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Essas circunstâncias que hoje envolvem o trabalho educacional, como a
questão do trabalho coletivo, trabalho de equipe, gestão de trabalho, sempre
existiram, isto é, cobrava-se essa postura do professor, mas de maneira vaga e
modesta. No caso do trabalho docente, solicitar algumas normas de conduta
profissional, como elaboração de planejamento de ensino, organização de
cronogramas para avaliação de aluno, confecção de estratégias de recuperação,
adequação e aplicação de instrumentos de avaliação de nível estadual para o
institucional como o do SARESP
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já constituíam parte de sua função. Todavia, o
que percebemos nessas prescrições mais ”democráticas” (Boutet,1993,apud
Souza-e-Silva, 2000), que vão solicitar um trabalho “dilatado“ do professor no
sentido de não só executar, mas também de “gerir” o seu trabalho, é que estas
conferem a ele uma atuação que anteriormente ele já exercia de maneira informal,
mas que, agora, são “cobradas” dele oficialmente por meio de prescrições , as
quais trouxeram conceitos e designações das instâncias técnicas e
organizacionais para o seu campo de trabalho e também impuseram uma
dimensão de competências mais extensa para direcionar esse trabalho.
Por conseguinte, os discursos que convocam o professor a participar do
gerenciamento dos resultados educacionais, a colaborar na articulação da
participação de todos os membros da escola no processo educacional, a elaborar
a avaliação das condições físicas do ambiente de trabalho, instituem um ponto de
bifurcação, no qual, de um lado, há o trabalho que o professor já realizava de
maneira não-oficial; de outro lado, o trabalho que, pelas prescrições atuais, ele
agora precisa realizar, mas para o qual ele não se vê realmente responsável.
Esta condição original de trabalho que se impõe aos professores, nos dias
de hoje, por meio dos textos que prescrevem o seu trabalho e solicitam
competências heterogêneas que se situam nos pólos da inteligência, da prática e
dos valores, colabora para o seu estresse, como temos observado em nosso
cotidiano de trabalho, pois se ele já entendia o seu trabalho dentro de uma
perspectiva que vai além daquela de ensinar (pai, mãe, psicólogo, assistente
social...); hoje ele se depara com discursos que confirmam essa dimensão maior
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Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo.