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ARLETE STEIL KUMM
INTERROGAÇÕES E EXCLAMAÇÕES NO COTIDIANO
ESCOLAR DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
ITAJAÍ (SC)
2009
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UNIVALI
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura - ProPPEC
Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu
Programa de Mestrado Acadêmico em Educação – PMAE
ARLETE STEIL KUMM
INTERROGAÇÕES E EXCLAMAÇÕES NO COTIDIANO
ESCOLAR DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Dissertação apresentada ao colegiado do
PMAE como requisito parcial à obtenção do
grau de Mestre em Educação Área de
concentração: Educação. (Eixo Temático de
Pesquisa: Políticas Públicas e Práticas
Educativas - Linha de Pesquisa: Políticas
para a Educação Básica e Superior).
Orientadora: Profª. Drª. Cássia Ferri.
ITAJAÍ (SC)
2009
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FICHA CATALOGRÁFICA
K96i
Kumm, Arlete Steil, 1963
Interrogações e exclamações no cotidiano escolar da orientação
educacional / Arlete Steil Kmm, 2009.
148f. ; il.; quad.
Apêndices
Cópia de computador (Printout(s)).
Dissertação (Mestrado) Universidade do Vale do Itajaí,
Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu, Programa de Mestrado
Acadêmico em Educação – PMAE.
“Orientadora : Prof ª Dra. Cássia Ferri”
Bibliografia : p.84-88
1. Orientação educacional. 2. Orientadores educacionais. I.
Título.
CDU: 37.048.3
Josete de Almeida Burg – CRB 14.ª 293
UNIVALI
UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ
Pró-Reitoria de Pesquisa, Pós-Graduação, Extensão e Cultura - ProPPEC
Curso de Pós-Graduação Stricto Sensu
Programa de Mestrado Acadêmico em Educação – PMAE
CERTIFICADO DE APROVAÇÃO
ARLETE STEIL KUMM
INTERROGAÇÕES E EXCLAMAÇÕES NO COTIDIANO
ESCOLAR DA ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Dissertação avaliada e aprovada pela
Comissão Examinadora e referendada pelo
Colegiado do PMAE como requisito parcial à
obtenção do grau de Mestre em Educação.
Itajaí (SC), 6 de abril de 2009.
Membros da Comissão:
Orientadora: ____________________________________
Profª. Dra. Cássia Ferri
Membro externo: ____________________________________
Profª. Dra. Diana Carvalho de Carvalho
(UFSC)
Membro representante do colegiado: ____________________________________
Profª. Dra. Verônica Gesser
A minha mãe (in memoriam) por
fazer parte constante dos meus
pensamentos.
AGRADECIMENTOS
Considero que os agradecimentos contemplam uma parte especial de uma
pesquisa, pois é quando damos o testemunho da importância do outro na conclusão
do trabalho. E, consciente de que a construção dessa pesquisa através de minha
história de vida profissional nos anos 2005 e 2006 deu-se por que outras vidas se
cruzaram a minha, ofereço o meu agradecimento à amiga e educadora Yára
Christina Cesário Pereira, pelo incentivo para que eu escrevesse sobre minha
história de vida profissional. Beneficiei-me também da parceria da educadora Prof.ª
Ilisabet Pradi Krames, companheira dos encontros junto aos alunos, a ela minha
gratidão.
Registro meu reconhecimento a Prof.ª Cássia Ferri, pela forma atenta, crítica
e afetiva com que tratou as minhas ideias, as minhas (in)certezas e a minha escrita.
Aos meus filhos Henrique e Gabriel, e a Carlos, meu marido, pelo cuidado
comigo e interesse pela conclusão da pesquisa.
Aos pais e alunos do Colégio de Aplicação que ilustraram com suas
inquietações minha caminhada enquanto Orientadora Educacional.
A todos o meu respeito e consideração!
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Número de Orientadores Educacionais determinado por lei na
escola ......................................................................................................51
Quadro 2 Síntese do número de atendimentos realizados nos anos de
2005 e 2006, para pais, alunos e professores.........................................57
LISTA DE APÊNDICES
Apêndice A Projeto: Orientação Profissional: administrando o meu futuro.............90
Apêndice B Projeto OPA: Escolha Profissional por Área........................................91
Apêndice C Projeto EPPA: Escolha Profissional Possível na Adolescência...........92
Apêndice D Projeto MIDDA: Multiplicadores de Informação sobre Drogas,
DSTs, HIV/AIDS...................................................................................93
Apêndice E Projeto Cuido Bem de MIM..................................................................94
Apêndice F Comunicação aos pais informando a respeito das aulas de
apoio oferecidas pelo Colégio de Aplicação ........................................95
Apêndice G Imagem de reflexão para iniciar a reunião...........................................96
Apêndice H Pauta de uma reunião realizada com pais de alunos do
ano do Ensino Médio ...........................................................................97
Apêndice I Comunicação de compromisso educacional escola/família.................98
Apêndice J Bilhete de informação aos pais sobre encontro com alunos
para entrega de boletins e discussão de seu desempenho
escolar .................................................................................................99
Apêndice K Comunicação referente a uma carta de reflexão enviada aos
pais, solicitando apoio após intervenção realizada com os
filhos.....................................................................................................100
Apêndice L Comunicação referente aos critérios de enturmação dos
alunos ..................................................................................................101
Apêndice M Comunicação referente o convite para a participação dos
pais em palestra promovida pela escola..............................................102
Apêndice N Convite enviado aos pais para participação em reunião de
turma na escola ...................................................................................103
Apêndice O Organização de reunião com pais para discussão do
comportamento dos alunos em sala de aula........................................104
Apêndice P Síntese de um trabalho realizado com uma turma do Ensino
Médio e apresentado em reunião com os pais ....................................105
Apêndice Q Comunicação referente a ciência dos pais frente a avaliação
atrasada realizada pelos filhos.............................................................107
Apêndice R Edital para a formação do Conselho Diretor do Grêmio
Estudantil.............................................................................................108
Apêndice S Ficha de inscrição da chapa para o Grêmio Estudantil........................109
Apêndice T Termo de compromisso de devolução de livros emprestados
pelo colégio..........................................................................................110
Apêndice U Termo de advertência utilizado em casos específicos.........................111
Apêndice V Folha de registro da presença do aluno nas aulas de apoio
oferecidas na contraturno pelo colégio ................................................112
Apêndice W Folha de justificativa de entrada atrasada preenchida e
assinada pelo aluno.............................................................................113
Apêndice X Folha utilizada somente pelos profissionais do SAA com
registro de informação sobre os prejuízos de chegar atrasado
na aula.................................................................................................114
Apêndice Y Folha de Espelho de Classe ................................................................116
Apêndice Z Gráfico de levantamento das entradas atrasadas................................117
Apêndice AA Dinâmica utilizada no início do Conselho de Classe............................118
Apêndice AB Sistematização do trabalho desenvolvido pela Orientação
Educacional no Ensino Médio e série do Ensino
Fundamental........................................................................................119
Apêndice AC Planilha utilizada no Conselho de Classe para levantamento
dos alunos das dificuldades dos mesmos e os
encaminhamentos de apoio e atenção ................................................120
Apêndice AD Comunicação fornecida aos professores para reforçar
algumas normas pedagógicas de ordem organizacional.....................121
Apêndice AE Carta dirigida àqueles professores que faltaram o trabalho de
forma indiscriminada............................................................................122
Apêndice AF Comunicado com os procedimentos de organização, a serem
respeitados pelos professores, em caso de necessidade de
se ausentar no trabalho .......................................................................123
Apêndice AG Comunicação com as determinações a serem seguidas pelos
profissionais que estariam substituindo os professores
ausentes e reforço dos procedimentos................................................124
Apêndice AH Avaliação realizada pelo professor substituto do professor
ausente................................................................................................125
Apêndice AI Folha de planejamento alternativo elaborado para que o
professor utilizasse dele no caso de se ausentar ................................126
Apêndice AJ Ficha de encaminhamento do aluno a Orientação
Educacional .........................................................................................127
Apêndice AK Folha com a orientação para os professores elaborarem o
perfil da turma para apresentação no Conselho de Classe .................128
Apêndice AL Comunicado aclarando a necessidade do uso obrigatório do
uniforme...............................................................................................130
Apêndice AM Comunicação de orientação para atendimento aos pais pós-
conselho de classe do 3º bimestre.......................................................131
Apêndice AN Pauta de encontro com os alunos para parabenizá-los pelos
resultados obtidos no desempenho escolar bem como
orientar aqueles que necessitavam de orientação e incentivo
para um melhor desempenho acadêmico............................................132
Apêndice AO Ficha de auto-avaliação do bimestre de 2005 trabalhada
em encontro com a Orientação Educacional e Coordenação
Pedagógica..........................................................................................133
Apêndice AP Ficha de auto-avaliação do bimestre de 2005, utilizada no
encontro de orientação de estudos, com os alunos com notas
baixas...................................................................................................134
Apêndice AQ Ficha de registro em encontro com alunos no bimestre de
2005.....................................................................................................135
Apêndice AR Atividade que objetivava reconhecer em uma turma de
alunos o modo de aprender de cada um, para posterior
reflexão coletiva...................................................................................136
Apêndice AS Atividade utilizada numa intervenção da Orientação
Educacional numa turma de alunos que se mostravam
insatisfeitos com algumas aulas ..........................................................137
Apêndice AT Plano de ação para trabalho da Orientação Educacional com
os alunos do 2º ano do Ensino Médio..................................................138
Apêndice AU Ficha utilizada com os alunos em atendimentos individuais
que visava refletir com o aluno a respeito de seu papel na
vida familiar e acadêmica.....................................................................141
Apêndice AV Encontro com os alunos pós-conselho de classe ................................142
Apêndice AW Carta enviada aos alunos do ano do Ensino Médio, após
visita da Orientação Educacional em sala de aula, para
avaliar os trabalhos do Concurso de Maquete.....................................143
Apêndice AX Trabalho a ser realizado, em casa, por um aluno que recebeu
dois dias de suspensão........................................................................145
Apêndice AY Quadro explicativo sobre a forma de se utilizar o mural
interativo, organizado para compartilhar e socializar
informações entre alunos e professores e equipe diretiva,
tendo a comunicação e a interação como pontos chaves....................146
Apêndice AZ Mural Interativo – Registro fotográfico do mural interativo...................147
Apêndice BA Folha utilizada para registros de troca de recados para o
mural interativo ....................................................................................148
LISTA DE ABREVIATURAS
ABOP Associação Brasileira de Orientadores Profissionais
AIDS Acquired Immune Deficiency Syndrome (Síndrome da Imunodeficiência
Adquirida)
APP Associação de Pais e Professores
CAFI Colégio de Aplicação da FEPEVI
CAU Colégio de Aplicação UNIVALI
CONSUN Conselho Universitário
DSTs Doenças Sexualmente Transmissíveis
EPPA Escolha Profissional Possível na Adolescência
FEPEVI Fundação de Ensino do Pólo Geo-educacional do Vale do Itajaí
HIV Human Immunodeficiency Virus (Vírus da Imunodeficiência Humana)
MIDDA Multiplicadores de Informações sobre Drogas, DSTs, HIV/AIDS
ONU Organização das Nações Unidas
OPA Orientação Profissional por Área
PADEF Programa de Atenção aos Discentes, Egressos e Funcionários
PNEs Pessoas com Necessidades Especiais
PPP Projeto Político Pedagógico
RAD Registro de Acompanhamento Discente
SAA Setor de Atendimento ao Aluno
SAPS Serviço de Apoio à Pessoa Surda
SENAD Secretaria Nacional Antidrogas
UNIVALI Universidade do Vale do Itajaí
RESUMO
Essa pesquisa se propõe a refletir, de maneira crítica e comprometida, sobre o
trabalho da Orientação Educacional na Educação Básica, mais especificadamente
no Ensino Médio do Colégio de Aplicação UNIVALI/Itajaí. Ela busca novos caminhos
de fazer acontecer o trabalho da Orientação Educacional, analisando as
características, os limites, e os desafios enfrentados pela pesquisadora no exercício
da função de Orientadora Educacional no período de 2005 a 2006. A abordagem
metodológica utilizada neste trabalho, de cunho qualitativo, é o estudo de caso com
traços da pesquisa etnográfica que busca compreender e descrever acontecimentos
e contextos complexos que envolvem múltiplos fatores como no caso do contexto
escolar. Essa reconstrução do percurso profissional permitiu descobrir que é
possível, construir cotidianamente a Orientação Educacional, no âmbito de um
projeto pedagógico escolar, ações de acompanhamento do processo
ensinoaprendizagem pela redefinição de seus papéis e pela avaliação das
estratégias utilizadas em sua ação. Como fonte de observação e análise, foram
utilizados os registros de Diários de Bordo da Orientação Educacional, o Projeto
Político Pedagógico e o Regimento Escolar do Colégio. Ao longo do
desenvolvimento da pesquisa foi possível responder que a efetivação dessa
construção se pela redefinição do papel e pela avaliação das estratégias do
Orientador Educacional.
Palavras-chave: Orientação Educacional; Convívio Escolar; Aluno.
ABSTRACT
This research proposes a critical and committed reflection on the work of Educational
Supervision in Basic Education, more specifically, in Secondary Education at the
Colégio de Aplicação UNIVALI/Itajaí. It looks for new ways of carrying out the work of
Educational Supervision, analyzing the characteristics, limits and challenges faced by
the researcher in the exercise of her function of Educational Supervisor, during the
period 2005 to 2006. The methodological approach used in this work, of a qualitative
nature, is a case study with some features of ethnographic research, which seeks to
understand and describe events and complex contexts involving multiple factors, as
in the school context. This reconstruction of the professional career led us to discover
that it is possible to construct Educational Supervision on a day-to-day basis, in the
scope of a school pedagogical project, follow-up actions of the teaching-learning
process for the redefinition of its roles, and the evaluation of strategies used in its
action. As a source of observation and analysis, the Educational Supervision logs
were used, as well as those of the Pedagogical Political Project and the School
System of the school. Throughout the development of the research, it was observed
that the fulfilment of this construction occurs through a redefining of the role and the
evaluation of the strategies used by the Educational Supervisor.
Key-words: Educational Supervision; School Experience; Student.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO: PREÂMBULO DE UMA HISTÓRIA DE VIDA .........................13
2 PERSPECTIVA DE AÇÃO NO TRABALHO DE ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL.................................................................................................21
2.1 O cotidiano da Orientação Educacional no Colégio de Aplicação...............24
3 ELEMENTOS EXTERNOS QUE CORPORIFICAM O PENSAR NA
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL: UM SOBREVOO HISTÓRICO......................31
3.1 Influências teóricas na Orientação Educacional ...........................................38
4 REFLETINDO O CONTEXTO E AS INCERTEZAS DO NOVO TEMPO ...........43
4.1 Discutindo a relação entre o número de Orientadores
Educacionais e o número de sujeitos que compõem o corpo
discente.............................................................................................................51
4.2 Surgem fios para novas tessituras.................................................................52
5 TECENDO COTIDIANAMENTE OUTRAS PRÁTICAS: A AÇÃO DA
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL COMO INSTRUMENTO DE
TRANSFORMAÇÃO DO CONVÍVIO ESCOLAR...............................................55
5.1 Levantamento dos atendimentos registrados nos Diários de
Bordo.................................................................................................................57
5.2 Atendimentos coletivos a pais........................................................................58
5.3 Atendimentos individuais a pais.....................................................................58
5.3.1 O processo de transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio ............59
5.3.2 Número de alunos por turma..............................................................................60
5.3.3 O tamanho (físico) da escola..............................................................................60
5.3.4 Princípios formativos ..........................................................................................60
5.3.5 Enturmação de alunos........................................................................................61
5.3.6 Indisciplina..........................................................................................................61
5.3.7 Participação dos pais na escola .........................................................................62
5.3.8 Entrevista com pais de Pessoas com Necessidades Especiais (PNEs) ............62
5.3.9 O relacionamento interpessoal...........................................................................62
5.4 Organização do Setor de Atendimento ao Aluno ..........................................63
5.5 Episódio 1 .........................................................................................................67
5.6 Episódio 2 .........................................................................................................76
6 CONSIDERAÇÕES............................................................................................81
REFERÊNCIAS..................................................................................................84
APÊNDICES.......................................................................................................89
13
1 INTRODUÇÃO: PREÂMBULO DE UMA HISTÓRIA DE VIDA
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse príncipe...
“Construção”
(Chico Buarque)
Inicio reconhecendo que as reflexões aqui expostas representam um
exercício de relação entre o meu presente e o meu passado profissional, que me fez
e faz de mim profissional da Educação. Cada linha conta fatos de uma vida singular,
relata um tempo histórico dentro do qual se situam vivências, desafios e sonhos.
Vem-me à memória a fase inicial da minha vida profissional, tempo em que
procurava alternativas diante do que fazer, por que fazer, como fazer acontecer
minha história profissional. Hoje, mais de duas décadas depois, recordo-me de ter
vivido vidas semelhantes às que assolam os jovens, dos dias atuais, quando o
assunto é decisão profissional. Sem pistas, sem sugestões, ávida por informações
que pudessem ajudar a decidir qual caminho seguir, deixei-me levar por aquilo que
conhecia de mim. “Eu gostava de crianças, e estar com elas era algo que me fazia
muito bem”, talvez encontrasse por o caminho certo. E foi assim que tudo
começou.
Aos 14 anos de idade no ano de 1981, fui contratada como monitora, hoje
também denominada, de auxiliar de sala, no Centro Infantil Elisabeth Malburg,
escola de educação pré-escolar da prefeitura do Município, situada no bairro Nova
Brasília em Itajaí Santa Catarina. Esse trabalho constituiu um momento marcante
em minha vida profissional, pois foi a minha primeira experiência com o ensino na
condição de educadora. Minha função era reconhecida como monitora; entretanto,
eu era a única pessoa responsável, em sala de aula, pelo desenvolvimento
educacional daquele grupo de 16 crianças, com cinco anos, que ficavam sob os
meus cuidados. Era sobre os meus ombros que repousava, no fim das contas, a
missão da educação escolar daquele grupo de crianças. Era eu a professora, tendo
em vista não ter mais ninguém em sala com a responsabilidade da educação escolar
14
delas. Foram dois anos de experiência que produziram em mim criatividade e
responsabilidade profissional.
Nesta etapa aprendi a planejar, realizar e avaliar os resultados obtidos em
meu trabalho. Foi uma experiência inicial na docência vivida de forma intensa, na
qual meus limites e possibilidades eram respeitados e desafiados, pois minhas
atividades centravam-se em trabalhar a favor da educação. Com 14 anos de idade,
não havia compromisso familiar, nem afetivo ou social que valessem mais do que o
meu trabalho.
Nesta atuação profissional inicial, experienciei um verdadeiro ritual de
passagem
1
. Ao mesmo tempo em que era aluna, sentia-me professora. Com o
passar de dois anos de trabalho, neste Centro Infantil, as tardes que privilegiava
preparando atividades para a manhã do dia seguinte foram produzindo e
desenhando momentos de realização profissional, e eu nem sequer percebia isso,
apenas desfrutava com entusiasmo do trabalho que realizava. Tínhamos, na própria
escola, encontros quinzenais de avaliação e planejamento com direção e
coordenação.
Dois anos mais tarde, com o intuito de uma melhor compensação financeira,
mudei de emprego. Abri mão do trabalho com as crianças e me aventurei
exclusivamente em atividades burocráticas, trabalhando como escriturária. Enquanto
exercia este trabalho, ao longo de dois anos, conclui o Ensino Médio numa escola
particular, com o Curso Técnico em Contabilidade. Na década de 80 era muito
comum no Ensino Médio esse curso, assim como eram os cursos de Magistério,
Enfermagem e Científico. Sua conclusão me fez ter a certeza de que eu estava no
caminho errado. Sem ignorar o interesse pelo trabalho com as crianças, retornei ao
Ensino Médio cursando o Magistério. Após concluí-lo, no ano de 1983, entrei para o
Ensino Superior matriculada no curso de Pedagogia e, reconhecendo-me como
sujeito da docência, busquei trilhar caminhos que me levassem à prática docente.
Neste intervalo de tempo, trabalhei em Itajaí como professora da série do
Ensino Fundamental da Escola de Educação Básica Dom Afonso Niehues por um
período de um ano. Em 1986, ano em que fui contratada para trabalhar no Colégio
de Aplicação da Fundação de Ensino do Pólo Geo-educacional do Vale do Itajaí
1
Ritual de passagem [...] Arnold Van Gennep percebe no ritual de passagem o significado pelo
qual os indivíduos de determinada organização se vêem aliviados na passagem pelas dificuldades de
transição de um papel social para outro, sem que com isso haja rupturas sociais importantes”
(PIGOZZI apud GENNEP, 2002, p. 34).
15
(FEPEVI), eu exercia a função de professora da série da Escola Básica Municipal
Avelino Werner e em paralelo trabalhava no Colégio São José. Ao ser contratada
pelo Colégio da universidade, chamado Colégio de Aplicação
2
da FEPEVI (CAFI)
3
-,
permaneci trabalhando no Colégio São José. Lecionei em diversas séries de ensino
que contemplam a Educação sica. No Ensino Fundamental, atuei em todas as
séries iniciais e finais. No Ensino Médio trabalhei com o ensino de Língua Inglesa,
pois, após terminar o curso de Pedagogia, cursei Letras por três anos,
interrompendo o curso no momento em que encontrei a oportunidade de atuar
dentro do campo de minha primeira formação Licenciatura em Pedagogia com
habilitação em Orientação Educacional.
Em função de novos estudos, produzidos ou introduzidos no campo
educacional, minha prática profissional foi sendo ressignificada ao longo da
caminhada. Essa ressignificação foi alcançada face à tentativa de evitar a resistência
às mudanças e, de certa forma, ao conservadorismo, pois o meu modo de fazer as
coisas pouco se alterava nos últimos três anos de trabalho com a educação primária,
situação que foi sinal de alerta quanto à necessidade de novos direcionamentos
profissionais. Creio que em meio a isso tudo, soma-se a multiplicidade de papéis
exercidos como filha, irmã, mãe, esposa e profissional, que também corroboravam
para um momentâneo imobilismo, vivido e percebido a tempo de decidir administrar
minha carreira profissional, superando a resistência da mudança e acreditando nela
como nova oportunidade de satisfação na profissão, oportunidade esta definida
como possibilidade de implementar meu conhecimento na área de minha atuação
profissional – a educação –, cujas ferramentas sempre estiveram ao meu dispor, no
rico espaço de trabalho no qual me inseria – um colégio dentro de uma universidade.
Após uma cada de exercício profissional na função de Orientadora
Educacional, nasce esta pesquisa, com o propósito de analisar a construção
cotidiana do papel do Orientador Educacional no acompanhamento do processo de
2
Colégio de Aplicação: nível de educação de universidade que desenvolve atividades de ensino na
Educação Básica e que inclui entre as suas diretrizes a articulação entre Educação Básica e Ensino
Superior como fonte de desenvolvimento de projetos de ensino, pesquisa, extensão e cultura, espaço
para a formação de profissionais e desenvolvimento de materiais didático-pedagógicos (UNIVALI,
2005).
