráter social, político e econômico e cultural desse sistema
proporcionará a fonte de comunicação (através de uma linguagem documentária),
entre a informação documentária (matéria-prima desse sistema), o Sistema de
Informação propriamente dito (representado por uma base de dados) e o usuário.
Nesse sentido, a linguagem documentária deve refletir a
necessidade de pesquisa dessa comunidade científica brasileira, bem como
representar a cultura organizacional em que se insere o Sistema de Informação
representada por seus elementos culturais e sua forma de atuação, transmitindo,
pois, importantes informações sobre o ambiente cultural predominante para garantir
a qualidade de atendimento e a satisfação do pesquisador na recuperação da
informação pertinente ao desenvolvimento de suas investigações científicas.
Quando a linguagem documentária não oferece compatibilidade com
a linguagem de busca desse pesquisador e, conseqüentemente, não reflete essa
cultura, compromete-se a qualidade da pesquisa realizada e a credibilidade do
Sistema de Informação quanto à sua eficácia na recuperação da informação
documentária e satisfação do pesquisador.
Como profissional da informação há mais de vinte e seis anos, dos
quais treze anos dedicados ao serviço de indexação e oito anos, simultaneamente,
ao de bibliotecária de referência, procurei sempre conciliar os conhecimentos
15
assimilados na Academia, nos cursos e eventos realizados, àqueles adquiridos no
desenvolvimento dessas atividades diárias.
A experiência adquirida como indexadora deve-se, principalmente,
aos seis anos de atividades desenvolvidas junto ao Serviço de Documentação
Odontológica da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo
(SDO/FO-USP) e, posterior e concomitantemente, aos sete anos como bibliotecária
de referência no Serviço de Biblioteca e Documentação da Faculdade de
Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo (SBD/FOB-USP).
Durante esses anos trabalhei diretamente com a indexação e/ou
recuperação da informação nas áreas de Odontologia e Fonoaudiologia, em bases
de dados nacionais e internacionais produzidas pela BIREME - Centro Latino-
Americano e do Caribe de informação em Ciências da Saúde, mais especificamente
com as bases de dados LILACS (Literatura Latino-Americana e do Caribe em
Ciências da Saúde) e BBO (Bibliografia Brasileira de Odontologia), em virtude de o
SDO/FO-USP e SBD/FOB-USP terem se tornado Centros Cooperantes do Sistema
Brasileiro de Informação em Ciências da Saúde integrado ao Sistema Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde da BIREME, por meio
de convênio firmado entre a USP e a BIREME.
Quando se tem a oportunidade de realizar duas atividades que se
complementam, como a indexação e a recuperação da informação, torna-se possível
a reflexão constante sobre qual seria o melhor termo para representar a
necessidade informacional do usuário e, ao mesmo tempo, tem-se a possibilidade de
verificar se o termo que ele buscou foi por nós utilizado na descrição do conteúdo do
documento.
16
Paralelamente ao desenvolvimento dessas duas atividades, também
participo há doze anos, do Grupo de Gestão do Vocabulário Controlado USP –
VocabUSP do Banco de Dados Bibliográficos da USP – Dedalus.
A experiência na compatibilização das diversas linguagens
documentárias utilizadas nos catálogos das quarenta bibliotecas da USP possibilitou
adquirir conhecimentos nessa área, bem como a construção e o gerenciamento de
uma linguagem única que representasse a necessidade de pesquisa de todas as
áreas do saber, indo ao encontro dos propósitos de ensino, pesquisa e extensão,
instituídos pela Universidade.
Sendo assim, essas práticas me permitiram e ainda permitem
verificar e analisar o desempenho das atividades de indexação e recuperação nos
Sistemas de Informações e o comportamento do usuário diante de suas
necessidades de informação.
Nesse sentido, desenvolvendo as atividades de indexação e de
buscas bibliográficas em bases de dados disponibilizadas em biblioteca
especializada universitária, nas áreas de Odontologia e Fonoaudiologia (SBD/FOB-
USP), a realidade profissional evidenciou-me que a linguagem documentária tem um
papel fundamental no acesso à informação mas, muitas vezes, são questionáveis
quanto à sua eficácia na recuperação da informação documentária e satisfação do
usuário.
Assim, a linguagem documentária DeCS, elaborada pela BIREME –
Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde e
utilizada para a indexação e recuperação de informações no Sistema de Informação
LILACS, não representa a linguagem de busca do usuário brasileiro na área de
17
Fonoaudiologia por ser uma linguagem traduzida cuja identidade científica difere
epistemologicamente das pesquisas latino-americanas dessa área do conhecimento.
Isso pôde ser observado por meio de comentários e opiniões
emitidos pelos usuários, mais especificamente os da área de Fonoaudiologia, quanto
aos termos disponíveis na linguagem documentária utilizada no Sistema de
Informação não estarem atualizados em relação à nomenclatura utilizada em sua
área de atuação.
Exemplifica essa situação, o caso de uma docente do Departamento
de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de Bauru da Universidade de São
Paulo (FOB-USP) que solicitou auxílio na realização de uma busca bibliográfica em
sua linha de pesquisa – Audiologia - na base de dados LILACS. Ela esclareceu que,
embora soubesse operar perfeitamente o Sistema de Informação, não estava
conseguindo localizar registros que correspondessem às suas necessidades de
informação por meio da utilização do campo de descritor de assunto e,
conseqüentemente utilizando a linguagem adotada pelo sistema.
Um outro caso aconteceu quando do alerta de um aluno do 4º ano
em que a tradução dos termos disponíveis na linguagem documentária não
correspondia à realidade terminológica e conceitual empregada pelo especialista da
área de Fonoaudiologia.
Além disso, vários outros pesquisadores, docentes e discentes de
graduação que desenvolviam pesquisas de iniciação científica expuseram que a
abrangência temática (quantidade de termos) da linguagem documentária não
representava suficientemente os conteúdos dos documentos disponíveis na
literatura científica da área fonoaudiológica.
18
Complementando esses problemas apresentados pelos usuários,
verifiquei, por meio da indexação de documentos realizados na base de dados e por
orientações ministradas aos usuários em buscas bibliográficas, que a linguagem
documentária possibilita a realização de indexações e pesquisas utilizando-se
termos mais amplos (genéricos) e/ou mais específicos; porém, nem sempre
apresentando satisfatoriamente as suas relações lógico-semânticas e de acordo com
os princípios de elaboração de uma linguagem documentária determinados por
diretrizes e normas existentes.
Nesse sentido, é fundamental que a linguagem documentária
represente mais adequadamente os termos técnicos utilizados na área, propiciando
resultados de buscas mais consistentes.
A finalidade da linguagem documentária DeCS é a sua utilização na
indexação de artigos de revistas científicas, livros, anais de congressos, relatórios
técnicos e outros tipos de materiais, assim como na busca e recuperação de
assuntos da literatura científica latino-americana no Sistema de Informação base de
dados LILACS.
A escolha da linguagem documentária deve estar de acordo com as
políticas de indexação definidas pelo sistema, intermediando o acesso à
recuperação da informação o qual, por sua vez, deve considerar a cultura da
Instituição que o desenvolveu/disponibilizou; as expectativas e necessidades do
usuário; características do assunto tratado; os recursos humanos, físicos e
financeiros; os produtos e serviços oferecidos e a relação custo/desempenho.
Dentro desse cenário, o Vocabulário DeCS é representativo da
cultura que o Sistema de Informação LILACS possui. O DeCS, pelo fato de ser uma
linguagem documentária traduzida, isto é, elaborada a partir de um vocabulário em
19
língua inglesa, produzido por uma instituição norte-americana da área de Ciências
da Saúde, possui características provenientes dessa cultura, além da representação
terminológica da área de Fonoaudiologia corresponder ao modelo estrutural norte-
americano da área.
Além disso, a Fonoaudiologia é considerada uma área
multidisciplinar pelas interfaces que possui, principalmente com a Psicologia,
Lingüística, Educação, Medicina, Odontologia e Saúde Pública, estando os seus
termos, dessa maneira, distribuídos e representados nessas diversas áreas, no
Vocabulário DeCS.
A Fonoaudiologia não possui os termos reunidos em uma única
categoria representando mais adequadamente a cultura terminológica da área na
ciência brasileira.
Portanto, o tema deste estudo é a avaliação de uma linguagem
documentária utilizada em um Sistema de Informação na área de Ciências da
Saúde, sub-área Fonoaudiologia, pela perspectiva do usuário, para a recuperação
de informação segura e de qualidade a serviço da pesquisa e da ciência brasileira.
A avaliação do desempenho de uma linguagem documentária, por
meio das opiniões dos usuários, torna-se fundamental para verificar até que ponto a
atuação do Sistema de Informação está sendo comprometida ou não com a
utilização dessa linguagem.
De acordo com Oberhofer (1983, p. 45), “A avaliação não é um fim
por si mesma. Seus propósitos se originam da necessidade de determinar o valor de
um sistema ou de atividades deste sistema”.
A avaliação de uma linguagem documentária, além de suas
estruturas formais e suas relações hierárquicas, que devem estar compatíveis com
20
os objetivos do Sistema de Informação que a utiliza (políticas de indexação bem
definidas), também deve refletir as reais necessidades do usuário, isto é, fornecer as
informações pertinentes existentes nesse sistema.
A estratégia de busca bem elaborada levará o usuário à realização
de uma busca bibliográfica de qualidade, resultando em uma recuperação de
informação que irá ao encontro dos seus propósitos informacionais iniciais .
Não se pode deixar de considerar, também, que o êxito de uma
pesquisa num Sistema de Informação, e conseqüentemente de sua linguagem
documentária, não depende somente de sua boa performance; fatores como a
explicitação clara e objetiva ou o entendimento, por parte do usuário, das suas
necessidades/solicitações de busca; o conhecimento que este usuário possui em
operacionalizar o sistema, contribuem para a obtenção de resultados de buscas
satisfatórias.
Neste estudo, os termos pesquisa bibliográfica
e busca bibliográfica
serão tratados como sinônimos por entender-se que uma base de dados, por ser
considerada como uma fonte de informação secundária, está amplamente inserida
no contexto conceitual de pesquisa bibliográfica.
Reiterando, essa questão, Lancaster (1996) não faz distinção quanto
à terminologia empregada sobre o processo de “encontrar” a informação solicitada
pelo usuário em uma fonte de informação impressa e/ou eletrônica, nomeando-o
como serviço de pesquisa bibliográfica, busca bibliográfica ou buscas em bases de
dados.
Em muitos Serviços de Informação, os usuários realizam as suas
próprias pesquisas tendo o profissional da informação o papel de educar e treinar na
realização de buscas bibliográficas passando, posteriormente, a orientar e/ou
21
esclarecer as dúvidas que surgirem. Essa prática já é adotada por muitos docentes
e/ou pesquisadores de Instituições de Ensino Superior que realizam suas pesquisas
bibliográficas de forma autônoma.
Exemplificando, o usuário/pesquisador, caracterizado pelos alunos
de graduação, pós-graduação, docentes e/ou pesquisadores da área de
Fonoaudiologia da FOB-USP, especialistas e representantes da comunidade
acadêmica, beneficiam-se tanto da busca bibliográfica assistida pelo bibliotecário de
referência quanto da autobusca
3
(realização da busca bibliográfica pelo próprio
usuário) para a recuperação da informação.
Para a verificação do desempenho de uma linguagem documentária
no processo de buscas, que proporcionem resultados condizentes com a solicitação
e a necessidade de pesquisa do usuário, é indispensável considerar as opiniões e
observações emitidas/realizadas por esse usuário do sistema.
Lancaster (1996, p. 10) reforça esse ponto de vista argumentando
que a avaliação de um serviço de informação baseada nas opiniões dos usuários é
extremamente válida, pois “[...] é importante saber o que as pessoas sentem em
relação ao serviço”. A interação que deve haver entre o usuário, a linguagem
documentária e o sistema é fundamental para o êxito da atividade de buscas
bibliográficas.
Assim, este estudo tem como premissas:
a linguagem documentária como mediadora da informação
documentária entre o Sistema de Informação e o usuário
deve refletir a terminologia da comunidade científica
3
Expressão formulada pela pesquisadora. Embora Lancaster (1996), atribua a realização da busca
bibliográfica pelo próprio usuário como auto-serviço, entende-se que esse termo possa designar
todos os serviços realizados pelo próprio usuário e não somente a realização da busca.
22
brasileira, bem como representar a cultura organizacional
em que se insere esse Sistema de Informação;
o reconhecimento de que a opinião do usuário/pesquisador é
fundamental para a avaliação da linguagem documentária
utilizada pelo Sistema de Informação.
Acredita-se, dessa forma, que o desenvolvimento de estudo de
avaliação de linguagem adequado à identidade científica brasileira em
Fonoaudiologia será melhor executada a partir do conhecimento do usuário que
demanda a busca.
Portanto, a proposta deste estudo é avaliar, pela perspectiva do
usuário, a linguagem documentária DeCS – Descritores em Ciências da Saúde,
utilizada no Sistema de Informação LILACS para a recuperação da informação,
empregando a técnica do protocolo verbal ou “pensar alto” (thinking aloud) como
instrumento introspectivo de coleta de dados, com o intuito de obter indicadores para
delinear as estratégias de aprimoramento da linguagem na área de Fonoaudiologia.
Para tanto, com essa proposição, tem-se por objetivo geral contribuir
para o aperfeiçoamento da linguagem documentária DeCS, visando uma melhor
representatividade terminológica na área da Fonoaudiologia brasileira como fator
determinante para o desenvolvimento de pesquisas científicas de qualidade. São
objetivos específicos, a análise formal da estrutura da linguagem documentária
(formato de apresentação), bem como suas relações lógico-semânticas e a
verificação do comportamento, expectativas e satisfação do usuário acadêmico no
uso da linguagem documentária para a recuperação da informação.
Essa proposta é justificada pelo fato de os pesquisadores da área de
Fonoaudiologia necessitarem de um Sistema de Informação que utilize uma
23
linguagem documentária que represente o meio, os valores e a cultura desse
sistema em que ela está inserida.
Além disso, a decisão em avaliar a linguagem documentária DeCS
em Fonoaudiologia, recaiu sobre a própria exigência que a área fez durante sua
rápida trajetória científica.
Considerada uma área relativamente jovem, embora datada da
década de 1930 a idealização da profissão de Fonoaudiólogo proveniente do
interesse e da preocupação das áreas de Medicina e Educação com a profilaxia e
com a correção de erros de linguagem apresentados pelos estudantes/escolares,
outras características tornaram também essa área particularmente especial para a
realização desta pesquisa.
- criação dos quatro primeiros cursos de graduação no Brasil
4
a partir da década de
1960 (CAMPANATTI-OSTIZ, 2004);
- regulamentação do exercício da profissão no país conforme Lei 6.965, de 9 de
dezembro de 1981 (CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA, 2005b);
- criação de órgãos de classes e sociedades/institutos de pesquisas a partir da
década de 1980, como o Conselho Federal de Fonoaudiologia, em 1983, e a
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia , em 1989, respectivamente (CONSELHO
FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA, 2005a, SOCIEDADE BRASILEIRA DE
FONOAUDILOGIA, 2005)
- reconhecimento das quatro especialidades da área – Linguagem, Audiologia, Voz e
Motricidade Oral – pela Resolução CFFa n
o
269, de 3 de março de 2001 do
4
Universidade de São Paulo (1960), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1962),
Universidade Federal do Rio de Janeiro (1967), Escola Paulista de Medicina (1968).
24
Conselho Federal de Fonoaudiologia (CONSELHO FEDERAL DE
FONOAUDIOLOGIA, 2005c);
- Aprovação do primeiro Código de Ética do Fonoaudiólogo pela Resolução CFFa n°
010/84 de 15 de setembro de 1984, revisado e atualizado em 2004 (CONSELHO
FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA, 2005d);
- realização do ensino e/ou da pesquisa em Fonoaudiologia, por meio da
institucionalização de 91 cursos de graduação reconhecidos pelo Ministério de
Educação e de 8 cursos de Pós-graduação – sendo 5 em nível de mestrado (4
mestrados acadêmicos e 1 mestrado profissional) e 3 em nível de mestrado e
doutorado – reconhecidos pela CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de
Pessoal de Nível Superior, além de cursos de especialização (BRASIL, 2005,
CAPES, 2005);
- incremento na produção científica a partir de 1980 com a criação dos três primeiros
periódicos da área, possuindo atualmente sete periódicos
5
, além dos periódicos
publicados nas áreas afins da Fonoaudiologia (CAMPANATTI-OSTIZ, 2004);
- exigência das normas de publicação/instruções aos autores que as palavras-chave
(key-words) dos artigos publicados nos sete períodos de Fonoaudiologia fossem
normalizadas de acordo com o DeCS – Descritores em Ciências da Saúde,
elaborado pela BIREME – Centro Latino-Americano e do Caribe de Informação em
Ciências da Saúde (CAMPANATTI-OSTIZ, 2004);
- interesse da comunidade científica fonoaudiológica no aprimoramento da
linguagem documentária DeCS para maior representatividade terminológica da área
5
Distúrbios da Comunicação (1986-), Pró-Fono: revista de atualização científica (1989-), Fono Atual
(1997-), Revista da Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (1997-), Fonoaudiologia Brasil (1998-),
Revista CEFAC: atualização científica em Fonoaudiologia (1999-), Jornal Brasileiro de Fonoaudiologia
(1999-).
25
e para atender às suas necessidades de investigação/recuperação de informação e
de publicação, em especial do Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de
Odontologia de Bauru da Universidade de São Paulo.
Nesse sentido, a linguagem documentária utilizada por um sistema
de informação necessita de uma terminologia correspondente de sua área que
propicie a satisfação da recuperação da informação da comunidade científica.
Todavia, usuários em diferentes culturas necessitam de diferentes
tipos de informação; a representação da informação tem que ter um vínculo com um
acervo documentário e com o universo em que o pesquisador está integrado.
Essa constatação, é reforçada pelos conceitos da garantia cultural e
da hospitalidade cultural apresentados pela pesquisadora Clare Beghtol (2002a) em
seu trabalho A proposed ethical warrant for global knowledge representation and
organization systems.
A autora refere-se a garantia cultural como sendo: qualquer tipo de
sistema de organização e/ou representação do conhecimento pode ser apropriado e
útil para os indivíduos em alguma cultura, somente se este for baseado nas
suposições, valores e predisposições daquela mesma cultura.
A hospitalidade cultural complementa e amplia o conceito de
garantia cultural no sentido de que esta pressupõe que cada sistema de
classificação seja baseado nas suposições e nas preocupações de alguma cultura,
seja a cultura de um país, ou de uma unidade social maior ou menor (por exemplo,
grupo ético, disciplina acadêmica, domínio das artes, partido político, religião ou
língua).
O conceito de hospitalidade cultural como garantia ética proporciona
condições para que as pessoas possam pensar e agir globalmente e,
26
simultaneamente, localmente e individualmente, respeitando os indivíduos e as
culturas num nível em que esses possam discutir a respeito dessas questões éticas
entre si e entre suas culturas.
Hudon (1997) também apresenta considerações sobre os tesauros
multilingües considerando as várias culturais que estes podem apresentar.
Conforme a autora, a decisão mais importante que se deve tomar no
momento da elaboração de tesauros multilingües é sobre a forma que as estruturas
semânticas serão tratadas. Assim, apresenta dois tipos de estruturas a serem
consideradas: a estrutura semântica idêntica e simétrica e a estrutura semântica
não-idêntica e assimétrica
Considerando-se as diferenças culturais que possam ocorrer e
assim, que um termo possa existir em uma língua e não existir um correspondente
em outra, com a adoção de estruturas semânticas idênticas e simétricas
, cada termo
deverá possuir um correspondente nas diversas línguas do tesauro e isso pode
ocasionar hierarquias semanticamente incorretas ou ilógicas
Nas estruturas semânticas não-idênticas e assimétricas
, a variação
do número de descritores em cada versão lingüística de um tesauro é permitida,
visto que os conceitos terminológicos que existem em uma cultura nem sempre são
representáveis em outra cultura. Dessa forma, um tesauro multilingüe em que as
estruturas são permitidas diferir é mais provável que o universo cultural dos
conceitos e, conseqüentemente dos termos, represente as diversas culturas
lingüísticas, constituindo-se assim, um tesauro multilingüe e multicultural.
Portanto, o usuário/pesquisador utilizando uma linguagem
documentária representativa de sua cultura terminológica na realização de suas
buscas bibliográficas, terá mais condições de obter resultados úteis e pertinentes à
27
sua atividade investigativa os quais possibilitarão assisti-lo nas tomadas de
decisões, nas resoluções de problemas e na geração de novos conhecimentos.
Dessa maneira, e indo ao encontro desta proposta de estudo, foram
desenvolvidos também os seguintes capítulos: A recuperação da informação e a
estratégia de busca em Sistemas de Informação, apresentando os fundamentos
teóricos da recuperação da informação, as abordagens de recuperação da
informação tradicional/simplista, a centrada no usuário e a centrada no usuário com
visão cognitiva, bem como as estratégias de buscas utilizadas em Sistemas de
Informações, destacando o Sistema de Informação LILACS; O Sistema de
Informação LILACS na perspectiva da cultura organizacional: o conceito de Sistema
de Informação é estudado, bem como sua contextualização na sociedade da
informação. Além disso, são apresentados os pressupostos teóricos sobre os
Sistemas de Informação na perspectiva da cultura organizacional, destacando o
Sistema de Informação LILACS da BIREME; A linguagem documentária como
instrumento mediador para a recuperação da informação abordando a condição da
linguagem documentária como instrumento mediador para a representação da
informação, bem como suas definições, correntes teóricas, funções, tipologias,
estruturas e coordenações existentes nessas linguagens utilizadas para a indexação
e recuperação de informação nos Sistemas de Informação nacionais e
internacionais; A linguagem documentária DeCS: análise formal e discussão:
inicialmente é apresentado um breve histórico sobre o Vocabulário Controlado DeCS
, seguido por uma análise sobre a organização de sua estrutura temática, de suas
relações lógico-semânticas e de suas coordenações. No final do capítulo, é
apresentada uma síntese da análise formal da linguagem DeCS; O desempenho
das linguagens documentárias nos Sistemas de Recuperação de Informação: as
28
metodologias de avaliação
enfoca os estudos de avaliação de linguagens
documentárias demonstrando-se as metodologias de análises quantitativas,
qualitativas e qualitativas com abordagens cognitivas, nacionais e/ou internacionais,
bem como os estudos de avaliações quantitativas sobre o Vocabulário Controlado
DeCS; No capítulo Avaliação da linguagem documentária DeCS: estudo de
observação com protocolo verbal, é apresentada a metodologia empregada neste
estudo, onde expõe-se primeiramente os pressupostos teóricos sobre os processos
de avaliação para a leitura documentária e para a recuperação da informação, tendo
como base principalmente os estudos disponíveis na literatura de Peter Ingwersen,
precursor da utilização da técnica do protocolo verbal na recuperação da informação
e o principal estudioso abordado nesta pesquisa. Em seguida, define-se o público
alvo, apresentam-se os critérios e os procedimentos metodológicos adotados, bem
como a coleta de dados; No capítulo Resultados para a definição de indicadores de
qualidade para o aprimoramento da linguagem documentária DeCS são
demonstrados e analisados a coleta e a transcrição dos dados, respectivamente, a
partir da observação do usuário provenientes da técnica de coleta de dados
empregada, isto é, o protocolo verbal; No último capítulo, são apresentadas as
Considerações finais
sobre a performance do Vocabulário Controlado DeCS, onde
são expostos os indicadores de qualidade definidos que, sob a forma de
Recomendações, serão sugeridos e encaminhados à BIREME como contribuição ao
aprimoramento da linguagem documentária DeCS na representação terminológica
da área de Fonoaudiologia na ciência brasileira.
29
2 A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO E A ESTRATÉGIA DE BUSCA EM
SISTEMAS DE INFORMAÇÃO
A recuperação da informação tradicional/simplista, a orientada para
o usuário e a orientada para o usuário com visão cognitiva, bem como as estratégias
de buscas de recuperação de informação em Sistemas de Informação e,
especificamente no Sistema LILACS, são os aspectos abordados neste capítulo.
A recuperação da informação é uma importante etapa do ciclo da
informação, independentemente da fonte de informação utilizada pelo usuário.
Borko (1968) resumiu as inúmeras pesquisas realizadas na área de
Ciência da Informação conceituando-a como a disciplina que investiga as
propriedades e o comportamento da informação, as forças que regem o fluxo
informacional e os meios de processamento da informação para a otimização do
acesso e uso. Ela está relacionada a um corpo de conhecimentos que abrangem a
origem, coleta, organização, armazenamento, recuperação
, interpretação,
transmissão, transformação e utilização da informação, incluindo a investigação, as
representações da informação tanto no sistema natural como no artificial, o uso de
códigos para uma eficiente transmissão de mensagens e o estudo de serviços e
técnicas de processamento da informação e seus sistemas de programação. (grifo e
tradução da autora).
Segundo Guimarães (1990, p. 112), “A recuperação da informação
deve ser entendida em seu aspecto mais dinâmico, como ‘elo de uma corrente’, ou
ainda, etapa de um fluxo: o fluxo da informação”.
Assim, a recuperação da informação está intimamente relacionada
com o armazenamento, a representação, e com o “buscar e o encontrar”
informações relevantes solicitadas pelo usuário/pesquisador.
30
Nesse sentido, tem-se como objetivo da recuperação da informação,
o “buscar e o encontrar” relevante (estratégico), para um perfil de necessidades
específicas de informação - de acordo com a estratégia de atuação da organização,
nos Sistemas de Informação (SILVA, 2003).
A recuperação da informação, dessa maneira, deve atender aos
objetivos da organização, correspondendo ao fluxo informacional proposto para
facilitar o processo de comunicação entre o Sistema de Informação e o
usuário/pesquisador. Como afirma Meadows (1999), a recuperação da informação
deve ser altamente personalizada e disponível imediatamente aos usuários para a
realização de buscas em suas áreas de interesse.
A Ciência da Informação tem a preocupação de estudar e
compreender esse processo de recuperação da informação no sentido de
estabelecer indicadores que contribuam para o aperfeiçoamento dos Sistemas de
Informação.
Para Ingwersen (1982), a estrutura formal da atividade de
recuperação de informação, contém pode ser expressa em uma seqüência de 9
etapas que identificam os estágios mentais desse processo:
1) a necessidade de informação do usuário (que se deriva de uma
situação problema);
2) a necessidade de informação formulada do usuário;
3) a negociação entre o usuário-bibliotecário;
4) a formulação da estratégia de busca: análise do tópico;
5) a escolha das ferramentas de busca;
6) a busca de termos na lista alfabética ou sistemática;
7) o julgamento baseado no índice (termos);
31
8) o julgamento baseado nas descrições, resumos e títulos;
9) avaliação dos próprios documentos pelo usuário-bibliotecário.
Além disso, Ingwersen (2002) em sua obra intitulada Information
retrieval interaction, afirma que a recuperação da informação é entendida como um
processo paradigmático em que produtores de Sistemas de Informação, indexadores
e autores, bem como os usuários/pesquisadores devem compartilhar visões
científicas e necessidades informacionais semelhantes, assim como compartilhar
uma terminologia. Para o autor, a recuperação da informação pode ser sintetizada
em três abordagens: a tradicional/simplista, a orientada para o usuário e, a terceira,
a abordagem cognitiva.
2.1 A Abordagem de Recuperação da Informação Tradicional/Simplista
A abordagem tradicional/simplista é vista como “solucionadora de
problemas” e como uma atividade com um objetivo a alcançar, ou seja, que
possibilita encontrar documentos relevantes à questão posta pelo usuário. Essa
abordagem também é por vezes nomeada como abordagem centrada no sistema
ou
centrada no documento
.
A recuperação da informação na abordagem tradicional é mostrada
como um processo mecânico composto de três elementos: de um lado, temos a
presença do Sistema de Informação, do outro, o usuário com uma necessidade de
informação, nem sempre manifestado corretamente e, no centro, o profissional da
informação (o intermediário humano) que tenta compreender e traduzir essa
necessidade para realizar as buscas bibliográficas.
32
Nesta abordagem, a função da recuperação da informação está em
facilitar o acesso dos usuários/pesquisadores, disponibilizar a informação e localizar
o documento desejado. (INGWERSEN, 2002).
2.2 A Abordagem de Recuperação da Informação Orientada para o Usuário
A abordagem orientada para o usuário, considera este último como
elemento importante no processo de recuperação da informação.
Assim, a solicitação de busca é recebida pelo profissional da
informação predisposto a atender, compreender as situações da vida real e as
necessidades informacionais, com o intuito de “traduzir essa necessidade” da melhor
maneira possível para os parâmetros terminológicos e operacionais do sistema.
A vivência como bibliotecária de referência também possibilitou-me
observar o comportamento do usuário com relação às necessidades de pesquisa.
Quando o usuário procura um profissional da informação, muitas vezes se apresenta
seguro sobre as suas necessidades de pesquisa; são experientes, explicitando
objetivamente as suas questões. Em outros casos, embora os usuários tenham
claramente em mente o que realmente necessitam, apresentam dificuldades no
momento das solicitações/perguntas referentes às suas necessidades de pesquisa
e, por último, convivemos também com uma categoria de usuários que, muitas
vezes, não conseguem formular com clareza a sua questão de pesquisa.
Nestes dois últimos casos, o comportamento do usuário é um fator
que compromete os resultados da pesquisa; cabe ao profissional da informação
intermediar essa situação fazendo com que o usuário exponha exatamente o
33
objetivo de sua solicitação, realizando uma entrevista que permita conhecer o seu
perfil, o que exatamente ele está precisando e qual a finalidade de sua pesquisa.
A entrevista de busca
6
, bem como a estratégia de busca e a busca
bibliográfica, são fatores essenciais, complementares que interagem no processo de
recuperação da informação.
Além desses fatores, outros também devem ser investigados junto
ao usuário e ao profissional da informação como: a escolha correta da base de
dados verificando-se a sua cobertura temática, temporal e geográfica; o
conhecimento da operacionalização do sistema e da elaboração de estratégias de
buscas (por exemplo com a utilização dos operadores booleanos); de sua política de
indexação; da linguagem documentária utilizada pelo sistema e da prática e
qualidade na elaboração e disponibilização de resumos.
Ingwersen (2002) caracteriza essas situações como O intermediário
e o usuário na RI com combinação exata (The intermediary and user in exact match
IR) e o intermediário e o usuário na RI com combinação parcial (The intermediary
and user in partial match IR). (tradução nossa).
A modalidade intermediário e usuário na RI com combinação exata
caracteriza-se por uma solicitação explicitamente clara do usuário. A “tradução“ para
a linguagem adotada pelo sistema, bem como a construção da estratégia de busca
devem ser elaboradas pelo profissional da informação (intermediário) com
conhecimento e domínio das técnicas e instrumentos necessários para a realização
da busca. A modalidade intermediário e usuário na RI com combinação parcial
muitas vezes compromete o resultado da busca pelo fato de o usuário não expressar
com clareza as suas questões de pesquisa, podem ocorrer equívocos na “tradução”
6
Expressão utilizada por Ingwersen, 2002.
34
da questão para a linguagem do sistema e, em decorrência, gerar estratégias de
buscas também inadequadas. Outro fator considerado pelo autor é que, muitas
vezes, o profissional da informação por não estar habilitado totalmente para exercer
essa atividade, pode contribuir para o resultado insatisfatório das buscas realizadas.
Nesse sentido, a terminologia utilizada pelo autor – o intermediário e
o usuário na RI com combinação exata e o usuário na RI com combinação parcial -
refere-se ao à necessidade de comunicação efetiva entre o usuário e o intermediário
(bibliotecário) nos processos de consulta a bases de dados.
A abordagem de recuperação orientada pelo usuário também é
apresentada por Ellis et al. (2002), expondo que para usuários e intermediários, o
problema de localizar documentos pertinentes em um sistema consiste no
entendimento do problema do usuário - tanto por ele quanto pelo próprio
intermediário - e em sua tradução que possa ser processada pelo sistema de
informação. Essa situação é nomeada pelo autor como sendo a atividade de pré-
busca online (tradução nossa).
Ratificando os pontos de vista apresentados acima por Ingwersen e
Ellis et al., para Garcia e Silva (2005)
[...] o bibliotecário pode e deve atuar, auxiliando seus usuários a definir o
problema de busca, a escolher a melhor base de dados que poderá
responder a questão, ajudando a definir os termos de busca, a melhor
estratégia a ser adotada, ou seja, interagindo com as bases de dados e o
usuário para melhor atender as suas necessidades de informação”.
Assim, faz-se presente nesse modelo de recuperação da informação
a interação usuário – profissional da informação, tanto no estágio da entrevista de
busca quanto nas atividades de buscas bibliográficas propriamente ditas.
35
2.3 Abordagem de Recuperação da Informação Orientada para o Usuário na
Visão Cognitiva
A partir da década de 1980, o pesquisador dinamarquês Peter
Ingwersen, intensificou os estudos no campo da recuperação da informação
interativa, apresentando, dessa maneira, a Teoria Cognitiva da Recuperação da
Informação.
Essa teoria consiste na interação dos geradores do Sistema de
Informação, autores dos documentos, profissionais da informação – intermediário
humano – e usuários dentro de um campo de assunto, que compartilham as
mesmas estruturas de conhecimento. Assim, a base dessa teoria é o próprio modelo
tradicional de recuperação da informação, enfatizando-se, no entanto, o estado
cognitivo dos usuários/pesquisadores.
Essa interação quadrangular deve ser recíproca para a obtenção de
resultados que atendam às necessidades de informação. Nesse sentido, observa-se
que a visão cognitiva na abordagem orientada para o usuário conduz a um modelo
de realização de busca bibliográfica que respeita o comportamento/estado mental e
pessoal do usuário – pensamentos, sensações, percepção, crenças, o grau de
motivação, objetivos planejados, memória e conhecimento como estruturas que
interagem entre si e que levam o indivíduo ao entendimento do mundo e de si
próprio -, o desenvolvimento de buscas de informações em um nível individual,
pessoal e o papel desse usuário dentro de um contexto social e organizacional.
(INGWERSEN, 2002).
Para o autor, a transformação da abordagem tradicional/simplista e
da orientada para o usuário para uma abordagem orientada para o usuário com
visão cognitiva acontece quando são reconhecidas as necessidades de interação
36
entre Sistema de Informação, profissionais da informação, usuários, informação e
atividade de busca bibliográfica.
Nesse sentido, as teorias sobre a interação homem-máquina e,
conseqüentemente, a inter-relação entre a Ciência da Informação, a Ciência
Cognitiva, a Psicologia Cognitiva e a Inteligência Artificial apontam para os novos
modelos que a atividade de recuperação da informação passará a adotar.
Em concordância com as posições de Ingwersen sobre as
Abordagens de Recuperação da Informação
, Figueiredo (1999), aponta a ocorrência
de uma mudança de paradigma no acesso à informação: do acesso à informação
centrado na informação para o acesso à informação centrado no usuário. Assim, o
acesso à informação deixa de se voltar somente para a estrutura do Sistema
7
e
passa a se preocupar com “o como satisfazer as necessidades de informação e
como esta é percebida pelo usuário”.
Essa mudança de paradigma parte do fundamento de que
[...] a necessidade de informação de um usuário é específica àquele
indivíduo. Cada usuário aproxima-se da base de dados com a perspectiva
de encontrar uma informação faltante, na qual os dados obtidos devem ser
interligados. [...] Uma necessidade de informação não pode ser separada
da situação que a criou e do indivíduo que a percebeu [...] (FIGUEIREDO,
1999, p. 13)
Essa abordagem considera as necessidades individuais, buscando
conhecer quais as cognições comuns da maioria dos usuários do Sistema de
Informação – seus pensamentos, suas percepções - procurando integrá-los no
ambiente organizacional com influências e características sociais, políticas,
econômicas e culturais, muitas vezes distintas da suas. (FIGUEIREDO, 1999).
7
Sistema, pela colocação da autora, é entendido como uma Biblioteca ou como uma Base de Dados.
37
Todavia, nem sempre a atividade de recuperação da informação é
mediada por profissionais da informação. Com o advento da tecnologia e com a
existência de diversas bases de dados disponíveis via internet, as possibilidades da
autobusca tornaram-se muito freqüentes e, dessa forma, torna-se cada vez maior a
necessidade da interação homem-máquina .
Conforme Lancaster (1996), existem duas formas de realizar buscas
em bases de dados: a busca delegada, que é realizada pelo profissional da
informação mediante a formulação da pergunta pelo usuário e a busca não-
delegada, em que o próprio usuário realiza a sua busca.
Assim, e independentemente da forma de busca adotada pela
Unidade de Informação – “[...] arquivos, discotecas, filmotecas, hemerotecas,
mapotecas, pinacotecas, os diversos tipos de centros de informação, os museus e
as bibliotecas que se dedicam às atividades de informação” (Santos e Ribeiro, 2003,
p. 243), - o usuário/pesquisador deseja que a pesquisa lhe proporcione resultados
satisfatórios.
2.4 Estratégia de Busca para Recuperação da Informação
A estratégia de busca deve ser bem elaborada para possibilitar uma
recuperação de informação condizente com a resposta pretendida pelo
usuário/pesquisador, isto é, o resultado encontrado pelo Sistema de Informação
deve ser proveniente de uma estratégia que retrate o mais fielmente possível o
anseio de busca desse usuário.
De acordo com Santos e Ribeiro (2003, p. 96), o termo estratégia de
busca, dentre vários significados, compreende a “construção de combinação de
38
comandos e conceitos que permitem a localização de informações relevantes (e
exclusão de informações irrelevantes) na busca automatizada”
Segundo Lopes (2002, p. 61), “no âmbito da recuperação da
informação, a estratégia de busca pode ser definida como uma técnica ou conjunto
de regras para tornar possível o encontro entre uma pergunta formulada e a
informação armazenada em uma base de dados”. Ela consiste na determinação
correta das palavras que correspondem ao assunto do tema a ser pesquisado, sua
“tradução” para a linguagem documentária adotada pelo sistema, bem como a
correlação exata, se necessário, entre essas palavras por meio dos operadores
booleanos e o conhecimento da linguagem documentária utilizada pelo sistema.
Os Sistemas de Informação utilizam os operadores booleanos para
relacionar termos (descritores de assuntos) ou palavras (texto livre) na expressão de
uma pesquisa. Combina dois ou mais termos, de um ou mais campos de busca, em
qualquer ordem.
Todavia, uma linguagem documentária inadequada e/ou a
elaboração incorreta de uma estratégia de busca são fatores que comprometem a
recuperação da informação. Outras ocorrências devem ser consideradas:
erros de digitação ocorridos no momento da digitação da estratégia pelo
usuário ou pelo profissional da informação;
ruído (indexação não pertinente ao documento recuperado) e,
silêncio (indexação indevida - e, assim, o documento não é recuperado).
39
2.5 Estratégia de Busca para Recuperação da Informação no Sistema de
Informação LILACS
As estratégias de buscas no Sistema de Informação LILACS são
realizadas por meio da utilização dos operadores booleanos AND, OR, AND NOT e,
quando necessário, com os recursos de truncamento ($) e uso de qualificadores de
campo. Para tanto, o sistema disponibiliza ao usuário três formulários de pesquisa: o
formulário livre (adotado como padrão), o formulário básico e o formulário avançado.
No formulário livre a pesquisa é realizada por palavras (texto livre),
que permite recuperar documentos/registros que as contenham no campo de título,
resumo ou descritores de assuntos. Nesse campo, por especificação do sistema, só
podem ser utilizados os operadores booleanos AND
ou OR.
No formulário básico, além de as pesquisas poderem ser realizadas
pelo campo palavras, este permite utilizar outros campos como descritor de assunto,
limites, autor, palavras do título, revista, monografia em série, tipo de publicação,
idioma, identificador único, país-ano de publicação, localização, mês de entrada e
suporte eletrônico. Nesse formulário são utilizados os operadores AND, OR e AND
NOT.
No formulário avançado, que contempla todos os campos do
formulário básico, são também pesquisáveis, além do campo do resumo, o tipo de
literatura e o nível bibliográfico. O campo de autor, nesse formulário, é disponível
para pesquisa como autor pessoal normalizado
8
e autor institucional
9
. Todos os
operadores booleanos podem ser utilizados neste tipo de busca.
8
Os autores pessoais são normalizados de acordo com as regras estabelecidas no capítulo 22 -
Cabeçalhos para Pessoas - do AACR2 - Anglo American Cataloging Rules.
9
Os autores institucionais – Entidades - são normalizados de acordo com as regras estabelecidas no
capítulo 24 – Cabeçalhos para Entidades - do AACR2 - Anglo American Cataloging Rules.
40
Apresentadas as características básicas de um Sistema de
Recuperação de Informação, enfocar-se á, no capítulo seguinte, o Sistema de
Informação LILACS na perspectiva da cultura organizacional.
41
3 O SISTEMA DE INFORMAÇÃO LILACS NA PERSPECTIVA DA CULTURA
ORGANIZACIONAL
Este capítulo tem como ponto central o Sistema de Informação
LILACS da BIREME no contexto da cultura organizacional. Além disso, questões
relativas aos assuntos: a cultura organizacional no contexto da gestão do
conhecimento e os Sistemas de Informação como fontes de recuperação da
informação também foram abordados.
3.1 Os Sistemas de Informação na Perspectiva da Cultura Organizacional:
pressupostos teóricos
Um Sistema de Informação insere-se em contextos organizacionais
que podem ser uma sub-unidade de uma organização, uma organização ou um
conjunto de organizações.
Como ressalta que Beuren (1998, p. 39)
[...] a concepção do sistema de informações é dependente do sistema de
gestão ao qual vai servir de suporte. Desse modo, os esforços, na
arquitetura e no desenvolvimento do sistema de informações, devem ser
concentrados na identificação das informações necessárias ao processo de
gestão empresarial e na determinação dos subsistemas que devem gerá-
las. Isto sugere que haja integração do Sistema de Informação com o
sistema organizacional.
