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melancolia”
122
– ele concluiu que a melancolia é essencialmente unitária, embora
possa assumir diferentes formas. Em suas palavras:
De modo que tomes a melancolia no sentido que quiseres, própria ou
impropriamente, como disposição ou hábito, para prazer ou dor, desvario,
descontentamento, temor, tristeza, loucura, parcial ou totalmente, verdadeira ou
metaforicamente, é tudo uma coisa só. O próprio riso é loucura [...] e os sábios
tampouco são melhores [pois, como diz Qohélet] “onde abunda a sabedoria,
abundam as penas, e quem acumula sabedoria, aumenta sua dor”.
123
Além disso, Burton observou a grande diversidade daqueles que podem ser
acometidos pela melancolia:
[...] as pessoas no horóscopo das quais a Lua, Saturno e Mercúrio estão mal
posicionados; aquelas que vivem em clima muito frio ou muito quente; aquelas cujos
pais são melancólicos; aqueles que violam as seis coisas não naturais, que são
como que tingidos de preto ou de um temperamento muito sanguíneo; aqueles que
têm pequenas cabeças, que tem um coração quente, um cérebro úmido, que tem um
fígado quente e um estômago frio, que tem estado por muito tempo doente; as
pessoas que são naturalmente solitárias, que se aplicam ao estudo, que se entregam
a uma meditação profunda, que são ociosos, que vivem afastados de toda atividade
– todos estes são atingidos pela melancolia. Os homens como as mulheres [...] O
outono é a mais melancólica estação do ano. Quanto à idade, a melancolia natural é
freqüentemente a companheira inseparável da velhice, mas, quando ela não é
natural, ela é mais freqüente em pessoas de idade madura.
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Entretanto, não só as características observadas nos indivíduos intrigavam
Burton, mas também os inúmeros fatos horríveis e catástrofes que lhe chegavam
através das notícias:
Todos os dias recebo novas notícias e rumores de guerras, pragas, incêndios,
inundações, roubos, assassinatos, massacres, meteoros, cometas, espectros,
prodígios, aparições; de cidades tomadas, praças sitiadas na França, Alemanha,
Turquia, Pérsia, Polônia, etc., revistas militares e preparativos diários, [...] batalhas
com muitos homens mortos, combates singulares, naufrágios, pirataria, tratados de
paz, alianças, estratagemas e novos perigos. Uma enorme confusão de promessas,
desejos, ações, editos, petições, pleitos, alegações, leis, proclamas, ofensas [...]
Novos livros a cada dia, panfletos, [...] novos paradoxos, opiniões, cismas, heresias,
controvérsias filosóficas e religiosas, etc.
125
122
Robert BURTON, The anatomy of melancholy, Parte I, Seção III, Membro 1, Subseção 2, p. 397.
123
Burton se refere a Ecl 1, 18. Ibid., Demócrito Júnior ao leitor, p. 40.
124
Robert BURTON, The anatomy of melancholy, Parte I, Seção I, Membro 3, Subseção 2, p. 172.
125
Ibid., Demócrito Júnior ao leitor, p. 18.