3
O Colégio de Aplicação UNIVALI foi fundado em 1978, com iniciativa da direção da Fundação de
Ensino do Pólo Geo-Educacional do Vale do Itajaí – FEPEVI, denominado CAFI – Colégio de
Aplicação da FEPEVI, dentro do campus I na cidade de Itajaí - SC (UNIVALI, 2005).
16
ensinoaprendizagem
4
dos alunos da Educação Básica em parceria com os
professores, a direção e a coordenação pedagógica da escola. As histórias contadas
e registradas, os documentos criados, as iniciativas tomadas, o contexto vivenciado
e questionado, convocam para uma reflexão crítica sobre o exercício e a função da
Orientação Educacional.
Ao privilegiar um estudo sobre o trabalho da Orientação Educacional,
evidencio a contribuição dessa área como possibilidade de ampliar o diálogo entre
docentes e alunos a fim de que estes se sintam motivados e incentivados a
participar ativamente do processo de organização escolar no cotidiano da sala de
aula. Busco também analisar as características, as inúmeras possibilidades, os
limites e os desafios que a Orientação Educacional encontra no contexto escolar.
Como fio condutor da pesquisa, apresento ideias e iniciativas que buscam
refletir sobre um trabalho de Orientação Educacional que reconhece seus propósitos
numa dimensão significativa do processo pedagógico, identifica seu papel na vida
coletiva da escola, define seus caminhos e estabelece metas compatíveis com sua
responsabilidade.
A narração da minha história profissional é um balanço do percurso realizado
nos anos relatados e este balanço resulta da ação coletiva, pois as propostas de
trabalho apresentadas, as reflexões expressas e as decisões estabelecidas foram
tomando corpo à medida que foram discutidas e implementadas com o auxílio de
outros profissionais do Colégio de Aplicação UNIVALI (CAU)
5
. Somaram-se saberes
e competências, que, esculpidos historicamente, tornaram mais significativo o
trabalho realizado. O diálogo permanente com a coordenação pedagógica, com
direção e com o corpo docente, que, compromissados com a criação de um novo
olhar sobre a instituição escolar, permitiram encontrar respostas e registrar parte do
trabalho desenvolvido pela Orientação Educacional.
4
Ensinoaprendizagem: Durante a conclusão desta dissertação, foi promulgado o decreto que altera
parte da ortografia da Língua Portuguesa. Este texto já está de acordo com as novas regras. Todavia,
as citações extraídas de diversas referências permanecem do jeito que foram escritas por seus
autores. Conforme Decreto 6.583, de 29 de setembro de 2008, publicado no Diário Oficial da União
Ano CXLV, n.º 189, Brasília / DF, 30 de setembro de 2008 A implementação do Acordo obedecerá
ao período de transição de 1.º de janeiro de 2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual
coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a nova norma estabelecida.
5
Em fevereiro de 1989, com a transformação da FEPEVI em universidade UNIVALI, o Colégio de
Aplicação muda sua sigla de CAFI para CAU (UNIVALI, 2005). Ao longo da dissertação o CAU será
citado como Colégio de Aplicação.
17
Dessa maneira, apresento um exercício de reflexão na tentativa de iluminar o
trabalho da Orientação Educacional. Sou eu-observadora que percebo a situação e
a descrevo em meus relatos, muitas vezes contraditório, pois vazão a
inquietações acerca do papel do orientador. Neste sentido algumas inquietações
vinham se colocando:
Os alunos são percebidos como copartícipes e corresponsáveis no
processo de organização da escola reconhecendo-a como espaço de bem
viver? Os alunos são chamados a assumir esse papel?
Existe um esquema de referência ou um Programa no qual as atividades
de Orientação Educacional são desenvolvidas?
O que pretende a Orientação Educacional, para que e para quem aplica
suas ações e volta seus estudos e reflexões?
Essas inquietações convocam o Orientador Educacional, e a escola como um
todo, a apostar numa Orientação Educacional cujo sentido e significado é a
possibilidade de repensar a ação humana sobre a prática educacional, colocando-se
a serviço da transformação pessoal do aluno como sujeito comprometido com a
construção de sua história e da sociedade em que está inserido e que delinearam a
questão problema deste trabalho: Como se constrói o significado da Orientação
Educacional a partir do acompanhamento do processo ensinoaprendizagem?
As pesquisas educacionais da atualidade têm buscado vislumbrar os
conhecimentos ou saberes dos professores com o objetivo de contribuir com a
formação de novos profissionais. Autores tais como, Nóvoa (apud GONÇALVES,
1992), Schön (1992), Pérez-Gómez (1992), Garcia (1992) e Perrenoud (1993) vêm
demonstrando a importância de se trazer estes conhecimentos como uma forte
contribuição à formação inicial e continuada dos professores, dando voz e vez a
esses profissionais, fazendo aproximações sucessivas da realidade combinando
teoria, prática e dados empíricos.
E, se pesquisar implica também fazer escolhas sobre a abordagem
metodológica, o estudo de caso com traços etnográficos me parece ser a mais
adequada quando se tem o interesse em procurar compreender ou descrever
acontecimentos e contextos complexos que envolvem múltiplos fatores, como no
caso do contexto escolar.
18
Descrever e caracterizar estudo de caso não é uma tarefa fácil, pois eles são
usados de modos diferentes, com abordagens quantitativas e qualitativas, não na
prática educacional, mas também como modalidade de pesquisa.
Segundo André (1995), o caso pode ser escolhido porque é uma instância de
uma classe, ou porque é por si mesmo interessante. De qualquer maneira o estudo
de caso enfatiza o conhecimento do particular. O interesse do pesquisador ao
selecionar uma determinada unidade é compreendê-la como uma unidade. Isso não
impede, no entanto, que ele esteja atento ao seu contexto e às suas inter-relações
como um todo orgânico, e à sua dinâmica como um processo, uma unidade em
ação. A autora ressalta, que nem todos os tipos de estudo de caso incluem-se
dentro da perspectiva etnográfica de pesquisa. Da mesma forma, nem todo estudo
do tipo etnográfico será um estudo de caso.
Como pesquisador que se aproxima de pessoas, de fatos ou de situações, o
estudo de caso com traços etnográficos tem como características:
a ênfase naquilo que está ocorrendo e não no produto ou nos
resultados finais; a preocupação com o significado, com a maneira
própria com que as pessoas vêem a si mesmas, as suas
experiências e o mundo que as cerca; busca a formulação de
hipóteses, conceitos, abstrações, teorias e não a sua testagem. Para
isso, o pesquisador, faz uso de um plano de trabalho aberto, flexível,
em que os focos da investigação vão sendo constantemente revistos,
as técnicas de coleta, reavaliadas, os instrumentos, reformulados e
os fundamentos teóricos repensados (ANDRÉ, 1995, p. 30).
Entendo que o que faço e falo sobre o que eu faço como Orientadora
Educacional no contexto escolar é permeado também por emoções e relações
imaginárias que transparecem no papel de protagonista da pesquisa.
Tive zelo com a possibilidade de fragmentação dos dados da pesquisa, pois
sei que cada relato ampliado representa um momento ímpar vivido na escola. Foi
preciso ler, reler e reconhecer cada ação e cada sentimento experimentado.
Isso vem ao encontro do que diz Wolcott (1975) quando enfatiza a
importância de que a pessoa que escreve a etnografia: deve ter tido ela mesma uma
experiência direta com a situação em estudo; deve durar pelo menos um ano
escolar; realizar a maior parte do trabalho de campo pessoalmente. As informações
são basicamente produzidas pelos informantes ilustrando a sua maneira de ver o
mundo e as suas próprias ações.
19
Nesse sentido, com minha percepção e interpretação começo expondo, de
maneira clara, minha experiência profissional, pois com o tempo fui compreendendo
que a prática cotidiana da Orientação Educacional não é apenas uma concretização
de normas e receitas (apesar de necessárias como referências epistemológica e
metodológica), existe algo a mais, que se transforma em um "habitus" que, grosso
modo, é formado por "rotinas" e "esquemas" operatórios de alto nível
(PERRENOUD, 1993). Apesar da minha história ser única e singular, pode ser
entendida como uma trajetória com alguns pontos fortes e propostas de trabalho
consistentes podendo servir como uma referência para futuras gerações de
profissionais da educação.
É nessa perspectiva que este estudo se constituiu e é representado em cinco
capítulos. No primeiro deles exponho minhas vivências iniciais na busca de
identificação profissional e as dúvidas e reflexões que nortearam minhas decisões
de formação. O capítulo 2 expressa parte de minha trajetória profissional na
Orientação Educacional bem como as conquistas e os esforços aplicados em busca
de uma melhor atuação, como também, os questionamentos que surgiram neste
processo.
No capítulo 3, traço um breve histórico da Orientação Educacional
particularmente no Brasil. Sua origem deu-se a partir da Orientação Profissional que
coincidiu com o desenvolvimento da sociedade capitalista de classes sociais, que,
entre outras, coloca a Orientação Educacional como um mecanismo de ajustamento
dos indivíduos às necessidades da ordem social. As influências teóricas também são
apresentadas, bem como os princípios que norteiam a atuação dos Orientadores
Educacionais.
O capítulo 4 apresenta alguns momentos difíceis, mas desafiadores que
(re)valorizaram o papel da Orientação Educacional no Colégio de Aplicação. Reflete
sobre as experiências que corroboraram para conceber um profissional na
Orientação Educacional com atribuições eminentemente pedagógicas, e não
somente psicológicas.
20
No capítulo 5, registro trabalhos realizados com alunos, pais e professores
buscando, no contexto vivido, estratégias que possibilitam desenvolver um trabalho
de qualidade em parceria com os protagonistas da escola: equipe diretiva
6
, pais,
alunos, professores e demais profissionais. Enfatizamos também que a análise de
dados emergiu dos Diários de Bordo.
Nos apêndices, são apresentados alguns documentos elaborados pela
Orientação Educacional, que auxiliaram nas tomadas de decisões da escola e na
execução das tarefas que ficavam sob a responsabilidade do Setor de Atendimento
ao Aluno Orientação Educacional. As orientações contidas nos documentos, ao
serem colocados em prática, tinham como objetivo organizar cada vez mais a vida
coletiva na escola e emergiram de um contexto específico no qual o aluno deveria
ser o maior beneficiado.
Mediante a análise feita no percurso da pesquisa, considero que a vida
profissional não tem sentido sem um olhar que lhe atribui identidade, e um
pensamento que lhe atribui valor. Minha formação acadêmica na área da Orientação
Educacional serviu de base para o desempenho de minha carreira e esta formação
foi, e é, implementada na medida em que exerço a profissão. Dessa maneira, o texto
expressa uma tentativa de compreender o trabalho da Orientação Educacional e
suas implicações sobre os alunos e sobre a escola. Assim, esta dissertação, além de
sua função educacional, teórica e técnica acadêmica, tem um valor pessoal, de
testemunho e desafio existencial.
6
A equipe diretiva nos anos da pesquisa era formada por um grupo de profissionais da área da
Educação sendo composta por uma Direção e uma Coordenação para toda a Educação Básica, duas
Orientadoras Educacionais: uma para a Educação Infantil e Séries Iniciais do Ensino Fundamental e
outra para as Séries Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Compunha também a equipe
diretiva cinco professores responsáveis por níveis de ensino: um para a Educação Infantil e Séries
Iniciais do Ensino Fundamental, outro para o atendimento aos professores de Língua Portuguesa,
Inglesa e Artes, outro voltado para o atendimento aos professores de História, Filosofia, Sociedade e
Trabalho, Geografia, outro para os professores de Matemática e Física e outro para os professores de
Ciências, Biologia, Química e Informática.
21
2 PERSPECTIVA DE AÇÃO NO TRABALHO DE ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL
Longe se vai, sonhando demais.
Mas aonde se chega assim?
Vou descobrir o que me faz sentir
Eu, caçador de mim.
“Caçador de Mim”
(Sérgio Magrão e Luiz Carlos Sá)
Pretendo neste capítulo refletir, com um olhar crítico, sobre o meu trabalho
enquanto Orientadora Educacional no Ensino Médio, focalizando com maior ênfase
os anos de 2005 a 2006 e evidenciando o trabalho realizado pelos profissionais que
atuaram nessa função dentro do Colégio de Aplicação. Para tanto se faz necessário
analisar as características do papel desenvolvido na orientação e os limites
encontrados na construção e execução desses papéis em sua ação diária. Como
fonte de coleta de dados fiz uso de observações e análises registradas em Diários
de Bordo
7
da Orientação Educacional, o Projeto Pedagógico e o Regimento Escolar
do Colégio.
As reflexões aqui apresentadas se aplicam ao Ensino Médio porque foi nesse
nível de ensino que foram desenvolvidas, com maior ênfase, as ações aqui
relatadas. É no Ensino Médio que os alunos vivenciam uma série de descobertas e
de dúvidas relacionadas a si próprio, à escolha profissional, à família e às relações
sociais que estabelecem. É imprescindível que a escola esteja atenta e
comprometida com estas mudanças e que a Orientação Educacional desenvolva um
trabalho no sentido de estabelecer diálogos entre alunos, família e escola. Para
tanto se faz necessário perceber e compreender os anseios dos alunos e buscar
estratégias e ações que colaborem para o seu desenvolvimento social, psicológico e
cognitivo. Por conseguinte sabemos que nossa razão de existir enquanto educador
está no aluno. Defendo, portanto, que o principal objetivo da ação da escola de
jovens e adolescentes o é prepará-los para a universidade, mas ajudar a tornar a
7
O Diário de Bordo é um instrumento para registro do planejamento, da execução e da
análise/avaliação das metas, estratégias e ações da Orientação Educacional no contexto do cotidiano
escolar. Constitui-se também, como um veículo de comunicação entre os especialistas em educação,
o aluno, o professor, os pais e a direção que a partir da análise dos registros, podem perceber em
que nível do processo se encontram os envolvidos, ao mesmo tempo, que permite a ressignificação
continuada da ação pedagógica. Segundo Bogdan e Biklen (1994), o Diário de Bordo tem como
objetivo ser instrumento em que o pesquisador vai registrando os relatos escritos daquilo que ouve,
vê, experiência e pensa.
22
educação um processo contínuo direcionado às suas necessidades pessoais,
sociais, físicas e cognitivas.
A trajetória da Orientação Educacional, com os alunos do Ensino Médio, foi
permeada por várias conquistas e por um considerável grau de satisfação pessoal.
Conforme dito, no ano de 1988, concluí o Ensino Superior em Pedagogia com
habilitação na área de Orientação Educacional. Paralelamente ao curso de
graduação, minha experiência profissional deu-se, em sala de aula, por oito anos.
Lecionando nas Séries Iniciais do Ensino Fundamental, comecei a questionar
o que fazia a Orientação Educacional em nossa escola. Naquela época, tinha um
pouco de receio de procurar a Orientadora Educacional para falar ou pedir auxílio no
trabalho com as crianças, pois este profissional estava sempre muito distante de
nós, professores de à série do antigo primário. As atividades da Orientação
Educacional voltavam-se às turmas de à 8ª série e Ensino Médio. Lembro que, ao
procurar a Orientação Educacional, pensei estar perturbando com assuntos não
pertencentes ao seu nível de atuação. Minha percepção sobre o trabalho
desenvolvido pela Orientação Educacional era realizado com a devida competência,
entretanto, alguns aspectos me levavam a considerar como sendo uma prática
conservadora, pois via arquivadas fichas com informações sobre os alunos que,
presumidamente, eram mantidas em sigilo absoluto gerando a impressão de não ser
uma prática transformadora, porque parecia distante do que acontecia em sala de
aula. Além disso, as discussões e socializações acerca dos acontecimentos oriundos
da vida coletiva na escola eram poucas. Possivelmente isso o acontecia
intencionalmente, muito menos por incompetência de quem assumia este papel, mas
sim, pela forma como estava constituída e organizada a equipe diretiva, as suas
metas, estratégias e ações e, quem sabe, a relação elevada de número de alunos
para uma única Orientadora Educacional.
Na prática docente vivenciei diferentes contextos profissionais que me
permitiram diversificar minhas relações e assumir diferentes papéis, apreendendo
padrões de comportamentos e de relacionamentos diversos. Essa caminhada
docente foi norteada por princípios fundamentados na Pedagogia, na Psicologia da
Educação e na Filosofia. Os princípios da Filosofia evidenciam que no cotidiano da
escola indagamos, refletimos, negamos, afirmamos, desejamos, aceitamos ou
recusamos relações, objetos e situações. Tudo isso exige um movimento radical de
análise, reflexão e crítica. Este movimento necessita de consistência e coerência,
23
por isso o termo “radical” no sentido de ir à raiz das situações reveladas no
cotidiano, por se tratar de um movimento de volta do pensamento sobre si mesmo
ou por ser um movimento de retorno a si mesmo. Estar na Orientação Educacional
exige ver a escola da maneira como sugerem os filósofos: ir além das aparências e
do imediato.
A Pedagogia tem papel primoroso junto à Orientação Educacional porque é
preciso compreender como se dá o processo de ensino e aprendizagem para
realizar uma análise consistente e compreender os sujeitos envolvidos no processo
pedagógico. É fundamental que procuremos saber como as pessoas aprendem e se
desenvolvem. A Pedagogia leva em conta as dificuldades e os problemas que os
alunos encontram quando estão diante de novas aprendizagens. Ela nos apresenta
as intervenções que necessitam serem dirigidas aos alunos para superação de suas
dificuldades por meio de atividades especialmente pensadas, planejadas e
executadas, permitindo que os alunos aprendam mais e melhor. Neste aspecto
coube me remeter à Psicologia da Educação, pois entre suas tarefas fundamentais
encontra-se a elaboração e contribuição do conhecimento psicológico e de
estratégias que revelam as causas dos problemas que surgem no meio educacional.
Ao lidar com um grande número de alunos e saber que estes participam de
experiências educativas diversas, proporcionadas pelo contexto em que vivem,
fundamentei minhas compreensões em outras áreas do conhecimento, como as que
contemplam as Ciências Sociais e da Saúde, por crer que tal iniciativa tem
fundamental importância, uma vez que nos informam as características e as
condições das mudanças produzidas nas pessoas protagonistas dos contextos em
que vivem.
É pertinente dizer ainda, que cabe à Orientação Educacional auxiliar a
(re)pensar o currículo escolar tendo a coragem de enfrentar as incertezas, as
inseguranças e interrogar o que está dado. Cabe ainda, comprometendo-se com
os demais profissionais da escola, contribuir para a produção de um conhecimento
transformador que promova uma compreensão crítica das condições sociais, bem
como dos aspectos ideológicos presentes no currículo escolar.
24
2.1 O cotidiano da Orientação Educacional no Colégio de Aplicação
Criou-se em 1996, uma vaga de Orientação Educacional no Colégio de
Aplicação. Com a intenção de assumir este desafio, apresentei-me à direção da
escola colocando meu nome à disposição para ocupar o cargo. Tinha como objetivo
permitir que o serviço de Orientação Educacional desse prosseguimento, com igual
competência, ao trabalho que vinha sendo realizado. O diretor da escola tinha duas
indicações para o cargo. Fui selecionada para atuar em toda a Educação Básica.
Naquela época contávamos com uma Orientadora Pedagógica (atualmente
essa função denomina-se Coordenação Pedagógica), com formação em Orientação
Educacional, e com ela aprendi muito. Seu conhecimento teórico era inquestionável,
seu posicionamento crítico diante da prática docente era frequente e sua insistência
em defesa da aprendizagem do aluno era ponto marcante em sua atuação. Pelo seu
conhecimento em educação nutria por ela grande consideração e a partir daí
percebia que meu compromisso se tornava maior à medida que me via na condição
de ser sua companheira de trabalho.
O início das atividades enquanto Orientação Educacional foi permeado por
muitas dúvidas, momento em que, sem muito conhecimento do que seria este
trabalho, surpreendi-me questionando sobre a ão da Orientação Educacional e
sobre qual o seu lugar em nossa escola. E, nesse sentido, algumas dúvidas se
colocaram: Estávamos vendo nossos alunos como de fato são? Estávamos
conhecendo-os no seu mundo, no seu jeito único de ser, de pensar e agir? Existiria
um esquema de referência ou um programa no qual as atividades de Orientação
Educacional eram desenvolvidas? Qual a real participação da Orientação
Educacional na vida coletiva do aluno e em seu processo de ensinoaprendizagem?
Sem ainda ter vivido o que na Orientação Educacional é genuinamente
possível de ser feito ou descoberto, perguntava-me sobre qual caminho seguir, que
trabalho realizar, o que havia sido feito e o que ainda poderia ser apresentado
como propostas inovadoras. Coincidentemente os profissionais que exerciam o
cargo de Orientadores Educacionais no Colégio de Aplicação eram profissionais da
área da Psicologia, fato que me assustou um pouco, pois este dado me fazia pensar
ser necessário atuar com pressupostos educacionais pautados com frente
eminentemente psicológica. Considerava que este enfoque ressalta apenas o ajuste
25
do aluno à escola, à família e à sociedade e naquela etapa meu conhecimento sobre
a área da Psicologia era restrito.
Vir de um outro nível de ensino e propor-me a trabalhar juntamente com
professores das Séries Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio foi algo difícil
tendo em vista uma fala corrente dos professores do Colégio de Aplicação, de que,
estar fora da sala de aula, era um “privilégio de poucos”. Também era visto como
premiação, favoritismo ou protecionismo. Com o olhar voltado para o passado e ao
mesmo tempo analisando o tempo presente da realidade de muitas escolas, é
importante perguntar como é visto o professor que sai de sala de aula para assumir
uma função enquanto especialista na área da Administração, da Orientação, da
Coordenação ou da Direção. No processo da minha profissionalização, tenho a
impressão de que professores competentes aos olhos da comunidade escolar são
chamados a exercer funções fora da sala de aula. Na educação, sem poder
generalizar, quando um professor conquista um nível de competência de excelência
para o exercício de sua profissão, é comum ser convidado a assumir funções como
gestor, coordenador ou administrador, e por consequência acaba por distanciar-se
da docência exercida em sala de aula. Sinto registrar que esta é uma característica
de nossa profissão. Quanto maior é a competência técnica e teórica, mais distante
da sala de aula fica o professor. Entretanto sei que, nos dias atuais, isso tem
mudado consideravelmente. temos coordenadores assumindo simultaneamente,
em uma mesma instituição, as duas funções: administrativa e de docência.
outros casos em que a promoção pode ser vista como sinônimo de fuga,
levando o professor a sentir-se aliviado ao distanciar-se por completo da sala de
aula e ficando longe dos desafios da docência. Sem generalizar, outros ainda
consideram uma ascensão deixar de dar aula num nível de ensino menor para
trabalhar em níveis maiores, como se o trabalho nos níveis da Educação Básica
tivesse menor importância do que o trabalho no Ensino Superior, por exemplo.
