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Central. A imagem tira qualquer dúvida. A radiografia é de uma
mulher que se recusou a ser revistada. Ela usava o corpo para carregar
um celular para o marido preso. Na linguagem da cadeia, essas
mulheres são chamadas de mulas. Resistir à corrupção no sistema é
um exercício diário. Humberto é vigilante penitenciário em Formosa,
Goiás. Ganha R$ 700,00 por mês. Quase todos os dias ele ouve dos
presos propostas de suborno. “Entrada de celular, para facilitar entrada
de droga ou fuga ou alguma coisa nesse sentido. Eles oferecem
dinheiro, R$ 100, R$ 150, lá no Cadeião já recebi até R$ 80 mil”,
conta Humberto Stefan, vigilante penitenciário. Não existe no Brasil
uma estatística da corrupção no sistema carcerário, mas os processos
na Justiça de todo o país denunciam a gravidade do problema. “Nos
últimos dois anos, três agentes penitenciários já foram presos em
Formosa cometendo crimes, dentre eles o diretor da cadeia de
Formosa que foi acusado de cometer crime de extorsão, então o
sistema precisa ser depurado, reestruturado e totalmente re-analisado
pelo Estado”, diz Clauber Costa, juiz da Vara Criminal de Formosa de
Goiás. Quem se deixa corromper é exceção, afirma esse representante
dos agentes penitenciários de São Paulo. “Pela peculiaridade da nossa
função, um funcionário corrupto dentro de mil, ele causa uma seqüela
muito grande. Então esse acaba sendo um agravante. Isso torna a
nossa situação mais dramática e faça com que tenha uma repercussão
até maior”, diz Gilberto Luiz Machado, diretor do Sindicato dos
Agentes Penitenciários de São Paulo. Um em mil não é a conta que
faz outro agente penitenciário e que pediu para não ser identificado.
"Eu sabia que existia no meu grupo companheiros meus que estavam
colocando esse tipo de coisas erradas no sistema". Ele fez o mesmo e
acabou condenado por corrupção. Começou aceitando favores e logo
passou a vendê-los. "Geralmente entre R$300,00, R$400,00,
R$500,00 por cada celular. Entorpecente lá é dobrado o preço", diz o
funcionário. Mas o que dava mais dinheiro, segundo ele, era o tráfico
de influência. Quanto mais poder no sistema, maior o lucro. "Os
diretores. O que é que eles fazem? Fulano vai em tal cela e pega
R$300,00 que fulano, que é o preso, o apenado, está sabendo do que
se trata. Aconteceu isso comigo, de eu ir pegar determinado dinheiro,
valor, lá dentro do presídio, retornar, sabendo de toda a transação e eu
próprio sair com o diretor e a gente farrear, bebida, cerveja, só farra,
farra", revela. Muda o presídio, a história se repete. Outro agente que
também teme ser identificado denuncia o favorecimento a presos que
podem pagar. “O cara que tem dinheiro, ele fica na enfermaria, ou ele