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edições UNESCO
Conselho Editorial
Jorge Werthein
Maria Dulce Almeida Borges
Célio da Cunha
Equipe Responsável
Maria das Graças Rua, Coordenadora (Consultora/UNESCO)
Miriam Abramovay, Coordenadora (Consultora/UN ODCCP)
Assistente Editorial: Larissa Vieira Leite
Capa: Edson Fogaça
Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e a Cultura
Representação no Brasil
SAS, Quadra 5 Bloco H, Lote 6,
Ed. CNPq/IBICT/UNESCO, andar.
70070-914 Brasília DF Brasil
Tel.: (55 61) 321-3525
Fax: (55 61) 322-4261
UNESCO
Division of Women, Youth and Special Strategies
Youth Coordination Unit
Paris, France
BR/2001/PI/H/2
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Consultor (Amostra Quantitativa)
David Duarte Lima
Assistente de Coordenação da Equipe de Pesquisa
Fabiano de Sousa Lima
Assistentes de Pesquisa
André Luiz Lara Resende Saraiva
Cláudia Beatriz Silva de Souza
Cláudia da Costa Martinelli
Danielle Oliveira Valverde
Diana Teixeira Barbosa
Eugênio Braga
Indira Bastos Marrul
Lorena Vilarins dos Santos
Natália Oliveira Fontoura
Perla Ribeiro
Roberta Holanda Maschietto
Thalles Rodrigues de Siqueira
Thiago Gehre Galvão
Nota Sobre as Coordenadoras da PesquisaNota Sobre as Coordenadoras da Pesquisa
Nota Sobre as Coordenadoras da PesquisaNota Sobre as Coordenadoras da Pesquisa
Nota Sobre as Coordenadoras da Pesquisa
MARIA DAS GRAÇAS RUA é professora da Universidade de Bra-
sília e consultora da UNESCO em pesquisas e avaliações, princi-
palmente para questões de gênero, juventude e violência. Bacha-
rel em Ciências Sociais, fez pós-graduação em Ciência Política
no Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro, Brasil.
Entre muito trabalhos, destaca-se sua tese de doutorado: “Políti-
cos e Burocratas no Processo de Policy-Making: A política de
Terras no Brasil, 1945-1984”. Foi coordenadora do Grupo de Tra-
balho de Políticas Públicas da Associação Nacional de Pós-Gra-
duação e Pesquisa em Ciências Sociais (ANPOCS).
MIRIAM ABRAMOVAY é consultora da UN ODCCP e do Banco
Mundial em pesquisas e avaliações em questões de gênero, ju-
ventude e violência. Formou-se em Sociologia e Ciências da Edu-
cação pela Universidade de Paris, França (Paris VII - Vincen-
nes), e possui mestrado em Educação pela Pontifícia Universida-
de Católica de São Paulo, Brasil. Foi coordenadora do Programa
de Conservação Social da UICN para a América Central e Méxi-
co e do Programa de Gênero na FLACSO para a América Lati-
na. Trabalhou como consultora para o Banco Mundial, UNICEF,
OPS, UNIFEM, IDB, ACDI/Canadá e FAO, entre outros.
As duas pesquisadoras são co-autoras das avaliações: Programa
de Gestão Social (Presidência da República/BID), Programa Sesi,
Educação do Trabalhador. Participaram como consultoras na ava-
liação do Programa de Capacitação Solidária. Foram co-autoras
dos livros “Companheiras de Luta ou Coordenadoras de Panela”
(Brasília: UNESCO, UNICEF, UNAIDS e Ministério do Desen-
volvimento Rural, 2000) e “Gangues, Galeras, Chegados e Ra-
ppers” (Brasília: UNESCO e Instituto Ayrton Senna, 1999). Atu-
almente são coordenadoras da “Pesquisa Nacional sobre Violên-
cia, Aids e Drogas nas Escolas” (Brasil, 2001) e “Ensino Médio:
Percepção de alunos e professores sobre a escola” (Brasil, 2001).
Equipes Locais de Pesquisa de CampoEquipes Locais de Pesquisa de Campo
Equipes Locais de Pesquisa de CampoEquipes Locais de Pesquisa de Campo
Equipes Locais de Pesquisa de Campo
Alagoas
Universidade Federal de Alagoas
Centro de Ciências Jurídicas
Erinalva Medeiros Ferreira
Amazonas
Universidade Federal do Amazonas
Instituto de Ciências Humanas e Letras
Maria Auxiliadora Gomes
Bahia
Universidade Federal da Bahia
Instituto da Ciência da Informação
Teresinha Fróes Burnham
Ceará
Universidade Federal do Ceará
Núcleo de Psicologia Comunitária/Departamento de Psicologia
Verônica Morais Ximenes
Espírito Santo
Universidade Federal do Espírito Santo
Departamento de Didática e Prática de Ensino Centro Pedagógico
Luiza Mitiko Yshiguro Camacho
Distrito Federal
Universidade Católica de Brasília
Departamento de Psicologia
Tânia Rossi
Goiás
Universidade Federal de Goiás
Faculdade de Educação
Maria Hermínia Marques da Silva Domingues
Mato Grosso
Faculdades Integradas Cândido Rondon UNIRONDON
Diretoria Acadêmica
Clorice Pohl Moreira de Castilho
Pará
UNIPOP Instituto Universidade Popular
Dirk Oesselmann
Pernambuco
Centro de Cultura Luiz Freire
Ana Nery dos Santos
Maria Elizabete Gomes Ramos
Rio Grande do Sul
Universidade Federal do Rio Grande do Sul
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas
Miriam Rodrigues Breitman
Themis - Assessoria Jurídica e Estudos de Gênero
Coordenação Executiva
Virgínia Feix
Rio de Janeiro
ISER Instituto de Estudos da Religião
Fernanda Cristina Fernandes
Santa Catarina
Grupo de Apoio à Prevenção da Aids/SC
Helena Edília Lima Pires
São Paulo
Ação Educativa, Assessoria, Pesquisa e Informação
Programa de Juventude
Maria Virgínia de Freitas
7
SumárioSumário
SumárioSumário
Sumário
Agradecimentos ..................................................................... 9
Uma Explicação Necessária ................................................. 11
Apresentação.......................................................................... 13
Introdução ............................................................................... 15
1. A Política e o Programa Brasileiro de DST/Aids ...... 39
1.1. Referências Conceituais ............................................. 39
1.2. A Epidemia de Aids no Brasil, a Política Nacional
de DST/Aids e o Programa Brasileiro de DST/Aids . 46
2. Avaliação de Processo ................................................... 65
2.1. O Desenvolvimento das Ações nas Escolas .............. 65
2.2. As Parcerias ............................................................... 69
2.3. A Capacitação ............................................................ 79
2.4. As Atividades ............................................................. 105
2.5. O Material .................................................................. 126
3. Avaliação de Resultados................................................ 139
3.1. Caracterização dos Beneficiários do Programa ......... 139
3.2. Atividades ................................................................... 155
3.3. As Reações dos Beneficiários ................................... 172
4. Avaliação de Impactos ................................................... 181
4.1. As Estimativas de Impacto feitas por Diretores,
Professores e Alunos ................................................. 183
4.2. Indicadores Objetivos de Impacto .............................. 194
4.3. O Impacto sobre os professores ................................ 215
8
5 . Conclusões e Recomendações..................................... 223
5.1. Recomendações de Diretores e Professores ............. 228
5.2. Recomendações de Pais e Alunos ............................. 232
Bibliografia.............................................................................. 235
Lista de Siglas ........................................................................ 239
Lista de Tabelas ..................................................................... 242
Lista de Quadros ................................................................... 252
ANEXO
Manual de Ética da Pesquisa ............................................... 253
9
AgradecimentosAgradecimentos
AgradecimentosAgradecimentos
Agradecimentos
Aos representantes da UN ODCCP e da Unesco , que acre-
ditam que as pesquisas podem ser um instrumento importante no
aperfeiçoamento das políticas públicas e na construção de um
futuro melhor.
Às instituições que tornaram possível a realização da grande
pesquisa que sustenta a presente avaliação: BIRD, CONSED,
Instituto Ayrton Senna, Fundação Ford, Secretaria de Estado dos
Direitos Humanos (MJ), Secretaria de Estado de Assistência Social
(MPAS), UNAIDS, UNDIME, USAID.
Aos Secretários Estaduais de Educação, aos Secretários Es-
taduais de Saúde, aos Secretários Estaduais de Segurança Públi-
ca, que apoiaram a realização deste trabalho. Às autoridades
municipais que nos auxiliaram no desenvolvimento da pesquisa de
campo. Às associações e sindicatos das escolas particulares e de
professores, por toda ajuda que nos prestaram.
À Coordenação Nacional de DST/Aids pelo apoio e assis-
tência prestada. Em especial, a Ximena Pamela Cláudia D. Ber-
mudez, por todos os esclarecimentos prestados e pelo seu empe-
nho na articulação e interlocução entre a equipe de pesquisa e
essa instituição. À Sueli Andrade, pelos inúmeros esclarecimen-
tos que nos proporcionou.
A Jeanete Muffalo e a Cristina Raposo que, além de nos
facilitar o acesso a fontes de informação sobre o tema, generosa-
mente discutiram conosco diversos aspectos do trabalho.
A Cíntia Freitas, Gisele Cabral, Étienne França, Vera Da
Ros, Nara Araújo, Giovanna Qualia e Tânia Peixoto pela colabo-
ração durante a revisão final.
Aos nossos assistentes de pesquisa que colaboraram em to-
das as etapas do trabalho e nos ajudaram a pensar os diversos
temas da pesquisa.
10
A Vera Ros, pelo apoio administrativo em todos os momen-
tos necessários.
Às equipes locais, pela realização da coleta de dados nas
cidades de Manaus, Belém, Fortaleza, Recife, Maceió, Salvador,
Vitória, Rio de Janeiro, São Paulo, Florianópolis, Porto Alegre,
Cuiabá, Goiânia e no Distrito Federal.
Aos Diretores de Escolas, professores, alunos e pais, que
generosamente se dispuseram a colaborar fornecendo as infor-
mações essenciais ao desenvolvimento deste trabalho.
A todos, nossa sincera gratidão.
11
Uma Explicação NecessáriaUma Explicação Necessária
Uma Explicação NecessáriaUma Explicação Necessária
Uma Explicação Necessária
Desde 1997, quando a UNESCO no Brasil iniciou uma série
de pesquisas centrada nos temas de Juventude, Violência e Cida-
dania, tem sido uma prática insistentemente perseguida a publica-
ção dos resultados das pesquisas, como forma de disseminar e
ampliar o conhecimento e o debate a respeito desses assuntos.
No caso específico desta publicação, a UNESCO está man-
tendo esta proposta que é uma tradição, apesar de relativa-
mente recente. Mas também estamos inovando, devido a uma
circunstância particularmente singular. Esta avaliação de algu-
mas das ações do programa brasileiro de prevenção às DST/Aids
é um olhar único e inicialmente não programado de uma pesquisa
mais ampla que a UNESCO concebeu, coordenou e executou,
que tem o nome de “Violência, Aids e Drogas nas Escolas”.
A pesquisa “Violência, Aids e Drogas nas Escolas” tem um
escopo amplo, diversificado e complexo que consiste em levantar
e combinar informações quantitativas e qualitativas sobre os fe-
nômenos associados à violência, Aids e drogas nas escolas, do
ponto de vista de alunos, pais, professores, diretores e funcionári-
os responsáveis pela disciplina no ambiente escolar. A pesquisa
foi realizada em 14 capitais de Estados brasileiros, representati-
vos das regiões geográficas e com diferentes níveis de desenvol-
vimento econômico e social. Neste momento, ela encontra-se
em fase de conclusão das análises e elaboração do relatório fi-
nal, também para publicação. Conta com a parceria de diversas
instituições públicas e privadas, nacionais e internacionais, que
inclusive contribuíram com o patrocínio dos trabalhos: Coordena-
ção Nacional das DST/Aids, vinculada ao Ministério da Saúde;
Secretaria de Estado dos Direitos Humanos, vinculada ao Minis-
tério da Justiça; UNAIDS, UNDCP, USAID, Instituto Ayrton
Senna, Ford Foundation, CONSED e UNDIME.
Feito esse esclarecimento, é importante registrar que a ava-
liação representa uma parte significativa mas não a totalidade da
12
pesquisa. Sua produção decorreu da decisão de apresentar a ava-
liação sobre os resultados e impactos do programa brasileiro de
prevenção às DST/Aids nas escolas, na Sessão Especial da As-
sembléia Geral das Nações Unidas sobre Aids, que ocorreu em
Nova York, no período de 25 a 27 de junho de 2001. Esta Sessão
Especial foi um importante momento em que o Sistema Nações
Unidas se reuniu para definir as estratégias internacionais de com-
bate à Aids, em cujo contexto a prevenção é um componente
essencial. É mister esclarecer que o programa brasileiro é exe-
cutado pela Coordenação Nacional das DST/Aids, com apoio da
UNAIDS e financiado pelo Banco Mundial. Essa decisão teve
como inspiração a conclusão dos trabalhos de campo e a tabula-
ção das informações da pesquisa “Violência, Aids e Drogas nas
Escolas”. A equipe responsável pela pesquisa, realizando traba-
lhos adicionais, centrou esforços nesta análise, e antecipou parte
dos resultados com o objetivo de atender às necessidades do Mi-
nistério da Saúde, do Banco Mundial e da UNAIDS.
A expectativa da UNESCO é de que esta publicação seja
útil a todos os que trabalham e se interessam pela temática da
prevenção das DST/Aids, especialmente junto à população esco-
lar. Esperamos, ainda, que os resultados parciais antecipados des-
pertem a curiosidad e e o interesse pela publicação do relatório
integral da pesquisa, que breve estará disponível.
13
ApresentaçãoApresentação
ApresentaçãoApresentação
Apresentação
Segundo os princípios que regem a política de saúde no Bra-
sil, especial ênfase deve ser dada à descentralização das ações
nessa área, mediante a adoção de novas óticas no relacionamen-
to entre agências governamentais distintas e entre as instâncias
federal, estadual e municipal, e também de novas perspectivas
interinstitucionais e novas formas de relacionamento do poder
público com a sociedade.
A implementação de políticas em conformidade com tais prin-
cípios e ângulos de atuação representa, por um lado, uma oportu-
nidade ímpar de agregar capacidades e somar esforços num se-
tor tão crucial quanto a saúde e, por outro, um formidável desafio
num país de proporções continentais e grandes diferenças regio-
nais quanto o Brasil. Estes se tornam ainda mais significativos
quando se trata de uma área tão delicada quanto a prevenção de
DST/Aids e uso indevido de drogas, e de um público tão sensível
quanto os jovens.
Desde 1994, a Coordenação Nacional de DST/Aids do Mi-
nistério da Saúde vem enfrentando esse desafio com a colabora-
ção do Ministério da Educação. Entre outras iniciativas, vem de-
senvolvendo atividades de promoção à saúde e de prevenção de
doenças sexualmente transmissíveis, com ênfase na Aids, e uso
indevido de drogas junto a jovens em ambiente escolar.
Este documento apresenta uma avaliação do processo, dos
resultados e dos impactos dessa iniciativa. Como poderá ser cons-
tatado, um grande número de ações foi efetuado. Estas ações
cobriram um amplo espectro de atividades, com importantes re-
percussões sobre as informações dos professores, assim como
sobre as atitudes e comportamentos da maioria de alunos e pais
quanto às DST/Aids e ao uso indevido de drogas. Foi demonstra-
do, como mostram os dados, que as ações desenvolvidas fazem
diferença tanto para as gerações jovens quanto para seus profes-
sores e seus pais.
14
A avaliação mostra também que há, ainda, muito por reali-
zar, por todas as instâncias e agências públicas envolvidas, a
fim de reduzir a vulnerabilidade dos jovens escolares às DST/
Aids e ao uso indevido de drogas, o que demonstra a importân-
cia de fortalecer este programa, diante das novas metas a se-
rem alcançadas.
José Manuel Martinez-Morales Jorge Werthein
Representante UN ODCCP Representante da UNESCO
Escritório Regional Brasil no Brasil
Presidente do grupo Temático
do UNAIDS no Brasil
15
IntroduçãoIntrodução
IntroduçãoIntrodução
Introdução
O objetivo deste documento é apresentar uma avaliação das
ações de prevenção de DST/Aids e uso indevido de drogas nas
escolas que integram o Programa Brasileiro de DST e Aids.
Dependendo das finalidades da avaliação, podem se dife-
renciar três perspectivas para abordar políticas públicas, progra-
mas e/ou projetos. Assim, tem-se a avaliação de situação”
quando o objetivo é proporcionar ao gestor conhecimentos acer-
ca das diversas possibilidades quanto ao público a ser beneficiado
e/ou as características e preferências deste; ou sobre as táticas
para enfrentar determinadas dificuldades ou limitações, ou quan-
to à capacidade instalada ou recursos disponíveis para realizar
ações, etc. Pouco utilizada no Brasil, a “avaliação de situação
realizada previamente ao início de qualquer ação representa
mais do que um diagnóstico, chegando a consistir mesmo num
mapeamento de possibilidades que permite ao gestor maior segu-
rança ao estabelecer metas e tomar decisões estratégicas.
Uma outra perspectiva é adotada quando a avaliação tem
por finalidade permitir ao gestor acompanhar as ações previstas,
de maneira a aperfeiçoar gradualmente a implementação, medi-
ante ciclos curtos, constantes e sucessivos de retroalimentação.
Esta é denominada “avaliação em processo”.
Finalmente, quando se trata de obter instrumentos para a
tomada de novas decisões e/ou de prestar contas das ações de-
senvolvidas, conforme os princípios de accountability, adota-se
a “avaliação de produto ”. Este documento apresenta uma ava-
liação de produto.
Em qualquer avaliação, essencialmente, são quatro as dimen-
sões que podem ser apreciadas:
(1) processos ou seja, os meios, procedimentos e instrumen-
tos mediante os quais os objetivos são buscados;
16
(2) resultados isto é, os produtos imediatos das ações realiza-
das, que podem ser avaliados em si mesmos (eficácia) ou
sobre os quais podem incidir avaliações de eficiência (custo/
benefício);
(3) qualidade, ou seja, a medida pela qual os resultados obtidos
e os processos adotados são eficazes e satisfatórios, do pon-
to de vista dos envolvidos no programa como beneficiários,
executores e planejadores; e
(4) impactos que correspondem às conseqüências dos resul-
tados produzidos sejam eles diretos, pretendidos, ou indire-
tos, não antecipados. Esse tipo de avaliação exige cuidados
rigorosos de isolamento das variáveis a serem analisadas e
deve ser realizado após um período pré-determinado de im-
plementação das atividades.
Neste documento, que focaliza produtos, serão examinados,
primeiro, os processos adotados na implementação das ações de
prevenção de DST/Aids e de uso indevido de drogas, conforme
descritos por diretores, professores e membros das equipes pe-
dagógicas das escolas. Em segundo lugar, serão analisados os
resultados das ações implementadas, tendo como referência, para
isso, as manifestações dos alunos e seus pais. Em terceiro, serão
explorados os impactos das ações realizadas, tanto sobre os alu-
nos, como sobre seus pais.
Caracterização do Estudo Realizado
Seja qual for o tipo ou o objeto de avaliação, esta sempre
remete à noção de valor por exemplo, o valor da formação de
multiplicadores e tem por finalidade explicar o motivo de certos
resultados e tentar estimar suas conseqüências. Assim, contribui
para desvendar o sentido das ações realizadas, mediante a opi-
nião dos que passaram pelo processo e adquiriram novas compe-
tências e a elucidação das maneiras como estas foram transfor-
madas em práticas diversas. Por outro lado, devido às próprias
17
características de grande parte das ações desenvolvidas, suas
avaliações geralmente requerem processos complexos, envolvendo
a combinação de diferentes abordagens e de dados primários e
secundários.
Tendo isso em mente, a fim de efetuar a presente avaliação,
foram aplicados quatro diferentes instrumentos de coleta de da-
dos em 340 escolas distribuídas por catorze capitais brasileiras:
Manaus e Belém, na Região Norte; Fortaleza, Recife, Maceió e
Salvador, no Nordeste; Distrito Federal, Goiânia e Cuiabá no Cen-
tro-Oeste; Vitória, Rio de Janeiro e São Paulo, na Região Sudes-
te, e Porto Alegre e Florianópolis no Sul
1
. Os instrumentos apli-
cados foram: questionários fechados a alunos, pais e professores;
entrevistas em grupos focais com alunos, pais e professores; en-
trevistas individuais abertas com diretores de escolas; e roteiros
de observação das escolas pesquisadas. Assim sendo, esta avali-
ação compreende duas abordagens complementares, diferentes
tanto em seus resultados como nas estratégias adotadas: a abor-
dagem extensiva e a abordagem compreensiva, combinadas de
modo a articular os respectivos benefícios e superar as limita-
ções. A primeira destas visa a conhecer magnitudes e baseia-se
na representatividade e na capacidade inferencial dos dados, ca-
racterística de pesquisas do tipo survey. Contudo, quando se tra-
ta de universos estatisticamente pouco numerosos, as conhecidas
restrições às amostras com populações finitas recomendam que,
em lugar das técnicas amostrais, sejam realizados censos.
a abordagem compreensiva procura trabalhar o conteúdo e
o sentido das manifestações da vida social, próprias à atividade dos
sujeitos, que interagem exatamente em função de significados
individuais, sociais, culturais, etc. atribuídos tanto à própria ação
1
Em virtude de limitações de espaço e formato gráfico, nas tabelas apresentadas
nesta avaliação, as capitais estaduais pesquisadas são identificadas pela sigla da
unidade federativa (UF) correspondente, apesar da coleta de dados ter sido feita
apenas nos municípios-sede das capitais estaduais e no Distrito Federal.
18
quanto à sua relação com os demais. Assim, tenta recolher todos
esses elementos, colocando em foco as percepções, intenções,
motivações e valores expressos no discurso dos atores.
Neste sentido, além da observação in loco nas escolas e
das entrevistas individuais em profundidade com diretores, coor-
denadores, supervisores pedagógicos e orientadores educacionais,
uma técnica especialmente profícua foram os grupos focais, com
professores, pais e alunos.
De fato, os grupos focais têm-se revelado um dos principais
instrumentos dos métodos de “indagação rápida” (Rapid Assess-
ment)
2
, desenvolvida para obter uma informação ágil, pouco onero-
sa, em profundidade e com um volume significativo de informação
qualitativa fornecida pelos membros de um grupo específico. O ma-
nejo da técnica requer a seleção aleatória dos membros para, con-
trolando alguns denominadores comuns como sexo, idade e posição
institucional dos respondentes, formar grupos que permitam obter
uma maior pluralidade de opiniões. Para definir o número de grupos
necessários, utiliza-se a técnica de saturação do conteúdo. Essa sa-
turação é observada quando os conteúdos das entrevistas passam a
ser repetitivos e não apresentam mais elementos novos.
Caracterização da Pesquisa Compreensiva
Conforme pode ser observado na Tabela 1, ainda que a abor-
dagem compreensiva não requeira amostras de grande tamanho,
a pesquisa qualitativa que sustenta esta avaliação abrange um
diversificado conjunto de instrumentos, aplicados a um número
bastante significativo de unidades. Além disso, vale chamar a aten-
ção para o fato de que, como os grupos focais são formados por
em média dez pessoas, é bastante elevado o número de in-
formantes envolvidos.
2
O“Rapid Assessment é utilizado para facilitar decisões que devem ser baseadas
na realidade, e é uma ferramenta para articular opiniões, julgamentos e perspecti-
vas enunciados pelos próprios envolvidos no problema. (World Bank, 1993)
19
Tabela 1 Instrumentos qualitativos segundo as capitais das UF onde foi efetuada a pesquisa
(números absolutos)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(* ) O total de roteiros de observação de escolas abrange as unidades escolares da amostra qualitativa e da amostra quantitativa.
20
Na pesquisa qualitativa, a etapa mais importante do trabalho
é a analise das informações. Esta é realizada por meio da siste-
matização das respostas dos participantes, identificando e classi-
ficando as categorias mais significativas. É feita uma exploração
progressiva das respostas utilizando subcategorias de dados or-
ganizados por temas, para que elas possam ser reorganizadas em
categorias culturais.
Na primeira etapa, os dados são analisados de maneira descri-
tiva para que possam ser identificados os padrões culturais que gui-
am a sua interpretação. Em uma segunda etapa, as preocupações,
prioridades e as percepções dos indivíduos pesquisados são demons-
tradas tal como foram expressas, sem censura nem discriminação, e
uma comparação dos discursos é realizada entre os grupos.
As categorias surgem dos dados segundo padrões e repeti-
ções, baseando-se nas referências culturais do grupo pesquisado
como ponto de início.
Começando com as perguntas da pesquisa, as suas hipóte-
ses, sua problemática e temas-chave para o estudo, as categorias
surgem das perguntas principais com uma base nos roteiros das
entrevistas e nos dados.
Portanto, depois de as informações serem categorizadas,
uma analise sintética dos resultados das entrevistas e dos gru-
pos focais é realizada, a fim de revelar as mensagens principais
dos participantes. Ao mesmo tempo foram analisados os pontos
de convergência e divergência entre os diferentes grupos entre-
vistados.
Caracterização da Pesquisa Extensiva
As Tabelas 2, 2.1 e 2.2, a seguir, descrevem a amostra quan-
titativa. Na primeira delas pode-se observar que foram incluí-
dos estabelecimentos particulares e públicos, estaduais e muni-
cipais, dedicados à oferta de ensino fundamental e médio em
turnos diurno e noturno.
21
Tabela 2 Distribuição amostral das escolas por capitais das UF, segundo a dependência admi-
nistrativa (números absolutos)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
22
Tabela 2.1 Estabelecimentos de ensino nos municípios-sede das capitais das UF, por níveis de
ensino e por dependência administrativa das escolas, em 1998 (números absolutos)
Fonte: INEP Censo Escolar 1998.
(*) Vale lembrar que muitas das escolas, especialmente as particulares e estaduais, ofereciam ambos os níveis de ensino.
23
Tabela 2.2 Questionários respondidos por alunos, professores e pais nas capitais das UF
(números absolutos)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
24
3
De acordo com o Ministério da Educação, as escolas são classificadas em
quatro tipos, segundo sua “dependência administrativa”: federal pública, es-
tadual pública, municipal pública e particular.
Para permitir uma melhor avaliação da amostra, a Tabela
2.1 descreve, a partir dos dados do Censo Escolar de 1998, o
universo dos estabelecimentos de ensino nas capitais onde foi rea-
lizada a pesquisa, discriminando-os segundo os níveis de ensino
que oferecem e sua dependência administrativa
3
.
Como pode ser observado na Tabela 2.2, nas escolas selecio-
nadas para compor a amostra, questionários sobre sexualidade,
DST e Aids foram respondidos, ao todo, por 16.619 alunos, 4.532
pais e 3.055 professores.
As Tabelas 3, 3.1,4e5,aseguir, mostram a distribuição de
questionários respondidos por alunos, pais e professores nas ca-
pitais das UF.
O Desenho Amostral
A base de dados utilizada para a seleção desta amostra foi o
cadastro do INEP-MEC, constituído a partir do Censo Escolar.
Esta é reconhecidamente a mais confiável base de dados de es-
colas, turmas, séries e alunos, tanto do ponto de vista de abran-
gência como de especificidades ou precisão das informações. Esta
base é formada pela coleta de informações nos censos escolares,
repetidos periodicamente.
Para esta amostra foram utilizados os dados consolidados
mais recentes na época, isto é, de 1998. Como a pesquisa foi
realizada no decorrer do ano 2000, era razoável supor-se que este
intervalo de tempo não constituísse problema em termos do uni-
verso das escolas, sendo pouco prováveis alterações significati-
vas em tão curto período. O mesmo, possivelmente, não se aplica
às turmas e séries nas escolas, em virtude de pelos menos três
25
Tabela 3 Questionários respondidos pelos alunos nas capitais das UF, por dependência
administrativa das escolas e turnos de estudo (números absolutos)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
26
Tabela 3.1 Alunos matriculados x questionários respondidos, por nível de ensino nos
municípios-sede das capitais das UF, 2000 (números absolutos)
Fonte: INEP Censo Escolar 2000
27
Tabela 4 Questionários respondidos pelos pais de alunos nas
capitais das UF, por dependência administrativa das
escolas (números absolutos)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO,
UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
fatores: a implementação da nova Lei de Diretrizes e Bases, a
transferência do ensino fundamental da esfera estadual para o
âmbito municipal, o Programa Toda Criança na Escolaeaim-
plantação do FUNDEF. Esses fatores introduziram grande incer-
teza quanto à situação vigente no ano de 2000, quando compara-
da com os dados cadastrais de 1998. Por isso, optou-se por esta-
belecer como unidade amostral as escolas e não as séries, turmas
ou alunos. De fato, a coleta de dados mostrou que houve diversas
mudanças e que não existiam mais várias das séries sorteadas
para a amostra em diversas escolas, ou que o turno de estudo foi
significativamente mudado. Por isso, como seria menos provável
que o conjunto das escolas sofresse grandes alterações em me-
nos de dois anos, a unidade amostral utilizada foram as escolas.
28
Tabela 5 Questionários respondidos pelos professores das
escolas nas capitais das UF, por dependência
administrativa das escolas (números absolutos)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO,
UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
Portanto, neste estudo, a população é constituída por esco-
las. Conseqüentemente, a amostra será um subconjunto das es-
colas de ensino regular, fundamental e médio municipais, esta-
duais e particulares existentes no município-sede da capital dos
estados envolvidos no estudo. Supondo-se que a densidade de-
mográfica afeta os fenômenos sociais, inclusive no ambiente es-
colar, a definição do tamanho da amostra tem como parâmetro a
variância do tamanho das escolas medida pelo número de alu-
nos em cada capital.
Assim, mantendo-se um coeficiente de confiança de 95,5%
e uma margem de erro de 5%, esse subconjunto variou, em cada
capital, do mínimo de 19 escolas, no Distrito Federal e em Vitória,
ao máximo de 46 escolas em São Paulo.
29
Por sua vez, a seleção da amostra leva em conta, além das
diferenças intercapitais, as fontes de variabilidade da dependência
administrativa da escola. O plano de amostragem levou em conside-
ração dois aspectos. Primeiramente, que fosse abrangente de forma
a subsidiar decisões com o maior alcance possível. Em segundo lu-
gar, os resultados deveriam expressar peculiaridades locais, e a amos-
tra deveria ser constituída de forma a captá-las. Assim, as amostras
devem ter representatividade em cada subpopulação.
O banco de dados utilizado no sistema de referência não
contempla informações individualizadas dos alunos. O nível mais
baixo de agregação é a escola, com seus respectivos números de
turmas e de alunos por série. O tamanho da escola, medido em
número de alunos, é fundamental na definição da possibilidade de
que esta seja selecionada. Assim, quanto maior a escola, maior a
sua probabilidade de ser selecionada.
Para garantir que os resultados tivessem tanto abrangência
quanto capacidade de captar especificidades, a amostra foi divi-
dida proporcionalmente entre os diversos estratos. Isto significou
não estudar cada escola como um todo, mas selecionar níveis de
ensino, turnos e séries. As restrições financeiras inerentes a es-
tudos deste porte colaboram fortemente para definição do tama-
nho da amostra. Respeitando a representatividade das subpopu-
lações, pudemos estudar grande parte da escola, a totalidade das
turmas selecionadas, com pouquíssima ou nenhuma alteração dos
custos financeiros. Nas turmas incluídas na amostra foram entre-
vistados todos os alunos.
O procedimento de seleção foi realizado em três etapas: pri-
meiramente, de forma aleatória e ponderada, as escolas foram
selecionadas. Numa segunda etapa, as séries foram selecionadas,
de acordo com critérios explicitados a seguir. Por fim, foram sor-
teadas aleatoriamente as turmas de cada série onde deveriam ser
aplicados os questionários.
Os estratos foram definidos pela combinação Nível de ensi-
no X Dependência administrativa (municipal, estadual ou particu-
30
lar). A série corresponde ao ano de estudo (5
a
a8
a
série do ensino
fundamental, 1
a
a3
a
para o ensino médio). Há, dessa forma, 42
estratos em cada capital. A Figura 1, a seguir, mostra de forma
esquemática os estratos.
Assim, pode-se dividir a população estudada da seguinte forma:
i. Unidades primárias, constituídas pelos municípios das capi-
tais sob estudo.
ii. Unidades de seleção, ou secundárias, constituídas pelas es-
colas. São chamadas unidades de seleção por serem estas as
unidades objeto da seleção.
iii. Unidades de observação, ou terciárias, constituídas pelas sé-
ries/turmas de cada escola. Nas turmas selecionadas, todos
os alunos serão entrevistados.
iv. Unidades terminais ou quaternárias, constituídas dos alunos
que serão entrevistados.
Figura 1 - Estratos Amostrais
31
Desta forma, dentro de cada estrato foram selecionadas ale-
atoriamente escolas que pertenceriam à amostra. Uma lista de
escolas de substituição que deveria ser usada em caso de im-
possibilidade de pesquisar determinada(s) escola(s) ou turma(s)
foi também selecionada.
Nas séries/turmas selecionadas, os questionários foram apli-
cados segundo a técnica de clinical research
4
, ou seja, foram
distribuídos a todos os alunos para que respondessem autonoma-
mente, sem a intervenção direta do pesquisador. Todos os alunos
dessas séries/turmas receberam questionários para serem preen-
chidos por seus pais ou responsáveis, sendo livre a devolução.
Em todas as escolas foram distribuídos questionários auto-aplicá-
veis a todos os membros do corpo técnico-pedagógico, sendo tam-
bém livre a devolução.
Cabe, aqui, uma rápida advertência quanto ao significado dos
números. Felizmente, parte dos fenômenos aqui estudados es-
pecificamente as atitudes de sexo de risc o e o envolvimento com
drogas são marginais, no sentido de que não constituem com-
portamentos-padrão disseminados por toda a sociedade. Por isso,
suas manifestações sempre tendem a se expressar na forma de
pequenos percentuais. Estes, ainda que pequenos, assumem grande
significado. Para exemplificar, num universo hipotético de cerca
de 500.000 jovens entre 15 e 24 anos presente em qualquer
cidade brasileira com aproximadamente 2 milhões de habitantes,
como várias das capitais estudadas –, 2% significam 10.000 pes-
soas. Se estas desenvolvem atividades cujas interações apresen-
tam impacto multiplicador, então esse pequeno percentual pode
significar problemas de grande magnitude.
4
Clinical Research é um procedimento de coleta de dados quantitativos mediante
questionários auto-aplicáveis respondidos individualmente por um conjunto mais
ou menos numerosos de informantes, reunidos em um mesmo espaço físico, sob a
supervisão e controle de um pesquisador.
32
Crítica da Amostra
O cadastro do Censo Escolar de 1998 foi utilizado por tra-
tar-se do último conjunto de dados do SEEC-MEC disponível ao
público na época. Naquela ocasião estavam chegando os dados
referentes ao Censo Escolar de 2000, mas este ainda teria um
longo percurso até toda crítica de consistência ser realizada e
após isso seria colocado à disposição do público. Desta forma, o
levantamento seria feito com um cadastro com defasagem de dois
anos. Essa diferença entre a situação levantada pelo Censo Es-
colar e a situação real de campo na data da pesquisa poderia
ocasionar situações como as que seguem:
i. Abertura de novas escolas.
ii. Fechamento ou desaparecimento de escolas.
iii. Aumento do número de turmas e/ou alunos de determinada
escola selecionada.
iv. Diminuição do número de turmas e/ou alunos de determinada
escola selecionada.
v. Mudança da estrutura etária entre as coortes.
À primeira vista, essas situações podem gerar alguns erros
ou vieses. Contudo, se as examinarmos com mais atenção, pode-
mos avaliar o risco real de alteração significativa dos resultados
considerando cada uma dessas hipóteses. Vejamos:
i. Abertura de novas escolas. Elas não estariam no cadastro
utilizado para a seleção da amostra e, portanto, fariam parte
de uma “população invisível” quando da realização do plane-
jamento da amostra. É, porém, razoável supor-se que em
menos de dois anos: a) o número de escolas criadas não é
grande; e b) o número de alunos matriculados numa nova
escola geralmente não é expressivo.
ii. Fechamento ou desaparecimento de escolas. Nesse caso, a
lista de substituição de escolas supre a necessidade. É, de
33
certa forma, um meio de aproximar a situação do cadastro da
situação real.
iii. O aumento do número de turmas e/ou alunos de determinada
escola selecionada não tem influência na seleção da amos-
tra. Cada equipe teve uma “tabela de sorteio” que garantiria
a aleatoriedade da seleção da turma.
iv. Da mesma forma que no item anterior, a diminuição do nú-
mero de turmas e/ou alunos de determinada escola selecio-
nada não tem influência na seleção da amostra e sua repre-
sentatividade.
v. A mudança da estrutura etária entre as coortes de estudan-
tes de 1998 e 2000 tampouco é importante. Primeiro porque,
na realidade, não mudança de idades: são os alunos que
mudam de idade (e também de série) e não a média de idade
dos alunos de uma série determinada. Como o estudo é foca-
do sobre o comportamento dos alunos que freqüentam deter-
minada série, a diferença entre o cadastro e a situação real
de campo é irrelevante.
Estas possibilidades nos levam a fazer a seguinte pergunta:
até onde poderiam gerar vieses nos resultados? A resposta está
parcialmente dada nos itens descritos, mas outro aspecto é tam-
bém relevante: a diferença de tempo entre o cadastro (Censo
Escolar de 1998) e a coleta de dados é de apenas dois anos. Esse
tempo é muito pequeno para que tenha ocorrido qualquer altera-
ção significativa entre as duas populações (do cadastro e das es-
colas pesquisadas). Além disso, algumas eventuais divergências
foram solucionadas com a substituição de escolas. Para as esco-
las criadas no interstício, que estavam fora, é razoável supor-se
que: a) são em pequeno número; b) não são escolas grandes; e
c) não têm um número expressivo de alunos. Por isso, não têm o
poder de gerar um viés.
Destarte, pode-se sustentar que a pesquisa realizada tem total
validade, sendo perfeitamente legítima a generalização, no perío-
34
do, nos municípios-sede das capitais pesquisadas. E que, guarda-
dos os cuidados tradicionalmente adotados para a inferência es-
tatística, seus resultados podem ser legitimamente expandidos para
os dias atuais.
O Processo de Pesquisa
Os dados apresentados nesta avaliação foram obtidos a par-
tir de um conjunto de perguntas que integram um amplo questio-
nário sobre sexualidade, DST/Aids e uso indevido de drogas, um
roteiro de entrevistas individuais abertas e em grupos focais, e
um roteiro de observação das escolas pesquisadas. As questões
foram elaboradas e discutidas com a equipe da Coordenação
Nacional de DST/Aids do Ministério da Saúde, bem como com
representantes do Gabinete de Segurança Institucional da Presi-
dência da República. Em seguida, foram submetidas a teste em
aplicações individuais e em pesquisa-piloto realizadas em escolas
do Distrito Federal. Após processar os resultados da pesquisa-
piloto, questionários e roteiros foram reformulados no que se
mostrou necessário. Um protocolo compreendendo todos os do-
cumentos e instrumentos da pesquisa foi submetido ao Comitê de
Ética da UNESCO e aprovado.
As capitais que integram a pesquisa foram selecionadas em
acordo com a equipe da Coordenação Nacional de DST/Aids. A
amostra, sob responsabilidade de um estatístico especializado na
área de saúde, foi amplamente discutida com a mesma Coorde-
nação.
Simultaneamente à elaboração, teste e reprodução dos ins-
trumentos, as pesquisadoras responsáveis visitaram as capitais
selecionadas, onde estabeleceram contato com Secretários esta-
duais e municipais de Saúde, Educação e Segurança Pública, bem
como lideranças das entidades associativas de professores e de
escolas particulares, a fim de solicitar seu apoio à coleta de da-
dos. Na ocasião também foi estabelecido contato com universi-
35
dades, organizações não governamentais e centros de pesqui-
sa locais, visando a seleção de parceiros para compor a equipe
local de pesquisa.
Após a reprodução dos instrumentos, as pesquisadoras mi-
nistraram, às equipes responsáveis pela coleta de dados em
cada uma das capitais, capacitação para efetuar o trabalho de
campo. A capacitação das equipes, realizada durante os me-
ses de abril a junho de 2000, teve a duração média de três
dias, abrangendo conteúdos teóricos e práticos, especialmente
quanto à observação in loco das escolas, à realização de en-
trevistas e de grupos focais. Especial ênfase foi conferida à
necessidade de observância dos princípios éticos da pesquisa,
notadamente a confidencialidade das respostas
5
.
Durante a coleta de dados, que se estendeu de abril a
dezembro de 2000, as pesquisadoras mantiveram contato com
as equipes locais por telefone, fax e correio eletrônico, pro-
porcionando o acompanhamento demandado especialmente
quanto aos ajustes necessários na amostra.