Ambos professores, mas, é como se fizessem coisas muito diferentes, com
propósitos distintos e trabalhando a preços muito desiguais. Num rápido olhar sobre
essa condição dos professores em relação a sua profissionalidade, é evidente que
há perda de prestígio. Nóvoa (1995, p. 30) escreve:
Os professores constituem um dos mais numerosos grupos
profissionais das sociedades contemporâneas, o que, por vezes,
dificulta a melhoria do seu estatuto socioeconômico. Toda a gente
26
conhece um ou outro professor que não investe na sua profissão,
que não possui as competências mínimas, que procura fazer o
menos possível. O professorado no seu conjunto é penalizado pela
existência destes ‘casos’, que a própria profissão não tem maneira
de resolver: os colegas estão amarrados por uma ‘solidariedade’
muitas vezes deslocada: os directores das escolas recusam-se a
intervenções susceptíveis de serem consideradas autoritárias [...]
Neste sentido, parece fundamental dotar a profissão docente de
mecanismos de selecção e de diferenciação, que permitam basear a
carreira docente no mérito e na qualidade.
Há de se levar em conta que apesar da profissão docente constituir um
número maior de profissionais é também um dos grupos cujos profissionais são mais
qualificados do ponto de vista acadêmico. Segundo Nóvoa (1995, p. 31),
[...] grande parte do potencial cultural (e mesmo técnico e científico)
das sociedades contemporâneas está concentrado nas escolas [...] O
projecto de uma autonomia profissional, exigente e responsável,
pode recriar a profissão professor e preparar um novo ciclo na
história das escolas e dos seus actores.
Entretanto não como desconsiderar que o sistema de ensino mudou
significadamente nos últimos 20 anos. As mudanças sociais e políticas, bem como a
facilidade de acesso a novos conhecimentos, criam no profissional, seja em qual
área de atuação, uma necessidade de atualização constante. A questão da
construção de um referencial para se compreender o professor como profissional é
um processo complexo mediado por diversos fatores e problemas ainda sem
solução. Neste sentido Ramalho, Nuñez e Gauthier (2004, p. 41) argumentam:
Os profissionais devem estar sistematicamente atualizando seus
saberes, na dinâmica do desenvolvimento científico e tecnológico,
buscando uma sincronia entre formação inicial e formação contínua
como um sistema coerentemente articulado. A formação continuada
pode acontecer em diversas agências ou instituições, mas deve
responder a uma concepção integral da formação profissional.
As reflexões expostas me fizeram lembrar que passei a pensar em minha
atividade profissional procurando construir um novo direcionamento, a
profissionalização. Necessitava de novas iniciativas visando constituir um novo
patamar, em termos de proposta, para o qual deveria se elevar à prática da
Orientação Educacional.
27
Até o momento de experienciar, na prática, a Orientação Educacional, eu
apenas teorizava sobre o processo de fazer Orientação Educacional no que diz
respeito aos seus princípios e métodos, conhecimentos adquiridos ao longo da
formação no Ensino Superior em Pedagogia com habilitação em Orientação
Educacional. Neste período, o conhecimento deu-se através de leituras e reflexões
que me levaram a analisar o papel do Orientador Educacional. Quem faz a
Orientação Educacional na escola? O Orientador Educacional. Esta afirmação,
segundo Grinspun (2005), evidencia a importância deste profissional através de dois
pontos principais: primeiro que necessidade, hoje, de se ter na escola um
profissional que ajude o aluno a fazer as novas leituras que o mundo exige de forma
crítica, investigativa e reflexiva; um profissional tão importante quanto os outros que
tratam das especificidades das áreas de conhecimento que compõem o currículo
escolar.
As atribuições do Orientador Educacional estão voltadas para o próprio
sentido de ser educador. Placco (1994, p. 30), enfatiza essa posição, quando diz
que:
[...] o Orientador Educacional, um dos educadores da escola deverá
participar de uma ação educacional coletiva, assessorando o corpo
docente no desencadeamento de um processo em que a
sincronicidade é desvelada, torna-se consciente, autônoma e
direcionada para um compromisso com uma ação pedagógica
competente e significativa para os objetivos propostos no projeto
pedagógico da escola.
Segundo documento oficial da Proposta Curricular do Estado de Santa
Catarina (SANTA CATARINA, 1992) uma contribuição para a escola pública do
pré-escolar, primeiro grau, segundo grau e educação de adultos -, o especialista em
Orientação Educacional se originou no momento em que a prática educativa era
contraditória e mediadora dos interesses da classe dominante, reforçando os
mecanismos de reprodução das classes sociais, no âmbito da escola. Em
contraposição às razões de sua origem, o Orientador Educacional deve atuar junto
com os professores da escola, participando de um projeto coletivo, de uma formação
de um homem coletivo, procurando identificar as questões das relações de poder,
das resistências dentro e fora da escola e de como e por que devemos agir em prol
de uma educação transformadora e, especialmente, junto aos alunos, no
28
desenvolvimento do que caracteriza sua subjetividade
8
. Bonin (1998, p. 59)
reconhece subjetividade sob a seguinte perspectiva:
O indivíduo histórico-social, que é também um ser biológico, se
constitui através da rede de inter-relações sociais. Cada indivíduo
pode ser considerado como um em uma extensa rede de inter-
relações em movimento. O ser humano desenvolve através dessas
relações, um ‘eu’ ou pessoa (self) isto é um auto controle egóico que
é um aspecto do eu no qual o indivíduo se controla pela auto-
instrução falada de acordo com sua auto-imagem.
O mais significativo neste momento para o papel do Orientador Educacional
bem como para os demais integrantes da escola, está centrado na construção da
subjetividade do aluno, verificando que papel a escola tem a desempenhar para que
haja coerência e harmonia nas condições promotoras dessa construção. A partir do
momento em que acreditamos que essas relações existem, que se pensar no
cultivo das relações interpessoais. Ao valorizar as experiências particulares de grupo
e indivíduos, estamos aceitando a coexistência e a postura de mundos diferentes,
reconhecendo a heterogeneidade dentro da singularidade.
Em sua ação cotidiana, a Orientação Educacional busca apostar na
perspectiva de que a construção da subjetividade do aluno pode ser auxiliada por
ela. Ao anunciar este respeito à subjetividade do aluno, vale perceber onde está, nas
atribuições do Orientador Educacional, explícito esse compromisso. As funções do
Orientador Educacional do Colégio de Aplicação, que constam no regimento
aprovado em 2007 pelo CONSUN
9
, apontam:
I. Subsidiar os docentes com informações do perfil sócio-educacional do
aluno.
II. Acompanhar os processos de avaliação e recuperação de estudos dos
alunos com dificuldades de aprendizagem.
8
O termo subjetividade veio a englobar o que antes nós chamávamos de ser humano, psiquismo,
eu-privado, homem íntimo, indivíduo psíquico [...] e ele caracteriza esta relação sujeito/objeto não
numa dimensão de polo contrários, mas das relações que os mantêm. O sujeito se constitui numa
relação com o outro sujeito e é construído pela integração do sujeito psíquico que tem uma história
individual e, portanto, desejos, sonhos e fantasias, e o sujeito social, concebido como o sujeito da
história social que a produz e dela recebe as transformações” (MORIN, 1996, p. 39).
9
O Conselho Universitário CONSUN - é o órgão máximo consultivo, deliberativo e jurisdicional da
Universidade em assuntos acadêmicos (ensino, pesquisa, extensão e cultura), administração
universitária e estabelecimento de políticas institucionais (UNIVALI, 2008).
29
III. Organizar e participar do conselho de classe, em parceria com a
Direção, Coordenação Pedagógica e os Docentes Responsáveis pelas
diferentes séries e/ou áreas do conhecimento.
IV. Coordenar e acompanhar o processo de escolha dos líderes de classe.
V. Encaminhar à Direção, conforme cronograma definido por este, o
sumário executivo das atividades realizadas.
VI. Acompanhar os especialistas do Programa de Atenção aos Discentes,
Egressos e Funcionários PADEF - nos trabalhos didático-pedagógicos
desenvolvidos juntos aos alunos com necessidades especiais.
VII. Organizar e acompanhar o processo de integração entre os alunos.
VIII. Participar da elaboração dos horários das aulas de apoio, de
recuperação de estudos e de laboratórios.
IX. Controlar e atualizar, semanalmente, as anotações no Registro de
Acompanhamento Discente - RAD
10
.
X. Responsabilizar-se pela organização e cobrança do uso de uniforme,
saídas e entradas de alunos, em todas as atividades desenvolvidas no
CAU.
XI. Elaborar o espelho de classe com o professor responsável pelo
acompanhamento da turma.
XII. Atender, individualmente, alunos, pais e/ou responsáveis, e docentes em
assuntos referentes ao comportamento, às atitudes e ao processo de
aprendizagem.
XIII. Orientar o aluno no seu processo de aprendizagem, proporcionando-lhes
condições de auto-conhecimento e integração social.
XIV. Proporcionar ao aluno o conhecimento de suas habilidades e
possibilidades, orientando-o na escolha profissional e promovendo
esclarecimentos sobre as profissões e o mercado de trabalho.
XV. Identificar problemas educacionais e encaminhar o aluno para a devida
assistência, mantendo a família e a Direção informadas.
XVI. Organizar, em parceria com os docentes, a cerimônia de entrega de
certificação aos alunos concluintes.
10
O RAD é o Registro de Acompanhamento Discente no qual o feitos os registros de entradas
tardias, saídas ou ausências do aluno da sala de aula, aulas de apoio, laboratórios e demais
atividades didático-pedagógicas.
30
XVII. Cumprir as demais atribuições delegadas pela Direção.
Dentre a multiplicidade de ações a serem incorporadas e exercidas pela
Orientação Educacional no Colégio de Aplicação, encontramos nos artigos VII, XIII e
XIV atribuições que trazem à tona, na medida em que são trabalhadas, situações em
que a subjetividade prevalece, surgindo, então, a oportunidade dos diversos
profissionais que trabalham com o aluno na escola qualificar sua ótica através do
diálogo e da troca de informações e saberes sobre este aluno. Neste momento
aumenta a perspectiva de poder compreender o aluno e seus comportamentos nos
diversos ambientes, traçando, a partir daí, plano de apoio e de orientação.
Configura-se, neste momento, espaço de cooperação e entreajuda.
A reflexão das funções eminentes da Orientação Educacional no Colégio de
Aplicação e o caráter subjetivo nela encontrado procura saber onde está implícito o
compromisso deste para com a cidadania
11
do aluno. De par com esta reflexão é
necessário remontar as origens da Orientação Educacional, aclarando o porquê e
como esta foi instituída. Com este intuito, na sequência, explorar-se-ão seus
pressupostos teóricos fazendo um sobrevoo na evolução de sua história.
11
Cidadania “A cidadania é aqui compreendida como o direito de compartilhar dessas três esferas
de existência, ou seja, o compartilhar dos bens materiais; dos bens culturais, e dos bens sociais.
Cidadão é o sujeito que possui uma consciência crítica a respeito da vida em Sociedade [...] a
questão da formação do cidadão, se, de um lado, parece extremamente simples, é, de outro, muito
complexa, pois não se trata de possíveis intervenções, intencionais e contínuas. É um processo a ser
construído por intermédio da constante reflexão sobre a vivência de situações concretas,
transformando-se num projeto de vida pessoal e coletiva” (UNIVALI, 2005, p. 7-8).
31
3 ELEMENTOS EXTERNOS QUE CORPORIFICAM O PENSAR NA ORIENTAÇÃO
EDUCACIONAL: UM SOBREVOO HISTÓRICO
Eu quero dizer
Agora o oposto do que eu disse antes
Eu prefiro ser
Essa metamorfose ambulante.
Do que ter aquela velha
opinião formada sobre tudo.
“Metamorfose”
(Raul Seixas)
Historicamente o especialista em educação surge pela necessidade de
amenizar os conflitos existentes entre os interesses de classes. Tal prática era
inspirada nos princípios da pedagogia liberal que tinha como tripé: individualidade,
igualdade formal e liberdade, sendo essa uma estratégia empregada pela classe
dominante para fazer valer a sua hegemonia, ou seja, implantando na escola um
modelo empresarial, articulado à política desenvolvimentista da época. Nesse
contexto, o Orientador Educacional teve uma atuação voltada a orientar vocacional e
profissionalmente o aluno, com referencial psicológico, reforçando a ideologia das
aptidões na qual havia o interesse de um desenvolvimento do país através do
incremento à industrialização, preparando, na verdade, mão-de-obra.
A Orientação Educacional tem sua origem na Orientação Profissional que se
fazia nos Estados Unidos, em torno de 1930. Para explicitar a relação da Orientação
Educacional com a Orientação Profissional, é necessário rever a origem da própria
Orientação Profissional. Este sobrevoo na história da Orientação Profissional será
assunto trabalhado apenas como referência
12
tendo em vista os objetivos desta
pesquisa. Segundo Pimenta (1988), a Orientação Profissional é consequência das
mudanças científicas, tecnológicas e industriais das últimas décadas do século XIX,
que assinalaram profundas transformações estruturais na sociedade. Para
compreendê-la é preciso referenciar os movimentos que antecederam o século XIX
quanto ao trabalho e à escolarização.
A divisão do trabalho intelectual para os dominantes e o trabalho manual para
os dominados, acentuando a divisão entre duas classes antagônicas sempre existiu
12
Um estudo mais detalhado sobre este assunto pode ser encontrado em Mendes (1981).
32
na sociedade dos homens. A esta divisão de trabalho, também correspondeu a
desigualdade de escolarização oferecida. A educação tradicional, transmissora da
cultura, das ciências e das artes era privilégio da classe dominante. A escola
profissional, de ofícios, que ensinava somente as primeiras letras, era para os
dominados. A revolução do século XVIII, proclamando a igualdade de direitos,
evidenciou a oposição de interesses entre as diversas categorias sociais do Terceiro
Estado (burguesia, classes populares urbanas e o campesinato). Com o predomínio
posterior da burguesia sobre as demais categorias, Lopes (1988, p. 18-19) afirma
que esta:
Toma a si o encargo da instrução como forma de legitimação no
poder. Isto é, Estado burguês encontra na publicação da instrução
uma forma de tornar coesa toda a sociedade [...] e de articular os
interesses das classes subalternas em torno dos seus. Através de
um discurso igualitário [...] a burguesia atribui ao indivíduo, a cada
cidadão, a responsabilidade pelo seu sucesso ou pelo seu fracasso
[...]: os indivíduos são proclamados iguais, mas a desigualdade
econômica é reconhecida.
Quanto aos fatores que originaram o desenvolvimento da orientação
profissional estão a organização racional da indústria de um lado e o
desenvolvimento da psicologia de outro. Dirigindo-se contra os métodos empíricos
de trabalho que caracterizaram a produção industrial no final do século XIX, Taylor
introduz a produção baseada em processos racionais, em busca de uma maior
eficiência para a produção moderna e em massa. Cria, então, medidas destinadas a
aumentar a produtividade do trabalho humano, a baratear os custos da produção,
baseando-se em uma análise que decompunha cada tarefa do processo produtivo e
organizava a articulação entre elas. Essa divisão e recomposição do trabalho
estabelecia claramente as linhas hierárquicas de autoridade, definia os circuitos de
comunicação e, em consequência, definia a nítida separação entre o trabalho de
concepção e o trabalho de execução.
Nesse processo cada função podia ser previamente descrita e normatizada,
indicando-se as capacidades do ser humano necessárias para a sua execução. A
consequência desta divisão do trabalho será a necessidade de selecionar as
pessoas conforme as capacidades requeridas para o adequado desempenho das
funções. O processo de seleção baseava-se no recrutamento de grande quantidade
de pessoas, dentre as quais se escolhiam as mais capazes e dispensavam as
33
demais. Esses procedimentos, ao satisfazer a necessidade da empresa, geraram ao
mesmo tempo uma reação nos trabalhadores que os viam como fator de
desemprego.
A necessidade de aprimorar o processo de seleção se fazia sentir. Estendê-la
para fora da empresa foi a consequência, quando então foram criados os escritórios
de orientação profissional
13
. Se os indivíduos pudessem ser convencidos de que o
problema o estava na falta da oferta de empregos, e sim na ausência de
capacidade dos indivíduos para ocupar os cargos, as reações poderiam ser
minoradas.
A orientação profissional como um processo de exame das capacidades
individuais e de orientação dos indivíduos sobre as várias alternativas com as quais
ele poderia contar, a partir de suas próprias capacidades, amplia e aperfeiçoa o
processo de seleção e deixa de possuir a dimensão negativa (negava-se o emprego
aos menos capazes), assumindo a dimensão positiva de orientar o indivíduo a
procurar emprego a partir de suas próprias capacidades. Esta orientação profissional
se desenvolveu baseada nas recentes formulações da psicologia científica,
denominada psicologia diferencial, porque esta criou os testes psicológicos de
inteligência (geral e específica), de personalidade e de interesses, instrumentos
possíveis para a identificação das diferenças individuais.
Segundo Pimenta (1984) a orientação profissional tornou-se uma maneira de
persuasão psicológica, à medida que, realizada principalmente por instituições
exteriores à empresa, convence os indivíduos de que obter ou não um emprego
depende das capacidades de cada um. A orientação profissional desenvolveu-se
nos países industrializados, aprimorando os seus procedimentos, principalmente no
período das grandes guerras. O desenvolvimento da industrialização e do processo
produtivo, em meados da década de 1930, passa a exigir do trabalhador hábitos,
atitudes e conhecimentos, o que pode ser entendido como uma capacitação
profissional
14
, adquirida previamente à entrada no emprego. Desta maneira, a escola
e o currículo atuam, então, na sociedade capitalista, como força coadjuvante para
esta, à medida que reproduz a força de trabalho.
13
O primeiro destes foi em 1902, em Munique, e o segundo, em 1909, nos Estados Unidos criado
por Frank Parsons e que se desenvolveu baseado nas teorias psicomotristas, constituindo-se em
modelo para a orientação profissional até cerca de 1950, quando surgem as teorias
desenvolvimentistas da orientação vocacional.
14
Capacitação profissional: entendida como um conjunto de habilidades básicas para o necessário
ajustamento às funções produtivas; esta “capacitação profissional” era adquirida na escola.
34
A orientação profissional até então realizada fora da escola, passa a ser
solicitada a atuar no interior dela, como forma de orientar os alunos nos planos de
estudo e carreira conforme aptidões de cada um. Esta orientação recebia o nome de
escolar. No entanto, a seleção profissional e a orientação escolar não eram
suficientes para resolver os inúmeros problemas existentes numa empresa. A
colocação do homem certo no cargo certo não bastava. Era necessário preocupar-se
com o ser humano, ocupante do cargo. Não podendo eliminar de seu seio as
organizações informais que se criavam, as empresas foram impelidas a procurar
uma forma de aproveitá-las. surge a necessidade de se preocupar com o
ajustamento do homem no trabalho, o que provocou o surto de estudos sobre
relações humanas no trabalho.
Com esta nova situação, Pimenta (1984) sinaliza que ocorre a passagem da
orientação profissional para a orientação educacional. Tendo em vista que neste
momento aclarou-se o conceito de que a profissão emprega a pessoa total e não
apenas algumas de suas capacidades, a escola não pode, portanto, limitar-se a uma
formação específica. Cumpre-lhe desenvolver o jovem ao máximo, capacitando-o
além do mais, a continuar por si o trabalho de educação permanente. Assim,
definitivamente, a formação profissional começa com a formação do homem. A
escolha da profissão, a eficiência do trabalhador, seu ajustamento no trabalho
dependem da formação de sua personalidade. De acordo com Bock (2002), neste
percurso, nos anos de 1970 e início de 1980, surge a teoria crítica que se propunha
a analisar, de forma radical, as teorias de orientação profissional existentes
(tradicionais ou liberais)
15
apontando seu caráter ideológico
16
.
Pimenta (1984, p. 42) realiza sua crítica apontando que, ao examinar as
teorias de Traços e Fatores e a Desenvolvimentista
17
, percebe que elas propõem-se
a explicar descritivamente a escolha profissional das pessoas, mas que na realidade
ficam apenas no aspecto psicológico. A autora afirma que:
15
Nas teorias tradicionais ou liberais, a concepção de aproximação do indivíduo com as profissões se
por meio do que se poderia chamar de “modelo de perfis”. Este modelo entende que uma boa
escolha é aquela que resulta da harmonia mais perfeita entre um perfil profissional ou ocupacional e o
perfil pessoal.
16
Por ideologia entende-se leitura invertida da realidade realizada pela classe dominante e que
postula sua universalidade. Portanto, não necessariamente falsa, mas com compromisso de classe.
17
Não é objetivo desta dissertação o estudo aprofundado das teorias da escolha vocacional. Para
uma análise dessas teorias, bem como os estudos que tentaram verificá-las empiricamente, ver
Torres (2001).
35
Considerando psicologicamente, o fenômeno da decisão não se
esgota; questões como liberdade de decidir, por que e para que
decidir, por que existem determinismos e como modificá-los, não são
cogitadas pela psicologia vocacional que se preocupa em descrever
os fenômenos psíquicos relacionados à escolha vocacional.
Compreende-se então que o indivíduo não se reduz apenas à psicologia e,
portanto, as teorias não dão conta de abordar e explicar o fenômeno complexo que é
a pessoa.
Retornando à Orientação Educacional, Carvalho (1963) explicita que o
significado desta ultrapassa o domínio escolar e a escolha profissional,
aproximando-se do complexo cultural que determina os valores básicos a serem
aceitos pelo indivíduo, propiciando-lhe um sentido de vida. Vista sob este prisma,
confunde-se com a própria educação no seu sentido lato: o de possibilitar o
crescimento e o florescimento da personalidade. Por essa razão não de, na
escola, limitar-se a informar crianças e adolescentes sobre o mundo do mercado de
trabalho ou tipo de estudos que lhes são mais convenientes para alcançar
posteriormente um emprego bem remunerado.
Segundo Carvalho (1963) a Orientação Educacional no Brasil começou no
campo da Orientação Profissional. Os primeiros trabalhos no gênero foram iniciados
pelo professor Roberto Mange, em 1924, no Liceu de Artes e Ofícios de São Paulo.
Seus trabalhos tinham como objetivo orientar e selecionar os jovens alunos
matriculados no curso de Mecânica. Mas o primeiro passo decisivo para a
implantação da Orientação Educacional foi sua introdução na Lei Orgânica do
Ensino Industrial (Decreto Federal nº 4043, de 30/01/1942 (SANTA CATARINA,
1992)). No mesmo ano introduziu-se a Orientação Educacional no ensino secundário
(Decreto-Lei Federal n.º 4244, de 09/04/1942 (SANTA CATARINA, 1992)). A partir
dessas primeiras tentativas, a Orientação Educacional se foi impondo, tornando-se
assunto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1961 - Lei n.º 4.024 e de 1971
- Lei n.º 5.692 (SANTA CATARINA, 1992).
Arbousse-Bastide (1972) considera que os objetivos básicos da escola
brasileira, no tocante à Orientação Educacional, estão voltados para a formação
individual e social do indivíduo enquanto aluno. Ele sublinha que estes aspectos são
mais acentuados no Brasil do que na França, onde a tônica da função coloca-se no
desenvolvimento das funções intelectuais e aptidões. Geralmente, o
desenvolvimento da personalidade está ligado ao desenvolvimento da inteligência,
36
julgamento pessoal e espírito crítico. Muitas vezes, os fundamentos afetivos e de
sociabilidade escapam à atenção dos educadores escolares. No Brasil, esses
aspectos colocam-se em primeiro plano.
