OFuxico: Como você avalia todas essas polêmicas geradas por Páginas da Vida.
Manoel Carlos: Não faço nada deliberadamente para causar polêmica. Elas acontecem. Não sei se isso é bom ou
ruim, porque independem de mim. O bebê chorando em Laços de Família causou uma polêmica enorme e tirou
até os atores menores de idade da novela (na época, uma determinação do Juizado de menores do Rio). Mas
meu Deus do céu, quase toda novela tem criança chorando. Por que na minha causou tantos problemas? Sobre
as reclamações no Leblon, isso existe e existirá em qualquer bairro que se vá gravar, pois são caminhões,
carros, mais de 100 pessoas na equipe, etc., etc. Mas olha: ando pelo Leblon todos os dias, a pé, e só recebo
carinho e atenção. Uma pessoa que jogou um ovo em cima da equipe, desceu depois do apartamento e foi
pedir para entrar como figurante. Jogou o ovo de molecagem, como muita gente faz. Noutro dia, um rapaz deu
um tiro com espingarda de chumbinho, do seu apartamento aqui no Leblon, e feriu um empregado do
supermercado Zona Sul que estava na porta. O que é que ele queria dizer com isso? Que é contra a presença
do supermercado em frente à casa dele? Não, claro. Foi só molecagem e a mãe atravessou a rua para pedir
desculpas.
OF: Está mesmo havendo muitas reclamações do público à Globo sobre a nudez da Ana Paula
Arósio? Já houve por parte da direção da Globo uma recomendação para que você evite
determinadas cenas?
MC: Estou sabendo que houve reclamação porque você está me dizendo, porque até agora ninguém falou nada
comigo. Achei a cena muito bonita, de bom gosto, sem vulgaridade. E afinal, o personagem faz um strip-tease
para o marido, a portas fechadas, na noite de núpcias. Eles estão casados estão na igreja e no civil. Qual é o
problema? Existem cursos de strip-tease para mulheres aqui no Rio, freqüentados por donas de casa e mães de
família de todas as classes sociais
OF: Muitas pessoas com as quais comentei sobre o depoimento daquela mulher, no final do capítulo
de ontem (sábado), falando de sua forma de sentir prazer no sexo, diz que a cena era dispensável.
Até então, os depoimentos mostrados na trama eram de situações de vida, de uma forma até
poética... Porque houve essa mudança?
MC: Não houve mudança nenhuma premeditada. Um dos depoimentos foi esse. Mas gravamos muitos e talvez
esse tenha sido forte demais. Se acharmos necessário, diminuímos o impacto deles. Mas são verdadeiros e
colocados sempre às 22 horas.
OF: Sobre esses depoimentos dos populares, de que forma são feitos? Os textos são espontâneos ou
você os faz para serem representados?
MC: Todos os textos são espontâneos e feitos na rua, com quem está passando, desde que a pessoa queira e
autorize. Recebemos centenas de pedidos de pessoas que quer gravar depoimentos, mas recusamos todos. Só
nos interessamos por pessoas que não se oferecem.
OF: E esses depoimentos irão sempre pontuar os finais de todos os capítulos da trama?
MC: Não sei. Nada é definitivo numa novela. Eles continuarão, enquanto acharmos que eles funcionam que eles
preenchem nosso desejo de transmitir ao público depoimentos espontâneos e sinceros, ainda que alguns
possam parecer chocantes. Mas podemos cortá-los também do final do capítulo. Isso dependerá apenas da
minha vontade e da do diretor Jayme Monjardim. Estamos analisando.
OF: Você reserva mais situações polêmicas para a novela?
MC: Não sei se o que pretendo fazer será polêmico. O público e a mídia que decidem. Todos já sabem que vou
encarar temas como Síndrome de Down, Aids, Bulimia, casamentos desfeitos, traições, muita felicidade
também, etc., etc. Se virarão polêmica, só quando forem apresentados é que saberemos.
OF: Você acredita que polêmica sobe a audiência?
MC: A audiência sobe se o público gosta da novela. Essa é a única verdade que eu conheço a respeito de
repercussão e aumento de audiência. A audiência subir num capítulo por causa de uma nudez ou qualquer cena
forte, pode funcionar naquele capítulo, mas isso não significa que vá influenciar a novela toda. O público não é
bobo e nem se deixa enganar. Ele quer ver numa novela mais do que nudez, mais do que cenas fortes. Ele quer
se emocionar, vibrar, ter o que falar no dia seguinte, no trabalho, na escola, entre amigos e colegas. Isso é o
que vale. Isso é o que eu quero que aconteça.
O relato da senhora anônima, na íntegra
“Esse negócio das pessoas dizerem que têm que gozar junto, que é isso que faz nenen, é tudo mentira, porque
fiquei sem gozar dos meus 14 aos 45 anos... Pra mim era tudo normal... o homem terminava e eu também...
Daí, eu colecionava discos do Roberto Carlos e, aos 45 anos, ganhei um LP dele. Botei na vitrola a música
‘Côncavo e Convexo’ e fui dormir. E quando acordei, estava com a perna suspensa, a calcinha na mão e toda
babada. Comentei com as amigas..., elas disseram: ‘você gozou!’. Aí que vim saber o que era gozo. Moral da
história: sou uma mulher de 68 aos, que homem pra mim não faz falta, eu mesma dou meu jeito.”
Letra da música citada: Côncavo e Convexo
Nosso amor é demais, /E quando o amor se faz /Tudo é bem mais bonito. /Nele agente se dá /Muito mais do
que está /E o que não está escrito.
Quando agente se abraça/ Tanta coisa se passa/Que não dá para falar.
Nesse encontro perfeito/Entre o seu e o meu peito/Nossa roupa não dá.
Nosso amor é assim,/ Pra você e pra mim,/Como manda a receita
Nossas curvas se acham /Nossas formas se encaixam/ Na medida perfeita.