A essência da cultura de uma organização é expressa pela maneira
como ela realiza seus negócios, pela maneira como trata seus clientes e
funcionários, pelo grau de autonomia ou liberdade que existe em suas unidades ou
escritórios, pelo grau de lealdade expresso por seus funcionários, pelo ambiente
físico, entre outros aspectos.
Portanto, o Sistema de Informação deve refletir a cultura de sua
organização, institucionalizando o seu modo de pensar, de agir, transmitindo
42
informações sobre o ambiente cultural predominante e indo ao encontro dos
objetivos organizacionais.
A cultura organizacional pode ser apresentada por seus elementos
constitutivos como os valores, as crenças e pressupostos, os ritos, rituais e
cerimônias, as estórias e mitos, os tabus, os heróis, as normas, a linguagem, os
processos de comunicação, entre outros, que interagem e se expressam nas ações
das pessoas que compõem a organização.
Os elementos representativos da cultura organizacional, no contexto
das teorias da gestão do conhecimento, preparam a organização para a “evolução
cultural”, que dependerá da aceitação e da adoção de novos comportamentos
provenientes dos valores estabelecidos na transformação (NONAKA e TAKEUCHI,
1997).
A gestão do conhecimento configura-se como uma sistemática de
trabalho no ambiente organizacional, que compreende a operacionalização de
processos interligados para gerenciar a criação, a inovação, a disseminação e a
utilização do conhecimento, com vistas a atingir os objetivos organizacionais. Trata-
se, dessa forma, da prática de agregar valor à informação e distribuí-la. (SANTOS et
al., 2005). Nesse sentido, são objetos de atenção os processos de transformar
informação em conhecimento, em particular o conhecimento tácito (NONAKA e
TAKEUCHI, 1997).
Ainda segundo Nonaka e Takeuchi (1997), a interação dos
indivíduos com o ambiente organizacional é fundamental para transformar
conhecimento tácito em explícito, isto é, para que o conhecimento seja socializado,
codificado e compartilhado com a equipe e/ou com outros membros da organização.
43
Dentro desse cenário, quando o usuário procura um Sistema de
Informação, ele tem em mente um conjunto de questões, de conceitos, relacionados
entre si. Esse universo, que também pode ser denominado de “conhecimento tácito”,
será transformado em “conhecimento explícito” quando for socializado, isto é,
registrado e comunicado por meio da linguagem. Para que essas informações
atendam às expectativas do usuário é necessário um canal de comunicação
(mediador da informação – linguagem documentária) capaz de “traduzi-las” e
transformá-las em objetos/informações aplicáveis às suas necessidades de
pesquisas.
Assim, Schein (1992) indica algumas características/elementos da
cultura organizacional que viabilizariam a gestão do conhecimento:
a crença nas possibilidades da organização de gerenciar o ambiente no qual
está inserida;
ter como pressuposto o fato de que as pessoas são capazes de entender e
modificar o ambiente pela sua atuação;
a postura de que as questões que se apresentam na organização não podem
ser abordadas unicamente de acordo com padrões já previamente
estabelecidos. Tais questões necessitam ser trabalhadas de acordo com suas
peculiaridades;
a crença de que as pessoas podem ser inseridas em um processo de
crescimento tanto pessoal como grupal;
a idéia de que as atividades grupais podem gerar e/ou implementar soluções
para os imperativos que forem apresentados à organização;
o pressuposto de que as trocas de informações devem ser completas e
confiáveis;
44
a percepção de que a criação, a tolerância e o respeito de variadas
subculturas organizacionais possibilitam gerar soluções aos mais diversos
problemas;
analisar de forma permanente os múltiplos fatores que compõem as questões
que se apresentam às organizações e pensar o inter-relacionamento desses
fatores.
A gestão do conhecimento está centrada nas ações humanas, na
geração e no compartilhamento de informações vinculadas às crenças, às normas
aos valores, aos costumes e aos compromissos assumidos pela organização. Dessa
maneira, uma Unidade de Informação pode contribuir sobremaneira para a gestão
do conhecimento ao realizar a coleta e a organização das informações registradas,
viabilizando sua disseminação por meio de Sistemas de Informação (SOUSA et al.,
2005).
3.2 Sistema de Informação LILACS no Contexto da Cultura Organizacional:
análise e discussão
A base de dados LILACS, enquanto Sistema de Recuperação de
Informação, tem o compromisso de promover o acesso à informação para toda a
comunidade científica da área de Ciências da Saúde, de modo a viabilizar a
produção de conhecimentos que contribuam para o bem-estar da sociedade. Além
disso, deve refletir a cultura de sua organização, indo ao encontro dos objetivos
organizacionais da instituição produtora do Sistema, no caso a BIREME.
Na cultura organizacional, “os valores são elementos definidores e
identificadores dos grupos sociais, [...] uma vez que orientam comportamentos,
45
sentimentos e outras expressões típicas e próprias de um determinado grupo”
(MORAES, 2004, p. 34-35).
Freitas (1991, p. 14) expõe os valores organizacionais como sendo
os elementos
“[...] formadores do coração da cultura. [...] Os valores representam a
essência da filosofia da organização para atingimento do sucesso, pois
eles fornecem um senso de direção comum para todos os empregados e
um guia para o comportamento diário”.
Nesse sentido, Tamayo (1998, p. 57), expõe duas abordagens que
podem ser utilizadas nos estudos sobre valores organizacionais: a primeira consiste
em estudar os valores por meio dos documentos oficiais gerados pela organização
“e a segunda, em estudar os valores tal como eles são percebidos pelos
empregados”.
Assim, dentro do contexto da primeira abordagem apresentada pelo
autor, os elementos da política de indexação estabelecidos pela BIREME são os
valores culturais característicos do Sistema de Informação LILACS. Esses
valores
/elementos e, consequentemente neste caso, as normas contidas em seus
Manuais de Procedimentos - documentos oficiais do Sistema -, refletem a visão da
organização e orientam as ações dos indexadores participantes do Sistema Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde.
Segundo Carneiro (1985, p. 221) uma política de indexação
[...] deve servir como um guia para tomada de decisões, deve levar em
conta os seguintes fatores: características e objetivos da organização,
determinantes do tipo de serviço a ser oferecido; identificação dos usuários,
para atendimento de suas necessidades de informação e recursos
humanos, materiais e financeiros, que delimitam o funcionamento de um
sistema de recuperação de informações.
Lancaster (2004) considera que a política, além de promover a
exatidão da indexação, é um fator que influencia o desempenho de um Sistema de
Recuperação de Informação.
46
Nesse sentido, os Manuais de Procedimentos
10
reproduzem o
“pensar”, o “querer” e o “sentir” do Sistema LILACS, subsidiando os processos de
tomada de decisão dos indexadores. Nessa medida,
o Guia de Seleção de Documentos determina quais documentos devem ser
cadastrados, apresentando os critérios de seleção de cada tipo de
documento;
o Manual de Descrição Bibliográfica tem a finalidade de orientar o indexador
quanto à descrição dos campos na base de dados, apresentando as normas
e a padronização dos elementos que constituem esses campos, de acordo
com as normas internacionalmente aceitas no Sistema BIREME, como o
AACR2 (Anglo-American Cataloguing Rules – 2nd edition) e a norma ISO
(International Standard Organization);
o Manual de indexação da base de dados LILACS apresenta os princípios e
os padrões de indexação, definindo, assim, a política de indexação
estabelecida a ser adotada pelas Unidades de Informação/indexadores
integrantes do Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em
Ciências da Saúde.
A política de indexação, portanto, deve ir ao encontro dos objetivos
organizacionais, conferindo credibilidade a esse sistema.
Segundo Chiavenato (2000, p. 561),
[...] cada organização cria sua própria cultura com seus próprios tabus,
costumes e usos. A cultura do sistema reflete as normas e valores da
organização (...), bem como reflete as disputas internas e externas das
pessoas
11
que a organização atrai , seus processos de trabalho e
distribuição física, as modalidades de comunicação e o exercício da
autoridade dentro do sistema. Assim como a sociedade tem uma herança
cultural, as organizações sociais possuem padrões distintivos de
10
Os Manuais de Procedimentos do Sistema de Informação LILACS estão disponíveis on-line pelo
endereço eletrônico <http://www.bireme.br/abd/P/componentes.htm
>.
11
No contexto desta pesquisa, essas pessoas são entendidas como os fornecedores,
colaboradores/funcionários e clientes/usuários da BIREME.
47
sentimentos e crenças coletivas que são transmitidos aos novos membros.
(grifo da autora).
O usuário desempenha um papel fundamental num Sistema de
Informação. Os valores essenciais do ser humano devem nortear a construção da
missão, dos valores e da visão da organização, de modo a evitar conflitos e o
distanciamento entre estas duas instâncias: valores humanos e a política
estabelecida pela própria organização.
Assim, os valores da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP
(FOB-USP) como organização educacional se manifestam no seu objetivo maior:
“proporcionar um ensino de graduação e pós-graduação de qualidade que possibilite
a formação de profissionais e docentes/pesquisadores na área de Odontologia e
Fonoaudiologia que atendam às necessidades e o bem-estar da sociedade
12
”.
A interação entre os membros das duas organizações estudadas
nesta pesquisa faz-se necessária e presente, isto é, a BIREME - representada aqui
por esta pesquisadora e bibliotecária/indexadora do Sistema de Informação LILACS
- e a FOB-USP - representada por seus usuários/pesquisadores -.
O Sistema de Informação LILACS como fonte de acesso à
informação para a geração do conhecimento tem como linguagem de recuperação o
Vocabulário Controlado DeCS - Descritores em Ciências da Saúde.
O Vocabulário DeCS tem por finalidade
“coordenar o desenvolvimento e atualização da terminologia relacionada
com as Ciências da Saúde, a qual deve ser organizada e disseminada em
português, espanhol e inglês através do Vocabulário Descritores em
Ciências da Saúde (DeCS)”. (BIREME, 2005).
12
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO. Faculdade de Odontologia de Bauru. Avaliação USP-FOB.
Bauru: FOB-USP, [2004?]. (Trabalho não publicado).
48
Assim, os valores – representação da cultura terminológica da área
e do Sistema de Informação - devem estar explicitados no momento da constituição
e adoção de uma linguagem pelo Sistema.
Segundo (Hutchins
13
, 1975 apud NOCETTI; FIGUEIREDO, 1978, p.
30), as linguagens documentárias são [...] “os meios de comunicação dos Sistemas
de Informação, considerando que os Sistemas de Informação são aqueles que
objetivam comunicar informação sobre documentos a usuários potenciais”.
Portanto, a linguagem documentária é o instrumento mediador da
comunicação entre o Sistema de Informação e o indexador no momento da
representação do conteúdo documentário – “tradução” - e junto ao usuário no
momento da recuperação da informação. Ela deve atender às necessidades de
pesquisa apresentando uma terminologia atual e condizente com o vocabulário
utilizado pelos especialistas da área de conhecimento.
Nesse sentido, é necessário compatibilizar a linguagem de
especialidade – campo temático - e a linguagem do usuário para a garantia de
consistência da linguagem documentária porque “A função da linguagem
documentária é tratar o conhecimento dispondo-o como informação. Em outras
palavras, compete às LDs transformar estoques de conhecimento em informações
adequadas aos diferentes segmentos sociais” (CINTRA, et al. 2002, p. 16).
A temática linguagens documentárias, bem como os seus aspectos
formais, serão abordados com maiores detalhes no capítulo A linguagem
documentária como instrumento mediador para a recuperação de informação.
13
HUTCHINS, W. J. Languages of indexing and classification. Stevenage: Peter Peregrinus, 1975. 148
p. apud NOCETTI; FIGUEIREDO, 1978, p. 30.
49
4 A LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA COMO INSTRUMENTO MEDIADOR PARA A
RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO
Este capítulo aborda os conceitos do termo “linguagem
documentária” disponíveis na literatura, bem como as correntes teóricas que
estudam o tema. São abordados também aspectos específicos como as funções,
tipologias e estruturas dessas linguagens.
As linguagens documentárias são caracterizadas como linguagens
estruturadas e controladas, pelo fato de serem linguagens construídas, porém
embasadas nos princípios e significados das palavras constituintes da linguagem
natural.
De acordo com Gardin et al
14
. (1968, p. 26 apud LARA, 1993, f.
5) a linguagem documentária é um “um conjunto de termos, providos ou não de
regras sintáticas para representar conteúdos científicos, com fins de classificação
ou busca retrospectiva de informações”. Sua função é representar os assuntos dos
documentos no momento da indexação, “traduzindo-os” adequadamente para os
termos contidos na linguagem documentária e, por outro lado, atender às
solicitações de buscas realizadas pelo usuário no Sistema de Informação.
Neet
15
(1981 apud PINTO MOLINA, 1993) define as linguagens
documentárias como o conjunto de termos efetivamente utilizados para a
caracterização do conteúdo dos documentos e para a formulação de questões de
buscas.
14
GARDIN, J.-C. L´automatisation des recherches documentaires: um modèle général “Le
SYNTOL”. Ed. revue et augmentée. Paris: Gauthier-Villars, 1968. p. 26 apud LARA, 1993, f. 5.
15
NEET, H. E. L´analyse documentaire. Ginebra: Instituto de Estúdios Sociales, 1981 apud PINTO
MOLINA (1993), p. 213.
50
Segundo Rivier (1992, p. 57), as linguagens documentárias são “[...]
linguagens artificiais – isto é, construídas a partir de um conjunto de regras – que
servem para representar abreviadamente o conteúdo de um documento”.
Soergel (1985), define uma linguagem documentária como sendo
um conjunto de descritores
16
, de relações e de regras para a formação de
expressões.
Já Lara (2004, p. 232) afirma que a denominação linguagem
documentária “[...] designa, de modo mais amplo e completo, a linguagem
especialmente construída para organizar e facilitar o acesso e a transferência da
informação [...]”.
Nesses estudos sobre as linguagens documentárias e em outros
como os de Currás (1995) e Lancaster (2004), verificou-se que os termos linguagens
de indexação, controladas, descritoras, de informação, de descrição da informação,
da recuperação de informação, vocabulários controlados, listas de assuntos
autorizados, codificações documentárias são sinônimos da denominação adotada
neste estudo.
A Terminologia também contribui significativamente na construção
das linguagens documentárias, sendo vista por estudiosos como Dubuc (1999),
Cabré (1993) e Sager (1993) como uma ciência interdisciplinar que importa
conceitos e elementos de outras disciplinas para objetivar o seu campo de estudo.
Segundo Dubuc (1999), a Terminologia é uma disciplina que permite
identificar, analisar o vocabulário de uma determinada especialidade e, se
16
Descritor é definido como palavra ou grupo de palavras incluídas em um tesauro e escolhidas
dentre um conjunto de termos equivalentes para representar sem ambigüidade uma noção contida
em um documento ou em uma solicitação de busca documentária. (ASOCIACIÓN FRANCESA PARA
LA NORMALIZACIÓN – AFNOR. Norma NZ 47-100 apud GIL URDICIAIN, 1996, p. 186).
51
necessário, criá-lo e normalizá-lo numa situação concreta de funcionamento com o
objetivo de responder às necessidades de expressão do usuário.
Assim, a terminologia estuda, teoricamente, os termos e seus
respectivos conceitos, os sistemas de conceitos e sua representação.
Tálamo, Lara e Kobashi (1992, p. 1999) afirmam que
“[...] cabe à terminologia, desse modo, operar ao nível sintático-semântico,
produzindo terminologias específicas de acordo com o estado-da-arte de
cada campo considerado. Tais repertórios ou listas de termos
especializados de um domínio particular são acompanhados de definições
que remetem o termo ao seu referente [...]”.
A função da terminologia é a de promover a consistência das
relações lógico-semânticas na construção das linguagens documentárias, sendo
igualmente consideradas as unidades da linguagem natural e das linguagens dos
especialistas para a construção de representações adequadas de conceitos por
meio dos termos.
Em vista do exposto, a Terminologia tem papel importante nos
estudos e na elaboração da linguagem documentária.
Todavia, diante das definições apresentadas sobre o conceito de
linguagem documentária, é importante a sua contextualização no fluxo da atividade
de indexação, importante salientar que a indexação, como processo de análise
documentária, é conceituada de diferentes formas, dependendo da corrente teórica
em que ela está inserida (FUJITA, 2003), como segue:
Corrente espanhola: a indexação comporta dois níveis de
atuação: no da forma
, para a realização da descrição
bibliográfica do documento e no de conteúdo para a
representação temática;
Corrente inglesa: não faz distinção entre os processos de
análise documentária e de indexação;
52
Corrente francesa: considera a indexação como a atividade
de representar o conteúdo do documento - representação
temática - com a utilização de linguagens documentárias
para a geração de produtos documentários como os índices
e as notações de classificação.
Dentro desse contexto, este estudo adota a corrente teórica francesa
para caracterizar a indexação.
De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992,
p. 2), “indexação é o ato de descrever o conteúdo de um documento com termos
representativos dos seus assuntos e que constituem uma linguagem de indexação”.
Chaumier (1988, p. 63) define indexação como a “operação que
consiste em descrever e caracterizar um documento, com o auxílio da representação
dos conceitos nela contidos”.
A indexação atua em dois momentos fundamentais: no primeiro
momento, na leitura documentária para a identificação e seleção dos conceitos
expressos em um documento e, no segundo, na representação (“tradução”) desses
conceitos selecionados para a linguagem documentária adotada pelo Sistema de
Informação.
As linguagens documentárias têm dupla função; a primeira função é
de representar o conteúdo dos documentos contidos em um Sistema de informação
– função pelo conteúdo – a segunda função é de mediar a recuperação da
informação por meio da representação das perguntas formuladas pelos usuários –
função pelo uso. Assim, a linguagem documentária atua nos dois momentos do
tratamento da informação: na entrada e na saída de dados no Sistema.
53
Essa mesma visão é compartilhada por Gil Urdician, Soergel e
Tálamo. Para Gil Urdician (1996) a linguagem documentária atua em duas fases do
processo documentário: no momento da descrição e no da recuperação da
informação. O objetivo dessas operações é facilitar a recuperação da informação
reduzindo o esforço e o tempo gastos pelo usuário. A linguagem documentária
permite, portanto, cumprir dois objetivos fundamentais - o de normalização e o de
indução. Esses dois estados influenciarão todas as demais etapas que a linguagem
documentária desempenha ao longo do processo documentário.
Segundo o mesmo autor, a linguagem documentária é uma
linguagem de intermediação no sentido de que serve de “ponte” entre as
informações contidas nos documentos e as informações solicitadas pelo usuário.
Sua função, portanto, é intermediar as linguagens empregadas pelo autor do
documento e pelo próprio usuário do sistema.
Soergel (1985) também apresenta duas funções para as linguagens
documentárias: a indexação orientada pelo tópico/conteúdo (Entity-Oriented
Indexing) e a indexação orientada pela pergunta/usuário (Request-Oriented
Indexing). (tradução nossa).
A indexação orientada pelo tópico/conteúdo é efetuada a partir da
análise do conteúdo do documento e,sua representação,realizada pela utilização de
vocabulários controlados. A indexação orientada pela pergunta/usuário utiliza um
“vocabulário preferencial” elaborado a partir de termos sugeridos pelos usuários e
coletados por métodos empíricos.
Assim, [...] as Linguagens Documentárias funcionam como
54
instrumentos intermediários, através dos quais se traduzem, de forma sintética, as
informações contidas em textos, ou as perguntas dos usuários, para a linguagem do
sistema documentário”. (TÁLAMO et al., 1994, p. 18).
4.1 Conhecendo as Linguagens Documentárias
Uma vez atuando como instrumento comunicador e mediador da
recuperação da informação documentária, a linguagem documentária demonstra a
sua finalidade prática ao viabilizar a obtenção de resultados precisos e relevantes
que atendam às necessidades de buscas dos usuários/pesquisadores.
Porém, uma linguagem documentária só pode representar a
informação contida nos documentos e promover sua recuperação se for constituída
com base nas diretrizes propostas para sua construção.
Segundo Lancaster (2002), são dois os objetivos do controle do
vocabulário utilizado em um sistema de recuperação de informação: o primeiro é o
de facilitar a representação consistente dos assuntos por parte dos indexadores e
usuários, evitando a dispersão da informação. O controle é feito por meio do
agrupamento dos sinônimos e quase-sinônimos, com a distinção dos homógrafos e
com a reunião dos termos que possuem relações de significação mais próximas. O
segundo objetivo é o de facilitar a realização de buscas amplas sobre um assunto,
atrelando os termos com relações paradigmáticas
17
ou sintagmáticas
18
.
17
Relações paradigmáticas, são “o conjunto de signos que mantêm entre si uma relação virtual de
substitualidade [...] tidas genericamente como relações associativas”. (TÁLAMO, M. de F. G. M.
Linguagem documentária. São Paulo: APB, 1997. p. 6).
18
“Relações sintagmáticas são toda combinação da cadeia linear [...] respondendo pela combinação
dos signos efetivamente presentes numa cadeia verbal, falada ou escrita”. (TÁLAMO, M. de F. G. M.
Linguagem documentária. São Paulo: APB, 1997. p. 6).
55
Essas relações, também definidas como relações lógico-semânticas,
devem estar explícitas em uma linguagem documentária e podem ser divididas em
três tipos: relação de equivalência, hierárquica e não-hierárquica
Segundo Cintra et al. (2002, p. 51), “As relações hierárquicas são
aquelas que se definem entre noções subordinadas em um ou vários níveis [...]”, ou
seja, “são aquelas que ocorrem entre termos de um conjunto, onde cada termo é
superior ao termo seguinte, por uma característica de natureza normativa”.
A hierarquização de termos permite realizar uma indexação muito
mais consistente e condizente com as necessidades de recuperação do usuário. A
elaboração de uma estratégia de busca posicionando-se os termos mais genéricos
e/ou mais específicos permite a obtenção de respostas mais satisfatórias em relação
às necessidades de pesquisas. Os termos associados permitem ampliar as
estratégias de busca, no sentido de a linguagem disponibilizar termos que estão
relacionados com outros, isto é, um termo passa a lembrar outro, favorecendo a
recuperação da informação.
Quanto às tipologias das linguagens documentárias, os estudiosos
da área de Organização da Informação apresentam diversas formas e critérios para
defini-las.
Para Guimarães (1990), as linguagens documentárias podem ser
classificadas (ou hierárquicas) e alfabéticas, quanto à forma de apresentação dos
conceitos; e, sob o aspecto da coordenação, elas podem ser pré-coordenadas ou
pós-coordenadas.
Gil Urdiciain (1996) apresenta os critérios de controle – livres e
controlados -, coordenação dos termos – pré-coordenados e pós-coordenados - e o
56
de estrutura – hierárquica, combinatória e sintática para definir as tipologias das
linguagens documentárias.
Segundo Lancaster (2002), a estrutura de um vocabulário controlado
deverá consistir de duas partes: uma organização sistemática dos termos e uma lista
alfabética desses termos. Essas partes poderão ser separadas ou totalmente
integradas. Quanto ao critério de coordenação (combinação), a linguagem se
apresenta com termos pré-coordenados ou pós-coordenados.
Independentemente das tipologias das linguagens documentárias
apresentadas na literatura, verifica-se que os autores têm em comum a definição dos
critérios de estrutura
como as linguagens hierárquicas e alfabéticas, e de
coordenação como as pré-coordenadas e pós-coordenadas.
Assim, as linguagens documentárias hierárquicas os assuntos
relacionados por superordenação e subordinação. São linguagens hierárquicas
típicas a Classificação Decimal de Dewey (CDD), a Classificação Decimal Universal
(CDU), a Classificação de Dois Pontos, a Classificação da Biblioteca do Congresso
(Library of Congress Classification) a Classificação de Black (Black’s Classification
for Dental Literature), entre outras.
De acordo com Guarido (2001, p. 8), as linguagens documentárioas
hierárquicas apresentam
“[...] uma distribuição sistemática de conceitos em diversas categorias ou
classes, de tal maneira, que cada assunto tem um lugar pré-definido. Trata-
se de uma linguagem codificada de forma numérica, alfabética ou
alfanumérica que pretende ser a descrição sintética do conteúdo dos
documentos. Sua utilização é habitual em Unidades de Informação, por seu
caráter hierárquico”.
Quanto às linguagens documentárias alfabéticas, estas apresentam
os seus termos ordenados alfabeticamente, como nas listas de cabeçalhos de
57
assuntos, nos tesauros e no Vocabulário Controlado DeCS, objeto de estudo desta
pesquisa.
As listas de cabeçalhos de assuntos
são linguagens alfabéticas que
apresentam uma gramática bem estruturada, com um rígido controle de sinônimos,
quase-sinônimos e homógrafos. Possui regras específicas para as formas de
entrada dos cabeçalhos, uso de abreviaturas e, geralmente, arrolam termos
representativos de todas as áreas do conhecimento.
Nessas listas, a representação dos cabeçalhos indiretos são feitos
por meio do uso de traço, vírgula e parênteses, sendo as mais utilizadas e mais
conhecidas a Sears List of Subject Headings (Sears) e a Library of Congress Subject
Headings (LCSH).
A LCSH, embora seja considerada uma linguagem pré-coordenada,
apresenta atualmente os termos em uma estrutura lógica-semântica de relações
hierárquicas, como os tesauros.
Com relação aos tesauros
, essas são linguagens de estrutura
combinatória, de caráter especializado, cujas unidades são denominadas
descritores.
Segundo Fujita (1998, p., 109),
como elemento fundamental da estrutura de tesauros, as relações
hierárquicas são elaboradas a partir de um termo que denomina uma
categoria ou classes de termos. [...] Isto significa que os termos de um
tesauro são classificados segundo uma ordem hierárquica existente com a
finalidade de oferecer uma visão geral do assunto.
Os tesauros se compõem de uma base léxica (descritores e não-
descritores) estruturada em relações hierárquicas (termos genéricos e específicos),
não-hierárquicas (associativas – termos relacionados) e de equivalência (não-
descritores – sinônimos ou quase-sinônimos).
58
A relação hierárquica baseia-se em níveis de superordenação, que
representa uma categoria, classe ou o todo, e, em nível de subordinação, seus
membros ou partes, representados pelas abreviaturas TG e TE, respectivamente.
(AUSTIN; DALE, 1993).
Assim, as relações hierárquicas, conforme demonstrado nas figuras
1 e 2, podem ser estabelecidas de duas formas: as relações genéricas, isto é, de
gênero/espécie ou coisa/tipo – indicam que o conceito expresso na categoria mais
específica (espécie/tipo) é parte do conceito da categoria mais genérica
(gênero/coisa). Já nas relações partitivas, isto é, todo/parte, essas indicam que “[...]
o conceito da parte depende do conceito do todo e não pode ser definido
previamente à definição do conceito do todo”. (CINTRA et al., 2002, p. 61).
Aparelho de Amplificação Sonora Individual
Aparelho de Amplificação Aparelho de Amplificação
Sonora Individual Analógico Sonora Individual Digital
FIGURA 1 - Relações hierárquicas genéricas de coisa/tipo
Adaptado de: LIMA, V. M. A. de; BOCCATO, V. R. C. et al. Atualização da lista de
assuntos USP: compatibilização de linguagens documentárias. Ciência da
Informação, Brasília, v. 25, n. 2, p. 179.
59
Face
Olhos
Nariz Boca Orelhas
FIGURA 2 - Relações hierárquicas partitivas
Adaptado de: LIMA, V. M. A. de; BOCCATO, V. R. C. et al. Atualização da lista
de assuntos USP: compatibilização de linguagens documentárias.
Ciência da Informação, Brasília, v. 25, n. 2, p. 179.
As relações não-hieráquicas, representadas pela abreviatura TR,
“[...] indicam a ligação entre os termos que estão em campos semânticos distintos,
porém próximos. Cada termo relacionado pode constituir-se no ponto de partida para
uma família de termos aparentados”. (ZAVITOSKI, 2001, p. 40).
Essas relações podem ocorrer em duas situações: dentro de uma
hierarquia, isto é, os termos podem estar no mesmo nível de relacionamento
(termos/elementos coordenados) ou podem se apresentar em relação de
dependência recíproca. Neste último caso, essa dependência pode acontecer em
níveis seqüenciais como: causa/efeito, coordenação, atividades complementares,
entre outros. Pode-se verificar essa última situação por meio do Quadro 1.
Causa/Efeito Som Alto Perda Auditiva
Coordenação Boca Orelhas
Atividades
complementares
Ensino Aprendizagem
QUADRO 1 – Relações não-hierárquicas
Adaptado de: LIMA, V. M. A. de; BOCCATO, V. R. C. et al. Atualização da lista
de assuntos USP: compatibilização de linguagens documentárias.
Ciência da Informação, Brasília, v. 25, n. 2, p. 180.
60
As relações de equivalência, designadas pela abreviatura UP,
correspondem à relação entre o termo preferido (descritor) e o não-preferido (não-
descritor) onde dois ou mais termos são considerados, para fins de indexação, como
referentes ao mesmo conceito” (AUSTIN; DALE, 1993, p. 42).
O não-descritor pode ser um sinônimo (termos com o mesmo
significado) em relação ao termo principal – descritor – e um quase-sinônimo (termos
geralmente possuidores de significados diferentes na linguagem natural mas, para
fins de indexação, são considerados como sinônimos).
Além disso, a linguagem deve também diferenciar os termos
homógrafos (homônimos) pois, os termos podem se prestar a mais de uma
interpretação - Cadeira (Objeto para sentar), Cadeira (Cátedra) - e reunir termos que
possuem uma relação mais próxima entre si.
A estrutura de um tesauro é de natureza lógico-semântica. O
conjunto das noções de um determinado domínio (categoria) se apresenta no
sentido vertical (relações hierárquicas) as quais se agregam às unidades
informacionais que se relacionam horizontalmente (relações não-hierárquicas).
Assim, as relações hierárquicas se apresentam como relações lógicas entre os
termos, e as não-hierárquicas se associam semanticamente. (ZAVITOSKI, 2001).
As relações lógico-semânticas podem ser exemplificadas dentro da
área de Fonoaudiologia, por meio do termo Dislexia
, conforme demonstrado na
Figura 3:
61
Termo
: Dislexia
TG
TE
NE
UP
TR
Transtornos da Linguagem
Dislexia Adquirida
Transtorno cognitivo caracterizado pela habilidade deficiente em compreender palavras
ou frases escritas e impressas, apesar da visão estar intacta. Esta condição pode ser
decorrente do desenvolvimento ou adquirida. A dislexia do desenvolvimento é
marcada por realização de leitura que decai substancialmente abaixo do esperado, dada
a idade do indivíduo, medida de inteligência e educação apropriada à idade. O distúrbio
da leitura interfere significantemente com as realizações acadêmicas ou com atividades
da vida diária que necessitam habilidades de leitura
Dificuldade de Desenvolvimento de Leitura
Dislexia de Desenvolvimento
Transtornos da Leitura
Alexia
Transtorno do Desenvolvimento da Leitura
Transtornos de Aprendizagem
FIGURA 3 - Representação da área de Fonoaudiologia na estrutura de um tesauro.
Fonte: BIREME , 2005.
Dessa maneira, conforme a Figura 4
19
e também demonstrado no
esquema abaixo, as relações lógico-semânticas têm a função de unir os termos
entre si, estruturados em relações hierárquicas, não-hierárquicas e de equivalência.
Relação Hierárquica
Transtornos da Linguagem (T
ermo Genérico – Superordenado)
Dislexia Adquirida (T
ermo Específico – Subordinado)
Relação de Equivalência
Alexia
Dificuldade de Desenvolvimento de Leitura
Dislexia de Desenvolvimento
Transtorno da Leitura
Transtorno do Desenvolvimento da leitura
Relação Não-Hierárquica
Transtornos de aprendizagem (T
ermo Relacionado - Associativo)
19
TG = Termo Genérico (BT = Board Term); TE = Termo Específico (NT = Narrow Term); NE = Nota
de Escopo (SN = Scope Note); UP = Usado Para (UF = Used Form); TR = Termo Relacionado (RT =
Related Term)
Usado Para -
(Termos Sinônimos)
Usado Para -
(Termos Quase-
sinônimos)
62
Diante do exposto, diferentemente das listas de cabeçalhos de
assuntos que, por serem linguagens documentárias pré-coordenadas, têm suas
unidades formadas por assuntos, os tesauros são estruturas pós-coordenadas
constituídas por relações conceituais.
Consultando a literatura, verifica-se que as linguagens
documentárias pré-coordenadas são aquelas “[...] nos quais os termos que as
compõem se coordenam em um processo prévio à sua utilização” e as linguagens
pós-coordenadas “são as que os termos que as compõem se coordenam em
processo posterior à sua determinação, por exemplo, no momento de seu
estabelecimento ou de seu uso”. (CURRÁS, 1995, p. 81).
Assim, a linguagem pré-coordenada
permite a coordenação dos
termos no momento da indexação, como os sistemas de classificação, e as listas de
cabeçalhos de assuntos e a linguagem pós-coordenada viabilizam a coordenação no
momento da recuperação da informação como os tesauros e o Vocabulário
Controlado DeCS.
Assim, quando se utiliza uma linguagem pré-coordenada para a
representação dos assuntos de um documento, o usuário, no momento da
recuperação, terá somente a possibilidade de fazê-lo por uma única forma, isto é,
sob a maneira exata que o indexador procedeu à sua representação. No caso de
entradas múltiplas, o primeiro termo será o determinante no processo de
recuperação da informação.
Exemplificando essa situação, caso o usuário queira realizar uma
busca bibliográfica sobre o tema Perda auditiva em crianças portadoras de fissura
lábiopalatina, este deverá procurar a informação desejada sob a seguinte
representação:
63
Perda auditiva – Crianças – Fissura Lábiopalatina
Para garantir que a recuperação seja efetivamente concretizada, o
indexador deverá dispor de remissivas para possibilitar ao usuário outras alternativas
de acesso e recuperação, como:
Crianças – Fissura Lábiopalatina – Perda Auditiva
Fissura Lábiopalatina – Perda Auditiva - Crianças
Dessa maneira, teríamos a representação dos termos elaborada da
seguinte maneira
20
Perda Auditiva – Crianças – Fissura Lábiopalatina
X Crianças – Fissura Lábiopalatina – Perda Auditiva
X Fissura Lábiopalatina – Perda Auditiva - Crianças
A linguagem documentária pós-coordenada, porém, não se
comporta dessa forma. O tema Perda auditiva em crianças portadoras de fissura
lábiopalatina
terá a sua indexação realizada pelos termos:
Perda Auditiva
Criança
Fissura Lábiopalatina
20
X = Cabeçalhos Sinônimos (Ver = See)
64
A coordenação dos termos é feita no momento da recuperação,
fazendo uso dos operadores booleanos disponíveis no sistema: AND
, OR, AND
NOT. Exemplo:
Perda auditiva AND
Criança AND Fissura Lábiopalatina
Após a exposição sobre as definições, funções, tipologias, estruturas
e formas de coordenação das linguagens documentárias, passa-se a contextualizar
o Vocabulário Controlado DeCS no capítulo A Linguagem documentária DeCS:
análise formal e discussão.
65
5 A LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA DeCS: análise formal e discussão
Neste capítulo é apresentada e discutida a linguagem documentária
DeCS no que se refere à forma de apresentação dos termos, suas categorias, as
relações lógico-semânticas existentes, os sistemas de coordenação utilizados, a
forma de apresentação da linguagem e uma síntese dos resultados obtidos de sua
análise formal. Para tanto, inicialmente apresenta-se um breve histórico de sua
concepção.
A linguagem de recuperação adotada pelo Sistema LILACS é o
Vocabulário Controlado DeCS – Descritores em Ciências da Saúde, sendo sua
abrangência temática específica da área de Ciências da Saúde.
O Vocabulário Controlado DeCS
tem a finalidade de ser a linguagem
única para a indexação e a recuperação de documentos na Base de Dados LILACS
pelo Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde.
A primeira edição desse vocabulário foi disponibilizada em 1987 na
versão impressa, em dois volumes, constituídas de lista alfabética e lista hierárquica,
nos idiomas português e espanhol. Em 1988 foi publicada a segunda edição. No ano
de 1992, essa segunda edição foi revista e ampliada, tendo sido publicada, além das
listas alfabética e hierárquica, também a lista permutada, em ambos os idiomas.
Finalmente, em 1996, foi publicada a terceira e última edição em
versão impressa, constituída da lista alfabética, em dois volumes, em português e
espanhol.
A partir do ano de 1999, o Vocabulário Controlado DeCS, constituído
das listas alfabética, permutada e hierárquica, foi disponibilizado em versão online
(DeCS Home), via internet, no endereço eletrônico http://decs.bvs.br/.
66
A lista alfabética online apresenta os descritores em inglês,
espanhol, português, os sinônimos em português, as categorias em que os termos
estão inseridos, a definição dos termos em português (notas de escopo), as notas de
indexação em português (pré-coordenação dos termos), os qualificadores permitidos
e os termos relacionados. (Apêndice A).
Na lista hierárquica, os descritores são ordenados, dentro de suas
respectivas categorias temáticas, do descritor mais geral para o mais específico,
conforme demonstrado pelo Apêndice B.
A lista permutada ordena alfabeticamente os descritores e não-
descritores que compõem o Vocabulário DeCS. Essa lista permite ao indexador e ao
usuário localizar um descritor por qualquer palavra, mesmo que só uma delas seja
conhecida, e em qualquer ordem em que ela apareça. Quando o termo localizado é
um não-descritor, este remete para o descritor autorizado. (Apêndice C).
Para a elaboração do Vocabulário Controlado DeCS, tomou-se como
base a linguagem documentária MeSH
Medical Subject Headings. O MeSH,
produzido pela United States National Library of Medicine – NLM, publicado em
1960 e atualizado em 1963, é um tesauro formado por uma lista de descritores
representados também na forma de cabeçalhos de assuntos na área de Ciências da
Saúde (linguagem documentária híbrida) para a indexação e recuperação de artigos
de periódicos publicados nos Estados Unidos e em mais de 70 países,
disponibilizados na base de dados MEDLINE.
As linguagens documentárias são consideradas excelentes
instrumentos de organização e distribuição da informação. Além de seu caráter
organizacional, elas viabilizam o acesso compartilhado às informações produzidas
por diferentes instituições, motivo pelo qual os sistemas cooperativos de informação
67
não deixam de utilizar algum tipo de vocabulário controlado para a consistência da
indexação e para a eficácia da recuperação da informação. (CINTRA et al., 2002).
5.1 Estrutura Lógico-semântica do Vocabulário DeCS e sua coordenação:
análise formal e discussão
O DeCS, tal qual o MeSH, é considerado um tesauro. Deve-se
ressaltar que, embora sigam a tradição dos sistemas de classificação e das listas de
cabeçalhos de assunto, muitas linguagens foram sendo transformadas em
vocabulários controlados especializados, sem, contudo, abandonar as estruturas dos
referidos sistemas de classificação das quais são originárias. Sua estrutura
hierárquica é fundamentada na divisão do conhecimento em classes e subclasses
decimais, respeitando as ligações conceituais e semânticas, e seus termos são
apresentados em uma estrutura híbrida de pré e pós-coordenação.
O DeCS é um vocabulário traduzido do MeSH para os idiomas
português e espanhol, apresentando os termos que o compõem nos três idiomas
(inglês, português e espanhol). Dessa maneira, a estrutura e a organização dos
descritores foram mantidos como nos originais do MeSH, estando os grandes
assuntos apresentados em categorias A, B, C até N, sucessivamente, e pela letra Z.
O intervalo entre as letras O até W são referentes à criação de novas categorias que
se fizerem necessárias (Apêndices de A a E).
O sistema nocional do Vocabulário Controlado DeCS, composto por
17 categorias (Apêndice F), tem todos os seus descritores subordinados e
coordenados dentro dessa estrutura básica. Para atender às necessidades de
indexação e recuperação da informação de Centros Cooperantes de algumas áreas
não representativas e/ou inexploradas pela literatura e, conseqüentemente, pelas
68
bases de dados internacionais, foram feitas as expansões temáticas das áreas de
Saúde Pública e Homeopatia, que correspondem respectivamente às categorias SP
e HP, não existentes originalmente na linguagem MeSH. Essas designações de
categorias por meio de letras duplas servem para diferenciá-las das categorias
originais da linguagem MeSH, que são representadas por letras simples.
Para o início do ano de 2006, está prevista a incorporação de mais
duas categorias no DeCS 2005, a SH - Ciências e Saúde (Sciences and Health), que
abrange a área de Informação e Gestão do Conhecimento/Promoção e
Desenvolvimento de Pesquisas e a categoria VS - Vigilância Sanitária (Health
Surveillance), que estão sendo desenvolvidas pela BIREME.
Além disso, e com a preocupação de estabelecer uma linguagem
documentária única na área de Ciências da Saúde, a BIREME participa do projeto
de desenvolvimento da “terminologia única e rede semântica em saúde”,
denominada UMLS – Unified Medical Language System sob a coordenação da
United States National Library of Medicine. Dentro desse projeto, a BIREME tem
como responsabilidade a atualização dos termos em português e espanhol.
As sugestões de criação, alteração e/ou exclusão de termos pelos
Centros Cooperantes do Sistema Latino-Americano devem ser realizadas pelo
preenchimento e encaminhamento à BIREME do “Formulário de Sugestões”, que se
encontra disponível online na própria página do Vocabulário DeCS.
Esses termos serão encaminhados para a United States National
Library of Medicine para análise e validação. Após esses procedimentos, os termos
são inseridos no MeSH e, no ano seguinte, traduzidos para o português e espanhol
pela BIREME e cadastrados no DeCS.
69
A atualização dos descritores pela BIREME é realizada anualmente,
estando as mesmas disponibilizadas no DeCS online (DeCS home) todo início de
cada ano, intitulado Novidades do DeCS
21
.
As sugestões de termos que pertencem às categorias existentes
somente no DeCS são analisadas e validadas pela própria BIREME. No caso da
área de Saúde Pública, a análise e validação dos termos é feita pela Biblioteca da
Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP-USP), Centro
Cooperante responsável pela elaboração da terminologia dessa área. A terminologia
da área de Homeopatia é de responsabilidade da Associação Paulista de
Homeopatia que executa o mesmo procedimento.
