36
Nestes trechos do folheto, notamos que o eu lírico, em um tom saudosista, rememora o
passado de glamour do Cassino Eldorado. Para isso, faz uma descrição minuciosa, busca na
memória - Parece que estou vendo - o retrato “exato”, na concepção do eu lírico, daquele
espaço de diversão em plena feira. Daí, a descrição do prédio, da localização, do modo como
se dava as relações em seu interior.
Contudo, o eu lírico enfatiza para uma descrição de parte dos “sentimentos” que o
Eldorado podia proporcionar: passado libertino; retrato agradável; mil sons a noite
enchendo; Seus quartos de amor e ódio; plenitude do sexo; Mil promessas foram feitas; Sutis
carícias aceitas; noites de amor; Risos, gemidos, sussurros. Por intermédio desses versos,
observamos que boa parte dos desejos mais íntimos podiam ser realizados na Rua Manoel
Pereira de Araújo.
Assim o Cassino Eldorado surge em destaque entre as barracas dos feirantes, não
como uma cidade de grandes construções todas feitas em ouro maciço, como reza a antiga
lenda. Todavia, com o passar do tempo, por não se achar o local exato desse “Eldorado” no
Mundo Novo, esta expressão passou a ter a conotação semelhante a ideia de utopia. Dessa
forma, esta concepção de utopia foi, de certa forma, transferida para o Eldorado de Campina,
que com seus pilares fincados no interior da Feira Central de Campina Grande, efetiva-se
como o “edifício dos prazeres”, nele encontra-se o “ouro do desejo e da luxúria”. Tanto no
seu interior como exterior ostenta-se sua imponência, o luxo de suas instalações, isso se deve
ao fato de só frequentar o cassino – em seu período áureo - pessoas de um poder aquisitivo
considerável. Antonio Clarindo Barbosa de Souza (2009), apresenta da seguinte maneira o
Cassino Eldorado:
[...] O Cassino Eldorado, que era uma casa de espetáculos, jogos e danças, mas
também de lenocínio, que marcou época naquela rua. O Eldorado ficava situado
no centro da rua dos Currais, a quinhentos metros mais abaixo da Pensão
Moderna, e a sua inauguração acabou por ofuscar bastante a vida noturna das
outras pensões ali instaladas.
Se o intercâmbio de mulheres já era notável quando existiam somente as
pequenas pensões, com o novo cassino esta atividade tornou-se cada vez mais
intensa. Mulheres vinham do Recife só para trabalhar alguns dias no Eldorado,
levando consigo algum dinheiro e o orgulho de ter pertencido ao quadro de
“funcionárias” do mais importante Cassino do Norte e Nordeste.
O Cassino Eldorado despertava os sonhos da juventude que ficava sabendo, por
ouvir falar, da exibição de artistas, cantores, dançarinos, músicos e,
principalmente, das lindas e divinizadas mulheres que desfilavam por seus
salões com deslumbrantes vestidos inspirados na última moda parisiense.
Os jovens imberbes dos anos 30 e 40, que não tinham permissão nem dinheiro
para freqüentar aquele tipo de estabelecimento, podiam pelo menos sonhar com
suas mulheres, como o faziam também com as musas que o cinema criava e
divulgava na mesma época.(...)
Apesar dos jovens sem recursos e dos trabalhadores braçais sonharem ou
idealizarem o Eldorado, aquele ambiente era quase exclusivamente dos adultos