Após a entrega dos dados coletados pelas equipes locais
na forma de questionários preenchidos e fitas gravadas com
entrevistas estes foram comparados com o mapa amostral e
conferidos. Em seguida, os questionários foram submetidos a
processamento eletrônico, com uso do software SPSS, quando
foram realizados testes de consistência dos dados. As fitas
gravadas, por sua vez, foram transcritas na forma de textos
para análise.
Este é o material empírico que sustenta a presente avaliação,
ao qual se acrescentam documentos diversos (registros administrati-
vos, bibliografia e material educativo), bem como uma entrevista com
um membro da Coordenação Nacional de DST/Aids.
5
Documento em anexo.
36
A Estrutura do Relatório
Além desta Introdução, este relatório está composto por quatro
capítulos, aos quais seguem-se as Conclusões e Recomendações.
No primeiro capítulo é apresentada uma rápida discussão sobre os
conceitos que orientam o trabalho de prevenção de DST/Aids e de
uso indevido de drogas, seguindo-se uma ligeira descrição da Política
Nacional de DST/Aids e do Programa Brasileiro de DST/Aids, a
partir dos quais são situadas as atividades de prevenção realizadas
nas escolas sob o acordo de empréstimo entre o governo brasileiro e
o Banco Mundial, denominado Aids-I (1994-1998) e, depois, Aids-II
(1999-2002). O capítulo seguinte consiste em uma Avaliação de Pro-
cesso, focalizando as parcerias estabelecidas para a realização das
atividades, as ações de capacitação, as atividades que os membros
do corpo docente, técnico e administrativo das escolas relatam ter
oferecido aos alunos e seus pais e os recursos humanos e materiais
que utilizaram para este fim. A seguir, no terceiro capítulo, é apre-
sentada uma Avaliação de Resultados: os beneficiários diretos desse
processo pais e alunos descrevem as atividades desenvolvidas e
expressam seus julgamentos sobre as mesmas. Finalmente, no quar-
to e último capítulo apresenta-se uma Avaliação do Impacto das ati-
vidades realizadas, especialmente sobre os alunos.
Como poderá ser observado ao longo do trabalho, um grande
número de ações foi efetuado nas capitais onde foi feito o estudo,
cobrindo um amplo espectro de atividades, com importantes re-
percussões sobre as informações da maior parte dos professores,
e sobre as atitudes e comportamentos da maioria dos alunos e
seus pais quanto às DST/Aids e ao uso indevido de drogas.
Sem excluir os que ainda não se iniciaram sexualmente, as
ações realizadas exibem, no conjunto, efeitos de prevenção signi-
ficativamente positivos quando se trata do impacto sobre com-
portamentos dos que iniciaram sua vida sexual, afetando sua
vulnerabilidade às DST/Aids.
Estes últimos representam uma parcela significativa dos alu-
nos, variando do mínimo de 31% ao máximo de 50%, conforme as
37
capitais. Entre eles, as ações de prevenção mostraram repercus-
sões decisivas, entre outras, nas atitudes frente ao uso do preser-
vativo, na sua efetiva utilização, na limitação do número de par-
ceiros sexuais, na restrição ao relacionamento sexual com profis-
sionais do sexo e no compartilhamento de seringas quando do
consumo de drogas injetáveis.
Entre os pais, as ações provocaram efeitos relevantes nas
atitudes acerca das conversas sobre DST/Aids com os filhos, nas
recomendações de uso do preservativo e na posição quanto à
distribuição de preservativos aos alunos nas escolas. Enfim, como
poderá ser constatado, as ações desenvolvidas fazem diferença
tanto para as gerações jovens como para seus pais.
Por outro lado, também poderá ser visto que ainda um
vasto espaço a ser coberto por iniciativas tanto federais como
estaduais e municipais, a fim de melhor informar professores, pais
e alunos e reduzir a vulnerabilidade dos jovens escolares às DST/
Aids e ao uso indevido de drogas. As lacunas existentes, porém,
não desmerecem o trabalho realizado. Significam, antes, novos
desafios a serem enfrentados.
Como regra, somente foram submetidas à análise as respos-
tas válidas, ou seja, a não ser nos casos onde poderiam assumir
significado substantivo, não foram incluídas as “não-respostas”.
Além disso, o questionário contém alguns filtros, o que significa
que, conforme a resposta dada a algumas perguntas, vários dos
informantes respondem as perguntas até certo ponto. As ques-
tões apresentadas dali por diante ou deixaram de ser respondidas
pelo informante em obediência às instruções do questionário, ou,
caso alguns tenham prosseguido nas respostas por falha de en-
tendimento, estas foram eliminadas durante os testes de consis-
tência dos resultados.
Por estes motivos, observa-se uma variação expressiva no
número absoluto (N) de algumas variáveis. Neste sentido, vale
chamar a atenção para o fato de que, como diversas informações
referem-se a fenômenos de caráter não generalizado (como o
38
uso de drogas ilícitas, por exemplo), nesses casos o número abso-
luto (N) mostra-se bastante reduzido, justificando uma recomen-
dação de especial cuidado com as inferências. Por outro lado,
dois cuidados adicionais devem ser tomados com a leitura das
respostas às perguntas de múltipla escolha: primeiro, em alguns
casos, o número absoluto refere-se não ao total de respondentes,
mas ao total de respostas, o que freqüentemente torna o número
absoluto (N) muito mais elevado que o número total de respon-
dentes
6
. Segundo, várias questões de múltipla escolha que
admitem apenas duas possibilidades: ou são marcadas, significan-
do SIM; ou não o são, significando NÃO. Nesses casos, não ocor-
rem respostas inválidas e, portanto, o número absoluto (N) será
sempre o mesmo em diversas tabelas. Finalmente, quanto aos
percentuais, tendo em vista pequenos diferenciais de arredonda-
mento, admitem-se variações no total entre 98% e 101%.
6
Em todas as tabelas, o número absoluto encontra-se entre parênteses.
39
1.1 Referências Conceituais
O termo “vulnerabilidade” origina-se da reflexão sobre os
direitos humanos, indicando a fragilização política e/ou jurídica
dos indivíduos decorrente de falhas na garantia de seus direi-
tos de cidadania
7
. O conceito encontra espaço na discussão
sobre a epidemia da Aids a partir da década de 90, trazendo
uma nova visão sobre como lidar com o problema de maneira
mais justa e eficiente.
Os dois principais conceitos que o precederam foram, res-
pectivamente, os de “grupo de risco” e “comportamento de ris-
co”. O primeiro surgiu tão logo foi detectado o HIV nos Estados
Unidos e na França. Em verdade, o “fator de risco”, categoria
analítica inicialmente adotada pelos cientistas para tentar estabe-
lecer associações regulares e realizar estudos probabilísticos so-
bre a doença, acabou por transformar-se em “grupo de risco”
8
,
um conceito que gerou uma série de conseqüências negativas,
tanto no âmbito social quanto em termos de políticas públicas.
Nesse último caso, as políticas de prevenção se restringiram aos
grupos considerados “de risco” e se revelaram um equívoco, até
mesmo do ponto de vista epidemiológico. No campo social, e até
mesmo como conseqüência das políticas de saúde, dois dos efei-
A Política Nacional e o Programa Brasileiro
de Prevenção de DST/Aids
1.
7
ALVES, J. A. L.apud AYRES, J. R. de C. M; CALAZANS, G. J. & FRAN-
ÇA JUNIOR, I. Vulnerabilidade do adolescente ao HIV/Aids. In: VIEIRA, E.
et alii, org. Seminário Gravidez na Adolescência, 1999. p. 97.
8
AYRES, J. R. de C. M; CALAZANS, G. J. & FRANÇA JÚNIOR, I. Vulne-
rabilidade do adolescente ao HIV/Aids. In: VIEIRA, E. et alii, org. Seminário
Gravidez na Adolescência, 1999 . p. 98.
40
tos mais nefastos foram o preconceito em relação aos grupos
onde primeiro havia surgido a doença e a sua estigmatização.
Foi somente por volta de 1985 que o termo “grupo de risco”
passou a ser revisto. À época, a Aids começou a espalhar-se
pelo globo, não mais afetando apenas os chamados “grupos de
risco”, mas pessoas das mais diferentes localidades, etnias e ori-
entações sexuais. Os movimentos sociais marcaram presença,
em particular o movimento gay. Foi então que surgiu o conceito
de “comportamento de risco”, que tirou o peso do estigma das
minorias antes discriminadas, atribuindo maior ênfase ao com-
portamento individual. A preocupação com a prevenção tornou-
se universal e estimulou um envolvimento ativo dos indivíduos.
Permanecia, contudo, uma perspectiva bastante limitada
quanto aos indivíduos que poderiam ser infectados pelo vírus. A
rigor, esse conceito pressupunha que, da mesma forma que existe
um comportamento de risco, existe outro que evita a infecção e a
escolha disso reside nas mãos do indivíduo. A pauperização da
epidemia no final da década de 80 e ao longo da década de 90 e
sua expansão entre os países menos desenvolvidos, levaram a um
novo questionamento do conceito utilizado.
A importância da idéia de vulnerabilidade reside no reconhe-
cimento de que a infecção pelo HIV não depende apenas da in-
formação e da postura individual, mas de uma série de fatores
estruturais que afetam os indivíduos, independentemente de sua
vontade. Ao individual, associa-se o coletivo. Entre outros, a de-
sigualdade de condições econômicas, políticas, culturais, jurídi-
cas, afeta a suscetibilidade à infecção do HIV e ao desenvolvi-
mento da Aids
9
. Nesse sentido, aumenta a responsabilidade cole-
tiva no combate à epidemia.
Mann (1992) propõe uma concepção na qual a vulnerabilida-
de é composta por três eixos: o comportamento individual, o con-
9
Idem, p. 100.
41
10
MANN, J., TARANTOLA, D. J. M. & NETTERS, T. W. , ed.. Aids in the World:
a global report. Cambridge, Massachussets: Harvard University Press, 1992, p.
580.
11
AYRES, J. R. de C. M. O Jovem que Buscamos e o Encontro que Queremos Ser:
a vulnerabilidade como eixo de avaliação de ações preventivas do abuso de drogas,
DST e AIDS entre crianças e adolescentes. In: TOZZI, D. et alii, org. Papel da
Educação na Ação Preventiva ao Abuso de Drogas e às DST/AIDS. São Paulo:
Fundação para o Desenvolvimento da Educação, 1996, p. 15-24.
12
ALVES, J. A. Op. Cit, 1996. p. 15-24.
texto social e o componente institucional (programas nacionais/
regionais de prevenção). Da interação desses três componentes
é que depende a eficiência de um programa de prevenção de
Aids
10
. O primeiro eixo compreende os atributos pessoais de cada
indivíduo, a quantidade e a qualidade das informações de que dis-
põe e o grau em que as incorpora ao seu cotidiano. Entre os ado-
lescentes, por exemplo, podem ser identificados como fatores
comportamentais de vulnerabilidade: a sensação/convicção de
serem invulneráveis, a tendência à experimentação e transgres-
são, a dificuldade de decisão, a indefinição da identidade, a ansi-
edade, a ambigüidade e o conflito entre razão e sentimento, e a
desagregação familiar, entre outros
11
.
O componente social inclui o acesso aos meios de comunica-
ção, a escolaridade, os recursos materiais e culturais, a capacidade
de influir nas decisões políticas e, de maneira geral, os diversos com-
ponentes estruturais, como os direitos humanos, a qualidade de vida
e o exercício da cidadania. Esse é um dos fatores que mais varia
entre os países e para o qual o conceito da “vulnerabilidade” chamou
a atenção. São as diferenças que existem entre o Sudeste Asiático e
os Estados Unidos, entre a África e a Europa Ocidental, e que con-
tribuem não apenas para a proliferação do vírus, mas para a própria
longevidade e qualidade de vida daqueles que estão infectados,
possibilitando o seu tratamento. Entre os adolescentes, podem ser
identificados como fatores sociais de vulnerabilidade: a moda, a sus-
cetibilidade às pressões grupais, a necessidade de afirmação grupal,
a dependência econômica, a baixa densidade de cidadania, a carên-
cia de solidariedade
12
.
42
Por fim, o componente institucional traduz a execução das
políticas e programas de prevenção, nacionais, regionais e mes-
mo internacionais. Em outras palavras, expressa as iniciativas das
instituições governamentais a fim de fortalecer os indivíduos frente
à epidemia. Isso também varia entre os vários países e regiões do
mundo, segundo seu grau de desenvolvimento, e, principalmente,
segundo os recursos de cada um. Podem ser mencionados, entre
os fatores institucionais de vulnerabilidade: a baixa capacidade
de organização, expressão e representação política, e a escassa
capacitação institucional das agências encarregadas dos serviços
de saúde e educação
13
.
Uma vez que, biologicamente, todos são vulneráveis ao HIV,
não existindo, até o presente, meio eficaz para destruir ou repelir
o vírus, resta investir para que a infecção não ocorra: a alternati-
va é a prevenção. A antítese da vulnerabilidade, para Mann, é o
“empoderamento” ( empowerment). Não é possível administrar
eficientemente um programa de prevenção com uma população
passiva: é necessário que os indivíduos estejam em condições (“em-
poderados”) de aprender e responder
14
. Para tanto, (1) informa-
ção e educação; (2) saúde e serviços sociais; e (3) desenvolvi-
mento social de suporte à população, são indispensáveis para que
uma política de prevenção tenha sucesso. Estes são três elemen-
tos que vão dar a cada um as condições para efetivamente se
prevenir. Cabe, aqui, diferenciar a responsabilidade individual nes-
sas condições e quando se trata do “comportamento de risco”:
falar em empoderamento pressupõe que o indivíduo tenha acesso
a uma série de recursos antes de poder tomar qualquer atitude ou
mesmo mudar de comportamento; ou seja, existe um suporte que
não se apresenta em outros contextos.
Esse é um dos grandes problemas dos países menos desen-
volvidos. Não é coincidência que a região do mundo mais afetada
pela Aids seja a África Sub-Saariana. Segundo relatório da UNAI-
13
Idem, Op. Cit, p. 15-24.
14
MANN, J., TARANTOLA, D. J. M. & NETTERS, T. W., ed. Op. Cit., p. 579.
43
DS de dezembro de 2000, dos 36,1 milhões de casos de Aids es-
timados no mundo, 25,3 milhões estão localizados nessa região. A
segunda e terceira posição compreendem, respectivamente, o Sul
e o Sudeste Asiático (5,8 milhões) e a América Latina (1,4 mi-
lhões). Os países desenvolvidos, além de uma quantidade signifi-
cativamente menor de casos de Aids (América do Norte: 920
000; Europa Ocidental, 540 000), possuem mais recursos para
investir em terapias antiretrovirais, que aumentam a expectativa
e a qualidade de vida das pessoas infectadas.
Além disso, ao mesmo tempo em que o contexto econômico
e social ajuda a proliferação do vírus e da doença, a própria Aids
contribui para o agravamento desses problemas. Novamente, é o
caso da África Sub-Saariana, onde fortes evidências de que,
com o aumento das ocorrências de Aids, o produto nacional bruto
de seus países cai consideravelmente
15
. As empresas enfrentam
baixa produtividade e os custos com os funcionários, entre planos
de saúde e seguros de vida, aumentam sensivelmente. Em vista
disso, as empresas procuram investir em outros países ou contra-
tar determinados serviços externamente, de forma a não ter que
pagar benefícios aos trabalhadores. Não é difícil imaginar o ta-
manho desses prejuízos quando se tem em mente que a grande
maioria das pessoas infectadas, não na África, mas no mundo
em geral, é considerada adulta (entre 15 e 49 anos, segundo clas-
sificação da UNAIDS) e inclui, portanto, grande parte da popula-
ção economicamente ativa.
É importante observar que, entre os “adultos” estão com-
preendidos jovens entre 15 e 24 anos e, dos 36,1 milhões de pes-
soas infectadas, 1,4 milhão correspondem a menores de 15 anos.
Os jovens constituem, portanto, um grupo fortemente afetado pelo
vírus. A situação dos adolescentes e jovens como grupo vulnerá-
vel ilustra bem o papel do contexto social e institucional. pelo
menos três aspectos da vulnerabilidade que os atingem de manei-
15
UNAIDS/ WHO. Aids Epidemic Update: December 2000. www.unAids.org.
44
ra especial: (1) não obstante haver informação, a comunicação
sobre o tema é escassa; (2) barreiras materiais e culturais que
limitam o seu acesso aos meios de proteção e; (3) a escassez de
alternativas faz com que os jovens, especialmente nos estratos
sociais mais baixos, tenham que escolher entre não satisfazer suas
necessidades (sentimentais, psicológicas) ou correr o risco de
contaminar-se ao satisfazê-las
16
.
Os três pontos estão relacionados. A exclusão dos jovens do
exercício da plena cidadania reflete a maneira como eles são vis-
tos pela própria sociedade. Quanto à saúde sexual e reprodutiva,
além da comunicação usualmente ser precária, as próprias atitu-
des dos jovens, por vezes, expressam alguma timidez como, por
exemplo, na ocasião da compra do preservativo. O fato de as
escolas não distribuírem camisinha s e a relativa insuficiência da
distribuição destas pelos postos de saúde, dificultam ainda mais o
acesso daqueles com menor disponibilidade financeira.
O estigma que permaneceu mesmo após a superação do
conceito de “grupo de risco” e o preconceito representam obs-
táculos ao combate à doença, pois, quando os indivíduos negam a
Aids, não têm motivações suficientemente fortes para enfrentá-
la de maneira aberta e clara. A falta de diálogo sobre o tema
entre os casais e de informação aos filhos, eventualmente por
medo de estimulá-los a terem relações precoces; a resistência de
quem adquiriu o vírus a informar o parceiro ou as pessoas próxi-
mas, por medo do distanciamento; ou mesmo a recusa a fazer
testes anti-HIV acentuam um círculo vicioso de proliferação si-
lenciosa do vírus.
Especificamente quanto aos jovens, além desses, existem ou-
tros fatores que acentuam sua vulnerabilidade como grupo. Além
dos fatores psicológicos e da atitude bastante disseminada de que
nada poderá atingi-los “Aids é a doença do outro” –, a falta de
16
ALVES, J. A. L. apud AYRES, J. R. de C. M.; CALAZANS, G. J. & FRAN-
ÇA JÚNIOR, I. Op. Cit., p. 103.
45
informação os atinge de maneira intensa. A atitude dos pais influen-
cia para que eles não se aprofundem na busca de informações sobre
o HIV e a Aids. Por esse motivo, a educaçã o e a transmissão dessas
informações nas escolas torna-se um fator de crucial importância.
Na prática, que se evidenciar o fato de que, efetivamente, o
acesso à educação contribui de maneira marcante para a redução da
infecção pelo HIV. Na própria África Sub-Saariana, estudos focali-
zando adolescentes entre 15 e 19 anos demonstraram que jovens
com maior escolaridade estão mais propensos a usar camisinha do
que seus conterrâneos com baixa escolaridade. Mesmo que haja pro-
pensão a se envolver em sexo casual, o uso do preservativo continua
presente. Sem dúvida, essa atitude fortaleceu-se recentemente, da-
das as condições da expansão da epidemia nesses países e as políti-
cas adotadas por vários deles para seu combate. Em Uganda, por
exemplo, a taxa de infecção pelo HIV caiu mais entre as mulheres
alfabetizadas do que entre as analfabetas entre 1995 e 1997
17
. Ain-
da quanto às mulheres, as jovens com maior escolaridade perdem a
virgindade mais tarde do que as demais
18
, o que também diminui o
seu risco de contágio. Ainda assim, entre os jovens, as mulheres
estão mais sujeitas à infecção do que os homens.
De maneira generalizada, observa-se uma menor preocupação
com métodos contraceptivos entre os jovens do que entre os adultos.
Freqüentemente, isso se deve à própria falta de conhecimento sobre
como fazê-lo. Dados recolhidos entre 1994 e 1998, entre jovens de
15 a 19 anos, em países selecionados, mostram que é alta a propor-
ção de jovens que não sabem como se proteger do HIV, sendo maior
ainda a proporção entre as mulheres. Em Bangladesh, por exemplo,
essa proporção chega a 95% entre as mulheres e mais de 80% entre
os rapazes; no Chade, 75% das moças e 45% dos rapazes; e, no
Peru, 35% das moças e 25% dos rapazes, um percentual bem me-
nor, mas ainda assim bastante significativo
19
.
17
UNAIDS/ WHO. Aids Epidemic Update: December 2000. www.unAids.org.
18
UNA UNAIDS. Report on the Global HIV/AIDS Epidemic, June 2000.
www.unAids.org.
19
UNAIDS. Op. Cit.
46
O desconhecimento das formas de prevenção é apenas um
dos indicadores a ser levados em consideração quando se trata
da expansão da Aids no mundo. Cada país possui suas peculiari-
dades e existem inúmeras outras variáveis que podem e devem
ser associadas à proliferação do HIV. Entre essas, podem ser
citadas, além da sexualidade, as drogas e a violência. Cada uma
dessas variáveis tanto pode ser entendida dentro do contexto com-
portamental, quanto no social e até mesmo no institucional.
20
.
Em vista desse quadro, Ayres sugere dois princípios para
nortear as resoluções destinadas a reduzir a vulnerabilidade dos
jovens em relação à Aids: primeiramente, atribuir ênfase ao papel
de interlocutores e não de tutores (já que é inviável manter o
controle sobre os jovens, mas é necessário, ao menos, a disposi-
ção para informá-los); em segundo lugar, esforçar-se para que as
intervenções sejam intersetoriais, ou seja, cubram os âmbitos mais
diversos, como a informação, a saúde, os recursos materiais, a
educação, etc. Para tanto, a resposta social é fundamental
21
necessário que os envolvidos reconheçam o caráter coletivo da
epidemia e o esforço indispensável à sua superação.
1 .2 A Epidemia de Aids no Brasil, a Política Nacional de
DST/Aids e o Programa Brasileiro de DST/Aids
Historicamente, podem ser delimitadas três fases que ca-
racterizaram a expansão da epidemia da Aids no Brasil. A fase
inicial focalizava apenas os infectados pelos HIV, o que bloquea-
va a condução de ações mais amplas no campo da saúde. Essa
fase foi marcada pelo conceito de “grupo de risco”, que se res-
tringia, basicamente, aos homens homossexuais, com alto nível
de escolaridade. A segunda fase orientou-se por uma perspectiva
20
AYRES, J. R. de C. M. Op. Cit., p. 15-24, 1996.
21
ALVES, J. A. L. apud AYRES, J. R. de C. M.; CALAZANS, G. J. & FRAN-
ÇA JÚNIOR, I. Op. Cit., p. 108.
47
cujo centro era a exposição ao vírus. Percebeu-se que a maior
forma de transmissão se dava via drogas injetáveis e atingia um
número cada vez maior de heterossexuais. Adotou-se, então, o
conceito de “comportamento de risco”. A terceira fase, e atual,
procura caracterizar a suscetibilidade dos indivíduos, em geral,
ao vírus. Observa-se o aumento da infecção entre os heterosse-
xuais, o crescimento da população feminina infectada (e, em de-
corrência disso, o aumento de casos de transmissão vertical ou
perinatal), a baixa escolaridade da população infectada e a interi-
orização da doença para municípios de médio e pequeno porte e
entre os grupos em situação de confinamento. A faixa etária mais
atingidaéade20a29anos, sendo alto o risco de infecção entre
adolescentes e adultos jovens. O conceito emergente, nesta fase,
é o de “vulnerabilidade”.
A população brasileira enfrenta, neste sentido, um conjunto
de agravantes, pois uma parte significativa do contingente afeta-
do é marginalizada e não tem acesso aos serviços de saúde, de
assistência e tampouco à informação e à educação. No Brasil, a
combinação da exclusão social com as dificuldades do setor de
saúde (escassez de recursos para custeio dos serviços, falta de
recursos humanos capacitados, entre outras) requer uma recon-
ceitualização da epidemia e novas respostas para enfrentar a sua
expansão. Em vista disso, foi assinado um acordo de empréstimo
entre o governo brasileiro e o Banco Mundial, denominado Aids-
I (1994-1998), que viabilizou a consolidação do Programa Brasi-
leiro de DST/Aids e a realização de diversas ações. Em 1998, o
acordo foi renovado e materializado no Projeto Aids-II (1998-
2002). O novo desafio, que caracteriza esse acordo, recai sobre o
campo da cooperação, em como integrar e articular as ações e
fortalecer institucionalmente os distintos gestores, a fim de dar
sustentabilidade ao plano e garantir a continuidade das ações.
Cabe mencionar que, além do Programa Brasileiro de DST
e Aids, o governo brasileiro tem se engajado em processos bilate-
rais e multilaterais de cooperação, com base no princípio da hori-
zontalidade. A Aids não tem fronteiras, especialmente entre os
48
países em desenvolvimento, onde a epidemia tende à generalizada
disseminação. Sendo assim, o Brasil mantém acordos de cooperação
no âmbito do Mercosul, América Latina e Caribe; com os países
africanos de língua portuguesa e inglesa; e com a América do Norte,
Japão e Europa.
Esses acordos são parte da Política Nacional de DST/Aids, que
possui três grandes objetivos:
“(1) reduzir a incidência de infecção pelo HIV/Aids e por outras
DST;
(2) ampliar o acesso ao diagnóstico, ao tratamento e à assistên-
cia melhorando sua qualidade–,noqueserefere ao HIV/Aids;
(3) fortalecer as instituições públicas e privadas responsáveis
pelo controle das DST e da Aids”
·.
Esses objetivos vão servir de base para guiar as diretrizes e
estratégias do Programa Brasileiro de DST/Aids e seus componen-
tes, que são, respectivamente: (1) a promoção, proteção e preven-
ção; (2) o diagnóstico e assistência; e (3) o desenvolvimento instituci-
onal e gestão.
O primeiro componente (promoção à saúde, proteção dos direi-
tos fundamentais das pessoas com HIV/Aids e prevenção da trans-
missão das DST, do HIV/Aids e do uso indevido de drogas) se baseia
nos seguintes conceitos e princípios:
vulnerabilidade e risco (sendo a vulnerabilidade a pouca ou nenhu-
ma capacidade de decidir sobre a situação de risco);
redução de danos, causados, em especial, pelas drogas;
participação e controle social, com vistas a garantir os direitos de
cidadania daqueles que possuem ou convivem com alguém com
Aids;
direitos humanos (combate à discriminação e ao preconceito con-
tra as pessoas infectadas); e
comunicação social, para operacionalizar as mudanças ne-
cessárias.
49
A concepção teórica desse componente (promoção à saú-
de, proteção dos direitos fundamentais das pessoas com HIV/
Aids e prevenção da transmissão das DST, do HIV/Aids e do
uso indevido de drogas) envolve a noção dos processos de saú-
de e doença como resultantes de múltiplos fatores: sociais, cul-
turais, econômicos, comportamentais, epidemiológicos, demográ-
ficos e biológicos.
Dois são seus modelos de intervenção: o primeiro é um mo-
delo de mudança de comportamento centrado no indivíduo; o se-
gundo é um modelo de intervenção comportamental centrada no
grupo ou no coletivo. Nesse último caso, utilizam-se os conceitos
de “população geral” (crianças, adolescentes, mulheres, etc.) e
de “população específica” (crianças de rua, mulheres profissio-
nais do sexo, etc.), conforme o objeto a que se refere. As ações
desse componente são realizadas pelas Unidades de Prevenção
de Drogas e Aids, em articulação com ONG, pela Assessoria de
Comunicação e pela Rede de Direitos Humanos e Saúde Mental
em HIV/Aids. Essas organizações se articulariam com outras ins-
tâncias do governo e da sociedade civil e definiriam as estratégi-
as e linhas de ação do combate às epidemias de DST e Aids.
O segundo componente do Programa Brasileiro de DST/Aids
é a área de diagnóstico e assistência, que tem como função prin-
cipal “definir e implementar diretrizes, estratégias e linhas de ação
que garantam aos indivíduos infectados pelo HIV ou que vivem
com Aids e/ou outras DST o acesso a procedimentos de diagnós-
ticos e tratamento de qualidade na rede pública de saúde”
22
. En-
tre suas atividades constam o treinamento à distância de profissi-
onais de saúde da área de laboratório, a Rede Nacional de Labo-
ratórios para Quantificação de Carga Viral e Contagem de Célu-
las TCD4+/CD8+(glóbulos brancos) e o Sistema Nacional de
Garantia da Qualidade dos Testes Laboratoriais para DST e Aids.
22
Programa Brasileiro de DST e Aids / Coordenação Nacional de DST e Aids.
Brasília : Ministério da Saúde, 2000, p. 18.
50
O terceiro e último componente inclui o desenvolvimento ins-
titucional e a gestão do programa e sua função é ajudar na imple-
mentação do terceiro grande objetivo (fortalecimento das institui-
ções) que, por sua vez, fornece condições para: “(1) reduzir a
incidência da infecção da Aids e de outras DST; e (2) ampliar o
acesso e melhorar a qualidade do diagnóstico, do tratamento e da
assistência em DST/HIV/Aids, possibilitando, dessa forma, o al-
cance dos resultados esperados no enfrentamento da epidemia”
23
.
Este componente fornece o instrumental para a formulação
das políticas de combate à epidemia, propiciando o envolvimento
das diversas instituições, públicas e privadas. Tais políticas são
desenvolvidas em três âmbitos distintos:
(1) as políticas de saúde, no âmbito do SUS;
(2) as políticas de Estado ou do governo, no âmbito das institui-
ções dos poderes públicos; e
(3) as políticas globais, definidas no conjunto da sociedade, in-
cluindo ONG e a iniciativa privada.
1.2.1 As Ações de Prevenção das DST/Aids e do Uso
Indevido de Drogas nas Escolas
No âmbito do Aids-I (1994-98), a Coordenação Nacional de
DST/Aids do Ministério da Saúde desenvolveu, entre outras, ati-
vidades dirigidas a crianças e adolescentes em duas grandes li-
nhas: o trabalho com meninos e meninas fora da escola (em situ-
ação de rua e trabalhadores) e o trabalho com crianças e adoles-
centes escolarizados
24
.
23
Política Nacional de DST/Aids : princípios, diretrizes e estratégias / Coordena-
ção Nacional de DST e Aids. Brasília : Ministério da Saúde, 1999, p. 59.
24
Esta descrição se baseia no documento “Ações Realizadas com Crianças e Ado-
lescentes Escolarizados, 1994-1998, do MS/SPS/Coordenação Nacional de DST
e Aids, Subcomponente Crianças e Adolescentes, e em entrevista realizada com
Suely Andrade da Coordenação Nacional de DST/Aids, Brasília, 23/03/2001.
51
Quanto às crianças e adolescentes escolarizados, foram de-
senvolvidas atividades de formação de multiplicadores por meio
de três propostas: a) capacitação de professores por meio do
Ensino à Distância; b) formação de adolescentes multiplicadores;
e c) capacitação de professores e de alunos, estes dois últimos
pelo ensino presencial.
Estas propostas são dirigidas a professores e alunos no am-
biente escolar, com o objetivo de promover a saúde e a preven-
ção de doenças sexualmente transmissíveis, com ênfase na Aids,
e uso indevido de drogas. Tais propostas são descritas a seguir:
(a) Capacitação de professores via ensino à distância
A metodologia de ensino à distância, programa oficial do MEC
via TV-Escola (canal fechado de televisão), Programa “Um Sal-
to para o Futuro”, é utilizada para viabilizar, em curto espaço de
tempo, o aperfeiçoamento de milhares de professores, dando opor-
tunidade a crianças e adolescentes de receberem as instruções
sobre todos os assuntos de sala de aula, inclusive as necessárias
para a prevenção de DST, Aids e uso indevido de drogas.
Para que esses cursos de aperfeiçoamento se realizem, faz-
se necessário uma equipe de supervisores escolares e de orienta-
dores educacionais com a função de assessorar os professores
cursistas, seja durante o curso ou seja para o auxílio durante o
desenvolvimento de projetos na escola.
Para que os cursos aconteçam é necessário que superviso-
res e orientadores educacionais estejam preparados pelo ensino
presencial e que haja uma proposta e recursos financeiros dis-
poníveis.
A capacitação dos professores acontece em duas fases: nos
telepostos, os professores se reúnem com o orientador, e, na pri-
meira hora recebem, por meio da Tv, com interatividade e recep-
ção programada e organizada, aulas com especialistas, e, na ou-
52
tra hora, fazem a leitura, discussão e reflexão do material escrito
recebido (boletim) sobre o assunto tratado naquele dia na TV.
Os telepostos são lugares onde exista uma antena parabólica,
uma TV, um vídeo, telefone, fax e também pode ter um computador
onde os professores se reúnem para assistir à aula da TV enquanto
tiram suas dúvidas utilizando a tecnologia à disposição. Esse telepos-
tos podem estar situados tanto na própria escola quanto fora dela.
As escolas recebem, por meio da revista TV-Escola, uma
grade com toda a programação do período, além da programação
divulgada por anúncios de TV. As inscrições são feitas nas regi-
onais de ensino das escolas.
A Coordenação Nacional vem oferecendo, desde 1995, a
série “Prevenir é Sempre Melhor”, para professores que dão au-
las para adolescentes. E, a partir de 1997, a série “Crescendo de
Bem com a Vida”, para professores de crianças de4a12anos.
Os cursos oferecidos são compostos por conteúdos técni-
cos, sugestões de atividades, pontos de reflexão e uma breve bi-
bliografia comentada. Os temas abrangem questões sobre sexua-
lidade, seus aspectos biológicos e emocionais, saúde sexual
desde a higiene até as doenças sexualmente transmissíveis e Aids;
os cuidados com o corpo, a formação da mentalidade preventiva
e a vulnerabilidade; drogas, conceitos básicos, quais seus efeitos
e a questão da auto-estima.
Os professores recebem, também, conteúdos sobre como rea-
lizar um projeto na escola, desde o diagnóstico, estratégias de como
envolver a comunidade escolar até a avaliação das atividades.
(b) Oficinas de prevenção de DST/Aids e drogas para a forma-
ção de agentes adolescentes de prevenção, por meio da me-
todologia participativa
Os adolescentes apresentam diferentes interesses e entendi-
mentos sobre os perigos das DST, aids e drogas, encontrando-se,
53
assim, sob risco de infecção. De uma maneira geral, eles têm dificul-
dade de identificar o comportamento de risco. Como as lideranças
adolescentes geralmente são vistas por seus colegas como exem-
plos, a idéia de treinar adolescentes utilizando-se a metodologia de
larga escala, para desenvolverem atividades educativas em preven-
ção de DST e aids junto aos seus colegas da escola e da comunida-
de, surgiu como uma solução estratégica de abordagem preventiva.
A proposta baseia-se em trabalho de grupo por meio da tro-
ca de experiências e conhecimentos, buscando aumentar a per-
cepção de risco e orientar a adoção de práticas seguras. O obje-
tivo desta intervenção é levar os adolescentes a desenvolverem
os conhecimentos necessários quanto à percepção de risco e op-
ções de atitudes saudáveis, relacionadas com a sexualidade e a
prevenção de DST, de Aids e de drogas.
A metodologia de larga escala é aplicada na capacitação de
profissionais que prepararam os líderes adolescentes que desen-
volvem ações de prevenção junto a outros adolescentes, abrindo,
assim, o leque de pessoas informadas pelos seus pares.
Foram utilizadas, durante esse processo, dinâmicas de grupo
que, depois de testadas e validadas, deram origem a um manual
que hoje serve de referência para trabalhos em grupo com essa
finalidade: prevenção de DST, Aids e uso de drogas.
( c ) Promoção à saúde e à prevenção de doenças sexualmente
transmissíveis, com ênfase na Aids, e do uso indevido de dro-
gas no ambiente escolar por meio da capacitação presencial
de professores e alunos
Durante o período de 1994 a 1998, as ações de prevenção
de doenças sexualmente transmissíveis (DST) e uso indevido de
drogas, no âmbito da rede oficial de ensino, foram desenvolvidas
em dez estados brasileiros, selecionados mediante critérios epi-
demiológicos. Desenvolveram-se projetos de fomento, objetivan-
do a formação de professores e alunos como agentes multiplica-
dores via ensino presencial.
54
O trabalho de prevenção junto à rede escolar exige a articu-
lação entre as secretarias estaduais e municipais de saúde, pro-
movendo atividades de prevenção de uso indevido de drogas e de
doenças sexualmente transmissíveis na rede escolar.
As escolas participantes foram selecionadas pelas Secreta-
rias de Educação que, em articulação com as Secretarias de Saú-
de e com outros segmentos da sociedade, como, por exemplo,
Conen e universidades, elaboraram projetos que permitiam a exe-
cução das atividades.
A metodologia utilizada incluiu a capacitação de professores
(multiplicadores) e alunos (monitores) para atuarem entre seus
colegas multiplicação em pares. Os professores foram capaci-
tados por meio de oficinas e de dinâmicas, proporcionando, entre
outros elementos, subsídios para a identificação, entre seus alu-
nos, daqueles que deveriam ser recrutados e capacitados os
monitores.
Esses alunos desenvolveram atividades de prevenção junto
a seus colegas de escola, discutindo com seus companheiros os
conhecimentos adquiridos sobre a sexualidade, as drogas e as
doenças sexualmente transmissíveis. Abordaram, também, outras
formas de prevenção a possíveis efeitos indesejados que podem
acontecer neste período da vida: a gravidez indesejada, o uso in-
devido de drogas, a violência ou a infecção por uma doença sexu-
almente transmissível, incluindo a Aids.
O “Projeto Escolas” foi um embrião para a elaboração de
outros projetos e formas de sensibilização e prevenção entre jo-
vens, que priorizem a formação de agentes multiplicadores utili-
zando-se a metodologia de multiplicação em pares.
No desenvolvimento da proposta privilegiou-se:
a estratégia de descentralização da coordenaçã o e a imple-
mentação dos projetos, objetivando o fortalecimento das insti-
tuições estaduais e locais;
55
a estratégia de multiplicação dos treinamentos, permitindo uma
implementação rápida e de baixo custo;
o apoio à produção local de material instrucional, garantindo
sua adequação à clientela;
o fortalecimento do papel social da escola como agente for-
mador de cidadania;
a mobilização de toda a escola para o projeto, com intensa
participação de alunos, professores e outros profissionais da
educação;
a utilização de práticas pedagógicas diversificadas e inovado-
ras, com ênfase em dinâmicas de grupo, estimulando a partici-
pação dos alunos no desenvolvimento de atividades dentro e
fora da escola; e
a ênfase em atividades de prevenção com foco na questão da
qualidade de vida e fortalecimento da auto-estima, sem cunho
repressivo ou de medo.
As ações desenvolvidas no âmbito do Aids-II (1999-2002)
mantiveram as orientações antes mencionadas. Todavia, este se-
gundo momento distingue-se por um novo passo em direção à
descentralização e à institucionalização, uma vez que as ativida-
des passam a estar mais diretamente referidas aos convênios
celebrados entre a Coordenação Nacional e as Secretarias Esta-
duais de Educação e de Saúde, a partir do desenho de parcerias
envolvendo, ainda, as instâncias municipais e os agentes da soci-
edade civil.
1.2.2 A Concepção e o Desenvolvimento das Ações de
Prevenção
De acordo com os princípios que regem a política de saúde
no Brasil, especial ênfase deve ser dada à descentralização das
ações. Esta descentralização envolve novas formas de pensar não
56
somente as relações entre as instâncias federal, estadual e muni-
cipal, mas também novas perspectivas interinstitucionais e novas
formas de relacionamento do poder público com a sociedade. A
partir dessas concepções é que as ações de prevenção de DST/
Aids e do uso indevido de drogas se estendem ao espaço escolar,
conforme assegurado por membro da Coordenação Nacional da
DST/Aids, em entrevista à equipe desta pesquisa.
Num primeiro momento, o processo de descentralização en-
volve o estabelecimento de parcerias interinstitucionais entre o
Ministério da Saúde especificamente a Secretaria de Políticas
de Saúde/Coordenação Nacional DST/Aids–eoMinistério da
Educação e do Desporto especificamente a Secretaria de Edu-
cação à Distância.
Segundo a entrevistada da Coordenação Nacional de DST/
Aids, a parceria entre os dois Ministérios vem avançando e, atu-
almente, demonstração de que as ações têm evoluído para a
descentralização interinstituicional em nível estaduais.
O Quadro 1, abaixo, permite observar o estabelecimento de
parcerias interinstitucionais para o desenvolvimento das ações no
âmbito do Projeto Escola.
Quadro 1 Projeto Escolas, segundo a instituição executora
e a existência de parcerias (números absolutos),
2001
Fonte: Coordenação Nacional DST/Aids, Relatório de Levantamento do Projeto Escolas.