A tradução dos descritores inseridos para os idiomas português e
espanhol, bem como para o inglês, em relação aos termos não existentes no MeSH,
pertencentes às categorias criadas pela BIREME, é feita pelos próprios
colaboradores/funcionários da BIREME, responsáveis por essa atividade. Até o
momento, a BIREME não elegeu um corpo de especialistas na área de Ciências da
Saúde para a verificação e a validação dos referidos termos traduzidos.
Além disso, o espaço DeCS – Serviço de Apoio ao Usuário
22
,
disponível no DeCS online (DeCS home), possibilita que o usuário/pesquisador
encaminhe à BIREME, por e-mail, dúvidas, sugestões e críticas ao Vocabulário.
Com relação à área deste estudo, o termo Fonoaudiologia encontra-
se hierarquizado dentro da Categoria SP – Saúde Pública, subordinado ao descritor
Serviços de Saúde, conforme demonstrado no Apêndice G.
21
Novidades do DeCS: disponível via Internet pelo endereço eletrônico http://decs.bvs.br
22
DeCS – Serviço de Apoio ao Usuário: disponível via Internet pelo endereço eletrônico
http://decs.bvs.br
70
Porém, como o vocabulário não possui uma categoria específica
para a Fonoaudiologia e, pelo fato de ela ser uma área multidisciplinar, seus termos
também encontram-se hierarquizados em diversas categorias do Vocabulário, sendo
as principais a Categoria A – Anatomia; a Categoria C – Doenças; a Categoria E –
Técnicas e Equipamentos; a Categoria F – Psicologia e Psiquiatria; e a Categoria I -
Antropologia, Educação, Sociologia e Fenômenos Sociais, entre outras.
O termo Fonoaudiologia não é utilizado nos Estados Unidos, bem
como na Europa pelo fato de a estrutura da área ser diferente em relação aos países
da América Latina, onde as semelhanças são mais evidentes. O termo Speech-
Language Pathology engloba os estudos das especialidades da Fala (Speech),
Linguagem (Language), Voz (Voice) e Motricidade Oral (termo também não utilizado
nos Estados Unidos - Oral Motricy). A Audiologia é uma especialidade independente
e representada pelo termo Audiology.
Nesse sentido, o termo Fonoaudiologia, uma vez não existente no
vocabulário da língua inglesa, foi traduzido no DeCS como Speech, Language and
Hearing Sciences e no entender da literatura fonoaudiológica brasileira, ainda há
muita controvérsia sobre a adequação dessa a tradução.
Realizamos pesquisas em fontes de informações impressas e
eletrônicas da área, tendo sido encontrandas as expressões Speech-Language
Pathology and Audiology, Speech-Language Pathology and Hearing e
Phonoaudiology como termos também referentes a Fonoaudiologia.
Dessa forma, sendo a estrutura da área norte-americana retratada
pelas duas áreas - Patologia da Fala e da Linguagem e a Audiologia -, e, de acordo
com diversos especialistas da área, considera-se que o termo Speech-Language
Pathology and Audiology são traduções mais condizentes ao termo Fonoaudiologia.
71
Apresentamos, a seguir, a forma de estruturação da área nas
linguagens documentárias norte-americanas CDD e MeSH, conforme demonstrado
a seguir, pelas Figuras 4 e 5:
600 Technology (Applied Sciences)
610 Medical Sciences & Medicine
612 Human Physiology
617.2 Motor Functions and Integument
612. 78 Voice and Speech
616 Diseases
616.8 Diseases of the nervous system and mental
disorders
616.855 Speech and Language Disorders
616.8552 Neurological Language Disorders
(Aphasias)
616.8553 Written Language Disorders
616.8554 Stammering and Stuttering
617 Miscellaneous Branches of Medicine Surgery
617.8 Audiology
FIGURA 4 – Área de Fonoaudiologia no sistema de ClassificaçãoDecimal de Dewey – CDD
Fonte: DEWEY, M. Dewey decimal classification and relative index. 20
th
ed. Albany: Forest
Press, 1989. v. 3.
72
Biological Sciences [G1]
Health Occupations
[G2]
Allied Health Occupations
Audiology
Occupational Therapy
Physical Therapy (Specialty)
Speech-Language Pathology
Technology, Dental
Technology, Medical
Technology, Radiologic
Circulatory and Respiratory Physiology
[G9]
Respiratory Physiology
Respiratory Physiologic Phenomena
Resistance
Lung Compliance
Pulmonary Diffusing Capacity
Pulmonary Ventilation
Respiratory Dead Space
Respiratory Sounds
Total Lung Capacity
Valsalva Maneuver
Ventilation-Perfusion Ratio
Voice
Voice Quality
Work of Breathing
Psychology and Psychiatry [F1]
Behavior and Behavior Mechanisms [F4]
Behavior
Communication
Verbal Behavior
Speech
Speech Intelligibility
Verifica-se, pelas Figuras 4 e 5, que as áreas de Patologia da Fala e
da Linguagem e Audiologia (Speech-Language Pathology and Audiology) têm
FIGURA 5 – Área de Fonoaudiologia (Speech-Language Pathology and Audiology) no
Vocabulário MeSH
Fonte: UNITED STATES NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE, 2005.
73
estruturas muito semelhantes nas duas linguagens. Especificamente na Figura 5, a
referida área encontra-se inserida nas categorias de Ocupações relacionadas com
saúde (Allied Health Occupations)
, e a área de Voz na categoria de Fisiologia
respiratória (Respiratory Physiology
), ambas subordinadas à área de Ocupações em
saúde (Health Occupations
), .que pertence à categoria de Ciências Biológicas
(Biological Sciences). A área de Fala está inserida na área de Psicologia e
Psiquiatria (Psychology and Psychiatry), subordinada ao termo Comportamento
Verbal (Verbal Behavior), dentro da categoria de Comportamento e Mecanismos
Comportamentais (Behavior and Behavior Mechanisms).
Embora a Fonoaudiologia no Brasil também esteja inserida na área
de Ciências Biológicas, subordinada à área de Ciências da Saúde, esta reúne
todas as suas especialidades (Linguagem, Audiologia, Voz e Motricidade Oral)
constituindo assim uma única área de formação e atuação profissional. A Figura 6
permite ter uma visão melhor dessa estruturação.
Ciências Biológicas
Ciências da Saúde
Fonoaudiologia
Linguagem
Audiologia
Voz
Motricidade Oral
FIGURA 6 - Estrutura principal da área de Fonoaudiologia no Brasil
Fonte: Elaborado pela autora.
.
74
Além disso, deve-se considerar que a estrutura do Vocabulário
DeCS é poli-hierárquico, isto é, um termo pode expressar um conceito pertinente a
mais de uma categoria como se verifica com o termo Agnosia
. Este está
hierarquizado na Categoria C – Doenças e também na Categoria F – Psicologia e
Psiquiatria (Apêndice H).
5.1.1 Forma de apresentação dos termos
A forma de apresentação dos termos que compõem o Vocabulário
DeCS foi analisada tendo como parâmetros as instruções estabelecidas por Austin e
Dale (1993), na obra Diretrizes para o estabelecimento e desenvolvimento de
tesauros monolíngües
23
.
O Vocabulário DeCS é constituído de descritores, não-descritores,
descritores qualificadores e descritores pré-codificados que possibilitam a indexação
pré-coordenada do conteúdo de um documento e, ao mesmo tempo, viabiliza a
recuperação da informação no Sistema de Informação pós-coordenado LILACS.
Descritores e Não-Descritores
Os descritores e não-descritores são apresentados no Vocabulário
por meio de termos simples ou compostos (substantivos, frases substantivas, frases
adjetivas, frases preposicionadas, adjetivos, advérbios, verbos, abreviaturas e siglas,
palavras emprestadas, nomes comuns ou nomes populares) (Quadro 2)
23
Ressalta-se que encontra-se em fase de elaboração/revisão, normas para a orientação de
construção de tesauros no formato eletrônico.
75
Diretrizes Vocabulário DeCS Observações
1) Preferivelmente um
substantivo (termo simples)
ou uma frase substantiva
(termos compostos)
Bigorna
Boca
Espectroscopia de
Ressonância Magnética
2) Frases adjetivadas -
Composta por um substantivo +
mais um modificador na forma
adjetivada
Atresia esofágica
(Atresia + Esôfago)
3) Frases preposicionadas
Testes de linguagem
Auxiliares de Comunicação
para deficientes
4) Adjetivos –
Devem ser utilizados em
circunstâncias especiais,
exceto quando se tratar de
uma língua em que o adjetivo
precede o substantivo em sua
estrutura gramatical
Lingua inglesa: Alaryngeal
speech
Representação no
MeSH/DeCS: Speech,
Alaryngeal
Na estrutura gramatical da
língua inglesa, o adjetivo
precede o substantivo. Na
língua portuguesa a ocorrência
é o inverso, resultando na
tradução Voz alaríngea (Frase
adjetivada)
5) Advérbios – Não deve ser
aceito como um descritor,
exceto quando o advérbio
adquiriu um significado
representativo dentro da
área/especialidade
Não-Disjunção Genética
6) Verbos - Não devem ser
aceito como descritores nas
formas: infinitivo e particípio.
Devem ser representados por
substantivos ou substantivos
verbais
Higiene (“não” Higienizar)
Respiração (“não” Respirar)
7) Abreviaturas e siglas -
Não devem ser usadas como
descritores. Dá-se preferência à
forma por extenso, exceto
quando haver um consenso
geral sobre o seu uso
abreviado.
Organização Mundial da Saúde
8) Palavras emprestadas
- Termos em línguas
estrangeiras que são aceitos e
incorporados na língua
portuguesa
Raios X
(“não” Raios Roentgen)
76
9) Singular e plural – A
adoção de um termo no
singular ou no plural, depende
de fatores como:
- Fatores culturais: nos países
de língua inglesa, os termos
podem ser adotadas tanto no
singular quanto no plural. A
decisão do termo preferido será
de acordo com o tipo de
conceito que o termo
representa
Sonda
Pólipos
A adoção dos termos tanto no
singular quanto no plural são
representativos no DeCS, pelo
fato do mesmo ser uma
tradução de uma linguagem
documentária de língua inglesa
(MeSH)
10) Homógrafos (homônimos
ou polissêmicos) -
Palavras com a mesma
ortografia mas com significados
diferentes devem ser
representados com um
complemento, seja este um
palavra ou uma frase
qualificadora
Detecção de Recrutamento
(Audiologia)
11) Nomes comuns e nomes
comerciais – Utiliza-se o nome
comercial quando um produto é
identificável por este, exceto
quando existir um nome comum
apropriado. Neste caso, este é
adotado como o descritor
Polietileno
(“Não” Politeno)
12) Nomes populares e
nomes científicos – Quando
se referirem a um mesmo
conceito, deve-se utilizar como
descritor a forma que
normalmente o usuário
consultará.
Ratos
(“não” Rattus norvegicus)
O nome científico - Rattus
norvegicus -poderá ser
considerado como um descritor
em um índice de Medicina
veterinária
13) Nomes de Pessoas – São
normalmente excluídos dos
tesauros.
----------------------
Caso o nome de uma pessoa
seja o assunto do documento, o
LILDBI WEB possui um campo
específico para essa indexação
(Campo 76 – Indivíduo como
tema) .O nome deve ser
normalizado de acordo com as
regras do AACR
2
QUADRO 2 – Forma dos termos no Vocabulário DeCS
Fonte: Elaborado pela autora.
77
Para hierarquizar os termos, o DeCS utiliza os “elos falsos” ou “elos
de ligação”, considerando-os como termos não utilizados na indexação. Podemos
exemplificar essa situação com o descritor Reabilitação dos Transtornos da Fala e
da Linguagem, destacando-se a Nota de Indexação Português: não usado para
indexação. (Figura 7).
FIGURA 7 - Termo não usado na indexação : “elo falso” ou “elo de ligação” –
Notas de Indexação Português e Definição Português
Fonte: BIREME, 2005.
Encontram-se também no DeCS as definições dos descritores para
auxiliar a sua compreensão. Dessa maneira, evita se o uso de descritores
inadequados na indexação. As definições são antecedidas da expressão Definição
Português. (Figura 7).
As notas de indexação e as definições constantes do Vocabulário
DeCS estão de acordo com as diretrizes estabelecidas no item Notas explicativas e
78
definições
24
.
Descritores Qualificadores
Os qualificadores são atributos utilizados para garantir
especificidade na indexação e para refinar as pesquisas, como constam das
diretrizes da BIREME: “Os qualificadores são termos que se agregam aos
descritores de modo a definir diferentes aspectos, conceitos e pontos de vista
discutidos pelo autor num determinado assunto” (BIREME, 2003).
Segundo Valdés Abreu (1996), “[...] os qualificadores são os termos
que se combinam com o descritor para definir um aspecto particular dele mesmo.
Sua utilidade deriva da especialidade a que se refere, tanto na análise como na
recuperação do documento. Todo qualificador tem regras de uso (pré-coordenação)
e notas de alcance que facilitam seu emprego com um descritor determinado”.
O vocabulário possui oitenta e três qualificadores, além dos não-
qualificadores (sinônimos), conforme demonstrados no Apêndice I.
Nesse sentido, quando se utiliza, por exemplo, o qualificador
quimioterapia (quimioterap), combinado ao descritor DOENÇA, deve-se
obrigatoriamente coordená-lo com o descritor DROGA,
que será utilizado como
agente terapêutico, agregando-o ao qualificador correspondente, isto é, uso
terapêutico (uso terap).
BRONQUITE/quimioterap
TEOFILINA/uso terap
24
“Notas explicativas e definições podem ser anexadas a um termo para indicar o sentido limitado em
que o termo é usado para fins de indexação e assim excluir outros possíveis significados. Outros tipos
de informação também podem ser indicados em uma nota explicativa [...]. [...] c) instruções para
indexadores referentes, por exemplo, à combinação de termos que são ou não permitidos em uma
determinada linguagem de indexação.” (AUSTIN; DALE, p. 31).
79
Essa coordenação, bem como a definição do termo e dos
procedimentos de utilização, são antecedidos pelas expressões Definição Português
(notas de escopo) e Nota de Indexação Português (Figura 8).
FIGURA 8 - Demonstrativo das notas Definição Português e Nota de Indexação
Português do qualificador /quimioterapia
Fonte: BIREME, 2005.
Os qualificadores também são hierarquizados segundo as diretrizes
de construção de tesauros de Austin e Dale (1993), sendo categorizados por
qualificadores superordenados (/diagnóstico) e subordinados (cintilografia,
/patologia, /radiografia, /ultrassonografia), conforme apresentado na Figura 9.
80
/diagnóstico
/cintilografia
/patologia
/radiografia
/ultrassonografia
FIGURA 9 - Demonstrativo da hierarquia dos
qualificadores
Fonte: Elaborado pela autora.
Quando permitido o uso com o descritor selecionado, os
qualificadores aparecem traduzidos para o Português e Espanhol, porém ordenados
pela ordem alfabética do qualificador original em Inglês, devendo-se proceder à
leitura dos mesmos no sentido horizontal das informações (Figura 10).
Quando o descritor não possui nenhum qualificador permitido, essa
informação é notificada pela expressão sem qualif, ou simplesmente os mesmos não
aparecem.
81
FIGURA 10 – Ordenação dos qualificadores pela ordem alfabética do
qualificador original em inglês
25
Fonte: BIREME, 2005.
Os qualificadores, quando pesquisados e localizados no Vocabulário
DeCS, são identificados por uma barra ( / ) para diferenciá-los dos descritores
primários (principalmente quando esses descritores coexistem nessas duas
categorias). O caso do termo Educação é bem representativo desse fato, pois ao
mesmo tempo que o conteúdo de um documento trata do assunto Educação,
também pode-se ter um outro documento que trate de um determinado assunto sob
o aspecto educação. (Apêndice J).
25
classification (classificação); economics (economia)
education (educação); ethics (ética)
history (história); instrumentation (instrumentação)
legislation & jurisprudence (legislação & jurisprudência); manpower (recursos humanos)
methods
(métodos); organization & administration (organização & administração);
statistics & numerical data (estatística & dados numéricos); standards (normas);
trends (tendências)
82
Além disso, quando recuperados no DeCS pela lista alfabética, os
qualificadores são escritos por extenso; no momento da indexação e na recuperação
(formulário de pesquisa básico ou avançado - aspectos
), os mesmos são escritos de
forma abreviada e por siglas, respectivamente. (Apêndice L). Essa diferença na
representação do descritor-qualificador, dificulta, muitas vezes, o entendimento do
usuário.
Descritores Pré-codificados
Os descritores pré-codificados (representados por letras maiúsculas
na indexação e recuperação) também têm sua importância na indexação por
possibilitarem a especificação dos conceitos tratados pelo autor e na recuperação da
informação, auxiliando a restringir o escopo de uma busca. Os descritores pré-
codificados devem sempre ser considerados e analisados individualmente, isto é,
para cada documento indexado, sendo suas regras de uso e coordenação
explicitadas pela Nota de Indexação Português. Exemplos: HUMANO, FEMININO,
MASCULINO, ANIMAIS, etc. (Figura 11).
FIGURA 11 – Exemplo de descritor pré-codificado
Fonte: BIREME, 2005.
83
5.1.2 Sistemas de coordenação
O Vocabulário DeCS estabelece a pré-coordenação de termos por
meio de notas de indexação. Assim, no descritor Orelha (Ear), encontra-se a nota de
indexação que, além de esclarecer as condições de uso, pré-coordena
a indexação,
por exemplo, no assunto acupuntura da orelha.
(Apêndice M).
Há descritores que apresentam notas de indexação redigidas no
idioma inglês, pelo fato de não terem sido ainda traduzidos, pela BIREME, para o
português e espanhol. O descritor Agnosia demonstra essa situação. (Apêndice M).
Quanto à pós-coordenação, esta possibilita a realização da busca
por termos genéricos, específicos ou com o uso ambos no momento da recuperação
da informação, representados sempre por letras maiúsculas, previamente indexados
na condição de descritores primários e secundários. Os descritores primários são
aqueles escolhidos como os mais significativos para a representação do conteúdo
temático do documento e estão identificados com um asterisco (*), logo após o
termo.
Quanto aos descritores secundários, estes são considerados os menos
significativos na representação do conteúdo do documento e aparecem sem o
asterisco. (BIREME, 2003).
Assim, pode-se considerá-lo como um sistema híbrido de pré- e pós-
coordenação de termos, embora Lancaster (2002) empregue o termo "híbrido" para
conceituar os Sistemas de Informação que utilizam a combinação da linguagem
controlada com a linguagem natural para a recuperação da informação.
5.1.3 Forma de apresentação da linguagem
O Vocabulário DeCS é, em sua estrutura, uma linguagem
84
documentária alfabética de apresentação sistemática.
Segundo Austin e Dale (1993, p. 66),
Um tesauro no qual os termos estão organizados sistematicamente deve
constar de duas partes: a) categorias ou hierarquias de termos ordenados
de acordo com seus significados e inter-relações lógicas; b) um índice
alfabético que direciona o usuário à(s) parte(s) da seção sistemática.
A apresentação sistemática do DeCS é composta pela seção
sistemática, correspondendo à lista hierárquica e pelo índice alfabético representado
por sua lista alfabética
. As duas listas são interligadas através de um sistema de
endereçamento.
Esse sistema de endereçamento é formado por um código de
endereçamento relacionado a cada um dos descritores na lista hierárquica e
funciona como referência no índice alfabético. Sinais e ícones também são usados
para fazer a correspondência entre as listas. Essa sistemática pode ser verificada
por meio da Figura 12, bem como nas referidas listas, demonstradas pelos
Apêndices A-B.
85
Lista Hierárquica/Seção Sistemática
Transtornos da Linguagem
Dislexia +
Lista Alfabética/Índice Alfabético
Transtornos da Linguagem
Categoria: C10.597.606.150.500
C23.888.592.604.150.500
FIGURA12 - Sistema de endereçamento para a interligação das listas
hierárquicas e alfabéticas no Vocabulário DeCS
Fonte: Elaborado pela autora
A lista hierárquica – seção sistemática - é considerada a parte
principal do Vocabulário DeCS. A lista alfabética - índice alfabético – é um
componente complementar, que apresenta informações adicionais como as
Definições Português, Notas de Indexação, entre outras, elevando a sua categoria
ao mesmo nível de importância da lista hierárquica.
CIicar no ícone
()
(abre a
macroestrutura
temática – termo
superordenado)
Clicar no ícone
( + )
(abre a
microestrutura
temática – termo
subordinado)
Clicar no
Traço
( _____ )
(remete
para a
lista
alfabética/
índice
alfabético
onde o
termo está
inserido)
Clicar no Código
de
Endereçamento
(remete o termo
para a lista
hierárquica em
sua referida
cate
g
oria
)
86
5.1.4 Síntese da análise formal da linguagem documentária DeCS
O resultado da análise formal da linguagem DeCS indica que, de
forma geral, ela foi elaborada de acordo com as normas estabelecidas pelas
diretrizes para o desenvolvimento de tesauros, conforme demonstrada no Quadro 2.
(AUSTIN; DALE, 1993)
Entretanto, foram detectadas algumas inconsistências no
relacionamento entre os termos bem como erros de tradução.
A estrutura hierárquica, não-hierárquica e de equivalência (relações
lógico-semânticas) existentes no DeCS, apresentam-se da seguinte forma na lista
alfabética:
Descritor Inglês
Descritor Espanhol
Descritor Português
Sinônimos Português)
Definição Português
Relacionados Português
Na lista hierárquica, os termos estão organizados de forma poli-
hierárquica, por categorias de assuntos, em consonância com as regras propostas
= Termo Genérico ou Termo Específico
(TG ou TE)
= Usado Para e USE
(UP) - Não-Descritor
= Nota de Escopo
(NE)
= Termo Relacionado
(TR)
87
por por Austin e Dale (1993). Dentro dessas categorias, o arranjo do universo
temático é dividido em classes principais e secundárias, relacionadas entre si,
constituindo-se na macroestrutura e na microestrutura temática do Vocabulário.
Pode-se verificar nos Apêndices A-B, D-E a estrutura lógico-
semântica dos descritores do MeSH (http://www.nlm.nih.gov/mesh/meshhome.html
)
e do DeCS (http://decs.bvs.br
), com as traduções para o Português e Espanhol, nas
listas alfabéticas e hierárquicas online.
Quanto à forma de apresentação da linguagem, a seção sistemática
representada pela lista hierárquica, é considerada como a parte principal do
Vocabulário DeCS, contendo as informações sobre os relacionamentos dos termos.
A lista alfabética (índice alfabético) atua como uma lista complementar às funções
desempenhadas pela lista hierárquica.
Outras metodologias de avaliação também são discutidas pela
literatura e utilizadas por Unidades de Informação e/ou por Institutos de Pesquisas
para a verificação do desempenho das linguagens documentárias tanto pela sua
forma, quanto por seu uso e/ou conteúdo. No capítulo Desempenho das linguagens
documentárias nos Sistemas de Recuperação de Informação: as metodologias de
avaliação, apresentamos essas metodologias.
88
6 DESEMPENHO DE LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS EM SISTEMAS DE
RECUPERAÇÃO DE INFORMAÇÃO: metodologias de avaliação
Neste capítulo são apresentados estudos internacionais e nacionais
sobre as metodologias de avaliação na área de Organização e Recuperação da
Informação, com ênfase nas linguagens documentárias. As metodologias são de
natureza quantitativas, qualitativas e qualitativas/cognitivas. São destacados também
os trabalhos de avaliação de desempenho do Vocabulário Controlado DeCS, por
métodos quantitativos, realizados por pesquisadores cubanos, argentinos e
brasileiros.
Uma unidade de informação não deve planejar e desenvolver
somente os seus serviços “para” o usuário, centradas exclusivamente no ciclo da
informação, mas sim, “com” o usuário, tanto para o fornecimento de informação útil à
pesquisa quanto para a formação do usuário/cidadão.
A atividade de busca bibliográfica em um Sistema de Informação
necessita de uma linguagem documentária que proporcione recuperação de
informação condizente com as necessidades informacionais do usuário/pesquisador.
Portanto, se o grau de especificidade da linguagem adotada pelo
Sistema de Informação é baixa, o indexador terá dificuldade para tratar informação
de forma específica e o usuário/pesquisador terá dificuldade para recuperar
informação precisa.
Conforme Fujita (1999, p. 101),
Em um consenso empírico da atividade de análise documentária, sabe-se
que indexadores enfrentam dificuldades no momento de extrair termos
significativos e, também, representativos do tema do documento. Por outro
lado, é válido também colocar que, muitas vezes o indexador, mesmo
conseguindo extrair os termos significativos do documento, não consegue
realizar uma “tradução” satisfatória, isto é, representar o termo significativo
extraído do documento com os descritores disponíveis na LD.
89
A avaliação de uma linguagem documentária, sob o ponto de vista
do indexador e do usuário/pesquisador, é fundamental para aferir o desempenho de
um Sistema de Informação. A linguagem documentária deve ser compatível com as
políticas de indexação definidas pelo Sistema. O sistema, por sua vez, deve ser
compatível com a Instituição onde se desenvolve; as expectativas e necessidades
do usuário; características do assunto tratado; os recursos humanos, físicos e
financeiros; os produtos e serviços visados e a relação custo/desempenho.
Todavia, ao avaliar uma linguagem documentária, deve-se verificar,
também, como se processa a comunicação entre os pesquisadores de uma dada
área de especialidade. A representação adequada das informações de um domínio
está diretamente relacionada à qualidade da linguagem utilizada em um sistema.
Dentro desse contexto, muitos estudos de avaliação de linguagens
documentárias têm sido feitos, levando-se em conta a forma, o uso e/ou conteúdo,
por meio de abordagens quantitativas, qualitativas e/ou cognitivas. Em muitos
desses estudos, o indexador é o ator principal para a obtenção do "feedback" sobre
a atuação dessas linguagens nos sistemas de informação.
Embora as opiniões dos indexadores sejam de suma importância
para o aprimoramento das linguagens, não se pode descartar o papel fundamental
que o usuário desempenha em um Sistema de Informação. É ele quem utiliza a
informação processada em seu nível descritivo e temático e, por conseguinte, que
pode avaliar se o retorno obtido está compatível com as suas necessidades de
pesquisa.
Apresentam-se, a seguir, as diversas abordagens de avaliação de
linguagens documentárias.
90
6.1 Abordagem Quantitativa
6.1.1 Estudos internacionais de avaliação quantitativa
A abordagem quantitativa possibilita quantificar e dimensionar o
universo pesquisado, sendo os dados coletados, analisados e apresentados
estatisticamente.
Cleverdon e Lancaster, pesquisadores internacionais destacados no
campo da Ciência da Informação, desenvolveram estudos para verificar o
desempenho de linguagens documentárias por meio de abordagens quantitativas.
Nessa perspectiva, Cleverdon
26
(1964 apud LANCASTER; FAYEN,
1973, p. 125), definiu seis critérios de avaliação:
1) cobertura;
2) revocação;
3) precisão;
4) tempo de resposta
5) esforço do usuário;
6) forma da resposta (output).
Além dos critérios acima, recomenda-se a agregação de índices
quantitativos denomindos coeficientes de precisão e coeficientes de revocação.
Lancaster (2004) define coeficiente de precisão
como sendo a
capacidade de evitar documentos inúteis na recuperação pelo sistema. O coeficiente
de precisão (Co. Pre.) é obtido pela submissão do resultado de uma pesquisa ao
usuário, que seleciona do conjunto obtido, os registros pertinentes
27
à sua
solicitação. Esse coeficiente é medido pela relação:
26
CLEVERDON, C. W. Evaluation of operational information retrieval systems. Part 1: Identification of
criteria. Cranfield: College of Aeronautics, 1964 apud LANCASTER.; FAYEN, 1973, p. 125.
27
Lancaster considera como sinônimas as expressões úteis, relevantes e pertinentes.
91
N
o
de referências relevantes recuperadas
Co. Pre. =
N
o
de referências recuperadas pelo Sistema
Quanto ao coeficiente de revocação
(Co. Rev.), o autor define-o como a
capacidade do sistema em fornecer todas as referências relevantes existentes no
sistema, medido pela relação:
N
o
de referências relevantes e recuperadas
Co. Rev. =
N
o
de referências relevantes existentes no Sistema
Esse critério é difícil de ser aplicado pois, é aplicável somente em
pesquisas de caráter muito genérico sobre um determinado assunto; porém, não se
pode garantir que os resultados obtidos sejam úteis para os usuários.
Dentro da abordagem quantitativa, outros trabalhos internacionais
de
suma importância foram realizados, podendo-se citar o de avaliação de linguagens
documentárias pelo uso, datados do início da década de 1950 (FOSKETT, 1973,
MELO,1994), tais como:
ASTIA
A ASTIA (Armed Services Technical Information Agency)
desenvolveu um projeto para analisar a eficácia de sua lista de cabeçalhos de
assunto em comparação com o Sistema Unitermos (Uniterm System) proposto pelo
bibliotecário americano Mortimer Taube, nessa mesma época.
Os resultados obtidos não foram muito conclusivos, pois tanto a
ASTIA quanto Taube, não conseguiram identificar quais seriam as respostas
pertinentes (resultados relevantes) das consultas/buscas realizadas na fase de
coleta de dados/provas.
92
Projeto Cranfield I
Posteriormente a essa experiência, em 1957, a ASLIB desenvolveu
um programa de avaliação de linguagens que veio a tornar-se conhecido
internacionalmente como Projeto Cranfield.
Esse projeto foi coordenado pelo bibliotecário C. W. Cleverdon da
Royal College Aeronautics, em Cranfield, cujo objetivo era realizar o estudo
comparativo do desempenho de quatro linguagens documentárias na área de
aeronáutica: uma classificação facetada, a Classificação Decimal Universal (CDU),
uma lista de cabeçalhos de assuntos e o Siste
ma Unitermos.
A metodologia empregada para tal foi a indexação de três coleções
da área de aeronáutica, de 6000 documentos cada, integrantes de acervos de
diversas Instituições, gerando a sugestão de 1400 perguntas para serem utilizadas
na recuperação. Desse total, uma comissão de especialistas da área selecionou
apenas 400 para que os indexadores realizassem a recuperação, dentro do universo
dos documentos indexados, utilizando-se as quatro linguagens já determinadas.
Os resultados dessa avaliação foram satisfatórios em vários
aspectos, apontando que todos os sistemas tinham praticamente o mesmo grau de
eficácia no desenvolvimento das duas atividades. O sistema Unitermos destacou-se
por sua melhor eficácia na indexação e recuperação das informações, seguido pela
lista de cabeçalhos de assuntos, a Classificação Decimal Universal e, por último, a
classificação facetada. Outro ponto revelador foi que não houve diferença
significativa na realização das tarefas de indexação e recuperação pelos
indexadores participantes.
Projeto Cranfield II
93
O Projeto Cranfield II forneceu subsídios para o aprimoramento das
metodologias empregadas na avaliação das linguagens desenvolvidas até então.
As experiências anteriores praticadas por diversos estudiosos e
Institutos de Pesquisas, bem como a análise dos resultados obtidos no Projeto
Cranfield I, em 1957, colaboraram para a adoção de outras estratégias e
metodologias de pesquisa dentro dessa temática.
A proposta do Projeto Cranfield II, em 1963, consistiu em avaliar os
índices de revocação e de precisão das linguagens documentárias para a
recuperação da informação.
Para tanto, foi verificado previamente um conjunto de 271
documentos da área de Aerodinâmica e estruturas de aeronaves, publicados entre
1962 e 1963, na língua inglesa, que tivessem sido citadas ao menos duas vezes
após 1964.
Esse projeto contou com a participação dos autores dos artigos. Eles
foram convidados a responder a um questionário que, enfocada uma questão sobre
a origem do problema, levou-os a elaborar e a publicar os referidos documentos.
Além disso, foi também solicitado que classificassem de 1 a 5 o grau de relevância
dos documentos citados em seus trabalhos.
Nesse universo, foram reunidos 1400 documentos, constituídos por
173 documentos originais, 1018 documentos provenientes do exame das citações
bibliográficas e demais documentos. Cada documento foi comparado com uma das
perguntas para se verificar se não existiam outros documentos relevantes e
pertinentes às perguntas.
Posteriormente, dividiu-se a coleção dos documentos em dois
grupos: Grupo 1 – documentos recuperados e Grupo 2 – documentos não
94
recuperados pelo sistema. Em seguida, esses dois grupos foram subdivididos em
outros dois: grupo dos documentos relevantes e grupo dos documentos não-
relevantes e, posteriormente, aplicou-se uma fórmula para a obtenção do índice de
revocação e de precisão das linguagens de indexação.
Para a realização das atividades de indexação e de recuperação
foram utilizadas 33 diferentes linguagens de indexação, desde as mais simples - que
foram elaboradas somente com termos retirados diretamente de documentos - até
os vocabulários controlados mais estruturados.
Como resultado, verificou-se que a utilização da linguagem natural
foi muito eficaz, porém a necessidade de controle dos sinônimos e das palavras com
o mesmo radical mostrou-se de suma importância.
Sistema Medlars
A United States National Library of Medicine (NLM), também
preocupada com o desempenho do Sistema Medlars desenvolvido para a área de
Ciências da Saúde desenvolveu, em 1968, um programa com o objetivo de avaliar o
comportamento do referido sistema.
Esse projeto foi coordenado por F. W. Lancaster que analisou 299
buscas. O estudo revelou que o sistema apresentava revocação média de 57% e
precisão de 50,4%
O pesquisador concluiu que a linguagem documentária adotada pelo
sistema, a indexação, o processo de busca bibliográfica e a interação entre o
usuário/pesquisador e o sistema foram os quesitos responsáveis pelo desempenho
insatisfatório do sistema Medlars.
As ocorrências verificadas dentro de cada quesito foram as
seguintes:
95
Linguagem documentária: falta de especificidade; coordenações
falsas; relações incorretas entre os termos;
Indexação: erros humanos ocorridos pela atribuição indevida ou
omissão de termos no momento da análise, identificação e
representação do conteúdo dos documentos indexados.
Busca bibliográfica: neste quesito foi verificado que as
estratégias de buscas não foram elaboradas satisfatoriamente,
pois num primeiro momento foram utilizados termos muito
genéricos e, num segundo, a estratégia não possibilitou a
cobertura total da temática a ser pesquisada devido à não-
utilização de muitos termos, bem como pelo emprego incorreto
dos operadores de busca;
Interação entre o pesquisador e o sistema: as buscas realizadas
com a utilização da linguagem natural pelo pesquisador
obtiveram melhores resultados em relação às realizadas com o
MeSH. A interação entre o bibliotecário e o pesquisador não foi
suficiente, acarretando distorções entre as questões formuladas
e a “tradução” para os termos da linguagem do sistema.
Teste de Aberystwyth
O teste de Aberystwyth, realizado em 1968, também merece
atenção especial dentro dos estudos sobre avaliação de linguagens principalmente
por envolver, como objetos de análise, linguagens controladas e linguagem natural.
Realizado pelo College of Librarianship Wales, avaliaram-se 5
linguagens documentárias: a Compressed Term Index Language, a Uncontrolled
96
Index Language, a Hierarchically Structured Index Language Post-Coordinate,
Hierarchically Structured Index Language Pre-Coordinate e a Relational Indexing
Index Language.
Para a realização desse teste foram selecionados 800 documentos
das áreas de Biblioteconomia e Ciência da informação, que foram previamente
classificados em relevantes, não-relevantes e parcialmente relevantes.
A indexação foi realizada tomando como base o perfil de cada
documento, destacando-se em linguagem natural os principais conceitos
identificados e selecionados, tendo sido posteriormente “traduzidos” para as cinco
linguagens documentárias em estudo.
As pesquisas foram realizadas por meio de palavras livres e, em
seguida, utilizando-se os vocabulários controlados mediante a solicitação de 63
questões. Estas, em seguida, foram registradas passo a passo e verificadas
novamente em um outro momento.
Os resultados demonstraram que a mais eficaz linguagem
documentária para a indexação e recuperação da informação deve ser “[...] tão
específica quanto possível, sem emprego de artifícios de precisão mais sofisticados
do que a coordenação, e com pouca ou nenhuma coordenação”. (PIEDADE, 1976,
p. 17).
“Indexação Sistemática”
Em continuidade à apresentação dos estudos internacionais de
avaliação na abordagem quantitativa, torna-se necessário um retorno ao ano de
1911 com os estudos de J. Kaiser sobre a avaliação de linguagens documentárias
pela forma.
97
Seu trabalho denominado “Indexação Sistemática” (Systematic
Indexing), tinha como proposta solucionar o problema da determinação da ordem
dos conceitos representados por assuntos compostos.
Sua teoria demonstrou que muitos assuntos compostos têm, na sua
formação, um termo representativo do “concreto” e o outro de um “processo” e,
dessa forma, ele determinou que o mais importante seria o concreto.
Kaiser utilizou esse sistema para indexar documentos referentes às
áreas de comércio e indústria, como por exemplo, “O tratamento térmico de metais”,
resultando no cabeçalho Metais – Tratamento Térmico. O cabeçalho Metais atuando
como o concreto e o cabeçalho Tratamento Térmico como o processo.
WRU
Tomando como base o sistema desenvolvido por Kaiser, a Western
Reserve University (WRU
) aperfeiçoou esse trabalho que consistia em “[...]
decompor cada conceito num conjunto de conceitos fundamentais chamados
‘fatores semânticos’”.
Dentro desse princípio, a indexação de documentos por meio dessa
sistemática envolvia a análise de assunto muito detalhada. Por essa razão, esse
sistema foi considerado muito dispendioso no quesito tempo. Por outro lado, os
resultados desse aperfeiçoamento não foram muito satisfatórios pelo fato de o
processo de avaliação dessa linguagem ter sido realizado com a elaboração de
questões muito genéricas, em contraposição ao sistema de indexação e
recuperação, que era caracterizado por entradas mais específicas dos assuntos
contidos nos documentos.
Sumarizando
, pode-se afirmar, dentro da abordagem quantitativa,
que os estudos clássicos como os de Cleverdon (1964) e Lancaster (2004), que
98
definiram critérios e índices quantitativos de precisão e revocação, contribuiram para
estabelecer importantes parâmetros metodológicos de avaliação de linguagens.
Outros trabalhos internacionais mereceram especial atenção como
os testes da ASTIA (Armed Services Technical Information Agency), os Projetos
Cranfield I e II, o programa de avaliação desenvolvido por F. W. Lancaster para a
avaliação de desempenho do Sistema Medlars, o teste de Aberystwyth envolvendo
estudos sobre linguagens natural e controladas e os estudos de Indexação
Sistemática de J. Kaiser, complementados posteriormente pelos testes realizados
pela WRU (Western Reserve University), tendo como ponto focal a avaliação formal
das linguagens.
6.1.2 Estudos avaliação quantitativa nacionais
No Brasil também foram realizados trabalhos significativos de
avaliação formal de linguagens
como o estudo de Lara (1993) e o de Strehl (1998).
Lara (1993) avaliou 4 linguagens documentárias, sendo duas
linguagens pré-coordenadas, a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a
Classificação Decimal Universal (CDU) e duas linguagens pós-coordenadas, o
Thesaurus POPIN (Thesaurus Miltilíngüe de População) e o Macrothesaurus de
Informação Sócio-Econômico para o Planejamento (Macrothesaurusfor Information
Processing in the Field of Economic and Social Development).
A metodologia utilizada foi primeiramente a realização da análise
geral das referidas linguagens nos quesitos de identificação, objetivos e princípios
de construção e forma de apresentação.
Num segundo momento, as linguagens foram analisadas em seus
aspectos formais estruturais, tendo sido observadas as características de divisão
para a construção das cadeias hierárquicas (hierarchical display), a flexibilidades dos
99
sistemas, a lógica das relações entre os termos (relações hierárquicas, não-
hierárquicas e de equivalência), entre outros aspectos. Foram considerados também
outros indicadores, tais como eficiência para o controle do vocabulário, eficiência
para a elaboração de índices, eficiência para representar a informação e eficiência
na comunicação documentária.
Os indicadores de eficiência foram verificados por meio de 10
exemplos retirados dos sistemas de classificação CDD e CDU e por 9 exemplos
retirados dos tesauros em estudo.
Como resultado, a autora aponta para a necessidade do
desenvolvimento de políticas e metodologias específicas de análise e representação
documentária, agregados aos requisitos mínimos de construção de linguagens
documentárias, tendo em vista “[...] que as LDs analisadas não são construídas com
o rigor necessário para dar conta do significado. Vários critérios são utilizados, de
forma empírica, inexistindo uma preocupação com a palavra como fonte de sentido”.
(LARA,1993, p. 126).
O trabalho de Strehl (1998) teve como propósito fazer a avaliação
formal do vocabulário controlado utilizado na base de dados de uma biblioteca
universitária de artes, visando a definição de uma política de indexação a ser
adotada pelo Sistema.
O estudo avaliou a indexação das áreas de artes plásticas, música e
teatro, verificando-se a forma de apresentação dos descritores do vocabulário
quanto ao número de palavras por descritor, uso do singular e plural, sinônimos,
descritores compostos, termos homógrafos, relações lógico-semânticas e os
identificadores geográficos.
100
Para tanto, foram utilizados como parâmetros os critérios
estabelecidos por Affonso (1987) em sua obra Metodologia para construção de
tesauro de informática em língua portuguesa
28
, em uma amostra composta por 743
descritores do referido vocabulário atribuídos pela bibliotecária responsável pela
indexação.
Os resultados demonstraram que 77,66% dos descritores analisados
apresentaram problemas em relação aos parâmetros estabelecidos por Affonso
(1987) quanto à formação e apresentação dos mesmos.
6.1.3 Estudos de avaliações quantitativas sobre o Vocabulário Controlado
DeCS
No âmbito das pesquisas sobre o desempenho do Vocabulário
Controlado DeCS, foram realizados estudos internacionais e nacionais quanto ao
uso e forma do Vocabulário.
Muitos desses trabalhos foram desenvolvidos por pesquisadores
cubanos preocupados principalmente com a atualização da terminologia da área de
Ciências da Saúde do DeCS.
Valdés de Abreu (1996) mostrou a necessidade de serem
incorporadas notas de escopo aos Descritores Qualificadores do DeCS, por
considerá-las muito úteis no processo de indexação e recuperação de informações
no Sistema Nacional de Información de Ciências Médicas (SNICAM). Essa
exposição foi enfatizada com exemplos pertinentes da área médica.
Durante o ano de 1997 a Biblioteca Médica Nacional de Cuba
possibilitou aos pesquisadores e profissionais da área de Saúde a realização de
28
AFFONSO, L. da B. M. F. Metodologia para construção do tesauro de informática em língua
portuguesa. Rio de Janeiro: SERPRO, 1987.
101
buscas bibliográficas nas bases de dados MEDLINE e LILACS. Nesse contexto,
Jiménez Miranda (1998, 2002) realizou a avaliação formal das linguagens
documentárias MeSH e DeCS, utilizadas para a indexação e recuperação de
informação nas respectivas bases de dados, bem como dos mecanismos de buscas
utilizados pelos dois Sistemas de Informação.
A necessidade de comunicação entre a BIREME e os Centros
Cooperantes é ressaltada no trabalho desenvolvido por Rodríguez Camiño (1998),
destacando especificamente as inclusões de descritores e não-descritores no
Vocabulário DeCS, no período de 1992-1997. O autor expõe a necessidade de ser
formado um Comitê de Indexação com a responsabilidade de sistematizar os
trabalhos de atualização da linguagem, bem como a criação de uma lista de
discussão para a agilização do processo de comunicação entre os Indexadores do
Sistema Latino-Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde.
O trabalho de Pellizzon (2004) expõe o processo de
operacionalização das listas alfabética, permutada e hierárquica dos termos que
compõem a Linguagem DeCS.
A pesquisa feita na Argentina por Otero et al. (2004) é um estudo de
avaliação das linguagens MeSH e DeCS na recuperação de artigos de periódicos
sobre o assunto Informática Médica (Medical Informatics) realizada nas bases de
dados MEDLINE e LILACS, respectivamente.
Os resultados dessa avaliação pelo conteúdo das referidas
linguagens mostraram a eficaz representatividade do assunto pesquisado em
relação aos periódicos encontrados nas bases MEDLINE e LILACS.
102
No Brasil, os trabalhos de Santos (2002) e de Campanatti-Ostiz
(2004), ambos em nível de mestrado, tiveram suma importância nos estudos de
avaliação do Vocabulário Controlado DeCS.
Santos (2002) analisou especificamente a categoria de Saúde
Pública do DeCS na indexação e recuperação da informação na Base de Dados
AdSaúde (Administração em Saúde), do Sistema Especializado em Administração
em Saúde do Sistema BIREME. No estudo, foram analisadas a estrutura hierárquica
e o léxico das categorias SP1 e SP2 da área de Saúde Pública e um estudo de
ocorrência de descritores na Base de Dados AdSaúde.
Esse trabalho teve como resultados a apresentação de parâmetros
de revisão de linguagens documentárias, tendo sido estabelecidos dois níveis:
“1) o nível da gestão da linguagem que inclui:
elaboração de diretrizes para avaliação e revisão;
estabelecimento de prazos;
verificação de falhas e soluções de problemas;
consulta a especialistas e a estudos de ocorrência de termos;
comunicação das atualizações para o sistema.
2) o nível de controle terminológico que analisa os aspectos da terminologia
empregada”. (SANTOS, 2002, p. 5).
A pesquisa de Campanatti-Ostiz (2004) teve como proposta analisar a
qualidade de sete periódicos científicos na área de Fonoaudiologia, possuidores de
ISSN (International Standard Serial Number), publicados entre os anos de 1986 a
2001. No estudo foram levantados os termos – palavras-chaves, descritores,
unitermos - dos artigos desses periódicos, verificando-se os mesmos estavam
disponíveis no DeCS. Além disso, foram observados os aspectos formais dos
periódicos: periodicidade, tiragem, anúncios, apoio financeiro, indexação em bases
103
de dados, numeração de fascículos, quantidade de fascículos, qualidade/mérito dos
artigos, referências e o Fator de Impacto. Os resultados demonstraram que 43% dos
termos publicados nos artigos dos periódicos pesquisados não constavam no DeCS;
quanto aos periódicos, o estudo mostrou que os aspectos estruturais são
insuficientes em relação aos critérios internacionais de normalização; além disso, os
valores dos Fatores de Impacto foram praticamente nulos.
Em síntese
, o Vocabulário Controlado DeCS foi objeto de estudos de
pesquisadores latino-americanos que verificaram sua “performance” e sua estrutura.
Encontram-se nesse rol os trabalhos de Valdés de Abreu (1996), Rodriguéz Camiño
(1998), Jiménez Miranda (1998, 2002) e Pellizzon (2004) e Otero et al. (2004).
No Brasil, o estudo de Santos (2002) contribuiu para o
aprimoramento da linguagem DeCS, particularmente da categoria Saúde Pública. O
trabalho de Campanatti-Ostiz (2004) revelou a insuficiência da representatividade
terminológica da área de Fonoaudiologia no Vocabulário DeCS, bem como a
necessidade de aprimoramento técnico/editorial dos periódicos analisados.
6.2 Abordagens Qualitativas
Para verificar o feedback da busca bibliográfica realizada pelo
usuário, Lancaster (1996, p. 10), apresenta considerações sobre a avaliação
qualitativa:
A avaliação de um serviço de informação pode ser subjetiva ou objetiva.
Estudos subjetivos, baseados em opiniões, não deixam de ser úteis, pois é
importante saber o que as pessoas sentem em relação ao serviço [...].
Dentro dessa proposta, a partir da década de 1970, foram realizados
diversos estudos internacionais de avaliação de linguagens, com abordagem
qualitativa, que serão expostos a seguir.
104
James Carlisle e Robert Fetter
Durante o período de 1970 e 1971, James Carlisle e Robert Fetter
realizaram uma experiência interessante de avaliação do comportamento do usuário
na recuperação de informações computadorizadas on-line, utilizando-se o vídeo e o
teletipo (PIEDADE, 1976).
Essa experiência foi realizada com 12 alunos da área de Direito da
Yale Law School (Estados Unidos), sendo que seis deles utilizaram o vídeo e seis
alunos o teletipo. Cada aluno deveria, por meio da mesma pergunta, localizar o
maior número possível de processos pertinentes à temática de estudo.
A relevância dos documentos recuperados em relação às perguntas
propostas foi pontuada, após avaliação, da seguinte maneira:
10 pontos exatamente o mesmo tipo de demanda;
4 pontos referente ao assunto procurado; (explicar melhor)
1 ponto referente ao assunto procurado, mas não relevante;
0 sem valor; falsa recuperação.
O comportamento dos dois grupos de alunos foi analisado
comparativamente, tendo sido definidos seis critérios para a realização dessa tarefa:
“1) pelo número de documentos recuperados e examinados;
2) pela relevância dos documentos selecionados;
3) pelo tempo gasto na busca;
4) pelos erros cometidos;
5) pelas estratégias individuais de pesquisa;
6) pela satisfação pessoal dos pesquisadores com o terminal
utilizado”. (PIEDADE, 1976, p. 18).
O resultado dessa experiência levou-os a constatar que a pesquisa
desenvolvida pelo grupo do vídeo levou 60% mais de tempo, apresentando erros
105
dos usuários da ordem de 30%, porém conseguindo 40% mais relevância,
recuperando-se 425 mais processos em relação ao grupo do teletipo.
A conclusão desse trabalho foi que o grupo do vídeo mostrou-se
mais disposto e interessado na realização de pesquisas em profundidade.
Nessa mesma época, outras iniciativas foram feitas na linha de
avaliação centrada no usuário, favorecendo principalmente o pensamento, a
reflexão, a percepção e o posicionamento por meio de opiniões emitidas diante dos
resultados alcançados na realização de uma tarefa.
6.3 A Abordagem Qualitativa/Cognitiva
O desenvolvimento de estudos de avaliação que utilizam
abordagens cognitivas
29
tornaram-se muito úteis nas diversas áreas do
conhecimento, bem como na área da Ciência da Informação a partir da década de
1970 com o advento do desenvolvimento da informática e das novas tecnologias de
comunicação.
A partir da década de 1970 até os primeiros anos da década de
1990, foram numerosos os autores que realizaram estudos sobre a organização e
recuperação da informação baseados em modelos cognitivos.
Os estudos de maior interesse nessa linha de pesquisa iniciaram-se
basicamente com os trabalhos realizados por Allen (1969)
30
, Martyn
31
(1974), Martyn
e Lancaster
32
(1981), Ericsson e Simon (1987)
33
, entre outros. Esses trabalhos foram
realizados no próprio ambiente de trabalho onde se concentravam os serviços de
29
O termos “Abordagem Cognitiva, Abordagem Centrada no Usuário e Abordagem da Percepção do
Usuário” são considerados sinônimos (FERREIRA, 1997).
30
ALLEN, T. J. Information needs and users. ARIST, v. 4, p. 3-31, 1969.
31
MARTYN, J. Information needs and users. ARIST, v. 9, p. 3-23, 1974.
32
MARTYN, J.; LANCASTER, F. W. Investigative methods in library and information science.
Arlington: Information resources Press, 1981.
106
referência e os de busca online, com o objetivo de verificar, por exemplo, as
situações de necessidade de informação dos usuários, bem como o seu
comportamento diante dessas situações.
Os trabalhos realizados por Brenda Dervin
34
(1983 apud FERREIRA,
1997) sobre a abordagem Sense-Making, inicialmente aplicada na área de Ciências
da Comunicação, também contribuíram para o desenvolvimento das abordagens
cognitivas. A abordagem Sense-Making
[...] consiste em pontuações de premissas teóricas e conceituais e outras
tantas metodologias relacionadas para avaliar como
pacientes/audiências/usuários/clientes/cidadãos percebem, compreendem,
sentem suas interações com instituições, mídias, mensagens e situações e
como usam a informação e outros recursos neste processo.
A abordagem do Sense-making foi utilizada no Brasil, no trabalho de
Carvalho, Boccato e Ramos (1998), que avaliou a Sub-Rede Nacional de Informação
na Área de Ciências da Saúde Oral, atualmente denominada Sistema de Informação
Especializado na área de Odontologia (SIEO).
Considerando as necessidades, as opiniões e os problemas dos
usuários como fatores relevantes no estabelecimento de parâmetros de um modelo
de Sistema de Informação, o Serviço de Documentação Odontológica da Faculdade
de Odontologia da Universidade de São Paulo (SDO/FO-USP) desenvolveu um
estudo de avaliação com as 20 bibliotecas integrantes da Sub-Rede Nacional de
Informação na Área de Ciências da Saúde Oral – bibliotecas das Faculdades de
Odontologia das Universidades Estaduais Paulistas e das Universidades Federais
Brasileiras -, com o intuito de levantar as necessidades informacionais de seus
33
ERICSSON, K. A.; SIMON, H. A. Verbal reports on thinking. In: FAERCH, C.; KASPER, G. (Ed).
Introspection in second language research. Clevedon: Multilingual Matters, 1987. p. 24-53.
34
DERVIN, B. An overview of Sense-Making research: concepts, methods and results to date.
[Trabalho apresentado no ANNUAL MEETING OF THE INTERNATIONAL COMMUNICATION
ASSOCIATION, 1983, Dallas] apud FERREIRA, 1997.
107
usuários. A abordagem Sense-Making foi utilizada como instrumento de coleta de
dados, na verificação de algumas questões consideradas básicas como:
quem são os atuais usuários dos sistemas de informações;
como, onde, por que e para que estão utilizando esses sistemas;
quais as características e necessidades dos usuários;
como planejar sistemas de informações atuantes que sejam mediadores
reais na satisfação das necessidades de informação dos usuários.
Os resultados obtidos proporcionaram subsídios para a identificação
de necessidades informacionais desse público, possibilitando a criação de novos
serviços com vistas à crescente integração entre os Sistemas de Informação e os
usuários nos serviços em rede.
O estudioso dinamarquês Peter Ingwersen foi um importante
colaborador no desenvolvimento de pesquisas sobre a atividade de recuperação da
informação. Segundo Ingwersen (2002), a Teoria Cognitiva da Recuperação da
Informação - como denomina a recuperação da informação interativa, isto é, pela
abordagem cognitiva, parte do modelo tradicional de recuperação da informação, ao
qual são agregados outros elementos: os criadores do Sistema de Informação, o
profissional da informação, os autores dos documentos. Também são levados em
consideração os aspectos que influem no estado cognitivo e emocional do usuário,
exemplificado por suas crenças, os objetivos pretendidos, o seu grau de motivação
no desenvolvimento de uma busca bibliográfica, suas áreas de interesse, entre
outros.
O autor expõe também, que a pesquisa orientada para o usuário
enfatiza as dimensões comportamentais em um contexto social, associado ao
comportamento no momento da realização da busca da informação; no caso dos
108
estudos de usuários, essa abordagem estuda a satisfação dos usuários em relação
aos serviços de documentação ou de referência. Normalmente, esses estudos são
quantitativos e nem sempre o processo de recuperação da informação está inserido
nas investigações.
Desse modo, os estudos de Ingwersen, o estado cognitivo do
usuário/pesquisador passa a ser o ponto focal dessa abordagem, sendo uma
conseqüência o “surgimento de sua necessidade de informação” e a sua evolução
até que esta o satisfaça.
Assim, conforme Vargas-Quesada, Moya Anegón e Olvera Lobo
(2002), são cinco os elementos principais do processo de recuperação da
informação com abordagem cognitiva: o usuário, o ambiente organizacional, a
interface de busca, o Sistema de Informação e a informação armazenada, pronta
para ser disponibiliza por esse Sistema.
Nessa abordagem, considera-se que o usuário/pesquisador
desempenha um papel fundamental em um Sistema de Informação. Os valores
essenciais do ser humano devem nortear a construção da missão, dos valores e da
visão da organização, de modo a evitar o conflito e o distanciamento entre estas
duas instâncias: valores humanos e a política básica estabelecida pela própria
organização.
Dentro desse cenário sobre os estudos de avaliação centrada no
usuário – abordagem cognitiva -, pode-se citar como instrumento de avaliação
introspectiva a técnica do protocolo verbal, que vem sendo utilizado a partir de 1970,
na área de Ciência da Informação, mais especificamente na linha de Organização e
Recuperação da Informação.
109
Essa técnica, utilizada em estudos na área de recuperação da
informação por Ingwersen (1992, 2002) e por pesquisadores brasileiros como Fujita,
Nardi e Fagundes (2003) na área de leitura documentária, tiveram por objetivo
avaliar as observações e as opiniões dos usuários a respeito do que pensavam,
percebiam e do que ocorria em suas mentes durante a execução de uma
determinada tarefa.
Nos estudos de linguagens documentárias observa-se que, além de
analisar suas estruturas formais e relações lógico-semânticas, que devem ser
compatíveis com os objetivos dos Sistemas de Informação, deve-se analisar também
sua capacidade de fornecer aos usuários as informações relevantes existentes
nesses sistemas.
Sintetizando
a exposição sobre os estudos qualitativos de avaliação
na área de Organização e Recuperação da Informação, pela abordagem
qualitativa/cognitiva, observa-se que pesquisadores como Allen (1969), Martyn
(1974), Martyn e Lancaster (1981), Dervin (1983), Ericsson e Simon (1987),
Carvalho, Boccato e Ramos (1998), Vargas-Quesada, Moya Anegón e Olvera Lobo
(2002), Ingwersen (2002) e Fujita, Nardi e Fagundes (2003) contribuíram para o
desenvolvimento de modelos de avaliação que consideram o usuário como um
elemento fundamental desse processo.
No caso específico desta pesquisa, foi eleito o Protocolo Verbal
como instrumento de coleta e de avaliação qualitativa de dados, o qual será
apresentado em profundidade no capítulo Avaliação da linguagem documentária
DeCS: estudo de observação com protocolo verbal.
110
7 AVALIAÇÃO DA LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA DeCS: estudo de observação
com protocolo verbal
Este capítulo tem a finalidade de expor a metodologia empregada
nesta pesquisa, precedida da apresentação dos pressupostos teóricos da avaliação
da leitura documentária e recuperação da informação, com enfoque especial dos
estudos de Peter Ingwersen, precursor da utilização da técnica do protocolo verbal
na recuperação da informação. Em seguida, definem-se os sujeitos da pesquisa
público alvo, apresentam-se os critérios e os procedimentos metodológicos
adotados, bem como a coleta de dados.
7.1 Pressupostos Teóricos
A eficácia de uma linguagem documentária na recuperação da
informação é fator essencial para a obtenção de informações satisfatórias para o
usuário/pesquisador. A busca da informação desejada pelo usuário e sua obtenção,
supõem o trabalho integrado entre o sistema, a linguagem documentária e o próprio
usuário.
A integração acima exposta requer estudos qualitativos e não
apenas quantitativos. Nesta pesquisa, a análise de eficácia da linguagem
documentária DECS será feita por meio de um método qualitativo que utiliza a
técnica do protocolo verbal.
Segundo Fujita, Nardi e Fagundes (2003, p. 141),
[...] em Ciência da Informação, a técnica do “ Pensar Alto” (Thinking aloud)
tem sido usada em pesquisas de recuperação da informação desde a
década de 70, por exemplo, nos trabalhos de Ingwersen, cuja linha de
pesquisa em Recuperação da Informação (Information Retrieval – IR) tem
direcionado especial enfoque para uma abordagem cognitiva aos processo
de IR.
111
Os trabalhos pioneiros de Ericsson e Simon
35
(1987 apud FUJITA,
NARDI e FAGUNDES, 2003, p. 144) com a utilização da técnica do protocolo verbal
na observação da atividade de leitura forneceram resultados promissores para os
estudos de observação. Em 1998, Endres-Niggemeyer e Neugebauer
36
(1998 apud
FUJITA, NARDI e FAGUNDES, 2003, p. 142) aplicaram essa mesma técnica na
observação dos processos de elaboração de resumos. A técnica introspectiva do
protocolo verbal é aplicada a estudos de avaliação qualitativa em que os sujeitos,
em voz alta, expressam o que pensam e o que ocorre em suas mentes durante a
execução de uma tarefa. Essas declarações são gravadas, observando-se também
o comportamento dos sujeitos, como expressões faciais (gestos e movimentos dos
olhos).
Segundo Cohen
37
(1984 apud NARDI, 1999, p. 123), as técnicas
introspectivas são “medidas mentalísticas” apresentando-se sob três formas básicas:
dados provenientes de auto-relato, auto-observação e auto-revelação.
[... ] o auto-relato refere-se a declarações dos indivíduos sobre como
acreditam que realizam certas tarefas, fornecidas em situações
independentes da situação de realização efetiva da tarefa em questão. A
auto-observação refere-se a inspeções de comportamentos específicos
durante a realização de uma tarefa ou enquanto a informação ainda está
sob o foco da atenção [...] ou após o evento, retrospectivamente. A auto
revelação não é nem descrição nem inspeção de comportamentos
específicos; é um “pensar alto” durante a realização da tarefa; o
pensamento é direta e automaticamente externalizado; os dados são
obtidos sem análise nem edição.
Além do referido autor, vários outros pesquisadores já utilizaram o
1
ERICSSON, k. A.; SIMON, H. A. Verbal reports on thinking. In: FAERCH, C.; KASPER, G. (Ed).
Introspection in second language research. Clevedon: Multilingual Matters, 1987. p. 24-53 apud
FUJITA; NARDI; FAGUNDES, 2003, 144.
36
ENDRES-NIGGEMEYER, B.; NEUGEBAUER, E. Professional summarizing: no cognitive simulation
without observation. Journal of American Society for Information Science, New York, v. 49, n. 6, p.
486-506, 1998 apud FUJITA; NARDI; FAGUNDES, 2003, 142.
37
COHEN, A. D. Using verbal reports on research on language learning. In FAERCH; KASPER (ED).
Introspection in second language research. Clevedon: Multilingual Matters, 1987, apud NARDI, 1999,
p. 123.
112
protocolo verbal como método de avaliação, entre os quais destacamos o
pesquisador dinamarquês Peter Ingwersen com seus estudos sobre a Interação da
Recuperação de Informações, já citado anteriormente por Fujita, Nardi e Fagundes
(2003).
[...] nós baseamos nossas experiências na “técnica de pensar alto”
combinada com a observação. Usando esta técnica, determinados
elementos dos processos de pensar relacionados a formulação das
necessidades do usuário, interações e as atividades de busca de
informação, podem ser gravadas em fita (tape). (INGWERSEN, 1982).
Para a verificação da eficácia da atividade de recuperação da
informação e a interação com o usuário, em especial os aspectos cognitivos do
processo, o autor realizou uma avaliação qualitativa utilizando o protocolo verbal no
serviço de referência de uma biblioteca pública. Os sujeitos da pesquisa eram treze
bibliotecários, dos quais sete eram ocupantes de cargos de direção, três eram
bibliotecários de referência e três trabalhavam em ambas as atividades, todos com
vários anos de experiência na área. As bibliotecas escolhidas cobriam tanto cidades
grandes quanto as de áreas rurais. Foram selecionados cinco usuários, pessoas
com experiência limitada no uso de bibliotecas: quatro eram técnicos e um era
estudante de faculdade.
Muita atenção foi dada à instrução dos sujeitos antes dos testes. Os
13 sujeitos foram familiarizados com a técnica, receberam treinamento sobre como
“pensar alto”, isto é, como externar seus pensamentos no momento da execução da
atividade de recuperação da informação, durante a gravação e também sobre a
utilização do Sistema de Informação. Complementando a aplicação da técnica, o
autor observou o comportamento dos sujeitos durante o processo, realizando estudo
sobre as negociações ocorridas entre o usuário e o bibliotecário.
113
Sete gravações foram feitas que cobriram as buscas dos usuários,
seguidas da negociação e por nova busca da informação. Cada gravação foi
baseada em buscas sobre os seguintes assuntos: 1) as identidades da álgebra
booleana na forma apropriada para a aplicação, criação e reparo de circuitos nos
computadores; 2) literatura não tendenciosa sobre o pacto de 1939 alemão-
soviético, na forma de fontes de informação, correspondências, textos sobre o pacto,
especialmente os que esclareciam a origem da iniciativa.
Cada registro foi transcrito em um protocolo verbal, tendo sido
incluídos fatos ocorridos bem como as observações referentes ao comportamento
dos sujeitos envolvidos. Comentários adicionais de sua própria observação foram
incorporados.
No Brasil, entre os vários estudos desenvolvidos com o emprego do
Protocolo Verbal, a dissertação de mestrado de Nardi
38
(1993 apud FUJITA, NARDI
e FAGUNDES, 2003, p. 146)
“abriu a possibilidade de uso de um instrumento de
coleta de dados, também, para a observação da leitura documentária dentro do
Grupo de Pesquisa Análise Documentária da UNESP – Campus de Marília”. A
pesquisa, desenvolvida por Fujita, Nardi e Fagundes (2003), na observação da
leitura documentária, apresentou resultados que revelaram aspectos novos da leitura
documentária.
Com a utilização da Técnica do Protocolo Verbal, os usuários
“pensam em voz alta”, emitindo suas opiniões e comentários acerca do objeto
avaliado, realizando uma avaliação cooperativa e participativa: os usuários
38
NARDI, M. I. A . As expressões metafóricas na compreensão de texto escrito em língua
estrangeira. 1993. Dissertação (Mestrado em Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas) – Pontifícia
Universidade Católica, São Paulo apud FUJITA; NARDI; FAGUNDES, 2003, p. 146.
114
participam da identificação e entendimento de problemas de recuperação da
informação e utilização do sistema no seu próprio ambiente de trabalho.
Esse ponto de vista é reafirmado por Fujita, Nardi e Fagundes
(2003, p. 142), expondo que Ingwersen deu atenção especial à utilização dessa
técnica que garantiu a realização de ações íntegras e válidas:
[...] a coleta de dados dos sujeitos em situação natural, em seu próprio
ambiente de pesquisa e sem inserir qualquer mudança em suas rotinas;
complementação dos dados de “Pensar Alto” com observação do
comportamento e ações dos sujeitos; treinamento do sujeito (familiarização
com a técnica).
No caso específico desta pesquisa, a avaliação foi desenvolvida com
base nos procedimentos metodológicos apresentados por Ingwersen (1982) e Fujita,
Nardi e Fagundes (2003), Alguns ajustes foram feitos para adequá-la à realidade
investigativa, quando necessário. A técnica aplicada foi o protocolo verbal individual
com “escora”, isto é, com negociação – interferência da observadora/pesquisadora
junto ao usuário/pesquisador (sujeito) durante a aplicação da técnica.
Segundo Nardi (1999), o termo “escora” deve-se à existência de
interação entre o pesquisador com o sujeito, em alguns momentos da realização do
protocolo verbal, procedimento denominado pela própria autora como “Protocolos
interativos” ou “Protocolos com escora”.
O Protocolo verbal interativo ou Protocolo verbal com escora é
considerado um instrumento introspectivo e dialógico
de coleta de dados. Essa
característica propicia a mudança dos estados cognitivos do pesquisador e do
sujeito participante devido à ocorrência da interação entre eles.
Deve-se observar que não se conhece na literatura brasileira
pesquisa com aplicação desse instrumento de coleta de dados para avaliação de
linguagem documentária no processo de recuperação da informação. Referências
115
sobre essa abordagem específica só foram desenvolvidos fora do país, tais como os
estudos de Ingwersen (1992).
A abordagem metodológica adotada foi a do tipo exploratória-
interpretativa, que possibilita a elaboração de um diagnóstico da situação
investigada, além de permitir a utilização de métodos como o protocolo verbal para o
levantamento das observações, perspectivas e interpretações dos
usuários/pesquisadores a respeito da realidade vivenciada.
Os dados foram provenientes das declarações efetuadas pelos
sujeitos durante a realização da atividade proposta, isto é, a utilização da linguagem
documentária DeCS em buscas bibliográficas realizadas na base de dados LILACS
com a interação e intervenção moderada da observadora.
Conforme Spradley (1980), a observação participante pode ser
entendida dentro de três universos conceituais: a participação passiva onde o
pesquisador se comporta como mero observador da situação avaliativa; a
participação moderada tendo o pesquisador a função alternada de observador e
participante ativo e a participação ativa onde o pesquisador desempenha uma
função de participante no mais alto grau de atuação, isto é, procura realizar a
atividade que os outros participantes estão fazendo (realiza a atividade avaliativa e
analisa os dados do grupo).
Relativamente a esse contexto, a participação da observadora, nesta
pesquisa, foi a do tipo moderada, tendo sido feitas intervenções nos momentos de
recuperação de informações, para verificar o grau de satisfação dos sujeitos com os
resultados obtidos, se os termos utilizados na pesquisa corresponderam
efetivamente à sua necessidade informacional e se os termos não poderiam ter sido
substituídos por outros disponíveis na linguagem documentária utilizada.
116
Para tanto, foi necessário um planejamento prévio das etapas de
trabalho a serem desenvolvidas, bem como a adoção de alguns procedimentos que
antecederiam a aplicação efetiva da técnica do protocolo verbal para a coleta de
dados.
A fim de demonstrar que a tarefa a ser desenvolvida pelos sujeitos
participantes era executável, foram efetuadas todas as etapas de uma busca no
Sistema de Informação LILACS, utilizando o campo descritor de assuntos. Com a
adoção desse procedimento, foi possível antever os caminhos que seriam
percorridos pelos sujeitos, bem como a certificação de que é perfeitamente possível
o acompanhamento das etapas por meio da aplicação do protocolo verbal.
7.2 Análise da Tarefa
A busca realizada no Sistema de Informação LILACS para análise
da tarefa, por meio do campo descritor de assunto, foi sobre o tema “O
fonoaudiólogo e as questões éticas na prática profissional”.
Foram realizados, primeiramente, todos os passos necessários para
o acesso ao sistema. Os descritores de assuntos pesquisados, bem como as
estratégias de buscas desenvolvidas e os resultados alcançados podem ser
verificados no Quadro 3.
117
Descritor
Pesquisado
Recuperado
Descritor
Pesquisado
SIM NÃO
Estratégia de
Busca Utilizada
Itens Recuperados
Fonoaudiólogo X
--- ---
Fonoaudiologia X
Ética Profissional X
--- ---
Fonoaudiologia AND
Ética Profissional
0
Ética X --- ---
Prática Profissional X Fonoaudiologia AND
Ética AND Prática
Profissional
0
Linguagem X
Fala X
Audiologia X
Audição X
Voz X
Motricidade Oral X
Ética Profissional
AND (Linguagem OR
Fala OR Audiologia
OR Audição OR
Voz)
2
QUADRO 3 - Demonstrativo da pesquisa realizada para a análise da tarefa no Sistema de
Informação LILACS
Fonte: Elaborado pela autora.
A busca foi realizada no dia 26/1/2005, tendo sido iniciada às 9h e
concluída às 9h15min, com duração de 15 minutos.
A trajetória da busca realizou-se conforme o previsto em relação aos
sujeitos que iriam realizá-la. Assim, foi possível orientá-los e acompanhá-los no
desenvolvimento de suas tarefas.
O desenvolvimento da busca ocorreu da seguinte maneira:
Tema: “O fonoaudiólogo e as questões éticas na prática profissional”.
Início
: 9h
Término
: 9h15min
Duração
: 15 min
118
Iniciou-se a busca sobre o tema “O fonoaudiólogo e as questões
éticas na prática profissional” digitando-se o termo Fonoaudiólogo
no formulário do
índice de assunto, após ter sido selecionado o formulário avançado e o campo
descritor de assunto para a realização da pesquisa na base de dados LILACS.
Como o resultado obtido foi negativo, procedeu-se à elaboração de
nova estratégia, digitando-se o termo Fonoaudiologia
.
Com a escolha desse termo, conseguiu-se obter resposta positiva,
tendo sido encontrado o termo no índice de assunto da Base e na linguagem
documentária DeCS e adicionado ao formulário de pesquisa.
Em seguida, procedeu-se da mesma maneira com a busca do termo
Ética Profissional
no índice de assunto, conseguindo-se também um resultado
positivo.
A estratégia de busca foi elaborada com a expressão
Fonoaudiologia AND Ética Profissional. No entanto, não foi recuperado nenhum item
sobre o tema.
Até o momento, observou-se que a linguagem DeCS não contém
termos específicos que atendessem à necessidade de pesquisa. Curiosamente, o
vocabulário apresenta termos como Médicos, Odontólogos, Enfermeiros, entre
outros, referentes às profissões de algumas áreas da Ciências da Saúde
representadas no Vocabulário DeCS, mas não o termo Fonoaudiólogo.
Uma vez que a estratégia de busca não correspondeu às
expectativas em relação à temática inicial, buscou-se os termos Ética, primeiramente
e em seguida, Prática Profissional, no índice de assunto da base LILACS,
selecionando-os e adicionando-os ao formulário avançado, juntamente com o termo
119
Fonoaudiologia, para a elaboração do seguinte esquema de busca: Fonoaudiologia
AND Ética AND Prática Profissional.
Mais uma vez, os resultados foram insatisfatórios, não tendo sido
encontrado nenhum registro sobre o tema.
A experiência realizada indica que a categoria Fonoaudiologia não
se encontra devidamente estruturada dentro do Vocabulário DeCS, já que não há
termos genéricos e/ou termos específicos suficientes para a realização de pesquisa
nessa área das Ciências da Saúde.
Dando prosseguimento às buscas por termos que representassem o
assunto de pesquisa, optou-se por elaborar uma nova estratégia utilizando o termo
Ética Profissional, já encontrado no índice de assunto, que foi adicionado ao
formulário avançado da base LILACS, juntamente com outros termos que poderiam,
em princípio, estar no índice de assunto.
O termo Linguagem
foi digitado no formulário do índice de assunto e
adicionado ao formulário avançado. Até o momento, ao formulário avançado contém
os termos Ética Profissional e Linguagem.
Em seguida, procedeu-se da mesma forma com os termos Fala,
Audiologia
, Audição, Voz, e Motricidade Oral, tendo sido localizados quase todos os
termos no índice de assunto, com exceção do termo Motricidade oral.
A idéia inicial era formular a seguinte estratégia de busca: Ética
profissional AND (Linguagem OR Fala OR Audiologia OR Audição OR Voz OR
Motricidade Oral), termos esses representativos das especialidades da área de
Fonoaudiologia.
Entretanto, como não foi recuperado no índice o termo Motricidade
Oral, a estratégia de busca utilizada foi: Ética Profissional AND (Linguagem OR Fala
120
OR Audiologia OR Audição OR Voz), O resultado da pesquisa foi positivo, tendo sido
recuperados dois registros.
Analisados os dois registros encontrados, verificou-se que eles eram
referentes a dois artigos de periódicos, sendo um artigo da revista Pró-fono sob o
título “O fonoaudiólogo e questões éticas na prática profissional”, isto é, exatamente
referente ao tema da pesquisa, e o outro, um artigo chileno condizente, também,
com a pergunta do usuário.
Em resumo: foram necessárias onze tentativas entre a escolha e a
localização de termos e a elaboração de três estratégias de busca para a localização
de descritores pertinentes à pesquisa. Foram utilizados seis descritores de assuntos
para a elaboração final da estratégia de busca que representasse o tema da
pesquisa: Ética Profissional AND (Linguagem OR Fala OR Audiologia OR Audição
OR Voz), tendo sido recuperados, ao final, dois artigos.
7.3 Metodologia para a Realização da Coleta de Dados
7.3.1 Caracterização da instituição e dos sujeitos da pesquisa
O Departamento de Fonoaudiologia da Faculdade de Odontologia de
Bauru da Universidade de São Paulo–FOB-USP foi criado em 1990 com o objetivo
de formar profissionais habilitados a trabalhar e a realizar investigações científicas
no contexto da comunicação e reabilitação humana. Conta atualmente com vinte e
dois docentes/pesquisadores, tendo formado doze turmas em nível de graduação
até o ano de 2004.
A definição dos sujeitos para o propósito desta pesquisa recaiu
sobre os docentes/pesquisadores do Departamento de Fonoaudiologia da FOB-
121
USP. A preocupação da FOB-USP em formar profissionais habilitados a lidar com a
comunicação humana, prevenindo, diagnosticando, habilitando e reabilitando
distúrbios da fala, linguagem, voz e audição, a atualização constante dos
pesquisadores torna-se fundamental para que esses propósitos sejam atingidos.
Nesse ambiente, as buscas em bases de dados, para subsidiar as pesquisas da
área, é tarefa rotineira.
7.3.2 Seleção dos sujeitos da pesquisa
A seleção dos sujeitos para a realização desta pesquisa resultou na
escolha de quatro docentes/pesquisadores do Departamento de Fonoaudiologia da
FOB-USP, representativos das quatro áreas temáticas da Fonoaudiologia:
Linguagem, Voz, Motricidade Oral e Audiologia, especialidades reconhecidas pelo
Conselho Federal de Fonoaudiologia, por meio da Resolução CFFa n
o
269, de 3 de
março de 2001 (CONSELHO FEDERAL DE FONOAUDIOLOGIA, 2005c).
Foram selecionados os docentes que realizam buscas bibliográficas
com maior freqüência na biblioteca da FOB-USP, no Sistema de Informação LILACS
utilizando a linguagem documentária DeCS, têm número expressivo de orientandos
em nível de iniciação científica e também pela significativa produção científica
pertinente às suas áreas de pesquisa.
O contato com os docentes/pesquisadores foi feito pessoalmente,
nos dias 25 e 31 de janeiro de 2005, para os quais foram apresentados a proposta
desta pesquisa e o convite para participarem como sujeitos da coleta de dados.
Verificou-se se os sujeitos tinham conhecimento da operacionalização do Sistema
LILACS, bem como se sabiam utilizar a linguagem DeCS, tendo sido solicitado aos
122
mesmos que realizassem uma pesquisa no sistema pelo campo descritor de assunto
sobre um tema de sua área de atuação. Após a verificação do desempenho da
atividade, realizou-se um breve treinamento para a resolução de dúvidas sobre a
pesquisa bibliográfica pelo sistema LILACS no campo descritor de assunto.
O conteúdo do treinamento constou da operacionalização do
Sistema LILACS
39
, bem como do Vocabulário Controlado DeCS por meio de
demonstrações e orientações de uso dos mesmos; apresentação da linguagem
documentária DeCS disponível via internet no site da BIREME - http://decs.bvs.br/
para conhecimento da terminologia existente na área de Fonoaudiologia;
explicação sobre os operadores booleanos utilizados na pesquisa e adotados pelo
Sistema: AND
, OR, AND NOT; ênfase na importância da utilização de descritores
de assuntos para a recuperação da informação em uma base de dados, expondo
a diferença entre esse procedimento e a recuperação por palavras (texto livre).
7.3.3 Procedimentos que antecederam à aplicação da técnica do protocolo
verbal
conversa com os sujeitos: foi realizada uma conversa informal com cada um
dos participantes, separadamente, para reafirmar e esclarecer os objetivos
desta pesquisa; informando também sobre o anonimato dos participantes, de
forma a garantir a idoneidade dos dados coletados;
familiarização dos sujeitos com a técnica do protocolo verbal: antes da
aplicação, foi feita a familiarização com a técnica, utilizando-se um texto
informal contendo instruções de procedimentos auxiliares para uma boa
39
Nesta pesquisa foi utilizado somente o campo de descritor de assuntos disponível na Base de
Dados LILACS
123
participação na avaliação (Anexo A);
definição da atividade realizada: pesquisas no Sistema de Informação
LILACS, pelo campo de descritor de assunto, utilizando-se a linguagem
documentária DeCS para a recuperação da informação;
definição do assunto pesquisado: as pesquisas realizadas no Sistema
LILACS foram determinadas pelos próprios sujeitos participantes e
pertinentes às suas áreas/especialidades de atuação, isto é: Linguagem,
Voz, Motricidade Oral e Audiologia. Os temas pesquisados foram:
Sujeito 1: O Processamento visual na dislexia
Sujeito 2: Voz profissional
Sujeito 3: Eletromiografia do músculo orbicular da boca
Sujeito 4: A habilitação e a reabilitação da criança deficiente
auditiva implantada
7.3.4 Procedimentos durante a aplicação da técnica do protocolo verbal
Gravação: para a realização da atividade de busca bibliográfica foi
relembrado aos sujeitos que, durante a pesquisa, era necessário se “Pensar
Alto”, exteriorizando seus pensamentos, expondo suas opiniões e
comentários sobre a busca e, conseqüentemente, sobre a linguagem
documentária. A presença da observadora/pesquisadora deveria ser
desconsiderada; inicialmente, a função da mesma é apenas estimular o
“Pensar Alto” e operar o gravador. A intervenção da
observadora/pesquisadora dar-se-ia no momento em que esta considerasse
124
mais apropriado e/ou quando solicitada pelos sujeitos. A partir de então, foi
iniciada a gravação para a coleta de dados.
7.3.5 Procedimentos após a aplicação da técnica do protocolo verbal
Entrevista retrospectiva, se necessária: foi realizada individualmente pela
observadora, logo após a aplicação da técnica, para esclarecer, junto aos
sujeitos, alguns pontos que não ficaram bem definidos durante a entrevista.
As transcrições literais das gravações/dos dados coletados foram
realizadas pela observadora ressaltando o entendimento dos sujeitos/participantes
sobre a pesquisa realizada, suas dúvidas, termos utilizados, equívocos e sugestões.
7.3.6 Local e infra-estrutura da realização da coleta de dados
A coleta de dados foi realizada no próprio ambiente de trabalho dos
sujeitos. conforme especificado no Quadro 4.
125
LOCAL DIA HORÁRIO
EQUIPAMENTOS
UTILIZADOS
SUJEITO 1
Sala 9 da
Coordenação da
Clínica de
Fonoaudiologia da
FOB-USP
31/1/2005
Início: 10h15min
Término: 10h40min
Duração: 25 min
Microcomputador
com processador
Pentium 2, Monitor
de 14 polegadas –
marca Daewoo
Browser utilizado:
Internet Explorer –
versão 6.0
SUJEITO 2
ala 25 – Estúdio
Laboratório de Voz
da Clínica de
Fonoaudiologia da
FOB-USP
2/2/2005
Início: 10h15min
Término: 10h50min
Duração: 35 min
Microcomputador
com processador
Pentium 4, Monitor
de 15 polegadas –
marca LG.
Browser utilizado:
Internet Explorer –
versão 6.0
SUJEITO 3
Sala da Secretaria
do Departamento
de Fonoaudiologia
da FOB-USP
2/2/2005
Início: 14h45min
Término: 15h20min
Duração: 35 min
Microcomputador
com processador
Pentium 4, Monitor
de 15 polegadas –
marca Sansung.
Browser utilizado:
Internet Explorer –
versão 6.0
SUJEITO 4
Sala de Audiologia
do Departamento
de Fonoaudiologia
da FOB-USP
3/2/2005
Início: 9h15min
Término: 9h40min
25 min
Microcomputador
com processador
Pentium 4, Monitor
de 15 polegadas –
marca LG.
Browser utilizado:
Internet Explorer –
versão 6.0
QUADRO 4 - Demonstrativo do local e da infra-estrutura da realização da coleta de dados
Fonte: Elaborado pela autora.
126
7.4 Apresentação dos Dados: transcrição literal do protocolo verbal
As transcrições foram feitas literalmente pela observadora,
respeitando o comportamento, as palavras proferidas e as entonações dos
sujeitos durante as gravações (Apêndices N-Q). Para tanto, foram realizadas
notações específicas
39
dentro do texto para uma melhor compreensão das
situações, conforme apresentadas abaixo:
((S)) sujeito
((IOP)) intervenção da observadora/pesquisadora
((T)) tranqüilidade
((FI)) fala em tom irônico
((FR)) fala rindo
40
((FA)) frustração
((FAa)) frustração: abaixa os ombros
((FAe)) frustração: ergue as sobrancelhas
((Faf)) frustração: fecha os olhos
((SA)) satisfação
((PSc)) parcialmente satisfeita: cruza as pernas
((PSd)) parcialmente satisfeita: descruza as pernas
((INS)) insatisfação
((SU)) surpresa: eleva o tom de voz
((AD)) admiração
((IR) irritação
39
As notações foram elaboradas pela pesquisadora com base nas notações utilizadas por
CAVALCANTI, 1989, p. 11.