De acordo com Pimenta (1988, p. 23) o ensino estruturado pelas Leis
Orgânicas
18
tornou legal em nível nacional a dualidade do ensino; profissionalizante
para os que precisam ingressar rapidamente no mercado de trabalho; secundário,
acadêmico, para os que terão maiores chances (sociais e de classe) de cursar a
universidade. Foi também nas leis orgânicas que, pela primeira vez, se fez
referência explícita à orientação educacional e profissional. A Orientação
Educacional se desenvolveu na escola média secundária, que tinha por finalidade,
entre outras, “a formação integral da personalidade do adolescente” e “dar
preparação intelectual geral que possa servir de base a estudos mais elevados de
formação especial”.
A Orientação Educacional se propaga em maior escala a partir de 1970, com
a Lei 5.692/71 (SANTA CATARINA, 1992), que reformou a Lei de Diretrizes e Bases
da Educação Nacional (1961) no que se refere ao ensino primário e médio. Tanto
nas escolas estaduais industriais, quanto nas escolas estaduais secundárias ou
mesmo nas escolas secundárias particulares da época, era possível identificar as
mesmas influências teóricas na prática da Orientação Educacional.
O documento da Proposta Curricular (SANTA CATARINA, 1991) explicita que
o papel dos especialistas em assuntos educacionais (legitimado pela Lei de
Diretrizes e Bases da Educação - LDB 5692/71) tinha uma ênfase na racionalidade,
na hierarquização de funções, no enfoque sistêmico, no controle e na parcialização
do trabalho pedagógico. No entanto, a partir da década de setenta, com o
reacendimento das forças democráticas no país, os especialistas organizam-se em
associações de classe e, articulados com as demais categorias dos trabalhadores,
buscam alternativas coletivas para a construção de uma escola pública de qualidade
e, em consequência desse movimento, administradores, supervisores e orientadores
educacionais redimensionam sua prática e passam a atuar, conjuntamente, tendo
em vista a elaboração, execução e avaliação dos projetos político-pedagógicos das
escolas onde atuam.
18
No ordenamento jurídico brasileiro, a Lei Orgânica poder ser: a lei maior de um município ou a lei
que disciplina o funcionamento de uma categoria específica de alguns dos poderes (Lei Orgânica de
Magistratura, Lei Orgânica do Ministério Público, etc) – não apenas no Brasil, mas em diversos países
(FERRARI, 1994).
37
O que se propunha, era que a atuação básica deveria residir no resgate de
sua função, numa abordagem do currículo escolar. Currículo, agora, entendido
como necessariamente articulado à totalidade do social; historicamente
situado e culturalmente determinado (SANTA CATARINA, 1991, p. 71).
Na Proposta Curricular de Santa Catarina (SANTA CATARINA, 1998), as
contribuições dos especialistas em assuntos educacionais são apresentadas no
contexto de uma escola, entendida enquanto projeto coletivo em construção
permanente. Aponta-se a necessidade de oportunizar discussões tais como: a
função social da escola, as concepções de currículo, conhecimento e conteúdo, bem
como o delineamento, execução e avaliação do projeto político-pedagógico.
A afirmação da necessidade do trabalho dos especialistas em assuntos
educacionais como articuladores do processo de construção/reconstrução do
currículo objetiva que o coletivo dos educadores, no contexto escolar, se organize e
efetivamente possa transformar a sala de aula num espaço de discussão,
apropriação e construção de conhecimentos que contribuam para uma sociedade
mais igualitária.
Para tanto, faz-se necessário refletir sobre a prática individualizada e
fragmentada que se tem processado aentão nas escolas, buscando uma prática
coletiva, por parte dos especialistas (administradores, supervisores e orientadores
educacionais), dos professores, pais, alunos, funcionários e demais envolvidos na
escola, para que, a partir da especificidade do trabalho de cada um, se alcance a
compreensão da totalidade do processo educativo através de uma postura que
viabilize a construção de uma escola pública de qualidade.
Com o intuído de promover a compreensão crítica da totalidade das
relações que se processam na sociedade, dos fenômenos da natureza e das
relações dos homens com a natureza e entre si, o currículo afirma-se como
instrumento de transformação, e os especialistas articulados com os
professores têm como papel promover uma ação cooperativa, na qual a
unidade das ações específicas é garantida pelos fins comuns.
Nesse processo de transformação, o papel do Orientador Educacional
passa a ter como ação fundamental, a leitura crítica permanente do
desenvolvimento do aluno e sua interação como força de interação social por
meio da colaboração mútua e do exercício de construção coletiva como
possibilidade de desencadear experiências inovadoras.
38
Os especialistas em assuntos educacionais apostam que a partir dos
pressupostos que fundamentam o currículo enquanto produção histórica e do
entendimento da escola enquanto projeto coletivo em permanente construção, seja
possível,
[...] junto aos educadores, ampliar as discussões vinculadas à busca
de uma escola de qualidade. Pelo aprendizado recíproco, que implica
o espaço coletivo de discussão e tomada de decisões, possamos
todos ensinar, aprender, pesquisar, refletir e, nesta relação
compartilhada, interagir e dialogar entre os dizeres e fazeres
possíveis, problematizando e vivendo a contradição da história e da
vida (SANTA CATARINA, 1992, p. 104).
3.1 Influências teóricas na Orientação Educacional
De acordo com Pimenta (1988, p. 86), a Orientação Educacional brasileira
surgiu em parte da educational guidance norte-americana e, em parte, sob a
influência da phychologie scolaire francesa. Nos Estados Unidos, a Orientação
Educacional se fez necessária como decorrência do desenvolvimento do capitalismo
industrial da democratização das oportunidades de acesso à escola propiciada pela
igualdade de oportunidades; do desenvolvimento tecnológico e industrial; da
expansão do programa de educação, a oferecer vários tipos de escolarização; de
profundas modificações morais e religiosas na sociedade, derivadas do processo de
urbanização; das condições socioeconômicas do país traduzidas na necessidade de
seleção do pessoal nos períodos de grande crise de emprego.
Nesse contexto, a orientação norte-americana se institui nas escolas sob
forma de programas de “Orientação Educacional”, compostos por uma equipe de
profissionais objetivando o ajustamento dos alunos ao desenvolvimento da
sociedade. Assim estabelecem-se os sete princípios da orientação: saúde do aluno,
integração satisfatória na vida familiar, integração satisfatória na vida social,
cidadania, vocação, uso adequado do tempo de lazer, formação do caráter. O
trabalho com os alunos, em grupo e individualmente, o assessoramento aos
professores e à direção deveriam ocorrer com base nesses aspectos. A partir daí se
desenvolveram as técnicas e os instrumentos da orientação. Em sua base vamos
encontrar as contribuições da psicologia diferencial e das relações humanas.
39
Na experiência americana, os programas de orientação construíram-se em
praticamente todas as escolas secundárias, nela assumindo a importância de um
departamento, com vários profissionais, à parte do trabalho docente de instruir.
Praticamente a instrução tornou-se trabalho exclusivo do professor, enquanto a
educação em geral era ministrada pela orientação. Na França, a orientação se
desenvolveu nas escolas como um serviço de psicologia escolar, cuja finalidade era
conhecer a criança e o adolescente. O profissional dessa área era chamado de
psicólogo escolar, sendo que a orientação se tornou orientação profissional,
exclusivamente baseada na aplicação de testes. O trabalho do psicólogo escolar era
elaborar um dossiê, contendo todas as informações disponíveis sobre a criança, o
qual constitui a base para o trabalho de assessoria aos pais e aos professores na
tarefa de educar a criança. A técnica privilegiada no modelo francês se o
aconselhamento diretivo.
Essas duas experiências de orientação constituíram a base da Orientação
Educacional em nosso país. São modelos operativamente diferentes, mas
assentados numa mesma concepção de sociedade: um todo orgânico ao qual os
indivíduos se devem ajustar nas mesmas bases psicológicas. As técnicas em ambas
desenvolvidas foram amplamente divulgadas em nosso meio. No entanto, a tentativa
de transplante desses modelos para orientadores brasileiros desconsidera as
diferenças dos sistemas escolares entre os dois países e o nosso. Embora criada
legalmente na década de 1940, quando da formulação por parte dos educadores
pioneiros dos pressupostos da Escola Nova, a Orientação Educacional se
expandiu como prática nas décadas de 1950 e 1960, em São Paulo. O seu
desenvolvimento no ensino industrial está marcado pelas finalidades e
procedimentos característicos da pedagogia liberal tradicional.
Definida como ajuda ao adolescente no seu processo de escolhas vitais,
propiciando que cada indivíduo utilize seus dons considerados socialmente bons e
elimine os possíveis desvios, a Orientação Educacional estará contribuindo para o
bem social. A sociedade é um todo orgânico que precisa ser preservado. A
adolescência é a idade em que afloram os conflitos e na qual os desvios podem
surgir. Por isso é a idade em que, de modo específico, a Orientação Educacional se
faz necessária. Inicialmente instituída na escola secundária, deveria ajudar o aluno,
originário dos segmentos médios e altos da sociedade, a cumprir o seu destino
social: ajustar-se aos estudos, à escola, à família, como condição de tornar-se um
40
adulto ajustado à sociedade. O trabalho da Orientação Educacional com o aluno,
nessa perspectiva, será basicamente individual. Esta concepção marcadamente
funcionalista da orientação sofre alterações na década de 1960, com a influência da
psicologia humanista sobretudo de Rogers
19
e do movimento escolanovista,
ressaltando a importância da escola na mudança social.
Da psicologia humanista decorre a contribuição de que a ênfase do
desenvolvimento deve ser colocada no indivíduo, como modelo para si mesmo, e
não num modelo social. Daí a importância da orientação centrada no indivíduo, na
liberdade pessoal. Na psicologia humanista o grupo, a troca de vivências individuais
favorecem o desenvolvimento. É o momento da orientação não-diretiva.
No movimento escolanovista, teremos a importância do grupo acentuada
como um momento da aprendizagem para a democracia: aprender a conviver e a
respeitar, a ouvir e aceitar e a exercer a liderança são valores democráticos que
nortearão a conduta dos indivíduos na vida social fora da escola. Sob essas
influências, a orientação centrará seu trabalho nas técnicas grupais. Apesar de
cronologicamente a fase da orientação individual anteceder à orientação grupal, uma
não elimina a outra ambas convivem na prática da orientação educacional
brasileira.
Com predominância da experiência americana, as áreas básicas de atuação
dos Orientadores Educacionais na escola têm sido a orientação escolar, a
orientação profissional, a orientação familiar e a orientação do lazer. Atualmente
pesquisadores da área apontam para o campo da orientação educacional
evidenciando-o como potencial formador e auxiliador no percurso escolar, familiar e
pessoal da vida do aluno. Como exemplo, Lück (1996, p. 64) aponta os seguintes
princípios:
Princípio I a Orientação Educacional é um processo dinâmico,
contínuo, sistemático e integrado em todo o currículo escolar.
Princípio II – a Orientação Educacional é um processo cooperativo e
integrado em que todos os educadores, e em especial o professor,
assumem papel ativo e de relevância.
Princípio III a Orientação Educacional o aluno como um ser
global que deve desenvolver-se harmoniosa e equilibradamente em
todos os aspectos: físico, mental, emocional, social, moral estético,
político, educacional e vocacional.
19
Carl Rogers 1902/1987 - Psicopedagogo estadunidense. Importante pensador americano foi um
precursor da psicologia humanista e criador da linha teórica conhecida como Abordagem Centrada na
Pessoa (WIKIPEDIA, 2008).
41
Princípio IV a Orientação Educacional é um processo de
assistência direta ou indireta a todos os educandos, indistintamente;
a orientação educacional procura, antes de tudo, promover situações
que favoreçam o desenvolvimento do educando e prevenir situações
de dificuldade, e não se estabelecer como recuso de remediação de
problemas já criados.
Neste aspecto Giacaglia (1997) aponta que os métodos a serem empregados
na Orientação Educacional devem ser de modo preventivo ou remediativo. No
primeiro caso, trata-se geralmente de estratégias de aplicação coletiva como, por
exemplo, as palestras e reuniões realizadas com pais, alunos e professores. No
segundo, situam-se as de aplicações individuais como a entrevista, devendo o
orientador educacional dar preferência aos métodos preventivos. Vale registrar que,
no período relatado nesta dissertação, dentre as estratégias utilizadas comumente
em nossa escola, destacavam-se as palestras, as assembléias com os alunos, as
entrevistas individuais e coletivas e as reuniões com alunos, pais e professores.
Segundo Pimenta (1984), a especificidade da Orientação Educacional é
ajudar o adolescente a obter desenvolvimento integral e harmonioso de sua
personalidade. Por personalidade desenvolvida integral e harmoniosamente
entende-se a personalidade ajustada a si mesma, às características individuais em
consonância com o meio ambiente (escola, família e sociedade). Assim, penso a
Orientação Educacional por uma ótica transformadora, ou seja, uma ótica que de
fato atenda à democratização da escola, onde o ingresso, a permanência e a
qualidade do ensino sejam aspectos que garantam a plena vivência do aluno.
Quando a Orientação Educacional atende a democratização da escola, ela parte do
pressuposto, por exemplo, que a questão “autoconhecimento” constrói-se na vida
social, sendo a escola um dos principais locais que auxiliam este processo.
Assim, na ação coletiva, o aluno vai construindo a personalidade, o
conhecimento coletivo, que tem uma ligação direta com sua vida. Historicamente a
Orientação Educacional pensava autoconhecimento como “mergulho dentro de si
mesmo”; atualmente é possível pensar o autoconhecimento como o resultado de
uma ação mais ampla no mundo, pois nos conhecemos na ação sobre a natureza,
com os homens e em seus reflexos sobre nós. É na ação que nos reconhecemos e
não tão somente na reflexão. É na ação sobre a natureza que nos construímos.
De acordo com Solé (2001), a Orientação Educacional é entendida em dois
sentidos constitutivos e complementares. Por um lado, como a ajuda que se
42
proporciona a uma pessoa para que possa escolher, entre diversos itinerários e
opções, aquele que lhe é mais adequado. Orientar consiste em proporcionar
informação, orientação a alguém para que possa tomar decisões mais adequadas,
levando em consideração tanto as características das opções disponíveis, como as
características, capacidades e limitações da pessoa que deve tomar a decisão,
assim como o ajuste entre ambas. Por outro lado, no âmbito educacional, a função
orientadora é inerente à função docente, sendo esta entendida como um projeto que
tende a proporcionar os meios necessários para a formação integral e personalizada
do aluno em todas as suas capacidades cognitivo-linguísticos, motoras, de relação
interpessoal, de inserção social, de equilíbrio pessoal ou seja, como um projeto
educacional no sentido amplo, além daquilo que está estritamente vinculado ao
cognitivo.
De certa forma, todos os envolvidos no processo de ensinoaprendizagem,
seja o professor, a orientadora, a coordenadora, a diretora e os pais, fazem parte do
processo de Orientação Educacional. O Orientador Educacional representa um
importante marco referencial para o aluno na escola. As demandas da instituição, a
diversidade de alunos e a necessidade de chegar a todos eles representam um
desafio muitas vezes instransponível que, de preferência, não deve ser exigido
apenas do corpo docente, o qual, para responder aos desafios que lhe são
apresentados, precisam de recursos, de formação e de assessoramento específico.
Define-se, assim, um campo profissional, coberto pelos serviços de orientação e de
intervenção especializada, que vem sendo ocupado fundamentalmente por
profissionais da Psicologia e da Pedagogia e mais recentemente também por
profissionais com formação em Psicopedagogia. O capítulo a seguir reflete sobre o
contexto do trabalho da Orientação Educacional no Colégio de Aplicação UNIVALI,
suas funções e incertezas vividas no desempenho de suas atividades.
43
4 REFLETINDO O CONTEXTO E AS INCERTEZAS DO NOVO TEMPO
Deixe por conta da manhã que o azul
do céu e sol se encarregam de azular
As águas do Atalaia
maré mansa pela praia
Geremias nos traz peixes pro jantar
Pelo rio que corre sobre pedras
gaivotas seguem os barcos
na esperança do seu pão
E o quebra mar se abrindo ao rio
Pra imensidão das águas traz no
braço/o rumo certo a direção.
“Ares de Verão”
(Carlos Niehues)
20
Assumir a função de Orientadora Educacional no Colégio de Aplicação no ano
de 1996 significava ter, sob minha responsabilidade, 134 alunos na Educação
Infantil, 1044 no Ensino fundamental e 402 no Ensino Médio. Estas turmas eram
distribuídas num espaço físico de quatro blocos: 10, 11, 12 e 15. Sem um
planejamento elaborado, pensei em atuar em encontros com grupo de alunos sem
periodicidade, atendê-los individualmente na medida em que as necessidades eram
apontadas pela instituição ou pelos próprios alunos e professores. Os encontros nas
turmas dar-se-iam por conta de situações-problema que emergem da vida grupal e
que me permitiriam uma interação mais livre e espontânea. Neste encontro
debateríamos temas de interesse da turma, estimulando-os a falarem e também a
ouvir os colegas, promovendo troca de ideias sobre a escola, sobre a vida familiar,
social e coletiva. Esse seria um trabalho de caráter preventivo. Discussões que
certamente exigiriam leituras sobre o desenvolvimento humano, sobre ética, valores
humanos e sociais e em especial sobre o adolescente e o processo por meio do qual
o aluno se constitui como sujeito da própria história.
A pretensão, enquanto Orientadora Educacional, era trabalhar numa
dimensão pedagógica com ênfase no conhecimento que promovesse a
transformação pessoal e também a transformação da escola em sua forma de gerir o
conhecimento e atingir as expectativas do aluno. Naquele período inicial do trabalho
não havia uma sala única designada para o Serviço de Orientação Educacional.
20
Carlos Niehues era compositor e cantor itajaiense. Fez produção musical para o show de Elza
Soares. Trabalhou muito com teatro e pintura. Carlos Niehues tinha alma de artista. Nasceu em
17/11/1957 e morreu em 18/11/1994.
44
Havia uma mesa na sala de Atividades Complementares
21
do Colégio e ali atendia a
pais e alunos. Essa situação se deu porque o espaço ocupado pela equipe diretiva
não contava com um ambiente reservado para a Orientação Educacional. Trabalhei
nesta condição por seis meses, até que o ambiente físico para a orientação foi
privilegiado, aspecto que denotou reconhecimento à importância do papel da
Orientação Educacional.
Nesta época, para acompanhar os 1.580 alunos da Educação Básica, a
equipe diretiva era formada por uma Orientadora Educacional para toda a escola,
uma Orientadora Disciplinar atuando mais precisamente de a séries do Ensino
Fundamental e com o antigo Segundo Grau, hoje, Ensino Médio; uma Orientadora
Pedagógica para os níveis de Educação Infantil, uma Orientadora Pedagógica para
o primário, atualmente denominado Séries Iniciais do Ensino Fundamental e outra
Orientadora Pedagógica para os níveis de Ensino Fundamental e Ensino Médio. No
Terceirão último ano do Ensino Médio-, tínhamos dois professores que se
ocupavam essencialmente desta série. O diretor era um, para toda a Educação
Básica.
Foi na incerteza de por onde começar que minha primeira iniciativa foi
trabalhar a orientação profissional com os alunos do 3.º ano do Ensino Médio. A
aquele momento do ano letivo, não havia sido feito um trabalho que os orientasse
sobre as possibilidades de escolha profissional. Sabendo que nossos espaços
sociais e familiares influenciam constantemente o processo de escolha profissional e
que somos questionados sobre essas escolhas desde pequenos pela conhecida
pergunta a respeito do que queremos ser quando crescer (pergunta esta que se
torna mais incisiva no Ensino Médio), assumi o desafio de aproximar-me dos alunos
do Terceirão e ajudá-los a refletir sobre suas escolhas.
Meu conhecimento na área de Orientação Profissional não me subsidiava
completamente para que me sentisse segura com o trabalho a desempenhar.
Necessitei de muitas leituras e busca de formação na área e, sobretudo, me pus a
conhecer o trabalho realizado em outras escolas. Nelas não havia um trabalho
específico nesta área desenvolvido pela Orientação Educacional. Era necessário
construir esse trabalho, e este foi um compromisso ao longo dos anos que se
seguiram.
21
Atividades Complementares: função exercida por uma professora cujo papel objetiva dar
visibilidade para os eventos, projetos e atividades de ensino desenvolvidas no Colégio de Aplicação.
45
Essa etapa provocou outra compreensão sobre carreira e desenvolvimento
profissional, pois havia acabado de aceitar o desafio de uma nova atuação
profissional. Sentia-me na obrigação de auxiliar nosso aluno em suas escolhas,
fossem elas profissionais ou não. Procurei meus escritos e textos lidos ainda na
graduação sobre a atuação do pedagogo na Orientação Profissional dos jovens.
Naquela época, havíamos recebido instrução sobre técnicas projetivas e testes de
levantamento de interesses; todavia, aqueles à que o Orientador Educacional
poderia utilizar em seu trabalho, eram pouco indicados. Vasculhei a literatura na
área, e optei então por começar com visitas técnicas a empresas e visitas a alguns
cursos da universidade, contemplando neste item a informação profissional.
A operacionalização das atividades de Orientação Profissional nos anos que
se seguiram, acontecia sempre no contraturno e participavam apenas os alunos
interessados. Esta iniciativa não me satisfazia, pois era um número reduzido de
alunos participantes. Atendia em torno de duas turmas com 15 alunos em cada.
Essa dinâmica de orientação profissional seguiu sendo operacionalizada pelas
acadêmicas do curso de Psicologia, que enfrentavam as mesmas dificuldades.
De 2000 a 2001 com outras propostas de trabalho, assume no Colégio uma
nova direção. Neste período o trabalho da Orientação Educacional enfrentou
situações difíceis, mas, desafiadoras. O dilema resumia-se em legitimar a presença
e a importância do trabalho da Orientação Educacional que, por ser exercido por
alguém sem a formação em Psicologia, contava com a resistência da nova gestão.
Após ter sido contratada uma nova Orientadora com formação em Psicologia, para
atuar com exclusividade nos níveis da Educação Infantil e Séries Iniciais, passei a
responsabilizar-me somente pelos níveis do Ensino Fundamental anos finais e
Ensino Médio. Essa nova contratação veio ao encontro das necessidades da escola,
pois o número de alunos matriculados requeria um número maior de profissionais
dedicando sua atenção a eles. Entre os pontos positivos e negativos, identifico,
nesta etapa, alguns dilemas do trabalho do Orientador Educacional no Colégio de
Aplicação.
Uma forte influência da Psicologia numa dimensão terapêutica,
identificando o aluno como único responsável por seus atos, do seu
sucesso ou fracasso, da sua decisão profissional como fruto de suas
aptidões. Isso fez com que o trabalho se voltasse mais para a
46
individualidade de cada aluno do que para as questões coletivas que
circunscreviam a vida do aluno em nossa escola.
A relação de poder estabelecida dentro da escola fez com que ocorresse
uma orientação dentro de determinados padrões normativos, nunca
discutida, apenas imposta.
