318
mortos”. No conto de Coelho Neto e Olavo Bilac, O Tesouro, nos Contos Pátrios, “a preta
saía com uma grande malga para ordenhar as vacas”.
N’A cidade e as Serras, de Eça de Queiros, de 1901, “a malga de barro, atestada de
azeitonas pretas, contentaria Diógenes” (2008: 155) e “Ele enrolava numa mortalha tabaco
picado, tabaco grosso, guardado numa malga vidrada” (2008: 55). N’A Relíquia, de 1887,
“ao lado erguia-se uma tenda, com um tapete na relva coberto de uvas e de malgas de leite”,
“bebendo numa malga de ferro, que um negro ia enchendo com o odre suspenso aos
ombros”; e em O Primo Basílio, de 1878, “Sorri com os seus dentes amarelados. O caldo que
Joana deitava na malga branca com um vapor cheiroso, cheio de hortaliça dava-lhe uma
alegria gulosa”; em seu conto, No Moinho, de 1880, “havia sobre as cômodas alguma garrafa
de botica, alguma malga com papas de linhaça”. Atesta-se, na obra do escritor português,
primeiramente a popularidade do termo, pouco usado no Brasil, em especial no século XX, e
a associação da palavra com a forma, e não necessariamente com a matéria prima que a
compunha, uma vez que temos malgas de barro, de cerâmica vidrada, de ferro e branca de
louça, usadas para as mais diferenciadas atividades.
Em O Ladrão, conto de Mário de Andrade publicado nos anos 1940, lê-se o seguinte:
“Na porta da casa, a italiana triunfante distribuía o café. Um momento hesitou, olhando o
guarda do outro lado da rua. Mas nisto fagulhou uma risadinha em todos lá no grupo, decerto
alguma piada sem vergonha, não! Não dava o café ao guarda. Pensou na última xícara,
atravessou teatralmente a rua olhando o guarda, ele ainda imaginou que a xícara era para
ele...” ([1947] 1993: 37).
Em A conquista, de Coelho Neto (1899) “Também eu tenho saudade do meu sertão,
mas que poderia eu fazer se lá vivesse? Estava em plena natureza, nos campos gordos, vendo
o gado e vendo as culturas, trabalhando como um campônio. Há esta hora, junto do alpendre
da casa, o cavalo de sela, escarvando a terra e eu, com uma malga de café no bucho, o
rebenque enfiado no punho, pronto para partir a galope, pelos campos.
N’O Missionário, de Inglês de Souza, 1891, lê-se “Pensei que era o café de João
Pinheiro! Exclamou quando a mulata apareceu à porta da sala, trazendo na mão uma grande
xícara de louça azul, que saía um fumo tênue e um odor forte a café quente”. Também se lê
“engolir, a ferver, uma tigela de chá de folhas de cafeeiro adoçado com rapadura”. Em O
Cortiço, de Aluísio de Azevedo, 1891, “Só com o cheiro! Reforçou a mulata, apresentando o
café ao doente. Beba, ande! (...) Piedade chegou-se então para o cavouqueiro, que já tinha
sobre as pernas o cobertor oferecido pela Rita, e, ajudando-o a levar a tigela à boca”.