esse igual. Só pode falar de si consigo, em monólogo, solilóquio, em
puro solipsismo, que é ocupar-se de "pensar pensamentos", conforme o
entendia Aristóteles. Se Deus não pode falar de si ao homem, nem
por suas obras, linguagem do Ser, então, toda a revelação é fala
humana levada a conta de divina. Todavia, se pode falar de si por
suas obras ao sensitivo da totalidade, feito o contato, a sintonia,
achado o denominador comum da palavra, da linguagem muda do Ser
traduzida para a linguagem humana, neste ponto, Deus se revela ou se
desvela, e o homem também pode falar de Deus.
Deus não é Essência pura... sem matéria alguma, como o
entendiam Aristóteles, todos os escolásticos, e ainda todos os idealistas
modernos, que, se o fosse, seria pura idéia, pura abstração, apenas
ficção, existente só na mente do homem, sem objetividade, sem
realidade exterior. Acaso é isto difícil de entender? Ele não é Essência
pura, senão também Substância-Amor. Não é ele um puro Ente de
razão, e sim, também, um Ente existencial, substancial, real de
verdade, objetivo. Para apreendê-lo, pois, no nível e dentro dos
limites do humano, uma vez que em todos os níveis ele está presente,
o homem terá de empregar-se a si mesmo como um todo em que
entrem sua razão, sua vontade, sua sensibilidade estética,
axiológica e de totalidade, seus sentimentos todos mais egrégios,
sobretudo, destes, o mais excelso que é o amor.
Desde quando, com Parmênides, a filosofia praticou a ruptura
entre essência e existência, entre ser e substância, tomando, como
real, só o ser de razão, a essência pura, imaculada de mundo, tudo,
inclusive a ciência de Deus, ficou reduzido a meio saber. Procurava-se,
nos primórdios, até Heráclito, quem existe, e, de Parmênides em diante,
respondeu-se, não à pergunta, quem existe?, mas, quem é?
Ora bem: a essência se opõe à existência, como tese e antítese,
como partes oponentes e complementares de todas as coisas, sem
nenhuma exceção. Ambas, forma e conteúdo, são irredutíveis entre si,
mas de cujo casamento in-dis-so-lúvel, i-nex-tri-cá-vel, surge a
síntese do objeto real, da coisa como realidade objetiva no mundo
objetivo. Esta verdade inconteste, inexorável, aplacadora, vale
também para Deus. Por causa deste pecado original da filosofia, ou
seja, o de separar, e tomar por real a essência que, por sua natureza, é
i-de-al, nunca mais foi possível tirar Deus do imobilismo parmenídico,
tornando impraticável conciliar filosofia e religião, embora o objeto da
razão seja o mesmo do da fé... que a teologia, em vão, tenta aclarar.
Não mais "credo quis absurdum", mas, creio por ser suprarracional,
dado que a razão não pode ultrapassar os seus próprios
fundamentos intuitivos que hão de ser aceitos de fé..., e isto, não só
para a religião, como, também, para a filosofia, para as ciências e