Dificuldade da equipe em conceber um profissional na Orientação
Educacional com atribuições eminentemente pedagógicas e não, tão
somente, psicológicas.
Dificuldade em reconhecer a importância do papel do Orientador
Educacional na escola, nos níveis de ensino dos anos finais do Ensino
Fundamental e do Ensino Médio.
Possibilitou um avanço nos trabalhos da Orientação Educacional, pois a
dúvida quanto à competência e ao trabalho desenvolvidos foi motivo para
autodesafio, autossuperação e de novas decisões.
De certa maneira esta etapa legitimou a importância da experiência, pois
houve momentos em que os pontos de vista da Orientação Educacional
dos anos Finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio nortearam as
ações na Educação Infantil e no Ensino Fundamental – Séries Iniciais.
Em relação ao número de alunos matriculados, a contratação de duas
orientadoras educacionais foi positiva, pois um olhar exclusivo deste
profissional para os níveis específicos de ensino trouxe maiores benefícios
para os serviços educacionais que a escola oferecia. O foco de trabalho
pôde ser mais centrado e as responsabilidades melhores divididas.
O trabalho articulado com o psicólogo e o pedagogo formou uma parceria
integrada, pois os aspectos pedagógicos e os aspectos psicológicos
encontrados na diversidade das dificuldades dos alunos corroborou para
as reflexões e as decisões.
A função do “mestre disciplinar” era muito reconhecida e reverenciada
como função imprescindível para a manutenção da ordem na escola.
A trajetória histórica da Orientação Educacional no Colégio de Aplicação se
fez em contextos diversos, vivenciados mais com incertezas do que com certezas.
Penso que este foi um dado das mudanças do novo tempo, pois a característica do
47
trabalho da Orientação Educacional do nosso contexto escolar norteava-se,
basicamente, pela experiência empírica; todavia, o olhar científico foi, pouco a
pouco, apontando para outras probabilidades de reflexões necessárias ao nosso
cotidiano escolar. O gosto pela leitura e pesquisa foram fortes condicionantes para o
processo de mudança.
Em maio de 2002, com a eleição de um novo grupo gestor, mudanças
organizacionais começaram a se fazer sentir no campo administrativo e no campo
pedagógico da Univali.
[...] Para fazer frente aos desafios de gerir a Universidade e a
Fundação Univali na virada do milênio, [...], a nova Reitoria
empenhou-se em consolidar e aperfeiçoar estruturas institucionais e
administrativas existentes, e criar outras para responder às
demandas e especificidades dos novos tempos (XAVIER, 2005, p.
140).
No contexto das mudanças, vários projetos institucionais foram se
organizando, e, para situar a Orientação Educacional nestas, tomo como referência
o projeto Opção Profissional por Área (OPA), cujo objetivo é informar os jovens a
respeito dos cursos de graduação oferecidos na Universidade do Vale do Itajaí
(UNIVALI), bem como o perfil profissional dos egressos e a abrangência no mercado
de trabalho, cumprindo seu papel social à medida que integra a comunidade local e
regional e a universidade.
Dentre as ações implantadas pela organização do evento, havia um momento
de acolhida aos Orientadores Educacionais das escolas públicas e privadas da
região a fim de fornecer informação sobre os objetivos do projeto e sensibilizá-las a
motivar os alunos do Ensino Médio para uma participação efetiva no evento. Nas
reuniões, as orientadoras educacionais participantes reforçavam o desejo de terem
psicólogos para “tratarem dos alunos da escola”. Em suas falas, sinalizavam que a
presença de um psicólogo escolar seria a “salvação” para todos os problemas dos
alunos (dos professores, especialistas e equipe dirigente).
Como essas orientadoras
22
reconheciam seu trabalho? Questionei-me se a
Orientação Educacional não cumpria a sua função de agente de mudança.
Questionei a Orientação Educacional como um todo, incluindo-me, já que era esse o
22
Nestes encontros, havia apenas um orientador homem. Este possuía um discurso muito
interessante relativo ao papel da Orientação Educacional. Cito então, orientadoras pelo fato dos
orientadores educacionais serem, na maioria, do gênero feminino.
48
meu papel. O que fazer para não me encontrar procurando no outro a solução para
as situações inusitadas, oriundas da vida escolar e cujo papel cabe ao Orientador
cumprir ou pelo menos buscar meios junto ao coletivo da escola? Penso que
caracterizar o papel da Orientação Educacional numa perspectiva contextual da vida
na escola perpassa pela implementação de novas estratégias, metodologias e
técnicas. Faz-se necessário repensar nossos objetivos: O que pretendemos? Para
que e para quem aplicamos nossas ações e voltamos nossos estudos e reflexões?
Essas questões nos remetem à possibilidade e à necessidade de convidar
outros profissionais para cooperarem no trabalho de orientação. É preciso pensar no
aluno e com ele contar, trabalhando numa dimensão social de diferentes maneiras.
É preciso trabalhar para que o aluno se reconheça como sujeito de transformação e
de mudança, colaborando com a escola no sentido de fazer dela espaço de vivência
democrática. Essa perspectiva pressupõe um trabalho voltado à dimensão social, na
qual o aluno percebe quem ele é e qual é o seu papel dentro da escola. Assim
teríamos a oportunidade de trabalhar questões importantes como: aprendizagem da
convivência, autonomia, cooperação, sentido de justiça e diálogo. Sei que para isso
acontecer é necessário encontrar estratégias pedagógicas que se corporifiquem em
situações escolares concretas.
Encontrei nesta etapa motivos para (re)valorizar a função da Orientação
Educacional na escola. Se eu nutria satisfação profissional em minhas atividades,
era porque elas tinham valia. Desta forma, meu compromisso com o processo
educativo de nossa escola levava-me a questionar a cada instante a reprodução do
velho e trabalhar com a possibilidade da construção de um novo jeito de caminhar. A
meu ver a soma das experiências direcionou-me para novos objetivos.
Entre os anos de 2001 a 2006, elaborei alguns projetos na área de
Orientação Profissional: Administrando meu Futuro (Apêndice A) e
simultaneamente um projeto na área da informação profissional, que depois de
encontrar os parceiros certos, colegas do departamento do processo seletivo da
universidade, intitulou-se OPA Opção Profissional por Área (Apêndice B), cuja
versão é mantida atualmente pela instituição e o projeto EPPA Escolha
Profissional Possível na Adolescência (Apêndice C). Consciente de que nossa
sociedade está sempre em transformação, com crises econômicas e reformas
políticas que se sucedem, minha forma de compreender a orientação profissional
também sofreu mudanças de interpretação. As profissões não têm o mesmo perfil
49
de décadas atrás, são diversas e mais complexas, porém permanece nosso jovem
aluno com a mesma necessidade de ser auxiliado neste momento, situação que
requer a presença de um adulto comprometido com esta questão.
Entre as Orientadoras Educacionais com as quais mantive contato, poucas
foram as que se dispuseram a responsabilizar-se por este trabalho em suas escolas.
Tal atribuição sempre foi delegada a outrem. Em sua maioria relegavam esta
iniciativa aos profissionais da área da Psicologia. Vale registrar que considerei este
assunto como mais um desafio, pois ao realizar este trabalho me senti na obrigação
de procurar saber exatamente o que podia fazer sem ferir ou invadir o espaço que
competia aos profissionais psicólogos. O que cabia a mim, pedagoga, e o que cabia
a eles. Ressalto que a autora Dulce Helena Penna Soares (2002) foi uma das
principais incentivadores para este trabalho, pois após ler seu livro, e entrar em
contato, muitas orientações na área foram postas a minha disposição. Foi por seu
incentivo que participei de cursos livres de formação em Orientação Profissional
desenvolvido pela ABOP Associação Brasileira de Orientadores Profissionais e de
Grupos de Estudos na área de Orientação Profissional na Universidade Federal de
Santa Catarina. Seu incentivo também me estimulou para criação de projetos na
área de orientação profissional. Outros autores, como Rosane Levenfus (2002),
Silvio Bock (2002), Marilu Lisboa (comunicação pessoal), Cynthia Borges de Moura
(2001) e Lucídio Bianchetti (comunicação pessoal) também embasaram minhas
propostas de trabalho.
Entre os trabalhos de grande relevância na área da Orientação Educacional
no Colégio de Aplicação destaca-se o projeto MIDDA Multiplicadores de
Informações sobre Drogas, DSTs (Doenças Sexualmente Transmissíveis),
HIV/AIDS (Vírus da Imunodeficiência Humana) (Apêndice D), criado em 1999, e o
projeto Concurso de Cartazes “Cuido Bem de Mim” (Apêndice E), ambos
premiados nacionalmente. O primeiro trata-se de um projeto voluntariado de
prevenção ao uso indevido de drogas. Ele me proporcionou muita satisfação, pois
tive a oportunidade de levar os seus seis integrantes, alunos do Ensino Médio, ao
estado de São Paulo, para participarem de um congresso internacional. Nosso
projeto foi aprovado para apresentação em mesa-redonda, sendo os alunos porta-
vozes de seu desenvolvimento. Estiveram presentes no congresso representantes
de vários estados do Brasil e de outras nações, pontuando trabalhos de prevenção
das doenças sexualmente transmissíveis, HIV positivo e Aids. Este projeto, que se
50
resumia em ciclos de palestras feitas por nossos alunos do Ensino Médio, em
escolas públicas de Itajaí e região, foi desenvolvido até o ano 2005.
O projeto Cuido Bem de Mim também foi motivo de muitas alegrias, através
dele seus protagonistas, alunos do 1.º e 2.º ano do Ensino Médio e integrantes do
projeto MIDDA, viajaram por duas vezes para Brasília, a fim de receber da
Secretaria Nacional Antidrogas (SENAD) prêmios em reconhecimento ao trabalho
desenvolvido. Trata-se de um projeto que prioriza o desenvolvimento da auto-estima
nas crianças e relaciona-se também ao trabalho de prevenção primária ao uso
indevido de drogas. Atualmente, sob nova coordenação, ele permanece sendo
desenvolvido.
No trabalho da Orientação Educacional o projeto teve uma importância ímpar
conforme relatado no artigo Protagonismo juvenil: concurso de cartazes “Cuido
Bem de Mim” socializando um projeto de ensino vivido junto aos alunos do Ensino
Fundamental. Kumm (2006, p. 118) registra:
No significado maior do trabalho com os jovens, quer-se ver como
ele é: carregado de sonhos, oscilando seu humor, indeciso nas suas
escolhas, contraditório nas suas posições, frágil e inseguro diante do
amanhã, onipotente no seu querer. E ele é, nesta etapa, chamado a
fazer escolhas e a assumir novos papéis. Tem independência
suficiente para escolher seus amigos, a partir de afinidades pessoais.
Sente neste momento um forte desejo de se sentir útil, por isso,
escolhe participar de projetos sociais que permitam sentir auto-
realização e o desejo de cada um, em ações que visam ao bem
comum, fatos que exigem um compromisso educativo na promoção
de tais iniciativas. Fortalecendo o protagonismo juvenil destes jovens,
estariam eles alimentando iniciativas pró-ativas de realização de
tarefas produtivas, mostrando novas formas de associar com seus
pares a conquista daquilo que acreditam e que idealizam.
Os projetos desenvolvidos e outras ações da Orientação Educacional tiveram
e têm como foco de discussão as questões do mundo contemporâneo, tais como, a
violência, as drogas, a ética, a sexualidade e a AIDS, o mundo do trabalho, os
sentimentos, a arte, a cultura, a segurança. Quando discutidas na escola, estas
reflexões possibilitam aos alunos melhor compreensão da sociedade em que vivem,
e a sua repercussão no cenário local-global com vistas a intervenção e melhoria da
qualidade de vida individual e coletiva.
51
4.1 Discutindo a relação entre o número de Orientadores Educacionais e o
número de sujeitos que compõem o corpo discente
Apresento o quadro 1
23
, com o número de Orientadores Educacionais
estabelecido pela Secretaria de Educação do Estado de Santa Catarina. A lei
normatiza a presença deste profissional na escola. Para obter uma visão geral de
como se configurava a presença da Orientadora Educacional no colégio em estudo,
o quadro é seguido de algumas análises sobre a representatividade desse
profissional no nosso espaço educacional.
Número de alunos
Número de orientadores
Educacionais na escola
Horas Aula / Vaga
Até 250 02 vagas 20horas
251 até 499 04 vagas 20horas
Acima de 500 alunos 06 vagas 20 horas
Quadro 1 - Número de Orientadores Educacionais determinado por lei na escola
Fonte: Secretaria de Estado da Educação e do Desporto levantamento de vagas ano 1995. Quadro
elaborado pela autora no ano de 2008.
Entre os anos de 2005 a 2006 podemos considerar, segundo análise feita
junto à secretaria do Colégio de Aplicação
24
, que de acordo com a legislação da
Educação do Estado de Santa Catarina havia um distanciamento entre a legislação
vigente e o que efetivamente vigora na escola. No entanto, os documentos legais
traduzem a intenção, mas não traduzem a realidade em si. Assim sendo, a lei não
consegue representar a efetiva ação da orientação na escola, tendo em vista o fato
de ela apoiar-se em um número ideal de alunos ao bom desempenho deste
profissional e não o número real ou possível para os tempos atuais.
Ao trabalhar integralmente em uma mesma escola, o Orientador Educacional
consegue dispensar maior tempo para as necessidades dos alunos, sendo sua ação
mais ativa e seu conhecimento sobre as atividades e decisões da escola mais amplo
e efetivo. Por trabalhar com um número grande de alunos matriculados nos anos
finais do Ensino Fundamental e do Ensino Médio, a Orientação Educacional
obrigatoriamente necessita sistematizar suas ações, pois seu raio de ação é amplo e
23
Esta é a legislação vigente no Estado de Santa Catarina.
24
Os dados foram pesquisados na documentação que compõe o acervo da secretaria do Colégio de
Aplicação.
52
diverso. Nestes níveis de ensino a organização das aulas é de minutos (48 minutos
por disciplina), tendo os alunos, a dia de 12 professores, fato que exige a
solicitação da Orientação Educacional com maior frequência. No trabalho com as
crianças da Educação Infantil e das Séries Iniciais do Ensino Fundamental, a
presença da Orientação Educacional é também indispensável, muito embora a
organização do currículo se estruture em período contínuo de aulas em um turno
com um mesmo professor, e este dispensa uma maior atenção às necessidades
educacionais dos seus alunos. Na verdade, seria utópico acreditar que toda
professora
25
destes níveis de ensino está preparada para, sozinha, orientar sua
classe. A professora é a Orientadora de sua classe, mas ela precisa de alguém a
quem recorrer, com quem dialogar sobre os casos mais difíceis, ou para um tipo de
atividade mais complexa, ou mesmo como apoio para sugestões de como conhecer
melhor a criança e de como agir educativamente sobre ela. Um outro fator de
fundamental importância que reforça a presença da Orientação Educacional neste
nível de ensino são as intervenções dirigidas à família.
Embora não havendo equidade entre o número de Orientadoras Educacionais
existentes no colégio e o número de alunos que elas têm sob sua responsabilidade,
é relevante considerar que a escola particular possui autonomia para decidir, de
acordo com seu Projeto Político Pedagógico (PPP), o número de profissionais que é
possível manter em sua instituição, e as atribuições da Orientação Educacional não
se restringem aos estabelecidos por lei.
4.2 Surgem fios para novas tessituras
Como disse anteriormente, o ano de 2002 marcou o início de um novo tempo
institucional. Novos desafios, novas relações, outras expectativas. A re-estruturação
organizacional também se fez presente no Colégio de Aplicação UNIVALI (CAU)
possibilitando um novo estímulo para a afirmação do papel da Orientação
25
Um dado interessante é que ao longo destes 29 anos em que o Colégio de Aplicação oferta vagas
para matrículas na Educação Infantil e para as Séries Iniciais do Ensino Fundamental, as professores
regentes de sala sempre foram do gênero feminino. Este fato, se alterou na disciplina da
Educação Física, pois nesta disciplina tivemos professores homens.
53
Educacional no contexto escolar. Essa função foi reconsiderada em sua importância,
complexidade e abrangência.
A direção e a coordenação pedagógica que assumiram a tarefa de dirigir o
processo educacional com reconhecida competência acadêmica e sólido
posicionamento humano foram fonte de troca de ideias norteadoras para a
construção de uma educação libertadora, transformadora e humanista. Tornou-se
mais forte a crença de que a escola pode e deve ser um espaço de formação ampla
do aluno, que aprofunda o seu processo de humanização e que aprimora sua
vivência na dimensão social. Nesta perspectiva era essencial o resgate
comprometido da Orientação Educacional sobre o papel ativo dos sujeitos que
compõem a escola e que podem fazer dela lugar de contato, de diálogo, de
sensibilidade e de hospitalidade, usufruindo dessa condição de ser a escola lugar
privilegiado para relação humana.
Nesse novo contexto pedagógico e organizacional, foi criado o Setor de
Atendimento ao Aluno sob a responsabilidade da Orientação Educacional. Este setor
é entendido como um lugar de acolhida e um espaço que articula estratégias de
orientação disciplinar institucional, partindo do pressuposto de que o
desenvolvimento de relações positivas na escola é passo essencial para estabelecer
um ambiente escolar estruturado e ordenado; um espaço com muita hospitalidade.
Numa escola cujas condições são favoráveis, a hospitalidade, que pode e
deve ser cultuada na escola, constitui uma postura ética por excelência, devendo
dizer respeito a todas as práticas de relação social que ali acontecem. Segundo
Baptista (1998, p. 30)
o sentido de humanidade reclamado por um mundo violento, incerto,
problemático e desencantado, como o vivido por muitos, é
indissociável da ligação positiva a um lugar, da referência afetiva aos
espaços onde se dorme, onde se come, onde se ama, onde se
trabalha, ou onde se aprende e se partilha alegrias e tristezas.
A estes tipos de lugares Marc Augé (1999, p. 68) chama de “lugares
antropológicos” por oposição aos “não-lugares”, esses espaços de passagem
desprovidos de identidade.
Marc Au(1999) reconhece que as práticas de hospitalidade contribuem,
precisamente, para dar uma configuração antropológica aos lugares onde
cotidianamente se cruzam, na riqueza da sua diversidade e pluralidade, os destinos
54
individuais. A hospitalidade deve estar presente na relação com o outro. Sua prática,
ao mesmo tempo em que salvaguarda o direito à privacidade e à intimidade,
potencia a socialização de indivíduos separados, inevitavelmente, pelo mistério das
suas subjetividades. Acolher o outro como hóspede significa que aceitamos recebê-
lo no nosso lugar, na nossa casa, colocando à sua disposição o melhor do que
somos e do que possuímos. Do mesmo modo, o outro mantém a sua exterioridade e
o seu segredo. E é na relação permanente com esse segredo, respeitado e
valorizado, que os alunos podem crescer no espaço escolar como seres humanos,
como seres do bem. Nesta perspectiva a escola ocupa uma posição privilegiada na
promoção dos valores requeridos pela exigência de vida em comum, exemplificando
hospitalidade, acolhimento e bem querer. Importa para isso investir na qualidade
relacional dos seus espaços, tornando-a um lugar antropológico, em termos de afeto
e de aceitação.
Ao longo dos anos de trabalho dedicados à Orientação Educacional, foi
possível perceber, pouco a pouco, que as pessoas sejam no lar, na escola, no
trabalho ou em outras situações do dia-a-dia, buscam encontrar um lugar, uma
imagem, em que se sintam alguém, onde sua pessoa e sua personalidade possam
ser vistas e sentidas como expressão de sua individualidade. Pude notar, ao longo
dos encontros, diálogos e troca de ideias com nossos alunos, que muitos
comportamentos de ansiedade, de desânimo, de desencanto, de transgressão
tinham algo em comum, uma necessidade de autoafirmação. Quando esta lhe era
negada, pelo parecer crítico alheio ou pela imagem de si mesmo, acorriam reações
de defesas compulsivas e com posturas ríspidas. Neste momento, que fatos ocorrem
no interior da escola? A quem cabe ouvi-los? O que dizer e como contribuir? Como
interpretar?
Na sequência, a título de exemplo e sugestão, apresento estratégias
implementadas pela Orientação Educacional nos anos de 2005 e/ou 2006 a partir de
situações particularmente difíceis do dia-a-dia na escola. Apresento também uma
análise de dados que emergiram dos registros dos Diários de Bordo. Ciente de que o
resultado do sucesso dessas iniciativas é incerto, o capítulo a seguir relata um
tempo no qual foi possível construir, coletivamente, novas formas de fazer a
Orientação Educacional.
55
5 TECENDO COTIDIANAMENTE OUTRAS PRÁTICAS: A AÇÃO DA
ORIENTAÇÃO EDUCACIONAL COMO INSTRUMENTO DE TRANSFORMAÇÃO
DO CONVÍVIO ESCOLAR
É pau, é pedra, é o fim do caminho
É resto de toco, é um pouco sozinho
É um caco de vidro, é a vida é o sol
É a noite, é a morte, é um laço é anzol.
“Águas de Março”
(Tom Jobim)
Este capítulo enfatiza algumas ações desenvolvidas pela Orientação
Educacional nos anos 2005 e 2006. Como fontes de consulta foram analisados os
11 Diários de Bordo nos quais foram encontrados registros sobre a construção e o
desenvolvimento do trabalho da Orientação Educacional nestes dois anos. No ano
de 2005 foram elaborados seis Diários de Bordo e no ano de 2006, cinco diários.
Neles estão registrados: o planejamento das ações, as reflexões das situações, as
avaliações das iniciativas da Orientação Educacional e da escola como um todo, as
conversas com pais, alunos e professores bem como as decisões tomadas em
reunião com a equipe diretiva e equipes de apoio da instituição Programa de
Atenção aos Discentes, Egressos e Funcionários da Universidade - PADEF e o
Serviço de Apoio à Pessoa Surda - SAPS.
Os registros representam, não uma fonte importante de dados, mas
também pode apoiar o pesquisador a acompanhar o desenvolvimento das suas
ações. Para Zabalza (2004), o que registramos ajuda a todos não a ter uma
perspectiva completa de tudo o que foi realizado e de sua sequência, como, além
disso, a fazer uma leitura mais profunda e pessoal dos acontecimentos. “[...] é um
procedimento excelente para nos conscientizarmos de nossos padrões de trabalho.
É ainda, uma forma de ‘distanciamento’ reflexivo que nos permite ver em perspectiva
nosso modo particular de atuar e uma forma de aprender” (p. 10).
Para facilitar a socialização de dados e informações, os conteúdos desses
Diários de Bordo foram transcritos em cadernos que organizavam e identificavam os
nomes dos alunos e suas respectivas turmas. Estes cadernos possuem, em suas
primeiras páginas, o nome dos professores da turma, o nome do professor
56
referência
26
, representantes de classe, bem como contatos telefônicos e
residenciais. Paralelamente a esta estratégia era utilizada uma agenda para agilizar
os encaminhamentos do dia. As pendências (retorno a pais, avisos necessários,
providências a serem tomadas, reuniões agendadas), eram gerenciadas a fim de
não perder de vista a continuidade dos trabalhos.
A estratégia de registro, utilizada em 2005, apresentou seus prós e contras.
