Assim, observamos, atualmente, uma mudança da linguagem utilizada no
texto jornalístico, fato que pode ser explicado, talvez, pelo desejo de tornar-se mais
atraente aos leitores e pela influência de certos autores-ficcionais. Daí, o emprego
de figuras de estilo (metáforas, metonímias e hipérboles), de vocábulos em sentido
conotativo, ou seja, a exploração, cada vez maior, do aspecto polissêmico das
palavras. Notamos, também, uma modificação da linguagem do texto literário,
caracterizando-se pela concisão e simplicidade necessárias à conquista de um leitor
absorvido pelo trabalho e escravizado pelo tempo. Portanto, o status de literatura
para o texto jornalístico já não mais se limita aos textos consagrados como
literários, impressos nos jornais, tais como crônicas e contos. Tal status pode estar
presente em quaisquer gêneros textuais relacionados ao Jornalismo (entrevista,
reportagem, notícia, por exemplo), desde que o jornalista utilize a matéria-prima – a
palavra, como dissemos, a linguagem – , visando à estética. É necessário,
portanto, avaliar o texto não pelo seu veículo de impressão – o corpo – como nos
diz Olinto (1955, p.07), mas pelo texto materializado em si – o espírito –, ou
melhor, pela sua qualidade textual, tendo em vista a linguagem por meio da qual se
manifeste a função poética, ou seja, o valor estético da linguagem:
“A Veraneio vermelha atravessou a principal rua do vilarejo goiano e parou
de frente para o rio. Saltaram cinco homens suados e sujos de lama. As águas
turvas do Araguaia desciam calmas para o norte e desapareciam no
horizonte cinzento. Nílton levantou a cabeça para contemplar a paisagem e
sentiu um arrepio na espinha. A mata fechada ergueu-se na outra margem,
no Pará, como muralha verde. O forasteiro imaginou inimigos armados,
embrenhados naquela imensidão de folhas, troncos, cipós e espinhos.”
(M & S, p.19)
Como vemos, na citação, os jornalistas – imbuídos na situação discursiva por
um narrador onisciente – utilizam nomeações (substantivos e adjetivos) e figuras de
linguagem (neste caso, a comparação), para construir/configurar o cenário/a região
de conflito, sob um olhar pessoal/subjetivo e, com isso, relatar-nos, de forma quase
cinematográfica, a chegada das primeiras tropas militares do Exército ao município
de Xambioá, em março de 1972. Ou seja, ao narrar-nos este acontecimento, os
jornalistas assim o fazem, a partir de suas experiências de vida, construídas, em sua
maioria, por valores éticos, morais, religiosos, sociais etc., considerando-se o fato