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As perguntas, a fonte e a abordagem são inerentes ao lugar social do historiador e das
questões relativas ao seu tempo. Se a fragmentação dos documentos referente à atuação da
CNLD não representava em nenhuma corrente historiográfica um objeto auto-suficiente que
se encaixasse em modelos e perspectivas, na História Cultural, sob a ótica da Nova História
Política, ela encontra possibilidades de legitimação.
A história da educação, embora não conste como um dos temas eleitos pelo campo
político
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apresenta a instituição escolar como propagadora de saberes e de valores vinculados
a interesses oficiais, desvendando aspectos de uma cultura política que pode ser vista “como
uma leitura comum de passado e uma projeção no futuro vivida em conjunto”
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, mapeando as
representações e apropriações dos discursos e do universo simbólicos de um período.
De acordo com Veiga & Fonseca (2003, p. 8), a História Cultural permite a
problematização da educação em diferentes tempos históricos, em espaços escolares ou não,
baseados em diferentes temas (leitura, instituições, saberes, materiais escolares); em
diferentes sujeitos (criança, mulher, etnias, professor); de diferentes fontes documentais
(imprensa, legislação, correspondência, manuais escolares) e em diferentes abordagens
teórico-conceituais, abarcando diferentes campos e uma infinidade de percepções.
As questões teórico-metodológicas que tratam da função da instituição escolar nas
sociedades moderna e contemporânea e as tendências de enfoque de investigação sobre livros
didáticos desenvolvidas atualmente no campo da história da educação mostram-se
fundamental para compreensão das possibilidades e especificidades das pesquisas
desenvolvidas na área. As problematizações, a extensão dos domínios de investigação e
perspectivas de análise, principalmente no que se refere aos livros escolares, revelam o espaço
de intersecções e complexidades das relações tanto política, econômica e científica que afetam
sua produção, circulação e utilização.
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Os livros escolares tornam-se objeto de interesse tanto das perspectivas que abordam
normas e prescrições estabelecidas por autoridades políticas no que se refere ao controle
ideológico e a instituição de programas e práticas pedagógicas, como para o desenvolvimento
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O livro Por uma história política (1989), organizado por René Rémond, contou com a colaboração de diversos
historiadores da Nova História Política. Embora não seja uma manifesto oficial, o livro apresenta as
metodologias e problemáticas do objeto político, associados aos lugares de produção de discursos, como as
eleições, partidos políticos, associações, biografia, opinião, mídia, idéias, intelectuais, guerra, etc. O tema
educação não figura como um capítulo específico de análise.
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SIRINELLI, J. F. “Pour une historie des cultures politiques”. In: Voyages em historie. Mélanges offerts à Paul
Gerbod. Besançon: Annales littéraires de l´ Université de Besançon, 1995, Apud: BERSTEIN, Serge. A Cultura
política. In: RIOUX, J. P. e SIRINELLI, J. F. (Coord.) Para uma História Cultural. Editora Estampa, 1998, p.
351.
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Sobre perspectivas e metodologia de análise de livros didáticos e sua função curricular, instrumental,
ideológica e documental ver: Choppin (2002 e 2004).