Foi positivo na medida em que foi possível construir um portifólio sobre o cotidiano
da escola. Entretanto, foi necessário o trabalho da transcrição, feito por uma
estagiária orientada a preservar o sigilo dos dados registrados. As conversas com os
alunos passaram a serem escritas diretamente nos cadernos no segundo
semestre de 2005, quando as transcrições do primeiro semestre haviam sido
concluídas.
Os anos de 2005 e 2006 geraram variadas possibilidades práticas na atuação
da Orientação Educacional, algumas mais conhecidas e aceitas, outras menos
divulgadas, mas igualmente válidas enquanto manifestações de alternativas de
trabalho. Foi no cotidiano do Colégio de Aplicação que elas foram tecidas e
desenvolvidas. Registro algumas alternativas postas em prática que emergiram da
vida da escola - e que deram visibilidade ao trabalho da Orientação Educacional.
Tornar visível a ação da Orientação Educacional implica ter o profissional que
atua na área da Orientação Educacional esse desejo e intenção, bem como a escola
e em especial a equipe gestora ter o entendimento da seriedade dessa função e das
múltiplas relações que ela pode estabelecer em prol de uma educação de qualidade.
Neste aspecto, Macedo, Oliveira e Magalhães (2002, p. 42) escrevem “[...] Sabemos
que se tornar visível, envolve também um deixar ser visível, uma espécie de
permissão de existência, que algumas alternativas grassam com mais facilidade
do que as outras”. Ao apontar as iniciativas e as situações ocorridas no cotidiano da
escola, os nomes dos alunos e das alunas envolvidos/as não serão revelados, a fim
de preservar as identidades. Nos casos em que houver necessidade de citar nomes
de alunos/as será utilizado codinome para identificá-los.
26
O Professor Referência é um docente escolhido no início do ano pelos alunos, cuja atribuição
versa sobre o acompanhamento da turma nas suas necessidades. O objetivo é acompanhar os
alunos e a turma ‘mais de perto’, dando aos alunos o apoio de uma pessoa mais experiente
(mediador) que os conhece bem” (KUMM, 2006, p. 56).
57
5.1 Levantamento dos atendimentos registrados nos Diários de Bordo
A síntese apresentada no quadro 2, apresenta o número de atendimentos
realizados nos anos de 2005 e 2006, para pais, alunos e professores.
Identificação do Diário de
Bordo
Atendimentos
Individuais
Atendimentos
Coletivos
Reunião
com a
Equipe
Ano N.º
Período Pais Alunos Prof.
Pais Alunos CAU
01 01/02 a 30/03 39 25 18 12 18 12
02 31/03 a 01/05 36 48 29 06 10 16
03 03/05 a 09/06 25 20 16 05 08 08
04 10/06 a 26/07 16 15 09 03 13 07
05 28/07 a 20/10 22 46 21 05 07 15
2005
06 21/10 a 10/12 16 39 15 03 08 06
01 01/02 a 09/03 31 22 10 15 16 09
02 09/03 a 24/04 22 38 08 - 08 06
03 24/04 à 14/06 26 44 12 04 06 10
04 17/06 a 11/08 10 24 06 - 10 12
2006
05 11/08 a 30/10 28 47 14 05 08 15
Quadro 2 Síntese do número de atendimentos realizados nos anos de 2005 e 2006, para
pais, alunos e professores
Fonte: Diários de Bordo de 2005 e 2006. Elaborado pela autora.
Ao longo da presente dissertação foram analisados 11 Diários de Bordo dos
anos 2005 e 2006, conforme mencionado. A análise centrou-se, prioritariamente, no
registro das ações desenvolvidas pela Orientação Educacional a favor da atenção às
necessidades educacionais dos alunos do Ensino Médio. Como indicadores de
análise o quadro 2 apresenta e quantifica os atendimentos individuais e coletivos a
pais, alunos e professores, bem como as reuniões com a equipe diretiva. Embora o
quadro tenha sido organizado de modo a separar os atendimentos realizados a pais,
alunos e professores, na prática cotidiana da escola tais atendimentos se interligam
e são dependentes um do outro, uma vez que é na coletividade que o trabalho
educativo encontra espaço para se efetivar.
Sendo a participação dos pais na escola um fator essencial, optamos por
analisar com maior profundidade as informações registradas nos diários de bordo,
que originariamente envolveram os pais na escola. Ao atendê-los, estamos
igualmente voltando nossa atenção aos alunos uma vez que a presença dos pais na
58
vida dos estudantes é de fundamental importância. Num tempo de efemeridades,
incertezas e redefinição de papéis, é cada vez mais necessário trazer os pais para a
escola e fazer com que estes sintam-se acolhidos nas suas dúvidas, anseios e
aspirações.
5.2 Atendimentos coletivos a pais
Os atendimentos coletivos foram compostos pelas reuniões gerais da escola;
pelas comunicações a pais via carta ou bilhetes impressos (Apêndices F, G, H e I);
pelos encontros para entrega de boletins de desempenho escolar, organizados em
parceria com a equipe diretiva; pelas discussões de alguma situação específica
apresentada na turma e ainda por atendimentos em pequenos grupos de pais
(Apêndice J); pelo convite aos pais para palestras. Os atendimentos coletivos
realizados em pequenos grupos, compostos por dois ou três pais e alunos, na
maioria das vezes se davam em razão da (in)disciplina na sala de aula, dos conflitos
entre alunos ou professores e dos resultados acadêmicos alcançados ou não pelos
alunos.
5.3 Atendimentos individuais a pais
Com base nos registros dos Diários de Bordo foi possível categorizar as
dúvidas, os anseios, as necessidades, os desafios e as possibilidades mais
frequentes no cotidiano escolar.
Optamos por organizá-las da seguinte forma: o processo de transição do
Ensino Fundamental para o Ensino Médio; o número de alunos por turma; o
tamanho (físico) do Colégio; os princípios formativos do Colégio; a enturmação dos
alunos; a indisciplina; a participação dos pais na escola; as entrevistas com pais de
59
alunos com necessidades especiais (PNEs)
27
e o relacionamento interpessoal. No
apêndice K uma carta de reflexão enviada à pais, após o atendimento à mães e
filhos na escola. A carta solicita o apoio da família para o alcance de bons resultados
na intervenção.
5.3.1 O processo de transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio
Os registros dos Diários revelam que o processo de transição do Ensino
Fundamental para o Ensino Médio causava ansiedade nos alunos e
consequentemente nos seus pais. Por este motivo, no início do ano os pais
procuravam informações sobre a forma como a escola compreendia esta etapa de
transição do aluno e como esta era gerenciado pelos professores e equipe diretiva.
Na visão dos pais a transição do Ensino Fundamental para o Ensino Médio é
complexa porque novas disciplinas e metodologias são inseridas no currículo
escolar.
Os registros também evidenciam que muitos pais que traziam seus filhos de
outras instituições demonstravam certo temor de que os filhos não tivessem êxito na
aprendizagem. Por outro lado indicam que os pais apostam num currículo inovador e
exigente como possibilidade de um futuro promissor a seus filhos por meio da
facilitação de inserção no ensino superior. Em 2005 e 2006 tivemos em cada série
do Ensino Médio um número que variou de 15 a 35 alunos novos, parte deles
oriundos de escola pública. Isso revela um maior investimento financeiro na
escolarização dos filhos no Ensino Médio.
27
Pessoas com Necessidades Especiais (PNEs). No Brasil, tornou-se bastante popular,
acentuadamente entre 1986 e 1996, o uso do termo portador de deficiência (e suas flexões no
feminino e no plural). Pessoas com deficiência vêm ponderando que elas não portam deficiência; que
a deficiência que elas têm não é como coisas que às vezes portamos e às vezes não portamos (por
exemplo, um documento de identidade, um guarda-chuva). O termo preferido passou a ser pessoa
com deficiência. Aprovados após debate mundial, os termos “pessoa com deficiência” e “pessoas
com deficiência” são utilizados no texto da Convenção Internacional de Proteção e Promoção dos
Direitos e da Dignidade das Pessoas com Deficiência, em fase final de elaboração pelo Comitê da
ONU – Organização das Nações Unidas (SASSAKI, 2003).
60
5.3.2 Número de alunos por turma
Esse item era reconhecido, pelos pais e alguns professores, como um
indicador que determinaria a qualidade de atenção oferecida pela escola às
necessidades pessoais e sociais dos alunos. Para os pais, a maioria dos professores
do Ensino Médio, atende a muitos alunos simultaneamente, com pouca frequência e
muito rapidamente. Para os pais esta política minimiza a atenção às necessidades
educacionais do filho e favorece apenas ao cumprimento das normas legais do
currículo escolar prescrito.
5.3.3 O tamanho (físico) da escola
Por se tratar de uma escola sem muros, inserida dentro da universidade, os
pais queriam se assegurar a respeito das normas institucionais e organizacionais
que garantissem que os alunos seriam observados e acompanhados. Ainda que
veladamente, os dados apontam uma significativa preocupação de que os filhos
pudessem gazear as aulas sem que isso fosse percebido pela equipe diretiva.
5.3.4 Princípios formativos
Não sendo o Colégio de ordem religiosa, frequentes foram os
questionamentos referentes aos princípios e valores adotados pela escola para a
formação moral dos alunos bem como sobre o comportamento e a disciplina em sala
de aula e nos corredores.
61
5.3.5 Enturmação de alunos
Ao longo do Ensino Fundamental grande parte dos alunos estudavam, ano
após ano, com os mesmos colegas de turma. Em 2005 e 2006, no Ensino Médio, a
política do Colégio foi reorganizar as turmas, pois permanecerem estudando com os
mesmos colegas nos anos do Ensino Fundamental produziu uma cultura grupal na
qual fortificavam-se valores que rejeitavam as normas oficiais do Colégio e muitas
vezes concediam alto status ao comportamento indisciplinado. Neste sentido foram
criados critérios para enturmação dos alunos. No início do ano de 2005 alguns
alunos foram chamados à escola para discutir sua transferência de turma. Ao final
do mesmo ano, os critérios de enturmação estavam mais amadurecidos e com
base em resultados positivos de desempenho discente foram socializados com pais
e alunos. A partir daí foram mais facilmente compreendidos e aceitos. Ainda assim
alguns pais ficaram contrariados argumentando que esse procedimento enfraquecia
a responsabilidade coletiva. Quanto à maioria dos pais, esta aceitou sem maiores
questionamentos a posição da escola. os professores afirmaram que uma nova
enturmação facilita o trabalho pedagógico e amplia as possibilidades de socialização
dos alunos. No apêndice L apresentamos a comunicação enviada aos pais a este
respeito.
5.3.6 Indisciplina
Os Diários registram diálogos com pais nos quais foram discutidas e definidas
medidas para que o aluno compreendesse e respeitasse as normas da escola.
Dentre as decisões tomadas em parceria com pais, estão registradas a suspensão
provisória do aluno na escola; tarefas monitoradas a serem realizadas dentro e fora
do horário escolar; assinatura de termos de compromisso disciplinar; encontro com
amigos ou professores para gerenciar situações implicadas em desentendimentos
ou ruídos de comunicação.
62
5.3.7 Participação dos pais na escola
Os registros evidenciam forte preocupação, por parte de professores,
Orientação Educacional e equipe diretiva, com a ausência dos pais no
acompanhamento da vida escolar dos alunos e do número de avaliações atrasadas
realizadas pelos alunos. Neste sentido registros de palestras para pais, com
maior número no ano de 2005, e registros de incentivo para uma maior participação
dos pais na Associação de Pais e Professores (APP). Os apêndices M, N, O, P e Q
apresentam ações a este favor.
5.3.8 Entrevista com pais de Pessoas com Necessidades Especiais (PNEs)
Foram realizadas entrevistas com todos os pais dos alunos com
necessidades especiais. As entrevistas objetivavam ampliar a comunicação e o
apoio-mútuo escola-família.
5.3.9 O relacionamento interpessoal
Consideramos importante mencionar que há registros de pais que procuraram
a Orientação Educacional preocupados com a dificuldade que os filhos
apresentavam em fazer amizades na escola, em participar de trabalhos e atividades
coletivas e de se sentirem aceitos e queridos pelo coletivo da sala de aula. Nos
encontros com a Orientação Educacional foram analisados a influência da
diversidade cultural refletida na sala de aula, os sentimentos e as emoções
presentes nas relações dos alunos, bem como princípios educacionais familiares
que necessitam circunscrever a vida do aluno. Embora não haja um grande número
desses registros, o mesmo foi evidenciado tendo em vista a gravidade que pode
estar imersa nos casos dos alunos que não chamam a atenção pela indisciplina, que
63
frequentemente se calam, mas que podem esconder dores e temores que serão
decisivos na sua formação pessoal.
5.4 Organização do Setor de Atendimento ao Aluno
Para que o Setor de Atendimento ao Aluno (SAA) alcançasse os objetivos
para os quais havia sido criado, coube à Orientação Educacional elaborar diretrizes
de trabalho que foram traduzidas em normas e procedimentos rotineiros de
atendimento ao aluno e de ação da Orientação Educacional e demais profissionais
do setor. Nos apêndices R, S, T, U, V, W, X exemplos dos procedimentos
operacionais adotados. A seguir destaco algumas propostas elaboradas e desafios
assumidos pelo setor de Orientação Educacional:
A Embora discutido anteriormente e por se tratar de um aspecto de
grande empenho dos profissionais do SAA, a questão da enturmação dos alunos foi
amplamente discutido. Os professores costumeiramente reclamavam da condição
em que os alunos eram distribuídos em turmas. Apontavam que quando a
distribuição dos alunos em turma não é estratégica - enturmação estratégica
28
,
facilmente o comportamento dos alunos em sala de aula se alterava negativamente,
impedindo o desenvolvimento normal de trabalhos em grupo e a concentração
necessária para acompanhar o desenvolvimento das aulas. Esse ponto de vista se
dava pela condição que os alunos de nossa escola seguiam seus estudos num
mesmo grupo. Segundo os professores, quando a relação do grupo está
amalgamada, esta os influencia a adotarem comportamentos negativos. Situação
não favorável à modificação de comportamentos dos alunos
29
, como estratégia para
o bom andamento das atividades de sala de aula. Em decorrência destas
circunstâncias alguns critérios nortearam as decisões para enturmação dos alunos.
28
A enturmação estratégica tem como premissa misturar os alunos em turmas diferentes das do ano
anterior, tomando, é claro, o respeito aos critérios estabelecidos para esta ação. Isso aconteceu
apenas no Ensino Médio, mais especificadamente no 1.º ano do Ensino Médio do ano de 2005 e
2006.
29
A epígrafe “modificação de comportamento” refere-se não apenas à utilização de técnicas de
modificação de conduta, mas a todas as propostas destinadas a interromper um comportamento
alterado e substituí-lo por outro socialmente aceito (GOTZENS, 2003).
64
Os pais foram informados destes critérios, pois o eles, os primeiros a argumentar
a mudança de turma do filho.
Vale destacar que não somente esta, mas todas as normatizações foram
elaboradas tendo como foco principal a aprendizagem e a socialização dos alunos, e
à medida que o alcance dos objetivos e outras variáveis foram apresentados para o
SAA, estes instrumentos passavam por reformulações. No apêndice Y a folha de
espelho de classe
30
. Esta folha, embora pareça ser ultrapassada, é utilizada quando
necessária após negociação com alunos e professores.
Nesse ponto da dissertação, o destaque à comunicação é dado porque ela é
uma das peças-chaves da funcionalidade e do êxito da atuação da Orientação
Educacional e do ensino como um todo. Assim, foi alvo de investimento de toda a
equipe diretiva da escola, pois a falha na comunicação é frequentemente apontada
como razão para uma não participação mais ativa por parte de alguns professores e
pais em determinadas ações do Colégio. Contudo o que se percebia era que, de
maneira geral, as pessoas esperavam que a informação chegasse até elas e
dificilmente procuravam fazer a sua parte na busca pela informação sobre o que
acontecia. Tínhamos professores com poucas aulas no Colégio, fato que dificultava
um maior envolvimento nas nossas iniciativas pró-ativas
31
. Atuar simultaneamente
em mais de uma escola nem sempre é desejo dos professores, entretanto,
frequentemente é uma necessidade. Este fato era uma de nossas fragilidades,
diante da qual a administração escolar, atualmente, trabalha na perspectiva de
diminuir o número de docentes, oferecendo à estes uma carga horária maior e
manter assim seu compromisso e vínculo com a escola mais efetivo. A direção deste
período, estudado na pesquisa, anunciava isso como um ponto nevrálgico. Neste
sentido, Gotzens (2003, p. 43) referencia que:
A escola, é particularmente a sala de aula e habitada por sujeitos
com características bem diferenciadas, tanto em nível de
amadurecimento [...] como em nível profissional o trabalho
desenvolvido na escola não é apenas docente, mas há, pessoal
30
Espelho de classe é um instrumento que visa organizar a distribuição dos alunos em sala de aula
de acordo com as necessidades ou com o trabalho que se pretenda desenvolver na turma, ou mesmo
objetivando propiciar um ambiente de colaboração. Sua forma inicial de utilização leva em conta o
lugar preferido do aluno para sentar. A imposição oriunda da escola para sentar em outro lugar, se
apenas quando o aluno infringe as normas de bom comportamento.
31
As iniciativas pró-ativas são aquelas estabelecidas no plano de ação da escola e que vislumbram
integração da comunidade escolar bem como promover aprendizagem através de práticas inovadoras
de ensino.
65
administrativo, zeladores, pessoal da manutenção, etc. No entanto o
êxito do ensino compete a todos, e é claro em diferentes níveis de
atuação e com cargas de responsabilidades também diversas [...].
Para ampliar as possibilidades de comunicação, foi criado um correio
eletrônico por turma, com acesso exclusivo dos professores da cada sala. Os
professores recebiam informações dos alunos e da escola, via correio eletrônico. No
tocante às normas e decisões e orientações da escola, estas eram enviadas e/ou
apresentadas aos pais, alunos e professores em folha impressa. Com este cuidado
conseguíamos fazer conhecer por todos nosso conjunto de ações e procedimentos.
Conforme foi dito, as iniciativas tomadas pela Orientação Educacional e as
comunicações enviadas às famílias e professores tiveram a ciência, anuência e
parceria da direção e coordenação pedagógica do Colégio. Tendo em vista a direção
comum que se pretendia imprimir ao processo ensinoaprendizagem, a
responsabilidade pelo resultado das ações da escola incide sobre o trabalho coletivo
destes profissionais. Quando isso acontece, as novas diretrizes tornam-se oficiais,
dando a elas unidade e respeito, passando a ser compromisso de todos.
B - As anotações registradas no Diário de Bordo n01 de 2006 apontam que
o atraso dos alunos para o início das aulas, denominadas entrada atrasada, foi
motivo de grande preocupação por parte dos professores. Alguns alunos
apresentavam uma justificativa plausível para a chegada tardia, outros apenas não
mantinham como prioridade o compromisso de chegar pontualmente ao Colégio.
Neste sentido foram feitos levantamentos por turma, e a partir deles, elaborados
gráficos para discussão com os alunos em sala (apresentado no apêndice Z). Após
discussão com os alunos sobre o índice, por turma, de entradas atrasadas, os
gráficos eram fixados na parede da sala de aula. As reflexões com os alunos sobre
os atrasos iam desde o compromisso ético de respeitar os horários de início e
término das aulas, uma vez que a entrada tardia em sala implicava a interrupção da
aula, o que comprometia a concentração dos demais colegas, até a informação aos
pais quanto às sanções estabelecidas. Esta atividade foi repetida inúmeras vezes,
com os alunos com maior evidência de atraso, até que o índice de entradas
atrasadas diminuísse.
Para assegurar que todos os profissionais do setor estivessem
suficientemente preparados para cobrar do aluno o respeito quanto ao horário de
66
início das atividades letivas, foram elaboradas e registradas algumas argumentações
a serem socializadas com os alunos. A decisão pela tolerância de cinco minutos
para a entrada dos alunos em sala de aula foi tomada em reunião com a equipe
diretiva. Como consequência, o aluno que ultrapassa o tempo de tolerância para
entrada, no início do horário letivo, deve aguardar para entrar na aula subsequente à
do seu atraso. Ao entrar em sala de aula, deve apresentar ao professor sua
autorização de entrada. É conveniente esclarecer que esta medida é produto de
uma decisão coletiva, avaliada por uma perspectiva ética cujas razões podem
encontrar suas justificativas no cotidiano escolar. Assim devemos perguntar e
responder:
O que acontece quando o professor inicia a sua aula e um aluno chega
atrasado? Ele/ela corre o risco de perder a atenção focada na coordenação do
trabalho iniciado; é levado a fazer rasuras no seu diário de classe, sente-se obrigado
a retomar a condução dos trabalhos a fim de manter informado o aluno atrasado e
sente-se desapontado ao vivenciar posições antagônicas na observância às normas
da escola. Além disso, os alunos que chegaram no horário de início da aula têm sua
concentração e a explicação e/ou atividade interrompidas.
A cobrança quanto ao respeito do horário da aula nos levava a questionar os
próprios professores em relação a sua pontualidade. A participação do professor na
organização do trabalho didático-pedagógico incide significativamente sobre a forma
como os alunos respeitam as normas que regulam o funcionamento da escola.
Essas cobranças exigem do professor:
Iniciar seus trabalhos pedagógicos com precisão de horário.
Realizar indispensavelmente a chamada na 2ª aula.
Estruturar sua proposta de trabalho mediante planejamento prévio.
Informar ao Setor de Atendimento ao Aluno a ausência daquele(a) que
esteve presente na aula anterior.
Todas essas observações foram apuradas para que pudéssemos facilitar o
entendimento do aluno quanto a necessidade de respeitar as normas
organizacionais e para que o professor, através de sua prática, também fosse
promotor desta compreensão. Os apêndices AA, AB, AC, AD, AE, AF, AG, AH, AI,
AJ, AK, AL e AM apresentam atividades organizadas e comunicações enviadas aos
67
professores a fim de estreitar o compromisso coletivo no tocante ao trabalho com os
alunos de maneira geral.
Nos apêndices AN, AO, AP, AQ, AR, AS, AT, AU, AV, AW e AX exemplos
de trabalhos realizados com alunos. A partir de agora registro alguns episódios que
exemplificam a ação da Orientação Educacional dentre as diversas situações a que
é chamado a agir.
A seguir, selecionei dois episódios que podem dar visibilidade a estratégia de
intervenção adotada pela Orientação Educacional. Os critérios para a seleção dos
mesmos foram: a frequência dos episódios no contexto escolar; o envolvimento dos
mesmos alunos e o questionamento sobre o currículo escolar.
5.5 Episódio 1
No Diário de Bordo n.º 03 do ano de 2006 está registrado um trabalho
desenvolvido com um grupo de quatro alunas do 1.º ano do Ensino Médio, cujas
intrigas e desavenças não as permitiam viver a hospitalidade e acolher o jeito de ser
e de conviver de cada uma. As quatro alunas da série do Ensino Médio haviam
sido encaminhadas, ora espontaneamente autodirigidas, por mais de cinco vezes à
Orientação Educacional. À primeira vista, pode parecer que a proposta desenvolvida
nessa iniciativa de solução de dificuldade é essencialmente conceitual e desprovida
de atrativo prático, como desejamos sempre encontrar. Entretanto ela reflete sobre a
participação dos pais, fazendo com que as próprias alunas percebessem que a
família e escola são instâncias da educação que necessitam de vínculo e ajuda
mútua. O termo dificuldade é utilizado ao invés de problema, porque ao usar o termo
problema acaba-se intensificando a situação em questão. Quando isso acontece
parece que tudo vira problema na escola, sendo a escola considerada como lugar
gerador de situações unicamente embaraçosas e difíceis, o que não é verdade.