40
((FR)) Fala Rindo - Notação original utilizada pela referida autora.
127
((IRc)) irritação: coça a testa
((IRa)) irritação: aperta as mãos
((ID)) indignação
((IDg)) indignação: gesticula com as mãos e levanta o braço
direito
((IDs)) indignação: suspira
((FA/ID)) frustração e indignação: aperta as mãos
((SU/IDe)) surpresa e indignação: eleva o tom de voz
((SU/IDfa)) surpresa e indignação: fecha e abre os olhos
((SU/IDf)) surpresa e indignação: franze a testa
((IR/ID)) irritação e indignação: gesticula com as mãos
(->->->) acelera o ritmo da leitura do resumo
((DD)) NEGRITO MAIÚSCULO descritores digitados/
pesquisados
((DD)) NEGRITO MAIÚSCULO SUBLINHADO – descritores
digitados/pesquisados e de relevância para o sujeito
((DR)) MAIÚSCULO - descritor recuperado
MAIÚSCULO SUBLINHADO
– descritores de relevância para o
sujeito
Os dados coletados com a aplicação da técnica do protocolo verbal,
com os quatro sujeitos, foram analisados, sendo os resultados apresentados e
discutidos no capítulo Resultados para a definição de indicadores de qualidade para
o aprimoramento da linguagem documentária DeCS.
128
8 RESULTADOS PARA A DEFINIÇÃO DE INDICADORES DE QUALIDADE PARA
O APRIMORAMENTO DA LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA DeCS
Neste capítulo, é apresentada a análise dos resultados coletados
das pesquisas bibliográficas realizadas pelos sujeitos participantes deste estudo com
o intuito de que sejam definidos indicadores de qualidade que nortearão esta
contribuição para o aprimoramento da linguagem documentária DeCS.
Para tanto, foram utilizados os resultados provenientes da aplicação
do protocolo verbal, dos formulários das ações dos sujeitos e das entrevistas
retrospectivas, o que proporcionou um valioso conjunto de informações que
conduziu-nos à uma análise reflexiva sobre os resultados apresentados e, também,
sobre como a linguagem DeCS apresenta-se na atualidade para a indexação e
recuperação de informações na área de Fonoaudiologia.
A nossa experiência profissional de mais de vinte anos, trabalhando
por grande parte desse tempo com a linguagem documentária DeCS na indexação
de documentos produzidos pela comunidade científica da área de Ciências da
Saúde e na intermediação e/ou orientação de pesquisas bibliográficas
solicitadas/realizadas pelos usuários/pesquisadores na Base de Dados LILACS,
tornou-nos também uma pesquisadora experiente com a aquisição constante de
novos conhecimentos sobre a referida linguagem, proporcionando-nos subsídios
valiosos para a análise dos resultados obtidos nesta coleta de dados.
Dessa forma, como metodologia para a apresentação da análise,
numeramos os assuntos pesquisados pelos sujeitos em turnos
, seqüencialmente.
129
8.1 Sujeito 1 - Turnos 1 a 8 (Quadro 5)
Tema pesquisado
: O Processamento visual na dislexia
Especialidade
: Linguagem
Início
:10h15 min
Término
: 10h40 min
Duração
: 25 min
Descritor
Pesquisado
Recuperado
Turno
Tempo
Descritor
Pesquisador
SIM NÃO
Comportamento
Itens
Recuperados
10h15min
INÍCIO
1
10h16min
Dislexia
(Realizou
pesquisa)
X
Surpresa (eleva
o tom de voz)
63
2
10h17min
Processamento
Vsual
X Surpresa ---
3
10h19min Memória Visual X Frustração ---
4
10h21min
Processamento
Auditivo
X Surpresa ---
5
10h23min
Processamento
Fonológico
X Frustração
6
10h27min
Distúrbio
Específico de
Leitura
X
Frustração e
Indignação
(aperta as mãos)
----
7
10h32min
Distúrbio da
Aprendizagem
X
Frustração
(fecha os olhos)
---
8
10h37min
Dislexia de
Desenvolvimento
(Realizou
pesquisa
X
Surpresa e
Indignação
(franze a testa)
63
10h40min
TÉRMINO
QUADRO 5 – Demonstrativo das ações durante a pesquisa realizada pelo Sujeito 1
Fonte: Elaborado pela autora.
Turno 1 - Dislexia
Inicialmente o sujeito determinou como primeira palavra significativa
de seu tema o assunto Dislexia
. Posteriormente, digitou-o utilizando o campo
descritor de assunto do formulário avançado da Base de Dados LILACS.
A
minha pesquisa é “O Processamento visual na dislexia”. É um assunto
bastante novo, né! e acredito que tenha poucos artigos, poucas pesquisas
130
nessa área, mas é uma área que está começando a ser estudada e então
eu quero ver o que tem. ((DD)) DISLEXIA [...].
O descritor Dislexia foi encontrado na linguagem documentária DeCS e adicionado
ao formulário de pesquisa. O sujeito ficou surpreso com o resultado, mas continuou a buscar no
índice da base de dados os assuntos-chave para a construção de sua estratégia de busca.
Turno 2 - Processamento visual
O assunto Processamento Visual
causou-lhe surpresa por não
constar no índice de assunto e, conseqüentemente, na linguagem documentária,
após a realização da busca.
[...] ((DD)) PROCESSAMENTO VISUAL. Eu esperava encontrar alguma
coisa de PROCESSAMENTO VISUAL, é um termo muito utilizado na minha
área e fiquei surpresa de não ter [...].
Turno 3 - Memória Visual
Em seguida, decidiu buscar o assunto Memória Visual
em
substituição ao assunto Processamento Visual com a intenção de cruzar (com a
utilização do operador booleano AND) com o descritor Dislexia e realizar a pesquisa.
O referido assunto também não foi encontrado. Apenas localizou os descritores
Memória a Curto Prazo e Memória Imediata, que não condiziam com o tema a ser
pesquisado.
[...] Agora vou tentar outro termo, vou ver se tem alguma coisa sobre
memória visual. ((DD)) MEMÓRIA VISUAL. ((DR)) MEMÓRIA A CURTO
PRAZO, MEMÓRIA IMEDIATA. ((FA)) Não tem nada de memória visual [...]
Turmo 4 - Processamento Auditivo
Em seguida, passou a pesquisar a respeito do assunto
Processamento Auditivo
, digitando-o e buscando-o no índice de assunto (linguagem
131
DeCS) da base de dados com a intenção de cruzá-lo com o descritor Dislexia e
realizar a sua pesquisa.
[...] Então, eu vou cruzar processamento auditivo com dislexia só para ver o
que é que tem. ((DD)) PROCESSAMENTO AUDITIVO.
((IR)) Nenhum
termo encontrado. ((SU)) Incrível! Mas é um termo muito utilizado [...]
Turno 5 - Processamento Fonológico
Tentou pela busca do assunto Processamento Fonológico
para
novamente realizar sua estratégia de busca: Dislexia AND Processamento
Fonológico e tentar, assim, encontrar algum registro sobre “O processamento visual
na dislexia”.
[ ...] Então vou digitar ((DD)) PROCESSAMENTO FONOLÓGICO e cruzar a
dislexia com o processamento fonológico e acredito que vou achar. ((FA))
Não encontrei nada [...]
Nesse momento, o sujeito mostrou-se irritado por não haver
encontrado, também, o assunto desejado. Dessa maneira, decidiu pesquisar
somente pelo descritor Dislexia já encontrado, selecionado no índice e adicionado
no formulário de pesquisa anteriormente. Como resultado, recuperou 63 registros, o
que lhe causou surpresa.
[... ] Então vou realizar a pesquisa somente com o termo dislexia e vou ver
o que encontro dentro sobre o processamento visual. ((SU)) Dislexia, 63?
((IOP)) O resultado foi satisfatório, 63? ((S)) Olha, eu esperava mais; 63 na
área de dislexia é pouco [...] .
Embora afirmasse que o resultado encontrado de 63 registros fosse
pouco, deve-se ter em conta que a pesquisa foi realizada considerando os
documentos indexados. O sujeito tem em mente toda a literatura que conhece a
respeito do assunto e esquece por um momento, ou desconhece, que a Base de
132
Dados utilizada tem critérios de seleção
41
para a indexação de periódicos, livros,
capítulos de livros e outros materiais.
Todavia, em estudo realizado por Fontes; Boccato et al. (2005)
sobre a produção científica de 77 docentes/pesquisadores brasileiros da área de
Fonoaudiologia vinculados aos oito Programas de Pós-graduação credenciados pela
CAPES, verificou-se que a produção distribuiu-se em 266 títulos de periódicos
nacionais e internacionais, sendo da década de 1990 em diante, o período de maior
concentração de publicações.
Para atender aos propósitos desta pesquisa, observou-se que desse
conjunto de 266 títulos, 171 eram periódicos latino-americanos, dos quais 45 títulos
são indexados na base de dados LILACS.
Verificou que a representatividade dos periódicos em Fonoaudiologia
e áreas afins, na base LILACS, é bastante significativa, considerando-se que a base
indexa um total de 670 títulos que abrangem toda a área de Ciências da Saúde. A
produção científica desses docentes/pesquisadores concentra-se basicamente em
quatro títulos que estão incluídos nos 45 títulos de periódicos latino-americanos da
área de Fonoaudiologia e afins, indexados na base de dados LILACS.
Portanto, verifica-se que a recuperação insatisfatória de informações
no Sistema LILACS é atribuída à inadequação da linguagem DeCS na
Fonoaudiologia e não, necessariamente, por não ter literatura científica indexada
representativa da produção científica da área.
Em seguida, o sujeito verificou cada registro procedendo à leitura,
em silêncio, dos resumos apresentados.
1
BIREME
-
CENTRO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE DE INFORMAÇÃO EM CIÊNCIAS DA
SAÚDE. Guia de seleção de documentos. Disponível em:
<http://www.bireme.br/abd/P/componentes.htm
>. Acesso em: 13 mar. 2005.
133
[...] Agora eu vou dar uma olhada se, dentro de dislexia, tem alguma coisa
que fala de processamento visual. ((SU)) Hummm... emocional? Ah! Isso
aqui é PROCESSAMENTO AUDITIVO
: memória, localização, reflexo...,
seqüência..., são formas de processamento auditivo que a gente não acha,
percepção auditiva, então a gente tem que ir no todo para ver o específico
e isso dá uma mão-de-obra danada ((IR)), pois a gente tem que ficar
observando um por um para achar o que quer. Olha, esse texto é sobre o
processamento visual. (IOP))! Então você tem que pesquisar no geral para
encontrar o termo no texto? ((S)) Isso, no geral para chegar no específico e
mesmo assim 63 para dislexia eu acho ainda que é muito pouco [...] .
Se memória, localização, reflexo, seqüência, percepção auditiva são
formas de Processamento Auditivo, então, verifica-se que os assuntos procurados
pelo sujeito são termos genéricos em relação àquilo que a base de dados
disponibiliza.
Dentro desse contexto, numa estrutura de tesauros, ter-se-iam como
relações lógicas as superordenações e as subordinações dos termos, isto é, os
Termos Genéricos ou Termos Gerais (BT - Broader Term) e os Termos Específicos
(NT - Narrower Term), respectivamente. Dessa maneira, ao se procurar termos
específicos como Percepção Auditiva, ter-se-ia a indicação do termo genérico
Processamento Auditivo e o inverso ocorreria também.
Observa-se que a linguagem documentária DeCS apresenta sérios
problemas terminológicos. Pelo fato de o Vocabulário ser uma tradução de uma
linguagem documentária de língua inglesa, proveniente dos Estados Unidos (MeSH),
a área de Fonoaudiologia apresenta estrutura diferente da brasileira. Nesse sentido,
o Vocabulário DeCS possui inconsistência nas suas relações lógico-semânticas; os
descritores, muitas vezes, não são suficientes, não estão corretamente
representados e o relacionamento entre eles não é logicamente correto. Assim, um
termo da área da Fonoaudiologia brasileira não tem sua representação na área da
134
Fonoaudiologia norte-americana e, assim, não pertence ao Vocabulário DeCS,
exemplificado pelo termo Motricidade Oral, entre outros.
Isso leva a refletir que a estrutura do Vocabulário DeCS torna-se
deficiente, não possibilitando ao usuário/pesquisador uma recuperação de
informação rápida e satisfatória.
Nesse caso, o sujeito sentiu-se na obrigação de utilizar um
descritor mais abrangente como a Dislexia e, a partir dos resultados oferecidos pela
base de dados, procurar por meio da leitura dos títulos e dos resumos algum
documento pertinente a Processamento Visual, o que não deve ser considerado um
procedimento adequado para uma base de dados que atua com uma linguagem
controlada de recuperação.
Um outro aspecto que nos chamou a atenção foi a qualidade da
indexação.
No procedimento da leitura dos resumos, o sujeito deparou-se com
registros que não eram pertinentes ao assunto Dislexia e realizou o seguinte
comentário:
[...] O que é isso? A Fonoaudiologia e suas relaçöes com a odontopediatria.
O que tem a ver a Fonoaudiologia com a odontopediatria nesse resultado
de pesquisa? Odontopediatria só entraria se fosse com fala e articulação.
Com linguagem e audição não tem nada a ver. Gagueira, então, nem se
fale.
. ((IOP)) Isso você atribui a um problema ocorrido no momento da
indexação? ((S)) Sem dúvida. Esse, afasia, então, não tem nada a ver,
gozado, né? [...] .
Nesse caso, observou-se que o problema não está apenas na
linguagem do sistema, mas também em equívoco na identificação e seleção de
conceitos. Assim muitas vezes, torna-se necessário ao indexador recorrer a
pesquisas/revisões de literatura a respeito do assunto tratado no documento para a
135
melhor compreensão e, conseqüentemente, a realização de uma análise
documentária compatível com o assunto tratado no documento. Também deve-se
considerar a variável linguagem, isto é, mesmo com a identificação e a seleção dos
conceitos realizadas adequadamente, muitas vezes não consegue representá-los
satisfatoriamente com a linguagem documentária utilizada pelo Sistema de
Iinformação e que dispõe para tal.
Dessa maneira, a ocorrência de silêncio e de ruído no momento da
recuperação da informação é inevitável.
Turno 6 - Distúrbio Específico de Leitura
Nesse momento, o sujeito optou por pesquisar no índice da base de
dados o assunto Distúrbio Específico de Leitura
por este ser um termo mais atual em
relação ao assunto Dislexia, utilizada pelos especialistas e encontrado na literatura
de Fonoaudiologia.
[... ] Bem, eu vou colocar outra coisa, pois hoje em dia já está se usando o
termo distúrbio específico de leitura. Eu usei dislexia pois é o termo mais
genérico, mais comum; será que eu acharia alguma coisa? Vou ver se eu
acho distúrbio específico de leitura que é um termo mais atual. ((DD))
DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LEITURA
. ((FA/ID)) Agora eu fiquei curiosa
para ver. ((ID)) Não achou é nada. É um termo muito importante da minha
área que também, muitas vezes, tem profissionais que colocam dentro de
distúrbios da aprendizagem, vou ver se eu acho [...].
Essa situação indica a necessidade de atualização dos descritores
constantes da linguagem DeCS. Como se verifica nessa declaração, a linguagem
oferece o descritor Dislexia, mas não o descritor atualmente empregado na área,
Distúrbio Específico de Leitura. Talvez fosse necessário realizar um levantamento na
terminologia utilizada na área de Fonoaudiologia e fazer uma comparação com os
136
termos que a linguagem oferece para uma atualização em relação à realidade
científica da área.
A ciência é progressiva e dinâmica e desse modo a terminologia
utilizada pelas diversas áreas do conhecimento acompanha essa evolução.
Exemplificando essa situação Hage (2000), em sua tese de
doutorado, apresenta a evolução que o termo Afasia Desenvolvimental sofreu nos
últimos 50 anos no acompanhamento do desenvolvimento etiológico, patológico e
terapêutico que ocorreu nessa patologia. Assim, encontram-se referências à Afasia
Desenvolvimental, Afasia Evolutiva, Afasia Congênita, Disfasia, Distúrbio Específico
de Linguagem, Distúrbio do Desenvolvimento da Linguagem e atualmente Distúrbio
Específico do Desenvolvimento da linguagem significando todos esses termos, a
mesma entidade nosológica.
Consultando o DeCS, verifica-se que ele adota o termo Afasia como
descritor primário e os termos Disfasia e Afasia Adquirida como não-descritores).
Nota-se aqui que o termo Disfasia é um não-descritor de Afasia e não dos termos
Afasia Desenvolvimental ou de suas variáveis terminológicas mais atuais como foi
exposto pela autora.
Além disso, o termo Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem
(Language Development Disorders) também aparece como um descritor primário,
sendo esse considerado também um não-descritor do termo Distúrbio Específico do
Desenvolvimento da Linguagem. Ressalta-se que a área de Fonoaudiologia nacional
e internacional faz uma distinção conceitual significativa entre as palavras Atraso
e
Distúrbio, sendo que os termos Atraso da Linguagem e Atraso da Fala não
poderiam estar vigorando como não-descritores.
137
Um outro fator importante é a tradução do termo Disorder, em Inglês
para os termos Distúrbio e Transtorno, em Português. Os estudos terminológicos
realizados e disponíveis na literatura científica nacional e internacional e em outras
fontes e recursos informacionais, consideram que a tradução correta para o termo
Disorder, na língua portuguesa, depende do grau de severidade da patologia - que
pode ser um Distúrbio ou um Transtorno -.
O termo Disorder , portanto, pode expressar o conceito de Distúrbio
ou o conceito de Transtorno. Na língua portuguesa , Distúrbio refere-se ao [...] “mau
funcionamento de um órgão, ou de uma função orgânica, doença [...]” e Transtorno
diz respeito “[...] a uma leve pertubação orgânica [...]”. (HOUAISS; VILLAR;
FRANCO, 2003, p. 1062, 2754).
Dessa maneira, não se pode deixar de considerar que o DeCS é
uma linguagem documentária traduzida para os idiomas Português e Espanhol de
uma linguagem documentária em língua inglesa e, sendo assim, acredita-se que
muitos descritores constantes no MeSH são simplesmente traduzidos, não havendo
uma pesquisa prévia sobre se essa tradução representa realmente a terminologia e
o conceito utilizado pela comunidade científica brasileira, e conseqüentemente, de
uma adequação para a terminologia empregada na área de Fonoaudiologia.
Por outro lado, faz-se necessário, na atualidade, que a área de
Fonoaudiologia possua uma padronização em sua terminologia, tendo em vista uma
representatividade mais efetiva na ciência brasileira.
Turmo 7 - Distúrbios da Aprendizagem
Nesse momento, o sujeito faz uma consideração sobre se o assunto
138
Distúrbio Específico de Leitura pode ser também utilizado como Distúrbio da
Aprendizagem por muitos pesquisadores e decide-se por procurá-lo no índice.
Posteriormente, volta a buscar o assunto Dislexia no índice para verificar se havia
mais algum assunto relacionado ao seu tema de pesquisa.
[... ] ((DD)) DISTÚRBIOS DA APRENDIZAGEM. Eu acredito que vou achar
mais, pois ele é mais abrangente. ((FAf)) Não acredito! Eu achava que
fosse encontrar, não acredito! Não tem condições? Eu não acho nada nem
no geral e nem no específico. Vou chamar novamente o termo ((DD))
DISLEXIA. ((DR)) dislexia, dislexia adquirida, dislexia de desenvolvimento.
A dislexia não é adquirida; a dislexia é congênita. Então, o termo certo é
dislexia congênita.. Vou pesquisar sobre a dislexia em desenvolvimento
para ver o que é que eu encontro. Estou perdida e vou ficar mais perdida.
((IOP)) É porque os resultados não estão sendo satisfatórios? ((S)) É, não
estão não [...]
O sujeito colocou muita expectativa na busca do assunto Distúrbio
da Aprendizagem, o que ocasionou uma grande frustração a ponto de fechar os
olhos e dizer ”[...] eu não acredito! [...]. não tem condições [...]” .
Por ser um termo mais abrangente, genérico, o sujeito pensou que
fosse encontrá-lo, o que não aconteceu. Isso leva a acreditar que a quantidade de
termos disponíveis na linguagem não é suficiente para atender às necessidades de
recuperação de informações do usuário/pesquisador.
Por outro lado, as considerações realizadas sobre a diferença dos
significados existentes, na língua portuguesa, entre os termos Distúrbio e
Transtorno, apresentados no Turno 6, é reforçada aqui quando o sujeito busca pelo
termo Distúrbio da Aprendizagem e o DeCS o apresenta como Transtornos de
Aprendizagem.
139
Portanto, há uma diferença conceitual entre esses dois termos
utilizados um, pela comunidade científica brasileira e o outro, pela comunidade
científica norte-americana.
Quando retorna a busca sobre o assunto Dislexia, o sujeito recupera
Dislexia, Dislexia Adquirida, Dislexia de Desenvolvimento, fazendo um comentário
que nos chamou bastante a atenção. Ele diz que o descritor Dislexia Adquirida não
está correto pois ela não é adquirida e, sim, congênita.
Dessa forma, recorreu-se à definição proposta pelo Medical Subject
Headings acerca do termo Dislexia Adquirida (Dyslexia, Acquired):
A receptive visual aphasia characterized by the loss of a previously
possessed ability to comprehend the meaning or significance of
handwritten words, despite intact vision. This condition may be
associated with posterior cerebral artery infarction ( INFARCTION,
POSTERIOR CEREBRAL ARTERY) and other BRAIN DISEASES.
(UNITED STATES NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE, 2005).
Essa definição foi comparada com a apresentada pelo DeCS -
Descritores em Ciências da Saúde para a verificação da tradução realizada:
Afasia visual receptiva caracterizada pela perda de uma habilidade
possuída previamente
, em compreender o significado ou
significância de palavras escritas a mão, apesar de a visão estar
intacta. Esta condição pode estar associada com infarto arterial
cerebral (INFARTO DA ARTÉRIA CEREBRAL POSTERIOR) e
outras DOENÇAS CEREBRAIS. (BIREME, 2005).
Pela definição de Dislexia Adquirida encontrada no MeSH e
traduzida corretamente no DeCS, observa-se que ambos colocam a palavra
previously/previamente
no sentido de que esse tipo de dislexia ocorre após ter
acontecido alguma lesão cerebral e que, anteriormente, a habilidade de
140
compreensão de palavras ou frases escritas pelo indivíduo era uma ocorrência
normal.
Pode-se atribuir a esse conceito de Dislexia Adquirida o fato de a
própria United States National Library of Medicine ter considerado como descritor
uma terminologia utilizada por determinada corrente internacional científica e que,
muitas vezes, não condiz com a linha adotada por numerosos cientistas brasileiros
da área de Fonoaudiologia.
Mesmo assim, ao se pesquisar na literatura brasileira, encontrou-
se uma definição de Dislexia como sendo apenas congênita:
Definida como um distúrbio ou transtorno de aprendizagem na área
da leitura, escrita e soletração, a dislexia é o distúrbio de maior
incidência nas salas de aula. [...]. Ao contrário do que muitos
pensam, a dislexia não é o resultado de má-alfabetização,
desatenção, desmotivação, condição sócioeconômica ou baixa
inteligência. Ela é uma condição hereditária com alterações
genéticas, apresentando ainda alterações no padrão neurológico.
(ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE DISLEXIA, 2005)
Dessa maneira, acredita-se que realmente a terminologia utilizada
pelo MeSH e, conseqüentemente pelo DeCS, retrata as correntes de pesquisas
desenvolvidas pelos cientistas norte-americanos e consolidadas pela comunidade
científica internacional.
Turno 8 - Dislexia de Desenvolvimento
Por último, o sujeito fez pesquisa sobre o assunto Dislexia de
Desenvolvimento.
[... ] ((DD)) DISLEXIA DE DESENVOLVIMENTO. ((S)) ((SU/IDf) Olha, deu o
mesmo resultado de pesquisa da dislexia, 63. Deixe-me ver. Ah! São os
mesmos textos que estavam na dislexia mas, nem todos esses textos tratam
141
dos dois assuntos. [ ...] Bem, creio que temos vários problemas com os
termos e com o uso indevido deles, tudo bem? ((IOP)) Ok.
Nesse caso, depara-se novamente com a questão da indexação. O
sujeito fala que os mesmos 63 registros encontrados sob o descritor Dislexia
também foram recuperados utilizando-se o descritor Dislexia de Desenvolvimento e
que os dois assuntos não são pertinentes a todos os 63 registros.
Assim, pode-se atribuir, novamente, a esse problema um equívoco
ocorrido no momento da realização da análise documentária, isto é, quando da
realização da leitura documentária ou da representação dos conceitos por meio da
utilização da linguagem DeCS pelos profissionais responsáveis pela indexação na
Bases de Dados LILACS. A mesma situação ocorreu quando o sujeito recuperou
alguns registros sob o descritor Dislexia que eram pertinentes.
8.2 Sujeito 2 - Turnos 9 a 19 (Quadro 6)
Tema pesquisado
: Voz Profissional
Especialidade: Voz
Início
: 10h15 min
Término
: 10h40 min
Duração
: 25 min
142
Descritor
Pesquisado
Recuperado
Turno Tempo
Descritor
Pesquisado
SIM NÃO
Comportamento
Itens
Recuperados
10h15min
INÍCIO
10h17min Voz Profissional X Frustação ---
9
10h19min Voz X Tranqüilidade ---
10
10h21min Profissão X Frustração ---
10h23min Professor X Irritação e
Indignação
(gesticula com
as mãos)
---
10h26min Docente X Frustração ----
10h27min Realizou pesquisa
Voz AND Docentes
Insatisfação 5
11
10h30min Docência X Surpresa (eleva
o tom de voz)
---
10h33min Jornalismo X Insatisfação ---
12
10h34min Realizou pesquisa
Voz AND Jornalismo
Insatisfação ---
13
10h36min Jornalista X Irritação (coça a
testa)
---
14
10h38min Advogado X Irritação (aperta
as mãos)
15
10h40min Cantor X Surpresa e
Indignação
(eleva o tom de
voz)
---
16
10h44min Ator X Fala em tom
irônico
----
17
10h46min Teatro X Surpresa (eleva
o tom de voz)
---
18
10h47min Avaliação Vocal X Indignação
19
10h49min Qualidade da
Voz
X Indignação
(suspira)
13
10h50min
TÉRMINO
QUADRO 6 – Demonstrativo das ações durante a pesquisa realizada pelo Sujeito 2
Fonte: Elaborado pela autora.
Turno 9 - Voz Profissional
Ao iniciar a sua pesquisa sobre “Voz Profissional” o sujeito procura
no índice de assunto o termo Voz. Assim, são recuperados Voz, Distúrbios da Voz,
Qualidade da Voz, Treinamento da Voz, Voz Alaríngea e Voz Esofágica. Nesse
caso, a busca foi realizada pelo termo genérico, não tendo sido recuperado o termo
específico desejado, o que ocasionou uma frustração no sujeito.
Vamos pesquisar sobre “Voz Profissional” ((DD)) VOZ PROFISSIONAL.
Dentro de voz eu tenho somente as opções: ((DR)) VOZ, DISTÚRBIOS DA
143
VOZ, QUALIDADE DA VOZ, TREINAMENTO DA VOZ, VOZ ALARÍNGEA E
VOZ ESOFÁGICA. Para voz profissional, voz alaríngea e voz esofágica não
são pertinentes. Então eu teria quatro opções: voz, distúrbios da voz,
qualidade da voz e treinamento da voz. ((FA)) Eu gostaria que tivesse a VOZ
PROFISSIONAL, pois dentro da Fonoaudiologia a voz profissional já é um
termo muito usado, específico e nenhum desses quatro termos se relacionam
diretamente à Voz Profissional [...].
Realizada uma busca bibliográfica na Base de Dados MEDLINE
42
por palavras livres utilizando a estratégia de busca Professional [Title/Abstract] AND
Voice [Title/Abstract], foram recuperados 335 registros que continham o termo Voz
Profissional (Professional Voice) nos títulos e resumos dos respectivos documentos.
Com isso, verificou-se que esse termo é utilizado na literatura científica nacional e,
principalmente, internacional e reúne todas condições para ser considerado um
descritor no MeSH, traduzido para o português e espanhol e ingressado no DeCS.
Isso foi muito bem colocado pelo sujeito quando assim se expressa:
[...] Eu gostaria que tivesse a VOZ PROFISSIONAL, pois dentro da
Fonoaudiologia a voz profissional já é um termo muito usado, específico
[...].
Em seguida, o sujeito teceu comentários a respeito dos outros
descritores disponíveis, ressaltando que dentro de sua necessidade de pesquisa não
seriam pertinentes (Voz, Distúrbios da Voz, Qualidade da Voz, Treinamento da Voz,
Voz Alaríngea e Voz Esofágica). Dentro dessa realidade apresentada, o sujeito
selecionou o termo Voz e o adicionou no formulário de pesquisa.
42
UNITED STATES NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE. PubMed. Disponível em:
http://www.pubmed.gov
>.Acesso em: 13 mar. 2005.
144
Turno 10 - Profissão
Uma vez que o descritor Voz Profissional não foi encontrado na
linguagem documentária DeCS, o sujeito prosseguiu na busca digitando o termo
Profissão. Dentro dessa linha de raciocínio, o sujeito pretendia encontrar o referido
termo, cruzar com o descritor Voz e estabelecer como estratégia de pesquisa Voz
AND Profissão. Com os registros recuperados, ele supôs que encontraria registros
de trabalhos que contivessem a voz como profissão: voz do professor, cantor,
jornalista, entre outros. Porém, sua hipótese foi frustrante.
[...] Então, deveria ter ((DD)) PROFISSÃO na próxima palavra a ser
pesquisada. Em profissão tenho apenas ((DR)) ESCOLHA DA PROFISSÃO
E ORGANIZAÇÕES DE CONTROLE DA PROFISSÃO. ((FA)) Nenhuma
delas é diretamente relacionada ao estudo de voz profissional então eu não
vou usar nenhuma delas [...].
Realmente, pelo fato de a linguagem não oferecer o termo específico
Voz Profissional, a possibilidade foi a realização de uma estratégia de busca com os
termos Voz e Profissão, relacionando-os com o operador booleano AND para a
recuperação de informações sobre o assunto desejado - Voz AND Profissão -. Com
a adoção dessa estratégia e, se o resultado obtido fosse satisfatório, o sujeito
evitaria a procura de todas as profissões que utilizam a voz como instrumento de
trabalho.
Assim, nesse momento, verificou-se a real necessidade da
ampliação da categoria de Fonoaudiologia e de suas especialidades, pois essa
deficiência com relação à quantidade de termos disponíveis compromete
efetivamente a qualidade dos registros indexados e recuperados.
145
O sujeito aparenta uma frustração e realmente fica bastante
indeciso, sem saber como continuar a sua pesquisa.
[...] Fico bastante em dúvida sobre como continuar essas pesquisa porque
se o meu estudo é sobre voz profissional como um todo, eu deveria ter uma
palavra que abrangesse essa situação profissional e aqui no descritor eu
não encontrei. Então, eu teria que partir para procurar cada uma das
profissões que fazem uso profissional da voz
, ammm, como instrumento
mesmo de trabalho [...].
Turno 11 - Professor
O sujeito não teve outra opção a não ser procurar individualmente no
índice os termos que representassem cada profissão e que utilizavam a voz
profissional como instrumento de trabalho.
O sujeito digita o termo Professor
e, nesse instante, fica irritado e
indignado com o resultado da busca. Gesticula com as mãos mostrando a sua
insatisfação por não haver recuperado o termo procurado.
[...] Eu vou começar com a profissão geralmente ammm que faz uso da voz
de maneira constante, que tem uma grande chance de ter um número
grande de trabalhos, então seria a profissão de ((DD)) PROFESSOR.
((IR/ID)) Nenhum termo encontrado no índice então, não existe a palavra
professor [...].
O sujeito então resolveu procurar o referido termo digitando um
similar, isto é, o termo Docente.
[... ] Eu vou colocar ((DD)) DOCENTE, embora pelo o que eu me lembre
dos estudos que eu já li no Brasil sobre voz profissional relacionado
especificamente ao professor é usado muito o termo PROFESSOR
e não
docente, então se não foi usado o descritor docente eu não vou encontrar
nenhum dos estudos, mas....... vamos ver, em docente tem. ((DR))
DOCENTE, CORPO DOCENTE, DOCENTE DE ENFERMAGEM,
DOCENTES DE VÁRIAS OUTRAS ÁREAS, DOCENTES NO PLURAL,
HOSPITAIS DOCENTES, DOCENTES DE FARMÁCIA, ou seja, de todas
146
elas a única palavra é docente ou corpo docente. Eu vou colocar docentes,
e então, fazer a pesquisa pelas palavras voz e docentes [...] .
Na verificação de como foi definido o descritor Docentes (Faculty)
no MeSH que fosse comparado com a tradução apresentada pelo DeCS,
encontrou-se: “The teaching staff and members of the administrative staff having
academic rank in an educational institution.” (UNITED STATES NATIONAL
LIBRARY OF MEDICINE, 2005).
Comparando com o DeCS, o descritor Docentes é definido como
“Professores e membros do corpo administrativo com grau acadêmico em
instituição superior de ensino”. (BIREME, 2005).
Quanto à tradução do termo Docentes, do idioma inglês para o
português, não houve dúvidas quanto à sua fidelidade.
Entretanto, consultando um dicionário da língua inglesa,
encontramos a palavra Teacher: professor; professora e a palavra Faculty com
as seguintes definições: 1) faculdade: no sentido de poder de fazer, capacidade,
habilidade, talento, aptidão; 2) faculdade universitária: grupos de cientistas
professados em Universidades; corpo catedrático dessas ciências 3) categoria
profissional. (MICHAELIS, 1998, p.131, 337).
Por outro lado, também verificou-se num dicionário da língua
portuguesa onde encontramos a palavra Docente como sendo: 1) Que ensina; 2)
Respeitante a professores; 3) Professor [...]. Nesse mesmo dicionário, a palavra
Professor é definido como: 1) Aquele que professa ou ensina uma ciência, uma
arte, uma técnica, uma disciplina; mestre: professor universitário; professor de
ginástica [...]. Continuando, verificamos também a palavra Mestre: 1) Homem que
147
ensina; professor; 2) Aquele que é perito ou versado numa ciência ou arte [...].
(FERREIRA, 2004, p. 696, 1636, 1318).
Dessa maneira, concluiu-se que o descritor Faculty utilizado pelo
MeSH e traduzido como Docentes no DeCS corresponde a professores do ensino
superior. Quanto ao termo Teacher/Professor, este é atribuído a professores do
ensino fundamental e médio.
Nos dicionários da língua portuguesa não existe essa distinção
explícita embora, na maioria das vezes, quando se refere aos ministrantes do ensino
superior, não só é utilizado o termo Professor mas também o termo Docente ou
Mestre. Já no ensino fundamental e médio, os termos Docente e Mestre não são
comumente utilizados.
Nesse sentido, o MeSH e, conseqüentemente o DeCS, contemplam
o descritor Docentes no sentido de ministrante do ensino superior e, dessa forma,
não contempla o termo Professor como um não-descritor. Isso não reflete a
realidade terminológica brasileira. O sujeito tinha em mente o termo Professor como
profissional que utiliza a voz em todos os níveis de ensino, procurando
posteriormente o termo Docente, não pelo fato de significar ministrante do ensino
superior, mas considerando esse termo como sinônimo do termo professor.
Aqui verificou-se não exatamente um problema de tradução, mas de
conceituação em relação à língua portuguesa.
Em seguida, o sujeito selecionou o descritor Docentes no índice e
adicionou-o ao formulário avançado realizando a pesquisa Voz AND Docentes,
ficando insatisfeito com o resultado obtido de 5 registros.
A partir desse momento, o sujeito prosseguiu com a leitura dos
resumos disponíveis nos registros expressando comentários a respeito.
148
[...] ((INS)) Vieram cinco artigos, um artigo de 2003 não, esse daqui é uma
tese da Regina Penteado de 2003, um artigo da Maria Helena Grillo da
Pró-Fono de 2000, você vê, de 2003 foi para 2000 e, com certeza, tem
muitos trabalhos em voz profissional relacionados especificamente com a
voz do docente, a voz do professor que não apareceram aqui e que eu
conheço. Tem um artigo meu, tem um outro artigo da Regina Penteado de
1999 e uma tese de Rosário, Estudo exploratório sobre a concordância
entre o diagnóstico fonoaudiológico e o diagnóstico otorrinolaringológico.
[...]
É pertinente sim, não é um dos tipos mais comuns de trabalhos na
área de Fonoaudiologia, mas é pertinente. Os outros todos são bastante
direcionados. ((IOP)) Esses termos foram satisfatórios para a sua
pesquisa? ((S)) Não, sabendo que existe um número grande de
pesquisas que envolvem o professor e fazendo a pesquisa pelos termos
que o DeCS me forneceu, eu encontrei apenas cinco. Com certeza, esses
termos não foram suficientes para apresentar todas as pesquisas
relacionadas ao assunto. Com certeza, não. Eles são muito insuficientes
[...].
Por essas declarações, verificou-se que a base de dados não possui
um critério para a apresentação de seus registros, por exemplo, em ordem
decrescente de dados como o faz a base de dados MEDLINE.
Um outro ponto a observar é que novamente o sujeito chama a
atenção para o fato de muitos trabalhos publicados sobre o tema pesquisado não
estarem indexados na base de dados LILACS.
Como já apresentado na análise do sujeito 1 (Turno 5), essa
situação pode ser atribuída ao fato de a LILACS ser uma base de dados seletiva e,
assim, nem todos os documentos são indexados por não atenderem aos critérios
definidos pela base. Outro fator que também se deve considerar é a inadequação da
indexação.
149
Como o sujeito considerou que os termos encontrados para
representar o assunto Voz Profissional foram insuficientes, um outro termo foi
procurado dentro do assunto professor, docente: o termo docência.
[...] E tem algum outro termo que possa substituir os utilizados? ((S)) Para
voz profissional enquanto o professor, docente, eu não consigo pensar em
outros termos. Deixa-me ver se existe ((DD)) DOCÊNCIA. ((SU)) Nenhum
termo encontrado no índice, então, era docentes mesmo. Então, pensando
em voz do professor eu não tenho outro recurso, usando os descritores,
para conseguir, em ter acesso a um número grande de artigos que eu sei
que existem sobre o tema [...].
Novamente a linguagem não correspondeu às expectativas do
sujeito, causando-lhe admiração pelo resultado negativo.
Turno 12 - Jornalismo
Continuando a busca por termos que retratassem a sua necessidade
de pesquisa, o sujeito decidiu procurar um novo termo que representasse uma outra
profissão.
Assim, procedeu à digitação do termo Jornalismo
no índice de
assunto. Dentro dos termos recuperados, optou pelo que mais se aproximava da sua
necessidade, o termo Jornalismo. Em seguida, selecionou o termo no índice e
adicionou-o ao formulário de pesquisa estabelecendo como estratégia de busca Voz
AND Jornalismo. A sua insatisfação estava visível, pois o resultado recuperado não
foi o esperado; encontrou somente 1 registro referente a um artigo de periódico.
[...] Aí eu teria um trabalho muito grande de buscar em voz profissional
todas as outras profissões. Eu tenho que saber quais são as outras
profissões que irão aparecer aqui e então vou cruzar, por exemplo, com
jornalismo ou jornalista. ((DD)) JORNALISMO. ((DR)) JORNALISMO,
JORNALISMO EM ODONTOLOGIA, JORNALISMO MÉDICO. ((INS)) Bem,
150
desses termos eu vou optar pelo termo jornalismo, cruzar voz e jornalismo e
ver o que me aparece. ((INS)) Um, um artigo de 2002. Pouquíssimo perto
do que existe. Então, essa palavra também não forneceu o que eu
precisava [...].
Turno 13 - Jornalista
Como o descritor Jornalismo não correspondeu à necessidade de
busca do sujeito, ele decidiu procurar pelo termo Jornalista
.
[...] então, vou tentar ((DD)) JORNALISTA, como uma outra opção.
((IRc)) Não existe, então não dá para buscar artigos sobre voz
profissional em relação ao jornalismo. Então, também dentro de uma
outra sub-área profissional, que é a voz do jornalista, eu encontrei
apenas um artigo.
O referido termo também não foi recuperado, tendo o sujeito tomado
a decisão de pesquisar uma outra profissão.
Turno 14 - Advogado
Com a digitação do termo Advogado
os resultados não foram muito
diferentes. Diante de um resultado não satisfatório, o sujeito ficou muito irritado e
começou a apertar as mãos.
[...] Vou fazer uma nova pesquisa com uma outra profissão que é ((DD))
ADVOGADO. Eu sei que existe um artigo da Pró-Fono sobre a voz do
advogado. ((IRa)) Não existe. Então esse artigo sobre a voz profissional do
advogado não apareceu. Se houvesse um descritor VOZ PROFISSIONAL
,
com certeza todos esses trabalhos que eu estou buscando iriam usar esse
descritor que é muito importante e específico para essa área de estudo da
voz e facilitaria muito a localização dos trabalhos que eu quero [...].
Como bem colocado pelo sujeito, seria difícil a linguagem DeCS
contemplar todas os termos que se referissem às profissões e, especificamente,
151
àquelas que utilizam a voz como instrumento de trabalho. Nesse caso, o uso de um
termo geral como Voz Profissional seria muito importante correspondendo, assim,
aos anseios do usuário/pesquisador, bem como do próprio indexador. Dessa
maneira, haveria um único termo, termo esse sobre o qual já foi verificada a sua
utilização na literatura nacional e internacional (incluindo a norte-americana) que
representasse todas essas profissões.
Turno 15 - Cantor
A busca pelo termo Cantor
também causou surpresa e indignação
ao sujeito, tendo até elevado o seu tom de voz pelo fato de não tê-lo encontrado.