57
O Projeto Escolas é especificamente orientado para as es-
colas públicas estaduais, cujo arranjo institucional, em linhas ge-
rais, pode ser assim descrito: são convênios por projetos, com a
duração de um ano. Cada convênio envolve um único projeto e
admite-se apenas um convênio por estado. A sua coordenação
cabe, necessariamente, à Secretaria Estadual de Educação.
É a instância estadual que administra, com total autonomia,
os recursos financeiros, no valor médio de R$ 30.000,00. Além
desse valor, cada estado recebe materiais gráficos e audiovisu-
ais. Os estados têm autonomia na seleção de que projeto inte-
grará o convênio, que escolas serão incluídas, etc., e, por exten-
são, são eles que definem as metas a serem alcançadas. Geral-
mente, as duas Secretarias Estaduais de Saúde e de Educa-
ção estabelecem as metas e selecionam juntas as escolas,
segundo dados epidemiológicos.
Os municípios participam do processo, mas não estão in-
cluídos na gestão do convênio. Apenas podem ter suas escolas
incluídas, receber materiais, etc. A Tabela 6, a seguir, mostra o
número de convênios assinados no âmbito do Projeto Escolas.
Entretanto, o Projeto Escolas é apenas uma das ações de-
senvolvidas na área de prevenção de DST/Aids e uso indevido
de drogas. muitas outras, freqüentemente se entrecruzando
Tabela 6 Projeto Escolas, por região, segundo o ano de
assinatura do termo de cooperação (números
absolutos), 2001
Fonte: Coordenação Nacional de DST/Aids, Relatório de Levantamento do Projeto Escolas.
58
como, por exemplo, a participação de ONG que trabalham com
os temas citados, como, por exemplo, o GAPA
25
(Grupo de Apoio
e Prevenção à Aids) que atua em vários estados do Brasil, se-
gundo informou a assessora da CN DST/Aids. No que se refere
às escolas particulares, ainda que os convênios não as contem-
plem, estas acabam também obtendo algum apoio e desenvolven-
do ações de prevenção de DST/Aids e ao uso indevido de drogas:
Nesse ambiente de acentuada descentralização, percebe-se
a necessidade de integrar as ações do Projeto Escolas com as
inúmeras atividades desenvolvidas sobre o tema nas escolas. Po-
rém, não se tem estabelecido um controle efetivo, em qualquer
instância, sobre a ação do professor, aparentemente por déficits
de institucionalização das próprias ações e também pela própria
autonomia que caracteriza a ação do professor em sala de aula.
Um dos pontos frágeis consiste, exatamente, na relação en-
tre o professor e a distribuição/controle do material a ser utilizado
nas ações de prevenção. Em primeiro lugar, também neste as-
pecto existe grande autonomia das instâncias estaduais; diver-
sos tipos de material e diferenças entre os estados quanto à
sua mobilização e capacidade para produzir e/ou reproduzir ma-
teriais. Em segundo lugar, problemas operacionais básicos na
distribuição do material, como, por exemplo entre outros–,a
falta de um cadastro de endereços das escolas. Em terceiro, em-
bora exista muita avidez de material por parte das escolas e dos
profissionais da educação, não como assegurar a efetiva utili-
zação desse material.
O Quadro 2, a seguir, permite visualizar a utilização do ma-
terial nas ações de prevenção, bem como as metas quanto aos
beneficiários e os níveis de institucionalização das atividades do
Projeto Escolas.
25
O Grupo de Apoio e Prevenção à Aids (GAPA) é uma organização não-
governamental, que presta serviços no apoio direto e assistências às pessoas
com HIV/Aids e na prevenção contra o HIV na comunidade em geral. O
GAPA está presente em vários estados do Brasil.
59
Quadro 2 Projeto Escolas, por metas quanto a escolas/municípios beneficiados, material utilizado
e institucionalização, segundo as UF, 2001
Fonte: Coordenação Nacional DST/Aids. Relatório de Levantamento do Projeto Escolas.
CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA
60
CONTINUAÇÃO DO QUADRO 2
CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA
61
CONTINUAÇÃO DO QUADRO 2
62
Observa-se, portanto, que lacunas na institucionalização
das ações de prevenção e no seu próprio controle, que expressam
um certo dilema entre a urgência e a capacidade de atuar de
algumas das agências envolvidas e o imperativo de observar-se o
espaço jurisdicional de outras. Por outro lado, a Coordenação
Nacional contribui efetivamente para aperfeiçoar esse processo,
estimulando as parcerias, procurando integrar as atividades entre
as áreas de saúde e educação, e colaborando para a instituciona-
lização das ações de prevenção de DST/aids e uso de drogas.
Entretanto, os próprios cuidados que se fazem necessários para o
bom termo das iniciativas interinstitucionais parecem impor difi-
culdades de institucionalização e de controle, que se expressam,
por exemplo, na morosidade ou falta de sistematização dos pro-
cessos de avaliação.
Como mostra o Quadro 3, muitos dos projetos propõem ati-
vidades pouco precisas, atrasam-se na realização das ações e
não fornecem informações sistemáticas, específicas e regulares
sobre o andamento das atividades.
Cabe levar em consideração que a falta de organicidade ob-
servada nas ações de prevenção resulta, em grande parte, do pró-
prio processo de descentralização, na forma assumida no Brasil,
conseqüência do seu desencontro frente às resistências impostas
por uma história marcada por acentuada centralização. Ou seja,
não há, no país, uma tradição de políticas públicas descentraliza-
das, ao contrário. E isso, muitas vezes, faz com que as iniciativas
de descentralização acabem resultando numa pulverização das
ações e torna pouco viável o controle sobre as metas, a seleção
das atividades, dos beneficiários, a produção e uso do material,
etc. Afeta, por outro lado, a própria consolidação e institucionali-
zação das políticas públicas, programas e projetos, bem como seus
respectivos resultados e impactos.
63
CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA
Fonte: Coordenação Nacional DST/Aids, Relatório de Levantamento do Projeto Escolas.
Quadro 3 Projeto Escolas, por atividades previstas e realizadas, segundo as UF, 2001
64
CONTINUAÇÃO DO QUADRO 3
65
Este capítulo apresenta uma avaliação dos processos adota-
dos na implementação das ações de prevenção de DST/Aids e ao
uso indevido de drogas nas escolas
26
de ensino fundamental e
médio das capitais onde foi realizada a pesquisa.
Entende-se como “processo” o conjunto dos procedimentos,
meios e instrumentos utilizados para atingir objetivos ou metas
pretendidos. No caso em tela, a avaliação de processo terá por
base as informações quantitativas e qualitativas fornecidas pelos
responsáveis, no âmbito da escola, pela oferta das ações de pre-
venção: professores, diretores, coordenadores de ensino e orien-
tadores educacionais.
Serão abordados aspectos relativos aos diferentes arranjos
institucionais que definem as parcerias no nível local, a capacita-
ção dos encarregados de efetuar as ações, as atividades ofereci-
das, o material utilizado.
2.1 O Desenvolvimento das Ações nas Escolas
Consistentemente com a posição expressa por um membro da
Coordenação Nacional de DST/Aids tudo desemboca na escola:
trânsito é na escola, violência é na escola, gravidez é nas esco-
las, Aids é nas escolas (Entrevista, Membro da Coordenação Na-
Avaliação de Processo
2.
26
Para este fim são utilizados os dados quantitativos provenientes dos 3.055
questionários respondidos por professores, bem como os dados qualitativos
obtidos mediante a aplicação de roteiros de observação a 420 escolas, e a realiza-
ção de 185 entrevistas individuais com diretores e coordenadores de ensino e de
37 grupos focais com professores, além de 29 grupos focais com pais.
66
cional de DST/Aids) também entre professores e diretores a esco-
la aparece como um local privilegiado para a troca de informações
sobre as temáticas da sexualidade, da saúde sexual e das drogas:
(...) a informação através da escola, eu vejo com muito
bons olhos. Todo programa voltado para esse sentido
é bem-vindo à escola desde que monitorado logica-
mente. Nós estamos com as portas abertas. Sempre se
procura tocar nesse assunto para que haja um escla-
recimento. Não como negar que a educação é a
porta para todas as saídas. (Entrevista Diretor, escola
pública, Florianópolis)
Segundo alguns diretores, a discussão sobre a sexualidade faz
parte da vida dos jovenseéumdostemas que os envolve e os mobi-
liza com maior interesse:
Trata-se, justamente, daquele conteúdo pelo qual o alu-
no se interessa, que é o conteúdo da vida dele. Por ser
adolescente ele está se iniciando sexualmente. Quan-
do se entra nesse assunto o interesse é o maior possí-
vel, porque ele quer ter conhecimento, porque ele está
se iniciando. (Entrevista Vice-Diretor, escola pública, Dis-
trito Federal)
Eles fazem bastante pergunta, inclusive um silêncio
total quando nós tentamos falar sobre doenças sexual-
mente transmissíveis. Eles procuram questionar, procu-
ram perguntar ‘ah professora, e se de repente furar a
camisinha?’. vários questionamentos entre eles. (En-
trevista Apoiadora da Secretaria, escola pública, Manaus)
Na opinião de uma das diretoras, todos os espaços devem ser
aproveitados, pois apesar de os jovens conhecerem o tema e saibam
que a coisa é séria, que eles tem que se cuidar, eles tratam com um
descaso muito grande. O trabalho intensivo pode parecer saturado,
mas são assuntos que devem ser discutidos até o esgotamento.
Alguns diretores ressaltam a importância das atividades porque
elas sempre suscitam alguma novidade, além de servirem para
67
desfazer alguns tabus resultantes das diferenças entre gerações:
Seria bom se nós conseguíssemos colocar pais e alunos para
escutar uma palestra, sobre algo que eles ainda acham um
tabu. (Entrevista Diretor, escola particular, Cuiabá).
No entanto, alguns entrevistados dizem não existir um pro-
grama regular dentro das escolas: não, nós não temos um pro-
grama direto; não desenvolvemos nenhum tipo de atividade,
nadinha. (Entrevista Diretor, escola particular, Cuiabá).
De fato, corroborando os dados do Relatório de Levanta-
mento do Projeto Escola (CN-DST/Aids) explorados no capítulo
anterior, a Tabela 7 mostra significativas variações, entre as capi-
tais, quanto à execução das ações nas escolas. Assim, observa-
se que Recife, Maceió e Belém foram as capitais nas quais me-
nores percentuais de professores informaram ter desenvolvido,
em 1999, atividades relativas à sexualidade e à prevenção de DST/
Aids e uso indevido de drogas (respectivamente 47%, 59% e 60%).
Enquanto em algumas escolas as ações de prevenção se
encontram consolidadas, sendo reconhecidas pela comunidade
escolar, em outras estas ainda não foram iniciadas:
(...) existe um programa, chamado Programa Saúde
que será desenvolvido na escola, será esse traba-
lho periódico com acompanhamento, para tratar
desses problemas: gravidez na adolescência, de
Aids, doenças sexualmente transmissíveis (Entrevis-
ta Diretora, escola estadual, Rio de Janeiro)
O principal motivo
27
apontado pelos professores para não
desenvolver ações de prevenção de DST/Aids e uso indevido de
27
Devido ao pequeno número absoluto, esses dados não são apresentados em
forma de Tabela. Além disso, no todo, o maior percentual de respostas recaiu
sobre a categoria “outros motivos” cujo significado não se encontra decodi-
ficado, merecendo ser aprofundado em estudos posteriores. Na metade das
capitais pesquisadas a maioria dos professores das escolas particulares es-
colheu o item “outros” para explicitar os motivos para a não realização das
atividades, destacando-se São Paulo onde este percentual foi de 100%.
68
Tabela 7 Professores, por capitais das UF, segundo o desenvolvimento pela escola (em 1999), de
trabalho sobre sexualidade e prevenção de DST/Aids e ao uso indevido de drogas, 2000(%)
Fonte:Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Esta escola está desenvolvendo, ou desenvolveu durante o ano de 1999, algum trabalho com os alunos sobre sexualidade e prevenção de DST/Aids e de
uso indevido de drogas?”
69
drogas nas escolas em que atuam é a falta de material didático
sobre os temas. Segue-se, como segundo obstáculo, a falta de pro-
fessores capacitados, especialmente mencionada em Cuiabá, Por-
to Alegre, Recife e Maceió. Em terceiro lugar, a razão mais indica-
da sinaliza para o problema de institucionalização, mencionado no
Capítulo 1 deste trabalho, pois os professores afirmam que as Se-
cretarias Estaduais e Municipais de Educação não incluíram os te-
mas em seus projetos político-pedagógicos. Os percentuais mais
significativos ocorrem em Manaus, Belém e Salvador.
Os dados da Tabela 8 mostram que Recife, Porto Alegre,
Belém e Rio de Janeiro foram as capitais onde menores percen-
tuais de professores apontaram a inclusão dos temas DST/Aids e
uso indevido de drogas no projeto político-pedagógico da escola
(44%, 56%, 60% e 61%, respectivamente). Estes percentuais ten-
dem a coincidir com os dados relativos à adoção da perspectiva
da transversalidade no tratamento dos temas (Tabela 8), sendo
mais baixos em Recife (47%) e Porto Alegre (50%).
Nas entrevistas com os diretores, algumas escolas se refe-
rem, de uma forma mais ampla, a um projeto pedagógico:
Nós temos um projeto pedagógico sobre sexualida-
de desenvolvido na escola inteira. Nós temos que
falar, nós cremos que ‘água mole em pedra dura tan-
to bate até que fura’. Você tem que falar a mesma
coisa todos os dias. Às vezes eles sabem, mas não
põem em prática, então você tem que colocar para
que vire um hábito, para que isso fique inserido na
vida deles, não como uma obrigação. (Entrevista
Diretora, escola pública, Distrito Federal)
2.2 As Parcerias
O exame das parcerias estabelecidas para o desenvolvimen-
to das ações de prevenção de DST/Aids e uso indevido de drogas
mostra um ponto de fragilidade: tendem a predominar aquelas est a -
70
Tabela 8 Professores por capitais das UF, segundo tratamento dado pela escola aos temas DST/
Aids e drogas, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à pergunta: “Os temas DST/Aids e drogas fazem parte do projeto político-pedagógico da escola?”.ONcorresponde ao número total
de respostas válidas.
(**) Indagou-se: “Como é que esta escola costuma tratar os temas DST/Aids e drogas?”
71
belecidas com instituições públicas e corporações policiais ou
militares, em detrimento das entidades da sociedade civil, espe-
cialmente da comunidade escolar (Tabela 9). Vale observar que
as indicações de “pais de alunos”, de “Associações de Pais e
Mestres” e “lideranças/associações comunitárias”, no todo, ra-
ramente excedem 1/3. Por outro lado, chama a atenção a im-
portância relativa das menções às instituições religiosas.
Entretanto, variações entre as capitais e os diversos ti-
pos de escolas. Embora os pais de alunos sejam citados como
parceiros por uma pequena proporção de professores, nas es-
colas particulares de Goiânia esse percentual é de 29%, bem
maior do que a média da cidade (12%) e das escolas públicas
que é de apenas 9%. Em Vitória, 25% das escolas particulares
apontam os pais como sendo seus parceiros, e no Rio de Janei-
ro, 28%. Em Fortaleza, as lideranças comunitárias e as Associ-
ações de Pais e Mestres não participaram das atividades em
praticamente nenhuma das escolas particulares, sendo que, nas
escolas públicas, o percentual dos professores que indicam a
parceria com esses atores é de 10% e 6%, respectivamente.
Em Florianópolis, 43% dos professores das escolas particulares
indicam que as corporações policiais e militares agiram como
parceiros, tendo praticamente o mesmo peso que as entidades
públicas (45%).
Nas entrevistas com diretores e nos grupos focais de pro-
fessores, as parcerias entre as escolas e as diversas instituições
respondem por três funções principais: (a) a promoção de ativi-
dades; (b) a capacitação dos profissionais da área de educação;
e (c) a distribuição de materiais concernentes ao tema DST/
Aids. Segundo os diretores, os principais parceiros das escolas
são as Secretarias de Saúde e Educação, diferentes organiza-
ções não- governamentais, as universidades e centros de ensino
superior e outras instituições públicas.
As Secretarias de Saúde e Educação estão presentes nas
parcerias em todas as capitais onde foi feito o estudo, mas não
em todas as escolas pesquisadas. Estas parcerias fornecem pes-
72
Tabela 9 Professores, por capitais das UF, segundo parceiros da escola para o desenvolvimento
das atividades de prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
* Apenas respostas afirmativas a cada uma das alternativas da pergunta: “Quais os agentes/instituições participaram ou colaboraram para o desenvolvimento das atividades
de prevenção de DST/Aids e drogas (Marque todos os que participam/participaram)?”. O N corresponde ao número total de respostas válidas.
73
soal credenciado, como médicos e enfermeiros, algumas vezes
montando equipes permanentes nas escolas e cedendo material:
A Secretaria de Saúde vem, através da parceria, ofe-
recer um programa de palestras sobre doenças ve-
néreas para os alunos de 5
a
à8
a
séries. Os alunos
até a série têm feito um trabalho sobre higiene
pessoal, porque eles são menores. Então nós conse-
guimos a parceria com o posto de saúde. Eles tra-
zem vídeos e tudo, colaborando bastante com a es-
cola. (Entrevista Diretor, escola estadual, Cuiabá)
Outros parceiros constantemente citados são as Instituições
de Ensino Superior (IES), tanto públicas quanto particulares, en-
viando estudantes de Medicina para fazer palestras e fornecer
informações às escolas. Em alguns casos, os universitários che-
gam a deslocar-se para dar palestras em outras cidades. Este
tipo de parceria não se conforma apenas por interesse unilateral
da escola, mas também atende a uma necessidade das Institui-
ções de Ensino Superior (IES) em capacitar seus estudantes:
A escola também serve de campo para os alunos de
Medicina. Eles fazem um trabalho de conscientiza-
ção sobre DST/Aids. pelo menos quatro, cinco
anos que a escola está servindo de campo para pa-
lestra com slides. Quando tem a feira de ciências,
sempre se enfoca isso, o pessoal do laboratório do
curso de patologia. (Grupo Focal Professores, escola
estadual, Goiânia)
O Conselho Nacional de Entorpecentes (Conen) e o Hospi-
tal das Clínicas também aparecem como parceiros das escolas:
Nós temos uma parceria com o Hospital das Clíni-
cas, com os médicos. Este trabalho está sendo desen-
volvido, algum tempo, de prevenção. Mas ain-
da não deslanchou como nós gostaríamos porque a
proposta desse trabalho é de você estar criando mo-
nitores. Você teria um grupo onde daria todas as in-
74
formações, faria os encontros, mas eles seriam os ca-
pacitadores. Nós ainda não conseguimos emplacar
esse projeto, por vários fatores dentro da escola. (En-
trevista Diretora, escola estadual, São Paulo)
tivemos aqui no Recife, os Hospitais das Clínicas
e vieram médicos. trouxemos ginecologistas,
médicos e pessoas mesmo com Aids, com drogas, de
todos os setores. A gente está sempre trazendo ex-
viciados e todo o tipo de pessoas para entrevista,
para debate, para filmes. (Entrevista Diretor, escola
particular, Recife)
Um outro exemplo de parceiro é o Proerd, tendo como mo-
delo o D.A.R.E. ( Drug Abuse Resistance Education), que de-
senvolveu-se no Brasil, fundamentalmente nos estados de São
Paulo e Santa Catarina, com o objetivo primordial de atuar na
prevenção do uso de drogas por crianças e adolescentes:
Sim, nós temos um programa chamado Proerd, reali-
zado pela Polícia Militar. Eles vêm à escola e fazem
palestras com os alunos sobre violência e drogas.
Na realidade não entra Aids, mas droga e violência
estão ligadas à sexualidade. (Entrevista Diretor, es-
cola pública, Florianópolis)
Outros órgãos públicos tais como o Exército e a Polícia Fe-
deral foram citados em algumas escolas; no entanto, são mais
voltados à área de prevenção do uso indevido das drogas:
O Exército muito apoio nesse sentido. Eles nos
fornecem muito material bom, ensinam e explicam.
Nós temos bastante coisa boa, mesmo. (Entrevista
Diretora, escola particular, Florianópolis)
Um grupo da Polícia Federal veio, ano passado,
aqui, mostrar as drogas para eles verem... mostrar,
não é falar. (Grupo Focal de Professores, escola parti-
cular, Maceió)
75
Quando a parceria envolve a capacitação de docentes, os dados
quantitativos (Tabela 10) mostram uma grande diversidade de situa-
ções, sendo mais freqüente a oferta de capacitação pelas instituições
públicas de saúde, seguindo-se as universidades e as instituições par-
ticulares de saúde. Entre as cidades grandes diferenças quanto ao
peso das instituições públicas de saúde no esforço de capacitar os
professores para atuar na prevenção de DST/Aids e uso indevido de
drogas. Com exceção do Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Cui-
abá, é pouco expressiva a participação das ONG nessa tarefa, na
qual chegam a ser suplantadas pelas instituições religiosas.
Comparando os dados por capitais com os dados desagregados
por dependência administrativa das escolas em cada uma das cida-
des, constatou-se a presença de discrepâncias muito relevantes para
o presente estudo. Em Fortaleza, Recife e Porto Alegre, foi possível
observar a preocupação das instituições públicas com as escolas pú-
blicas. Vale informar os percentuais: em 84% (Fortaleza), 75%(Reci-
fe) e 60% (Porto Alegre) das escolas públicas, os cursos foram ofe-
recidos por essas instituições, contra apenas 9% (Fortaleza), 25%
(Recife) e 25% (Porto Alegre) das particulares. Percebe-se, assim,
que os valores totais obtidos por essas capitais sendo o de Fortaleza
o maior deles (70%) praticamente resultaram dos percentuais das
escolas públicas, que foram assistidas por instituições públicas no
esforço de capacitar seus docentes para atuar nas ações de preven-
ção de DST/Aids e do uso indevido de drogas.
No referente à oferta de cursos por Instituições Públicas
Superiores (IES), discrepâncias foram observadas em Cuiabá,
Belém e, principalmente, Recife. Nas duas primeiras cidades, as
IES foram mencionadas como ofertantes de cursos para 20% das
escolas públicas percentuais esses responsáveis pelas médias
obtidas nessas capitais (19% e 16%, respectivamente). Convém
informar que foram muito baixos os índices de apoio das IES às
escolas particulares em Cuiabá e Belém. Em Recife, além de ter
ocorrido o processo inverso, verificou-se uma acentuada dispari-
dade entre os percentuais obtidos, senão vejamos: as IES foram
indicadas como ofertantes de cursos por 75% dos professores
das escolas particulares e apenas 18% das escolas públicas.
76
Tabela 10 Professores, por capitais das UF, segundo instituição que ofereceu o curso de formação/
capacitação para atuar na prevenção de DST/Aids e do uso de drogas, 2000* (%)
Fonte:Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas a cada uma das alternativas da pergunta: “Quem ofereceu esse curso de capacitação/formação?”. O N corresponde ao número total de respostas
válidas.
77
Em relação à oferta de cursos por instituições particulares de
saúde, destacam-se discrepâncias em Maceió, Fortaleza e Cuia-
bá. Em Maceió, a média obtida (6%) mostra-se bem reduzida por
causa do percentual obtido nas escolas públicas: tais instituições
foram relacionadas como ofertantes de cursos por apenas 4% des-
tas escolas, em contraposição a 13% dos que atuavam nas escolas
particulares. Em Fortaleza, as instituições particulares de saúde
pareceram estar mais preocupadas com as escolas particulares.
Estas instituições foram citadas como tendo promovido cursos por
36% dos professores das escolas particulares (percentual extre-
mamente superior ao da média (13%) dessa capital e às demais
médias) e somente 7% dos docentes das escolas públicas. Trata-
se, por certo, de uma acentuada e relevante disparidade. Em Cuia-
bá, por fim, enquanto 12% dos professores das escolas públicas
relataram a oferta de cursos por essas instituições, não houve qual-
quer menção equivalente nas escolas particulares.
Existem também entidades religiosas que têm iniciativas jun-
to a algumas escolas particulares. Em quatro capitais, ocorreram
disparidades nos percentuais relativos às entidades religiosas. Em
Manaus e Salvador, estas ofereceram cursos a 27% (Manaus) e
10% (Salvador) dos professores das escolas particulares, contra
0% (Manaus) e 10% (Salvador) dos professores públicos. Por
outro lado, em Goiânia e Cuiabá, as entidades religiosas apresen-
taram maior preocupação em capacitar professores das escolas
públicas: os resultados totais de ambas as capitais (12%) resulta-
ram integralmente dos índices destas últimas (14% de Goiânia e
12% de Cuiabá).
Finalmente, quanto à oferta de cursos por ONG, disparida-
des foram visualizadas nas capitais de quatro Unidades da Fede-
ração: Florianópolis, Goiânia, Cuiabá e no Distrito Federal. Con-
vém informar que, nas três últimas, as ONG ofereceram os cur-
sos a 12% (DF), 10% (Goiás) e 11% (Cuiabá) aos docentes das
escolas públicas, não atendendo absolutamente as escolas parti-
culares. em Florianópolis, ao contrário, as ONG ofereceram
cursos a 12% dos professores das escolas particulare s e a ape-
nas 2% das públicas. Enquanto em algumas escolas realizou-se
78
parceria de longa duração com ONG, outras não se consolida-
ram, limitando-se à curta duração.
Entre as ONG, a que mais se destac a é o GAPA, atuando
em várias cidades e escolas brasileiras com o objetivo de capaci-
tar os professores e oferecer material didático para as atividades
desenvolvidas:
(...) Nós temos alguns palestrantes que, às vezes vem
aqui e fazem trabalhos, o GAPA fez ... Eu acho
necessária embora muitas vezes os pais não gostem
da finalidade de deixar o assunto bem claro na lin-
guagem dos jovens. (Entrevista Vice-Diretora, escola
estadual, Porto Alegre)
O próprio GAPA nos procurou e nós fizemos uma
reunião com os professores e, a partir dessa reu-
nião, voluntários vão continuar participando, para
passar para as crianças esse tipo de coisa. (Entre-
vista Diretora, escola particular, Florianópolis)
Outra ONG que apareceu em depoimentos é o
GTPOS (Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orienta-
ção Sexual).
menção nominal também a outras ONG, como a Saúde e
Vida, em Salvador, e a Casa de Passagem, em Recife. Em algu-
mas entrevistas houve várias menções a parcerias com ONG,
porém não foram feitas citações nominais das mesmas.
Em algumas capitais existe um maior acompanhamento por
parte das Secretarias de Saúde e Educação que vão periodica-
mente às escolas tratar do assunto DST/Aids. Em Fortaleza, ob-
servou-se uma maior articulação entre as diferentes pastas go-
vernamentais, o que pode explicar o maior destaque das ações de
prevenção nesta capital. O projeto “Escola Viva” é uma parceria
entre Secretarias de Educação, Cultura, Ação Social e Saúde,
implantado pela Secretaria de Educação.
79
Não obstante a conformação de diversas parcerias em dife-
rentes âmbitos sociais ser de extrema importância para a conse-
cução dos projetos de prevenção de DST/Aids, ainda assim per-
manecem enormes lacunas, pois muitas das escolas de diferentes
cidades têm-se queixado da falta de coordenação entre as secre-
tarias, demais instituições públicas e escolas.
Constatou-se por intermédio dos depoimentos dos diretores
e professores que as escolas, inclusive as localizadas em uma
mesma cidade, exibem diferentes processos. Existem aquelas que
são contempladas com projetos oficiais e/ou parcerias; outras que,
mesmo padecendo da falta de apoio, conseguem desenvolver ati-
vidades graças ao empenho da sua comunidade escolar; por fim,
existem aquelas que estão alheias a qualquer tipo de ações exa-
minadas.
Com relação às escolas particulares, o estabelecimento de
parcerias é uma parte importante no desenho dos projetos relaci-
onados com a temática da sexualidade e da prevenção de DST/
Aids, uma vez que elas afirmam não estar incluídas em um pro-
grama oficial governamental. As parcerias constituídas entre es-
sas escolas e as diversas instituições não se dão no mesmo nível
daquelas adotadas nas escolas públicas.
2.3 A Capacitação
A atividade de capacitaçã o é a mais citada nas entrevistas
com os diretores quanto à função das parcerias. Algumas destas
parcerias têm como função única capacitar os professores e di-
retores, tentando gerar um efeito multiplicador com vistas a atin-
gir outros profissionais e principalmente os alunos:
Então, nós temos um núcleo aqui que é vinculado à
Secretaria de Saúde, chamado Elo de Vida, em que te-
mos também capacitados, profissionais que estão cui-
dando mais diretamente nessa área, para encaminhar
aquelas pessoas, usuárias de drogas para o local onde
80
possa ser feito um acompanhamento melhor, um trata-
mento. (Entrevista Diretores, escola estadual, Fortaleza)
No que diz respeito à capacitação, casos de escolas que
trabalham com projetos estruturados e organizados, visando pre-
parar o corpo docente. É o que aparece em Fortaleza, onde exis-
te um núcleo de 18 escolas que participam de capacitações e
realizam encontros de educadores:
São cinco escolas que estão como núcleo. Na próxima
semana, vai acontecer uma capacitação de uma sema-
na, ampliando o número para mais 18 escolas, que vão
se tornar núcleo também em prevenção do uso indevi-
do de drogas. A capacitação acontecerá toda na esco-
la. Nós faremos uma triagem e indicaremos as escolas
que têm maior necessidade de ser enquadradas nesse
grupo. (Entrevista Diretor, escola estadual, Fortaleza)
Em outras cidades também foi observada a existência de
projetos estruturados: no Distrito Federal, o “Programa Cuidar”;
no Rio de Janeiro, o “Projeto Amor à Vida” e Elo da Vida”; em
Vitória, o “PREPAVI” e, em Manaus, o “Projeto Adolescer”:
Tanto nesse Projeto Amor à Vida, como o Elo de Vida,
tivemos a capacitação e ainda vai ter esta outra
agora, na próxima semana. (Entrevista Diretor, escola
estadual, Fortaleza)
Nossos professores têm tido preparação. Constantemen-
te, nós colocamos orientadores ou mandamos mais pro-
fessores se prepararem nesse sentido, e também fazer o
retorno em um encontro que nós fazemos de formação
pedagógica para todos professores. De modo especi-
al, a nossa escola está tendo uma preparação bem gran-
de, no chamado Programa Cuidar, que é muito envol-
vente: o enfoque é todo colocado sobre o valor da vida,
sobre o valor da pessoa. Nesse sentido eu vejo que
uma grande preparação, e vai se intensificar mais e
mais agora, com a adoção desse programa. (Entrevista
Diretor, escola pública, Distrito Federal)
81
O que nós fazemos é desenvolver entre nós um pro-
grama que nós criamos chamado PREPAVI, que é
“preservação do patrimônio e da vida”. O PREPAVI
está sendo desenvolvido na escola até com pales-
tras-relâmpago nas turmas em geral. Nós convoca-
mos pessoas notórias conhecedoras desse campo,
para estar colocando para os alunos, professores e
para nos atualizar. (Entrevista Diretor, escola estadu-
al, Vitória)
Nós mesmos trazemos o t reinamento. Somos multi-
plicadores. Fizemos um treinamento baseado na me-
todologia vivencial. Foi até para o Ministério da
Saúde e, a partir daí, nós começamos a treinar os
nossos agentes de saúde escolar. Então cada escola
onde tem o agente de saúde escolar formou seu gru-
po do Projeto Adolescer, com o apoio do UNICEF.
Nesse projeto nós temos os líderes, adolescentes lí-
deres, e, para as escolas, nós temos os núcleos de
adolescentes. Cada escola onde tem o agente de
saúde tem um grupo de no mínimo quinze alunos que
são capacitados para trabalhar com outros jovens
da sua própria escola. (Entrevista Diretor, escola pú-
blica, Manaus)
Em Belém, uma escola particular desenvolve um programa
anual em parceria com a Universidade Federal do Pará:
(...) nosso trabalho, tanto com relação à prevenção
de doenças sexualmente transmissíveis e Aids, tem
muito a ver com a dinâmica do dia-a-dia com o de-
senvolvimento de um programa anual, realizado pela
professora de educação sexual e pela Universidade
Federal do Pará. Então, uma capacitação especial
com técnicos de fora não ocorreu, até porque esse
nosso trabalho vai por conta de uns seis anos; na
verdade, nós estamos somando a cada ano uma obra
nova, um curso novo que a gente faz no final do
82
ano para retroalimentar o planejamento existente.
(Entrevista Diretora, escola particular, Belém)
No entanto, de acordo com as informações dos professores,
as atividades de capacitação para atuar na prevenção de DST/
Aids e do uso indevido de drogas ainda se encontram em fase
incipiente. Conforme pode ser observado na Tabela 11, somente
uma pequena parcela deles chegou a receber algum tipo de capa-
citação para este fim. O maior percentual foi encontrado em Flo-
rianópolis, Vitória, Fortaleza e Cuiabá, com cerca de 1/3 dos pro-
fessores. Nas entrevistas individuais, muitos dos diretores afir-
mam que nem eles, nem os professores, passaram por qualquer
processo de capacitação sobre o tema.
Para trabalhar diretamente com essa questão, não.
Curso, nem pago por eles mesmos e nem pela secre-
taria. (Entrevista Diretor, escola estadual, Cuiabá)
(...) nós temos os parâmetros curriculares nacionais,
mas não há, nem houve, nenhuma capacitação. (En-
trevista Coordenadora, escola municipal, São Paulo)
Nas escolas particulares, os comentários não são
mais animadores: Você está falando se eu fiz algum
curso, é isso? Não. (Entrevista Vice-diretor, escola
particular, Fortaleza)
Alguns depoimentos de diretores e professores de escolas de
São Paulo, Cuiabá e Florianópolis indicam ter havido, anteriormente,
um processo de capacitação que, por algum motivo, foi suspenso:
Na administração da prefeita Luíza Erundina, eu tive
várias e várias. O trabalho era super interessante
porque nós tínhamos grupos de professores, nos reu-
níamos, e nós elaborávamos atividades, voltáva-
mos para a escola. Era um trabalho onde se chama-
va os pais e se expunha todo o objetivo do traba-
lho, então os pais consentiam ou não. (Entrevista
Diretor, escola estadual, São Paulo)
83
Tabela 11 Professores, por capitais das UF, segundo realização de cursos de formação/capacitação
para atuar na prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte:Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Você realizou algum curso específico para atuar na área de prevenção de DST/Aids ou drogas na escola?”
84
Nesse projeto que eu falei, foram capacitados cinco
professores da escola, em 1998. Infelizmente, nós
não pudemos dar seqüência à programação, por-
que o projeto acabou. O convênio, a parceria entre
as duas Secretarias terminou. (Entrevista Diretora,
escola pública, Florianópolis)
existiu [um programa], dois ou três anos atrás.
Eu fiz uns três ou quatro cursos para isso, todo ano
tinha, mas de uns dois anos para parou, pelo
menos aqui na nossa escola não chegou e, se che-
gou, eu não fiquei sabendo.(Grupo Focal Professo-
res, escola estadual, Cuiabá)
Na tentativa de compensar a falta de cursos de capacita-
ção, algumas escolas convidam profissionais especializados, que
possam transmitir maiores informações aos professores: tem uma
pessoa capacitada que vem aqui fazer o trabalho de orien-
tação aos professores. (Entrevista Diretor, escola municipal,
Recife)
diretores que dizem que não nenhuma instituição apoi-
ando os projetos, que é tudo da própria escola: nós nos organi-
zamos, é organização da escola, dentro da realidade da es-
cola. (Entrevista Diretora, escola estadual, São Paulo)
Cabe ressaltar situações em que, mesmo não havendo uma
capacitação proveniente de fora, houve um repasse de informa-
ção por iniciativa da própria escola, ainda que não fundamentado
em cursos:
É a própria escola que tem-se esforçado nesse as-
pecto. Quando ela não tem condições porque foge
à sua competência, tem procurado voluntários,
que conhecem o assunto, para estar trazendo aqui
para a escola. Mas receber uma capacitação de
algum órgão relacionado à saúde ou à educação,
isso não está ocor rendo . (Entrevista Diretor, esco-
la estadual, Cuiabá)
85
A maioria das escolas se preocupa, mas isso é inici-
ativa da própria escola, embora existam reuniões
oferecidas pelas Secretarias, pelas DER, e que teri-
am essa preocupação com esses temas transversais.
Não existe capacitação de DST, nem de Aids e nem
de droga. Está existindo uma preocupação hoje com
educação especial e com religião, não com capaci-
tação. (Entrevista Diretor, escola estadual, Recife)
Em uma escola particular do Rio de Janeiro fica a forte im-
pressão de que a iniciativa de participar de um curso de formação
vem dos próprios professores e diretores:
Todo trabalho está sendo gerado pela própria dire-
ção, pelos próprios responsáveis do colégio. Tudo
foi criado pelo pessoal daqui mesmo. (Entrevista Di-
retor, escola particular, Rio de Janeiro)
Isso não se restringe às escolas particulares. Vários depoi-
mentos obtidos nas escolas públicas reforçam essa percepção, ao
sustentarem que as informações sobre a prevenção de DST/Aids
e do uso de drogas são obtidas em função do interesse individual
de cada um, a partir de alternativas como Internet, jornais, ativi-
dades externas ao ambiente de trabalho:
Ela organiza, faz e procura. Por exemplo, quando eu
sei que tem alguma atividade no SESC, alguma ativi-
dade na biblioteca de lá, nós procuramos. Às vezes
até aqui: nós temos a comunidade, tem a Semana de
Ramos, que às vezes organiza os trabalhos a respeito
de sexualidade e toda vez eu procuro participar. (En-
trevista Diretora, escola municipal, Rio de Janeiro)
Os cursos mencionados referem-se às áreas de DST/Aids e
drogas. Como pode ser observado na Tabela 12, entre os profes-
sores que realizaram cursos de capacitação/ formação para atuar
nas atividades aqui focalizadas, o mais comum foram cursos em
ambas as áreas, especialmente em Cuiabá, Fortaleza, Maceió,
Salvador, Vitória, Florianópolis e Porto Alegre.
86
Tabela 12 Professores, por capitais das UF, segundo cursos de formação/capacitação realizados
para atuar na prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Você realizou algum curso específico para atuar na prevenção de DST/Aids ou drogas na escola?” As alternativas de resposta correspondem às categorias
listadas na Tabela, considerando-se como resposta negativa as diferentes dessas.
87
Muitos dos professores passaram por algum tipo de treina-
mento, principalmente através de palestras que, freqüentemente,
não incluíam todos os professores das escolas:
Nós tivemos um curso aqui na escola dado pela se-
cretaria do município. Fizemos palestras, fizemos os
slides. Acho que não capacitou 80%, mas deu para
a gente repassar. (Entrevista Diretora, escola estadu-
al, Fortaleza)
Eu participei de vários cursos de seminário, várias
palestras, porque eu trabalho em outra área e a gen-
te tem palestra constantemente sobre esse problema
da sexualidade, das drogas. (Entrevista Vice-Direto-
ra, escola estadual, Salvador)
Eu tenho essa capacitação pela Secretaria Munici-
pal de Educação, fiz o curso de 200 horas. (Grupo
Focal Professores, escola municipal, Goiânia)
De fato, como pode ser observado na Tabela 13, na maior
parte dos casos, os cursos foram oferecidos a alguns professo-
res, não à sua totalidade. Mesmo expressando uma estratégia de
formar multiplicadores, este é um ponto que merece atenta refle-
xão, devido, por um lado, à rotatividade dos professores, e por
outro, à necessidade de tratar os temas em tela sob a perspectiva
da transversalidade.
As entrevistas apontam que a capacitação é dirigida, basica-
mente, aos professores de Ciências, pela própria afinidade do tema
com a área:
O curso é para os professores que estiverem interes-
sados, na sua maioria professores de Ciências, mas
eu participei desse curso. (Grupo Focal de Professo-
res, escola municipal, Rio de Janeiro)
com os professores de Ciências, quando é feita a
reciclagem. Eles estudam para o currículo deles.
(Entrevista Diretora, escola pública, Distrito Federal)
88
Tabela 13 Professores, por capitais das UF, segundo participantes do curso de formação/capacitação
para atuar na prevenção de DST/Aids e ao uso de drogas, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à pergunta de múltipla escolha assim enunciada: “Esse curso de capacitação/formação foi oferecido a: 1-todos os professores; 2-alguns
professores; 3-diretores, supervisores, orientadores, coordenadores?”. O N corresponde ao número total de respostas válidas.
89
A prefeitura um curso para os professores de
ciências, um curso excelente tanto sobre a Aids
como sobre o alcoolismo, como um pacotão. Foi
muito positivo, porque eles voltaram cheios de idéi-
as. Eles foram multiplicadores dentro da escola, e
fizemos trabalhos excelentes de conscientização.