Nas idas e vindas das alunas à sala da Orientação Educacional, a pergunta
que não calava era o que fazer para compreender melhor aquelas alunas? A
complexidade da situação de conflito de ordem relacional que elas vivenciavam não
impedia a Orientação Educacional de reconhecer seus ritos e de acreditar em
mudanças positivas. Nos diálogos mantidos ora individualmente e ora em grupo,
68
parecia que haviam sido esgotadas todas as possibilidades de se resolver as
intrigas estabelecidas.
Na verdade, as brigas ocorriam por falta de aceitação das escolhas de cada
uma, por sentimento de preterimento e pela utilização de apelidos. Elas tinham de
conviver com a condição de dividirem entre si a atenção da colega preferida do
grupo. A favorita do grupo tinha um perfil de liderança, era inteligente, possuía uma
situação econômica confortante e seu desempenho acadêmico era elogiável; era
também dominadora. Sendo assim, tinha suas preferências afetivas bem pontuais e
definidas, fato que tirava de uma delas a chance de sentir-se pertencente ao grupo.
As desavenças oriundas dessa falta de sentimento de pertença e acolhimento
sempre foram verbais e ocorriam desde uma simples troca de olhar ou por uma
palavra pronunciada.
No compromisso da Orientação Educacional em cooperar na qualidade da
relação interpessoal das alunas, era preciso compreender o que havia de errado: na
relação das garotas; nas tentativas de reconciliação da amizade entre elas; em suas
casas ou até mesmo na escola. Questionava-se, em que situação aquelas alunas
foram vítimas; quando colaboravam para intensificar os mal-entendidos ou como e o
que mais poderia ser feito pela Orientação Educacional. Parecia que boa parte das
conversas e reflexões estabelecidas com elas foram feitas meio às cegas,
avançadas e supostamente superadas por erro e tentativa. Mudá-las forçosamente
de sala seria uma alternativa comum, mas que atrairiam outras consequências
também negativas. Duas delas diziam que sairiam do Colégio de Aplicação se
saíssem daquela sala; outra dizia que de qualquer maneira não estudaria mais
conosco. Em meio a tudo isso, se junta o apelo de uma das mães, exigindo
providências da escola, pois sua filha não estava feliz.
Entre o desafio que as alunas traziam, a cada retorno, à orientação, surgiu o
apelo à família; as mães não poderiam ficar cobrando, deveriam participar do
processo de solução da situação. Nesta etapa de desenvolvimento humano, chamar
os pais à escola era reconhecido como “mico”
32
. Era notório que, entre muitos
aspectos e entre aquelas alunas, algumas sofriam da precariedade de laços
amorosos, da falta de diálogo e ternura dentro da própria casa e lhes faltavam
também a disponibilidade para o exercício natural do afeto e da hospitalidade.
32
Pagar mico é uma gíria brasileira para designar a situação em que alguém é encontrado em
situação constrangedora, após um flagrante.
69
Com o intuito de contar com a ajuda da família, os pais foram chamados a
participar de uma reunião. A ideia era que ouvissem o que seria discutido com as
alunas e que a partir daí se posicionassem frente à situação. Ao convidar as mães
por telefone, explicando a intenção do encontro, foi solicitado que cada uma delas
trouxesse um vaso com uma planta natural.
Para o encontro, a sala 304 do terceiro piso foi organizada como se fosse um
espaço especial da casa. Havia um tapete, mesa com flores, pétalas e folhas foram
espalhadas sobre a toalha branca da mesa que se completava com uma jarra com
água e balas. Tudo tentando representar os cuidados que se tem quando
recebemos, em nossa casa, pessoas que nos são queridas. O espaço era de
acolhimento, sendo ele sonorizado e aromatizado. Fizeram-se presentes as quatro
mães e as alunas. Nenhum pai compareceu. Ao iniciar o encontro, a Orientação
Educacional agradeceu as mães pela presença. Elas trouxeram as plantas
solicitadas.
Os quatro vasos foram colocados sobre a mesa, e isso formou um pequeno
jardim. Foi dito às mães e às alunas que aquele pequeno jardim nos fazia lembrar
que plantas que nascem fortes, outras malformadas; outras que mesmo atingidas
por doença ou velhice, conseguem dar flor. Essa mesma condição é dos seres
humanos, todavia com uma grande diferença, podemos pensar e dentro de certos
limites podemos agir. Nosso agir pressupõe decisão, escolha e liberdade. Com a
liberdade, vem nosso agir consciente e responsável. Toda nossa experiência na vida
nos dá força e nos permite crescer, e assim vamos nos constituindo enquanto
pessoas. Os recursos de que necessitamos para o nosso desenvolvimento enquanto
pessoas boas, nós temos ao nosso dispor e encontram-se nas experiências que a
vida nos oferece. Necessitamos reconhecer estas experiências e aproveitá-las
conscientemente, e o mais fundamental é que cada um de nós necessita olhar o
outro como alguém que nos completa.
O bem querer que uma podia nutrir pela outra, os sentimentos bons que
permeavam a vida delas na escola, o desejo que cada uma tinha em viver melhor
neste espaço e as pessoas com quem poderiam contar em momentos difíceis na
escola, não estavam sendo percebidos e enxergados por elas. Estavam
intensificando os sentimentos de menosprezo, desdém e caprichos ao invés de se
esforçarem para viver bem na escola.
70
Dando prosseguimento, havia sobre cada carteira uma pequena flor feita de
papel que serviria para iniciar as reflexões. As mães foram orientadas a colocarem a
flor de papel dentro do copo de água que estava sobre a mesa. A flor, em contato
com a água, se abriu. Ao se abrirem, nelas estavam escritas as palavras:
Diferença.
Respeito.
Hospitalidade.
Amizade.
Cada mãe foi convidada a expressar sua compreensão em relação às
palavras e qual era a importância que davam a elas. Entre as falas: “[...] ninguém
nasce igual, somos diferentes um dos outros”; “a diferença nos completa e nos faz
crescer”; “o respeito é essencial para nossa convivência, e o ser humano necessita
exercê-lo”; a amizade deve ser cultivada”; amigos são importantes em nossa vida”;
a hospitalidade é receber bem alguém”; “diferença é respeito a nossa
individualidade”; “amizade da adolescência é a melhor parte dessa história”; “o
respeito é necessário em qualquer lugar”; “hospitalidade é de quem é gentil e
educado”; pelo jeito é o que falta é elas compreenderem e vivenciarem”; minha
filha reclama que vocês distorcem tudo o que ela diz”; eu não entendo muito por
que vocês não se dão bem, afinal vocês vêm aqui pra estudar, não é?”;o melhor de
tudo seria vocês serem amigas, se respeitarem e se preocuparem mais com os
estudos. A minha filha é pavio curto mesmo, peço desculpas se foi ríspida com
alguma de vocês”.
Ficou evidente nas falas selecionadas que as mães tinham a compreensão da
dificuldade que as meninas estavam tendo em respeitar as novas escolhas de
amizade que estavam sendo feitas pelas alunas. O ingresso no 1ano do Ensino
Médio é também uma fase de transição que pressupõe ansiedade. Neste sentido,
Hargreaves (2001, p. 55-56) aponta que:
Estudos confirmam que a ansiedade dos alunos geralmente está
centrada em uma mistura de preocupações sobre a ausência de
familiaridade e a dificuldade do trabalho escolar; o tamanho da
escola e as chances que considera de fracassar [...] em
contrapartida, o ensino médio não é sempre uma possibilidade
infinitamente aterrorizante para os alunos. É uma época de emoções
71
mescladas e conflitantes. Em muitos aspectos, os alunos também
mal podem esperar pelas aulas do ensino médio, em especial para
cursar novas disciplinas.
As meninas falavam muito em tolerância: eu vou tolerar”, tudo bem a gente
ignora”, dizia outra. Entre elas, havia uma aluna que se sentia menos acolhida no
grupo, rejeitada mesmo. Tinha vindo de uma outra escola e as demais estudavam
no Colégio de Aplicação. Outra aluna tentava apaziguar a relação, mas se mantinha
ao lado das mais firmes em suas falas, diziam ter feito tudo para conviverem;
entretanto, uma não parava de fazer comentários da outra em respeito a uma
pergunta feita em sala, um comentário traçado... Essa fala de uma das meninas
remete ao que Cortella e Taille (2005, p. 29) escrevem:
[...] eu o suporto, agüento. Você não é como eu, aceito isso, mas
continuo sendo eu mesmo. Não quero ter contato, respeito a sua
individualidade. Em vez de utilizar as palavras ‘tolerância’, tenho
preferido uma outra: ‘acolhimento’. uma diferença entre tolerar
que você não tenha as mesmas convicções que eu sejam
religiosas, políticas ou outras e acolher suas convicções. Porque
acolher significa que eu o recebo na qualidade de alguém como eu.
Entre as reflexões ressaltamos que os conflitos, as brigas e atritos surgem
com frequência nos grupos sociais em que vivemos: ora entre as equipes de
trabalho, entre os casais, entre os amigos, entre pais e filhos. Entretanto, muitos
desses incidentes podem ser evitados se um dos envolvidos, ao invés de reagir
agressivamente à situação de frustração, utilizasse o silêncio. Um das mães
apontou: Quando um não quer, dois não brigam como diz o velho ditado.
Contudo, foi frisado que não devemos abandonar o uso da palavra, mas há
momentos em que o silêncio é preferível. Silenciar, entretanto, não quer dizer
fraqueza ou passividade. Em situações provocativas o silêncio implica presença de
espírito, atitude vigilante e cautela. Esse é um silêncio voluntário e, portanto, ativo,
pois tem sua razão de ser. Em situações conflituosas, calar é mais difícil do que
falar.
De acordo com Weil (1997, p. 59), o não revidar a um ato de agressão traz as
seguintes vantagens:
- Permite pensar melhor nas razões da agressão. Em geral, quem
perde a calma não o faz por maldade, senão pela falta de controle
sobre si mesmo, por cansaço e nervosismo momentâneo. Optar pelo
72
silêncio permite, pois, ganhar tempo para tomar uma decisão sobre o
acontecido.
- A pessoa que agride verbalmente espera uma resposta no mesmo
tom. No entanto, quando percebe que a reação é o silêncio, fica
surpreendida. Daí vai, muitas vezes, ao arrependimento e às
desculpas, no próprio momento ou dias após.
Em geral os alunos aceitam as ideias das reflexões, pois quando surge a
necessidade de mudança de atitudes, as situações apresentam-se bem
complicadas. Geralmente elas são consequências do conflito vivenciado na escola,
mas que são frutos, muitas vezes, de distorções na educação familiar. Contudo eles
acabam por compreender a mudança como obtenção de algum benefício. E
tomando as palavras de Rogers (1991, p. 312), o contexto propício à mudança de
atitudes ocorre quando:
[...] o indivíduo se torna mais aberto, mais consciente de todos os
aspectos da sua experiência, aumenta a sua capacidade para agir de
uma maneira que nós classificamos de socializada. Se o indivíduo é
capaz de tomar consciência dos seus impulsos hostis, como do seu
desejo de amizade e de aceitação, se é capaz de tomar consciência
do que a sociedade espera dele, mas também dos seus objetivos
pessoais, se é capaz de se tornar consciente dos seus desejos
egoístas, mas também da sua preocupação sensível pelos outros
então, nesse caso, seu comportamento será harmonioso, integrado,
construtivo.
Enquanto ouviam, o grupo, que a princípio mostrava-se receoso e hesitante,
passou a configurar-se num grupo interativo, dinâmico e cooperativo. As histórias
construídas no dia a dia de cada uma começaram a surgir. Ora ditas pelas mães e
ora reveladas pelas próprias alunas. Não dúvidas de que a inibição inicial fez
parte do processo, mas gradativamente foi sendo superada e foi sendo tecida uma
relação construtiva. Dali para frente precisaria ser trabalhada a manutenção desses
pensamentos, dos sentimentos de compreensão que deram tom de alteridade ao
nosso encontro. Ao final da reunião, as alunas presentearam-se com as plantas que
as mães compraram e prometeram cuidar delas, de preferência plantá-las mantendo
os mesmos cuidados necessários à nova relação estabelecida. As mães receberam
uma carta para ser lida em casa em companhia do marido. Por acreditar que
necessitamos nos projetar positivamente naquilo que se pretende fazer, ao elaborar
a carta, a Orientação Educacional contou, antecipadamente, com o sucesso da ação
empreendida.
73
Ainda que os resultados das estratégias utilizadas pela Orientação
Educacional tenham alcançado os objetivos propostos, de se questionar aque
ponto essa intervenção da Orientação Educacional, que se constituiu em um
ambiente agradável, de cuidados e de afetos e em parceria com a família, foi um
meio adequado para resolver a dificuldade que a escola foi chamada a solucionar?
Uma mãe deu retorno da leitura da carta com o marido e do encontro na escola,
dizendo que a intervenção da escola levou-a a discutir com o marido a necessidade
de a família estar mais presente nas iniciativas da escola como também atenta ao
comportamento da filha. As demais não se pronunciaram; cabia, portanto, aguardar.
Para não apontar uma avaliação imediatista do resultado do trabalho, foi
necessário dar tempo ao tempo. Sendo assim, somente o acompanhamento da
relação interpessoal das meninas pôde fornecer elementos para a avaliação. O olhar
dos professores, aqueles mais perspicazes e comprometidos com o seu papel de
educador, sobre o comportamento das alunas em sala, sinalizou que houve avanços
na qualidade das relações. As conversas que eles propositalmente traçaram com as
alunas permitiram que os resultados mostrassem o alcance do trabalho
desenvolvido. Houve crescimento. Embora tenham permanecido fiéis as suas
preferências quanto à amizade, elas mostraram crescimento pessoal quando
aprenderam que ouvir e respeitar o outro não significa concordar ou aprovar tudo o
que é dito, mas criar espaço para a diversidade e a diferença. Foi perceptível que o
vínculo delas com a escola tornou-se mais forte. A iniciativa também revela que são
inúmeros os aspectos em que é necessário haver concordância de princípios e de
atuação entre a família e a escola.
É interessante ressaltar que as relações escola-família não se restringem a
punições ou participação em eventos organizados pela escola, mas sim, devem
basear-se no espírito cooperativo e integrativo segundo as circunstâncias que
emergem do contexto escolar. Ao final concluí que foi a partir da atividade
participativa desses pais que essa dificuldade foi superada. Quando as situações
difíceis são discutidas e rediscutidas com os adolescentes e não apresentam
perspectiva de solução, os pais devem ser chamados a resolvê-las em parceria com
a escola. Neste preceito Boynton e Boynton (2008, p. 96) registram:
Muito frequentemente, os pais ouvem boatos a respeito de incidentes
escolares que não fazem sentido. Na maior parte do tempo, a
informação é inexata. Quando os pais não contatam a escola para
74
verificar as histórias que os alunos contam, podem ficar com opiniões
negativas a respeito da escola ou de um determinado professor. Em
um esforço para prevenir essas situações, os professores e
administradores devem continuadamente estimular o contato dos
pais com a escola em qualquer momento que tiverem preocupações
ou questões que os estejam incomodando. Ao fazer isso, comunique
aos pais que são bem-vindos à escola e que você valoriza suas
perguntas.
casos em que por não saberem ou por o refletirem sobre o que e em
quem acreditar, os pais sentem-se ignorantes quanto à maneira como devem educar
seus filhos. Afinal, convencidos, enganados ou simplesmente perdidos diante da
diversidade de conhecimentos psicológicos e pedagógicos com que se defrontam,
muitas vezes com informações contraditórias, vêem-se incapazes de educar seus
filhos, ao terem que ensinar os primeiros passos para se viver coletivamente na
sociedade. A experiência pormenorizada anteriormente exemplifica a quem serve e
a que veio a Orientação Educacional. Abrir caminhos, construir planejamento,
atribuir ao seu papel importância ímpar, são formas de inquietar-se proativamente
com o que estava por fazer.
Se, por um lado, a ação da Orientação Educacional tem possibilidade de
transformar a escola, por outro lado é a escola e na escola que a ação educacional
deve ser constantemente revista, recriada, avaliada e validada. É um processo
dialético rico em sentidos e significados. Foi com esse pressuposto que a opção por
um caráter humanista
33
da ação da Orientação Educacional foi privilegiada. Como
mencionado, a Orientação Educacional necessitava trabalhar as questões da
(in)disciplina. Suas estratégias de ação precisaram ser revistas sem que a disciplina,
como elemento necessário para o bom andamento das atividades escolares como
um todo, fosse deixada em segundo plano. O desafio da Orientação Educacional era
oportunizar ao aluno o entendimento de que a disciplina é elemento salutar para a
construção do conhecimento e para o bom convívio social. Tanto no sentido de seu
autocontrole e a regulação dos próprios comportamentos, quanto no sentido do
gerenciamento nos horários e hábitos de estudo.
Segundo Gotzens (2003) a disciplina escolar refere-se ao conjunto de
procedimentos, normas e regras mediante as quais se mantém a ordem na escola, e
33
Segundo Gotzens (2003, p. 33) “o caráter humanista de intervenção disciplinar é aquele que
assinala a conveniência de oferecer ao aluno que apresenta problemas de comportamento um
ambiente suficientemente acolhedor, no qual se sinta em liberdade para se expressar e experimentar
o afeto dos outros”.
75
cujo valor é basicamente o de favorecer a consecução dos objetivos propostos ao
longo do processo de ensinoaprendizagem do aluno. Para pensar a disciplina na
escola é necessário examinar as relações existentes entre a chamada disciplina
escolar e a disciplina de sala de aula. Podemos destacar na explicação de Gotzens
(2003, p. 30) que:
A disciplina escolar afeta a totalidade da escola e inclui, obviamente,
a que se refere à sala de aula; no entanto, uma diferença
fundamental é apontada entre ambas: enquanto a disciplina que
afeta a escola em geral deve basear-se em um marco de referência
suficientemente amplo e consensual pelos vários estamentos
34
que
compõem a comunidade educacional da escola, a da sala de aula é
marcada pela peculiaridade característica dos sujeitos específicos
que a habitam.
Sem sombra de dúvida é necessário haver coerência entre estes dois
enfoques disciplinares, e é somente com uma relação harmônica entre as decisões
da equipe diretiva
35
quanto à organização escolar e à sala de aula, que se poderá
avançar com sucessos nas iniciativas propostas para o bom funcionamento da
escola e para o exercício de uma educação para a convivência. É por saber que a
harmonia e a congruência não devem ser sinônimos de rigidez e autoritarismo, nem
por parte das pessoas responsáveis pelo respeito às normas da escola e nem por
parte dos professores, o Setor de Atendimento ao Aluno, com o intuito de fortalecer
a boa convivência entre a comunidade escolar, criou o mural interativo (Apêndices
AY e AZ), no qual a comunidade foi estimulada a escrever em cartões (Apêndice
BA), recados entre si, e anexarem no mural interativo.
34
(Do esp. Estamento) 1. Estado em que pode cada um subsistir ou permanecer (FERREIRA, 1990).
35
A equipe diretiva do Colégio é formada por professores responsáveis por áreas de ensino,
orientadores educacionais, secretário, atividades complementares, direção e coordenação
pedagógica.
76
5.6 Episódio 2
Esse episódio possibilita uma análise sobre a visão do currículo escolar
36
expressa por um aluno do Ensino Médio e registrada no Diário de Bordo n.º 02 de
2006. Essa visão do aluno foi expressa mediante intervenção realizada pela
Orientação Educacional objetivando abrir espaço para a autorreflexão frente ao seu
desempenho escolar. A justificativa apresentada pelo aluno quanto as suas
ausências e desinteresse pelos estudos, centrava-se basicamente na forma como o
currículo escolar se constituía. Nesta ocasião a família foi chamada para atuar em
parceria com a Orientação Educacional.
O aluno, matriculado no 2.º ano do Ensino Médio, estudava no Colégio há três
anos e seu perfil era de um aluno contestador, questionador, inteligente mas relapso
quanto aos seus compromissos acadêmicos. A turma da qual ele fazia parte era
composta por 26 alunos, sendo 13 do sexo feminino e 13 do masculino. Esses
dados emergiram do levantamento realizado no dia 23/06/2006 na secretaria do
Colégio.
Após várias vezes, a mãe de Sam
37
foi chamada novamente à escola, para
um encontro, que objetivava discutir as inúmeras faltas de seu filho às aulas do 2.º
bimestre letivo. As ausências se davam em parceria com a sua namorada que,
acompanhada por sua mãe, também esteve presente ao encontro. Ao longo da
conversa o aluno sustentou inúmeras argumentações. Algumas dessas
argumentações foram selecionadas como elementos de análise da prática educativa,
para, a partir daí, lançar um novo olhar, com possibilidades de diferentes ações,
redirecionando essa prática ou permitindo que esse aluno pudesse fazer uma
releitura do seu ponto de vista.
As considerações apresentadas pelo aluno nas linhas que se seguem são
relevantes; entretanto, elas não legitimaram as razões das inúmeras faltas
apontadas por seus professores como fonte de preocupação em relação a um
desempenho que propicie aprovação. O próprio aluno diz não ter feito suas
36
Currículo entendido como instrumento que supera a compartimentalização dos conteúdos e que
prioriza a produção coletiva. Que ensina a ler o mundo e atenda a necessidade de lidar com o
imprevisto e a incerteza, no qual o conteúdo é percebido como produção histórica, vinculado ao
processo de construção do conhecimento e a escola, como espaço onde pode se produzir a
transformação social, coletiva democrática, para os que estão fora dela (UNIVALI, 2005).
37
Nome fictício atribuído pela autora ao aluno.
77
considerações como justificativa das ausências, entretanto acredita que se as coisas
pudessem ser diferentes, as razões por sua permanência na escola seriam mais
fortes. Foi-lhe alertado que existem outras disciplinas e professores que poderiam
ser a razão maior de sua presença e que a generalização não é uma opção correta,
que ele próprio fala que a escola trata a todos homogeneamente. A mãe da
namorada de Sam afirmou que “de certa forma essa falta às aulas dos dois denota
uma negação, uma contestação à escola, porém considero que eles podem fazer
isso, com presença em sala de aula e participação das atividades propostas” (Diário
de Bordo n.º 02, 2006).
As considerações feitas pelo aluno fazem emergir algumas das limitações da
escola, no tocante ao respeito que o docente deve ter, quanto à concepção
epistemológica adotada pelo Colégio, sobre uma prática pedagógica voltada à
problematização, ao desafio, “[...] às escolhas, às aspirações, aos ideais e aos
anseios da comunidade escolar e seus sonhos em relação à escola” (PP–CAU
(UNIVALI, 2005, p. 6)). Em diferentes momentos, o aluno apontou questões, também
suscitadas pelo corpo discente, docente e administrativo da escola. A superação
dessas questões requer tempo, ousadia, empenho, transformação e compromisso.