[...] Cantor, ((DD)) CANTOR, deve ter. ((SU/IDe)) Não existe esse termo. Eu
não sei mais o que colocar além de cantor para buscar a voz profissional.
Dentro do estudo de voz profissional, voz do professor e voz do cantor são
os mais freqüentes estudos fonoaudiológicos, depois, voz do jornalista [...].
O sujeito mostrou-se muito indignado com a situação de pesquisa, a
ponto de não mais saber que termos procurar para recuperar algum
registro/documento sobre a sua temática.
Por outro lado, quando o sujeito expõe o seguinte:
“[...] Existe inclusive um livro elaborado por um profissional de áudio que
relaciona inúmeros trabalhos em voz profissional que não aparecem aqui
porque os descritores que estou usando não estão sendo suficientes para
localizá-los [...].
Isso pode ser atribuído não só ao fato de a linguagem não possuir
termos suficientes que correspondam a uma recuperação da informação satisfatória
na área de Fonoaudiologia, dentro da especialidade de Voz, mas também porque os
Centros Cooperantes, ao indexarem os seus documentos, seguem a política de
indexação determinada pela BIREME.
152
Desse modo, pode-se considerar que o livro, ao qual o sujeito se
refere em suas declarações, ou não faz parte do acervo de nenhum Centro
Cooperante ou faz parte e, mesmo assim, não atendeu aos critérios estabelecidos
pelo Guia de seleção de documentos elaborado pela BIREME
. É importante lembrar
que a base de dados LILACS só indexa trabalhos produzidos e publicados na
América Latina e Caribe a partir de 1982 e, muitas vezes o usuário/pesquisador se
esquece desse fato.
Turno 16 - Ator
Pelo fato de o próprio sujeito admitir que os descritores empregados
até o momento não estavam sendo suficientes para recuperar registros pertinentes à
sua pesquisa, ele resolveu pesquisar uma outra profissão, a de Ator
.
[...] Vou tentar ((DD)) ATOR. ((FI)) Não existe, existe ((DR)) Miocárdio
atordoado e Atordoamento miocárdio. Como já disse, não existe [...].
Mais uma vez o termo não foi encontrado no índice de assunto. O
sujeito até expressa um comentário em tom irônico: “((FR)) Isso ficou até engraçado
[...]”.
Turno 17- Teatro
O sujeito continua tentando elaborar a sua estratégia de busca,
agora combinando os descritores Voz AND Teatro. Digita o termo Teatro
para
localizá-lo no índice de assunto. Infelizmente, essa tentativa também não redundou
em sucesso. A reação de surpresa expressa pelo sujeito foi imediata.
[...] Vou tentar ((DD)) TEATRO. ((SU)) Não existe. Então, eu não consigo
um artigo sobre voz do ator, voz profissional relacionado ao ator usando
esses descritores [...].
153
Como o Vocabulário DeCS é uma linguagem documentária relativa à
área de Ciências da Saúde e, assim, compreendendo a área de Fonoaudiologia, os
descritores como jornalista, advogado, cantor, ator, teatro pertinentes à área de
Ciências Humanas ficam realmente sem representação na referida linguagem. Com
isso, a multidisciplinariedade que a área possui fica muito comprometida.
Portanto, uma vez que o DeCS não faz referência ao termo Voz
Profissional, a tentativa do sujeito em elaborar uma estratégia de busca que
contenha os termos Voz e, especificamente, cada profissão é muito pertinente.
A expansão da terminologia fonoaudiológica no Vocabulário DeCS
se faz necessária, tendo em vista a dificuldade do sujeito em realizar uma busca
bibliográfica utilizando o campo descritor de assunto e a linguagem DeCS.
Turno 18 - Avaliação vocal
Realizando agora a pesquisa pelo termo Avaliação Vocal
, o sujeito
também não obteve sucesso mostrando-se muito indignado com a situação, pelo
fato de sua expectativa ter sido grande no sentido de encontrar algum registro sobre
o assunto.
[...] Se eu colocar ((DD)) AVALIAÇÃO VOCAL, então, vamos pensar em
Avaliação de voz profissional. Eu acredito que terá bastante trabalhos para
eu selecionar. ((ID)) Não tem nem avaliação vocal aqui; se eu quiser
qualquer trabalho, que tem inúmeros que envolvem avaliação da voz, não
tem. Porque aqui tem ((DR)) voz, distúrbios da voz, qualidade da voz,
treinamento da voz e para a maioria dos trabalhos que tem que usar a
avaliação da voz, não existe esse termo AVALIAÇÃO DA VOZ [...].
Se se pensasse em efetuar uma pesquisa sobre Avaliação Vocal,
não haveria muitas possibilidades de realizá-la. Não estando disponível o referido
termo na linguagem, poder-se-ia cogitar a possibilidade de trabalhar com os termos
154
Voz AND Avaliação. Verificando a linguagem documentária DeCS disponível na BVS
da BIREME, constatou-se que o termo Avaliação também não existe. Foram
encontrados os descritores Avaliação da Deficiência, Avaliação de Medicamentos,
Avaliação Pré-clínica de Medicamentos e Avaliação Educacional. Nesse sentido, as
reações de irritação e indignação do sujeito, entre outras, são bem compreensíveis.
Turno 19 - Qualidade da voz
Nesse momento da pesquisa, o sujeito optou por procurar algum
registro que tratasse da qualidade da voz dos profissionais. Assim, buscou pelo
termo Qualidade da Voz
no índice de assunto, realizando a pesquisa.
[...] Então vamos pensar em uma outra alternativa de alguém que estudou a
qualidade da voz dos profissionais, ((DD)) QUALIDADE DA VOZ. ((IDs)) Eu
tenho treze, aí eu tenho que ler um por um, que também é pouco, pois
existe muito mais do que isso que envolve a qualidade da voz [...].
Como resultado, o sujeito encontrou 13 registros que também
classificou como insuficientes, alegando existir muito mais publicado sobre isso em
relação ao que foi recuperado.
O sujeito teceu vários comentários a respeito do resultado,
recuperado mas, o que mais nos chamou a atenção foi que, dentre esses 13
registros, 5 eram sobre Voz Profissional incluindo um trabalho do próprio sujeito que
traz o referido termo como parte integrante do título. Isso comprova que o termo é
realmente utilizado na área de Fonoaudiologia e que se faz necessária sua
incorporação na linguagem DeCS.
Como estratégia de busca, o sujeito precisou utilizar o descritor
Qualidade da Voz para recuperar alguns trabalhos a respeito da Voz Profissional
155
por meio da leitura e seleção dos títulos dos documentos e resumos. Ele só queria
pesquisar sobre Voz Profissional no geral e não Voz de uma profissão específica.
O sujeito comentou, ainda, que se fosse realizar uma pesquisa sobre
o tema Voz Profissional somente utilizando a Base de Dados LILACS como fonte de
informação, pelo campo descritor de assunto, a sua investigação seria muito pobre e
ineficaz.
O seu estado emocional também foi de indignação diante da
situação, a ponto de suspirar e finalizar a pesquisa.
Fez-se, então, uma comparação sobre os resultados que o sujeito
obteve utilizando diversos descritores para pesquisar sobre o tema “Voz Profissional”
pelo campo descritor de assunto e realizou-se a pesquisa utilizando o campo
palavras no formulário avançado: Voz AND Profissional.
Nesse caso, a necessidade da utilização do operador booleano AND
para a realização da intersecção entre os termos deve-se ao fato de o Sistema,
dessa maneira, recuperar todos os registros que contenham essas duas “palavras”
num mesmo documento. Caso a busca fosse realizada utilizando apenas o termo
Voz Profissional – sem a intersecção do operador AND – o Sistema recuperaria
todos os registros que continham a palavra Voz, independentemente se os mesmos
fossem sobre a voz profissional. Dessa forma, o sistema faz a “leitura” apenas pela
primeira palavra e não pelo conjunto de termos. Assim, poder-se-ia recuperar
registros tanto sobre Voz
Profissional como, por exemplo, também sobre Voz Aguda,
Voz Grave, entre outros.
Quanto ao resultado, esse foi surpreendente, pois foram
recuperados 26 registros, sendo que 12 eram realmente pertinentes ao tema. Isso
significa que obteve-se praticamente uma precisão de 50%, tendo sido encontrados
156
entre estes trabalhos específicos sobre voz profissional do advogado, cantor,
professor, entre outros, que o sujeito anteriormente não havia recuperado conforme
referências a seguir:
Duarte, Magda Denise; Pastrelo, Adriane Cristina; Campiotto, Alcione Ramos. O
atendimento terapêutico a cantores na Santa Casa de Säo Paulo. Acta
AWHO;15(4):197-204, out.-dez. 1996.
Ruiz, Daniela M. Cury Ferreira; Tsuji, Silvana Aparecida Cotarelli Nantes; Faccio,
Cristiane Braga; Romanini, Jaquelini da Silveira; Ghedini, Simone Gomes.
Ocorrência de queixas vocais em advogados, juízes e promotores
. Pró-fono;
9(1):27-30, mar. 1997.
Scalco, Miriam Antunes Gonçalves; Pimentel, Rosane Mosmann; Pilz, Walmari. A
saúde vocal do professor: levantamento junto a escolas particulares de Porto
Alegre. Pró-fono, 8(2):25-30, set. 1996.
Silva, Marta Assumpçäo de Andrada e. Voz profissional
: novas perspectivas
de atuação. Distúrb. comun
;10(2):177-92, jun. 1999.
Simöes, Marcia. O profissional de educaçäo física e o uso da voz
: uma
contribuiçäo da Fonoaudiologia. Rev. bras. ativ. fis. saude
;5(1):-80, 2000.
Tudo isso leva-se a considerar a necessidade urgente de uma
revisão na área de Fonoaudiologia da linguagem documentária DeCS sendo que, a
busca pelo campo palavras (palavras do texto) mostrou ser mais eficiente do que a
busca por descritores de assuntos por meio da linguagem documentária DeCS.
Observou-se, também, que muitos desses trabalhos foram indexados sob o descritor
Distúrbios da Voz e nem todos os registros tratam especificamente dessa disfunção.
Quando se perguntou, na entrevista retrospectiva, sobre os termos
disponibilizados pelo DeCS serem satisfatórios para representarem a especialidade
de Voz quanto à quantidade e atualização, por exemplo, o sujeito ressaltou,
primeiramente, a questão da insuficiência da quantidade de termos representativos
da especialidade de Voz. Justificou a sua afirmação pelo fato de que, de dez anos
157
para cá, a pesquisa científica na especialidade de Voz tem se intensificado bastante
e, sendo assim, com o crescimento terminológico, estes deveriam fazer parte da
linguagem DeCS para a sua contínua atualização.
Um ponto muito importante foi o fato de o sujeito destacar a
possibilidade da pesquisa pelo campo palavras ter mais eficiência do que pelo
campo de descritor de assunto, pois novamente enfatizou que os descritores
disponíveis não são satisfatórios para a realização de pesquisas bibliográficas na
especialidade de Voz.
[...] Poderia fazer um teste, não colocar em descritor de assunto e colocar
em palavras e com certeza eu encontraria muitos outros artigos que eu
não recuperei. Então, os descritores de assuntos não atendem a minha
necessidade na área de voz.
8.3 Sujeito 3 – Turno 20 a 30 (Quadro 7)
Tema pesquisado
: Eletromiografia do músculo orbicular da boca
Especialidade
: Motricidade Oral
Início
: 14h45 min
Término: 15h20 min
Duração
: 35 min
158
Descritor
Pesquisado
Recuperado
Turno Tempo
Descritor
Pesquisador
SIM NÃO
Comportamento
Itens
Recuperados
14h45min
INÍCIO
20
14h46min Eletromiografia X Satisfação ---
21
14h47min Funções Orais X
Frustração
(abaixa os
ombros)
---
14h48min Boca X Insatisfação ---
22
14h50min
Realizou pesquisa
Eletromiografia AND Boca
Insatisfação 2
23
14h52min
Músculo da
Boca
X Frustação ---
24
14h54min
Orbicular da
Boca
X Insatisfação ---
Lábio X Insatisfação ---
25
14h55min
Realizou pesquisa
Eletromiografia AND Lábio
Parcialmente
satisfeita (cruza
as pernas)
3
14h57min Respiração X Tranqüilidade ---
26
14h58min
Realizou pesquisa
Eletromiografia AND Respiração
Tranqüilidade 3
15h01min
Respiração
Bucal
X Tranqüilidade ---
15h04min
Realizou pesquisa
Eletromiografia AND Respiração
Bucal
Parcialmente
satisfeita
(descruza as
pernas)
6
27
15h07min Respiração Oral X
Surpresa (eleva
o tom de voz)
----
28
15h09min
Fissura
Labiopalatina
X Irritação ---
29
15h12min Fala X Insatisfação ---
15h13min Anquilose X Insatisfação ---
15h15min Disfagia X
Indignação
(gesticula com
as mãos e
levanta o braço
direito
---
30
15h16min
Transtornos de
Deglutição
X Insatisfação ---
15h20min
TÉRMINO
QUADRO 7– Demonstrativo das ações durante a pesquisa realizada pelo Sujeito 3
Fonte: Elaborado pela autora.
Turno 20 - Eletromiografia
O sujeito estava aparentemente muito tranqüilo e à vontade para a
realização de sua pesquisa. Inicialmente selecionou como palavra significativa de
seu tema o assunto Eletromiografia
. Na seqüência, procedeu à busca do mesmo no
159
índice de assunto e adicionou-o ao formulário avançado após tê-lo encontrado com
muita satisfação.
((S)) O assunto que nós vamos procurar é “Eletromiografia do músculo
orbicular da boca”. Entrando em ((DD)) ((SA)) ELETROMIOGRAFIA ele
tem como descritor [...].
Turno 21 - Funções Orais
Dando continuidade à pesquisa, o sujeito buscou no índice de
assunto o termo Funções Orais, considerando-o muito importante dentro da
especialidade de Motricidade Oral, conseqüentemente, da Fonoaudiologia. O
resultado foi negativo, causando-lhe frustração e abaixando os seus ombros como
manifestação de desânimo.
[...[ o outro assunto que vamos colocar, vamos tentar ((DD)) FUNÇÕES
ORAIS que dentro da motricidade oral é uma área que nós usamos
bastante. ((FAa)) Não foi encontrado [...].
Uma vez que o próprio sujeito destacou a importância do termo
Funções Orais dentro da especialidade de Motricidade Oral, foi verificado na base de
dados MEDLINE o referido termo e constatou-se que o seu uso é bastante freqüente
na literatura nacional e internacional (Oral Functional).
Assim, considerou-se que seria necessário a inclusão deste na
linguagem DeCS.
Turno 22 - Boca
O próximo termo a ser pesquisado pelo sujeito foi Boca, mas
considerou, pelos resultados obtidos, que nenhum dos descritores recuperados se
adequaram à sua temática.
160
O sujeito partiu para a busca de um descritor genérico no índice de
assunto a fim de localizar um mais específico que fosse pertinente à sua pesquisa. A
sua insatisfação foi explícita no momento em que não conseguiu selecionar nenhum
descritor de interesse. Então, decidiu-se pela estratégia de busca Eletromiografia
AND Boca realizando a pesquisa, que não foi satisfatória, com a
recuperação de 2
registros.
[...] então, vamos tentar ((DD)) BOCA e cruzar com Eletromiografia
que possivelmente tenha bastante. ((INS)) Ah! tem dois e nenhum é adequado [...].
Turno 23 - Músculo da Boca
O termo Músculo da Boca
também foi pesquisado pelo sujeito, não
obtendo sucesso novamente.
[...] Vamos tentar fazer outra, Vamos tentar ((DD)) MÚSCULO DA BOCA
((FA)) que também não tem [...].
Observou-se que, até o momento, todos os termos procurados no
índice de assunto (linguagem documentária DeCS) não foram recuperados pelo fato
de a especialidade de Motricidade Oral não ter sido desenvolvida dentro da área
Fonoaudiologia tanto pelo MeSH como pelo DeCS. Na realidade, a Fonoaudiologia
não é uma área própria dentro da linguagem e, sim, um descritor pertencente à área
SP – Saúde Pública tendo os seus termos subordinados inseridos em diversas
outras áreas hierárquicas do DeCS.
Também constatou-se que o próprio termo Motricidade Oral, uma
das especialidades da Fonoaudiologia, também não é um descritor constante do
DeCS, mas existem muitos estudos nessa área dentro da literatura internacional que
empregam essa terminologia (Oral Motricity).
161
Isso deve-se ao fato de a estrutura terminológica da área de
Fonoaudiologia norte-americana ser diferente da brasileira, conforme demonstrado
no capítulo 5, por meio das Figuras 5-6.
Turno 24 - Orbicular da Boca
Uma outra busca realizada pelo sujeito foi pelo nome do músculo.
Assim, procedeu à digitação do termo Orbicular da Boca
no índice de assunto.
[...] Que mais que a gente pode procurar.... O nome do músculo ((DD))
ORBICULAR DA BOCA
((INS)) que também não tem. Todos esses termos
são corretos segundo o Comitê de Motricidade Oral [...].
Segundo o sujeito, e verificando o próprio site da Sociedade
Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) que mantém diversos Comitês de Estudos das
especialidades da área, o Comitê de Motricidade Oral está realizando um trabalho
de compatibilização de terminologias adotadas na literatura nacional, internacional e
pelo próprio especialista para, a partir de então, a especialidade de Motricidade Oral
passar a ser portadora de uma linguagem única no desenvolvimento de suas
pesquisas, publicações e apresentações em eventos, entre outras finalidades. No
final desse trabalho, o Comitê também tem a intenção de entregá-lo à BIREME para
uma avaliação, e assim propor uma atualização dos termos dessa especialidade no
Vocabulário DeCS. (SOCIEDADE BRASILEIRA DE FONOAUDIOLOGIA, 2005).
Atualmente, tanto o Medical Subject Headings (MeSH) quanto o
DeCS – Descritores em Ciências da Saúde são os vocabulários adotados para a
normalização das palavras-chave (key-words) da grande maioria dos periódicos
nacionais e internacionais e dessa maneira, as suas atualizações são extremamente
necessárias.
162
Turno 25 - Lábio
Prosseguindo, o sujeito decide procurar o termo Lábio
para ver se,
dentro desse termo, encontraria algum mais específico que atendesse à sua
necessidade de pesquisa. A partir de então, selecionou o termo Lábio e realizou a
sua estratégia de busca com os descritores Eletromiografia AND Lábio. O resultado
de 3 registros deixou-o parcialmente satisfeito
.
[...] Ammmmm ((DD)) LÁBIO. ((DR)) ((INS)) LÁBIO, LÁBIO LEPORINO que
é um termo muito leigo que ao me ver nem deveria estar aqui, FRÊNULO
DO LÁBIO, bem então a gente quer lábio, adicionar e aí vamos fazer a
pesquisa e encontramos. ((IOP)) Foi satisfatório esse resultado? ((S))
((PSc)) Sim, agora talvez comoooo, por isso que a Sociedade Brasileira de
Fono está tentando normatizar isso para os profissionais porque,
eventualmente podem ter outros termos que não estão aqui que aparecem
e que a gente desconhece e então para todos que estão fazendo este
estudo, utilizar os mesmos termos para conseguir encontrar as palavras
que a gente quer. ((IOP)) Então, existiram outros termos que significariam a
mesma coisa ((S)) a mesma coisa ((IOP)) que possivelmente seriam até
mais adequados do que esses que você utilizou? ((S)) Eventualmente sim.
Por exemplo, se nós colocarmos funções orais, eu pegaria esse músculo
não especificamente na respiração mas pegaria esse músculo em todas as
suas outras funções: tensão, respiração, mastigação, deglutição, repouso,
pausa e ficaria mais abrangente e assim eu não tenho que colocar
respiração, mastigação, deglutição [...].
O que se observou, nesse momento, foi a reiteração que o sujeito
fez em relação ao que já havia sido exposto pelos sujeitos anteriores, ou seja, a
necessidade de a linguagem DeCS aprimorar as suas relações lógico-semânticas
tanto em nível da superordenação dos termos (exemplificado nesta passagem da
declaração pelo termo Funções Orais) quanto em nível da subordinação. As
relações associativas estão, por muitas vezes, presentes juntamente com os termos
163
superordenados ou subordinados, mas a relação entre a superordenação e a
subordinação nem sempre é satisfatória.
Por outro lado, o sujeito ratifica o trabalho que está sendo
desenvolvido pelo Comitê de Motricidade Oral da SBFa já apresentado por nós
anteriormente.
O sujeito alerta para uma questão muito importante quando à
necessidade das atualizações constantes dos termos, enfatizando que os utilizados
em sua pesquisa não são necessariamente os mais atuais disponíveis e que existem
outros termos bem mais adequados que poderiam estar representados na
linguagem.
Turno 26 - Respiração
Nesse momento, o sujeito passa a pesquisar o termo Respiração
para verificar o que poderia ser encontrado pertinente à sua pesquisa. Realiza a
busca no índice de assunto, seleciona-o e adiciona-o ao formulário. A pesquisa,
então, é realizada com os descritores Eletromiografia AND Respiração, obtendo um
resultado de 3 registros.
[...] Veja, vamos colocar ((DD)) RESPIRAÇÃO aqui e vamos ver se aparece
alguma coisa. Aparece a ((DR)) ((T)) RESPIRAÇÃO BUCAL e a
RESPIRAÇÃO. Agora eu não sei o que está dentro de respiração e o que
está dentro de respiração bucal. De repente, o mesmo artigo pode estar
aqui e aqui e o que eu quero está aqui mas, eu teria que entrar aqui
também para achar esse outro. ((T)) Veja, com respiração estão
aparecendo mais artigos ligados do que aqueles que eu fiz com lábio;
estão aparecendo mais artigos [...].
Pelas considerações efetuadas pelo sujeito, acerca do resultado
obtido, há necessidade de realizar, também, a pesquisa utilizando o descritor
164
Respiração Bucal. A dúvida foi manifestada pelo fato de existir a possibilidade dos
mesmos registros estarem indexados com os dois
descritores: Respiração e Respiração
Bucal, o que não seria pertinente. Porém, deve-se ressaltar que essa situação já foi vivenciada e
relatada pelos sujeitos anteriores.
O que também chamou a atenção do sujeito foi o fato de ter
recuperado mais registros pertinentes ao tema com a utilização do descritor
Respiração do que em relação ao descritor Lábio. Quanto a isso, ele ressaltou o
problema da qualidade de indexação apresentada pela base de dados.
Turno 27 - Respiração Bucal e Respiração Oral
Conforme exposto anteriormente, o sujeito sentiu a necessidade de
realizar a pesquisa, da mesma forma, pelo descritor Respiração Bucal
e assim o fez.
Elaborou a estratégia de busca Eletromiografia AND Respiração Bucal e obteve
como resultado 6 registros, mostrando-se parcialmente satisfeito.
[...] Agora vamos tentar com aquele outro descritor lá que é que a gente
procurou ((DD)) RESPIRAÇÃO BUCAL, né. ((T)) Ele tem também mas, já
vieram outros artigos. Então, o que estava em respiraçãoooo, esse aqui
deveria estar lá e não está. O que gasta tempo da gente, dessa forma, é
que nós temos que deduzir várias palavras que podem estar: respiração,
respiração bucal, músculo da boca, ehhhhhhh para a gente chegar a uma
pesquisa e em vários artigos, vão se repetir nos resultados. ((PSd)) Veja,
nesse só um não se repete. ((IOP)) Esse termo respiração bucal está
correto, satisfaz? ((S)) Segundo o Comitê de Motricidade Oral da Sociedade
Brasileira de Fono, o termo correto é respiração oral e aqui a gente não vai
encontrar. Vamos digitar ((DD))
RESPIRAÇÃO ORAL e eu acho que não vai
aparecer. ((SU)) Não tem, que é o termo correto, viu? [...].
Pelas declarações do sujeito, os mesmos registros que foram
indexados sob o descritor Respiração também o foram com o descritor Respiração
165
Bucal, com exceção de um que deveria ter sido localizado sob o descritor
Respiração e isso não aconteceu.
Novamente, aqui depara-se com o problema da indexação já
discutida pelos sujeitos anteriores e também já abordada, salientando o fato de a
análise documentária não ter sido realizada a contento pelos profissionais
indexadores no momento da leitura documentária e/ou da representação dos
conceitos - devido a linguagem disponibilizada pelo Sistema de Iinformação não
possuir termos adequados para uma correta representação -.
Um outro aspecto, também já abordado e discutido anteriormente
pelos sujeitos e por nós, foi a questão da terminologia existente no Vocabulário não
estar de acordo com a utilizada na área do especialista, isto é, a Fonoaudiologia.
Na área de Ciências da Saúde Brasileira, a palavra Oral no idioma
inglês acarreta diversas controvérsias entre os especialistas quanto à tradução
correta para a língua portuguesa ser Bucal ou Oral. Dependendo da corrente
investigativa que o pesquisador adota, ele utiliza Respiração Oral
ou Respiração
Bucal.
Deve-se, também, considerar que o Comitê de Motricidade Oral da
SBFa realizou uma pesquisa exaustiva sobre essa temática, adotando como
tradução oficial e utilizada pela área de Fonoaudiologia, a palavra Oral e não Bucal.
Turno 28 - Fissura Labiopalatina
Dentro da abordagem das terminologias estarem compatíveis com
as utilizadas pelos especialistas da área de Fonoaudiologia, o sujeito também
referiu-se ao termo Fissura Labiopalatina
.
166
Questionou a necessidade de que fossem realizadas duas
pesquisas quando, por exemplo, a temática a ser pesquisada se referisse a um
portador das duas patologias: fissura labial e fissura palatina.
O Vocabulário DeCS não oferece o termo em conjunto, mas
somente em separado. Porém, dentro da literatura científica nacional e internacional,
o termo Fissura Labiopalatina (Cleft Lip and Palate) é muito utilizado pelos
pesquisadores.
Ressalta-se, que na linguagem DeCS são utilizados os termos
Fenda Labial, (Cleft Lip) e não Fissura Labial como normalmente encontramos na
literatura, e Fissura Palatina (Cleft Palate).
A questão abordada pelo sujeito quanto ao descritor Lábio Leporino
ser um termo muito leigo e que não deveria constar no DeCS, é justificado pelo fato
de este ser um não-descritor e que encontrado por vezes na literatura, é passível de
ser pesquisado por um usuário. Também, na língua espanhola, o termo Cleft Lip é
traduzido por Lábio Leporino.
Turno 29 - Fala
Durante a entrevista retrospectiva realizada com todos os sujeitos,
este em especial destacou alguns problemas encontrados em descritores
específicos.
No caso do descritor Fala
, o sujeito questionou a definição
apresentada pelo DeCS como não sendo uma definição muito científica, e sim,
particularmente popular.
[...] Vamos ver..... ((DD)) FALA. ((INS)) Ah! Definição de fala: Comunicação
através de um sistema convencional de símbolos vocais; ah! Eu acho que
tem outros termos que poderiam fornecer uma definição mais
complementar; linguagem como sai da boca; isso é uma forma muito leiga,
né? Não é uma forma científica de redação; comportamento verbal da
maneira como sai; fonética dos sons da fala. Isso é segundo a definição da
167
ASHA
43
. Então eu acho que isso é uma coisa que precisa ser organizada
[...].
Verificada a definição apresentada pelo MeSH, constatou-se que a
tradução elaborada pela BIREME e apresentada pelo DeCS está correspondente.
“Communication through a system of conventional vocal symbols”.
(UNITED STATES NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE, 2005)
“Comunicação através de um sistema convencional de símbolos vocais”
(BIREME, 2005)
O que o sujeito coloca como não sendo uma definição muito
científica, e sim disponível na linguagem popular, são as notas de indexação que o
DeCS apresenta para orientar o indexador sobre o uso correto dos descritores.
Como indexadora, considero que essas notas, algumas vezes, não contribuem para
o êxito de uma indexação, bem como a elaboração de suas redações serem um
pouca confusas.
Nota de indexação português = linguagem como sai da boca;
COMPORTAMENTO VERBAL é a maneira como sai; FONÉTICA
são os sons da FALA; veja também AMERICAN SPEECH-
LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION” . (BIREME, 2005).
Turno 30 - Anquilose e Disfagia e Transtornos de Deglutição
Aqui, também, há o questionamento do sujeito quanto aos termos
que estão disponíveis no DeCS não representarem não só e exatamente o que
expressam. O sujeito mostrou-se bastante insatisfeito e indignado com o que
encontrou.
43
AMERICAN SPEECH-LANGUAGE-HEARING ASSOCIATION - ASHA. Disponível em:
<http://www.asha.org/default.htm#navigation>. Acesso em: 14 mar. 2005.
168
Sobre o termo Anquilose
, o sujeito afirma que não existe somente a
Anquilose Muscular e a Anquilose Dentária, mas, também, pode-se ter a Anquilose
Óssea e esta deveria estar complementando o Vocabulário.
Quanto ao termo Disfagia, apresenta-se como um não-descritor do
descritor Transtornos de Deglutição
e, sob o ponto de vista do sujeito, o significado
de ambos não é totalmente correspondente.
De acordo com o que ele afirma, e verificado no DeCS, os
Transtornos de Deglutição realmente fazem parte da hierarquia das Doenças do
Sistema Digestório e a Disfagia é uma patologia advinda das Doenças Neurológicas.
O sujeito também ressalta, que na atualidade, já se pode encontrar literatura
utilizando o termo Dysphagia e isso nós constatamos por meio de uma busca
bibliográfica realizada na base de dados Medline.
Dessa maneira, os dois termos estão corretos, representando cada
um o seu conceito. O termo Disfagia merece integrar o Vocabulário DeCS não como
um não-descritor mas como um descritor representativo de seu próprio conceito.
Quando perguntado, na entrevista retrospectiva, sobre os termos
disponibilizados pelo DeCS serem satisfatórios para representar a especialidade de
Motricidade Oral quanto à quantidade e à atualização, por exemplo, o sujeito
esclareceu que os mesmos necessitam de uma organização dentro da árvore de
Fonoaudiologia, e que eles não estão atualizados diante da terminologia empregada
pelos especialistas em Motricidade Oral. Ressaltou, também, a qualidade relativa
das definições dos termos que o DeCS disponibiliza.
[...] Quando a gente vai pesquisar, se eu vou pesquisar um problema de
fala, problema estrutural é completamente diferente; a minha pesquisa, não
tem nada a ver com aquele problema do desenvolvimento da fala e da
linguagem. Então, isso é que precisa ser organizado. Eu acho que o
169
primeiro trabalho que foi feito, fantástico, isso ajuda só que hoje na correria
do dia a dia e com ah ah o avanço mesmo das definições, os estudos das
ciências, a gente já tem como melhorar isso, contribuir. É uma base ótima
mas, pode estar melhorando [...].
8.4 Sujeito 4 – Turnos 31 a 36 (Quadro 8)
Tema pesquisado
: A habilitação e a reabilitação da criança deficiente implantada
Especialidade
: Audiologia
Início
: 9h15 min
Término
: 9h40 min
Duração
: 25 min
Descritor
Pesquisado
Recuperado
Turno Tempo
Descritor
Pesquisador
SIM NÃO
Comportamento
Itens
Recuperados
9h15min
INÍCIO
31
9h17min Implante X Satisfação ---
32
9h18min
Habilitação
Auditiva
X Frustração ---
33
9h21min
Reabilitação
Auditiva
X
Frustração
(ergue as
sobrancelhas)
---
9h22min Criança X Insatisfação ---
34
9h23min
Realizou pesquisa
Implante coclear AND Crianças
deficientes
Insatisfação 1
35
9h27min
Deficiência
Auditiva Pré-
lingual
X
Surpresa e
Indignação
(fecha e abre os
olhos
---
36
9h30min
Deficiência
Auditiva Pós-
lingual
X Frustração ---
9h40min
TÉRMINO
QUADRO 8 – Demonstrativo das ações durante a pesquisa realizada pelo Sujeito 4
Fonte: Elaborado pela autora.
170
Turno 31 - Implante
Inicialmente, o sujeito mostrou-se muito calmo e começou a sua
pesquisa determinando as palavras-chave que iria utilizar como Implante Coclear,
Habilitação Auditiva, Reabilitação Auditiva e Criança. Então, digitou o termo
Implante
, selecionando, e entre os que estavam disponibilizados pela linguagem, o
descritor Implante Coclear, e adicionou-o, satisfatoriamente, ao formulário de
pesquisa avançado da Base de Dados LILACS.
[...] ((S)) O tema do meu trabalho é “A habilitação e a reabilitação da criança
deficiente auditiva implantada e os descritores que eu pensei foram
implante coclear, habilitação auditiva reabilitação auditiva e criança. ((T))
Agora então, eu vou buscar o primeiro descritor que é implante coclear. Eu
digitei ((DD)) IMPLANTE, vieram ((DR)) vários tipos de implantes, ((SA)) eu
selecionei IMPLANTE COCLEAR e agora vou adicionar. Adicionei implante
coclear [...].
Turno 32 - Habilitação Auditiva
Continuando, o sujeito buscou no índice de assunto o termo
Habilitação Auditiva
, não obtendo o mesmo sucesso em relação ao descritor
anterior. Sua frustração ficou evidente, mas não emitiu nenhum comentário a
respeito.
[...] A segunda palavra como descritor de assunto, vou buscar no índice
((DD)) HABILITAÇÃO AUDITIVA. ((FA)) O descritor habilitação auditiva
não foi encontrado nenhum no índice [...].
Turno 33 - Reabilitação Auditiva
Nesse momento da pesquisa, o sujeito procedeu à busca da sua
terceira palavra, previamente selecionada, e digitou o termo Reabilitação Auditiva
no
índice de assunto. A sua frustração já era evidente, quando também ergueu as
171
sobrancelhas, mas novamente não realizou comentários sobre o descritor não
recuperado.
[...] Vou para o terceiro descritor que é ((DD)) REABILITAÇÃO AUDITIVA.
((FAe)) Reabilitação auditiva ele também não encontrou [...].
Turno 34 - Criança
Na busca por seu quarto descritor, o sujeito procedeu da mesma
maneira que das vezes anteriores. Digitou o termo Criança
no formulário do índice
de assunto , recuperando diversos descritores que faziam referência à criança.
Porém, dentro da ótica de sua pesquisa, o termo que realmente o
sujeito gostaria de ter encontrado era Criança Deficiente Auditiva, Criança com
Deficiência Auditiva ou Criança Portadora de Deficiência Auditiva. Neste caso, todos
os três representam o mesmo conceito e esses termos são normalmente
empregados pelos especialistas indistintamente e considerados, por eles, como
sinônimos.
[...] Vou para o meu quarto descritor que é ((DD)) CRIANÇA e ele
encontrou vários ((INS)) mas, o que interessa é CRIANÇA DEFICIENTE
AUDITIVA ou CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA ou CRIANÇA
PORTADORA DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA e eu encontrei aqui ((DR))
CRIANÇA DEFICIENTE e encontrei CRIANÇAS DEFICIENTES e
CRIANÇAS PORTADORAS DE DEFICIÊNCIAS. Só que na hora que eu
abrir um desses três vai me aparecer deficiência visual, deficiência física e
isso não me interessa. Eu quero a DEFICIÊNCIA AUDITIVA.
Eu vou abrir
aqui crianças deficientes, adicionar e então ficou crianças deficientes como
um descritor. De quatro descritores, eu consegui um e um segundo que não
era exatamente o que eu queria [...].
Como os descritores encontrados foram Crianças Deficientes e
Crianças Portadoras de Deficiência, o sujeito não se sentiu muito satisfeito, pois
considerou que uma pesquisa realizada por um desses dois termos recuperaria,
172
também, registros sobre a deficiência visual e física e que estes não eram o seu
objeto de estudo. Ele reafirma que gostaria de ter encontrado somente Deficiência
Auditiva.
Mesmo assim, selecionou e adicionou ao formulário o descritor
Crianças Deficientes e realizou a pesquisa com a elaboração da seguinte estratégia
de busca: Implante Coclear AND Crianças Deficientes.
[...] Eu acho que ele vai me dar um leque muito grande e eu vou ter que
filtrar. E agora eu vou fazer a pesquisa. Eu vou fazer com esses dois
descritores que eu achei e ele achou um trabalho. Eu sei que tem muito
mais que um trabalho com esse tema e os descritores desse trabalho são
implante coclear que eu digitei, ética, pessoas com insuficiência auditiva,
pessoas portadoras de deficiência, mas só me interessa deficiência auditiva
e surdez que é um descritor comum. ((IOP)) Então, esse resultado de
pesquisa não te satisfez? ((INS)) Não, veio um trabalho apenas e eu sei
que tem muitos deles [...].
O resultado foi surpreendente, causando insatisfação ao sujeito por
ter recuperado apenas 1 registro. Ele estava esperando uma grande quantidade de
registros acerca do assunto; pensou até na possibilidade de ter que refinar (filtrar) a
pesquisa, o que não foi necessário.
O sujeito afirmou que existem muito mais trabalhos publicados a
respeito. Essa questão foi diversas vezes levantada pelos sujeitos participantes e
sobre a qual foi exposto o nosso ponto de vista (Turnos 5 e 11).
Com o resultado obtido, o sujeito teve a possibilidade de verificar os
descritores que foram utilizados na indexação por haver selecionado o formato
detalhado para a apresentação do registro. Esse formato disponibiliza ao usuário os
campos que compõem a referência, o resumo e os descritores do registro. (Apêndice
R).
173
Assim, quanto ao descritor Pessoas com Insuficiência Auditiva, o
sujeito manifestou o seu desconhecimento sobre essa terminologia empregada na
área de Fonoaudiologia, dizendo que a audição se torna deficiente e não
insuficiente.
Pesquisou-se, então, em um dicionário da língua portuguesa, as
duas palavras, Deficiência
e Insuficiência, para verificar qual conceito é atribuído a
elas: “Deficiência
: 1) Falta, falha, carência, imperfeição, defeito; 2) Insuficiência”;
“Insuficiência
: qualidade ou estado de insuficiente; 2) Incompetência; incapacidade;
3) Incapacidade, maior ou menor, de um órgão para executar a função que lhe cabe;
deficiência [...]”. (FERREIRA, 2004, p. 610, 1114).
Analisando as definições encontradas, constata-se que as duas
palavras se remetem uma para a outra. Nesse sentindo, pode-se considerá-las
sinônimas.
Mas, por outro lado, se verificado mais atentamente, a definição de
Insuficiência torna-se mais pertinente ao emprego que lhe é conferido no
Vocabulário DeCS, como descritor de assunto: Pessoas com Insuficiência Auditiva,
isto é, pessoas que possuem um órgão com uma incapacidade maior ou menor de
funcionamento.
A observação do sujeito foi relacionada ao que a literatura,
principalmente a brasileira, utiliza, pois pesquisando na base de dados MEDLINE
pelo campo palavras, produzida por uma instituição norte-americana, a United States
National Library of Medicine, foram encontrados muito mais registros com o termo
Pessoas com Insuficiência Auditiva (4360 registros) do que com Pessoas com
Deficiência Auditiva (425 registros).
174
Assim, verifica-se que a cultura terminológica científica utilizada em
um determinado país influi no emprego de termos que, embora diferentes, significam
a mesma coisa.
Uma vez que o DeCS é uma tradução de uma linguagem
documentária norte-americana, essa constatação torna-se bastante compreensível,
ou seja, adoção do termo Pessoas com Insuficiência Auditiva pela comunidade
científica norte-americana e, por outro lado, com o mesmo significado, a adoção do
termo Pessoas com Deficiência Auditiva, por exemplo, no Brasil.
Quando se perguntou ao sujeito sobre a possibilidade de haver
outros descritores que representassem melhor a sua pesquisa, ele afirmou que
poderia fazê-lo utilizando uma outra estratégia, mais trabalhosa, justamente pela
falta de termos como Reabilitação Auditiva. Com a utilização do referido termo, a
pesquisa poderia recuperar registros que englobariam trabalhos sobre audição
deficiente da criança, percepção da fala e da linguagem e, assim, não haveria a
necessidade de buscá-los separadamente. O mesmo ocorre com a utilização do
termo Habilitação Auditiva; neste caso, o sujeito recuperaria registros que
trouxessem trabalhos sobre as crianças que nasceram com deficiência auditiva, isto
é, deficiência auditiva pré-lingual ou deficiência auditiva pós-lingual.
Turno 35 - Deficiência Auditiva Pré-lingual
Nesse momento da pesquisa, o sujeito tentou buscar o termo
Deficiência Auditiva Pré-lingual, mas sem sucesso. Sua surpresa e indignação
também foi observada pelo seu fechar e abrir dos olhos.
[...] Eu não coloquei aqui pré-lingual, vamos ver se tem? ((DD))
DEFICIÊNCIA AUDITIVA PRÉ-LINGUAL Espero encontrar um trabalho
dentro de audiologia educacional. ((SU/IDfa)) Não existe [...].
175
Turno 36 - Deficiência auditiva Pós-lingual
Novamente o sujeito realizou uma busca no índice de assunto pelo
termo Deficiência Auditiva Pós-lingual e com o mesmo resultado de pesquisa do
anterior, “Nenhum termo encontrado no índice”
44
. A finalização de sua pesquisa foi
frustrante.
Quando perguntamos, na entrevista retrospectiva, sobre os termos
disponibilizados pelo DeCS serem satisfatórios para representarem a especialidade
de Audiologia quanto à quantidade e à atualização, por exemplo, o sujeito afirmou
que os mesmos são insuficientes e que a nomenclatura de alguns não estava
correta, citando novamente o descritor Pessoas com Insuficiência Auditiva.
8.5 Discussão da Análise dos Resultados da Aplicação dos Quatro Protocolos
Verbais Individuais
Realizou-se a discussão dos resultados dos protocolos verbais
aplicados individualmente nos quatro sujeitos do Departamento de Fonoaudiologia
da Faculdade de Odontologia de Bauru da USP, enfocando os aspectos relevantes
por eles apontados, com relação à eficácia da linguagem documentária DeCS na
recuperação de informações referentes às suas temáticas de pesquisas, na Base de
Dados LILACS.
As opiniões emitidas pelos sujeitos serão confrontadas com as
contribuições existentes na literatura da área de Organização da Informação, bem
como com a nossa experiência profissional como indexadora e bibliotecária de
44
Mensagem emitida pelo próprio Sistema de Iinformação LILACS quando um descritor não é
localizado no índice de assunto/Vocabulário DeCS.
176
referência, auxiliando e orientando o usuário/pesquisador na recuperação de
informações para o desenvolvimento de suas atividades investigativas.
Para tanto, decidiu-se, primeiramente, apresentar novamente a
linguagem documentária DeCS e, em seguida, demonstrar os problemas relevantes
apontados pelos sujeitos, contidos nas transcrições dos protocolos verbais e
divididos por esses questionamentos realizados.
Na literatura sobre as fontes de informações bibliográficas e em
nossa experiência como indexadora e bibliotecária de referência, utilizamos muitas
dessas fontes para apoiar as pesquisas dos usuários.
Antigamente, recorria-se essencialmente aos índices, às
bibliografias e aos catálogos manuais. Atualmente, com o advento da tecnologia e o
seu emprego na área da Ciência da Informação, as Unidades de Informação
passaram a automatizar os seus acervos, disponibilizando-os eletronicamente na
rede mundial Internet.
As bases de dados, que primeiramente eram oferecidas em CD-
ROM (Compact Disk - Read Only Memory), que atualmente disponibilizam os seus
dados via Internet, são muito utilizadas pela comunidade científica para recuperar
informações referentes às suas temáticas de pesquisas
Essas bases, via de regra, proporcionam um acesso imediato e uma
rápida recuperação da informação que satisfaz as necessidades de pesquisas do
usuário/pesquisador.
Isso, pelo menos, é que normalmente se espera a respeito do
desempenho de um Sistema de Informação (base de dados) que utiliza uma
linguagem documentária representativa de sua área científica.
177
Para Cintra et al. (2002), a linguagem documentária temi uma função
comunicativa, viabilizando essa ação entre o usuário e o Sistema.
De acordo com Lancaster (2004, p. 19), “um vocabulário
controlado é essencialmente uma lista de termos autorizados”.
Porém, como o mesmo autor expõe, a função do vocabulário é mais
abrangente do que essa, ou seja, além de ser uma lista de termos autorizados, este
deve controlar os sinônimos ou os quase-sinônimos, diferenciar os termos
homógrafos e reunir termos que possuem uma relação mais próxima entre si. Assim,
são estabelecidas as relações hierárquicas, não-hierárquicas e de equivalência.
Segundo Ingwersen (2002), uma outra função do vocabulário é que
o conteúdo de novos documentos deveriam ser unidos aos velhos pelo uso
consistente de termos.
Dessa maneira, o DeCS – Descritores em Ciências da Saúde,
elaborado pela BIREME, é um vocabulário trilingüe em Português, Espanhol e
Inglês, traduzido do MeSH – Medical Subject Headings, sob a responsabilidade da
United State National Library of Medicine.
As referidas linguagens apresentam categorias básicas
semelhantes, tendo a BIREME realizado algumas adaptações, com a inclusão das
categorias SP – Saúde Pública, HP – Homeopatia e alguns outros descritores para
atender às necessidades investigativas da comunidade brasileira. As mesmas são
utilizadas para a recuperação de informações científicas nas bases de dados
LILACS e MEDLINE, respectivamente.
A linguagem DeCS, objeto deste estudo, é uma linguagem poli-
hierárquica que possibilita que um mesmo descritor (Dislexia) esteja hierarquizado
em mais de uma categoria, como pode ser verificado, por meio da Figura 13.
178
C10.597.606.150.500.200 - DOENÇAS
Doenças do Sistema Nervoso
Transtornos de Aprendizagem
Dislexia
F03.550.350.500.200
- PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA
Transtornos Mentais
Transtornos de Aprendizagem
Dislexia
FIGURA 13 – Vocabulário DeCS: estrutura poli-hierárquica
Fonte: BIREME, 2005.
Dessa maneira, o DeCS pode apresentar um descritor dentro de
diversas categorias, e não hierarquizado em uma única categoria, representativo de
um único conceito.
A dificuldade encontrada especificamente na categoria de
Fonoaudiologia, e bem vivenciada pelos quatro sujeitos participantes desta
pesquisa, é o fato de a mesma não constituir uma categoria própria e, dessa forma,
não possibilitando a hierarquização de descritores pertinentes à área. Assim, o
descritor Fonoaudiologia encontra-se subordinado à categoria de Saúde Pública,
estando os seus demais descritores hierarquizados em diversas categorias do
Vocabulário, sendo as principais a Categoria A – Anatomia; a Categoria C –
Doenças; a Categoria E – Técnicas e Equipamentos; a Categoria F – Psicologia e
Psiquiatria; e a Categoria I - Antropologia, Educação, Sociologia e Fenômenos
Sociais, entre outras (Apêndice G).
179
Exemplificando mais ainda essa questão, é bom lembrar as
declarações realizadas pelo sujeito 2 sobre o assunto anteriormente tratado, quando
expõe que os termos componentes do Vocabulário DeCS deveriam estar mais
organizados e melhores dispostos na árvore da área de Fonoaudiologia.
No Brasil, a área de Fonoaudiologia agrega quatro especialidades,
sendo uma delas a Voz. Assim, a árvore hierárquica inicial da área de
Fonoaudiologia deve ser apresentada da seguinte forma:
Fonoaudiologia
Linguagem
Audiologia
Voz
Motricidade Oral
Porém, ao verificar-se a linguagem DeCS e sua originária MeSH,
nota-se que o termo Voz (Voice) está subordinado diretamente ao termo Fenômenos
Fisiológicos Respiratórios (Respiratory Physiologic Phenomena) dentro da categoria
de Ciências Biológicas (Biological Sciences Category
) e, para os especialistas da
área de Fonoaudiologia, o referido termo não está adequadamente subordinado na
categoria correspondente.
G09.772.765.925 - Ciências Biológicas
Fisiologia Respiratória e Circulatória
Fisiologia Respiratória
Fenômenos Fisiológicos Respiratórios
Voz
Todavia, deve-se ressaltar que, no campo científico norte-
americano, o termo Fonoaudiologia não se faz presente pelo fato de que essa área
constitui uma categoria da Ciências da Saúde brasileira, o que não acontece com a
180
norte-americana. Para tanto, as quatro especialidades da área de Fonoaudiologia,
no Brasil, também não corresponde da mesma maneira às existentes nos Estados
Unidos.
Na área de Ciências da Saúde norte-americana, a especialidade de
Audiologia se mantém como tal, mas as de Linguagem, Voz e Motricidade Oral são
representadas pela área de Patologia da Fala e da Linguagem (Speech-Language
Pathology), além de termo Linguagem também ser estudado pela Neurolingüística.
Quanto a tradução do referido termo no DeCS, para a língua
espanhola – Fonoaudiología -, este corresponde com a nomenclatura utilizada na
América Latina, o que não acontece na Espanha onde essa ciência é conhecida
como Logopedia.
Dessa maneira, a tradução para a língua inglesa que considera-se
mais adequada e também utilizada por muitos especialistas científicos brasileiros
para o termo Fonoaudiologia é Speech-Language Pathology and Audiology e não, o
adotado pelo Vocabulário DeCS, Speech, Language and Hearing Sciences.
Além disso, e dentro desse cenário, a ausência especificamente do
termo Motricidade Oral no DeCS é justificável. Essa terminologia não integra o
vocabulário científico da área de saúde norte-americana e, assim, não é
representativa no Vocabulário MeSH.
Nesse caso, também seria necessário a incorporação do termo
Motricidade Oral, como ocorreu com o termo Fonoaudiologia, para podermos terem
representadas, no DeCS, ao menos as quatros especialidades fonoaudiológicas.
Segundo Hudon (1997), o verdadeiro tesauro mulitlingüe oferece
inventários conceituais e terminológicos completos para cada uma das línguas
envolvidas; é muito importante apresentar uma estrutura de tesauro inteiramente
181
desenvolvida em cada língua, de modo que um usuário possa consultar a sua
versão mais apropriada, obtendo a quantidade de informação semântica necessária.
A exposição apresentada por Hudon vai ao encontro das opiniões
desta pesquisadora a respeito dessa temática. Todavia, verificou-se que a
linguagem DeCS não está em consonância com o nosso ponto de vista.
Begthon (2002b), também nessa linha de pesquisa, afirma que os
instrumentos de representação de informações devem corresponder a cultura em
que o usuário está inserido. Nesse sentido, o Sistema de Informação LIlACS, por
meio de sua linguagem documentária, deveria representar a realidade terminológica
da ciência fonoaudiológica brasileira.
Embora a forma de apresentação dos termos do Vocabulário DeCS
esteja correspondendo aos critérios estabelecidos para a elaboração de tesauros e
assim, de acordo com às apresentadas por Austin e Dale (1993), a inconsistência da
linguagem se faz presente. Utilizando descritores simples – Docentes
e compostos
como - Implante Coclear e frases substantivas - Planos de Pagamento por Serviço
Prestado -, por muitas vezes a pré-coordenação existente na indexação não
possibilita realizar essa atividade com qualidade e precisão.
Assim, embora o DeCS seja nomeado como uma linguagem pós-
coordenada (os termos são coordenados no momento da recuperação), muitos
termos se apresentam como pré-coordenados no momento da indexação, isto é, a
linguagem é constituída de uma estrutura de pré e pós-coordenação.
Essa apresentação da linguagem documentária DeCS tornou-se
necessária para se compreenderem as diversas dificuldades encontradas por
nossos sujeitos no momento da realização de suas buscas bibliográficas, com a
utilização da referida linguagem, pois muitos dos termos selecionados como suas
182
palavras-chave significativas de suas pesquisas, e comumente encontradas na
literatura científica nacional e internacional da área, não constituíam o repertório
terminológico da linguagem DeCS.
Cabe ressaltar-se aqui a importância fundamental que a terminologia
possui em relação à construção de linguagens documentárias.
Conforme, Cabré (1993), Dubuc (1999) e Sager (1993), a interface
da terminologia com a linguagem documentária é fundamental para a elaboração de
linguagens com representações terminológicas mais condizentes com as
necessidades informacionais dos usuários.
A terminologia propicia o uso correto dos vocábulos, a uniformidade
da linguagem documentária e a busca de equivalências compatíveis para os termos
e traduções empregadas (CURRÁS, 1995).
Para Tálamo, Lara e Kobashi (1992) a terminologia de um domínio
permite conceituar e relacionar de forma mais precisa os descritores da linguagem
documentária criada para tratar informação desse domínio. Segundo as mesmas
autoras (1992, p. 199)
[...] o tesauro, para se constituir como instrumento efetivo de controle
terminológico e de representação de informação, deve sustentar-se em um
dicionário terminológico, a partir da qual a rede de relações lógico-
semânticas entre os descritores definir-se-ia com maior clareza,
beneficiando tanto o trabalho de indexação, quanto a elaboração de
equações de buscas [...].
Assim, muitas observações foram feitas pelos sujeitos participantes
deste estudo sobre a ineficácia da linguagem DeCS para a recuperação de
informação no Sistema LILACS.
A ausência de termos genéricos (turnos 2, 4, 5, 7,10, 14, 21, 22, 23,
28, 32, 33, 34) como Processamento Visual, Processamento Auditivo,
183
Processamento Fonológico, Profissão, Funções Orais, Habilitação Auditiva e
Reabilitação Auditiva, entre outros, causaram dificuldades na recuperação, levando
os quatro sujeitos a procurarem por diversos descritores específicos para atender a
abrangência de suas pesquisas.
Os termos específicos também foram considerados
insuficientemente (turnos 5, 9, 11, 22, 30, 34) representados pela linguagem. O
sujeito 3 demonstrou essa situação por meio do descritor Anquilose, apontando a
ausência do descritor específico Anquilose óssea.
O mesmo caso se fez presente com as declarações do sujeito 1,
com o sujeito 2 quando pesquisava especificamente o assunto Voz Profissional,
com o sujeito 3 e com o sujeito 4 sobre a ausência total do termo Crianças com
Deficiência Auditiva.
Dessa forma, quanto à questão dos termos genéricos e específicos,
verificou-se também que a linguagem DeCS não está compatível com a
filosofia/política de indexação proposta pela BIREME. Portanto, ressalta-se o
princípio da especificidade por não estar correspondendo com a sua proposta inicial,
apresentado no Manual de Indexação da BIREME (2005): “O DeCS proporciona
tanto termos gerais como específicos. O indexador tem o compromisso de atingir o
maior grau de especificidade possível [...]”.
Para Carneiro (1985), a política de indexação deve servir como um
guia para tomada de decisões, deve levar em conta os seguintes fatores:
características e objetivos da organização, determinantes do tipo de serviço a ser
oferecido; identificação dos usuários, para atendimento de suas necessidades de
informação e recursos humanos, materiais e financeiros, que delimitam o
funcionamento de um sistema de recuperação de informações.
184
Além disso, e como por exemplo abordado pelo sujeito 1 ao
pesquisar o termo Processamento Fonológico, pôde-se diagnosticar uma situação
de inconsistência nas relações lógico-semânticas
(turnos 5, 11, 25, 30, 34) do
Vocabulário DeCS.
A organização correta entre os termos possibilita a inexistência de
arbitrariedade/incerteza dos seus significados propostos. A nossa colocação é
fundamentada pelas afirmações de Lima (1998, p. 23) em sua dissertação de
mestrado.
Assim, para a autora
“uma linguagem documentária só pode efetivamente representar a
informação se forem instituídas relações entre as unidades que a
compõem. [...] As unidades lingüísticas das LDs denominadas descritores,
estabelecem-se pela combinação entre os termos dispostos na
terminologia de domínio ao qual pertencem os documentos a serem
representados e entre os termos utilizados pelos usuários [...]”.
Outro aspecto abordado pelos sujeitos relaciona-se ao fato de os
termos não estarem correspondendo aos significados propostos
(turnos 7, 27, 30,
34). O sujeito 1 levantou o caso do descritor Dislexia Adquirida não estar correto,
pois esta seria congênita.
Foi apresentada, na análise inicial, a justificativa de que essa
ocorrência deve-se ao fato de que as linhas de pesquisas adotadas pelos
pesquisadores norte-americanos e brasileiros não serem completamente
correspondentes.
O mesmo aconteceu com relação aos descritores Respiração Bucal,
Transtornos de Deglutição e com o não-descritor Disfagia, apresentados pelo sujeito
3, bem como com o descritor Pessoas com Insuficiência Auditiva questionado pelo
sujeito 4.
185
A adoção de uma linguagem documentária traduzida traz sérios
problemas de terminologias e conceitos que são representativos de uma região.
Nesse caso, a adaptação de alguns descritores é imprescindível, tendo em vista
particularidades e especificidades presentes na área da Fonoaudiologia nacional.
Conforme Hudon (1997), os criadores de tesauros multilingües
enfrentam muitos problemas e obstáculos substanciais na sua elaboração. Essas
dificuldades podem ser de natureza administrativa, tecnológica e/ou
lingüística/semântica.
Nesse sentido, um termo/conceito pode ser representativo em uma
cultura e não corresponder em outra. Essas diferenças culturais devem ser
respeitadas e solucionadas pela “harmonização da terminologia”.
Hudon (1997) conceitua a harmonização da terminologia como
sendo o tratamento igualitário terminológico que se deve dar para todas as línguas.
No tesauro multilingüe e multicultural, cada língua torna-se uma língua fonte, e
desse modo, cada cultura é descrita e representada por seus termos/descritores.
Assim, os ajustes terminológicos necessários não são feitos somente por um único
ponto de vista.
Seguindo esta análise, verificou-se também que atualização
terminológica dos descritores deve ser uma prática constante (turnos 6, 25, 27, 28,
30, 34), tendo em vista que a tônica e o dinamismo com que as ciências se
desenvolvem levam a essa necessidade.
Esse fato é exemplificado com a afirmação do sujeito 1 sobre o
termo Distúrbio Específico de Leitura ser o atualmente utilizado pelos especialistas
em substituição ao termo Dislexia.
186
Quanto à tradução dos termos da língua inglesa para a língua
portuguesa, esse também foi um outro aspecto abordado pelos sujeitos 2 e 4
(Turnos 11 e 27)
, respectivamente.
Uma vez que o Vocabulário DeCS é uma tradução de uma
linguagem documentária de língua inglesa proveniente dos Estados Unidos (MeSH),
muitas vezes as traduções não são correspondentes à terminologia fonoaudiológica
utilizada pelo especialista brasileiro, não sendo, assim, realizada uma verificação
mais detalhada a respeito.
Essa questão pode ser também bem fundamentada por essa
pesquisadora em concordância com as teorias de Hudon (1997).
A autora enfoca a questão da tradução de um termo da língua
fonte
45
– representada nesta pesquisa pela língua inglesa da linguagem
documentária MeSH – para a língua alvo – representada nesta pesquisa pela
tradução para a língua portuguesa da linguagem documentária DeCS, - como sendo
um procedimento popular adotado no passado, para a elaboração de tesauros
multilingües.
Atualmente a simples tradução de um termo da língua fonte – língua
inglesa, MeSH – para a língua alvo – língua portuguesa, DeCS – não caracteriza o
tratamento igualitário que as línguas envolvidas devem receber. No caso do
Vocabulário DeCS, esse tratamento deveria ser atribuído para os termos em língua
portuguesa. Não foi ampliada essa caracterização para os termos em língua
espanhola, pois esses não são objetos deste estudo.
Um outro caso apontado foi em relação às notas de indexação
45
Hudon (1997) caracteriza também a língua fonte como sendo a língua imperialista. Nesse sentido,
a língua fonte é representada pela língua originária da instituição/país/ da linguagem documentária a
ser elaborada. As línguas alvos são as línguas eleitas para a realização das respectivas traduções.
187
(notas de escopo) e às definições (turnos 29, 30
), respectivamente, que o
Vocabulário apresenta a respeito dos seus respectivos descritores. Esse aspecto foi
abordado pelo sujeito 3 por meio do descritor Fala.
A adoção das “notas de indexação” e das “definições” para os
termos são previstas pelas instruções de elaboração de tesauros de Austin e Dale
(1993) e esta pesquisadora reconhece as suas importâncias dentro de uma estrutura
de tesauros.
Especificamente na linguagem DeCS, os conceitos dos descritores
são procedentes das traduções fiéis das definições constantes do próprio MeSH.
Quanto às notas de indexação, estas são elaboradas pela BIREME no sentido de
orientar a indexação realizada pelo profissional responsável por essa atividade;
porém, em determinados momentos, essas respectivas notas ocasionam dúvidas e
incertezas na utilização de um determinado descritor.
Em relação à indexação
(turnos 5, 8, 19, 26, 27) apresentada pelos
registros recuperados, algumas opiniões foram emitidas pelos sujeitos 1, 2 e 3,
questionando-se a qualidade das mesmas.
Dessa maneira, reportou-se à literatura da área onde encontrou-se
orientações que proporcionaram subsídios para sustentar as explicações realizadas
a respeito dessa ocorrência.
Chaumier (1988, p. 63) afirma que a
“indexação é a parte mais importante da análise documentária.
Conseqüentemente, é ela que condiciona o valor de um sistema
documentário. Uma indexação inadequada ou uma indexação insuficiente
representam 90% das causas essenciais para a aparição de ‘ruídos’ ou de
‘silêncios’ em uma pesquisa [...].
Lancaster (2004) considera que a “[...] exatidão da indexação, é um
fator que influencia no desempenho de um sistema de recuperação da informação
188
[...]’. Assim, a leitura documentária é a fase mais importante dentro da análise
documentária. Esta, realizada pelo indexador/leitor profissional, vai ao encontro dos
objetivos da indexação, isto é, num primeiro momento o indexador realizará a
identificação e seleção dos assuntos contidos no documento que está sendo
indexado para, num segundo momento, representá-los (“traduzi-los”) por meio da
utilização de uma linguagem documentária.
As teorias apresentadas por Chaumier e Lancaster são
compartilhadas por esta pesquisadora, que reafirma essas colocações, por outros
estudos realizados nesse segmento.
Segundo Fujita (2003), a eficácia da recuperação da informação em
relação à equação de busca realizada pelo usuário, se dá por uma adequada
indexação e desse modo, por uma identificação e seleção de conceitos e por uma
representação condizente do conteúdo dos documentos.
Contudo, para que se garanta a qualidade de uma representação
eficaz (“tradução”), essa linguagem documentária deve retratar, em sua grande
maioria, a realidade terminológica de sua área, o que nem sempre acontecesse.
Essa questão foi bem posicionada pelo sujeito 2, onde o mesmo
levantou a possibilidade de realizar a sua pesquisa bibliográfica utilizando o campo
palavras (palavras do textos), em detrimento da utilização do campo de descritor de
assuntos, o qual não proporcionou termos adequados para uma recuperação eficaz
de informações.
Esta análise procurou apresentar uma reflexão sobre as declarações
emitidas pelos quatro sujeitos participantes desta pesquisa, com o intuito de
proporcionar as condições necessárias para eleger-se indicadores de qualidade que
189
irão delinear as estratégias para o aprimoramento do Vocabulário DeCS na área de
Fonoaudiologia.
As ocorrências levantadas pelos sujeitos foram relevantes e
apontadas como as responsáveis pela ineficácia da linguagem DeCS, o que
conduziu a resultados insatisfatórios quanto à recuperação da informação. (Quadro
9).
SUJEITOS TURNOS OCORRÊNCIAS
1, 2, 3 e 4
2, 4, 5, 7,10, 14, 21,
22, 23, 28,32, 33, 34
Insuficiência de termos genéricos
1, 2, 3 e 4 5, 9, 11, 22, 30, 34 Insuficiência de termos específicos
1, 2, 3 e 4 5, 11, 25, 30, 34 Inconsistência nas relações lógico-semânticas
1, 3 e 4 7, 27, 30, 34
Termos não correspondentes aos significados
propostos
1, 3 e 4 6, 25, 27, 28, 30, 34 Atualização constante dos descritores
2, 3 e 4 11, 27, 29, 30
Tradução dos termos/notas de escopo/definições não
correspondentes à terminologia fonoaudiológica
utilizada
1, 2 e 3 5, 8, 19, 26, 27 Equívocos na indexação
QUADRO 9 - Ocorrências levantadas pelos sujeitos durante a coleta de dados
Portanto, a partir do diagnóstico e da análise dessas ocorrências
citadas acima, elegeu-se indicadores que contribuirão para o
aperfeiçoamento/elaboração da categoria de Fonoaudiologia, dentro da
estrutura/relação poli-hierárquica que a linguagem documentária DeCS possui:
levantamento e padronização da terminologia da área de Fonoaudiologia
utilizada pelos especialistas (usuários/pesquisadores), Sociedades de
Pesquisas e pela literatura científica que represente da maneira mais fiel e
amplamente possível às especialidades de Linguagem, Audiologia, Voz e
190
Motricidade Oral, dentro dos princípios de generalidade e especificidade dos
termos e das diretrizes e normas existentes para tal;
atualização dos descritores já existentes quanto à sua terminologia e
definições, indo ao encontro da realidade científica fonoaudiológica brasileira;
revisão das relações lógico-semânticas dos termos já existentes e
estabelecimento dessas relações em todos os novos termos que vierem a
integrar-se ao vocabulário;
controle mais efetivo dos termos sinônimos e quase-sinônimos, evitando-se a
dispersão temática, proporcionando uma exatidão na indexação de conteúdo
e uma recuperação mais eficaz da informação;
expansão das áreas de Educação, Psicologia, Lingüística, Neurolingüística,
Medicina (Otorrinolaringologia), Odontologia, Física e Saúde Pública para
atender às necessidades de relacionamento temático desses campos
conceituais com a Fonoaudiologia, visando a característica multidisciplinar
que a área possui;
levantamento das necessidades de incorporação de outros termos das áreas
afins da Fonoaudiologia como: Anatomia, Fisiologia, Bioquímica, entre outras;
revisão da tradução de todos os termos existentes no vocabulário DeCS - dos
idiomas Inglês e Espanhol para o Português -, visando à devida adequação
conceitual dos termos empregados pela literatura fonoaudiológica brasileira;
realização da versão do português para o Inglês e o Espanhol em todos os
novos termos, de acordo com o uso terminológico empregado pela
comunidade científica norte-americana e latino-americana;
191
revisão das “Notas de Definição”, com a verificação dos conceitos que cada
termo possui e o estabelecimento dessas notas/definição para todos os
termos que vierem a integrar a categoria;
revisão das “Notas de Indexação”, e o estabelecimento dessas, quando
necessário, aos novos termos;
estabelecimento dos qualificadores que serão considerados “permitidos para
uso” aos termos novos.
Os estudos disponíveis na literatura, bem como a nossa experiência
profissional, proporcionaram as condições necessárias para a realização desta
análise e para a definição dos indicadores de qualidade que contribuirão para o
aprimoramento da Linguagem Documentária DeCS.
Dessa forma, apresentar-se-á, no capítulo seguinte, as nossas
Considerações finais
a respeito desta pesquisa.
192
9 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo teve como proposição
“avaliar, pela perspectiva do
usuário, a linguagem documentária DeCS – Descritores em Ciências da Saúde,
utilizada no Sistema de Informação LILACS. Para isso, empregamos a técnica do
protocolo verbal ou “pensar alto” (thinking aloud) como instrumento introspectivo de
coleta de dados, com o intuito de obter indicadores para delinear as estratégias de
aprimoramento da linguagem na área de Fonoaudiologia”.
O objetivo geral
foi contribuir para o aperfeiçoamento da linguagem
documentária DeCS, visando obter melhor representatividade terminológica na área
da Fonoaudiologia brasileira. Os objetivos específicos
foram, de um lado, analisar a
estrutura da linguagem documentária (formato de apresentação), bem como suas
relações lógico-semânticas; de outro, verificar o comportamento, expectativas e
satisfação de usuários acadêmicos no uso dessa linguagem documentária para a
recuperação da informação.
A metodologia utilizada nesta pesquisa – o protocolo verbal –
permitiu obter dados significativos sobre os problemas apresentados pela linguagem
documentária DeCS.
O protocolo verbal como instrumento introspectivo de coleta de
dados mostrou ser eficaz, proporcionando resultados satisfatórios, aplicáveis e
conclusivos aos processos de avaliação da recuperação de informação.
A análise dos resultados mostrou que a área da Fonoaudiologia, não
está devidamente representada na linguagem DeCS, ao menos em situações de
busca de informação, por não refletir a realidade terminológica da literatura nacional,
bem como a linguagem do pesquisador.
193
Confirma-se, desse modo, que os conceitos de garantia literária e
garantia de uso são princípios básicos da elaboração de linguagens documentárias.
O uso desses princípios poderá promover a representação adequada de um campo
conceitual nas linguagens documentárias. Como já afirmou Lancaster (1987), a
garantia literária fundamenta-se na idéia de que a inclusão de um termo em uma
linguagem documentária só se justifica quando ela existe na literatura sobre o
assunto; a garantia de uso refere-se aos termos coletados a partir das solicitações
de buscas realizadas pelos usuários.
A análise formal da linguagem DeCS, com base nos critérios
estabelecidos por Austin e Dale (1993) – Quadro 2 -, e as questões apontadas pelos
sujeitos da pesquisa foram responsáveis pelo fornecimento dos subsídios
necessários à identificação dos principais problemas que afetam a eficácia da
linguagem (Quadro 9).
Confirmou-se, desse modo, a idéia de que a linguagem
documentária, enquanto veículo de comunicação, deve representar os campos
conceituais respeitando a cultura da comunidade a que a linguagem serve. Um
sistema de organização e/ou representação do conhecimento deve adotar princípios
que garantam a eqüidade. Desse modo, uma dada cultura não deve se sobrepor a
uma outra. A dominação pode gerar exclusões que comprometem, no caso dos
sistemas de informação, a circulação do conhecimento.(BEGHTOL, 2002b).
Segundo os conceitos de Hudon (1997), a linguagem DeCS
apresenta-se seguindo os princípios dos tesauros multilingües de estruturas
semânticas idênticas e simétricas.
194
Dentro desse contexto, a pesquisa mostrou que a linguagem DeCS
deve ser elaborada de acordo com as estruturas semânticas não-idênticas e
assimétricas.
Assim, é necessário fazer a revisão da área de Fonoaudiologia no
DeCS, para torná-la compatível com a realidade cultural e terminológica dos
pesquisadores brasileiros.
Ressalta-se, também, a importância que os periódicos científicos de
Fonoaudiologia e áreas afins desempenham como meios de comunicação das
pesquisas desenvolvidas pelos pesquisadores e/ou profissionais da área. Dessa
maneira, torna-se fundamental a adoção de uma linguagem documentária adequada
à representação do conteúdo desses documentos nas fontes disseminadoras de
informações como os catálogos coletivos online e as bases de dados, entre outras.
Diante da situação em que se encontram os termos de
Fonoaudiologia no Vocabulário DeCS, recomenda-se à BIREME - Centro Latino-
Americano e do Caribe de Informação em Ciências da Saúde, a construção de uma
categoria específica para a área de Fonoaudiologia, visto que esse campo temático
tem características específicas dentro da área das Ciências da Saúde brasileira.
Essa iniciativa é fundamental para estabelecer a correspondência entre o DeCS e
terminologia utilizada pelos usuários/pesquisadores na recuperação de informações
na Base LILACS.
Considera-se, também, essa medida totalmente viável pelo fato de a
linguagem DeCS já ter feito outras adaptações, como a inclusão das categorias de
Saúde Pública e Homeopatia, bem como com o desenvolvimento de duas novas
categorias que serão incorporadas ao DeCS 2005 - Ciência e Saúde e Vigilância
Sanitária -, todas inexistentes na linguagem documentária de origem, o MeSH.
195
Dentro do contexto do trabalho cooperativo empregado pela
BIREME, recomenda-se que os Centros Cooperantes participem da elaboração da
categoria específica da área de Fonoaudiologia.
Para tanto, os especialistas/pesquisadores da área, os profissionais
da informação que possuam experiência na atividade de indexação e/ou
recuperação da informação dentro dessa temática, bem como conhecimentos sobre
a elaboração linguagens documentárias e as Sociedades de Pesquisa, como a
Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia (SBFa) são recursos humanos e
institucionais que reúnem as competências necessárias para o desenvolvimento
dessa categoria multidisciplinar.
Além disso, a SBFa possui vários Comitês Temáticos
representativos da área, tendo como um de seus objetivos, o levantamento e a
padronização da terminologia utilizada na área de Fonoaudiologia. O Comitê de
Motricidade Oral já em pleno desenvolvimento, realizou, até o momento, o
levantamento de 346 termos em língua portuguesa, com as respectivas traduções
em inglês, juntamente com todas as definições. O Comitê de Linguagem também
está trabalhando no sentido de verificar os termos do DeCS e sua correspondência
com a referida área.
Segundo Marchesan; Zorzi e Gomes (1998), é importante que uma
área profissional determine quais termos são próprios e pertinentes à sua
representação. Dessa forma, ela poderá comunicar-se de forma clara e objetiva
entre seus pares, além de obter maior visibilidade em suas publicações científicas.
A padronização da terminologia da área de Fonoaudiologia torna-se
também fundamental, no sentido de “personalizar” a sua atuação dentro da
comunidade científica, possibilitando a elaboração de uma linguagem documentária
196
consistente para uma eficaz recuperação da informação contribuinte do
desenvolvimento de pesquisas que vão ao encontro das necessidades e do bem-
estar da sociedade.
Nesse contexto, o Sistema de informação LILACS tem uma
responsabilidade social em retratar o pensamento e o comportamento da ciência
brasileira em benefício do crescimento dessa própria ciência e dessa sociedade
Com a adoção dos procedimentos expostos neste trabalho, ter-se-á
a elaboração de uma linguagem documentária estruturada e representativa da
cultura de seu Sistema de informação, que proporcionará consistência maior às
informações armazenadas, bem como o aumento da eficácia do índice temático para
da base para recuperar informação (SANTOS, 2002).
Finalizando estas considerações. recomenda-se também o
desenvolvimento de futuras pesquisas para a obtenção de indicadores que possam
nortear a elaboração de uma terminologia padronizada da categoria de
Fonoaudiologia para a América Latina.
Essa medida possibilitará, um melhor desempenho da terminologia
latino-americana junto ao projeto de desenvolvimento de terminologia unificada e
rede semântica em Saúde
- UMLS - Unified Medical Language System -
http://www.nlm.nih.gov/research/umls/, proposto pela United States National Library
of Medicine.
197
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207
GLOSSÁRIO
Autobusca
- realização de busca bibliográfica pelo próprio usuário, sem delegação a
um intermediário (Expressão elaborada pela autora desta dissertação).
DeCS home
(DeCS online )- Descritores em Ciências da Saúde disponível na
Biblioteca Virtual em Saúde da BIREME – http://decs.bvs.br. (BIREME, 2003).
Definição/Português
- definição do termo na língua portuguesa. (BIREME, 2003).
Descritor
- palavra ou grupo de palavras incluídas em um tesauro e escolhidas
dentre um conjunto de termos equivalentes para representar sem ambigüidade uma
noção contida em um documento ou em uma solicitação de busca documentária.
(ASOCIACIÓN FRANCESA PARA LA NORMALIZACIÓN – AFNOR apud GIL
URBIDICIAN, 1996).
Descritor pré-codificado
- termo que possibilita a especificação dos conceitos
tratados pelo autor; na recuperação da informação, auxilia a restringir o escopo de
uma busca. (BIREME, 2003).
Descritor qualificador
- termo que se agrega ao descritor de modo a definir diferentes
aspectos, conceitos e pontos de vista discutidos pelo autor num determinado
assunto. (BIREME, 2003).
Estruturas semânticas idênticas e simétricas
- quando houver a obrigatoriedade de o
termo possuir um correspondente em outra língua de um tesauro, ocasionando
hierarquias semanticamente incorretas ou ilógicas. (HUDON, 1997).
Estruturas semânticas não-idênticas e assimétricas
- quando a variação do número
de termos em cada versão lingüística de um tesauro é permitida, visto que os
conceitos terminológicos que existem em uma cultura nem sempre são
representáveis em outra cultura. (HUDON, 1997).
208
Língua fonte
- língua primária (originária) do tesauro. (HUDON, 1997).
Língua alvo
- língua eleita para a tradução do tesauro. (HUDON, 1997).
Garantia cultural
- qualquer tipo de sistema de organização e/ou representação do
conhecimento pode ser apropriado e útil para os indivíduos em alguma cultura,
somente se este for baseado nas suposições, valores e predisposições daquela
mesma cultura (BEGHTOL, 2002a).
Garantia literária
- um termo só se justifica quando ele existe na literatura sobre o
assunto. (LANCASTER, 1987).
Garantia de uso
- refere-se aos termos coletados a partir das solicitações de buscas
realizadas pelos usuários. (LANCASTER, 1987).
Harmonização da terminologia
– diferenças culturais que devem ser respeitadas e
solucionadas quando um termo/conceito existe em uma cultura e não em outra.
(HUDON, 1997).
Hospitalidade cultural
- pressupõe que cada sistema de classificação seja baseado
nas suposições e nas preocupações de alguma cultura, seja a cultura de um país,
ou de uma unidade social maior ou menor (por exemplo, grupo ético, disciplina
acadêmica, domínio das artes, partido político, religião ou língua). (BEGHTOL,
2002a).
Não-descritor
– termo não autorizado que remete ao descritor preferencial para a
indexação e recuperação da informação. (BIREME, 2003).
Sistema de endereçamento
- formado por um códigos, sinais e/ou ícones que,
situados em cada um dos descritores da lista hierárquica, remete os mesmos para a
lista alfabética (índice alfabético) ou vice e versa. (AUSTIN; DALE, 1993).
209
Tesauro multicultural
- inventários conceituais e terminológicos representativos da
cultura de cada uma das línguas envolvidas. (HUDON, 1997).
Tesauro multilíngüe
- inventários conceituais e terminológicos completos para cada
uma das línguas envolvidas. (HUDON, 1997).
APENDICES
210
APÊNDICE A – DeCS – Descritores em Ciências da Saúde: lista alfabética
211
212
Fonte: BIREME, 2005.
213
APÊNDICE B – DeCS – Descritores em Ciências da Saúde: lista
hierárquica
DOENÇAS
Doenças do Sistema Nervoso
Manifestações Neurológicas
Manifestações Neurocomportamentais
Transtornos da Comunicação
Transtornos da Linguagem
Agrafia
Anomia
Dislexia +
Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem
Distúrbios da Fala
Afasia +
Transtornos da Articulação +
Ecolalia
Mutismo
Gagueira
DOENÇAS
Condições Patológicas, Sinais e Sintomas
Sinais e Sintomas
Manifestações Neurológicas
Manifestações Neurocomportamentais
Transtornos da Comunicação
Transtornos da Linguagem
Agrafia
Anomia
Dislexia +
Transtornos do Desenvolvimento da Linguagem
214
Distúrbios da Fala
Afasia +
Transtornos da Articulação +
Ecolalia
Mutismo
Gagueira
Fonte: BIREME, 2005.
215
APÊNDICE C – DeCS – Descritores em Ciências da Saúde: lista permutada
Fonte: BIREME, 2005.
216
APÊNDICE D – MeSH – Medical Subject Heading: lista alfabética (alfabetic list)
National Library of Medicine - Medical Subject Headings
2005 MeSH
MeSH Descriptor Data
Return to Entry Page
MeSH
Heading
Speech Disorders
Tree Number
C10.597.606.150.500.800
Tree Number
C23.888.592.604.150.500.800
Annotation
/ ther: consider also SPEECH THERAPY; do not confuse with
LANGUAGE DISORDERS: read differentiation of SPEECH &
LANGUAGE under SPEECH
Scope Note
Acquired or developmental conditions marked by an impaired ability
to comprehend or generate spoken forms of language.
Entry Term
Aprosodia
Entry Term
Aprosodic Speech
Entry Term
Cluttering
Entry Term
Dysglossia
Entry Term
Dyslalia
Entry Term
Rhinolalia
Entry Term
Verbal Fluency Disorders
See Also
Language Disorders
Allowable
Qualifiers
BL CF CI CL CO DH DI DT EC EH EN EP ET GE HI IM ME MI MO
NU PA PC PP PS PX RA RH RI SU TH UR US VI
Entry Version
SPEECH DIS
Unique ID
D013064
Fonte: UNITED STATES NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE, 2005.
217
APÊNDICE E – MeSH – Medical Subject heading: lista hierárquica (tree structures)
Nervous System Diseases [C10]
Neurologic Manifestations [C10.597]
Neurobehavioral Manifestations [C10.597.606]
Communication Disorders [C10.597.606.150]
Language Disorders [C10.597.606.150.500]
Agraphia [C10.597.606.150.500.050]
Anomia [C10.597.606.150.500.090]
Dyslexia [C10.597.606.150.500.300] +
Language Development Disorders [C10.597.606.150.500.550]
Speech Disorders [C10.597.606.150.500.800]
Aphasia [C10.597.606.150.500.800.100] +
Articulation Disorders
[C10.597.606.150.500.800.150] +
Echolalia [C10.597.606.150.500.800.300]
Mutism [C10.597.606.150.500.800.500]
Stuttering [C10.597.606.150.500.800.750]
Pathological Conditions, Signs and Symptoms [C23]
Signs and Symptoms [C23.888]
Neurologic Manifestations [C23.888.592]
Neurobehavioral Manifestations [C23.888.592.604]
Communication Disorders [C23.888.592.604.150]
Language Disorders [C23.888.592.604.150.500]
Agraphia [C23.888.592.604.150.500.050]
Anomia [C23.888.592.604.150.500.090]
Dyslexia [C23.888.592.604.150.500.300] +
Language Development Disorders [C23.888.592.604.150.500.550]
Speech Disorders [C23.888.592.604.150.500.800]
Aphasia
[C23.888.592.604.150.500.800.100] +
Articulation Disorders
[C23.888.592.604.150.500.800.150] +
Echolalia
[C23.888.592.604.150.500.800.300]
Mutism [C23.888.592.604.150.500.800.500]
Stuttering
[C23.888.592.604.150.500.800.750
Fonte: UNITED STATES NATIONAL LIBRARY OF MEDICINE, 2005.
218
APÊNDICE F – Quadro demonstrativo do sistema nocional do Vocabulário Controlado
DeCS
Categoria A
Anatomia
Categoria B Organismos
Categoria C Doenças
Categoria D Compostos Químicos e Drogas
Categoria E Técnicas e Equipamentos
Categoria F Psicologia e Psiquiatria
Categoria G Ciências Biológicas
Categoria H Ciências Físicas
Categoria HP
Homeopatia
Categoria I
Antropologia, Educação, Sociologia e Fenômenos
Sociais
Categoria J Tecnologia de Alimentos e Bebidas
Categoria K
Humanidades
Categoria L Ciência da Informação
Categoria M Pessoas
Categoria N Assistência a Saúde
Categoria SP Saúde Pública
Categoria Z Localizações Geográficas
Fonte: BIREME, 2003.
219
AP
Ê
NDICE G – Representação do termo Fonoaudiologia na categoria SP – Saúde
Publica no Vocabulário
SAÚDE PÚBLICA
Prestação de Cuidados de Saúde
Saúde +
Recursos Humanos em Saúde +
Pessoal de Saúde +
Ocupações em Saúde +
Recursos em Saúde +
Serviços de Saúde
Serviços de Saúde para Adolescentes
Cuidado da Criança +
Serviços de Saúde Comunitária +
Assistência Odontológica +
Serviços de Saúde Bucal +
Serviços de Dietética +
Serviços Médicos de Emergência +
Serviços de Saúde para Idosos
Mau Uso de Serviços de Saúde
Serviços Autóctones de Saúde
Serviços de Saúde Mental +
Cuidados de Enfermagem +
Serviços de Enfermagem +
Assistência ao Paciente +
Assistência Individualizada de Saúde
Serviços Farmacêuticos +
Reabilitação +
Fonoaudiologia
Serviço Social +
Serviços de Saúde para Estudantes
Serviços de Saúde para Mulheres
Administração de Serviços de Saúde +
Serviço de Limpeza +
Higiene
Pessoas Sem Cobertura de Seguro de Saúde
Missões e Missionários
Administração dos Cuidados ao Paciente +
Medicina Preventiva
Fonte: BIREME, 2005.