(Entrevista Diretora, escola municipal, Vitória)
Destaca-se, também, a reduzida participação de diretores
e da equipe técnico-pedagógica das escolas. Este parece ser
um outro aspecto a merecer reflexão, devido ao papel central
ocupado principalmente pelos diretores de escolas, quando se
trata da adesão a políticas públicas, programas ou projetos nas
escolas sob sua administração. As entrevistas mostram que,
mesmo quando houve capacitação, muitas vezes eles próprios
não tomaram parte da mesma, relegando essa função aos pro-
fessores: Não, porque eu estava atuando em nível de dire-
ção de escola, mas as pessoas que estavam atuando no pro-
jeto fizeram um treinamento de várias semanas. (Entrevista
Vice-diretora, escola pública, Distrito Federal)
Alguns diretores sentem-se pouco preparados, com a for-
mação acadêmica recebida nas universidades, para discutir te-
mas relacionados com DST/Aids, na medida em que não faziam
“parte do currículo”:
Eu sou formada em pedagogia. Dentro da peda-
gogia eu tenho supervisão, orientação, magisté-
rio e administração escolar, mas absolutamente
esses temas faziam parte do nosso currículo. Não
posso dizer que hoje em dia estou preparada por-
que nós, desde que viemos trabalhar aqui, come-
çamos a perceber que teríamos que dar um foco
diferente, um direcionamento diferente para o nos-
so trabalho junto ao adolescente. Aids é uma rea-
lidade, as doenças sexualmente transmissíveis são
uma realidade. (Entrevista Diretora, escola munici-
pal, Rio de Janeiro)
90
Os diretores relatam que, mesmo nos cursos de pós-graduação,
não constam cursos de especialização sobre o tema, muitas vezes
porque são pouco abrangentes e não lidam com a sexualidade. Re-
gistrou-se apenas um caso onde uma professora realizou um curso
de educação sexual. Em uma escola particular professores que
têm oportunidade de estudar “lá fora”, trazendo novas informações
para a escola:
Na nossa formação pedagógica, a gente discute de uma
forma geral, sexualidade e Aids. A escola vem apresen-
tando, através do Serviço de Orientação Educacional,
trabalhos sobr e isso. Inclusive, existiam grupos que tra-
balhavam a questão da Aids, das drogas, que fizeram
cursos fora e que vieram para dentr o da escola. Não
é uma preparação como deveria ser, em função da gra-
vidade, mas toda escola tem uma informação básica (En-
trevista Coordenador, escola particular, Distrito Federal)
Uma das conseqüências da baixa participação dos diretores na
capacitação é a existência de uma certa perplexidade e muitas dúvi-
das sobre como tratar as crianças aidéticas que estudam na escola.
O depoimento que se segue mostra uma diretora referindo-se, con-
cretamente, a situações que se apresentaram:
QUADRO4–Eaí,oqueagente sabe?
Entrevista Diretora, escola municipal, Porto Alegre
Não, nós não tivemos capacitação, mas nós sabemos que temos alunos
com Aids. Isso é uma coisa que eu acho que o sistema falha, porque
os alunos estão aí. Tem uns alunos que a gente sabe e tem os alunos
que a gente não sabe. Nós temos casos de crianças que perderam pai
e mãe com Aids. E as crianças, a gente não sabe se têm. Outras
crianças, a gente sabe que têm, vem com o pai e a mãe dizendo,
com a instituição dizendo que eles têm, vem com os remedinhos para
tomar às 4 horas da tarde e às 10 horas da manhã. E aí, o que a gente
sabe? Porque quando eles se machucam, a gente tem que tomar todo
cuidado, para lidar com eles, usando luva, etc. Mas eles estão no
meio de toda essa criançada, às vezes tu tem que dar conta, tu quer
atender. Eu acho até que nem é questão de a gente ‘pegar’. O caso é
de a gente saber lidar com essa criança e com os outr os. É complicado.
91
Contudo, em algumas escolas particulares, apesar do não
envolvimento direto da direção, é oferecido um suporte financei-
ro aos professores interessados em participar dos cursos de ca-
pacitação, como declarou um diretor do Rio de Janeiro: Tem apoio
da escola. Quando a escola quer que a pessoa vá, ela paga
tudo, todos esses seminários e congressos. Agora se a pessoa
achou algo interessante, por iniciativa dela, a escola cola-
bora com 50%. É uma política que nós temos. (Entrevista Di-
retor, escola particular, Rio de Janeiro)
Mesmo assim, muito freqüentemente, a escola particular não
proporciona capacitação ao professor:
Para ser sincero a gente nunca fez uma atividade com
os professores, não. (Entrevista Diretor, escola particu-
lar, Maceió)
Não e é uma falha que a gente no processo edu-
cacional, é que a escola, de certa forma, essa aqui
até está mudando, mas ela rompe com o meio acadê-
mico, você sai da academia, você sai da universida-
de e vem para escola, acabou-se, acabou-se. Quem
quiser que se vire de fazer uma especialização. (Gru-
po Focal Professores, escola particular, Fortaleza)
o caso no qual o diretor considera o tema como extracur-
ricular, mas o aborda quando surge oportunidade, porque não
faz parte do currículo, é uma atividade extracurricular que a
gente faz porque é necessário fazer. (Entrevista Diretora, es-
cola estadual, Vitória)
Entre os professores que realizaram cursos, os dados indi-
cam (Tabela 14) que a maioria foi de curta duração e presencial.
Ressalta-se, ainda, que são escassas as referências aos cursos à
distância, que também foram pouco mencionados nas entrevistas:
A escola procura através da TV-Escola, que é um re-
curso que a escola tem, que nós recebemos do MEC e
gostamos muito. (Entrevista Diretora, escola particular,
Distrito Federal)
92
Tabela 14 Professores, por capitais das UF, segundo características do curso de formação/capacitação
para atuar na prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte:Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à pergunta de múltipla escolha assim enunciada: “De que tipo foi esse curso?”. O N corresponde ao número total de respostas válidas.
93
Tem um professor de biologia que fez uma capacita-
ção no ano passado. Um curso que é dado por cor-
respondência. Alguns professores se inscreveram e
começaram a receber os módulos, mas eu acho que
a gente tem uma biblioteca muito boa, a gente rece-
be periódicos, então o professor não trabalha
aquilo se ele não quiser. (Entrevista Diretora, escola
estadual, Vitória)
No Distrito Federal, um diretor mencionou o programa TV-
Escola. Porém foi o único a se referir ao uso desse material em
escola particular:
Nós temos assinaturas de revista e jornais, com os
quais trabalhamos muito, porque são coisas atuais.
os livros didáticos ensinam pouco, portanto a
escola procura através da TV-Escola, que é um re-
curso que temos, que nós recebemos isso do MEC e
gostamos muito, é de grande valor isso para nós,
juntamente com as revistas pedagógicas e jornais.
(Entrevista Diretora, escola particular, Distrito Federal)
Este dado é corroborado na Tabela 15, onde é possível cons-
tatar que, em todas as capitais, foram muito baixos os percentuais
de professores expostos à série “Prevenir é Sempre Melhor”.
Esta reduzida disseminação parece não expressar a qualidade da
série, mas outros problemas, possivelmente relacionados à divul-
gação e gestão de programas de ensino à distância (EAD). De
fato, em todas as capitais, no que se refere à série “Prevenir é
Sempre Melhor”, propriamente dita, quase todos os que a assisti-
ram avaliaram-na como boa ou ótima (Tabela 16).
Além disso, a maioria sustentou que a exposição à série trou-
xe benefícios tanto na vida pessoal como profissional (Tabela 17),
observando-se exceções em Recife e Porto Alegre, onde parce-
las significativas limitaram as vantagens obtidas ao plano profis-
sional de suas vidas. Em Cuiabá, até mesmo os pais chegaram a
mencionar os benefícios da série veiculada pelo programa “Um
Salto para o Futuro”:
94
Tabela 15 Professores, por capitais das UF, segundo exposição à série “Prevenir é Sempre Melhor”,
2000* (%)
Fonte:Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Você viu a série “Prevenir é Sempre Melhor”, oferecida pelo programa Um Salto para o Futuro, pela TV-E, transmitida em 1999?
Tabela 16 Professores, por capitais das UF, segundo avaliação da série “Prevenir é Sempre Melhor”,
2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Se você viu a série no todo ou em parte, como avalia o conteúdo dos programas apresentados?”
95
Tabela 17 Professores, por capitais das UF, segundo áreas beneficiadas pela série “Prevenir é Sempre
Melhor”, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Essa série foi útil para você?”
96
Através do “Salto para o Futuro” nós fizemos um
projeto de DST e de Aids e falamos sobre as drogas,
fizemos apresentação dentro da escola, bonecos,
placas, feira de ciência onde apresentamos a cami-
sinha, o anticoncepcional, o preservativo. (Grupo
Focal Pais, escola estadual, Cuiabá)
Por outro lado, como mostra a Tabela 18, a avaliação que os
professores fazem dos cursos de formação/capacitação em geral
é bastante crítica, conceituando-os entre “ruim” e “bom”, sendo
o conceito “ótimo” muito pouco atribuído, com exceção do Rio de
Janeiro, onde chega a quase 1/3 dos professores. De outro lado, o
conceito “ruim” atinge o máximo em Belém, Goiânia e São Paulo
e o mínimo em Manaus e Vitória.
A avaliação que os professores fazem dos cursos de capaci-
tação/formação se reflete na insegurança manifestada por eles,
que continuam achando necessário estudar mais e procurar ajuda
especializada para abordar esses temas com os alunos, mesmo
quando participaram de algum tipo de capacitação:
Mas eu não me sinto à vontade. Sinceramente, eu
posso esclarecer, mas de forma bem sintética, su-
perficial, não posso entrar em detalhes (Grupo Focal
de Professores, escola estadual, Maceió)
Eu não me sinto pr eparada, por que quem estaria prepa-
rado seria um profissional da área.. Eu como profissio-
nal não me sinto competente nessa área para trabalhar
isso. (Grupo Focal Professores, escola estadual, Goiânia)
assisti algumas palestras, mas eu acho que pou-
ca coisa foi acrescentada. Às vezes eu participo, aqui
junto com o aluno, com professor, mesmo junto à
comunidade escolar, mas os temas são tratados de
uma forma muito globalizada, que todos nós sabe-
mos. Nós precisamos ter, algumas informações, mas
tem certas informações que são especificas da área
médica. (Entrevista Diretor, escola pública, Salvador)
97
Tabela 18 Professores, por capitais das UF, segundo avaliação do curso de formação/capacitação para
atuar na prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Solicitou-se que os respondentes atribuíssem notas de zero a 10 aos seguintes quesitos da formação/capacitação que lhes foi oferecida para atuar nas áreas de DST/Aids ou
de prevenção do uso de drogas: Qualidade; Adequação; Duração; Suficiência. A pontuação atribuída aos quatro quesitos foi somada e dividida por quatro. Os percentuais
correspondentes à variação de zero até 5,999 pontos equivalem à categoria “Ruim”; de 6 até 8,999, à categoria “Bom”; e de 9 a 10, à categoria “Ótimo”.
98
Os dados da Tabela 19 corroboram as manifestações dos
professores nos grupos focais e dos diretores nas entrevis-
tas. Em cinco das capitais Goiânia, Cuiabá, Belém, Forta-
leza e Maceió menos da metade dos professores avaliou
como “suficiente” o seu próprio conhecimento sobre temas
relativos à sexualidade e à saúde sexual e reprodutiva: mas-
turbação, homossexualismo, aborto, DST, Aids, gravidez, con-
tracepção, etc. Nas demais capitais com exceção de Vitó-
ria, Rio de Janeiro e Santa Catarina, onde os percentuais cor-
respondentes excedem os 3/5 –, as proporções de professo-
res que consideram seus conhecimentos suficientes ficam um
pouco acima da metade.
Como mostram as Tabelas 20 e 20.1, em resposta à inda-
gação sobre as formas de transmissão e de prevenção da Aids,
quase todos os professores foram capazes de, num amplo le-
que de alternativas, selecionar as formas corretas. No que se
refere à transmissão da doença, as referências a formas in-
corretas foram baixas, somente atingindo valores significati-
vos em Florianópolis, Manaus e Distrito Federal. Porém, mos-
tram-se preocupantes as proporções de respostas incorretas
quanto à prevenção, que variaram entre o mínimo de 65% em
Porto Alegre ao máximo de 85% em Fortaleza.
As notas atribuídas aos cursos de capacitação/formação,
segundo diversos critérios (Tabela 21) guardam correspondên-
cia com as críticas feitas pelos professores e diretores nas
entrevistas. Um dos problemas que estes mais mencionam é a
falta de sistematização dos cursos de capacitação:
Não, é de vez em quando aparece uma capacita-
ção para quem tem interesse. Por exemplo, eu tive
dificuldade até de lhe dizer, quando você pergun-
tou, quem estaria apoiando, desenvolvendo um
pouco esse projeto (...). (Entrevista Diretor, escola
municipal, Rio de Janeiro)
99
No ano passado alguns professores fizeram tam-
bém com a Cruz Vermelha, mas é sempre assim,
quem quer vai. Não houve, por exemplo, um estu-
do fornecido por alguém. (Entrevista Vice Diretora,
escola estadual, Porto Alegre)
Ao mesmo tempo, quando oferta de capacitação, esta
ocorre, preferencialmente, em horários não coincidentes com
os de aula, o que dificulta muito a programação tanto para os
professores das escolas públicas como os de particulares. Ge-
ralmente, os professores trabalham em mais de uma escola e a
única possibilidade é trabalhar através de palestras:
QUADRO5–Professor Taxista
Entrevista Diretor, escola particular, Rio de Janeiro
Entrevista Diretora, escola estadual, Porto Alegre
Nós temos grupos que estão procurando sempre especialização,
mas temos uma dificuldade aqui de fechar por causa de horários
de professores. Eu estou desde o ano passado em negociação a
respeito de drogas com o NEPADE, da UERJ, para dar um
curso para os nossos professores. Alguns fizeram, mas eu
queria fazer um curso para um número bastante grande, um
curso especial para nosso grupo de professores. E o entrave
que eu tenho é que são “professores taxistas”, saem daqui vão
para outro lugar. Então, o que a gente está tendo são professores
aqui, e ali, que vão participando de palestras.
cursos, mas que nós não temos tempo de fazer porque o
professor está em sala de aula. O professor ganha pouco de
manhã e tem que trabalhar de tarde. Ganha pouco de manhã e
de tarde, e tem que trabalhar à noite. Ele não tem tempo de
fazer curso, então fica difícil.
100
Tabela 19 Professores, por capitais das UF, segundo auto-avaliação da informação sobre os temas de
saúde sexual e reprodutiva, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Entre os assuntos abaixo, sobre quais você tem informação suficiente?” Os que marcaram de zero a 3 itens foram agregados na categoria “Informação insuficiente”;
os que marcaram entre4e8foram agregados na categoria “Informação suficiente”.
101
Tabela 20 Professores, por capitais das UF, segundo correção das informações sobre as formas de
transmissão* da Aids, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Como é que as pessoas pegam Aids?”. Foram consideradas formas corretas de transmissão: pelo sangue, nas transfusões e nas operações; pelas mães
infectadas, que passam para os bebês; usando seringa ou agulha de injeção contaminada; por equipamento contaminado, de médico ou de dentista. Foram consideradas formas
incorretas de transmissão: pelo beijo; pelo abraço, pelo aperto de mão; pelo banheiro, no vaso sanitário.
102
Tabela 20.1 Professores, por capitais das UF, segundo correção das informações sobre as formas de
prevenção* da Aids, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Como fazer para evitar Aids?”. Foram consideradas formas corretas de prevenção: transar se estiver usando camisinha; não transar com moças/rapazes de
programa ou prostitutas(os); tomar injeção com seringa e agulha descartável; não aceitar transfusão de sangue sem garantia de qualidade. Foram consideradas formas
incorretas de prevenção: tomar vacina; não usar banheiros públicos; usar camisinha quando transar com parceiro(a) desconhecido(a); não doar sangue; fazer teste de Aids
freqüentemente; evitar qualquer contato com pessoas infectadas.
103
Tabela 21 Valores médios atribuídos pelos professores, por capitais das UF, aos critérios de avaliação
dos cursos de capacitação/formação para atuar na prevenção de DST/Aids e uso indevido
de drogas, 2000*
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Solicitou-se que os respondentes atribuíssem notas de zero a 10 a cada um dos critérios de avaliação da capacitação/formação que lhes foi oferecida para atuar nas áreas
de DST/Aids ou de prevenção do uso de drogas. Os valores da Tabela representam a média obtida para cada um dos critérios.
104
Um outro problema apontado nas entrevistas é a não-inclu-
são de todas as escolas e professores nas atividades de capacita-
ção. Além disso, a qualidade dessas capacitações também deixa
a desejar, na opinião de alguns diretores e professores:
As nossas orientadoras quando têm, e podem, elas
fazem e multiplicam na escola. Mas não é sempre.
Eu acho isso muito válido, eu acho que tinha que
ter muito mais. (Entrevista Diretora, escola estadual,
Porto Alegre)
Não recebemos capacitação. Até tem na prefeitura
um projeto, mas é um projeto também reduzido, que
atinge poucas escolas. Mas a gente tem interesse em
ir atrás para capacitar o pessoal, os professores.
Acho que é importante isso. (Entrevista Diretor, es-
cola municipal, São Paulo)
Eles [Secretaria de Educação] promovem cursos, mas
não é o suficiente e os cursos que a secretaria
deixam muito a desejar. Muita coisa ainda é joga-
da, mesmo porque eles também não têm uma infra-
estrutura para tudo isso. (Entrevista Diretora, escola
estadual, Salvador)
Talvez devido à própria percepção de que os cursos ofereci-
dos não atendem às suas necessidades de informação, alguns dos
professores consideram desnecessária a capacitação específica
para tratar o assunto e enfatizam muito mais a experiência de
vida e sua formação pessoal:
(...) eu orientei de acordo com o que eu sabia, o que
tinha de informação e tenho certeza que ficaram bem
orientadas, porque não sabiam de praticamente
nada, apesar de tanta informação que a gente
na televisão, jornais, todo mundo fazendo campa-
nhas, mas as coisas básicas elas não sabiam. (Gru-
po Focal Professores, escola estadual, Goiânia)
105
E o que vai dar essa condição é a própria vivência,
são os anos. 28 anos que eu conclui o curso
acadêmico, e são raras as oportunidades de reci-
clagem, mas a gente por si só, tenta se manter atua-
lizado, dentro do possível. Porque eu acho que a
questão da sexualidade é mais informação, é dia-
logo. (Entrevista Diretor, escola pública, Salvador)
2.4 As Atividades
Os dados quantitativos discriminando os tipos de atividades
desenvolvidas mostram uma grande e generalizada concentração
nas aulas dadas pelos professores de Ciências (Tabelas 22 e 23).
O mesmo pode ser constatado nas entrevistas abertas. Segundo
vários depoimentos, são esses os professores que aderem às dis-
cussões com maior facilidade e são os que mais participam. Este
fato ocorre tanto nas escolas públicas, como nas particulares:
Isso é discutido em Ciências e programa de saúde,
em Biologia também. As professoras de Ciências e
Biologia trabalham na questão da prevenção das
doenças sexualmente transmissíveis e na nossa pro-
gramação anual tem um projeto de um dia onde se
vai trabalhar não com os alunos mas com toda a
comunidade a questão das DST/Aids. (Entrevista Di-
retor, escola estadual, Cuiabá)
Após as aulas de Ciências, as palestras e os trabalhos apa-
recem como as atividades mais freqüentes. No entanto, nas en-
trevistas, a maioria dos diretores afirma que a palestra é a ativi-
dade mais usual.
Tanto nos dados qualitativos, quanto nos quantitativos, as
palestras são ministradas por agentes extra-escolares: médicos,
policiais, alunos da universidade, profissionais de saúde e de edu-
cação, etc. Nelas, os alunos perguntam livremente e discutem
as suas dúvidas:
106
Tabela 22 Professores por capitais das UF, segundo atividades desenvolvidas na escola para prevenção
de DST/Aids*, 2000(%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à seguinte solicitação: “Marque todas as atividades desenvolvidas na escola sobre DST/Aids.” (**) Perguntou-se: “Além dessas ativida-
des tratando de DST/Aids e drogas, marque com um X se também foram desenvolvidas sobre o mesmo tema, as seguintes atividades...”. O N corresponde ao número total de
respostas válidas.
CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA
107
CONTINUAÇÃO DA TABELA 22
108
Tabela 23 Professores, por capitais das UF, segundo atividades desenvolvidas na escola para
prevenção do uso de drogas*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à seguinte solicitação: “Marque todas as atividades desenvolvidas na escola sobre drogas.” (**) Perguntou-se: “Além dessas atividades
tratando de DST/Aids e drogas, marque com um X se também foram desenvolvidas sobre o mesmo tema, as seguintes atividades...”. O N corresponde ao número total de respostas
válidas.
CONTINUA NA PRÓXIMA PÁGINA
109
CONTINUAÇÃO DA TABELA 23
110
Nós temos tido grupos de alunos da universidade
que vieram aqui, inclusive do Hospital das Clíni-
cas. Eles fazem o trabalho com os alunos, conver-
sam com eles. (Entrevista Diretora, escola estadual,
Porto Alegre)
Nós tivemos palestras com médicos. Eles falaram,
divulgaram, até mesmo sobre o uso da camisinha
para mulher, o uso correto, e também sobre anticon-
cepcional. (Grupo Focal Professores, escola estadual,
Cuiabá)
No Distrito Federal, Porto Alegre, Vitória e Salvador exis-
tem palestrantes que além da promoção do conhecimento sobre o
assunto, vendem livros aos alunos e professores:
Nós tivemos esse assunto debatido com os profes-
sores de Biologia e de Ética, e também, tivemos
várias palestras na escola. No final eles vendem
livros sim, mas as palestras e debates que fazem
são muito bons, e os nossos alunos compram os li-
vros se quiserem. (Entrevista Vice-diretora, escola
pública, Distrito Federal)
Sobre as DST/Aids, esse ano houve quatro dias
de trabalho. No outro dia, a proposta dos palestran-
tes era vender livros, mas o livro compra quem qui-
ser. O importante é a palestra que o pessoal traz
cada vez mais atualizada. (Entrevista Diretor, escola
estadual, Vitória)
A escola promove também palestras com pessoas que vi-
venciam problemas com drogas, DST e Aids: Nós tivemos um
moço aidético. Ele passou na escola, ele esteve umas três se-
manas aqui. Ele trabalha sozinho, esteve fazendo um traba-
lho aqui que foi muito bom. (Entrevista Diretora, escola estadu-
al, Goiânia)
111
Em algumas capitais, as escolas promovem palestras para
os pais e professores:
Temos palestras, inclusive temos uma agendada ago-
ra, que vai acontecer em três tempos, primeiro para
professores, segundo para os pais e terceiro para
os alunos, sobre o uso de drogas e com doenças se-
xualmente transmissíveis. (Entrevista Diretora, escola
estadual, Porto Alegre)
Contudo, as palestras enquanto atividades planejadas ou tra-
balhos isolados, tornam-se alvo de críticas pela falta de continui-
dade e pela monotonia que impõem aos alunos:
Palestras, trabalhos isolados. Sempre vem alguém
dar palestras sobre as doenças, sobre drogas, sem-
pre, sempre, ‘Ah, professora, eu não agüento mais
não’; eles dizem ‘mais uma vez, droga novamente,
vou fugir ’. (Grupo Focal de Professores, escola esta-
dual, Maceió)
De fato, apesar de ser a atividade mais comum, elas pare-
cem não ser estruturadas de forma sistemática:
Nós fazemos palestras e convidamos palestrantes so-
bre educação sexual para vir dar alguma palestra
aqui sobre DST. Não é bem sistemático não. Normal-
mente, nós fazemos bem no início e no segundo se-
mestre, às vezes, nós fazemos depois de um Fortal.
(Entrevista Vice-Diretor, escola estadual, Fortaleza)
Nas escolas particulares, as palestras são realizadas por pro-
fissionais, tais como: psicólogos, médicos, sexólogos, e também
pessoas soropositivas e ex-drogados, fazendo-se acompanhar de
filmes e debates. Várias dessas escolas também capacitam o seu
corpo docente e algumas, no Recife e em Maceió, convidam evan-
gélicos para dar palestras:
112
tivemos palestrantes dos hospitais aqui no Reci-
fe, Hospital das Clínicas e pela universidade fede-
ral; convocamos e vieram médicos de hospitais e
de clínicas; trouxemos ginecologistas e pessoas
com Aids, drogados, ex-viciados e todo o tipo de pes-
soas para entrevista, para debate, para filmes. (En-
trevista Diretor, escola particular, Recife)
Da mesma maneira que nas escolas públicas, as palestras
são oferecidas de maneira descontínua, variando a freqüência
desse tipo de atividade de escola para escola: aula, não. Certo?
Nós fazemos aqui, esporadicamente, uma palestra sobre sexo,
drogas; trazemos uma pessoa que tenha a ver com o assunto .
(Entrevista Diretor, escola particular, Maceió)
Em uma das escolas de Goiânia, a pedido das alunas, foi feita
uma palestra exclusiva para as meninas discutirem sexualidade:
O sexólogo veio especialmente para as meninas do en-
sino médio e elas pediram, tinham necessidade, por-
que numa sala de aula, no momento elas não tinham
coragem de fazer perguntas para sanar dúvidas. (Gru-
po Focal Professores, escola particular, Goiânia)
Os professores também realizam trabalhos específicos so-
bre sexualidade, DST e Aids utilizando livros, vídeos, filmes e
slides. A escola pode desenvolver ações de prevenção contra a
Aids visando atingir os pais por meio da educação dos filhos:
Nós estamos fazendo na escola conscientizações
sobre a camisinha, sobre a prevenção, porque o tra-
balho da escola é prevenção. São trabalhadas nas
disciplinas como Português, Matemática. Nós tra-
balhamos com jornais, folders, palestras. (Entrevis-
ta Diretora, escola estadual, Manaus)
Bom, isso nós colocamos no conteúdo escolar de
Ciências, de Biologia. Nós temos alguns tópicos li-
gados a esses casos. É bastante importante, cada
113
professor tem um conhecimento e mostrar até atra-
vés de slides, de filmes. (Entrevista, Diretor, escola
particular, São Paulo)
Como pode ser observado na Tabela 22, algumas escolas
tratam o tema a partir de várias matérias. Nos grupos focais, os
diretores comentam que tratam de integrar os temas entre as vá-
rias disciplinas, inclusive a de Ensino Religioso.
Os temas transversais são um espaço importante na medida
em que todas as disciplinas Ciências, Português, Educação Fí-
sica, Música, Artes e outras podem abordar o mesmo assunto
sob ângulos diversos, tornando o currículo mais rico e dando in-
formações a pessoas que não possuem outra forma de obter este
conhecimento. Ao mesmo tempo, dentro dos temas transversais,
muitas vezes questões relacionadas com sexualidade aparecem
“quando existe uma oportunidade de estar encaixado”.
São as escolas particulares as que mais conseguem colocar
em prática esta interdisciplinaridade. Algumas escolas utilizam as
aulas de Religião para abordar diversos temas sociais, entre eles,
Aids, drogas e violência:
Com certeza não em Ciências como em outras dis-
ciplinas. Hoje nós temos professor até de Matemáti-
ca trabalhando essa questão de saúde, de um modo
geral, e tem o Serviço de Orientação Educacional
que sempre entra em sala buscando desenvolver es-
ses trabalhos e levar inclusive para fora da escola,
encontros fora da escola. (Entrevista Diretora, esco-
la particular, Distrito Federal)
Nós temos um serviço da área educacional, e as aulas
de Filosofia, Sociologia e de biologia tratam desses
temas. (Entrevista Diretor, escola particular, Recife)
Uma preocupação da escola era que isso não ficasse
restrito a uma matéria; por exemplo, a escola não quer
que o professor de Biologia fale sobre Aids, e sim
114
que todos os professores falem sobre esses assuntos.
Criou-se uma disciplina chamada Ciências da Natur eza
que é a ponte entre a aula de sexologia, sobre Aids, abor-
to, gravidez, nós entramos em todos esses assuntos, mas
além disso foi dada a liberdade para que todo mundo
desse a sua contribuição. (Entrevista Diretor, escola parti-
cular, Rio de Janeiro)
Em uma das escolas no Rio de Janeiro aparece uma contradi-
ção entre o discurso dos diretores e dos professores quanto à possibi-
lidade da participação de professores de diferentes matérias nas ati-
vidades ligadas aos temas da sexualidade e DST/Aids:
Entra como um tema transversal, tanto em Biologia,
quanto em Religião esses temas são abordados. (Entre-
vista Diretor, escola particular, Rio de Janeiro)
se os professores de Biologia falarem. (Grupo Focal
de Professores, escola particular, Rio de Janeiro)
A feira de Ciências aparece tanto nos dados quantitativos quan-
to nos dados qualitativos como uma atividade freqüente nas escolas.
Segundo os depoimentos de diretores e professores, elas são valori-
zadas porque “empolgam“ os alunos, e eles participam mais ativa-
mente, apresentando seus próprios projetos:
Na feira de Ciências, que nós temos aqui todo ano,
aparecem muitos trabalhos sobre isso, e eles vão atrás,
vão à universidade, eles pegam material, eles trazem
para sala de aula, é retroprojetor, muita coisa boa mes-
mo. (Entrevista Diretora, escola particular, Florianópolis)
No final do bimestre, existe a feira de Ciências,
eles apresentam determinados temas que eles gostam
muito de falar, da parte de sexo, eles exploram muito
a parte da sexualidade. Sempre existe, no caso, a fei-
ra de Ciências, eles fazem estudos, muitos grupos de
trabalho, Aids, aborto, a violência, drogas, peças,
apresentam peças. (Grupo Focal de Professores, escola
municipal, Maceió)
115
Embora não ofereçam aulas formais, várias das escolas tra-
balham com oficinas específicas, formando grupos de alunos que
se encontram uma vez por semana e podem repassar os conteú-
dos para os seus colegas: Temos a oficina de sexologia. É um
trabalho legal, é em grupo. Para essa oficina existem inscri-
ções para um número limitado de alunos. (Entrevista Diretora,
escola municipal, Porto Alegre).
Também a formação de alunos multiplicadores, que apren-
dem e repassam a informação, é relatada por alguns diretores:
Eu tive uma experiência muito boa anteriormente
aqui nesse projeto que está dando certo. Tenho uma
aluna que foi transferida para esta escola. Ela fa-
zia parte das oficinas de músicas, do “Projeto Se-
guir”. Durante as oficinas, esses alunos passam a
ser multiplicadores, então, além dos professores, nós
temos alunos multiplicadores também sobre preven-
ção a drogas e doenças sexualmente transmissíveis.
(Entrevista Diretora, escola estadual, Salvador)
Embora não tenha sido identificada como tal, essa ação pode
expressar a estratégia de “formação de adolescentes multiplica-
dores”. Vale registrar que existem algumas escolas públicas cu-
jos diretores explicitamente afirmaram atuar na formação de jo-
vens como agentes multiplicadores possivelmente no âmbito da
estratégia antes mencionada:
Existe, até porque a nossa escola fez parte de um
trabalho sobre esse tema, então nós treinamos mo-
nitores, para que eles passassem aos seus colegas.
E principalmente com relação às aulas de Ciências,
onde a professora, ela aborda esses temas. (Entre-
vista Diretor, escola pública, Florianópolis)
Uma das escolas em Florianópolis realizou uma Feira de
Educação Sexual na qual os alunos discutiram e apresentaram
trabalhos. Uma das diretoras entrevistadas contrapõe as pales-
tras, tão freqüentes, com um trabalho que a escola vem realizan-
116
do, ligado ao teatro; outra das entrevistadas refere-se à composi-
ção de músicas para dar seguimento aos trabalhos:
Nós trouxemos um teatro, falando sobre a droga e a
gravidez precoce. A peça era sobre um acontecimento
real. Foi onde chamou a atenção deles, porque foi uma
coisa bem real, bem prática, bem na realidade deles.
(Entrevista Diretora, escola estadual, Florianópolis)
Em algumas capitais as escolas realizam uma “semana cultu-
ral”, na qual os temas drogas e Aids são inseridos por meio de expo-
sições e pesquisas. A música “rap” é também utilizada como instru-
mento de trabalho sobre o tema. Professores de uma escola particu-
lar em Goiânia lembram a importância de trabalhar com os jovens de
forma lúdica para que eles explorem melhor as atividades:
Nós desenvolvemos junto com os alunos de uma
maneira mais lúdica, colhemos as opiniões, ouvimos
relatos, tentamos deixar um espaço democrático para
que não seja algo impositivo. Tentamos dar liberda-
de aos adolescentes. (Grupo Focal Professores, esco-
la particular, Goiânia)
Entre as escolas particulares pesquisadas, a maioria demonstra
ter desenvolvido alguma atividade com seus alunos, a respeito de
sexualidade e DST/Aids. Estas, no entanto, segundo os depoimentos
dos diretores e professores, são promovidas pela iniciativa da própria
escola, não havendo, portanto, a inserção em um programa, projeto
ou em uma parceria institucional com o governo local:
O oficial é o conteúdo que tem dentro do próprio
programa. Não existe parceria, não temos apoio. A
escola convoca, paga até para que esses profissio-
nais venham e dêem essa informação. Em nível de
governo, infelizmente nós nunca tivemos. (Entrevis-
ta Diretor, escola particular, Recife)
Sim, nós tivemos os programas desenvolvidos atra-
vés dos projetos da escola, dentro da parte da Bio-
117
logia, dentro da parte da sexualidade, dentro das
doenças transmissíveis, eles foram para as pales-
tras. Não [tem programa oficial], nós fizemos atra-
vés de palestras aqui dentro da escola. (Entrevista
Diretora, escola particular, Distrito Federal)
Embora a maioria dos diretores das escolas afirme realizar
alguma atividade de prevenção de DST/Aids, o nível de aprofun-
damento pode ser muito diferente em cada uma delas, parecendo
depender dos interesses e preocupações deles próprios:
(...) nós mesmos não temos programas específicos
sobre esse assunto; tratamos esses assuntos dentro
de um grande projeto de valorização da vida que
vai desde os pequenos até a 3
a
serie do ensino mé-
dio, desde Aids até drogas. (Entrevista Diretor, esco-
la particular, Porto Alegre)
Em Fortaleza, uma escola particular tinha um convênio com
o governo estadual para desenvolver atividades de informação e
prevenção de DST/Aids entre os alunos, mas esse convênio foi
extinto em 1998: Existiu no passado quando nós tínhamos con-
vênio com o estado, minha escola foi conveniada com o
estado. O convênio acabou em noventa e oito. (Entrevista Di-
retores, escola particular, Fortaleza)
Tendem a predominar, nas escolas, atividades de caráter disci-
plinar, sendo menos freqüentes os trabalhos de pesquisa, trabalhos
em grupo e apresentações. Estes resultados se aplicam tanto às ati-
vidades de prevenção de DST/Aids como de uso indevido de drogas
(Tabela 23). No entanto, alguns depoimentos demonstram que ofici-
nas, teatros, fóruns são utilizados nas escolas como meio de informar
os alunos tanto sobre DST/Aids quanto sobre drogas.
Em Goiânia, Cuiabá, Maceió e Recife, algumas escolas
levam os alunos para participar de palestras fora do ambiente
escolar, inclusive em parcerias com ONG, com a polícia, bom-
beiros, principalmente nos temas relacionados ao uso indevido
de drogas:
118
Eu gostaria de ter condições para tirar esses alu-
nos daqui e visitar as casas especializadas que re -
cebem os portadores da Aids. Não tem condições de
levar todo mundo, então, de vez em quando, tem que
levar um ou outro, para fazer uma visita. Nós fomos
na Casa da Mãe Joana, para mostrar na realidade
sobre o que é a Aids, que nós vemos na televisão.
(Entrevista Diretor, escola estadual, Cuiabá)
No ano passado, nós fizemos um trabalho com o
pessoal da Casa de Passagem, conversando sobre
drogas. Nós fizemos uma semana anti-drogas, com
a Secretária de Educação; fizemos uma passeata,
concursos de cartazes, conscientizando a questão
do não uso de drogas, a questão do aborto. Trouxe-
mos algumas pessoas para dar palestras. (Entrevis-
ta Diretor, escola estadual, Recife)
Não, oficial não. Nós temos um trabalho com a poli-
cia militar sobre a questão da violência que é um
semestre todinho com um programa de redução da
violência e das drogas para as quartas séries. (En-
trevista Diretora, escola estadual, Florianópolis)
Tanto no que se refere às DST/Aids como às drogas chama
a atenção, ainda, o caráter rotinizado das atividades desenvolvi-
das, sendo muito mais freqüentes as tarefas convencionais que
aquelas que envolvem abordagem artística musical, literária,
dramática ou lúdicas, como as gincanas. Este resultado coinci-
de com o que se observa no mencionado documento da Coor-
denação Nacional de DST/Aids “Levantamento Nacional so-
bre Prevenção de DST/Aids e de Uso Indevido de Drogas em
Escolas”
28
–, que também registra o predomínio de práticas pe-
dagógicas convencionais, em contraposição àquelas nas quais
um envolvimento mais ativo dos alunos.
28
Levantamento Nacional sobre Prevenção de DST/Aids e de Uso Indevido em
Escolas” Série Avaliação, Número 3, Ministério da Saúde, 2000. Tabela 22.
119
O exame dos temas abordados nessas atividades mostra uma
ênfase nos conteúdos da sexualidade e da transmissão e preven-
ção de DST/Aids, seguindo-se a reprodução humana (Tabela 24).
Os temas do amor, afetividade, auto-estima, sexualidade, que es-
tão associados aos padrões de vulnerabilidade às DST/Aids, fo-
ram menos mencionados. Neste sentido, chama a atenção a re-
duzida ênfase dada às relações de gênero e aos preconceitos.
Além disso, quando comparados aos temas anteriores, todos
os conteúdos relativos às drogas foram apontados por menores
percentuais de professores, geralmente situando-se em torno de
1/3 das indicações.
Como evidencia a Tabela 25 e também é confirmado pelos
dados do documento “Levantamento Nacional sobre Prevenção
de DST/Aids e de Uso Indevido de Drogas em Escolas”
18
–o
público-alvo privilegiado das atividades foram, em primeiro lugar,
os alunos regulares de 5
a
a8
a
série do turno diurno e, em segundo
lugar, os estudantes do ensino médio diurno. É visível o menor
percentual de referências aos alunos do turno noturno, especial-
mente os do ensino médio, entre os quais outros dados desta pes-
quisa mostraram que tendem a ser mais elevados os índices de
vulnerabilidade às DST/Aids.
Como regra, na maioria das capitais, o público-alvo das ati-
vidades se concentrou no turno diurno. Nas escolas particulares,
este percentual é muito mais baixo do que nas públicas, chegando
a ser nulo em alguns casos, possivelmente porque, nas primeiras,
tende a ser menor a oferta de aulas noturnas. Em Maceió, 42%
das escolas públicas desenvolveram atividades nas séries de 5
a
a
8
a
noturno, ao passo que apenas 10% das escolas particulares o
fizeram. No Rio de Janeiro, 35% das escolas públicas desenvol-
veram atividades nas 5
a
a8
a
séries do noturno, e 34% no ensino
médio noturno, sendo que, nas particulares, esse percentual é de
apenas 1% e 5%, respectivamente.
29
Idem. Tabela 25.
120
Tabela 24 Professores, por capitais das UF, segundo conteúdos abordados nas atividades
desenvolvidas na escola para prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à solicitação de que “Marque com um X todos os conteúdos tratados nas atividades das quais você participou”. O N corresponde ao número
total de respostas válidas.
121
Tabela 25 Professores, por capitais das UF, segundo público-alvo das atividades de prevenção de
DST/Aids e uso de drogas, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à pergunta: “As atividades foram desenvolvidas/oferecidas aos alunos de que níveis ou séries? (Marque com o X todas as séries ou níveis
beneficiados). O N corresponde ao número total de respostas válidas.
122
As exceções são as cidades de Manaus, Fortaleza, Vitória
e Florianópolis, onde os percentuais entre as escolas públicas e
particulares nas séries dos turnos noturno e diurno parecem es-
tar mais equilibrados. Em Fortaleza, a situação chega a se in-
verter nos cursos profissionalizantes, sendo que 10% das esco-
las particulares afirmam ter oferecido atividades no curso pro-
fissionalizante noturno, contra apenas 1% das escolas públicas.
Como pode ser constatado, em Fortaleza, Recife, Maceió e
Salvador registram-se os mais altos percentuais de professores
que afirmaram ter sido baixa a intensidade das atividades exe-
cutadas o que significa que predominou a sua realização ape-
nas uma ou duas vezes por ano (Tabela 26).
No Distrito Federal, o percentual de professores de esco-
las públicas que indicam periodicidade baixa das atividades é de
8% e, nas particulares, de 24%. Em Goiânia, apenas 9% dos
docentes das escolas particulares afirmaram que foram desen-
volvidas atividades com periodicidade intensa. Em Fortaleza, 30%
dos mestres das escolas particulares classificam como intensa
a periodicidade das atividades, ao passo que, nas públicas, esse
percentual cai para menos da metade (14%). Em Florianópolis,
34% dos professores das escolas públicas classificam como baixa
a intensidade das atividades, sendo que, nas particulares, esse
percentual é bem mais baixo, apenas 10%.