A resistência do aluno, a pressão que ele exerce sobre a escola e que a
obriga a mudar explicita a necessidade de se evitar rotinas nas propostas de ensino,
e destaca a variedade limitada de estratégias de ensino e avaliação, clamando pela
elaboração de atividades educacionais diversificadas. também o reconhecimento
do modelo bélico, a constatação de forças, como propõe a análise do poder
empreendida por Foucault. Na fala de Sam, “[...] trabalhos em grupo, eu suponho,
existem com a finalidade de mostrar ou ensinar ao aluno como se deve trabalhar em
coletivo. É uma boa proposta, mas o deve ser feita com tanta frequência. Não
deve ser o padrão de avaliação, digamos, principal, em uma disciplina. Eu acredito
que as notas servem pra materializar o que o aluno fez ou aprendeu. E o trabalho
em grupo não me parece muito justo nesse sentido. Diversos alunos têm problemas
em falar pra mais de uma pessoa, ficam nervosos. Isso é um problema, mas a
solução não é forçá-los a fazer. Além disso, os trabalhos em grupo geral não ficam
no conteúdo proposto, é/ou viram propaganda. Uma prova é a forma mais correta de
avaliar a produtividade de um aluno, e deve haver uma padronização na quantidade
das provas [...] é uma forma de avaliação, podemos dizer ortodoxa, mas é a mais
precisa”.
78
O questionamento e reflexão crítica sobre a própria prática são elementos
fundamentais para que o professor possa reconhecer que os objetivos de ensino
devem ser conhecidos e compreendidos por seus alunos. Grisi (1971, p. 91) nos
lembra que “[...] Toda aula, em resumo, seja qual for o objetivo a que vise, e por
mais claro, preciso, restrito, que este se apresente, tem sempre uma inelutável
repercussão mais ou menos ampla, no comportamento e no pensamento dos
alunos”. Isso nos chama a refletir sobre a concepção de trabalho em equipe, de
coletividade e de avaliação incorporados por Sam e expressa em sua fala e suas
ações, pois numa das falas do aluno ele afirma: “Não entendo os objetivos do
professor”. Consideramos imprescindível que o professor clarifique os objetivos de
suas atividades de ensino, pois isso permite que o aluno saiba o que está
aprendendo, por que está aprendendo e qual será o percurso para efetivar a
aprendizagem. Segundo Freire (1996, p. 42-43),
[...] a prática docente crítica, implicante do pensar certo, envolve o
movimento dinâmico, dialético, entre o fazer e o pensar o que fazer.
Por isso é que, na formação permanente dos professores, o
momento fundamental é o da reflexão crítica sobre a prática. É
pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode
melhorar a próxima prática.
Outra fala importante expressa pelo aluno foi, “[...] eu sei que tudo passa pela
subjetividade humana, mas certos professores não escondem que avaliam aluno de
forma diferente, de acordo com a preferência pessoal deles [...] exercer uma
profissão requer imparcialidade. Se o professor passa a ser parcial, passa a ser
incompetente. O aluno não gostar do professor, ou vice-versa, não deve alterar a
relação de respeito e imparcialidade entre ele”.
Na relação professor/aluno, o aluno precisa aprender a aprender e o
professor, em especial, precisa aprender a reaprender sempre. Freire (1996, p. 159-
60) enfatiza essa posição, quando diz que:
Não é certo, sobretudo do ponto de vista democrático, que serei tão
melhor professor quanto mais severo, mais frio, mais distante e
‘cinzento’ me ponha nas minhas relações com os alunos [...]. A
afetividade não se acha excluída da cognoscibilidade. O que não
posso obviamente permitir é que minha afetividade interfira no
cumprimento ético de meu dever de professor no exercício de minha
autoridade. Não posso condicionar a avaliação do trabalho escolar
de um aluno ao maior ou menor bem querer que tenha por ele.
79
É por demais conhecida a importância da afetividade, da confiança, da
empatia e do respeito mútuo na relação professor e aluno e das implicações desses
elementos no processo ensinoaprendizagem. No entanto, situações diferenciadas
adotadas com um determinado aluno e norteadas apenas pelo fator amizade ou
empatia, e não pautadas em critérios claros, consistentes e anunciados previamente,
costumam provocar efeitos desastrosos na relação de igualdade e equidade no
coletivo de sala de aula.
Ainda no campo da avaliação é interessante a observação realizada por Sam,
“[...] Em prova que exigem cálculo, não deveria ser colocada a presença de cálculo
na prova. A capacidade de cálculo mental deve ser estimulada, e o razão para
que ele seja copiado numa avaliação. Creio que isso seja para que o aluno não cole.
Mas se o professor parte do pressuposto que o aluno precisa de cola, logo ele acha
que não ensinou, caso contrário não existiria essa razão”.
O professor ao impor que o aluno raciocine e pense somente de uma
determinada forma, inibe a criatividade, estimula a contrariedade, o tolhimento do
raciocínio, gera um sentimento de incompetência e uma relação estereotipada com o
conhecimento. Acreditamos na importância de estimular um raciocínio sistematizado
e formalizado; todavia, as estratégias aplicadas no processo de avaliação devem vir
ao encontro da especificidade dos objetivos de ensino e da diversidade das
habilidades e competências cognitivas dos alunos.
Sobre a comunicação escola/família, Sam apontou que Não devia ter tanta
comunicação com os pais, a menos que o problema esteja em um estado terminal.
Essa comunicação cria um stress desnecessário, e exclui do aluno parte de sua
responsabilidade na escola(grifo da autora). A observação do aluno serve para
transmitir um aviso importante para o papel da Orientação Educacional, pois num
contexto de trabalho com adolescentes do Ensino Médio, os mesmos devem ser
estimulados a refletir sobre seus atos e escolhas, e estas se efetivam se forem
priorizados momentos em que os alunos possam ser ouvidos. Ao ignorar a voz do
aluno a escola negligencia suas necessidades pessoais e de desenvolvimento
social.
Os procedimentos e encaminhamentos acima relatados foram socializados
com os professores e com a equipe pedagógica. Acredito que discussões acerca da
necessidade de transformar a escola em um lugar melhor de convívio e crescimento
80
de seres humanos repercute direta e indiretamente na maneira como o currículo e a
avaliação são compreendidos pelos alunos e professores.
A Orientação Educacional e professores passaram a materializar na sua ação
pedagógica a ideia de que a preocupação com os alunos pode ser uma poderosa
forma de construir relacionamentos positivos com eles. Quando nossas ações e
palavras expressam e comunicam um cuidado com o outro maior probabilidade
de que os alunos tenham bom desempenho e sintam prazer em frequentar a escola.
81
6 CONSIDERAÇÕES
Ao descrever e analisar a construção da minha identidade profissional
vislumbrei uma dupla perspectiva desta caminhada; aquela em que me vi como ser
pensante e sensível que se convida para uma construção pessoal e aquela em que
fui construída em minha relação com o outro. Foi na escrita da relação com o
trabalho que teci uma narrativa na qual se cruzaram referências pessoais e teóricas,
experiências e (des)encontros, metodologias e conceitos.
A escrita da dissertação me introduziu num universo de ideias sem o qual,
quem sabe, permaneceria na condição, menos reflexiva, sobre o fazer da Orientação
Educacional. As recordações-referência
38
, bem como os dados coletados e
registrados nos últimos anos de atuação na Orientação Educacional, conduziram ao
exercício de autorreflexão que faz parte da vida profissional daqueles que se formam
continuadamente: “não apenas fazer, mas ser; não apenas ser, mas tornar-se”
(ROGERS, 1991, p. 163). Isso implicou uma série de reflexões sobre a minha prática
profissional, me percebendo em formação contínua na experiência
39
do dia a dia,
aperfeiçoando o conhecimento e qualificando as competências. Rememorei os
tropeços, as frustrações, as limitações, os desafios e as conquistas e cresci a partir
deles.
A socialização da pesquisa explicitando esta caminhada enquanto
Orientadora Educacional envolveu igualmente competências verbais e intelectuais
40
que estão na fronteira entre o individual e o coletivo. Na dimensão individual porque
me auto-interpretei como alguém capaz de ser original nas suas ideias e ações,
38
As recordações-referência, contam não o que a vida nos ensinou, mas o que aprendemos
experencialmente nas circunstâncias da vida. Segundo Josso (2004, p. 40) as “recordações-
referência significam, ao mesmo tempo, uma dimensão concreta ou visível, que apela para as nossas
percepções ou emoções, sentimentos, sentido e valores”. A recordação-experiência pode ser
qualificada como experiência formadora.
39
Josso (2004, p. 51) distingue as experiências sob três modalidades de elaboração: “(a) ‘ter
experiências’ é viver situações e acontecimentos durante a vida, que se tornaram significativos, mas
sem tê-los provocado. (b) ‘fazer experiências’ são as vivências de situações e acontecimentos que
nós próprios provocamos, isto é, somos nós mesmos que criamos, de propósito, as situações para
fazer experiências. (c) pensar sobre as experiências’, tanto aquelas que tivemos sem procurá-las
quanto aquelas que nós mesmos criamos”.
40
As competências verbais dizem respeito à habilidade de auto-expressão escrita e a competência
intelectual é a capacidade de combinar raciocínios e associar ideias e conhecimentos para
encaminhar soluções e resolver problemas. Pessoas que melhor sabem combinar e utilizar seu
recurso ou competência intelectual possuem mais capacidade de resolver problemas de vida ou de
trabalho (RESENDE, 2000).
82
como ser criativo e responsável. Na dimensão coletiva porque procurei no diálogo
com o outro uma co-interpretação desta experiência profissional.
Colocar em uma narrativa a evolução de um diálogo sob a forma de
compromisso com o conhecimento e com as transformações que este conhecimento
pode produzir, me levou a tomar maior consciência
41
sobre ele. Nesse sentido
tiveram especial valor os registros efetuados ao longo desses dois anos de minha
carreira nos Diários de Bordo, pois a partir da análise de seus conteúdos pude
refletir, com maior rigor, sobre minha identidade profissional. No percurso dessa
dissertação foi um desafio constante a pergunta: “como escrever isto ou aquilo para
que seja compreensível para o outro?”. Não se tratava apenas de ter alguma coisa a
ser dita por meio da escrita, mas de dizê-la de uma forma consistente e coerente.
A pesquisa foi um exercício ímpar de questionamento sobre o percurso de
vida profissional, com ênfase nos anos de 2005 a 2006. Essa reconstrução do
percurso profissional permitiu questionar: como se constrói cotidianamente a
Orientação Educacional, no âmbito de um projeto pedagógico escolar, que efetive
ações de acompanhamento do processo ensinoaprendizagem? É possível
responder que a efetivação dessa construção se pela redefinição do papel e pela
avaliação das estratégias do Orientador Educacional. Ou seja:
Do trabalho individual com alunos para trabalhos com pequenos e grandes
grupos de alunos.
Da re-ação aos problemas, para a prevenção aos problemas.
Do trabalho fora da sala de aula, para o trabalho dentro da sala de aula.
Do oferecimento de auxílio aos alunos, separados dos professores, para a
orientação aos professores de sala de aula, para que estes possam
administrar melhor as tensões, conflitos e desafios com os alunos.
Do arquivamento das informações sobre os alunos para a socialização
destas aos professores e equipe pedagógica.
Da invisibilidade das estratégias utilizadas, para a partilha e exposição
dessas com todo o corpo docente e equipe pedagógica.
41
Segundo Josso (2004, p. 50) “A consciência é a presença atenta a si próprio, aos outros e ao seu
ambiente e está ligada aos graus de sensibilidade de cada pessoa no que se refere aos seus
sentidos, tais como tato, o olfato, a visão, o movimento etc”.
83
Da valorização das dificuldades do aluno para a valorização do seu
potencial.
Essa construção se com base na análise, na reflexão e na ação individual
e coletiva e exige esforço, compromisso e dedicação a um projeto coletivo de
Orientação Educacional e de escola. Tal projeto deve se propor a ouvir e refletir a
voz do aluno estabelecendo diálogos contínuos entre todos aqueles que fazem parte
da escola. Dito de outra forma, a construção de uma Orientação Educacional, no
âmbito de um projeto pedagógico escolar, que efetive ações de acompanhamento
do processo ensinoaprendizagem, se quando buscamos caminhos, quando
lutamos por uma realidade educativa que contemple seu componente mais precioso:
o aluno, e quando mantemos a crença de que é possível, sim, fazer a diferença por
meio da Educação.
Como síntese provisória, ouso apontar dois referenciais básicos que podem
orientar o saber e o saber-fazer do Orientador Educacional:
Desenvolvimento do pensamento argumentativo pautado em reflexões,
análises, contextualizações, observação, ação e transformação.
Diálogos permanentes como condição para o desenvolvimento da
linguagem, comunicação, expressão, sentidos e emoções.
Ter escolhido como foco de atenção e pesquisa a observação e análise do
que faz e como faz o Orientador Educacional em seu dia a dia na escola, contribui
para a compreensão de como se realiza o trabalho deste profissional.
Esse trabalho realiza-se por meio de uma trama de relações humanas que se
estabelece no contexto institucional e que tem como intenção a articulação e
consecução de um processo exclusivamente humano: a educação.
84
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APÊNDICES
90
APÊNDICE A – Projeto: Orientação Profissional: administrando o meu futuro
(Diário de Bordo n.º 03 de 2005)
Momento de socialização dos sentimentos experienciados ao ter que optar por
uma profissão.
Dinâmica das máscaras: Quem sou eu?
Construído com papel alumínio.
91
APÊNDICE B – Projeto OPA: Escolha Profissional por Área
(Diário de Bordo n.º 05 de 2006)
Alunos assistindo a uma palestra no OPA.
92
APÊNDICE C – Projeto EPPA: Escolha Profissional Possível na Adolescência
(Diário de Bordo n.º 04 de 2005)
Palestrante enfocando o tema: Formação Profissional Empresarial
93
APÊNDICE D – Projeto MIDDA: Multiplicadores de Informação sobre Drogas,
DSTs, HIV/AIDS
(Diário de Bordo n.º 04 de 2006)
Alunos do ano do Ensino Médio, integrantes do Grupo MIDDA, ministrando
palestra em escola pública
94
APÊNDICE E – Projeto Cuido Bem de MIM
(Diário de Bordo n.º 02 de 2006)
Alunos vencedores do concurso: Cuido Bem de Mim,
recebendo, em Brasília, a premiação.
95
APÊNDICE F – Comunicação aos pais informando a respeito das aulas de
apoio oferecidas pelo Colégio de Aplicação
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
96
APÊNDICE G – Imagem de reflexão para iniciar a reunião
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
97
APÊNDICE H – Pauta de uma reunião realizada com pais de alunos do 1º ano
do Ensino Médio
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
98
APÊNDICE I – Comunicação de compromisso educacional escola/família
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
99
APÊNDICE J – Bilhete de informação aos pais sobre encontro com alunos para
entrega de boletins e discussão de seu desempenho escolar
100
APÊNDICE K – Comunicação referente a uma carta de reflexão enviada aos
pais, solicitando apoio após intervenção realizada com os filhos
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
101
APÊNDICE L – Comunicação referente aos critérios de enturmação dos alunos
(Retirado do Diário de Bordo nº 01 de 2006)
102
APÊNDICE M – Comunicação referente o convite para a participação dos pais
em palestra promovida pela escola
(Retirado do Diário de Bordo nº 05 de 2006)
103
APÊNDICE N – Convite enviado aos pais para participação em reunião de
turma na escola
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
104
APÊNDICE O – Organização de reunião com pais para discussão do
comportamento dos alunos em sala de aula
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
105
APÊNDICE P – Síntese de um trabalho realizado com uma turma do Ensino
Médio e apresentado em reunião com os pais
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
106
107
APÊNDICE Q – Comunicação referente a ciência dos pais frente a avaliação
atrasada realizada pelos filhos
(Retirado do Diário de Bordo nº 01 de 2006)
108
APÊNDICE R – Edital para a formação do Conselho Diretor do Grêmio
Estudantil
(Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2006)
109
APÊNDICE S – Ficha de inscrição da chapa para o Grêmio Estudantil
(Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2006)
110
APÊNDICE T – Termo de compromisso de devolução de livros emprestados
pelo colégio
(Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2006)
111
APÊNDICE U – Termo de advertência utilizado em casos específicos
(Esse termo era assinado pelo aluno, socializado aos pais e arquivado na pasta do aluno. Retirado do
Diário de Bordo nº 03 de 2006)
112
APÊNDICE V – Folha de registro da presença do aluno nas aulas de apoio
oferecidas na contraturno pelo colégio
113
APÊNDICE W – Folha de justificativa de entrada atrasada preenchida e
assinada pelo aluno
(Retirado do Diário de Bordo nº 01 de 2006)
114
APÊNDICE X – Folha utilizada somente pelos profissionais do SAA com
registro de informação sobre os prejuízos de chegar atrasado na aula
(Retirado do Diário de Bordo nº 01 de 2006)
115
116
APÊNDICE Y – Folha de Espelho de Classe
(A posição dos alunos em sala era mantida de acordo com a preferência do aluno. Esta escolha só
era alterada caso o aluno apresentasse comportamentos desfavoráveis a disciplina da sala ou fosse
solicitado por pais ou pelo próprio aluno. Vale ressaltar que a adoção do espelho de classe só dava
certo quando respeitado e cobrado por todos os professores. Retirado do Diário de Bordo nº 02 de
2006)
117
APÊNDICE Z – Gráfico de levantamento das entradas atrasadas
(Ele foi socializado para os alunos com o intuito de ampliar o compromisso acadêmico no que tange a
responsabilidade na esfera pessoal e coletiva. Discutiu-se os prejuízos dessas entradas atrasadas.
Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2006)
118
APÊNDICE AA – Dinâmica utilizada no início do Conselho de Classe
(Retirado do Diário de Bordo nº 01 de 2005)
119
APÊNDICE AB – Sistematização do trabalho desenvolvido pela Orientação
Educacional no Ensino Médio e 8ª série do Ensino Fundamental
(O encontro tinha como objetivo socializar as normas regimentais do Colégio de Aplicação para
promover sua compreensão e o respeito. Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
120
APÊNDICE AC – Planilha utilizada no Conselho de Classe para levantamento
dos alunos das dificuldades dos mesmos e os encaminhamentos de apoio e
atenção
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
121
APÊNDICE AD – Comunicação fornecida aos professores para reforçar
algumas normas pedagógicas de ordem organizacional
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
122
APÊNDICE AE – Carta dirigida àqueles professores que faltaram o trabalho de
forma indiscriminada
(Foram apenas dois mais existiram. O SAA tinha que organizar a ausência do professor. A carta
escrita auxiliou a ampliar a consciência do professor e serviu como alerta de que a próxima
advertência, com certeza, partiria da direção, neste caso com outras implicações. Retirado do Diário
de Bordo nº 03 de 2006)
123
APÊNDICE AF – Comunicado com os procedimentos de organização, a serem
respeitados pelos professores, em caso de necessidade de se ausentar no
trabalho
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
124
APÊNDICE AG – Comunicação com as determinações a serem seguidas pelos
profissionais que estariam substituindo os professores ausentes e reforço dos
procedimentos
(Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2006)
125
APÊNDICE AH – Avaliação realizada pelo professor substituto do professor
ausente
(Vale ressaltar que a avaliação da aula de substituição foi realizada somente uma vez. Retirado do
Diário de Bordo nº 02 de 2006)
126
APÊNDICE AI – Folha de planejamento alternativo elaborado para que o
professor utilizasse dele no caso de se ausentar
(O mesmo estava disponível on line para os professores. Retirado do Diário de Bordo nº 01 de 2006)
127
APÊNDICE AJ – Ficha de encaminhamento do aluno a Orientação Educacional
(Retirado do Diário de Bordo nº 01 de 2006)
128
APÊNDICE AK – Folha com a orientação para os professores elaborarem o
perfil da turma para apresentação no Conselho de Classe
(Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2005)
129
130
APÊNDICE AL – Comunicado aclarando a necessidade do uso obrigatório do
uniforme
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
131
APÊNDICE AM – Comunicação de orientação para atendimento aos pais pós-
conselho de classe do 3º bimestre
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
132
APÊNDICE AN – Pauta de encontro com os alunos para parabenizá-los pelos
resultados obtidos no desempenho escolar bem como orientar aqueles que
necessitavam de orientação e incentivo para um melhor
desempenho acadêmico
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2005)
133
APÊNDICE AO – Ficha de auto-avaliação do 1º bimestre de 2005 trabalhada em
encontro com a Orientação Educacional e Coordenação Pedagógica
(Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
134
APÊNDICE AP – Ficha de auto-avaliação do 2º bimestre de 2005, utilizada no
encontro de orientação de estudos, com os alunos com notas baixas
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2005)
135
APÊNDICE AQ – Ficha de registro em encontro com alunos no 3º bimestre de
2005
(Retirado do Diário de Bordo nº 05 de 2005)
136
APÊNDICE AR – Atividade que objetivava reconhecer em uma turma de alunos
o modo de aprender de cada um, para posterior reflexão coletiva
(Retirado do Diário de Bordo nº 05 de 2006)
137
APÊNDICE AS – Atividade utilizada numa intervenção da Orientação
Educacional numa turma de alunos que se mostravam insatisfeitos com
algumas aulas
(Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2006)
138
APÊNDICE AT – Plano de ação para trabalho da Orientação Educacional com
os alunos do 2º ano do Ensino Médio
(Contempla: a pauta da reunião com os líderes do 2º ano do Ensino Médio, apresentado a parte que
caberia a eles no plano de ação e socializando os momentos de trabalho junto a turma, junto aos
professores e pais. Retirado do Diário de Bordo nº 02 de 2005)
139
140
141
APÊNDICE AU – Ficha utilizada com os alunos em atendimentos individuais
que visava refletir com o aluno a respeito de seu papel na vida familiar e
acadêmica
(Retirado do Diário de Bordo nº 05 de 2006)
142
APÊNDICE AV – Encontro com os alunos pós-conselho de classe
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2005)
143
APÊNDICE AW – Carta enviada aos alunos do 1º ano do Ensino Médio, após
visita da Orientação Educacional em sala de aula, para avaliar os trabalhos do
Concurso de Maquete
(Cada aluno recebeu a carta personalizada. Retirado do Diário de Bordo nº 03 de 2006)
144
145
APÊNDICE AX – Trabalho a ser realizado, em casa, por um aluno que recebeu
dois dias de suspensão
(A tarefa foi utilizada como reflexão com a Orientação Educacional no retorno as atividades da escola.
Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
146
APÊNDICE AY – Quadro explicativo sobre a forma de se utilizar o mural
interativo, organizado para compartilhar e socializar informações entre alunos
e professores e equipe diretiva, tendo a comunicação e a interação como
pontos chaves
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
147
APÊNDICE AZ – Mural Interativo – Registro fotográfico do mural interativo
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
148
APÊNDICE BA – Folha utilizada para registros de troca de recados para o
mural interativo
(Retirado do Diário de Bordo nº 04 de 2006)
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