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João, exclamava: “Encontramos o Messias” (Eu Venho, p. 168; Jo 1, 41). Acusamos
que, segundo a Bíblia do Peregrino, Simão não foi discípulo de João Batista; crer em
Jesus e apresentá-lo como Messias foi uma conquista de seu irmão André (cf. rodapé, p.
2549). Contudo, a narrativa ficcional apresentada é intertextual à Bíblia, mais
precisamente ao evangelho de João, capítulo 1, 35-51, cujo título é “Encontro com os
primeiros discípulos”. Dentre eles se encontram: André, Simão, Filipe e Natanael. No
romance, o título do capítulo XL se repete no enunciado, porque corresponde à pergunta
que Natanael fez a Filipe sobre Jesus, que diz: “De Nazaré Pode Sair Algo de Bom?”
(Jo 1, 46) (Eu Venho, p. 171).
Nesse contexto vemos que Jesus, sensível à presença dos novos discípulos,
descreve características de cada um. “Os irmãos pescadores”: André e Simão Bar-Jonas
a quem Jesus chamou de “Pedro, a minha pedra” (Eu Venho, p. 168), e no evangelho
Jesus diz: “Tu és Simão, filho de João; serás chamado Cefas (que quer dizer pedra)” (Jo
1, 42). Em sua etimologia “pedra” é uma palavra que tem origem no latim pètra,ae
'rocha, rochedo, penhasco, penedo; pedra', cujo masculino é “Pedro”. A expressão “Bar-
Jonas”, em aramaico, significa “filho de Jonas”, e não filho de João, portanto os
testemunhos são divergentes (cf. Schökel, rodapé, p. 2549). As marcas que apontam
para Pedro são: “iniciativa”, “ponderação”, “saúde”, “acostumado a ver longe”, “capaz”
e “simples” (Eu Venho, p. 168). André é descrito como aquele que “bem se punha em
longas cismas” (Eu Venho, p. 168). Acrescenta também a narrativa que ele cuidava de
Jesus “como não havia feito com o Batista” (Eu Venho, p. 169). João, filho de Zebedeu,
homem rico, tratava de fazer rolos de peles de carneiro, material usado para as
escrituras, “pequeno (...) não tinha barba ainda” (Eu Venho, p. 168). As características
de cada um manifestavam a missão que haveriam de ter no futuro.
Ainda no oitavo parágrafo a narrativa intertextual à Bíblia é interrompida, sendo
retomada no décimo sétimo parágrafo. O trecho que se afasta da linguagem fundadora,
tem como tema a família de Jesus em Nazaré. José ainda doente, vivendo da esperança
de rever Jesus; Maria, porque cuidava de José, quase desistiu de ir às bodas de Gamaliel
em Caná, mas José a reanimou, dizendo que lá encontraria Jesus (cf. Eu Venho, p. 169-
170). Apontamos a antítese presente no enunciado que narra a morte de João que
chegava a Nazaré como uma notícia terrível. Diz a voz do narrador que “as lendas que
dele se contavam eram tantas que os caminheiros ainda falavam do Batista, embora a
Voz do Deserto para sempre houvesse se calado” (Eu Venho, p. 170). Por metonímia a
“Voz do Deserto” ocupa o lugar de João, que em vida tanto clamava, mas porque morto,