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Marins que pudemos consultar nesta revista voltavam-se, sobretudo,
para a discussão da identidade e do sertanismo brasileiro.
Em 1944, por iniciativa de um estudante do curso, foi realizado
um “amplo inquérito entre os mais representativos elementos da
inteligência estudantina, acerca dos problemas de maior atualidade e
relevo”.
Publicado inicialmente no jornal Folha da Noite, os
resultados deste inquérito foram reunidos na Revista Arcádia sob o
título de “Depoimento da atual geração acadêmica”.
O inquérito
respondido pela “geração” acadêmica indagava sobre “as suas mais
íntimas convicções, de seus mais profundos pensamentos. Sobre o que?
Sobre tudo, de uma maneira geral: a vida, os homens, o mundo, a
arte...”. E tornar-se-ia um “documento de interesse histórico, em que as
gerações futuras possam conhecer qual o modo pelo qual os moços deste
período agitado, de verdadeira transição, encaram a verdadeira paisagem
da vida”.
Responderam ao inquérito os acadêmicos: Lygia Fagundes,
Genésio Pereira Filho, Aloysio Ferraz Pereira, Esther de Figueiredo
Ferraz, Manuel Cebrian Ferrer, Adail Pereira Ribeiro, Rubens Teixeira
Scavone, Francisco Marins, Fernando Melo Bueno e João Nery
Guimarães. Esse tipo de inquérito era considerado uma importante
forma de expressão pelo meio acadêmico.
Essa “geração acadêmica”
na qual Marins esteve incluído fazia das manifestações literárias
atividade essencial de suas vidas e desse modo pode contribuir para o
entendimento dessa esfera em que o escritor esteve envolvido.
O depoimento de Marins acerca deste inquérito mostrou-nos
que o escritor enxergava no conhecimento da cultura brasileira a chave
A Revista Arcádia está arquivada na biblioteca da Faculdade de Direito de São Paulo e
pesquisamos alguns números, que estão discriminados nas fontes desta dissertação.
CUNHA, Roberto Salles. Depoimento da atual geração acadêmica. Depoimento do escritor
Francisco Marins. In Arcádia. Revista da Academia de Letras da Faculdade de Direito da
Universidade de São Paulo. Genésio Pereira Filho (diretor-responsável). Ano IX, outubro de
1944, nº 23, p. 5. Os depoimentos recebem o título do depoente e logo abaixo é apresentado
um breve currículo do acadêmico.
Criada por Olival Costa e Pedro Cunha, a Folha da Noite foi um diário vespertino, que atraiu
leitores das classes médias urbanas da cidade de São Paulo e que circulou entre os anos 1921 a
1959. A Folha da manhã foi criada em 1925 e após 24 anos, foi criada a Folha da Tarde. Em
1960, os três títulos se fundiram e formaram a Folha de São Paulo.
CUNHA, Roberto Salles. Op. cit., p. 6.
A campanha em prol da criação da USP, por exemplo, ganhou força a partir de 1926, através
de um inquérito organizado por Fernando de Azevedo, e promovido pelo jornal O Estado de S.
Paulo. A unificação ocorreu em 1934 e agregou os cursos então existentes, entre eles, a
Faculdade de Direito, oficializada por D. Pedro I em 1827. A observação aparece em
BARROS, L. A.. A toponímia oficial de espontânea na cidade universitária – campos Butantã
da USP. Revista USP, São Paulo, n.56, p. 164-171, dez/fev 2002/2003, p. 165.