220
Saúde Pública
Odontologia em Saúde Pública +
Prática de Saúde Pública +
Veterinária de Saúde Pública
Escolas de Saúde Pública
Previdência Social +
221
APÊNDICE H – Representação do terno Agnosia nas categorias Categoria C –
Doenças e na Categoria F – Psicologia e Psiquiatria
DOENÇAS
Doenças do Sistema Nervoso
Manifestações Neurológicas
Manifestações Neurocomportamentais
Transtornos da Percepção
Agnosia
Síndrome de Gerstmann
Prosopagnosia
Transtornos da Percepção Auditiva
Alucinações
Ilusões
Membro-Fantasma
DOENÇAS
Condições Patológicas, Sinais e Sintomas
Sinais e Sintomas
Manifestações Neurológicas
Manifestações Neurocomportamentais
Transtornos da Perce
ão
222
Agnosia
Síndrome de Gerstmann
Prosopagnosia
Transtornos da Percepção Auditiva
Alucinações
Ilusões
Membro-Fantasma
PSICOLOGIA E PSIQUIATRIA
Comportamento e Mecanismos Comportamentais
Manifestações Neurocomportamentais
Transtornos da Percepção
Fonte: BIREME, 2005.
223
Agnosia
Síndrome de Gerstmann
Prosopagnosia
Transtornos da Percepção Auditiva
Alucinações
Ilusões
Membro-Fantasma
224
APÊNDICE I – Quadro demonstrativo dos descritores qualificadores existentes no
Vocabulário Controlado DeCS
/administração & dosagem
/instrumentação
/agonistas /irrigação
/análise
/
isolamento & purificação
/análogos & derivados
/
legislação & jurisprudência
/anatomia & histologia
/
lesões
/anormalidades
/líquido céfalo-raquidiano
/antagonistas & inibidores
/
metabolismo
/biossíntese
/
métodos
/cintilografia
/microbiologia
/cirurgia
/
mortalidade
/citologia
/
normas
/classificação
/
organização & administração
/complicações
/
parasitologia
/congênito
/patogenicidade
/contra-indicações
/
patologia
/crescimento & desenvolvimento
/prevenção & controle
/deficiência
/
provisão & distribuição
/diagnóstico
/psicologia
/dietoterapia
/
química
/economia /quimioterapia
/educação
/
radiografia
/efeitos adversos
/
radioterapia
/efeitos de drogas
/
reabilitação
225
/efeitos de radiação
/recursos humanos
/embriologia
/
sangue
/enfermagem
/secreção
/envenenamento
/
secundário
/enzimologia
/
síntese química
/epidemiologia
tendências
/estatística & dados numéricos
/terapia
/ética
/
toxicidade
/etiologia
/transmissão
/etnologia
/
transplante
/farmacocinética
/
ultraestrutura
/farmacologia
/
ultrassonografia
/fisiologia
/
urina
/fisiopatologia
/
uso diagnóstico
/genética
/
uso terapêutico
/história
/utilização
/imunologia
/
veterinária
/induzido quimicamente
/virologia
/inervação
Fonte: BIREME, 2003.
226
APÊNDICE J - Demonstrativo do qualificador /educação e do descritor Educação
co-existindo nessas duas categorias
Fonte: BIREME, 2005.
227
APÊNDICE L – Representação dos qualificadores na indexação e na recuperação
da informação na Base de Dados LILACS
Fonte: BIREME - CENTRO LATINO-AMERICANO E DO CARIBE DE INFORMAÇÃO EM
CIÊNCIAS DA SAÚDE. Biblioteca Virtual em Saúde – BVS. Disponível em:
<http://www.bireme.br>. Acesso em: 10 maio 2005.
Lista
Alfabética
/diagnóstico
Indexação
^sdiag
Recuperação
da Informação
/DI
228
APÊNDICE M – Nota de Indexação Português: pré-coordenação de termos para a
indexação
Fonte: BIREME, 2005.
Indexação pré-
coordenada
para o termo
Acupuntura da
orelha
Nota de
Indexação
não traduzida
229
APÊNDICE N – Sujeito 1 – Transcrição literal do protocolo verbal e entrevista
retrospectiva
SUJEITO 1 - Tema pesquisado: O Processamento visual na dislexia
Especialidade: Linguagem
Início: 10h15 min
Término: 10h40 min
Duração: 25 min
Transcrição literal do protocolo verbal
((S)) A minha pesquisa é “O Processamento visual na dislexia”. É um assunto
bastante novo, né! e acredito que tenha poucos artigos, poucas pesquisas nessa
área, mas é uma área que está começando a ser estudada e então eu quero ver o
que tem. ((DD)) DISLEXIA. ((DD)) PROCESSAMENTO VISUAL. ((FA)) Eu
esperava encontrar alguma coisa de PROCESSAMENTO VISUAL, é um termo muito
utilizado na minha área e fiquei surpresa de não ter. Agora vou tentar outro termo,
vou ver se tem alguma coisa sobre memória visual. ((DD)) MEMÓRIA VISUAL.
((DR)) MEMÓRIA A CURTO PRAZO, MEMÓRIA IMEDIATA. ((FA)) Não tem nada de
memória visual. Então, eu vou cruzar processamento auditivo com dislexia só para
ver o que é que tem. ((DD)) PROCESSAMENTO AUDITIVO.
((IR)) Nenhum termo
encontrado. ((SU)) Incrível! Mas é um termo muito utilizado. Então vou digitar ((DD))
PROCESSAMENTO FONOLÓGICO e cruzar a dislexia com o processamento
fonológico e acredito que vou achar. ((FA)) Não encontrei nada. Então vou realizar a
pesquisa somente com o termo dislexia e vou ver o que encontro dentro sobre o
processamento visual. ((SU)) Dislexia, 63? ((IOP)) O resultado foi satisfatório, 63?
((S)) Olha, eu esperava mais; 63 na área de dislexia é pouco. Agora eu vou dar uma
olhada se dentro de dislexia tem alguma coisa que fala de processamento visual.
((SU)) Hummm... emocional? Ah! Isso aqui é PROCESSAMENTO AUDITIVO
:
memória, localização, reflexo..., seqüência..., são formas de processamento auditivo
que a gente não acha, percepção auditiva, então a gente tem que ir no todo para ver
230
o específico e isso dá uma mão de obra danada ((IR)), pois a gente tem que ficar
observando um por um para achar o que quer. Olha esse texto é sobre o
processamento visual. (IOP)) Então você tem que pesquisar no geral para encontrar
o termo no texto? ((S)) Isso, no geral para chegar no específico e mesmo assim 63
para dislexia eu acho ainda que é muito pouco. Então eu tenho que ver os 63 para
encontrar o que eu quero. ((ID)) O que é isso? A fonoaudiologia e suas relaçöes com
a odontopediatria. O que tem a ver a fonoaudiologia com a odontopediatria nesse
resultado de pesquisa? Odontopediatria só entraria se fosse com fala e articulação.
Com linguagem e audição não tem nada a ver. Gagueira, então, nem se fale. ((IOP))
Isso você atribui que foi um problema ocorrido no momento da indexação? ((S)) Sem
dúvida. Esse, afasia, então, não tem nada a ver, gozado, né? Bem, eu vou colocar
outra coisa, pois hoje em dia já está se usando o termo distúrbio específico de
leitura. Eu usei dislexia pois é o termo mais genérico, mais comum; será que eu
acharia alguma coisa? Vou ver se eu acho distúrbio específico de leitura que é um
termo mais atual. ((DD)) DISTÚRBIO ESPECÍFICO DE LEITURA. ((FA/ID)) Agora
eu fiquei curiosa para ver. ((ID)) Não achou é nada. É um termo muito importante da
minha área que também, muitas vezes, tem profissionais que colocam dentro de
distúrbios da aprendizagem, vou ver se eu acho. ((DD)) DISTÚRBIOS DA
APRENDIZAGEM. Eu acredito quer vou achar mais, pois ele é mais abrangente.
((FAf)) Não acredito! Eu achava que fosse encontrar, não acredito! Não tem
condições? Eu não acho nada nem no geral e nem no específico. Vou chamar
novamente o termo ((DD)) DISLEXIA. ((DR)) dislexia, dislexia adquirida, dislexia de
desenvolvimento. A dislexia não é adquirida; a dislexia é congênita. Então, o termo
certo é dislexia congênita.. Vou pesquisar sobre a dislexia em desenvolvimento para
ver o que é que eu encontro. Estou perdida e vou ficar mais perdida. ((IOP)) É
porque os resultados não estão sendo satisfatórios? ((S)) É, não estão não. ((DD))
DISLEXIA DE DESENVOLVIMENTO. ((S)) ((SU/IDf) Olha, deu o mesmo resultado
de pesquisa da dislexia, 63. Deixe-me ver. Ah! São os mesmos textos que estavam
na dislexia mas, nem todos esses textos tratam dos dois assuntos. Bem, creio que
temos vários problemas com os termos e com o uso indevido deles, tudo bem?
((IOP)) Ok.
231
Entrevista retrospectiva
((IOP)) Você poderia fazer uma análise geral da linguagem documentária DeCS,
como por exemplo, se os termos que você encontrou foram satisfatórios para sua
pesquisa, se os termos estão atualizados, se a quantidade de termos disponíveis
são suficientes para representar a área de linguagem?
((S)) Eu achei que na área de linguagem eu encontrei poucos artigos, né e achei que
os termos são inadequados. Veja que eu achei a mesma coisa para dislexia e para a
dislexia de desenvolvimento, os mesmos artigos. E, inclusive uma terminologia
errada, a dislexia adquirida. Não era para entrar dentro da pesquisa. A dislexia não é
adquirida; ela é congênita. Eh! eh!, e também achei um artigo que eu não pedi. Eu
pedi um artigo de dislexia e apareceu um assunto de odontopediatria;
completamente oposto e que não tem nada a ver, assuntos completamente
diferentes. Não dá para estabelecer qualquer relação. Odontopediatria a gente
imagina fala, né e a dislexia tem relação com a escrita, então não tem relação
nenhuma. Bem que mais. Ah! Para que eu pudesse achar o assunto que eu queria
pesquisar eu teria que ler os 63 , pois o processamento visual está dentro dos
artigos que eu recuperei dos 63 e isso demanda tempo que a gente nunca tem, né?
232
APÊNDICE O – Sujeito 2 – Transcrição literal do protocolo verbal e entrevista
retrospectiva
SUJEITO 2 - Tema pesquisado: Voz profissional
Especialidade: Voz
Início: 10h15 min
Término: 10h50 min
Duração: 35 min
Transcrição literal do protocolo verbal
((S)) Vamos pesquisar sobre “Voz Profissional” ((DD)) VOZ PROFISSIONAL. Dentro
de voz eu tenho somente as opções: ((DR)) VOZ, DISTÚRBIOS DA VOZ,
QUALIDADE DA VOZ, TREINAMENTO DA VOZ, VOZ ALARÍNGEA E VOZ
ESOFÁGICA. Para voz profissional, voz alaríngea e voz esofágica não são
pertinentes. Então eu teria quatro opções: voz, distúrbios da voz, qualidade da voz e
treinamento da voz. ((FA)) Eu gostaria que tivesse a VOZ PROFISSIONAL, pois
dentro da fonoaudiologia a voz profissional já é um termo muito usado, específico e
nenhum desses quatro termos se relacionam diretamente a voz profissional. Então,
eu gostaria que tivesse o termo já direto voz profissional. Dentro da área de voz
profissional eu poderia ter a voz que é um termo muito amplo, distúrbio da voz que
não está muito relacionado com a voz profissional mas que pode acontecer,
qualidade da voz que em geral em todas as pesquisas sobre voz profissional eu vou
estar abordando qualidade de voz e treinamento da voz pode acontecer para os que
usam a voz profissionalmente poderem ser treinados quanto ao uso de sua voz.
Nenhum deles é diretamente relacionado. ((IOP)) Vamos escolher?. ((S)) Vamos.
((T)) Voz. Já que eu não encontrei voz profissional direto no descritor, na segunda
palavra eu vou tentar buscar a questão da profissão. Então, deveria ter ((DD))
PROFISSÃO na próxima palavra a ser pesquisada. Em profissão tenho apenas
((DR)) ESCOLHA DA PROFISSÃO E ORGANIZAÇÕES DE CONTROLE DA
PROFISSÃO. ((FA)) Nenhuma delas é diretamente relacionada ao estudo de voz
233
profissional então eu não vou usar nenhuma delas. Fico bastante em dúvida sobre
como continuar essas pesquisa porque se o meu estudo é sobre voz profissional
como um todo eu deveria ter uma palavra que abrangesse essa situação profissional
e aqui no descritor eu não encontrei. Então, eu teria que partir para procurar cada
uma das profissões que fazem uso profissional da voz, ammm, como instrumento
mesmo de trabalho. Eu vou começar com a profissão geralmente ammm que faz uso
da voz de maneira constante que tem uma grande chance de ter um número grande
de trabalhos, então seria a profissão de ((DD)) PROFESSOR. ((IR/ID)) Nenhum
termo encontrado no índice então, não existe a palavra professor. ((FA)) Eu vou
colocar ((DD)) DOCENTE, embora pelo o que eu me lembre dos estudos que eu já li
no Brasil sobre voz profissional relacionado especificamente ao professor é usado
muito o termo PROFESSOR e não docente, então se não foi usado o descritor
docente eu não vou encontrar nenhum dos estudos, mas....... vamos ver, em
docente tem. ((DR)) DOCENTE, CORPO DOCENTE, DOCENTE DE
ENFERMAGEM, DOCENTES DE VÁRIAS OUTRAS ÁREAS, DOCENTES NO
PLURAL, HOSPITAIS DOCENTES, DOCENTES DE FARMÁCIA, ou seja, de todas
elas a única palavra é docentes ou corpo docente. Eu vou colocar docentes, e então,
fazer a pesquisa pelas palavras voz e docentes. ((INS) Vieram cinco artigos, um
artigo de 2003 não, esse daqui é uma tese da Regina Penteado de 2003, um artigo
da Maria Helena Grillo da Pró-Fono de 2000, você vê, de 2003 foi para 2000 e, com
certeza, tem muitos trabalhos em voz profissional relacionados especificamente com
a voz do docente, a voz do professor que não apareceram aqui e que eu conheço.
Tem um artigo meu, tem um outro artigo da Regina Penteado de 1999 e uma tese de
Rosário, Estudo exploratório sobre a concordância entre o diagnóstico
fonoaudiológico e o diagnóstico otorrinolaringológico. (->->->) “O propósito deste
trabalho foi observar a concordância entre os diagnósticos fonoaudiológico e
otorrinolaringológico, na área da voz, nos 238 aspirantes a ingressar na Licenciatura
em Fonoaudiología para o ano de 1997. Esta investigação foi realizada com os
dados apontados pelas fichas do exame de aptidão física que se realiza aos
aspirantes, exame a cargo de profissionais fonoaudiólogos e otorrinolaringólogos
(docentes de carreira). Para levantar o diagnóstico fonoaudiológico se consideraram
as características das qualidades da voz (intensidade, tom e timbre) e, para
estabelecer o diagnóstico otorrinolaringológico se observou a presença ou ausência
de alterações em nível laríngeo. O diagnóstico fonoaudiológico se observou alterado
234
em 56,7 por cento (135 casos) já que os mesmos apresentaram, pelo menos, una
qualidade vocal alterada. Em 23 desses casos (18,9 por cento) se encontraram
timbre, tom ou intensidade alterados”. Função de ingressar na licenciatura em
fonoaudiologia. É pertinente sim, não é um dos tipos mais comuns de trabalhos na
área de fonoaudiologia, mas é pertinente. Os outros todos são bastante
direcionados. ((IOP)) Esse termos foram satisfatórios para a sua pesquisa? ((S))
Não, sabendo que existem um número grande de pesquisas que envolvem o
professor e fazendo a pesquisa pelos termos que o DeCS me forneceu, eu encontrei
apenas cinco, com certeza esses termos não foram suficientes para apresentar
todas as pesquisas relacionadas ao assunto. Com certeza não. Eles são muito
insuficientes. ((IOF)) E tem algum outro termo que possa substituir os utilizados?
((S)) Para voz profissional enquanto o professor, docente, eu não consigo pensar em
outros termos. Deixa me ver se existe ((DD)) DOCÊNCIA. ((SU)) Nenhum termo
encontrado no índice, então, era docentes mesmo. Então, pensando em voz do
professor eu não tenho outro recurso, usando os descritores, para conseguir, em ter
acesso a um número grande de artigos que eu sei que existem sobre o tema. Aí eu
teria um trabalho muito grande de buscar em voz profissional todas as outras
profissões. Eu tenho que saber quais são as outras profissões que irão aparecer
aqui e então, vou cruzar por exemplo com jornalismo ou jornalista. ((DD))
JORNALISMO. ((DR)) JORNALISMO, JORNALISMO EM ODONTOLOGIA,
JORNALISMO MÉDICO. ((INS)) Bem, desses termos eu vou optar pelo termo
jornalismo, cruzar voz e jornalismo e ver o que me aparece. ((INS)) Um, um artigo de
2002. Pouquíssimo perto do que existe. Então, essa palavra também não forneceu o
que eu precisava e então, vou tentar ((DD)) JORNALISTA, como uma outra opção.
((IRc)) Não existe, então, não dá para buscar artigos sobre voz profissional em
relação ao jornalismo. Então, também dentro de uma outra sub-área profissional,
que é a voz do jornalista, eu encontrei apenas um artigo. Vou fazer uma nova
pesquisa com uma outra profissão que é ((DD)) ADVOGADO. Eu sei que existe um
artigo da Pró-Fono sobre a voz do advogado. ((IRa)) Não existe. Então esse artigo
sobre a voz profissional do advogado não apareceu. Se houvesse um descritor VOZ
PROFISSIONAL, com certeza todos esses trabalhos que eu estou buscando iriam
usar esse descritor que é muito importante e específico para essa área de estudo da
voz e facilitaria muito a localização dos trabalhos que eu quero. Cantor, ((DD))
CANTOR, deve ter. ((SU/IDe)) Não existe esse termo. Eu não sei mais o que colocar
235
além de cantor para buscar a voz profissional. Dentro do estudo de voz profissional,
voz do professor e voz do cantor são os mais freqüentes estudos fonoaudiológicos,
depois, voz do jornalista. Existe inclusive um livro elaborado por um profissional de
áudio que relaciona inúmeros trabalhos em voz profissional que não aparecem aqui
porque os descritores que estou usando não estão sendo suficientes para localiza-
los. Vou tentar ((DD)) ATOR. ((FI)) Não existe, existe ((DR)) Miocárdio atordoado e
Atordoamento miocárdio. Como já disse, não existe. ((FR)) Isso ficou até engraçado.
Vou tentar ((DD)) TEATRO. ((SU)) Não existe. Então, eu não consigo um artigo
sobre voz do ator, voz profissional relacionado ao ator usando esses descritores. Se
eu colocar ((DD)) AVALIAÇÃO VOCAL, então, vamos pensar em Avaliação de voz
profissional. Eu acredito que terá bastante trabalhos para eu selecionar. ((ID)) Não
tem nem avaliação vocal aqui; se eu quiser qualquer trabalho, que tem inúmeros que
envolvem avaliação da voz, não tem. Porque aqui tem ((DR)) voz, distúrbios da voz,
qualidade da voz, treinamento da voz e para a maioria dos trabalhos que tem que
usar a avaliação da voz, não existe esse termo AVALIAÇÃO DA VOZ. Então vamos
pensar em uma outra alternativa de alguém que estudou a qualidade da voz dos
profissionais, ((DD)) QUALIDADE DA VOZ. ((IDs)) Eu tenho treze, aí eu tenho que
leu um por um, que também é pouco, pois existe muito mais do que isso que envolve
a qualidade da voz. Comunicação da terceira idade, tenho que leu um por um e
descartar o que não interessa. Avaliação da voz profissional de crianças cantantes,
consegui um de voz profissional usando um descritor indireto que é qualidade da
voz. Vamos ver, dois, três, quatro, cinco, sendo um trabalho meu, e veja, inclusive
como o termo voz profissional é usado em nossa área que o mesmo aparece em um
dos títulos dos trabalhos e era exatamente essa a linha de trabalho que eu queria
pesquisar; eu queria pesquisar trabalhos em geral de voz profissional então apenas
de uma profissão. Eu tive que partir para a qualidade vocal que poderia ser de
qualquer indivíduo que não seja profissional da voz pra tentar resgatar algum
trabalho sobre o tema que eu quero. ((IOP)) Embora você tenha encontrado alguns
trabalhos sobre voz profissional, mesmo assim o.s descritores não foram
satisfatórios? ((S)) Não Foram primeiro porque eu sei que existem inúmeros outros
artigos, muitos outros artigos que não apareceram aqui. Eu localizei apenas por um
descritor indireto, o que eu consegui recupera. E, dentre esses trabalhos, eu vi muita
coisa que não tinha a ver com voz profissional. Eu encontrei alguns trabalhos
pertinentes mas, com certeza os descritores são insuficientes. Se eu fosse fazer um
236
trabalho em voz profissional baseado nisso que eu encontrei com esses descritores,
eu ia fazer um trabalho muito pobre, pois os descritores estão pobres. Existem muito
mais coisas do que estão disponíveis.
Entrevista retrospectiva
((IOP)) Você poderia fazer uma análise geral da linguagem documentária DeCS,
como por exemplo, se os termos que você encontrou foram satisfatórios para sua
pesquisa, se os termos estão atualizados, se a quantidade de termos disponíveis
são suficientes para representar a área de voz?
((S)) Diria que é insuficiente o número de termos do vocabulário apresentado como
descritores e segundo que de dez anos para cá, a produção científica em voz
profissional aumentou muito e então, deveria ter esse descritor da sub-área da voz,
sobre estudos da voz que é a voz profissional, e isso não existe. Então, tem se que
fazer uma volta muito grande para se conseguir algunnnnnns trabalhos que, por
muitas vezes não são relacionados com o assunto. Então, a busca acaba sendo por
termos indiretos e insuficientes. E eu tenho certeza que existem muito muitos mais
trabalhos que eu não consegui detectar usando esses descritores ((IOP)) que não
atendem a sua necessidade de pesquisa ((S)) que não atendem a minha
necessidade de pesquisa. Poderia fazer um teste, não colocar em descritor de
assunto e colocar em palavras e com certeza eu encontraria muitos outros artigos
que eu não recuperei. Então, os descritores de assuntos não atendem a minha
necessidade na área de voz.
237
APÊNDICE P – Sujeito 3 – Transcrição literal do protocolo verbal e entrevista
retrospectiva
SUJEITO 3 - Tema pesquisado: Eletromiografia do músculo orbicular da boca
Especialidade: Motricidade oral
Início: 14h45 min
Término: 15h20 min
Duração: 35 min
Transcrição literal do protocolo verbal
((S)) O assunto que nós vamos procurar é “Eletromiografia do músculo orbicular da
boca”. Entrando em ((DD)) ((SA)) ELETROMIOGRAFIA ele tem como descritor e o
outro assunto vamos colocar, vamos tentar ((DD)) FUNÇÕES ORAIS que dentro da
motricidade oral é uma área que nós usamos bastante. ((FAa)) Não foi encontrado e
então, vamos tentar ((DD)) BOCA e cruzar com Eletromiografia que possivelmente
tenha bastante. ((INS)) Ah! tem dois e nenhum se adequa. Vamos tentar fazer outra,
Vamos tentar ((DD)) MÚSCULO DA BOCA ((FA)) que também não tem. Que mais
que a gente pode procurar.... O nome do músculo ((DD)) ORBICULAR DA BOCA
((INS)) que também não tem. Todos esses termos são corretos segundo o Comitê
de Motricidade Oral. Ammmmm ((DD)) LÁBIO. ((DR)) ((INS)) LÁBIO, LÁBIO
LEPORINO que é um termo muito leigo que ao me ver nem deveria estar aqui,
FRÊNULO DO LÁBIO, bem então a gente quer lábio, adicionar e aí vamos fazer a
pesquisa e encontramos. ((IOP)) Foi satisfatório esse resultado? ((S)) ((PSc)) Sim,
agora talvez comoooo, por isso que a Sociedade Brasileira de Fono está tentando
normatizar isso para os profissionais porque, eventualmente podem ter outros
termos que não estão aqui que aparecem e que a gente desconhece e então para
todos que estão fazendo este estudo, utilizar os mesmos termos para conseguir
encontrar as palavras que a gente quer. ((IOP)) Então, existiram outros termos que
significariam a mesma coisa ((S)) a mesma coisa ((IOP)) que possivelmente seriam
até mais adequados do que esses que você utilizou? ((S)) Eventualmente sim. Por
exemplo, se nós colocarmos funções orais, eu pegaria esse músculo não
238
especificamente na respiração mas pegaria esse músculo em todas as suas outras
funções: tensão, respiração, mastigação, deglutição, repouso, pausa e ficaria mais
abrangente e assim eu não tenho que colocar respiração, mastigação, deglutição.
Veja, vamos colocar ((DD)) RESPIRAÇÃO aqui e vamos ver se aparece alguma
coisa. Aparece a ((DR)) ((T)) RESPIRAÇÃO BUCAL e a RESPIRAÇÃO. Agora eu
não sei o que está dentro de respiração e o que está dentro de respiração bucal. De
repente o mesmo artigo pode estar aqui e aqui e o que eu quero está aqui mas, eu
teria que entrar aqui também para achar esse outro. ((T)) Veja, com respiração
estão aparecendo mais artigos ligados do que aqueles que eu fiz com lábio; estão
aparecendo mais artigos. Agora vamos tentar com aquele outro descritor lá que é
que a gente procurou ((DD)) RESPIRAÇÃO BUCAL, né. ((T)) Ele tem também mas,
já vieram outros artigos. Então, o que estava em respiraçãoooo, esse aqui deveria
estar lá e não está. O que gasta tempo da gente, dessa forma, é que nós temos que
deduzir várias palavras que podem estar: respiração, respiração bucal, músculo da
boca, ehhhhhhh para a gente chegar a uma pesquisa e em vários artigos, vão se
repetir nos resultados. ((PSd)) Veja, nesse só um não se repete. ((IOP)) Esse termo
respiração bucal está correto, satisfaz? ((S)) Segundo o Comitê de Motricidade Oral
da Sociedade Brasileira de Fono, o termo correto é respiração oral e aqui a gente
não vai encontrar. Vamos digitar ((DD)) RESPIRAÇÃO ORAL e eu acho que não vai
aparecer. ((SU)) Não tem, que é o termo correto, viu? Um outro termo que a gente
vai estar trabalhando também é a ((DD)) FISSURA LABIOPALATINA, ((IR))
fissuraaaaa que não tem e o que é correto segundo o Comitê. ((IOP)) Em relação a
que termo do DeCS? ((S)) No DeCS você vai ter fissura labial e fissura palatina mas,
os dois juntos você não tem. Quanto você está trabalhando com os dois, você tem
que pesquisar um e depois o outro. A escrita é toda junta; não tem hífen entre lábio
e palatina.
Entrevista retrospectiva
((IOP)) Você poderia fazer uma análise geral da linguagem documentária DeCS,
como por exemplo, se os termos que você encontrou foram satisfatórios para sua
pesquisa, se os termos estão atualizados, se a quantidade de termos disponíveis
são suficientes para representar a área de motricidade oral?
239
((S)) Os termos não estão atualizados na área de motricidade oral e de uma maneira
geral eu acho que eles estão desorganizados porque vários termos diferentes dizem
a respeito de uma mesma coisa. Então, para o pesquisador dá muito trabalho
conhecer tudo e procurar esses termos e aí você acaba perdendo tempo. Se
conseguisse organizar, fazer um estudo de qual é o termo correto e aí vamos pegar
novamente o exemplo da respiração, modo de respiração, tudo de respiração cai ai
dentro. Todos os outros termos que incluísse, que estão aí, fazer a definição correta
para economizar o tempo do pesquisador. ((IOP)) Com isso, agiliza mais a
recuperação da informação e satisfaz muito mais a necessidade de busca, de
pesquisa . ((S)) Agiliza porque hoje a gente não tem tempo; a gente conta de uma
forma rápida com isso. Quando a gente fala de definição, onde a gente acha?
Vamos ver..... ((DD)) FALA. ((INS)) Ah! Definição de fala: Comunicação através de
um sistema convencional de símbolos vocais; ah! Eu acho que tem outros termos
que poderiam fornecer uma definição mais complementar; linguagem como sai da
boca; isso é uma forma muito leiga, né? Não é uma forma científica de redação;
comportamento verbal da maneira como sai; fonética dos sons da fala. Isso é
segundo a definição da ASHA. Então eu acho que isso é uma coisa que precisa ser
organizada. Olha, vamos tentar ((DD)) ANQUILOSE ((INS)) Ah! Outra coisa que
também existe. Você pode ter não só uma anquilose muscular,, você pode ter uma
anquilose óssea e isso acontece na disfagia também. A ((DD)) DISFAGIA, se eu não
me engano, ela está dentro de doenças neurológicas. (IDg)) Disfagia é um termo
que a gente usa bastante. ((IOP)) Usa-se mais disfagia ou transtornos da
deglutição? ((S)) Disfagia porque transtornos da deglutição ele pode ser qualquer
coisa. Hoje a gente tem na literatura um esteriótipo inclusive que chama dysphagia
que trata do sistema de deglutição ehhhhh de origem neurológica, mas não só você
tem o distúrbio da deglutição de origem neurológica, você tem a disfagia mecânica e
pela definição que tem em algum lugar ela está dentro do neurológico e o mecânico
cai fora. ((IOP)) Disfagia é um termo bastante comum? ((S)) Sim. ((DD))
TRANSTORNOS DA DEGLUTIÇÃO, ((INS)) está dentro de doenças do sistema
digestório. Ma se você tem uma, por exemplo, uma, se você tirou uma parte da
língua por causa do câncer, você não tem uma doença do sistema digestório. Se
você tem um refluxo gastroesofágico, tudo bem, aí é dentro e aquela disfagia que
ficou por conta do câncer. Os termos devem ser organizados, estruturados e a ter a
distribuição dele aqui dentro dessa árvore. ((IOP)) Certo. ((S)) Porque ele tanto pode
240
entrar para um lado como para um outro. Isso acontece muito na nossa área. Você
pode ter uma alteração de face de problema estrutural porque você tem uma má-
oclusão dentária, porque tirou um pedaço da língua por causa de um câncer, de uma
doença neurológica, por atraso de desenvolvimento então, todos os termos não
podem estar disponibilizados num mesmo lugar. Quando a gente vai pesquisar, se
eu vou pesquisar um problema de fala, problema estrutural é completamente
diferente a minha pesquisa, não tem nada a ver com aquele problema do
desenvolvimento da fala e da linguagem. Então, isso é que precisa ser organizado.
Eu acho que o primeiro trabalho que foi feito, fantástico, isso ajuda só que hoje na
correria do dia a dia e com ah ah o avanço mesmo das definições, os estudos das
ciências, a gente já tem como melhorar isso, contribuir. É uma base ótima mas, pode
estar melhorando.
241
APÊNDICE Q – Sujeito 4 - Transcrição literal do protocolo verbal e entrevista
retrospectiva
SUJEITO 4 - TEMA PESQUISADO: A habilitação e a reabilitação da criança
deficiente auditiva implantada
Especialidade: Audiologia
Início: 9h15 min
Término: 9h40 min
Duração: 25 min
Transcrição literal do protocolo verbal
((S)) O tema do meu trabalho é “A habilitação e a reabilitação da criança deficiente
auditiva implantada e os descritores que eu pensei foram implante coclear,
habilitação auditiva reabilitação auditiva e criança. ((T)) Agora então, eu vou buscar
o primeiro descritor que é implante coclear. Eu digitei ((DD)) IMPLANTE, vieram
((DR)) vários tipos de implantes, ((SA)) eu selecionei IMPLANTE COCLEAR e agora
vou adicionar. Adicionei implante coclear. A segunda palavra como descritor de
assunto, vou buscar no índice ((DD)) HABILITAÇÃO AUDITIVA. ((FA)) O descritor
habilitação auditiva não foi encontrado nenhum no índice. Vou para o terceiro
descritor que é ((DD)) REABILITAÇÃO AUDITIVA. ((FAe)) Reabilitação auditiva ele
também não encontrou. Vou para o meu quarto descritor que é ((DD)) CRIANÇA e
ele encontrou vários ((INS)) mas, o que interessa é CRIANÇA DEFICIENTE
AUDITIVA ou CRIANÇA COM DEFICIÊNCIA AUDITIVA ou CRIANÇA PORTADORA
DE DEFICIÊNCIA AUDITIVA e eu encontrei aqui ((DR)) CRIANÇA DEFICIENTE e
encontrei CRIANÇAS DEFICIENTES e CRIANÇAS PORTADORAS DE
DEFICIÊNCIAS. Só que na hora que eu abrir um desses três vai me aparecer
deficiência visual, deficiência física e isso não me interessa. Eu quero a
DEFICIÊNCIA AUDITIVA. Eu vou abrir aqui crianças deficientes, adicionar e então
ficou crianças deficientes como um descritor. De quatro descritores, eu consegui um
e um segundo que não era exatamente o que eu queria. Eu acho que ele vai me dar
um leque muito grande e eu vou ter que filtrar. E agora eu vou fazer a pesquisa. Eu
242
vou fazer com esses dois descritores que eu achei e ele achou um trabalho. Eu sei
que tem muito mais que um trabalho com esse tema e os descritores desse trabalho
são implante coclear que eu digitei, ética, pessoas com insuficiência auditiva,
pessoas portadoras de deficiência, mas só me interessa deficiência auditiva e surdez
que é um descritor comum. ((IOP)) Então, esse resultado de pesquisa não te
satisfez? ((INS)) Não, veio um trabalho apenas e eu sei que tem muitos deles.
((IOP)) Esse descritor com insuficiência auditiva não corresponde a deficiência
auditiva? ((S)) Eu não conheço esse termo insuficiência auditiva. Existe deficiência
auditiva, insuficiência auditiva eu nunca vi. ((DR)) PESSOAS COM INSUFICIÊNCIA
AUDITIVA não conheço. Na literatura a gente encontra pessoas com deficiência
auditiva, deficiência auditiva, surdez e insuficiência auditiva é a primeira vez. ((IOP))
É deficiência auditiva. ((S)) Sim, e não insuficiência auditiva. ((IOP)) Para a
realização de sua pesquisa há outros descritores que você poderia substituir, ou
tentar utilizar? ((S)) Para fazer um outro caminho, eu teria que usar a palavra
audição, linguagem, poderia usar a palavra percepção de fala, poderia usar a
palavra surdez, poderei fazer esse caminho. ((IOP)) Então, se você tivesse o
descritor REABILITAÇÃO AUDITIVA... ((S)) Para mim seria esse porque ele engloba
trabalhos que falam sobre audição deficiente, sobre linguagem, sobre percepção de
fala, então é um descritor que poderia me economizar o trabalho de três pesquisas
isoladas, por exemplo. E também é o caso da HABILITAÇÃO AUDITIVA. ((IOP))
Também seria importante a habilitação auditiva? ((S)) Sim, porque a reabilitação
auditiva só vai me dar trabalhos me falam das pessoas que perderam a audição e a
habilitação auditiva vai falar das crianças que tem defeito pré-lingual, crianças que já
nasceram com deficiência auditiva. O melhor seria DEFICIÊNCIA AUDITIVA PRÉ-
LINGUAL ou DEFICIÊNCIA AUDITIVA PÓS-LINGUAL dependendo do tipo de
deficiência que eu estou trabalhando. Eu não coloquei aqui pré-lingual, vamos ver se
tem? ((DD)) DEFICIÊNCIA AUDITIVA PRÉ-LINGUAL Espero encontrar um trabalho
dentro de audiologia educacional. ((SU/IDfa)) Não existe. Vou tentar outro descritor
((DD)) DEFICIÊNCIA AUDITIVA PÓS-LINGUAL. ((FA)) Não existe. Esses
descritores seriam importantes para recuperar só trabalhos do assuntos estudado.
Vem muitos trabalhos misturados e a gente tem que filtrar e dá trabalho. Se tivesse
os descritores, já filtra bastante, já economiza bastante tempo. Então, para essa
pesquisa eu deveria ter selecionado de 5 a 6 descritores e não consegui muitos
deles.
243
Entrevista retrospectiva
((IOP)) Você poderia fazer uma análise geral da linguagem documentária DeCS,
como por exemplo, se os termos que você encontrou foram satisfatórios para sua
pesquisa, se os termos estão atualizados, se a quantidade de termos disponíveis
são suficientes para representar a área de audiologia?
((S)) Não. Eu acho que estão insuficientes porque numa primeira tentativa eu vi que
eu precisaria usar várias palavras para conseguir um listagem de trabalhos
suficientes com o tema de minha pesquisa. Quanto a atualização, eu penso no
termo insuficiência auditiva e isso me parece que está errado. Am, e ainda mais no
trabalho que apareceu, me parece que não está correto, certo? ((IOP)) Ok.
244
APÊNDICE R – Formato detalhado de apresentação de registro
Base de dados :
LILACS
4
Pesquisa :
"CRIANCAS deficientes" [Descritor de assunto] and "IMPLANTE COCLEAR"
[Descritor de assunto]
Referências encontradas :
1 [refinar]
Mostrando:
1 .. 1 no formato [Detalhado]
página 1 de 1
1 / 1
LILACS
Id:
365298
Autor:
Bevilacqua, Maria Cecília.
Título:
A ética em programas de implante coclear em crianças / The
ethics in a cochlear implant program for children
Fonte:
Bol. psicol
;51(115):169-176, jul.-dez. 2001.
Idioma:
Pt.
Resumo:
O implante coclear é uma opçäo efetiva para o tratamento de
crianças com deficiência auditiva severa ou profunda. Trata-se de
um dispositivo eletrônico inserido cirurgicamente que substitui o
órgäo sensorial da audiçäo, capaz de modificar a qualidade de
vida do ser humano. Por necessitar de uma cirurgia, a indicaçäo
deste tratamento para crianças desencadeia um processo de
reflexäo dos princípios éticos pertinentes à decisäo da utilizaçäo
do implante coclear, fundamentado pelas questöes pertinentes:
quando se decide e quem decide por uma criança e quais säo os
critérios para uma decisäo. Comitês éticos que hoje têm discutido
sobre estas questöes afirmam que quem decide pela criança säo
os pais e os interesses de grupos devem ser rigorosamente
excluídos. Esses säo alguns pontos de reflexäo apresentados
neste trabalho a partir dos estudos atuais nesta área e a partir da
prática clínica. Tais subsídios devem ser compartilhados com a
comunidade científica. (AU).
Descritores:
Implante Coclear
Ética
Pessoas com Insuficiência Auditiva
Crianças Portadoras de Deficiência
-Surdez
Limites:
Humano
Criança
seleciona
para imprimir
Fotocópia
Bevilacqua,
Maria Cecília
Documentos
relacionados
4
Busca bibliográfica realizada na Base de Dados LILACS - BIREME. Disponível em
<http://bases.bireme.br/cgi-bin/wxislind.exe/iah/online/>. Acesso em: 3 fev. 2005
245
ANEXO A - Instruções aos informantes sobre a técnica do “pensar alto”
O que vamos fazer agora é uma atividade de familiarização com a técnica
de coleta de dados que será usada em nosso estudo.
Tudo que você tem a fazer é realizar suas pesquisas da mesma maneira
que você costuma fazer em suas atividades profissionais.
Durante toda pesquisa você precisa “pensar alto”. Tente imaginar você
sozinha num recinto pesquisando um assunto de sua área. Em situações como essa, já não
lhe ocorreu começar a falar espontaneamente em voz alta, exteriorizando seus raciocínios,
seus mecanismos mentais para conseguir pesquisar? Neste processo, o indivíduo “pensa
em voz alta” verbalizando espontânea e quase inconscientemente seus pensamentos,
questionamentos, suas buscas para eventuais problemas de compreensão, sua maneira
singular de extrair significado de uma pesquisa.
Um exemplo bastante claro de exteriorização do pensamento durante a
realização de uma tarefa (e que ocorre com a maioria das pessoas) é o “pensar alto”
espontâneo durante a realização de um problema matemático.
Dá para você ter uma idéia de como funciona essa técnica? Corresponde à
verbalização de sua fala interna, seu pensamento.
Agora, a tarefa que você vai realizar é a pesquisa de um assunto na Base
de Dados LILACS utilizando o campo de descritor de assunto que vai lhe ser
apresentado...e, por favor, lembre-se de que é preciso “pensar alto” durante toda a
pesquisa.
Você provavelmente encontrará passagens muito claras e fáceis de
compreender, outras poderão lhe obrigar a uma “paradinha” para pensar um pouco mais...
Tudo depende do seu próprio estilo.
Lembre-se, que nesses momentos de parada para pensar um pouco mais
ou resolver algum problema, você deve tentar exteriorizar tudo que passa pela sua cabeça.
Se em algum momento da pesquisa, você achar difícil falar e pensar
simultaneamente, você poderá fornecer uma explicação de como você buscou a solução
para um problema de compreensão.
Na medida do possível, tente fazer esforços para “pensar alto” durante o
seu processo de pesquisa. É um processo único em que falar é pensar.
Tente esquecer a presença da observadora/pesquisadora. Ela estará
presente para lembrar-lhe que é preciso “pensar alto” o tempo todo. Tente agir naturalmente
quanto possível, como se você estivesse só.
Atente apenas para a tarefa que você deve realizar.
1
Adaptado de NARDI, M. I. A . As expressões metafóricas na compreensão de texto escrito em língua
estrangeira. Dissertação (Mestrado em Lingüística Aplicada ao Ensino de Línguas) – Pontifícia Universidade
Católica, São Paulo apud FUJITA; NARDI; FAGUNDES, 2003, p. 173-174.
ou protocolo verbal
1
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