Entretanto, os dados da Tabela 27 mostram que embora
sejam grandes as variações por capitais cerca de metade dos
professores afirma que o trabalho realizado não se limita às ati-
vidades específicas durante as aulas e sim que, em vários mo-
mentos, alguns deles discutem e orientam os alunos tanto sobre
os temas relativos às DST/Aids como sobre as questões vincu-
ladas ao uso indevido de drogas. Ainda assim, observa-se que
são bastante baixos os percentuais de professores que afirmam
que vem sendo realizado nas suas escolas um trabalho específi-
co e sistemático de orientação dos alunos.
123
Tabela 26 Professores por capitais das UF, segundo periodicidade das atividades desenvolvidas na
escola para prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
Indagou-se: “As diversas atividades sobre DST, Aids e drogas foram realizadas quantas vezes?”. Considerou-se periodicidade “Intensa” àquela correspondente a todas as semanas
e/ou duas vezes por mês; “Média”, àquela correspondente a uma vez por mês e/ou duas vezes por ano; “Baixa”, àquela correspondente a uma vez por ano; e “Nenhuma”, quando
a resposta foi de que nunca foram realizadas tais atividades.
124
Tabela 27 Professores, por dependência administrativa das escolas, segundo práticas relativas à
prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Solicitou-se : “Marque com umX:oqufeito na sua escola sobre DST/Aids?”
(**) Solicitou-se “Marque com umX:oqufeito na sua escola sobre drogas?”
125
Esta informalidade aparece quando os professores afirmam que
não existe tempo para falar sobre os temas citados, dentro do currí-
culo, e alguns necessitam de um consentimento da diretora para se-
rem trabalhados, o que leva que o tratamento da questão seja rápido
e sem profundidade:
Nas minhas aulas nós ainda não tivemos essa oportu-
nidade de estar falando, até porque (...) é muito rápi-
do; às vezes não tempo, por mais que você tente
pegar um pouquinho para estar falando de outros as-
suntos, não tempo. Eu acho que a escola poderia
estar fazendo isso através de palestras. (Grupo Focal
Professores, escola estadual, Cuiabá)
Além dos limites, propriamente ditos, às vezes impostos por di-
retores, também o seu desinteresse, fazendo com que o trabalho
realizado não seja, de fato, sistemático, mas sim fruto de iniciativas
decorrentes da voluntariedade de um ou outro professor. Alguns, sen-
tindo falta de espaço para aprofundar o tema, jogam, colocam um
vídeo e deixam lá.
escolas que contam com a presença de voluntários e exis-
tem outros profissionais que realizam trabalhos como os psicólogos,
orientadores, supervisores. O grande problema é a falta de possibili-
dade de dar seqüência a estas ações de caráter não formal.
QUADRO 6 Falta de Periodicidade
Entrevista Vice-Diretor, escola estadual, Fortaleza
Grupo Focal Professores, escola estadual, Cuiabá
Nós sempre fazemos isso, não é... não é bem sistemático não. Nós
fazemos isso no começo do ano, certo, e do segundo semestre. No
primeiro semestre, normalmente nós fazemos bem no início, e no
segundo semestre, às vezes, nós vamos fazer depois de um Fortal.
Nós conversamos uma coisa informal.
126
2.5 O Material
Como mostra a Tabela 28, o material disponível aos profes-
sores para o desenvolvimento das atividades parece bastante res-
trito, predominando os cartazes e/ou folhetos, seguidos dos livros
ou manuais. Chamam a atenção os reduzidos percentuais de pro-
fessores que fizeram referência ao material em Porto Alegre,
São Paulo e Belém, ao contrário do que se observa em Cuiabá,
Maceió, Distrito Federal e Rio de Janeiro.
No tocante aos cartazes e/ou folhetos, somente Recife re-
velou discrepâncias: as escolas públicas dessa capital tiveram um
índice de 44%, enquanto que as escolas particulares alcançaram
apenas um percentual de 13%, valor esse muito inferior ao da
média dessa e das demais capitais onde se realizou a pesquisa.
Em Belém, Recife, Salvador e Florianópolis, algumas dispa-
ridades ocorreram no tocante à disponibilidade de vídeos. Nas
duas primeiras capitais, as escolas públicas apresentaram per-
centuais significativamente superiores aos das escolas particula-
res. Constata-se que as médias obtidas nessas duas capitais (11%
e 25%, respectivamente) resultaram praticamente dos percentu-
ais das escolas públicas. em Salvador e Florianópolis, as esco-
las particulares superaram as públicas. Em Salvador, 33% dos
professores das escolas particulares disseram dispor de vídeos
(contra 14% das públicas).
As discrepâncias relativas à disponibilidade de camisinhas
ocorreram em seis capitais, sendo que, vale frisar, em quatro de-
las, as escolas públicas apresentaram índices superiores aos das
particulares. Os percentuais relatados pelos professores das es-
colas públicas de Goiânia, Recife, Belém e São Paulo foram de
23%, 14%, 23% e 9%, respectivamente, contra apenas 4%, 4%,
0% e 1% das escolas particulares. Em Fortaleza e Florianópolis,
entretanto, os professores das escolas particulares que disseram
dispor de preservativos foram 20% e 43%, contra 9% e 15% das
escolas públicas. Vale destacar que a proporção de Florianópolis
(escolas particulares) foi extremamente elevada, principalmente
quando comparada com as médias das demais capitais.
127
Tabela 28 Professores, por capitais das UF, segundo material disponível para desenvolver as atividades
de prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Apenas respostas afirmativas à solicitação: “Marque com um X que tipo de material você recebeu para desenvolver com os alunos atividades tratando de DST/Aids e drogas
(Marque todos os que tiver recebido). O N corresponde ao número total de respostas válidas.
128
Em Goiânia, 16% dos docentes das escolas públicas afirma-
ram dispor de outros materiais contra 4% das particulares. em
Florianópolis, 30% dos professores das escolas particulares afir-
maram deter outros materiais em contraposição a apenas 4% das
escolas públicas.
De acordo com os dados qualitativos, baseados em entrevistas
com diretores e grupos focais com professores, fica clara a presen-
ça das Secretarias da Saúde e da Educação na distribuição de mate-
riais às escolas públicas, como ocorre em Goiânia: A Secretaria
se preocupou pelo menos em fornecer material didático, carta-
zes. (Grupo Focal Professores, escola municipal, Goiânia)
Nós temos um projeto advindo da Delegacia de En-
sino, os professores participaram. Inclusive, foi o
projeto Kit Legal da ECOS. Este projeto foi voltado
para a questão da orientação sexual. O projeto é
desenvolvido através de materiais que são enviados
pelas delegacias de ensino, dentro da sala de aula,
e é também desenvolvido com discussões em locali-
dades como o Parque, onde os alunos observam a
natureza e as dinâmicas com relação à questão do
corpo humano e dos órgãos reprodutores. (Entrevis-
ta Diretor, escola estadual, São Paulo)
Porém, existem outros parceiros que atuam nessa distribui-
ção, tais como: Instituições de Ensino Superior, Polícias Civis e
muitas ONG e entidades privadas, principalmente laboratórios:
Nós temos que ir atrás. Mas o Ministério da Saúde
sempre fornece, a Academia de Polícia Civil tam-
bém, os postos de saúde. Quando nós procuramos,
até hoje nós conseguimos. (Entrevista Diretora, es-
cola pública, Distrito Federal)
Recebemos, na época, da Secretaria da Saúde, da
Educação. Hoje não recebemos mais nada. pou-
co que eu recebi do laboratório Santa Luzia que é
um laboratório particular. (Entrevista Diretora, esco-
la municipal, Florianópolis)
129
Por outro lado, os dados qualitativos corroboram o fato de
que a distribuição dos materiais varia de cidade para cidade, com
predominância dos materiais impressos, tais como folhetos e li-
vros didáticos, distribuídos pelas Secretarias estaduais. Esse é o
exemplo de Distrito Federal:
Se recebe, recebe na forma de apostila, cartazes,
para prevenir a Aids, vem um cartaz maravilhoso.
E vem fazer exposição, e acaba atraindo o aluno
de uma certa forma. (Entrevista Diretor, escola públi-
ca, Distrito Federal)
Por sua vez, os diretores de Goiânia e Fortaleza ressaltaram
o recebimento de kits ou sacolinhas, compostos por folhetos, ca-
misinhas, etc; ou seja, material mais sortido:
Utilizamos, distribuímos os kits, panfletos, os fo-
lhetos, as camisinhas; tudo o que nos foi entregue
está sendo passado para o aluno. (Entrevista Dire-
tora, escola municipal, Goiânia)
Nós temos mapas e temos permanentemente uma sa-
colinha para os professores levarem à sala de aula.
Eu tenho aqui camisinha para mulher, camisinha para
homem, DIU, nós temos esses material ao alcance
dos professores para quando precisarem. Métodos
para mostrar para os nossos alunos, métodos con-
traceptivos, como evitar doenças, mas o que a gente
observa é que tem que ter uma outra didática, uma
outra metodologia para levar isso para o aluno, uma
metodologia mais agressiva, porque naquela noite em
que vai sair para o motel, vai transar sem camisinha.
(Entrevista Diretor, escola estadual, Fortaleza)
Ainda sobre o material, algumas escolas, embora minoritári-
as, recebem camisinhas e distribuem entre seus alunos: Recebe-
mos materiais, recebemos um número grande de camisinhas,
folhetos, recebemos muitos folhetos. (Entrevista Diretora, es-
cola estadual, Salvador)
130
Sobre a distribuição dos materiais, mesmo nas cidades onde
os diretores afirmaram recebê-los, o acesso é uma conseqüência
da iniciativa dos próprios professores e diretores:
O professor se preocupa, o Governo não investe,
não nem o material de trabalho, não nada,
como pode haver um progresso. (Grupo Focal Pro-
fessores, escola estadual, Belém)
A escola não dispõe; se a gente precisar, se a gente
tiver algum interesse, a gente tem que buscar por fora.
(Grupo Focal Professores, escola estadual, Cuiabá)
Nas entrevistas com diretores e nos grupos focais de pro-
fessores, constata-se que as escolas recebem material de dife-
rentes fontes. A qualidade dos materiais varia muito de cidade
para cidade. Os diretores que apresentam críticas ao material
geralmente consideram o conteúdo pouco adaptado à realidade
dos jovens, muitas vezes sendo demasiadamente infantil:
Nós recebemos alguns materiais, temos álbuns seri-
ados. Recebemos de um grupo, que fizemos com a
Secretaria, até filmes. Material de boa qualidade.
todo um encaminhamento, um preparo do pro-
fessor para chegar e desenvolver a atividade, for-
mação de multiplicadores, alunos e professores den-
tro do tema. E a Secretaria é quem propicia isso atra-
vés do IAT Instituto Anísio Teixeira. (Entrevista
Vice-Diretora, escola estadual, Salvador)
Talvez não, porque nunca foi desenvolvido um ma-
terial específico pra se trabalhar com adolescente
(...) ou ele é muito infantil, estando numa linguagem
bem infantil, que não chama a atenção do nosso
aluno, ou ele é muito adulto. Nós temos três fitas
de vídeo mesmo que vieram do Ministério que, de-
pendendo da turma, a gente não passa, porque o
vocabulário é muito baixo, muito vulgar, e a gente
fica com medo, às vezes você está tentando prevenir
131
e você está é despertando. A gente tem que ter esse
cuidado. (Entrevista Diretora, feminino, escola públi-
ca, Distrito Federal)
No conjunto das escolas particulares, são poucas as que rece-
bem material das Secretarias de Educação ou Saúde, mas isto even-
tualmente acontece. Exemplos ocorrem em Goiânia e Belém:
De vez em quando, eu pego no posto de saúde, so-
bre DST. A secretária de saúde mandou para nós
nesse final de seman a e o que sobrou está guarda-
do. (Entrevista Diretora, escola particular, Goiânia)
Nós vamos atrás de material em órgãos específicos
como o GAPA; vamos atrás de material na Secreta-
ria de Saúde, nós temos muito material por conta
desse trabalho que vem ao longo dos anos. (Entre-
vista Diretora, escola particular, Belém)
De modo geral, os materiais utilizados pelas escolas particu-
lares são comprados por elas próprias, conseguidos junto a ONG,
ou fabricados pelos professores:
A gente tem inclusive um material muito bom do cor-
po humano, que mostra os órgãos genitais tanto
masculinos quanto femininos. Nós conseguimos via
um professor que fez um curso e que estava com esse
material. É um material maravilhoso todo emborra-
chado, e que pra desenvolver uma qualidade de
trabalho muito boa dentro da sala de aula. (Entre-
vista Diretora, escola particular, Distrito Federal)
Nós trazemos as próprias editoras aqui na escola e
desenvolvemos cartazes e conseguimos materiais
bons. Nós temos assinaturas com revistas, que tra-
zem muito material de orientação para o professo-
rado e nós compramos também, então esse material
é adquirido pela própria escola. (Entrevista Diretor,
escola particular, Recife)
132
De acordo com alguns professores e diretores, a grande liber-
dade das escolas particulares em coletar o material pode permitir aos
alunos o contato com alguns materiais que vão contra as campanhas
oficiais, promovendo a discriminação e o preconceito:
(...) alguns materiais que nós realmente tínhamos, são,
até certo ponto, agressivos, porque tratam da Aids com
teor de terrorismo. Então, o que a gente tenta recupe-
rar nas nossas atividadeséorelacionamento pela afei-
ção, pelo amor, pelo companheirismo; e com relação
ao preconceito também você percebe que ao invés de
você aproximar a pessoa que está naquele momento
portadora do vírus você distancia por que os materi-
ais provocam esse distanciamento. (Entrevista Diretora,
escola particular, Belém)
Uma diretora de Florianópolis reclamou da pouca diversidade
do material recebido: cartazes e, às vezes assim, livretinhos
assim com quatro, cinco páginas assim, esse tipo de coisa assim
a gente consegue. (Entrevista Diretora, escola particular, Florianó-
polis)
Muitos diretores e professores se queixam de simplesmente não
receber material para desenvolver ações de prevenção:
O que o professor recebe é apenas o livro didático e o
que está no livro didático e acabou; se ele não busca
por ele mesmo, ele não consegue. (Entrevista Diretor,
escola estadual, Cuiabá)
Nós não recebemos material pedagógico, nós recebe-
mos material que os acadêmicos tr ouxeram. Mas materi-
al pedagógico não. Às vezes trazemos uma r evista, qual-
quer coisa, vemos uma notícia no jornal, eu passo
para eles, mas material pedagógico nós não r ecebemos
não. (Entrevista Diretora, escola estadual, Goiânia)
Não! Talvez tenha recebido de e 5º, série, mas
que eu saiba não. (Grupo Focal de Professores, esco-
la particular Porto Alegre)
133
O exame do material específico para o desenvolvimento das
atividades de prevenção mostra resultados bastante deficientes.
Como pode ser observado na Tabela 29, raramente chegam a 1/5
dos professores, em todas as capitais, os que tiveram contato com
qualquer um dos materiais.
Vale informar que o “Levantamento Nacional sobre Prevenção
de DST/Aids e de Uso Indevido de Drogas em Escolas”, do Ministé-
rio da Saúde, também informou a ocorrência de baixos percentuais,
bastante aproximados dos que aqui se apresentam
30
. Cabe advertir
que, nesse documento, os índices são gerais, e não limitados aos
municípios-sede das capitais das Unidades Federativas (como ocor-
re com o presente estudo). Mas, apesar disso, constatou-se que di-
versas informações são coincidentes nos dois documentos.
Em Cuiabá, o percentual das escolas que tiveram contato
com o material é maior nas escolas públicas do que nas escolas
particulares. Apenas 7% das particulares tiveram contato com
o vídeo e boletins pedagógicos do “Prevenir é Sempre Melhor”,
mas com o Boneco Gervásio esse percentual é nulo. O uso do
Jornal Radical x DST/Aids e do Kit de folhetos sobre drogas
elaborado pelo Cebrid também é maior nas escolas públicas do
Amazonas do que nas particulares. Nas escolas públicas, 13%
dos professores indicaram o Jornal Radical e 35% menciona-
ram o Kit Cebrid, ao passo que, nas particulares, os percentuais
correspondentes são de 2% e 7%, respectivamente. Em Forta-
leza, o contato das escolas particulares com os vídeos e boletins
pedagógicos do “Prevenir é Sempre Melhor”, “Jornal Radical x
DST/Aids” e “Kit de folhetos sobre drogas elaborado pelo Ce-
brid” é nulo. nas escolas públicas, são citados por 11%, 9% e
12%, respectivamente, dos professores. Em Recife, os profes-
sores particulares também indicam um contato menor com pra-
ticamente todos os materiais, sendo que o “Manual dos Multipli-
cadores Adolescentes”, o “Jornal Radical x DST/Aids” e o “Kit
de folhetos sobre drogas elaborado pelo Cebrid” tem percentual
30
Tabela 21.
134
Tabela 29 Professores, por capitais das UF, segundo material específico com o qual tiveram contato
para desenvolvimento das atividades de prevenção de DST/Aids e uso de drogas, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Foi solicitado aos professores que indicassem, numa lista específica de material, quais itens eram apenas conhecidos (Marcando C) e quais eram efetivamente utilizados (marcando
U). Por motivos que não cabe aqui discutir, os professores se limitaram a marcar com um X diversos materiais. Nesta análise, está se considerando que tal indicação aponta algum
tipo de contato com o material. Assim, os dados não discriminam o tipo de contato, mas apenas a sua ocorrência. O N corresponde ao número total de respostas válidas.
135
nulo. Porém, nas escolas públicas de Recife, o contato com o
Kit do Cebrid é registrado por 15% dos professores. A exce-
ção, nessa capital, são os livros do professor e gibis do “Cres-
cendo de Bem com a Vida”, que foram mais indicados pelos
professores das particulares que das escolas públicas, mas não
com diferenças muito significativas. De forma geral, os profes-
sores das escolas públicas são os que mais registram o contato
com esses materiais. As grandes exceções são Vitória e Floria-
nópolis, onde as escolas particulares tiveram um contato maior
com todos os materiais indicados.
Também desperta a atenção o fato de que, com exceção
de Fortaleza, Recife e Florianópolis, menos da metade dos pro-
fessores informou que o preservativo masculino foi distribuído
durante as atividades pedagógicas de prevenção de DST/Aids
realizadas nas escolas onde atuam (Tabela 30). Os percentuais
mais baixos foram registrados em Porto Alegre, São Paulo,
Maceió, Distrito Federal e Manaus.
A distribuição de preservativos aos alunos nas escolas é
uma questão pouco consensual entre os professores, embora a
maioria tenha afirmado ser favorável à medida. De fato, como
mostra a Tabela 31, os professores contrários à adoção desta
medida variam entre o máximo de 31% no Distrito Federal e em
Vitória, ao mínimo de 18%, em Salvador, e 19% em Recife.
os que responderam favoravelmente atingem o máximo em Sal-
vador (80%), Recife e Fortaleza (79%).
Ainda no que se refere aos materiais, especialmente de di-
vulgação, o exame de dados provenientes da observação do am-
biente escolar mostra que, entre as mensagens que constavam
do quadro de avisos das escolas visitadas, 12% referiam-se aos
temas da sexualidade e prevenção de DST/Aids e uso indevido
de drogas (Tabela 32). Embora, à primeira vista, este pareça
um percentual diminuto, não é o que efetivamente ocorre, que
tais quadros incluem todos os temas administrativos, culturais,
sociais, etc. da vida da escola e de seus membros.
136
Tabela 30 Professores, por capitais das UF, segundo distribuição de preservativo masculino
(camisinha) nas atividades pedagógicas sobre prevenção de DST/Aids, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Alguma vez foi distribuído para os alunos o preservativo masculino (camisinha) nas atividades pedagógicas sobre prevenção de DST/Aids?”
137
Tabela 31 Professores, por capitais das UF, segundo opinião sobre a distribuição de preservativos na
escola, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Qual a sua opinião sobre a distribuição de preservativos aos alunos nas escolas?”. Trata-se de uma pergunta de múltipla escolha, na qual a posição favorável
ou contrária é qualificada, estando associada com diversas razões alternativas. Na Tabela, a categoria “É favorável” corresponde à soma de todos os que assim se posicionaram
por quaisquer razões propostas na pergunta. “Não é favorável” corresponde, apenas, à soma dos que não marcaram nenhuma destas razões.
(*) Indagou-se: “Qual a sua opinião sobre a distribuição de preservativos aos alunos nas escolas?”. Trata-se de uma pergunta de múltipla escolha, na qual a posição favorável
ou contrária é qualificada, estando associada com diversas razões alternativas. Na Tabela, a categoria “É contra” corresponde à soma de todos os que assim se posicionaram
por quaisquer razões propostas na pergunta. “Não é contra”corresponde, apenas, à soma dos que não marcaram nenhuma das respectivas razões.
138
Tabela 32 Mensagens escritas no quadro de aviso das
escolas visitadas, por dependência administrativa
das escolas, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO,
UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
139
A finalidade deste capítulo é examinar os resultados das
ações de prevenção, ou seja, pretende-se caracterizar os produ-
tos imediatos das atividades desenvolvidas pelas escolas e as re-
ações dos seus beneficiários diretos ou clientes, vale dizer, os
alunos de ensino fundamental e médio das capitais onde foi efetu-
ado o estudo e seus pais
31
. Neste sentido, as considerações aqui
tecidas podem tanto se distanciar daquelas observadas no capítu-
lo anterior, entre diretores, coordenadores de ensino e professo-
res, como podem coincidir, realçando alguns dos aspectos mais
relevantes da presente avaliação.
3.1 Caracterização dos Beneficiários do Programa
Sob a perspectiva dos resultados, os beneficiários diretos das
ações de prevenção de DST/Aids e de uso indevido de drogas
são os alunos e seus pais. Como pode ser visto nas Tabelas 33 e
34, nesses dois grupos tendem a predominar os indivíduos do sexo
feminino. No que se refere à idade dos alunos, prevalece a faixa
etária de 15 a 17 anos, seguindo-se a de 11 a 14 anos.
Como pode ser visto na Tabela 35, no todo, varia de 31% a
50% o percentual de estudantes que iniciaram sua vida sexual.
As capitais onde se registram maiores percentuais de alunos com
vida sexual ativa na faixa etária dos 11 aos 14 anos são Belém
(17%), Cuiabá (16%), Salvador e Porto Alegre (ambas com 15%).
Avaliação de Resultados
3.
31
Este capítulo se baseia nos dados obtidos em 16.619 questionários de alunos
e 4.532 questionários de pais, bem como 107 grupos focais com alunos, além
de 185 entrevistas abertas com diretores e coordenadores de ensino, 37 gru-
pos focais com professores e 29 grupos focais com pais de alunos.
140
Tabela 33 Alunos, por capitais das UF, segundo sexo e faixa etária, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
Tabela 34 Pais, por capitais das UF, segundo sexo, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
141
Tabela 35 Alunos, por capitais das UF, segundo atividade sexual por faixa etária, 2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se aos alunos: “Você transou alguma vez?”. Nesta Tabela, em cada uma das faixas etárias, os alunos que responderam afirmativamente são definidos como tendo vida
sexual ativa.
142
Os menores percentuais, na mesma faixa, ocorrem em Alagoas
(9%) e Goiânia, Fortaleza e São Paulo (todas com 11%). Na fai-
xa etária dos 15 aos 17 anos, os maiores percentuais são encon-
trados em Manaus (57%) e Belém (52%) e os menores no Distri-
to Federal (36%) e em Recife (37%). Entre os alunos maiores de
18 anos, os maiores percentuais dos que afirmaram ter vida sexu-
al ativa foram registrados em Manaus (86%), Rio de Janeiro (80%),
Porto Alegre (79%) e Belém (78%).
Também ocorrem importantes variações de gênero (Tabela
36). O percentual de alunas que declararam ter vida sexual ativa
varia do mínimo de 18% em Recife e 20% em São Paulo, ao
máximo de 36% em Belém e 31% em Florianópolis, ficando entre
1/5 e 1/3. os valores observados entre o sexo masculino são
muito mais elevados, situando-se próximo da metade dos alunos.
Entre estes, o menor percentual dos que declararam ter vida se-
xual ativa foi registrado no Distrito Federal (42%) e em São Pau-
lo (43%). As proporções mais altas foram obtidas entre os alunos
de Belém (70%) e Manaus (65%).
Como pode ser observado na Tabela 37, a idade média da
primeira relação sexual
32
é significativamente mais baixa entre
os alunos do sexo masculino do que entre as estudantes do sexo
feminino. No caso das meninas, em Porto Alegre, Manaus e São
Paulo encontram-se as mais baixas idades médias da primeira
relação sexual (15, 15,1 e 15,2 anos), ficando as mais elevadas
em Belém e Fortaleza (16 e 15,8 anos). Quanto aos rapazes, re-
gistram-se em Cuiabá, Manaus e Salvador a mais baixa idade
média da primeira relação sexual (13,9 anos), ocorrendo em Flo-
rianópolis a mais alta (14,5 anos).
32
Uma vez que a pesquisa tem como universo os alunos a partir da 5
a
série do
ensino fundamental, o que corresponde usualmente à idade de 11 anos, e tendo
em vista que, ao tratar com idades médias, um pequeno número de erros,
possíveis nas respostas, pode provocar significativos vieses, a Coordenação
da Pesquisa arbitrou que as informações dessa natureza somente seriam leva-
das em consideração quando iguais ou maiores que 11 anos, sendo tratadas
como missing values todas as menções a idades abaixo deste patamar.
143
Tabela 36 Alunos, por capitais das UF, segundo sexo e atividade sexual, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se aos alunos: “Você transou alguma vez?”. Os que responderam afirmativamente foram identificados como tendo vida sexual ativa.
Tabela 37 Idade média da primeira relação sexual, por capitais das UF, segundo o sexo
dos alunos, 2000
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se aos alunos que informaram ter vida sexual ativa: “Você tinha quantos anos quando transou a primeira vez?”
144
No que se refere ao uso de drogas lícitas, observa-se que os
alunos mostram-se mais afeitos ao uso de bebidas alcoólicas do
que ao consumo de tabaco (Tabela 38). De fato, mais da metade
consomem regularmente ou eventualmente bebidas alcoóli-
cas, chegando a 62% em Porto Alegre e Salvador, 61% em Flori-
anópolis, 59% no Rio de Janeiro e 58% em São Paulo. o uso
regular ou eventual de cigarros comuns é de três à cinco vezes
mais baixo que os de consumo de bebidas alcoólicas, sendo 18%
em Porto Alegre, 14% em Belém, 13% no Rio de Janeiro e 12%
em Manaus, Fortaleza, São Paulo e Florianópolis.
no que diz respeito às drogas ilícitas (Tabela 39), desta-
cam-se os altos índices de consumo relatados nas cidades de Porto
Alegre e Rio de Janeiro (ambas com 15%), seguindo-se Florianó-
polis e Distrito Federal (ambas com 8%), São Paulo, Vitória e
Cuiabá (todas com 7%), com cerca de metade do percentual ob-
servado nas duas primeiras capitais mencionadas. O menor per-
centual de jovens que registraram o consumo de drogas ilícitas
ocorre em Fortaleza (2%), seguindo-se Maceió e Goiânia (3%).
Ocorrem, também, significativas variações na idade média
33
do primeiro contato com drogas. Quando se trata das drogas lícitas
(Tabela 40), a idade média do primeiro contato varia do mínimo de
13,3 anos em São Paulo e 13,4 anos em Porto Alegre; os estudan-
tes de Fortaleza e de Belém experimentam fumo e álcool um pouco
mais tarde: a idade média é de, respectivamente, 14 anos e 14,5
anos. Ao transferir o foco para a idade média do primeiro contato
com as drogas ilícitas (Tabela 40), observam-se alguns aspectos sig-
nificativos. Primeiramente, esse contato inicial ocorre cerca de um
ano mais tarde do que com as drogas lícitas, variando do mínimo de
14,4 anos em São Paulo e 14,5 anos em Goiânia, ao máximo de 16,6
anos em Manaus e 15,5 anos em Fortaleza. Segundo, a capital de
São Paulo aparece como aquela em que mais cedo os estudantes
entram em contato tanto com drogas lícitas quanto com as ilícitas.
33
Vale lembrar que, no estudo de idades médias, pequenas variações no resultado
final assumem grande significado e que, por decisão da Coordenação da Pesquisa,
a idade mínima levada em consideração, em quaisquer casos, foi de 11 anos.
145
Tabela 38 Alunos, por capitais das UF, segundo uso de drogas lícitas (tabaco* e bebidas alcoólicas**),
2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Você costuma fumar cigarro comum?” A resposta afirmativa compreende os que disseram fumar cigarros todos os dias ou eventualmente.
(**) Indagou-se: “Com que frequência você bebe bebidas alcoólicas?” A resposta afirmativa agrega os que bebem bebidas alcoólicas todos os dias, quase todos os dias, nos finais
de semana e/ou em festas familiares, Carnaval, Ano Novo.
146
Tabela 39 Alunos, por capitais das UF, segundo uso de drogas ilícitas* , 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Com que freqüência você usou ou usa...?”, seguindo-se a indicação das seguintes drogas: maconha, crack, merla, cocaína (pó), cola, inalantes, drogas
injetáveis. Não foram incluídos os calmantes, anfetaminas e xaropes, posto que podem ser consumidos sob orientação médica. Considerou-se que usam ou usaram uma ou mais
dessas drogas todos os que responderam: todos os dias, quase todos os dias, nos fins de semana, e/ou usou mas não usa mais.
Tabela 40 Alunos, por capitais das UF, segundo idade média do primeiro contato com drogas lícitas*
e ilícitas**, 2000 (em anos)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Com quantos anos você experimentou pela primeira vez...?”, seguindo-se a indicação de “cigarro comum; bebida alcoólica”.
(**) Perguntou-se: “Com quantos anos você experimentou pela primeira vez...?”, seguindo-se a indicação das seguintes drogas:” maconha, crack, merla, LSD ou ecstasy, cocaína
(pó), cola, inalantes, drogas injetáveis”. Não foram incluídos os calmantes, anfetaminas e xaropes, posto que podem ser consumidos sob orientação médica.
147
Avançando um pouco mais na análise do problema das dro-
gas entre os estudantes, os dados mostram que o percentual de
estudantes que declarou estar usando ou ter usado drogas injetá-
veis (Tabela 41) varia do mínimo de 1% em Cuiabá, Fortaleza,
Recife, Maceió, Salvador e São Paulo, e o máximo de 4% em
Porto Alegre, e de 3% no Distrito Federal e Rio de Janeiro. Cabe
chamar a atenção para o fato desses dados referirem-se estrita-
mente ao procedimento de aplicação e não descrevem as subs-
tâncias usadas, que tanto podem ser lícitas quanto ilícitas
34
. Por
outro lado, esses percentuais aparentem ser baixos, são muito
significativos, que entre todos os tipos de drogas consumidas,
as injetáveis são aquelas cujo consumo apresenta mais dificulda-
des operacionais e, talvez por isso, atingem a menor parcela da
população no Brasil
35
.
34
Tais como esteróides, anfetaminas, tranqüilizantes, ansiolíticos, cocaína e heroína.
35
Em 1997, o Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas
(CEBRID) realizou o quarto levantamento, de uma série iniciada em 1987,
abrangendo o mesmo público-alvo (estudantes de primeiro e segundo graus
da rede estadual de ensino) e os mesmos locais dos outros três estudos
epidemiológicos (Belém, Belo Horizonte, Brasília, Curitiba, Fortaleza, Por-
to Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo). Comparando os
resultados desses levantamentos (1987, 1989, 1993 e 1997) quanto à ten-
dência ao uso freqüente de drogas em geral (uso de drogas seis ou mais vezes
nos trinta dias que antecederam à pesquisa), observou-se, entre outras
coisas, tendência de aumento estatisticamente significativo do uso freqüente
de drogas em Belém (de 1%, em 1987, para 3,6% em 1997), Fortaleza (de
1,4%, em 1987, para 3,7% em 1997) e Porto Alegre (de 3,2%, em 1987, para
5,2% em 1997). O contrário, ou seja, diminuição da tendência do uso fre-
qüente pode ser percebido em Recife (de 3,4%, em 1987, para 2,9% em
1997), Rio de Janeiro (de 2,6%, em 1987, para 2,4% em 1997) e São Paulo
(de 2,8%, em 1987, para 2,4% em 1997). A comparação dos quatro levanta-
mentos mostra também que houve tendência de aumento do uso freqüente de
maconha, ansiolíticos, anfetamínicos e cocaína, no conjunto das dez capi-
tais. Os levantamentos disponibilizados pelo Cebrid focalizam os tipos de
substâncias utilizadas e a freqüência do seu uso, mas não discriminam os
procedimentos de uso (ingestão, aspiração, inalação, injeção, aplicação em
mucosas, etc.). (IV Levantamento sobre o Uso de Drogas entre Estudantes
de 1
o
e2
o
Graus em 10 capitais Brasileiras –1997 José Carlos Galduróz,
Ana Regina Noto, E. A. Carlini). Cf. www.cebrid.nom.br
148
Tabela 41 Alunos, por capitais das UF, segundo o uso de drogas injetáveis*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
Perguntou-se aos alunos: “Com que freqüência você usa drogas injetáveis?” Considerou-se que usam ou usaram essas drogas todos os que responderam: todos os dias, quase
todos os dias, nos fins de semana, e/ou usou mas não usa mais.
149
Entre os alunos que atualmente usam, ou no passado usa-
ram drogas injetáveis, a maioria negou a prática de compartilhar
seringas ou agulhas de injeção (Tabela 42). Porém, ainda que
minoritários, são elevados os percentuais dos que o fazem: os
alunos que afirmaram que usualmente compartilham seringas/
agulhas ao consumir drogas variam do mínimo de 22% em Ma-
naus e 29% em Belém, ao máximo de 54% em Recife, 49% no
Distrito Federal, 46% em São Paulo e Goiânia, e 45% em Vitó-
ria. É importante mencionar que, até o momento, o compartilha-
mento de seringas é direta ou indiretamente responsável por
aproximadamente 25% dos casos de Aids reportados ao Minis-
tério da Saúde.
36
3.1.1 Informação dos Beneficiários
Ao serem indagados sobre como avaliam o seu próprio co-
nhecimento e informação sobre um conjunto de temas relativos
à saúde sexual e reprodutiva (Tabela 43), a maioria dos pais de
alunos, em quase todas as capitais, considerou-se insuficiente-
mente informada. As duas exceções foram observadas em Vi-
tória e São Paulo. Os percentuais dos que consideram sua in-
formação insuficiente foram mais elevados entre os pais dos
alunos de Cuiabá (70%) e Fortaleza (69%) e mais baixos ex-
cluindo-se Vitória e São Paulo no Rio de Janeiro (53%), Flori-
anópolis e Porto Alegre (54%).
os alunos, expostos a um conjunto de alternativas quan-
to à transmissão do HIV e prevenção de DST/Aids (Tabelas 44
e 44.1), na quase totalidade indicaram as formas corretas de
transmissão e de prevenção. Os menores percentuais corres-
pondentes foram observados entre os alunos das escolas de
Salvador (88% e 87%, respectivamente).
36
MINISTÉRIO DA SAÚDE, Relatório de Implementação e Avaliação AIDS
II, Maio de 2001, Ministério da Saúde. www.aids.gov.br
150
Tabela 42 Alunos que usam ou usaram drogas injetáveis, por capitais das UF, segundo
compartilhamento da seringa ao consumir drogas injetáveis*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se aos alunos: “Se você alguma vez usou droga injetável, a seringa era sua ou foi usada por mais alguém? (Marque uma resposta)”. A resposta SIM agrega
os que responderam que dividiram a seringa e/ou agulha com uma pessoa e/ou com várias pessoas.
151
Tabela 43 Pais, por capitais das UF, segundo auto-avaliação da informação sobre temas da saúde
sexual e reprodutiva*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: Entre os assuntos abaixo, diga sobre quais você tem conhecimento suficiente: doenças sexualmente transmissíveis; gravidez e controle de natalidade; sexo
vaginal; sexo anal; sexo oral; masturbação; aborto; homossexualismo. Os que marcaram de zero a 3 itens foram incluídos na categoria “Informação insuficiente”; os que
marcaram de4a8itens foram incluídos na categoria “Informação suficiente”.
152
Tabela 44 Alunos, por capitais das UF, segundo correção das informações sobre as formas de
transmissão* da Aids, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Como é que as pessoas pegam Aids?”. Foram consideradas formas corretas de transmissão: pelo sangue, nas transfusões e nas operações; pelas mães
infectadas, que passam para os bebês; usando seringa ou agulha de injeção contaminada; por equipamento contaminado, de médico ou de dentista. Foram consideradas formas
incorretas de transmissão: pelo beijo; pelo abraço, pelo aperto de mão; pelo banheiro, no vaso sanitário.
153
Tabela 44.1 Alunos, por capitais das UF, segundo correção das informações sobre as formas de
prevenção* da Aids, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção às DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, Ministério da Saúde, CN-DST/Aids, UNDCP, UNAIDS, 2001.
(*) Perguntou-se: “Como fazer para evitar Aids?”. Foram consideradas formas corretas de prevenção: transar se estiver usando camisinha; não transar com moças/rapazes de
programa ou prostitutas(os); tomar injeção com seringa e agulha descartável; não aceitar transfusão de sangue sem garantia de qualidade. Foram consideradas formas
incorretas de prevenção: tomar vacina; não usar banheiros públicos; usar camisinha quando transar com parceiro(a) desconhecido(a); não doar sangue; fazer teste de Aids
freqüentemente; evitar qualquer contato com pessoas infectadas.
154
Os percentuais de alunos que indicaram formas incorretas
de transmissão do HIV são bastante baixos em todas as capitais,
atingindo o máximo em Cuiabá (25%), Distrito Federal e Belém
(24%) e o mínimo em Vitória, Rio de Janeiro e Porto Alegre (14%),
e Florianópolis (15%).
Porém, são muito altos os percentuais de alunos que aponta-
ram formas incorretas de prevenção da Aids, variando do mínimo
de 71%, em Salvador, ao máximo de 84% em Manaus.
O exame dos dados desagregados por dependência adminis-
trativa das escolas e por turno de estudo mostra algumas discre-
pâncias percentuais extremamente relevantes para o presente
estudo. Entre os alunos que indicaram formas corretas de trans-
missão da Aids, a única disparidade constatada ocorreu em Sal-
vador: 95% dos alunos do turno diurno indicaram corretamente as
formas de transmissão; no turno noturno, esse índice caiu para
78% dos alunos.
Quanto à indicação de formas incorretas de transmissão da
Aids, as discrepâncias ocorreram em sete das capitais pesquisa-
das, a saber: Vitória, Goiânia, Cuiabá, Recife, Rio de Janeiro, Flo-
rianópolis e São Paulo. À exceção de Florianópolis, as referidas
disparidades ocorreram em escolas de diferente dependência ad-
ministrativa. Frise-se que, em todas essas capitais, as escolas
municipais obtiveram os maiores percentuais de respostas incor-
retas quanto aos meios de transmissão da Aids.
Em relação às formas corretas de prevenção da Aids, a úni-
ca disparidade entre os dados ocorreu em Salvador, onde somen-
te 74% dos alunos do turno noturno indicaram formas corretas,
em contraposição ao elevado percentual dos alunos do turno diur-
no, que foi de 93%. Percebe-se que, quando comparado com as
médias de todas as capitais constantes da Tabela 44.1, aquele
índice (74%) apresenta-se consideravelmente baixo.
Finalmente, entre os percentuais de alunos que apontaram
formas incorretas de prevenção da Aids, as disparidades rele-
vantes ocorreram em três capitais, quais sejam: Vitória, Cuiabá e
155
Rio de Janeiro. Em todas estas cidades, os alunos das escolas
particulares apresentaram menores índices que os das escolas
públicas, municipais ou estaduais. Em Cuiabá, o maior índice de
erros das respostas ocorreu nas escolas estaduais (81%).
Como mostra a Tabela 45, para os alunos, os principais agen-
tes de informação sobre DST/Aids e uso indevido de drogas são
seus professores e suas mães. Os primeiros são menos mencio-
nados em Belém (52%), Porto Alegre (52%) e Salvador (53%),
e mais indicados no Distrito Federal (72%) e Goiânia (69%).
as mães, são menos apontadas no Distrito Federal (44%), For-
taleza (44%) e Maceió (45%) e mais mencionadas no Rio de
Janeiro (63%), Porto Alegre (61%) e Florianópolis (60%). Os
colegas ou amigos em geral são indicados por cerca de metade
dos alunos, com poucas variações relevantes entre as diversas
capitais. Cabe chamar a atenção para o fato de que as referên-
cias a um “colega bem-informado” são relativamente poucas,
no todo ficando em torno de ¼ dos alunos. Este dado pode signi-
ficar uma baixa eficácia da concepção de “adolescentes multi-
plicadores” ou pode simplesmente resultar do fato de que estes
últimos não foram identificados pelos companheiros como “co-
lega bem-informado”.
3.2 Atividades
Os dados obtidos entre os alunos mostram que a maioria
deles, na maior parte das capitais, foi exposta aos três temas
focalizados pelas ações de prevenção aqui avaliadas (Tabela
46). A segunda maior parcela, em contrapartida, é formada pe-
los que não foram expostos a nenhum desses temas. Os dados
quantitativos mostram que, entre os alunos que tiveram ativida-
des de prevenção nas escolas, percebe-se que em apenas cinco
das catorze capitais houve a exposição aos três temas: Distrito
Federal, Goiânia, Cuiabá, Manaus e Vitória, e em mais da meta-
de das capitais prevalece a não-exposição a nenhum dos temas.
156
Tabela 45 Alunos, por capitais das UF, segundo pessoas que mais os informaram sobre sexo, DST/
Aids e drogas*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Que pessoas mais lhe deram informação sobre sexo, DST/Aids e drogas, ou mais conversaram sobre estes assuntos com você? (Marque com um X todas as que
forem verdadeiras)”. A pergunta é de múltipla escolha e os percentuais correspondem às respostas afirmativas em cada uma das alternativas. O TOTAL (N) corresponde ao
número total de respostas válidas.
157
Tabela 46 Alunos, por capitais das UF, segundo o número de temas das atividades de prevenção
oferecidas pelas escolas*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “No último ano, a sua escola ofereceu alguma atividade sobre Drogas? Doenças Sexualmente Transmissíveis? Aids? (Marque com o X todas as que forem
verdadeiras)” O TOTAL (N) corresponde ao número total de respostas válidas.
158
Este dado é corroborado pelos relatos nas entrevistas nos
grupos focais com alunos. Em vários depoimentos, estes nem se-
quer fizeram menção sobre atividade em relação à sexualidade;
alguns, no entanto, deixaram claro que a escola que freqüentam
não possui essas atividades: do tempo que eu estou aqui não.
(Grupo focal de alunos, escola particular, Goiânia)
Entre amigas no colégio a gente comenta. Mais eu
acho que, no colégio, pode ter mais. É uma coisa
assim super artificial. Tivemos uma aula e nunca teve
mais. Nunca tive aula de Educação Sexual. [Na es-
cola] não tem orientações. (Grupo focal de alunos,
escola particular, Porto Alegre)
Embora muitos alunos apontem a realização de atividades
nas escolas, outros alunos afirmam que isso não ocorre. É impor-
tante ressaltar que os depoimentos de que as escolas não desen-
volvem tais atividades se repetem no Distrito Federal, Salvador,
Florianópolis e Porto Alegre. Uma possível explicação para essa
divergência é a reclamação dos alunos de Recife, de que nem
todos estão incluídos nas atividades.
Por outro lado, é relevante assinalar que os próprios infor-
mantes mencionam que a ausência dessas atividades não pode
ser generalizada para a cidade onde a escola se situa, e tampouco
para o estado: Mas nas outras escolas que eu passei, tinha.
Agora aqui nessa escola não tem, eu nunca ouvi falar. (Grupo
focal de alunos, escola estadual, Salvador)
O exame dos temas aos quais a maioria dos alunos foi ex-
posta mostra que o menos freqüente foi Aids, porém o mais ex-
plorado foi o das DST (Tabela 47). Nas capitais do Pará, Per-
nambuco e Alagoas, foi inferior a 1/3 o percentual de alunos que
mencionou ter tido atividades escolares envolvendo a temática da
Aids. Em Maceió e Recife, esse tema tem sido mais trabalhado
nas escolas municipais, com índices de 42% e 32% respectiva-
mente, enquanto que, em Belém, isso ocorre mais freqüentemen-
te nas escolas estaduais, com 32%.
159
Tabela 47 Alunos, por capitais das UF, segundo temas das atividades de prevenção oferecidas pelas
escolas*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “No último ano, a sua escola ofereceu alguma atividade sobre Drogas? Doenças Sexualmente Transmissíveis? Aids? (Marque com o X todas as que forem
verdadeiras)”. A pergunta é de múltipla escolha e os percentuais correspondem às respostas afirmativas em cada uma das alternativas. O TOTAL (N) corresponde ao número
total de respostas válidas.
160
O tema Aids aparece citado com maior freqüência pelos alunos
das escolas estaduais. Vale ressaltar que o documento “Levanta-
mento Nacional sobre Prevenção de DST/Aids e de Uso Indevido
de Drogas em Escolas”
37
também demonstrou que as ações de pre-
venção de DST/Aids são mais desenvolvidas pelas escolas estadu-
ais. Observa-se, ainda, que a temática do uso indevido de drogas é a
mais difundida nas escolas particulares, quando comparadas com as
escolas públicas, em dez das catorze capitais.
Como pode ser constatado na Tabela 48, as escolas envol-
veram pouco os pais no desenvolvimento das atividades de pre-
venção: entre os pais dos alunos, mais de 2/3 informam que não
lhes foi oferecida, pela escola, qualquer atividade sobre DST, Aids
ou uso indevido de drogas.
De fato, os dados qualitativos mostram que algumas escolas
têm dificuldade em lidar com temas que envolvam a discussão
sobre violência, drogas e sexualidade. Algumas encontram, por
vezes, resistências de ordem moral e religiosa por parte das famí-
lias, ao transmitir os conteúdos aos próprios alunos:
Nós tivemos aqui um pessoal, mas não pode passar o
filme para os adolescentes porque era muito violento.
Nós temos religiões aqui que não permitem que você
fale sobre a Aids, sobre doença. Então você não sabe
a linguagem que você deve seguir com cada um. Eu
acho que a Aids tem que ter um projeto dentro das
escolas. (Entrevista Diretor, escola estadual, Cuiabá)
Alguns pais pensam que a discussão sobre sexualidade deveria
ser conduzida por especialistas e não por professores. Em uma das
escolas, uma mãe reclamou ao diretor da escola porque o professor
da Matemática havia dado aula de Educação Sexual ao seu filho:
Ah, mas eu não quero que falem que tem que usar camisinha.
(Entrevista Diretora, escola pública, Vitória). Essa resistência pro-
voca o maior controle, por parte dos diretores, das atividades e dos
37
Tabela 12.
161
Tabela 48 Pais de alunos, por capitais das UF, segundo oferta de atividades, pela escola, sobre a
prevenção de DST/ Aids e uso indevido de drogas *, 2000(%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “A escola do seu filho alguma vez convidou vocês para palestra, debate ou algum tipo de orientação sobre a prevenção de DST, de Aids ou de uso indevido
de drogas?” A pergunta é de múltipla escolha e os percentuais correspondem às respostas afirmativas em cada uma das alternativas. O TOTAL (N) corresponde ao número
total de respostas válidas.
162
materiais utilizados pelos professores: eu tenho alguns pais que
são mais conservadores que outros, eu tenho pais extremamente
liberais, e pais extremamente conservadores, então eu tenho que
estar olhando, respeitando essas diferenças familiares. (Entre-
vista Diretora, escola particular, Goiânia)
Em outras, os diretores sustentam que o envolvimento da
escola deve ser limitado para não impor aos jovens valores dife-
rentes daqueles defendidos pelas famílias:
Eu vejo isso com reserva, respeito à opinião de cada
um, mas acho que uma formação não precisa ser
feita aqui na nossa escola. Eu não estou dizendo
que nossa formação é perfeita, não se trata disso,
temos os nossos erros, são grandes e graves, pela
condição de seres humanos que temos, mas somos
pessoas conscientes desse trabalho que tem que ser
feito, mas guardamos certas reservas, não ne-
cessidade de eu chegar em sala de aula e dizer para
os meus alunos que minha filha vai sair e eu vou
dar o preser vativo, não existe isso. (Entrevista Dire-
tores, escola particular, Fortaleza)
Como foi evidenciado, professores que sentem-se in-
seguros e temerosos ao abordar o tema. Esta insegurança é ma-
terializada quando a família reage mal às aulas dadas pelos pro-
fessores. Nas escolas de Belém, os entrevistados dizem que as
famílias não aceitam este tipo de aula.
QUADRO 7 Ensinando Saliência
Grupo focal de professores, escola pública, Belém
(...) fiquei sem palavras; veio a mãe de uma aluna minha, chegou e
disse: ‘Professora, a senhora é professora de Ciência? Eu gostaria
que minha filha não assistisse à sua aula porque a senhora está ensi-
nando saliência’. Eu falei assim: Como é? ‘É, a senhora está ensi-
nando saliência na sala.’ Quer dizer, eu parei, fui pensando: meu
Deus, será que eu estou despertando curiosidade a respeito disso?
163
No entanto, escolas que fazem reuniões com os pais ex-
plicando os objetivos do projeto e sensibilizando-os para que pos-
sam acompanhar o processo. Em Belém, durante a realização de
um grupo focal de pais, foi mencionado que a escola havia pro-
movido atividades também para os pais dos alunos. Nessas ativi-
dades, desenvolvidas por professor da escola, foram exibidos al-
guns vídeos:
Bom, eu quero comentar o seguinte, sobre a questão
da informação na escola, eu falei anteriormente,
que na 4
a
etapa nós tivemos um professor de Ciênci-
as que passou aulas, através de vídeos, para a gen-
te.. Foi uma aula, foi uma geral que ele deu: o sexu-
alismo, a virgindade, tudo isso foi passado em ví-
deo. A gente passava aulas e aulas assistindo ví-
deo. Ele disse, ‘vocês tão perdendo tempo com essa
aula?’ É claro que não, é claro que não estávamos.
(Grupo focal de pais, escola municipal, Belém)
Uma outra escola trabalha com a família, convidando os pais
para que conheçam a proposta de trabalho sobre Educação Se-
xual que vem sendo desenvolvida, trazendo convidados para de-
baterem com os pais sobre sexualidade, DST/Aids e prevenção
do uso de drogas: Houve até uma polêmica: os pais disseram
que os alunos tiveram contato com drogas e isso pode estimu-
lar, mas foi feito esse trabalho. (Grupo focal de professores,
escola particular, Maceió)
3.2.1 Palestras
As atividades mencionadas por pais e alunos podem ser re-
sumidas em palestras, exposições em sala de aula e trabalhos em
grupo. Os alunos de Cuiabá afirmaram que as atividades ofereci-
das pelas escolas são pouco freqüentes e que se limitaram muito
a palestras e trabalhos: quando vem palestra. (Grupo focal
de alunos, escola municipal, Cuiabá)
164
As palestras também foram citadas nos depoimentos da maioria
das capitais pesquisadas, entre elas, Porto Alegre, Florianópolis, Rio
de Janeiro, Vitória, São Paulo, Maceió, Salvador e Recife:
A gente teve palestras. Falaram muito, abordaram
um pouco de tudo. Foi no salão aqui em baixo, abor-
dou todas as questões. O que pode acontecer, o quê
que não pode, quais são os tipos de precauções, as
doenças, tudo isso ele deixou bem claro. Muito le-
gal, tira dúvidas. (Grupo focal de alunos, escola esta-
dual, Porto Alegre)
Em São Paulo, alunos afirmaram que as palestras promovi-
das servem como pretexto para vender produtos:
teve palestra aqui na escola sobre isso. mos-
trou tudo, foi aber to. A maioria das palestras aqui é
para vender coisa. Maioria delas é para vender
coisas. Não, mas a gente está em um mundo capita-
lista, onde tudo que manda é o dinheiro. (Grupo fo-
cal de alunos, escola estadual, São Paulo)
Alguns alunos de Cuiabá reclamaram que as informações
passadas pelas palestras acabam repetindo aquilo que eles sa-
bem: as mesmas informações. É sempre doença sexualmente
transmissível, drogas, violência, que a gente conhece, convi-
ve ao redor. (Grupo focal de alunos, escola municipal, Cuiabá)
Porém, apesar das limitações, as palestras parecem agradar
alguns: Eu gosto mas que devia ter mais isso, vim mais pa-
lestras. (Grupo focal de alunos, escola municipal, Cuiabá)
3.2.2 Aulas de Ciência e de Outras Disciplinas
A maior parte das atividades desenvolvidas pelas escolas
referentes à violência, drogas e sexualidade e DST/Aids, segun-
do o depoimento dos alunos, se restringe às aulas de Ciência (Bi-
ologia) ou de Educação Sexual:
165
Tínhamos. (...) Todo ano a gente participava. Era
assim. Toda semana, nas quintas- feiras, tinha era
aula de Educação Sexual, vinha um professor,
explicava tudo pra gente, a gente podia ficar à von-
tade, fazer todo tipo de perguntas, mas acabou. Eles
ensinavam tudo à gente, como botar a camisinha,
os tipos de doenças sexualmente transmissíveis. (Gru-
po focal de alunos, escola municipal, Recife)
Embora seja nas aulas de Ciências onde se promovam mais
atividades, em algumas escolas outras matérias também contem-
plam discussões sobre a sexualidade e DST/Aids:
no meu colégio, a professora de Química dava
um monte de trabalho pra fazer assim, sabe liberal.
(...) a gente fazia sobre doenças sexualmente trans-
missíveis, a gente distribuía camisinha na sala, fa-
zia um monte de propaganda, eu sei bastante, tenho
um monte de matéria sobre DST. (Grupo focal de
alunos, escola particular, Florianópolis)
Existe o SOE, um trabalho pedagógico. É o SOE,
ele mostra os efeitos, ele mostra várias drogas, mos-
tra os efeitos da droga. Geralmente, a gente isso
em uma determinada série, que os professores
falam assim na sala de aula e tal, mas acho que é
importante ele falar em todas, todas as séries sem-
pre está lembrando. (Grupo focal de alunos, escola par-
ticular, Salvador)
No Distrito Federal, as atividades não parecem estar concen-
tradas em nenhuma matéria específica. Segundo o depoimento de
uma aluna, isso se por causa da intervenção do governo local:
O governo, cada bimestre, eles escolhiam um assun-
to, então todos os professores, todos eram obriga-
dos a falar sobre, a orientar os alunos, sobre aque-
le determinado assunto, por exemplo, Aids, gravi-
dez. Então, cada bimestre tinha um assunto, mais
166
todos os professores eram obrigados a falar sobre
aquele assunto. (Grupo focal de alunos, escola públi-
ca, Distrito Federal)
Em Salvador, os alunos citaram especificamente as profes-
soras de Português e Ciências, mas parece haver um diálogo mais
amplo. Aliás, o professor de Português também foi citado por
alunos de outras cidades. Geralmente, esses professores desen-
volvem atividades de redação sobre sexualidade e também DST:
Todas as aulas nós estudamos. Quase todos professores fa-
lam. É, conversam com a gente, tem diálogo. (Grupo focal de
alunos, escola estadual, Salvador)
Porém, as aulas, a exemplo do que ocorre com as palestras,
também sofrem com a descontinuidade em sua promoção:
Não tem, mas de vez em quando na sala de aula tem
uns debates, porque os alunos mesmos com os pro-
fessores em conversas, às vezes o professor está
dando aula de repente passa este assunto. Em
Biologia, no momento em que a gente está bem inte-
ressado, ele se aprofunda muito. (Grupo focal de alu-
nos, escola estadual, Recife)
3.2.3 Trabalhos
Os trabalhos, em grupo ou individuais, são também lembra-
dos pelos alunos e pelos pais, embora em freqüência menor que
as aulas expositivas e as palestras, como uma atividade relativa à
discussão de sexualidade e DST/Aids:
A gente acabou de fazer um trabalho sobre doenças
sexualmente transmissíveis. (Grupo focal de alunos,
escola pública, Brasília)
É,eaprofessora manda fazer um trabalho, que você
tem que apresentar na sala de aula mesmo, fora isso
não. (Grupo focal de alunos, escola municipal, Cuiabá)
167
Esses trabalhos, segundo os próprios alunos, são feitos a partir
de pesquisas na própria biblioteca da escola: E também quando
(...) nós temos algum trabalho assim de fazer pesquisa, nós
vamos à biblioteca, às vezes aqui mesmo, tem que explicar,
sim. (Grupo focal de alunos, escola municipal, Cuiabá)
Porém, mais uma vez, as opiniões sobre essa atividade di-
vergem de escola para escola; enquanto alguns acham positivo,
outros não as consideram eficazes:
O ano passado, nós fizemos trabalho quase que o
ano inteiro sobre sexualidade, foi cansativo. (Grupo
focal de alunos, escola particular, Cuiabá)
Eu acho muito importante eles que fazem esse tra-
balho porque é muito importante. Eles acham muito
interessante,’mãe, eu fazendo trabalho sobre sí-
filis’, ‘não é fazer, tem que entender ’, ‘não, eu
entendi’. Eu achei muito importante, gostei muito
desse colégio porque a gente procura orientar os
que vêm de casa, mas a gente não sabe está certa.
No colégio, as professoras estão capacitadas. Aa
criança perde o medo de chegar e falar .(Grupo focal
de pais, escola particular, Belém)
3.2.4 Feira de Ciências
As feiras de ciências também aparecem em algumas esco-
las. Em Cuiabá, esta atividade foi promovida por meio do contato
com o material do Programa “Um Salto para o Futuro”:
Através do “Salto para o Futuro”, nós fizemos um
projeto de DST e de Aids e falamos sobre as drogas,
fizemos apresentação dentro da escola, bonecos,
placas, feira de ciência onde nós apresentamos a
camisinha, o anticoncepcional, o preservativo. (Gru-
po focal de pais, escola estadual, Cuiabá)
168
Apenas em Florianópolis os alunos lembraram da existência
de feiras de ciência, apesar dos diretores e professores de várias
outras cidades terem apontado a prática desse tipo de atividade
como corrente nas escolas: Mas a gente fez no ano passada,
bastante trabalho sobre isso, teve feira de ciências, saímos
distribuindo camisinha. (Grupo focal de alunos, escola particu-
lar, Florianópolis)
3.2.5 Outras Atividades
Em Recife, os alunos enumeraram uma boa diversidade de
atividades. Entre essas, citam concursos e debates com grupos
de psicólogos:
Houve um concurso aqui no colégio sobre sexo, Aids.
O primeiro ano que eu vim estudar aqui, teve um
grupo de psicólogos que reunia uma vez por sema-
na aqui, escolheram alguns alunos de cada sala e
debatia sobre isso, uma vez por semana, sobre dro-
gas, todos os assuntos assim em geral. (Grupo focal
de alunos, escola municipal, Recife)
Os debates também são citados por alguns alunos do Distri-
to Federal e Fortaleza como atividades desenvolvidas na escola
relacionadas à temática da sexualidade e DST/Aids; porém, o
alcance desse tipo de atividade é posto em dúvida pelos próprios
alunos, que não se interessam em participar:
Desde o começo eu sabia que existia nesse colégio
aqui, existiam na sala de aula debates, mas tinha gen-
te querendo matar aula pra ficar de conversa. (Gru-
po focal de alunos, escola pública, Distrito Federal)
Teve um debate sobre sexo na última aula. E ele se-
parou, metade pro lado e metade pro outro. Homens
e mulheres. Era livre a participação, quem quisesse
fazer perguntas, botar assuntos, ele deixava. (Gru-
po focal de alunos, escola estadual, Fortaleza).
169
Por fim, é importante citar as referências feitas pelos alunos
de Vitória, Cuiabá e Recife às atividades de exibição de vídeo
sobre os temas, ressaltando que, na primeira cidade, ela é feita
com o material do Programa “Um Salto para o Futuro”.
Houve, ainda, outras atividades que foram pouco menciona-
das mas que merecem destaque por apresentarem propostas di-
ferentes das demais, seja pela continuidade, seja pelo tipo de en-
volvimento com os jovens, seja pela inovação no uso de forma de
expressão como o teatr o e a internet, para atrair o interesse do
jovem. Frisa-se que a maioria dessas atividades foi desenvolvida
em escolas particulares:
Sempre palestra, festival e peças teatrais; eu até mes-
mo quando fazia teatro no ano passado, eu partici-
pava de peças teatrais que falassem de um compor-
tamento de duas escolas. Incluímos violência, dro-
gas, apresentamos aqui uma vez pra direção, o pes-
soal gostou, os alunos gostaram, marcaram várias
apresentação pra os três turnos, [mas] este ano, não.
(Grupo focal de alunos, escola particular, Salvador)
Que orienta sobre tudo assim, sobre, todos os profes-
sores, eles andam comentando quando eles sabem fa-
tos novos eles, sempre estão na internet, eles puxam
e colocam cartazes no colégio ou então lêem na sala.
(Grupo focal de alunos, escola particular, Belém)
Dada a centralidade das atividades didáticas propriamente
ditas, envolvendo as temáticas da prevenção de DST/Aids e uso
indevido de drogas, é natural que os professores assumam a mai-
or visibilidade como agentes de prevenção. Como pode ser visto
nas Tabelas 49 e 50 (e como constata o mencionado documen-
to do Ministério da Saúde
38
), os professores são os mais aponta-
dos pelos alunos como os agentes encarregados de falar sobre os
três temas DST, Aids e uso indevido de drogas nas escolas.
38
Tabela 28.
170
Em segundo lugar, vêm os convidados externos: policiais, médi-
cos, etc. Em terceiro lugar, alternam-se os supervisores/ orienta-
dores e “outros” agentes, não especificados.
Percebe-se que, no que diz respeito às atividades sobre uso
indevido de drogas, os professores são mais apontados como agen-
tes pelos alunos das escolas municipais, salvo no caso do Distrito
Federal, no qual são citados por 80% dos alunos nas escolas par-
ticulares. A participação de agentes externos e dos supervisores
é mais difundida em escolas particulares, como ocorre em Vitó-
ria, onde eles foram respectivamente citados por 53% e 46% dos
alunos. em Porto Alegre, mais de 50% dos alunos das escolas
estaduais apontam os agentes externos, e os supervisores são
mencionados por 32% dos alunos. No Rio de Janeiro, os convida-
dos externos são mais citados pelos alunos das escolas estaduais.
Focalizando a temática do uso indevido de drogas, percebe-
se que os agentes externos são mais mencionados pelos alunos
do turno noturno na metade das capitais, abrangendo os estados
do Amazonas (64%), Goiás (51%), Mato Grosso (58%), Pará
(41%), Santa Catarina (53%) e São Paulo (51%) e o Distrito Fe-
deral (39%). Considerando-se o turno das aulas, percebe-se que
os convidados externos são mais mencionados pelos alunos do
noturno também quando o tema são as DST/Aids: isso ocorre em
nove das catorze capitais alvos da pesquisa.
Apesar de os diretores terem sido pouco apontados como
encarregados de falar sobre os três temas sugeridos, cabe ressal-
tar que, em nove capitais, os percentuais de alunos das escolas
municipais que os mencionaram superam os percentuais totais.
Por exemplo, em Maceió, o percentual total é de 20%; porém, os
diretores foram lembrados por 27% dos alunos das escolas muni-
cipais. O mesmo ocorre em Salvador (13%), Vitória (17%), Goiâ-
nia (16%), Cuiabá (15%), Belém (19%), Recife (15%), Rio de Ja-
neiro (22%) e Porto Alegre (20%). Isto sugere que, por não esta-
rem diretamente envolvidas nos convênios destinados a promover
as ações de prevenção, na falta de outras alternativas, os diretores
assumem o encargo de falar aos alunos sobre esses temas.
171
Tabela 49 Alunos, por capitais das UF, segundo encarregados de falar sobre drogas nas escolas,
2000* (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Na sua escola, quem falou para os alunos sobre drogas? Marque com um X todas as que forem verdadeiras”.A pergunta é de múltipla escolha e os percentuais
correspondem às respostas afirmativas em cada uma das alternativas. O TOTAL (N) corresponde ao número total de respostas válidas.
Tabela 50 Alunos, por capitais das UF, segundo encarregados de falar sobre DST/Aids nas escolas,
2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Na sua escola, quem falou para os alunos sobre drogas? Marque com um X todas as que forem verdadeiras”.A pergunta é de múltipla escolhaeos
percentuais correspondem às respostas afirmativas em cada uma das alternativas. O TOTAL (N) corresponde ao número total de respostas válidas.
172
O exame da periodicidade e da intensidade da exposição dos
alunos aos temas em foco (Tabelas 51 e 52) mostra que a maioria
informa baixa intensidade, correspondendo a uma periodicidade de
uma vez por ano, o que corrobora as críticas, expostas nos grupos
focais, quanto ao caráter eventual ou irregular das atividades ofere-
cidas. Seguem-se os que relataram uma intensidade média, variando
de uma vez por mês a duas vezes por ano. Coincidindo com os dados
obtidos entre os professores no capítulo anterior, os maiores percen-
tuais de alunos que informaram nenhuma exposição às atividades de
prevenção de DST/Aids e uso indevido de drogas situam-se nas ca-
pitais de Pernambuco, Alagoas, Rio Grande do Sul, Ceará e Pará.
Em Recife, os que mais informaram a ausência desse tipo de ativida-
de foram os que estudam nas escolas municipais (32%) e os que
menos a relataram foram os alunos das particulares (15%) e das
estaduais (17%). (Tabelas 51 e 52)
3.3 Reações dos Beneficiários
Talvez em virtude da importância dos temas, ao serem inda-
gados sobre a qualidade das atividades sobre DST/Aids, realiza-
das na escola, os alunos majoritariamente expressaram reações
muito positivas. Uma ampla maioria relatou que o material usado
era fácil de entender e trouxe novas informações, e que as ativi-
dades foram agradáveis e contribuíram para o aprendizado de
muitas coisas novas (Tabela 53).
Quanto à forma de desenvolvimento das atividades, os alu-
nos que as consideraram agradáveis foram, no mínimo, 81% em
Porto Alegre e, no máximo, 88% em Salvador. No que se refere à
facilidade de compreensão do material, os percentuais obtidos
variam do mínimo de 78%, em Maceió, ao máximo de 88% em
Vitória. No que tange à novidade das informações trazidas pelo
material utilizado, os valores obtidos foram, no mínimo, 83% no
Recife e, no máximo, 90% em Manaus. Estes dados são consis-
tentes com a avaliação do resultado das atividades pelos alunos:
no mínimo 86% em Porto Alegre e, no máximo, 94%, em Fortale-
za, afirmaram ter aprendido muito com as atividades realizadas.
173
Tabela 51 Alunos, por capitais das UF, segundo periodicidade das atividades sobre DST/Aids realizadas
na escola*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Na escola, as atividades sobre DST/Aids e drogas foram realizadas quantas vezes?”
174
Tabela 52 Alunos, por capitais das UF, segundo intensidade da exposição às atividades sobre DST/
Aids realizadas na escola*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Na escola, as atividades sobre DST/Aids e drogas foram realizadas quantas vezes?” Considerou-se periodicidade “Intensa” àquela correspondente a todas
as semanas e/ou duas vezes por mês; “Média”, àquela correspondente a uma vez por mês e/ou duas vezes por ano; “Baixa”, àquela correspondente a uma vez por ano; e
“Nenhuma”, quando a resposta foi de que nunca foram realizadas tais atividades.
175
Tabela 53 Alunos, por capitais das UF, segundo opinião quanto às atividades sobre DST/Aids realizadas
na escola*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Dê a sua opinião sobre essas atividades oferecidas sobre DST/Aids e drogas”. As categorias que constam na Tabela foram apresentadas aos alunos como
quesitos de avaliação das atividades.
176
Entretanto, os dados qualitativos mostram diversas manifes-
tações de crítica e insatisfação com as ações de prevenção de
DST/Aids e de uso indevido de drogas oferecidas pela escola.
Em grande parte, os alunos e até mesmo os pais criticaram o
processo: as palestras, as aulas expositivas e os trabalhos escola-
res, individuais ou em grupo, sobre sexualidade e DST/Aids. De
forma geral, os alunos acham essas atividades muito repetitivas,
desinteressantes:
Uma vez trouxeram uma pessoa, que a professo-
ra era muito imatura assim, ela ficou rindo, sabe,
fazendo umas perguntas bestas. Eles botaram assim:
a gente fazia uma caixinha e botava as perguntas,
tinha o que era peito de pomba. tinha bes-
teira, até hoje ninguém sabe o que é. (Grupo focal de
alunos, escola particular, Florianópolis)
Além disso, os alunos e pais criticam as palestras porque elas
são muito esporádicas: E aqui o colégio se preocupa, de vez em
quando faz uma palestra, chama psicólogos práticos para con-
versar. (Grupo Focal de Pais, escola particular, Rio de Janeiro)
As aulas expositivas também não ficaram livres de críticas,
principalmente nas escolas onde esta parece ser a única ativida-
de desenvolvida, pois os alunos acham que elas acabam sendo
pouco esclarecedoras e que necessitariam de maiores informa-
ções, “não dentro de aula”:
A gente estudou muito sobre isso, e ficou uma coisa
tão cansativa de tanto que a gente fez provas sem-
pre iguais. Sabe, a gente houve todo o dia esse
nhém, nhém, nhém... muito igual, não pode usar
porque isso, isso e isso, sabe. (Grupo focal de alunos,
escola particular, Cuiabá)
Também os pais reconhecem que, nas aulas de Ciências, é
onde se desenvolve a maior parte da temática da sexualidade e
DST/Aids:
177
O professor de Biologia, também vive dando toque
neles... então é uma coisa que tem preocupação...
não dos pais como do colégio também, essa pre-
ocupação. (Grupo focal de pais, escola particular, Rio
de Janeiro)
Alguns pais acreditam que apenas pedir aos alunos que fa-
çam trabalhos escolares não proporciona a eles informação nova.
Para isso, segundo a opinião desses pais, deveria haver um acon-
selhamento com profissionais da área de saúde:
Eu acho que o colégio, realmente ele faz esse tipo
de trabalho sim, ele joga pro aluno fazer trabalhos
em casa, mas o que está faltando é justamente a ori-
entação de um médico, de um psicólogo que che-
gue, converse com esses meninos e mostre filmes,
mostre slides. (Grupo focal de pais, escola particular,
Fortaleza)
3.3.1 A Importância dos Temas
Para um dos pais entrevistados em Belém, a participação da
escola na Educação Sexual dos alunos é muito importante; po-
rém, ele ressalta que o sucesso desta tarefa requer profissionais
bem-qualificados. Para esse mesmo pai, palestras com especia-
listas são importantes, mas o envolvimento dos professores com
aulas bem-elaboradas produz resultados mais efetivos:
...quando o professor está preparado pra tal tra-
balho, ele tem essa condição de passar sim, de in-
formar o aluno na sala de aula o melhor possível.
Agora, eu acho palestra muito bom, mas o profes-
sor é fundamental. (Grupo focal de pais, escola mu-
nicipal, Belém)
Vale ressaltar que um aluno de Maceió considerou os temas
tão importantes que até enganou a sua mãe sobre o conteúdo das
aulas de Ciências, para poder participar:
178
Quando eu fazia 8
a
série e o colégio estava em
reforma, a gente foi mandado pra um centro comu-
nitário e o pessoal falava sobre sexo, gravidez na
adolescência, e eu estudava de manhã e as aulas
eram sempre à noite. Então eu falava: ‘mãe, eu vou
pra escola’, ‘fazer o quê?’. Aí, eu dizia: ‘assistir
uma aula de Ciências falando sobre o que cora-
ção, pulmão’. Eu fui e aprendi muito. (Grupo focal
de alunos, escola estadual, Maceió)
Alguns estudantes também associam a relevância dessas
atividades à necessidade de preencher o vazio deixado pelas
famílias, que não conversam com os jovens sobre esses assun-
tos, como ocorre, por exemplo, entre alunos do Rio de Janeiro:
Sempre fica faltando mais informação mas é bom, porque
tem pessoas que se abrem nem com os pais e nem com os
amigos, fica ciente de alguma coisa, entendeu, e os
pais às vezes. (Grupo focal de alunos, escola municipal, Rio
de Janeiro)
Essa opinião é compartilhada por alguns pais de Porto Ale-
gre, que parecem aliviados ao saberem que os colégios estão
oferecendo Educação Sexual, uma vez que muitos reconhe-
cem que não conseguem dialogar com os filhos sobre esse tema
por falta de conhecimentos ou por falta de intimidade com os
jovens:
Ah, então que bom, porque a gente não tem muito.
Eu não sei a gente pergunta, e tal e coisa, mas a
gente não está tendo o conhecimento para está
transmitindo pra eles forma corretamente certa.
Eles querem saber isso, a minha mãe não fala, a
minha mãe o meu pai estão felizes. então a gente
não tem muito. A gente bem que fala um pouco, mas
não é muito avançado. (Grupo focal de pais, escola
municipal, Porto Alegre)
179
3.3.2 Críticas às Atividades
Alguns alunos e pais demonstram gostar das atividades pro-
movidas pelas escolas, sem, contudo, deixar de apresentar suas
críticas às atividades. Um primeiro grupo de críticas são aquelas
relativas à inconstância das atividades nas escolas e/ou quanto a
sua eficácia para a divulgação de informações sobre a sexualida-
de e principalmente à prevenção de DST/Aids:
começou, mas não foi o ano inteiro, Começou um
pouquinho falando sobre algumas coisas, depois pa-
rou. (Grupo focal de alunos, escola particular, Goiânia)
Os professores tocam no assunto, mas, especificamen-
te, o colégio pedir pra falar e levar alguém pra falar,
não. (Grupo focal de alunos, escola particular, Goiânia)
Alguns pais acham que falta a orientação de especialistas (mé-
dicos, psicólogos): Eu estou falando em relação ao colégio. Ele
devia trazer médicos pra orientar os meninos em relação a isso.
Eu acho que isso está fazendo falta; eu acho que isso não tem.
(Grupo focal de pais, escola particular, Fortaleza)
O segundo grupo de críticas são aquelas que não consideram
que esses temas são tratados de forma muito enfadonha, não des-
pertando o interesse dos jovens: Mas ninguém agüentava, não.
Era a mesma coisa, que você aprende na 5
ª
serie, aprende na
7ª. Tudo que falava no programa, você sabe, todo mundo
sabe. (Grupo focal de alunos, escola particular, Cuiabá)
E ainda têm aqueles que não consideram esse tema pertinente à
escola: Porque também a maioria tem, tem o auxilio dos pais aqui
e tal que conversa às vezes. Eu acho que pra mim não é desne-
cessário. (Grupo focal de alunos, escola particular, Goiânia)
É importante comentar que os alunos criticaram as ativida-
des porque elas não incluem todos os alunos: Não eram todos os
alunos que par ticipavam disso. Alguns que se inscreviam pra
participar. (Grupo focal de alunos, escola municipal, Recife)
180
Outro ponto criticado pelos alunos é a paralisação das ativi-
dades, ou a descontinuidade destas. Essa crítica foi feita explici-
tamente por alguns alunos de algumas capitais:
O professor parou de vir, (...) todo ano é que tem um
período que esse professor vem. Eu acho que é as-
sim, porque o ano retrasado, teve uma época que
ele veio, depois não veio mais. Porque, eu não te-
nho nada a ver com isso não, mas é a coordenado-
ra. É a coordenadora que regula. (Grupo focal de
alunos, escola municipal, Recife)
Aparentemente, os alunos não conseguem concordar sobre
os motivos que levam a essa paralisação. Alguns acham que as
aulas estavam aquém das capacidades e interesses dos alunos;
outros, que as atividades estimulavam a prática sexual:
Eu acho que o desenvolvimento da turma estava
muito além da aula.(Grupo focal de alunos, escola
municipal, Recife)
Eu acho que estavam estimulando o aluno a transar.
Eu acho que foi por isso que ela estava pensando
assim, estava estimulando o aluno a transar. (Grupo
focal de alunos, escola municipal, Recife)
Como autocrítica, alguns pais reconhecem que a participa-
ção da escola na Educação Sexual, por melhor que seja, não reti-
ra dos pais suas obrigações de esclarecer os jovens sobre esses
assuntos:
Isso aí, eles têm acesso às atividades do colégio
mesmo, eles ensinam, que é a parte científica, não
é aquele lance mesmo de sentir na pele, ter prazer e
tudo mais, que é uma coisa que não pra explicar,
em casa se explica, e o colégio ensina a parte cien-
tífica, introdução tudo mais a tese, mas coração, é a
natureza que vai. (Grupo focal de pais, escola munici-
pal, Porto Alegre)
181
O objetivo deste capítulo é avaliar os impactos, sobre seus
beneficiários diretos (alunos e pais) e sobre os seus ofertantes
(professores), das ações de prevenção de DST/Aids e de uso
indevido de drogas nas escolas de ensino fundamental e médio de
catorze capitais brasileiras.
Esta avaliação será efetuada mediante a combinação de da-
dos qualitativos e quantitativos. Dentre estes últimos, receberão
tratamento diverso as variáveis que expressam estimativas sub-
jetivas de professores e alunos ou seja, opiniões acerca dos
impactos –, e aquelas que permitem a mensuração objetiva dos
impactos. Além disso, buscar-se-á caracterizar os diferenciais de
impacto sobre os alunos, sobre seus pais e sobre seus professo-
res, uma vez que correspondem a grupos sociais e papéis distin-
tos. Finalmente, posto que, para os fins deste estudo, a atividade
sexual provavelmente constitui uma poderosa variável interveni-
ente, os estudantes serão diferenciados em dois subgrupos, trata-
dos em sua especificidade: os que têm vida sexual ativa
39
eos
que ainda não se iniciaram sexualmente.
Particular realce será dado às correlações estatísticas esta-
belecidas entre duas variáveis independentes (i) a oferta, ou
não, de atividades de prevenção, pela escola, a alunos e pais; e
(ii) a intensidade com que os beneficiários foram expostos a es-
sas atividades–easvariáveis dependentes relativas aos seus
comportamentos, atitudes e informações. No que diz respeito aos
professores, será explorada apenas uma variável independente:
Avaliação de Impactos
4.
39
Para efeito deste estudo considera-se “alunos com vida sexual ativa” os que
responderam afirmativamente à pergunta “Você transou alguma vez?”.
182
a oferta de curso de capacitação para atuar nas ações de preven-
ção de DST/Aids e de uso indevido de drogas nas escolas.
Esta avaliação, como qualquer outra, requer o exame de in-
dicadores. Estes são especialmente relevantes nas avaliações de
impacto, nas quais o grande desafio é identificar e diferenciar a
real conseqüência de um resultado e todas as outras coisas que
podem decorrer da interveniência de outros fatores.
Indicadores não são, simplesmente, dados. Indicadores sempre
são variáveis, que podem assumir diferentes valores. Porém, nem
todas as variáveis são indicadores. Os indicadores são medidas, vale
dizer, são uma atribuição de valores numéricos a objetos, comporta-
mentos, atividades, acontecimentos ou situações, de acordo com cer-
tas regras. Enquanto medidas, os indicadores referem-se às infor-
mações que, em termos conceituais, são quantificáveis, independen-
temente de sua coleta obedecer a técnicas qualitativas ou quantitati-
vas. Portanto, os indicadores devem ser definidos em termos opera-
cionais, ou seja, mediante categorias pelas quais sua manifestação
pode ser não apenas constatada, mas mensurada.
Quanto aos alunos, foram selecionados para esta análise os
seguintes indicadores objetivos de impacto:
- compartilhamento de seringas no uso de drogas injetáveis;
- número de parceiros sexuais nos últimos doze meses;
- relações sexuais com parceiros pouco conhecidos;
- relações sexuais com profissionais do sexo;
- freqüência do uso do preservativo;
- atitudes quanto à relação entre paixão e sexo;
- atitudes quanto à importância da virgindade;
- disposição para usar o preservativo caso esteja disponível no
momento da relação sexual;
- atitudes quanto à fidelidade sexual do parceiro;
183
Quanto aos pais, foram escolhidos os seguintes indicadores
objetivos de impacto:
- auto-avaliação da informação sobre temas de saúde sexual e
reprodutiva;
- oferta de orientação aos filhos sobre DST/Aids;
- recomendação aos filhos para que usem o preservativo;
- atitudes frente à distribuição de preservativos aos alunos nas
escolas.
Quanto aos professores, foi selecionado o seguinte indicador
objetivo de impacto:
- auto-avaliação da informação sobre temas de saúde sexual e
reprodutiva.
4. 1 As Estimativas de Impacto feitas por Diretores,
Professores e Alunos
A despeito de todas as críticas mencionadas às ações desenvol-
vidas, são elevados os percentuais de professores que afirmam que
as atividades tiveram alto impacto sobre os alunos, na prevenção de
DST/Aids e de uso indevido de drogas. Os percentuais encontrados
nesta categoria estiveram, em quase todas as capitais, acima dos
50% (Tabela 54). Todavia, vale chamar a atenção para o reduzido
número absoluto de professores que respondeu a esta pergunta.
A análise desagregada por dependência administrativa das
escolas das capitais mostra que em Maceió, embora seja elevado
o percentual de professores de escolas públicas que considera-
ram alto o impacto das atividades (40%), as escolas particulares
apresentaram um percentual bem maior, chegando a 60%. em
Goiânia, chama a atenção o percentual de docentes das escolas
particulares que classificaram como baixo o impacto das ativida-
des sobre os alunos (22%). Em Manaus, isso acontece nas esco-
las públicas, onde 26% dos professores consideram baixo o im-
pacto das atividades.
184
Tabela 54 Professores, por capitais das UF, segundo estimativa do impacto, sobre os alunos, das
atividades de prevenção de DST/Aids e uso indevido de drogas*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Como você avalia o impacto, sobre os jovens, das atividades desenvolvidas? Considere os seguintes aspectos (Atribua de zero a 10 pontos a cada item): [
]Ofereceram informação correta e suficiente; [ ]Contribuíram para o fortalecimento da auto-estima; [ ]Estimularam o desenvolvimento de atitudes responsáveis; [ ]Contribuíram
para a eliminação de preconceitos”. Foi somada e tirada a média da pontuação atribuída a cada um dos quesitos. Os valores obtidos foram recodificados em quatro categorias:
zero pontos=Nenhum Impacto; entre 1 e 4,999 pontos=Baixo Impacto; entre 5 e 7,999 pontos=Médio Impacto; entre8e10pontos= Alto Impacto.
185
De forma geral, os professores das escolas particulares que
consideram alto o impacto das atividades sobre os alunos são mais
freqüentes do que os das escolas públicas, chegando a 87% em
Recife, 85% em Manaus e 83% em Fortaleza. Em Belém, é de
85% o percentual de professores das escolas particulares que
consideram ter obtido alto impacto, ao passo que, nas escolas
públicas, é de apenas 44%. Nesta mesma capital, o impacto “mé-
dio” é de apontado por 8% dos professores nas escolas privadas
e 47% nas públicas.
Entretanto, o exame dos dados qualitativos mostra que al-
guns diretores consideram muito cedo para avaliar os impactos
das atividades de prevenção de DST/Aids:
Olha! Eu não sei exatamente quando é que o trabalho
é bem-sucedido ou não, porque esse é um trabalho
abstrato, não é? Nós teríamos que saber se deu certo,
ou não, a longo prazo. Então nós estamos tentando.
Vamos ver daqui alguns anos o resultado, o retorno.
(Entrevista Vice-diretora, escola pública, Distrito Federal)
Eu acho que ainda é cedo para falar qualquer coi-
sa; é muito pouco tempo, certo? Eu acho que, para
a gente falar se é bom ou ruim, se está dando certo
ou não, nós temos que esperar mais um tempo. Por-
que todo começo explode, então eu quero ver o re-
sultado mesmo o ano que vem. (Entrevista Diretora,
escola estadual, São Paulo)
Alguns fazem projeções otimistas:
Ah, eu acho que com certeza eles vão absorver mui-
ta coisa disso, e será de grande valia, sim. Por mais
que, naquele momento, ele ache chato, ache enjoa-
do, depois ele vai parar e vai refletir, vai verificar
que aquilo é para ele, tem muito a ver. Sabe, ele vai
fazer a relação com o que ele está vivendo; ele vai
verificar que aquilo vai ser de muita valia para eles.
(Entrevista Diretora, escola estadual, Belém)
186
Similarmente ao que se observou entre os professores, quan-
do os alunos foram solicitados a estimar o impacto das atividades
de prevenção de DST/Aids, realizadas na escola, sobre o seu com-
portamento quanto ao sexo, à Aids ou às DST, a maioria informou
que essas provocaram muitas mudanças. (Tabela 55).
Os maiores percentuais de alunos que afirmaram terem mu-
dado muito o seu comportamento foram registrados em Fortale-
za, Manaus, Salvador e Belém. Em Cuiabá, também foram eleva-
dos os percentuais dos que informaram muitas mudanças; entre-
tanto, estes se concentraram entre os alunos das escolas munici-
pais (69%), estaduais (83%) e do turno da noite (50%). O mesmo
ocorreu no Rio de Janeiro, onde os valores foram, respectiva-
mente de: 61%, 68% e 71%.
Os menores percentuais de alunos que estimaram grandes mu-
danças no seu comportamento ocorreram em Florianópolis e Porto
Alegre. Os maiores percentuais dos que afirmaram que as ativida-
des não contribuíram para qualquer mudança nos seus comporta-
mentos também ocorreram em Florianópolis e Porto Alegre, além do
Distrito Federal, Rio de Janeiro e São Paulo. Novamente, no caso do
Rio de Janeiro, deve-se destacar que uma grande variação entre
os tipos de escolas, visto que, enquanto 27% dos alunos das particu-
lares afirmaram que as atividades não mudaram em nada o seu com-
portamento, apenas 8% dos estudantes das municipais e 14% das
estaduais compartilharam essa estimativa.
A Tabela 56 traz significativas informações sobre a auto-per-
cepção de mudanças de comportamento, entre os alunos que têm
vida sexual ativa, devido à exposição às atividades de prevenção.
Como pode ser percebido nesta Tabela, a percepção de mu-
danças no seu próprio comportamento quanto à sexualidade e à
saúde sexual é afetada pela intensidade com que os alunos foram
expostos às atividades sobre os temas em foco. Ou seja, consta-
ta-se como uma regularidade que os alunos que foram expostos
intensamente a essas atividades semanalmente, quinzenalmen-
te ou mensalmente informam mais freqüentemente ter mudado
187
o seu comportamento do que os alunos que tiveram baixa exposi-
ção semestralmente ou anualmente às ações de prevenção.
As exceções foram registradas entre os alunos de Manaus, São
Paulo e Florianópolis
40
.
No todo, o mesmo resultado ocorre entre os alunos que não
têm vida sexual ativa. Vale dizer, quanto mais expostos às ações
de prevenção, mais registram mudanças no seu comportamento
relativo ao sexo, às DST e à Aids (Tabela 57).
Em algumas capitais, todavia, esta correlação não se man-
tém quando se trata dos alunos sem vida sexual ativa: Maceió,
Salvador, Vitória, Rio de Janeiro e Florianópolis. Cabe assinalar, a
propósito, que as correlações estatísticas foram muitos mais fre-
qüentes entre os alunos com vida sexual ativa (entre 31% e 50%
dos alunos, no todo, conforme as capitais) do que entre os que
ainda não tinham tido a primeira relação sexual.
Os dados qualitativos lançam luz sobre os possíveis motivos
desses resultados. Nas entrevistas, muitos diretores sustentam
que os alunos demonstram grande interesse pelo tema, possivel-
mente em virtude da angústia gerada pela desinformação e pela
curiosidade natural da idade:
Sempre tem a questão da curiosidade; eles realmen-
te ficam interessados. Alguns ficam um pouco en-
vergonhados, quando fala de uma coisa ou de ou-
tra, mas eu acho que ele recebe bem da forma posi-
tiva, porque ele está aprendendo a se cuidar. (En-
trevista Diretor, escola pública, Distrito Federal)
Eles têm uma boa receptividade. Eles gostam do tema,
eles gostam de pesquisar. A gente percebe uma angús-
tia neles, de conhecer cada vez mais desse assunto.
(Entrevista Diretora, escola pública, Florianópolis)
40
Valendo observar que as diferenças percentuais encontradas em Manaus e
São Paulo ficam dentro da margem de erro da amostra, de 5%.
188
Tabela 55 Alunos, por capitais das UF, segundo auto-percepção do impacto das atividades oferecidas
pela escola, sobre o comportamento quanto ao sexo, à Aids ou às DST*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Essas atividades fizeram você mudar o seu comportamento quanto ao sexo, à Aids ou às DST?”
189
Tabela 56 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF, segundo auto-percepção da mudança no
seu comportamento sexual devido à intensidade da exposição às atividades de prevenção*,
2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Essas atividades fizeram você mudar o seu comportamento quanto ao sexo, à Aids ou às DST?” A categoria “Mudaram” refere-se a todos os que disseram
que mudaram muito, bastante ou apenas um pouco. A categoria “Não mudaram” corresponde aos que informaram que não mudaram nada.
(**) Intensa exposição refere-se aos alunos que foram expostos às atividades semanalmente, quinzenalmente e/ou mensalmente; Baixa ou nenhuma exposição ocorre quando a escola
ofereceu atividades desse tipo apenas uma ou duas vezes no ano ou não o fez.
190
Tabela 57 Alunos sem vida sexual ativa, por capitais das UF, segundo auto-percepção da mudança no
seu comportamento sexual devido à intensidade da exposição às atividades de prevenção,
2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Essas atividades fizeram você mudar o seu comportamento quanto ao sexo, à Aids ou às DST?” A categoria “Mudaram” refere-se a todos os que disseram que
mudaram muito, bastante ou apenas um pouco. A categoria “Não mudaram” corresponde aos que informaram que não mudaram nada.
(**) Intensa exposição refere-se aos alunos que foram expostos às atividades semanalmente, quinzenalmente e/ou mensalmente; Baixa ou nenhuma exposição ocorre quando a escola
ofereceu atividades desse tipo apenas uma ou duas vezes no ano ou não o fez.
191
Nós percebemos que quando falamos de sexualida-
de e em DST, eles se interessam. Estão preocupados
com a prevenção, então é uma aula interessante que
eles ficam vidrados no vídeo, nas palestras, pois
questionam muito. (Entrevista Diretor, escola estadu-
al, Cuiabá)
Por outro lado, alguns diretores afirmam que muitos alunos
ou se mostram desinteressados ou não absorvem as informações
transmitidas:
Na hora que você está explicando, está falando so-
bre determinado assunto, ele está totalmente liga-
do. Depois, entra por um ouvido, sai pelo outro, ele
não está nem aí. (Entrevista Diretor, escola pública,
Distrito Federal)
Eles reagem com desinteresse, como aliáséoque
eles fazem com todas as matérias, eles acham que
sabem tudo. (Entrevista Diretor, escola pública, Distri-
to Federal)
Normalmente, as reações iniciais dos alunos são diversas, vari-
ando entre o espanto da descoberta e à dispersão própria da idade:
Alguns prestam bastante atenção, ficam atentos. Tem
uns que levam na bagunça, uns sabem como funcio-
nam ou aprenderam de maneira errada. Tem uns que
debocham, mas têm outros que não. (Entrevista Di-
retor, escola estadual, Fortaleza)
Para os alunos também é uma alegria. Você sente o
brilho nos olhos de cada um quando nós falamos
algo que eles querem saber. (Entrevista Diretora, es-
cola municipal, Rio de Janeiro)
A princípio eles ficam eufóricos, não levam muito a
sério, mas depois eles entram na situação e gostam,
gostam muito. (Entrevista Vice-Diretora, escola públi-
ca, Distrito Federal)
192
O susto e o choque são alguns dos efeitos imediatos obser-
vados entre os jovens que assistem a aulas ou palestras sobre
DST/Aids:
Os alunos ficam meio apavorados. Na última, que
passaram slides sobre doenças venéreas, as crian-
ças ficaram apavoradas. Mas são coisas que tem
que fazer sempre, porque eles esquecem. (Entrevista
Diretor, escola estadual, Cuiabá)
Eles ficaram, no primeiro momento, muito assusta-
dos. Mas depois, começaram a falar. (Entrevista Di-
retora, escola estadual, Manaus)
Muitos ficam incrédulos diante do que eles vêem,
principalmente uma turma que assistiu um vídeo so-
bre DST. Eles saíram falando: ’Pôxa, eu não sabia
que era assim, ouvia dizer, mas não sabia que acon-
tecia isso’. Para eles é admiração, um espanto em
ver a que ponto pode chegar. (Entrevista Vice-Dire-
tora, escola estadual, Salvador)
Os alunos ficam às vezes até surpresos, com um medo
daquilo que é falado e que é mostrado pelo retro-
projetor, aquelas figuras. Então aquilo um cho-
que para realidade, que acontece realmente. Aquilo
não é escrito, não, eles mostram o que acontece.
(Entrevista Diretora, escola estadual, Rio de Janeiro)
Muitos alunos ficaram tímidos das primeiras vezes em que o
tema foi discutido, mas logo se relaxaram e passaram a participar
e fazer perguntas:
A primeira vez que começou a passar filme aqui, eles
ficavam meio inibidos. Mas depois começavam a
fazer perguntas, quer dizer, estavam se interes-
sando, gostando do assunto. É muito, muito impor-
tante, porque antigamente nós não tínhamos isso.
(Entrevista Vice-Diretora, escola municipal, Belém)
193
É lógico que a princípio trouxe uma timidez, até por
que se trata de gravidez, doenças sexualmente trans-
missíveis, a Aids, que é um tema bem abordado. Mas
eles foram levando e receberam bem. Tanto é que
depois, aquele tema para eles era uma coisa natu-
ral. (Entrevista Diretor, escola pública, Florianópolis)
Muitos alunos reagem com naturalidade ao tema, pois pos-
suem um conhecimento prévio:
Esses jovens, antes eles não reagiam com naturalida-
de. Hoje em dia, os nossos alunos agem com uma na-
turalidade muito grande porque eles têm um conhe-
cimento, eles trazem algum conhecimento, alguma
coisa do mundo fora, do local onde ele convive.
(Entrevista Vice-Diretor, escola estadual, Fortaleza)
Por outro lado, é preciso considerar que, em muitos casos, a
religião dos alunos aparece como condicionante da forma como
vão ser absorvidas determinadas informações e, conseqüentemen-
te, do impacto das ações:
É, reações diferenciadas, muito em decorrência das
diferentes religiões que os alunos seguem. grupos
de alunos que estão altamente interessados em ver a
informação dessa maneira. outros que, por forma-
ção religiosa, ficam inclusive temerosos de acreditar
que as coisas acontecem daquela maneira. Então, o
impacto que temos encontrado é a diferença religiosa,
uma das reações evidenciadas tem sido essa. Agora, o
impacto que tem suas vidas, elas não tem discutido aqui.
(Entrevista Diretora, escola pública, Distrito Federal)
Algumas religiões se transformam em verdadeiro obstáculo
à divulgação de informações sobre sexualidade, DST e Aids, e
conseqüentemente, à mudança de atitudes e comportamentos.
Porém, casos, ao contrário, em que ocorre uma integração por
meio do aluno, que consegue romper as barreiras e levar a dis-
cussão do tema para o próprio ambiente da igreja:
194
Eu me lembro da gente ter aluna aqui que levava um
pouco da discussão até pra igreja. Ela freqüentava
igreja evangélica e juntava vizinhos, casais, coloca-
vam um pouco essa questão da droga e a questão da
preservação da saúde e daí o uso de preservativo, etc.
(Entrevista Diretor, escola municipal, Rio de Janeiro)
4.2 Indicadores Objetivos de Impacto
4.2.1 Sobre os Alunos
Conforme foi mencionado no início deste capítulo, uma das
maneiras de avaliar o efetivo impacto das ações de prevenção é
isolar dois grupos de alunos: os que têm vida sexual ativa e os que
ainda não se iniciaram sexualmente; em seguida, buscar as cor-
relações entre, de um lado, a exposição de cada um às ações de
prevenção e a intensidade dessa exposição
41
; e, de outro, os seus
comportamentos, atitudes e informações.
4.2.1.1 Comportamentos
Como poderá ser visto a seguir, como regra, os impactos
observados apresentam acentuadas variações entre as diversas
capitais. Isso possivelmente se explica, em parte, pelas diferen-
ças, entre as mesmas, quanto à oferta e ao estágio de desenvolvi-
mento das ações de prevenção. Pode, porém, resultar de vários
outros fatores, que atuam cumulativamente à exposiçã oeàin-
41
A exposição refere-se à oferta, realização ou desenvolvimento, pelas escolas,
de atividades de prevenção de DST/Aids comportando, também, ações de
prevenção ao uso indevido de drogas. A intensidade da exposição foi medida
a partir da freqüência com que a escola ofereceu atividades sobre DST/Aids.
Uma intensa exposição refere-se aos alunos que foram expostos às ativida-
des semanalmente, quinzenalmente e/ou mensalmente; baixa ou nenhuma
exposição ocorre quando a escola ofereceu atividades desse tipo apenas uma
ou duas vezes no ano ou não o fez.
195
tensidade da exposição às ações de prevenção: cultura regional
e local, renda, acesso a bens culturais, religião, etc., além das
peculiaridades locais quanto à institucionalização das ações.
Seja como for, os dados obtidos trazem significativos ensi-
namentos sobre as atividades desenvolvidas e seus impactos.
Por exemplo, no que se refere ao compartilhamento de seringas
entre os alunos que consomem drogas injetáveis e que têm vida
sexual ativa (Tabela 58), a exposição às atividades de preven-
ção nas escolas exerce um efeito decisivo. Assim, em nove ca-
pitais, entre os alunos que informaram não ter sido expostos às
atividades de prevenção, os que compartilham seringas são sig-
nificativamente mais freqüentes do que entre os que foram ex-
postos às ações de prevenção.
Entre os alunos sem vida sexual ativa (Tabela 59) e que
consomem drogas injetáveis, as opiniões, informações ou cren-
ças sobre a existência de cura para a Aids afetam decisiva-
mente o comportamento quanto ao uso das seringas de inje-
ção. Como pode ser observado, o reconhecimento do caráter
incurável da Aids afeta decisivamente a disposição para com-
partilhar seringas no consumo de drogas. Nas nove capitais
onde foi constatada associação estatística entre as duas vari-
áveis observa-se, com regularidade, que os que crêem que não
cura para a doença são os que menos registram comparti-
lhar seringas, e vice-versa.
Como pode ser visto na Tabela 60, a exposição às ativida-
des de prevenção também provoca, aparentemente, um efeito
de auto-contenção sexual. Em seis das capitais onde as variá-
veis apresentam-se correlacionadas, os alunos que informaram
ter tido tais atividades nas escolas são os que mais freqüente-
mente registram ter tido apenas um parceiro sexual nos últimos
12 meses antes da pesquisa, e são, ao mesmo tempo, os que
menos informam ter tido seis ou mais parceiros sexuais nesse
intervalo de doze meses.
196
Tabela 58 Alunos com vida sexual ativa, consumidores de drogas injetáveis, por capitais das UF e
por indicação das escolas que ofereceram atividades de prevenção de DST/Aids, segundo
compartilhamento das seringas no uso de drogas, em 2000(%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Como pode ser observado, o número absoluto de respostas é bastante baixo, recomendando especial cuidado com as inferências.
197
Tabela 59 Alunos sem vida sexual ativa, consumidores de drogas injetáveis, por capitais das UF e
por opinião sobre a cura da Aids, segundo compartilhamento de seringas no uso de drogas
injetáveis, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Como pode ser observado, o número absoluto de respostas é bastante baixo, recomendando especial cuidado com as inferências.
198
Tabela 60 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF e por exposição às ações de prevenção
de DST/Aids nas escolas, segundo número de parceiros sexuais no último ano, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se aos alunos: “Com quantas pessoas diferentes você transou nos últimos doze meses?[ ]Uma; [ ]De duas a cinco; [ ]De seis a dez; [ ]Mais de dez”. As duas últimas
categorias de respostas foram agregadas como “Seis ou mais”.
199
Como retrata a Tabela 61, não somente a oferta de atividades
(exposição) exerce impacto sobre o comportamento dos que têm
vida sexual ativa. Também a intensidade da exposição produz um
importante efeito: reduz a tendência às relações sexuais com par-
ceiros eventuais. Como pode-se concluir da comparação apresen-
tada na Tabela 61, em sete das capitais estudadas, a maior intensi-
dade da exposição às atividades contribui para reduzir as relações
sexuais com parceiros pouco conhecidos e vice-versa, represen-
tando um importante elemento na prática de sexo seguro.
Uma regularidade semelhante pode ser verificada na Tabela
62, que mostra que, em sete das capitais onde foi feita a pesquisa,
quanto mais intensa a exposição às atividades de prevenção, me-
nos freqüentes são as relações sexuais com profissionais do sexo.
Os dados da Tabela 63 mostram um efetivo impacto da ofer-
ta de atividades de prevenção pela escola sobre o uso do preser-
vativo. Em cinco das capitais verifica-se que, recorrentemente,
os alunos expostos a essas atividades afirmam usar o preservati-
vo em todas as relações sexuais ou em pelos menos algumas das
relações mantidas nos doze meses anteriores à pesquisa. O con-
trário ocorre entre os alunos aos que não foram expostos às ativi-
dades de prevenção na escola: entre esses, sistematicamente,
percentuais mais elevados relatam que não usaram o preservati-
vo em nenhuma relação sexual no mesmo período.
Como pode ser visto na Tabela 64, também a intensidade da
exposição exibe uma correlação positiva com o uso do preservati-
vo: entre os alunos intensamente expostos às ações de prevenção é
sistematicamente mais elevado o percentual dos que usaram o pre-
servativo em todas as relações sexuais nos 12 meses anteriores à
pesquisa. entre os estudantes pouco expostos a essas ações tal
percentual é mais baixo, e, ao contrário, crescem as proporções
dos que não usaram o preservativo em nenhuma das relações se-
xuais mantidas no mesmo período. Comparando as Tabelas 63 e 6 4
é possível especular que a intensidade das ações pode ser mais
importante que a sua simples oferta possibilidade que parece en-
contrar respaldo também nos dados qualitativos.
200
Tabela 61 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF e por intensidade da exposição* às
atividades de prevenção de DST/Aids nas escolas, segundo prática de sexo com pessoas
pouco conhecidas, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Intensa exposição refere-se aos alunos que foram expostos às atividades semanalmente, quinzenalmente e/ou mensalmente; baixa ou nenhuma exposição ocorre quando a escola
ofereceu atividades desse tipo apenas uma ou duas vezes no ano ou não o fez.
201
Tabela 62 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF e por intensidade da exposição* às
atividades de prevenção às DST/Aids nas escolas, segundo prática de sexo com profissionais
do sexo, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Intensa exposição refere-se aos alunos que foram expostos às atividades semanalmente, quinzenalmente e/ou mensalmente; baixa ou nenhuma expos ição ocorre quando a escola
ofereceu atividades desse tipo apenas uma ou duas vezes no ano ou não o fez.
202
Tabela 63 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF e por exposição às atividades de
prevenção de DST/Aids nas escolas, segundo freqüência do uso do preservativo no último
ano, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) O número absoluto se refere aos que afirmaram ter vida sexual ativa e que mantiveram pelo menos uma relação sexual nos doze meses que antecederam a pesquisa.
203
Tabela 64 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF e por intensidade da exposição* às
atividades de prevenção de DST/Aids nas escolas, segundo freqüência do uso do
preservativo no último ano, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Intensa exposição refere-se aos alunos que foram expostos às atividades semanalmente, quinzenalmente e/ou mensalmente; baixa ou nenhuma exposição ocorre quando a escola
ofereceu atividades desse tipo apenas uma ou duas vezes no ano, ou não o fez.
(**) O número absoluto se refere aos que afirmaram ter vida sexual ativa e que mantiveram pelo menos uma relação sexual nos doze meses que antecederam a pesquisa.
204
Assim, os dados examinados indicam, sem qualquer sombra
de dúvida, a existência de impactos positivos das ações de pre-
venção de DST/Aids e uso indevido de drogas sobre os compor-
tamentos ou práticas reais dos alunos, especialmente daqueles
com vida sexual ativa, nas escolas das capitais estudadas.
4.2.1.2 Atitudes
Além dos comportamentos efetivos, as ações de prevenção
realizadas nas escolas exibem impacto sobre as atitudes dos alu-
nos suas opiniões, crenças, valores, disposições com positivas
repercussões sobre a prática de sexo seguro.
É o caso da vinculação entre a paixão amorosa e a atividade
sexual (Tabela 65), que se mostra indiscutivelmente mais disse-
minada entre os alunos sem vida sexual ativa que foram expostos
às atividades de prevenção, do que entre os que não o foram.
Vale observar que essa atitude representa um importante estímu-
lo à auto-contenção sexual e que a associação entre as duas va-
riáveis mostra-se estatisticamente significativa em treze das ca-
torze capitais onde foi realizado o estudo.
Entre os alunos sem vida sexual ativa registra-se, também,
associação estatística entre a intensidade da exposição às ações
de prevenção e a atribuição de importância à virgindade. Em sete
das capitais onde foi feito o estudo, os alunos que foram intensa-
mente expostos às atividades de prevenção nas escolas são os
que mais freqüentemente atribuem valor à virgindade. E vice-
versa (Tabela 66).
Porém, no que se refere às atitudes, talvez o impacto mais
importante das ações de prevenção seja o descrito na Tabela 67.
Sistematicamente, em sete das capitais onde foi realizado o estu-
do, os alunos com vida sexual ativa que foram expostos às ações
de prevenção quando comparados com os que não o foram
mostram-se mais propensos a usar o preservativo se o tiverem
disponível no momento da relação sexual. Cabe advertir, porém,
205
que independentemente da exposição às atividades de prevenção
nas escolas, os que manifestam tal disposição são, sempre, mino-
ritários, o que sugere uma atitude de rejeição ao preservativo
42
.
Como pode ser verificado na Tabela 68, em sete das catorze
capitais onde foi desenvolvido o estudo, os alunos com vida sexu-
al ativa que foram expostos às ações de prevenção são os que
mais acreditam na fidelidade dos seus parceiros, quando compa-
rados com aqueles aos quais as escolas não ofereceram essas
atividades. Esta atitude pode sugerir uma crença na fidelidade
como um elemento de sexo seguro.
Finalmente, a composição de atitudes e comportamentos
permite estabelecer um índice de comportamentos sexuais de
risco. Como pode ser constatado na Tabela 69, excetuando-se
Maceió e Florianópolis, em todas as demais capitais onde foi
feita a pesquisa, os alunos expostos às ações de prevenção de
DST/Aids e uso indevido de drogas apresentam menores per-
centuais na categoria de alto risco, quando comparados com os
alunos que não o foram.
4.2.2 O Impacto Sobre os Pais
O exame da Tabela 70 mostra que, entre os pais que foram
convidados pela escola para as atividades de prevenção, os que
consideram suficiente a sua informação sobre saúde sexual e re-
produtiva são ligeiramente mais numerosos, em média, do que os
pais com o mesmo nível de informação entre os que não foram
convidados para aquelas atividades. As diferenças são especial-
mente significativas no Distrito Federal, Fortaleza, Maceió, Flori-
anópolis e Porto Alegre.
42
Por outro lado, é preciso ter em mente que (como consta ao da Tabela 67) a
disposição para usar o preservativo, caso esteja à mão no momento da relação
sexual, é apenas uma das alternativas de uma pergunta de múltipla escolha, o que
pode justificar parte do elevado percentual dos que não a assinalaram.
206
Tabela 65 Alunos sem vida sexual ativa, por capitais das UF e por exposição às atividades de
prevenção de DST/Aids na escola, segundo atitude quanto à relação entre paixão e
sexo*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) A pergunta foi formulada da seguinte maneira: “Marque se você concorda com a frase abaixo: ‘As pessoas devem transar se estiverem apaixonadas’.”
207
Tabela 66 Alunos sem vida sexual ativa, por capitais das UF e por intensidade da exposição* às
ações de prevenção de DST/Aids, segundo importância da virgindade**, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Intensa exposição refere-se aos alunos que foram expostos às atividades semanalmente, quinzenalmente e/ou mensalmente; baixa ou nenhuma exposição ocorre quando a escola
ofereceu atividades desse tipo apenas uma ou duas vezes no ano ou não o fez.
(**) Perguntou-se: “Na sua opinião (Marque uma resposta): [ ]O homem deve ficar virgem até casar; [ ]A mulher deve ficar virgem até casar ; [ ]Casar virgem é igualmente
importante para homem e mulher; [ ]A virgindade não tem importância nenhuma, é uma coisa do passado”. Os que responderam qualquer uma das três primeiras alternativas
foram agregados na categoria “Importante”. Os que optaram pela última alternativa correspondem à categoria “Sem importância”.
208
Tabela 67 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF e por exposição às atividades de prevenção
de DST/Aids nas escolas, segundo disposição para usar o preservativo, caso o tenham
disponível no momento da relação sexual*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Perguntou-se: “Você normalmente usa camisinha: (marque todas as que forem verdadeiras): [ ]Não, nunca usa; [ ]Sim, usa em todas as transas; [ ]Sim, quando transa com
garotas/garotos de programa; [ ]Sim, quando transa com pessoas do mesmo sexo; [ ]Sim, quando não confia na saúde do parceiro; [ ]Sim, se tiver com você oucom o parceiro(a)
na hora de transar?” É importante observar que esta variável é apenas uma das alternativas de uma pergunta de múltipla escolha, o que talvez explique em parte o alto percentual
de respostas negativas.
209
Tabela 68 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF e por exposição às atividades de prevenção
de DST/Aids nas escolas, segundo crença na fidelidade do(a) parceiro(a)*, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Solicitou-se: “Marque as frases com que concorda:[ ] ‘Eu realmente acredito que meu(minha) namorado(a) transa comigo’.”
210
Tabela 69 Alunos com vida sexual ativa, por capitais das UF, segundo exposição às ações de prevenção
de DST/Aids e índice de comportamentos sexuais de risco* às DST/Aids e ao uso indevido
de drogas, 2000, (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) O Índice de comportamentos sexuais de risco foi construído da seguinte maneira: Tirou-se a média das respostas às seguintes perguntas: “Você transou estando bêbado(a)
ou chapado(a)?”; “Você transou em troca de dinheiro, drogas, comida, emprego ou algum favor?”; “Você pegou doença através de relação sexual?”; Você transou com
pessoa que usava drogas?”; “Você transou com pessoa do mesmo sexo?”; “Você transou com pessoa que conhecia pouco?”; “Você transou com pessoa que era
prostituta, moça ou rapaz de programa?”; “Quando transa, você pede ao(s) seu(s) parceiro(os) que usem camisinha?”; “Você é capaz de dizer ao seu(sua namorado(a) ou
parceiro(a): ‘Sem camisinha, não tem sexo’?”. “Você normalmente nunca usa camisinha?”; “Nos últimos 12 meses, você transou com mais de uma pessoa diferente?”; “Nos
últimos 12 meses, você não usou camisinha em todas as transas?”. Uma vez que todas são dicotômicas, os valores variaram entre1e2.Ogrupo de respondentes cuja média
das respostas ficou entre 1 e 1,5 foi classificado como “Comportamentos Sexuais de Alto Risco”; o grupo de respondentes que obteve uma média de respostas entre 1,51 e 2
foi classificado como “Comportamentos Sexuais de Baixo Risco”.
211
Tabela 70 Pais, por capitais das UF, segundo convite da escola para par ticipar de atividades de
prevenção e auto-avaliação da informação sobre temas de saúde sexual e reprodutiva,
2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: Entre os assuntos abaixo, diga sobre quais você tem conhecimento suficiente: doenças sexualmente transmissíveis; gravidez e controle de natalidade; sexo
vaginal; sexo anal; sexo oral; masturbação; aborto; homossexualismo. Os que marcaram de zero a 3 itens foram incluídos na categoria “Informação insuficiente”; os que
marcaram de4a8itens foram incluídos na categoria “Informação suficiente”.
212
Como foi visto no capítulo anterior, a maioria desses pais
não recebeu convite da escola para participar das atividades
de prevenção. Ao mesmo tempo, cerca de 3/4 ou mais são do
sexo feminino, valendo lembrar que, depois dos professores,
são as mães que os alunos mais indicam como seus interlocu-
tores para os temas em tela. Ou seja, diante dos dados da Ta-
bela anterior preocupa, em primeiro lugar, que os pais–ema-
joritariamente as mães sejam pouco convocados para as
ações de prevenção. E, em segundo, que os que não foram
convidados sejam não apenas mais numerosos, mas também
os que registram ter menos informação sobre os temas da saú-
de sexual e reprodutiva.
Vale enfatizar que os pais também têm papel decisivo so-
bre as próprias atividades que as escolas procuram desenvol-
ver. Nestas, existe um receio generalizado de que a discussão
sobre sexualidade estimule nos alunos comportamentos que a
família não aprova:
Muitas vezes, o professor tem medo por causa da
reação dos pais. Tem pai que aceita que se tra-
balhe normalmente a questão a sexualidade, mas
tem pai que não aceita. Então, geralmente, eles
vêm fazer reclamação que o professor está fa-
lando demais na sala de aula; por exemplo, quan-
do fala sobre a questão por exemplo da relação
sexual, do prazer. (Entrevista Diretor, escola esta-
dual, Cuiabá)
A família tem que ser mostrada primeiro, está en-
tendendo? Teve aquele impacto assim: a criança
chegou em casa e disse pra mãe que a professora
tava mostrando uma ‘pomba’ pra ele, um pênis; a
‘pomba’ que ele fala é a linguagem dele. Então,
quer dizer, nós fomos muito ousados. (Entrevista
Diretora, escola estadual, Manaus)
213
casos, por outro lado, em que, apesar de uma reação
inicial negativa por parte das famílias, essas passaram a se
familiarizar com o tema e a aceitar as atividades desenvolvi-
das nas escolas:
É encarado como naturalidade. No início, quan-
do se falava desse assunto, a gente via uma certa
resistência, principalmente das mães. Elas não
aceitavam muito que [os professores] falassem des-
ses assuntos com adolescentes ou com menina de
10, 11 anos, a gente tenta abordar a partir de 10
anos. Mas, aos poucos, elas foram se familiari-
zando com a prática que se formou na escola.
(Entrevista Diretor, escola estadual, Fortaleza)
No que se refere ao impacto das ações de prevenção so-
bre os pais, alguns dados
43
sinalizam um cenário mais otimista
do que se poderia esperar após diversas manifestações de re-
sistência e preconceitos, colhidas nos grupos focais, com os
próprios pais e com professores, e nas entrevistas individuais
com os diretores.
Como mostra a Tabela 71, em oito das capitais onde se
realizou o estudo, os pais que foram convidados pela escola
para participar de alguma atividade de prevenção de DST/Aids
e/ou de uso indevido de drogas são os que mais freqüentemen-
te sustentam que conversaram com os filhos sobre estes te-
mas. Vale notar que mais de 4/5 dos pais, no todo, afirmaram
ter conversado com os filhos sobre tais assuntos; porém, os
percentuais dos que foram convidados para aquelas ativida-
des, sistematicamente, superam os demais.
43
É importante ter claro que as Tabelas 70, 71, 72 e 73 têm como variável
independente o convite da escola aos pais para alguma atividade de preven-
ção às DST/Aids e/ou ao uso indevido de drogas. Ou seja, não significa
necessariamente que os pais que informaram ter sido convidados efetiva-
mente compareceram, mas apenas que a escola ofereceu tais atividades e
abriu a participação aos pais.
214
Tabela 71 Pais de alunos, por capitais das UF e por convite para atividades de prevenção de DST/
Aids nas escolas, segundo orientação aos filhos sobre DST/Aids, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
215
A regularidade desta relação entre as variáveis se repete quan-
do se trata da recomendação dos pais, aos seus filhos, de que usem o
preservativo nas relações sexuais. Como mostra a Tabela 72, entre
os que foram convidados pela escola a participar das atividades de
prevenção são mais elevados os percentuais dos que afirmaram ter
feito essa recomendação aos seus filhos. A associação constatada
se mantém em dez das catorze capitais onde foi efetuada a pesquisa
e não deixa dúvidas acerca do impacto, sobre os pais, das iniciativas
das escolas.
Finalmente, como mostra a Tabela 73, a própria atitude dos pais
de alunos quanto ao polêmico tema da distribuição de preservativos
aos alunos nas escolas é afetada pela iniciativa da escola de convidar
os pais para participarem das atividades de prevenção de DST/Aids
e uso indevido de drogas. Os dados mostram claramente que, em seis
das capitais onde se realizou o estudo, os pais que foram convidados
são, proporcionalmente, mais favoráveis à distribuição dos preserva-
tivos aos alunos do que os que não o foram.
Estes dados sugerem que, ao procurar envolver os pais nas ati-
vidades de prevenção, as escolas acabam provocando mudanças nas
atitudes e comportamentos deles próprios e reforçando os impactos
das atividades de prevenção junto aos alunos.
4.3 O Impacto sobre os Professores
Naturalmente, de maneira distinta daquela observada entre pais
e alunos, o impacto das ações de prevenção sobre os professores
podem ser mais observadas na esfera da informação, do que dos
seus comportamentos que não foram focalizados nesta pesquisa.
Na realidade, examinar o impacto dessas ações sobre os professores
significa, de fato, analisar as conseqüências dos esforços de capaci-
tação sobre as suas informações acerca dos temas de sexualidade e
saúde sexual e reprodutiva. que se considerar, porém, que quando
se trata de avaliar impacto sobre a informação (de professores, de
alunos e de pais) sempre uma significativa faixa de imprecisão,
que é difícil isolar os efeitos cruzados de outras fontes de co nheci-
mento, alheias às ações de prevenção.
216
Tabela 72 Pais de alunos, por capitais das UF e por convite para atividades de prevenção de DST/
Aids nas escolas, segundo recomendação do uso do preservativo aos filhos, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
217
Tabela 73 Pais de alunos, por capitais das UF e por convite para atividades de prevenção de DST/
Aids nas escolas, segundo atitude quanto à distribuição de preservativos aos alunos nas
escolas, 2000 (%)
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: “Qual a sua opinião sobre a distribuição de preservativos aos alunos nas escolas?(Marque todas as que considerar verdadeiras)”. Trata-se de uma pergunta de
múltipla escolha, na qual a posição favorável ou contrária é qualificada, estando associada com diversas razões alternativas. Na Tabela, a categoria “Favoráveis” corresponde
à soma de todos os que assim se posicionaram por quaisquer razões. “Contrários” corresponde aos que não marcaram qualquer das razões alternativas para serem favoráveis.
218
Ao cruzar a participação em cursos para atuar na prevenção
de DST/Aids e uso indevido de drogas com a auto-avaliação que
fazem os professores quanto à suficiência da sua informação sobre
esses temas observa-se, em treze das capitais, que entre aqueles
que participaram desses cursos, são mais freqüentes os que decla-
ram ter informação suficiente sobre os temas em foco do que entre
os demais (Tabela 74).
No entanto, ao analisar mais detalhadamente a Tabela 74, ob-
serva-se que o impacto sobre a suficiência da informação dos pro-
fessores a respeito dos temas abordados difere muito entre as capi-
tais. Nota-se, por exemplo que, em Goiânia, o impacto se traduz numa
diferença de 26 pontos percentuais a favor dos professores que
participaram de algum curso, em São Paulo são 18 pontos e em Vitó-
ria 17 pontos; no Distrito Federal, esses mesmos professores apre-
sentam apenas 5 pontos percentuais de vantagem em relação aos
que não participaram de nenhum curso, e em Salvador, Belém e Flo-
rianópolis. a diferença é de 7 pontos.
4.3.1 As Percepções de Professores e Diretores quanto aos
Impactos das Ações de Prevenção
4.3.1.1 Pouco ou Nenhum Impacto
Na opinião de alguns professores e diretores, as ações gover-
namentais de prevenção direcionada aos jovens, de modo geral, pos-
suem pouca repercussão sobre o comportamento e atitudes desses:
Para mim influencia pouco, assim como todo tipo
de informação que eles vêem sobre preconceito,
sobre racismo. (Grupo focal de professores, escola
estadual, Goiânia)
Eles reagem bem, mas eu acho que não está satis-
fatório porque se tivesse tido o efeito, digamos as-
sim de 80%, o número de adolescentes grávidas não
tinha crescido. (Entrevista Diretora, escola estadual,
Salvador)
219
Tabela 74 Professores, por capitais das UF e por realização de curso de capacitação para atuar na
prevenção de DST/Aids, segundo auto-avaliação da informação sobre temas de saúde sexual
e reprodutiva, 2000 (%)*
Fonte: Avaliação das Ações de Prevenção de DST/Aids e Uso Indevido de Drogas nas Escolas, UNESCO, UN ODCCP, UNAIDS, USAID, CN-DST/Aids, 2001.
(*) Indagou-se: Entre os assuntos abaixo, diga sobre quais você tem conhecimento suficiente: doenças sexualmente transmissíveis; gravidez e controle de natalidade; sexo
vaginal; sexo anal; sexo oral; masturbação; aborto; homossexualismo. Os que marcaram de zero a 3 itens foram incluídos na categoria “Informação insuficiente”; os que
marcaram de4a8itens foram incluídos na categoria “Informação suficiente”.
220
Eu não sei, não sei se as campanhas governamen-
tais nesse sentido atingiram o necessário para sen-
sibilizar o jovem. Na realidade, quando eu conver-
so e não são poucas as vezes que eu converso
com eles a respeito eu vejo que eles usam a cami-
sinha na primeira relação então, às vezes na segun-
da, depois não usam mais. (Entrevista Diretora, esco-
la municipal, Rio de Janeiro)
Alguns diretores se mostraram pessimistas quanto aos im-
pactos reais das atividades, embora reconheçam que os alunos as
apreciam: Então, essa mudança de atitude é mais complicada.
Agora, a gente inserir essa necessidade deles usarem preser-
vativo, deles evitarem gravidez, é a coisa mais difícil. (Entre-
vista Vice-Diretora, escola estadual, Salvador)
4.3.1.2 Impacto Positivo
Não obstante, outros diretores possuem uma visão positiva
dos impactos das ações de prevenção sobre os jovens:
Nós vemos claramente nos estudantes essa desco-
berta. Eles ficam tentando descobrir, tentando en-
tender e comentam, ficam questionando. Quer dizer,
a gente percebe quando o assunto está sendo discu-
tido entre eles. Quer dizer que então surte realmen-
te efeito. (Entrevista Diretor, escola estadual, Cuiabá)
Na própria exposição dos conteúdos na sala de
aula, os professores, na medida do possível, vão in-
troduzindo o que eles chamam de temas transver-
sais. É justamente essa questão da família, das dro-
gas, da sexualidade. Então isso também está sendo
incutido na sala de aula aqui dentro da escola. Esse
nosso programa tem surtido um certo efeito. (Entre-
vista Diretor, escola estadual, Fortaleza)
221
Eu acho que acaba mudando, eles agem de maneira
diferente. (Entrevista Diretora, escola municipal, Porto
Alegre)
4.3.1.3 A Imprevisibilidade e a Complexidade dos Impactos
Alguns diretores ressaltaram a existência de diferentes for-
mas de reação, por parte dos jovens, às atividades desenvolvidas
nas escolas: Para muitos, como eu disse, tem o resultado pre-
ventivo. Agora, para outros, a gente pode até estar traba-
lhando o contrário, e infelizmente a gente não tem como pre-
ver. É arriscar e tentar fazer com que a maioria. (Entrevista
Diretora, escola pública, Distrito Federal)
É importante frisar o depoimento de um diretor que utiliza
essa diferença de reação dos jovens às atividades de prevenção
para aumentar as reações positivas, colocando os jovens mais
sujeitos à mudança de comportamento para trabalhar com aque-
les mais resistentes:
Alguns alunos reagem com apoio, e uma certa
quantidade que reage com indiferença, e uma outra
que reage com rejeição. Então nós procuramos pe-
gar o pessoal que apoio, para nós revertermos
os outros dois, o da indiferençaeodarejeição.
Então nós procuramos trabalhar mais com os alu-
nos que se mostram propensos a rejeitarem as ativi-
dades. (Entrevista Diretor, escola estadual, Vitória)
Outros diretores lembraram que o efeito depende da capaci-
dade do transmissor da informação, da adequação da informação
e do material e da forma como são estruturadas as atividades:
Se essas atividades foram feitas por pessoas que re-
almente têm facilidade de transmitir, que tratam bem
dessa questão, que têm feito uma boa capacitação,
ela terá muito efeito. Aqueles jovens que participa-
ram das atividades, eles vão aos poucos se consci-
222
entizando dos males que podem trazer e vão difun-
dindo essas idéias com os colegas, com os vizinhos,
com os parentes. Então, no nosso caso aqui, a gente
considera que têm sido muito proveitosas essas ativi-
dades. (Entrevista Diretor, escola estadual, Fortaleza)
Ainda outros diretores alertam para o fato de que atualmen-
te o aluno é de tal forma bombardeado por informações, que a
escola precisa responder com um tratamento diferenciado; caso
contrário, os impactos serão diminutos:
Sempre fica a impressão, para os alunos, de que isso é
bobagem. Eles não absorvem como deveriam absor-
ver, porque ficam normalmente achando que as pesso-
as nunca estão falando a verdade sobre isso. Então
eles têm uma gana de informação muito maior do que
a escola acha que eles têm.E nós chegamos muito pu-
dicos perante eles para falar desses assuntos. Na ver-
dade, o conhecimento deles está muito acima daquilo
que a gente acha que eles sabem. Eu acho que a esco-
la também tem que encarar essas coisas com mais aber-
tura, ela tem que chegar mais claramente. Eu vejo as-
sim, tem que ter palestra, mas a gente precisa estar
chegando mais perto daquilo queéorealpara o alu-
no, que está com todas as informações. E depois da
Internet, então, meu Deus do céu, é que a violência
dessas informações, a multiplicidade de informações
ficou muito maior, muito ágil. (Entrevista Diretora, es-
cola particular, Maceió)
Essas manifestações apontam para o fato de que não ape-
nas existem diferenças objetivas quanto aos impactos entre as
capitais nas quais se realizou o estudo. Além disso, os atores en-
volvidos e os contextos que situam as ações de prevenção apre-
sentam especificidades que requerem o esforço de pensar estra-
tegicamente formas de abordagem, conteúdos, atividades, mate-
riais, processos diversos, a fim de efetivamente atingir os objeti-
vos pretendidos e maximizar os benefícios a serem auferidos.
223
A avaliação das ações de prevenção de DST/Aids e de uso
indevido de drogas, realizadas no ambiente escolar em catorze
capitais brasileiras traz algumas conclusões inequívocas.
Em primeiro lugar, a despeito das críticas cabíveis, foi leva-
do a efeito um amplo e diversificado leque de ações, envolvendo
em maior ou menor proporção diretores, orientadores educa-
cionais, coordenadores de ensino, professores, pais e alunos.
Em segundo lugar, mas não menos importante, as ações efe-
tuadas exibem efetivo impacto sobre seus beneficiários diretos:
os alunos e seus pais. No que diz respeito aos primeiros, por meio
do cruzamento de algumas variáveis é possível constatar que a
exposição às ações de prevençã o e a intensidade desta exposição
produzem significativos impactos, especialmente na esfera dos
comportamentos e atitudes. Isso ocorre principalmente entre os
alunos com vida sexual ativa (entre 31% e 50% dos alunos, con-
forme as capitais), mas também quando são focalizados os alunos
que ainda não iniciaram vida sexual ativa.
Os impactos se evidenciam objetivamente nos comporta-
mentos relativos a: (i) compartilhamento de seringas ao consu-
mir drogas; (ii) auto-contenção sexual com a limitação do nú-
mero de parceiros e menor propensão às relações sexuais com
profissionais do sexo e/ou com parceiros eventuais; (iii) maior
disposição ao uso do preservativo. Também se verificam im-
pactos quanto a importantes atitudes que contribuem para a re-
dução da vulnerabilidade: (i) associação entre a prática do sexo
e a paixão amorosa; (ii) atribuição de importância à virgindade;
(iii) propensão ao uso do preservativo caso esteja disponível na
ocasião da relação sexual.
Conclusões e Recomendações
5.
224
Quanto aos pais, também se constatam relevantes impactos:
(i) no nível de informação sobre temas ligados à sexualidade e à
saúde sexual e reprodutiva; (ii) na disposição para conversar com
os filhos sobre os temas da sexualidade, DST/Aids e uso indevido
de drogas; (iii) no aconselhamento, aos filhos, de que usem o pre-
servativo nas relações sexuais; (iv) na atitude quanto à distribui-
ção de preservativos aos alunos nas escolas.
Finalmente, também quanto aos professores, constata-se a
ocorrência de impacto das ações de capacitação sobre a sufici-
ência da sua informação acerca dos temas ligados à sexualidade
e à saúde sexual e reprodutiva.
Apesar desses impactos indiscutivelmente positivos, os da-
dos também mostram que as ações de prevenção de DST/Aids e
de uso indevido de drogas podem obter expressivos e indispensá-
veis ganhos de eficiência e eficácia, especialmente sob o ponto
de vista do processo. Chama a atenção, em primeiro lugar, a ab-
soluta ausência de uma concepção de gestão das ações, bem como
a fragilidade na esfera da institucionalização das ações e das par-
cerias que as sustentam. Em segundo lugar, cuidados especiais
parecem ser necessários: (i) na oferta e distribuição do material
para o desenvolvimento das atividades; (ii) na oferta de capacita-
ção; (iii) na concepção de multiplicadores e sua relação custo-
benefício; e (iv) no monitoramento das ações, inclusive sob a pers-
pectiva da sua qualidade.
Os dados sugerem que uma das formas mais eficazes de
conter o avanço das DST, das infecções por HIV e do uso inde-
vido de drogas são esforços amplos, consistentes e permanentes
de formação de atitudes e comportamentos seguros entre os ado-
lescentes e jovens. Nesse esforço junto a uma população poten-
cialmente mais vulnerável, num país de dimensões continentais e
dotado de acentuada diversidade cultural, todas as instituições de-
vem ser envolvidas, com especial destaque para as escolas.
De fato, as escolas representam um espaço onde, por um
lado, os jovens se reúnem, estabelecem e compartilham códigos
225
de comportamento, iniciam namoros e desenvolvem relacionamen-
tos amorosos. Por outro lado, é onde recebem informação, onde
podem contar com a possibilidade de tratamento esclarecido e
sem preconceitos de temas delicados como a sexualidade, onde
podem expressar suas dúvidas com menor constrangimento em
espaços coletivos. Por tudo isso, as escolas representam uma via
privilegiada para os esforços de prevenção de DST/Aids e de uso
indevido de drogas. A fim de contribuir para o melhor aproveita-
mento deste potencial, seguem-se algumas recomendações:
Quanto às atividades:
Desenvolver atividades que esclareçam as diferentes formas
do uso de drogas lícitas e ilícitas, levando os jovens a uma
reflexão acerca dos riscos, sob uma perspectiva preventiva.
Ampliar o tratamento dos temas, incluindo auto-estima, afeti-
vidade, prazer, etc.
Utilizar novas linguagens concursos, festivais, teatro, músi-
ca, dança, cultura em geral para atrair os jovens.
Oferecer palestras de maneira planejada e sistematizada, sob
a forma de ciclos de palestras, que envolva todos os alunos
das escolas.
Quanto à capacitação:
Desenvolver projetos sistemáticos de Educação à Distância,
com o acompanhamento necessário.
Repensar a estratégia de multiplicadores.
Ampliar as capacitações para os professores da mais diversas
áreas do conhecimento para dar conta da complexidade do tema,
não deixando somente nas mãos dos professores de Ciências.
Propiciar a um número maior de escolas capacitação mais
ampla, periódica e aprofundada.
226
Quanto ao material:
Tornar mais eficaz o processo de distribuição do material didático.
Quanto aos beneficiários:
Dar especial atenção aos alunos dos cursos noturnos e do en-
sino médio.
Incorporar os pais ao diálogo sobre os temas, envolvendo-os
em atividades tanto para dividir as informações quanto para
vencer as resistências existentes.
Quanto às parcerias:
Consolidar as parcerias entre o MEC, CONSED, UNDIME e
o Ministério da Saúde.
Fortalecer as parcerias e estabelecer, como requisito para a
celebração dos convênios, o compromisso dos estados e dos
municípios no desenvolvimento das ações de prevenção.
Envolver, no planejamento das ações, instâncias integradoras
como os Conselhos Estaduais e Municipais, de forma a contri-
buir para evitar a pulverização das atividades.
Envolver as entidades comunitárias, chamando a atenção para
o desafio coletivo representado pela prevenção de DST/Aids
e de uso indevido de drogas.
Aprofundar as parcerias existentes nos estados entre Secre-
tarias de Educação, de Saúde, Ação Social, Segurança, Uni-
versidades, etc.
Ampliar as parcerias com as escolas particulares.
Quanto à institucionalização das ações:
Construir um projeto mínimo de gestão das ações de preven-
ção de DST/Aids e de uso indevido de drogas nas escolas.
227
Estabelecer, como condição para celebração dos convênios do
Projeto Escolas, a inclusão das ações nos projetos político-
pedagógicos das Secretarias Estaduais de Educação.
Estabelecer, como condição para as escolas serem incluídas
no Projeto Escolas, a inclusão das ações nos seus projetos
político-pedagógicos.
Estabelecer, com maior precisão, os objetivos, metas e proce-
dimentos para as ações, a fim de que possam ser monitoradas
e avaliadas.
Quanto ao monitoramento e avaliação das ações:
Instituir procedimentos de monitoramento do uso do material.
Realizar uma avaliação sobre a produção e o uso do material
didático, visando uma melhor adaptação à realidade dos alu-
nos.
Realizar estudos de casos das escolas nas quais as ações de-
senvolvidas “deram certo”, a fim de servir de modelo para
outros trabalhos.
A partir das percepções dos professores, diretores, alunos e
pais, examinar as causas pelas quais alguns estados apresen-
tam resultados e impactos tão diferenciados.
Realizar acompanhamento in loco, nas salas de aula, a fim de
aprofundar o conhecimento sobre as ações de prevenção rea-
lizadas nas escolas.
São apresentadas, a seguir, diversas recomendações tam-
bém voltadas para a busca da eficácia neste trabalho, propostas
tanto pelos alunos, como pelos seus pais, professores, diretores
das escolas e outros.
228
5.1 Recomendações de Diretores e Professores
5.1.1 Atividades
Intensificar as atividades nas escolas, por intermédio de pes-
quisa didática, distribuição de livros, confecção de cartazes.
Trazer profissionais que se dedicam a essa área para dar pa-
lestras dentro da escola.
Tornar as atividades sobre DST/AIDS sistemáticas e continu-
adas, aumentando a freqüência com que são realizadas.
Destinar aulas para discutir os temas cotidianos dos jovens:
drogas, sexo, violência, com uma programação e sobre a auto-
rização dos diretores.
Variar os tipos de atividades, desde palestras, minicursos, se-
minários, gincanas, vídeos, até oficinas e peças de teatro.
Incentivar mais os alunos a participarem das atividades.
Acabar com a ociosidade do aluno, mantendo-o sempre ocu-
pado em diferentes atividades dentro e fora da escola.
Complementar as atividades desenvolvidas na escola, por meio
de leituras em revistas especializadas, pesquisas na Internet e
discussões.
Proporcionar palestras e atividades de prevenção que focali-
zem especificamente as mães.
5.1.2 Capacitação
Capacitar os profissionais de ensino por meio de oficinas de
artes, de jogos e trabalhos de conscientização com textos, re-
vistas, filmes.
Formar grupos de professores para participar constantemen-
te de palestras com pessoas qualificadas, como médicos e
enfermeiros.
229
Contactar profissionais da área de saúde, como médicos, psi-
cólogos, universitários e enfermeiros, para transmitir informa-
ções concernentes ao tema.
Capacitar professores e diretores para que se tornem multipli-
cadores de informação.
Avançar com a capacitação do simples conhecimento técnico
para uma abordagem mais subjetiva, envolvendo temas como
amor.
Realizar capacitação periódica e contínua.
Melhorar a qualidade nos cursos de capacitação.
Incorporar os diretores na capacitação.
Incorporar todos os professores das escolas nas capacitações.
5.1.3 Parcerias
Exigir maior atuação dos estados e municípios na capacitação,
promoção de atividades, distribuição de materiais e apoio às
escolas.
Fortalecer as parceiras existentes com as Secretarias Esta-
duais e Municipais de Saúde e Educação, corporações polici-
ais e hospitais.
Criar parcerias permanentes com as universidades.
Fomentar novas parcerias com ONG e outras instituições da
sociedade civil ligadas ao tema.
Viabilizar o intercâmbio entre a escola e as casas de apoio aos
portadores do vírus HIV.
Ampliar os investimentos nas escolas de forma a garantir a
realização dos programas.
Oficializar um Programa com as escolas particulares.
230
5.1.4 Material
Aumentar a quantidade de material disponível para as escolas.
Melhorar a qualidade do material.
Atender prioritariamente à população mais carente.
5.1.5 Escola
Incorporar ao currículo escolar o tema da sexualidade.
Criar uma disciplina específica sobre sexualidade com um pro-
fessor especializado na área.
Realizar um trabalho com as famílias, para que não se opo-
nham ao programa.
Ampliar o contato entre os alunos e pessoas que vivenciam
problemas com DST, drogas, pessoas portadoras do vírus da
Aids e pessoas que trabalham com projetos ligados ao tema.
Criar, dentro da escola, um setor destinado a cuidar da questão
da sexualidade, ligado ao serviço de orientação educacional.
Ampliar o contato entre professores, alunos, pais e a escola.
Ampliar o debate dentro da escola e dentro de toda a comuni-
dade.
Procurar fazer da escola um local mais aberto, uma escola
mais fluida, onde se possa conviver com esse tipo de discus-
são de forma também mais prazerosa.
Incentivar a presença dos pais nas escolas sempre promoven-
do reuniões com os pais.
Conscientizar pais, alunos e professores da função educativa da
escola, especialmente com relação a temas como sexualidade.
Assumir um compromisso de ampliar o papel e responsabilida-
des das escolas na participação ao combate da Aids.
231
5.1.6 Família
Ampliar o diálogo em casa entre os jovens e os pais, pois,
geralmente, eles não têm abertura para conversar sobre esses
temas.
Conscientizar os pais da importância de transmitir este tipo de
informação para os filhos, que eles se constituem como a
fonte primária de informações, e, apesar do pouco tempo den-
tro de casa, eles podem suprir esta ausência em termos de
qualidade no relacionamento com os filhos.
Fazer com que a família participe mais da vida escolar dos
filhos.
Desmistificar o preconceito de gênero, segundo o qual o pai
conversa com o filho e a mãe com a filha.
5.1.7 Institucionalidade
Ampliar o assessoramento das Secretarias de Saúde e Educa-
ção, fazendo trabalhos paralelos na escola.
Rever o papel das Secretarias de Educação e Saúde, a fim de
obter maior eficácia nas ações.
Criar um programa que repense toda a prática pedagógica para
orientar os professores, de como trabalhar de forma mais ade-
quada.
Conscientizar os parceiros para que tomem a iniciativa de pro-
curar as escolas.
Ampliar as campanhas governamentais, não apenas nas épo-
cas de festividades, como ocorre no carnaval.
232
5.2 Recomendações de Pais e Alunos
5.2.1 Atividades
Investir em atividades mais diversificadas, específicas, regu-
lares e participativas, como aulas de educação sexual, vídeos,
palestras, debates, feira de ciências, jogos, campanhas, sema-
na de atividades temáticas.
Criar uma matéria específica e obrigatória sobre o tema.
Desenvolver atividades específicas e regulares desde o ensino
fundamental até o ensino médio, com o acompanhamento de
especialistas, como ginecologistas e psicólogos de acordo com
o grau de maturidade dos alunos.
Convidar especialistas para orientar as atividades na escola,
como ginecologistas e psicólogos.
Incluir no currículo das matérias regulares, como ciências, por-
tuguês, matemática, atividades práticas e teóricas sobre temas
da atualidade, como doenças sexualmente transmissíveis, gra-
videz e aborto.
Informar a família sobre as atividades desenvolvidas nas es-
colas sobre o tema.
Mudar a metodologia das atividades para a utilização da infor-
mação sobre o tema em questões como métodos preventivos.
Promover informações de valorização da sexualidade que com-
batam a banalização promovida por meios de comunicação.
5.2.2 Capacitação
Capacitar os professores para orientar os alunos sobre questões
como doenças sexualmente transmissíveis, gravidez, aborto, as-
sistência médica, relações afetivas e métodos preventivos.
Contratar professores capacitados para atividades específicas
e regulares sobre o tema.
233
5.2.3 Material
Ter atividades com material variado, como slides , vídeos e fo-
lhetos informativos.
Inserir, nos livros, matérias e atividades práticas sobre temas
atuais e úteis, como doenças sexualmente transmissíveis, gra-
videz, aborto e doenças sexualmente transmissíveis.
Distribuir camisinhas, além do material informativo.
5.2.4 Institucionalidade
Estruturar e continuar o programa de acordo com as necessi-
dades das escolas.
Prestar assistência médica e psicológica individualizada e regular
na escola, como consultórios de ginecologia ou de urologia.
Ampliar o programa para toda a sociedade, por intermédio da
mídia mais acessível a todas as classes sociais, como progra-
mas de televisão específicos ou diversificados sobre AIDS,
DST, drogas e outras doenças.
Ampliar as atividades do programa para toda a comunidade,
com palestras ou outros meios.
Pedir à Secretaria de Saúde aulas de educação sexual na escola.
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AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome
AL Alagoas
AM Amazonas
APM Associação de Pais e Mestres
B A Bahia
BIRD Banco Internacional para Reconstrução e
Desenvolvimento
CE Ceará
CEBRID Centro Brasileiro de Informações sobre
Drogas Psicotrópicas
CN-DST/Aids Coordenação Nacional de DST/Aids
CONEN Conselho Nacional de Entorpecentes
CONSED Conselho Nacional de Secretários de
Educação
DARE Drug Abuse Resistance Education
DF Distrito Federal
DS T Doença Sexualmente Transmissível
E AD Ensino à Distância
ES Espírito Santo
G A PA Grupo de Apoio e Prevenção à Aids
GO Goiás
GTPOS Grupo de Trabalho e Pesquisa em Orientação
Sexual
IE S Instituição de Ensino Superior
Lista de Siglas
240
INEP Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais
ISER Instituto de Estudos da Religião
ME C Ministério da Educação
MJ Ministério da Justiça
M PAS Ministério da Previdência e Assistência
Social
MT Mato Grosso
ON G Organização Não-Governamental
PA Pará
P E Pernambuco
PREPAVI Preservação do Patrimônio e da Vida
PROERD Programa Educacional de Resistência às
Drogas e à Violência
RJ Rio de Janeiro
RS Rio Grande do Sul
SC Santa Catarina
SEE Secretaria Estadual de Educação
SES Secretaria Estadual de Saúde
SP São Paulo
SU S Sistema Único de Saúde
UF Unidade da Federação
UN ODCCP Escritório das Nações Unidas para Controle
de Drogas e Prevenção ao Crime
UNAIDS Programa Conjunto das Nações Unidas para
HIV/Aids
UNDIME União Nacional dos Dirigentes de Educação
241
UNESCO Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura
UNIPOP Instituto Universidade Popular
USAID Agência Norte-Americana para o
Desenvolvimento Internacional
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a Infância
242
TABELA NOME PÁGINA
Tabela 1 Instrumentos qualitativos segundo as capitais
das UF onde foi efetuada a pesquisa 19
Tabela 2 Distribuição amostral das escolas por capitais
das UF, segundo a dependência administrativa 21
Tabela 2.1 Estabelecimentos de ensino nos municípios-sede
das capitais das UF, por níveis de ensino e por
dependência administrativa das escolas, em 1998 22
Tabela 2.2 Questionários respondidos por alunos, professores
e pais nas capitais das UF 23
Tabela 3 Questionários respondidos pelos alunos nas
capitais das UF, por dependência administrativa
das escolas e turnos de estudo 25
Tabela 3.1 Alunos matriculados x questionários respondidos,
por nível de ensino nos municípios-sede das
capitais das UF, 2000 26
Tabela 4 Questionários respondidos pelos pais de alunos
nas capitais das UF, por dependência
administrativa das escolas 27
Tabela 5 Questionários respondidos pelos professores das
escolas nas capitais das UF, por dependência
administrativa das escolas 28
Tabela 6 Projeto Escolas, por região, segundo o ano de
assinatura do termo de cooperação (números
absolutos), 2001 57
Lista de Tabelas
243
Tabela 7 Professores, por capitais das UF, segundo o
desenvolvimento pela escola (em 1999), de
trabalho sobre sexualidade e prevenção de
DST/Aids e Uso Indevido de Drogas, 2000(%) 68
Tabela 8 Professores, por capitais das UF, segundo
tratamento dado pela escola aos temas
DST/Aids e drogas, 2000 (%) 70
Tabela 9 Professores, por capitais das UF, segundo
parceiros da escola para o desenvolvimento
das atividades de prevenção de DST/Aids e
uso de drogas, 2000 (%) 72
Tabela 10 Professores, por capitais das UF, segundo instituição
que ofereceu o curso de formação/capacitação
para atuar naprevenção de DST/Aids e uso de
drogas, 2000 (%) 76
Tabela 11 Professores, por capitais das UF, segundo
realização de cursos de formação/capacitação
para atuar na prevenção de DST/Aids e uso
de drogas, 2000 (%) 83
Tabela 12 Professores, por capitais das UF, segundo cursos
de formação/capacitação realizados para atuar
na prevenção de DST/Aids e uso de drogas,
2000 (%) 86
Tabela 13 Professores, por capitais das UF, segundo
participantes do curso de formação/capacitação
para atuar na prevenção de DST/Aids e uso
de drogas, 2000 (%) 88
244
Tabela 14 Professores, por capitais das UF, segundo
características do curso de formação/
capacitação para atuar na prevenção
de DST/Aids e uso de drogas, 2000 (%) 92
Tabela 15 Professores, por capitais das UF, segundo
exposição à série “Prevenir é Sempre Melhor”,
2000 (%) 94
Tabela 16 Professores, por capitais das UF, segundo
avaliação da série “Prevenir é Sempre Melhor”,
2000 (%) 94
Tabela 17 Professores, por capitais das UF, segundo áreas
beneficiadas pela série “Prevenir é Sempre
Melhor”, 2000 (%) 95
Tabela 18 Professores, por capitais das UF, segundo
avaliação do curso de formação/capacitação
para atuar na prevenção de DST/Aids e uso
de drogas, 2000 (%) 97
Tabela 19 Professores, por capitais das UF, segundo
auto-avaliação da informação sobre os temas
de saúde sexual e reprodutiva, 2000 (%) 100
Tabela 20 Professores, por capitais das UF, segundo
correção das informações sobre as formas
de transmissão da Aids, 2000 (%) 101
Tabela 20.1 Professores, por capitais das UF, segundo
correção das informações sobre as formas
de prevenção da Aids, 2000 (%) 102
Tabela 21 Valores médios atribuídos pelos professores,
por capitais das UF, aos critérios de avaliação
dos cursos de capacitação/formação para
atuar na prevenção de DST/Aids e uso indevido
de drogas, 2000 103
245
Tabela 22 Professores, por capitais das UF, segundo
atividades desenvolvidas na escola para
prevenção de DST/Aids, 2000(%) 106
Tabela 23 Professores, por capitais das UF, segundo
atividades desenvolvidas na escola para
prevenção do uso de drogas, 2000 (%) 108
Tabela 24 Professores, por capitais das UF, segundo
conteúdos abordados nas atividades desenvolvidas
na escola para prevenção de DST/Aids e uso
de drogas, 2000 (%) 120
Tabela 25 Professores, por capitais das UF, segundo
público-alvo das atividades de prevenção
de DST/Aids e uso de drogas, 2000 (%) 121
Tabela 26 Professores, por capitais das UF, segundo
periodicidade das atividades desenvolvidas
na escola para prevenção de DST/Aids e uso
de drogas, 2000 (%) 123
Tabela 27 Professores, por dependência administrativa das
escolas, segundo práticas relativas à prevenção
de DST/Aids e uso de drogas, 2000 (%) 124
Tabela 28 Professores, por capitais das UF, segundo
material disponível para desenvolver as atividades
de prevenção de DST/Aids e uso de drogas,
2000 (%) 127
Tabela 29 Professores, por capitais das UF, segundo
material específico com o qual tiveram contato
para desenvolvimento das atividades de
prevenção de DST/Aids e uso de drogas,
2000 (%) 134
246
Tabela 30 Professores, por capitais das UF, segundo
distribuição de preservativo masculino (camisinha)
nas atividades pedagógicas sobre prevenção de
DST/Aids, 2000 (%) 136
Tabela 31 Professores, por capitais das UF, segundo opinião
sobre a distribuição de preservativos na escola,
2000 (%) 137
Tabela 32 Mensagens escritas no quadro de aviso das
escolas visitadas, por dependência administrativa
das escolas, 2000 (%) 138
Tabela 33 Alunos, por capitais das UF, segundo sexo e
faixa etária, 2000 (%) 140
Tabela 34 Pais, por capitais das UF, segundo sexo, 2000 (%) 140
Tabela 35 Alunos, por capitais das UF, segundo atividade
sexual por faixa etária, 2000 (%) 141
Tabela 36 Alunos, por capitais das UF, segundo sexo e
atividade sexual, 2000 (%) 143
Tabela 37 Idade média da primeira relação sexual, por
capitais das UF, segundo o sexo dos alunos,
2000 143
Tabela 38 Alunos, por capitais das UF, segundo uso de
drogas lícitas (tabaco e bebidas alcoólicas,
2000 (%) 145
Tabela 39 Alunos, por capitais das UF, segundo uso de
drogas ilícitas, 2000 (%) 146
Tabela 40 Alunos, por capitais das UF, segundo idade
média do primeiro contato com drogas lícitas
e ilícitas, 2000 (em anos) 146
247
Tabela 41 Alunos, por capitais das UF, segundo uso de
drogas injetáveis, 2000 (%) 148
Tabela 42 Alunos que usam ou usaram drogas injetáveis,
por capitais das UF, segundo compartilhamento
da seringa ao consumir drogas injetáveis,
2000 (%) 150
Tabela 43 Pais, por capitais das UF, segundo auto-avaliação
da informação sobre temas da saúde sexual e
reprodutiva, 2000 (%) 151
Tabela 44 Alunos, por capitais das UF, segundo correção
das informações sobre as formas de transmissão
da Aids, 2000 (%) 152
Tabela 44.1 Alunos, por capitais das UF, segundo correção
das informações sobre as formas de prevenção
da Aids, 2000 (%) 153
Tabela 45 Alunos, por capitais das UF, segundo pessoas que
mais os informaram sobre sexo, DST/Aids e
drogas, 2000 (%) 156
Tabela 46 Alunos, por capitais das UF, segundo o número
de temas das atividades de prevenção
oferecidas pelas escolas, 2000 (%) 157
Tabela 47 Alunos, por capitais das UF, segundo temas das
atividades de prevenção oferecidas pelas escolas,
2000 (%) 159
Tabela 48 Pais de alunos, por capitais das UF, segundo
oferta de atividades, pela escola, sobre a
prevenção de DST/ Aids e uso indevido de
drogas, 2000(%) 161
248
Tabela 49 Alunos, por capitais das UF, segundo
encarregados de falar sobre drogas nas
escolas, 2000 (%) 171
Tabela 50 Alunos, por capitais das UF, segundo
encarregados de falar sobre DST/Aids nas
escolas, 2000 (%) 171
Tabela 51 Alunos, por capitais das UF, segundo
periodicidade das atividades sobre DST/Aids
realizadas na escola , 2000 (%) 173
Tabela 52 Alunos, por capitais das UF, segundo
intensidade da exposição às atividades sobre
DST/Aids realizadas na escola , 2000 (%) 174
Tabela 53 Alunos, por capitais das UF, segundo opinião
quanto às atividades sobre DST/Aids
realizadas na escola, 2000 (%) 175
Tabela 54 Professores, por capitais das UF, segundo
estimativa do impacto, sobre os alunos, das
atividades de prevenção de DST/Aids e uso
indevido de drogas, 2000 (%) 184
Tabela 55 Alunos, por capitais das UF, segundo
auto-percepção do impacto das atividades
oferecidas pela escola, sobre o comportamento
quanto ao sexo, à Aids ou às DST, 2000 (%) 188
Tabela 56 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF, segundo auto-percepção da mudança
no seu comportamento sexual devido à
intensidade da exposição às atividades de
prevenção, 2000 (%) 189
Tabela 57 Alunos sem vida sexual ativa, por capitais
das UF, segundo auto-percepção da mudança
no seu comportamento sexual devido à
intensidade da exposição às atividades de
prevenção, 2000 (%) 190
249
Tabela 58 Alunos com vida sexual ativa, consumidores de
drogas injetáveis, por capitais das UF e por
indicação das escolas que ofereceram atividades
de prevenção de DST/Aids, segundo
compartilhamento das seringas no uso de drogas,
em 2000 (%) 196
Tabela 59 Alunos sem vida sexual ativa, consumidores
de drogas injetáveis, por capitais das UF e por
opinião sobre a cura da Aids, segundo
compartilhamento de seringas no uso de drogas
injetáveis, 2000 (%) 197
Tabela 60 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF e por exposição às ações de prevenção
de DST/Aids nas escolas, segundo número de
parceiros sexuais no último ano, 2000 (%) 198
Tabela 61 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF e por intensidade da exposição às
atividades de prevenção de DST/Aids nas
escolas, segundo prática de sexo com pessoas
pouco conhecidas, 2000 (%) 200
Tabela 62 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF e por intensidade da exposição às
atividades de prevenção de DST/Aids nas
escolas, segundo prática de sexo com
profissionais do sexo, 2000 (%) 201
Tabela 63 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF e por exposição às atividades de
prevenção de DST/Aids nas escolas, segundo
freqüência do uso do preservativo no último
ano, 2000 (%) 202
250
Tabela 64 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF e por intensidade da exposição às
atividades de prevenção às DST/Aids nas
escolas, segundo freqüência do uso do
preservativo no último ano, 2000 (%) 203
Tabela 65 Alunos sem vida sexual ativa, por capitais
das UF e por exposição às atividades de
prevenção de DST/Aids na escola, segundo
atitude quanto à relação entre paixão e sexo,
2000 (%) 206
Tabela 66 Alunos sem vida sexual ativa, por capitais
das UF e por intensidade da exposição às
ações deprevenção de DST/Aids, segundo
importância da virgindade, 2000 (%) 207
Tabela 67 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF e por exposição às atividades de
prevenção de DST/Aids nas escolas, segundo
disposição para usar o preservativo, caso
o tenham disponível no momento da relação
sexual, 2000 (%) 208
Tabela 68 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF e por exposição às atividades de
prevenção de DST/Aids nas escolas,
segundo crença na fidelidade do(a)
parceiro(a), 2000 (%) 209
Tabela 69 Alunos com vida sexual ativa, por capitais
das UF, segundo exposição às ações de
prevenção de DST/Aids e índice de
vulnerabilidade às DST/Aids e ao uso
indevido de drogas, 2000, (%) 210
251
Tabela 70 Pais, por capitais das UF, segundo convite da
escola para participar de atividades de prevenção
e auto-avaliação da informação sobre temas
de saúde sexual e reprodutiva, 2000 (%) 211
Tabela 71 Pais de alunos, por capitais das UF e por
convite para atividades de prevenção de
DST/Aids nas escolas, segundo orientação
aos filhos sobre DST/Aids, 2000 (%) 214
Tabela 72 Pais de alunos, por capitais das UF e por
convite para atividades de prevenção de
DST/Aids nas escolas, segundo recomendação
do uso do preservativo aos filhos, 2000 (%) 216
Tabela 73 Pais de alunos, por capitais das UF e por
convite para atividades de prevenção de
DST/Aids nas escolas, segundo atitude
quanto à distribuição de preservativos aos
alunos nas escolas, 2000 (%) 217
Tabela 74 Professores, por capitais das UF e por
realização de curso de capacitação para atuar
na prevenção de DST/Aids, segundo
auto-avaliação da informação sobre temas
de saúde sexual e reprodutiva, 2000 (%) 219
252
QUADRO NOME PÁGINA
Quadro 1 Projeto Escolas, segundo a instituição
executora e a existência de parcerias
(números absolutos), 2001. 56
Quadro 2 Projeto Escolas, por metas quanto a
escolas/municípios beneficiados, material
utilizado e institucionalização, segundo
as UF, 2001. 59
Quadro 3 Projeto Escolas, por atividades previstas
e realizadas, segundo as UF, 2001. 63
Quadro 4 E aí, o que a gente sabe? 90
Quadro 5 Professor Taxista. 99
Quadro 6 Falta de Periodicidade. 125
Quadro 7 Ensinando Saliência. 162
Lista de Quadros
253
PESQUISA NACIONAL “VIOLÊNCIA, AIDS E
DROGAS NAS ESCOLAS”
MANUAL DE ÉTICA DA PESQUISA
1 . Introdução
Considerando a complexidade e delicadeza das ques-
tões abordadas nesta pesquisa, bem como o envolvimento
de inúmeras instituições públicas, federais, estaduais e
municipais, bem como organizações não-governamentais,
a Unesco torna cientes todas as equipes locais dos princí-
pios éticos a serem observados em todas e quaisquer cir-
cunstâncias, sob a responsabilidade de cada Coordenação
Local, na pessoa do(s) seu(s) dirigente(s) ou do(s)
pesquisador(es) responsável(is), contratada para a execu-
ção do trabalho de campo.
2. Definição dos Termos
2.1 Pesquisa - classe de atividades cujo objetivo é desenvolver
ou contribuir para o conhecimento generalizável.
2.2 Pesquisa envolvendo seres humanos - pesquisa que, indivi-
dual ou coletivamente, envolva o ser humano, de forma di-
reta ou indireta, em sua totalidade ou partes dele, incluindo
o manejo de informações ou materiais.
Anexo
254
2.3 Pesquisador responsável - pessoa responsável pela coor-
denação e realização da pesquisa e pela integridade e bem-
estar dos sujeitos da pesquisa.
2.4 Instituição de pesquisa - organização, pública ou privada,
legitimamente constituída e habilitada, na qual são realiza-
das investigações científicas.
2.5 Promotor - indivíduo ou instituição responsável pela promo-
ção da pesquisa.
2.6 Patrocinador - pessoa física ou jurídica que apóia financei-
ramente a pesquisa.
2.7 Risco da pesquisa - possibilidade de danos à dimensão físi-
ca, psíquica, moral, intelectual, social, cultural ou espiritual
do ser humano, em qualquer fase de uma pesquisa e dela
decorrente.
2.8 Sujeito da pesquisa - é o(a) participante pesquisado(a), pes-
soas, grupos, instituições, considerados individual ou coleti-
vamente, aos quais é vedada qualquer forma de remunera-
ção pela participação.
2.9 Consentimento livre e esclarecido - concordância do sujei-
to da pesquisa e/ou de seu representante legal, livre de víci-
os (simulação, fraude ou erro), dependência, subordinação
ou intimidação, após explicação sobre a natureza da pes-
quisa, seus objetivos, métodos.
3. Imperativos Éticos:
Todos os pesquisadores participantes, sejam das equipes lo-
cais ou da equipe central, individual ou institucionalmente, deve-
rão observar as seguintes exigências:
a . obedecer a metodologia adequada, exposta no material ins-
trucional usado na capacitação para a pesquisa.
255
b. contar com o consentimento livre e esclarecido dos sujeitos
da pesquisa;
c . dispor dos recursos humanos e materiais necessários que
garantam o bem-estar dos sujeitos da pesquisa, devendo ain-
da haver adequação entre a competência dos pesquisadores
e a atividade proposta;
d. a garantia do anonimato e do sigilo que assegurem a privaci-
dade dos sujeitos quanto aos dados confidenciais envolvidos
na pesquisa;
e . acatar os procedimentos que assegurem a confidencialidade
e a privacidade, a proteção da imagem e a não-estigmatiza-
ção, garantindo a não-utilização das informações em prejuízo
das pessoas e/ou das comunidades, inclusive em termos de
auto-estima, de prestígio e/ou econômico-financeiro;
f. respeitar sempre os valores culturais, sociais, morais, religio-
sos e éticos, bem como os hábitos e costumes, quando as
pesquisas envolverem comunidades;
g. sob nenhuma circunstância valer-se das situações de pesqui-
sa para propaganda ou qualquer outra forma de dissemina-
ção de propostas comerciais, político-partidárias, religiosas,
ideológicas ou de expressão de interesses, convicções ou
valores de grupos específicos.
h. não interromper os trabalhos, a não ser após análise das ra-
zões da descontinuidade pelo Comitê de Ética que aprovou a
pesquisa. Considera-se eticamente inaceitável a interrupção
dos trabalhos de pesquisa sem razão de natureza superior,
expressa por instância competente.
3.1 O Consentimento Livre e Esclarecido:
O respeito devido à dignidade humana exige que toda pes-
quisa se processe após consentimento livre e esclarecido dos su-
jeitos, indivíduos ou grupos.
256
Exige-se que o esclarecimento dos sujeitos se faça em lin-
guagem acessível e que inclua necessariamente os seguintes as-
pectos:
a . o tema, os objetivos e os procedimentos;
b. a liberdade do sujeito se recusar a participar;
c . os procedimentos de confidencialidade;
d. os responsáveis individuais e institucionais pela pesquisa.
4. Confidencialidade, Sigilo e Restrições ao Uso dos Dados
a ) Fica proibido, a qualquer dos participantes das pesquisa, iden-
tificar em público ou em privado por meio de nomes,
sinais ou quaisquer outros recursos, os questionários aplica-
dos a quaisquer categorias de respondentes.
b) Fica proibido nomear os respondentes a entrevistas abertas indi-
viduais ou em grupo, admitindo-se apenas a identificação institu-
cionalmente referida, nos casos onde for indispensável.
c) Os dados somente serão analisados e divulgados de forma agre-
gada, a fim de resguardar a privacidade dos informantes.
d) Todos os dados são de exclusiva propriedade da Unesco, sendo
completamente proibido o seu uso e/ou a sua divulgação, no todo
ou em parte, por meios impressos, eletrônicos, orais, mediáticos
ou quaisquer outros, por qualquer instituição ou pesquisador in-
dividual participante, sem a autorização formal da Unesco.
Tomaram conhecimento e comprometem-se com a observância
do acima disposto:
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